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Círculo de Bakhtin

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1
CÍRCULO DE
BAKHTIN
B r u n o B a s i l i o C a r d o s o d e L i m a
W A L L A C E D A N T A S
( o rgan i z ador e s )
R E L A T O S , E X P E R I Ê N C I A S E
R E L A Ç Õ E S D I A L Ó G I C A S P E S S O A I S
C O M O C Í R C U L O .
2
3
Bruno Basilio Cardoso de Lima 
Wallace Dantas
(Organizadores)
CÍRCULO DE BAKHTIN
relatos, experiências e relações 
dialógicas pessoais com o círculo
4
Copyright © dos autores
Todos os direitos garantidos. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida, 
transmitida ou arquivada, desde que sejam levados em conta os direitos dos 
autores.
Círculo de Bakhtin: relatos, experiências e relações dialógicas pessoais com 
o círculo / organizadores, Bruno Basilio Cardoso de Lima, Wallace Dantas - 
São Paulo: Mentes Abertas, 2021.
184 p. : ii.
ISBN: 978-65-87069-55-5
DOI: http://www.doi.org/10.47180/978-65-87069-55-5
1. Círculo de Bakhtin. 2. Relatos. 3. Experiências. 4. Dialogia. I. Título.
II Lima, Bruno Basílio Cardoso de. III. Dantas, Wallace.
CDD 370 
Capa: Ivo Di Camargo Junior
Diagramação: Déborah Letícia Ferreira de Sousa
A Mentes Abertas é associada ABEC.
5
SUMÁRIO
PREFÁCIO 11
MIKHAIL BAKHTIN: Um pensador fundamental ao 
campo das Ciências Humanas
Alcione Gomes de Almeida
13
EM BUSCA DE COMPLETUDE, ENCONTREI 
INACABAMENTO: um professor de línguas
 e a teoria dialógica
Andre Cordeiro dos Santos
19
BAKHTIN: Um encontro pessoal com uma 
teoria das vozes
Francisco Leilson da Silva
25
O MUNDO SOB A ÉGIDE DA SUÁSTICA: relato 
de uma pesquisa investigativa acerca de partidos, 
organizações e facções supremacistas
 brancas e (neo)nazistas
Marcos Alexandre Fernandes Rodrigues
31
MEMÓRIA DE FUTURO EM BAKHTIN E A 
COMPREENSÃO DAS HISTÓRIAS DE VIDA
Michell Pedruzzi Mendes Araújo
37
MEUS OBJETOS DE PESQUISA E O CÍRCULO
Renata Cristina Alves
45
BAKHTIN E O CÍRCULO: algumas palavras
Ida Maria Marins
49
6
A BIBLIOTECA ESCOLAR INFANTIL AOS OLHOS 
DO CÍRCULO DE BAKHTIN
Marina Moreira
55
BAKHTIN VAI AO CINEMA
Maria Carolina Silva de Oliveira
61
BAKHTIN E O TEXTO EM SEU STATUS NASCENDI: 
uma história de dialogia em registro
Márcia Helena de Melo Pereira 
65
O CÍRCULO DE BAKHTIN: reflexões e usos na análise do 
discurso da imprensa
Thomas Dreux Miranda Fernandes
71
ESCOLHER UMA PALAVRA É TOMAR 
UMA POSIÇÃO
Luiz Bosco Sardinha Machado Júnior
81
A VIDA DA PALAVRA 
Magno Santos Batista
87
ALTERIDADE E EMPATIA NA EDUCAÇÃO 
INFANTIL: reflexões para se pensar as relações entre 
crianças, famílias, professores e formação docente 
Waleska Maria Costa Betini
91
PRÁTICA: caminhos assertivos em Bakhtin
Adriano Julio Nogueira
97
7
ELO DAS TEORIAS BAKHTINIANAS EMBASADAS 
NA PRÁTICA DOCENTE
Adriana Randi Silva
101
BAKHTIN DENTRO DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Bruno Basilio Cardoso de Lima
107
EXPERIÊNCIA E REFLEXÕES DO PAPEL DO 
CÍRCULO DE BAKHTIN NA FORMAÇÃO 
CONTINUADA 
Joice Castilho Silva Rivera
111
IDEOLOGIA LINGUÍSTICA BAKHTINIANA NO 
DISCURSO DE INTÉRPRETES DE LIBRAS: 
tem professor que não tá nem aí
Gabriela Serenini Prado Santos Salgado
117
AS CONTRIBUIÇÕES CULTURAIS E LINGUÍSTICAS 
DE MIKHAIL BAKHTIN
Renata Meury Rodrigues Ferrei
123
O FAZER DOCENTE FRENTE AO AUTISMO A 
PARTIR DA PERSPECTIVA BAKHTINIANA 
Thacio Azevedo Ladeira
129
UMA JANELA E MÚLTIPLOS MUNDOS 
PARA O CARNAVAL
Marcelo Fecunde de Faria
135
8
A PALAVRA IDEOLÓGICA É O MEU DOMÍNIO 
SOBRE O MUNDO
Wallace Dantas
141
CONTRIBUIÇÕES DE NOÇÕES DOS GÊNEROS 
DISCURSIVOS NAS PRÁTICAS DE ENSINO
Wesley Pinto Hoffmann
Betiza Gonçalves Scortegagna
145
BAKHTIN, GÊNEROS DO DISCUSO E ENSINO DE 
LÍNGUAS ESTRANGEIRAS
Ícaro Luís Fracarolli Vila
151
ALTERIDADE E DIALOGISMO EM BAKHTIN E A 
COMPREENSÃO RESPONSIVA EM ESTUDOS 
DE CASO CLÁSSICOS
Dirlan de Oliveira Machado Bravo
Michell Pedruzzi Mendes de Araújo
157
A TEORIA DE BAKHTIN COMO GUIA PARA 
AUTOCONSTRUÇÃO DO AUTOR-ESCRITOR
Andreiza Aparecida dos Santos Rodrigues
161
UM NOVO OLHAR SOB A TEORIA BAKTHIANA
Fabiana Feliciano Zamariolo
169
9
APRENDIZAGEM CRÍTICO-REFLEXIVA NO 
ENSINO DE LÍNGUAS EM UMA PERSPECTIVA 
BAKHTINIANA
Lucília Teodora Villela de Leitgeb Lourenço
173
CÍRCULO DE BAKHTIN: UM ADVENTO!
Ivo Di Camargo Jr.
Everton William de Lima Silva
Fábio Marques de Souza
181
UM POSFÁCIO OU “PALAVRAS QUE SE 
CONSTROEM NO TEMPO”
185
10
11
Este livro se propõe a descrever os relatos de alunos e profes-
sores de diferentes cursos e formações, envolvidos no grupo de 
pesquisa “O Círculo de Bakhtin”, revelando histórias, valores e 
significados a partir de experiências vividas com o filósofo russo 
Mikhail Bakhtin. Não se pretende fazer nenhum artigo científico 
ou análise narrativa, embora o material reunido nessas páginas 
pode ser usado desta forma. Porém, ao constituir-se como um 
caminho de experiências, valores e reflexões de um processo de 
formação filosófica e quanto esses conhecimentos nos formaram 
enquanto seres. Numa época em que tanto se precisa de alterida-
de e humanização, torna-se fundamental conhecer estas histórias 
que vão bem além dos muros da Universidade e escalam a vida 
de pessoas reais, com sujeitos com os quais a produção de conhe-
cimento por Bakhtin pode ser concretizada. 
Bruno Basilio Cardoso de Lima
PREFÁCIO
12
13
MIKHAIL BAKHTIN: Um pensador fundamental ao campo 
das Ciências Humanas
Alcione Gomes de Almeida1
Quando ingressei no curso de doutorado, em 2019, mais 
especificamente na ocasião em que havia chegado o momento de 
repensar meu projeto de pesquisa, tive a feliz ideia de embasar a 
minha escritura também em teses formuladas pelo notório filósofo 
da linguagem, de origem russa, Mikhail Mikhailovitch Bakhtin, 
preocupando-me, ademais, com as atividades desenvolvidas pelo 
Círculo de estudos do mesmo autor. Foi como obter um potente 
farol, onde antes comandava a insegurança, e que, mal sabia eu, 
pouco me permitia ver. 
Compartilho, assim, neste breve texto, alguns fundamentos 
que são considerados pilares no desenvolvimento do pensamento 
bakhtiniano, e, que têm contribuído sobremaneira com o 
desenvolvimento de pesquisas no campo das ciências humanas 
em variadas regiões do país. Considero de grande importância 
resgatar algumas considerações pontuais de Fiorin (2008, p. 11), 
que, desde o início da obra, explicita uma visão positiva e intensa 
a respeito da figura e das escrituras de Bakhtin. Trata-se de um 
1 Doutoranda em Performances Culturais na Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil. E-mail: 
alcionegomes3@gmail.com
14
autor que sustenta uma obra “fascinante, inovadora, rica, mas ao 
mesmo tempo, complexa e difícil. Várias razões tornam sua leitura 
árdua e trabalhosa”. O estilo da escrita de Bakhtin revela um autor 
compromissado com a tradição do pensamento filosófico que 
analisa os fenômenos, observa e pensa a realidade do ponto de 
vista da “diversidade, heterogeneidade, vir a ser, inacabamento, 
dialogismo” (FIORIN, 2008, p. 11). 
Conforme mencionei, os estudos de Bakhtin são essenciais ao 
desenvolvimento de minha pesquisa em nível de pós-graduação. 
De acordo com as ideias do estudioso, destaco as seguintes 
premissas: a língua materializa-se no discurso como um fenômeno 
sociocultural, histórico e ideológico, sendo que toda interação 
verbal tem caráter dialógico e, portanto, só tem existência em 
relação a outros discursos. Por conseguinte, a linguagem teatral 
e cinematográfica a ser abordada em minha tese, que pode ser 
verbal e não verbal, será tratada dialogicamente, observando-se 
elementos vários que corroboram com a apreensão de significados 
de diferentes discursos, uma vez que o conceito de dialogismo 
age em diferentes níveis e de forma interdisciplinar –, podendo 
abarcar elementos culturais, imagéticos, sociais, históricos. 
Outro conceito proposto por Bakhtin, definido como “reação 
responsiva”, está relacionado à intervenção crítica do público 
receptor da obra, que, por sua vez, se constitui de diversas formas 
15para atrair de maneira didática a apreciação do(s) “outro(s)” e 
assim exercer: “influência educativa [sobre os leitores], sobre 
suas convicções, respostas críticas, influência sobre seguidores e 
continuadores” (BAKHTIN 2011, [1992] p. 279). 
Em conformidade com Bakhtin, a linguagem ou enunciação é 
fundamentalmente dialógica – o enunciado dirige-se a alguém –, 
é dependente de contexto, e tecida em uma dimensão interativa, 
social, histórica e cultural que jamais se rompe. Cada locutor 
produz o seu discurso dentro de um contexto sócio-ideológico, 
a partir de seu entorno e perspectiva social, pois o direciona a 
um público social definido. O conceito de dialogismo surgiu no 
meio literário, podendo ser aplicado a outras mídias, tal qual o 
cinema, visto que, nessa arte, também aparecem diversas vozes 
e performances que interpelam ao público – é a resposta desse 
público que constrói o significado. Nesse contexto, empreender 
uma análise sobre a ação de enunciação corresponde às linguagens 
tanto verbal quanto não verbal de uma dada situação. 
Aplicado ao contexto da obra cinematográfica, é possível 
pensar o conceito de dialogismo como “multidimensional 
e interdisciplinar”. Ao ser empregado para a análise de 
obras cinematográficas, apresenta diversas possibilidades 
de abordagem, quais sejam, entre as próprias imagens, ou 
16
em relação a sons, luz e sombra; em relação ao texto dos 
personagens, aos cenários, à encenação dos atores, bem como 
a composição das sequências e das tomadas de um filme 
(ABDALA JR., LAGE, 2013, p. 6).
Diante do exposto, é primário, em meus estudos, considerar 
a premissa bakhtiniana de que, todo indivíduo experimenta tanto 
o nascimento biológico quanto o nascimento social. Só é possível 
pensar a singularidade em sintonia com o coletivo, “[o] eu 
depende das relações com os outros, mas não é entendido como 
paciente do agir dessas relações, mas como um agente que é por 
elas influenciado, mas também as altera, as ressignifica, dá-lhes 
feição” (BRAIT, 2005, p. 148). 
 Meu corpus de análise inclui, principalmente, o estudo de 
obras literárias do dramaturgo Plínio Marcos e filmes adaptados 
dessas fontes em diferentes décadas, cada qual com suas 
particularidades e abordagens distintas. No decorrer das reflexões 
a serem tecidas ao longo da tese, considerarei que: 
[A]s palavras funcionam como agente e memória social; as 
palavras são tecidas por uma multidão de fios ideológicos, 
contraditórios entre si, pois frequentaram e se constituíram 
em todos os campos das relações e dos conflitos sociais. [...] 
17
O signo verbal não pode ter um único sentido, mas possui 
acentos ideológicos que seguem tendências diferentes, 
pois nunca consegue eliminar totalmente outras correntes 
ideológicas de dentro de si. (BRAIT, 2005, p. 172). 
Para concluir, em consonância com as perspectivas expostas, 
é interessante apontar, ademais, que ao “tratamento reificante do 
homem contrapõe-se o dialogismo, procedimento que constrói 
a imagem do homem num processo de comunicação interativa, 
no qual eu me vejo e me reconheço através do outro, na imagem 
que o outro faz de mim” (BRAIT, 2005, p. 194). Em qualquer 
investigação, o propósito do investigador, não é o de conhecer a si 
mesmo, isto é, tomar conhecimento de seu próprio eu com toda 
a sua complexidade, a ideia, é conhecer o “outro”, o “estranho”, o 
que ainda não é totalmente conhecido, mas que, sabidamente, na 
perspectiva bakhtiniana, trata-se do “eu” estranho. 
18
REFERÊNCIAS
ABDALA JR, Roberto; LAGE, Micheline Madureira. História & Cinema: Performances 
e Diálogos Audiovisuais. KARPA: Journal of Theatricalities & Visual Culture, n. 6, 
2013. Disponível em: http://web.calstatela.edu/misc/karpa/KARPA6.1/Site%20Folder/
abdala1.html. Acesso em: 20 set. 2019.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. 6. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 
2011.
BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2005. 
FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2008. 
19
EM BUSCA DE COMPLETUDE, ENCONTREI INACABA-
MENTO: um professor de línguas e a teoria dialógica
Andre Cordeiro dos Santos1
Aos dezoito anos, ingressei na Universidade Federal Rural 
de Pernambuco, na Unidade acadêmica de Garanhuns, no curso 
de Letras português-inglês e suas respectivas literaturas. Desde o 
início do curso, dado o fato de eu ser de origem humilde e ter tido 
poucas oportunidades até ali, tentei me esforçar o máximo que 
pude para aprender o máximo possível e, devido a esse esforço, 
fui convidado, no primeiro ano de curso, por uma professora 
da instituição, Aliete Rosa, para ser seu bolsista de iniciação à 
docência. Até esse momento, eu nada sabia a respeito da teoria do 
chamado Círculo de Bakhtin.
Sendo bolsista de iniciação à docência, a professora Aliete 
Rosa me apresentou ao mundo da pesquisa, pois todo o processo 
de atuação como bolsista se deu a partir de muito estudo e 
discussão em grupo, com os demais bolsistas, sobre teorias que nos 
ajudariam a pensar as nossas práticas de ensino e aprendizagem. 
Esse estudo e essas discussões me levaram a começar uma relação 
– que vem crescendo desde então – com a teoria dialógica. Essa 
1 Professor de língua inglesa do Instituto Federal de Alagoas, Campus Piranhas. Estrela de Alagoas – Ala-
goas, Brasil. E-mail: andre.cordeiro@ifal.edu.br. 
20
relação se iniciou com o estudo do texto sobre os gêneros do 
discurso – Bakhtin (2016), na versão mais recente – e, partindo 
desse texto, comecei meus primeiros passos de investigação 
científica com reflexões sobre as práticas de ensino de língua por 
mim executadas no âmbito do programa de iniciação à docência. 
Com base nessas primeiras investigações, que deram origem 
a trabalhos científicos apresentados em formato de painéis e 
comunicações orais em alguns eventos, comecei a atentar de 
forma mais específica aos modos como os alunos tomavam os 
discursos de outrem para a composição de seus enunciados – o 
que evidenciava o plurilinguísmo de que fala Bakhtin (2015). 
Naquele momento, considerando as reflexões que vinha fazendo 
sobre as práticas de ensino e aprendizagem de iniciação à docência, 
confesso que carregava ainda em mim a crença de que, quanto 
mais eu aprendesse sobre a teoria dialógica de linguagem, mais 
preparado e acabado como professor eu estaria. Com esse intuito, 
adentrei o universo da concepção dialógica de linguagem e, como 
trabalho de conclusão de curso, analisei as relações dialógicas 
que se estabeleciam entre leitores em jornais (SANTOS, 2013), 
suporte usado como meio ao trabalho docente com alunos do 
projeto de iniciação à docência.
Finalizada essa primeira etapa da minha formação e 
estabelecidas as primeiras relações com a teoria dialógica, 
21
ingressei, para mais uma etapa, no curso de pós-graduação na 
Universidade Federal de Pernambuco, para realizar meu curso 
de mestrado em Linguística, com área de concentração na Teoria 
Dialógica dos Discursos. Durante o mestrado, dei um mergulho 
profundo nos textos do Círculo de Bakhtin, lendo todos os 
escritos do Círculo em circulação na época, em português. Esse 
mergulho me permitiu ter uma visão mais ampla e acurada da 
teoria dialógica, por meio do estudo dos modos de apropriação do 
discurso de outrem na composição de enunciados jornalísticos e 
seus consequentes efeitos ideológicos de sentido, sob a orientação 
da professora Siane Rodrigues (SANTOS, 2016).
O aprofundamento na Teoria Dialógica, apesar de propiciar 
um bom conhecimento da teoria, fez-me perceber que eu ainda 
não me sentia um professor pronto e acabado para o enfrentamento 
das situações de ensino e aprendizagem encontradas nos diferentes 
contextos escolares. Diante disso, segui estudos, em nível de 
doutorado, na linha de Linguística Aplicada, com pesquisa sobre 
os modos de apropriação do discurso de outrem na escrita escolarem língua inglesa, tomando, como ponto de partida, minha 
própria prática dialógica de ensino de língua (SANTOS, 2020). 
Esse período de doutorado, foi um momento importantíssimo de 
revisitação dos escritos do Círculo, por meio da transposição das 
noções da Teoria Dialógica de Linguagem ao contexto de ensino 
22
de uma língua outra-estrangeira (a inglesa).
Esse processo de formação, perpassado por algumas 
produções científicas que deram ao longo dessa jornada, fizeram-
me chegar ao ponto no qual estou: como professor-pesquisador 
que durante toda uma jornada acadêmica buscou a completude 
como professor, encontrei o inacabamento; compreendo 
que sou um professor inacabado e em constante processo de 
reconstituição de si mesmo a partir das vivências da sala de 
aula. A teoria dialógica me fez ver que, como sujeito, não posso 
viver do meu acabamento, pois sou sujeito sempre aberto ao 
processo dialógico de constituição de mim mesmo como ser-
evento (BAKHTIN, 2010). Nesse processo, todas as instâncias 
que perpassam os diferentes contextos de ensino nos quais tenho 
desenvolvido práticas docentes, condicionam meu agir e, mais 
que isso, as vozes que trago comigo, como constitutivas de minha 
consciência, entram em interações com vozes dos contextos 
imediato (dos sujeitos-alunos, do contexto específico no qual 
as práticas de ensino e aprendizagem se dão) e mais amplo 
(vozes sociais de outros contextos que se fazem elos dialógicos 
às práticas de – ensino de – linguagem em sala de aula). Nesse 
processo dialógico, faço-me, refaço-me e nunca me vejo acabado.
23
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Para uma filosofia do ato responsável. Tradução do italiano de Valdemir 
Miotello e Carlos Alberto Faraco. São Carlos, SP: Pedro & João Editores, [1919/20] 
2010. 
BAKHTIN, M. Teoria do Romance I: a estilística. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: 
Editora 34, 2015.
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. Organização, tradução, posfácio e notas de Paulo 
Bezerra; notas da edição russa de Serguei Botcharov. São Paulo: Editora 34, 2016. 
SANTOS, A. Análises Textuais e Discursivas: o gênero comentário virtual jornalístico 
e sua natureza dialógica em foco. 2013. 47f. Trabalho de Conclusão de Curso 
(Licenciatura em Letras português/inglês e suas respectivas literaturas) – Unidade 
Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Garanhuns.
SANTOS, A. O enunciado como zona de diálogo entre vozes e valores: uma abordagem 
da relação entre fazer jornalístico e valorações sócio-ideológicas. 2016. 172f. 
Dissertação (mestrado em Letras-Linguística) – Centro de Artes e Comunicação, 
Universidade Federal de Pernambuco, Recife. 
SANTOS, A. Processos de apropriação do discurso de outrem em enunciados escola-
res escritos em língua inglesa. 2020. 183f. Tese (mestrado em Linguística) – Facul-
dade de Letras, Universidade Federal de Alagoas, Maceió.
24
25
BAKHTIN: Um encontro pessoal com uma 
teoria das vozes
Francisco Leilson da Silva (PPGEL-UFRN)
O meu processo de conhecer a análise dialógica do discurso 
(ADD) começou por eu ser um professor responsável que 
assumiu algumas aulas de Língua Portuguesa. Esse acidente de 
percurso promoveu um desejo de buscar conhecimento para 
bem ensinar, para realizar com afinco meu trabalho. Foi umas 
das poucas vezes que me senti adequado, porém, estava lá como 
pedagogo e escutava sempre que o profissional de Letras era 
quem lidava adequadamente com o texto. Uma esperança leve e 
boba levantou-se em meio ao caminho perdido e sem sentido no 
qual eu estava. Assim, as palavras ganharam minha vida, ganhei 
identidade e forma; como no vale dos ossos secos, ao ouvir as 
palavras do profeta, eu também ganhei carnes e vida. 
Conheci uma professora doutora chamada Maria da Penha 
Casado Alves, que falou de um teórico chamado Bakhtin e uma 
concepção de língua/linguagem que aponta para o uso dos sujeitos 
na constituição do discurso, que possui uma organização que não 
fica estagnada. Apresenta-se, assim, de forma atualizada com as 
teorias, não podendo ser entendida de forma acabada, vinculada à 
26
rigidez de uma sistematização, uma vez que é transformada pelas 
falas do uso cotidiano, logo corroborado pela seguinte afirmação:
Os indivíduos não receberam a língua pronta para ser 
usada; eles penetram na corrente da comunicação verbal; ou 
melhor, somente quando mergulham nessa corrente é que 
sua consciência desperta e começa a operar [...] Os sujeitos 
não adquirem sua língua materna: é nela e por meio dela 
que ocorre o primeiro despertar da consciência. (BAKHTIN, 
2010, p. 108).
Dessa forma, a linguagem é compreendida numa perspectiva 
de totalidade, deixando à parte a ideia de um sistema linguístico 
abstrato e sendo entendida como um fenômeno social fruto das 
interações entre os sujeitos e o diálogo interpessoal. Por isso, 
todo tipo de comunicação ganha status de diálogo, na relação das 
conversas entre as pessoas; no decorrer da leitura de um livro; nas 
mais variadas produções de comunicação.
Esse uso da língua/linguagem está diretamente relacionado 
à comunicação em todas as suas formas, pois tudo o que está na 
dimensão do uso para o entendimento torna-se linguagem. Por 
isso, a produção do texto (oral ou escrito) é resultado de situações 
concretas que se realizam por meio da manifestação do verbo, 
27
que é enunciado a partir do contexto social do sujeito, tornando-
se real expressão de quem utiliza a linguagem em sua comunidade 
linguística, sendo descrita da seguinte forma:
[...] o uso da língua se efetua em forma de enunciados (orais e 
escritos, concretos e únicos “proferidos” pelos participantes de 
uma ou outra esfera da atividade humana que o enunciado não 
se repete, pois é um evento único (pode somente ser citado); 
que o enunciado é a unida real da comunicação discursiva, 
pois o discurso só pode existir na forma de enunciados; e que 
o estudo do enunciado como unidade real da comunicação 
discursiva permite compreender de uma maneira mais 
correta a natureza da unidade da língua (a palavra e a oração 
por exemplo). (RODRIGUES, 2005, p. 155).
Tal maneira de se conceber a linguagem e uso da língua 
permite ao indivíduo perceber a presença das variadas vozes em 
toda parte. As relações sociais de poder, a cultura e as próprias 
ações políticas são perpassadas pela linguagem, sendo resultado 
da interação humana, pois vão além de mero instrumento ou 
meio, como afirma Kramer (2003), produção humana acontecida 
historicamente, construída nos diálogos que têm vida, permitindo 
o pensar ações futuras e, até mesmo, a constituição do consciente. 
28
Aquelas horas passaram rápido na presença daquela 
admiradora de Frida Kahlo. O meu encontro com alguém que 
classifiquei como uma profissional maravilhosa e uma pessoa real 
na academia veio como uma purificação de minhas experiências 
ruins com orientadores e professores da academia. Fácil de 
explicar que foi “assim como ver o mar” da teoria que me completa 
e anuncia por meio do acabamento do outro quem eu sou e como 
percebo o mundo que me rodeia. Aprendi infinitamente nessas 
moradas, porém, eu jamais imaginaria que estaria mais perto da 
teoria bakhtiniana mais adiante.
Comecei a estudar Bakhtin sem muitos recursos. A solidão 
sempre está presente na vida de um pesquisador. Quando as 
dúvidas estavam no grau de quase incompreensão, corria para 
pedir socorro à professora Penha, até mesmo a colegas que já 
tinham estudado a teoria, por fim, fui aprovado.
As disciplinas do mestrado pareciam cada dia mais difíceis, 
mais complicadas, afinal, o nível era de doutorandos, os 
mestrandos que se adaptassem. Minha formação era em língua 
espanhola, muito ensino de idioma e pouca teoria, o que me levava 
a ler muito e estudar muito mais que os outros para acompanhar 
aquele nível. 
No último passo, você descansa, fica feliz, celebra a vitória da 
caminhada, compartilha comtodos as alegrias de ter executado 
29
a tarefa. Mas, no último olhar, tudo se encerra, quando se mira 
aquele espaço pela última vez; fica um pouco de tudo em nós e 
tudo de nós fica naquele ambiente.
Entretanto, o tempo passou, consegui entrar no doutorado, 
ainda Bakhtin está comigo e a oralidade é meu objeto de vida e 
pesquisa. Sempre dialógico, sempre ouvindo ativamente e falando 
para resistência. Como canta Danilo Caymmi: “eu guardo em 
mim dois corações”, um que é da docência e outro marxistamente 
valorado e vozeado por muitos discursos.
REFERÊNCIAS 
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
FREITAS, M. T. A perspectiva sócio-histórica: uma visão humana da construção do 
conhecimento. In: FREITAS, M. T.; JOBIM E SOUSA, S.; KRAMER, S. (org.). 
Ciências Humanas e Pesquisa: Leituras de Mikhail Bakhtin. São Paulo: Cortez, 
2003. p. 26-38.
RODRIGUES, R. H. Análise de gêneros do discurso na teoria bakhtiniana: algumas 
questões teóricas e metodológicas. Linguagem em (Dis)curso, Tubarão, v. 4, n. 2, 
p. 415-440, jan./jun. 2004. Disponível em: http://aplicacoes.unisul.br/ojs/index.php/
Linguagem_Discurso/article/viewFile/272/286. Acesso em: 8 out. 2020.
30
31
O MUNDO SOB A ÉGIDE DA SUÁSTICA: relato de 
uma pesquisa investigativa acerca de partidos, organizações e 
facções supremacistas brancas e (neo)nazistas
Marcos Alexandre Fernandes Rodrigues1
 
Discurso das Mídias em Análise Dialógica: caminhos teóricos 
e metodológicos
No ano de 2020, encontrei na superfície da internet uma célula 
(neo)nazista denominada Nacional Socialismo em Rede (NSR). 
Refere-se a um blogue de nacionalidade portuguesa cujas funções 
me empenhei em identificar: (i) servir de catálogo mundial de 
páginas da web (sítios eletrônicos, fóruns, blogues) supremacistas 
brancas e (neo)nazistas, intrincando, assim, uma articulada rede 
(inter)nacional de ódio; (ii) propiciar uma formação político-
histórico-ideológica para que, nesse sentido, pudesse ser possível 
o recrutamento de novos membros, seja para compartilhar o 
conteúdo, seja para participar dessa mesma rede; e (iii) fomentar 
o ódio contra etnias judia, negra, autóctones em articulação com 
um projeto cis(hétero)normativo do patriarcado branco europeu.
1 Aluno de graduação em Letras Português e Francês e suas respectivas Literaturas pela Universidade 
Federal do Rio Grande (FURG). Bolsista de Iniciação Científica pela Fundação de Amparo à Pesquisa do 
Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS). Rio Grande – Brasil. Endereço eletrônico: rodmaf2@gmail.com
 
32
A minha compreensão dessa arena de vozes segregadoras 
foi respaldada por intermédio de uma visão de mundo, de 
sociedade, de ser humano e de língua(gem) promulgada pelo 
Círculo de Bakhtin-Volóchinov-Medviédev. Mobilizei conceitos 
como relações dialógicas, enunciação/enunciado, vozes sociais 
e signos ideológicos para avaliar dialógica e axiologicamente 
a rede discursiva de supremacismo branco e (neo)nazismo. 
No (per)curso do tempo, e com base em minha compreensão 
ativamente responsiva, desenvolvi um banco de dados com 
centenas de páginas de ideologias autoritariamente congêneres 
recorrendo aos endereços eletrônicos interiores e exteriores do 
blogue português. As (inter)relações dialógicas me evidenciaram 
um projeto político para o mundo, no qual, em seu combate e 
linchamento racial, fundado em um nós contra um eles, a tal raça 
branca comandaria governos e as ditas raças negra e judia seriam 
expatriadas ou mortas para o que os supremacistas concebem 
por uma nova solução. Mulheres brancas e cisgêneras serviriam 
funcionalmente para e tão somente reproduzir a determinada 
raça ariana. 
 No ano de 2020, e seguindo essa fundamentação teórico-
metodológica, pude usar o discurso como prova de um projeto 
de expurgo mundial nestas oportunidades: Universidade Federal 
do Rio Grande (FURG) - Signos ideológicos de supremacismo e 
33
ódio: movimento (neo)nazista em rede; Universidade Federal de 
Passo Fundo (UPF) - As pontas da suástica: diálogo (neo)nazista 
entre o blog Nacional Socialismo em Rede e o site NSDAP/AO; 
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) - Observações 
sobre o blog combat18florida: vozes de ódio e supremacismo 
branco em diálogo (neo)nazista; Pontifícia Universidade Católica 
de São Paulo (PUC-SP) - Análise dialógica de blog brasileiro de 
supremacismo branco e (neo)nazismo; Universidade Federal 
de Santa Catarina (UFSC) – Apontamentos sobre o Afrikaner 
Weerstand Beweging: entre vozes do apartheid e do (neo)nazismo; 
Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) - Partido Nacional 
Socialista dos Trabalhadores Brasileiros: o Partido (Neo)nazista 
do Brasil?; Instituto Federal da Bahia (IF-BA) - Investigações 
sobre rede húngaro-polonesa (neo)nazista: signos de ódio, terror 
e crueldade; Universidade Federal do Ceará (UFC) - The Loyal 
White Knights, White Camelia Knights of the Ku Klux Klan e Ku 
Klos Knights: fios dialógicos das facções supremacistas brancas; e 
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) - O Partido (Neo)
nazista do Brasil sob a órbita da linguística forense: o discurso 
como vestígio de apologia ao racismo. 
34
Linguagem em Atividades no Contexto Escolar (LACE)
Sempre começa do mesmo jeito. Panfletos ou adesivos racistas 
aparecem nas paredes de locais onde as pessoas vão pra se 
divertir ou são distribuídos nas casas das pessoas. Relatos de 
ataques e atos de intimidação contra pessoas negras aparecem 
nos noticiários. Rumores sobre neonazistas e apologistas da 
Supremacia Branca andando por perto de escolas. Aumenta 
o índice de incidentes de surras em gays. O pessoal do hip-
hop, punks e skinheads antirracistas entram em conflito 
com nazistas nas ruas. Pessoas suspeitas começam a apoiar 
campanhas anti-imigração. Uma controvérsia local estoura 
sobre questões raciais, e a Klu Klux Klan e grupos nazistas 
planejam uma reunião para intensificar a tensão. Logo vira 
uma bola de neve: grupos nazistas organizam shows, racistas 
concorrem a cargos públicos, neonazistas invadem shows, 
começam brigas e atacam centros políticos esquerdistas, 
exercendo domínio sobre a juventude local e sobre as ruas. A 
pressão aumenta... é hora de contra-atacar! (CRIMETHINC, 
2004, p. 32). 
Da FURG a PUC-SP, ainda em fase de discussões, comecei a 
pensar numa ação social operada em duas fases de atuação. Na 
35
primeira delas, conhecer a percepção dos corpos discentes e do-
centes, de determinadas instituições de educação básica, nos es-
tados do Rio Grande do Sul e São Paulo, concernente ao objeto de 
minha linha de pesquisa. Para além disso, o objetivo é, igualmen-
te, a coleta de materialidade semiótica a partir das posições ativas 
e axiológicas de quem comporá o universo da pesquisa. Para tan-
to, o fornecimento de um Formulário Google com questões enu-
meradas de 1 a 15 em que se demanda uma posição em relação 
ao supremacismo branco e ao (neo)nazismo. Na segunda fase, 
criar uma ação didático-pedagógica nas mesmas instituições de 
educação. Os objetivos a serem alcançados são estes: (i) fomentar 
o pensamento crítico e humanista; e (ii) desacreditar e desestabi-
lizar organizações de terrorismo supremacista que tentam se ins-
talar no Brasil, tais como Blood & Honour, Ku Klux Klan, Aryan 
Nations. Como procedimento metodológico, usar-se-ia uma base 
vygotskiana e freiriana. 
36
37
MEMÓRIA DE FUTURO EM BAKHTIN E A 
COMPREENSÃO DAS HISTÓRIAS DE VIDA
Michell Pedruzzi Mendes Araújo1
A tese de doutoramento intitulada “Assim como as borbo-
letas, Bianca e a Síndrome de Turner” foi defendida por mim, 
no ano de 2020, no Programa de Pós-graduação em Educação 
da Universidade Federal do Espírito Santo. Como objetivo geral, 
busquei compreender a história de vida de Bianca, uma jovem que 
possui a síndrome de Turner2. Neste processo de escutar responsi-
vamente um sujeito e compreender a sua história devida, recorri 
a conceitos-chave de Bakhtin, quais sejam: enunciação, alterida-
de, dialogismo, polifonia e memória de futuro (ARAÚJO, 2020). 
Devido à relevância que teve para o desenvolvimento da tese 
em questão, trago à tona nesse texto a memória de futuro em 
Bakhtin e as potencialidades desse conceito para o desenvolvi-
mento de estudos que se configuram metodologicamente como 
histórias de vida. 
1 Professor adjunto da Faculdade de Educação- Universidade Federal de Goiás (FE/UFG). Goiânia- Goiás, 
Brasil. Doutor em Educação (Ufes). E-mail: michellpedruzzi@ufg.br. 
2 Síndrome genética rara que acomete apenas o sexo feminino. Trata-se de uma aneuploidia- síndrome 
que envolve alterações cromossômicas numéricas. O cariótipo do indivíduo é 45, X0 (monossomia do X). 
Fenotipicamente, as mulheres que possuem essa síndrome apresentam: palato em ogiva (“oval”), baixa 
imunidade, ptose (caimento das pálpebras sobre os olhos), pescoço alado (excesso de pele no pescoço), tó-
rax largo, implantação baixa da raiz do cabelo, unhas pequenas, metacarpo curto, hipotireoidismo, válvula 
aorta bicúspide, edemas nos vasos linfáticos (linfedemas), ovários em fita, útero infantil, esterilidade etc. 
38
Tendo em vista que, no processo de contar a sua história, o 
sujeito resgata memórias do passado e é regido pelas memórias 
do futuro, optei por utilizar o conceito de memória de futuro de 
Bakhtin (2010). De acordo com o autor, “a memória do passado é 
submetida a um processo estético, a memória do futuro é sempre 
de ordem moral” (BAKHTIN, 2010, p. 167, grifos nossos).
Partiu-se do pressuposto de que as memórias não são 
objetos que guardamos em um armário, mas que elas transitam 
entre nós, estão entre dois ou mais sujeitos, logo, “eu para mim 
mesmo sou esteticamente irreal” (BAKHTIN, 2010, p. 174). 
Assim, é necessário que o outro, com seu excedente de visão, 
me dê acabamento que, na condição de temporário, nos invita a 
responder a partir da nossa consciência que é única. 
Quando se objetiva compreender práticas discursivas 
concretas, a memória de futuro parece-nos fecunda para cultivar 
imagens de futuros construídas discursivamente em histórias de 
vida de pessoas com síndromes raras como a de Bianca.
Por esse prisma, para compreensão do conceito de memória 
em uma perspectiva bakhtiniana, devemos pensar na dimensão 
de temporalidade. Amorim entende essa dimensão da seguinte 
maneira:
39
a construção do sentido de um enunciado-objeto é sempre 
efeito de movimento. Não apenas movimento no espaço, isto 
é, no jogo que põe e dispõe em cena as posições enunciativas, 
mas um movimento no tempo que torna presente o passado 
e o futuro. E essas duas direções temporais do movimento se 
articulam por meio de uma posição enunciativa específica 
da teoria bakhtiniana que é aquela expressa no conceito de 
sobredestinatário. De acordo com esse conceito, a obra se 
destina para além de seu contexto e essa destinação é tanto 
criadora de futuro como recriadora de passado. De um 
mesmo gesto, passado e futuro se encontram e se nutrem 
(AMORIM, 2009, p. 13, grifos nossos). 
Bakhtin (2010), ao discorrer sobre memória, elucida que ela 
é sempre de passado e de futuro, porque ambas andam juntas, 
ou seja, são complementares. Quando enuncia, o ser humano 
resgatam os valores já estabelecidos, mas ao evocar os valores 
ou significações, ao mesmo tempo, reinventa-se o sentido, haja 
vista que o indivíduo contribui com o tom, a expressão e o desejo 
do seu projeto discursivo. A memória de passado é o que se 
pode chamar de atual, contemporânea; já a memória de futuro 
é utópica, assim, não está concretizada. A primeira relaciona-se 
com a estética, com a constituição do sujeito, já a segunda tem 
40
a ver com a moral, com a revisão e a reapresentação dos valores 
(CAMARGO JUNIOR, 2009). 
Nesse caminho, a memória de futuro é colocada como a 
imagem de um sujeito criativo, portanto, aquele que possui 
responsabilidade moral. O futuro garante a justificação porque é 
ele que reestrutura o passado, o presente e mostra a incompletude. 
Ademais, exige realização futura e não apenas uma continuação 
orgânica do presente, mas como sua eliminação essencial, sua 
revogação. Assim, cada momento que vivemos é conclusivo e, ao 
mesmo tempo, inicial de uma nova vida (BAKHTIN, 2010). 
Diante desse contexto, “podemos avaliar o passado sem, 
contudo, afundar-nos por causa dele. Isso porque a revisão do 
passado pode gestar novas, inusitadas e melhores relações no 
futuro” (MELO, 2005, p. 66). Com relação ao futuro, é dele que 
“tiramos os valores com que qualificamos a ação do presente 
e com que estamos sempre revisitando e compreendendo o 
passado” (GERALDI, 2010, p. 109).
Para Amorim (2009), a memória de futuro é um conceito que 
indica a memória do herói, e não do autor. De forma distinta deste, 
o herói está sempre em “perpétuo inacabamento em relação a si 
mesmo e seu olhar porque sua memória está comprometida com 
o futuro, com o por-vir, com o que pode vir a ser” (AMORIM, 
2009, p. 10). Nesse caminho, “a projeção do futuro sugere 
41
subjetividades não assujeitadas ao passado, que precisam saber 
lidar com a indeterminação de um futuro, previsto no presente” 
(COLLARES et al., 2006, p. 57).
Em nossa vida estamos imersos em um eterno vir a ser. Assim, 
pelo conceito de “memória de futuro” o passado está à minha 
frente, o futuro está dentro de mim, é o que está a se realizar, 
o devir (DAVID, 2003). Ou seja, “o futuro se constrói como 
possibilidade do que há de vir e não como produto constante de 
uma mutação contínua e sem rumos” (GERALDI, 2010, p. 170). 
Cabe destacar também que o surgimento de memórias de 
futuro não se dá a partir de uma iniciativa individual do sujeito, 
que teria como suposta fonte de suas memórias o seu psiquismo 
individual, mas ao contrário, a memória só se dá entre sujeitos, 
de modo que criar não é dar livre expressão a um suposto gênio 
individual ou deixar agir a inspiração”. Isso porque, nas interações, 
está em jogo a memória coletiva, própria de um grupo social, 
que faz com que determinado objeto cultural seja pensado como 
discurso (AMORIM, 2009).
Por fim, saliento que o conceito de memória de futuro auxiliou 
no desenvolvimento da tese de doutoramento intitulada “Assim 
como as borboletas: Bianca e a síndrome de Turner”, sobretudo 
para possibilitar o desenvolvimento do percurso metodológico- a 
história de vida. Em vários momentos, os enunciados de Bianca 
42
e de outros sujeitos entrevistados evidenciaram projeções para o 
futuro nas descrições do presente e com base na ressignificação 
das memórias do passado. O exposto evidenciou o inacabamento 
de um sujeito, a construção coletiva das memórias e uma gama de 
possibilidades em sua trajetória de vida.
REFERÊNCIAS
AMORIM, M. Memória do objeto – uma transposição bakhtiniana e algumas questões 
para a educação. Bakhtiniana, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 8-22, 2009. Disponível em 
<https://revistas.pucsp.br/bakhtiniana/article/view/2993>. Acesso em 01 jan. 2020. 
ARAÚJO, M. P. M. Assim como as borboletas: Bianca e a síndrome de Turner. 2020. 
167 f. Tese (Doutorado em Educação) - Programa de Pós-graduação em Educação, 
Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2020. 
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal (1979). Trad. Paulo Bezerra. 5. ed. São Paulo: 
Martins Fontes, 2010.
CAMARGO JUNIOR, I. Di. O futuro analisado pela linguagem cinematográfica: diálogos 
entre a teoria do cinema e Mikhail Bakhtin. Dissertação de Mestrado. Programa de 
Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, São 
Carlos, 2009.
COLLARES, C. et al. Compaginar concepções: ciência e formação no horizonte 
de possibilidades de um projeto coletivo. Polifonia, V. 12, n. 1, p. 47-64, 2006. 
43
Disponível em: <http://periodicoscientificos.ufmt.br/index.php/polifonia/article/
view /1079/851>. Acesso em: 08 dez. 2020.DAVID, W. Anotações sobre Bakhtin: Verbetes do curso “Tópicos de Lingüística V”, 
ministrado pelo Prof. Dr. João Wanderley Geraldi. 2003. Disponível em <https://
www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/a00006.htm>. Acesso em 24 
nov. 2020. 
GERALDI, J. W. Ancoragens – Estudos bakhtinianos. São Carlos, Pedro & João Editores, 
2010, 176 p.
MELO, E. R. Justiça restaurativa e seus desafios histórico-culturais. Um ensaio crítico 
sobre os fundamentos ético-filosóficos da justiça restaurativa em contraposição 
à justiça retributiva.  In: SLAKMON, C.; DE VITTO, R.; PINTO, R. S. G. Justiça 
restaurativa. Brasília: Ministério da Justiça e Programa das Nações Unidas para o 
Desenvolvimento (PNUD), 2005, p. 53-78. 
44
45
MEUS OBJETOS DE PESQUISA E O CÍRCULO
Renata Cristina Alves
Meu contato com a teoria bakhtiniana começou apenas na 
pós-graduação. Infelizmente durante o período de graduação, 
assim como para muitos pertencentes às classes sociais mais 
pobres, há outras necessidades também fundamentais, o que 
me manteve um pouco distante da pesquisa, embora estivesse 
todos os dias na universidade. Apenas quando retornei à minha 
cidade, trabalhando como professora na educação básica pública, 
percebi a urgência de retornar à universidade para compreender 
o complexo processo de ensino e aprendizagem que a formação 
inicial não contemplou. É claro que a universidade me preparou 
para adentrar à sala de aula, mas não no contexto público, o 
qual muitos outros elementos, além de estudar, penetram nesse 
contexto. 
Ao prestar o processo seletivo da pós, minha base teórica 
seguia outra perspectiva, somente após acompanhar as aulas 
fui me aproximando e refletindo sobre o Círculo de Bakhtin e 
como eles me possibilitavam compreender não somente a sala 
de aula, mas principalmente a vida. Os aspectos ideológicos 
que perpassam os discursos produzidos pelos professores, pelos 
46
alunos ou pela comunidade escolar. O elemento cerceador da 
esfera de comunicação – escola – na qual estava inserida e como 
ela penetrava em cada embate discursivo, violento ou não, já que 
sabemos que o contexto público educacional possui embates 
discursivos nem sempre agradáveis aos sujeitos que participam 
de tais. 
Durante as atividades de produção de texto, meu primeiro 
objeto de pesquisa, não somente compreendi as necessidades 
expressadas pelos alunos, pois ali naquelas palavras refletiam 
e refratavam a vida além dos muros escolares, mas também 
consegui modificar a estética das atividades realizadas em sala. 
Aos poucos, as atividades de leitura se tornaram comuns e as 
produções textuais dos alunos não eram produzidas somente 
para mim, e sim para eles, os quais estavam, ali, se constituindo 
como leitores/interlocutores de seus colegas. É evidente que 
todo processo de mudança causa estranhamento nas primeiras 
situações e alguns alunos deram maior abertura que outros no 
que diz respeito às participações em sala. As motivações para 
as produções textuais se alteraram à medida que mais e mais 
atividades eram realizadas. Assim, sempre havia uma primeira 
produção seguida da leitura dessas. Era uma leitura atenta na qual 
eles percebiam quais elementos eram aceitos ou negados pela 
turma, neste sentido, durante a reescrita e posteriores leituras, 
47
as aceitações se multiplicavam nas outras produções, enquanto 
que as outras eram apagadas de suas produções, tornando aquele 
contexto da sala de aula uma praça pública para exteriorização de 
suas produções. 
Discursos que até então eram cerceados pela esfera escolar 
começaram a ser aflorar, já que a relação professor-aluno e aluno-
aluno estavam se alterando e considerávamos ali os sujeitos, com 
seus interesses, desejos e vivências. Minha dissertação registrou 
esse processo, ainda que não em sua plenitude, já que os recortes 
limitam a recuperação de toda a complexidade da cadeia de 
comunicação. Qualifiquei, defendi e a etapa do mestrado estava 
concluída. Foram dois anos incríveis, os quais, em cada interação, 
foram me alterando, me constituindo e eu pude compreender 
como somos seres inacabados, bem como, considerando o 
contexto no qual trabalhava, a urgência de entender o não-álibi de 
existência. Não há macro revoluções, todavia na educação básica 
há micro revoluções a todo momento: quando olhamos os alunos 
enquanto ser humanos, de modo que não haja pré-julgamentos; 
quando tratamos cada variedade linguística como uma maneira 
de ver o mundo; quando entendemos que aquele dia não é um 
bom dia para aquele sujeito que está em nossa frente; quando 
compreendemos o processo não apenas o resultado. 
Dito isso, posso dizer que sou bakhtiniana, porque a teoria 
48
contempla todos os aspectos que enfrento na sala de aula: das 
questões de constituição da identidade ao funcionamento da 
linguagem; das forças centrípetas e centrifugas que perpassam o 
discurso à construção de atividades didáticas; da cronotopia ao 
discurso carnavalizado dos alunos. Da leitura do mundo à leitura 
da palavra, como dizia Paulo Freire. Ser bakhtiniana é dar um 
passo de cada vez, ir se constituindo; é entrelaçar manualmente 
cada fio até que se complete, mas que, sempre, pode adquirir 
novos formatos e usos, dependendo da necessidade do momento. 
É como dizia um professor da pós-graduação “não há um Bakhtin, 
há muitos. Cada um tem o seu”. 
Por fim, o Círculo de Bakhtin é de grande valor para nossas 
pesquisas em educação, ciências humanas e demais áreas, pois nos 
permite não sucumbir ao objetivismo abstrato, o qual afastaria a 
linguagem de seu funcionamento na vida, na realidade concreta 
do nosso cotidiano. 
49
O CÍRCULO DE BAKHTIN NA VIDA: algumas palavras
Ida Maria Marins1
Tudo o que me diz respeito, a começar por meu nome, e que 
penetra em minha consciência, vem-me do mundo exterior, da 
boca dos outros (da mãe, etc.), e me é dado com a entonação, 
com o tom emotivo dos valores deles. Tomo consciência de 
mim, originalmente através dos outros... (BAKHTIN, [1992] 
2011, p. 373).
Inicio este texto valendo-me do fragmento acima retirado da 
obra Estética da Criação Verbal, de autoria de Mikhail Bakhtin. 
Desse enunciado depreendi a noção de que somos sujeitos 
relacionais, socio-historicamente situados em uma determinada 
cultura, e constituídos na e pela linguagem. Essa e outras noções 
desenvolvidas por Bakhtin e o Círculo como: concepção de 
linguagem, dialogismo, enunciado, discurso, gênero discursivo, 
para citar algumas, foram tornando-se referências para a 
compreensão de questões que emergiram ao longo do mestrado 
em Letras – período em que fui introduzida ao mundo do 
pensamento bakhtiniano, inicialmente na obra Marxismo e 
1 Professora Adjunta da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), campus Jaguarão/RS. E-mail: 
idamarins@hotmail.com
50
Filosofia da Linguagem. 
Essa obra foi desvelando um outro olhar sobre aquilo que 
tinha como referência sobre língua(gem). Até então, compreendia 
a língua às bases do estruturalismo, algo que foi sendo 
ressignificado no diálogo com um pensamento bastante atual, 
embora os escritos do Círculo datarem de meados do século XX. 
Segundo Brait (2006), o pensamento do Círculo sobre linguagem 
trouxe o sujeito, a história e o social como elementos crucias 
para a sua compreensão, o que gerou mudanças profundas no 
modo de perceber o ser humano, tanto nos estudos Linguísticos 
como nos das Ciências Sociais Humanas. Como afirma a autora: 
(...) o pensamento bakhtiniano presente [na obra Marxismo 
e Filosofia da Linguagem] ofereceu a ocasião de um salto 
qualitativo no sentido de observar a linguagem não apenas 
no que ela tem de sistemático, abstrato, invariável, ou, por 
outro lado, no que de fato tem de individual e absolutamente 
variável e criativo, mas de observá-la em uso, na combinatória 
dessas duas dimensões, como uma forma de conhecer o ser 
humano, suas atividades, sua condiçãode sujeito múltiplo, 
sua inserção na história, no social, no cultural pela linguagem, 
pelas linguagens (BRAIT, 2006, p. 22-23). 
51
Além de trazer o sujeito socio-historicamente situado para 
o estudo da linguagem, Bakhtin/Volochínov afirmam que a 
verdadeira substância da língua é constituída “pelo fenômeno 
social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das 
enunciações” ([1929] 2012, p. 127) ou seja, “o centro organizador 
de toda enunciação, de toda expressão, não é interior, mas 
exterior: está situado no meio social que envolve o indivíduo” 
(Ibid. p. 125). A interação (eu e o outro) é, pois, elemento-chave na 
organização, produção/desenvolvimento e criação da linguagem. 
Na dissertação de mestrado discuti as motivações para 
a aprendizagem de uma língua estrangeira por crianças; e os 
estudos sobre a concepção de linguagem bakhtiniana em diálogo 
com a teoria da aprendizagem de Vygotsky foram fundamentais 
para levar a cabo a pesquisa. Nos estudos do Círculo de Bakhtin, 
a linguagem transcende uma abordagem estrita de língua, a 
qual privilegia a estrutura. Ao contrário, ela é concebida como 
prática social concretizada nas interações entre sujeitos. Do 
mesmo modo, Vigotski (2003) destaca o papel das interações nos 
processos de aprendizagem, enfatizando que o desenvolvimento 
da linguagem dá-se às bases da relação eu/outro. 
Logo após meu ingresso na universidade, como professora 
no curso de Letras, iniciei o doutorado. Minha pesquisa, nesse 
curso, investigou a formação da identidade de professor de língua 
52
portuguesa, e a teoria bakhtiniana foi a referência para as análises 
dos discursos dos professores sujeitos da pesquisa. Segundo Brait 
(2006), o Círculo de Bakhtin nunca formulou um conjunto de 
categorias a priori para efeito de análises. O seu pensamento 
motivou a formulação, pelos estudiosos da linguagem de base 
enunciativo-discursiva, de uma teoria/análise dialógica do 
discurso. Assim, temos hoje a denominada Análise Dialógica 
do Discurso (ADD), que trabalha com princípios bakhtinianos 
para a compreensão do objeto de análise, partindo das relações 
dialógicas constitutivas da vida da linguagem e dos seres humanos. 
Desde 2008, trabalho com disciplinas de Linguística Aplicada 
ao ensino do Português e com os estágios dos alunos licenciandos 
em Letras. São componentes que requerem atualizar e dar ênfase à 
concepção de linguagem que vem prevalecendo, no Brasil, desde 
a década de 80 e sendo confirmada nas pesquisas no campo da 
Linguística Aplicada e nos documentos oficiais que orientam o 
trabalho com a língua portuguesa na educação básica, a saber: 
PCNs (1998) e BNCC (2018). Essa concepção, reitero, está 
centrada na linguagem como prática social que tem a interação, 
o diálogo como lugar da sua produção e da constituição dos 
sujeitos, o que confirma as bases do pensamento do Círculo de 
Bakhtin no tocante à concepção de linguagem. 
Os documentos oficiais supracitados não mencionam 
53
explicitamente a teoria de Bakhtin e o Círculo como referência 
para a concepção de linguagem apresentada e defendida. A teoria 
aparece subjacente aos enunciados que percorrem boa parte dos 
dois documentos. Para ilustrar, a BNCC anuncia:
Assume-se aqui a perspectiva enunciativo-discursiva de 
linguagem, já assumida em outros documentos, como os 
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), para os quais a 
linguagem é uma forma de ação interindividual orientada 
para uma finalidade específica; um processo de interlocução 
que se realiza nas práticas sociais existentes numa sociedade, 
nos distintos momentos de sua história. (BRASIL, 1998, p. 20) 
(BRASIL, 2018, p. 67). 
Desse modo, entendemos que os documentos referem-se à 
linguagem em consonância com o pensamento do Círculo, o que 
representa uma grande atualização sobre o modo como a língua 
era concebida: sistema abstrato, imutável e homogêneo, para uma 
concepção de concretude, dinamicidade e heterogeneidade como 
elementos da natureza própria da língua(gem). Contudo, ainda 
assistimos práticas de ensino presas às bases do estruturalismo 
apesar da gama de pesquisas, produções e publicações feitas 
pelos estudiosos da linguagem. É um percurso longo e desafiador, 
54
para nós professores e formadores, desconstruir concepções tão 
internalizadas pela sociedade, mas temos avançado. 
Os escritos de Bakhtin e o Círculo são, desde o mestrado, 
minhas referências de estudos, pesquisas e publicações. Minha 
filiação a essa teoria vem da crença de que o ser humano é um 
sujeito imerso em um mundo semiótico de múltiplas linguagens, 
e o pensamento do Círculo nos oferece a possibilidade de 
problematizar o modo como esse mundo nos constitui. 
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 6ª ed. São Paulo: 
Editora WMF Martins Fontes, [1992], 2011.
BAKHTIN, M. M; VOLOCHÍNOV, V. N. Marxismo e filosofia da linguagem. Trad. 
Michel Lahud e Yara F. Vieira. 13ª ed. São Paulo: Hucitec Editora [1929], 2012. 
BRAIT, B. “Análise e teoria do discurso”. In: BRAIT, B. Bakhtin: outros conceitos-chave 
(org.). São Paulo: Contexto, 2006. P. 9-31. 
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais. 
Língua portuguesa de 5ª a 8ª série do 1º grau. Brasília: MEC/SEE, 1998.
______. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília/MEC, 2018.
Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/documento/Apresentação.pdf> 
Acesso em: 10 de julho. 2019.
Vigotski, L. S. Pensamento e linguagem. Trad. Jefferson Luiz Camargo. 2ª ed. São Paulo: 
Martins Fontes, 2003. 
55
A BIBLIOTECA ESCOLAR INFANTIL AOS OLHOS DO 
CÍRCULO DE BAKHTIN
Marina Moreira1
Precisarei de um dicionário! Logo após ler minha primeira 
obra de Bakhtin, Marxismo e Filosofia da linguagem, essa foi minha 
afirmação. O contato com algo novo, e surpreendentemente 
diferente, me fazia (e ainda faz), avançar algumas páginas, e 
retroceder tantas outras, e assim o fiz. Lendo e devaneando entre 
as linhas, me perdia em outras tantas conexões que ia realizando 
durante a leitura. Quem é esse cara? Quem são essas pessoas? 
Como foi possível essa compreensão da realidade tão apurada 
assim? E as questões iam e vinham na minha mente, sem que eu 
nem ao mesmo me desse conta de que já haviam passado horas, e 
eu estava na mesma página.
Assim foi o meu primeiro contato com as obras do Círculo 
de Bakhtin. Então contarei a vocês, como e porque, tudo isso 
começou. Pedagoga de formação e amante dos livros, sempre 
possui o desejo de ingressar na Pós-graduação, que, com muita 
alegria aconteceu em 2018. Com um projeto voltado para os 
livros e a biblioteca na Educação Infantil, fui selecionada por 
1 Doutoranda no curso de Doutorado em Educação da Universidade Federal do Estado de Santa Catarina. 
Florianópolis, Brasil, marynnah_moreira@hotmail.com.
56
uma orientadora, um tanto quanto peculiar. Ela tinha leveza nas 
palavras, um carinho inestimado pelos livros, e uma paixão por 
Bakhtin. Pera aí, Bakhtin? Quem é esse? Eu nunca tinha ouvido 
falar. Já nas primeiras orientações ela me disse: “Eu oriento sob as 
lentes de Bakhtin, é assim que eu sou, é assim que eu sei orientar!”, 
e me aconselhou que fosse logo lendo tudo, lendo mais, lendo 
sempre.
A partir disso, comecei a compreender que eu não anuncio 
minha palavra enquanto um ser monológico, que fala apenas por 
si. Mas como um ser dialógico, composto pelas múltiplas vozes 
a qual sou constituída, todavia, na singularidade da palavra que 
somente eu posso dizer, pois estamos em um “[...] diálogo sem 
fim, onde não há a primeira nem a última palavra” (BAKHTIN, 
2011, p. 407). Deste modo, deu início minha pretensão de realizar 
a compreensão dialógica do discurso ancorada na concepção 
bakhtiniana de linguagem, com o propósito de compreender a 
biblioteca escolar infantil, meu objeto de estudo, enquanto um 
local singular.
Assimcomo a criança, que se sente como “coisa-aqui”2 pelas 
palavras amorosas de sua mãe e vai constituindo sua consciência 
através dela, como descreve Bakhtin (1997, p. 68), eu, sinto-me 
2 “E nos lábios e no tom amoroso deles que a criança ouve e começa a reconhecer seu nome, ouve denomi-
nar seu corpo, suas emoções e seus estados internos; as primeiras palavras, as mais autorizadas, que falam 
dela, as primeiras a determinarem sua pessoa, e que vão ao encontro da sua própria consciência interna, 
ainda confusa, dando-lhe forma e nome, aquelas que lhe servem para tomar consciência de si pela primei-
ra vez e para sentir-se enquanto coisa-aqui, são as palavras de um ser que a ama.” (BAKHTIN, 1997, p. 68)
57
enquanto “coisa-aqui” nas relações arquitetônicas que construo 
em minha história, para compreender e conceituar a biblioteca 
escolar infantil, para além de suas paredes, de seu espaço físico, 
ou de suas coleções.
Para tanto, os conceitos de biblioteca escolar infantil definidos 
por mim, ao longo dessa caminhada com Bakhtin, revelam não 
apenas ideias preestabelecidas. Mas demonstram o modo como 
compreendo esse lugar, através não só da minha consciência, 
mas da consciência do outro que também me constitui, na busca 
de encontrar a verdade-pravda dos enunciados, uma vez que, 
os estudos bakhtinianos realizam uma distinção entre verdade 
“pravda” e verdade “istina”, onde essa é a representação da 
generalidade, dada por universais, verdades absolutas, enquanto 
aquela “como uma entonação do ato, como a sua afirmação, ou 
seja, para qual tende e pelo qual é aferida e o afere”. (BAKHTIN, 
2017, p.17)
Ninguém continua sendo o mesmo após dialogar com as 
produções do Círculo. Meu objeto de estudo, já não era mais 
um local estático, pronto e acabado. Mas um lugar de encontro, 
composto pelas múltiplas relações sociais que permeiam seu 
entorno. A Biblioteca Escolar infantil, deve ser compreendida, 
então, de acordo com a dialogicidade das múltiplas vozes que a 
compõem.
58
A Biblioteca é uma das instituições que acompanha a 
humanidade a séculos, e nasceu para que homens e mulheres 
conseguissem alocar seus conhecimentos, de maneira segura, e 
pudessem repassá-los para as outras gerações.
Na contemporaneidade, refletir sobre a Biblioteca Escolar 
aos olhos do Círculo de Bakhtin, é compreender que esses 
espaços já superaram a qualidade de apenas depósito de livros 
e conhecimentos. É entender que são lugares singulares que, 
para além de armazenarem o conhecimento historicamente 
acumulado pela humanidade, se tornaram também, locais que 
propiciam a geração de conhecimentos novos.
A biblioteca que por anos excluiu de suas dependências 
as crianças pequenas, por ser caracterizada como um lugar de 
silêncio e inércia. hoje, se atualiza e se reinventa para abrigar a 
multiplicidade de pequeninas vozes necessárias para compor-se 
enquanto um espaço de aprendizagem e saberes.
Ao ler Bakhtin, percebi que a Biblioteca Escolar Infantil, 
deve se estruturar como um lugar singular, disposta a abrigar 
todos que a procuram. Desde a mais tenra idade, a criança 
precisa ter o contato com esse ambiente estimulador, logo, não 
buscamos verdades globais para constituir esses espaços, mas, 
a trama das relações sociais que estão imbricadas ao seu redor. 
Assim, apresento minha maneira de olhar para esse objeto de 
59
estudo, colocando minha voz para circular entre os debates dessa 
temática.
E quanto ao dicionário? Fui percebendo, ao longo das 
leituras, que Bakhtin se lê com a alma. De maneira insistente e 
sistemática, mas de coração aberto para entender tudo aquilo 
que nossa compreensão nos permite. Estudar o Círculo, é abrir-
se para o novo sem medo de errar, e aceitar que EU, nas relações 
arquitetônicas que vou construindo, me possibilitam uma leitura 
única daquele que pode ser lido e compreendido por muito.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail M. Estética da criação verbal. Tradução de Maria Ermantina Galvão G. 
Pereira. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
_________. Estética da criação verbal. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
__________. Para uma filosofia do ato responsável. Tradução aos cuidados de Valdemir 
Miotello & Carlos Alberto Faraco. São Paulo. Pedro & João editores. 2017.
60
61
BAKHTIN VAI AO CINEMA
Maria Carolina Silva de Oliveira¹
A minha dedicação em estudar Bakhtin não iniciou de forma 
convencional, no meu primeiro semestre em Letras Português e 
suas Literaturas na Universidade Federal do Pampa, campus Bagé, 
eu acreditei verdadeiramente na possibilidade de me tornar uma 
Sherlock Holmes. A pessoa responsável por me fazer acreditar/
sonhar nessa possibilidade, notoriamente, foi uma professora. Ao 
passo que no segundo semestre me tornei Bolsista de iniciação 
científica nas ações afirmativas (PIBIC-AF) CNPq/Unipampa, 
orientado pela Doutora Professora Fabiana Giovani, a saber: “Da 
Análise linguística a estilística no ensino da língua: atualizando 
as considerações de Mikhail Bakhtin” a partir da análise de 
textos escritos. E durante esse período eu produzi dois capítulos 
de livros para o VII CÍRCULO - Rodas de Conversa Bakhtiniana 
FRONTEIRAS. O primeiro capítulo do livro : FRONTEIRA 
TÊNUE: A IDEOLOGIA POR TRÁS DA RISADA e depois “E” 
OU “OU”. 
E por isso, após três anos, eu e meu amigo, colega de curso 
e parte da minha personalidade, continuamos a levar a palavra 
sobre Gêneros Discursivos e o Marxismo e Filosofia da linguagem 
62
para todos os nossos amigos que despretensiosamente visitam 
nossa casa em noites chuvosas quando o carro quebra na estrada. 
Como Drácula, sugamos a ignorância de quem não sabe observar 
a beleza do estilo de um gênero ou a quebra de estrutura utilizada 
como forma de quebrar nossas expectativas e se deliciar de um 
tema mergulhado em problemáticas sociais. 
Atualmente, sigo me dedicando ao estudo bakhtiniano, 
pois, vejo a beleza dos gêneros discursivos no desdobramento 
dos objetos passíveis análises que nossa sociedade produz ao 
desenvolver cultura. E como continuo na graduação, acrescento 
a esse conhecimento uma nova forma de compreender o 
sujeito. Como a autora Jacqueline Authier-Revuz, sinto que 
meu consciente não cabe em uma só corrente teórica. Por isso, 
quando eu tomei a decisão de cursar a disciplina eletiva “Cinema, 
psicanálise e discurso” oferecida no segundo semestre de 2019, 
antes do mundo estagnar, nesse momento, eu conheci a Análise 
do Discurso (AD) e a partir disso eu e Bakhtin entramos juntos 
no cinema. 
Quando eu descobri a AD e sua filiação francesa, a disciplina 
utilizava filmes como objeto de análise, eu me senti em casa: 
sozinha com os meus pensamentos e conversando com os meus 
amigos imaginários: os filmes. Ao conhecer a prática de análise e a 
concepção do sujeito, inconsciente e história e sua materialidade 
63
na linguagem, eu comecei a observar o estilo na linguagem 
cinematográfica e, consequentemente, estrutura e tema. 
O que me motiva a continuar estudando Bakhtin é ampliar 
os conceitos do diálogo que podemos desenvolver com a cultura 
produtora de infinitos gêneros discursivos. Eu particularmente, 
quero utilizar o cinema como fonte de estudos, mas, isso é só uma 
das possibilidades, visto que: 
A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, 
pois a variedade virtual da atividade humana é inesgotável, 
e cada esfera dessa atividade comporta um repertório de 
gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-
se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais 
complexa” (Bakhtin, 1997, p. 280). 
O sujeito divide-se em três quando é confrontado por uma 
obra cinematográfica, podemos observar: o estilo nos proporciona 
a beleza das cores e direção de fotografia, planos amplos ou 
restritos, sensação de estranheza ou felicidade, contemplar 
paisagens de mundo alienígenas, tudo a mercê da criatividade 
humana. Enquanto a estrutura, nosagarra pela mão e nos leva 
a percorrer o caminho que ela deseja para contar a sua história, 
independente da nossa satisfação ou apreço pela personagem que 
64
65
BAKHTIN E O TEXTO EM SEU STATUS NASCENDI: 
uma história de dialogia em registro
Márcia Helena de Melo Pereira1 
O começo...
O encontro dessa pesquisadora com Bakhtin dá-se no ano 
de 1999, quando surge o interesse dela pelo texto visto em seu 
status nascendi, em uma parceria feita com a Crítica Genética, 
área da literatura que também vislumbra o texto do ponto de 
vista processual. Tal interesse é ainda mais aguçado quando a 
pesquisadora dispõe de um software francês chamado genèse du 
texte, desenvolvido pela Association Française pour la Lecture, 
em 1993, com objetivos pedagógicos, angariado pela orientadora 
da dissertação2 que ora se construía, Profª Drª Raquel Salek 
Fiad, da Unicamp, em visita à França. À época, registrar dados 
processuais não era tarefa fácil e o genèse du texte possibilitava o 
acompanhamento de todo o processo de produção de um texto, 
pois suas idas e vindas, suas substituições, novas ordenações, 
1 Professora titular do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários da Universidade Estadual do 
Sudoeste da Bahia (DELL/UESB) e docente do quadro permanente do Programa de Pós-Graduação em 
Linguística da mesma instituição (PPGLIN/UESB). Vitória da Conquista, Brasil. E-mail: marciahelenad@
yahoo.com.br
2 MELO, Márcia Helena de. “A apropriação de um gênero: um olhar para a gênese de texto no Ensino 
Médio”. Dissertação (Dissertação em Linguística Aplicada). Instituto de Estudos da Linguagem – Univer-
sidade Estadual de Campinas, Campinas, 2000.
66
pausas, acréscimos, podiam ser registrados em forma de relatórios. 
Para a pesquisa de então, duas duplas de estudantes do Ensino 
Médio, alunos da pesquisadora, produziram três textos usando 
o genèse du texte, escritos em três gêneros discursivos diferentes: 
narrativa de ficção, notícia e carta argumentativa. Em acréscimo, 
a conversa que a dupla manteve entre si durante a elaboração 
textual foi gravada em áudio, seguida de uma entrevista. 
Como nasce um texto? Essa era a indagação principal. Para 
responder a esse e outros questionamentos, entra em cena Bakhtin 
com sua teoria dialógica, de enunciado e de gênero do discurso. 
Se tínhamos dois sujeitos conversando a respeito de um texto que 
estavam escrevendo, quem melhor para fundamentar tal reflexão 
do que Bakhtin e sua teoria dialógica? Se o produto da interação 
entre nossas duplas seria em forma de enunciados, quem mais 
poderia nos subsidiar do que Bakhtin? Se quando produzimos 
enunciados sempre tomamos por base um gênero, quem poderia 
ser o teórico de escolha a não ser Bakhtin? 
O doutorado veio logo em seguida. Novamente Bakhtin entra 
em cena, dessa vez com o postulado das duas forças que operam 
nos gêneros: uma que os estabilizam e os tornam homogêneos 
(forças centrípetas), e outra que os desestabilizam e os tornam 
heterogêneos (forças centrífugas). Segundo o teórico, há gêneros 
que não possibilitam muitas inovações, como é o caso de um 
67
requerimento, por exemplo, que apresenta elementos constitutivos 
mais rígidos, tornando-o mais estável; mas há outros mais 
acomodatícios a entradas individuais, exemplificados pelo autor 
como sendo os gêneros literários. O foco centrou-se mais no pilar 
estilo, uma vez que o estilo individual está ligado ao enunciado 
e aos gêneros do discurso, havendo gêneros mais ou menos 
acomodatícios a entradas subjetivas. A tese investigou o embate 
de forças genéricas postas em operação durante a elaboração, 
agora, dos três textos de que dispúnhamos. Ela foi intitulada de 
“Tinha um gênero no meio do caminho. A relevância do gênero 
para a constituição do estilo em textos de escolares”3 e defendida 
em 2005. 
O meio...
Em 2012, a pesquisadora entra para o corpo docente da 
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), como 
professora adjunta, fazendo parte do Departamento de Estudos 
Linguísticos e Literários (DELL). A inserção no Programa de Pós-
Graduação em Linguística (PPGLin) deu-se dois anos depois. 
As orientações que desde então se seguiram continuaram 
3 PEREIRA, Márcia Helena de Melo. “Tinha um gênero no meio do caminho. A relevância do gênero para 
a constituição do estilo em textos de escolares”. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada). Instituto de 
Estudos da Linguagem – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005.
68
tendo os postulados do Círculo de Bakhtin como fundamentação 
teórica. A pesquisadora foi observando que as máximas a respeito 
do conceito de gênero discursivo respondem muito bem a questões 
postas também hoje, como Brait (1999) pontuou, ao salientar que 
mesmo em “gêneros próprios das novas formas de comunicação, 
viabilizadas pela tecnologia e, especialmente, por novos valores 
assumidos pelo homem contemporâneo em relação a tempo/
espaço, público/privado, efêmero/duradouro”, Bakhtin continua 
sendo autor de escolha. Afinal, o gênero não se limita a estruturas 
ou textos, embora os considere como dimensões constituintes. 
Implica, acima de tudo, dialogismo e a maneira de entender e 
enfrentar a vida. Essa premissa bakhtiana pôde ser vista em uma 
pesquisa orientada pela pesquisadora que teve como escopo o 
gênero diário íntimo. Nela, Jocelma Boto Silva4 buscou investigar 
os elementos linguísticos e/ou discursivos inseridos por dois 
sujeitos em diários que escreveram na tentativa de conhecer um 
pouco mais a respeito deles e de sua relação com a linguagem, 
além do próprio gênero em si. Outras pesquisas se sucederam, 
voltadas para gêneros como estes: blog, debate, resumo, resenha, 
TCC, petição inicial, Instagram, post de facebook, tweet, etc. 
4 SILVA, Jocelma Boto. “O eu autobiográfico e suas funções: escrever a vida para que e para quem?”. 
Dissertação (Dissertação em Linguística). Programa de Pós-Graduação em Linguística – Universidade 
Estadual do Sudoeste da Bahia, Vitória da Conquista, 2016.
69
“Tudo ainda está por vir e sempre estará por vir”: (sobre)
saindo pela carnavalização
Há um desejo em Bakhtin, na obra “Para uma filosofia do 
ato”, de reconciliar o mundo da teoria e o mundo da vida. O 
evento único e irrepetível, do mundo da vida, sempre esteve 
no horizonte do filósofo. E a vida, no momento atual, leva esta 
pesquisadora cada vez mais para a interação nas mídias digitais. 
E é trazendo o Bakhtin de Rabelais e seu mundo, o Bakhtin do 
Dostoiévski polifônico e carnavalizado que esta pesquisadora 
prossegue, agora procurando traçar um paralelo do conceito de 
carnavalização com as fanfics, gênero bastante popular entre os 
adolescentes e com características carnavalizadas marcantes. 
O espaço é curto para um filósofo tão completo, pois sequer 
uma vida inteira bastaria para esmiuçar as diferentes faces teóricas 
que abarcou e nos legou. 
REFERÊNCIAS 
BRAIT, Beth. “A produtividade do conceito de gênero em Bakhtin e o Círculo”. Alfa, São 
Paulo, 56 (2): 371-401, 2012. 
70
71
O CÍRCULO DE BAKHTIN: reflexões e usos na análise do 
discurso da imprensa
Thomas Dreux Miranda Fernandes
Marxismo e Filosofia da Linguagem, revela com enorme 
competência o conceito de Dialogismo, indicando o aspecto 
inescapável da interação e movimento entre os enunciados 
como a realidade fundamental da língua. Tal obra, ao apontar 
que é necessária a ancoragem material e histórica para se pensar 
- a partir da base social - o como as expressões humanas se 
constituem, além da reflexão sobre seu conteúdo, propõe um giro 
epistemológico revolucionário no pensar filosófico da linguagem. 
Nesse sentido, toma-se como exemplo a expressão artística em 
destaque no período de produção da obra e de atuação do Círculo 
de Bakhtin, a literatura. Na virada dos séculos XIX e XX, esta 
emerge, portanto, junto com uma nova maneira de percepção 
do mundo, expressando as questões pungentes da sociedade,extrapolando na forma, sua historicidade inerente. Assim, é isso 
que caracteriza o discurso indireto livre, uma nova forma de 
expressão historicamente colocada e criada a partir de um novo 
horizonte social que nascia e se transformava com a aceleração e 
consolidação do mundo do capital. Nesse sentido, é possível tomar 
72
este raciocínio metodológico e aplicá-lo a outros usos e suportes 
como por exemplo a fotografia, aqui nos aproximamos, então, de 
outros objetos de estudo, criando novos diálogos e interações em 
uma proposta de pesquisa que toma os conceitos do Círculo de 
Bakhtin como base teórico-metodológica para novas análises que 
se propõe ir além do que fora realizado no início do século XX. 
Dessa, forma, partindo de uma formação concomitante e 
complementar em Jornalismo e História, meus interesses sempre 
tentaram aproximar, ainda que de maneira inconsciente, esses 
campos de conhecimento. Além disso, através das diferentes 
etapas do percurso acadêmico ficou evidente qual o ponto de 
contato entre estas, que podemos chamar de disciplinas, esse 
nó é justamente a reflexão a respeito do discurso e seu processo 
de formação. Explico. Após algumas incursões e pesquisas a 
respeito do fenômeno do WikiLeaks, seus reflexos e refrações 
na imprensa brasileira no início dos anos 2010, além de outra 
pesquisa dedicada à atuação diplomática do Itamaraty durante o 
Regime Militar (1964-1985), ficou evidente que o interesse maior 
estava justamente na busca pelo entendimento e razões para a 
formulação de um determinado discurso. Fosse esse o discurso 
oficial da diplomacia ou da imprensa burguesa. 
A partir daí acrescenta-se mais uma camada, a Fotografia. 
O fascínio exercido pela fotografia, tem sem dúvida fundamento 
73
no seu caráter dialógico, ou seja, no quanto ela é capaz, 
enquanto suporte material, de dialogar com diversos outros 
tipos de enunciado, criando, recriando e reforçando diferentes 
processos de significação a partir da continuidade físico-química 
da realidade material. Assim, chegamos ao grande encontro 
multidirecional que se colocou pelo caminho, conjugar diferentes 
camadas, ângulos e vetores da realidade que aparecem quando 
nos dedicamos ao estudo do enunciado da imprensa brasileira 
durante o Regime Militar (1964-1985), através do prisma do 
fotojornalismo. 
A fotografia possivelmente é - por seu código aberto – uma 
das melhores expressões do que Volóchinov (2018) e o Círculo 
de Bakhtin se propunham pensar, língua, ideologia e discurso, 
dado que permite de maneira mais direta as reflexões e refrações 
que irão compor a significação do enunciado em uma via de mão 
dupla entre o enunciador e seu auditório. Se mostram notáveis 
os diferentes recortes e usos de um mesmo evento, abrangendo 
interesses de classe – representados na intencionalidade editorial 
dos jornais – e também individuais - representados na maior ou 
menor subjetividade nas interpretações dos fotógrafos. 
Com isso, se destaca a importância dos conceitos bakhtinianos, 
a noção de movimento proposta dentro da ideia de Dialogismo 
e o como tais ferramentas metodológicas, mas sobretudo, 
74
tal virada epistemológica ajuda a se entender as nuances dos 
enunciados a respeito do golpe civil-militar de 1964 no Brasil, 
a compreensão das ferramentas de enunciação utilizadas, suas 
interações e a consequente historicização que nos transportam 
do que permaneceu nos jornais como a aparência dos eventos 
históricos para a sua essência material histórica. Os elementos 
de um enunciado, e aqui acrescentamos o enunciado fotográfico, 
são uma modulação do como e para quem se quer enunciar 
determinada expressão ideológica. E será essa base que tornará 
possível a compreensão e ampliação da existência sensível: 
Os novos aspectos da existência que passam a integrar o 
horizonte de interesses sociais e que são abordados pela palavra 
e pelo pathos humano não esquecem dos elementos da existência 
integrados anteriormente, mas entram em embate com eles, 
reavaliando-os, alterando o seu lugar na unidade do horizonte 
valorativo. Essa formação dialética se reflete na constituição dos 
sentidos linguísticos. Um sentido novo se revela em um antigo 
e por meio dele, mas com o objetivo de entrar em oposição e o 
reconstruir”. (VOLÓCHINOV, 2018, p.238). 
E será assim que o sentido se compõe e organiza, a partir dessa 
ampliação dialética do horizonte social, na qual o novo, através 
do já existente - que por sua vez é integrado - altera o já existente, 
ao mesmo tempo se opondo e renovando-o. Este é então um 
75
processo instável, principalmente na significação. Na fotografia, 
fica visível como diferentes técnicas e estilos transformaram o 
fazer fotográfico ao longo da história e, especialmente o modo 
como tais alterações estiveram ligadas a inovações tecnológicas 
e formas de percepção do mundo material. No caso do 
Fotojornalismo, a fotografia a cores e, depois, a fotografia digital, 
trouxe novos elementos materiais de linguagem e interação social 
que afetaram o modo como esta passou a ser usada na expressão 
ideológica burguesa através da imprensa. Os conceitos de Bakhtin 
nos são caros, pois ajudam a levar para o campo prático as noções 
de - avaliação, significação e horizonte social - tomando como 
base a noção de que a linguagem e a expressão compõem e são, 
simultaneamente, alteradas pela realidade material/social na qual 
estão inseridas. 
Ao analisar as fotografias publicadas na Folha de S. Paulo e 
no Jornal do Brasil no ano de 1964, o objetivo é entender qual 
foi o papel das fotografias e dos diferentes usos da linguagem 
fotográfica na construção discursiva a respeito do golpe civil-
militar de 1964, tentando criar novos entendimentos sobre os 
fatos e a importância da disputa discursiva no contexto. O que se 
viu, portanto, foi um posicionamento do jornal Folha de S. Paulo 
abertamente favorável ao movimento golpista e seus realizadores. 
Tendo sido feito um uso da fotografia e da linguagem fotográfica 
76
de maneira supostamente objetiva, modulando o discurso 
jornalístico ao jornalismo moderno, que se afirmava naquele 
período. Dessa forma, as fotografias, interagindo com legendas, 
chapéus e demais textos, procuraram consolidar o consenso de 
que o movimento golpista estaria realizando uma “revolução” 
em favor da democracia, contra uma suposta ameaça comunista 
representada por João Goulart. 
O discurso “revolucionário” é a retórica da aliança das frações 
de classe, que se uniram para derrubar o governo constitucional 
de Goulart. Por suas lacunas e contradições o discurso revela o 
que deseja ocultar: que é o discurso da classe dominante e que 
as finalidades do movimento de março foram a contenção da 
participação política das classes subalternas e a dinamização da 
acumulação capitalista. (FIORIN, 1988, p.152)
Nesse trecho vemos como os conceitos do Círculo de Bakhtin 
também estão presentes em outras reflexões, nesse caso de um 
grande linguista brasileiro. O que se vê no caso da presente 
pesquisa é o fato de que, nesse momento histórico, os periódicos 
analisados, sobretudo a Folha de S. Paulo, atuaram como 
amplificadores do discurso golpista e reproduziram enunciados 
que representavam os interesses de classe dos executores 
do golpe, nesse contexto a fotografia serviu também como 
referencial de veridicção dos fatos e eventos retratados, porém, 
77
através do distanciamento proporcionado pela análise histórica, 
verifica-se que a fotografia também amplificou as lacunas de tal 
discurso interessado. Dessa forma, sublinhamos à necessidade e 
importância de historicizar a produção do enunciado, pois este é 
um caminho para se compreender seus usos ativos e socialmente 
vivos nas disputas cotidianas. E dentro dessa proposta as ideias 
bakhtinianas são um combustível fundamental para a realização 
de uma análise materialista histórica do passado.

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