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Análise Realismo Dom Casmurro

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
Departamento de Estudos Linguísticos e Literários
Literatura Brasileira III 2021/04
 Jean Henrique Thiesen¹
Qual realismo literário podemos dizer que existe em Dom Casmurro segundo SCHWARZ.
Resumo: O objetivo geral desta presente análise é estudar o realismo, mais precisamente o da obra ‘’Dom Casmurro’’ um romance escrito por Machado de Assis, publicado em 1899 pela Livraria Garnier. Este trabalho também mostrará as características do realismo em alguns trechos da obra, apresentando como Machado aplicava o realismo e respondendo à pergunta ‘’porquê o realismo de Machado é tão diferente?’’.
Introdução
 Para fundamentar essa análise, utilizamos análises como SCHWARZ, Roberto em ‘’Duas notas sobre Machado de Assis’’(1978), um dos principais teóricos das narrativas de Machado de Assis.. Segundo Schwartz Machado de Assis empregava no seu discurso o realismo através das características de seus personagens, principalmente em Dom Casmurro. A forma de emprego desse discurso, para Schwarz é profunda, mas nada óbvia, sendo destacada nas relações e formas. Como base teórica desse presente artigo, foram usadas a obra original de Machado de Assis, ‘’Dom Casmurro’’, e a presente análise de Schwarz dentre outros artigos que abordam esse tema. 
O Realismo tem seu berço ne Europa, datado por volta do século XIX e é um estilo que demanda muita atenção para a compreensão, dada a sua singularidade e complexidade enquanto estética. O realismo trouxe à luz literária uma caracterização mais ‘’humana’’ dos personagens, aproximando mais a fidelidade do que é a realidade, contrapondo e tendo aversão ao subjetivismo. Machado de Assis utilizou muito dessa estética literária, mas não da forma mais comumente vista na literatura da época, Machado aplicou o realismo de uma forma única nas suas obras. Gustavo Bernardo revela isso em ‘’O problema do realismo de Machado de Assis’’ (2011) apresentando estatísticas e classificações que os estudiosos atribuem ao escritor (GADELHA, 2020. p, 54). Na obra de Gustavo, podemos notar a separação da produção de Machado em duas fases, romântica e realista, nesse segundo Gustavo Bernardo acrescenta:
	
Por todas essas razões é que suponho que: Alfredo Bosi entenda Machado de Assis como realista sim, mas considerando seu realismo “superior”, porque de “sondagem moral”; John Gledson entenda Machado de Assis como realista sim, mas considerando seu realismo “enganoso”, porque a deceptive realism; Patrick Pessoa entenda Machado de Assis como realista sim, mas considerando seu realismo “fenomenológico”, porque “não ingênuo”; Eugênio Gomes entenda Machado de Assis como realista sim, mas considerando seu realismo “microscópico” e “psicológico”, porque voltado ao detalhe da condição humana; Massaud Moisés entenda Machado de Assis como realista sim, mas considerando seu realismo “interior”, justamente por combater o realismo “exterior” do naturalismo; Sérgio Paulo Rouanet entenda Machado de Assis como realista sim, mas considerando seu realismo “autoral”, porque singular e também porque cria personagens-autores, representando a própria representação [...]. (BERNARDO, 2011, p. 109-110)
Assim podemos notar que o estilo de Machado, não se enquadrava em nenhum consenso do que era o realismo da época, tendo uma classificação diferente para cada teórico/analista de sua obra. Mesmo Machado tido como maior escritor do realismo no Brasil, ele utilizou pouco do que pode ser considerado o ‘’real realismo’’ como podemos ver na afirmação de GADELHA (2020) a seguir: 
O conceito de realismo, entendido como estética literária, exige que uma obra, para ser considerada realista, ofereça uma representação da realidade, pautada em uma narrativa imparcial, a qual valorize a descrição de pormenores, pondo em cena personagens mais próximos do homem prosaico, constituído de vícios e virtudes, preocupado com as suas problemáticas e experiências individuais. Em outra perspectiva, segundo o viés filosófico, José Ferrater Mora coloca que “realismo” é o nome da atitude que se limita aos fatos “tal como são”, sem pretender sobrepor-lhes interpretações que o falseiam ou sem aspirar a violentá-los por meio dos próprios desejos. No primeiro caso, o realismo equivale a uma certa forma de positivismo, já que os fatos a que se faz referência são concebidos como “fatos positivos” – em contraste com as imaginações, as teorias, etc. (MORA, 2001, p. 619). (GADELHA,2020. P. 55)
 
Nos capítulos analisados notamos a descritividade de Machado, onde ele carrega de detalhes os ambientes que o protagonista Bentinho mora, vive, tal como a necessidade de explicação de uma alcunha. No primeiro capítulo da análise, podemos notar como Machado é descritivo em relação aos lugares e o que se passa na mente de Dom Casmurro (1899. Pg 2) ‘’O mais é também análogo e parecido. Tenho chacarinha, flores, legume, uma casuarina, um poço e lavadouro. Uso louça velha e mobília velha. Enfim, agora, como outrora, há aqui o mesmo contraste da vida interior, que é pacata, com a exterior, que é ruidosa’’. Pode-se assim notar o detalhismo de Machado. 
Já no capítulo 26, predomina um discurso religioso, onde podemos notar que existe o realismo de um país voltados para valores arcaicos, vejamos nessa fala retirada do livro Dom Casmurro ‘’ Pegue-se também com Deus, — com Deus e a Virgem Santíssima, concluiu apontando para o céu’’ (1899. Pg 2) para basilar ainda mais a análise também cito Auenbarch ‘’ fim de demonstrar como se dá a representação da realidade em um país periférico e pautado por valores arcaicos, gerando a quebra da seriedade e o afastamento da precisão realista’’ 
Concluímos essa breve análise podendo afirmar que, a narrativa de Machado, continua até nos dias de hoje, sendo um desafio de classificação e separação. Machado utilizou dessa estética literária, mas rompendo com o que seria a ‘’estética ideal’, criando uma narrativa realista com detalhes e se aproximando muito mais do personagem, adentrando profundamente aspectos psicológicos e socias e trabalhando e forma ímpar esses conceitos.
 
 
 Bibliografia Geral
BERNARDO, Gustavo. O problema do realismo de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Rocco, 2011.
GADELHA, Paula. A configuração do realismo no Brasil: uma possível reconceituação. Fortaleza, 2020.
SCHWARZ. Roberto. Que horas são? Ensaio. 3°reimpressão. Companhia da Letras. Brasil, 1987.
¹ Discente do curso de Letras da UNIR - Vilhena

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