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CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Ramon Alberto Cunha de Faria O imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e aos serviços de transporte e comunicação, mais conhecido como ICMS, é um imposto de compe- tência estadual, e é a maior fonte de arrecadação tributária para os Estados, além de também ser uma das principais fontes de arrecadação tributária do país. A Constituição Federal (CF) de 1988, em seu inciso II, artigo 155 apresenta: Você acabou de ver que a competência para cobrar, fiscalizar e arrecadar o ICMS é dos Estados e do Distrito Federal. Portanto, cabem a eles regular a incidência desse imposto. O ICMS foi criado pela Constituição de 1934, e era chamado de Imposto sobre vendas e consignações (IVC). Com ele, cada venda era tida como um fato gerador diferente, incidindo sobre toda a cadeia produtiva, fazendo o imposto incidir em cascata, visto que cada operação mercantil gerava nova tributação do IVC. O IVC era tributado sobre um percentual sobre o valor da mercadoria. Após a Emenda Constitucional de 1965 instituiu-se o ICM – Imposto sobre circulação de mercadoria, no lugar ao antigo IVC. A diferença estava no fato de que o ICM seria um imposto não cumulativo, ou seja, não incidiria em cascata, pois sua tributação era feita pelo valor agregado, ou seja, pela diferença do montante da operação tributada com a etapa anterior. Isso fazia amortizar a incidência do ICM sobre o consumo do bem, distorcendo a ano- malia das operações em cascatas. A Constituição Federal de 1988 trouxe uma inovação ao atribuir o “S” para o antigo ICM, ficando, portanto, até os dias de hoje conhecido como ICMS. O “S” veio para dar autonomia financeira aos Estados para ganharem mais um fato gerador para a incidência do ICMS, como os serviços de trans- portes interestadual e intermunicipal e, também, os serviços de comunicação. Além disso, foram extintos os impostos especiais, referente aos combustíveis e lubrificantes, energia elétrica e minerais retirados do país, que eram de com- petência da União e passaram a ser da competência para os Estados. O ICMS obedece a hierarquia da lei, na seguinte ordem: Constituição Federal; Lei complementar; Lei ordinária; Decretos estaduais; Portarias, Instruções normativas, Convênios e outras normas infralegais. O ICMS não será cumulativo, ou seja, será compensado o que for devido em cada operação relativa a circulação da mercadoria e prestação de serviços de transportes interestaduais e intermunicipais e comunicação com o mon- tante devido nas etapas anteriores, evitando, assim, a chamada tributação em cascata. Isso ocorre da seguinte maneira: quando uma empresa adquire uma mer- cadoria para seu estoque, o valor do ICMS nessa operação é recuperado pela empresa, que, quando vende essa mercadoria de seu estoque, calcula a dife- rença do montante de ICMS recuperado entre o valor do imposto debitado pela venda da mercadoria. Há situações em que a própria Constituição Federal de 1988, e outros atos normativos, distinguem que não caberá a incidência do ICMS, por exemplo: Venda de livros, jornais e papeis destinados a impressão – incentivo à cultura. Exportação de bens e serviço, salvo algumas exceções previstas em lei. Operações interestaduais com lubrificantes, petróleo, energia elétrica, combustíveis líquidos e gasosos. O ICMS abrange vários campos para sua incidência, como: A operação de circulação de mercadorias, inclusive o fornecimento de bebidas, alimentos e outras mercadorias de quaisquer estabelecimentos. Sobre os serviços de transportes interestaduais, intermunicipais por quaisquer modalidades (ferroviário, hidroviário e espacial). Sobre as prestações de serviços que sejam onerosas, de comunicação, pela recepção, geração e emissão de receptores, entre outros. Fornecimento de mercadoria com prestação de serviços, não compre- endidos na competência do município a que se refere à incidência do imposto sobre serviços (ISS). O ICMS tem uma peculiaridade em sua incidência, pois obedece a um prin- cípio constitucional chamado de “seletividade”, ou seja, sua tributação será em conformidade com a essencialidade e a necessidade da mercadoria ou ser- viços, ou seja, quanto mais necessário for o produto menor será sua alíquota, e, quanto maior for a superficialidade do produto maior será sua alíquota. Assim este imposto é classificado como seletivo, pois gera justiça fiscal. Al- guns estudiosos dizem que este imposto traz justiça social, como o caso do imposto de renda. O fato gerador é a situação na qual ocorre concretamente o que já estava em lei, fazendo nascer a obrigação de pagar o imposto – ICMS. Veja, nas se- guintes situações, o fato gerador do ICMS: A circulação da mercadoria, assim entendida como a saída do seu es- tabelecimento originário para outro estabelecimento, desde que seja transferida a titularidade, ou seja, desde que a mercadoria passe juridi- camente a outro sujeito da operação. Essa operação se dá pela emissão de documento fiscal hábil, como nota fiscal, cupom fiscal, entre outros. No fornecimento de bebidas e alimentos. Fornecimento de mercadoria com prestação de serviços, não compreen- didos na competência do município, a que se refere a incidência do ISS. No desembaraço aduaneiro de mercadorias importadas do exterior. Há outros aspectos sobre o fato gerador do ICMS, mas, por serem com- plexos e requererem um conhecimento mais aprofundado da matéria, iremos nos ater somente a estes aspectos principais. A base de cálculo é o valor ao qual incidirá a alíquota do ICMS, e é represen- tada pelos seguintes valores: Do total da operação, ou seja, pelo preço da mercadoria, incluindo o frete, as despesas acessórias e também os descontos incondicionais concedidos (aqueles que são destacados nanota fiscal). Os seguros, os juros e demais importâncias pagas. As mercadorias que foram concedidas por bonificações. O valor do IPI, caso quem adquira o produto seja um consumidor final e outras peculiaridades especificadas em lei. A alíquota interna do ICMS é o percentual que incidirá sobre a base de cál- culo, por exemplo para o estado de São Paulo são quatro percentuais apli- cados, em cada uma das operações descritas: 7% - arroz, feijão, pão francês, linguiça, sal, entre outros; 12% - serviços de transportes, farinha de trigo, cereais, areia, pedra, veículos automotores e outros; 18% - demais operações que não estejam sujeitas as alíquotas de 7%, 12% e 25%. 25% - serviços de comunicação, fumo, álcool carburante, gasolina, etc. A alíquota interestadual do ICMS é fixada pelo Senado Federal. Ela se destina a mercadorias/serviços referentes a contribuintes do ICMS localizados em ou- tros estados. Essas alíquotas variam entre 4%, 7% e 12%, conforme a região localizada e algumas especificidades expressas em lei. Quando você conhecer os mecanismos das operações de compra e venda de mercadorias, verá que não é difícil compreender a apuração e contabilização do ICMS. Você sabe que a atividade principal de uma empresa típica de comércio consiste em duas principais operações: compra e venda de mercadorias. Compra: quando uma empresa realiza uma compra de mercadoria ou matéria prima, ela paga a seu fornecedor o valor do preço da mercadoria junto aos custos dela, e uma parcela correspondente ao ICMS, que é recuperado pela empresa. Venda: quando a mercadoria é vendida, recebe-se de seu cliente o valor da venda, junto da parcela correspondente do ICMS, que irá ser repassada aos cofres públicos do Estado. Na apuração, portanto, antes de repassar o valor do ICMS que recebeu do cliente (conforme emissão de nota fiscal e destaque do imposto), é possível descontar deste montante o valor do ICMS pago ao fornecedor, por consequ- ência e ocasião da compra da mercadoria que agora está sendo vendida. Este é o real significado do princípio da não cumulatividade. 1. A Empresa XYZ no dia 10/01/20XX comprou mercadorias para re- venda e pagou à vista ao seu fornecedor o valor de R$ 1.000,00, com o ICMS (18%) incluso no valor de R$ 180,00. 2. No dia 20/01/20XX a Empresa XYZ vendeu parte destas mercadorias no valor R$ 2.000,00, com ICMS (18%) incluso no valor de R$ 360,00. 3. Após o fechamento do mês em 31/01/20XX não houve mais nenhuma movimentação de compra e venda de mercadoria, ensejando o encer- ramento da apuração do ICMS. Para a apuração do ICMS a pagar refe- rente a esse período, você terá que encontrar a diferença do ICMS pago na compra, com o ICMS recebido na venda. Usando o exemplo apresentado no item Exemplo de apuração do ICMS, rea- lize a contabilização da apuração desse imposto. Para a apuração do ICMS a pagar referente a esse período, você terá que encontrar a diferença do ICMS pago na compra, com o ICMS recebido na venda, conforme Quadro 1. Para isso, adote a conta chamada “ICMS conta corrente” para registrar as obrigações e os diretos relativos ao ICMS. Por direitos, você deverá entender o ICMS relativo à compra, ao qual a em- presa recupera; e como obrigações deverá entender as operações com a venda, que geram o dever de repassar aos cofres públicos do Estado o valor do ICMS. 1. A Empresa XYZ no dia 10/01/20XX comprou mercadorias para revenda e pagou à vista ao seu fornecedor o valor de R$ 1.000,00, com o ICMS (18%) incluso no valor de R$ 180,00 conforme Quadro 2. O lançamento de débito no estoque de mercadorias é no valor de R$ 820,00, conforme o custo de aquisição. Como o ICMS é recuperável não entrará como custo, e o valor do estoque terá de ser deduzido de seu valor. O lançamento de débito de ICMS a recuperar é no valor de R$ 180,00, conforme ICMS incidente sobre a compra da mercadoria, e é um direito da empresa. O lançamento de crédito de caixa é no valor de R$ 1.000,00, pelo valor total pago à vista para o fornecedor da mercadoria. 2. No dia 20/01/20XX a Empresa XYZ vendeu parte destas mercado- rias à vista, no valor R$ 2.000,00 com ICMS (18%) incluso no valor de R$ 360,00 conforme Quadro 3. Débito: ICMS s/vendas (despesa).................. Crédito: ICMS a recolher (passivo)................. O lançamento nº 1 a débito de caixa é o valor de R$ 2.000,00, recebidos do cliente pela venda de mercadorias. O lançamento nº 1 a crédito de venda de mercadorias é o valor de R$ 2.000,00, correspondente a receita bruta de vendas. O lançamento nº 2 a débito de ICMS s/vendas é o valor de R$ 360,00, que representa a parcela do ICMS que foi recebido do cliente, é uma obrigação que a empresa tem em repassar aos cofres públicos do Estado. O lançamento nº 2 a crédito de ICMS a recuperar é o valor de R$ 360,00, pela apropriação do ICMS creditado na compra em relação ao ICMS debitado na venda. A diferença apurada será realizada em um outro lançamento. 3. Após o fechamento do mês em 31/01/20XX não houve mais nenhuma movimentação de compra e venda de mercadoria, ensejando o encer- ramento da apuração do ICMS. Para a apuração do ICMS a pagar refe-rente a esse período, você terá que encontrar a diferença do ICMS pago na compra, com o ICMS recebido na venda conforme Quadro 4. Todos os lançamentos efetuados foram para apropriar os valores do ICMS, dado conforme demonstração dos lançamentos contábeis. A apuração do ICMS a pagar foi no valor de R$ 180,00. Referências
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