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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 1 A imersão e o streaming no boom do podcast narrativo1 Leonardo COUTO2 Marcelo KISCHINHEVSKY3 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ RESUMO Consolidado após 1995, na voz personalista do jornalista norte americano Ira Glass, o formato narrativo sonoro migrou do rádio para o podcasting na primeira década do terceiro milênio e adquiriu uma legião de fãs na internet. Além disso, com os avanços da internet no Brasil e no mundo, o streaming amplificou o número de consumidores de podcasts e criou um novo estilo de consumo que tem se moldado através dos anos e despertado atenção do mercado publicitário. Porém, apesar de ser um novo estilo de produção de conteúdo, o podcast narrativo aciona técnicas já desenvolvidas na década de 1970, na esteira do movimento conhecido como novo jornalismo. Este artigo visa construir uma revisão bibliográfica acerca do podcast narrativo e a relação do mesmo com o novo jornalismo do século XX. PALAVRAS-CHAVE: podcast; rádio; streaming; jornalismo; narrativa. INTRODUÇÃO Meio centenário, o rádio está sempre se reinventando e se desvencilhando das previsões sobre sua morte iminente. Ele se adaptou ao boom televisivo durante a década de 1970/80, depois à internet no fim da década de 1990 e agora enfrenta um novo desafio com os serviços de streaming e plataformas de música. “Relegado a um papel de coadjuvante desde a popularização da TV, o rádio renasce amalgamando-se à rede mundial de computadores e às redes de telefonia móvel, encontrando novos e diversificados canais de distribuição” (KISCHINHEVSKY, 2016, p. 13). A mídia sonora antes apostava em um locutor com uma voz imponente para condução dos grandes noticiários, mas hoje dá espaço para a locução natural e com cada vez mais usos das redes sociais durante as transmissões. “Fale conosco através do nosso 1 Trabalho apresentado no IJ04 – Comunicação Audiovisual, da Intercom Júnior – XVI Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento componente do 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação 2 Estudante de Graduação 8º. semestre do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO-UFRJ), e-mail: leonardo@discente.eco.ufrj.br. 3 Orientador do trabalho. Professor dos cursos de Comunicação Social da ECO-UFRJ, diretor do Núcleo de Rádio e TV da UFRJ e doutor em Comunicação e Cultura pela mesma instituição, e-mail: marcelok@forum.ufrj.br. mailto:leonardo@discente.eco.ufrj.br mailto:marcelok@forum.ufrj.br Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 2 WhatsApp”, “siga a gente no Facebook”, “responda usando a nossa ‘#’ no Twitter” etc. A capilaridade, a praticidade e a maneira como o rádio absorve as mudanças e se transforma é o que o faz perdurar e atrair novos consumidores em seus mais variados formatos. Em meio a essas reinvenções, o rádio encontra hoje um desafio: o podcasting. A partir do conceito de “rádio expandido” (KISCHINHEVSKY, 2016), podemos afirmar que o podcasting é um formato on demand que se assemelha aos programas de rádio, mas com a diferença de não ter um horário fixo de veiculação, podendo ser ouvido no momento em que se quiser. Como Herschmann e Kischinhevsky abordam, “no podcasting, diferentemente da radiodifusão convencional, a recepção é assincrônica, cada indivíduo decide quando e onde vai ouvir o conteúdo assinado” (HERSCHMANN, KISCHINHEVSKY, 2008, p. 103). Algumas rádios produzem conteúdo para a web através de cortes e trechos dos seus programas há um tempo, como é o caso da Rádio CBN. Entretanto, não há um consenso de que este tipo de conteúdo deva ser classificado como podcast. Apesar de alguns teóricos acreditarem que qualquer programa de rádio, quando veiculado na internet, se configura como podcast, estudiosos como Álvaro Bufarah Júnior indicam que este tipo de conteúdo seria somente um programa de rádio veiculado na web. Ao utilizarem o termo podcast de forma equivocada para denominar o uso de ferramentas on demand , ou ainda outras formas de acesso aos áudios, emissoras de rádio estão produzindo uma massa de ouvintes que não saberão diferenciar estas ferramentas impossibilitando o melhor uso estratégico de cada uma delas dentro de uma política de marketing de conteúdo que reforce a marca da empresa. (BUFARAH JÚNIOR, 2017, p. 14) Usando um campo favorável para crescer na internet, fruto do crescimento de usuários brasileiros acessando a rede mundial de computadores e a ampliação de consumidores de smartphones no mercado brasileiro, o Spotify adentrou no mundo dos podcasts e hoje é uma das principais plataformas do meio. Além de produzir eventos e interfaces que buscam trazer novos adeptos ao podcast, o Spotify também gerencia parcerias com veículos para exploração do podcast através do jornalismo e/ou entretenimento. A empresa, inclusive, criou em 2019 uma nova interface que permite ao público pesquisar quais podcasts são os mais ouvidos, ou que estão no trends, premiando os produtores que obtenham sucesso com públicos de nicho para que alcancem o Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 3 mainstream, o público geral. Apesar de ter entrado de vez no mercado de podcast nacionais no ano de 2018, o Spotify já conseguiu em pouco tempo fidelizar um mercado favorável aos produtores de conteúdo independentes, como veremos neste artigo. Nem só de criar do zero vive o jornalismo, mas também de sempre absorver técnicas antigas e adaptar às novas demandas do público. Foi assim no jornalismo literário e agora o mesmo se repete com o podcast narrativo. A literatura criativa e as técnicas de imersão são características dos dois movimentos que conseguem colocar o ouvinte/leitor dentro das histórias e parte fundamental no processo de transmissão de informação. “Vivemos em um mundo mediado por informações que, unidas, constroem narrativas” (MUSSE, FERNANDEZ, 2017, p. 2). Por meio de uma mistura entre entretenimento e informação, com fundo marcante jornalístico, o podcast narrativo têm se apresentado uma expoente sonora do jornalismo literário, mas não só ficando restrito à interpretação de um público com uma leitura mais apurada, e sim atingindo até mesmo o grande público. A explosão do podcasting passa principalmente pelo carisma do apresentador e um roteiro envolvente, gerando engajamento e vitalidade à podosfera4. Sob esta perspectiva, o presente artigo visa produzir uma revisão bibliográfica sobre os campos do podcast e do jornalismo literário, além da relação desses dois tópicos de estudo da comunicação. A influência do streaming no boom do podcast no brasil O podcast no Brasil teve o seu primeiro lapso de popularidade com a Conferência Brasileira de Podcast, em 2005, no Paraná. Entretanto, a internet banda larga ainda não era uma realidade para os brasileiros e o acesso ao conteúdo não era dos mais fáceis. O baixo número de acessos em 2005 fez com que vários podcasts sumissem na mesma velocidade que apareceram. De acordo com o relatório de acompanhamento do setor de telecomunicações, pesquisa divulgada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em 20185, cerca de 8,1 milhões de pessoas tinham acesso à banda larga em 2005. Este número saltou para 31,05 milhões em 2018, tendo crescido, em média, dois milhões por ano de 2015 a 2018. 4 Termo utilizado como nomenclatura do universo que compõem produtores e produtos relacionados ao podcast. 5Dados da pesquisa retirados no site da Anatel. Acesso em 10/02/2020. Disponível em: https://www.anatel.gov.br/dados/relatorios-de-acompanhamento/2018. https://www.anatel.gov.br/dados/relatorios-de-acompanhamento/2018 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 4 Apesar das dificuldades de acesso à banda larga em 2005 e anos seguintes, alguns podcasts nasceram nessa época e perduram até hoje, como o Café Brasil e o Nerdcast, ambos passando de 700 episódios e com programas semanais. Por mais de uma década, os ouvintes consumiam conteúdo indo em sites e portais para baixar os episódios. Smartphones não eram uma realidade para o brasileiro, então tocadores de MP3 e MP4 eram os dispositivos usados pelos fãs para consumir este tipo de conteúdo, além do desktop. Os adeptos de podcasts tinham como comportamento uma “cultura da portabilidade” (KISCHINHEVSKY, 2016, p. 70), e hoje esse estilo de consumo da mídia se expande para os smartphones. A divulgação do podcast era feito através dos fãs, dos fóruns e de redes sociais como o Orkut e o Tumblr. Por um lado, a divulgação de um podcast não pertencente aos grandes portais era bem difícil, mas por outro essa liberdade que o novo formato oferecia era atrativo para os usuários, uma vez que “um fator de sedução é a ausência de regras rígidas nos podcasts” (HERSCHMANN; KISCHINHEVSKY, 2008, p. 103). A internet promove essa liberdade que produtores independentes tão ávidos procuram para adquirirem reconhecimento na área temática em que atuam. Apesar da liberdade e sedução envolvidos na temática do podcast, a podosfera sofreu com o problema de armazenamento e divulgação por mais de uma década. O Napster e o iTunes focavam muito em música e não davam tanto espaço necessário para que os podcasts captassem mais adeptos. O produtor independente ainda não encontrava um local, ou plataforma, para distribuir seu conteúdo de maneira integral e o público queria um espaço mais intuitivo para gerenciar os episódios. “O ouvinte não se contenta mais em acompanhar somente no momento em que está no ar ele quer ter o domínio de toda a programação” (MORAES, 2018, p. 4). O podcast no Brasil teve algumas “fases e eras”, mas encontrou a “era de ouro” com o Spotify. Lançado oficialmente em 2006, o Spotify só foi chegar ao Brasil no final de 2014. Durante seus primeiros passos em solo brasileiro ainda não víamos um direcionamento para a promoção de podcasts, mas sim um conteúdo voltado completamente para o consumo de músicas, similar ao que o iTunes e o Napster apresentavam. Porém, depois da criação do Castbox em 2016 e do Google Podcasts em 2018, nós vimos um crescimento deste mercado nos agregadores de conteúdo e um movimento do Spotify para promover o podcast no streaming por meio do consumo sob demanda. Após Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 5 a parceria do Presidente da Semana, entre o jornal Folha de S.Paulo e o Spotify, a plataforma começou a investir em eventos (Spotify for Podcasters Summit) e produções independentes (Café da Manhã), modificando também o layout do aplicativo e inaugurando uma sessão somente para podcasts. O grande “boom do podcast” no Brasil chegou em 2018, já com os grandes veículos de comunicação adentrando neste mundo. Os aplicativos agregadores conseguiram concentrar um público bastante assíduo no consumo de conteúdo via podcast. Toda essa nova estrutura de consumo por parte da sociedade despertou a atenção das mídias tradicionais. “É mais provável que novas ideias e pontos de vista alternativos surjam no ambiente digital, mas a mídia comercial vai monitorar esses canais, procurando conteúdos que possam cooptar e circular” (JENKINS, 2009, p. 291). Globo, Folha, Estadão, Revista Piauí e outros veículos começaram a desenvolver programas, mesmo com um retorno econômico quase nulo, afinal o mercado publicitário ainda não havia entrado de vez neste meio. Para esses veículos, estar inserido nesse ambiente e fortalecer a marca é mais importante do que o retorno financeiro direto no primeiro momento. O ouvinte agora não mais espera o jornal sair na banca ou o programa começar na grade televisiva. Ele consegue, através do streaming, acessar o conteúdo dessas emissoras a qualquer instante e ouvir o episódio do podcast quando quiser. Desta forma, o uso de podcasts é uma solução viável para a criação e veiculação de conteúdos diversificados que possibilitem as emissoras brasileiras atingirem seu público de forma a fidelizá-lo com conteúdos exclusivos, ou material veiculado na programação possibilitando, o download para uso posterior, em momento mais apropriado para o consumidor (BUFARAH JUNIOR, 2017, p. 11). De acordo com dados da Associação Brasileira de Podcasters (ABPod), em pesquisa realizada em 20186, 60% dos ouvintes informaram que dão muita atenção aos programas que estão ouvindo. Com isto, a rentabilidade acaba sendo revertida através da característica multimídia que o podcast pode oferecer, afinal, de acordo com esta mesma pesquisa, 62% dos ouvintes já compraram um produto ou serviço após o mesmo ser anunciado em um episódio. Ademais, não é árduo para veículos de comunicação de grande porte a produção de um podcast com a equipe e estrutura que despendem. Mas afinal, como fazer um podcast de sucesso, rentável e duradouro? Essa é uma pergunta para a qual vários produtores de conteúdo independente gostariam de descobrir 6 Dados da pesquisa retirados no site da ABPOD. Acesso em 10/02/2020. Disponível em: <http://abpod.com.br/podpesquisa> Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 6 a resposta. Alguns conseguem ganhar dinheiro através do patrocínio, como é o caso do Mamilos (B9) com o Banco Bradesco e o Nerdcast (Jovem Nerd) com spots comerciais no início dos episódios. Já outros conseguem investimento em “vaquinhas virtuais” ou através de programas de financiamento coletivo como Patreon, como é o caso do podcast Projeto Humanos (Anticast). Esse novo modelo de negócio, aliado ao crescimento de usuários na internet, foi o que influenciou na permanência dos mais variados estilos de podcast nessa nova onda do formato, que começou em 2012 com o 99% Invisible e a Radio Ambulante conseguindo financiamento coletivo por meio da plataforma Kickstarter. Entretanto, a grande maioria continua a produzir por hobby e vê no podcast um meio de adquirir prestígio e reconhecimento no tema que estão abordando. Chris Anderson (2006), entendendo essa democratização, criou o conceito de “cauda longa”, a partir do qual se entende que o mercado é amplificado em um ponto, por meio das grandes empresas, e os pequenos produtores formam uma fina linha de consumo que preenche pequenas parcelas subjacentes do público, formando uma espécie de cauda. Embaixo, na cauda, onde os custos de produção e distribuição são baixos, graças ao poder democratizante das tecnologias digitais, os aspectos de negócios geralmente são secundários. Em vez disso, as pessoas criam por várias outras razões — expressão, diversão, experimentação e assim por diante. A razão por que o fenômeno assume características de economia e a existência de uma moeda no reino capaz de ser tão motivadora quanto o dinheiro: reputação. (ANDERSON, 2006, p. 68) Voltando um pouco no processo de produção dos episódios, podemos analisar uma mudança considerável na parte técnica desses programas mais antigos e analisar conforme o passar do tempo. Se pegarmos um programa de 2005, podemos identificar vários problemas em roteiro, edição e captação de áudio. Hojeos produtores de conteúdo conseguem trazer uma boa qualidade sonora aos seus programas por meio de melhores equipamentos e também uma edição mais simples. “Com o desenvolvimento da tecnologia, presenciamos uma retomada da estética acústica, que utiliza a digitalização para o tratamento de sons e para uma edição mais precisa, aumentando a qualidade da narrativa sonora” (VIANA, 2018, p. 5). E em um mundo de experimentação, como é a internet, o podcast vira ainda mais “queridinho” por conta da sua praticidade. “O talento não é universal, mas é muito difuso: dê a uma quantidade bastante grande de pessoas a capacidade de criar e daí sem dúvida surgirão obras de valor” (ANDERSON, 2006, p 51). Você pode gravar e editar com um Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 7 smartphone e gerar um RSS7 para o seu conteúdo através da publicação em Soundcloud ou extensões do Google Chrome. Após o processo de publicação e de ter gerado o RSS, cabe ao produtor registrar nos agregadores, que posteriormente acharão seu conteúdo, e logo ele estará listado entre os mais variados serviços, como: Spotify, Google Podcast, Castbox, Apple Podcast, Podcast Addict, Deezer e muitos outros. Restará, então, somente divulgar o conteúdo e fornecer ao público uma “escuta personalizada com conteúdo à la carte servido em seu próprio player ou terminal” (CASTRO, 2005, p.13). O podcast se torna um meio de produção bem mais prático que o audiovisual e a web rádio por precisar somente de um dispositivo para todo os processos que envolvem a sua criação. De acordo com a ABPod, em pesquisa realizada em 2018, 92% do público de podcast ouve os programas através dos smartphones. Se este público já tem uma relação tão forte com os celulares, a possibilidade de produção através dele amplifica ainda mais sua capilaridade na sociedade. O Anchor, plataforma voltada para a criação de podcasts, permite que os usuários gravem, editem e publiquem o próprio podcast de uma maneira mais simples e rápida em diversos agregadores, incluindo o Spotify, além de fornecer uma política de monetização. Se o produtor independente não encontra maneiras viáveis de gravar em estúdio, montar uma equipe de produção e edição, alugar um servidor e uma estratégia de divulgação, o Spotify se mobiliza para inserir esse produtor no mercado e aumentar a gama de conteúdo em sua plataforma, amplificando o boom da nova era de ouro do formato. Caso o produtor queira se profissionalizar mais ainda, encontra no Anchor um modelo de negócio com as publicidades que a própria ferramenta fornece, tornando o podcast ainda mais atrativo sob o olhar comercial. O podcast jornalístico através da narrativa de imersão Quanto mais sensorial, maior o sentimento de imersão em determinada história. Mas e se uma leitura é tão envolvente que, mesmo sem aguçar nada mais que sua imaginação e visão, te coloca envolto em um drama que existe para além daquele pedaço de papel? Ou se um podcast te leva para dentro do acontecimento usando somente 7 É um formato de distribuição de informações em tempo real pela internet e podem ser acessados mediante programas ou sites agregadores. É usado principalmente em sites de notícias, blogs e páginas de podcast. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 8 vibrações que chegam em seus tímpanos? Isso se dá por conta do roteiro imersivo e técnicas jornalísticas aplicadas na produção desses tipos de conteúdo. Textos do novo jornalismo envolviam os leitores ao contar histórias do cotidiano em forma literária e com uma carga dramática bem detalhada. Se apropriando um pouco deste tipo de artifício, o início do século XXI nos apresenta o podcast narrativo. Porém, isso começou de fato no século XXI? Em partes sim, em outras não. O podcast narrativo é uma vertente dos programas narrativos de rádio, algo que já existia desde o final do século XX nas rádios públicas americanas. Considerado por muitos como o pai do jornalismo narrativo, Ira Glass é um jornalista americano e apresentador de This American Life. Criado em 1995, o programa semanal é contado em primeira pessoa e relata acontecimentos da vida comum sob uma ótica singular e com imersão do jornalista. “Por imersão, entende-se a inserção do jornalista dentro da realidade a ser relatada (BARSOTTI; SANTA CRUZ, 2020, p. 140). Com aproximadamente 700 episódios, This American Life chega a 2020 sendo um clássico do jornalismo narrativo. Começou no rádio e somente em 2006 foi adentrar no mundo dos podcasts. Ele serviu como inspiração para muitos outros criadores, e alguns produtores saíram do This American Life para seguir com as próprias gravações. Assim surgiu o fenômeno Serial, que teve seu primeiro episódio em 2014 e também já pode ser considerado um clássico da podosfera. Kischinhevsky constata o caráter narrativo e o fundo jornalístico na construção das histórias desse formato de podcast. O uso da primeira pessoa é recorrente pelos apresentadores, que não se furtam a verbalizar suas dúvidas, impressões e opiniões, embora sempre tendo como pano de fundo valores implícitos relacionados ao jornalismo, como a busca pela verdade e pelo equilíbrio na representação de versões contraditórias dos fatos. (KISCHINHEVKSY, 2018, p. 79) E se o boom do podcast foi no ano de 2018 para o Brasil, lá nos EUA essa fase chegou em meados de 2014, com a estreia do Serial, apresentado pela jornalista Sarah Koenig, ex-produtora do This American Life. A primeira temporada do Serial foi lançada em 3 de outubro de 2014 e teve seu último episódio no dia 18 de dezembro de 2014, uma semana antes do natal. Ao todo, foram 12 episódios lançados em pouco mais de dois meses. Em fevereiro de 2015, três meses após o lançamento do último episódio, a primeira temporada havia sido baixada 68 milhões de vezes. A tática de ir em busca de públicos segmentados faz sucesso na internet, uma vez que “a mídia de nicho visa públicos bastante específicos, mas tem maior alcance e Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 9 sofisticação que a micromídia” (PRIMO, 2005, p. 3). O programa chamou muita atenção para a podosfera e fez com que a atenção da mídia mudasse a percepção do público sobre este formato. Radio Lab e Radio Ambulante já faziam enorme sucesso, mas o Serial foi o “divisor de águas”. A maneira como aplicaram um roteiro de não-ficção incentivou vários outros produtores do mundo inteiro a fazer algo semelhante para obter o mesmo sucesso e reputação. Para Tiziano Bonini, Serial não foi apenas um dos maiores sucessos do rádio público narrativo, mas também representa um ponto de virada para a segunda era do podcasting: é o programa que fez esta tecnologia de distribuição se tornar mainstream e transformou-a num meio de massa. (BONINI, 2020, p. 25) Bebendo um pouco dessa fonte, surgiu aqui no Brasil o Projeto Humanos, um podcast produzido pelo Anticast e apresentado pelo professor universitário e jornalista Ivan Mizanzuk. Idealizado por Ivan em 2015, o Projeto Humanos já conta com quatro temporadas, tendo um enorme sucesso na última, chamada “O Caso Evandro”. Esta temporada analisa o famoso caso das “Bruxas de Guaratuba” em que duas mulheres, a primeira-dama e a filha do prefeito da cidade do litoral paranaense, são acusadas de terem planejado o assassinato de Evandro Ramos Caetano, um menino de 7 anos. Em uma escala menor que a de Serial, mas também impactante, a quarta temporada quintuplicou o número de downloads por mês do Projeto Humanos, chegando ao número de 500 mil downloads mensais,de acordo com Mizanzuk. Muito desse crescimento se dá por conta da semelhança nas relações que esses dois podcasts narrativos constroem com o público. Mizanzuk traz o ouvinte para dentro do programa e os insere na trama por meio do diálogo unilateral durante os episódios. O sucesso do Projeto Humanos aqui no Brasil foi tanto que em junho de 2019 foi anunciado que “O Caso Evandro” ia virar série de TV, produzida pela GLAZ. Em novembro do mesmo ano foi anunciado que o Globoplay havia comprado os direitos da série e que a produção já iria começar no início de 2020. Trazer a história também para a TV faz com que a produção tenha um novo formato e um novo estilo, adotando uma nova postura e fazendo com que o jornalismo expanda para além da grade de noticiários. Toda essa trajetória do jornalismo narrativo serviu de inspiração para vários outros podcasts, como o “Presidente da Semana”, o “37 Graus”, o “Vozes” e mais recentemente a série Memórias, uma sessão especial de episódios do podcast Vida de Jornalista. Criado pelo jornalista Rodrigo Alves em agosto de 2018, o Vida de Jornalista é um podcast de entrevista em que o apresentador convida um jornalista do mercado para falar sobre a Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 10 vida profissional e os desafios de coberturas do cotidiano da imprensa. Nos dois primeiros episódios, Rodrigo entrevistou o jornalista Bernardo Mello Franco e a apresentadora e jornalista Luciana Brasil. Um dos episódios da Série Memórias, mais precisamente o último da primeira temporada, narra o acidente aéreo da equipe Chapecoense, em 28 de novembro de 2016. A estratégia utilizada de início era trazer o ouvinte para dentro do fato, utilizando o recurso auditivo para imersão. “Só pela entonação, reconstituição, entrevistas e pelo emocional do áudio, uma série de elementos que são provenientes da narrativa radiofônica proporcionam um caráter imersivo do ouvinte” (AVELAR, LOPEZ, VIANA, 2018, p. 9). Os ruídos da transmissão e a fala da torre de controle já nos situam sobre a situação difícil. Após a vinheta de abertura, o apresentador Rodrigo conduz o ouvinte na contextualização do acidente. Essa é uma característica bem notória do jornalismo narrativo, quando o apresentador traz impressões pessoais para dentro dos episódios. Para Mia Lindgren, essa estratégia foi marcante e muito bem usada pela apresentadora Sarah Koenig em Serial, já que “ela conversou diretamente com os ouvintes sobre os desafios de produção do programa, orientando-os ao longo dos doze episódios, convidando-os a compartilhar seus dilemas éticos e desafios jornalísticos” (LINDGREN, 2020, p. 132). O caso do Vida de Jornalista é um dos exemplos de como o processo de criação de podcast narrativos no Brasil ainda está no âmbito de expressão pessoal e menos no processo de preenchimento de uma lacuna do mercado. Rodrigo Alves atua em um veículo de comunicação, mas o podcast narrativo produzido por ele é desenvolvido sem finalidade comercial. Ivan Mizanzuk é professor e desenvolve o Projeto Humanos como expressão artística do jornalismo que ele produz. As empresas e veículos ainda não abriram os olhos para o mercado em potencial que este gênero de podcast pode trazer. “As possibilidades de uso são grandes, porém poucas empresas de comunicação entenderam as potencialidades do uso do podcast para alavancar novos negócios no mercado de radiodifusão brasileiro” (BUFARAH, 2020, p. 45). A relação entre o novo jornalismo e o podcast narrativo Em 1995, o programa de rádio “This American Life” já fazia enorme sucesso nos EUA ao trazer um jornalismo falado e contação de histórias sobre os acontecimentos do cotidiano e casos célebres da cultura norte americana. Entretanto, Ira Glass não foi Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 11 revolucionário na abordagem pessoal sobre o fato. Ele utilizava muito do que havia sido empregado no jornalismo literário, na década de 1960, por Truman Capote, Gay Telese e alguns outros escritores. “Uma vez selecionados, esses dados, ressignificados a partir da experiência do profissional, são redigidos com técnicas provenientes da literatura com o objetivo de criar um relato não-ficcional envolvente, que permita a compreensão aprofundada do tema” (MARTINEZ, 2012, p. 120). A ideia de colocar o jornalista no papel central da história ressurge no radiojornalismo e no podcast e assume uma identidade atraente para o público e consequentemente para o produtor de conteúdo, que vê a demanda pelo gênero narrativo entre o público consumidor de podcast crescer exponencialmente. Apesar dessa “sedução” do gênero, a pesquisadora Mia Lindgren relembra questões envolvendo a ética jornalística. A abordagem da narrativa pessoal em áudio está se mostrando popular entre o público, mas o estilo também levanta questões sobre confiança, imparcialidade e independência. Requere-se dos ouvintes a consciência aguda sobre o podcast como um artefato e uma habilidade bem desenvolvida para entender criticamente o que ouvem enquanto seguem os apresentadores transitando com desembaraço das “especulações selvagens” e opiniões aos fatos. Baseia-se em práticas de produção cuidadosas que equilibram a ideia de Ira Glass da participação ativa do repórter na história e aquela do repórter objetivo tradicional que fica fora do quadro. (LINDGREN; 2020, p. 132) Essa confluência de características dos gêneros do jornalismo permite que possamos identificar várias semelhanças e diferenças. A ambientação por meio do texto é algo recorrente em ambos os formatos. Enquanto o jornalismo literário envolve o leitor por meio da escrita criativa, o podcast utiliza a narração com efeitos sonoros para imersão do ouvinte. Para Musse e Fernandez, “a hipótese é que estas narrações utilizam-se de dois tipos de estratégias: as semelhantes às observadas em formatos como o do jornalismo literário; e as construídas a partir das plataformas disponíveis no meio transmultimídia no qual o podcast está inserido” (MUSSE, FERNANDEZ, 2017, p. 11). Apesar de envolver o público por meio de uma construção imersiva, o podcast narrativo ainda é muito usado com fundo jornalístico, desempenhando o papel de informar a população dos fatos ali presentes. Essa ideia principal também é pano de fundo do jornalismo literário, ambos utilizando um pouco do conceito de infotenimento (DEJAVITE, 2003) uma espécie de híbrido do entretenimento com o jornalismo, que tem atingido e conquistado um público imenso pelas redes. Algo que segue a cartilha do jornalismo, com ferramentas tradicionais da ação de informar, mas que também tem por Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 12 finalidade entreter e distrair. O podcast narrativo e o jornalismo literário se apresentam dentro desse espectro da produção de conteúdo, uma vez que preenchem essas características. Como afirma Fábia Angélica Dejavite, o jornalismo de infotenimento integra-se aos padrões jornalísticos. Sua articulação e propagação associam-se às suas muitas responsabilidades sociais e culturais. Seu conteúdo editorial alia-se à seriedade, à leveza, à precisão e à ética, tal como outras especificidades jornalísticas, relatando informações nacionais, internacionais, locais e regionais em todos os gêneros jornalísticos, ao mesmo tempo em que informa e distrai o leitor. (DEJAVITE, 2017, p. 11) A afinidade do público com o tema envolve principalmente as emoções trazidas pelo conteúdo. O jornalismo tradicional factual também evoca sentimentos intensos quando abordampolêmicas ou histórias extraordinárias, mas o jornalismo literário junto ao podcast narrativo conseguem trazer o ouvinte para dentro da história, deixando-o a par de tudo ali. “Não basta a informação seca, dita objetiva, factual. O leitor é convidado a captar na narrativa as nuances ambientais de onde o acontecimento se dá. As cores, os sons, os cheiros – se possível –, o movimento dinâmico com que as ações se dão” (LIMA, 2014, p. 121). E os papeis do apresentador e roteirista se tornam fundamentais neste processo, já que essa escrita criativa pode ser usada para apresentar um novo olhar sobre uma notícia já conhecida, como é o caso do Projeto Humanos ou a série Memórias do Vida de Jornalista. Esse estilo narrativo quando bem aplicado assume sua dualidade e consegue evocar emoções que talvez não tivessem sido trazidas pelo jornalismo factual. “Enquanto para o jornalismo convencional as pessoas são meramente fontes de informação, para o literário elas são personagens reais, fascinantes e complexas” (LIMA, 2014, p. 121). O sentimento gerado é o que cativa a audiência e permite que o público seja tão fiel e apaixonado por este formato. Justificamos a maior aproximação entre o estilo jornalístico (que almeja ser mais objetivo) e a arte de contar histórias (dotada de subjetividade) com o fato de que as pessoas sentem afinidade e empatia em relação às histórias já que, através delas, encontram espelhos de suas emoções humana. (FERNANDES, MUSSE, 2017, p. 1) Ainda que esteja no mundo digital e adquirindo cada vez mais adeptos, o podcast narrativo em nenhum momento deve ser tido como uma evolução do jornalismo literário, mas sim uma possível adaptação para as mídias sonoras de um gênero jornalístico ainda muito utilizado em veículos como Piauí e The New York Times. O new journalism segue Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 13 sendo um formato muito querido pelo público consumidor de uma literatura envolvente e que encante a cada linha. A grande crítica ao Jornalismo Literário é a de que não há mais espaço para ele no mundo contemporâneo. A experiência, contudo, nos revela que há espaço sim, embora não hegemônico, e que os jornalistas talentosos conseguem, ao longo do tempo, impor seu estilo, embora não raro por meio da persistência (MARTINEZ, 2017, p. 27). Considerações finais O estudo aplicado a este artigo buscou trazer várias ideias aplicadas ao podcast narrativo, um formato recente e que ainda está em mutação, assim como os conteúdos gerados no meio digital. Os conteúdos audiovisuais, o podcast, as transmissões em web rádio, os jogos interativos, os quizzes e vários outros formatos ainda têm muito a serem estudados no meio digital e podem ser usados na ideia de infotenimento. O jornalismo também tem muito a ser estudado nesse novo campo que se apresentou a produção de conteúdo para as diferentes mídias sociais. “Observamos que o jornalismo on-line é um campo em constante estudo, sendo ainda passível de novas explorações teóricas e práticas” (MUSSE; FERNANDEZ, 2017, p. 5). Essa mutação permite a experimentação e conteúdos cada vez mais originais, dando ao público a opção de escolher entre os mais variados formatos e meios de se informar. “Como não é padronizada, a produção é viva, em constante processo, sujeita a erros e acertos” (MARTINEZ, 2017, p. 28). O olhar mercadológico que tem sido desenvolvido para o podcast torna a mídia cada vez mais atrativa para as empresas, que veem o crescimento de adeptos jovens e grande consumidores em potencial, como aponta pesquisa da Visual Capitalist8. A pesquisa entrevistou 4 mil pessoas, entre 16 e 64 anos, durante o período da pandemia do novo coronavírus. O consumo de podcast aumentou 20% entre os millenials (24 a 37 anos) e cresceu 11% entre a geração Z (16 a 23 anos). Já para os boomers, entre 57 e 64 anos, o crescimento foi de apenas 4%. O podcast é uma mídia jovem que tem atraído um público também jovem, o que para o mercado publicitário é sempre bem visto. Com a ajuda do Spotify e do Anchor, o podcast tende a ser ainda mais atrativo para o público independente e consequentemente para as marcas. 8 Dados da pesquisa retirados no site da Visual Capitalist. Acesso em 30/09/2020. Disponível em: <https://www.visualcapitalist.com/media-consumption-covid-19/> Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 14 Também pudemos observar que as novas técnicas aplicadas ao jornalismo em muitos casos são novos meios de “beber da fonte” de um período prévio. Pudemos notar semelhanças entre o novo jornalismo e o podcast. Ambos conversam entre si e utilizam de técnicas semelhantes, apesar de estarem em mídias diferentes, sendo uma sonora e outra escrita. O podcast narrativo trata de ambientar, criar um enredo envolvente, informar o público e entreter de alguma forma. O novo jornalismo utiliza dos mesmos artifícios para conquistar o leitor. O podcast ainda tem um longo caminho para se desenvolver, mas seu viés narrativo tem envolvido cada vez mais o público em histórias complexas e imersivas. “Em um panorama em que muitas plataformas de comunicação de massa estão em declínio, podcasts despontam como um caminho certeiro para atingir (e fidelizar) consumidores de conteúdo” (BARSOTTI; SANTA CRUZ, 2020, p. 139). Isso torna o ambiente de pesquisa em podcast ainda mais atrativo e necessário. Referências ANDERSON, Chris. A cauda longa: do mercado de massa para o mercado de nicho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. AVELAR, Kamilla; LOPEZ, Debora Cristina; VIANA, Luana. Imersividade como estratégia narrativa em podcasts investigativos: pistas para um radiojornalismo transmídia em In The Dark. Trabalho apresentado no XXVII Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós- Graduação em Comunicação (COMPOS). Belo Horizonte: Minas Gerais, 2018. BARSOTTI, Adriana; SANTA CRUZ, Lucia. 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