Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
COORDENADAS CILÍNDRICAS E ESFÉRICAS EDSON VARGAS Abstract. Discutimos duas mudanças de variáveis importantes para o cálculo de integrais triplas, são as coordenadas ciĺındricas e esféricas. Também calcu- lamos uma integral tripla usando essas duas coordenadas o que permite assim melhorar a compreensão das mesmas. 1. Coordenadas ciĺındricas Coordenas ciĺındricas são muito úteis no cálculo de integrais em regiões do espaço limitadas por ciĺındricos ou quando o integrando é uma função que depende apenas da distância a um eixo. Na sua forma mais comum as coordenadas ciĺındricas no espaço R3 são três variáveis que denotamos por ρ, θ e z. A variável z é a mesma da coordenadas cartesianas e ρ é a distância de um ponto a um eixo (aqui estamos supondo que seja o eixo Oz), θ é um ângulo medido a partir do semi-plano y = 0 e x ≥ 0. As coordenadas cartesianas x, y e z e as coordenadas ciĺındricas ρ, θ e z estão relacionadas pelas equações abaixo: (1.1) Φ : x = ρ cos θ, ρ ≥ 0 y = ρ sen θ, 0 ≤ θ ≤ 2π z = z, z ∈ R Observe que nas Coordenadas Ciĺındricas (1.1) verifica-se que x2 + y2 = ρ2 e portanto: (i) O cilindro x2 + y2 = 9 corresponde à equação ρ = 3. (ii) O parabolóide z = x2 + y2 corresponde à equação z = ρ2. (iii) O hiperbolóide de duas folhas z2 − 1 = x2 + y2 corresponde à equação z2 − 1 = ρ2. (iv) O hiperbolóide de uma folha z2 + 1 = x2 + y2 corresponde à equação z2 + 1 = ρ2. (v) Para b > 0, o cone x2 + y2 = b z2 corresponde à equação ρ2 = b z2. (vi) A esfera x2 + y2 + z2 = 4 corresponde à equação ρ2 + z2 = 4. (vii) O plano z = constante permanece com a mesma equação mas planos da forma z = a x+ b y corresponde a z = a ρ cos θ + b ρ sen θ, mais complexa. (viii) Uma função w = f(x, y, z) da forma w = g(x2 + y2, z), em coordenadas ciĺındricas se transforma em w = g(ρ2, z) que depende apenas de duas variáveis. Por exemplo: w = √ x2 + y2 + z se transforma em w = ρ+ z. De modo geral um termo da forma x2+y2 presente na definição de uma superf́ıcie ou uma função se torna mais simples em coordenadas ciĺındricas. 2010 Mathematics Subject Classification. Primary . Key words and phrases. integral dupla, integral tripla . 1 2 EDSON VARGAS A matriz Jacobiana da mudança de variável Φ (coordenadas ciĺındricas) é: cos θ sen θ 0−ρ sen θ ρ cos θ 0 0 0 1 e o seu determinante é: ∂(x, y, z) ∂(ρ, θ, z) = ρ. Isto implica que o elemento de volume, em coordenadas ciĺındricas, expressa-se como ρ dρ dθ dz. Veja abaixo exemplos sobre a descrição de um sólido em coordenadas ciĺındricas: Exemplo 1. Seja S o sólido dado pelas desigualdades z2 ≥ 2x2 + 2 y2 e x2 + y2 + z2 ≤ 9. Observe que S é o sólido interno a um cone e interno a uma esfera e é a união de duas partes, uma parte S+ contida no semi-espaço z ≥ 0 e outra S− no semi-espaço z ≤ 0. As desigualdades que determinam S, em coordenadas ciĺındricas, se transformam em z2 ≥ 2 ρ2 e ρ2 + z2 ≤ 9, respectivamente. Dessa forma, S+ se transforma em S+ρθz e S − se transforma em S−ρθz e podem ser descritos pelas desigualdades abaixo: (1.2) S+ρθz : √ 2 ρ ≤ z ≤ √ 9− ρ2 0 ≤ ρ ≤ √ 3 0 ≤ θ ≤ 2π e (1.3) S−ρθz : − √ 9− ρ2 ≤ z ≤ − √ 2 ρ 0 ≤ ρ ≤ √ 3 0 ≤ θ ≤ 2π Compare a descrição de S em coordenadas ciĺındricas acima e sua descrição em coordenadas esféricas na Seção 3. Exemplo 2. Seja S o sólido dado pelas desigualdades x2 + y2 + z2 ≤ 4 e z2 + 1 ≤ x2 + y2. Essas desigualdades, em coordenadas ciĺındricas, se transformam em ρ2 +z2 ≤ 4 e z2 +1 ≤ ρ2, respectivamente. Dessa forma podemos descrever o sólido pelas desigualdades abaixo: (1.4) Sρθz : √ 1 + z2 ≤ ρ ≤ √ 4− z2 − √ 3 2 ≤ z ≤ √ 3 2 0 ≤ θ ≤ 2π 2. Integrais em coordenadas ciĺındricas Se w = f(x, y, z) é uma função cont́ınua em um aberto que contém o sólido S, então vale a seguinte igualdade:∫∫∫ S f(x, y, z) dx dy dz = ∫∫∫ Sρθz f(ρ cos θ, ρ sen θ, z) ρ dρ dθ dz, sempre que essas duas integrais existirem. COORDENADAS CILÍNDRICAS E ESFÉRICAS 3 Como exemplo vamos calcular a integral ∫∫∫ S x2 dx dy dz, onde S é o sólido do Exemplo 1 acima. Nas Coordenadas Ciĺındricas (1.1), essa integral se transforma na soma de integrais abaixo:∫∫∫ S+ρθz ρ3 cos2 θ dρ dθ dz + ∫∫∫ S−ρθz ρ3 cos2 θ dρ dθ dz. Aplicando o Teorema de Fubini resulta em∫ 2π 0 ∫ √3 0 ∫ √9−ρ2 √ 2 ρ ρ3 cos2 θ dz dρ dθ + ∫ 2π 0 ∫ √3 0 ∫ −√2 ρ − √ 9−ρ2 ρ3 cos2 θ dz dρ dθ = = 2 ∫ 2π 0 ∫ √3 0 ρ3 (√ 9− ρ2 − √ 2 ρ ) cos2 θ dρ dθ = = 2 ∫ 2π 0 ∫ √3 0 ρ3 √ 9− ρ2 cos2 θ dρ dθ − 2 √ 2 ∫ 2π 0 ∫ √3 0 ρ4 cos2 θ dρ dθ = = ∫ 2π 0 ∫ 6 9 (u− 9) √ u cos2 θ du dθ − 2 √ 2 5 ∫ 2π 0 9 √ 3 cos2 θ dθ = = ∫ 2π 0 ( 2u5/2 5 − 6u3/2 )6 9 cos2 θ dθ − 18 √ 6 5 π = = 324− 108 √ 6 5 ∫ 2π 0 cos2 θ dθ − 18 √ 6 5 π = 324− 126 √ 6 5 π. 3. Coordenadas esféricas Coordenas esféricas são muito úteis no cálculo de integrais em regiões do espaço limitadas por esferas, cones ou quando o integrando é uma função que depende apenas da distância a uma origem. Na sua forma mais comum as coordenadas esféricas no espaço R3 são três variáveis que denotamos por ρ, θ e ϕ. A variável ρ é a distância de um ponto à origem O, θ é um ângulo medido a partir do semi- plano y = 0 e x ≥ 0 e ϕ é um ângulo medido a partir do semi-eixo Oz positivo. As coordenadas cartesianas x, y e z e as coordenadas esféricas ρ, θ e ϕ estão relacionadas pelas equações abaixo: (3.1) E : x = ρ cos θ sen ϕ, ρ ≥ 0 y = ρ sen θ sen ϕ, 0 ≤ θ ≤ 2π z = ρ cos ϕ, 0 ≤ ϕ ≤ π Observe que nas Coordenadas Esféricas (3.1) verifica-se que x2 + y2 = ρ2 sen 2 ϕ e x2 + y2 + y2 = ρ2 e portanto: (i) O cilindro x2 + y2 = 9 corresponde à equação ρ2 sen 2 ϕ = 9. (ii) Para b > 0, o cone x2 + y2 = b z2 corresponde às duas equações: sen ϕ =√ b cos ϕ e sen ϕ = − √ b cos ϕ cujas soluções são da forma ϕ = ϕ0 ∈ (0, π/2) e ϕ = π − ϕ0. (iii) A esfera x2 + y2 + z2 = 4 corresponde à equação ρ2 = 4. (iv) Em geral as equações de planos em coordenadas esféricas são mais com- plexas do que em coordenadas cartesianas mas os planos da forma a x−b y = 4 EDSON VARGAS 0 são simples, correspondem a a cos θ = b sen θ que possui duas soluções, θ0 e θ0 + π. (v) Uma função w = f(x, y, z) da forma w = g(x2 + y2 + z2), em coordenadas esféricas se transforma em w = g(ρ2) que depende apenas de da variável ρ. Por exemplo: w = √ 1 + x2 + y2 + z2 se transforma em w = √ 1 + ρ2 . De modo geral um termo da forma x2 + y2 + z2 presente na definição de uma superf́ıcie ou uma função se torna mais simples em coordenadas esféricas. Mas é bem comum que situações envolvendo ciĺındros e esferas sejam mais simples quando vistas em coorcenadas ciĺındricas ao invés de esféricas, Veja o Exemplo 3 abaixo. A matriz Jacobiana da mudança de variável E (coordenadas esféricas) é: cos θ sen ϕ sen θ sen ϕ cos ϕ−ρ sen θ sen ϕ ρ cos θ sen ϕ 0 ρ cos θ cos ϕ ρ sen θ cos ϕ −ρ sen ϕ e o seu determinante é: ∂(x, y, z) ∂(ρ, θ, z) = −ρ2 sen ϕ. Isto implica que o elemento de volume, em coordenadas esféricas, expressa-se como ρ2 sen ϕdρ dθ dϕ. Veja abaixo exemplos sobre a descrição de um sólido em coordenadas esféricas: Exemplo 3. Seja S o sólido dado pelas desigualdades z2 ≥ 2x2 + 2 y2 e x2 + y2 + z2 ≤ 9. Lembre-se que S já foi analisado em coordenadas ciĺındricas no Exemplo 1 e possui uma parte S+ contida no semi-espaço z ≥ 0 e outra S− no semi-espaço z ≤ 0. As desigualdades que determinam S, em coordenadas esféricas, se transformam em cos2 ϕ ≥ 2 sen 2 ϕ e ρ ≤ 3, respectivamente. Extraindo a raiz quadrada na equação cos2 ϕ = 2 sen 2 ϕ obtemos cos ϕ =√ 2 sen ϕ que possui uma solução ϕ0 ∈ (0, π/2) e cosϕ = − √ 2 sen ϕ que pos- sui a solução π − ϕ0. Então a desigualdade cos2 ϕ ≥ 2 sen 2 ϕ se transforma em 0 ≤ ϕ ≤ ϕ0 (que corresponde à parte do cone no semi-plano z ≥ 0) ou π − ϕ0 ≤ ϕ ≤ π (que corresponde à parte do cone no semi-plano z ≤ 0). Dessa forma, S+ se transforma em S+ρθϕ e S− se transforma em S−ρθϕ e podem ser descritos pelas desigualdades abaixo: (3.2) S+ρθϕ : 0 ≤ ρ ≤ 3 0 ≤ ϕ ≤ ϕ0 0 ≤ θ ≤ 2π e (3.3) S−ρθϕ : 0 ≤ ρ ≤ 3 π − ϕ0 ≤ ϕ ≤ π 0 ≤ θ ≤ 2π Compare a descrição de S em coordenadas esféricas acima e sua descrição em coordenadas ciĺındricas na Seção 1. Parece claro que nesse caso a descrição em coordenadas esféricas é bem mais simples. Problema. Descreva o sólido do Exemplo 2 em coordenadas esféricas e compare com a descrição em coordenadas ciĺındricas que obtivemos antes. COORDENADAS CILÍNDRICAS E ESFÉRICAS 5 4. Integrais em coordenadas esféricas Se w = f(x, y, z) é uma função cont́ınua em um aberto que contém o sólido S, então vale a seguinte igualdade: ∫∫∫ S f(x, y, z) dx dy dz = = ∫∫∫ Sρθϕ f(ρ cos θ sen ϕ, ρ sen θ sen ϕ, ρ cos ϕ) ρ2 sen ϕdρ dθ dϕ, sempre que essas duas integrais existirem. Como exemplo vamos calcular a integral ∫∫∫ S x2 dx dy dz, onde S é o sólido do Exemplo 1 acima. Já fizemos esse cálculo nas coordenadas ciĺındricas em (1.1) e agora vamos fazê-lo nas coordenadas esféricas em (3.1). A integral é a soma das integrais abaixo:∫∫∫ S+ρθϕ ρ4 cos2 θ sen 3 ϕdρ dθ dϕ+ ∫∫∫ S−ρθϕ ρ4 cos2 θ sen 3 ϕdρ dθ dϕ. Aplicando o Teorema de Fubini resulta em∫ 2π 0 ∫ ϕ0 0 ∫ 3 0 ρ4 cos2 θ sen 3 ϕdρ dϕdθ + ∫ 2π 0 ∫ π π−ϕ0 ∫ 3 0 ρ4 cos2 θ sen 3 ϕdρ dϕdθ = = 243 5 ∫ 2π 0 ∫ ϕ0 0 cos2 θ sen 3 ϕdϕdθ + 243 5 ∫ 2π 0 ∫ π π−ϕ0 cos2 θ sen 3 ϕdϕdθ = = 243 5 [∫ 2π 0 cos2 θ ( cos3 ϕ 3 − cos ϕ )ϕ0 0 dθ + ∫ 2π 0 cos2 θ ( cos3 ϕ 3 − cos ϕ )π π−ϕ0 dθ ] = = 2 243 5 ( cos3 ϕ0 3 − cos ϕ0 + 2 3 )∫ 2π 0 cos2 θ dθ = 2 243 5 ( cos3 ϕ0 3 − cos ϕ0 + 2 3 ) π Para chegar a um resultado final observamos que ϕ0 satisfaz a equação cos 2 ϕ0 = 2sen 2 ϕ0 que implica que 1 = 3 sen 2ϕ0 e portanto sen ϕ0 = √ 3 3 e cos ϕ0 = √ 6 3 . Assim sendo cos3 ϕ0 3 − cos ϕ0 = 2 √ 6 27 − √ 6 3 = −7 √ 6 27 e o valor da integral é: 2 243 5 ( cos3 ϕ0 3 − cos ϕ0 + 2 3 ) π = 324− 126 √ 6 5 π, que é o mesmo valor que obtemos antes usando coordenadas ciĺındricas. Observação. Podemos definir coordenadas ciĺındricas em ralação ao eixo Ox ou o eixo Oy ao invés do o eixo Oz como fizemos em (1.1). Nas Coordenadas Esféricas (3.1) medimos o ângulo ϕ à partir do semi-eixo Oz positivo mas dependendo da situação podemos medir esse ângulo a partir dos semi- eixos Ox ou Oy positivos. 6 EDSON VARGAS Email address: edsonv@usp.br
Compartilhar