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As relações que se estabelecem entre sociedade civil e 
Estado definem o potencial democrático de cada país. 
Todavia, não são relações de fácil compreensão, pois 
são permeadas por questões importantes e complexas, 
como o acesso desigual às condições de participação na 
sociedade, economia e política.
Este livro apresenta teorias e conceitos que poderão ser 
utilizados para melhor interpretar essa realidade. A obra 
traz informações para a compreensão dos fenômenos 
políticos e destina-se tanto a pesquisadores e estudiosos 
do tema quanto a entusiastas da política.
Alexandra Lourenço
Código Logístico
59142
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6575-2
9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 7 5 2
A
lexan
dra Lou
ren
ço
CIÊNCIAS POLÍTICAS
Ciências Políticas 
Alexandra Lourenço
IESDE BRASIL
2020
© 2020 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do 
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Nataliya Nazarova/Shutterstock.
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
L933c
Lourenço, Alexandra
Ciências políticas / Alexandra Lourenço. - 1. ed. - Curitiba : IESDE, 
2020.
142 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6575-2
1. Ciência política. I. Título.
19-60793 CDD: 320
CDU: 32
Alexandra Lourenço Doutora em Ciência Política pela Universidade 
Nova de Lisboa (UNL), mestra em Política Social 
pela Universidade de Brasília (UnB), especialista em 
Metodologia de Pesquisa em História pela Universidade 
Federal de Mato Grosso (UFMT) e graduada em 
Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná 
(UFPR). Pesquisadora e vice-coordenadora do Núcleo 
de Pesquisas em História da Violência (NUHVI) e 
pesquisadora do Grupo de Estudos em História 
Cultural e do Laboratório Discursividades, Mulheres 
e Resistência na Universidade Estadual do Centro-
-Oeste (Unicentro), onde atua como professora do 
Departamento de História desde 2013, com a linha de 
pesquisa Sociologia política e relações de gênero.
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
Acesse os vídeos automaticamente, direcionando 
a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
para o QR code.
Em alguns dispositivos é necessário ter instalado 
um leitor de QR code, que pode ser adquirido 
gratuitamente em lojas de aplicativos.
Vídeos
em QR code!
SUMÁRIO
1 Conceitos básicos da ciência política 9
1.1 Pensamento político e ciência política 9
1.2 O que estuda a ciência política? 16
1.3 A contribuição de Nicolau Maquiavel 23
2 O Estado e o pensamento político 29
2.1 Sociedades políticas 29
2.2 Formação da sociedade e do Estado 34
2.3 Concepções sobre o nascimento do Estado 40
3 O Estado Moderno 49
3.1 Nascimento e extinção do Estado 49
3.2 Finalidade e funções do Estado 55
3.3 Elementos do Estado: território, povo e poder 61
4 Estado e governo 68
4.1 Regimes de governo 68
4.2 Modelos de Estado 76
4.3 Formas e sistemas de governo 83
5 A separação dos poderes como princípio da moderação 89
5.1 A moderação no poder do Estado 89
5.2 A contribuição de Montesquieu 94
5.3 O Estado de Direito 100
6 Sociedade civil e sociedade política 110
6.1 Sistema eleitoral, sistema partidário e eleições 110
6.2 Legalidade e legitimidade 118
6.3 Sociedade civil x sociedade política x bem comum 126
 Gabarito 136
Nossas escolhas afetam cotidianamente nossas vidas. Essa afirmação é 
ampliada quando pensamos em nossas ações como profissionais, cidadãos 
e eleitores. Por isso, é fundamental que tenhamos alguns instrumentos 
teóricos que nos permitam fazer a leitura da realidade política e social na 
qual estamos inseridos.
Vivemos em sociedades que se organizam com base na constituição de 
Estados e governos. Um grupo seleto de indivíduos é escolhido para ocupar 
as posições que dão vida à governança e tomar decisões que influenciam 
diretamente a vida da população de cada país. 
As ações dos Estados são implementadas por meio das políticas públicas 
e direcionadas à educação, saúde, moradia, economia, segurança etc. Elas 
são o resultado das escolhas dos indivíduos que ocupam posições de decisão 
política, motivados pelos grupos de pressão e de interesse.
 Dessa forma, as relações que se estabelecem entre sociedade civil e Estado 
definirão o potencial democrático de cada país. Todavia, não são relações de 
fácil compreensão, pois são permeadas por questões importantes e complexas, 
como o acesso desigual às condições de participação na sociedade, economia 
e política. 
Este livro apresenta teorias e conceitos que poderão ser utilizados para 
melhor compreender essa realidade. Para organizar nossa discussão a 
respeito do Estado, o conteúdo está dividido em seis capítulos. 
No primeiro capítulo, serão apresentados alguns conceitos básicos da 
ciência política, que auxiliarão na compreensão do nascimento do Estado e de 
suas formas organizacionais. No segundo capítulo, abordaremos os variados 
modelos de sociedades políticas e de Estados ao longo da história. 
No terceiro capítulo, compreenderemos como nascem e como são extintos 
os Estados, suas funções e seus elementos característicos. Já no quarto 
capítulo, trataremos dos regimes, das formas e dos sistemas de governo, 
buscando refletir sobre sua aplicação nos modelos de Estados. 
No quinto capítulo, será abordada a importância da moderação do poder 
para o Estado de Direito e para o funcionamento dos regimes democráticos. 
No sexto e último capítulo, analisaremos a pertinência dos sistemas partidários 
e eleitorais, bem como a participação da sociedade civil na configuração dos 
modelos democráticos.
APRESENTAÇÃO
Em suma, esta obra traz informações para a compreensão dos fenômenos 
políticos e destina-se tanto a pesquisadores e estudiosos do tema quanto a 
entusiastas da política. 
Bons estudos e uma ótima leitura!
Conceitos básicos da ciência política 9
Neste capítulo, apresentaremos alguns conceitos importantes 
para se compreender o que é ciência política e como ela pode 
nos auxiliar na compreensão da política. Discutiremos questões 
como a participação da sociedade no governo, os formatos que 
os governos adquirem, a organização civil para participação na 
política, a busca da representatividade, a necessidade da existência 
de uma ordem política.
Abordaremos também o contexto do advento dessa ciência e o 
lugar que ocupa em uma reflexão mais ampla, que chamamos de 
pensamento político. Finalizaremos com a apresentação do autor 
Nicolau Maquiavel, considerado por muitos o primeiro cientista 
político antes mesmo do surgimento da ciência política.
Essa compreensão da política, além de importante para a 
cidadania, pode ser muito empolgante para o pesquisador e 
estudioso do tema, por isso, convidamos você para os primeiros 
passos dessa trajetória de conhecimento sobre a ciência política e 
suas contribuições.
Conceitos básicos da 
ciência política
1
1.1 Pensamento político e ciência política
Vídeo A ciência política não foi a primeira forma de reflexão sobre a ação 
política e o espaço político. O pensamento político é muito mais amplodo que essa ciência. De modo resumido, poderíamos afirmar que são 
manifestações do pensamento político a ideologia política, a filoso-
fia política e a ciência política. Nesse sentido, estamos considerando 
como pensamento político toda forma de reflexão sobre a ação política 
e sobre o “mundo da política”.
10 Ciências Políticas
Acredita-se que desde os primórdios das primeiras comunidades 
sedentárias existiu a curiosidade humana de compreender o mundo a 
sua volta. Todavia, a política ganhou um local de destaque somente na 
Antiguidade com os escritos de Aristóteles.
O filósofo grego, que viveu entre 384 a.C. e 322 d.C., discutia diver-
sos temas relativos à vida na cidade, dentre eles a ética e a política. 
Na obra Política, Aristóteles (2009) defendeu a ideia de que o homem 
é naturalmente um ser social e político. Segundo ele, os homens ne-
cessitam viver em sociedades, precisam estabelecer relações uns com 
os outros para realizarem objetivos comuns. Nesse convívio, além das 
relações sociais e econômicas, os homens constroem relações políticas 
e organizam formas de governo.
Em sua análise, Aristóteles afirmava que existiam três formas de 
governo: a república, considerada o governo de muitos, a monarquia, 
identificada como o governo de somente um e, por fim, a aristocracia, 
descrita como o governo dos melhores.
Podemos perceber, portanto, que a reflexão sobre a política se ori-
ginou na Antiguidade. A seguir, buscaremos definir esse conceito.
1.1.1 O que é política?
A política é uma parte intrínseca à organização da coletividade. 
Como poderíamos definir o termo política? Segundo Bobbio, Matteucci 
e Pasquino (1998, p. 954), “o conceito de Política, entendida como for-
ma de atividade ou de práxis humana, está estreitamente ligado ao de 
poder”. Então, a política é o agir humano, que está intimamente 
relacionado à discussão sobre poder e dominação. Isso pode parecer 
negativo, todavia, como lembra Maquiavel (1990), a política pode não 
representar o céu, mas sua ausência é o pior dos infernos.
Ainda nessa linha de pensamento, cabe lembrar que Weber 1 (1999) 
nos indica que o fenômeno do poder e da dominação é natural em 
qualquer organização humana, pois nele estariam assentadas as bases 
das relações de autoridade legítima e de ordenamento para se atingir 
os fins coletivos.
Com esse conceito podemos compreender que antes mesmo de 
a ciência política surgir já existiam outras manifestações dela. Como 
parte do pensamento político, a filosofia política contribuiu e contribui 
com as reflexões da ciência política ainda que não sejam idênticas.
Weber viveu entre 1864 e 
1920, foi um sociólogo e jurista 
alemão considerado um dos 
fundadores da sociologia. 
Dedicou-se a vários estudos 
sobre Sociologia da Religião e 
entre suas principais obras estão 
A Ética Protestante e o Espírito do 
Capitalismo (1905) e Economia 
e Sociedade (1922), em que ele 
fala sobre os três tipos ideais ou 
legítimos de autoridade.
1
Conceitos básicos da ciência política 11
1.1.2 Filosofia política
O que é filosofia política ou filosofia da política? Responder a essa 
pergunta não é uma tarefa fácil, pois existe uma grande variedade de 
opiniões, mas vamos nos basear em um caminho traçado pela história 
do pensamento político que observou quais são os aspectos valoriza-
dos na reflexão filosófica sobre o “mundo da política”.
O primeiro aspecto pode ser definido como a busca pelo Estado 
perfeito. A filosofia política faz uma reflexão sobre o possível modelo 
de Estado e governo perfeito ou próximo da perfeição. São construções 
de pensamento abstrato que não precisam de um modelo concreto 
observado na vida real. De acordo com Bobbio, Matteucci e Pasquino 
(1998, p. 494, grifo do original),
o exemplo mais antigo, mais notório e clamoroso é e continua 
sendo a República platônica, modelo ideal de Estado, construí-
do mediante um procedimento lógico-abstrato e dedutivo, com 
tranquila indiferença perante a possibilidade de sua realização 
efetiva. Na categoria de filósofos políticos de tipo platônico, 
podem ser agrupados todos os utopistas, descritores e teóricos 
de modelos de sociedade perfeita: modelos em que o historia-
dor moderno reconhece, com sua visão crítica, reflexos, às vezes 
dolorosos, de experiências concretas, mas que expressam todos 
igualmente a certeza de encontrar uma solução definitiva do pro-
blema político, solução baseada num valor supremo e absoluto 
de justiça.
A obra A República, do filósofo grego Platão (1988), escrita na Anti-
guidade, trouxe uma intensa reflexão sobre o modelo ideal de cidade, 
de vida coletiva e de comportamento humano. Sua cidade-Estado foi 
descrita de forma idealizada: nela, o governo, os artesões e os políticos 
eram bons e tinham um comportamento adequado. Essa obra era o re-
trato da gestão pública que realmente funcionava de modo harmônico.
Outro aspecto presente nas reflexões da filosofia política é a busca 
por justificar a legitimidade do poder. É importante compreender que 
a filosofia política contribuiu e contribui imensamente com a reflexão 
realizada na ciência política, todavia, diferente da ciência política, não 
necessita basear suas análises em casos concretos nem se deter na 
análise de como as coisas efetivamente são.
12 Ciências Políticas
Nesse contexto, encontramos autores que “ao invés de teorizarem 
um modelo de Estado ideal, se propuseram a analisar o fundamento 
das relações políticas, as razões do vínculo de dependência que elas 
comportam” (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p. 493).
Podemos observar que os autores estão questionando a nossa real 
necessidade de viver sob a organização de uma comunidade política. 
Eles alertam, então, para o fato de que os indivíduos precisam viver sob 
determinadas regras jurídicas e políticas, por isso existe uma relação 
de dependência.
A preocupação central estava em compreender por que os indiví-
duos obedecem, por que é necessário haver um poder político sobre 
esses indivíduos, “em suma, a determinar o porquê do Estado, os mo-
tivos que explicam a obediência que os homens prestam ou negam ao 
poder” (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p. 493).
Autores como Hobbes, Locke e Rousseau, que ainda abordaremos 
neste livro, podem ser considerados representantes dessa linha de 
pensamento. Para eles, a questão principal não é o Estado perfeito, 
mas a legitimidade do poder. Eles estão em busca de uma explicação 
para a eficácia da autoridade (WEFFORT, 2002).
Para os filósofos dessa linha, importa menos se a legitimidade do 
poder se encontra em uma história religiosa, como a ideia de direito 
divino reconhecido pela Igreja, em um conto de hereditariedade com 
base na descendência sanguínea, como no caso das monarquias, ou se 
resulta de um acordo racional da necessidade de um governo. o que 
efetivamente importa é que em todas essas versões a legitimidade do 
poder é reconhecida quando existe uma história que convence a maio-
ria de que quem manda tem o direito de mandar. Ou seja, a obediência 
resulta desse reconhecimento e faz com que obedecer seja um ato vo-
luntário (WEBER, 1999).
A diferença entre os primeiros, preocupados em teorizar o Estado 
perfeito, e os segundos, que focaram a questão da legitimidade, não 
é muito rígida, pois em última instância a discussão da legitimidade 
remete ao modelo que seria considerado ideal e que, justamente por 
isso, encontrou esse status.
O terceiro aspecto possível está no grupo que realiza uma com-
preensão geral da política. Esse grupo busca conceituar as relações po-
líticas em distinção às outras relações sociais, culturais e econômicas.
Conceitos básicos da ciência política 13
O quarto aspecto afirma que a filosofia política nos fornece a refle-
xão sobre a metodologia para os estudos sobre o tema. Ou seja, ela 
deve ser compreendida como metodologia ou, ainda, como uma análi-
se crítica sobre os discursos dos atores políticos.
A filosofia política foi também classificada como estudo da lingua-
gem. Para compreendera importância da possível contribuição dessa 
linha, basta observarmos as imprecisões das palavras utilizadas nos 
discursos políticos. É preciso reconhecer que as palavras surgem carre-
gadas de emoções nos contextos em que ocorrem esses diálogos. Na 
compreensão de Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 496),
qualquer discurso político é (pelo menos no estado atual) condi-
cionado pela linguagem de que é obrigado a servir-se; trata-se de 
uma linguagem “impura”, ou melhor, de uma linguagem “com vá-
rias dimensões”, que no próprio ato em que é usada desempenha 
funções diferentes: designa, avalia, descreve e, ao mesmo tempo 
e quase inconscientemente, prescreve; e isto pela simples razão 
de que os vocábulos de que se serve têm, já de antemão, uma 
coloração emotiva, são palavras “carregadas”, que contêm uma 
conotação apreciativa que não é possível eliminar (pelo menos 
até o presente momento). Os exemplos são numerosos: basta 
lembrar o uso que se faz correntemente, ao discorrer de política, 
de palavras tais como “liberdade” ou “igualdade”, que designam, 
ao mesmo tempo, um fato e um valor ou a possibilidade de dar, 
ao mesmo fato político, um significado diferente e às vezes opos-
to, chamando-o mais com um nome do que com outro (“pena” 
– “repressão”, “força” – “violência”); basta refletir na incerteza que 
reina atualmente sobre o exato significado de termos tais como 
“poder” e “autoridade” e a sua delimitação recíproca.
Esses filósofos consideram “impura” a linguagem utilizada nos dis-
cursos políticos, pois as palavras não possuem um único sentido e po-
dem, ainda, ter seu sentido definido por ideologias e sentimentos. Eles 
consideram, ainda, que essas palavras possuem várias dimensões, pois 
podem carregar em si aspectos positivos e negativos ao mesmo tempo. 
Um exemplo é a palavra igualdade, que pode ser utilizada como algo 
bom, pois pode significar que os indivíduos possuem direitos jurídicos 
iguais, mas, em outro contexto, pode significar igualdade social asso-
ciada a políticas socialistas, que será algo bom ou mau dependendo do 
grupo que está discursando. Isso significa que a palavra igualdade não 
tem uma única interpretação ou uso. Ela não é neutra, depende do uso 
que se faz dela.
14 Ciências Políticas
Percebemos, portanto, que as possibilidades de aplicação dos estu-
dos em filosofia política variam conforme o foco da análise. Entretanto, 
devemos compreender que, em seu conjunto, todas essas abordagens 
contribuem com os estudos sobre os fenômenos políticos.
1.1.3 Ideologia política
Por último, podemos observar a relação entre filosofia política e 
ideologia. Aqui, a preocupação central está em observar os elementos 
ideológicos dos discursos, pois se estes se pautam em escolhas de pa-
lavras relativamente imprecisas, podemos nos indagar sobre a ideolo-
gia existente nas escolhas das palavras.
Se a análise do discurso político conduz ou pode conduzir a tão 
singulares conclusões, é claro que a reflexão filosófica não pode 
parar aqui, porque reconhecer o caráter valorativo ou ideológico 
deste tipo de discurso levanta na mente um outro problema, o 
do porquê de tal caráter, isto é, da necessidade de entender as 
razões pelas quais a qualificação política é uma qualificação valo-
rativa e não apenas descritiva, de encontrar uma explicação das 
opções que os homens fazem ao atribuir a alguns fenômenos 
uma relevância política que excluem de outros, e, especialmente, 
de estabelecer com exatidão o que significa essa atribuição, quais 
as consequências que daí decorrem, o que, enfim, está realmente 
posto em jogo. (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p. 497)
Nesse sentido, podemos afirmar que não existe discurso neutro e 
que todos eles estão carregados de boa dose de ideologia. Somos seres 
históricos e ideológicos, atores sociais movidos por valores, crenças, 
ideias, desejos e emoções, e isso se manifesta no espaço da política.
Por isso, no pensamento político também encontramos a ideolo-
gia política. Diferente da filosofia, a ideologia se baseia em crenças e 
estados mentais e emocionais dos indivíduos e, também, naquilo que 
hoje denominamos de senso comum. Naturalmente, essa é uma defini-
ção superficial, pois não existe uma única versão do que consideramos 
ideologia.
Mais do que um problema teórico, o espaço e os atores políticos vão 
se alterando com o passar do tempo e, portanto, é também um proble-
ma de interpretação segundo o momento histórico.
Conceitos básicos da ciência política 15
Ao elaborar um dicionário de termos políticos, Bobbio, Matteucci e 
Pasquino (1998) salientaram a dificuldade em estipular definições rígidas 
para a linguagem política, afinal essa é uma construção histórica e os 
termos vão se ressignificando com as transições de gerações e os pro-
cessos históricos vivenciados pelas sociedades humanas. Segundo eles:
A maior parte dos termos usados no discurso político tem signi-
ficados diversos. Esta variedade depende [...] de muitos termos 
terem passado por longa série de mutações históricas – alguns 
termos fundamentais, tais como “democracia”, “aristocracia”, 
“déspota” e “política”, foram-nos legados por escritores gregos. 
[...] Na linguagem da luta política quotidiana, palavras que são 
técnicas desde a origem ou desde tempos imemoriais, como “oli-
garquia”, “tirania”, “ditadura” e “democracia”, são usadas como 
termos da linguagem comum e por isso de modo não unívoco. 
Palavras com sentido mais propriamente técnico, como são 
todos os “ismos” em que é rica a linguagem política – “socialis-
mo”, “comunismo”, “fascismo”, peronismo”, “marxismo”, “leni-
nismo”, stalinismo” etc. –, indicam fenômenos históricos tão 
complexos e elaborações doutrinais tão controvertidas que não 
deixam de ser suscetíveis das mais diferentes interpretações. 
(BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p. V)
Desta forma, tanto os discursos quanto as palavras e conceitos 
definidos para pensar a política não são tão precisos nem têm um 
único significado. Essas possibilidades de interpretação são comumente 
exploradas nos discursos que se baseiam no senso comum e principal-
mente na ideologia. Como poderíamos definir ideologia? Para Bobbio, 
Matteucci e Pasquino (1998), podemos defini-la com base em dois sig-
nificados: um considerado fraco, que seria o conjunto de ideias relacio-
nadas à política; e outro, forte, que seria um conjunto de ideias falsas.
Ideologia seria, então, um conjunto de ideias políticas – e, nesse senti-
do, não se emite uma avaliação negativa sobre o conceito – ou uma visão 
falsificada da realidade. Esse entendimento de ideologia como crença 
falsa foi elaborado pelo pensador do século XIX, Karl Marx, para quem 
a ideologia significava um conjunto de ideias distorcidas ou invertidas 
sobre a realidade, criadas pela classe dominante para manter os domi-
nados sem a consciência da verdade sobre sua exploração.
Quando se trata do exercício do poder, aqueles que têm a posse 
dos grandes meios de produção inevitavelmente tendem a ficar 
convencidos (e tratam de convencer os demais) de que a situa-
ção de que se beneficiam é, se não a melhor, a menos ruim das 
16 Ciências Políticas
situações possíveis. Na medida em que os conhecimentos pro-
porcionam algum poder, aqueles que detêm o “saber” tendem a 
acreditar necessariamente que a superioridade da sua cultura só 
não é reconhecida por ignorância ou por má-fé. Os ricos, por sua 
vez, costumam crer que a existência de diversidade nas fortunas 
é “normal”, já que pode ser constatada em todas as sociedades. 
E os privilegiados se inclinam a considerar seus privilégios como 
direitos. (KONDER, 2001, p. 26, grifo do original)
Nessa segunda concepção do conceito, como uma ideia falsa, en-
contraremos todos os autores que adotam a teoria marxista para 
pensar as relações sociais, políticas, culturais e econômicas. Após essa 
rápida apresentação de alguns conceitos da ciência política, discutire-
mos a seguir essa ciência.
1.2 O que estuda a ciência política?
Vídeo Para responder aessa pergunta, iniciaremos dizendo que a ciência 
política estuda o Estado e todos os elementos que se relacionam com 
ele, como mostra a Figura 1 a seguir. Esses elementos não são conside-
rados de forma isolada, a ciência política observa as inter-relações que 
se estabelecem entre eles. Ela analisa, ainda, as relações que se estabe-
lecem entre esses elementos, o Estado e a sociedade civil.
Figura 1
Inter-relações entre Estado 
e elementos
Instituições 
políticas
Burocracia
Modelos de 
Estado
Poder e sua 
relação com o 
Direito
Teorias sobre 
a política
Partidos 
políticos
Instituições 
políticas
Estado
Fonte: Elaborada pela autora.
Não apresentaremos todos esses conceitos nesta seção, pois serão 
mais bem trabalhados nos posteriores capítulos deste livro. Todavia, 
abordaremos de modo introdutório alguns deles.
Conceitos básicos da ciência política 17
1.2.1 Partidos políticos
Os partidos podem ser definidos como formas de associação da 
sociedade civil nas quais indivíduos que partilham de uma mesma 
ideologia se organizam formalmente para disputar o espaço político. 
Os partidos se desenvolveram na Europa e nos Estados Unidos no 
século XIX. Para falarmos em partidos, no plural, é necessário que exis-
tam diferenças ideológicas entre eles. Com a Revolução Industrial, a 
burguesia buscou se organizar politicamente e, posteriormente, com o 
aumento da classe operária, surgiram, já ao final do século XIX, os par-
tidos de massa representando os trabalhadores. Anteriormente, havia 
somente partidos de quadros ou, mais precisamente, partidos das eli-
tes (aristocratas e burgueses).
Na Inglaterra, o país de mais antigas tradições parlamentares, os 
partidos aparecem com o Reform Act de 1832 2 , o qual, amplian-
do o sufrágio, permitiu que as camadas industriais e comerciais 
do país participassem, juntamente com a aristocracia, na gestão 
dos negócios públicos. Antes dessa data, não se pode falar pro-
priamente de Partidos políticos na Inglaterra. Os dois grandes 
partidos da aristocracia, surgidos no século XVIII e desde então 
presentes no Parlamento, não tinham, fora disso, nenhuma rele-
vância nem algum tipo de organização. Tratava-se de simples eti-
quetas atrás das quais estavam os representantes de um grupo 
homogêneo, não dividido por conflitos de interesses ou por di-
ferenças ideológicas substanciais, que aderiam a um ou a outro 
grupo, sobretudo por tradições locais ou familiares. (BOBBIO; 
MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p. 899, grifo do original)
Na maior parte da Europa e da América, durante o século XIX, pre-
valeceram partidos com esse formato. Somente no final do século XIX o 
sistema partidário efetivamente se diversificou com a incorporação da 
classe operária. Esse foi um marco para pensarmos o surgimento dos 
Estados Democráticos. Antes da incorporação das massas no processo 
político, somente poderíamos falar em Estado Liberal.
Nos decênios que precederam e se seguiram aos fins do sécu-
lo XIX a situação começou a mudar após o desenvolvimento do 
movimento operário. As transformações econômicas e sociais 
produzidas pelo processo de industrialização levaram à ribalta 
política as massas populares cujas reivindicações se expressam 
inicialmente em movimentos espontâneos de protesto, encon-
trando depois canais organizativos sempre mais complexos até 
Lei de Reforma de 1832, que 
modificou o sistema eleitoral na 
Inglaterra.
2
18 Ciências Políticas
a criação dos partidos dos trabalhadores. É precisamente com o 
aparecimento dos partidos socialistas – na Alemanha em 1875, 
na Itália em 1892, na Inglaterra em 1900 e na França em 1905 
– que os partidos assumem conotações completamente novas: 
um séquito de massa, uma organização difusa e estável com 
um corpo de funcionários pagos especialmente para desenvol-
ver uma atividade política e um programa político-sistemático. 
(BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p. 899)
Os partidos políticos apresentam características diferentes e sur-
gem como resultado das demandas da própria sociedade, segundo o 
momento histórico do seu advento. Assim, uma mudança na sociedade 
e a criação de uma nova classe serão a base para o surgimento de no-
vos partidos.
1.2.2 Burocracia
Como outros conceitos da ciência política, o termo burocracia tam-
bém não tem uma única definição, pois passou por transformações ao 
longo de décadas de teorização. De modo amplo, podemos dizer que o 
termo assinala a existência de um corpo de funcionários da administra-
ção pública que têm suas funções e territórios de competência regidos 
formalmente, são treinados e selecionados pelo critério de especializa-
ção e se encontram em relações hierárquicas.
1.2.3 Espaço político
Se caracteriza como o local em que ocorrem as disputas e os confli-
tos presentes nas relações entre eleitores e partidos políticos. Confor-
me apontam Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 392):
Todo sistema político é caracterizado por um certo número de con-
flitos: conflitos sobre a distribuição da renda, sobre a intervenção 
do Estado na economia, sobre as relações Estado-Igreja, ou então 
conflitos de natureza linguística, étnica, e por aí além. Na medida 
em que tais conflitos ou linhas de divisão são fatores de mobilização 
do eleitorado, eles influem no comportamento político dos eleito-
res e na estratégia dos partidos e, consequentemente, no desenro-
lar da disputa eleitoral. A conformação destes conflitos representa 
a área do Espaço político. Em resumo, portanto, o Espaço político 
identifica-se com o espaço da competição eleitoral nos regimes de-
mocráticos de massa. Não basta, porém, que existam conflitos – 
portanto, problemas a resolver e escolhas a fazer – para se poder 
usar significativamente a noção de Espaço político.
Conceitos básicos da ciência política 19
Sendo assim, o espaço político será o local em que ocorre o mo-
vimento dos partidos políticos na busca por conquistar os votos dos 
eleitores nas democracias contemporâneas.
1.2.4 Elites políticas
Podemos definir o conceito de elite com base no adjetivo que o 
acompanha e o qualifica, como política econômica, militar etc. Mes-
mo qualificado, esse termo ainda gera razoável debate e até mesmo 
imprecisão. Albertoni (1990 apud LOURENÇO, 2011) fornece um bre-
ve resumo dessas possibilidades conceituais. Segundo ele (1990 apud 
LOURENÇO, 2011, p. 28), o conceito de elite política se baseia em “uma 
minoria politicamente ativa que controla os processos de tomada de 
decisão política. Mais precisamente, a elite política foi metodologica-
mente identificada como o conjunto dos atores que ocupam os cargos 
políticos na estrutura do Estado”.
Em uma conceituação ampla, o termo elite se refere à minoria que 
detém o prestígio e o domínio sobre um grupo social. O termo foi lar-
gamente discutido nas obras clássicas dos italianos Gaetano Mosca e 
Vilfredo Pareto e do alemão Robert Michels, entre o final do século XIX 
e início do século XX. A busca da definição do conceito de elites e de 
não elites conduziu esses autores à elaboração do que ficou conhecido 
como a teoria das elites. Essa teoria foi constituída por um conjunto de 
ideias que reflete sobre as relações entre elites e massas nas democra-
cias contemporâneas e que afirma que em todo regime sempre existe 
uma minoria que governa e uma maioria que é governada.
Esses autores defendiam uma compreensão da sociedade que se 
baseava na apreciação da realidade dos fatos, e não na sua idealização.
Isso lhes permitiu analisar o desenvolvimento histórico das so-
ciedades e formular uma lei geral da sua organização política na 
qual afirmaram que toda sociedade possui inevitavelmente uma 
minoria que domina e uma maioria dominada. Ao buscarem 
comprovar esta tese de forma científica, estes autores construí-
ram os pilares da teoria das elites e delimitaram inicialmente um 
objeto de pesquisa (as minorias governantes) que seria a partir 
de seus estudos consagrado como um dos importantes temas da 
ciência política contemporânea. (LOURENÇO, 2011,p. 28)
Assim como Maquiavel (1990, p. 72) dizia que no estudo da política 
vale mais “procurar a verdade efetiva das coisas”, eles se empenharam 
20 Ciências Políticas
no estudo científico da política, buscaram conhecer como ela efetiva-
mente funcionava e não como ela deveria funcionar. Ou seja, defen-
deram a ideia de que um verdadeiro estudo dos fenômenos políticos 
deveria ocorrer pela análise da realidade efetiva de maneira científica.
1.2.5 Cultura política
Na cultura residem crenças, valores e normas em que o grupo acre-
dita com base no seu percurso histórico. Por isso, uma mesma expe-
riência política pode apresentar resultados diferentes em países com 
cultura política também diferente. Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, 
p. 306) afirmam que se utiliza a expressão cultura política para:
designar o conjunto de atitudes, normas, crenças, mais ou 
menos largamente partilhadas pelos membros de uma determi-
nada unidade social e tendo como objeto fenômenos políticos 
Assim, poderemos dizer, a modo de ilustração, que compõem a 
Cultura política de uma certa sociedade os conhecimentos, ou, 
melhor, sua distribuição entre os indivíduos que a integram, rela-
tivos às instituições, à prática política, às forças políticas operan-
tes num determinado contexto; às tendências mais ou menos 
difusas, como, por exemplo, a indiferença, o cinismo, a rigidez, 
o dogmatismo, ou, ao invés, o sentido de confiança, a adesão, a 
tolerância para com as forças políticas diversas da própria etc.; 
finalmente, as normas, como, por exemplo, o direito-dever dos 
cidadãos a participar da vida política, a obrigação de aceitar as 
decisões da maioria, a exclusão ou não do recurso a formas vio-
lentas de ação.
É importante observar que a cultura política diz respeito a um con-
junto de valores e crenças que orienta as ações dos indivíduos em suas 
relações políticas. Isso varia em cada sociedade. Um bom exemplo é 
a crença na ditadura. Existem sociedades que possuem o autoritaris-
mo como um elemento da sua cultura política e, nesse caso, tenderão 
a simpatizar com modelos políticos ditatoriais, ao contrário de outras 
sociedades que tenham uma cultura política na qual o pensamento au-
toritário esteja ausente.
1.2.6 Advento e método da ciência política
No decorrer do século XVIII, as ciências da natureza se consolidaram 
iniciando um período no qual a verdade deveria ser verificada pelos 
Conceitos básicos da ciência política 21
métodos científicos. Nesse mesmo século, a Revolução Industrial es-
tava em processo e o culminar da Revolução Francesa, que buscava 
encerrar o Antigo Regime, criaram em conjunto um novo modelo de 
organização política, jurídica, econômica, social e cultural que conhece-
mos como modernidade.
No século XIX a modernidade já era uma realidade, vivíamos um mo-
delo de sociedade que se baseava no trabalhador livre juridicamente, 
que podia vender sua força de trabalho e que almejava participar da vida 
política. As massas populares operárias começaram a se organizar e sur-
giram os partidos de massa para concorrer com os partidos de quadros 
(da elite) pelas vagas eletivas do Estado. Esse fenômeno trouxe inquie-
tações aos pensadores da época. Havia uma busca por compreender as 
complexas relações que se estabeleciam entre sociedade e Estado.
Essa inquietação também foi constatada na busca das formulações 
iniciais da sociologia. As greves operárias, os altos índices de suicídio, 
alcoolismo e revoltas dos trabalhadores, que muitas vezes resultavam 
na destruição das maquinarias, geraram a necessidade de uma respos-
ta àquilo que foi considerado um mal-estar social.
Também foi nesse século que a expansão industrial favoreceu o 
imperialismo e aproximou de modo sistemático os europeus de ou-
tras culturas, que poderiam ser estudadas e compreendidas. A curio-
sidade por outros povos já datava, pelo menos, das navegações do 
século XV e XVI, todavia foi no século XIX que surgiram as sociedades 
de etnologia na Inglaterra e na França. Eram homens com diversas 
formações que se reuniam para compreender as outras culturas com 
base nos relatórios e documentos produzidos pelos funcionários pú-
blicos que estavam em terras imperiais ou coloniais.
Acreditando que a ciência é o modelo adequado e eficaz para se 
compreender a realidade no século XIX, os pensadores propuseram o 
surgimento das ciências sociais. Simplificadamente, o argumento era 
de que já existiam as ciências da natureza no século XVIII e que os fe-
nômenos sociais careciam de ciência que os explicasse também, afinal, 
esses fenômenos teriam regras e leis passíveis de estudo científico.
Surgiram então, no século XIX, as ciências sociais, a sociologia, a an-
tropologia e a ciência política. Talvez, entre as três, a ciência política 
seja a que mais se inspirou nos métodos das ciências da natureza.
O imperialismo é um conjunto 
de práticas políticas adotadas 
por um país para sua expansão 
econômica, cultural e territorial 
sobre outros países. O caso mais 
conhecido de imperialismo 
ocorreu no século XIX, com a 
ação dos europeus sobre os 
países asiáticos e africanos.
Curiosidade
etnologia: pode ser com-
preendida como a ciência que 
estuda as diversas culturas das 
sociedades. Seria uma espécie 
de ciência das etnias.
Glossário
22 Ciências Políticas
Podemos perceber, com base no que foi explicado, que a ciência 
política, diferente da filosofia política, da ideologia política e do senso 
comum, busca utilizar como seu método a observação sistemática, 
a experimentação e a comprovação. Naturalmente, a comprovação 
será provisória e restrita somente ao objeto de estudo, mas, ainda as-
sim, adquire o status de comprovação científica.
A expressão Ciência política pode ser usada em sentido amplo e 
não técnico para indicar qualquer estudo dos fenômenos e das 
estruturas políticas, conduzido sistematicamente e com rigor, 
apoiado num amplo e cuidadoso exame dos fatos expostos com 
argumentos racionais. Nesta acepção, o termo “ciência” é utili-
zado dentro do significado tradicional como oposto a “opinião”. 
Assim, “ocupar-se cientificamente de política” significa não se 
abandonar a opiniões e crenças do vulgo, não formular juízos 
com base em dados imprecisos, mas apoiar-se nas provas dos 
fatos. (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p. 164)
A definição não é tão simples quanto pode se apresentar à primeira 
vista. O sentido pode variar quando levamos em consideração sua utili-
zação mais restrita ou, mais precisamente, sua aplicação em uma área 
demarcada de estudos. Para Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 164):
Em sentido mais limitado e mais técnico, abrangendo uma área 
muito bem delimitada de estudos especializados e em parte ins-
titucionalizados, com cultores [isto é, cultivadores de uma ciên-
cia] ligados entre si que se identificam como “cientistas políticos”, 
a expressão Ciência política indica uma orientação de estudos 
que se propõe aplicar à análise do fenômeno político, nos limi-
tes do possível, isto é, na medida em que a matéria o permite, 
mas sempre com maior rigor [...]. Em resumo, Ciência política, 
em sentido estrito e técnico, corresponde à “ciência empírica da 
política” ou à “ciência da política”, tratada com base na metodo-
logia das ciências empíricas mais desenvolvidas, como a física, a 
biologia etc.
Partindo dessa caracterização, podemos observar que a ciência po-
lítica consolidada na época contemporânea, que é possuidora de uma 
proposta de estudos empíricos sobre os fenômenos políticos, teve 
antepassados que colaboraram para sua construção. De acordo com 
Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 164):
Embora a constituição da Ciência política em ciência empírica 
como empreendimento coletivo e cumulativo seja relativamente 
recente, podem ser consideradas obras de Ciência política, ao 
Conceitos básicos da ciência política 23
menos em parte, e na sua inspiração fundamental, também no 
sentido limitado e técnico da palavra, algumas obras clássicas, 
como as de Aristóteles,Maquiavel, Montesquieu, Tocqueville, 
enquanto elas tendem à formulação de tipologias, de gene-
ralizações, de teorias gerais, de leis, relativas aos fenômenos 
políticos, fundamentadas, porém, no estudo da história, ou seja, 
apoiando-se na análise dos fatos.
Esses pensadores, que viveram em séculos passados, já haviam de-
monstrado o interesse pelo estudo dos fenômenos políticos com base 
em documentação histórica e observação dos fatos, antes mesmo da 
existência da ciência política. Estudaremos na sequência a contribuição 
de Maquiavel.
1.3 A contribuição de Nicolau Maquiavel
Vídeo Nicolau Maquiavel, que viveu no século XVI em Florença, na Itália, 
é considerado por muitos teóricos o primeiro cientista político da his-
tória. Pode parecer um equívoco, pois a própria ciência da política ain-
da não havia surgido. Todavia, essa apreciação diz respeito ao método 
empregado pelo autor para analisar os fenômenos políticos em sua 
época. Com base em fatos observados e documentos históricos, ele 
buscou refletir sobre o fenômeno da manutenção e perda do poder.
O autor salientou as características necessárias para um governo 
se manter estável e efetivamente governar, sem a tônica religiosa que 
era comum em sua época. De modo “amoral”, ou seja, sem julgamen-
to com base em valores cristãos que marcavam sua época, Maquiavel 
buscou verificar experiências que deram certo ou falharam na busca 
de conquistar e manter territórios e um poder centralizado sobre a po-
pulação conquistada. Nesse sentido, podemos afirmar que ele esboça-
va uma preocupação em compreender como poderiam se formar os 
primeiros Estados Modernos. Afinal, sem a unificação e manutenção 
do território e do poder sobre a população desse território, não seria 
possível falar em Estado.
A principal obra de Maquiavel, O Príncipe, gerou e ainda gera grande 
debate sobre as intenções do autor. Alguns afirmam que ele buscava 
dar aos poderosos um manual de dominação, enquanto outros veem 
na obra dele lições ao povo dominado. Consideramos que as lições do 
livro servem para os atores atentos aos ensinamentos.
24 Ciências Políticas
Contrariando os que viam em Maquiavel um autor “maldito”, 
Rousseau o defendeu afirmando que, “fingindo dar lições aos prínci-
pes, deu grandes lições ao povo” (ROUSSEAU, 2000 apud SADEK, 2002, 
p. 14).
Podemos afirmar que Maquiavel nutria, acima de tudo, uma preo-
cupação com a estabilidade do poder político por acreditar que somen-
te com um poder estabelecido que governasse em prol do povo e das 
elites poderíamos ter um cenário para o desenvolvimento das popula-
ções mais exploradas.
Para o autor, o excesso de disputa pelo poder, gerando guerras e 
mudanças sucessivas dos grupos que ocupavam os locais de poder po-
lítico na Itália, atingia de maneira maléfica principalmente os campone-
ses que estavam constantemente sujeitos a situações de insegurança. 
Se ele defendia a República ou a Monarquia, não é a questão central 
com a qual nos deparamos, mas sim a importância de se conquistar 
e manter o poder como forma de estabilidade e governabilidade. Ou 
seja, seu tema principal era o Estado.
Em carta escrita a Francesco Vettori, que à época era embaixa-
dor da República Florentina em Roma, em 13 de março de 1513, 
Maquiavel (1513 apud SADEK, 2002, p. 17) desabafou: “o destino de-
terminou que eu não saiba discutir sobre seda, nem sobre lã; tam-
pouco sobre questões de lucro ou de perda. Minha missão é falar 
sobre o Estado. Será preciso submeter-me à promessa de emude-
cer, ou terei que falar sobre ele”.
Percebemos que o autor se preocupava em analisar o Estado se-
guindo seu próprio raciocínio, formulado na expressão a verdade efe-
tiva das coisas. Desta forma, ele propõe a observação do Estado real, 
concreto, capaz de manter a ordem e não uma idealização dele.
Diferente da filosofia política predominante, Maquiavel propôs o 
método da verificação empírica dos fatos políticos. Devemos, segundo 
ele, discutir a realidade que temos e não a que gostaríamos de ter. O 
autor levantou questões que são importantes até os dias atuais, como 
as possíveis relações entre disputas pelo poder político, estabilidade e 
instabilidade, ordem e caos.
Conceitos básicos da ciência política 25
1.3.1 Conquistar e manter o poder de governar
Por que era importante manter o poder? Qual era o contexto no 
qual Maquiavel vivia? Nascido no dia 3 de maio de 1469, em uma Itá-
lia formada por vários pequenos Estados, com regimes políticos, de-
senvolvimento econômico e cultura variados, a disputa pelo poder era 
constante. Para Sadek (2002, p. 14), “tratava-se, a rigor, de um verdadei-
ro mosaico, sujeito a conflitos contínuos e alvos de constantes invasões 
por parte de estrangeiros”. A partir do final do século XV, a Península 
Ibérica passou a vivenciar mais incisivamente as invasões e disputas 
pelo poder em curto espaço de tempo.
Até 1494, graças aos esforços de Lourenço, o Magnífico, a penínsu-
la experimentou uma certa tranquilidade. Cinco grandes Estados 
dominavam o mapa político: ao sul, o reino de Nápolis, nas mãos 
dos Aragão; no centro, os Estados papais controlados pela Igreja e 
a república de Florença, presidida pelos Médici; ao norte, o ducado 
de Milão e a república de Veneza. (SADEK, 2002, p. 14-15)
Ao final do século XV, essa relativa estabilidade desapareceu da pe-
nínsula e as disputas pelo poder político foram tão intensas que um 
governo não se mantinha no poder por mais de dois meses. Maquiavel 
passou sua adolescência nessa instabilidade. Ocupou seu primeiro car-
go de destaque na vida pública com 29 anos, em 1498, como segundo 
chanceler, posição importante da administração pública. Ele exercia 
um papel de diplomacia viajando dentro e fora da Itália no curto perío-
do de retirada da família Médici e instauração da República. Contudo, 
esse cenário não se manteria por muito tempo, conforme expõe Sadek 
(2002, p. 15):
Suas tarefas diplomáticas sofreram, no entanto, uma brusca in-
terrupção quando os Médicis recuperaram o poder e voltaram 
para Florença. O governante Soderini vai para o exílio e é dis-
solvida a república. Era o ano de 1512. Maquiavel foi demitido, 
proibido de abandonar o território florentino pelo espaço de um 
ano, e ficava-lhe vedado o acesso a qualquer prédio público. Mas 
o pior ainda estaria por acontecer: em fevereiro de 1513 foi con-
siderado suspeito, acusado de tomar parte na fracassada cons-
piração contra o governo dos Médicis. Foi por isso torturado, 
condenado à prisão e a pagar uma pesada multa.
26 Ciências Políticas
Após sair da prisão, Maquiavel não conseguiu retornar à vida pú-
blica e passou a se dedicar a estudar e escrever suas obras de análise 
política. Seus anos de serviço público diplomático associados aos es-
tudos dos clássicos resultaram em obras escritas entre 1512 e 1513 (O 
Príncipe); 1513 e 1519 (Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio); 
1519 e 1520 (A arte da guerra); 1520 e 1525 (História de Florença).
Nessas obras políticas, o autor rompeu com a ideia de ordem na-
tural ou eterna e tratou a política como ação humana. Ao analisar os 
vários principados existentes na Itália, ele afirmou que para formar um 
Estado forte, com poder centralizado, era necessário mais do que o 
conquistar por meio das armas ou da fortuna. Para mantê-lo era preci-
so conseguir governá-lo, e isso aconteceria somente quando o conquis-
tador possuísse virtù, que foi um conceito central na análise do poder 
desenvolvida por Maquiavel. A virtù implica a capacidade do governan-
te de convencer o povo e as elites de que governa para eles, mesmo 
que não o faça. Ele também deve saber usar adequadamente a “espada 
pública”, ou seja, o uso da força e da violência, além de gerir adequada-
mente as finanças do Estado.
O autor também desenvolveu o conceito de fortuna, que seriam as 
riquezas para poder pagar um exército ou comprar um reino, mas que 
não garantiam que a população iria obedecer ao governante. O mesmo 
ocorre com as armas, que podem garantir a conquistade um território 
pela força, mas não garantem a governabilidade. Assim, a fortuna (ri-
quezas) e as armas (força bélica, soldados) podem conquistar um reino, 
mas não irão dar estabilidade para o exercício do governo. Somente a 
virtù (sabedoria para governar) irá garantir a continuidade e, por conse-
quência, a estabilidade do governo, ao conquistar a obediência dos go-
vernados. Por isso, Maquiavel demonstrou que muitos conquistadores 
em sua época possuíam fortuna e armas, mas não mantinham o poder 
porque lhes faltava a virtù.
Se considerarmos que o Estado Moderno se caracteriza principal-
mente pelo território unificado, poder concentrado e pelas regras ju-
rídicas comuns, podemos compreender que a preocupação do autor 
eram os problemas que impediam a formação do Estado Moderno ita-
liano. Afinal, somente um governante com virtù conseguiria, além de 
conquistar os territórios, mantê-los unificados, concentrar o poder no 
governo, não somente pela força mas pelo reconhecimento da autori-
dade, e, ainda, convencer o povo e a elite a viver sob o mesmo orde-
namento jurídico de modo a acreditar que isso era em seu benefício.
Conceitos básicos da ciência política 27
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, buscamos apresentar a ciência política e alguns con-
ceitos relacionados a ela. Considerando que em toda sociedade existe 
uma organização política, é fundamental que possamos compreender o 
funcionamento do espaço político.
O estudo da ciência política nos fornecerá as ferramentas para essa 
compreensão e nos permitirá uma leitura crítica das relações de poder 
que se estabelecem entre sociedade e Estado. Por isso, continuaremos 
nossa discussão sobre o surgimento e a consolidação do Estado Moderno 
no próximo capítulo.
AMPLIANDO SEUS CONHECIMENTOS
 • CODATO, A.; BRAGA, M. do S. Apresentação: Robert Michels, 
Gramsci e a ciência política contemporânea. Revista de Sociologia 
e Política, Curitiba, v. 20, n. 44, p. 5-10, nov. 2012. Disponível em: 
https://revistas.ufpr.br/rsp/article/view/34416/21340. Acesso em: 
14 out. 2019.
Esse artigo é excelente para conhecer a relação entre partidos 
políticos e o potencial de representação das massas.
 • DOBRYCHTOP, L. H.; CHIARO, L.; FERRAZ, C. E. F. A atualidade do 
pensamento político de Maquiavel. Jus, ago. 2018. Disponível em: 
https://jus.com.br/artigos/68543/a-atualidade-do-pensamento-
-politico-de-maquiavel. Acesso em: 14 out. 2019.
Esse texto apresenta uma contribuição sobre Nicolau Maquiavel 
e a atualidade do seu pensamento.
 • PERISSINOTTO, R. M.; CODATO, A. N. Apresentação: por um retor-
no à Sociologia das elites. Revista de Sociologia e Política, Curitiba, 
v. 16, n. 30, p. 7-15, jun. 2008. Disponível em: https://revistas.ufpr.
br/rsp/article/view/13850/9324. Acesso em: 14 out. 2019.
A leitura desse artigo ajudará a compreender melhor o que são 
os estudos sobre as elites políticas e sua importância para pensar 
o contexto brasileiro das relações entre Estado e sociedade.
28 Ciências Políticas
ATIVIDADES
1. Como podemos definir a ciência política?
2. Quais foram as contribuições da filosofia política ao desenvolvimento 
da ciência política?
3. Por que Maquiavel pode ser considerado o primeiro cientista político?
REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. Política. Trad. de António de Castro Caeiro. São Paulo: Atlas, 2009.
BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. 11. ed. Brasília: Editora 
UnB, 1998.
KONDER, L. Ideologia e política. Revista USP, São Paulo, n. 49, p. 24-29, mar./maio 2001. 
Disponível em: http://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/32905/35475. Acesso em: 
21 out. 2019.
LOURENÇO, A. O recrutamento das elites políticas no Brasil: o caso de Mato Grosso, 1945-
2007. Lisboa, 2011. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Setor de Ciências Sociais, 
Universidade Nova de Lisboa.
MAQUIAVEL, N. O príncipe. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
PLATÃO. A República. Trad. de Carlos Alberto Nunes. 2. ed. Belém: Edufpa, 1988.
SADEK, M. T. Nicolau Maquiavel: o cidadão sem fortuna, o intelectual de virtú. In: WEFFORT, 
F. C. Os clássicos da política. São Paulo: Ática, 2002. v. 1.
WEBER, M. Economia e sociedade. Brasília: Editora UnB, 1999. v. 2.
WEFFORT, F. C. Os clássicos da política. São Paulo: Ática, 2002. v. 1.
O Estado e o pensamento político 29
Este capítulo tem por objetivo identificar os tipos de 
sociedade política e de Estado ao longo da história, bem como os 
pensamentos políticos em épocas passadas a fim de compreender 
os Estados existentes na atualidade. Vivemos sob a organização 
política de um Estado, e as ações colocadas em prática por aqueles 
que governam afetam cotidianamente nossas vidas. Por isso, é 
fundamental compreender como e por que aceitamos viver sob 
esse modelo.
O Estado e o pensamento 
político
2
2.1 Sociedades políticas 
Vídeo Todas as sociedades humanas conhecidas após se tornarem seden-
tárias tiveram a necessidade de organizar a vida em coletividade, ou 
seja, estabelecer regras comuns e dividir as tarefas principais ligadas 
à alimentação, segurança e direito. Então, foi necessário estabelecer 
uma divisão de tarefas e cuidar para que as regras e os direitos fossem 
respeitados. Na busca de atingir os objetivos comuns do grupo ligados 
à sua sobrevivência, como proteção, alimentação e desenvolvimento, 
cada sociedade retira um pequeno grupo dentre seus integrantes para 
cuidar da administração dessas atividades.
Assim, enquanto alguns trabalham com agricultura, comércio e ar-
tesanato, aquele pequeno grupo zela para que essas atividades sejam 
corretamente executadas e os objetivos da coletividade sejam atingi-
dos. Em outras palavras, enquanto a sociedade trabalha, uma pequena 
parcela dela, chamada de sociedade política, cuida do funcionamento 
dos interesses públicos, como obras, segurança e garantia do respeito 
às regras estipuladas pela coletividade.
30 Ciências Políticas
Então, é justo afirmar que a sociedade política deriva da própria ne-
cessidade da sociedade de sobreviver e se desenvolver. Muitos autores 
têm discutido qual seria a origem da sociedade. O motivo pelo qual 
os humanos não vivem isoladamente tem sido alvo de sociólogos, fi-
lósofos e outros estudiosos, inclusive “Alguns pensadores defendem a 
posição de que [...] [a sociedade] é fruto da própria natureza humana, 
enquanto outros sustentam que nada mais é do que um ato de vonta-
de humana” (BASTOS, 1999, p. 13). A seguir, vamos conhecer algumas 
doutrinas e teorias que buscam explicar o que é sociedade e por que 
vivemos dessa forma.
Alguns filósofos defenderão a ideia de que a sociedade nasce da vonta-
de humana de viver sob um contrato que cria as condições de sobrevivên-
cia. Por defenderem a existência da sociedade ligada a um contrato, são 
conhecidos como contratualistas 1 , bem como as suas teorias.
Esses autores estavam mais preocupados em compreender o surgi-
mento das sociedades políticas do que a própria sociedade em sentido 
ampliado. Em seus escritos, defendem a ideia de que criar a sociedade 
foi um ato da razão humana, pois ao buscarem proteger a própria vida 
perceberam que essa seria a melhor forma de atingir esse objetivo.
A teoria organicista defende a ideia de que a sociedade não se resu-
me à mera soma de indivíduos, ela é um organismo dotado de funções 
próprias. Todavia, o indivíduo tem capacidade de moldar a sociedade 
segundo a sua vontade pelo uso de sua inteligência e razão. Assim, a 
sociedade pode ser pensada como fruto da natureza do homem, aliada 
à participação da vontade e da inteligência humana.
A doutrina da sociedade natural foi elaborada por filósofos como 
Aristóteles, São Tomás de Aquino 2 e outros. Para Aristóteles, o homem 
é um ser eminentemente social, que necessita se relacionar constante-
mente com os outros para poder se desenvolver. São Tomás de Aquino 
também acreditava que o homem é um ser social e político, que se 
realiza nas relações com outros homens em sociedade. Portanto, “o 
homem apresenta uma característica fundamental consistenteem 
depender de outros homens para a realização plena da sua natureza” 
(BASTOS, 1999, p. 12).
Os homens não viveriam em sociedade somente para satisfazer 
suas necessidades, mas por serem predispostos a isso. Assim como 
Hobbes, Locke e Rousseau, que 
estudaremos neste capítulo, 
são os principais autores dessa 
doutrina.
1
Tomás de Aquino nasceu 
em 1225, na Itália. Foi um 
importante filósofo e padre da 
Idade Média.
2
O Estado e o pensamento político 31
Aristóteles, São Tomás de Aquino alertava para o fato de que a vida 
solitária é exceção (MALUF, 2011).
Podemos observar que, para essa doutrina, a vida em sociedade 
resulta da necessidade humana, uma necessidade natural de viver em 
coletividade. Partilha dessa percepção o sociólogo Émile Durkheim 3 
(2010). Para esse autor, é impossível conceber a existência do homem 
fora de uma sociedade, pois nossa espécie não nos permite viver isola-
damente, não podemos procriar ou realizar individualmente todas as 
tarefas necessárias à sobrevivência da espécie. Necessitamos estabele-
cer relações sociais com outros da nossa espécie e isso, por si só, já nos 
obriga a viver em sociedade. Portanto, é um equívoco pensar que em 
algum momento da história os indivíduos decidiram criar a sociedade. 
Isso pressupõe a possibilidade de a existência humana se perpetuar 
fora da vida em sociedade.
Partilhando dessa perspectiva de que existe uma necessidade fun-
damental da nossa espécie de viver em sociedade, e que também trans-
mitimos historicamente a cultura de uma geração para outra, podemos 
compreender que, ao longo dos séculos, as sociedades provavelmente 
iriam sofrer mudanças.
Ao longo da história ocidental, as sociedades se desenvolveram pas-
sando de pequenos grupos para nações. Sua evolução passou pela or-
ganização de indivíduos em família, grupos de famílias (clãs), cidades, 
Estados, nações e comunidades internacionais.
Então, foi para organizar e administrar as sociedades que as primei-
ras sociedades políticas surgiram. Para Bastos (1999, p. 25), sociedade 
política é “aquela que tem em mira a realização dos fins daquelas or-
ganizações mais amplas que o homem teve necessidade de criar para 
enfrentar o desafio da natureza e das outras sociedades rivais”.
Essas sociedades são definidas pelo seu território, pois elas pos-
suem direito para agir somente dentro do território que reconhece a 
sua autoridade. Segundo a maior parte dos manuais que buscam sim-
plificar a evolução das sociedades políticas, encontramos a seguinte 
classificação: primeiro as tribos, depois as cidades-Estados gregas e o 
Império Romano, em seguida os principados e reinos medievais e, fi-
nalmente, o Estado.
Durkheim foi um sociólogo 
francês conhecido como um dos 
fundadores da sociologia. Suas 
principais obras são: Da Divisão 
do Trabalho Social (1893), As 
Regras do Método Sociológico 
(1895) e O Suicídio (1897).
3
32 Ciências Políticas
Atualmente, a mais conhecida dessas sociedades políticas é o Esta-
do Moderno. Ele se caracteriza pela existência de um território unifica-
do e com fronteiras demarcadas e reconhecidas internacionalmente, 
pela existência de um direito único válido para todo o povo desse ter-
ritório e um poder centralizado e reconhecido nesse território. Então, 
consideramos como os principais elementos do Estado o território, o 
povo e o poder, que serão trabalhados na próxima seção.
A palavra Estado deriva do latim status e significa estado, posição e 
ordem. O Estado também é compreendido como um organismo com 
funções próprias; um modo de ser de uma sociedade politicamente 
organizada após o século XVI. Considerado somente como uma das for-
mas de manifestação de poder, na Grécia foi identificado como a pólis, 
ou seja, a cidade-Estado; em Roma como os civitas; na Idade Média e 
na Moderna como principado, reino e república; e na Germânia como 
reich e staat (BASTOS, 1999; MALUF, 2011).
Buscar as origens do Estado Moderno no Ocidente não é uma tarefa 
fácil, pois os fatos históricos podem ter variadas interpretações. Desse 
modo, os historiadores divergem um pouco sobre o tema.
Essa ausência de consenso se manifesta com relação quer ao mo-
mento do aparecimento do Estado moderno, quer ao nome que 
a ele se deve dar, quer, ainda, ao porquê do seu aparecimento. 
Sobre o momento do surgimento do Estado moderno, a maioria 
dos historiadores atuais considera que isso ocorreu em meados 
do século XVI, dividindo-se a minoria restante entre os que re-
tardam para o XVII a sua ocorrência e os que a antecipam para 
o século XV, atribuindo aos Estados italianos do quattrocento o 
mérito da primazia. (FLORENZANO, 2007, p. 16, grifo do original)
Apesar da ausência de consenso, podemos observar que a maio-
ria dos estudiosos concorda que o Estado Moderno surgiu no 
século XVI. Então, é importante compreender que na sociedade ociden-
tal ele emergiu com a consolidação do sistema capitalista também no 
século XVI. No capitalismo mercantilista foi necessário um poder cen-
tralizado para que a economia pudesse se desenvolver. O capitalismo 
mercantilista é um sistema de relações amplas de comércio e não po-
deria estar sob a vontade dos nobres que controlavam os feudos. Um 
poder centralizador poderia unificar as leis, criar exércitos e garantir a 
segurança dos comerciantes e artesãos.
O Estado e o pensamento político 33
Na introdução da obra A ética protestante e o espírito do capitalismo, 
o sociólogo Max Weber (1976) indicou que tanto o Estado como o ca-
pitalismo não podem ser considerados como uma criação exclusiva da 
civilização ocidental. Todavia, o autor alertou para o fato de que:
somente na Civilização Ocidental teve lugar o desenvolvimento 
de um capitalismo racional, de fenômenos culturais dotados de 
“universal[idade] em seu valor e significado”, e o desenvolvimento 
de um Estado como uma “entidade política, com uma ‘Constitui-
ção’ racionalmente redigida, um Direito racionalmente ordena-
do, e uma administração orientada por regras racionais, as leis, 
e administrado por funcionários especializados”. (FLORENZANO, 
2007, p. 11, grifo do original)
Weber (1999) afirma que foi primeiro no Ocidente que se desen-
volveu plenamente o Estado e, com base na análise da tipologia das 
formas de dominação, o autor defende que somente um poder que 
atue como autoridade reconhecida pela sociedade pode ser conside-
rado uma forma de dominação legítima. Em sua tipologia das formas 
de dominação, o autor afirma que ao longo da história podemos en-
contrar três tipos puros de dominação legítima. A primeira seria a do-
minação carismática, que predominou na Antiguidade. Nessa forma 
de dominação, a autoridade do líder resulta das suas qualidades ou 
características pessoais reconhecidas pelo grupo. A segunda forma é 
a dominação tradicional, na qual a autoridade do líder é reconhecida 
com base na tradição, no hábito, na ideia de que as práticas devem ser 
de uma determinada forma porque ao longo do tempo têm sido assim. 
Esse tipo de dominação marcou principalmente o período medieval.
Por último, o autor identificou a dominação racional burocrática. 
Essa é a forma predominante de dominação que surge com a forma-
ção do Estado, com base no Direito (leis centralizadas) e na burocracia. 
Então, a principal forma de dominação da nossa época é a dominação 
racional burocrática, que tem a base da autoridade sustentada na cren-
ça da legalidade e do funcionamento da administração burocrática. A 
dominação é, segundo Weber, a probabilidade de que uma ordem en-
contre obediência com um determinado grupo de pessoas, sendo legí-
tima quando ela ocorre pelo reconhecimento da autoridade do líder ou 
do governo e ilegítima quando se baseia na força.
34 Ciências Políticas
Nesta seção, buscamos apresentar o que é uma sociedade política e 
o Estado como uma modalidade dela. A seguir, aprenderemos sobre a 
formação da sociedade e do Estado Moderno.
2.2 Formação da sociedade e do Estado
Vídeo As sociedades são formadas por elementos materiais, formaise 
finalísticos. Compreendemos como elementos materiais os seres 
humanos e a sua base física; os formais como as normas jurídicas, a 
forma de organização e as relações de poder; e, por fim, os finalísti-
cos como os que possuem uma grande variação, pois dependem dos 
objetivos comuns que o grupo estabelece, como o desenvolvimento 
econômico, cultural etc.
Dentre esses elementos podemos afirmar que o principal é o mate-
rial, pois sem humanos não existe sociedade. Entretanto, não podemos 
pensar que a sociedade signifique apenas a soma de indivíduos. Para 
ser uma sociedade, é necessário que esses indivíduos compartilhem 
entre si um conjunto de crenças, valores e normas que lhes possibilite 
uma vida em sociedade e uma certa identificação uns com os outros.
Por exemplo, uma reunião de 200 pessoas de diversas nacionalidades 
em uma palestra sobre meio ambiente não forma uma sociedade. Cada 
uma dessas pessoas pode ser de uma sociedade diferente. Podemos 
ter uma brasileira, uma francesa, uma tailandesa etc. Nesse caso, essas 
200 pessoas formam uma população e não uma sociedade, pois elas não 
partilham do mesmo conjunto de regras (sociais) e normas (formais).
As sociedades humanas se formam a partir dos objetivos comuns e, 
para sua realização, organizam suas atividades e normas comuns, que 
devem ser partilhadas pelo grupo. Essas normas são elaboradas com 
base na cultura de cada grupo, pois consideram as crenças e valores 
do grupo.
Como explicamos na seção anterior, as sociedades políticas surgem 
das sociedades em geral. Elas significam um grupo de indivíduos que 
irão administrar a vida em coletividade na busca de realizar os objeti-
vos comuns. Então, as sociedades políticas estão relacionadas às ati-
vidades de legislar, julgar, executar e cuidar da segurança. O Estado 
foi o modelo de sociedade política que surgiu na Idade Moderna em 
períodos diferentes e em locais distintos.
O Estado e o pensamento político 35
O Estado é a mais completa das organizações criadas pelo 
homem. Pode-se até dizer que ele é sinal de um alto estágio de 
civilização. Nesse sentido o Estado aparece num momento his-
tórico bem preciso (século XVI). Não se nega que a Antiguidade 
Clássica (as cidades gregas e o Império Romano) já apresentasse 
sinais precursores dessa realidade. Todavia, preferem os auto-
res localizar o seu aparecimento no início dos tempos moder-
nos, uma vez que só então, em última análise, se reúnem, nas 
entidades políticas assim denominadas, todas as características 
próprias do Estado. (BASTOS, 1999, p. 29)
Ainda que tenham existido sociedades políticas anteriores ao sécu-
lo XVI, será somente nesse período que encontraremos as condições 
concretas para a definição do Estado Moderno. De acordo com Bastos 
(1999, p. 34), “Estado é a organização política sob a qual vive o homem 
moderno. Ela caracteriza-se por ser a resultante de um povo vivendo 
sobre um território delimitado e governado por leis que se fundam 
num poder não sobrepujado por nenhum outro externamente e su-
premo internamente”.
O poder é, portanto, um elemento central na formação do Estado. 
Muitos autores buscaram defini-lo e a maioria concorda que, ao ser 
exercido, significa uma forma de impor a vontade em uma relação in-
dependente de possíveis resistências. Essa relação pode ser tanto de 
um indivíduo sobre um grupo ou indivíduo quanto de um grupo sobre 
outro grupo ou sobre um indivíduo. Nesse sentido, o poder do Estado 
se exerce pela autoridade reconhecida.
Como indica Bastos (1999), o poder do Estado não pode ser supe-
rado por nenhum outro poder dentro do território que ele administra. 
Naturalmente, esse poder resulta da própria autorização da sociedade 
que atribuiu ao Estado esse papel e deverá, na atualidade, garantir que 
ele (o Estado) tenha limites com base nos regulamentos impostos por 
uma Constituição. Para Bastos (1999, p. 26), existe uma relação entre 
poder político, ordem social e bem comum quando:
o poder político é o ponto para o qual convergem os demais 
poderes na medida em que pretendam influir nos destinos da 
sociedade. É ainda esse poder, por encerrar em si as funções de 
editar as normas gerais a que a sociedade deverá obediência 
(leis) e também a de aplicar essas mesmas normas através da 
administração e da jurisdição, que se traduz na via por excelên-
cia da conformação, no sentido de dar forma à sociedade.
36 Ciências Políticas
Nesse sentido, as demandas sociais traduzidas nos movimentos so-
ciais e grupos de pressão são fundamentais para conseguir influenciar o 
modelo de leis que serão elaboradas e aplicadas, pois interferem no coti-
diano dos indivíduos. O Estado tem o poder que a sociedade não possui.
Se X tem poder, é preciso que em algum lugar haja um ou vários 
Y que sejam desprovidos de tal poder. É o que a sociologia nor-
te-americana chama de teoria do “poder de soma zero”: o poder 
é uma soma fixa, tal que o poder de A implica o não poder de B. 
Esta tese (ou este pressuposto, quando a tese não é expressa-
mente enunciada) encontra-se em autores tão diferentes ideo-
logicamente como Marx, Nietzsche, Max Weber, Raymond Aron, 
Wright Mills. (LEBRUN, 1981, p. 7)
Para compreender o poder do Estado, é preciso considerar que 
somente ele tem esse poder. O Estado pode legislar, julgar, executar 
e usar violência física de maneira legítima, a sociedade não. Então, a 
criação do Estado se justifica na segurança jurídica que ele transmite, 
na legislação e na organização dos fins que a sociedade busca alcançar. 
Ele existe para aplicar e executar, garantir e proteger os princípios ge-
rais do Direito ou do ordenamento jurídico, seus fins devem ser a rea-
lização do bem comum. Nunca deve ficar acima dos valores da pessoa 
humana e está sempre em constante modificação e desenvolvimento.
Para autores como Marx (1977), é uma ilusão acreditar que o Estado 
irá buscar o bem comum, pois ele seria uma organização política que 
age em favor dos dominantes. Ao analisar a sociedade capitalista, o 
autor afirmou que o Estado era o Estado capitalista, pois havia sido 
criado pelo próprio sistema e funcionava segundo a lógica do modo de 
produção capitalista. Nesse modo de produção, as relações sociais de 
dominação se estruturam com base na propriedade privada dos meios 
(recursos como máquinas, matérias-primas etc.) para produzir. O resul-
tado seria a acumulação de riqueza dos que detêm a propriedade e a 
exploração do trabalho dos que não a detêm. Então, em uma sociedade 
de desiguais não haveria possibilidade de o Estado trabalhar em bene-
fício de todos igualmente, já que seu principal objetivo seria manter a 
propriedade privada e o sistema capitalista (de desiguais) funcionando.
As teorias que resultaram das análises das obras de Marx (1977) têm 
sido fundamentais para analisar os Estados democráticos concretos, 
para compreender por que somente após o surgimento dos partidos 
de massa (dos trabalhadores) podemos falar em democracia e, ainda, 
para compreender criticamente a importância dos sistemas partidários 
O Estado e o pensamento político 37
e processos eleitorais. Também é importante considerar que o Estado 
democrático é animado pelos representantes que ocupam os cargos 
públicos. Nesse sentido, a disputa política entre desiguais aparece tan-
to na escolha dos partidos quanto na dos eleitores. A complexidade do 
funcionamento dos Estados contemporâneos tem gerado um processo 
de profissionalização da política. Assim, muitas vezes, o bem comum 
tem ficado à mercê de burocratas que pouco conhecem a realidade de 
uma sociedade composta de desiguais.
A profissionalização da política também tem sido apontada como 
uma necessidade do funcionamento das democracias modernas e não 
apenas como o seu efeito. Segundo Sáez e Freidenberg (2002, p. 138), o 
avanço da democracia na América Latina nos últimos tempos:
supõe um processo triplo. A necessidade de articular regras de 
jogo assumidas pela maioria e que ao mesmo tempo compuses-
sem espaços organizativos mínimosnos quais se realizasse a 
competição política. A incorporação da mobilização social atra-
vés de formas de participação e de representação, e, finalmente, 
a criação de canais de seleção de pessoal político que liderasse e 
gerisse a política cotidiana. Essas três faces se referem a temas 
recorrentes da literatura das ciências sociais e aludem, em uma 
terminologia mais técnica, à institucionalização do regime políti-
co, à intermediação entre as demandas da sociedade e o poder, 
e à profissionalização da política.
Na teoria democrática contemporânea, formulada por Robert Dahl 
(2000), um princípio fundamental é a existência de vários grupos de 
pressão autônomos que conseguem se organizar em associações e 
defender os seus diferentes interesses. Essa democracia só pode se 
realizar em uma sociedade pluralista na qual os principais agentes so-
ciais tenham condição de participar da vida política, tanto pela pres-
são quanto pelo exercício dos cargos políticos (LOURENÇO, 2017). Por 
isso, alguns autores têm questionado o alcance dessa teoria na com-
preensão da realidade latino-americana, sublinhando que os longos 
governos de ditadura, aqui vivenciados, marcaram de forma profunda 
as nossas instituições e que, portanto, será necessário percorrer um 
longo caminho para que se possa constatar, nessa parte do continente, 
aquilo que o teórico americano definiu como poliarquia.
A democracia política, chamada por Dahl (2000) de poliarquia, de-
pende expressamente de algumas condições formais para sua exis-
tência, ou seja, condições básicas para a existência de um regime 
38 Ciências Políticas
politicamente democrático, com eleições livres, voto universal, liberda-
de de expressão e de associação, além da possibilidade de vigilância e 
responsabilização daqueles que exercem os cargos públicos eletivos. 
Entretanto, as sociedades nas quais existe muita desigualdade rara-
mente conseguem desenvolver um sistema com condições de efetiva 
competição para todos os setores da sociedade. Assim, mesmo que 
haja eleições com voto universal, a democracia poderá encontrar 
dificuldade de se realizar se as condições de liberdade e equidade na 
organização dos grupos que irão competir nas eleições não existirem.
A participação da sociedade no Estado é fundamental, pois somente 
ele tem a legitimidade e legalidade para ordenar a sociedade. Nesse 
sentido, os modelos democráticos têm buscado permitir a represen-
tação dos diversos grupos de forma mais equitativa nos espaços pú-
blicos de decisão. Entretanto, desde o século XIX alguns pensadores 
da política alertavam sobre a dificuldade da participação das massas. 
Segundo eles, a classe política ou classe dirigente é extremamente im-
portante, uma vez que toma as decisões e determina o caminho que a 
sociedade deve percorrer. Somente ela terá a capacidade de se orga-
nizar, pois a sua condição de minoria facilita esse processo, enquanto 
o mesmo é inviável em relação às massas. A impossibilidade de orga-
nização da maioria é também a razão da manutenção da sua condição 
de governados.
Mais do que a condição de minoria organizada, ela possuiria tam-
bém os recursos socialmente valorizados, permitindo-lhe impor a sua 
dominação. Somente a condição de minoria não explica a organização 
atingida pela classe política, por isso, esses pensadores alertam para 
o fato de que essa minoria governante possui interesses semelhan-
tes partilhados, o que a torna coesa e a impulsiona a se organizar. 
Perissinotto (2009, p. 30) afirma que:
poderíamos dizer que, de um lado, a condição de minoria é o 
requisito formal necessário para um grupo se transformar em 
classe dirigente, já que uma maioria não conseguiria se organi-
zar e exercer o domínio político; por outro lado, entretanto, uma 
determinada comunidade de interesses (religiosos, econômicos, 
militares, funcionais) torna-se o requisito substantivo para expli-
car por que aquela minoria se reúne e age de forma coordena-
da, já que a mera condição de minoria não seria suficiente para 
tanto. Enfim, um grupo, para dominar, precisa ser minoria (via-
bilidade técnica da ação conjunta organizada), mas isso não é 
O Estado e o pensamento político 39
suficiente; precisa também ter interesses em comum (o que gera 
uma motivação para agir coletivamente e impor o seu domínio 
sobre outros grupos).
Na continuidade dessa visão pessimista sobre a possibilidade de 
participação das massas no Estado, Robert Michels (1982 apud PE-
RISSINOTTO, 2009, p. 79), um importante autor alemão do século XIX, 
defendeu a ideia de que “as organizações não são meros instrumen-
tos a serviço de grupos sociais. Pelo contrário, quando uma organiza-
ção se forma e se consolida, ela gera interesses próprios que acabam 
por se sobrepor aos interesses daqueles que ela, a princípio, deveria 
representar”.
O autor não acredita na realização da democracia, pois, segundo 
ele, ela necessita de uma série de organizações para garantir o seu fun-
cionamento, mas, ao realizá-las, estas se colocam em oposição aos in-
teresses democráticos, pois geram uma elite técnica que ocupa e dirige 
as massas. O conceito de democracia que Michels adotava era, entre-
tanto, uma definição de democracia socialista do século XIX, de acor-
do com a qual democracia significava autogoverno popular, em que as 
massas decidiriam seus destinos em assembleias públicas.
Portanto, a democracia seria um regime inoperante por questões 
técnicas, pois multidões decidindo em assembleias públicas era algo 
impossível. Decorrente dessa incapacidade, surgiriam sempre os re-
presentantes, ou seja, uma pequena elite de líderes. Michels (1982) afir-
ma que as massas necessitam de líderes ou, mais precisamente, de se 
submeter a um chefe e que essa tendência universal gera a formação 
de uma minoria oligárquica que comanda. Para o autor, nas democra-
cias contemporâneas, quanto mais complexas se tornam as funções, 
maior será a separação entre a massa e os que a comandam, devido 
ao próprio conhecimento técnico que as funções nas organizações de-
mocráticas exigem.
Contudo, nos dias atuais buscamos compreender a democracia 
como um regime conflituoso entre o que ela é historicamente em cada 
país e sua busca por ser um modelo ideal que represente a todos. Po-
demos dizer que é exatamente essa relação entre o real e o ideal que 
alimenta o Estado Democrático de Direito.
Para finalizar, é importante salientar que o poder do Estado é um 
poder político, jurídico e bélico ao mesmo tempo. Na próxima seção 
40 Ciências Políticas
discutiremos as principais teorias ou concepções sobre o surgimento 
do Estado e, por consequência, sobre os modelos defendidos pelos au-
tores como sendo os mais adequados para a sociedade.
2.3 Concepções sobre o nascimento do Estado
Vídeo As principais teorias da origem do Estado são a natural (jusnaturalis-
ta), que buscou desvincular os valores humanos da religião; a teológica 
(religiosa), que afirma que o Estado foi criado por Deus e que existe um 
direito natural que precede o direito positivo; e a contratualista, para a 
qual o Estado teve origem em um pacto entre os homens, em que estes 
cedem parte de seus direitos em prol de um grupo de pessoas e que 
está relacionada à concepção de interesse coletivo.
2.3.1 Concepção natural
A concepção natural, também conhecida como jusnaturalista, bus-
cou explicar a necessidade do Estado de modo desvinculado da religião; 
sua formulação se deu no final da Idade Média e início da Moderna. 
Para o jusnaturalismo, o Estado deveria existir devido às necessidades 
da natureza humana. De acordo com essa concepção, existe um direito 
natural do homem que é anterior ao direito positivado. Ou seja, mes-
mo antes das comunidades políticas instituírem as leis dos homens, 
haveria uma lei preexistente na natureza, um direito que todo homem 
carrega consigo já no nascimento.
Segundo a teoria do direito natural, o Estado teve sua origem na 
própria sociedade e na ordem regular das coisas, que, com seu 
desenvolvimento natural,

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