Buscar

A imersão e o streaming no boom do poscast narrativo


Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 
43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 
 
 1 
 
A imersão e o streaming no boom do podcast narrativo1 
 
Leonardo COUTO2 
Marcelo KISCHINHEVSKY3 
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ 
 
 
RESUMO 
 
Consolidado após 1995, na voz personalista do jornalista norte americano Ira Glass, o 
formato narrativo sonoro migrou do rádio para o podcasting na primeira década do 
terceiro milênio e adquiriu uma legião de fãs na internet. Além disso, com os avanços da 
internet no Brasil e no mundo, o streaming amplificou o número de consumidores de 
podcasts e criou um novo estilo de consumo que tem se moldado através dos anos e 
despertado atenção do mercado publicitário. Porém, apesar de ser um novo estilo de 
produção de conteúdo, o podcast narrativo aciona técnicas já desenvolvidas na década de 
1970, na esteira do movimento conhecido como novo jornalismo. Este artigo visa 
construir uma revisão bibliográfica acerca do podcast narrativo e a relação do mesmo com 
o novo jornalismo do século XX. 
 
PALAVRAS-CHAVE: podcast; rádio; streaming; jornalismo; narrativa. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Meio centenário, o rádio está sempre se reinventando e se desvencilhando das 
previsões sobre sua morte iminente. Ele se adaptou ao boom televisivo durante a década 
de 1970/80, depois à internet no fim da década de 1990 e agora enfrenta um novo desafio 
com os serviços de streaming e plataformas de música. “Relegado a um papel de 
coadjuvante desde a popularização da TV, o rádio renasce amalgamando-se à rede 
mundial de computadores e às redes de telefonia móvel, encontrando novos e 
diversificados canais de distribuição” (KISCHINHEVSKY, 2016, p. 13). 
A mídia sonora antes apostava em um locutor com uma voz imponente para 
condução dos grandes noticiários, mas hoje dá espaço para a locução natural e com cada 
vez mais usos das redes sociais durante as transmissões. “Fale conosco através do nosso 
 
1 Trabalho apresentado no IJ04 – Comunicação Audiovisual, da Intercom Júnior – XVI Jornada de Iniciação Científica 
em Comunicação, evento componente do 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação 
 
2 Estudante de Graduação 8º. semestre do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da Escola de 
Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO-UFRJ), e-mail: leonardo@discente.eco.ufrj.br. 
 
3 Orientador do trabalho. Professor dos cursos de Comunicação Social da ECO-UFRJ, diretor do Núcleo de Rádio e 
TV da UFRJ e doutor em Comunicação e Cultura pela mesma instituição, e-mail: marcelok@forum.ufrj.br. 
 
mailto:leonardo@discente.eco.ufrj.br
mailto:marcelok@forum.ufrj.br
 
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 
43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 
 
 2 
WhatsApp”, “siga a gente no Facebook”, “responda usando a nossa ‘#’ no Twitter” etc. 
A capilaridade, a praticidade e a maneira como o rádio absorve as mudanças e se 
transforma é o que o faz perdurar e atrair novos consumidores em seus mais variados 
formatos. 
Em meio a essas reinvenções, o rádio encontra hoje um desafio: o podcasting. A 
partir do conceito de “rádio expandido” (KISCHINHEVSKY, 2016), podemos afirmar 
que o podcasting é um formato on demand que se assemelha aos programas de rádio, mas 
com a diferença de não ter um horário fixo de veiculação, podendo ser ouvido no 
momento em que se quiser. Como Herschmann e Kischinhevsky abordam, “no 
podcasting, diferentemente da radiodifusão convencional, a recepção é assincrônica, cada 
indivíduo decide quando e onde vai ouvir o conteúdo assinado” (HERSCHMANN, 
KISCHINHEVSKY, 2008, p. 103). Algumas rádios produzem conteúdo para a web 
através de cortes e trechos dos seus programas há um tempo, como é o caso da Rádio 
CBN. 
Entretanto, não há um consenso de que este tipo de conteúdo deva ser classificado 
como podcast. Apesar de alguns teóricos acreditarem que qualquer programa de rádio, 
quando veiculado na internet, se configura como podcast, estudiosos como Álvaro 
Bufarah Júnior indicam que este tipo de conteúdo seria somente um programa de rádio 
veiculado na web. 
Ao utilizarem o termo podcast de forma equivocada para denominar o uso de 
ferramentas on demand , ou ainda outras formas de acesso aos áudios, emissoras 
de rádio estão produzindo uma massa de ouvintes que não saberão diferenciar 
estas ferramentas impossibilitando o melhor uso estratégico de cada uma delas 
dentro de uma política de marketing de conteúdo que reforce a marca da empresa. 
(BUFARAH JÚNIOR, 2017, p. 14) 
 
Usando um campo favorável para crescer na internet, fruto do crescimento de 
usuários brasileiros acessando a rede mundial de computadores e a ampliação de 
consumidores de smartphones no mercado brasileiro, o Spotify adentrou no mundo dos 
podcasts e hoje é uma das principais plataformas do meio. Além de produzir eventos e 
interfaces que buscam trazer novos adeptos ao podcast, o Spotify também gerencia 
parcerias com veículos para exploração do podcast através do jornalismo e/ou 
entretenimento. 
A empresa, inclusive, criou em 2019 uma nova interface que permite ao público 
pesquisar quais podcasts são os mais ouvidos, ou que estão no trends, premiando os 
produtores que obtenham sucesso com públicos de nicho para que alcancem o 
 
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 
43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 
 
 3 
mainstream, o público geral. Apesar de ter entrado de vez no mercado de podcast 
nacionais no ano de 2018, o Spotify já conseguiu em pouco tempo fidelizar um mercado 
favorável aos produtores de conteúdo independentes, como veremos neste artigo. 
Nem só de criar do zero vive o jornalismo, mas também de sempre absorver 
técnicas antigas e adaptar às novas demandas do público. Foi assim no jornalismo literário 
e agora o mesmo se repete com o podcast narrativo. A literatura criativa e as técnicas de 
imersão são características dos dois movimentos que conseguem colocar o ouvinte/leitor 
dentro das histórias e parte fundamental no processo de transmissão de informação. 
“Vivemos em um mundo mediado por informações que, unidas, constroem narrativas” 
(MUSSE, FERNANDEZ, 2017, p. 2). 
Por meio de uma mistura entre entretenimento e informação, com fundo marcante 
jornalístico, o podcast narrativo têm se apresentado uma expoente sonora do jornalismo 
literário, mas não só ficando restrito à interpretação de um público com uma leitura mais 
apurada, e sim atingindo até mesmo o grande público. A explosão do podcasting passa 
principalmente pelo carisma do apresentador e um roteiro envolvente, gerando 
engajamento e vitalidade à podosfera4. Sob esta perspectiva, o presente artigo visa 
produzir uma revisão bibliográfica sobre os campos do podcast e do jornalismo literário, 
além da relação desses dois tópicos de estudo da comunicação. 
 
A influência do streaming no boom do podcast no brasil 
O podcast no Brasil teve o seu primeiro lapso de popularidade com a Conferência 
Brasileira de Podcast, em 2005, no Paraná. Entretanto, a internet banda larga ainda não 
era uma realidade para os brasileiros e o acesso ao conteúdo não era dos mais fáceis. O 
baixo número de acessos em 2005 fez com que vários podcasts sumissem na mesma 
velocidade que apareceram. De acordo com o relatório de acompanhamento do setor de 
telecomunicações, pesquisa divulgada pela Agência Nacional de Telecomunicações 
(Anatel) em 20185, cerca de 8,1 milhões de pessoas tinham acesso à banda larga em 2005. 
Este número saltou para 31,05 milhões em 2018, tendo crescido, em média, dois milhões 
por ano de 2015 a 2018. 
 
4 Termo utilizado como nomenclatura do universo que compõem produtores e produtos relacionados ao 
podcast. 
5Dados da pesquisa retirados no site da Anatel. Acesso em 10/02/2020. Disponível em: 
https://www.anatel.gov.br/dados/relatorios-de-acompanhamento/2018. 
https://www.anatel.gov.br/dados/relatorios-de-acompanhamento/2018
 
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 
43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 
 
 4 
Apesar das dificuldades de acesso à banda larga em 2005 e anos seguintes, alguns 
podcasts nasceram nessa época e perduram até hoje, como o Café Brasil e o Nerdcast, 
ambos passando de 700 episódios e com programas semanais. Por mais de uma década, 
os ouvintes consumiam conteúdo indo em sites e portais para baixar os episódios. 
Smartphones não eram uma realidade para o brasileiro, então tocadores de MP3 e MP4 
eram os dispositivos usados pelos fãs para consumir este tipo de conteúdo, além do 
desktop. Os adeptos de podcasts tinham como comportamento uma “cultura da 
portabilidade” (KISCHINHEVSKY, 2016, p. 70), e hoje esse estilo de consumo da mídia 
se expande para os smartphones. 
A divulgação do podcast era feito através dos fãs, dos fóruns e de redes sociais 
como o Orkut e o Tumblr. Por um lado, a divulgação de um podcast não pertencente aos 
grandes portais era bem difícil, mas por outro essa liberdade que o novo formato oferecia 
era atrativo para os usuários, uma vez que “um fator de sedução é a ausência de regras 
rígidas nos podcasts” (HERSCHMANN; KISCHINHEVSKY, 2008, p. 103). A internet 
promove essa liberdade que produtores independentes tão ávidos procuram para 
adquirirem reconhecimento na área temática em que atuam. 
Apesar da liberdade e sedução envolvidos na temática do podcast, a podosfera 
sofreu com o problema de armazenamento e divulgação por mais de uma década. O 
Napster e o iTunes focavam muito em música e não davam tanto espaço necessário para 
que os podcasts captassem mais adeptos. O produtor independente ainda não encontrava 
um local, ou plataforma, para distribuir seu conteúdo de maneira integral e o público 
queria um espaço mais intuitivo para gerenciar os episódios. “O ouvinte não se contenta 
mais em acompanhar somente no momento em que está no ar ele quer ter o domínio de 
toda a programação” (MORAES, 2018, p. 4). 
O podcast no Brasil teve algumas “fases e eras”, mas encontrou a “era de ouro” 
com o Spotify. Lançado oficialmente em 2006, o Spotify só foi chegar ao Brasil no final 
de 2014. Durante seus primeiros passos em solo brasileiro ainda não víamos um 
direcionamento para a promoção de podcasts, mas sim um conteúdo voltado 
completamente para o consumo de músicas, similar ao que o iTunes e o Napster 
apresentavam. 
Porém, depois da criação do Castbox em 2016 e do Google Podcasts em 2018, nós 
vimos um crescimento deste mercado nos agregadores de conteúdo e um movimento do 
Spotify para promover o podcast no streaming por meio do consumo sob demanda. Após 
 
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 
43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 
 
 5 
a parceria do Presidente da Semana, entre o jornal Folha de S.Paulo e o Spotify, a 
plataforma começou a investir em eventos (Spotify for Podcasters Summit) e produções 
independentes (Café da Manhã), modificando também o layout do aplicativo e 
inaugurando uma sessão somente para podcasts. 
O grande “boom do podcast” no Brasil chegou em 2018, já com os grandes 
veículos de comunicação adentrando neste mundo. Os aplicativos agregadores 
conseguiram concentrar um público bastante assíduo no consumo de conteúdo via 
podcast. Toda essa nova estrutura de consumo por parte da sociedade despertou a atenção 
das mídias tradicionais. “É mais provável que novas ideias e pontos de vista alternativos 
surjam no ambiente digital, mas a mídia comercial vai monitorar esses canais, procurando 
conteúdos que possam cooptar e circular” (JENKINS, 2009, p. 291). 
Globo, Folha, Estadão, Revista Piauí e outros veículos começaram a desenvolver 
programas, mesmo com um retorno econômico quase nulo, afinal o mercado publicitário 
ainda não havia entrado de vez neste meio. Para esses veículos, estar inserido nesse 
ambiente e fortalecer a marca é mais importante do que o retorno financeiro direto no 
primeiro momento. O ouvinte agora não mais espera o jornal sair na banca ou o programa 
começar na grade televisiva. Ele consegue, através do streaming, acessar o conteúdo 
dessas emissoras a qualquer instante e ouvir o episódio do podcast quando quiser. 
Desta forma, o uso de podcasts é uma solução viável para a criação e veiculação 
de conteúdos diversificados que possibilitem as emissoras brasileiras atingirem 
seu público de forma a fidelizá-lo com conteúdos exclusivos, ou material 
veiculado na programação possibilitando, o download para uso posterior, em 
momento mais apropriado para o consumidor (BUFARAH JUNIOR, 2017, p. 
11). 
 
De acordo com dados da Associação Brasileira de Podcasters (ABPod), em 
pesquisa realizada em 20186, 60% dos ouvintes informaram que dão muita atenção aos 
programas que estão ouvindo. Com isto, a rentabilidade acaba sendo revertida através da 
característica multimídia que o podcast pode oferecer, afinal, de acordo com esta mesma 
pesquisa, 62% dos ouvintes já compraram um produto ou serviço após o mesmo ser 
anunciado em um episódio. Ademais, não é árduo para veículos de comunicação de 
grande porte a produção de um podcast com a equipe e estrutura que despendem. 
Mas afinal, como fazer um podcast de sucesso, rentável e duradouro? Essa é uma 
pergunta para a qual vários produtores de conteúdo independente gostariam de descobrir 
 
6 Dados da pesquisa retirados no site da ABPOD. Acesso em 10/02/2020. Disponível em: 
<http://abpod.com.br/podpesquisa> 
 
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 
43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 
 
 6 
a resposta. Alguns conseguem ganhar dinheiro através do patrocínio, como é o caso do 
Mamilos (B9) com o Banco Bradesco e o Nerdcast (Jovem Nerd) com spots comerciais 
no início dos episódios. Já outros conseguem investimento em “vaquinhas virtuais” ou 
através de programas de financiamento coletivo como Patreon, como é o caso do podcast 
Projeto Humanos (Anticast). 
Esse novo modelo de negócio, aliado ao crescimento de usuários na internet, foi 
o que influenciou na permanência dos mais variados estilos de podcast nessa nova onda 
do formato, que começou em 2012 com o 99% Invisible e a Radio Ambulante 
conseguindo financiamento coletivo por meio da plataforma Kickstarter. Entretanto, a 
grande maioria continua a produzir por hobby e vê no podcast um meio de adquirir 
prestígio e reconhecimento no tema que estão abordando. Chris Anderson (2006), 
entendendo essa democratização, criou o conceito de “cauda longa”, a partir do qual se 
entende que o mercado é amplificado em um ponto, por meio das grandes empresas, e os 
pequenos produtores formam uma fina linha de consumo que preenche pequenas parcelas 
subjacentes do público, formando uma espécie de cauda. 
Embaixo, na cauda, onde os custos de produção e distribuição são baixos, graças 
ao poder democratizante das tecnologias digitais, os aspectos de negócios 
geralmente são secundários. Em vez disso, as pessoas criam por várias outras 
razões — expressão, diversão, experimentação e assim por diante. A razão por 
que o fenômeno assume características de economia e a existência de uma moeda 
no reino capaz de ser tão motivadora quanto o dinheiro: reputação. 
(ANDERSON, 2006, p. 68) 
 
Voltando um pouco no processo de produção dos episódios, podemos analisar 
uma mudança considerável na parte técnica desses programas mais antigos e analisar 
conforme o passar do tempo. Se pegarmos um programa de 2005, podemos identificar 
vários problemas em roteiro, edição e captação de áudio. Hojeos produtores de conteúdo 
conseguem trazer uma boa qualidade sonora aos seus programas por meio de melhores 
equipamentos e também uma edição mais simples. “Com o desenvolvimento da 
tecnologia, presenciamos uma retomada da estética acústica, que utiliza a digitalização 
para o tratamento de sons e para uma edição mais precisa, aumentando a qualidade da 
narrativa sonora” (VIANA, 2018, p. 5). 
E em um mundo de experimentação, como é a internet, o podcast vira ainda mais 
“queridinho” por conta da sua praticidade. “O talento não é universal, mas é muito difuso: 
dê a uma quantidade bastante grande de pessoas a capacidade de criar e daí sem dúvida 
surgirão obras de valor” (ANDERSON, 2006, p 51). Você pode gravar e editar com um 
 
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 
43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 
 
 7 
smartphone e gerar um RSS7 para o seu conteúdo através da publicação em Soundcloud 
ou extensões do Google Chrome. 
Após o processo de publicação e de ter gerado o RSS, cabe ao produtor registrar 
nos agregadores, que posteriormente acharão seu conteúdo, e logo ele estará listado entre 
os mais variados serviços, como: Spotify, Google Podcast, Castbox, Apple Podcast, 
Podcast Addict, Deezer e muitos outros. Restará, então, somente divulgar o conteúdo e 
fornecer ao público uma “escuta personalizada com conteúdo à la carte servido em seu 
próprio player ou terminal” (CASTRO, 2005, p.13). O podcast se torna um meio de 
produção bem mais prático que o audiovisual e a web rádio por precisar somente de um 
dispositivo para todo os processos que envolvem a sua criação. 
De acordo com a ABPod, em pesquisa realizada em 2018, 92% do público de 
podcast ouve os programas através dos smartphones. Se este público já tem uma relação 
tão forte com os celulares, a possibilidade de produção através dele amplifica ainda mais 
sua capilaridade na sociedade. O Anchor, plataforma voltada para a criação de podcasts, 
permite que os usuários gravem, editem e publiquem o próprio podcast de uma maneira 
mais simples e rápida em diversos agregadores, incluindo o Spotify, além de fornecer 
uma política de monetização. 
Se o produtor independente não encontra maneiras viáveis de gravar em estúdio, 
montar uma equipe de produção e edição, alugar um servidor e uma estratégia de 
divulgação, o Spotify se mobiliza para inserir esse produtor no mercado e aumentar a 
gama de conteúdo em sua plataforma, amplificando o boom da nova era de ouro do 
formato. Caso o produtor queira se profissionalizar mais ainda, encontra no Anchor um 
modelo de negócio com as publicidades que a própria ferramenta fornece, tornando o 
podcast ainda mais atrativo sob o olhar comercial. 
 
O podcast jornalístico através da narrativa de imersão 
Quanto mais sensorial, maior o sentimento de imersão em determinada história. 
Mas e se uma leitura é tão envolvente que, mesmo sem aguçar nada mais que sua 
imaginação e visão, te coloca envolto em um drama que existe para além daquele pedaço 
de papel? Ou se um podcast te leva para dentro do acontecimento usando somente 
 
7 É um formato de distribuição de informações em tempo real pela internet e podem ser acessados mediante 
programas ou sites agregadores. É usado principalmente em sites de notícias, blogs e páginas de podcast. 
 
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 
43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 
 
 8 
vibrações que chegam em seus tímpanos? Isso se dá por conta do roteiro imersivo e 
técnicas jornalísticas aplicadas na produção desses tipos de conteúdo. 
Textos do novo jornalismo envolviam os leitores ao contar histórias do cotidiano 
em forma literária e com uma carga dramática bem detalhada. Se apropriando um pouco 
deste tipo de artifício, o início do século XXI nos apresenta o podcast narrativo. Porém, 
isso começou de fato no século XXI? Em partes sim, em outras não. 
O podcast narrativo é uma vertente dos programas narrativos de rádio, algo que já 
existia desde o final do século XX nas rádios públicas americanas. Considerado por 
muitos como o pai do jornalismo narrativo, Ira Glass é um jornalista americano e 
apresentador de This American Life. Criado em 1995, o programa semanal é contado em 
primeira pessoa e relata acontecimentos da vida comum sob uma ótica singular e com 
imersão do jornalista. “Por imersão, entende-se a inserção do jornalista dentro da 
realidade a ser relatada (BARSOTTI; SANTA CRUZ, 2020, p. 140). 
Com aproximadamente 700 episódios, This American Life chega a 2020 sendo 
um clássico do jornalismo narrativo. Começou no rádio e somente em 2006 foi adentrar 
no mundo dos podcasts. Ele serviu como inspiração para muitos outros criadores, e alguns 
produtores saíram do This American Life para seguir com as próprias gravações. Assim 
surgiu o fenômeno Serial, que teve seu primeiro episódio em 2014 e também já pode ser 
considerado um clássico da podosfera. Kischinhevsky constata o caráter narrativo e o 
fundo jornalístico na construção das histórias desse formato de podcast. 
O uso da primeira pessoa é recorrente pelos apresentadores, que não se furtam a 
verbalizar suas dúvidas, impressões e opiniões, embora sempre tendo como pano 
de fundo valores implícitos relacionados ao jornalismo, como a busca pela 
verdade e pelo equilíbrio na representação de versões contraditórias dos fatos. 
(KISCHINHEVKSY, 2018, p. 79) 
 
E se o boom do podcast foi no ano de 2018 para o Brasil, lá nos EUA essa fase 
chegou em meados de 2014, com a estreia do Serial, apresentado pela jornalista Sarah 
Koenig, ex-produtora do This American Life. A primeira temporada do Serial foi lançada 
em 3 de outubro de 2014 e teve seu último episódio no dia 18 de dezembro de 2014, uma 
semana antes do natal. Ao todo, foram 12 episódios lançados em pouco mais de dois 
meses. Em fevereiro de 2015, três meses após o lançamento do último episódio, a primeira 
temporada havia sido baixada 68 milhões de vezes. 
A tática de ir em busca de públicos segmentados faz sucesso na internet, uma vez 
que “a mídia de nicho visa públicos bastante específicos, mas tem maior alcance e 
 
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 
43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 
 
 9 
sofisticação que a micromídia” (PRIMO, 2005, p. 3). O programa chamou muita atenção 
para a podosfera e fez com que a atenção da mídia mudasse a percepção do público sobre 
este formato. Radio Lab e Radio Ambulante já faziam enorme sucesso, mas o Serial foi 
o “divisor de águas”. A maneira como aplicaram um roteiro de não-ficção incentivou 
vários outros produtores do mundo inteiro a fazer algo semelhante para obter o mesmo 
sucesso e reputação. Para Tiziano Bonini, 
Serial não foi apenas um dos maiores sucessos do rádio público narrativo, mas 
também representa um ponto de virada para a segunda era do podcasting: é o 
programa que fez esta tecnologia de distribuição se tornar mainstream e 
transformou-a num meio de massa. (BONINI, 2020, p. 25) 
 
Bebendo um pouco dessa fonte, surgiu aqui no Brasil o Projeto Humanos, um 
podcast produzido pelo Anticast e apresentado pelo professor universitário e jornalista 
Ivan Mizanzuk. Idealizado por Ivan em 2015, o Projeto Humanos já conta com quatro 
temporadas, tendo um enorme sucesso na última, chamada “O Caso Evandro”. Esta 
temporada analisa o famoso caso das “Bruxas de Guaratuba” em que duas mulheres, a 
primeira-dama e a filha do prefeito da cidade do litoral paranaense, são acusadas de terem 
planejado o assassinato de Evandro Ramos Caetano, um menino de 7 anos. 
Em uma escala menor que a de Serial, mas também impactante, a quarta 
temporada quintuplicou o número de downloads por mês do Projeto Humanos, chegando 
ao número de 500 mil downloads mensais,de acordo com Mizanzuk. Muito desse 
crescimento se dá por conta da semelhança nas relações que esses dois podcasts narrativos 
constroem com o público. Mizanzuk traz o ouvinte para dentro do programa e os insere 
na trama por meio do diálogo unilateral durante os episódios. 
O sucesso do Projeto Humanos aqui no Brasil foi tanto que em junho de 2019 foi 
anunciado que “O Caso Evandro” ia virar série de TV, produzida pela GLAZ. Em 
novembro do mesmo ano foi anunciado que o Globoplay havia comprado os direitos da 
série e que a produção já iria começar no início de 2020. Trazer a história também para a 
TV faz com que a produção tenha um novo formato e um novo estilo, adotando uma nova 
postura e fazendo com que o jornalismo expanda para além da grade de noticiários. 
Toda essa trajetória do jornalismo narrativo serviu de inspiração para vários outros 
podcasts, como o “Presidente da Semana”, o “37 Graus”, o “Vozes” e mais recentemente 
a série Memórias, uma sessão especial de episódios do podcast Vida de Jornalista. Criado 
pelo jornalista Rodrigo Alves em agosto de 2018, o Vida de Jornalista é um podcast de 
entrevista em que o apresentador convida um jornalista do mercado para falar sobre a 
 
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 
43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 
 
 10 
vida profissional e os desafios de coberturas do cotidiano da imprensa. Nos dois primeiros 
episódios, Rodrigo entrevistou o jornalista Bernardo Mello Franco e a apresentadora e 
jornalista Luciana Brasil. Um dos episódios da Série Memórias, mais precisamente o 
último da primeira temporada, narra o acidente aéreo da equipe Chapecoense, em 28 de 
novembro de 2016. 
A estratégia utilizada de início era trazer o ouvinte para dentro do fato, utilizando 
o recurso auditivo para imersão. “Só pela entonação, reconstituição, entrevistas e pelo 
emocional do áudio, uma série de elementos que são provenientes da narrativa radiofônica 
proporcionam um caráter imersivo do ouvinte” (AVELAR, LOPEZ, VIANA, 2018, p. 9). 
Os ruídos da transmissão e a fala da torre de controle já nos situam sobre a situação difícil. 
Após a vinheta de abertura, o apresentador Rodrigo conduz o ouvinte na contextualização 
do acidente. Essa é uma característica bem notória do jornalismo narrativo, quando o 
apresentador traz impressões pessoais para dentro dos episódios. 
Para Mia Lindgren, essa estratégia foi marcante e muito bem usada pela 
apresentadora Sarah Koenig em Serial, já que “ela conversou diretamente com os ouvintes 
sobre os desafios de produção do programa, orientando-os ao longo dos doze episódios, 
convidando-os a compartilhar seus dilemas éticos e desafios jornalísticos” (LINDGREN, 
2020, p. 132). 
O caso do Vida de Jornalista é um dos exemplos de como o processo de criação 
de podcast narrativos no Brasil ainda está no âmbito de expressão pessoal e menos no 
processo de preenchimento de uma lacuna do mercado. Rodrigo Alves atua em um 
veículo de comunicação, mas o podcast narrativo produzido por ele é desenvolvido sem 
finalidade comercial. Ivan Mizanzuk é professor e desenvolve o Projeto Humanos como 
expressão artística do jornalismo que ele produz. As empresas e veículos ainda não 
abriram os olhos para o mercado em potencial que este gênero de podcast pode trazer. 
“As possibilidades de uso são grandes, porém poucas empresas de comunicação 
entenderam as potencialidades do uso do podcast para alavancar novos negócios no 
mercado de radiodifusão brasileiro” (BUFARAH, 2020, p. 45). 
 
A relação entre o novo jornalismo e o podcast narrativo 
Em 1995, o programa de rádio “This American Life” já fazia enorme sucesso nos 
EUA ao trazer um jornalismo falado e contação de histórias sobre os acontecimentos do 
cotidiano e casos célebres da cultura norte americana. Entretanto, Ira Glass não foi 
 
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 
43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 
 
 11 
revolucionário na abordagem pessoal sobre o fato. Ele utilizava muito do que havia sido 
empregado no jornalismo literário, na década de 1960, por Truman Capote, Gay Telese e 
alguns outros escritores. “Uma vez selecionados, esses dados, ressignificados a partir da 
experiência do profissional, são redigidos com técnicas provenientes da literatura com o 
objetivo de criar um relato não-ficcional envolvente, que permita a compreensão 
aprofundada do tema” (MARTINEZ, 2012, p. 120). 
A ideia de colocar o jornalista no papel central da história ressurge no 
radiojornalismo e no podcast e assume uma identidade atraente para o público e 
consequentemente para o produtor de conteúdo, que vê a demanda pelo gênero narrativo 
entre o público consumidor de podcast crescer exponencialmente. Apesar dessa 
“sedução” do gênero, a pesquisadora Mia Lindgren relembra questões envolvendo a ética 
jornalística. 
A abordagem da narrativa pessoal em áudio está se mostrando popular entre o 
público, mas o estilo também levanta questões sobre confiança, imparcialidade e 
independência. Requere-se dos ouvintes a consciência aguda sobre o podcast 
como um artefato e uma habilidade bem desenvolvida para entender criticamente 
o que ouvem enquanto seguem os apresentadores transitando com desembaraço 
das “especulações selvagens” e opiniões aos fatos. Baseia-se em práticas de 
produção cuidadosas que equilibram a ideia de Ira Glass da participação ativa do 
repórter na história e aquela do repórter objetivo tradicional que fica fora do 
quadro. (LINDGREN; 2020, p. 132) 
 
Essa confluência de características dos gêneros do jornalismo permite que 
possamos identificar várias semelhanças e diferenças. A ambientação por meio do texto 
é algo recorrente em ambos os formatos. Enquanto o jornalismo literário envolve o leitor 
por meio da escrita criativa, o podcast utiliza a narração com efeitos sonoros para imersão 
do ouvinte. Para Musse e Fernandez, “a hipótese é que estas narrações utilizam-se de dois 
tipos de estratégias: as semelhantes às observadas em formatos como o do jornalismo 
literário; e as construídas a partir das plataformas disponíveis no meio transmultimídia no 
qual o podcast está inserido” (MUSSE, FERNANDEZ, 2017, p. 11). 
Apesar de envolver o público por meio de uma construção imersiva, o podcast 
narrativo ainda é muito usado com fundo jornalístico, desempenhando o papel de 
informar a população dos fatos ali presentes. Essa ideia principal também é pano de fundo 
do jornalismo literário, ambos utilizando um pouco do conceito de infotenimento 
(DEJAVITE, 2003) uma espécie de híbrido do entretenimento com o jornalismo, que tem 
atingido e conquistado um público imenso pelas redes. Algo que segue a cartilha do 
jornalismo, com ferramentas tradicionais da ação de informar, mas que também tem por 
 
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 
43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 
 
 12 
finalidade entreter e distrair. O podcast narrativo e o jornalismo literário se apresentam 
dentro desse espectro da produção de conteúdo, uma vez que preenchem essas 
características. Como afirma Fábia Angélica Dejavite, 
o jornalismo de infotenimento integra-se aos padrões jornalísticos. Sua 
articulação e propagação associam-se às suas muitas responsabilidades sociais e 
culturais. Seu conteúdo editorial alia-se à seriedade, à leveza, à precisão e à ética, 
tal como outras especificidades jornalísticas, relatando informações nacionais, 
internacionais, locais e regionais em todos os gêneros jornalísticos, ao mesmo 
tempo em que informa e distrai o leitor. (DEJAVITE, 2017, p. 11) 
 
A afinidade do público com o tema envolve principalmente as emoções trazidas 
pelo conteúdo. O jornalismo tradicional factual também evoca sentimentos intensos 
quando abordampolêmicas ou histórias extraordinárias, mas o jornalismo literário junto 
ao podcast narrativo conseguem trazer o ouvinte para dentro da história, deixando-o a par 
de tudo ali. “Não basta a informação seca, dita objetiva, factual. O leitor é convidado a 
captar na narrativa as nuances ambientais de onde o acontecimento se dá. As cores, os 
sons, os cheiros – se possível –, o movimento dinâmico com que as ações se dão” (LIMA, 
2014, p. 121). 
E os papeis do apresentador e roteirista se tornam fundamentais neste processo, já 
que essa escrita criativa pode ser usada para apresentar um novo olhar sobre uma notícia 
já conhecida, como é o caso do Projeto Humanos ou a série Memórias do Vida de 
Jornalista. Esse estilo narrativo quando bem aplicado assume sua dualidade e consegue 
evocar emoções que talvez não tivessem sido trazidas pelo jornalismo factual. “Enquanto 
para o jornalismo convencional as pessoas são meramente fontes de informação, para o 
literário elas são personagens reais, fascinantes e complexas” (LIMA, 2014, p. 121). O 
sentimento gerado é o que cativa a audiência e permite que o público seja tão fiel e 
apaixonado por este formato. 
Justificamos a maior aproximação entre o estilo jornalístico (que almeja ser mais 
objetivo) e a arte de contar histórias (dotada de subjetividade) com o fato de que 
as pessoas sentem afinidade e empatia em relação às histórias já que, através 
delas, encontram espelhos de suas emoções humana. (FERNANDES, MUSSE, 
2017, p. 1) 
 
Ainda que esteja no mundo digital e adquirindo cada vez mais adeptos, o podcast 
narrativo em nenhum momento deve ser tido como uma evolução do jornalismo literário, 
mas sim uma possível adaptação para as mídias sonoras de um gênero jornalístico ainda 
muito utilizado em veículos como Piauí e The New York Times. O new journalism segue 
 
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 
43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 
 
 13 
sendo um formato muito querido pelo público consumidor de uma literatura envolvente 
e que encante a cada linha. 
A grande crítica ao Jornalismo Literário é a de que não há mais espaço para ele 
no mundo contemporâneo. A experiência, contudo, nos revela que há espaço sim, 
embora não hegemônico, e que os jornalistas talentosos conseguem, ao longo do 
tempo, impor seu estilo, embora não raro por meio da persistência (MARTINEZ, 
2017, p. 27). 
 
Considerações finais 
O estudo aplicado a este artigo buscou trazer várias ideias aplicadas ao podcast 
narrativo, um formato recente e que ainda está em mutação, assim como os conteúdos 
gerados no meio digital. Os conteúdos audiovisuais, o podcast, as transmissões em web 
rádio, os jogos interativos, os quizzes e vários outros formatos ainda têm muito a serem 
estudados no meio digital e podem ser usados na ideia de infotenimento. 
O jornalismo também tem muito a ser estudado nesse novo campo que se 
apresentou a produção de conteúdo para as diferentes mídias sociais. “Observamos que o 
jornalismo on-line é um campo em constante estudo, sendo ainda passível de novas 
explorações teóricas e práticas” (MUSSE; FERNANDEZ, 2017, p. 5). Essa mutação 
permite a experimentação e conteúdos cada vez mais originais, dando ao público a opção 
de escolher entre os mais variados formatos e meios de se informar. “Como não é 
padronizada, a produção é viva, em constante processo, sujeita a erros e acertos” 
(MARTINEZ, 2017, p. 28). 
O olhar mercadológico que tem sido desenvolvido para o podcast torna a mídia 
cada vez mais atrativa para as empresas, que veem o crescimento de adeptos jovens e 
grande consumidores em potencial, como aponta pesquisa da Visual Capitalist8. A 
pesquisa entrevistou 4 mil pessoas, entre 16 e 64 anos, durante o período da pandemia do 
novo coronavírus. O consumo de podcast aumentou 20% entre os millenials (24 a 37 
anos) e cresceu 11% entre a geração Z (16 a 23 anos). Já para os boomers, entre 57 e 64 
anos, o crescimento foi de apenas 4%. O podcast é uma mídia jovem que tem atraído um 
público também jovem, o que para o mercado publicitário é sempre bem visto. Com a 
ajuda do Spotify e do Anchor, o podcast tende a ser ainda mais atrativo para o público 
independente e consequentemente para as marcas. 
 
8 Dados da pesquisa retirados no site da Visual Capitalist. Acesso em 30/09/2020. Disponível em: 
<https://www.visualcapitalist.com/media-consumption-covid-19/> 
 
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 
43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 
 
 14 
Também pudemos observar que as novas técnicas aplicadas ao jornalismo em 
muitos casos são novos meios de “beber da fonte” de um período prévio. Pudemos notar 
semelhanças entre o novo jornalismo e o podcast. Ambos conversam entre si e utilizam 
de técnicas semelhantes, apesar de estarem em mídias diferentes, sendo uma sonora e 
outra escrita. O podcast narrativo trata de ambientar, criar um enredo envolvente, 
informar o público e entreter de alguma forma. O novo jornalismo utiliza dos mesmos 
artifícios para conquistar o leitor. O podcast ainda tem um longo caminho para se 
desenvolver, mas seu viés narrativo tem envolvido cada vez mais o público em histórias 
complexas e imersivas. “Em um panorama em que muitas plataformas de comunicação 
de massa estão em declínio, podcasts despontam como um caminho certeiro para atingir 
(e fidelizar) consumidores de conteúdo” (BARSOTTI; SANTA CRUZ, 2020, p. 139). 
Isso torna o ambiente de pesquisa em podcast ainda mais atrativo e necessário. 
 
Referências 
ANDERSON, Chris. A cauda longa: do mercado de massa para o mercado de nicho. Rio de 
Janeiro: Elsevier, 2006. 
 
AVELAR, Kamilla; LOPEZ, Debora Cristina; VIANA, Luana. Imersividade como estratégia 
narrativa em podcasts investigativos: pistas para um radiojornalismo transmídia em In The Dark. 
Trabalho apresentado no XXVII Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-
Graduação em Comunicação (COMPOS). Belo Horizonte: Minas Gerais, 2018. 
 
BARSOTTI, Adriana; SANTA CRUZ, Lucia. Jornalismo literário em podcasts: Uma análise dos 
roteiros do Vozes, da CBN. Radiofonias — Revista de Estudos em Mídia Sonora, Mariana-
MG, v. 11, n. 01, p. 137-159, jan./abr. 2020. 
 
BONINI, Tiziano. A “segunda era” do podcasting: reenquadrando o podcasting como um novo 
meio digital massivo. Tradução: Marcelo Kischinhevsky. Revista Radiofonias – Revista de 
Estudos em Mídia Sonora, Mariana-MG, v. 11, n. 01, p. 13-32, janeiro/abril 2020. 
 
BUFARAH JUNIOR, Álvaro. Podcast: possibilidades de uso nas emissoras de rádio noticiosos. 
Trabalho apresentado no GP Rádio e Mídias Sonoras do XVII Encontro de Grupos de Pesquisa 
em Comunicação, evento componente do 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 
Curitiba: Paraná, 2017. 
 
BUFARAH JUNIOR, Álvaro. Podcast e as novas possibilidades de monetização na radiodifusão. 
Revista Radiofonias – Revista de Estudos em Mídia Sonora, Mariana-MG, v. 11, n. 01, p. 33-
48, janeiro/abril 2020. 
 
CASTRO, Gisela G. S. Podcasting e consumo cultural. Trabalho apresentado no XIV Encontro 
Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (COMPOS). 
Brasília: Distrito Federal, 2005. 
 
 
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 
43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 
 
 15 
DEJAVITE, Fábia Angélica. O jornal diário impresso e a prática do infotenimento – o caso 
da Gazeta Mercantil. 2003. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) Universidade de 
São Paulo, Escola de Comunicação e Artes, 262f. 
 
DEJAVITE, Fábia Angélica. O jornalismo de infotenimento nas páginas do jornal diário impresso 
de referência. Trabalho apresentado no GP Jornalismo do V Encontro de Grupos de Pesquisa em 
Comunicação, evento componentedo 28º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Rio 
de Janeiro: Rio de Janeiro, 2017. 
 
HERSCHMANN, Micael; KISCHINHEVKSY, Marcelo. A geração “podcasting” e os novos 
usos do rádio na sociedade do espetáculo e do entretenimento. Revista FAMECOS, Porto 
Alegre-RS, ano 2008, v. 15, n. 37, p. 101-106, dezembro 2008. 
 
JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. Tradução Susana Alexandria. 2 ed. São Paulo, 
Aleph, 2009. 
 
KISCHINHEVKSY, Marcelo. Rádio e Mídias Sociais: mediações e interações radiofônicas 
em plataformas digitais de comunicação. Rio de Janeiro, Mauad X, 2016. 
 
KISCHINHEVSKY, Marcelo. Rádio em episódios, via internet: aproximações entre o podcasting 
e o conceito de jornalismo narrativo. Revista de la Asociación Española de Investigación de la 
Comunicación, v. 5, n. 10, p. 74-81, outubro 2018. 
 
LIMA, Edvaldo Pereira. Storytelling em plataforma impressa e digital: contribuição potencial do 
jornalismo literário. Revista ORGANICOM, São Paulo-SP, v. 11, n. 20, p. 118-127, junho 2014. 
 
LINDGREN, Mia. Jornalismo narrativo pessoal e podcasting. Tradução: Gustavo Ferreira. 
Revista Radiofonias – Revista de Estudos em Mídia Sonora, Mariana-MG, v. 11, n. 01, p. 112-
136, janeiro/abril 2020. 
 
MARTINEZ, Monica. O jornalismo literário e a mídia sonora: estudo sobre o programa Conte 
Sua História de São Paulo, da Rádio CBN. Revista Líbero, São Paulo-SP, v. 15, n. 29, p. 111-
124, junho 2012. 
 
MARTINEZ, Monica. Jornalismo literário: revisão conceitual, história e novas perspectivas. 
Revista INTERCOM RBCC, São Paulo-SP, v. 40, n. 3, p. 21-36, setembro/dezembro 2017. 
 
MORAES, Maria Filomena Salemme. A Era do Podcast: uma reflexão sobre o potencial do 
mercado do podcast no Brasil. Trabalho apresentado no GP Rádio e Mídias Sonoras do XVIII 
Encontro de Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do 41º Congresso 
Brasileiro de Ciências da Comunicação. Joinville: Santa Catarina, 2018. 
 
MUSSE, Christina Ferraz; FERNANDEZ, Laís Cerqueira. Podcast e cultura digital: estratégias 
para contar histórias em uma narrativa convergente. Trabalho apresentado no DT Comunicação 
Multimídia do XXII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste. Volta Redonda: 
Rio de Janeiro, 2017. 
 
PRIMO, Alex. Para além da emissão sonora: as interações no podcasting. Revista Intexto, Porto 
Alegre-RS, ano 2005, n. 13, p. 64-87. 
 
VIANA, Luana. Áudio Imersivo: recurso binaural na construção de narrativas em podcasts 
ficcionais de drama. Trabalho apresentado no GP Rádio e Mídias Sonoras do XVIII Encontro de 
Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do 41º Congresso Brasileiro de 
Ciências da Comunicação. Joinville: Santa Catarina, 2018.