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Batista e Muñoz, Teoria e Prática

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Prévia do material em texto

Dados	Internacionais	de	Catalogação	na	Publicação	(CIP)
Elaborado	por	Sônia	Magalhães
Bibliotecária	CRB9/1191
T314
2017
Teoria	e	prática	da	política	/	Cristiane	Batista,	Enara	Echart	Muñoz,
organizadoras.	–	1.	ed.–	Curitiba:	Appris,	2017.
385	p.;	21	cm
Inclui	bibliografias
ISBN	978-85-473-0423-2
Vários	autores
1.	Ciência	política.	I.	Batista,	Cristiane.	II.	Muñoz,	Enara	Echart.	III.
Título.
CDD	20.	ed.	–	320.1
Editora	e	Livraria	Appris	Ltda.
Rua	José	Tomasi,	924	-	Santa	Felicidade
Curitiba/PR	-	CEP:	82015-630
Tel:	(41)	3156-4731	|	(41)	3030-4570
http://www.editoraappris.com.br/
http://www.editoraappris.com.br
Editora	Appris	Ltda.
1ª	Edição	–	Copyright©	2017	dos	autores
Direitos	de	Edição	Reservados	à	Editora	Appris	Ltda.
	
Nenhuma	parte	desta	obra	poderá	ser	utilizada	indevidamente,	sem	estar	de	acordo	com	a	Lei	nº
9.610/98.
Se	incorreções	forem	encontradas,	serão	de	exclusiva	responsabilidade	de	seus	organizadores.
Foi	feito	o	Depósito	Legal	na	Fundação	Biblioteca	Nacional,	de	acordo	com	as	Leis	nºs	10.994,
de	14/12/2004	e	12.192,	de	14/01/2010.
	
FICHA	TÉCNICA
EDITORIAL
Augusto	V.	de	A.	Coelho
Marli	Caetano
Sara	C.	de	Andrade	Coelho
ASSESSORIA	EDITORIAL Bruna	Fernanda	Martins
COMITÊ	EDITORIAL
Andréa	Barbosa	Gouveia	-	Ad	hoc.
Edmeire	C.	Pereira	-	Ad	hoc.
Iraneide	da	Silva	-	Ad	hoc.
Jacques	de	Lima	Ferreira	-	Ad	hoc.
Marilda	Aparecida	Behrens	-	Ad	hoc.
DIREÇÃO	–	ARTE	E	PRODUÇÃO Adriana	Polyanna	V.	R.	da	Cruz
DIAGRAMAÇÃO
CAPA
Isabelle	Natal
Matheus	Ribeiro
REVISÃO Marta	Zanatta	Lima
WEB	DESIGNER Carlos	Eduardo	H.	Pereira
GERENTE	COMERCIAL Eliane	de	Andrade
LIVRARIAS	E	EVENTOS Estevão	Misael	|	Milene	Salles	
ADMINISTRATIVO Selma	Maria	Fernandes	do	Valle
CONVERSÃO	PARA	E-PUB Estevão	Misael	
	
COMITÊ	CIENTÍFICO	DA	COLEÇÃO	CIÊNCIAS	SOCIAIS	-	SEÇÃO	CIÊNCIA	POLÍTICA
	
DIREÇÃO	CIENTIFICA Fabiano	Santos	-	UERJ/IESP
CONSULTORES Alícia	Ferreira	Gonçalves	–	UFPB	 José	 Henrique	 Artigas	 de	 Godoy	 –UFPB	
Artur	Perrusi	–	UFPB	 Josilene	Pinheiro	Mariz	–	UFCG	
Carlos	 Xavier	 de	 Azevedo	 Netto	 –
UFPB	 Leticia	Andrade	–	UEMS	
Charles	Pessanha	–	UFRJ	 Luiz	Gonzaga	Teixeira	–	USP	
Flávio	Munhoz	Sofiati	–	UFG Marcelo	Almeida	Peloggio	–	UFC	
Elisandro	 Pires	 Frigo	 –
UFPR/Palotina	
Maurício	Novaes	Souza	–	IF	Sudeste
MG
Gabriel	 Augusto	 Miranda	 Setti	 –
UnB	 Michelle	Sato	Frigo	–	UFPR/Palotina	
Geni	Rosa	Duarte	–	UNIOESTE	 Revalino	Freitas	–	UFG	
Helcimara	de	Souza	Telles	–	UFMG Rinaldo	José	Varussa	–	UNIOESTE
Iraneide	 Soares	 da	 Silva	 –	 UFC,
UFPI Simone	Wolff	–	UEL
João	Feres	Junior	–	UERJ	 Vagner	José	Moreira	–	UNIOESTE
AMBIENTALISTAS
Jordão	Horta	Nunes	–	UFG
Eda	Maria	Goes	–	Unesp
João	Lima	Sant'anna	Neto	–	Unesp
Manoel	Calaça	–	UFG
João	Batista	de	Deus	–	UFG
Valéria	 Cristina	 Pereira	 da	 Silva	 –
UFG
Elizeu	Ribeiro	Lira	–	UFT
Lucas	Barbosa	e	Souza	–	UFT
Eguimar	Felício	Chaveiro	–	UFG
Eliana	 Marta	 Barbosa	 de	 Morais	 –
UFG
Editora	e	Livraria	Appris	Ltda.
Rua	General	Aristides	Athayde	Junior,	1027	–	Bigorrilho	|	Curitiba/PR	–	CEP:	80710-
520
Tel:	(41)	3156-4731	|	(41)	3030-4570	|	http://www.editoraappris.com.br/
http://www.editoraappris.com.br
Às/aos	nossas/os	estudantes	de	Ciência	Política
	
Educação	não	transforma	o	mundo.
Educação	muda	pessoas.
Pessoas	transformam	o	mundo.
(Paulo	Freire)
	
PREFÁCIO
Jovens	professores	e	pesquisadores	da	Escola	de	Ciência	Política	da
Unirio	reúnem,	neste	livro,	capítulos	sobre	os	principais	temas,	atuais	e
clássicos,	 da	 Ciência	 Política.	 Trata-se	 de	 coletânea	 destinada	 a	 ser
utilizada	 nos	 cursos	 de	 graduação	 em	Ciências	Sociais	 em	geral	 e	 de
Ciência	Política	em	particular	nas	instituições	de	ensino	superior	no	País.
De	especial	mérito	é	a	utilização	de	linguagem	clara,	sem	abrir	mão	do
rigor	conceitual.	Nesse	sentido,	o	 livro	 também	 incorpora	a	perspectiva
de	divulgação	científica.
Ao	 tratar	 de	 temas	 contemporâneos	 e	 clássicos,	 a	 coletânea	 tem	o
propósito	 de	 apresentar	 o	 “estado	 da	 arte”	 de	 campos	 temáticos
expressivos	 nas	 Ciências	 Sociais	 e	 na	 Ciência	 Política.	 Temas	 como
teoria	 política,	 ideologias,	 direitos	 humanos,	 instituições,	 partidos,
sistemas	 partidários,	 eleições,	 movimentos	 sociais,	 relações
internacionais,	 políticas	 públicas,	 pensamento	 político	 e	 sociologia
política	 são	 apresentados	 no	 melhor	 estilo	 da	 Ciência	 Política.	 Além
desses	 temas,	 um	 dos	 capítulos	 trata	 da	 importante	 questão	 da
metodologia	que	deve	guiar	as	análises	dos	estudos	da	área.
O	livro	tem	tudo	para	atrair	a	atenção	de	alunos	e	de	todos	aqueles
interessados	em	desvendar	de	forma	mais	cuidadosa	questões	teóricas,
conceituais	e	metodológicas	que	ajudarão	o	 leitor	a	entender	a	política
como	ciência.
Por	 fim,	 a	 coletânea	 tem	 dois	 outros	 atrativos.	 O	 primeiro	 é	 a
diversidade	 de	 temas,	 e	 o	 segundo	 é	 oferecer	 ao	 leitor	 um	 retrato
abrangente,	mas	rigoroso,	dessas	questões.
Esta	 não	 é	 uma	 empreitada	 fácil	 e	 a	 expectativa	 é	 de	 que	 os
organizadores	e	os	autores	dos	diversos	capítulos	não	parem	por	aqui	e
continuem	 perseguindo	 e	 disseminando	 o	 melhor	 entendimento	 do
mundo	da	política	na	sua	perspectiva	científica.
Professora	doutora	Celina	Souza
Pesquisadora	associada	do	Centro	de	Estudos	e	Pesquisas	em	Humanidades	(CRH)	da	Universidade	Federal
da	Bahia
	
	
	
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	
Cristiane	Batista	e	Enara	Echart	Muñoz
CAPÍTULO	1
A	POLÍTICA	E	SEUS	VÁRIOS	SIGNIFICADOS:	ALGUMAS
NOTAS	INTRODUTÓRIAS		
André	Coelho
CAPÍTULO	2
TEORIA	POLÍTICA	
Marcia	Ribeiro	Dias
CAPÍTULO	3
IDEOLOGIAS	POLÍTICAS	E	DECLARAÇÕES	DE	DIREITOS	
Fernando	Quintana
CAPÍTULO	4
INTRODUÇÃO	AO	CONCEITO	DE	ALIENAÇÃO	EM	HEGEL	E
EM	MARX	
Clarisse	Gurgel
CAPÍTULO	5
A	INCESSANTE	DISPUTA:	AS	IDEOLOGIAS	POLÍTICAS	E	O
QUE	DEVE	SER	FEITO	
Guilherme	Simões	Reis
CAPÍTULO	6
PENSAMENTO	POLÍTICO	BRASILEIRO		
Fabricio	Pereira	da	Silva	e	Luciana	Fernandes	Veiga
CAPÍTULO	7
OS	SISTEMAS	POLÍTICOS	E	AS	PRIORIDADES	DA	CIÊNCIA
POLÍTICA	
Guilherme	Simões	Reis
CAPÍTULO	8
INSTITUIÇÕES	POLÍTICAS	BRASILEIRAS	
Cristiane	Batista
CAPÍTULO	9
OS	PARTIDOS	POLÍTICOS	
José	Paulo	Martins	Junior
CAPÍTULO	10
ELEIÇÕES,	CAMPANHAS	ELEITORAIS	E	VOTO	
Felipe	Borba
CAPÍTULO	11
POLÍTICAS	PÚBLICAS	E	O	CONHECIMENTO	DO	“ESTADO	EM
AÇÃO”	
João	Roberto	Lopes	Pinto
CAPÍTULO	12	MOVIMENTOS	SOCIAIS	E	AÇÃO	COLETIVA	
Enara	Echart	Muñoz	|	Clarisse	Gurgel	|	João	Roberto	Lopes	Pinto		
		
CAPITULO	13
SÍNTESES	TEÓRICAS,	MUDANÇA	SOCIAL	E	RELAÇÕES	DE
PODER	
Cesar	Sabino
CAPÍTULO	14
RELAÇÕES	INTERNACIONAIS	
Enara	Echart	Muñoz
CAPÍTULO	15
POLÍTICA	E	SOCIEDADE	NA	AMÉRICA	LATINA	
Fabricio	Pereira	da	Silva
CAPÍTULO	16
POLÍTICA	E	SOCIEDADE	NA	AMÉRICA	LATINA							
Luciana	Fernandes	Veiga
SOBRE	OS	AUTORES	
	
INTRODUÇÃO
Cristiane	Batista	e	Enara	Echart	Muñoz
O	 interesse	 pela	 política,	 essencial	 em	 uma	 democracia,	 deve	 ser
acompanhado	de	um	maior	conhecimento	dos	processos	decisórios,	das
instituições	 políticas	 e	 da	 atuação	 dos	 diferentes	 atores	 nos	 variados
níveis	 de	 governo	 (local,	 estadual,	 federal,	 regional	 e	 internacional).
Como	 docentes	 e	 pesquisadores	 da	 área	 de	 Ciência	 Política,
comprometidos	com	a	construção	de	uma	consciência	crítica	e	de	uma
cidadania	 informada,	 voltadas	 para	 uma	 participação	 mais	 ativa	 dos
processos	políticos	democráticos,	nós,	professores/as	do	Departamento
de	 Estudos	 Políticos	 da	 Escola	 de	 Ciência	 Política	 da	 Universidade
Federal	do	Estado	do	Rio	de	Janeiro	(Unirio),	elaboramos	este	livro	com
o	intuito	de	contribuir	para	esse	aprendizado.
A	 ideia	 norteadora	 do	 livro	 é	 oferecer	 uma	 visão	 geral	 da	 Ciência
Política	como	campo	de	conhecimento.	O	objetivo	é,	por	um	lado,	propor
um	primeiro	contato	com	alguns	conceitos	centrais	do	arcabouço	teórico
e	empírico	da	Ciência	Política,	assim	como	com	os	instrumentos	básicos
para	a	reflexão	política	autônoma.	Por	outro	lado,	visa	servir	de	material
docente	 para	 os	 Cursos	 de	 Ciência	 Política.	 Para	 isto,	 o	 livro	 foi
organizado	 de	 formaa	 abranger	 alguns	 dos	 temas	 principais	 da	 área,
tais	 como	 Teoria	 Política,	 Ideologias	 Políticas,	 Direitos	 Humanos,
Instituições	 Políticas,	 Partidos	 e	 Sistemas	 Partidários,	 Teoria	 das
Relações	 Internacionais,	 Políticas	 Públicas,	 Sociologia	 Política,	 dentre
outros.	 Cada	 um	 dos	 capítulos	 foi	 redigido	 por	 um/a	 professor/a	 do
Curso	de	Ciência	Política	da	Unirio	especialista	nas	diversas	áreas.
O	 Curso	 de	 Bacharel	 em	 Ciência	 Política	 da	 Unirio	 foi	 criado	 em
2008,	no	contexto	do	Programa	de	Apoio	e	Planos	de	Reestruturação	e
Expansão	das	Universidades	Federais	(Reuni).	Único	na	área	no	estado
do	 Rio	 de	 Janeiro,	 o	 curso	 surge	 para	 atender	 à	 “necessidade	 de	 se
formar	 um	 número	 mais	 expressivo	 de	 profissionais	 qualificados	 para
promover	 a	 investigação	 científica	 e	 tornar	 o	 conhecimento	 da	Ciência
Política	 um	 conhecimento	 aplicado,	 operativo,	 capaz	 de	 intervir	 na
realidade	que	estuda,	 trazendo	soluções”	 (como	defende	a	Justificativa
do	Projeto	Pedagógico	do	Curso).	Visa	formar	quadros	capazes	de	atuar
em	 diferentes	 domínios,	 tais	 como	 gestão	 em	 políticas	 públicas,
consultorias	 políticas,	 organismos	 interacionais,	 organizações	 da
sociedade	 civil,	 movimentos	 sociais,	 dentre	 outros.	 Através	 do	 Exame
Nacional	 do	 Ensino	 Médio	 (Enem),	 cinquenta	 alunos/as	 ingressam	 no
curso	 a	 cada	 semestre.	 Muitos	 dos	 egressos	 já	 estão	 incorporados	 a
programas	 de	 pós-graduação	 stricto	 sensu	 (mestrado	 e	 doutorado)	 em
instituições	 acadêmicas	 de	 todo	 o	 país,	 como	 o	 Instituto	 de	 Estudos
Sociais	 e	 Políticos	 da	 Universidade	 do	 Estado	 do	 Rio	 de	 Janeiro
(Iesp/Uerj);	 Universidade	 Federal	 do	 Rio	 de	 Janeiro	 (UFRJ);
Universidade	 Federal	 Fluminense	 (UFF);	 Universidade	 de	 São	 Paulo
(USP),	Universidade	Federal	da	Bahia	(UFBA),	para	citar	alguns.
No	que	diz	 respeito	às	parcerias	 institucionais,	 a	Escola	de	Ciência
Política	 vem	 tomando	 iniciativas	 a	 fim	 de	 atualizar	 e	 concretizar
convênios	e	acordos	de	cooperação	com	as	demais	instituições,	públicas
e	 privada,	 nacionais	 e	 internacionais,	 tais	 como	 a	 Universidade	 de
Brasília	(UnB),	a	Universidade	Federal	de	Pelotas,	o	Instituto	de	Ciências
Sociais	 da	 Universidade	 de	 Lisboa	 (ICS/Ulisboa);	 a	 Universidade
Complutense	de	Madrid	 (UCM);	 a	Universidad	Nacional	 de	San	Martín
(Unsam);	 a	 Universidad	 de	 San	 Andrés	 (Unsan);	 e	 a	 Universidade
Católica	de	Córdoba	(UCC),	as	três	últimas	argentinas.
Atualmente,	o	curso	de	Ciência	Política	da	Unirio	conta	com	um	corpo
docente	 composto	 por	 treze	 professores,	 doutores	 em	Ciência	 Política
ou	áreas	afins,	que	desenvolvem	atividades	de	ensino,	de	pesquisa	e	de
extensão.	 Estão	 inseridos	 em	 importantes	 redes	 acadêmicas	 e
participam	 ativamente	 de	 Encontros	 e	 Congressos	 acadêmicos,
nacionais	 e	 internacionais,	 tais	 como	Associação	 Brasileira	 de	Ciência
Política	(ABCP),	Associação	Nacional	de	Pós-Graduação	e	Pesquisa	em
Ciências	 Sociais	 (Anpocs),	 Associação	 Latino-Americana	 de	 Ciência
Política	 (Alacip),	Sociedade	Argentina	 de	Ciência	Política	 (Saap),	 Latin
American	 Studies	 Association	 (Lasa),	 International	 Political	 Science
Association	 (IPSA),	 American	 Political	 Science	 Association	 (Apsa)	 etc.
Desenvolvem	pesquisas	e	publicam	nas	mais	diversas	áreas	da	Ciência
Política,	 que	 são	 apresentadas	 aqui	 de	maneira	 introdutória.	 Assim,	 o
livro,	como	um	todo,	encontra-se	estruturado	na	forma	descrita	a	seguir.
A	primeira	parte	se	dedica	a	explorar	algumas	questões	mais	teóricas
em	 torno	 da	 ciência	 política	 e	 alguns	 de	 seus	 elementos	 centrais:	 a
política,	 a	 ideologia,	 os	 direitos	 humanos,	 a	 alienação.	 No	 primeiro
capítulo,	 A	 política	 e	 seus	 vários	 significados:	 algumas	 notas	 introdutórias,
André	 Coelho	 apresenta	 alguns	 dos	 conceitos	 mais	 básicos	 sobre	 o
entendimento	acadêmico	acerca	do	que	é	a	Política.	Desde	o	surgimento
da	reflexão	sobre	a	Política	na	Grécia	Antiga	até	a	tipologia	moderna	das
formas	 de	 poder,	 o	 autor	 analisa	 a	 relação	 entre	 Política,	 Poder	 e
Estado.	Para	além	desta	visão	clássica,	adota-se	uma	aproximação	mais
holística,	que	exige	levar	em	conta	a	relação	mais	ampla	entre	política	e
interesse	público,	mostrando	a	 influência	da	política	nos	mais	diversos
fenômenos	sociais.
O	segundo	capítulo,	de	Marcia	Ribeiro	Dias,	apresenta	um	panorama
geral	 do	 desenvolvimento	 da	 Teoria	 política.	 Esta	 teoria	 reúne	 um
conjunto	de	conceitos	básicos	do	pensamento	humano	centrais	para	a
compreensão	 da	 interação	 política:	 quem	 somos,	 que	 lugar	 ocupamos
no	 mundo	 e	 como	 nos	 relacionamos	 com	 os	 demais.	 Natureza,
liberdade,	 igualdade,	 justiça	e	lei	são	alguns	dos	conceitos	que	a	teoria
política	fornece	e	que	servem	de	lente	analítica	para	a	interpretação	de
movimentos	políticos,	 sistemas	de	governo,	 ideologias,	da	cooperação,
do	conflito	e	da	competição	política.
No	 terceiro	 capítulo,	 Ideologias	 políticas	 e	 declarações	 de	 direitos,
Fernando	Quintana	analisa	a	afirmação	histórico-normativa	e	justificação
político-ideológica	 dos	 direitos	 humanos,	 que	 pode	 ser	 observada
quando	 se	 estuda	 a	 sua	 trajetória	 histórica	 e	 as	 correntes	 ideológicas
que	animam	as	diversas	declarações	de	direitos.	O	autor	mostra	como
os	 direitos	 humanos	 podem	 ser	 situados	 historicamente,	 pensados
teoricamente,	 praticados	 socialmente,	 concretizados	 juridicamente	 e
institucionalmente,	bem	como	polemizados	ideologicamente.
O	 quarto	 capítulo,	 de	 Clarisse	 Gurgel,	 oferece	 uma	 Introdução	 ao
conceito	 de	 alienação	 em	 Hegel	 e	 Marx.	 Apesar	 de	 ser	 um	 conceito
amplamente	 utilizado	 (seja	 como	 desconhecimento	 das	 forças	 que
influem	em	nosso	modo	de	viver	ou	como	privação	e	obstáculos	para	a
autodeterminação),	 seu	 sentido	 nem	 sempre	 é	 entendido
adequadamente.	 Pela	 relevância	 do	 conceito	 para	 o	 entendimento	 da
política,	 são	 abordadas	 no	 capítulo	 as	 noções	 de	 alienação
(Entfremdung)	 e	 estranhamento	 (Entausserung),	 a	 partir	 das	 reflexões
dos	dois	filósofos,	Hegel	e	Marx.
No	 quinto	 capítulo,	 Guilherme	 Simões	 Reis	 apresenta	 A	 incessante
disputa:	 as	 ideologias	 políticas	 e	 o	 que	 deve	 ser	 feito.	 Trata-se	 de	 uma
tentativa	 de	 mapear	 algumas	 das	 diferentes	 formas	 de	 se	 entender
ideologia,	para,	a	partir	daí,	discutir	suas	 funções,	sua	 importância,	e	a
recorrente	negação	dela.	Completado	esse	exercício,	discorre-se	sobre
as	 principais	 visões	 sociais	 do	mundo,	 algumas	 delas	 voltadas	 para	 a
manutenção	do	status	quo,	enquanto	outras	procuram	a	transformação	da
realidade.	A	análise	foca	nas	linhas	conservadoras,	liberais	e	socialistas.
O	 capítulo	 seis,	 de	 Fabricio	 Pereira	 e	 Luciana	 Veiga,	 apresenta	 o
Pensamento	 político	 brasileiro,	 discutindo	 questões	 básicas	 em	 torno	 da
delimitação	dessa	área	de	estudos,	notadamente	as	reflexões	em	torno
de	sua	definição	enquanto	“teoria”	ou	“pensamento”	e	seus	recortes	em
torno	 do	 “político”	 ou	 do	 “social”.	 Na	 sequência,	 aponta	 algumas	 das
grandes	chaves	analíticas	tratadas	por	essa	literatura	e	seus	estudiosos
(tais	 como	 “nação”,	 “modernização”,	 “democracia”	 e	 “ordem”).
Finalmente	 sugere-se	 uma	 bibliografia	 básica	 de	 autores	 considerados
“clássicos”	e	trabalhos	de	estudiosos	do	tema.
A	partir	do	capítulo	sétimo	são	apresentados	os	principais	sistemas,
processos	 e	 atores	 políticos,	 com	 foco	 no	 caso	 brasileiro.	 Guilherme
Simões	Reis	analisa	Os	sistemas	políticos	e	as	prioridades	da	ciência	política,
mostrando	as	fortes	interações	e	mútuas	influências	entre	os	diferentes
sistemas	que	compõem	um	sistema	político,	como	o	eleitoral	(majoritário
ou	proporcional),	o	partidário	 (dependendo	do	número	de	partidos)	e	o
de	governo	(parlamentarista	ou	presidencialista).	O	debate	em	torno	da
estabilidade	ou	instabilidade	permeia	as	preocupações	deste	capítulo.
O	 capítulo	 oitavo,	 de	 CristianeBatista,	 dedica-se	 às	 Instituições
políticas	 brasileiras,	 mostrando	 o	 impacto	 das	 instituições	 políticas
(Executivo	 e	 Legislativo)	 no	 processo	 decisório	 brasileiro	 e	 na
formulação	e	implementação	da	agenda	do	Executivo.	O	capítulo	visa	à
compreensão	das	principais	características	do	 legislativo	brasileiro,	dos
diferentes	 tipos	 de	 votação	 legislativa,	 bem	 como	 dos	 poderes
legislativos	do	presidente	no	Brasil	e	os	efeitos	das	instituições	políticas
sobre	a	produção	de	políticas	públicas.
O	 capítulo	 nove	 apresenta	Os	 partidos	 políticos.	 José	 Paulo	 Martins
Junior	 analisa	 os	 partidos	 políticos	 e	 os	 sistemas	 partidários	 nas
democracias	 contemporâneas,	 oferecendo	 uma	 visão	 panorâmica	 de
suas	 origens,	 desenvolvimento	 e	 transformações	 e	 da	 maneira	 como
eles	desempenham	seus	papéis	nas	sociedades	contemporâneas.	Para
tanto,	 é	 necessário	 apresentar	 os	 partidos,	 tanto	 em	 seus	 aspectos
teórico-conceituais	como	nos	histórico-comparativos,	 focando	em	como
eles	têm	sido	abordados	em	estudos	das	experiências	nas	democracias
consolidadas	e	no	Brasil.
Felipe	Borba	analisa,	no	décimo	capítulo,	Eleições,	campanhas	eleitorais
e	 voto.	 O	 objetivo	 é	 debater	 os	 principais	 conceitos	 associados	 às
explicações	da	decisão	do	voto:	por	que	os	indivíduos	votam	da	maneira
que	votam?	O	que	motiva	o	eleitor	a	escolher	determinado	candidato	ou
partido	 em	 detrimento	 de	 outros?	 As	 campanhas	 exercem	 influência
sobre	o	comportamento	do	eleitor?	Tais	questões,	embora	de	aparência
simples,	 têm	 estimulado	 importantes	 debates	 em	 torno	 das	 principais
teorias	do	voto	e	como	elas	influenciaram	os	estudos	sobre	eleições	no
Brasil.
No	 capítulo	 onze,	 João	 Roberto	 Lopes	 Pinto	 apresenta	 as	Políticas
públicas	 e	o	 conhecimento	do	“Estado	em	ação”.	Centra-se	no	estudo	dos
programas	 governamentais,	 particularmente	 suas	 condições	 de
emergência,	seus	mecanismos	de	operação	e	seus	prováveis	 impactos
sobre	 a	 ordem	 social	 e	 econômica,	 ou	 seja,	 no	 “ciclo	 das	 políticas
públicas”,	 que	 envolveria,	 pelo	 menos,	 três	 momentos:	 formulação,
implementação	 e	 resultados.	 Inclui,	 para	 tal,	 a	 análise	 da	 dimensão
material	da	política	(policy),	a	institucional	(polity)	e	a	do	processo	político
(politics).
O	 capítulo	 doze,	 de	 Enara	 Echart	 Muñoz,	 Clarisse	 Gurgel	 e	 João
Roberto	Pinto,	dedica-se	a	Movimentos	sociais	e	ação	coletiva.	Apesar	de
invisibilizada	nas	análises	clássicas	da	Ciência	Política,	a	ação	coletiva
dos	movimentos	sociais	tem	um	impacto	importante	na	vida	política,	nos
processos	de	democratização	e	na	discussão	sobre	as	políticas	públicas.
Essa	 ação	 coletiva	 é	 estudada	 a	 partir	 de	 diversas	 concepções
(conservadoras,	socialistas,	comunistas,	anarquistas,	autonomistas	etc.)
e	 em	 várias	 dimensões	 para	 dar	 conta	 da	 complexidade	 de	 relações
entre	os	atores	sociais	e	as	instituições	do	Estado.
César	Sabino	oferece	uma	análise	das	Sínteses	teóricas,	mudança	social
e	relações	de	poder	no	capítulo	treze.	Para	tal,	apresenta	alguns	aspectos
das	 teorias	 sociais	 de	 três	 dos	 mais	 destacados	 autores
contemporâneos	 em	 Sociologia	 (Talcott	 Parsons,	 Anthony	 Giddens	 e
Pierre	Bourdieu)	e	seus	debates	relacionados	às	relações	de	poder,	suas
configurações	 e	 ligações	 com	 as	 mudanças	 e	 permanências	 das
estruturas	 sociais.	 O	 capítulo	 sugere	 que	 as	 narrativas	 teóricas	 em
ciências	 sociais	 apresentam	 relação	 indireta	 ou	 direta	 com	 elementos
filosóficos	 ou	 metateóricos	 presentes	 nas	 entrelinhas	 dos	 discursos
praticados	pelos	autores.
Os	seguintes	capítulos	oferecem	um	marco	de	análise	internacional	e
regional	da	política.
No	capítulo	quatorze,	Enara	Echart	Muñoz	realiza	uma	introdução	ao
campo	 teórico	 das	 Relações	 Internacionais,	 analisando	 as	 principais
escolas,	 temas,	 correntes	 e	 perspectivas	 que	 organizam	 os	 grandes
debates	da	disciplina	(realismo,	liberalismo,	estruturalismo,	teoria	crítica,
construtivismo,	teorias	pós-modernas	etc.).	Para	isto,	será	apresentada	a
evolução	 da	 disciplina	 em	 função	 das	mudanças	 no	 contexto	 histórico
internacional,	desde	o	final	da	Primeira	Guerra	Mundial	até	a	atualidade.
Fabricio	 Pereira	 da	 Silva	 dedica	 o	 capítulo	 quinze	 a	 Política	 e
sociedade	na	América	Latina.	Apresenta	panoramicamente	o	surgimento	e
desenvolvimento	 do	 conceito	 de	 “América	 Latina”,	 discutindo	 em	 que
sentido	 ele	 pode	 ser	 útil	 nos	 dias	 de	 hoje.	 Na	 sequência,	 destaca	 os
principais	 temas	 trabalhados	 atualmente	 pela	 literatura	 especializada
sobre	 a	 região	 (democracia;	 integração	 regional;	 novas	 identidades	 e
movimentos	 sociais;	 e	 pobreza	 e	 desigualdade),	 sugerindo	 uma
bibliografia	básica	para	cada	um	deles.
Finalmente,	 o	 capítulo	 dezesseis,	 de	 Luciana	 Fernandes	 Veiga,
oferece	uma	aproximação	à	Metodologia	em	Ciência	Política.	O	capítulo	se
inicia	com	o	debate	sobre	epistemologia	e	os	principais	paradigmas	das
Ciências	 Sociais;	 com	 destaque	 para	 como	 a	 escolha	 dentre	 tais
paradigmas	estrutura	o	estudo	científico.	O	objetivo	principal	é	detalhar
como	 se	 elabora	 um	 desenho	 de	 pesquisa:	 definição	 de	 seu	 objetivo;
escolha	e	operacionalização	acuradas	de	conceitos	teóricos	e	variáveis;
seleção	adequada	das	técnicas	de	observação,	assim	como	noções	para
redação	científica.
Todos	 os	 capítulos	 do	 livro	 foram	 redigidos	 em	 uma	 linguagem
acessível,	 apresentando	 os	 diferentes	 conceitos	 de	 forma	 clara	 e
didática.	No	 final	de	cada	capítulo	encontram-se	suas	 ideias	básicas	e
pontos	de	síntese,	além	de	sugestões	de	 leituras	para	aprofundar	cada
temática.	 Como	 material	 docente	 adicional	 incluem-se	 perguntas	 para
discussão	e	propostas	de	exercícios	em	sala	de	aula.
Com	este	 livro,	procuramos	oferecer	 informação	e	conhecimento	de
qualidade	 dos	 processos	 políticos,	 contribuindo	 para	 uma	 melhor
qualidade	 dos	 debates	 e	 da	 atuação	 política	 das	 pessoas	 e
comunidades.	 Cumpre-se,	 assim,	 a	 missão	 da	 educação	 superior	 de
“educar	 para	 a	 cidadania	 e	 a	 participação	 plena	 na	 sociedade	 com
abertura	 para	 o	 mundo,	 visando	 construir	 capacidades	 endógenas	 e
consolidar	 os	 direitos	 humanos,	 o	 desenvolvimento	 sustentável,	 a
democracia	 e	 a	 paz	 em	um	 contexto	 de	 justiça”,	 conforme	 previsto	 na
Declaração	mundial	sobre	a	educação	superior	no	século	XXI,	adotada
pela	Unesco	em	1998.	Acreditamos	na	educação	como	um	instrumento
essencial	 para	 enfrentar	 com	 êxito	 os	 desafios	 do	 mundo	 moderno	 e
para	formar	cidadãos	capazes	de	construir	uma	sociedade	mais	 justa	e
aberta,	baseada	na	solidariedade,	no	respeito	aos	direitos	humanos	e	no
uso	 compartilhado	 do	 conhecimento	 e	 da	 informação.	 Esperamos	 que
este	livro	seja	útil	a	todos/as	aqueles/as	interessados/as	nas	discussões
políticas.
Não	 poderíamos	 encerrar	 esta	 introdução	 sem	 agradecer	 aos/às
nossos/as	 estudantes	 da	 Unirio,	 que	 nos	 incentivaram	 na	 elaboração
deste	 livro,	 contribuindo	 com	 suas	 perguntas	 e	 reflexões	 para	 o
enriquecimento	 das	 discussões	 que	 aqui	 se	 apresentam.	 Dentre	 eles,
merece	 especial	 destaque	 Matheus	 Ribeiro,	 também	 conhecido	 como
Ribs,	 que	 ilustra	 a	 presente	 obra	 com	 as	 suas	 sempre	 instigantes
charges.
	
	
CAPÍTULO	1
A	POLÍTICA	E	SEUS	VÁRIOS	SIGNIFICADOS:	ALGUMAS	NOTAS	INTRODUTÓRIAS
André	Coelho
	
Escrever	 um	 artigo	 introdutório	 sobre	 o	 significado	 da	 política
definitivamente	não	é	algo	fácil.	Mesmo	tendo	toda	uma	vida	profissional
dedicada	à	Ciência	Política	–	graduação,	mestrado,	doutorado	e	alguns
anos	 de	 docência	 na	 área	 –	 ainda	 acredito	 que	 reduzir	 toda	 a
complexidade	 da	 política	 em	 poucas	 páginas	 seja	 uma	 tarefa
extremamente	 difícil.	 Como	 afirmou	 João	 Ubaldo	 Ribeiro	 (2010),	 se
escreveu	muito	pouco	no	mundo	mais	do	que	política	 (talvez	 religião	e
amor,	 que	 também	 podem	 ser	 percebidas	 como	 formas	 de	 se	 fazer
política).	Dessa	maneira,esse	capítulo	é	uma	 tentativa	de	diálogo	com
diversas	 tradições	 teóricas	 e	 ideológicas	 sobre	 o	 que	 é	 a	 política,
buscando	 discutir	 suas	 várias	 possíveis	 definições	 sem,	 contudo,	 ter
nenhuma	pretensão	de	esgotar	o	tema.
A	invenção	da	política
Inicialmente,	 cabe	 dizer	 que	 mesmo	 a	 definição	 sobre	 “o	 que	 é	 a
política”	 não	 é	 tarefa	 simples	 ou	 considerada	 pacífica	 entre	 os
especialistas	 da	 área.	 Podemos	 começar	 com	 os	 escritos	 de	 Bobbio
(2000,	p.	954),	que	afirma	que	a	origem	etimológica	da	palavra	Política	é
a	palavra	grega	Pólis,	que	tem	seu	significado	relacionado	a	tudo	o	que
se	refere	à	cidade	e,	consequentemente,	ao	que	é	urbano,	civil,	público.
De	acordo	com	Ivone	Lixa	(2003),	o	nascimento	da	reflexão	sobre	a
política	 resultou	 das	 condições	 específicas	 do	 modo	 de	 vida	 grega
ateniense:	 a	 existência	 da	 já	 citada	 Pólis	 (Cidade-Estado)	 e	 o	 logos	 –
racionalização	 do	 mundo	 circundante;	 ambas	 constituindo	 distintas
dimensões	de	liberdade	e	da	pluralidade	humana.	Assim,	a	experiência
grega	ocorrida	entre	os	séculos	IV	e	VI	a.C.	foi	decisiva	para	que	autores
fundacionais	 da	 disciplina	 como	 Platão	 e	 Aristóteles	 pudessem
compreender	o	que	Ivone	Lixa	(2003)	chama	de	“choque	de	interesses”.
A	partir	daí	a	política	teria	sido	construída	como	uma	abstração	racional
acerca	 do	 conflito	 coletivo	 humano.	 Exatamente	 nesse	 contexto	 foram
criadas	 as	 bases	 teóricas	 do	 pensamento	 político	 ocidental.	 Como	 as
primeiras	discussões	sobre	os	sentidos	da	Política	datariam	de	mais	de
dois	mil	anos	atrás,	alguns	entusiastas	do	tema	afirmam	que	não	existiria
Ciência	mais	antiga	no	mundo	do	que	a	Política.
Para	 Ivone	 Lixa	 (2003),	 os	 primeiros	 diálogos	 de	 “A	 República”	 de
Platão	mostram	sua	preocupação	em	encontrar	um	melhor	caminho	para
o	 governo	 da	 cidade.	 Afirma	 a	 autora	 que,	 ao	 instituir	 a	 política	 como
ciência,	 Platão	 buscou	 estabelecer	 princípios	 teóricos	 para	 o	 bem
governar	e	este	foi	o	início	de	uma	reflexão	legada	a	toda	a	geração	de
teóricos	que	o	sucederam.
De	 acordo	 com	 Bobbio	 (2000	 p.	 934),	 o	 termo	 Política	 teria	 se
expandido	com	Aristóteles,	que	publicou	obra	com	o	mesmo	título,	que
“deve	 ser	 considerada	 como	 o	 primeiro	 tratado	 sobre	 a	 natureza,
funções	e	divisão	do	Estado,	e	sobre	as	várias	formas	de	governo,	com
a	 significação	mais	 comum	 de	 arte	 ou	 ciência	 do	 governo”.	 Na	 época
moderna,	 entretanto,	 teria	 perdido	 seu	 significado	 original,	 sendo
substituído	 pouco	 a	 pouco	 por	 outras	 expressões	 como	 Ciência	 do
Estado,	 doutrina	 do	 Estado,	 Ciência	 Política,	 Filosofia	 Política	 –	 todas
estas	atividades	ligadas	de	alguma	maneira	ao	Estado	e	à	Pólis	–	sendo
a	Pólis	por	vezes	sujeito,	por	vezes	objeto.
Buscando	 retomar	 as	 definições	 sobre	 os	 significados	 da	 Política,
João	 Ubaldo	 Ribeiro	 (2010)	 nos	 dá	 uma	 ótima	 pista	 ao	 afirmar	 que	 a
Política	pode	ser	entendida	como	o	exercício	de	alguma	forma	de	poder
e,	 naturalmente,	 às	múltiplas	 consequências	 desse	 exercício.	 Talvez	 a
palavra	 mais	 importante	 da	 afirmação	 acima	 –	 poder	 –	 seja	 uma	 das
chaves	para	se	compreender	o	que	é	a	política.
Política	e	poder
Quando	 falamos	 de	 poder,	 devemos	 necessariamente	 aludir	 à
tipologia	moderna	das	 formas	de	poder	 formulada	por	Bobbio	 (2000)	a
partir	dos	meios	pelos	quais	o	poder	é	exercido.	O	primeiro	seria	o	Poder
Econômico,	 que	 significaria	 a	 posse	 de	 bens	 necessários	 ou
considerados	 assim	 em	 uma	 situação	 de	 escassez,	 podendo	 induzir
aqueles	que	não	os	possuem	a	certo	comportamento	ou	principalmente
certo	 tipo	 de	 trabalho.	 Em	 geral,	 aquele	 que	 possui	 em	 abundância
determina	 a	 vida	 daquele	 que	 vive	 na	 penúria,	 mediante	 promessa	 e
concessão	de	vantagens	(BOBBIO,	2000,	p.	955).
O	 segundo	 tipo	 seria	 o	 Poder	 Ideológico,	 onde	 o	 mais	 importante
seria	 a	 influência	 das	 ideias	 –	 formuladas	 de	 certa	 maneira,	 por
pessoa(s)	 investida(s)	 de	 alguma	 autoridade	 e	 difundida	 mediante
determinados	 processos	 –,	 sobre	 o	 comportamento	 dos	 comandados
(BOBBIO,	2000,	p.	956).
Finalmente	 o	 Poder	 Político	 seria	 caracterizado	 pela	 posse	 dos
instrumentos	pelos	quais	 se	exerce	a	 força	 física,	 isto	é,	 por	meio	das
armas	de	qualquer	espécie	e	grau.	Trata-se	do	monopólio	autorizado	e
exclusivo	do	uso	da	 força	–	é	o	poder	de	coação	–	que	será	discutido
mais	detalhadamente	nas	próximas	páginas.
Todos	esses	poderes	mantêm	uma	espécie	de	sociedade	desigual.	O
Poder	Econômico,	uma	sociedade	dividida	entre	ricos	e	pobres;	o	Poder
Ideológico,	 entre	 sábios	 e	 ignorantes	e	 o	Poder	Político,	 entre	 fortes	 e
fracos.	Genericamente,	entre	superiores	e	inferiores.
Segundo	 Bobbio	 (2000,	 p.	 954)	 o	 conceito	 de	 Política	 estaria
estritamente	 ligado	 ao	 de	 poder.	 A	 Política	 estaria	 relacionada	 com	 o
domínio	da	natureza	e	o	domínio	de	homens	sobre	outros	homens	ou,
em	outras	palavras,	com	a	relação	entre	dois	sujeitos,	na	qual	um	impõe
sua	vontade	ao	outro	e	lhe	determina	o	comportamento.	O	poder	político
estaria	 enquadrado	 na	 categoria	 de	 poder	 de	 um	 homem	 sobre	 outro
homem.	 Essa	 relação	 poderia	 se	 constituir	 de	 mil	 maneiras,	 como
afirmava	 Aristóteles	 em	 sua	 referida	 obra	 clássica:	 governantes	 e
governados,	 soberano	 e	 súditos,	 Estado	 e	 cidadãos,	 autoridade	 e
obediência	etc.
Política,	Poder	e	Estado
Weber	 (2004)	 também	 afirma	 que	 o	 conceito	 de	 Política	 é
extraordinariamente	 amplo	 e	 que	 abrange	 toda	 espécie	 de	 atividade
diretiva	 humana.	 No	 entanto,	 em	 sua	 definição,	 o	 papel	 do	 Estado	 é
absoluto.	Vejamos:	“por	política	entenderemos	tão	somente	a	direção	de
um	agrupamento	político	hoje	denominado	 ‘Estado’	ou	a	 influência	que
se	 exerce	 nesse	 sentido”	 (WEBER,	 2004,	 p.	 59).	 Dito	 isto,	 temos	 que
pensar	 em	outro	 conceito	muito	 importante	 para	 a	 política	 –	 o	Estado.
Ainda	 citando	 Weber	 (2004),	 descobrimos	 que	 o	 Estado,
sociologicamente	 falando,	 não	 se	 deixa	 definir	 por	 seus	 fins,	 mas	 sim
pelo	meio	específico	que	lhe	é	peculiar.
Desenvolvendo	 um	 pouco	 mais	 sua	 argumentação,	 o	 autor	 afirma
que	“o	Estado	consiste	em	uma	relação	de	dominação	do	homem	pelo
homem,	 com	 base	 no	 instrumento	 da	 violência	 legítima	 –	 ou	 seja,	 da
violência	 considerada	 como	 legítima”	 (WEBER,	 2004,	 p.	 59).	 Dessa
maneira,	 o	 Estado	 só	 existiria	 sob	 a	 condição	 de	 que	 os	 homens
dominados	 se	 submetessem	 à	 autoridade	 continuamente	 reivindicada
pelos	dominadores.	Assim,	o	Estado	se	transformaria	na	única	fonte	do
“direito	 a	 violência”.	 Por	 conseguinte,	 teríamos	 outra	 definição	 de
política:	 “o	conjunto	de	esforços	 feitos	visando	participar	do	poder	ou	a
influenciar	a	divisão	do	poder,	seja	entre	Estados,	seja	no	interior	de	um
único	Estado”	(WEBER,	2004,	p.	60).
Daí	deriva	uma	das	definições	clássicas	da	política,	que	é	justamente
aquela	aludida	por	 tantos	autores,	desde	Maquiavel	a	Weber,	de	que	a
política	pode	ser	resumida	como	o	ato	de	convencimento	de	um	sujeito
sobre	 o	 outro	 (que	 também	 pode	 ser	 de	 um	 grupo	 sobre	 o	 outro)	 a
realizar	a(s)	vontade(s)	do	primeiro.	Em	outras	palavras,	um	bom	político
deve	 convencer	 outras	 pessoas	 a	 fazer	 aquilo	 que	 ele	 deseja.	 Tal
convencimento	 pode	 vir	 por	 meio	 da	 exposição	 clara	 de	 argumentos,
pelo	 carisma,	 pelo	 uso	 da	 lei	 e	 por	 uma	 série	 de	 outros	 motivos
percebidos	como	legítimos	–	mas,	em	última	instância	através	do	uso	da
força.
Assim,	 o	 que	 caracterizaria	 o	 poder	 político	 do	 Estado	 é	 sua
exclusividade,	isto	é,	o	monopólio	do	uso	legítimo	da	força	em	relação	a
todos	 os	 outros	 grupos	 sociais	 em	 determinado	 contexto	 social.	 Esse
processo	 ocorre	 obrigatoriamente	 ao	 mesmo	 tempo	 em	 que	 se
desenvolve	a	metodologia	de	criminalização	e	punição	do	uso	da	força,
dos	 atos	 de	 violência	 cometidos	 por	 todos	 aqueles	 que	 não	 foremautorizados	a	isso	pelo	Estado.
Karl	Deutsch	(1983,	p.	12)	conceitua	a	política	como	sendo	o	controle
mais	 ou	 menos	 imperfeito	 do	 comportamento	 humano,	 controle	 que
resultaria	 de	 hábitos	 voluntários	 de	 aquiescência	 combinados	 com	 a
ameaça	 de	 uma	 coerção	 provável.	 Em	 essência,	 a	 política	 se
fundamentaria,	 portanto,	 na	 interação	 de	 hábitos	 de	 cooperação
moldados	 por	 ameaças	 que,	 com	 o	 tempo,	 tenderiam	 a	 se	 tornar
inconscientes.	Para	Deutsch	(1983),	sem	a	existência	de	tais	hábitos	na
maioria	das	pessoas,	não	poderia	existir	 lei	ou	governo	da	forma	como
os	conhecemos.
Quando	 pensamos	 nas	 definições	 de	 política,	 poder	 e	 violência,
devemos	 refletir	 também	 na	 questão	 do	 comando.	 Ao	 refletir	 sobre	 a
noção	de	controle,	somos	obrigados	a	refletir	sobre	um	dos	significados
do	 que	 é	 a	 política.	 O	 surgimento	 do	 Estado	 é	 provavelmente	 o
aparecimento	 da	mais	 perfeita	 forma	 de	 controle	 que	 já	 existiu.	 Como
bem	diz	Weber,	com	o	uso	permitido	e	legal	da	força,	a	classe	dominante
pode	 sempre	 se	 perpetuar	 no	 poder.	 Para	 tanto,	 constrói	 regras	 e
instituições	para	aprimorar	constantemente	sua	forma	de	controle.
Bobbio	(2000,	p.	956)	afirma	que,	embora	a	possibilidade	de	recorrer
à	força	seja	o	elemento	que	distingue	o	poder	político	de	outras	formas,
isso	não	quer	dizer	que	ele	sempre	se	resolva	com	o	uso	da	força.	Ou
seja,	 tal	 possibilidade	 é	 uma	 condição	 necessária,	mas	 não	 suficiente,
para	a	existência	do	poder	político.	Nem	todos	que	podem	usar	a	força
têm	condições	de	perpetuar	esse	domínio	e	transformar	força	em	poder
político.	Maquiavel,	em	O	Príncipe,	 já	 dizia	que	o	governante	não	pode
abrir	mão	de	usar	a	força	e	a	violência	quando	necessário,	mas	deve	ter
necessariamente	 em	mente	 que	 o	 uso	 exagerado	 da	 força	 pode	 ter	 o
efeito	contrário,	aumentando	o	risco	de	revolta	dos	governados	contra	a
tirania	do	príncipe.
Política	e	interesse	público
João	Ubaldo	Ribeiro	 (2010),	no	entanto,	afirma	que	definir	a	política
apenas	como	algo	relacionado	a	poder	não	chega	a	ser	satisfatório.	Até
porque	 saber	 exatamente	 o	 que	 é	 o	 poder	 também	não	 é	 tarefa	 nada
fácil.	 Assim,	 busca	 reduzir	 um	 pouco	 mais	 o	 escopo	 dos	 significados
anteriores,	afirmando	que	a	Política	deve	estar	 ligada	necessariamente
ao	conceito	de	interesse	público.
Refinando	seus	argumentos,	o	referido	autor	retoma	a	discussão	do
conceito	de	política,	em	novas	bases:	“A	política	passa	a	ser	entendida
como	 um	 processo	 através	 do	 qual	 interesses	 são	 transformados	 em
objetivos	 e	 os	 objetivos	 são	 conduzidos	 à	 formulação	 e	 tomadas	 de
decisão	 efetivas,	 decisões	 que	 ‘vinguem’”	 (RIBEIRO,	 2010,	 p.	 10).	 Em
linguagem	mais	 formal,	 o	 que	 interessa	 é	 o	 processo	 de	 formulação	 e
tomada	de	decisões.
Essa	 percepção	 é	 exatamente	 aquela	 defendida	 por	 Karl	 Deutsch
(1983,	p.	28),	ao	afirmar	que	a	palavra	“Política”	enfatizaria	o	processo
de	 tomada	 de	 decisões	 no	 que	 diz	 respeito	 a	 atividades	 públicas,
enquanto	a	palavra	 “governo”	acentuaria	os	 resultados	desse	processo
em	termos	de	controle	e	autocontrole	da	comunidade	–	seja	uma	cidade,
Estado	 ou	 nação.	 Cabe	 ressaltar	 que,	 para	 o	 autor,	 inspirado	 por
Aristóteles,	qualquer	comunidade	maior	que	a	família	contém	elementos
de	política.
Para	João	Ubaldo	Ribeiro	(2010)	a	política	deve	então	ser	vista	como
o	estudo	e	a	prática	da	canalização	de	 interesses	com	a	 finalidade	de
conseguir	 decisões.	 Isto	 já	 foi	 chamado	 de	 arte;	 requer	 talento,
sensibilidade,	uso	da	razão,	do	poder	de	influenciar,	seduzir	e	fazer	com
que	sua	vontade	prevaleça	sobre	a	outra.
Karl	Deutsch	(1983,	p.	27)	afirma	que	a	Política	é,	em	certo	sentido,	a
tomada	 de	 decisões	 através	 de	 meios	 públicos,	 em	 contraste	 com	 a
tomada	de	decisões	pessoais,	adotadas	particularmente	pelo	 indivíduo,
bem	como	em	relação	às	decisões	econômicas,	geradas	como	resposta
a	influências	impessoais,	tais	como	o	dinheiro,	condições	de	mercado	e
escassez	de	recursos.
Refletindo	 nessa	 direção,	 Bobbio	 (1999)	 afirma	 que	 a	 política	 deve
ser	 percebida	 como	 ética	 de	 grupo,	 por	 estar	 referida	 ao	 interesse
público,	e	não	ao	interesse	e	ação	individual.	E	onde	residiria	a	diferença
entre	 essas	 duas	 éticas	 (a	 de	 grupo	 e	 a	 individual)?	 Para	 o	 autor,	 o
critério	da	ética	da	convicção	é	geralmente	usado	para	 julgar	as	ações
individuais,	 enquanto	 o	 critério	 da	 ética	 da	 responsabilidade	 é	 usado
ordinariamente	 para	 julgar	 ações	 de	 grupo	 ou	 praticadas	 por	 um
indivíduo,	mas	em	nome	e	por	conta	do	próprio	grupo,	seja	ele	o	povo,	a
nação,	 a	 igreja,	 a	 classe,	 o	 partido	 etc.	 O	 que	 diferenciaria	 a	 ética
individual	e	a	ética	de	grupo	seria	a	ação	voltada	para	a	sobrevivência
do	grupo,	do	coletivo.
Aquilo	que	é	obrigatório	para	o	 indivíduo,	não	necessariamente	o	é
para	 o	 grupo	 ao	 qual	 pertence.	 Por	 exemplo,	 a	 violência	 individual	 é
condenada.	Já	a	violência	das	instituições,	geralmente	é	justificada.	Em
outras	 palavras,	 não	 há	 necessidade	 de	 violência	 individual,	 porque
basta	a	violência	coletiva.	A	moral	pode	 resolver	ser	 tão	severa	com	a
violência	 individual	 porque	 se	 fundamenta	 na	 aceitação	 de	 uma
convivência	 que	 se	 rege	 pela	 prática	 contínua	 da	 violência	 coletiva.
Logo,	a	política	é	a	razão	do	Estado	e	a	moral,	a	razão	do	indivíduo.	Por
“razão	do	Estado”	Bobbio	compreende:
Aquele	 conjunto	 de	 princípios	 e	 máximas	 segundo	 os	 quais	 as	 ações	 que	 não
seriam	 justificadas,	 se	 praticadas	 só	 pelo	 indivíduo,	 são	 não	 só	 justificadas	 como
também	por	vezes	exaltadas	e	glorificadas	se	praticadas	pelo	príncipe	ou	por	quem
quer	que	exerça	o	poder	em	nome	do	Estado	(BOBBIO,	1999,	p.	962).
Totalidade	da	política
Ao	 refletir	 sobre	 a	 influência	 da	 política	 em	 nossa	 vida	 cotidiana,	 o
leitor	pode	se	surpreender	com	a	abrangência	e	a	totalidade	da	presença
dos	fenômenos	políticos	na	grande	maioria	das	ações	que	exercemos	e
no	ambiente	em	que	vivemos.	Para	Francis	Wolff	(2003,	p.	26),	todos	os
povos	 vivem	 politicamente;	 a	 partir	 do	 momento	 em	 que	 existiu
humanidade	em	alguma	parte	da	terra,	houve	política.
Karl	Deutsch	(1983,	p.	27),	por	exemplo,	afirma	que	nossas	cidades
constituem	 uma	 “malha	 política”.	 Da	 água	 que	 bebemos	 ao	 ar	 que
respiramos,	passando	pela	segurança	de	nossas	ruas	e	a	dignidade	de
nossos	 pobres	 ou	 a	 saúde	 dos	 nosso	 idosos,	 bem	 como	 a	 esperança
para	 os	 grupos	 minoritários,	 tudo	 está	 em	 estreita	 ligação	 com	 as
decisões	 políticas	 feitas	 pelo	 Estado	 (no	 caso	 brasileiro,	 por	 exemplo,
pelos	três	entes	federativos	–	União,	Estados	e	Municípios).
João	Ubaldo	Ribeiro	 (2010)	 vai	mais	além:	afirma	que	é	 impossível
para	o	cidadão	fugir	da	política.	Em	uma	passagem	de	sua	obra,	garante
que	mesmo	aqueles	que	se	dizem	“apolíticos”,	não	o	são	realmente.	O
que	existiria,	na	verdade,	seria	uma	posição	de	indiferença	em	relação	à
política	 por	 parte	 do	 indivíduo	 que	 assim	 age.	 Tal	 atitude,	 na	 verdade,
permitiria	que	outros	grupos,	eleitos	ou	não,	agissem	em	seu	nome	e	em
seu	 lugar,	 sem	 que	 o	 cidadão	 tivesse	 controle	 algum	 sobre	 isso.
Curiosamente,	 o	 significado	 etimológico	 da	 palavra	 “idiota”	 deriva	 do
grego	e	sua	definição	está	relacionada	inicialmente	aquele	indivíduo	que
não	 participava	 da	Pólis	 e	 por	 isso	 seria	 incapaz	 de	 exercer	 qualquer
ofício	 público,	 passando	 depois	 a	 ser	 compreendido	 como	 “homem
comum”	 –	 sem	 especial	 distinção	 –	 e	 finalmente	 “sujeito	 ignorante,	 de
pouca	 inteligência	 e	 pouca	 valia”.	 Resumidamente,	 o	 “idiota”	 pode	 ser
percebido	 também	 como	 aquele	 que	 não	 se	 interessa	 pelos	 assuntos
públicos,	somente	pelos	privados.	Seria	então	o	apolítico	um	idiota?
Se	 tomarmos	 como	 exemplo	 a	 participação	 na	 política	 através	 do
processo	eleitoral,	 perceberemos	que	mesmo	a	 recusa	do	 cidadão	em
exercer	seu	direito	ao	votojá	é	uma	posição	política	claramente	definida.
Sua	abstenção	individual	não	irá	cancelar	o	processo	eleitoral.	Tornar-se
indiferente	ao	processo	fundamental	da	democracia	representativa1	–	as
eleições	 –	 permite	 que	 os	 representantes	 eleitos	 possam	 fazer	 tudo	 o
que	 bem	 desejarem,	 já	 que	 não	 existiria	 nenhum	 tipo	 de	 controle	 do
cidadão	sobre	sua	atuação.	Diz	João	Ubaldo	Ribeiro:	“o	problema	é	que,
por	 ignorância	 ou	 apatia,	 às	 vezes	 pensamos	 que	 estamos	 sendo
indiferentes,	 mas	 na	 verdade,	 estamos	 fazendo	 o	 que	 nos	 convém”
(RIBEIRO,	2010,	p.	18).	Desenvolvendo	um	pouco	mais	suas	reflexões,
assevera	 que:	 “queiramos	 ou	 não,	 estamos	 imersos	 num	 processo
político,	que	penetra	todas	as	nossas	atitudes,	toda	a	maneira	de	ser	e
de	 agir,	 até	 mesmo	 porque	 a	 educação,	 tanto	 a	 doméstica	 quanto	 a
pública,	é	também	uma	formação	política”	(RIBEIRO,	2010,	p.	18).
Émile	 Durkheim	 em	 As	 Regras	 do	 Método	 Sociológico	 descreve	 a
educação	como	um	processo	político	e	não	natural:
[...]	toda	educação	consiste	num	esforço	contínuo	para	impor	à	criança	maneiras	de
ver,	de	sentir	e	de	agir	às	quais	ela	não	teria	chegado	espontaneamente.	[...]	Se	com
o	 tempo	essa	coerção	deixa	de	ser	 sentida,	é	porque,	pouco	a	pouco,	engendrou
hábitos	e	tendências	internas	que	a	tornam	inútil,	mas	que	só	a	substituem	porque
derivam	dela	(DURKHEIM,	2004,	p.	35).
Uma	das	principais	funções	do	Estado,	afirma	Durkheim,	consiste	em
construir	 escolas	 e	 treinar	 professores	 que	 difundam	 em	 seus	 alunos
certo	número	de	princípios	que,	implícita	ou	explicitamente,	são	comuns
a	 todos.	E	 o	 conjunto	 dos	 cidadãos	 inscritos	 no	 interior	 de	 um	Estado
simplesmente	 não	 pode	 fugir	 a	 essa	 regra.	 No	 caso	 brasileiro,	 por
exemplo,	 aqueles	 pais	 que	 optam	 por	 não	 levar	 seus	 filhos	 à	 escola
estão	 sujeitos	 à	 perda	 da	 guarda	 dos	mesmos.	 Assim	 que	 nascemos,
nossos	pais	ou	responsáveis	devem	registrar	nosso	nascimento	e	assim
nos	 tornamos	 parte	 do	Estado,	 sendo	 reconhecidos	 oficialmente	 como
membros	dessa	organização	e	 sujeitos	 às	 suas	 leis.	Ou	 seja,	 desde	o
nosso	nascimento,	a	política	está	presente	em	nossas	vidas.
Política,	natureza	humana	e	conflito
Ao	 falar	 sobre	 a	 “ciência	 da	 política”,	 Gramsci	 (1976)	 afirma	 que	 a
inovação	fundamental	trazida	pela	filosofia	da	práxis	na	Ciência	Política
e	 na	 história	 foi	 a	 demonstração	 da	 inexistência	 de	 uma	 “natureza
humana”	abstrata,	fixa	e	imutável	(conceito	que	derivaria	do	pensamento
religioso).	 Para	 o	 autor,	 a	 filosofia	 da	 práxis,	 que	 na	 realidade	 é	 o
sinônimo	que	ele	 escolheu	para	 o	marxismo	ou	materialismo	histórico,
defende	 a	 inexistência	 de	 uma	 “natureza	 humana”	 abstrata,	 fixa	 ou
imutável,	 mas	 sim	 o	 conjunto	 de	 relações	 sociais	 historicamente
determinadas,	ou	seja,	um	fato	histórico	comprovável.
Gramsci	 (1976),	 fala	 da	 importância	 de	 se	 pensar	 a	 Política	 como
ciência	 autônoma,	 ou	 seja,	 refletir	 sobre	 o	 lugar	 que	 a	 ciência	 política
ocupa.	Em	sua	opinião,	autores	como	Maquiavel,	em	seu	clássico	livro	O
Príncipe	(2000),	teriam	mostrado	que	a	ciência	política	pode	ser	útil	tanto
aos	 governantes	 como	 aos	 governados	 para	 entenderem-se
reciprocamente.
Marx,	em	seu	famoso	conceito	de	luta	de	classes,	defendeu	o	caráter
conflitivo	da	sociedade	e	da	política.	O	antagonismo	de	interesses	entre
as	 classes	 estaria	 diretamente	 relacionado	 à	 mudança	 social,	 à
superação	 dialética	 das	 contradições	 existentes.	 A	 política	 teria	 então
papel	 preponderante,	 nesse	 contexto,	 para	 ambos	 os	 lados.	 Para	 as
classes	 dominantes,	 a	 busca	 pela	 perpetuação	 da	 exploração	 do
trabalho	daqueles	que	não	são	proprietários	nem	possuidores	dos	meios
de	produção.	 Já	para	as	 classes	exploradas,	 a	 necessária	 “tomada	de
consciência	 de	 classe”	 da	 condição	 de	 oprimido,	 que	 possibilitaria	 a
formação	 de	 associações	 políticas	 (sindicatos,	 partidos,	 entre	 outros)
com	vistas	à	defesa	dos	seus	 interesses	e	ao	combate	aos	opressores
(QUINTANEIRO;	OLIVEIRA	BARBOSA;	OLIVEIRA,	2001,	p.	43).
Ainda	 falando	sobre	a	 relação	conflitiva	entre	grupos	que	buscam	o
poder,	 Bobbio	 (2000)	 afirma	 que	 os	 fins	 da	 política	 seriam	 os	 fins	 do
grupo	(ou	classe)	que	estiver	no	comando;	o	grupo	que	exercer	o	poder
político,	 justamente	em	virtude	do	monopólio	do	uso	da	 força,	podendo
ser:	em	 tempo	de	conflito,	a	unidade	do	Estado,	a	 concórdia,	a	paz,	a
ordem	pública;	em	 tempos	de	paz,	o	bem-estar	social,	a	prosperidade,
entre	outros.
Unindo	 as	 reflexões	 dos	 autores	 discutidos	 acima,	 chegamos	 à
conclusão	 de	 que	 a	 política	 não	 tem	 uma	 finalidade	 perpetuamente
estabelecida,	 e	 muito	 menos	 um	 objetivo	 que	 compreenda	 a	 todos	 e
possa	 ser	 considerado	 como	 o	 seu	 verdadeiro	 propósito.	 Os	 fins	 da
política	são	tantos	quanto	as	metas	que	um	grupo	organizado	se	propõe,
de	acordo	com	seus	momentos	e	táticas.	Desse	modo,	segundo	Weber
(2004),	uma	das	melhores	maneiras	de	distinguir	um	grupo	político	não	é
o	seu	alvo,	mas	o	meio	que	utiliza	para	alcançá-lo.	Bobbio	(2000,	p.	956)
afirma	 que	 não	 pode	 existir	 uma	 ordem	 instantânea	 e	 imutável,	 como
pensaram	muitos,	porque	isso	seria	exatamente	o	término	da	política.
Conclusão
O	 objetivo	 deste	 breve	 texto	 foi	 apresentar	 ao	 leitor	 alguns	 dos
conceitos	mais	básicos	sobre	o	entendimento	acadêmico	acerca	do	que
é	a	Política.	Em	nossa	trajetória,	mostramos	a	dificuldade	de	discutir	um
tema	que	vem	sendo	um	dos	principais	assuntos	de	debate	público	dos
últimos	25	séculos.
Identificamos	o	nascimento	da	reflexão	ocidental	sobre	a	Política	na
Grécia	antiga	e	sua	relação	com	a	Pólis,	cidade-estado	grega,	bem	como
às	obras	de	dois	grandes	 filósofos:	Platão	e	Aristóteles.	Esse	último	 já
dizia	que	o	homem	era	um	“animal	político”	por	definição,	isto	é,	um	ser
que	 vive	 naturalmente	 em	 comunidades	 políticas	 e	 que	 não	 pode	 ser
feliz	 senão	 nessa	 vida	 com	 seus	 semelhantes	 (WOLFF,	 2003,	 p.	 26).
Contudo,	com	o	passar	do	tempo,	vimos	que	a	Política	é	algo	muito	mais
complexo	do	que	apenas	viver	em	comunidade.	João	Ubaldo	Ribeiro	nos
ensina	 que	 a	 Política	 deve	 ser	 entendida	 com	 o	 exercício	 de	 alguma
forma	de	poder	e	às	múltiplas	consequências	desse	exercício.
Assim,	seguimos	nosso	caminho	debatendo	a	tipologia	moderna	das
formas	 de	 poder	 formulada	 por	 Bobbio	 (2000)	 e	 as	 especificidades	 do
Poder	Político,	tarefa	fundamental	para	entender	a	formação	do	Estado	e
qual	 sua	 relação	 com	 a	 Política	 –	 tema	 discutido	 na	 seção	 seguinte,
intitulada	 “Política,	 Poder	 e	 Estado”.	 Nela,	 aprendemos	 que	 o	 Estado
possui	 o	 monopólio	 do	 uso	 legítimo	 da	 força	 em	 relação	 a	 todos	 os
outros	 grupos	 sociais	 em	 determinado	 contexto	 social,	 exercendo	 o
controle	político	da	população	pelo	uso	da	violência,	quando	necessário.
Contudo,	percebemos	que	a	Política	não	se	relaciona	apenas	com	a
violência,	mas	com	o	conceito	de	interesse	público.	Para	alguns	autores
utilizados	nesse	artigo,	devemos	compreender	a	política	como	a	tomada
de	decisões	através	de	meios	públicos,	em	contraste	com	a	tomada	de
decisões	 pessoais	 –	 em	 outras	 palavras,	 o	 processo	 de	 formulação	 e
tomada	de	decisões.
Notamos	 também	 que	 é	 impossível	 fugir	 da	 política.	 Em	 todos	 os
fenômenos	 sociais	 a	 nossa	 volta,	 desde	 a	 organização	 de	 nossas
cidades,	 a	 educação	 de	 nossos	 filhos,	 passando	 pela	 escolha	 dos
representantes	eleitos	via	sufrágio	universal,	percebemos	a	influência	da
Política.
Finalmente,	entendemos	que	muitos	autores	possuem	uma	noção	de
natureza	humana	conflitiva,	que	também	se	expressaria	na	política,	seja
na	 luta	 de	 classes	 imaginada	 por	Marx,	 seja	 na	 percepção	 da	Política
pela	 chave	 do	 realismo	 defendido	 por	 Maquiavel.	 Vimos	 ainda	 que	 a
Política	 não	 tem	 uma	 finalidade	 perpetuamente	 estabelecida,	 e	 muito
menos	 um	 objetivo	 que	 compreenda	 a	 todose	 possa	 ser	 considerado
como	o	seu	verdadeiro	propósito,	mas	que	seus	fins	são	tantos	quanto
as	 metas	 a	 que	 um	 grupo	 organizado	 se	 propõe,	 de	 acordo	 com	 o
contexto	histórico	em	que	se	situa.
Ideias	básicas	do	capítulo
•	 A	invenção	da	Política	na	Grécia	Antiga.
•	 A	relação	entre	a	Política,	o	Poder	e	o	controle	estatal.
•	 A	totalidade	da	Política.
•	 A	relação	necessária	entre	a	Política	e	o	interesse	público,	em	um	possível	contexto	de	conflitividade.
Sugestões	de	leitura
•	 BOBBIO,	 Norberto;	 MATTEUCCI,	 Nicola;	 PASQUINO,	 Gianfranco.	 Dicionário	 de	 política,	 v.	 1,	 p.	 382,
2000.
•	 RIBEIRO,	João	Ubaldo.	Política.	Rio	de	Janeiro:	Editora	Objetiva,	2010.
Perguntas	para	discussão:
•	 Sobre	os	diversos	conceitos	de	Política	debatidos	nesse	artigo,	escolha	ao	menos	três	deles	e	discuta
suas	semelhanças	e	diferenças;
•	 Podemos	falar	de	política	sem	o	uso	da	violência	e	sem	a	presença	do	Estado?	Justifique	sua	resposta
com	base	no	texto.
Proposta	de	exercício
O	objetivo	do	exercício	será	mostrar	a	complexidade	da	política,	bem	como	a	grande	dificuldade	em	transformar	ideias,
desejos,	 crenças	 e	 interesses	 em	 leis	 efetivas	que	 sejam	capazes	de	 regular	o	 conflito	da	 sociedade	pela	via	política.	O
exercício	 contará	 obrigatoriamente	 com	 a	 discussão,	 redação,	 votação	 e	 promulgação	 de	 uma	 lei	 sobre	 dois	 temas
polêmicos	e	correlatos	da	política	brasileira	(por	exemplo,	a	redução	da	maioridade	penal	e	a	aprovação	da	pena	de	morte,
que	serão	utilizados	como	modelo	nesse	exercício).
Primeira	parte:	um	grupo	defenderá	a	aplicação	da	pena	de	morte	e	da	 redução	da	maioridade	penal,	 enquanto	o	outro
sustentará	 o	 direito	 à	 vida	 como	 um	 princípio	 constitucional	 e	 o	 limite	 de	 18	 anos	 para	 ações	 penais	 contra	 cidadãos
brasileiros.	Ambos	os	grupos	devem	redigir	miniprojetos	de	lei	relacionando	seus	principais	argumentos	(ao	menos	cinco
itens	por	miniprojeto	devem	ser	elencados,	tipificando	os	possíveis	crimes	e	quais	as	penas	cabíveis	para	cada	um,	para
serem	votados	em	separado).
Enquanto	isso,	um	terceiro	grupo	ficará	responsável	por	planejar	como	será	realizado	o	debate	e	a	votação	das	propostas,
tentando	considerar	ao	máximo	a	necessidade	de	igualdade	de	condições	para	que	os	dois	primeiros	grupos	exponham	suas
propostas.	Esse	grupo	será	responsável	ainda	por	determinar	como	será	realizada	a	votação	das	propostas.
Segunda	parte:	Finalmente	o	debate	terá	lugar	em	sala	de	aula,	sendo	mediado	pelo	terceiro	grupo,	que	irá	se	dividir	para
regular	todos	os	aspectos	do	debate.	Terminada	a	discussão,	todos	os	membros	dos	três	grupos	votarão,	obrigatoriamente,
dessa	 vez	 de	 acordo	 com	 suas	 crenças	 pessoais	 e	 influenciados	 pelo	 resultado	do	debate	 (é	 importante	 aqui	 ressaltar	 a
necessidade	de	que	os	membros	dos	dois	primeiros	grupos	votem	dessa	maneira).
Terceira	parte:	Encerrada	a	votação,	será	realizada	a	apuração	dos	resultados	e	a	redação	final	da	proposta	de	lei,	de	acordo
com	a	vontade	expressa	nas	urnas.	Ao	final,	cada	aluno	receberá	uma	cópia	impressa	da	lei	que	ajudou	a	criar.
Bibliografia
BOBBIO,	Norberto;	MATTEUCCI,	Nicola;	PASQUINO,	Gianfranco.	Dicionário	de	política,	 v.	 1,	 p.
382,	2000.
DEUTSCH,	Karl;	PLÖGER,	Ingo.	Política	e	governo.	Brasília:	Ed.	Universidade	de	Brasília,	1983.
ÉMILE,	DURKHEIM.	As	regras	do	método	sociológico.	São	Paulo:	Martin	Claret,	2004.
GRAMSCI,	 Antonio.	 Maquiavel,	 o	 Príncipe	 e	 o	 Estado	 Moderno.	 Rio	 de	 Janeiro:	 Civilização
Brasileira,	1976.
LIXA,	 Ivone	 F.	Morcilo.	 O	 sentido	 da	 política	 em	Platão	 e	 Aristóteles.	 In:	WOLKMER,	 Antonio
Carlos	(Org.).	Introdução	à	história	do	pensamento	político.	Rio	de	Janeiro:	Renovar,	2003.
MAQUIAVEL,	Nicolau.	O	Príncipe.	São	Paulo:	Nova	Cultural,	2000.	Coleção	“Os	Pensadores”.
QUINTANEIRO,	 Tania;	 OLIVEIRA	BARBOSA,	Maria	 Lígia	 de;	OLIVEIRA,	Márcia	Gardênia	 de.
Um	toque	de	clássicos:	Durkheim,	Marx	e	Weber.	Belo	Horizonte:	Editora	UFMG,	2001.
RIBEIRO,	João	Ubaldo.	Política.	Rio	de	Janeiro:	Objetiva,	2010.
SCHUMPETER,	Joseph.	Capitalismo,	Socialismo	e	Democracia.	Rio	de	Janeiro:	Zahar,	1984.
WEBER,	Max.	Ciência	e	política:	duas	vocações.	São	Paulo:	Martin	Claret,	2004.
WOLFF,	 Francis.	 A	 invenção	 da	 política.	 A	 crise	 do	 Estado-nação.	 Rio	 de	 Janeiro:	 Civilização
Brasileira,	2003.	p.	23-54.
	
CAPÍTULO	2
TEORIA	POLÍTICA
Marcia	Ribeiro	Dias
	
A	tarefa	deste	capítulo	é	desafiadora.	Começa	por	procurar	definir	o
que	é	Teoria	Política	 como	disciplina	 acadêmica.	O	principal	 obstáculo
encontra-se	no	fato	de	que	não	há	um	consenso	entre	os	especialistas
no	tema	sobre	a	abrangência	do	seu	conteúdo.	Desde	a	antiguidade,	a
teoria	política	abrange	uma	vasta	tradição.	As	reflexões	clássicas	sobre
o	 mundo	 político	 e	 a	 variedade	 de	 temas	 contemporâneos	 que	 a
disciplina	 abarca	 não	 nos	 permitem	 sintetizar	 sua	 envergadura	 em	 um
número	 muito	 restrito	 de	 páginas.	 A	 Teoria	 Política	 abrange	 desde	 a
história	do	pensamento	político	até	a	definição,	articulação	e	análise	de
conceitos	políticos	como	liberdade,	igualdade,	justiça,	democracia,	entre
tantos	outros.	As	 tradições	do	 liberalismo,	socialismo,	 institucionalismo,
multiculturalismo,	 feminismo,	 e	 muitas	 outras,	 podem	 ser	 entendidas
dentro	 da	 grande	 chave	 de	 leitura	 da	 Teoria	 Política.	 As	 áreas	 de
investigação	 exploradas	 pelos	 teóricos	 políticos	 ampliam-se
constantemente	e,	por	consequência,	 transformam	nossa	percepção	do
que	se	qualifica	como	Teoria	Política.
A	 teoria	 política	 é	 um	 campo	 de	 conhecimento	 interdisciplinar
essencialmente	 plural;	 não	 apresenta	 metodologia	 ou	 abordagem
dominante.	Transita	entre	a	ciência	política,	a	história	e	a	 filosofia.	Por
essa	 razão,	 com	 frequência,	 aparenta	 não	 possuir	 um	 núcleo	 de
identidade	que	a	caracterize.	Entretanto,	seu	caráter	fragmentado	traduz
a	 própria	 segmentação	 de	 seu	 objeto	 de	 estudo,	 a	 universalidade	 e
atemporalidade	 das	 questões	 que	 investiga.	 Na	 teoria	 política
contemporânea,	 o	 pluralismo	 temático	 do	 campo	 tornou-se	 ainda	mais
acentuado,	evidenciando	a	própria	diversidade	de	conflitos	que	o	mundo
político	 comporta	 e	 a	 cada	 nova	 geração	 se	 amplia.	O	 que	 à	 primeira
vista	 pode	 parecer	 sua	 fragilidade,	 o	 pluralismo,	 é,	 na	 verdade,	 seu
principal	recurso	analítico,	a	base	de	sustentação	do	conhecimento	que
produz.
Mesmo	 diante	 da	 diversidade	 de	 tradições	 e	 estilos	 analíticos,
abordagens	 conceituais	 e	 temáticas,	 em	 toda	 teoria	 política	 há	 um
propósito	comum:	teorizar,	criticar	e	diagnosticar	as	normas,	práticas	e	a
organização	da	ação	política	que	traduzem	as	dinâmicas	da	vida	coletiva
e	da	ação	governamental.	Desse	modo,	a	ideia	de	ordem	é	crucial	para
o	 pensamento	 político,	 assim	 como	 o	 exercício	 do	 poder	 coercitivo.	 A
identidade	 tradicional	 da	 teoria	 política,	 sua	 própria	 orientação
constitutiva,	é	investigar	como	é	e	como	deve	ser	a	ordem	coletiva,	como
é	 e	 como	 deveria	 ser	 exercida	 a	 autoridade.	 Sem	 algum	 tipo	 de
ordenamento,	 a	 vida	 política	 é	 inconcebível.	 Qualquer	 sistema	 político
possui	 leis	 para	 regular	 o	 comportamento	 de	 seus	 membros	 e
estabelece	 regras	para	o	exercício	do	poder.	Mesmo	os	defensores	de
um	processo	revolucionário	que	ponha	 fim	à	ordem	vigente,	movem-se
pela	 perspectiva	 de	 uma	 nova	 ordem	 que	 consideram	 mais	 justa	 ou
desejável.
Na	 maior	 parte	 da	 história	 do	 pensamento	 político,	 a	 questão	 de
como	 surge	 a	 ordem	 política	 tem	 sido	 respondida	 com	 referência	 a
mitos,	 lendas	 ou	 religiões	 (antiguidade	 grega	 –	 Platão	 e	 Aristóteles	 e
Idade	 Média	 –	 Santo	 Agostinho	 e	 Santo	 Tomás	 de	 Aquino),	 ou
mencionando	 as	 vantagens	 da	 cooperação	 humana	 e	 as	 certezas
criadas	pela	ordem	política	(século	XVII	–	David	Hume,	Thomas	Hobbes,
John	Locke	e	Jean-Jacques	Rousseau).	Ao	buscar	explicar	instituições	e
práticas	 políticas,	 os	 pensadores	 defendiam	 valores	 e	 princípios	 ou
tinhamcomo	objetivo	criticar	a	dinâmica	política	de	seu	tempo	e	lugar.
O	modo	 pelo	 qual	 se	 compreende	 o	 relacionamento	 entre	 a	 ordem
política	e	outras	formas	de	ordem	dependerá	da	concepção	acerca	das
origens,	 fundamentos	 e	 propósitos	 aos	 quais	 se	 espera	 que	 a	 ordem
política	 deva	 servir.	 Sendo	 assim,	 no	dever	 ser	 da	 teoria	 política	 reside
seu	caráter	normativo,	 sua	mais	característica	e	polêmica	 faceta.	Esse
componente	normativo	está	presente	na	teoria	política	a	despeito	de	seu
modelo	de	abordagem,	de	seu	enfoque,	método	ou	estrutura.
A	Normatividade	da	Teoria	Política
A	 teoria	 política	 é,	 sobretudo,	 uma	 disciplina	 normativa,	 ou	 seja,
primariamente	preocupada	com	o	modo	como	a	vida	política	deveria	ser
–	 o	 desenho	 do	 bom	 governo,	 a	 organização	 política	mais	 justa	 –	 em
lugar	de	ocupar-se	em	descrever	como	ela	realmente	é.	Mesmo	quando
a	 abordagem	 da	 teoria	 é	 essencialmente	 sistêmica,	 supostamente
descritiva	 em	 seu	 método,	 é	 possível	 reconhecer	 algum	 tipo	 de
qualificação	 de	 desempenho	 ou	 recomendação	 de	 aprimoramento.	Em
geral,	 os	 textos	 políticos	 têm	 como	 objetivo	 persuadir	 seus	 leitores	 de
algo:	a	obedecer	ou	rebelar-se;	a	defender	a	propriedade	ou	a	 torná-la
comunitária;	 a	 assegurar	 algum	 direito	 a	 outrem	 ou	 justificar	 sua
negação.	 A	 tarefa	 do	 convencimento	 exige	 que	 haja	 algum
compartilhamento	 de	 ideias	 entre	 emissor	 e	 receptor,	 de	 modo	 que	 o
primeiro	esteja	em	condições	de	ressignificar	as	convicções	do	segundo.
Nesse	sentido,	como	um	processo	de	identificação	e	ressignificação	da
linguagem	 e	 das	 ideias,	 a	 teoria	 política	 constitui-se	 em	 uma	 parte
importante	da	nossa	herança	coletiva	intelectual.
Isso	 não	 significa	 dizer	 que	 os	 teóricos	 políticos	 não	 considerem	 a
realidade	dos	regimes	político	e	social	nos	quais	estão	 inseridos.	A	 fim
de	 determinar	 o	 que	 aspirar,	 o	 que	 considerar	 como	 um	 ideal	 a	 ser
perseguido,	 há	 que	 se	 compreender	 as	 vantagens	 e	 desvantagens	 da
dinâmica	política	vigente	e	esta	é,	em	geral,	o	ponto	de	partida	da	teoria
política.	Mas,	diferente	dos	cientistas	políticos,	os	 teóricos	políticos	não
se	 envolvem	 em	 projetos	 descritivos	 ou	 explicativos,	 dedicando-se	 a
formatar	as	lentes	analíticas	que	servirão	aos	propósitos	de	tais	projetos.
Importa	 registrar,	portanto,	que	há	muitas	associações	produtivas	entre
as	análises	de	cientistas	políticos	e	teóricos	políticos,	na	medida	em	que
estes	 últimos	 baseiam	 suas	 reflexões	 no	 trabalho	 empírico	 realizado
pelos	primeiros	que,	por	sua	vez,	operam	as	lentes	analíticas	fornecidas
pelos	segundos.
Segundo	Dryzek,	 Honig	 e	 Phillips	 (2006),	 o	 relacionamento	 entre	 a
Teoria	 Política	 e	 a	 Ciência	 Política	 pode	 ser	 traduzido	 pelo	 termo
“coabitação”,	 utilizado	 a	 fim	 de	 demonstrar	 que	 ambas	 estão
profundamente	 envolvidas	 em	 seus	 propósitos	 e	 análises.	Conforme	 a
passagem	 a	 seguir,	 o	 termo	 coabitação	 denota,	 entre	 outras	 coisas,
variedade,	 cooperação,	 antagonismo,	 mas,	 sobretudo,	 um	 senso	 de
empreendimento	comum:
Embora	 resistam	 aos	 pressupostos	 epistêmicos	 do	 empirismo2,	 muitos	 (teóricos)
também	 salientam	 que	 boa	 parte	 do	 que	 se	 considera	 como	 teoria	 política	 está
profundamente	 envolvido	 com	 a	 política	 empírica:	 o	 que,	 afinal,	 poderia	 ser	mais
‘real’,	 vital	 e	 importante	 do	 que	 os	 símbolos	 e	 categorias	 que	 organizam	 nossas
vidas	e	os	enquadramentos	de	nossa	compreensão?	Os	franceses	têm	uma	palavra
para	descrever	o	que	resulta	quando	aqueles	que	são	eleitos	presidente	e	primeiro
ministro	 são	 representantes	 de	 dois	 partidos	 políticos	 diferentes:	 coabitação.	 A
palavra	 significa,	 diversamente,	 cooperação,	 tolerância,	 condescendência,
antagonismo,	e	um	senso	de	empreendimento	comum.	Coabitação,	nesse	sentido,	é
uma	 boa	 maneira	 de	 traduzir	 a	 relação	 entre	 teoria	 política	 e	 ciência	 política.
(DRYZEK	HONIG;	PHILLIPS,	2006,	p.	7)3
As	ideias	políticas,	geralmente,	são	avançadas	com	relação	ao	modo
de	pensar	de	um	tempo	e	parte	de	sua	capacidade	de	persuasão	reside
nessa	 sua	 característica.	 Tal	 capacidade	 encontra-se	 em	 sua	 força
retórica,	mas	também	no	conteúdo	intrínseco	das	ideias.	A	ação	política
só	 é	 possível	 a	 partir	 da	motivação	 de	 ideias	 e	 suposições	 derivadas,
voluntariamente	ou	não,	da	herança	intelectual	de	um	povo.	O	estudo	do
pensamento	 político	 é	 uma	 ferramenta	 essencial	 para	 ensinar	 a
esclarecer	 as	 ideias,	 avaliar	 e	 debater,	 tornar	 os	 agentes	 políticos
conscientes	de	sua	ação	no	mundo	e	qualificar	a	interação	coletiva.
Entretanto,	as	possibilidades	de	 interlocução	entre	a	 teoria	e	a	ação
políticas	 são	 limitadas,	muitas	 vezes,	 pelo	 caráter	 utópico	 da	 primeira.
Teóricos	políticos	tornam-se	vulneráveis	às	críticas	de	outras	disciplinas
quando	 suas	 conclusões,	 derivadas	 de	 explorações	 normativas,	 não
podem	 ser	 plausivelmente	 implementadas.	 Dessa	 forma,	 avaliam-na
como	 alienada	 da	 política,	 na	 medida	 em	 que	 não	 se	 articula	 com	 a
realidade.	Parte	da	teoria	política	não	considera	relevantes	tais	críticas	e
sente-se	confortável	sob	o	rótulo	da	utopia,	na	medida	em	que	atribui	a
si	mesma	uma	capacidade	de	pensar	para	além	dos	limites	do	realismo.
Outra	 parte	 valoriza	 justamente	 o	 contrário:	 a	 habilidade	 de	 pensar	 a
política	dentro	dos	parâmetros	do	possível,	da	realidade	que	a	cerca.
O	 que	 aparenta	 um	 conflito	 epistemológico4	 dentro	 da	 própria
disciplina	de	 teoria	política	 revela,	por	sua	vez,	a	grande	diversidade	e
riqueza	 analítica	 que	 comporta.	 Se,	 por	 um	 lado,	 a	 teoria	 política
caminha	pelas	 trilhas	do	 “dever	ser”,	 idealizando	cenários	nem	sempre
factíveis,	 por	 outro	 existem	 inúmeros	 estudos	 que	 resultam	 no	 teste
empírico	de	algumas	proposições	teóricas.	Estes	últimos	são	capazes	de
iluminar	 perspectivas	 reais	 de	 aplicação	 de	 alguns	 modelos	 teóricos
oriundos,	por	exemplo,	das	teorias	da	democracia	ou	da	justiça,	que	são
capazes	 de	 criar	 novos	 mecanismos	 que	 as	 potencializem	 ou	 uma
melhor	compreensão	do	funcionamento	das	mesmas.
Mantendo	 sua	 característica	 de	 engajamento	 político	 e	 potencial
transformador,	que	é	sua	identidade	mais	marcante	como	um	campo	de
conhecimento,	a	 teoria	política	contemporânea	tem	elaborado	reflexões
a	partir	 de	 uma	ampla	 gama	de	eventos	políticos	 que	a	 cercam.	Suas
discussões	abarcam	problemáticas	contemporâneas	como	a	ecologia	e
a	 ação	 humana	 sobre	 o	 meio	 ambiente,	 as	 novas	 tecnologias	 e	 seus
efeitos	 nas	 relações	 sociais,	 as	 migrações	 e	 o	 multiculturalismo,	 as
desigualdades	 em	 seus	 mais	 variados	 aspectos,	 além	 do	 impacto
desses	 eventos	 na	 reavaliação	 de	 seus	 temas	 clássicos:	 liberdade,
igualdade,	justiça,	democracia,	soberania,	hegemonia,	entre	outros.
O	Mundo	das	Ideias	Políticas
O	 campo	 da	 teoria	 política	 é	 habitado	 por	 uma	 profusão	 de	 ideias,
conceitos,	 valores	 e	 princípios	 que	 nos	 auxiliam	 na	 investigação	 e
compreensão	do	mundo	político.	As	ideias	políticas	são	os	meios	pelos
quais	afirmamos	nossa	adesão	a	 comunidades	ou	nações,	 assumimos
uma	 posição	 dentro	 delas,	 definimos	 seus	 propósitos	 e	 ideais.	 No
sentido	 oposto,	 são	 essas	 mesmas	 ideias	 que	 fundamentarão	 nossa
discordância	 com	 os	 outros,	 servindo,	 muitas	 vezes,	 como	 justificativa
para	o	uso	da	violência	contra	aqueles	que	possuem	ideias	dissonantes.
Elas	são	capazes	de	ser	decisivas	no	curso	da	história,	e	muitas	vezes	o
foram.	Muitas	das	grandes	 transformações	 sociais,	 políticas	e	 culturais
que	marcaram	 a	 humanidade	 foram	 capitaneadas	 por	 um	 conjunto	 de
ideias-força	ou	conceitos,	que	visavam	um	mundo	melhor.	Assim	ocorreu
com	a	Revolução	Francesa	e	seu	consequente	abandono	de	uma	lógica
distintiva	e	hierárquica	de	organização	política	em	nome	de	um	Estado
de	direito	igualitário	entre	seus	membros,	alastrando-se	por	grande	parte
domundo	 ocidental.	 O	 papel	 das	 ideias	 e	 conceitos	 políticos	 nos
processos	 revolucionários	 está,	 sobretudo,	 em	 sua	 capacidade	 de
subverter	 mentalidades	 e	 constituir,	 ou	 dar	 vida,	 a	 novas	 formas	 de
enxergar	 o	 mundo	 que	 possibilitarão	 modificações	 significativas	 no
universo	ao	seu	redor.
Os	conceitos	políticos	–	como,	por	exemplo,	liberdade,	democracia	e
justiça	 –	 são	 frequentemente	 utilizados	 na	 linguagem	 corriqueira,	 sem
que	 haja	 maior	 reflexão	 sobre	 os	 conteúdos	 que	 carregam	 em	 si.	 Ao
utilizá-los,	estamos	apenas	parcialmente	conscientes	dos	pressupostos,
propósitos	e	implicações	subjacentes	a	cada	um	deles.	A	origem	de	tais
conceitos	 raramente	 é	 conhecida	 pelos	 que	 os	 utilizam.	 A	 agenda
positiva	 que	 geralmente	 é	 associada	 à	 ideia	 de	 democracia,	 por
exemplo,	 costuma	 desconhecer	 que	 tal	 conceito	 já	 foi	 considerado
sinônimo	 de	 anarquia	 e	 ingovernabilidade.	 Um	 democrata,	 em	 um
passado	 remoto,	 era	 considerado	 uma	 ameaça	 à	 ordem	 estabelecida,
enquanto	vigoravam	as	noções	de	hierarquia,	obediência,	autoridade	e
subordinação	 como	 condições	 para	 a	 tranquilidade	 social.	 Da	 mesma
forma,	a	exploração	da	mão	de	obra	escrava	foi	considerada	justa,	seja
na	 antiguidade	 pela	 derrota	 em	 guerras,	 seja	 a	 africana	 durante	 a
colonização	do	Novo	Mundo.
O	papel	da	teoria	política	é,	portanto,	 retirar-nos	do	senso	comum	e
tornar-nos	conscientes	das	ambiguidades	imbuídas	nas	 ideias	políticas,
demonstrando	que	sua	interpretação	usual	não	é	a	única	possível,	mas
apenas	uma	chave	de	 leitura	que	depende	do	contexto	político	ao	qual
se	 aplica.	 Karl	 Marx	 afirmou,	 por	 exemplo,	 não	 haver	 concepção	 de
justiça	que	não	seja	relativista,	 isto	é,	que	os	critérios	que	distinguem	o
justo	 e	 o	 injusto	 baseiam-se,	 invariavelmente,	 em	 princípios	 de
moralidade	 correspondentes	 à	 forma	 de	 organização	 social	 vigente.
Desse	 modo,	 as	 noções	 de	 justiça	 em	 vigor	 no	 mundo	 capitalista
serviriam	apenas	para	 legitimar	o	modo	de	produção	burguês.	A	 teoria
promove	 um	 distanciamento	 analítico	 que	 permite	 estabelecer	 um
diagnóstico,	senão	isento,	mais	próximo	da	realidade.
As	Questões	Clássicas,	Seus	Autores	e	Correntes	Contemporâneas	da
Teoria	Política
Antiguidade	e	Idade	Média
A	tradição	da	teoria	política	ocidental,	composta	por	reflexões	textuais
paradigmáticas	 do	 estudo	 da	 política,	 interdisciplinar	 e	 plural	 em	 sua
natureza,	 tem	 sua	 origem	 na	 antiguidade	 grega.	 Nos	 Sofistas5	 se
reconhece	a	mais	antiga	teoria	política	na	referida	tradição,	contra	a	qual
se	 insurgiram	Sócrates	 e	 seu	 discípulo,	 Platão6.	 Aristóteles	 é	 também
uma	fonte	primorosa	para	a	identificação	de	uma	teoria	política	clássica,
entretanto	 em	 uma	 perspectiva	 fundamentalmente	 diferente	 da	 de
Platão.	Enquanto	Platão	dedicou-se	a	projeções	utópicas	acerca	da	boa
sociedade	 e	 do	 bom	 governo,	 em	 uma	 perspectiva	 idealista	 e
doutrinária7,	 Aristóteles	 ocupou-se	 da	 análise	 dos	 sistemas	 políticos
existentes	 em	 sua	 época,	 inclinando-se	mais	 ao	 realismo	 e	 à	 ciência.
Sua	 definição	 do	 homem	 como	 um	 “animal	 político”,	 ou	 seja,
naturalmente	propenso	à	vida	em	sociedade,	vai	exercer	influência	sobre
e	inspirar	a	filosofia	política	cristã,	cujos	principais	expoentes	são	Santo
Agostinho	 e	 Santo	 Tomás	 de	 Aquino,	 assim	 como	 na	 teoria	 política
moderna	 de	 Thomas	 Hobbes,	 por	 contradição,	 e	 John	 Locke,	 por
adesão.	Entre	os	escritos	políticos	mais	 famosos	da	antiguidade	grega
estão	A	República,	de	Platão,	e	A	Política,	de	Aristóteles.
O	período	que	se	estende	desde	o	início	do	cristianismo	até	a	Idade
Média	 foi	 marcado	 pelas	 caracterizações	 cristãs	 da	 política,	 cujos
principais	 representantes	 foram	 Santo	 Agostinho	 e	 Santo	 Tomás	 de
Aquino.	O	pensamento	político	deste	período	foi	marcado	pelas	relações
entre	 política,	 direito	 e	 moralidade.	 Santo	 Agostinho	 rejeitava	 a
concepção	 clássica	 de	 política,	 enfatizando	 sua	 limitação	 a	 partir	 do
reconhecimento	 da	 imperfeição	 humana	 e	 o	 impacto	 desta	 sobre	 as
relações	políticas.	Aquino	discutiu	a	política	sob	a	ótica	do	cristianismo
de	 forma	 menos	 pessimista;	 formulou	 os	 conceitos	 de	 lei	 natural	 e
direitos	naturais	que	 iriam	 influenciar	 toda	a	 teoria	política	moderna	do
contratualismo.	 Segundo	 ele,	 a	 atividade	 política	 seria	 um	 dos
componentes	 necessários	 à	 boa	 vida,	 embora	 considere	 os	 limites	 da
política	 assim	 como	 a	 condiciona	 à	 lei	 natural,	 limitando	 a	 autonomia
política	de	seus	agentes.
Renascimento	e	Idade	Moderna
Na	antessala	da	modernidade,	 início	 do	 século	XVI,	 vivenciando	as
guerras	 do	 renascimento	 italiano,	 encontramos	 aquele	 que	 viria	 a	 ser
considerado	o	fundador	da	Ciência	Política,	Nicolau	Maquiavel.	Sua	obra
rompe	 com	 o	 enquadramento	 cristão	 na	 abordagem	 política,
característica	 de	 seus	 predecessores,	 ao	 defender	 a	 política	 como	 um
território	 autônomo	 da	 ação	 humana,	 distinguindo	 a	 virtude	 política	 da
virtude	 cristã.	 Para	 Maquiavel,	 o	 bom	 governante	 é	 aquele	 capaz	 de
manter	 a	 ordem,	 a	 estabilidade	 política,	 e	 para	 tanto	 não	 seria
necessário	 ser	 um	 bom	 cristão,	 quando	 não	 se	 tornasse	 mesmo	 um
empecilho.	 A	 virtù	 política,	 para	 o	 autor,	 reside	 na	 capacidade	 do
governante	 de	 agir	 conforme	 as	 circunstâncias,	 ter	 flexibilidade	 para
mudar	 o	 curso	 da	 ação	 assim	 que	 a	 necessidade	 se	 imponha.	 Ao
comparar	 a	 ação	 política	 ao	 comportamento	 bestial	 da	 raposa
(esperteza)	e	do	leão	(força)	confrontou-se	com	a	perspectiva	humanista
dominante	 na	 análise	 política	 de	 seu	 tempo,	 designando	 ao	 universo
político	 uma	 concepção	 moral	 própria,	 vinculada	 aos	 fins	 de	 sua
atividade.
A	reflexão	política	do	período	compreendido	entre	os	séculos	XVII	e
XIX	definiu	 a	 engenharia	 política	moderna	e	 o	 conflito	 intelectual	 entre
distintos	 formatos	 institucionais.	 As	 teorias	 contratualistas	 moldaram	 o
Estado	 jurídico	 moderno,	 como	 contraponto	 ao	 Estado	 teocrático,
forneceram	 matrizes	 analíticas	 que	 discutiam	 seu	 surgimento	 e
justificavam	 sua	 supremacia	 sobre	 outras	 formas	 de	 organização
política.	 O	 racionalismo,	 que	 serviu	 de	 substrato	 para	 tais	 teorias,
rejeitava	 as	 formas	 tradicionais	 de	 justificar	 a	 autoridade	 e	 o	 poder
político,	especialmente	a	teoria	do	direito	divino	dos	reis,	contrapondo	à
autoridade	 da	 igreja	 a	 autoridade	 do	 indivíduo.	 Em	 substituição	 ao
argumento	 de	 que	 o	 poder	 emana	 de	 deus	 e	 só	 por	 ele	 pode	 ser
atribuído	aos	homens,	o	racionalismo	iluminista	atribui	o	fundamento	do
poder	 ao	 indivíduo,	 devendo	 a	 obediência	 se	 justificar	 exclusivamente
pela	 razão	 humana.	 Dessa	 forma,	 a	 transferência	 do	 fundamento	 da
autoridade	 de	 deus	 para	 os	 homens,	 serviu	 para	 justificar	 um	 mundo
mais	 pluralista	 com	 base	 no	 exercício	 da	 razão	 e	 do	 julgamento
individuais,	promovendo	uma	comunidade	política	 igualitária,	submetida
a	normas	universais.
Thomas	 Hobbes	 e	 John	 Locke,	 no	 século	 XVII,	 e	 Jean-Jacques
Rousseau,	 no	 século	 XVIII,	 foram	 os	 principais	 expoentes	 do
contratualismo	 moderno.	 Hobbes	 (2003)	 elaborou	 alguns	 conceitos	 –
como	os	de	soberania,	direito,	vontade	e	representação	política	–	que	se
tornariam	fundamentais	para	a	noção	de	Estado	Moderno.	Segundo	ele,
o	fundamento	para	a	autoridade	política,	sua	legitimidade,	portanto,	seria
a	celebração	de	um	contrato	social	entre	homens	livres	e	iguais.	Vivendo
em	 um	 hipotético	 Estado	 de	 Natureza,	 pré-social	 e	 pré-político,	 tais
homens	 chegariam	 a	 uma	 situação	 de	 caos	 generalizado	 cuja	 única
solução	seria	a	subordinação	de	todos	à	representação	absoluta	de	sua
vontade	pelo	poder	soberano	do	Estado.
John	Locke	(2001),	em	contrapartida,	rejeita	a	defesa	hobbesiana	do
absolutismo	 político	 e	 elabora	 um	 modelo	 de	 contrato	 social	 ondea
teoria	do	consentimento	substitui	a	da	subordinação,	tornando-se	porta-
voz	 da	 defesa	 do	 Parlamento	 como	 forma	 de	 representação.	 Locke,
empirista	 radical,	 retoma	 a	 concepção	 aristotélica	 de	 homem	 como
animal	 político,	 naturalmente	 sociável,	 e	 descreve	 um	 Estado	 de
Natureza	 relativamente	 pacífico,	 cujo	 desequilíbrio	 se	 deve	 à	 ausência
de	um	juiz	imparcial.	A	organização	política	da	vida	coletiva	resultante	do
contrato	 social	 seria	 fruto,	 portanto,	 do	 consentimento	 humano.
Enquanto	Hobbes	argumentava	que	os	homens	transferiam	seus	direitos
naturais	 ao	 soberano,	 subordinando-se	 a	 ele,	 Locke	 defendia	 que	 o
contrato	 social	 serviria	 para	 consolidar	 os	 direitos	 que	 já	 possuíam	 no
Estado	 de	 Natureza,	 os	 quais	 passariam	 a	 ser	 defendidos	 pelo	 corpo
político.
Jean-Jacques	 Rousseau	 (1999;	 2001)	 considerava	 a	 ordem
absolutista	 ilegítima,	 na	 medida	 em	 que	 se	 fundava	 na	 desigualdade
moral	 entre	 os	 homens.	 O	 pacto	 que	 teria	 fundado	 a	 ordem	 de	 seu
tempo	 legitimaria	 a	 exploração	 dos	 pobres	 pelos	 ricos	 e	 deveria	 ser
substituído	por	um	novo	contrato	capaz	de	resgatar	a	igualdade	política
entre	 os	 homens.	 Segundo	Rousseau,	 tal	 igualdade	 seria	 possível	 em
um	Estado	 onde	 a	 lei	 fosse	 generalizada	 a	 todos	 e	 ninguém	 pudesse
estar	 acima	 dela,	 consagrando-se	 como	 um	 apaixonado	 defensor	 do
republicanismo	e	da	soberania	popular.	O	Estado	 ideal	para	Rousseau,
único	verdadeiramente	legítimo,	possuía	como	chave	de	compreensão	a
noção	 de	 “vontade	 geral”,	 cujo	 pressuposto	 básico	 seria	 a	 igualdade
jurídica.	A	“vontade	geral”	não	corresponderia	à	vontade	de	todos	ou	da
maioria,	mas	 à	 interseção	 de	 todas	 as	 vontades,	 onde	 predominaria	 o
interesse	 comum	 acima	 dos	 interesses	 particulares.	 O	 discurso
revolucionário	de	Rousseau,	onde	a	subversão	da	ordem	vigente	seria
condição	 para	 a	 emancipação	 humana,	 viria	 a	 ser	 uma	 das	 principais
influências	 a	 conduzir	 a	 Revolução	 Francesa	 e	 retornaria,	 com	 ênfase
acentuada,	no	pensamento	de	Karl	Marx	(século	XIX).
As	teorias	contratualistas	não	passaram	incólumes	à	crítica,	ainda	no
século	 XVII,	 portanto,	 antes	 mesmo	 da	 obra	 rousseauniana,
influenciando-a.	 David	 Hume	 (2009)	 rompeu	 com	 as	 teorias	 filosóficas
mais	 abstratas	 acerca	 do	 contrato	 social	 ou	 dos	 direitos	 naturais,
tornando-se	um	dos	precursores	da	sociologia	histórica	especulativa	ao
identificar	 na	 emergente	 sociedade	 comercial	 as	 condições	 para	 um
governo	 constitucional.	 Hume	 seria	 também	 o	 precursor	 das	 teorias
utilitaristas	 que	 se	 consagraram	nas	 obras	 de	 Jeremy	Benthan	 e	 John
Stuart	 Mill,	 entre	 os	 séculos	 XVIII	 e	 XIX.	 Montesquieu	 foi	 outro	 crítico
sutil	do	contratualismo	e	foi	um	precursor	da	moderna	sociologia	política
e	 da	 história	 social.	 Em	 sua	 teoria	 política,	 Montesquieu	 enfatizou	 a
influência	 de	 componentes	 não	 racionais	 no	 desenvolvimento	 de
instituições	 políticas	 e	 formas	 constitucionais,	 estudando-as	 de	 forma
independente	de	concepções	morais	e	rejeitando	as	tradicionais	teorias
da	 lei	natural.	Sua	obra	O	Espírito	das	Leis	 consagrou-se	por	sua	 teoria
acerca	das	formas	de	governo	e	da	separação	de	Poderes,	que	viriam	a
influenciar	os	escritos	Federalistas,	como	os	de	James	Madison	(final	do
século	XVIII).
Século	XIX:	Liberdade	e	Igualdade	em	Marx	e	Tocqueville
O	mundo	pós-revolução	francesa,	que	inaugurou	um	novo	formato	de
governo	 baseado	 na	 igualdade	 jurídica,	 pondo	 fim	 à	 lógica	 social
hierárquica	do	Antigo	Regime,	marcou	as	 reflexões	políticas	do	 século
XIX.	 Alexis	 de	 Tocqueville	 e	 Karl	 Marx	 são	 importantes	 expoentes	 da
teoria	 social	 e	 política	produzida	nesse	período,	 realizando,	 entretanto,
análises	antagônicas.	Na	comparação	entre	esses	dois	autores,	importa
ressaltar	a	interpretação	dos	conceitos	de	liberdade	e	igualdade	em	cada
um.
Na	estrutura	geral	do	modelo	analítico	tocquevilliano,	seu	foco	recaiu
sobre	o	fato	democrático	a	partir	do	estudo	de	suas	instituições	políticas.
O	principal	problema	da	investigação	de	Tocqueville	(2000)	foi	descobrir
como	 preservar	 a	 liberdade	 na	 modernidade	 igualitária.	 Segundo
Tocqueville,	 a	 sociedade	democrática	 seria	 igualitária	 por	 natureza	 e	 a
expansão	 da	 democracia	 pelo	 globo	 seria	 um	 destino	 inexorável.	 De
acordo	com	este	raciocínio,	as	condições	de	igualdade	entre	os	homens
vivendo	 em	 sociedade	 tenderiam	 a	 se	 aprofundar	 e	 teriam	 como
principais	 evidências	 o	 acesso	 universal	 às	 profissões	 e	 honrarias
sociais,	 assim	 como	 a	 uniformidade	 no	 modo	 de	 vida	 dos	 povos.
Tocqueville	 temia	 que	 a	 democracia	 moderna	 trouxesse	 como
consequência	a	perda	da	liberdade	através	da	“tirania	da	maioria”,	fruto
do	 poder	 da	 maioria	 e	 opressão	 às	 minorias,	 e	 do	 “despotismo
democrático”,	 fruto	 de	 um	 centralismo	 político	 que	 isolaria	 o	 povo	 das
decisões	políticas.
Segundo	 Marx	 (2006),	 a	 fundação	 das	 sociedades	 humanas	 teve
como	 objetivo	 libertar	 o	 homem	 dos	 limites	 impostos	 pela	 natureza
através	da	divisão	do	 trabalho,	entretanto,	paradoxalmente,	 resultou	no
aprisionamento	 da	 humanidade	 em	 uma	 lógica	 de	 exploração,
separando-os	em	duas	classes:	os	opressores	e	os	oprimidos.	Marx	vai
dedicar-se	ao	estudo	das	relações	de	produção	no	que	chamou	de	modo
de	produção	burguês.	Daí	resultou	sua	crítica	ao	capitalismo,	que	seria
injusto	 na	 medida	 em	 que	 opera	 uma	 distribuição	 de	 riquezas
incompatível	 com	 a	 contribuição	 e	 necessidades	 de	 cada	 um.	Em	 sua
defesa	da	revolução	proletária,	Marx	afirma	que	a	emancipação	humana
seria	possível	apenas	a	partir	da	eliminação	de	toda	forma	de	exploração
do	homem	pelo	homem.	A	noção	de	igualdade	em	Marx	estabelece	uma
correspondência,	 antes,	 com	 a	 noção	 de	 bem-estar	 do	 que	 com	 a
distribuição	de	riquezas.	Ao	considerar	a	diversidade	humana,	tanto	em
capacidades	 quanto	 em	 necessidades,	 Marx	 julga	 que	 um	 código
irrestritamente	 igualitário	 seria	 injusto.	 A	 sociedade	 comunista	 por	 ele
idealizada	teria	uma	distribuição	de	riquezas	qualitativamente	 igualitária
ao	invés	de	quantitativamente	igualitária.
A	Teoria	Política	Contemporânea
O	século	XX	 inicia	com	o	confronto	entre	elitistas	e	socialistas,	 fruto
da	expansão	do	sufrágio	e	da	democracia	representativa.	A	inclusão	das
massas	 na	 política	 trouxe	 de	 volta	 o	 confronto	 entre	 as	 visões
aristocrática	 e	 democrática	 sobre	 o	 mundo	 político.	 A	 primeira	 visa
restringir	a	participação	política,	ao	menos	suas	decisões	primordiais,	ao
âmbito	das	elites	políticas,	enquanto	a	segunda	tem	como	propósito	sua
universalidade.	De	um	lado	encontram-se	autores	como	Gaetano	Mosca
(1939),	 Vilfredo	 Pareto	 (1935),	 Robert	 Michels	 (1982)	 e	 Joseph
Schumpeter	 (1984).	 Cada	 um	 deles,	 a	 seu	 próprio	modo,	 apoiado	 em
uma	concepção	estrita	de	realismo	político,	defende	que	o	fazer	político
cabe	 às	 elites	 escolhidas	 pelo	 voto	 popular	 para	 essa	 tarefa.	 Veem	 a
democracia,	em	geral,	de	 forma	 instrumental,	 como	mecanismo	para	a
constituição	 do	 poder	 político	 que	 assumiria	 a	 tomada	 de	 decisão.	 Do
outro	lado	encontram-se	os	socialistas	como	Lenin,	Rosa	Luxemburgo	e
Antonio	 Gramsci.	 Embora	 as	 amplas	 divergências	 entre	 os	 autores
mencionados,	 alguns	 pontos	 comuns	 podem	 ser	 extraídos	 de	 suas
reflexões,	 especialmente	 a	 busca	 pela	 revolução	 proletária	 e	 as
transformações	 social	 e	 política	 dela	 decorrentes.	 O	 método
revolucionário	 era	 o	 que	mais	 divergências	 acolhia:	 a	 crença	 na	 força
das	 lutas	 políticas	 proletárias,	 na	 ação	 política	 continuada	 e	 na
incorporação	 das	 massas	 à	 ação	 partidária	 seriam	 algumas	 das
condições	para	a	transformação	requerida,	seja	através	da	luta	armada,
da	reforma	ou	da	revolução	passiva.
As	 teorias	 acerca	 da	 democracia	 prosperaram	 bastante	 durante	 o
século	 XX,	 quando	 esta	 forma

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