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1 SUMÁRIO 1 OS PRÉ-SOCRÁTICOS.............................................................................. 3 2 ALGUMAS OBSERVAÇÕES ACERCA DE ALGUNS PRÉ-SOCRÁTICOS: 4 2.1 O fogo de Heraclito:.............................................................................. 5 2.2 A esfera de Parménides: ...................................................................... 5 3 PLATÃO ...................................................................................................... 6 4 A Academia de Platão ................................................................................ 7 4.1 Períodos ............................................................................................... 8 5 ARISTÓTELES ........................................................................................... 8 6 ABSTRAÇÃO ............................................................................................ 10 6.1 SILOGISMO ....................................................................................... 11 7 SÓCRATES .............................................................................................. 11 7.1 Algumas frases e pensamentos atribuídos ao filósofo Sócrates: ....... 12 8 A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA .......................................................... 13 9 IDEALISMO .............................................................................................. 14 9.1 Definição de idealismo ....................................................................... 14 9.2 Ideias básicas do Idealismo ............................................................... 14 10 Glossário ............................................................................................... 15 10.1 RENÉ DESCARTES: UMA BREVE BIOGRAFIA ............................ 16 11 DEUS, A CIÊNCIA E O LIVRE-ARBÍTRIO ............................................ 17 12 O PROBLEMA DO HOMEM: A MORAL ................................................ 19 13 UTILITARISMO ...................................................................................... 20 13.1 Princípio da Utilidade ...................................................................... 21 13.2 Perspectiva moral e política: Características gerais ........................ 22 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 24 2 14 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................ 25 15 Um diálogo entre a filosofia, a educação e a política: limiares entre a moral, o legal e a reificação....................................................................................... 25 3 1 OS PRÉ-SOCRÁTICOS Fonte: blogdoenem.com.br Os pré-socráticos são filósofos que viveram na Grécia Antiga e nas suas colônias. Assim são chamados, pois são os que vieram antes de Sócrates, considerado um divisor de águas na filosofia. Muito pouco de suas obras está disponível, restando apenas fragmentos. O primeiro filósofo em que temos uma obra sistemática e com livros completos é Platão, depois Aristóteles. Estes são chamados de filósofos da natureza, pois investigaram questões pertinentes a esta, como de que é feito o mundo. Romperam com a visão mítica e religiosa da natureza que prevalecia na época, adotando uma forma científica de pensar. Alguns se propuseram a explicar as transformações da natureza. Tinham preocupação cosmológica. A maior parte do que sabemos desses filósofos é encontrada na doxografia de Aristóteles, Platão, Simplício e na obra de Diógenes Laércio (século III d. C), Vida e obra dos filósofos ilustres. A partir do século VII A.C., há uma revolução monetária da Grécia, e advêm a ela inovações científicas. Isso colaborou com uma nova forma de pensar, mais racional. Os pré-socráticos inspiraram a interpretação de filósofos contemporâneos 4 como Nietzsche, que nos iluminou com a sua obra A filosofia na época trágica dos Gregos e Hegel, que aplicou seu sistema na história da filosofia. 2 ALGUMAS OBSERVAÇÕES ACERCA DE ALGUNS PRÉ-SOCRÁTICOS: O primeiro Filósogo grego conhecido foi Tales de Mileto que viveu por volta do ano 600 a.C. Tales na companhia de Anaximandro e Anaxímenes defendia que a água, o indefinido, e o ar eram o princípio ou origem de todas as coisas. Preocupavam-se em encontrar a unidade por detrás da multiplicidade dos bjectos do universo, e o princípio de explicação da natureza a partir da própria natureza. Fonte: ceacs.wordpress.com Heraclito acreditava na filosofia do devir, falava de um devir não puramente linear que seria a negação absoluta do ser, mas sim do devir que se desenrolava no interior de um círculo. Considerava haver um ciclo do devir que em tudo representava harmonia, com efeito na circunferência, o começo e o fim coincidem. Defendia que de um lado existia o Logos, que governava todas as coisas e, do outro, o devir que se 5 desenrolava no interior de um círculo apertado por laços poderosos. Acreditava que era no interior de cada um de nós que se operavam as mudanças, dizia que a vida e a morte, a juventude, a velhice e o sono eram a mesma coisa, porque estes transformam-se naquelas e inversamente aquelas transformam-se nestes. Era um defensor da mudança dizia que não se podia penetrar duas vezes no mesmo rio. 2.1 O fogo de Heraclito: Para Heraclito, o mundo era o mesmo para todos os seres, nenhum deus, nenhum homem o criou; mas foi, é, e será sempre um fogo eternamente vivo, que com medida se acende e com medida se apaga. Parménides foi o fundador da escola eleática. Defendia a imutabilidade e unicidade do ser, afirmando que a multiplicidade e a mudança eram apenas aparências. Zenão, que foi seu discípulo, viria a defender as teses de Parménides sobre a imutabilidade do real. 2.2 A esfera de Parménides: Parménides dizia que o Ser é completo de todos os lados, semelhante a uma esfera bem redonda. Fonte: filosofia.ceseccaieiras.com.br Anaxágoras foi o primeiro filósofo registrado pela história a ter afirmado a existência de um princípio inteligente como causa da ordem do mundo. Para ele o espírito é que ordenava tudo e daí tudo era causa. 6 Empédocles, foi o criador da teoria dos quatro elementos que vigoraria até a era moderna: terra, água, ar e fogo, seriam os componentes últimos das coisas, ora reunidos sob a atracção do amor, ora separados pela força da discórdia (ou do ódio). 3 PLATÃO Fonte: www.escritas.org Platão nasceu em 427 a.C e faleceu na mesma cidade, Atenas, em 347 a.C. Filho de uma família da aristocracia ateniense dedicada à política, foi discípulo de Crátilo (séc. V a.C.) que por sua vez foi seguidor de Heráclito de Éfeso (séc. VI a.C.) e, posteriormente, tornou-se discípulo de Sócrates (470-399 a.C). Fundou sua Academia em 387 a.C., nos arredores de Atenas, em cujo pórtico figurava o lema: “Não passe destes portões quem não tiver estudado geometria”. A academia de Platão durou cerca de um milênio, até o momento em que Justiniano a dissolveu em 529 d.C. O Platonismo é uma corrente filosófica baseada no pensamento de Platão. Indica a filosofia de Platão e da sua escola, isto é, os filósofos que se situam entre o século IV A.C. e a primeira metade do século I A.C. Cerca de um século depois da morte de Platão, em 248 A.C., a Escola enveredou para o ceticismo sob a direção de Arciselau (século III A.C.). 7 4 A ACADEMIA DE PLATÃO Fonte: filosofiacem01.weebly.com A Academia platônica assemelhava-se a uma congregação religiosa, consagrada a Apolo e às musas. Platão afirmava a existência de uma verdade suprema: as Ideias das formas ideais, eternas, imutáveis e incorruptíveis, das quais se origina o mundo sensível, tal como o percebemos, e que é sujeito ao devir, à corrupção e à morte. A Academia foi fundadapor Platão em 387 A.C. Seu nome é alusivo ao herói de guerra Academo, que havia doado aos atenienses um terreno, nos arredores de Atenas, onde se construiu um jardim aberto ao público. De uma maneira geral, os elementos centrais do pensamento platônico são: coisas naturais; para a filosofia; 8 4.1 Períodos O platonismo é geralmente dividido em três períodos: Platonismo antigo propriamente dito; Médio platonismo, que remonta aos séculos I-II D.C.; Neoplatonismo, desenvolvido no final da Antiguidade no período helenístico: mais que um período do platonismo, é considerado por muitos como uma verdadeira corrente filosófica propriamente dita. Esta subdivisão foi operada por estudiosos dos tempos recentes. Todos (médio ou neoplatônicos), embora ampliando e modificando o significado originário da filosofia de Platão, pretendiam estar em linha de continuidade com a doutrina do mestre. Consideravam-se, sobretudo, como simples exegetas, mais do que inovadores. Assim como todos os pensadores que, ao longo dos séculos, filiaram-se ao pensamento platônico (Plotino, Agostinho, Ficino), os neoplatônicos eram convencidos de que a verdade fosse algo que se descobria e não se inventava. Portanto o modo mais autêntico de fazer filosofia consistiria na reflexão sobre as verdades eternas, imutáveis e universais das Ideias - primeiramente descobertas por Platão. Pode-se dizer, portanto, que o platonismo foi sempre entendido pelos platônicos como uma única corrente filosófica, que sempre permaneceu fiel a si mesma, ora como forma de interpretação, ora como reelaboração do pensamento de Platão. 5 ARISTÓTELES Aristóteles nasceu no ano de 385 a.C. em Estagiros, cidadezinha da Trácia fundada por colonos gregos no lugar onde hoje se situa Stavro, na costa setentrional do mar Egeu. Era ainda muito jovem quando morreu seu pai, Nicômaco, médico bastante famoso, neto de Esculápio. Um amigo da família, Próxeno, que morava em Estagiros, se encarregou de sua educação. 9 Aos dezessete anos, foi para Atenas prosseguir seus estudos. Em 367, quando Platão retorna da Sicília e retoma seu magistério na Academia, Aristóteles aparece como um de seus alunos mais assíduos e se distingue por seu ardor e pela excepcional inteligência. Depois de alguns anos de estudo, rompe subitamente com Platão, mas sem cessar de testemunhar-lhe respeito e continuando a conservar do mestre uma grata lembrança. Permanece, no entanto, em Atenas até 347; presume- se que teria fundado uma escola retórica que lhe valeu grande reputação. De 347 a 342, Aristóteles deixa Atenas. Torna-se como que um embaixador oficioso junto a Filipe, que acaba de subir ao trono da Macedônia e é quase seu amigo. Mais tarde o encontramos junto com outros alunos de Platão, como Xenócrates, na Eólida, junto a Hérmias, tirano de Atárnea, que seguiu seus cursos em Atenas e está contente por tê-lo junto a si. Permanece na corte do tirano até a morte de Hérmias, que será estrangulado pelos persas. Hérmias deixa uma filha e uma sobrinha. Aristóteles casa-se com a sobrinha. Não se sentindo em segurança em Atárnea, parte para Mitilene, onde permanece até 342. Vai então à Macedônia, onde o chamava Filipe para lhe confiar à educação de seu filho Alexandre, de treze anos. O filósofo esforça-se por desenvolver nele as qualidades de moderação e de razão que lhe parecem essenciais para a conduta de um soberano. Alexandre sente por seu mestre um grande apego, que conservará até quando suceder a seu pai. Todavia, Alexandre parte em conquista da Ásia em 335, e Aristóteles considera que seu papel terminou. Deixa Alexandre e retorna a Atenas. O ensino de Platão na Academia tem sequência com Xenócrates. Aristóteles, então, abre uma escola perto do templo de Apolo Lício, donde o nome de escola do Liceu que lhe foi dado. Aristóteles expõe suas ideias enquanto passeia com seus discípulos, e é por isso que são chamados peripatéticos, do grego nFpínaTov, que significa “lugar de passeio". O ensino de Aristóteles compreende duas séries de aulas: de manhã, trata das questões puramente teóricas, no ensino exotérico reservado aos iniciados. À tarde, Aristóteles se dirige a um público mais amplo: as questões tratadas são mais acessíveis. A retórica ocupa um lugar importante; é o ensino exotérico. Durante doze anos, prossegue suas aulas, não sem publicar numerosas obras que abordam todos os domínios do saber humano. Com a morte de Alexandre, em 323, 10 os partidários da Macedônia veem-se ameaçados de morte e de perda dos bens pelo partido nacional ateniense, dirigido por Demóstenes. Aristóteles, pró-macedônio, é acusado. Sem aguardar o julgamento que deve condená-lo, deixa Atenas e vai para Cálcis, na ilha de Eubéia. Morre ali um ano depois, em 322, aos 63 anos. Deixa dois filhos, uma menina, Pítia, com o nome de sua mulher, e um menino, Nicômaco, com o nome de seu pai. 6 ABSTRAÇÃO Na filosofia, abstração é um processo (ou, para alguns, um alegado processo) na formação de conceitos reconhecendo um grupo de características comuns nos indivíduos, e tendo isso como base, forma-se um conceito desta característica. A noção de abstração é importante para o entendimento de algumas controvérsias filosóficas em relação ao empirismo e ao problema dos universais. Também se tornou recentemente popular na lógica formal como abstração predicada. Outra ferramenta filosófica para a discussão sobre abstração é espaço do pensamento. A Lógica de Port-Royal, resumiu a estreita relação do processo de abstração com a natureza do homem, dizendo: ― a limitação da nossa mente leva-nos a só compreender as coisas compostas quando as consideramos em suas partes e contemplamos as faces diversas com que elas se nos apresentam, isto é, o que se costuma chamar conhecer por abstração. A abstração é a operação mediante a qual alguma coisa é escolhida como objeto de percepção, atenção, observação, consideração, pesquisa, estudo, etc. e isolada de outras coisas. Ela é inerente a qualquer procedimento cognitivo. Segundo Aristóteles, o processo todo do conhecimento pode ser descrito com ela; sendo que Tomás de Aquino reduz todo o conhecimento intelectual à operação de abstrações. O homem cria por abstração. É o ato de separar mentalmente um ou mais elementos de uma totalidade complexa (coisa, representação, fato), os quais só mentalmente podem subsistir fora dessa totalidade. (cf.: Aurélio). 11 6.1 SILOGISMO Um silogismo (do grego antigo, "conexão de ideias", "raciocínio"; composto pelos termos σύν "com" e λογισμός "cálculo") é um termo filosófico com o qual Aristóteles designou a argumentação lógica perfeita, constituída de três proposições declarativas que se conectam de tal modo que a partir das primeiras duas, chamadas premissas, é possível deduzir uma conclusão. A teoria do silogismo foi exposta por Aristóteles em Analíticos anteriores. Num silogismo, as premissas são um ou dois juízos que precedem a conclusão e dos quais ela decorre como consequente necessário dos antecedentes, dos quais se infere a consequência. Nas premissas, o termo maior (predicado da conclusão) e o termo menor (sujeito da conclusão) são comparados com o termo médio, e assim temos a premissa maior e a premissa menor segundo a extensão dos seus termos. Um exemplo clássico de silogismo é o seguinte: Fonte: www.colegioweb.com.br 7 SÓCRATES Sócrates nasceu em Atenas, provavelmente no ano de 470 aC, e tornou-se um dos principais pensadores da Grécia Antiga. Podemos afirmar que Sócrates fundou o que conhecemos hoje por filosofia ocidental. Foi influenciado pelo conhecimento de 12 outro importante filósofo grego: Anaxágoras. Seus primeiros estudos e pensamentos discorrem sobre a essência da natureza da alma humana. Sócrates era considerado pelos seus contemporâneos umdos homens mais sábios e inteligentes. Em seus pensamentos, demonstra uma necessidade grande de levar o conhecimento para os cidadãos gregos. Seu método de transmissão de conhecimentos e sabedoria era o diálogo. Através da palavra, o filósofo tentava levar o conhecimento sobre as coisas do mundo e do ser humano. Conhecemos seus pensamentos e ideias através das obras de dois de seus discípulos: Platão e Xenofontes. Infelizmente, Sócrates não deixou por escrito seus pensamentos. Sócrates não foi muito bem aceito por parte da aristocracia grega, pois defendia algumas ideias contrárias ao funcionamento da sociedade grega. Criticou muitos aspectos da cultura grega, afirmando que muitas tradições, crenças religiosas e costumes não ajudavam no desenvolvimento intelectual dos cidadãos gregos. Em função de suas ideias inovadoras para a sociedade, começa a atrair a atenção de muitos jovens atenienses. Suas qualidades de orador e sua inteligência, também colaboraram para o aumento de sua popularidade. Temendo algum tipo de mudança na sociedade, a elite mais conservadora de Atenas começa a encarar Sócrates como um inimigo público e um agitador em potencial. Foi preso, acusado de pretender subverter a ordem social, corromper a juventude e provocar mudanças na religião grega. Em sua cela, foi condenado a suicidar-se tomando um veneno chamado cicuta, em 399 AC. 7.1 Algumas frases e pensamentos atribuídos ao filósofo Sócrates: - A vida que não passamos em revista não vale a pena viver. - A palavra é o fio de ouro do pensamento. - Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância. - É melhor fazer pouco e bem, do que muito e mal. - Alcançar o sucesso pelos próprios méritos. Vitoriosos os que assim procedem. - A ociosidade é que envelhece, não o trabalho. - O início da sabedoria é a admissão da própria ignorância. 13 - Chamo de preguiçoso o homem que podia estar melhor empregado. - Há sabedoria em não crer saber aquilo que tu não sabes. - Não penses mal dos que procedem mal; pense somente que estão equivocados. - O amor é filho de dois deuses, a carência e a astúcia. - A verdade não está com os homens, mas entre os homens. - Quatro características deve ter um juiz: ouvir cortesmente, responder sabiamente, ponderar prudentemente e decidir imparcialmente. - Quem melhor conhece a verdade é mais capaz de mentir. - Sob a direção de um forte general, não haverá jamais soldados fracos. - Todo o meu saber consiste em saber que nada sei. - Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo de Deus. 8 A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA Fonte: aopensar.zip.net A Filosofia contemporânea (ou pós-moderna) é a Filosofia que se encontra no período histórico do final do século XIX até os dias de hoje. Caracteriza-se por uma visão crítica frente a moral, à religião e a ciência. Assim, os filósofos pós-modernos procuram criticar as bases morais da sociedade ocidental, questionar o cristianismo e os abusos da Ciência. Há, também, uma crítica especialmente forte quanto à Política, que sofreu tantas reviravoltas nesse período no Ocidente. 14 Uma das correntes filosóficas dessa época é o Idealismo. Explicaremos sobre essa abaixo: 9 IDEALISMO O Idealismo é uma corrente filosófica que emergiu apenas com o advento da modernidade, uma vez que a posição central da subjetividade é fundamental na modernidade. Seu oposto é o materialismo. Tendo suas origens a partir da revolução filosófica iniciada por Descartes, associada a Kant até Hegel, que seria talvez o último grande idealista da modernidade. Muitos, ainda, acreditam que a teoria das ideias de Platão é historicamente a primeira dos idealismos, em que a verdadeira realidade está no mundo das ideias, das formas inteligíveis, acessíveis apenas à razão. 9.1 Definição de idealismo É muito difícil resumir o pensamento idealista, uma vez que há divergências de perspectivas teóricas entre os filósofos idealistas. De todo modo, podemos considerar o primado do Eu subjetivo como central em todo idealismo, o que não significa necessariamente reduzir a realidade ao pensamento. Assim, na filosofia idealista, o postulado básico é que Eu sou Eu, no sentido de que o Eu é objeto para mim (Eu). Ou seja, a velha oposição entre sujeito e objeto se revela no idealismo como incidente no interior do próprio eu, uma vez que o próprio Eu é o objeto para o sujeito (Eu). 9.2 Ideias básicas do Idealismo 1. Qualquer teoria filosófica em que o mundo material, objetivo, exterior só pode ser compreendido plenamente a partir de sua verdade espiritual, mental ou subjetiva. Seus opostos seriam representados pelo realismo ('na filosofia moderna') e materialismo; 1.1 No sentido ontológico, doutrina filosófica, cujo exemplo mais conhecido é o platonismo, segundo a qual a realidade apresenta uma natureza essencialmente 15 espiritual, sendo a matéria uma manifestação ilusória, aparente, incompleta, ou mera imitação imperfeita de uma matriz original constituída de formas ideais inteligíveis e intangíveis; 1.2. No sentido epistemológico, tal como ocorre no kantismo, teoria que considera o sentido e a inteligibilidade de um objeto de conhecimento dependente do sujeito que o compreende, o que torna a realidade cognoscível heterônoma, carente de autossuficiência, e necessariamente redutível aos termos ou formas ideais que caracterizam a subjetividade humana; 1.3 No âmbito prático, cujo exemplo mais notório é o da ética kantiana, doutrina que supõe o caráter fundamental dos ideais de conduta como guias da ação humana, a despeito de uma possível ausência de exequibilidade integral ou verificabilidade empírica em tais prescrições morais. 2 Propensão a idealizar a realidade ou a deixar-se guiar mais por ideais do que por considerações práticas; 3 Teoria ou prática que valoriza mais a imaginação do que a cópia fiel da natureza. Seu oposto seria o realismo. 10 GLOSSÁRIO Idealismo absoluto: Doutrina idealista inerente ao hegelianismo, caracterizada pela suposição de que a única realidade plena e concreta é de natureza espiritual, sendo a compreensão materialística ou sensível dos objetos um estágio pouco evoluído e superável no paulatino desenvolvimento cognitivo da subjetividade humana. Idealismo dogmático: Idealismo, especialmente o berkelianismo, que se caracteriza por negar a existência dos objetos exteriores à subjetividade humana [Termo cunhado pelo filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) para designar uma orientação idealista com a qual não concorda.]. Seu oposto seria o idealismo transcendental. Idealismo imaterialista: Idealismo defendido por Berkeley (1685-1753) que, partindo de uma perspectiva empirista, na qual a realidade se confunde com aquilo 16 que dela se percebe, conclui que os objetos materiais reduzem-se a ideias na mente de Deus e dos seres humanos; berkelianismo, imaterialismo. Idealismo transcendental (também chamado formal ou crítico): Doutrina kantiana, segundo a qual os fenômenos da realidade objetiva, por serem incapazes de se mostrar aos homens exatamente tais como são, não aparecem como coisas- em-si, mas como representações subjetivas construídas pelas faculdades humanas de cognição. Seu oposto seria o idealismo dogmático. 10.1 RENÉ DESCARTES: UMA BREVE BIOGRAFIA Uma personalidade dominante da história intelectual ocidental, René Descartes foi um filósofo, fisiologista e matemático francês, nascido em 31 de março de 1596, em La Haye, na província de Touraine. Ele foi um contemporâneo de Galileu e Pascal e, portanto trabalhou sob as mesmas influências religiosas repressoras da Inquisição. Cedo em sua vida, pouco após ter se alistado no exército, em 1617, Descartes descobriu que tinha talento para matemática, de modo que ele passou a maior parte de seus anos militares e subsequentes (ele pediu demissão quatro anos mais tarde)estudando matemática pura, especialmente geometria analítica, que se tornou o campo ao qual fez suas maiores contribuições. Em 1626 ele se estabeleceu em Paris, mas foi persuadido a mudar-se para a Holanda em 1628, país que estava, então, no auge do seu poder. Ali ele morou e trabalhou pelos próximos 20 anos, devotando seu tempo e esforços ao estudo da matemática e filosofia, na perseguição da verdade. Em 1649, foi convidado para ser professor da Rainha Cristina da Suécia, mudando-se para Estocolmo, mas morreu poucos meses após chegar, de pneumonia aguda, em 11 de fevereiro de 1650. Os trabalhos de Descartes em filosofia e ciência foram publicados em cinco livros: Le Monde (O Mundo), uma tentativa de descrever o universo físico, o Discours de la Méthode Pour Bien Conduire Sa Raison et Chercher La Vérité Dans Les Sciences (Discurso sobre o Método de Bem Conduzir sua Razão e Procurar a Verdade nas Ciências), seu trabalho mais importante; Meditationes, um sumário de suas ideias filosóficas em epistemologia, Principia Philosophiae (Princípios da Filosofia), cuja maior parte foi devotada à física, especialmente as leis do movimento, e Les Passions 17 de L'ame (As Paixões da Alma), sua mais importante contribuição à fisiologia e à psicologia. As contribuições de Descartes à física foram feitas principalmente na óptica, mas ele escreveu extensamente sobre muitos outros temas, incluindo biologia, cérebro e mente. Ele não foi um experimentalista, no entanto. O esteio da filosofia de Descartes pode ser resumida por sua famosa frase em latim: Cogito, ergo sum (penso, logo existo). Ele foi o primeiro a levantar a doutrina do dualismo corpo/mente, a propor uma sede física para a mente, e a maneira como ela se inter-relaciona com o corpo. Portanto, ele discutiu temas importantes para as neurociências, que vieram a dominar os quatro séculos seguintes, tais como a ação voluntária e involuntária, os reflexos, consciência, pensamento, emoções, e assim por diante. 11 DEUS, A CIÊNCIA E O LIVRE-ARBÍTRIO Para Descartes, o Deus criador transcende radicalmente a natureza. Deus Foi "inteiramente indiferente ao criar as coisas que criou". Não se submeteu a nenhuma verdade prévia. Em virtude do poder de seu livre-arbítrio, criou as verdades. Eis por que Deus quer que a soma dos ângulos de um triângulo seja igual a dois ângulos retos. Acrescentemos que, para Descartes, Deus criou o mundo instante por instante (é a "criação contínua"). O tempo é descontínuo e a natureza não tem nenhum poder próprio. As leis da natureza só são o que são a cada momento, em virtude da vontade do criador. É importante compreender que essa transcendência radical de Deus possui duas consequências fundamentais. O livre-arbítrio humano e a independência da ciência. 1. - O homem não é uma parte de Deus. A transcendência do criador afasta qualquer panteísmo. O homem, simples criatura ultrapassada por seu criador (concebo Deus porque descubro em mim a marca de sua infinitude, mas não o compreendo), recebo, assim, uma autonomia que será perdida no sistema panteísta de Spinoza. O homem é livre, pode dizer sim ou não às ordens de Deus. É certo que, na Quarta Meditação, Descartes fala da liberdade esclarecida, dessa liberdade que não pode tratar da verdade ou do bem, dessa liberdade que é antes um estado de 18 libertação do que uma decisão pura, situada além de todas as razões. Mas nos Princípios e sobretudo nas cartas ao Pe. Mesland, de 2 de maio de 1644 e 9 de fevereiro de 1645, Descartes afirma radicalmente o livre-arbítrio, o poder de recusar a Verdade e o Bem até mesmo na presença da evidência que se manifesta. Esses textos esclarecem a teoria do juízo presente na Quarta meditação. O entendimento concebe a verdade e é a vontade que dá as costas a ou afirma essa verdade. Deus propõe e o homem, por intermédio de seu livre-arbítrio, dispõe. Desse modo, Deus não é o culpado dos meus erros nem dos meus pecados. Sou eu que me engano, sou eu que peco. Meu livre-arbítrio me faz merecedor ou culpado. 2. - Do mesmo modo, a transcendência de Deus vai tornar possível uma ciência puramente racional e mecanicista da natureza. a) A natureza, segundo Descartes, não possui dinamismo próprio. Todo dinamismo pertence ao criador. Na medida em que a natureza é despojada de toda profundidade metafísica, Descartes pode eliminar as noções aristotélicas e medievais de forma, alma, ato e potência. Toda finalidade desaparece e a natureza é reduzida a um mecanicismo inteiramente transparente para a linguagem matemática. A natureza nada tem de divino, é um objeto criado, situado no mesmo plano da inteligência humana, e, por conseguinte, inteiramente entregue à sua exploração. Isto consiste, ao mesmo tempo, na rejeição de todo naturalismo pagão (a natureza não é uma deusa) e na fundamentação metafísica do racionalismo científico. b) Nem tudo tem o mesmo valor na obra científica de Descartes. Se sua ótica e suas considerações sobre a expressão algébrica das curvas (ele é, juntamente com Fermat, o inventor da geometria analítica) constituem incontestável contribuição científica, sua física (dada, aliás, mais como uma possibilidade racional do que como a verdade certa) não passa de um romance. Mas o espírito dessa física e da fisiologia cartesiana - que não passa de um capítulo da física - nada mais é do que o espírito do mecanicismo. Quando Descartes declara que os animais são máquinas, ele coloca, em princípio, que é possível explicar as funções fisiológicas por intermédio de mecanismos semelhantes àqueles que fazem mover os autômatos que vemos "nos jardins de nossos reis". O detalhe das explicações não passa de um sonho. Mas a direção tomada é a ciência moderna. Para Descartes, o mundo físico não possui 19 mistérios. As coisas se determinam reciprocamente (leis do choque), por contato direto, num espaço em que não existe o vazio. 12 O PROBLEMA DO HOMEM: A MORAL 1. - No Discurso sobre o Método, Descartes adota uma moral provisória - pois a ação não pode esperar que a filosofia cartesiana engendrasse uma nova moral. Recordemos seus três preceitos: a) Submeter-se aos usos e costumes de seu país. b) Antes mudar os próprios desejos que a ordem do mundo e vencer-se a si próprio do que à fortuna. c) Ser sempre firme e resoluto em suas ações; saber decidir-se mesmo na ausência de toda evidência, à semelhança do viajante perdido na floresta que, ao invés de ficar fazendo voltas, adota uma direção qualquer e nela se mantém! (O cartesianismo, antes de ser uma filosofia da inteligência, é uma filosofia da vontade). 2. - É certo que a moral definitiva de Descartes não apresenta uma unidade perfeita. Influências estoicas, epicuristas e cristãs estão presentes nela. Mas, na realidade, essa complexidade reflete a própria complexidade da condição humana. No plano das ideias claras e distintas, Descartes separa claramente as duas substâncias, alma e corpo: a essência da alma é pensar; a do corpo é ser um objeto no espaço. E no entanto, o pensamento está preso a esse fragmento de extensão. A alma age sobre o corpo e este age sobre ela. (Para Descartes, o ponto de aplicação da alma ao corpo é a glândula pineal, isto é, a epífise.) Mas isso não esclarece a união da alma e do corpo, que é um fato de experiência, puramente vivido e ininteligível. Na medida em que Descartes considera o homem no que ele tem de essencial, enquanto espírito, ou quando se ocupa do composto humano, sua moral assume aspectos diferentes: a) Consideremos o homem enquanto espírito, enquanto liberdade: o valor supremo é a generosidade. "A verdadeira generosidade que faz com que um homem se estime, no ponto máximo em que ele pode legitimamente estimar-se, consiste, em parte, na consciência de que nada lhe pertence verdadeiramente, exceto essa livre disposição de suas vontades... e em parteno sentimento de uma firme e constante 20 resolução de bem usá-la, isto é, de nunca lhe faltar vontade para empreender e executar todas as coisas que julgar melhores, o que é seguir a virtude perfeitamente". b) Se considerarmos o homem enquanto espírito unido a um corpo, somos obrigados a levar em conta as paixões, isto é, a afetividade em sentido amplo. Paixão é, para Descartes, tudo o que o corpo determina na alma. E Ele, que nada tem de asceta, acha que devemos antes dominá-las do que desenvolvê-las. Isso porque ele se coloca do ponto de vista da felicidade. O bom funcionamento do corpo, as ligações harmoniosas entre os espíritos animais e os pensamentos humanos são altamente desejáveis. A moral surge, então, como uma técnica de felicidade e, nessa técnica, a medicina desempenha importante papel. A moral surge aqui como uma aplicação direta ao mecanicismo cartesiano. 13 UTILITARISMO Em Filosofia, o utilitarismo é uma doutrina ética que prescreve a ação (ou inação) de forma a aperfeiçoar o bem-estar do conjunto dos seres envolvidos. O utilitarismo é então uma forma de consequencialismo, ou seja, ele avalia uma ação (ou regra) unicamente em função de suas consequências. Filosoficamente, pode-se resumir a doutrina utilitarista pela frase: Agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar (Princípio do bem-estar máximo). Trata-se então de uma moral eudemonista, mas que, ao contrário do egoísmo, insiste no fato de que devemos considerar o bem-estar de todos e não o de uma única pessoa. 21 Fonte: editoramundomaior.wordpress.com Antes de quaisquer outros, foram Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806-1873) que sistematizaram o princípio da utilidade e o aplicaram a questões concretas – sistema político, legislação, justiça, política econômica, liberdade sexual, emancipação feminina, etc. Em Economia, o utilitarismo pode ser entendido como um princípio ético no qual o que determina se uma decisão ou ação é correta, é o benefício intrínseco exercido à coletividade, ou seja, quanto maior o benefício coletivo, tanto melhor a decisão ou ação. 13.1 Princípio da Utilidade John Stuart Mill foi um dos filósofos que se debruçaram sobre o princípio da utilidade. Bentham expõe o conceito central da utilidade no primeiro capítulo do livro Introduction to the Principles of Morals and Legislation (―Introdução aos princípios da moral e legislação‖), da seguinte forma: ― Por princípio da utilidade, entendemos o princípio segundo o qual toda ação, qualquer que seja, deve ser aprovada ou rejeitada em função de sua tendência de aumentar ou reduzir o bem-estar das partes afetadas pela ação. (...) Designamos por utilidade a tendência de alguma coisa em alcançar o bem-estar, o bem, o belo, a 22 felicidade, as vantagens, etc. “O conceito de utilidade não deve ser reduzido ao sentido corrente de modo de vida com um fim imediato". 13.2 Perspectiva moral e política: Características gerais O utilitarismo, concebido como um critério geral de moralidade pode e deve ser aplicado tanto às ações individuais quanto às decisões políticas, tanto no domínio econômico quanto nos domínios sociais ou judiciários. O Utilitarismo é um tipo de ética normativa -- com origem nas obras dos filósofos e economistas ingleses do século XVIII e XIX, Jeremy Bentham e John Stuart Mill, -- segundo a qual uma ação é moralmente correta se tende a promover a felicidade e condenável se tende a produzir a infelicidade, considerada não apenas a felicidade do agente da ação, mas também a de todos os afetados por ela. O utilitarismo rejeita o egoísmo, opondo-se a ideia de que o indivíduo deva perseguir seus próprios interesses, mesmo à custa dos outros, e se opõe também a qualquer teoria ética que considere ações ou tipos de atos como certos ou errados independentemente das consequências que eles possam ter. O utilitarismo assim difere radicalmente das teorias éticas que fazem o caráter de bom ou mal de uma ação depender do motivo do agente porque, de acordo com o Utilitarismo, é possível que uma coisa boa venha a resultar de uma motivação ruim no indivíduo. Antes, porém, desses dois autores darem forma ao Utilitarismo, o pensamento utilitarista já existia, inclusive na filosofia antiga, principalmente no de Epicuro e seus seguidores na Grécia antiga. E na Inglaterra, alguns historiadores indicam o Bispo Richard Cumberland, um filósofo moralista do século XVII, como o primeiro a apresentar uma filosofia utilitarista. Uma geração depois, Francis Hutcheson, com sua teoria do "sentido interior da moralidade" ("moral sense") manteve uma posição utilitarista mais clara. Ele cunhou a frase utilitarista de que "a melhor ação é a que busca a maior felicidade para o maior número de indivíduos". Também propôs uma forma de "aritmética moral" para cálculo da melhor consequência possível. David Hume tentou analisar a origem das virtudes em termos de sua contribuição útil. 23 O próprio Bentham disse haver descoberto o "princípio de utilidade" nos escritos de vários pensadores do século XVIII como Joseph Priestley, um clérigo dissidente famoso por haver descoberto o oxigênio, e Claude-Adrien Helvétius, autor de uma filosofia de meras sensações, de Cesare Beccaria, jurista italiano, e de David Hume. Helvétius foi posterior a Hume e deve ter conhecido seu pensamento, e Beccária o de Helvétius. Outro apoio ao Utilitarismo é o de natureza teológica, devido a John Gay, um filósofo estudioso da Bíblia que argumentava que fazer a vontade de Deus era o único critério de virtude, mas que, devido à bondade divina, ele concluía que Deus desejava que o homem promovesse a felicidade humana. Bentham, que aparentemente acreditava que o indivíduo, no governo de seus atos iria sempre buscar maximizar seu próprio prazer e minimizar seu sofrimento, colocou no prazer e na dor ambos a causa das ações humanas e as bases de um critério normativo da ação. À arte de alguém governar suas próprias ações, Bentham chamou "ética particular". Neste caso a felicidade do agente é o fator determinante; a felicidade dos outros governa somente até o ponto em que o agente é motivado por simpatia, benevolência, ou interesse na boa vontade e opinião favorável dos outros. Para Bentham, a regra de se buscar a maior felicidade possível para o maior número possível de pessoas devia ter papel primordial na arte de legislar, na qual o legislador buscaria maximizar a felicidade da comunidade inteira criando uma identidade de interesses entre cada indivíduo e seus companheiros. Aplicando penas por atos mal-intencionados, o legislador seria prejudicial para um homem que causasse danos ao seu vizinho. O trabalho filosófico mais importante de Bentham, An Introduction to the Principles of Morals and Legislation ("Uma introdução aos princípios de moral e legislação"), de 1789, foi pensado como uma introdução a um projeto de Código Penal. Jeremy Bentham atraiu jovens intelectuais como discípulos, entre eles o economista David Ricardo, James Mill e o jurista John Austin. Mais tarde John Stuart Mill, filho de James Mill, defendia o voto feminino, a educação paga pelo Estado para todos, e outras propostas radicais para sua época, com base na visão utilitarista de que tais medidas eram essenciais à felicidade e bem estar de todos, assim como 24 também a liberdade de expressão e a não interferência do governo quando o comportamento individual não afetasse as outras pessoas. Seu ensaio "Utilitarianism," publicado no Fraser's Magazine (1861), é citado como uma elegante defesa da doutrina Utilitarista e considerada ser ainda a melhor introdução ao assunto, apresentando o Utilitarismo como uma ética tanto para o comportamento do indivíduo comum quanto para a legislação social. BIBLIOGRAFIA CHAUÍ, Marilena. Convite á Filosofia.São Paulo: Ática, 1999. COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2000. PRADO JUNIOR, C. O que é Filosofia. São Paulo: Brasiliense, 1983. REALE, M. Introdução a Filosofia. São Paulo: Saraiva, 1988. SANCHEZ VASQUEZ, Adolfo. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. ARANHA, M.L ; MARTINS, M.H.P. Filosofando: introdução a filosofia. São Paulo: moderna, 1993. BUARQUE, Cristovam. A desordem do progresso. São Paulo: paz e terra, 1993. CIVITA, Victor. A história da filosofia. Coleção de pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1999. 25 14 LEITURA COMPLEMENTAR Autores: Horácio Luján Martinez, Edemir Jose Pulita e Joel Cezar Bonin Disponível em: http://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rfe/article/ view/8643695/11211 Acesso: 7 de junho de 2016 15 UM DIÁLOGO ENTRE A FILOSOFIA, A EDUCAÇÃO E A POLÍTICA: LIMIARES ENTRE A MORAL, O LEGAL E A REIFICAÇÃO Horácio Luján Martinez, professor da PUC-PR Edemir Jose Pulita, doutorando pela UnB Joel Cezar Bonin, doutorando pela PUC-PR Filosofia e Educação [rfe] – volume 8, número 1 – Campinas, SP Fevereiro-Maio de 2016 – ISSN 1984-9605 – p. 133- 162 Resumo O objetivo desta reflexão é estabelecer um diálogo entre os espaços da educação, da filosofia e da política, buscando construir pontes entre eles. Seu embasamento teórico se refere à crítica ao capitalismo e ao conceito de reificação, a partir de autores da Escola de Frankfurt, de Foucault, de Benjamin e outros autores. Esse texto também faz referência aos acontecimentos recentes que envolvem a presença (ou ausência) dos três elementos citados anteriormente. Viu-se que a educação enquanto estratégia política de governo, foi solapada por medidas governamentais nas esferas estaduais e federal, ao imporem ações que não promoveram o seu devido desenvolvimento. Diante disso, tentamos abordar no texto que segue a falsa ideia de que a “educação é para todos” e que é preciso um olhar político-filosófico para compreender tal assertiva, pois vê-se que os modos de abordagem que discutem a educação em nosso país são enfaticamente mais alienantes e reificadores do que emancipatórios e democráticos. Palavras-chave: filosofia; educação; política. 26 Abstract The purpose of this reflection is to establish a dialogue between the areas of education, philosophy and politics, seeking to build bridges between them. Its theoretical foundation refers to the critique of capitalism and the concept of reification, from authors of the Frankfurt School, Foucault, Benjamin and other authors. This text also refers to recent events involving the presence (or absence) of the three elements mentioned above. We have seen that education as a political strategy of the government was undermined by government measures in state and federal, to impose actions that did not promote their proper development. Therefore, we tried to address in the text that follows the false idea that "education is for everyone" and that it takes a political and philosophical look to understand this assertion, because it is seen that the approach modes discussing education in our country are emphatically more alienating and reifying than emancipatory and democratic. Keywords: philosophy; education; policy. Os desafios da Pátria Educadora A temática da educação não passa incólume nem mesmo nos setores e nas dimensões da vida pública que pouco dependem ou se ligam a ela. Para citar dois exemplos, a produção petrolífera e o conceito de família. A reflexão acerca da educação atinge espaços de interação que vão desde a mesa do jantar até os bastidores do Congresso Nacional. Por isso, não é de se estranhar que as faculdades consideradas licenciaturas entrem neste embate diante da temática da educação, como por exemplo, a filosofia, a história, a geografia, a matemática, a pedagogia, entre outras. Porém, a discussão começa a causar alvoroço quanto se tenta pensar este campo polêmico, polissêmico e polifônico a partir da possibilidade do estabelecimento de um fundamento científico ou de princípios filosóficos que lhe deem sustentação em termos de conceitos, práticas, reflexões e políticas. Buscamos, nos limites deste artigo, discutir as interfaces entre os campos da educação e da filosofia, sob o foco da política, tanto em termos teóricos quanto em termos práticos. Segundo Oliveira (2012, p. 10ss) tanto o empenho filosófico quanto a prática educativa, se vistos numa perspectiva dialógica e convergente entre a Filosofia e a Educação por filósofoseducadores ou educadores-filósofos, tem muito a 27 enriquecer a reflexão, o diálogo, a análise e a construção de conhecimentos em ambas as áreas, seja no saber filosófico ou na ciência pedagógica. Relembrando o período clássico da filosofia grega, Botter (2012) é pontual ao afirmar que “a filosofia é pedagógica e a pedagogia é filosófica, assim como a filosofiapedagogia é política e a política é filosófico-pedagógica” (p. 19-20). Diversos acontecimentos recentes demarcam, por outro lado, uma grande dissociação entre o mundo filosófico, pedagógico e político. Vivemos dias nebulosos nos quais não se nota mais a aproximação entre filosofia, política e educação. “Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la”. Esse jargão tão propalado é uma máxima da profunda separação do cidadão comum como o mundo que o cerca. Desse modo, queremos aprofundar a correlação que existe entre o mundo da TV ou das tecnologias comunicacionais digitais e do mundo vivido, entre a realidade que se escancara diante de nossos olhos e a realidade produzida pelo mundo midiático, e um pouco sobre a realidade em que se constrói a educação no Brasil, tão midiaticamente utilizada pela política e seus sujeitos. Uma pátria que se pretende educadora deve priorizar e construir diálogos entre as práticas educativas, as ações políticas e os saberes filosóficos. Que país e mundo são esses? “Vivemos esperando dias melhores” (Jota Quest, 2000). Essa frase presente na canção Dias melhores da banda Jota Quest, lançada no ano que fecha o segundo milênio da era cristã, reflete claramente a expectativa que muitas pessoas têm diante do mundo e da vida. Tal esperança já se manifestava no início do século XX, um século que marcou historicamente a existência humana, pois se acreditava que todas as inovações e invenções decorrentes da Revolução Industrial se plenificassem na aurora desse tempo. Porém, o que vemos hoje, em pleno século XXI, é que a vida, em diversos aspectos e sob vários pontos de vista, está sendo suprimida e mensurada, controlada e vigiada, manipulada e reificada. 28 É evidente que não se está afirmando nada de novo, não há aqui uma pretensão de expor nada de inovador, até porque tal palavra se apresenta, por inúmeras vezes, como puramente ideológica. O que se esconde por trás de toda inovação pode ter um “quê” de mascaramento. O que exige cada vez mais um exercício hermenêutico profundo, pois quer se saber se a inovação apresentada pelas principais vias de comunicação deseja ou não esconder a verdade, seja a coloquial, a impressa ou a midiática. Essa realidade é ainda mais impactante quando se vê as crescentes denominações da sociedade atual enquanto era da informação e/ou do conhecimento. Um dos maiores problemas da comunicação atual repousa na angústia de dizer algo mesmo que não seja necessário dizer nada. Notícias sensacionalistas, propagandas espetaculares, telejornais impregnados de falsas verdades. Como já havia escrito Walter Benjamin (1985, p. 202), citando Villemessant, jornalista que fundou o Figaro: “para meus leitores, o incêndio num sótão do Quartier Latin é mais importante que uma revolução em Madri”. Juntamente com a televisão, o mundo da tecnologia preencheu um vazio que ainda permanece oco. Na substituição da comunicação oral e no afã de induzirtodos a desejarem as mesmas coisas, o ser humano ainda permanece desamparado. Na substituição do sagrado transcendental, o ser humano busca o sagrado que emana dos próprios objetos, sem se dar conta que os objetos estão para ele e não o contrário. A fé dogmática de outrora em um mundo no qual predominava a ideologia cristã, se transubstancializou em uma fé dogmática extremista e fundamentalista não apenas presente nos estabelecimentos e nos postos da fé, mas agora mais presente ainda através dos meios de comunicação digitais em rede. Sartre (1987, p. 6) ao afirmar que a “existência precede a essência” foi e continua sendo mal-interpretado, pois é cada vez mais evidente a noção de que as pessoas anseiam por uma existência sem essência. O fato de que primeiro existimos e depois encontramos a nossa essência ainda permanece uma incógnita, pois é cada vez mais explícito que as pessoas querem apenas existir. Tal reflexão se maximiza sobremaneira em uma sociedade que está imersa e envolta em uma profusão midiática e tecnológica sem precedentes na História. Nesta sociedade de consumo, 29 altamente tecnologizada e midiatizada, o ter, o ser e o estar se confundem com o comprar, o possuir e o utilizar. A mistura contemporânea de hedonismo e de maniqueísmo encontrou nas tecnologias digitais uma levedura extremamente potente de fermentação. Para se fazer uma escolha sincera por uma reflexão mais aprofundada, é mister compreender que justamente no início do século passado, os estudiosos da Escola de Frankfurt e alguns outros a eles relacionados, analisaram as possíveis consequências do avanço tecnológico, primeiramente, refletindo sobre o desenvolvimento bélico usado na 1ª e na 2 ª Guerras Mundiais e suas consequências para a vida posterior. Adorno (2010 , p. 11), neste sentido, afirma que “o desenvolvimento da sociedade a partir da Ilustração, em que cabe importante papel à educação e formação cultural, conduziu inexoravelmente à barbárie”. Fazendo uma crítica, tendo por base a premissa de “que Auschwitz não se repita!” (2010, p. 21), o filósofo reflete a respeito da ideologia do progresso: Em outras palavras: a questão do poder e da ética, a dominação autoritária ou a democracia, não são examinadas como fundantes ou existências primárias [...] mas derivadas no curso do desenvolvimento determinado da formação social. Auschwitz faz parte de um processo social objetivo de uma regressão associada ao progresso, um processo de coisificação que impede a experiência formativa, substituindo-a por uma reflexão afirmativa autoconservadora, da situação vigente. Auschwitz não representa apenas o genocídio num campo de extermínio, mas simboliza a tragédia da formação na sociedade capitalista (Adorno, 2010, p. 22). Pensar acerca dos avanços tecnológicos e das mudanças que tais transformações aportam, não implica em uma pura negação dos benefícios que estes trouxeram para a vida humana, mas, ao contrário serve para afirmar que uma visão de mundo baseada somente nas tecnologias se torna escrava e refém de um sistema de controle e vigilância da vida humana, tão proficuamente expresso por Michel Foucault (1987) em Vigiar e Punir. As tecnologias em geral e, principalmente, as de 30 controle e de vigilância nascem de modo mais claro no século XIX, mas se transformam em sistemas no século seguinte. A lógica desse controle e desse poder transmuta-se do espaço das penitenciárias, dos hospitais e das fábricas para o mundo vivido, isto é, não há como escapar do “olho que tudo vê”, que passa de uma mera expressão metafísica, segundo os moldes cristãos, para algo mais concreto e prático. Desse modo, as formas de controle se expandem e, tal qual um deus invisível e poderoso, opera sobre os seres humanos de modo cada vez mais eficaz. Na medida em que novos meios de comunicação, tais como smartphones e notebooks, se tornam cada vez mais democráticos e as pessoas tem um acesso maior à rede mundial de computadores via conexão digital, o mundo da informação, da comunicação e da expressão é cada vez mais propalado e reproduzido. Porém, surge-nos uma questão essencial: isso efetivamente tornou a vida das pessoas algo melhor? Por esse viés e sublinhando o impacto que qualquer meio produz na sociedade, McLuhan (2007, p. 25) escreve que os “meios levam em conta não apenas o ‘conteúdo’, mas o próprio meio e a matriz cultural em que um meio ou veículo específico atua”. Diante disso, então, “cada produto que molda uma sociedade acaba por transpirar em todos e por todos os seus sentidos” (McLuhan, 2007, p. 37), ou seja, por mais ou menos influenciados que sejamos, conscientes ou não, estamos imersos no ambiente digital e virtual por toda parte e em todas as dimensões de nossas vidas. A conclusão de McLuhan (2007, p. 403) do livro Os meios de comunicação como extensões do homem é envolta em um realismo pessimista nebuloso: “o temor pânico ante a automação em escala mundial, é uma projeção no futuro do especialismo e da padronização mecânica – que agora pertencem ao passado”. Nesse sentido, podemos citar um trecho da obra de Deleuze (Conversações) que corrobora McLuhan. É fácil fazer corresponder a cada sociedade certos tipos de máquina, não porque as máquinas sejam determinantes, mas porque elas exprimem as formas sociais capazes de lhes darem nascimento e utilizá-las. As antigas sociedades de soberania manejavam máquinas simples, alavancas, roldanas, 31 relógios; mas as sociedades disciplinares recentes tinham por equipamento máquinas energéticas, com o perigo passivo da entropia e o perigo ativo da sabotagem; as sociedades de controle operam por máquinas de uma terceira espécie, máquinas de informática e computadores, cujo perigo passivo é a interferência, e, o ativo, a pirataria e a introdução de vírus (Deleuze, 2013, p. 227). “Ter o mundo na palma de sua mão” é um slogan de uma operadora de telefonia móvel que cada vez mais possui novos adeptos ou seguidores. Nesse caso, é fundamental nos atentarmos para o uso da palavra “seguidor”. A frase messiânica de Jesus: “Venha e siga-me” (Bíblia, 1991, p. 1265) é um símbolo que traduz uma das mais fortes verdades que vemos em nosso tempo, contudo, o seguimento é cego ou, no mínimo, caolho. A postura de abandono das próprias escolhas, da ausência de autonomia, a falta de um exercício refletido acerca daquilo que se quer, resumem o “cardápio do dia”. O que se quer para além das migalhas e da sensação de euforia meteórica e instantânea? Ainda não se sabe, pois nos dias de hoje ainda não há uma certeza de qual será a reação dos inúmeros Narcisos digitais diante de seus lagos- telas. Contudo, a profusão midiática, tecnológica e informacional está em franco desenvolvimento e pesquisas das áreas de mídias, comunicação e educação estão debatendo suas características, movimentos, sujeitos, tempos e espaços sob diversos enfoques, discursos e ideologias. Diante disso, cabe a indagação de qual será o resultado: se emancipatório ou se catastrófico. Desse modo, vê-se que a vida humana foi reduzida ao constante despertar do desejo. O desejo de se querer algo, que ao fim e ao cabo, não se quer. As manifestações efusivas do desejo estão presentes na vida infantil e adulta. As crianças encontram constantemente estímulos para almejarem algo que não está nelas, mas que precisam ser introjetados para se sentirem partícipes de grupos sociais. As habilidades motoras, o ato de brincar, o ato de estabelecer vínculos afetivos sinceros são substituídos por produtos que criam agora um laço de inclusão social, mas que não são mais dirigidos pelo “estar-com” ou “com-um” (comum/comunidade), porém agora pelo “tercom”. As relações sociais são 32 estabelecidas com base em uma vida “desvivida”, no sentido de que experimentar a crueza da vida se tornou algo enfadonho, triste, semlógica. Certa anestesia mental invadiu as relações. O contato com o mundo e com o outro passou a ser mediado por instrumentos. Não se pode mais sentir o mundo como ele mesmo é, senão somente por meio das tecnologias. Vivencia-se o prazer existencial, sexual, relacional por meio de sensações virtuais. O real, enquanto ele mesmo, é interpretado por meio de algo não-real. Tempos e espaços variam entre o presencial e o virtual e a configuração da identidade, da memória e da subjetividade se dão de maneira diversa em/entre ambos. O termo virtual pode ser entendido em três sentidos, segundo Pierre Lévy (2000) em um sentido técnico informacional, em um sentido corrente e em um sentido filosófico. Nesta última acepção, segundo o autor, o virtual não é antônimo de real, mas sim se opõe ao atual, pois “virtualidade e actualidade são apenas duas formas diferentes da realidade. Se é da essência da semente produzir uma árvore, a virtualidade da árvore é bem real (sem ser ainda actual)” (Lévy, 2000, p. 51). Percebe-se também que na vida adulta é cada vez mais premente o acesso aos bens de consumo. A disponibilidade facilitada de aquisição de uma infinidade de cartões de crédito faz com que os homens e mulheres se tornem inadimplentes justamente porque anseiam pelos objetos que encontram, seja pela tela da TV ou do computador. Tal anseio remete a um desejo irrefreado de posse, de falso domínio e de alívio. Os compradores compulsivos não são apenas “doentes mentais”, ao contrário, são seres humanos que não foram capazes de refletir sobre as consequências nefastas do desejo ou foram convencidos sem a menor chance de qualquer reação contrária. O marketing “agressivo” faz com que o consumidor seja movido a desejar e a ser incitado pela vontade, pois como afirma Schopenhauer (2005), a vontade é ilimitada e o resultado disso é a frustração e a tristeza decorrentes da impossibilidade da aquisição dos bens desejados. Entre querer e alcançar flui sem cessar toda vida humana. O desejo, por sua própria natureza, é dor; já a satisfação logo provoca saciedade: o fim fora apenas aparente: a posse elimina a excitação, porém o desejo, a necessidade aparece em nova figura (Schopenhauer, 2005, p. 404). 33 A incessante insatisfação do desejo desperta nas pessoas um ad eternum de frustração. Em outras palavras, como o desejo não tem objeto definido e vai sendo alterado perpetuamente, o ser humano se vê desamparado, fraco, nu. Essa nudez do desejo o leva ao preenchimento constante desse vazio, mesmo que aquilo que se quer seja indefinido. Muitos pensadores da Escola de Frankfurt, ou ligados a ela, abordaram o tema da “insatisfação programada” decorrente da contínua obsolescência do desejo. Adorno, Horkheimer e Benjamim podem ser considerados aqueles que mais discutiram tais temas na esteira do pensamento marxiano. Desse modo, é assaz necessário dizer que Marx já afirmara em O Capital que a mercadoria é misteriosa simplesmente por encobrir as características sociais do próprio trabalho dos homens, apresentando-as com características materiais e propriedades sociais inerentes aos produtos do trabalho; por ocultar, portanto, a relação social entre os trabalhos individuais dos produtores e o trabalho total, ao refleti-la como relação social existente, à margem deles, entre os produtos do seu próprio trabalho. Através dessa dissimulação, os produtos do trabalho se tornam mercadorias, coisas sociais, com propriedades perceptíveis e imperceptíveis aos sentidos (Marx, 1980, p. 81). O prelúdio de Marx assume vestes macabras no período dos anos 30 e 40 do século XX, período no qual a Escola de Frankfurt foi fundada e ocorreu a 2ª Guerra Mundial, pois a mercadoria fetichizada é a mercadoria da morte. A morte de inúmeros judeus que são perseguidos pelo nazismo, a morte de pessoas que devem ser eliminadas pelo simples fato de existirem. A existência agora é motivo de ódio, de rancor. Um nós deve aniquilar um eles. A morte é a principal fonte de renda nesse período. Fazer do Holocausto uma máquina de produção, que sistematicamente aniquila e destrói a história de um povo resultando absurdamente na incapacidade de se avaliar a morte do outro como um negócio foi a principal crítica de Hannah Arendt 34 aos perseguidores do povo judeu, incorporados na figura de Adolf Eichmann. E essa relação de morte está, segundo Arendt, estritamente ligada a uma ideia de consumo: Crer que tal sociedade há de se tornar mais “cultivada” com o correr do tempo e com a obra da educação constitui, penso eu, um fatal engano. O fato é que uma sociedade de consumo não pode absolutamente saber como cuidar de um mundo e das coisas que pertencem de modo exclusivo ao espaço das aparências mundanas, visto que sua atitude central ante todos os objetos, a atitude do consumo, condena à ruína tudo em que toca (Arendt, 2003, p. 264). Seguindo essa reflexão, Foucault (1996, p. 206) afirma que “a morte do outro, a morte da raça má, da raça inferior (degenerada, inferior) é isso que tornará a vida mais sã e mais pura”. E o autor continua escrevendo, se questionando "como é possível que um poder político mate, reivindique a morte, exija a morte, mande matar, dê a ordem para matar, exponha a morte não só aos seus inimigos, mas também aos seus cidadãos?" (Foucault, 1996, p. 205). Outrossim, se a experiência histórica recente não nos desperta à consciência, à crítica e à reflexão, é fundamental fazermos um contraponto com a relação do homem com as mercadorias na atualidade. O fetiche ainda é o mesmo, porém o foco agora é a manutenção da vida pelo consumismo. O essencial é enfatizar que tudo se tornou mercadoria, porém sem invólucros ou mascaramentos. E isso se vê maximizado com a profusão midiática, informacional, tecnológica e digital. A decepção, contudo, está na cegueira com a qual as pessoas, voluntariamente, se inserem neste círculo vicioso. Porém, como lembra Jaguaribe (2007) em O choque do real: estética, mídia e cultura, “o acesso à realidade é moldado pelos meios de comunicação que fornecem, inclusive, os imaginários para a invenção e fabricação do indivíduo” (p. 37). 35 Regidas pela lógica capitalista da circulação, as imagens imperam, impõem o domínio da aparência e fomentam a alienação social já que dinamitam agenciamentos sociais em prol das fabricações visuais que não convidam ao diálogo, mas à mera passividade da absorção consumista (Jaguaribe, 2007, p. 38). A existência que, outrora, se fundava numa vida após a morte ou numa ascese espiritualizada, naufraga em um afã de desejos quiméricos e vazios. Quando se compra um bem móvel ou imóvel, o mesmo já engendra uma insatisfação, pois dentro de poucos dias, o mercado já lança um novo produto mais moderno e mais “completo” do que o adquirido. Esse constante update das coisas causa uma sensação de frustração e amargura que geram aquilo que Adorno e Horkheimer chamam de “promissória da felicidade”: A indústria [...] não cessa de lograr seus consumidores quanto àquilo que está continuamente a lhes prometer. A promissória sobre o prazer, emitida pelo enredo e pela encenação é prorrogada indefinidamente: maldosamente, a promessa a que afinal se reduz o espetáculo significa que jamais chegaremos à coisa mesma, que o convidado deve se contentar com a leitura do cardápio (Adorno; Horkheimer, 1985, p. 130-131). A promessa nunca cumprida resume com clareza o entendimento de que o desejo como algo que precisa encontrar uma resposta imediata é algo evidente. Essa imediatez certamente precisa ser atualizada diariamente, constantemente. “A felicidade na palma da sua mão” é uma boa paráfrase, pois a plenitude do desejo se efetiva desse modo. Além disso, nota-se que há também uma visão muito reducionista dos conflitos na vida política na atualidade, pois se crê que a partir doliberalismo, as pessoas seriam capazes de ver o mundo como um lócus de consenso. Tal afirmativa corrobora com a ideia de que vivemos em um mundo que segue a “lógica do doce 36 comércio”, do laissez faire. Por isso, politicamente falando, podemos destacar o que Chantal Mouffe afirma sobre o cenário político atual: As sociedades democráticas encaram atualmente um desafio para o qual estão mal preparadas a responder. Longe de ter conduzido a uma suave transição para a democracia pluralista, o colapso do comunismo abriu caminho para uma explosão de conflitos étnicos, religiosos e nacionalistas que muitos liberais não podem compreender. Na visão destes, os antagonismos pertencem a uma era passada, a um tempo pré-moderno, quando as paixões não tinham ainda sido eliminadas pelo ‘doce comércio’ e substituídas pelo domínio racional dos interesses e pela generalização das identidades ‘pós- convencionais’. Daí a dificuldade dos pensadores democráticos liberais para compreender a proliferação atual dos particularismos e a emergência de antagonismos supostamente ‘arcaicos’ (Mouffe, 2003, p. 12). Contudo, voltando ao problema do consumismo e da “doce domesticação midiática”, o acesso aos bens de consumo se tornou algo tangível para muitos em nossa contemporaneidade. Os sujeitos são vítimas de toda uma avalanche de estímulos e incitações que afloram na sensibilidade. Os padrões estéticos, os padrões éticos e os padrões de consumo se unificaram diante do marketing que se dá de diversas formas: presencial, à distância, virtual, local, global. E a lógica que mais se perpetua com isso é a seguinte: não deve haver distinção entre o ser e o ter. Konder (2009 , p. 90) aponta que a ideologia capitalista dominante impõe que “se o sujeito humano não existe, tudo é vendável, tudo pode ser objeto de compra e venda”. Na sequência, o autor constata que “os sujeitos humanos, cada vez mais, estão sumindo; uns desaparecem nas grandes empresas, nas sociedades anônimas; outros somem atrás dos objetos-mercadorias” ( Konder, 2009, p. 90), que, segundo o pensador, atualmente possuem mais visibilidade que os próprios sujeitos produtores e consumidores. Cria-se uma nova noção de estética: a aparência vale mais do que a essência. Aliás, deve haver uma nova distinção estética, mais forte e cruel: a aparência 37 suplantou a essência. Essa noção estética não tem a ver com um modo de ser ou de se viver, mas infelizmente está conectada a um saberpoder-ter. Os saberes se redundaram a uma forma de vida que implica numa objetivação do ser. As subjetividades foram exterminadas tendo como fim a plenitude de um modo de vida igualmente padronizado e reificado. É uma ontologia do aqui e agora. Uma plenificação de um modelo de vida que coisifica o ser humano em um objeto desprovido de valores, de sentimentos, de identidade. Ele deve ser o que é como coisa e não como sujeito que pensa, que critica, que analisa. Ele apenas precisa imitar um modelo que o coloque no mundo como um número, um objeto e isso basta. Essa discussão nos remete à reflexão de Jaguaribe, sobre a atualização do conceito de fetiche a partir das tradições marxista e freudiana. Qual seria a versão moderna na palavra fetiche? Embora possa existir algumas variações sobre o início histórico do termo fetiche, há um consenso acadêmico que situa este conceito em duas vertentes básicas. Por um lado, o fetiche está associado à interpretação psicanalítica, notadamente a análise de Freud que compreende o fetiche como resultante de uma ansiedade de castração propiciada pela visão do sexo feminino. [...] A outra associação possível com a palavra fetiche é dada pela óptica de Marx que situa o fetichismo como o encantamento com mercadorias e objetos em que estes são dotados de significados imanentes que obscurecem o trabalho histórico espoliativo que fora acionado para sua fabricação. Em ambas as versões, há o deslocamento do desejo e uma forte ênfase na visualidade como provocadora do fetiche (Jaguaribe, 2007, p. 188). Além disso, um dos fundamentos principais da teoria da história e das categorias de tempo e de construção do conhecimento de Walter Benjamin é a contraposição ao conceito de progresso, visto dentro de uma teleologia, a qual está fadado o desenvolvimento tecnológico da humanidade. Benjamin denuncia já em sua época que o progresso da ciência não é sinônimo de desenvolvimento da humanidade, mas “ele o seria se, com o crescimento dos conteúdos de verdade acumulados, aumentasse igualmente a participação dos seres humanos nestes 38 conhecimentos” (2009, p. 522-523). Benjamim desenvolve tal reflexão em diversos textos, mas, principalmente, no O anjo da História, ao fazer uma análise de uma imagem de Paul Klee, o Angelus Novus. Há um quadro de Klee intitulado Angelus Novus. Representa um anjo que parece preparar-se para se afastar de qualquer coisa que olha fixamente. Tem os olhos esbugalhados, a boca escancarada e as asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Voltou o rosto para o passado. A cadeia de fatos que aparece diante dos nossos olhos é para ele uma catástrofe sem fim, que incessantemente acumula ruínas sobre ruínas e lhas lança aos pés. Ele gostaria de parar para acordar os mortos e reconstituir, a partir dos seus fragmentos, aquilo que foi destruído. Mas do paraíso sopra um vendaval que se enrodilha nas suas asas, e que é tão forte que o anjo já não as consegue fechar. Esse vendaval arrasta-o imparavelmente para o futuro, a que ele volta as costas, enquanto o monte de ruínas à sua frente cresce até o céu. Aquilo a que chamamos o progresso é este vendaval (Benjamim, 2013 , p. 14). Em outras palavras, podemos dizer que a visão de Benjamin diante do futuro da humanidade é aterradora, pois os eventos atuais tornam isso claro: a falta de água em vários países do mundo, a destruição constante do planeta devido a insaciável marcha do progresso do capitalismo tardio, a evidente desigualdade social, o modo de produção serializado e uniformizador, a violência contras as minorias, inclusive professores. Os avisos não são de ontem, eles já foram declarados há quase um século atrás. A ideia de progresso atacada por Benjamin, e que deixa o Anjo da História estupefato se assemelha aos encantamentos tecnológicos atuais que encobrem e, por vezes impedem uma leitura histórica, social, política, e cultural, a qual o filósofo alemão convoca a reflexão e ao combate. Pensar o desenvolvimento técnico e tecnológico como sinônimos e garantias de progresso, principalmente em termos de democracia e justiça dos bens sociais, políticos, culturais, econômicos entre outros, é uma ilusão, ou, para usar um termo do próprio Benjamin, uma fantasmagoria. 39 Por outro lado, a Aufklärung defendida por Kant (1980) agora se tornou um modo de esclarecimento às avessas, no qual a mediocridade se faz patrona da verdade. O medíocre se tornou o porta-voz do mundo. A fórmula mais verdadeira que resume tal assertiva está na inversão da frase cartesiana que vai do “penso, logo existo” para um “consumo, logo existo”. É evidente que se está fazendo uma inferência indutiva à ideia cartesiana, mas de qualquer modo, a expressão ainda assim é portadora de sentido. Quais serão as ruínas que ficarão depois de nós? À essa pergunta, muitas respostas podem ser dadas, porém um dos problemas mais evidentes que constatamos é a falta de uma compreensão mais clara das consequências futuras das ações atuais, que Hans Jonas (1995/2006) defende em seu livro O Princípio Responsabilidade, ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Na linha de estudos inaugurada por Kant (1980), que visa despertar a importância de imperativos categóricos para a ação, Jonas depõe a favor de uma reconfiguração da ação humana que não paira mais no agente singular, mas que atingeprioritariamente a coletividade. Se o viés kantiano estava tomado por um modo de agir que preconizava uma ação do “si para o outro”, tomado por um telos universal visando o ontem para o hoje, Jonas declara que as ações humanas precisam ter como fim a coletividade pensando o hoje para o futuro. Como afirmam Claúdia Battestin e Gomercindo Ghiggi (2010, p. 71). no período moderno, o imperativo categórico kantiano foi mantido como sendo exemplar por muito tempo, tendo a pretensão de negar tudo que fosse extra-humano. Kant formulou seu imperativo com o seguinte propósito: ‘Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal’ (Kant, 1980, p. 129) . Ou seja, age de tal maneira que o princípio de tua ação se transforme numa lei universal. O imperativo de Kant é um caso extremo da ética da intenção, obedecendo à ação individual, válido no plano individual. Este imperativo dirige-se ao imediato e só requer a consistência do ato consigo mesmo. 40 Em contraponto ao princípio kantiano, Battestin e Ghiggi (2010) defendem que Jonas avança ao apontar o papel da responsabilidade que todos os seres humanos devem ter diante do mundo e da importância da reflexão acerca das próprias ações. O Princípio Responsabilidade, além de ser considerado um princípio ético, proporciona uma perspectiva de diálogo crítico em plena era tecnológica. Jonas entende que, “sob o signo da tecnologia, a ética tem a ver com ações de um alcance causal que carece de precedentes [...]. tudo isso coloca a responsabilidade no centro da ética” (Jonas, 1995, p. 16-17). Hans Jonas formulou um novo e característico imperativo categórico, relacionado a um novo tipo de ação humana: “Age de tal forma que os efeitos de tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana autêntica sobre a terra” (Jonas, 1995 , p.40). O imperativo proposto por Hans Jonas é de ordem racional para um agir coletivo como um bem público e não individual ( Battestin, Ghiggi, 2010, p. 71). Essa inversão do telos da ação humana apontada por Jonas pode ser considerada como um novo meio para se refletir as consequências do consumismo e da ação devastadora do desejo ilimitado, isto é, Jonas critica as ações humanas que estão direcionadas apenas para o uso desmedido dos recursos do planeta. Sua visão diante do futuro não é nada promissora, tal como Benjamim aponta. Contudo, apesar dos avisos já ouvidos, é fundamental a reflexão de que o papel do ser humano diante da vida como um todo é repensar o que se almeja com aquilo que se deseja. Dito de outro modo, o ser humano precisa saber equilibrar as suas ações e as suas consequências. Como afirma Jonas: [...] Trata-se de saber se, sem restabelecer a categoria do sagrado, destruída de cabo a rabo pelo Aufklärung ( Iluminismo) científico, é possível ter uma ética que possa controlar os poderes extremos que hoje possuímos e que nos vemos obrigados a seguir conquistando e exercendo. [...] Mas uma religião inexistente não pode desobrigar a ética de sua tarefa; da religião pode-se dizer 41 que ela existe ou não existe como fato que influencia a ação humana, mas no caso da ética é preciso dizer que ela tem que existir. Ela tem de existir porque os homens agem, e a ética existe para ordenar suas ações e regular seu poder de agir. Sua existência é tanto mais necessária, portanto, quanto maiores forem os poderes de agir que ela tem de regular. (Jonas, 2006, p. 65-66). Em outras palavras, sabe-se que há um universo de políticas que tentam retomar o cuidado com o humano e com o planeta, porém, nem sempre essas políticas levam em consideração o viés ético e, por isso, logo são abafadas ou esquecidas. Como Jonas afirma, o viés religioso é facultativo, mas o aspecto ético é o mais importante na avaliação das ações humanas, pois todo ser humano age. Agir eticamente (como função por excelência da atividade filosófica) é a principal prerrogativa para a educação e para a política, porém, sempre é o aspecto mais olvidado. A responsabilidade humana deve ser mensurada pela ética pois do ponto de vista tecnológico, nos parece, que o primeiro ponto que impede o seu suposto progresso é a sua voz. É preciso rever as implicações do progresso pelo olhar crítico da ética filosófica. Porém, tudo isso pode aparentar ser apenas uma elucubração, pois o denominado biopoder, afirmado por Foucault e presente em muitos pensadores atuais, tornou a vida humana escrava de um exercício de poder que esquadrinha e monitora constantemente a vida humana, inclusive, no que se refere à sexualidade como “fonte da própria vida”. [...] A partir do século XVI, a ‘colocação do sexo em discurso’, em vez de sofrer um processo de restrição, foi ao contrário, submetida a um mecanismo de crescente incitação; que as técnicas de poder exercidas sobre o sexo não obedeceram a um princípio de seleção rigorosa mas, ao contrário, de disseminação e implantação das sexualidades polimorfas e que a vontade de saber não se detém diante de um tabu irrevogável, mas se obstinou – sem dúvida através de muitos erros – em se constituir uma ciência da sexualidade (Foucault, 1988 , p. 17-18). 42 Sendo assim, vê-se com evidência que o controle sobre a vida não se redunda apenas a fiscalizar as ações e as intenções humanas, mas acima de tudo, as formas de perpetuação da própria vida. Entre o permitido e o proibido, entre os “sim” e os “não”, temos limitações e cerceamentos que configuram uma práxis de monitoramento da vida. Uma moral, que se tornou mais coercitiva do que a própria lei. Um saber que engendra uma maneira de visualizar a própria existência como algo que deve ser objeto de estudo científico. Um discurso que tenta amplificar a teia de poder e vigilância sobre as pessoas. Se, de um lado, temos a ideia foucaultiana de um controle sobre a vida que perpassa o aparato sociopolítico, temos pelo viés frankfurtiano, uma visão de reificação do ser humano, que não se vê nos objetos produzidos e que, por isso mesmo, são fantasmagóricos, providos de vida própria e detentores de um poder que ultrapassa o óbvio. É a total redução do sujeito a um objeto, que por um lado, é manipulado pelo sistema político e que, por outro, é manipulado pelas coisas. Assim afirma Nádia Paulo Ferreira (2010 , p. 426): [...] Não basta produzir mercadorias, é preciso gerar demandas. Da sigla do objeto, se extraem as imagens em torno das quais se constrói o discurso da publicidade. A função da marca é introduzir o objeto numa rede de associações significantes, fazendo com que se individualize e adquira significações que o tornem desejável. Só assim o objeto se torna sustentáculo da promessa de um gozo-a-mais. Tratase de uma estratégia que se constrói a partir do que é próprio da estrutura de um ser submetido às leis da linguagem. Se uma das faces da castração é o não haver da relação sexual, logo, o que se vende é o que não há para ser comprado. Mas se não há, é por isto mesmo que os objetos são apresentados como fetiches para tomar o lugar de um parceiro humano e gerar relações de dependência que venham substituir os laços entre os homens. 43 Até aqui o nosso intento foi o de demonstrar a importância do pensamento hodierno acerca da vida humana ou, melhor, nosso intento foi o de apresentar de que maneira a vida humana foi mensurada, controlada e manipulada pelos modos de consumo e de vivência em sociedade. A partir desse entendimento, podemos compreender que a vida humana passou a ser objetivada e reificada, isto é, a vida humana reduzida a res. Essa res, a qual o ser humano se transformou agora é colocada em evidência no mundo político e no mundo educacional, principalmente se o fenômeno for analisado pela maximização da sujeição da própria noção de identidade: o que significa ser professor,
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