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PLANEJAMENTO URBANO Vanessa Scopel Diferentes abordagens de planejamento Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer o contexto atual do planejamento urbano. � Reconhecer a evolução e as tendências do planejamento urbano. � Identificar os desafios atuais do planejamento urbano. Introdução Neste capítulo, você vai refletir sobre a evolução do planejamento urbano, entendendo as suas tendências e o seu contexto atual. Além disso, vai reconhecer os desafios que o planejamento urbano tem para enfrentar nesse processo de desenvolvimento do território urbano. Evolução e tendências do planejamento urbano O urbanismo é uma ciência cujo objetivo é ordenar o espaço urbano; o plane- jamento é a atividade dessa ciência, ou seja, a ação de programar e organizar o território das cidades. Assim como em tantas outras atividades, o processo de planejamento das cidades, que surgiu na Europa entre os séculos XVIII e XIX, foi evoluindo para chegar até os dias atuais, e essa evolução conta com diferentes fases e objetivos. Em um primeiro momento, as cidades surgiam e se organizavam a partir de características e costumes específicos de cada povo. Por exemplo, as cidades gregas apresentavam traçados urbanos ortogonais e faziam tentativas de melhoramento em suas ruas, que naquela época serviam estritamente para a circulação de pessoas e cargas. Os romanos, sendo um povo prático e organi- zado, aperfeiçoaram as técnicas de engenharia, o que culminou na construção de pontes, aquedutos, reservatórios de água, entre outros. Nesse momento, começou a surgir a rede de coleta de esgoto e de abastecimento de água. As cidades da Idade Média eram irregulares e apresentavam diversos tipos de traçados. Nessa época, não houve qualquer evolução com relação à ordenação e ao melhoramento do território. Com o desenvolvimento da navegação e o estabelecimento das relações de troca mais fortes nas cidades, a fase do Renascimento e do Barroco trouxe a abertura de novas vias, a criação de praças, monumentos e empreendimentos urbanos. Nessa época, as cidades já haviam evoluído em suas infraestruturas e começaram a receber as indústrias de grande porte, que atraiam cada vez mais trabalhadores. Dessa maneira, a mudança mais importante e que culminou no surgimento do termo “planejamento urbano” foi a Revolução Industrial: as cidades dessa época passaram a receber os moradores do campo e, com isso, tiveram que melhorar sua rede de transportes. O que aconteceu é que, como as cidades não estavam preparadas para receber tantas pessoas oriundas do campo, começaram a surgir diversos problemas relacionados à falta de saneamento básico, o que originou pestes e doenças. Pode-se dizer que, até a Revolução Industrial, fazia-se “desenho urbano”, algo mais simplificado e pontual; a partir de então, houve a necessidade de planejar as cidades com base em aspectos mais globais e inclusivos. A primeira fase do que se pode chamar de “planejamento urbano” foi a fase do urbanismo moderno. Segundo Del Rio e Gallo (2000), as ações urbanas modernas se tornaram viáveis mais precisamente após a Primeira Guerra Mundial. Esse tipo de planejamento surgiu após a era das indústrias, com o intuito maior e utópico de resolver todos os problemas das cidades. A ideia deste tipo de urbanismo era: A substituição da exaurida estética classicista e historicista por uma “estética nova” da máquina, de industrialização nas cidades e promoção de uma nova classe operária e de transformação de um país de caráter majoritariamente rural para majoritariamente urbano. (DEL RIO; GALLO, 2000). A ideia desse tipo de planejamento era a simplificação funcional com base em uma cidade dividida em quatro setores: habitar, trabalhar, lazer e circular. No urbanismo moderno, o interesse privado passa a ser subordinado ao público, de modo que o solo é liberado e tratado como espaço público, incorporando o conceito de pilotis nos edifícios. Os conceitos de zoneamento rígido e de Diferentes abordagens de planejamento2 setorização extrema são os principais instrumentos do planejamento urbano moderno, no qual cada espaço especializado corresponde a uma função. A intenção dessa fase do planejamento era interessante e diferenciada para a época, mas os urbanistas dessa vertente elaboravam planos que tinham como propósito substituir o traçado de todas as cidades tradicionais por esses esquemas modernistas. Nesse sentido, eles desconsideravam tudo o que já havia sido construído nas cidades, não se importando com o existente ou com a topografia e as especificidades de cada área urbana. A fase modernista do planejamento influenciou a construção da capital do Brasil, Brasília (Figura 1). Organizou-se um concurso para a cidade e o vencedor foi o projeto de Lucio Costa, que propôs o conceito de urbanismo modernista baseado em dois eixos que se cruzavam: um monumental, para as obras públicas, e outro residencial, fundamentado na ideia das superquadras. Essa cidade apresenta todas as características desse momento do planejamento. Figura 1. Plano piloto da cidade de Brasília. Fonte: Sant’Anna (2015). Após essa fase do planejamento modernista, surgiram urbanistas que abominavam a ideia moderna, defendendo o ponto de vista de que não existem planos ideais que se adéquam a todas as cidades. Esse período foi chamado de 3Diferentes abordagens de planejamento urbanismo pós-moderno, que surgiu como uma resposta à ideologia modernista. Harvey (2000, p.69) considera o momento pós-modernista como: [...] uma ruptura com a ideia modernista de que o planejamento e o desenvol- vimento devem concentrar-se em planos urbanos de larga escala, de alcance metropolitano, tecnologicamente racionais e eficientes, sustentados por uma arquitetura absolutamente despojada (as superfícies “funcionalistas” austeras do modernismo de “estilo internacional”) (HARVEY, 2000, p. 69). Agora a cidade passa a ser tratada como mercadoria e há uma tendência em relação ao adensamento e à ocupação dos vazios. Nesse contexto, surge o planejamento estratégico, associado a paisagens urbanas espetaculares, e a ideia é vender a imagem da cidade. A cidade da era da globalização está voltada para o comércio. Agora é a cidade-empresa, diferentemente da cidade-fábrica da era maquinista. Essa cidade que adota o planejamento estratégico vivencia outro fenômeno: o da me- tropolização, efeito que promove e reforça o surgimento de novas centralidades. Nesse momento do urbanismo pós-moderno (Figura 2), que tem por ob- jetivo reconstruir o sentido da cidade, surgem mudanças significativas na infraestrutura urbana, como a requalificação do espaço urbano por meio de intervenções urbanas pontuais. Assim, os planos urbanos estratégicos passam a ser a base para o planejamento e estão indissociavelmente ligados aos projetos de revitalização urbana. Nessa fase, produzem quase sempre projetos pontuais, de menor escala em relação às intervenções modernas, fragmentando a cidade e intervindo, geralmente, em áreas degradadas e obsoletas. Assim, surgiram planos e projetos estratégicos com fundamentações ecológicas e socioeconômicas e atração de capital e de pessoas, principal- mente nas áreas centrais das cidades, locais caracterizados, muitas vezes, pelo abandono. A ideia é passar a imagem de uma cidade empreendedora, socialmente integrada, que oferece qualidade de vida e um clima favorável aos negócios. Diferentes abordagens de planejamento4 Figura 2. A ideia do planejamento pós-moderno de ter a cidade como mercadoria. Fonte: Egali Intercâmbio (c2018?). Após as ideias pós-modernas surgidas nos anos de 1950 em diante, vive-se, atualmente, outro momento do planejamento urbano. A partir dos anos 2000, começou-se a compreender que a cidade não deve ser um produto somente tecnológico e que atraia investimentos e turistas: ela também precisa ser um espaço democrático e saudável, que permita uma vida de qualidadepara todas as pessoas. Diante disso, surgem urbanistas que defendem uma “cidade para pessoas” (GEHL, 2013), no sentido de que elas devem ser vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis. Um grande esforço desses objetivos é uma intervenção política unificada por toda a cidade para garantir que os moradores se sintam convidados a cami- nhar, pedalar ou permanecer nos espaços da cidade. Uma cidade que convida as pessoas a caminhar, por definição, deve ter uma estrutura razoavelmente coesa que permita curtas distancias a pé, espaços públicos atrativos e uma variedade de funções urbanas. A tendência do planejamento urbano, hoje, é de que ele devolva a cidade para as pessoas, garantindo bons espaços urbanos para que todos possam vivenciar e sentir a cidade igualitária e conjuntamente. 5Diferentes abordagens de planejamento Cheonggyecheon é um córrego, localizado na cidade de Seul, na Coreia do Sul. Foi construído durante a dinastia Joeson, com a função de dreno para a cidade. Em 1945, com a ocupação colonial japonesa, partes do córrego foram cobertas para construir edifícios e leitos carroçáveis. Com o nascimento da república, em 1948, Cheonggye- cheon foi totalmente coberto por uma estrada de concreto (Figura 3). A grande via pública tinha uma largura variável entre 50 e 90 m e se estendia por 6 km pelo centro da cidade. A ideia de substituir a estrada surgiu em 1999, quando a Câmara Municipal de Seul precisou fechar uma das três artérias rodoviárias da cidade. Partes do córrego foram cobertas para construir edifícios e leitos carroçáveis (Figura 4). Anos depois, foi construída uma via elevada. No período de pico de utilização, as vias chegavam a receber cerca de 120 mil veículos diariamente e a área acabou degradada. Estima-se que 40 mil moradores deixaram o centro da cidade e que 80 mil postos de trabalho foram fechados. A via foi removida e o córrego foi recuperado. Figura 3. Imagens da antiga via expressa de Cheonggyecheon. Fonte: Nosso Ambiente (2018?) e A Cidade (In)visível (2013). Diferentes abordagens de planejamento6 Figura 4. Parque linear de Cheonggyecheon após a revitalização. Fonte: TK Kurikawa/Shutterstock.com e khathar ranglak/Shutterstock.com. Pesquisas mostram, também, uma significativa diminuição do efeito de ilha de calor na cidade, que era provocado pela concentração de poluentes e pelo intenso fluxo de automóveis. O que antes era uma barreira soterrada entre o norte e o sul da cidade, transformou-se em um parque público para uso de 30.000 pessoas a cada fim de semana (Figura 4). A maioria das pessoas que visita o novo espaço chega de metrô – as linhas e as estações estão sempre a menos de 1 km de distância uma da outra. Contexto atual do planejamento urbano Considerando a complexidade da atividade de planejar, é importante refletir sobre a evolução e sobre as tendências de planejamento. Atualmente, a ten- dência de devolver a cidade para as pessoas se consagra por meio do Estatuto da Cidade e dos Planos Diretores, instrumentos que asseguram a participação das pessoas nas decisões sobre a cidade. O planejamento urbano no Brasil foi evoluindo e mudando ao longo dos anos. Suas transformações mais significativas se deram a partir da Constituição Federal de 1988, que, por meio dos artigos 182 e 183, regulamenta a política de desenvolvi- mento urbano e da função social da propriedade, e da implementação do Estatuto da Cidade, que é uma tentativa de democratizar a gestão das cidades brasileiras com base em instrumentos, dentre os quais podemos destacar o Plano Diretor. 7Diferentes abordagens de planejamento No Brasil, o Estatuto da Cidade, em seu em seu art. 2º, inciso I, assegurou o direito a cidades sustentáveis, definindo-o como o “[...] direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações [...]” (BRASIL, 2001). A partir desses instrumentos, houve uma evolução no que diz respeito à regularização fundiária e também na implementação de Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), com regras específicas de parcelamento, uso e ocupação do solo. Nesse contexto, destaca-se o debate do direito à cidade. Segundo a Carta do Rio de Janeiro, apresentada pelos movimentos sociais durante o V Fórum Urbano Mundial (Rio de Janeiro, de 22 a 26 de março de 2010), o direito à cidade deve se constituir como um “[...] direito coletivo das presentes e futuras gerações a uma cidade sustentável, sem discriminação de gênero, idade, raça, condições de saúde, renda, nacionalidade, etnia, condição migratória, orien- tação política, religiosa ou sexual, assim como de preservarem sua memória e identidade cultural [...]” (CARTA DO RIO DE JANEIRO, 2010). Portanto, o direito à cidade evidencia o direito de todos os cidadãos ao es- paço público, sem distinções ou privilégios. É dever do poder público assegurar a cidade como espaço democrático, que traduz o anseio dos moradores. Essa ideia enfatiza a importância da participação da população na definição e na implementação de políticas públicas, de modo que “[...] se rompa o mecanismo e o modelo de urbanização historicamente excludente e espacialmente segre- gador, que muitas vezes privilegia interesses econômicos ou sociais de grupos não representativos em detrimento daqueles da maioria das pessoas que vive nas cidades [...]” (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2016). O direito à cidade passou a ser uma questão primordial no planejamento urbano; essa atitude condiciona a organização dos centros urbanos para todos, garantindo a harmonia entre diferentes classes, grupos sociais e raças. Esses fatos transformaram o Plano Diretor em um instrumento fundamental da política urbana, que é a base de leis, normas e diretrizes para a cidade. Além disso, em 2003, foi criado o Ministério das Cidades, que, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2016), [...] possibilitou a unificação, em uma mesma instituição pública, da gestão das diversas políticas setoriais de desenvolvimento urbano, a saber, planejamento urbano, habitação, saneamento ambiental, mobilidade urbana, transporte e trânsito, além da criação de instância de gestão participativa em nível nacional: o Conselho das Cidades (ConCidades). Diferentes abordagens de planejamento8 Tanto o Ministério das Cidades quanto o Conselho das Cidades são os responsáveis, nesses últimos anos, pela “mobilização, capacitação e formação de diversos atores públicos, políticos e da sociedade civil para tratamento da temática do planejamento urbano” (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔ- MICA APLICADA, 2016). Considerando esse contexto atual, além da consolidação dos Planos Di- retores, foram criadas diversas ferramentas que contribuem para a regulação das políticas públicas voltadas ao planejamento do território. Conforme o Instituto de Pesquisa Econômica do Brasil (2016), Esses avanços legislativos ocorridos na última década se articulam em torno da habitação e da regularização fundiária, do saneamento ambiental e resíduos sólidos, do transporte e mobilidade urbana e às áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geo- lógicos ou hidrológicos. Foram aprovados no Conselho das Cidades, ainda, o Plano Nacional de Habitação e o Plano Nacional de Saneamento Básico, sendo este aprovado também no Conselho Nacional de Saúde (CNS), no Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e no Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH). De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2017), houve um crescimento de instrumentos de planejamento territorial adotados pelos municípios nesses últimos anos. De 2008 para 2011, a por- centagem de municípios que apresentam planos de habitação finalizados ou em processo de elaboração aumentou de 10,9% (2008) para 28% (2011). A porcentagem de municípios que realizou planos de saneamento cresceu de 2011para 2013 em cerca de 28,7%. Considerando planos de emergência e contingência para área de risco, a Defesa Civil constatou que, em 2013, 83% dos municípios localizados nessas áreas contêm planos de gestão de risco. Além disso, no ano de 2013, 1865 municípios declararam ter elaborado Planos de Gestão Interada de Resíduos conforme a Lei nº 12.305/2010. Tendo em vista os municípios que respondem ao Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), com base nos dados de 2013, 92,98% deles têm acesso ao abastecimento de água potável, 69,42% contam com o tratamento dos efluentes e 56,3% têm coleta de esgoto em suas residências. Em janeiro de 2015, foi criado outro instrumento, chamado Estatuto da Metrópole, sob a Lei Federal nº 13.089/2015, e que foi formulado com o intuito de preencher e corrigir falhas deixadas pelo texto constitucional. O Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado é a principal diretriz desse Estatuto, o 9Diferentes abordagens de planejamento qual deverá ser instituído por lei estadual e revisto, pelo menos, a cada 10 anos. Segundo seu Artigo 1º, esta Lei: [...] estabelece diretrizes gerais para o planejamento, a gestão e a execução das funções públicas de interesse comum em regiões metropolitanas e em aglomerações urbanas instituídas pelos Estados, normas gerais sobre o plano de desenvolvimento urbano integrado e outros instrumentos de governança interfederativa, e critérios para o apoio da União a ações que envolvam go- vernança interfederativa no campo do desenvolvimento urbano (BRASIL, 2015, art. 1º). Percebe-se que o contexto atual do planejamento no Brasil é esperançoso: os agentes da sociedade entendem a importância de ordenar o território urbano e de garantir, às futuras gerações, espaços democráticos e igualitários nas cidades. A criação de variados planos, leis e diretrizes é o pontapé inicial para adequar esse processo e torná-lo organizado, garantindo sua eficácia e aplicação nas cidades brasileiras. A Lei nº 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), é bastante atual e contém instrumentos importantes para permitir o avanço necessário ao Brasil no enfrentamento dos principais problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos. � Propõe a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a destinação ambien- talmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado). � Institui a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos: fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, cidadãos e titulares de serviços de ma- nejo dos resíduos sólidos urbanos na Logística Reversa dos resíduos e embalagens pós-consumo e o próprio pós-consumo. � Cria metas importantes que irão contribuir para a eliminação dos lixões e insti- tui instrumentos de planejamento nos níveis nacional, estadual, microrregional, intermunicipal e metropolitano e municipal, além de impor que os particulares elaborem seus Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos. � Também coloca o Brasil em patamar de igualdade aos principais países desenvolvidos no que concerne ao marco legal e inova com a inclusão de catadoras e catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis, tanto na Logística Reversa quando na Coleta Seletiva. Fonte: Brasil (2010). Diferentes abordagens de planejamento10 Desafios do planejamento urbano Por mais que o contexto atual do planejamento das cidades seja animador, em virtude da criação de diversos instrumentos que regulamentam e projetam intervenções nas cidades, existem inúmeros problemas e desafios a serem enfrentados nesse processo de desenvolvimento do território urbano. Uma das grandes preocupações das cidades diz respeito às desigualdades, que se manifestam sob os aspectos de mobilidade, renda e, principalmente, de acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida. Conforme o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil: Aos déficits setoriais e às diferenças de acesso a serviços e equipamentos básicos somam-se outras dimensões da vida: lazer, segurança, saúde, edu- cação, cultura etc., que, de maneira geral, evidenciam os grandes desafios para a efetiva inclusão socioespacial e para a redução das desigualdades e da fragmentação urbana. (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2016). Nota-se que o modelo de urbanismo baseado na exclusão de alguns e na prioridade para outros cria espaços fragmentados, sem qualquer conexão com o todo da cidade. Além disso, as ações políticas e as intervenções do governo são vistas como um sistema setorizado, em que se privilegia porções da cidade com bens, equipamentos e serviços. Essas questões podem ser consideradas empecilhos para o desenvolvimento urbano, de modo que a integração de políticas é de fundamental importância para que as cidades atendam por completo as necessidades dos cidadãos. Segundo o Relatório do GT Habitat do Conselho das Cidades, de autoria do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2016), dentre os principais desafios do planejamento urbano atual, existem alguns primordiais para a atualidade, que se destacam por serem importantes para garantir um futuro melhor para as cidades e para as pessoas. São eles: 1. Garantir o planejamento e o projeto urbano sustentável a partir da implantação dos Planos Diretores de cada município, buscando associar o planejamento à questão fundiária, à valorização do espaço público e à proteção do meio ambiente, observando diferentes escalas de planeja- mento territorial. Assegurar a utilização efetiva dos instrumentos para o combate à especulação imobiliária, para a ampliação do acesso à terra e para o cumprimento da função social da propriedade, articulando ao desenho e à execução das políticas públicas e promovendo a ampliação 11Diferentes abordagens de planejamento da estrutura técnica e institucional para o planejamento e para gestão urbana e territorial nos municípios e estados. 2. Melhorar a gestão da terra, inclusive o tratamento do espraiamento urbano por meio do monitoramento dos conflitos fundiários, buscando maximizar resultados em termos de prevenção de conflitos e violência, com base em mediação e negociações. Instituir a Política Nacional de Prevenção e Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos, elaborada de maneira ampla e participativa pelo Conselho das Cidades. Desenvolver e monitorar pro- jetos específicos de expansão urbana de maneira participativa. Construir políticas específicas de reabilitação de imóveis associadas às políticas habitacionais, de mobilidade e de geração de emprego e renda em áreas com infraestrutura e serviços, desenvolvendo estratégias e instrumentos de ampla participação na concepção e gestão de projetos urbanos, garan- tindo transparência das ações, construindo identidades e difundindo seus potenciais benefícios para distintos territórios das cidades. 3. Aumentar a produção de alimentos urbana e periurbana por meio da integração entre a agricultura urbana e periurbana e a gestão de resíduos orgânicos, com vistas ao aumento da produção de alimentos nessas áreas. 4. Atender aos desafios da mobilidade urbana, adaptando as cidades à acessibilidade universal, qualificando os deslocamentos dos pedestres por meio da inserção das calçadas no sistema de transporte. Regular os usos do espaço urbano no sentido de possibilitar a redução das distâncias per- corridas e do tempo de deslocamento. Ampliar a mobilidade da população a partir do incentivo aos modos coletivos e não motorizados. Aumentar o índice de mobilidade cotidiana dos estratos mais pobres. Ampliar a participação, nos deslocamentos urbanos, de modos de transporte mais “suaves”, como as bicicletas e a integração entre políticas demobilidade e de uso e ocupação do solo urbano, de forma a possibilitar a constituição de lugares urbanos diversos (multiuso) em termos funcionais e sociais, que contribuam para uma menor demanda por mobilidade e com opções sustentáveis de mobilidade e acessibilidade. 5. Aumentar a capacidade técnica para planejar e gerenciar as cidades a partir da discussão acerca do Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano, a fim de garantir o equilíbrio das responsabilidades entre os entes federativos no âmbito da política urbana. Promover a instituciona- lização da política de desenvolvimento urbano e de seus instrumentos (planejamento, fiscalização, regulação, controle social e participa- ção), aumentando as capacidades dos governos locais para promoção do planejamento urbano sustentável e da gestão territorial integrada. Diferentes abordagens de planejamento12 Possibilitar a participação social e assegurar o acesso público à infor- mação, protegendo as liberdades fundamentais. Fomentar a formação de consórcios públicos no âmbito do planejamento urbano e gestão do território entre municípios e destes com os outros entes federativos. Diante desses desafios do planejamento urbano atual, percebe-se que há muito o que resolver, melhorar e implementar em nossas cidades. Para transformar essa realidade, não basta apenas a vontade pública e da popula- ção, são necessários, além disso, investimentos financeiros, uma sociedade civil organizada e mobilizada em prol de cidades mais justas e inclusivas, de compromissos políticos de governos nacional, estaduais e municipais, de uma maior democratização e acesso ao Judiciário, de maior capacidade e qualidade dos gestores públicos e dos organismos governamentais. De qualquer forma, o planejamento evoluiu e continua evoluindo ao longo dos anos, sendo cada vez mais considerado nas políticas do governo e entendido pela população como algo que colabora para a qualidade de vida de todos. Assim como em tantas outras atividades, os desafios fazem parte do desenvolvimento e da evolução dos sistemas e das pessoas e servem como estímulo para a o progresso. 13Diferentes abordagens de planejamento A CIDADE (IN)VISIVEL. Revitalização urbana: canal Cheonggyecheon, em Seul. [S.l.]: A Cidade (In)visível, 2013. Disponível em: <https://acidadeinvisivel.wordpress. com/2013/04/01/revitalizacao-urbana-canal-cheonggyecheon-em-seul/>. Acesso em: 26 jan. 2018. BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constitui- ção Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ Ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em: 26 jan. 2018. BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. 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