Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DESCRIÇÃO Diferenças entre os conceitos de pirâmide invertida e de pirâmide deitada, Jornalismo long- form e short-form . Apresentação dos gêneros jornalísticos na web, de novos modelos de negócio no Jornalismo digital, diferenciando agências de notícia da mídia independente e da mídia tradicional, além do surgimento do fact-checking . PROPÓSITO Reconhecer as especificidades do Jornalismo digital a fim de compará-lo com o Jornalismo impresso, o Radiojornalismo e o Telejornalismo, bem como observar o surgimento de um novo paradigma no campo profissional, que transforma as práticas jornalísticas e cria oportunidades de negócio e de produtos. PREPARAÇÃO Escolha uma notícia publicada em um jornal impresso e veja como ela foi apresentada no site do veículo jornalístico. Observe quais são as características de ambos os textos, as potencialidades de linguagem que o jornalista pôde explorar em cada um e note qual é o caminho de leitura que você faz lendo o texto impresso e navegando pelo site na leitura da mesma notícia. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer o modelo da pirâmide deitada e os diferentes estilos de texto para a web MÓDULO 2 Identificar os novos gêneros, os modelos de negócio e as oportunidades no Jornalismo digital INTRODUÇÃO Quantas vezes você já ouviu que a notícia, na internet, é superficial e que nenhum leitor vai além do primeiro parágrafo? Já te aconselharam a ler jornais impressos para ficar “realmente” bem informado e atualizado? Está na hora de romper com esses preconceitos! No universo digital, há espaço tanto para a instantaneidade quanto para a profundidade. E sabe qual é a boa notícia? Os textos mais longos geram mais engajamento na web. MÓDULO 1 Reconhecer o modelo da pirâmide deitada e os diferentes estilos de texto para a web PIRÂMIDE DEITADA Qualquer jornalista, e em geral a maior parte dos aspirantes a jornalista, conhece o lide (lead ) e a técnica da pirâmide invertida. Essas estratégias surgiram no século XIX, nos Estados Unidos, quando o Jornalismo deixou de ser uma atividade exercida por intelectuais e políticos e passou a ser reconhecido como uma profissão. Somente no século XIX passa a existir a figura do repórter, e o Jornalismo incorpora as técnicas da objetividade. Sai o “nariz de cera” e entra a pirâmide invertida: NARIZ DE CERA Jargão (pejorativo) para falta de objetividade no texto jornalístico. Esquematização da pirâmide invertida. A técnica da pirâmide invertida consiste em redigir uma notícia começando pelos dados mais importantes, sucedidos de informações complementares organizadas nos parágrafos seguintes, em ordem decrescente de interesse, segundo o julgamento do jornalista. No primeiro parágrafo, conhecido como lide, deve-se responder às perguntas: O QUÊ? QUEM? javascript:void(0) ONDE? COMO? QUANDO? POR QUÊ? CURIOSIDADE Esse modelo de redação, adotado no século XIX, subverteu o estilo de escrita até então predominante, que privilegiava o relato dos acontecimentos em ordem cronológica. Duzentos anos depois, cabe a pergunta: SERÁ QUE AINDA FAZ SENTIDO UTILIZARMOS O LIDE NO JORNALISMO DIGITAL? VERIFICAR Pensemos em um texto impresso em um jornal: ele precisa ser editado para caber no espaço que o editor destinou a ele em determinada página, nem um centímetro a mais ou a menos. As chances são grandes de o repórter entregar um texto muito extenso e de ele precisar ser cortado pelo pé, ou seja, nos últimos parágrafos. Se as informações relevantes tivessem sido deixadas para o final, correria o risco de não chegarem aos leitores. O mesmo acontece no noticiário de rádio e de televisão. As notícias são organizadas em blocos, intercalados por anúncios. Os editores precisam respeitar a duração dos programas e, portanto, as notícias tendem a ser breves e a priorizar os fatos mais importantes logo no início. Afinal, há sempre a possibilidade de o ouvinte ou telespectador mudarem de estação. No Jornalismo digital, não há a limitação de espaço ou de tempo. Um texto pode ser cortado pelo editor por outras razões, mas não pelo espaço disponível porque, na internet, ele é infinito. Pensemos agora no audiovisual e no áudio fora dos limites da televisão e do rádio. O tempo de duração de um vídeo noticioso ou de um podcast pode ser ilimitado. Há podcasts de sucesso, como o Caso Evandro , do Projeto Humanos, com mais de uma hora e meia de duração. Também há séries documentais premiadas em vídeos, como Um mundo de muros , do jornal Folha de S. Paulo, contrariando a ideia do senso comum que somente vídeos de um minuto fazem sucesso na internet. Sem contar nos especiais multimídia, com textos longos, como os produzidos pelo UOL Tab. javascript:void(0) Note que, nesses produtos, não há o lide convencional. Os jornalistas buscam uma narrativa que mais se aproxima dos roteiros de filmes, distribuindo as informações principais ao longo do texto, vídeo ou áudio e criando picos narrativos capazes de prender a atenção do usuário por mais tempo. Foi pensando nas novas características do Webjornalismo que o teórico português João Canavilhas cunhou o conceito de pirâmide deitada. Para ele, não faz sentido cercear as inúmeras possibilidades dos textos jornalísticos na internet se não há mais o limite espacial e se o leitor tem liberdade de escolher seu próprio caminho de leitura, com os hiperlinks . Para observar os diversos percursos de leitura de notícias na web, Canavilhas organizou uma experiência com 39 leitores, estudantes da Universidade da Beira Interior, em Portugal. Na terceira interação deles com o texto utilizado no teste, já havia 22 caminhos diferentes proporcionados pelos hiperlinks embutidos na notícia em questão. Canavilhas concluiu que a hierarquização do texto pelos jornalistas não coincide, necessariamente, com os interesses do leitor. EXEMPLO No Webjornalismo, o leitor pode escolher se aprofundar sobre cada um dos aspectos do lide, por exemplo, acessando determinados links inseridos ao longo do texto jornalístico. Na pirâmide deitada, que substituiria a invertida, ele propõe quatro níveis de leitura: PRIMEIRO NÍVEL A unidade base, que responderia às perguntas O quê? Quando? Quem? e Onde?. Um acontecimento de última hora, por exemplo, continuará sendo apresentado de forma sucinta e poderá evoluir ou não para níveis mais aprofundados, dependendo do desenrolar dos acontecimentos. SEGUNDO NÍVEL O nível de explicação: nele, o jornalista responderia ao Por quê? e ao Como?, completando as informações essenciais sobre o acontecimento. TERCEIRO NÍVEL O nível de contextualização: a ideia é oferecer mais informação, seja em texto, vídeo, áudio ou infografia. QUARTO NÍVEL O nível de exploração: aqui, o jornalista pode “linkar” a notícia que está escrevendo a notícias anteriores sobre o mesmo assunto, tanto publicadas pelo veículo para o qual trabalha como para outros. COMENTÁRIO Note que Canavilhas não está abandonando as perguntas do lide: elas continuam sendo importantes ferramentas para nortear o jornalista. O que ele propõe é sua utilização em blocos de texto mais distribuídos e sem a rígida hierarquização da pirâmide invertida. SETE CARACTERÍSTICAS DO JORNALISMO DIGITAL Todas essas reflexões acerca do texto jornalístico para a internet só são possíveis graças às características específicas do Jornalismo digital, também chamado de Jornalismo online, Webjornalismo, Ciberjornalismo e Jornalismo em rede. Há diferenças sutis entre os conceitos, mas, por enquanto, vamos tratá-los como sinônimos. Bardoel e Deuze (2001) enumeraram quatro características do Jornalismo online: A multimidialidade se refere à convergência de diversos formatos das mídias tradicionais, com a possibilidade de utilização de som, imagem e texto na narração do fato jornalístico. A interatividade pode acontecer de diversas maneiras: por meio da troca de e-mails entre leitores e jornalistas, da exposição da opinião dos leitores em espaços para comentários; de ferramentas que permitamenquetes; de fóruns de discussão. Para alguns autores, não se pode falar em interatividade no singular, mas em uma série de processos interativos. LEIA MAIS Diante de um computador conectado à internet, ao acessar um site jornalístico, o usuário estabelece relações: com a máquina; com a própria publicação, por meio do hipertexto; e com outras pessoas – seja o autor ou outros leitores. Na interação do leitor com a publicação, as implicações maiores estariam no processo de recepção das notícias, tendo em vista que, navegando pelo webjornal e elegendo o próprio percurso de leitura, os usuários teriam acesso às informações de um jeito muito diferenciado entre si (MIELNICZUK, 2001). Mielniczuk lembra que já havia possibilidade de um percurso personalizado na leitura de um jornal impresso ou quando se assiste à televisão convencional, pois cada pessoa poderia virar páginas ou trocar de canal de acordo com sua vontade. Mas, nos dois casos, há uma unidade proposta no noticiário. "No webjornal, esta dita unidade proposta é tão complexa – sobretudo pela constante atualização, pelo grande volume de informações e pelo formato hipertextual – que o produto deixa de ser percebido pelos leitores como sendo único" (MIELNICZUK, 2001). javascript:void(0) A hipertextualidade, já mencionada como um fator de interatividade, permite a interconexão dos textos por meio de links , quebrando a linearidade da leitura tal como no texto impresso. Essa característica do Jornalismo online também contribui para a personalização do conteúdo, pois cada leitor escolherá seu caminho de leitura. Já a customização permite que o usuário configure os produtos jornalísticos de acordo com suas preferências, marcando as seções a respeito das quais deseja receber notícias e excluindo as que não são do seu interesse. Palácios (2003) acrescentou a memória e a instantaneidade às características do Jornalismo online: Sobre a memória, assim como a internet abre espaço ilimitado para a publicação de conteúdo, igualmente possibilita o arquivamento ilimitado de informações, que podem ser recuperadas tanto pelo usuário quanto pelo produtor de conteúdo em uma simples ferramenta de busca. LEIA MAIS Embora jornais e revistas sempre tenham mantido seus arquivos físicos, a quantidade de documentos disponíveis estava condicionada aos espaços de prédios e salas onde funcionavam. No caso da instantaneidade, a internet permite uma atualização contínua, libertando os jornalistas das grades de programação ou dos fechamentos a que estavam presos. Por mais que edições extras e entradas ao vivo, do repórter, estivessem previstas nos meios analógicos, na web ela ganha outra dimensão, pois a atualização pode ser ininterrupta. ATENÇÃO Palácios (2003) sustenta que o Jornalismo online encontra sua especificidade não apenas na potencialização de suas características, mas principalmente na combinação delas, gerando novos efeitos. Pavlik (2016) nota que há uma sétima característica do Jornalismo digital: javascript:void(0) A ubiquidade, isto é, a capacidade de estar (virtualmente) presente em todos os lugares. Os dispositivos móveis expandiram exponencialmente essa característica do Webjornalismo. Apesar da exclusão digital que ainda existe em escala global, potencialmente, todos podem ter acesso a uma rede de comunicação, fornecendo e compartilhando conteúdos em tempo real, como aconteceu na Primavera Árabe, exemplo de uma grande reportagem cidadã ubíqua. PRIMAVERA ÁRABE A Primavera Árabe foi uma onda de manifestações e protestos que ocorreram no Oriente Médio e no Norte da África a partir de 18 de dezembro de 2010. TACTILIDADE E INFOTENIMENTO NOS DISPOSITIVOS MÓVEIS Palácios e Cunha (2012) defendem uma nova característica do Jornalismo digital, específica para os dispositivos móveis, tais como o smartphone e os tablets : a tactilidade. Antes ligada javascript:void(0) apenas a recursos de acessibilidade para deficientes visuais, ela teria se tornado elemento essencial na comunicação em telas sensíveis ao toque. QUANTAS VEZES VOCÊ ESTÁ NAVEGANDO NO SEU SMARTPHONE E NÃO SE DEPARA COM INSTRUÇÕES COMO “TOQUE PARA TROCAR DE PÁGINA”, “TOQUE PARA MARCAR AS RESPOSTAS CERTAS”, “DESLIZE PARA ENCONTRAR AS RESPOSTAS”? Você já está tão acostumado e nem nota que os produtores de conteúdo estão demandando, nesses momentos, que você interaja com o produto via tato. Se você não fizer nada diante de tais orientações, não vai conseguir prosseguir no consumo da notícia. Não se trata mais apenas de ler, ouvir ou ver a notícia, mas experimentá-la na totalidade de sensações que provoca. Barsotti e Aguiar (2012) observaram a emergência de um Jornalismo sensorial na produção jornalística para dispositivos móveis, que aciona no usuário três dos cinco sentidos: a audição, a visão e o tato. Na produção jornalística originária para telas sensíveis ao toque, os jornalistas lançam mão de testes, newsgames , efeitos sonoros e trilhas, que ajudam a compor a atmosfera de leitura. Os autores notaram que o uso de tais recursos aproximam o Jornalismo para dispositivos móveis do infotenimento (informação + entretenimento). O neologismo surgiu nos anos 1980, nos EUA, para designar a mistura de notícia com diversão em um mesmo pacote. Seria uma tendência a veicular, a qualquer preço, informações atraentes (NEVEU, 2006). Dejavite (2008) observa que a fronteira entre Jornalismo e entretenimento nunca foi nítida e a sobreposição é quase inevitável na contemporaneidade. HAVERÁ CONTRADIÇÃO NA PUBLICAÇÃO DE NOTÍCIAS QUE POSSAM SIMULTANEAMENTE INFORMAR E ENTRETER? Ao lembrar que o Jornalismo tal como o conhecemos teve origem no século XIX, quando a opinião deu lugar à informação, alguns autores sustentam que o entretenimento passou a ser um dos valores para seduzir o público para a mercadoria “informação”. SE O FATOR “ENTRETENIMENTO” É MEDIDO COMO UM VALOR ESSENCIAL PARA A CONSTRUÇÃO DA NOTÍCIA E PARA MANTER O INTERESSE DO PÚBLICO- LEITOR PELA MERCADORIA “INFORMAÇÃO”, QUAIS OS MOTIVOS QUE LEVAM CERTOS AUTORES A DESQUALIFICAREM A INFORMAÇÃO JORNALÍSTICA QUE TEM, COMO MARCA, A CAPACIDADE DE ENTRETER O PÚBLICO? SE O JORNALISMO QUE ATUALMENTE CONHECEMOS, COM SUAS ORIGENS NO SÉCULO XIX, APRESENTA COMO CARACTERÍSTICA O PARADIGMA DO JORNAL DE INFORMAÇÃO – SUPERANDO O ANTIGO PARADIGMA DO JORNAL DE OPINIÃO –, QUAL O PROBLEMA POLÍTICO EM PRODUZIR UM NOTICIÁRIO QUE DESPERTE O INTERESSE DO LEITOR E AINDA POSSA ENTRETÊ-LO? (AGUIAR, 2008) COMO ESCREVER PARA A WEB? Se alguém disser para você que é preciso escrever textos curtos e diretos na internet, questione. Acabamos de listar sete características do Webjornalismo: a multimidialidade, a hipertextualidade, a customização de conteúdo, a memória, a instantaneidade, a interatividade e a ubiquidade. Sem contar a tactilidade envolvida nos produtos jornalísticos projetados para telas sensíveis ao toque e o infotenimento, que pode estar presente em quaisquer produtos jornalísticos. NÃO SERIA LIMITADOR ESCREVER TEXTOS TELEGRÁFICOS DIANTE DE TANTAS POSSIBILIDADES? SERÁ QUE OS LEITORES VÃO CONSUMIR TEXTOS GIGANTESCOS, COMO OS QUE ESTÃO PRESENTES NOS ESPECIAIS MULTIMÍDIA QUE VÊM CONQUISTANDO PRÊMIOS? Reportagens Especiais UOL SAIBA MAIS Que tal fazer uma experiência? Acesse as reportagens A mão invisível da milícia , do UOL; Amazônia sem lei , da Agência Pública; Fome ameaça indígenas em Minas antes do coronavírus , do projeto #Colabora; e Simulação mostra quais crianças são adotadas (e quais não são) no Brasil , do Estado de S. Paulo. Todas elas foram finalistas do Prêmio Vladimir Herzog, em 2020, na categoria multimídia. Agora, transponha uma delas para um arquivo em Word. Bem, A mão invisível da milícia , por exemplo, resultou em 25 páginas! JORNALISMO LONG-FORM Estamos falando de um gênero de Jornalismo que se notabilizou após o especial publicado pelo jornal The New York Times, denominado Snow fall , em 2012. A reportagem, dividida em seis capítulos, descreve de formainovadora uma avalanche no estado americano de Washington que resultou na morte de três snowboarders . Os elementos interativos foram cuidadosamente distribuídos e colocados para serem consumidos no exato momento em que o leitor chega a determinado ponto da história. O jornal reconstituiu o acidente utilizando elementos multimídia, tais como gráficos interativos, vídeos, biografias e textos. No total, o especial somava em torno de 18 mil palavras. Veja o vídeo para conhecer o especial Snow Fall e uma análise dessa grande reportagem multimídia (GRM): Abarcar textos longos não é uma novidade no Jornalismo. Basta lembrarmos das reportagens especiais publicadas aos domingos em jornais impressos e grandes reportagens que se transformaram em livros. Na web, no entanto, estávamos acostumados ao consumo de textos rápidos e diretos até a popularização dos smartphones e tablets . O lançamento, no Brasil, do Iphone, em 2008, e do Ipad, em 2010, impulsionou a corrida das organizações jornalísticas para criarem aplicativos de notícias para esses dispositivos. Pesquisas demonstram que os leitores tendem a permanecer mais tempo lendo reportagens nos dispositivos móveis do que na web. Um estudo do Pew Research Center (Washington DC, EUA), divulgado em 2016, revelou que os leitores gastam quase o dobro do tempo consumindo notícias no formato long-form do que com notícias curtas, ou short-form , em seus celulares. Enquanto os leitores ficam, em média, 123 segundos engajados com a leitura de reportagens long-form , o tempo médio de leitura das notícias short-form é de 57 segundos. Pode parecer pouco, afinal 123 segundos são pouco mais que dois minutos! Entretanto, a pesquisa lembra que a maioria das emissoras locais de TV, nos EUA, veiculam notícias com menos de dois minutos de duração. Além disso, o próprio estudo aponta problemas metodológicos que podem ter subestimado o tempo de leitura do Jornalismo long-form . Foram analisadas 117 milhões de interações com mais de 74.840 artigos em 30 websites (MITCHEL; STOCKING; MATSA, 2016). Um dos autores do livro Os elementos do Jornalismo , Tom Rosenstiel, em uma análise sobre o Jornalismo digital, sustentou, em uma palestra na série de conferências online TED, a importância dos dispositivos móveis para o engajamento com o Jornalismo long-form . Ele defendeu que o tablet reintroduziu esse tipo de leitura e afirmou que o consumo de notícias long-form está de volta às nossas vidas realmente pela primeira vez na era digital. Rosenstiel (2013) lembra que, nos primeiros quinze anos de internet, as pessoas não liam notícias no formato long-form até porque o link para uma webpage demorava, segundo ele, trinta segundos para ser carregado. O pesquisador também pontuou que, enquanto no desktop há muitas distrações, a concentração é maior nos smartphones . Apresentando alguns números, Rosenstiel aponta que 73% das pessoas que leem notícias no tablet , leem long-form . Desses, 20% afirmam que leem long-form diariamente. No smartphone , 70% dos leitores de notícias leem long-form . Voltemos ao conceito de pirâmide deitada: os primeiros parágrafos dos especiais multimídia já mencionados aqui, e que foram finalistas do Prêmio Vladimir Herzog 2020, enquadram-se todos no gênero long-form : A mão invisível da milícia , UOL O dia 7 de abril de 2018 ainda não havia amanhecido quando dezenas de policiais civis chegaram ao Sítio Três Irmãos , em Santa Cruz, zona Oeste do Rio. A ação tinha o objetivo de prender o miliciano Wellington da Silva Braga, o Ecko — chefe da Liga da Justiça, maior milícia do estado. A operação foi um desastre: o criminoso fugiu durante troca de tiros que deixou quatro de seus seguranças mortos. Autoridades policiais insistiram na versão de que um show de pagode, com venda de ingressos e ampla divulgação, era uma reunião de paramilitares. Não demorou para que as histórias de inocentes presos injustamente proliferassem na imprensa (MELLO; FERREIRA, 2019). Fome ameaça indígenas em Minas antes do coronavírus , projeto #Colabora Quando encontramos Laurinha Gomes, perto da hora do almoço, ela cozinhava um macarrão em um fogo de lenhas, no chão, do lado de fora da casa de barro e pau a pique, com telhado de palha. Era apenas aquele macarrão que ela comeria naquele dia. Não tinha mais alimentos guardados para a próxima refeição. Laurinha mora com o filho adolescente e os dois vivem com R$150,00 do benefício Bolsa Família. Em setembro e outubro do ano passado, passamos por cerca de 50 casas na terra indígena Xakriabá, em São João das Missões, no norte de Minas Gerais. As famílias que encontramos conviviam com a incerteza da comida na mesa todos os dias (SUAREZ, 2020). Estado não existe na terra indígena mais letal para os guardiões da floresta , série Amazônia sem lei , Agência Pública Cerca de quatro horas de solavancos e cinquenta quilômetros de estrada de chão ligam o povoado de Campo Formoso à aldeia indígena Lagoa Comprida, no coração da terra indígena (TI) Arariboia, região centro-oeste do Maranhão. No trajeto, não se passa da segunda marcha e a única preocupação é o encaixe do carro por entre os buracos na estrada aberta por madeireiros no início do boom da madeira na TI, na década de 1980. A história desta aldeia é ponto central para compreender o quadro de violência que os cerca de 16 mil indígenas Guajajara e Awá-Guajá estão submetidos há décadas, crimes ainda à sombra da impunidade (BARROS, 2020). A estratégia de redação dos textos utilizou a pirâmide invertida ou a pirâmide deitada? Os primeiros parágrafos responderam às perguntas do lide? A opção pelo uso da pirâmide deitada nesses textos, entretanto, não significa o abandono da necessidade do jornalista de responder ao O quê? Onde? Quando? Como? Por quê?. Voltemos à primeira reportagem, A mão invisível da milícia . Seu objetivo era mostrar o descompasso existente entre a quantidade de operações policiais contra o tráfico e contra a milícia no Rio de Janeiro. Somente 3% das ações são contra a milícia, indica o subtítulo do especial multimídia. Os quatro primeiros parágrafos, dessa reportagem, não respondem a nenhuma das perguntas do lide. Eles narram, com riqueza de detalhes, uma das raras operações realizadas contra a milícia, em um estilo que se aproxima do Jornalismo literário, com reconstituição da cena e descrição do ambiente. Apenas no quinto parágrafo as perguntas clássicas começam a ser respondidas: "A análise de 2.959 tiroteios com a presença de agentes de segurança na cidade do Rio [de Janeiro] entre 5 de julho de 2016 e 30 de setembro de 2019 revela um padrão. Na prática, o Rio é uma cidade com duas polícias: uma que promove incessante e violento confronto contra o tráfico de drogas e outra leniente com as milícias" (MELLO; FERREIRA, 2019). COMO? ONDE? QUANDO? O QUÊ? Nos 11º e 12 º parágrafos, a reportagem começa a explicar as razões para tal disparate entre as ações para coibir o tráfico e as operações para reprimir as milícias, com a fala de uma promotora: "'Eles [os milicianos] têm sim, proteção', diz, citando como exemplo o fato de Ronald estar prestes a chegar à patente de tenente-coronel, na qual estaria apto a comandar batalhões de área ou unidades especializadas da PM. 'Não temos operação [de combate às milícias] sem a participação de agentes públicos'. Ainda de acordo com a promotora, embora ainda não existam provas cabais de que batalhões da PM estejam atuando a serviço das milícias, isso é uma hipótese plausível. 'Não identificamos ainda a ação dolosa de um batalhão, o que há é uma inferência [nesse sentido]. Mas a gente não descarta porque a omissão é clara', pontua" (MELLO; FERREIRA, 2019). TEXTOS CURTOS E OBJETIVOS: O JORNALISMO SHORT-FORM A primeira grande reportagem multimídia no Brasil, no estilo da Snow fall , do New York Times, foi o especial sobre a hidrelétrica de Belo Monte, A batalha de Belo Monte , publicada pela Folha de S. Paulo, em 2013. Foram 10 mesesde trabalho, que resultaram em cinco capítulos, 55 fotografias, 24 vídeos, 18 infográficos, aproximadamente 15 mil palavras e um game sobre a hidrelétrica brasileira, a terceira maior do mundo. O trabalho envolveu uma equipe de 19 pessoas (LONGHI; WINQUES, 2015). Planta da hidrelétrica Belo Monte. Tudo isso é para dizer que o Jornalismo long-form , presente nos especiais multimídia, não é viável na rotina cotidiana das redações. Nem sob o ponto de vista econômico nem sob a perspectiva da velocidade para transformar fatos em notícias e atender a um fluxo de produção de 24 horas ininterrupto. Para noticiar os acontecimentos ao longo do dia, prevalece a instantaneidade sobre as demais características do Jornalismo digital. Para ter agilidade e contemplar um leitor cada vez mais ávido pelas últimas notícias, a recomendação é lançar mão do bom e velho lide. Vejamos nos exemplos abaixo: EXEMPLO O país registrou 544 mortes pela covid-19 nas últimas 24 horas, chegando ao total de 150.236 óbitos desde o começo da pandemia. Com isso, a média móvel de mortes no Brasil, nos últimos sete dias, foi de 604, uma variação de -13% em relação aos dados registrados em catorze dias. A média se aproxima da marca de 600 e é o menor índice desde o dia 10 de maio (G1, 10 outubro 2020). EXEMPLO Começa hoje (5) a Campanha Nacional de Vacinação contra a poliomielite para crianças de até 5 anos. A mobilização vai até o dia 30 de outubro em postos de saúde de todo o país. Os órgãos de Saúde alertam que a população deve procurar o serviço mesmo com a pandemia de covid-19, pois a vacina é de extrema importância para manter as crianças imunes à doença. No sábado (17), a vacinação será reforçada com o dia de mobilização nacional (Agência Brasil, 5 outubro 2020). Apesar de o Jornalismo long-form gerar mais engajamento e ser mais prazeroso para o jornalista, do ponto de vista estilístico, o número de reportagens com menos de mil palavras é o que prevalece. O mesmo estudo do Pew Internet Research, já citado, revelou que 76% das 74.840 notícias e reportagens analisadas na pesquisa, realizada em 2016, enquadravam-se no estilo short-form . Ou seja, apesar das qualidades e vantagens trazidas pelo Jornalismo long- form , quantitativamente, são os textos curtos que prevalecem. NAS REDAÇÕES, O IMPORTANTE É NÃO PENSAR DE FORMA EXCLUDENTE: TEXTOS LONG-FORM E SHORT-FORM DEVEM SER CONCILIADOS NA ROTINA DE PRODUÇÃO. SEARCH ENGINE OPTIMIZATION (SEO) Independentemente do tamanho, é preciso que os jornalistas dominem as técnicas de Search Engine Optimization (SEO). São estratégias que ajudam as matérias e reportagens a alcançarem uma boa performance nos resultados de busca do Google. Para os jornalistas que trabalham nos meios digitais, essas técnicas tornam-se cada vez mais fundamentais, já que o cenário de leitura está mais fragmentado. Dados da pesquisa Digital News Report 2020 , do Reuters Institute for the Study of Journalism, revelam que somente 28% dos leitores vão diretamente às homes dos sites para consumir notícias. Um quarto dos usuários, em todo o mundo, de acordo com o estudo, encontra as notícias e chega até elas pelo Google. Portanto, um bom texto e um bom título, no Jornalismo digital, devem ter também as palavras-chaves mais buscadas sobre o tema acerca do qual o jornalista está escrevendo. SAIBA MAIS Para saber quais são as palavras-chaves mais buscadas, os jornalistas podem usar o Google Trends, ferramenta do Google que indica quais são as tendências de busca em tempo real e ao longo de determinado período. Com a ferramenta, é possível comparar dois ou mais termos para saber qual é o mais buscado. Faça um teste, por exemplo, comparando “coronavírus” com “covid-19”. Você verá que os termos se alternam. No início da pandemia, coronavírus era o mais buscado pelos usuários do Google. No dia 5 de agosto de 2020, entretanto, houve um pico de buscas por “covid-19”, que ficou na frente de “coronavírus” até o início de outubro. Então, antes de fazer um título, vale comparar os termos que você pretende usar no Google Trends. O texto também deve conter as palavras-chaves, mas sem abusar delas, afinal um bom texto jornalístico deve evitar repetições. Utilize sinônimos na segunda menção. Outras técnicas de SEO também são importantes, como o uso de hiperlinks . ATENÇÃO Fazer legendas descritivas da imagem é outro ponto fundamental. Uma foto do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, não deve chamá-lo apenas de “o ex-ministro da Saúde”. É comum os jornalistas, de meio impresso, aproveitarem a legenda para inserir frases do entrevistado, entre aspas, sem a preocupação de citar nominalmente as pessoas que aparecem na foto. O que acontecerá se o nome da pessoa não for inserido, além do cargo? A foto, daquela reportagem, não aparecerá nos resultados de busca do Google que, além de texto, incluem fotos e vídeos. Portanto, o jornalista reduzirá as chances de ela ser encontrada. VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 2 Identificar os novos gêneros, os modelos de negócio e as oportunidades no Jornalismo digital MODELOS DE NEGÓCIO Qualquer um de nós pode ter seu próprio site, blog , perfil no Instagram, página no Facebook ou canal no YouTube e veicular a sua produção jornalística. Não é mais necessário estarmos vinculados a grandes redações. Entretanto, quantos de nós conseguiriam sobreviver dessa produção? Como os meios de comunicação de massa se tornaram viáveis economicamente? TELEVISÃO Você não paga para ouvir rádio nem para assistir à TV, mas as emissoras “vendem” a sua atenção. Os anunciantes pagam caro para veicularem suas peças publicitárias nos intervalos da programação. Os preços dos anúncios são estipulados com base na audiência. O anunciante pagará mais por um anúncio de trinta segundos, no intervalo comercial do Jornal Nacional, do que por um de 1 minuto no Globo Rural. As tabelas de preços são fixadas de acordo com a audiência que cada programa tem. RESUMINDO A lógica que prevalece é a da indústria de massa: os programas precisam alcançar a maior audiência possível para garantir que os anunciantes tenham interesse em comprar os espaços publicitários. Ao assistirmos a um programa de TV, nós estamos contribuindo para aumentar a audiência dele. Se o programa for envolvente, manteremos nosso aparelho sintonizado nele e até assistiremos aos anúncios, aguardando, ansiosos, pelo fim do intervalo comercial. É dessa maneira que a nossa atenção “é vendida”. Os programas de rádio e TV precisam certificar-se de manter a atenção do ouvinte e telespectador. MÍDIA IMPRESSA O modelo de financiamento dos jornais e das revistas é um pouco mais complexo. Além de venderem os espaços publicitários entre as reportagens, os veículos impressos cobram pela assinatura ou venda avulsa dos exemplares. Ou seja, parte de seus custos de papel, impressão e distribuição são arcados pelos leitores, mas apenas uma pequena parte. A maior fatia é garantida pelos anunciantes. Os jornais impressos vendem os espaços publicitários de acordo com suas tiragens. Quanto mais exemplares forem lidos, maior o preço dos anúncios. Nos meios de comunicação de massa, o investimento inicial para o negócio é muito alto. Na internet, as barreiras de entrada, ou seja, os obstáculos para alguém iniciar um negócio jornalístico, estão caindo cada vez mais. Podemos empreender um site com ferramentas gratuitas e distribuir esse conteúdo pelas redes sociais. Com um celular na mão, podemos fotografar, produzir vídeos, editar e escrever. ATENÇÃO Com barreiras de entrada próximas do custo zero, surgem, cada vez mais, organizações jornalísticas nativas digitais. Tal denominação refere-se àquelas que já nasceram na internet. Cabe sublinhar tal especificidade, pois lembremos que as grandes organizações da chamada mídia tradicional estão também presentes nos canais digitais, em sites, blogs e perfis nas redes sociais. ORGANIZAÇÕES NATIVAS E MÍDIA HIPERLOCALMas, afinal, é possível ser um empreendedor de um pequeno negócio jornalístico e sobreviver dele? Um estudo da Sembra Media, que pesquisou 100 organizações jornalísticas nativas digitais na América Latina, entre dezembro de 2016 e abril de 2017, mostrou que quase metade dos meios nativos digitais alcançaram uma estabilidade financeira ou até demonstraram um pequeno lucro. As cem empresas nativas digitais pesquisadas se distribuíam da seguinte maneira: Quase 50% dessas organizações pesquisadas estão operando há mais de quatro anos, e doze delas foram lançadas há mais de uma década. Na tentativa de construir um negócio sustentável, tais organizações estão utilizando estratégias mais diversificadas para a obtenção de receitas. Ainda prevalece a publicidade como a principal alavanca de receita. Mas os meios digitais também obtêm receitas com crowdfunding , treinamento, eventos e consultorias. Essas novas frentes são facilitadas pelo fato de essas organizações atuarem em segmentos de nicho. Por exemplo, um site especializado na cobertura de gênero pode prestar consultoria para empresas que buscam diversidade de gênero em seus quadros. Esses caminhos não precisam ser necessariamente excludentes. Há organizações que adotam um modelo de financiamento cada vez mais variado. ATENÇÃO É importante ressaltar que os fundadores das organizações pesquisadas são geralmente jornalistas veteranos, e quase todos os entrevistados se disseram motivados por obter mais independência editorial. Alguns dos projetos pesquisados, no estudo da Sembra Media, já são bem conhecidos da audiência, como o Chequeado, na Argentina, um dos sites pioneiros de fact-checking . Dois terços das organizações de mídia entrevistadas no estudo ganharam javascript:void(0) prêmios nacionais ou internacionais de Jornalismo ou de organizações humanitárias, o que evidencia a relevância de suas reportagens. FACT-CHECKING No Jornalismo investigativo, o fact-checking é o trabalho de confirmar e comprovar fatos e dados usados em discursos políticos e em outros meios de comunicação. No Brasil, o movimento dos sites jornalísticos nativos digitais ganhou força com a realização do Festival 3i (Festival de Jornalismo Inovador, Inspirador e Independente), reunindo 13 organizações: ((O))ECO AGÊNCIA LUPA AGÊNCIA PÚBLICA CONGRESSO EM FOCO ÉNOIS JOTA REPÓRTER BRASIL NEXO NOVA ESCOLA PODER360 PONTE JORNALISMO PROJETO #COLABORA MARCO ZERO CONTEÚDO Esses veículos já detêm mais de 100 prêmios nacionais e internacionais. Há ainda um cenário cada vez mais vibrante para o Jornalismo hiperlocal, como demonstram o Favela em Pauta, o CDD Acontece e o Voz das Comunidades: O Favela em Pauta é resultado da experiência de três jornalistas moradores de favela do Rio de Janeiro, em cobertura dos impactos das Olimpíadas de 2016, para o jornal britânico The Guardian : Michel Silva (Rocinha), Daiene Mendes (Complexo do Alemão) e Thais Cavalcanti (Complexo da Maré). O projeto foi encerrado em 2017 e, em seguida, foi criado o Favela em Pauta para que continuassem a produzir conteúdos sobre seus territórios. O CDD Acontece, que cobre a favela Cidade de Deus, com 38 mil habitantes, foi considerado um case do WhatsApp Brasil. A jornalista Carla Siccos, que o fundou, em 2011, estava cansada de ver sua comunidade ganhando destaque na grande imprensa apenas nos episódios de violência policial e de ações dos traficantes. O Voz da Comunidade ganhou visibilidade durante a ocupação policial no Morro do Alemão, em 2010, passando de 180 seguidores no Twitter para mais de 20 mil em 24 horas. À época, Rene Silva, seu fundador, tinha apenas 17 anos. O trabalho dos jornalistas de comunidades, além do reconhecimento local, desfruta de prestígio entre os sites nativos digitais. A Agência Lupa, de fact-checking , fechou, em 2020, uma parceria com o Favela em Pauta e o Voz da Comunidade para ampliar sua rede de checagem, o projeto #CaiunaRede. Os coletivos produzem vídeos para o Instagram, desvendando boatos que circulam na internet. O Facebook também está fomentando o Jornalismo hiperlocal. A empresa está investindo no programa Acelerador de Notícias Locais, com o objetivo de treinar jornalistas hiperlocais a fortalecerem o jornalismo local e a encontrarem modelos sustentáveis para seus propósitos. Em 2020, durante a pandemia da Covid-19, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) lançou um curso gratuito, patrocinado pela rede social, para capacitar jornalistas na cobertura local e ajudá-los a encontrar modelos de negócio e formatos inovadores capazes de sustentá-los em um cenário de escassez de recursos. Dez das organizações que compõem o Festival 3i também fundaram, em 2020, o Canal Reload, que se propõe a produzir vídeos noticiosos com foco no público jovem. O canal Reload foi uma das iniciativas ganhadoras do Google News Innovation Challenge , em 2019. GOOGLE NEWS INNOVATION CHALLENGE O Google News Innovation Challenge é um projeto do Google News Initiative para ajudar o Jornalismo a prosperar na era digital. javascript:void(0) Fonte: portaldosjornalistas.com.br Quem apresenta o Reload são doze jovens de diferentes regiões do Brasil, de origens étnicas, gêneros e trajetórias pessoais distintos: indígenas, negros e LGBT+ de várias cidades do país. Duas delas são as indígenas Samela Sateré-Mawé, do Amazonas, e Priscila Tapajowara, do Pará. Saiba um pouco mais sobre a história e as iniciativas de fact-checking MÍDIA TRADICIONAL A chamada mídia tradicional também vem se adaptando e priorizando cada vez mais os meios digitais. A ideia é que a produção jornalística seja orientada para o digital first , estratégia anunciada pelo jornal inglês The Guardian, em 2011, e pelo Financial Times, em 2013. Pela lógica do digital first , a redação deve se preocupar primeiro em abastecer os produtos jornalísticos nos meios digitais. A edição do jornal impresso, que por anos guiou as rotinas, saiu do comando do processo. As reuniões que aconteciam às 17h, voltadas para o fechamento do jornal impresso, agora são as menos importantes. A reunião principal, envolvendo todos os editores, foi antecipada para as 7h. O movimento foi anunciado pelo New York Times, no blog Times insider, em 2015. No Brasil, os três principais jornais, A Folha de S. Paulo, O Globo e O Estado de S. Paulo, acompanharam a tendência. Enquanto a televisão aberta e o rádio ainda estão ancorados no modelo de financiamento via publicidade, os jornais cada vez mais investem na fidelidade de seu público, vendendo assinaturas digitais, com o modelo paywall , no qual após determinado número de cliques gratuitos por mês, o usuário deve comprar uma assinatura. O New York Times é o veículo com mais assinantes digitais do mundo. Durante a pandemia da Covid-19, o jornal ganhou 669 mil novos assinantes e reportou um lucro maior com os produtos digitais do que com sua edição impressa. Entre os brasileiros, o jornal líder em assinaturas digitais é o Folha de S. Paulo, segundo o ranking divulgado pela FIPP. Em um ano, o número de assinantes digitais, nos 53 veículos pesquisados ao redor do globo, cresceu três milhões, segundo levantamento divulgado em 2019. FIPP Fédération Internationale de Presse Périodique (Federação Internacional de Imprensa Periódica) organização fundada na França, em 1920. DURANTE A PANDEMIA DO NOVO CORONAVÍRUS, O JORNALISMO FOI REVALORIZADO. Dados da citada Digital News Report 2020 revelaram que 60% dos entrevistados disseram que a mídia os ajudou a entender a crise. No entanto, a revalorização do Jornalismo não significou aumento de receita. A crise econômica global se abateu sobre os veículos, que viram suas receitas com anúncios encolherem. Em meio a esse cenário, uma luz no fim do túnel para as organizações de mídia foi o Google anunciar que começaria a pagar aos veículos de Jornalismo profissional pelo uso de notícias. Embora a iniciativa do Google se restrinja a alguns veículose, inicialmente, a somente três países (Alemanha, Austrália e Brasil), o anúncio representa uma mudança de atitude da plataforma, que sempre se recusou a pagar por notícias. BRASIL No Brasil, a previsão do novo modelo de financiamento do Google só estava confirmada para os jornais O Estado de Minas e A Gazeta, do Espírito Santo, em uma experiência que começaria no fim de 2020. Vale buscar saber como evoluiu o projeto. javascript:void(0) javascript:void(0) GÊNEROS JORNALÍSTICOS NA WEB A classificação de gêneros jornalísticos mais aceita no Brasil é a de José Marques de Melo (2009), feita a partir da observação empírica dos produtos jornalísticos. O teórico chegou a cinco gêneros principais, sob os quais se agrupam os variados produtos. São eles: JORNALISMO INFORMATIVO A nota, a notícia, a reportagem e a entrevista. JORNALISMO OPINATIVO O editorial, o comentário, o artigo, a resenha, a coluna, a crônica, a carta e a charge. JORNALISMO INTERPRETATIVO O perfil, a enquete, o dossiê, a análise e a cronologia. JORNALISMO DIVERSIONAL Diz respeito a histórias de interesse humano que empregam recursos do Jornalismo literário. JORNALISMO UTILITÁRIO Compreende indicadores, cotações, meteorologia e o serviço, como as seções dedicadas à defesa do consumidor. Se refletirmos sobre a persistência desses gêneros e subgêneros na internet, verificaremos que todos eles estão presentes nos sites jornalísticos. Entretanto, estão sujeitos a mudanças de acordo com as demandas sociais, como nota Marques de Melo (2010). Os gêneros informativo e opinativo, considerados os principais, surgiram, respectivamente, nos séculos XVII e XVIII. Já os demais – interpretativo, diversional e utilitário – consolidaram-se no século XX, em outros contextos históricos, como observou o teórico. No contexto contemporâneo, com novos produtos surgindo e outros se adaptando, talvez seja mais produtivo pensarmos em gêneros fluidos, que se entrecruzam. Para Bertocchi (2005), os gêneros, no Jornalismo digital, demandam uma atualização classificatória. Observa-se que a tarefa de classificação se tornou mais complicada nas últimas décadas pelo fato de que a fronteira entre as diferentes espécies textuais é cada vez mais tênue. As modalidades textuais do Jornalismo, nos recentes meios digitais, foram estudadas por Salaverría e Cores (2005), que identificaram quatro categorias: REPETIÇÃO Quando há a mera reprodução dos gêneros herdados do Jornalismo impresso em meios digitais. ENRIQUECIMENTO Quando os gêneros originários de meios precedentes incorporam as possibilidades hipertextuais, multimídia ou interativas dos novos. RENOVAÇÃO Quando há a reconfiguração integral de um gênero anterior (os autores citam a infografia como exemplo). INOVAÇÃO Consiste na criação de gêneros jornalísticos especificamente para os meios digitais, sem partir de referências prévias. Todo gênero se consolida a partir de um pacto entre os jornalistas e o seu público. O Jornalismo digital é um subcampo do Jornalismo ainda em constante mutação, com paradigmas próprios. EXEMPLO A reportagem, em meios digitais, vem se reconfigurando em um novo formato, o de Grande Reportagem Multimídia (GRM), como observou Longhi (2014), com a convergência de diversas linguagens, tais como a hipertextual, a audiovisual e a infografia animada, presentes em especiais multimídia, como mencionado. Já os newsgames podem ser considerados uma inovação por não apresentarem referências prévias das mídias precedentes. AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS ONLINE Mais recentemente, uma nova modalidade, o Jornalismo sem fins lucrativos, vem ganhando relevância ao apostar no financiamento pela audiência e por fundações filantrópicas, via crowdfunding . Embora não haja um movimento organizado, é possível identificar características comuns entre as iniciativas. Algumas delas dão transparência à informação governamental com o objetivo de promover o engajamento da população e a pressão sobre o poder público; outras reúnem e publicam informação sobre abusos de direitos humanos, e há ainda as que se especializam no Jornalismo investigativo tradicional. Os sites de Jornalismo sem fins lucrativos já existiam em 24 estados dos EUA em 2012. A maioria dessas organizações foi fundada por jornalistas com décadas de experiência e que perderam seus empregos na mídia tradicional com os sucessivos cortes de pessoal que vêm acontecendo desde 2008, ano em que a situação financeira das empresas foi abalada com a crise econômica global. O Centro de Reportagem Investigativa (CIR), em Berkeley, na Califórnia, é uma das mais antigas. Fundado em 1977, o CIR se apresenta como a mais antiga organização de Jornalismo investigativo sem fins lucrativos do país. Em 2008, sob a direção de Robert Jon Rosenthal, ex-editor do Philadelphia Inquirer, passou por uma expansão, tornando-se uma produtora de informação multimídia. Atualmente, chama-se Reveal e passou a abarcar o site, um programa de rádio, um podcast e perfis nas redes sociais. Uma das referências na modalidade de sites de Jornalismo investigativo sem fins lucrativos é o ProPublica, criado em 2008, sob a direção de Paul Steiger, ex-editor administrativo do Wall Street Journal. O ProPublica já ganhou seis prêmios Pulitzer por seu trabalho, que incluiu investigações sobre a crise financeira e o atendimento médico após o furacão Katrina (em parceria com a revista semanal do The New York Times). A missão da ProPublica é: expor os abusos de poder que traem a confiança do público, cometidos pelo governo, pelas empresas ou por outras instituições, usando a força moral do Jornalismo investigativo. SAIBA MAIS A ProPublica já firmou parceria com mais de 50 organizações de notícias, incluindo 60 Minutes, CNN, USA Today, New York Times, Los Angeles Times, Washington Post, Huffington Post, Newsweek, Reader's Digest, BusinessWeek e a National Public Radio, entre muitos outros. No Brasil, ela inspirou a Agência Pública, a primeira agência de Jornalismo investigativo sem fins lucrativos do país, fundada em 2011 por repórteres mulheres. As reportagens da Pública têm como princípio a defesa dos direitos humanos e já foram republicadas em mais de mil veículos de comunicação brasileiros e estrangeiros, segundo o site da organização. Além de distribuir conteúdo para grandes portais no país, como UOL, El País Brasil, Yahoo, IG e Exame, a agência tem uma rede de republicadores em espanhol, contando com 18 veículos em 12 países, segundo seu site. As reportagens da agência podem ser republicadas, gratuitamente, sob a licença Creative Commons. Desde 2011, a agência conquistou 48 prêmios. Entre eles, o Gabriel Garcia Márquez, o mais importante prêmio de Jornalismo da América Latina, o Comunique-se, o Troféu Mulher Imprensa e o Prêmio Vladimir Herzog. O The Intercept é uma organização multinacional de Jornalismo investigativo que criou um relevante braço de atuação no Brasil. Ele faz parte da First Look Media, lançada em 2013 pelo filantropo e fundador do eBay, Pierre Omidyar. O site do The Intercept Brasil informa que a First Look Media é uma empresa multimídia dedicada a apoiar vozes independentes em Jornalismo investigativo, cinema, arte, cultura, mídia e entretenimento. COMENTÁRIO A First Look Media produz e distribui conteúdo em vários formatos, incluindo longas e curtas- metragens, podcasts, e especiais multimídia no estilo long-form . O Intercept conta com uma rede de parceiros, com os quais produz e distribui jornalismo. Um caso notório de suas apurações foi o do escândalo Vaza Jato , que revelou conversas comprometedoras, realizadas por meio do aplicativo Telegram, entre o ex-juiz Sérgio Moro e o promotor Deltan Dallagnol, além de outros integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato . Band, UOL, Folha de S. Paulo e Veja foram veículos que participaram do pool de reportagens da Vaza Jato . POOL Pool designa grupo de jornalistas reunidos para uma cobertura importante que, pelas circunstâncias,não comporta a presença de todos nela interessados ou para ela credenciados. (...) O grupo assume o compromisso de informar os colegas excluídos da cobertura. Fonte: Círculo Folha (Folha Online) VERIFICANDO O APRENDIZADO CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste tema, abordamos as especificidades do Jornalismo digital, delimitando suas características e potencialidades. Observamos rupturas, mas também continuidades em javascript:void(0) relação à prática profissional anterior verificada nos meios analógicos. No Webjornalismo, prevalece a importância da objetividade jornalística, mas as possibilidades narrativas se ampliam. As novidades não ficam restritas aos novos modos de narrar: além de novos gêneros, surgem novos modelos de negócio e desafios, como o combate à desinformação empreendido pelas agências de checagem. O Jornalismo digital está em constante transformação e não poderia ser diferente, pois consolida-se em um meio relativamente novo: a World Wide Web completou 30 anos em 2019! PODCAST AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS AGÊNCIA BRASIL. Começam hoje campanhas de vacinação contra pólio e de multivacinação. Publicado em: 5 out. 2020. AGUIAR, L. Entretenimento: valor-notícia fundamental. In: Estudos em Jornalismo e Mídia. Florianópolis, v. 5, n. 1, p. 12-23, 2008. Consultado eletronicamente em: 12 abr. 2016. BARDOEL, J.; DEUZE, M. Network journalism: converging competencies of old and new media professionals. In: Australian Journalism Review, v. 23, n. 3, 2001. Consultado eletronicamente em: 12 out. 2016. BARROS, C. O Estado não existe na terra indígena mais letal para os guardiões da floresta. In: Agência Pública. São Paulo, 10 out. 2020. Consultado eletronicamente em: 10 out. 2020. BARSOTTI, A.; AGUIAR, L. Produção de notícias para dispositivos móveis: a lógica das sensações e o infotenimento. In: CANAVILHAS, J. (org.). Notícias e mobilidade: o jornalismo na era dos dispositivos móveis. Covilhã: UBI, LabCom, Livros Labcom, 2013, p. 295-318. Consultado eletronicamente em: 10 out. 2020. BERTOCCHI, D. Gêneros jornalísticos em espaços digitais. In: SOPCOM 2005, Aveiro, Portugal, Actas do 4º Congresso da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, Universidade de Aveiro, Portugal, 20 e 21 de outubro. Consultado eletronicamente em: 10 out. 2020. CANAVILHAS, J. Webjornalismo: da pirâmide invertida à pirâmide deitada. Consultado eletronicamente em: 10 out. 2020. DEJAVITE, F. Infotenimento nos impressos centenários brasileiros. In: Estudos em Jornalismo e Mídia. Florianópolis, v. 5, n. 1, p. 12-23, 2008. G1. Brasil passa de 150 mil mortes por Covid-19; apenas o Maranhão registra alta na média de óbitos. Publicado em: 10 out. 2020. LONGHI, R. R. O turning point da grande reportagem multimídia. In: Revista Famecos. Porto Alegre, v. 21, n. 3, setembro-dezembro 2014. p. 897-917. LONGHI, R. R.; WINQUES, K. O lugar do long-form no jornalismo online: qualidade versus quantidade e algumas considerações sobre o consumo. In: Brazilian Journalism Research. v. 1, n. 1, p. 110-127, 2015. MARQUES DE MELO, J. Jornalismo: compreensão e reinvenção. São Paulo: Saraiva, 2009. MARQUES DE MELO, J.; ASSIS, F. (Orgs.). Gêneros jornalísticos no Brasil. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2010. MELLO, I.; FERREIRA, L. A mão invisível da milícia. In: UOL, (s.d.) Consultado eletronicamente em: 10 out. 2020. MITCHELL, A.; STOCKING, G.; MATSA, K. E. Long-form reading shows signs of life in our mobile news world. In: Journalism&media. Pew Research Center. Consultado eletronicamente em: 20 out. 2020. MIELNICZUK, L. Características e implicações do jornalismo na web. In: Anais do II Congresso da SOPCOM. Lisboa, 2001. NEVEU, E. Sociologia do jornalismo. São Paulo: Loyola, 2006. NEWMAN, N. Executive summary and key findings of the 2020 report. In: Reuters Institute for Study on Journalism. Consultado eletronicamente em: 20 out. 2020. PALACIOS, M. Ruptura, continuidade e potencialização no jornalismo online: o lugar da memória. In: MACHADO, E.; PALACIOS, M. (Orgs). Modelos de Jornalismo Digital. Salvador: Calandra, 2003. PALACIOS, M.; CUNHA, R. A tactilidade em dispositivos móveis: primeiras reflexões e ensaio de tipologias. In: Anais 10º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo - SBPJor. Curitiba, novembro 2012. Consultado eletronicamente em: 10 out. 2020. PAVLIK, J. V. Ubiquidade: o 7º princípio do jornalismo na era digital. In: CANAVILHAS, J. (Org.). Webjornalismo: 7 características que marcam a diferença. Covilhã: UBI, LabCom, Livros Labcom, 2014, p. 159-183. ROSENSTIEL, T. The future of journalism. In: TEDxAtlanta, Atlanta, 28 maio 2013. SALAVERRÍA, R.; CORES, R. Géneros periodísticos en los cibermedios hispanos. In: Salaverría, R. (org.). Cibermedios. El Impacto de internet en los medios de comunicación en España. Sevilla: Comunicación Social, 2005, p. 145-184. SUAREZ, J. Fome ameaça indígenas em Minas antes do coronavírus. In: Projeto #Colabora. Rio de Janeiro, 4 maio de 2020. WARDLE, C.; DERAKHSHAN, H. Information disorder: toward an interdisciplinary framework for research and policy making. Council of Europe report, 2017. EXPLORE+ O Prêmio Vladimir Herzog é a premiação mais importante de Jornalismo no Brasil. São seis categorias: Arte, Fotografia, Produção Jornalística em Áudio, Produção Jornalística em Vídeo, Multimídia e Texto. O prêmio reconhece o trabalho de jornalistas que atuam em favor da democracia e dos direitos humanos. Vale a pena ver, ouvir, ler e navegar pelos trabalhos premiados, ano a ano. O podcast é um gênero que se consolida cada vez mais no Jornalismo digital. É interessante notar como os podcasts podem explorar diferentes formatos. Como sugestão, você pode ouvir O assunto , do G1, apresentado por Renata Lo Prete, e o Vozes: histórias e reflexões , da CBN, conduzido por Gabriela Viana. Perceba as diferenças entre os dois produtos. O primeiro adota o estilo debate/entrevista; e o segundo, explora as possibilidades narrativas que o aproximam das características do Jornalismo literário. Recomendamos também pesquisar os especiais multimídia produzidos pelo UOL Tab. A Farol Jornalismo é uma newsletter semanal que acompanha as principais tendências do Jornalismo no Brasil e no mundo. CONTEUDISTA Curadoria de Humanidades
Compartilhar