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CIÊNCIA POLÍTICA
U
N
O
PA
R
CIÊN
CIA
 P
O
LÍTICA
9 788568 075623
ISBN 978-85-68075-62-3
Ciência 
política
Ciencias_book.indb 1 7/10/14 2:54 PM
Ciencias_book.indb 2 7/10/14 2:54 PM
Ciência 
política
Gisele de Cássia Galvão Ruaro 
Denise da Silva Vieira
Giane Albiazzetti
Silvana Braz Wegrzynovski
Wilson Sanches
Ciencias_book.indb 3 7/10/14 2:54 PM
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
 Albiazzeti, Giane
A335c Ciência política / Giane Albiazzetti, Denise da Silva 
Vieira, Wilson Sanches, Silvana Braz Wegrzynovski, 
Gisele de Cassia Galvão Ruaro. – Londrina: Editora e 
Distribuidora Educacional S. A., 2014.
 168 p.
 ISBN 978-85-68075-62-3
 1. Pensamentos. 2. Teoria. 3. Contemporâneo. I. Vieira, 
Denise da Silva. II. Sanches, Wilson. III. Wegrzynovski, 
Silvana Braz. IV. Ruaro, Gisele de Cassia Galvão. V. 
Título.
 CDD 320
© 2014 by Editora e Distribuidora Educacional S.A. 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida 
ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, 
incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e 
transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora 
e Distribuidora Educacional S.A.
Diretor editorial e de conteúdo: Roger Trimer
Gerente de produção editorial: Kelly Tavares
Supervisora de produção editorial: Silvana Afonso
Coordenador de produção editorial: Sérgio Nascimento
Editor: Casa de Ideias
Editor assistente: Marcos Guimarães
Revisão: Mônica Rodrigues dos Santos
Capa: Bruno Portezan Jorge e Sheila Ueda Piacentini Barison
Diagramação: Casa de Ideias
Ciencias_book.indb 4 7/10/14 2:54 PM
Unidade 1 — A formação do pensamento político ........1
Seção 1 A gênese da ciência política .................................................2
1.1 O que é e para que serve a política? ....................................................2
1.2 Por que surgiu o interesse pela política? ...............................................3
1.3 O pensamento político ao longo do tempo: 
da filosofia à ciência política ...............................................................5
Seção 2 Pensamento político clássico ................................................9
2.1 O pensamento político na Modernidade e suas contribuições para a 
compreensão das relações sociais nos dias de hoje ..............................9
2.2 Da filosofia para a ciência política: 
um longo percurso .............................................................................31
Unidade 2 — Teoria política e seus grandes 
pensadores .............................................39
Seção 1 Introdução à teoria política, diferentes doutrinas 
políticas e formas de governo .............................................40
1.1 Introdução à teoria política ................................................................40
1.2 Doutrinas políticas .............................................................................42
1.3 Formas de governo .............................................................................50
Seção 2 Os clássicos do pensamento político ..................................55
2.1 Política para Aristóteles ......................................................................55
2.2 Política para Thomas Hobbes .............................................................57
2.3 Política para John Locke .....................................................................58
2.4 Política para Nicolau Maquiavel ........................................................60
2.5 Política para Platão ............................................................................62
2.6 Política para Santo Agostinho .............................................................63
2.7 Política para São Tomás de Aquino .....................................................65
2.8 Política para Sócrates .........................................................................66
Sumário
Ciencias_book.indb 5 7/10/14 2:54 PM
vi C I Ê N C I A P O L Í T I C A
Unidade 3 — Ciência política e sociedade ...................75
Seção 1 A crítica socialista de Marx ................................................76
Seção 2 A discussão contratualista 
e o pensamento de Rousseau ..............................................81
Seção 3 A divisão dos poderes e a democracia ................................86
3.1 As ideias de Montesquieu ..................................................................86
3.2 As análises de Tocqueville ..................................................................90
Seção 4 As tipologias de poder e a necessidade da hegemonia ........95
4.1 As formas de governo.........................................................................96
4.2 Ciência política e a teoria 
do Estado na concepção de Gramsci ...............................................101
Unidade 4 — Política na contemporaneidade ............115
Seção 1 Origem e evolução do Estado ...........................................117
1.1 Origem do Estado ............................................................................118
1.2 Teorias do Estado .............................................................................118
1.3 O progresso histórico da origem do Estado ......................................123
Seção 2 A crise do Welfare State e a crítica à globalização ...........128
2.1 O modelo Welfare State ...................................................................128
2.2 Origem ............................................................................................129
2.3 Estado do bem-estar social ou Welfare State .....................................133
Seção 3 Os impactos da Revolução Francesa .................................138
3.1 Girondinos e Jacobinos ....................................................................139
3.2 A burguesia no poder .......................................................................139
Seção 4 O pensamento político contemporâneo ............................141
4.1 Hannah Arendt (1906-1975) ............................................................141
4.2 John Rawls (1921-2002): o liberalismo revivido ...............................142
4.3 Anthony Giddens: a terceira via alternativa ......................................143
Seção 5 Relação do Estado com o liberalismo e neoliberalismo .....146
5.1 Liberalismo ......................................................................................146
5.2 Neoliberalismo ................................................................................148
Ciencias_book.indb 6 7/10/14 2:54 PM
A política é uma característica humana essencial, nas palavras de Aris-
tóteles, “o homem é um animal político”. Desde os tempos mais remotos 
da história da humanidade tivemos que encontrar maneiras de resolvermos 
nossos conflitos e estabelecermos normas de convivência, em um primeiro 
momento estas regras eram simples assim como as formas de socialização. 
À medida que as sociedades foram se tornando complexas, as formas de 
fazer política também foram se tornando complexas, motivando os escritos 
de Aristóteles e, depois deles, vários outros autores que se debruçaram sobre 
essa característica humana. 
A política, portanto, é a maneira pela qual se decide aquilo que é coletivo, 
mas não é só isso, quando decidimos sobre algo coletivo também verificamos 
quem tem mais poder. A política é também uma disputa pelo poder, um poder 
que pode se manifestar das mais distintas formas nas mais distintas épocas. 
Neste livro, caro(a) leitor(a), queremos oferecer uma visão ampla das di-
versas nuanças da política, buscando uma explicação histórica e conceitual 
sobre esse tema. Este conhecimento histórico e conceitual pode auxiliar para 
que possamos perceber com maior senso crítico os aspectos da política de 
hoje. Compreender os caminhos, e descaminhos, da política nos auxilia 
em nossa própria atuação nos diasatuais, compreendendo, sobretudo, que 
a forma como praticamos a política hoje não é obra do acaso, mas de um 
processo histórico que ainda está em curso e do qual temos que nos tornar 
participantes ativos.
Para obtermos tal compreensão o livro foi estruturado da seguinte maneira:
A Unidade 1 tem por objetivo estabelecer alguns conceitos básicos para 
a discussão da política, a começar pelo próprio conceito do que se con-
vencionou chamar Ciência Política. Nessa unidade abordaremos também 
Apresentação
Ciencias_book.indb 7 7/10/14 2:54 PM
viii C I Ê N C I A P O L Í T I C A
os conceitos de Estado, burocracia, regimes políticos e cidadania, além das 
reflexões sobre o poder, que é uma das características essenciais da política.
Na Unidade 2 refletiremos sobre um conjunto de autores que formam o 
que chamamos de pensamento político clássico. Iniciaremos com os escritos 
de Aristóteles, que, como já citamos anteriormente, é o primeiro a se dedicar a 
fazer uma obra chamada A política, posteriormente diversos autores se detive-
ram sob os diversos temas da política e, até os dias de hoje, possuem relevância 
em qualquer discussão.
A Unidade 3 faz uma abordagem sobre alguns autores que pensaram na 
interação entre a Ciência Política e a sociedade. São pensadores que estavam 
refletindo sobre o fazer da política e seus reflexos na sociedade, entre eles 
temos Marx e Gramsci como críticos dos modelos adotados na modernidade; 
Montesquieu que elaborou um modelo estabelecendo a separação dos poderes 
de um Estado, modelo adotado até os dias atuais; e Tocqueville que se pre-
ocupa em como a democracia pode atingir sua potencialidade e se livrar de 
suas mazelas, bem como uma discussão sobre as formas de governo possíveis.
A Unidade 4 tem por objetivo debater a política na contemporaneidade, 
pensar em temas que escutamos muito na atualidade, como Liberalismo e 
Neoliberalismo, e quais as diferenças entre esses modelos que são concebidos 
inicialmente como modelos econômicos e que iterferem nas políticas de Estado. 
Nessa unidade também refletiremos sobre a origem do Estado Moderno, o que 
foi o Welfare State e quais os impactos da globalização sobre a forma de fse 
fazer política na atualidade.
Caro(a) leitores(a), deixo aqui um convite para iniciarmos o estudo sobre 
este tema que interessa a todos, a Ciência Política. Pois, a todo momento esta-
mos fazendo política,, mesmo quando dizemos que não queremos participar 
da política estamos fazendo política, por isso, quanto mais nos aprofundarmos 
nos temas, mais capazes seremos de orientar nossas ações políticas de maneira 
consciente.
Bons estudos!
Prof. Wilson Sanches 
Ciencias_book.indb 8 7/10/14 2:54 PM
 Seção 1: A gênese da ciência política
Nesta seção você irá conhecer o surgimento do inte-
resse filosófico pela política, pelas relações de poder 
entre os homens e pela coisa pública.
 Seção 2: Pensamento político clássico 
Nesta seção serão apresentados alguns dos nomes 
de maior referência para o pensamento político 
ocidental no contexto da modernidade.
Objetivos de aprendizagem: Nesta unidade você irá conhecer 
alguns autores de referência para o estudo da formação do pensa-
mento político, bem como compreender a importância da política 
para as sociedades e para nossa vida. 
A formação do 
pensamento político
Unidade 1
Giane Albiazzetti
Ciencias_book.indb 1 7/10/14 2:54 PM
2 C I Ê N C I A P O L Í T I C A
Introdução ao estudo
Esta unidade aborda a formação do pensamento político, tendo como referên-
cia dois períodos históricos distintos — a Grécia Antiga e a Modernidade — e as 
ideias centrais de alguns dos principais filósofos que se dedicaram ao tema. Os 
conteúdos trabalhados estão divididos em duas seções: na primeira, é apresentada 
a gênese ou a origem da política e da ciência política; na segunda, são aborda-
dos alguns autores clássicos do pensamento político ocidental, começando por 
Nicolau Maquiavel e seguindo para Thomas Hobbes, Montesquieu, John Locke, 
Rousseau, Tocqueville, Karl Marx e Max Weber. Um ótimo estudo a todos!
Seção 1 A gênese da ciência política
É inegável que todos nós estamos inseridos em um universo político, mesmo 
sem perceber. Em qualquer época histórica, nos diferentes povos e em todas as 
sociedades existe a política. Política é algo que, querendo ou não, está presente 
em nossas vidas, tendo relação direta com nosso passado, presente e futuro. 
Portanto, para sua formação acadêmica e profissional, é muito importante 
conhecer o surgimento do interesse filosófico pela política, pelas relações de 
poder entre os homens e pela coisa pública.
Você, leitor, já parou para refletir sobre o que é a política, sua impor-
tância para a humanidade, e o porquê de ouvirmos diariamente tantas 
notícias, discussões e debates sobre o tema? Ou então, o que é e para 
que serve a política?
Questões para reflexão
1.1 O que é e para que serve a política?
A política faz parte da vida humana, de tal forma que é possível afirmar que 
todo homem é um ser político por natureza, pois temos de viver em sociedade, 
em coletividade, e isso nos impõe a convivência com outras pessoas. Desde a 
pré-história, para vencer as adversidades naturais (animais mais fortes e eventos 
da natureza) e garantir a sobrevivência, o ser humano teve de se adaptar a uma 
Ciencias_book.indb 2 7/10/14 2:54 PM
A f o r m a ç ã o d o p e n s a m e n t o p o l í t i c o 3
vida coletiva. Contudo, a convivência entre os homens não é naturalmente har-
mônica; ao contrário, é comum que, nas relações sociais, haja divergência de 
opiniões e conflitos. Além disso, o homem é um ser competitivo por natureza, e 
assim surge a necessidade de dominar, de ter poder sobre os demais. Por todos 
esses motivos e para que a vida em sociedade não se torne uma guerra cons-
tante é preciso que seja estabelecido um conjunto de acordos, normas, regras, 
limites e leis que tornem possível o convívio social. A natureza associativa do 
homem é, portanto, a origem da política.
1.2 Por que surgiu o interesse pela política?
A política como campo de conhecimento científico só surgiu no século 
XIX, mas o pensamento político é muito anterior, remontando à Antiguidade, 
com as ideias de filósofos da Grécia e de Roma. Reflexões filosóficas sobre a 
vida privada e a vida pública, sobre liberdade e submissão, sobre a relação 
entre o interesse individual e o coletivo, bem como sobre poder e domina-
ção, acompanham a humanidade há muito tempo. Algumas obras clássicas, 
como A República, do filósofo grego Platão, tratam das ações humanas na vida 
em sociedade e, portanto, da ação política. Nessa obra o filósofo se dedica a 
pensar a questão da justiça nas relações entre os homens, o que seria a essência 
da boa conduta humana (PLATÃO, 2006).
Como já vimos, uma característica fundamental do ser humano, já assinalada 
na Antiguidade pelo filósofo Aristóteles, é sua natureza gregária ou associativa, 
que faz da convivência com os pares uma necessidade vital. Por outro lado, todo 
ser humano é essencialmente livre e cada um tem seus próprios interesses, neces-
sidades, aptidões, conhecimentos, preferências e convicções, o que caracteriza 
sua singularidade ou individualidade. Esta ambivalência entre as demandas e 
exigências impostas pelo grupo social, de um lado, e os anseios e necessidades 
dos indivíduos, de outro, cria uma permanente área de tensões e conflitos, que 
podem e devem ser harmonizados para o bem de todos, por meio de uma série 
de normas, regras e leis disciplinadoras do comportamento humano. Vejam o que 
afirma o pensador Émile Durkheim (apud TOMAZI, 2000, p. 17) a esse respeito:
[...] na vida em sociedade o homem defronta com regras 
de conduta que não foram diretamente criadas por eles, 
mas que existem e são aceitas na vida em sociedade, 
devendo ser seguidas por todos. Sem essas regras, a 
sociedade não existiria, e é por isso que os indivíduos 
devem obedecer a elas.
Ciencias_book.indb 3 7/10/14 2:54 PM
4 CI Ê N C I A P O L Í T I C A
A necessidade de estabelecer limites para o comportamento humano com 
fins de assegurar a convivência em sociedade, bem como de definir objetivos 
coletivos são tarefas que pertencem ao campo da política. Importante ressaltar 
que esse conjunto de normas, regras, leis e objetivos deve refletir as vontades 
e os interesses de todos os indivíduos que participam do grupo social, preser-
vando a possibilidade de autonomia e liberdade individual desde que isso não 
prejudique a convivência entre todos. Pressupõe-se, portanto, que cada um 
deva aprender a agir com certos limites de comportamento, isto é, aprender a 
obedecer as leis e respeitar aquilo que é definido para o coletivo. 
Inúmeras obras filosóficas apresentam concepções sobre o universo político. 
Da Antiguidade destacam-se as ideias dos sofistas, Sócrates, Platão e Aristóteles; 
na Modernidade o destaque vai para as obras de Maquiavel, Hobbes, Montes-
quieu, Locke, Rousseau, Tocqueville, Marx e Weber. 
Em certo sentido podemos dizer que o papel da filosofia política é prover 
um conjunto de informações e análises racionais acerca das estruturas de 
poder que configuram, caracterizam e ordenam as relações entre os homens, 
levando, portanto, a um entendimento mais aprofundado sobre o modo como 
se estabelece a vida em sociedade. Importante frisar que a chamada “vida em 
sociedade” não seria possível sem uma complexa organização coletiva e con-
sensual sobre o pertencer a um grupo (como diriam os filósofos contratualistas, 
que serão apresentados mais à frente).
Para Bobbio (2000), a filosofia política assume quatro significados distintos, 
os quais, de algum modo, se complementam. São eles: 1) a filosofia política 
representa uma forma de se descrever, projetar e teorizar a formação dos Es-
tados e das repúblicas, especialmente em seus aspectos éticos e não éticos; 
2) a filosofia política estuda e propõe modelos explicativos acerca dos funda-
mentos do poder e da obediência coletiva, isto é, dos critérios adotados nas 
mais diversas sociedades para a legitimação do poder de um ou de uns sobre 
os demais; 3) outra forma de se conceber o pensamento filosófico sobre o uni-
verso político é considerá-lo em uma perspectiva mais geral, como um campo 
de conhecimento autônomo, que não pode ser confundido com a economia, 
a religião ou o direito, por exemplo. Nesta perspectiva, estudar a política é 
buscar conhecer e compreender suas particularidades em relação a outras 
esferas do conhecimento, ainda que estabeleça relações diretas com essas; 
4) finalmente, é possível pensar a filosofia política como um tipo de leitura 
crítica da ciência política, portanto, uma metaciência, cujo fim é colocar em 
Ciencias_book.indb 4 7/10/14 2:54 PM
A f o r m a ç ã o d o p e n s a m e n t o p o l í t i c o 5
questionamento permanente os modos pelos quais os estudos políticos e seus 
saberes são produzidos.
Desta forma, é possível distinguir o que é campo da filosofia política e o 
que é campo da ciência política, mas não podemos desconsiderar as contri-
buições de uma em detrimento da outra. Assim, pode-se afirmar que a filosofia 
política (ou “filosofias políticas”) como a base da formação e sustentação da 
ciência política. 
1.3 O pensamento político ao longo do tempo: 
da filosofia à ciência política
O período histórico chamado de Antiguidade compreende vários sécu-
los, de aproximadamente 4000 a.C. até 476 d.C., quando ocorre a queda do 
Império Romano do Ocidente. Na Grécia Antiga, Aristóteles (2009) defendia 
que a política deveria estudar a pólis e as suas estruturas e instituições (a sua 
constituição e conduta). Esse filósofo é um dos mais reconhecidos precursores 
do pensamento político ocidental, pois considerava a política uma espécie de 
“ciência maior”, ou seja, um campo de conhecimento superior em relação aos 
demais. Formulou, também, um método de observação para explicar a vida 
em sociedade. Aristóteles tinha uma preocupação central: um bom governo 
teria de ser capaz de garantir o bem-estar geral, portanto, tudo o que fosse de 
interesse público.
Noções de público e privado, bem como de formas de governo, estavam 
presentes no pensamento desse e de outros filósofos da Grécia e de Roma, na 
Antiguidade. Importante destacar que a esfera pública se refere a tudo aquilo 
que se relaciona com os interesses da sociedade como um todo, isto é, com a 
coletividade. Em nossos dias, por exemplo, podemos pensar nas leis que apli-
cam a todos os cidadãos; na construção de espaços que podem ser utilizados 
por todos, indistintamente; na criação de serviços que atendem às diferentes 
necessidades da população (serviços públicos de saúde, educação, transporte, 
saneamento, iluminação, segurança etc.); no estabelecimento de taxas e im-
postos que devem ser pagos pelos cidadãos e empresas; entre outros. O fato 
é que desde a Antiguidade, a chamada “coisa pública”, ou tudo aquilo que 
atende ao conjunto da população, é — ou deveria ser — de interesse de todas 
as pessoas que fazem parte da sociedade, e exatamente por isso depende da 
fiscalização e do zelo contínuo por parte de todos.
Ciencias_book.indb 5 7/10/14 2:54 PM
6 C I Ê N C I A P O L Í T I C A
O filósofo grego Platão, outro grande expoente do pensamento político na 
Antiguidade, em sua obra clássica A República, procura descrever essa relação 
dos cidadãos com a coisa pública, com campo prático da ação política (PLA-
TÃO, 2006). Para o filósofo, a política deve ter como base essencial a justiça, 
e os homens devem ser doutrinados para exercê-la em todas as situações, 
uma vez que na vida em sociedade há diferentes, e, muitas vezes, divergentes 
interesses e necessidades (aqui, um entendimento mais próximo do que seria 
hoje, para nós, o campo da esfera privada). Assim, a fim de que prevaleça 
a priorização dos interesses e necessidades coletivos, de todos os cidadãos, 
há de se promover o senso de justiça e o uso da razão (VELOSO, 2003).
Posteriormente, ao longo da Idade Média, na sequência dos eventos histó-
ricos que levaram ao enfraquecimento da filosofia grega, o mundo ocidental 
passou a ser dominado e explicado pela crença de que a organização das 
sociedades e o poder dos imperadores, reis e rainhas tinham fundamento 
em leis divinas (e não mais em leis feitas pelos homens, como defendiam os 
filósofos da Antiguidade). Essa cultura pautada na explicação teológica, no 
sagrado e no divino, passou a justificar as relações de dominação e de su-
bordinação dos povos, e as imensas desigualdades sociais que distanciavam 
os grupos sociais entre si. Isso também influenciou o pensamento político na 
Idade Média, que deixou de ser pautado na interpretação racional e lógica, 
e foi substituído pelas crenças sobrenaturais. 
Durante muitos séculos, grande parte da humanidade foi levada a crer que 
as desigualdades sociais e as formas de poder e de dominação entre os homens 
eram fruto da vontade de Deus. 
Um antecedente histórico importante a ser lembrado é a reforma religiosa 
do século XVI, que desencadeou uma série de eventos significativos em termos 
políticos, sociais, econômicos e ideológicos no continente europeu (LUIZETTO, 
2000). Por um lado, o movimento reformista provocou, na Europa, rupturas 
com o cristianismo católico, ainda que isso não tenha enfraquecido o pensa-
mento religioso. Lembre-se que as religiões passaram a compor os elementos 
de centralização política, fortalecendo o poder dos reis e rainhas absolutistas. 
Por outro lado, as religiões reformadas fortaleceram o individualismo, especial-
mente em função das ideias de livre-arbítrio defendidas por Martin Lutero e a 
crença na predestinação, de Calvino, cuja ênfase no trabalho e sua valorização 
contribuíram com o fortalecimento dos ideais liberais/burgueses (direito à liber-
dade individual, à propriedade privada e à acumulação de capitais). O fato é 
Ciencias_book.indb 6 7/10/14 2:54 PM
A f o r m a ç ã o d o p e n s a m e n t o p o l í t i c o 7
que esseprocesso promoveu a consolidação do modo de produção capitalista, 
os interesses pela expansão territorial, pela conquista e dominação de outros 
povos por parte das monarquias europeias e adquiriu dimensões sem prece-
dentes na história da humanidade, tendo em vista as motivações econômicas 
e de acumulação do capital.
Muitos de nós aprendemos de forma equivocada o que foi a Idade Média. Um dos historiadores 
medievalistas mais importantes da contemporaneidade é Jacques Le Goff, pesquisador e autor 
de vários livros sobre esse importante período histórico. Para aprender mais sobre as sociedades 
ocidentais no período medieval, sua concepção de mundo, organização social, cultural, eco-
nômica e política, recomendo conhecer as publicações deste historiador. 
Para saber mais
Essas transformações históricas representam o marco do fim do feudalismo 
e do início do capitalismo, a nova ordem sociocultural que passou a imperar 
na Europa e, posteriormente, no mundo, como resultado do desenvolvimento 
das ideias, a partir do Renascimento, das mudanças do modo de produção (do 
trabalho artesanal para o fabril/industrial assalariado), do enriquecimento e 
emancipação da burguesia, e de novos costumes mais pautados nos preceitos 
materiais e econômicos.
Foi a partir desse período, já na época moderna, que o pensamento político 
fundamentado na razão, na lógica, na filosofia e na ciência, ressurgiu com força. 
Como vimos, a chamada Idade Moderna é marcada pelo rompimento com a 
explicação irracional e teológica da realidade, e pelo secularismo resultante de 
uma nova ordem social: o modo de produção capitalista. Os grandes eventos 
históricos desse período, como os descobrimentos marítimos, as monarquias 
absolutistas, a Revolução Francesa, a Revolução Industrial, a invenção da 
imprensa, o advento de campos de conhecimento científico em várias áreas, 
o aperfeiçoamento de técnicas de produção, de transporte e de comércio, 
o desenvolvimento de tecnologias avançadas, e a formação de uma cultura 
baseada nos valores da vida material e racional, conduziram ao interesse por 
uma nova forma de explicar a política, rompendo com a visão medieval em 
relação à organização da vida em sociedade e suas relações hierárquicas. Nesse 
contexto, muitos filósofos passam a se dedicar ao entendimento do universo 
político e social de seu tempo, com destaque para os que serão apresentados 
a seguir, na próxima seção.
Ciencias_book.indb 7 7/10/14 2:55 PM
8 C I Ê N C I A P O L Í T I C A
 1. O que é política e qual a sua importância?
 2. Como surgiu o interesse pela política?
Atividades de aprendizagem
Ciencias_book.indb 8 7/10/14 2:55 PM
A f o r m a ç ã o d o p e n s a m e n t o p o l í t i c o 9
Seção 2 Pensamento político clássico
Nesta seção serão apresentados os filósofos de referência para o estudo do 
pensamento político moderno. Você verá que as ideias desses autores continuam 
muito atuais, pois por meio delas conseguimos refletir sobre o que acontece 
no universo político em nossos dias. 
Você já parou para pensar no quanto sua vida está vinculada aos 
assuntos de natureza política? Muitos dizem que política é um “mal 
necessário”... Que ela é necessária não restam dúvidas, mas será que 
a política é um “mal” para a humanidade?
Questões para reflexão
2.1 O pensamento político na Modernidade e suas 
contribuições para a compreensão das relações 
sociais nos dias de hoje
Nicolau Maquiavel (Itália, 1469-1527) foi o primeiro pensador a refletir 
sobre a formação dos Estados modernos. O Estado absolutista foi a primeira 
forma de Estado moderno, que começa com a crise da sociedade feudal. Ma-
quiavel foi um filósofo renascentista, e em sua obra procurou enfatizar o papel 
e a ação dos governantes (na época, os reis absolutistas). Seu livro de referência 
é O príncipe (1513), dedicado a Lourenço II da dinastia Médicis, revelando 
um teor profundamente realista em termos políticos. Maquiavel descreve a 
política como ela é e discute como os governantes devem agir para governar 
com soberania. Foi o primeiro a conceber a ideia de “Estado” como o conjunto 
de instituições políticas, jurídicas e sociais de uma sociedade. A afirmação a 
seguir, extraída de O príncipe, nos traz o modo como ele procurou explicar as 
relações de poder e os governos através de uma visão profundamente realista.
É necessário a um príncipe que deseja manter-se príncipe 
aprender a não usar apenas a bondade [...]. Bem sei que 
cada qual admitirá que seria coisa muito louvável que num 
príncipe se encontrassem, de todas as qualidades que acima 
arrolei, aquelas que são julgadas boas. Todavia, visto que 
não pode possuí-las todas, nem de todo praticá-las, dada a 
condição humana que o veda, o príncipe terá de mostrar-se 
prudente o bastante (MAQUIAVEL, 1999, p. 88).
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10 C I Ê N C I A P O L Í T I C A
Em sua obra, Maquiavel apresenta para nós, leitores, algumas “lições” 
clássicas sobre a ação política — esta mais pensada enquanto ação de um go-
vernante —, cuja finalidade é conquistar e manter o poder. Dentre essas lições 
maquiavélicas, menciono algumas que nos ajudam a refletir sobre a política no 
mundo de hoje. Vejamos: Os fins justificam os meios — os fins, segundo o que 
se atribui a esse filósofo, referem-se ao modo concreto com que um governante 
assegura sua dominação política, ou melhor, o modo como assume o poder 
perante uma sociedade. Ao lermos esta passagem de O príncipe temos a clara 
impressão de que não importam os meios adotados, desde que o governo seja 
mantido. Para tanto, Maquiavel nos mostra caminhos que ainda hoje ainda 
são comumente trilhados pelos homens da política. Se pensarmos no Brasil 
contemporâneo, é possível observar, nos políticos eleitos e naqueles que de-
sejam se eleger, inúmeros comportamentos que nos sugerem um aprendizado 
consistente das ideias do filósofo renascentista.
A um príncipe é necessário ter o povo ao seu lado — aqui Maquiavel 
admite a importância da aceitação do conjunto da sociedade em relação às 
políticas adotadas pelo governo. Por isso, ao promover ações que de alguma 
forma atendam àquilo que a coletividade anseia, o governante consegue obter 
apoio dos cidadãos, o que amplia suas possibilidades de se manter no poder. 
Em outra parte de sua obra, Maquiavel (1999) defende que para ascender 
politicamente e fortalecer-se no poder o governante depende de apoio, tanto do 
povo quanto dos homens mais poderosos. Nesta sua afirmação, o autor orienta 
que o fortalecimento do poder político do governante depende diretamente 
de duas forças: por um lado, o apoio da população, por meio de sua aceita-
ção, obediência e aval, por outro, o apoio daqueles que detêm outras formas 
de poder ou liderança, seja do ponto de vista político, bélico, econômico ou 
mesmo social. Se pensarmos novamente no exemplo da atual política brasi-
leira, podemos destacar, a título de ilustração, as alianças partidárias que são 
realizadas antes das eleições e suas posteriores concessões de cargos políticos. 
Trata-se, portanto, de uma das mais eficazes formas de conquistar e manter o 
poder político em um Estado.
Maquiavel (1999) também escreve que o governante deve se preocupar 
em obter a simpatia e o temor de seu povo, mas agindo, sobretudo, de modo 
a mostrar-se temeroso. Quando aborda esta questão, o filósofo parece lançar 
sobre os governantes de seu tempo — os monarcas absolutistas — um grande 
desafio, que é mostrar-se ao mesmo tempo carismático (emprestando aqui um 
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A f o r m a ç ã o d o p e n s a m e n t o p o l í t i c o 11
termo mais weberiano do que maquiavélico) e forte perante a sociedade. Ao 
expor sua concepção de “amor e medo”, defende que, na impossibilidade de 
conseguir conciliar os dois sentimentos entre o povo, é mais importante garantir 
uma conduta política que revele um estilo de comando a ser temido, o que, em 
outras palavras, corresponderia a uma maneira de obter respeitoe subserviência 
da sociedade, bem como um controle sobre os adversários.
Uma outra lição interessante é sobre a existência de duas maneiras de se con-
quistar e manter o poder político: pelas leis e pela força. Aqui, Maquiavel aponta 
para a necessidade de um corpo de leis (uma das ideias convergentes entre os filó-
sofos da política moderna), instituídas pelo príncipe — lembrando que estamos 
falando do primeiro grande pensador clássico do Estado moderno —, e também 
da existência de um aparato militar que esteja a serviço do monarca (no século 
XV, o exército real). Sendo assim, para que se conquiste o poder político e nele se 
mantenha, o governante deve ter o respaldo desses dois pilares: as leis e as armas 
(que posteriormente Max Weber chamará de monopólio da violência).
Outro momento de destaque nas interpretações contundentes do autor é 
quando se afirma que o governante precisa agir como um dissimulador, pois 
ao usar de mentiras sempre haverá quem se deixe convencer delas, o que 
será politicamente muito proveitoso. Esta passagem do livro O príncipe nos 
remete ao comportamento de grandes líderes de Estado (e suas sociedades) do 
século XX e tempos atuais. Neste ponto a obra se torna tão realista que parece 
transportar o leitor para os bastidores da política contemporânea. Desde a 
chamada modernidade (leia-se aqui o período correspondente aos séculos XV 
e primeiras décadas do século XX, na óptica de alguns historiadores), o jogo 
político vem se constituindo de práticas de dissimulação, de mentiras e en-
ganação, muitas vezes aceitas ou ignoradas pela coletividade. Mais uma vez, 
se quisermos exemplificar, podemos pensar no que os grandes ditadores do 
século XX, passando por Josef Stalin, Adolf Hitler, Benito Mussolini, Augusto 
Pinochet, Francisco Franco, Kim Il-Sung, António de Oliveira Salazar, Saddam 
Hussein, entre outros, fizeram para conseguir o poder, tendo, inclusive, o apoio 
de parcelas imensas da população de seus países. 
Para Nicolau Maquiavel (1999), o que realmente conta é a opinião e a 
força política da maioria da população, desde que esta se sinta amparada 
pelo governante. Mais uma vez, em política, a obtenção de apoio é funda-
mental. Neste caso, Maquiavel aponta para o fato de que o governante deve 
demonstrar sua benevolência em ajudar o povo a fim de obter, em troca, seu 
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12 C I Ê N C I A P O L Í T I C A
apoio irrestrito (uma relação de troca). Sendo assim, ainda que haja oposi-
tores, o governo se sustenta no poder, pois a maioria da população se sente 
politicamente amparada. 
Assim que, em muitos casos, o governante irá precisar e até mesmo de-
pender de apoiadores corruptos, e nesse caso deve adaptar-se às suas exi-
gências e condições (MAQUIAVEL, 1999). Impressionante pensarmos que a 
corrupção na política já fazia parte dos governos absolutistas da Europa, não 
é mesmo? O que parece mais interessante é que Maquiavel destaca que a 
aliança do governante com aliados corruptos pode se fazer necessária a fim 
de se conquistar e manter o poder. Mais uma vez, ao analisarmos a história 
política brasileira, podemos observar claramente esta tese maquiavélica, 
especialmente nos governos democráticos, nos quais a vitória nas urnas de-
pende de alianças entre partidos e concessão de altos cargos públicos para 
os aliados, ainda que muitos desses possam estar envolvidos em denúncias 
ou casos de corrupção. Nesses casos, como ensina o filósofo, é prudente ao 
governante adequar-se às circunstâncias e satisfazer os interesses de quem 
o apoia, mesmo que corrupto.
Uma outra lição extraída de O príncipe é bastante conhecida, inclusive do 
público leigo, quando o filósofo observa que os que pretendem conquistar e 
se manter no poder político precisam oferecer ao povo entretenimento, festas 
e espetáculos, ou, em outras palavras, o governante deve exercer a prática de 
oferecer ao povo pão e circo. Há muitos exemplos de como conquistar a simpa-
tia dos eleitores, e um dos meios mais eficazes é promover ações de concessão 
de benefícios não contributivos e grandes eventos festivos. 
Para compreender alguns aspectos do republicanismo de Maquiavel e entender qual a natureza 
do desejo do povo e seu papel na vida política, veja os artigos:
ADVERSE, Helton. Maquiavel, a república e o desejo de liberdade. 2007. 
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/trans/v30n2/a04v30n2.pdf>. 
CHAIA, Miguel. A natureza da política em Shakespeare e Maquiavel. 1995. 
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v9n23/v9n23a11.pdf>.
Para saber mais
ADVERSE, Helton. Maquiavel, a república e o de-
sejo de liberdade. 2007. Disponível em: <http://
www.scielo.br/pdf/trans/v30n2/a04v30n2.pdf>. 
Acesso em: 20 maio de 2014.
CHAIA, Miguel. A natureza da política em Shakes-
peare e Maquiavel. 1995. Disponível em: <http://
www.scielo.br/pdf/ea/v9n23/v9n23a11.pdf>. Acesso 
em: 20 maio de 2014.
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A f o r m a ç ã o d o p e n s a m e n t o p o l í t i c o 13
Outro importante precursor da ciência política é Thomas Hobbes (Ingla-
terra, 1588-1679), filósofo defensor da monarquia absolutista e do despotismo. 
Sua obra de referência é o Leviatã (1651). Essa obra é a representação de uma 
fera citada na Bíblia (Jó, 40-41), poderosa, forte, destemida e fria. O autor 
compara essa fera ao Estado. Hobbes defende a necessidade de um Estado 
forte e soberano como único meio de manter a ordem e a paz na sociedade. 
Trabalha com a hipótese de como seria catastrófico um mundo onde os homens 
vivessem em seu estado de natureza, sem o Estado e suas leis.
O estado de natureza seria, para Hobbes (e, posteriormente, para outros 
filósofos também), uma espécie de condição mais primitiva e irracional do 
ser humano, em que cada um, individualmente, lutaria pela sobrevivência 
em seu meio natural. Trata-se de um conceito meramente hipotético, uma 
vez que o homem desde sempre procurou se associar coletivamente para 
superar as adversidades. Para transpor o estado de natureza, que poderia 
ser mais uma ameaça, ou uma guerra de todos contra todos, como afirma o 
filósofo, os homens tiveram de estabelecer, desde suas origens, um tipo de 
pacto coletivo — o chamado contrato social.
A ideia de um contrato social na modernidade representa a transferência 
de poder dos indivíduos para o Estado, por meio do estabelecimento de leis 
e de controle das condutas humanas. Thomas Hobbes concebe o Estado como 
um grande corpo social, organizado a fim de zelar pela sociedade. Vejam 
como ele se expressa diante desta questão:
Entendo por leis civis aquelas leis que os homens são 
obrigados a respeitar [...]. E em primeiro lugar é evidente 
que a lei, em geral, não é um conselho, mas uma ordem. 
E também não é uma ordem dada por qualquer um, pois 
é dada por quem se dirige a alguém já anteriormente obri-
gado a obedecer-lhe [...], a pessoa do Estado (HOBBES, 
1997, p. 207).
Hobbes é um absolutista que se contrapõe totalmente à concepção ante-
riormente aceita de que o poder dos monarcas seria atribuição divina. Em sua 
filosofia política o autor concebe a racionalidade e a secularização (finitude do 
homem) como pilares para se analisar as relações sociais e políticas das socie-
dades e os governos de seu tempo. Assim, sua teoria sobre o Estado moderno 
defende que é a vontade humana e não mais a vontade de um ser sobrenatural 
que impõe as regras da vida social (CASTELO BRANCO, 2004).
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14 C I Ê N C I A P O L Í T I C A
Sua teoria se organiza em três partes: De corpore, De homine e De cive. 
Na primeira e na segunda, o filósofo teoriza sobre a condição natural do ho-
mem, discorrendo a respeito da necessidade de superação do pensamento 
teológico/religioso predominante na cultura ocidental até então por meio dos 
enunciados das ciências naturais. A moral e a política se inserem nesses textos 
como elementos capazes de elevar a racionalidade humana, promovendo a 
autonomia do pensamentoe das ideias sobre o mundo (LISBOA, 2005). Em 
De cive Hobbes trata da sociedade, aprofundando sua análise política sobre 
o papel do Estado. Esse é o texto considerado por muitos intérpretes da obra 
hobbesiana como sendo “[...] a primeira redação de sua obra-prima, o Leviatã” 
(NOGUEIRA FILHO, 2010, p. 95).
No Leviatã, o Estado se fundamenta nas leis e por meio delas se empodera, 
assumindo o direito legítimo de intervir na organização da vida humana. Trata-se 
de um poder temporal, secular, fruto da razão humana. Sem isto, a sociedade 
civil sucumbiria. Esse aparato legal é que impede os homens de retornarem ao 
estado de natureza, à condição originária de todo ser humano, em que cada 
um competiria ferozmente em defesa da própria sobrevivência. O homem 
hobbesiano é um ser natural, mas, acima de tudo, um ser político, que precisa 
se organizar coletivamente por meio do contrato social, submetendo-se às leis 
estabelecidas pelo Estado.
Para analisar a obra de Hobbes, é preciso começar 
lembrando que as bases teóricas do chamado modelo 
jusnaturalista (do direito natural), sobre a origem e os 
fundamentos do Estado, já existiam antes e continuaram 
a existir depois de Hobbes. Elas implicam a existência 
de uma grande dicotomia entre o “estado da natureza” 
e o “estado civil”. Entre ambos existe uma relação de 
contraposição, na medida em que o estado civil é a antítese 
do estado da natureza. Este é constituído, principalmente, 
de indivíduos, associados ou não em grupos como as 
famílias, livres e iguais, uns em relação aos outros, ou 
seja, um Estado em que preponderam tanto a liberdade 
quanto a igualdade. A passagem de um estado a outro 
é o resultado de uma convenção estabelecida pelos que 
desejam sair do estado de natureza, o que faz supor a 
crença de que o estado civil é uma entidade artificial, 
produto da nossa cultura. O princípio legitimador 
do estado civil é, portanto, o consenso, estabelecido 
entre aqueles que desejam passar de um estado a outro 
(NOGUEIRA FILHO, 2010, p. 96, grifo do autor).
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A f o r m a ç ã o d o p e n s a m e n t o p o l í t i c o 15
Esse homem concebido na filosofia de Thomas Hobbes é um ser competi-
tivo por natureza, que busca de alguma forma ter poder nas suas relações com 
o mundo, e assim conseguir garantir a sobrevivência. E a solução encontrada 
pelo pensador absolutista o arranjo societário dos grupos humanos por meio 
da sociedade civil, a qual transfere para o Estado todo o poder. Mas esse con-
senso descrito por Nogueira Filho (2010) é um modelo hipotético, meramente 
teórico, no qual Hobbes pressupõe uma intencionalidade originária — que 
o autor chama de “desejo” — em tornar os grupos humanos associados de 
modo mais organizado e controlado, por meio de um “contrato social”, que 
representa o início da formação do Estado moderno. Deduz-se, portanto, que o 
poder que antes era diluído entre os indivíduos e grupos humanos agora passa 
a se concentrar totalmente nas mãos do Estado — o Leviatã.
Por outro lado, o entendimento hobbesiano acerca do Estado moderno se 
traduz como uma contraposição também ao poder religioso, atemporal. Con-
forme afirma Castelo Branco (2004, p. 28): “Para dar cabo à disputa política do 
Estado e da Igreja, o autor submete a Igreja ao poder estatal. O Estado absolutista 
de Hobbes suprime qualquer forma de poder ou instituição autônoma — seja 
econômica, religiosa ou de qualquer outra espécie [...]”, incluindo a autono-
mia dos indivíduos e dos monarcas. Por isso, a figura metafórica do Leviatã é 
adotada como forma de explicar a dominação integral da vida humana e das 
sociedades por parte do Estado.
Sem dúvida, as crises religiosas do século XVI e as pertur-
bações civis que as acompanharam, ao fazerem surgir os 
grandes medos da anarquia e da destruição das estruturas 
políticas e sociais, permitiram a constituição, tida como 
vital, de um Estado forte (GOULEMENT, 1987 apud NO-
GUEIRA FILHO, 2010, p. 93).
Ao defender o Estado como uma espécie de ser forte, poderoso, domina-
dor e destemido (usando a metáfora do monstro bíblico), que se coloca acima 
da sociedade e dos reis — ainda que regulado por leis —, o filósofo procura 
enfraquecer ou mesmo suprimir qualquer possibilidade de que interesses par-
ticulares, alheios à vontade geral, possam assumir o comando da política nas 
sociedades absolutistas.
Podemos perceber, então, que Hobbes elabora parâmetros de ética e de 
justiça na conduta política dos governantes (LISBOA, 2010), mas não faz um 
discurso orientador como fez Maquiavel. Se comparadas, as ideias dos dois 
pensadores parecem se aproximar mais de uma perspectiva idealista sobre o 
papel do Estado e do governante nas sociedades modernas. 
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16 C I Ê N C I A P O L Í T I C A
Leia a obra de Pedro Castelo Branco, Poderes invisíveis versus poderes visíveis no Leviatã 
de Thomas Hobbes (2004). Este artigo sugere que o conceito de secularização nem sempre 
foi pensado como separação entre o poder espiritual e o poder temporal. A investigação do 
Leviatã de Thomas Hobbes indica outro sentido para a compreensão do conceito de 
secularização.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n23/24619.pdf>.
Para saber mais
Seguindo em uma linha diferente, John Locke (Inglaterra, 1632-1704), filó-
sofo crítico do absolutismo (ao contrário de Hobbes), é reconhecido como o 
grande precursor do liberalismo político e defensor dos ideais burgueses. Obser-
vem que ele viveu em pleno contexto do Iluminismo, corrente de pensamento 
que muito inspirou a revolução política da burguesia na Europa moderna (a 
Revolução Francesa, expressão histórica da tomada do poder político pelos 
burgueses, ocorreu em 1789). O livro de referência de Locke é o Segundo 
tratado sobre o governo civil (1690), no qual descreve a importância da razão 
humana para a superação do estado de natureza, e defende como princípios 
essenciais em uma sociedade a existência de um governo civil que assegure a 
todos, indistintamente, os direitos naturais. Para este filósofo, todo ser humano 
tem, naturalmente, o direito à vida, à felicidade, à liberdade, à independência 
e à propriedade (isso combina com os ideais burgueses, não é mesmo?). Para 
superarem o estado de natureza, os homens devem obedecer às leis que são 
pactuadas coletivamente — o contrato social — e que são organizadas e de-
fendidas pelo governo.
John Locke é o primeiro defensor de um governo que seja escolhido pela 
sociedade civil, por isso se contrapõe ao poder divino atribuído aos monarcas 
absolutistas de sua época. Sendo assim, defende que um governante deve ser 
substituído quando não estiver conseguindo assegurar a todas as pessoas os 
seus direitos naturais. Conseguem perceber o quanto suas ideias liberais foram 
revolucionárias para o seu tempo? Vamos agora a um trecho de seu livro. Ob-
servem que ele defende a existência do poder legislativo a fim de assegurar a 
toda a sociedade seus direitos naturais por meio da ação do Estado.
Os homens reuniram-se em sociedades [...] para proteger 
e defender suas propriedades [...]. Foi com esta finalidade 
que os homens renunciaram a todo o seu poder natural e o 
CASTELO BRANCO, Pe-
dro Hermílio Vil las 
Bôas. Poderes invisíveis 
versus poderes visíveis 
no Leviatã de Thomas 
Hobbes. Rev. Sociol. 
Polit., Curitiba, n. 23, 
pp. 23-41, 2004. Dis-
ponível em: <http://
www.scie lo.br/pdf/
rsocp/n23/24619.pdf>. 
Acesso em: 24 mar. 
2009.
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A f o r m a ç ã o d o p e n s a m e n t o p o l í t i c o 17
depuseram nas mãos da sociedade em que se inseriram, e 
a comunidade social colocou o poder legislativo nas mãos 
que lhe pareceram as mais adequadas; ela o encarregou 
também de governá-los segundo leis promulgadas, sem as 
quais sua paz, sua tranquilidade e seus bens permanece-
riam na mesma precariedade que no estado de natureza 
(LOCKE, 1999, p. 165).
Vale destacar a diferença entre monarquia erepública. O termo Monarquia 
significa o governo ou poder de um só, no caso o rei ou rainha. Já o termo 
República representa o governo ou poder de vários, os quais representam a 
coletividade, o que implica, portanto, um nível mais avançado de elaboração 
política por parte da sociedade.
O pensamento político de Locke corresponde a uma ruptura teórico-
-ideológica em relação às ideias predominantes até então, e para compreender 
sua concepção de política é necessário fazer uma contextualização da Europa 
de seu tempo. No período em que viveu, entre 1632 a 1704, as sociedades 
europeias, em particular a inglesa e a francesa, viviam uma intensa transfor-
mação cultural. No caso da Inglaterra, a Revolução Gloriosa, que ocorreu no 
século XVII, representou uma espécie de acordo entre as classes econômicas 
dominantes (no caso, os proprietários rurais e a burguesia urbana), que se em-
penharam em participar mais diretamente das decisões políticas do país sem 
ter de derrubar a monarquia (CAMARGO NETO, 2005). É importante lembrar 
que foi nesse contexto que o Parlamento inglês se constituiu, migrando de 
uma Inglaterra monárquica absolutista para uma monarquia parlamentarista, 
como é até hoje, onde o poder político do monarca é subordinado às demais 
lideranças parlamentares.
Nesse cenário, o filósofo John Locke elabora sua teoria acerca do Estado 
moderno. Ao contrário de Thomas Hobbes, que como vimos foi um defensor 
da centralização política absolutista, para Locke o poder soberano teria de vir 
da sociedade civil, representada pelo parlamento e pelas leis do país, os quais 
teriam de promover os princípios do liberalismo em favor de todos os indivíduos 
(NOGUEIRA FILHO, 2010).
É possível observar como Locke é contundente ao se posicionar contraria-
mente ao absolutismo e à centralização do poder político na seguinte afirmação: 
Desde que surgiu no mundo uma geração pronta a lisonjear 
os príncipes formulando a opinião de que estes são inves-
tidos de um direito divino de exercer o poder absoluto, 
sem levar em conta leis destinadas a reger a instituição de 
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18 C I Ê N C I A P O L Í T I C A
seu cargo e o exercício de seu governo, ou condições para 
que eles iniciem suas funções, ou ainda o compromisso 
de respeitá-las, fosse este ratificado por juramentos ou 
promessas da maior solenidade, estas pessoas negaram à 
humanidade seu direito à liberdade natural: assim fazendo, 
não somente expuseram todos os indivíduos à pior miséria 
da tirania e da opressão, tanto quanto puderam, mas ainda 
os títulos dos príncipes tornaram-se duvidosos e seus tronos 
abalados (pois, segundo esta doutrina, todos os príncipes, 
com uma única exceção, também eles nascem escravos, e, 
em virtude de um direito divino, são herdeiros legítimos de 
Adão), como se eles quisessem entrar em uma guerra contra 
todo o governo e inverter as próprias bases da sociedade 
humana (LOCKE, 1999, p. 53).
O que o pensador liberal defende é, na verdade, a valorização de cada indi-
víduo, e o respeito supremo à liberdade natural do homem, independentemente 
de sua condição social. Reis e nobres se tornam, portanto, igualmente humanos, 
destituídos de privilégios concedidos por qualquer força sobrenatural divina. 
Por exemplo, quando aborda o tema do “estado de natureza” da humanidade, 
hipoteticamente anterior ao estado da sociedade civil (pelo contrato social), 
o filósofo concebe que “[...] toda a humanidade aprende que, sendo todos 
iguais e independentes, ninguém deve lesar o outro em sua vida, sua saúde, 
sua liberdade ou seus bens” (LOCKE, 1999, p. 84).
Assim, ao humanizar os poderosos monarcas absolutistas de sua época, e 
ao afirmar que seu poder é meramente um instrumento racional, secular, tem-
poral, Locke se torna uma espécie de intérprete do pensamento burguês, um 
porta-voz das intenções políticas das classes economicamente dominantes da 
Europa capitalista, o que o coloca na posição de “pai do liberalismo político”, 
de grande defensor dos ideais burgueses.
Outro filósofo que provavelmente você conhece é Charles-Louis de 
Secondat, ou barão de Montesquieu (França, 1689-1755). Filósofo monarquista 
republicano, crítico do despotismo, e defensor da existência de uma Constitui-
ção que legitimasse e racionalizasse o poder monárquico, é reconhecido pelo 
livro Do espírito das leis (1748), em que defende a necessidade de divisão do 
poder monárquico em três esferas: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. 
Distinguiu três diferentes formas de governo: a Tirania (fundamentada no medo 
em relação ao governante), a Monarquia (cuja base seria a honra e o respeito 
para com o governante), e a Democracia (baseada na virtude do governante). 
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A f o r m a ç ã o d o p e n s a m e n t o p o l í t i c o 19
Para Montesquieu, a República da Grécia Antiga representava a democracia 
clássica, enquanto a Monarquia Constitucional por ele defendida representava 
a democracia moderna (daí a importância da Constituição e da divisão dos 
três poderes).
O governo monárquico tem uma grande vantagem sobre 
o despótico. Como é próprio de sua natureza existirem, 
sob a dependência do príncipe, várias ordens que se re-
lacionam com a Constituição, o Estado é mais estável, a 
Constituição mais sólida, e a pessoa dos que governam 
mais garantida (MONTESQUIEU, 1997, p. 97).
Em sua análise sobre os governos monárquicos, Montesquieu destaca que 
as leis têm a função de regular o poder político, dificultando possíveis abusos 
de poder por parte do governante. Sua noção de política é de certa forma rela-
tivista, pois defende que cada sociedade deve ter leis específicas, em respeito 
às necessidades e características que lhe são próprias. Para muitos intérpretes 
de sua obra, trata-se de um pensador com viés republicano, na medida em que 
coloca a sociedade como potencialmente soberana em relação ao monarca.
No segundo livro da obra Do espírito das leis, o filósofo descreve a natureza 
de três diferentes formas de governo: o monárquico, o despótico e o republicano 
(que pode ser aristocrático ou democrático). As monarquias, para ele, deveriam 
seguir o modelo inglês da época, governando sob princípios constitucionais 
(por ele chamados de “leis fundamentais”), ainda que houvesse uma conside-
rável parcela de poder político nas mãos dos príncipes: “[...] na monarquia o 
príncipe é a fonte de todo poder político e civil. Essas leis fundamentais su-
põem necessariamente canais médios por onde o poder se manifesta, pois se 
no Estado apenas existe a vontade momentânea e arbitrária de uma só pessoa, 
nada pode ser fixo” (MONTESQUIEU, 1997, p. 52). É importante frisar que sua 
obra foi produzida depois que a Inglaterra já havia se tornado uma monarquia 
parlamentar, daí sua compreensão de que o poder monárquico deveria ser 
diluído em diferentes esferas: legislativo, executivo e judiciário.
Quanto ao Estado despótico, o problema consiste, segundo o filósofo, no fato 
de que o poder do príncipe é extremamente concentrado, colocando em risco o 
bem-estar da sociedade. Sendo assim, não há consentimento para a existência 
de outras forças políticas legítimas; não há, portanto, oposição ao governo. Essa 
passagem de Montesquieu faz lembrar de um debate bastante atual que vem 
acontecendo em diversos países, inclusive no Brasil: muitos governos que se 
autoproclamam democráticos vêm se revelando, na prática, bastante centrali-
Ciencias_book.indb 19 7/10/14 2:55 PM
20 C I Ê N C I A P O L Í T I C A
zadores e autoritários. Por exemplo, quando tentam minar a ação dos partidos 
de oposição ao realizar alianças políticas estratégicas com partidos fisiológicos 
(menos ideológicos). Os partidos de oposição, ao se tornarem minorias no 
parlamento ou no Congresso, ficam enfraquecidos, com menor possiblidade 
de exercer o contracontrole ideológico/programático necessário ao fortaleci-
mento da democracia. Outro exemplo, ainda, é quando tais governos ameaçam 
cercearas liberdades de opinião e de manifestação políticas, seja inibindo 
movimentos de expressão da sociedade ou ameaçando coibir o trabalho dos 
canais midiáticos e dos meios de comunicação de massa (PIERANTI; MARTINS, 
2008). Mas, voltando ao pensamento clássico de Charles-Louis de Secondat, o 
barão de Montesquieu, o que se observa é uma crítica contundente às formas 
despóticas de governar.
Quanto à aristocracia, esta forma de governo pode acontecer em uma so-
ciedade republicana, mas nunca em monarquias. O autor enfatiza que “[...] 
o poder soberano encontra-se em mãos de um número certo de pessoas. São 
elas que estipulam as leis e as fazem executar” (MONTESQUIEU, 1997, p. 50). 
Significa, então, que em uma república aristocrática o poder político se con-
centra nas mãos de uma pequena parcela de homens, os quais compõem uma 
elite política e econômica que governa para atender seus próprios interesses. 
O povo, neste caso, fica à margem, alheio às decisões de quem governa.
Ainda em relação à república, outra forma de governo destacada por 
Montesquieu é a democracia, que, ao contrário da aristocracia, coloca o povo 
como soberano das decisões políticas. Neste caso, admite-se o sufrágio, isto 
é, o voto como meio de se promover a vontade geral e a participação política 
dos cidadãos, sendo que esta deve se dar por meio da eleição de assembleias 
(parlamentos). No entanto, o sufrágio não é pensado como um direito universal, 
tal como se define nas atuais democracias. Para Montesquieu, os cidadãos re-
presentam somente uma parcela da sociedade, como nas democracias clássicas.
O pensador, entusiasmado com o ideal republicano e democrático de-
fendido pelos muitos iluministas de sua época, afirma que “[...] o povo é ad-
mirável para escolher aqueles a quem deve confiar parte de sua autoridade” 
(MONTESQUIEU, 1997, p. 46). Contudo, admite que não é possível ao povo 
exercer por si mesmo o governo, sendo necessário, para tanto, que se pro-
ceda com a eleição de representantes mais capacitados. Neste caso, o poder 
executivo deve se subordinar às orientações constitucionais elaboradas pelo 
legislativo, bem como à rigorosa supervisão do judiciário.
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A f o r m a ç ã o d o p e n s a m e n t o p o l í t i c o 21
Como afirma Nogueira Filho (2010, p. 121), a essência da teoria política 
“[...] do nobre francês é a de que nenhum poder seja ilimitado”, o que o coloca 
como um dos mais respeitados intérpretes do Estado moderno. Ainda que não 
tenha tido a pretensão de se colocar como um intelectual revolucionário, sua 
obra é reconhecida por muitos cientistas políticos como um “divisor de águas”, 
na medida em que propõe a divisão dos poderes que impera nas constituições 
democráticas da contemporaneidade.
Que tal mais algumas informações sobre o pensamento político desses filósofos? Acesse:
<http://www.mundodosfilosofos.com.br>.
Para saber mais
A filosofia política continua a se desenvolver amplamente a partir do século 
XVIII, período em que se destacam as ideias de Jean-Jacques Rousseau (Suíça, 
1712-1778), filósofo iluminista, músico e poeta. Rousseau foi precursor do 
Romancismo e do Idealismo, grande crítico do racionalismo e defensor da 
democracia. Obra de referência: Do contrato social (1762), na qual argumenta 
sobre os efeitos maléficos da sociedade sobre o homem, por ter perdido sua 
nobre condição natural e sua individualidade, substituindo-a pelo “estado 
de guerra”, no qual imperam a competição, a racionalidade e a desigualdade 
social (observem que este pensador está se referindo à sociedade europeia 
de sua época, ou seja, a sociedade capitalista industrial).
Segundo Rousseau, todo Estado tem de ser governado pela democracia, 
e a sociedade deve eleger seus representantes para trabalhar em favor dos 
interesses da coletividade. A todos devem ser assegurados direitos iguais. 
Observem suas palavras:
O pacto social estabelece entre os cidadãos uma igual-
dade tal, que eles se obrigam todos debaixo das mesmas 
condições, e todos devem gozar dos mesmos direitos. 
Assim, pela natureza do pacto, todo o ato de soberania, 
isto é, todo o ato autêntico da vontade geral obriga ou 
favorece igualmente todos os cidadãos, de maneira que 
o soberano só conhece o corpo da nação e não distingue 
nenhum daqueles que a compõem (ROUSSEAU, 2000, 
p. 44).
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Ele defende os princípios de justiça e igualdade social (igualdade de direitos 
e de deveres), de respeito à “vontade geral” e aos sentimentos individuais, a 
liberdade civil, educação para todas as pessoas, o patriotismo, o bem comum 
e a moral. Acredita que a condição natural do homem o torna bom, mas a 
condição de civilizado o torna mau (pois a sociedade corrompe o homem), 
por isso, é necessário que todos pactuem por meio de um contrato social. O 
soberano, para Rousseau, é o próprio povo, e não o governante.
Para esse pensador, a sociedade civil possui poderes muito maiores do que 
qualquer governante, uma vez que reúne as forças políticas individuais, ou, 
em outras palavras, a capacidade de cada um pensar racionalmente e de agir 
segundo seus próprios interesses e paixões. Assim, as ações do Estado somente 
podem ser pensadas e executadas segundo a vontade geral. O “bem comum” 
é tomado como o princípio básico e norteador da política, pois é por meio 
deste que a vida coletiva se torna possível. Ao considerar que ao passar a vi-
ver em sociedades os homens abdicaram de sua liberdade individual natural, 
Rousseau teoriza que a sociedade civil se tornou o único caminho possível 
para a sobrevivência da humanidade, particularmente em um mundo marcado 
pelas lutas egoístas entre grupos que disputam o poder no mundo capitalista de 
seu tempo. Em seu livro Do contrato social, afirma que “[...] é somente nesse 
comum interesse que deve ser governada a sociedade. [...] Porque a vontade 
particular tende por sua natureza às preferências, e a vontade geral, à igualdade” 
(ROUSSEAU, 2000, p. 39).
Como podemos observar, o sentido do termo “igualdade” na obra rous-
seouniana se revela essencialmente idealista, pois nele há uma crença de 
que o homem político é capaz de realizar o bem comum ou a vontade geral 
em função de seu desejo de viver harmoniosamente a vida social. Contudo, 
Rousseau admite que os homens podem errar e desejar o mal ao pensar de 
forma egoísta, e isto ocorre quando o povo é iludido por governantes que lhe 
prometem satisfazer suas vontades individuais, privadas. Para ele, não é o povo 
quem age mal, mas sim os governantes, de tal forma que a sociedade, quando 
muito, é apenas ludibriada e seduzida por promessas de uma vida melhor. Um 
bom exemplo dessa tese é quando observamos, no Brasil, o comportamento dos 
candidatos aos cargos públicos nas eleições, e também seu processo de escolha 
por parte dos eleitores; os que prometem melhores condições de vida material 
para os indivíduos e as famílias podem ter mais chance de sucesso nas urnas. 
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A f o r m a ç ã o d o p e n s a m e n t o p o l í t i c o 23
Para esse grande filósofo iluminista, o contrato social que possibilita à 
humanidade viver coletivamente deve ser obtido por meio de um pacto que 
assegure a igualdade entre todos os homens, com cada qual vivendo sob as 
mesmas regras e bases materiais e tendo os mesmos direitos. Observa-se aqui 
a necessidade do uso da razão e da existência de leis que sirvam unicamente 
aos interesses coletivos. Somente assim pode existir a soberania do povo, capaz 
de enfraquecer o poder político de um governo movido por interesses privados. 
Esse ato de soberania do corpo social é, segundo Rousseau,
[...] uma convenção do corpo com cada um de seus 
membros; uma convenção legítima, porque se escora no 
contrato social; justa, por ser a todos comum; útil, porque 
não pode ter outro alvo que o bem geral; e sólida, porque 
a força pública e o poder supremo lhe servem de garantia(ROUSSEAU, 2000, p. 44).
Em outra passagem do livro, em que se trata especificamente das leis, o autor 
trabalha com a tese de que a sociedade deseja o bem comum, mas não sabe 
exatamente como consegui-lo. Por isso é preciso que os legisladores — que 
são uma pequena parte do corpo social — elaborem as regras da convivência 
coletiva sem delas tirar proveito próprio, visto que esses homens também fazem 
parte da sociedade e, da mesma forma que todos os demais, são movidos por 
desejos e paixões individualistas. Interessante observar que Rousseau separa 
os legisladores dos governantes, dando a cada um apenas parte do poder polí-
tico, pois, se os primeiros elaboram as leis, os segundos somente as executam. 
Assim, sua obra revela um traço semelhante ao pensamento de Montesquieu, 
uma divisão de poderes, muito embora desta vez é o povo quem detém o poder 
inalienável e intransferível de decidir quais leis devem existir para reger a vida 
social, pois o povo é o único poder soberano.
O pensador entende que essa formatação do Estado e da sociedade civil por 
meio de um conjunto de leis que atendam a todos igualmente, sob o consentimento 
coletivo, é a base de uma república. Por república, Rousseau concebe o tipo de 
governo que busca sempre servir à coisa pública, ou seja, àquilo que é de interesse 
da sociedade em geral, e nunca de somente poucos (ROUSSEAU, 2000, p. 48).
Como afirma Nogueira Filho (2010), a obra filosófica de Rousseau não foi 
apenas ousada ao propagar a igualdade como direito de todos, em pleno auge 
da exploração capitalista e da desigualdade de classes no curso da Revolução 
Industrial da Europa; e também não surgiu somente como um contraponto teó-
rico dos filósofos anteriores que tanto defendiam o renascimento das ciências, 
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das artes e da política como meios de explicação e de reordenamento da vida 
social daquele continente; sua obra representou, sobretudo, uma revolução no 
campo das ideias e do comportamento político de seu tempo, influenciando 
lideranças anticapitalistas que sonhavam com uma sociedade mais justa, livre 
e igualitária. Por todas essas razões, é considerado um dos maiores filósofos 
iluministas da Revolução Francesa, revolução esta reconhecida por ter sido o 
início do fim das monarquias absolutistas.
No século XIX, quando a Ciência Política começa a se consolidar, surge 
a obra de Alexis de Tocqueville (França, 1805-1859), reconhecido como um 
filósofo liberal-democrático. Produziu suas ideias na França pós-revolucionária, 
contrapondo-se aos filósofos contratualistas anteriores. Seu livro mais conhecido 
é Democracia na América (1834), no qual procurou analisar a especificidade 
da organização política dos Estados Unidos, defendendo que seu modelo 
de democracia representaria a essência do pacto social capaz de assegurar 
o bem comum. Procurou comparar diversas realidades políticas, especialmente 
a francesa e a americana, demonstrando as causas históricas de sua condição 
política e suas possíveis tendências.
Tocqueville (1987) estabeleceu o conceito de democracia (a exemplo da 
democracia americana) como a condição essencial da garantia de liberdade 
e igualdade. Sobre a concepção de democracia deste pensador, Silva (2007) 
afirma que:
Daí a afirmação de Tocqueville de que os anglo-ameri-
canos que se instalaram no Novo Mundo se encontravam 
num estado de igualdade social, pois, entre eles, não 
havia homens de baixo nascimento, nem pobres. Ao invés 
disso, eram homens com “maior igualdade de fortuna e 
de intelecto” (1969: 66). Essa igualdade de condições 
existente entre os anglo-americanos foi o fator decisivo 
para que, na prática, a democracia fosse instalada na 
América, garantindo que, constitucionalmente, a sobe-
rania fosse colocada nas mãos do povo e não nas mãos 
de um só ou de poucos. É a igualdade geradora do gosto 
pela liberdade que levaria a Nova Inglaterra a respeitar 
as liberdades provinciais e a criar, depois da luta das 
colônias pela independência, uma constituição democrá-
tica e um sistema federativo, onde seriam contemplados 
não só os interesses comuns existentes entre elas, mas 
também as diversas aspirações provinciais (SILVA, 2007, 
p. 1, grifos do autor).
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A f o r m a ç ã o d o p e n s a m e n t o p o l í t i c o 25
Tocqueville foi educado em meio aos padrões aristocráticos da França pós-
-revolucionária, não tendo recebido influência dos pensadores democráticos de 
seu tempo. No ano de 1830 foi para os Estados Unidos e lá observou que as leis 
facilitavam a democracia, passando a admirar o modo como esse regime havia 
sido implantado naquele país e o modo como se organizava no cotidiano, sem 
que uma classe social economicamente dominante ou uma ideologia religiosa 
mais forte determinassem os rumos da vida social, a exemplo do que ocorrera 
nos países europeus, sobretudo na França.
Segundo o que relata em seu livro, na América do Norte o povo parecia 
viver de fato a democracia tão teorizada por inúmeros filósofos, especialmente 
porque foram os levantes populares que fizeram com que o país se tornasse 
independe da Inglaterra, entre os anos de 1776 e 1783. Os norte-americanos 
instituíram uma república federalista, tendo como princípios constitucionais 
o liberalismo e a prosperidade econômica, sem distinção entre as pessoas, a 
despeito das profundas diferenças sociais existentes entre países do Norte e do 
Sul (TOCQUEVILLE, 1987).
Sua análise sobre a democracia dos Estados Unidos passa pela compreen-
são de que foram os imigrantes chegados da Europa revolucionária os respon-
sáveis por difundir os ideais democráticos tão sonhados, e por implantar um 
modelo político mais próximo do ideal iluminista, em que é o povo quem 
governa, pois em seus países de origem tal modelo não havia se concretizado. 
Esses imigrantes, inconformados com a imposição política e econômica da 
monarquia inglesa no Novo Mundo, se organizaram em inúmeras assembleias 
para garantir seus direitos civis e políticos, bem como para discutir formas de 
se libertarem do poderio inglês.
Tocqueville (1987) escreve que as eleições periódicas nos Estados Unidos 
foram uma escolha do próprio povo, cujo objetivo seria a possibilidade de 
alternância do poder político e de substituição dos governantes, da maneira 
como John Locke havia pensado muitos anos antes. No entanto, este pensador 
observa que nas democracias em geral há o risco de os governos gastarem mais 
do que deveriam, uma vez que há mais interesses em jogo, daí a necessidade 
de que os impostos pagos pela população sejam devidamente fiscalizados, pois, 
caso contrário, os riscos de corrupção e mau uso das verbas públicas também 
aumentam. O autor acreditava que a democracia, embora tivesse vencido as 
monarquias absolutistas, não iria se opor à nova classe governante: a burgue-
sia capitalista. E seria justamente essa nova classe econômica, com esse novo 
modelo político, que iria ganhar força e se enraizar pelo mundo afora.
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26 C I Ê N C I A P O L Í T I C A
Tocqueville estava certo. Em sua obra Democracia na América, conseguiu 
prever uma nova forma de dominação política construída a partir dos pilares 
da igualdade, da liberdade e das leis, com a vitória do capitalismo em todo o 
planeta. Ao olharmos para a história do século XX e para os tempos atuais, 
o que observamos é uma fermentação, cada vez maior, dos princípios demo-
cráticos nos mais diferentes países e nas mais diversas culturas. Povos que antes 
estavam submetidos a governos ditatoriais, povos que viveram por décadas sob 
o domínio de governantes centralizadores e totalitários, agora se rebelam nas 
ruas — e nas redes sociais — em defesa da democracia e da descentralização 
política. Em muitos países, a exemplo do Brasil, as constituições se proclamam 
democráticas. Resta saber se os novos modelos de democracia existentes serão 
capazes de porfim às inúmeras manifestações de desigualdade, exclusão e 
aprisionamento humano que ainda imperam neste mundo regido pelo capital.
Também no contexto do século XIX, em plena efervescência da Revolução 
Industrial, destacam-se as teorias políticas de Marx e de Weber. Karl Marx 
(Alemanha, 1818-1883) é um dos grandes nomes das ciências sociais, filósofo 
materialista que teve grande influência das ideias de Kant e Hegel, e que di-
fundiu, ao lado de Friedrich Engels, os princípios do Socialismo Científico 
e do Comunismo. Em seus livros, Marx procura analisar e explicar a sociedade 
capitalista, suas contradições e as relações entre as classes sociais predominan-
tes: a burguesia e o proletariado (trabalhadores livres assalariados).
Marx, juntamente com Friedrich Engels, critica o Socialismo Utópico e 
defende o Socialismo Científico, segundo ele o único caminho possível para 
uma sociedade baseada nos princípios comunistas e livres da economia liberal 
(defensora do direito à propriedade privada). 
Marx entende que a realização do comunismo só seria possível por meio da 
transição do capitalismo para o socialismo, e para isso seria necessário manter 
um Estado forte, governado pelo Partido Comunista, legítimo representante dos 
interesses coletivos.
Na produção social da própria vida, os homens contraem 
relações determinadas, necessárias e independentes de 
sua vontade, relações de produção estas que corres-
pondem a uma etapa determinada de desenvolvimento 
de suas forças produtivas materiais. A totalidade dessas 
relações de produção forma a estrutura econômica da 
sociedade, a base real sobre a qual se levanta uma su-
perestrutura jurídica e política, e à qual correspondem 
formas sociais determinadas de consciência [...]. Não é 
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A f o r m a ç ã o d o p e n s a m e n t o p o l í t i c o 27
a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, 
ao contrário, é o seu ser social que determina sua cons-
ciência (MARX, 1982, p. 25).
Vejam que Marx concebe a política como um dos pilares do modo de 
produção capitalista, ao lado da superestrutura jurídica. Para este pensador, 
a sociedade como um todo é levada a aceitar a realidade como ela se apre-
senta, sem conseguir perceber os mecanismos de reprodução do capital que 
são respaldados pelo Estado — um Estado burguês, portanto. O proletariado 
representa o principal agente de transformação da realidade social, por meio 
da organização coletiva em sindicatos de trabalhadores e partidos políticos de 
cunho socialista-comunista, único caminho possível, segundo Marx e Engels, 
para a revolução do proletariado, é a tomada do poder político e a instauração 
de uma sociedade mais justa e igualitária.
A teoria política de Marx e Engels não pode ser separada de sua teoria eco-
nômica. Em inúmeras obras, como Para a crítica da economia política (1859) e 
O capital (1867), é feita uma espécie de descrição crítica sobre o modo como 
se dá essa “exploração do homem pelo homem”, antes teorizada em outros 
textos como O Manifesto do Partido Comunista (1848). Muitas dessas obras 
foram escritas pelos dois pensadores, parceiros intelectuais na luta contra o 
capitalismo. 
A teoria de Marx e Engels se revelou, na prática, um arcabouço ideológico 
para diversos modelos de ditadura em todo o mundo. Ao defenderem que 
o Estado deveria ser governado por partidos políticos de esquerda, contrários 
ao sistema capitalista, durante o tempo necessário para que os países se ade-
quassem a uma nova ordem social regida pelo comunismo e pela ausência de 
classes, acabaram servindo de inspiração e de justificativa para as revoluções 
socialistas e comunistas ocorridas no século XX.
A Revolução Russa representou o primeiro marco histórico do socialismo 
real. Ocorreu no ano de 1917, quando o poder político foi tomado pelos bol-
cheviques, membros do Partido Operário Social-Democrata Russo, insatisfei-
tos com a monarquia czarista e sua opressão contra a população. O partido 
era comandado por Vladimir Lenin, que assumiu o poder e depois acabou 
se tornando um dos maiores ditadores do século XX, seguido por Josef Stalin 
(a partir de 1922, já na União Soviética). Esta primeira revolução armada foi 
realizada a partir da crença de que serviria de base para todas as demais revo-
luções marxistas que ainda tomariam o poder nos países capitalistas mais avançados 
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da Europa. Foi, portanto, uma espécie de laboratório experimental para as 
futuras revoluções socialistas-comunistas defendidas por Marx e Engels e seus 
seguidores (BARROS, 1998).
Os revolucionários acreditavam que o capitalismo e seu modelo de ex-
ploração econômica do homem estavam com os dias contados. Uma nova 
ordem social, em um primeiro momento socialista, e depois, no futuro, 
uma ordem regida pelo ideal comunista de igualdade e liberdade, seriam as 
consequências naturais das inúmeras revoluções que seriam realizadas pelos 
partidos operários de esquerda em todo o mundo. Esses partidos representa-
vam, para muitos ideólogos e líderes políticos, o único caminho possível para 
a organização do proletariado e seu preparo ao exercício do poder político 
nos Estados provisórios, após a queda dos governos burgueses capitalistas 
que a cada dia se fortaleciam nos grandes países industrializados (sobretudo 
na Inglaterra, Alemanha e França).
A Revolução Russa constitui um dos principais marcos 
da história humana, cuja importância se deve não apenas 
a seus efeitos políticos e econômicos de alcance global, 
mas também à capacidade de cativar a imaginação das 
gerações que se seguiram. O ano de 1917 deu corpo a 
esperanças e anseios reprimidos pelos rígidos padrões 
implantados no final do século XIX e início do século XX 
(BARROS, 1998, p. 19).
Mas a história revelou que a tão sonhada revolução do proletariado e sua 
consequente sociedade igualitária fracassaram. Porém, antes disso, outras re-
voluções ocorreram, mostrando a face opressora e sanguinária dos opositores 
do modo de produção capitalista.
Para Groppo (2008), o socialismo resultou em uma extrema concentração 
de poder político pelos partidos comunistas. Estes se colocavam como defen-
sores de uma “forma superior de democracia”, a qual se revelou, na prática, 
como mero discurso ideológico, pois nada mais representou do que um meio 
de conquistar o apoio dos intelectuais de esquerda e das massas exploradas 
para se manter no poder.
Para entender melhor toda essa teoria política, vá à fonte e leia Para a crítica da economia 
política, de Marx (1982).
Para saber mais
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A f o r m a ç ã o d o p e n s a m e n t o p o l í t i c o 29
Maximillian Carl Emil Weber (Alemanha, 1864-1920), economista, jurista 
e precursor da Sociologia, também se dedica à ciência política. Parte da análise 
do Estado capitalista e da burocracia do Estado Moderno, tendo a Alemanha 
de industrialização tardia como parâmetro. Para Weber, a política deve ser reali-
zada com a ajuda da ciência, sendo esta considerada um instrumento do saber 
a serviço da sociedade como um todo. Vejam o que ele diz a respeito do papel 
dos homens que fazem a política:
Qualquer um que deseja dedicar-se à política e, em 
especial, aquele que deseja dedicar-se à política como 
vocação, deve tomar consciência dos paradoxos éticos 
e da responsabilidade [...] e, além disso [...] vemos que 
a ética da convicção e a ética da responsabilidade não 
se contrapõem, mas se completam e, juntas, formam 
o homem autêntico, ou seja, um homem que pode aspirar 
à vocação política (WEBER, 2004, p. 121-123).
Weber entende a política como uma vocação de homens que se dedicam 
à vida pública, servindo aos interesses do bem comum e do Estado por meio 
de ações responsáveis (ações racionais movidas por fins). O político deve per-
seguir princípios éticos e agir em prol das necessidades coletivas. O Estado é 
a instituição legítima da ação

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