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Geovana Sanches, TXXIV OSTEOMETABOLISMO FISIOLOGIA DO METABOLISMO ÓSSEO O osso é um tecido dinâmico remodelado constantemente ao longo da vida. Constitui um reservatório para o cálcio, magnésio, fósforo, sódio e outros íons necessários para as funções homeostáticas. Ele também abriga e regula a hematopoese, proporcionando nichos para a proliferação das células hematopoiéticas e sua diferenciação. Os componentes extracelulares do osso consistem em uma fase mineral sólida em estreita associação a uma matriz orgânica. A fase mineral é constituída por cálcio e fosfato, os quais formam hidroxiapatita. Por outro lado, a matriz orgânica é de 90 a 95% constituída por colágeno tipo I, sendo o restante heterogêneo, contendo proteínas séricas. O remodelamento ósseo é realizado por dois tipos distintos de células: os osteoblastos, que sintetizam e secretam a matriz óssea, e os osteoclastos, que a reabsorvem. Os osteoblastos são de origem mesenquimal (células osteo- progenitoras), enquanto os osteoclastos são células multinucleadas formadas pela fusão de células que derivam do precursos comum de macrófagos (origem hematopoiética). Os hormônios que influenciam a função dos osteoclastos não são direcionados, em sua maioria, para essas células, porém atuam sobre células da linhagem dos osteoblastos para aumentar a produção de M-CSF e RANK. Tanto o PTH quanto a 1,25(OH)2D aumentam o número e a atividade dos osteoclastos por esse mecanismo indireto. Em contrapartida, a calcitonina une-se a seu receptor sobre a superfície basal dos osteoclastos e inibe diretamente sua função. O estradiol possui múltiplos alvos celulares no osso, incluindo osteoclastos, células imunes e osteoblastos; as ações sobre todas essas células servem para diminuir o número de osteoclastos e a reabsorção óssea. A mensuração dos produtos da atividade osteoblástica e osteoclástica pode ajudar no diagnóstico e no tratamento das doenças do osso. A atividade osteoblástica pode ser avaliada medindo-se a fosfatase alcalina sérica específica do osso. De maneira semelhante, a osteocalcina, uma proteína secretada pelos osteoblastos, é produzida quase exclusivamente pelos osteoblastos. Paratormônio (PTH) O paratormônio é produzido nas glândulas paratireoides e tem como função o controle dos níveis séricos de cálcio no organismo. Esse hormônio ativa os osteoclastos, estimulando o turnover ósseo com reabsorção de cálcio, assim como o osteoblasto para nova formação de matriz. Além disso, atua nos túbulos renais diminuindo a absorção de fosfato (regula a fosfatúria), aumentando a reabsorção de cálcio e estimulando a 1-alfa-hidroxilase (enzima envolvida na ativação da vitamina D). O PTH tem como função principal, portanto, estimular a absorção de cálcio em todas as vias possíveis, a fim de promover o aumento do cálcio no interior do organismo. Secreção de PTH: receptor sensor de cálcio O controle ds secreção de PTH se dá por receptores presentes nas paratireoides, os quais são capazes de identificar as concentrações de cálcio no organismo. Assim, quando o cálcio está baixo, há secreção do hormônio. Cálcio Um indivíduo adulto apresenta entre 1 e 2 kg de cálcio em seu organismo, sendo que 98% disso está concentrado no esqueleto. O equilíbrio dinâmico do íon Ca++ se dá, além dos ossos (maior reservatório do organismo), através do trato gastrointestinal, rins, sangue e fluido extracelular. Geovana Sanches, TXXIV Funções • Excitabilidade e transmissão neural • Secreção de hormônios e neurotransmissores • Contração muscular • Coagulação sanguínea • Modulação da atividade enzimática Vitamina D A vitamina D se forma através de ésteres de colesterol (pró-vitamina) encontrados na pele que, após exposição à raios UVB, transformam-se em colecalciferol (D3). A vitamina D3, por sua vez, através da circulação sanguínea, chega ao fígado e sofre uma hidroxilação na posição 25, formando a 25-hidroxivitamina D3 (D2). A vitamina D2 chega então no rim, local em que, através da enzima 1-alfa-hidroxilase, sofre outra hidroxilação, dessa vez na posição 1. Assim, forma-se a 1-25-dihidroxivitamina D3 ou vitamina D3 ativa (colecalciferol). Ações principais • Mantém concentração normal de cálcio e fósforo • Aumenta a absorção intestinal de cálcio Ossos Cortical • Denso e compacto • Parte externa do osso • Responsável por força • Representado pelo colo de fêmur e fêmur total na densitometria óssea Trabecular • Parte interna do osso • Metabolicamente mais ativo • Fornece suprimento inicial em deficiências minerais • Perde-se mais intensa e rapidamente após a menopausa • Representado pela coluna vertebral na densitometria óssea Remodelação óssea O processo contínuo de renovação e remodelação óssea é realizado pelos osteoblastos e osteoclastos sob ação principal do PTH e vitamina D. São vários os fatores que estimulam a reabsorção, tais como o aumento do paratormônio e falta de vitamina D. Por outro lado, está o estrógeno, o qual ativa o osteoblasto e, portanto, vai contra a reabsorção. Há grande interdependência no turnover ósseo, ou seja, enquanto há reabsorção pelos osteoclastos, há concomitantemente formação de nova matriz pelo osteoblasto. Sendo assim, o resultado nem sempre é a perda de massa óssea. Na infância por exemplo, há maior formação do que perda, enquanto no período pós-menopausa há maior perda do que formação. Apesar dessa ligação entre ambos os processos, o tempo necessário para que eles ocorram é distinto – são cerca de 3 semanas para a reabsorção, contra 3 meses para formação de nova matriz. HIPERCALCEMIA A hipercalcemia diz respeito ao aumento do cálcio sérico total, cujo valor de referência é de 2,1 - 2,6 mmol/L (8,5 - 10,5 mg/dL). É importante lembrar que o cálcio total é a soma de três componentes: o cálcio iônico (regulado pelo PTH), o ligado a proteínas plasmáticas e o complexado com ânions. Geovana Sanches, TXXIV Etiologia PTH Dependente PTH Independente Ø Hiperparatireoidismo primário Ø Terapia com lítio Ø Hipercalcemia hipocalciúrica familiar Ø Relacionada com neoplasias malignas Ø Relacionada com Vitamina D Ø Associado a elevada renovação óssea Ø Associada a insuficiência renal • Neoplasias o PTHrP: Mama, Ca escamoso de pulmão, laringe, pele, esôfago o Citocinas estimuladoras da reabsorção óssea: IL1, IL6, FNT § Mieloma múltiplo § Neoplasias hematológicas • Intoxicação por vitamina D ou vitamina A • Sarcoidose e outras doenças granulomatosas: ativam a hidroxilação extra renal de vitamina D • Medicações: lítio, tiazídicos (como hidroclorotiazida) • Endócrinas: hipertireoidismo, acromegalia Prevalência Pacientes ambulatoriais • Hiperatireoidismo primário (50 a 60%) • Neoplasias (30%) Pacientes hospitalizados • Neoplasias (60%) • Hiperparatireoidismo primário (27%) Quadro clínico A hipercalcemia de qualquer causa pode resultar em fadiga, depressão, confusão mental, anorexia, náuseas, vômitos, constipação, defeitos tubulares renais reversíveis, micção mais frequente, intervalo QT curto no eletrocardiograma e, em alguns pacientes, arritmias cardíacas. Há uma relação variável de um paciente para outro entre a gravidade da hipercalcemia e os sintomas, mas em geral os sintomas são mais comuns com níveis de cálcio > 2,9 a 3 mmol/L (11,6-12,0 mg/dL). Quando o nível de cálcio é > 3,2 mmol/L (12,8 mg/dL), ocorrem calcificações nos órgãos. Hipercalcemia significativa, em geral definida como ≥ 3,7 a 4,5 mmol/L (14,8-18,0 mg/dL), pode ser uma emergência médica, devido a possibilidade de coma e parada cardíaca. Diagnóstico O hiperparatireoidismo primário (HPTP) é a principal causa de hipercalcemia, sendo, portanto, a primeira etiologia a ser pensada. O imunoensaio para o PTH costuma distinguir o hiperparatireoidismo de todas as outras causas de hipercalcemia.Os pacientes com hiperparatireoidismo possuem níveis elevados de PTH apesar da hipercalcemia, enquanto os pacientes com neoplasia maligna e com as outras causas da hipercalcemia, em geral, possuem níveis de hormônio abaixo dos valores normais ou impossíveis de detectar. Os ensaios com base no método com anticorpo duplo contra o PTH exibem sensibilidade muito alta (em especial se for avaliado simultaneamente o cálcio sérico), assim como alta especificidade para o diagnóstico de hiperparatireoidismo primário. Um importante diferencial é o carcinoma de paratireoide, no qual há níveis séricos de PHT intacto elevados (5x acima do limite) e de cálcio (> 14 mg/dL). Há suspeita quando há massa cervical palpável. Tratamento Medidas gerais A primeira medida após a identificação da hipercalcemia, caso não haja contra-indicação, é a hidratação intensa, seguida do uso de diurético de alça (furosemina). Caso o indivíduo não possua função renal adequada ou apresente insuficiência cardíaca que não permita a hidratação, indica-se a diálise. Outras medidas são a suspensão de drogas que elevem o Cálcio, como os tiazídicos, e o tratamento farmacológico: • Calcitonina: apresenta baixo poder de redução do cálcio • Bifosfonatos: nesse caso deve ser usado formulação endovenosa, o que diminuirá o turn-over ósseo e, consequentemente, o cálcio sérico. o Utiliza-se principalmente ácido zoledrônico. o Não tem efeito imediato, com início após cerca de 6 horas. Geovana Sanches, TXXIV • Corticoide: diminui o turn-over ósseo Hiperparatireoidismo primário O hiperparatireoidismo primário é um distúrbio generalizado do metabolismo do cálcio, do fosfato e do osso ocasionado pelo aumento de secreção de PTH pelas paratireoides. Epidemiologia A incidência anual da doença é de até 0,2% nos pacientes com mais de 60 anos, com prevalência de 3:1 em mulheres. A doença exibe um pico de incidência entre a terceira e a quinta década, mas pode ocorrer em crianças pequenas e idosos. A principal etiologia é o adenoma (80%), seguido de hiperplasia (15%) e carcinoma (5%). Pode, ainda, estar associado a neoplasia endócrina múltipla tipo 1 (NEM1). Quadro clínico Há uma grande variação nas manifestações clínicas, de forma que o paciente pode ser assintomático ou apresentar diversos sintomas. • Sintomas inespecíficos da hipercalcemia: cansaço, fraqueza, sonolência, obstipação, anorexia • Osteíte fibrosa com ou sem cistos, dor óssea, fraturas patológicas, rarefação óssea no corpo todo (osteoporose) • Reabsorção subperiosteralprincipalmente de osso cortical, como nas falanges, terço distal do antebraço • Desmielinização em “sal e pimenta” no crânio: reabsorção da calota craniana • Nefrolitíase e Nefrocalniose (calcificação da medula renal) • Tumor marrom: osteoclastos multi- nucleados em osso trabecular Diagnóstico Em geral, o diagnóstico é estabelecido pela detecção de níveis elevados de PTH imunorreativo em um paciente com hipercalcemia assintomática. O fosfato sérico costuma ser baixo, mas pode se mostrar normal, especialmente quando já se instalou um quadro de insuficiência renal. A rotina diagnóstica do HPTP inclui a dosagem sérica de cálcio, fósforo, albumina, fosfatase alcalina, PTH intacto, 25(OH) vitamina D (25-OHD) e creatinina. A urina de 24 horas deve ser coletada para dosagem de cálcio. Uma vez que as manifestações ósseas do HPTP são comuns, todos os pacientes devem ser submetidos a um inventário ósseo radiológico e a uma densitometria óssea. Além disso, deve ser pesquisada a presença de litíase renal, de preferência por meio de ultrassonografia (US). à Laboratorial • PTH aumentado • Ca sérico aumentado • Hipercalciúria • Fósforo sérico (costuma ser baixo, mas pode estar normal) • Creatinina: solicitado para verificar a função renal • Magnésio à Exames de imagem • Raio-X • US de vias urinárias • Densitometria óssea • US de tireoide • Cintilografia Geovana Sanches, TXXIV A princípio, solicitam-se apenas os exames laboratoriais e, se o cálcio e PTH estiverem altos, segue-se a avaliação. A partir disso, devem ser considerados os critérios cirúrgicos, sendo que a presença de 1 deles é suficiente para que a cirurgia seja indicada: • Paciente sintomático • Idade < 50 anos • Cálcio total maior que 1 ponto do que o limite superior (> 11,3) • Osteoporose ou fratura por fragilidade óssea • Nefrolitíase, nefrocalcinose ou diminuição da função renal o Clearance de creatinina < 70% • Calciúria > 400 mg/dia Caso o paciente se enquadre em algum dos critérios cirúrgicos, prossegue-se para a localização do adenoma, o que é realizado através da cintilografia de paratireoide. Tratamento Para pacientes assintomáticos e sem critério cirúrgico, faz-se apenas o seguimento clínico. A excisão cirúrgica do tecido paratireoidiano anormal constitui o tratamento definitivo para essa doença. No pós-cirúrgico, há normalização da calcemia em 12 a 14 dias. Como complicação, de 3 a 7 dias de PO, o paciente pode apresentar síndrome da fome óssea, a qual gera hipocalcemia e dor óssea intensa. Caso haja contra-indicação cirúrgica, podem ser utilizados bifosfonatos, os quais aumentam significativamente a densidade mineral óssea, mas não modificam o nível sérico de cálcio. HIPOCALCEMIA Causas de hipocalcemia • Dependente de PTH o Deficiência de PTH § Normalmente pós-cirúrgico o Resistência ao PTH § Pseudohipoparatireoidismo – doença genética rara • Deficiência de vitamina D: não promove redução brusca de cálcio • Metástases osteoblásticas: principalmente decorrentes dos tumores de mama e próstata). É uma condição muito rara • Hiperfosfatemia o Insuficiência renal crônica o Rabdomiólise • Pancreatite (saponificação) • Drogas: calcitonina, EDTA, lactato, corticoide, bisfosfonatos, diurético de alça, intoxicação por etilenoglicol e fluoreto, aminoglicosídeos • Sepse e queimaduras graves: produção de citocinas inflamatórias Hipoparatireoidismo O hipoparatireoidismo decorre da deficiência na produção do PTH ou da resistência à sua ação, o que gera a diminuição das concentrações séricas de cálcio e o aumento da fosfatemia, quadro, por sua vez, responsável pelo surgimento das manifestações clínicas da doença. Em mais de 75% dos casos, desenvolve-se em condição pós-cirúrgica. Pode, ainda, ser autoimune, apresentando-se de forma isolada ou como parte da síndrome poliglandular autoimune (hipoparatireoidismo + candidíase cutâneo- mucosa crônica + insuficiência adrenal primária). Outras condições que cursam com isso são um defeito na síntese do PTH e doenças infiltrativas e/ou granulomatosas, como Doença de Wilson, hemocromatose, sarcoidose e amiloidose. Deficiência de vitamina D A deficiência de vitamina D é frequente em idosos, obesos e pacientes institucionalizados. Está principalmente relacionado a baixa exposição solar, mas também ocorre na insuficiência renal e insuficiência hepática, por deficiência na hidroxilação. Fatores de risco para hipovitaminose D Pouca exposição à luz UVB • Uso excessivo de roupa • Países de pouca insolação (alta latitude) • Pouca penetração da luz UVB durante o inverso na atmosfera • Uso de bloqueadores solares • Confinamento em locais onde não há exposição à UVB Diminuição da capacidade de sintetizar vitamina D pela pele • Envelhecimento • Fototipo (?) Geovana Sanches, TXXIV • Raça amarela Doenças que alteram o metabolismo da 25- hidroxivitamina D ou 1-25-hidroxivitamina D • Fibrose cística • Doenças do trato gastrintestinal • Doenças hematológicas • Doenças renais • Insuficiência cardíaca • Imobilização É importante mencionar que um clearance de creatinina menor 60% já é suficiente para que a produção de vitamina D seja afetada. à Efeitos da hipovitaminose D • Hipocalcemia o Hiperparatireoidismo secundário (compensatório)• Raquitismo ou osteomalácia: relaciona-se a não mineralização do osteóide o Achados radiológicos semelhantes à osteoporose, apresentando pseudofraturas – paciente possui muita dor o Em crianças, pode ocasionar alteração na estrutura óssea, com formação de ossos arqueados • Relaxamento e contração muscular prejudicados o Levam a dor e fraqueza muscular, o que aumenta o risco de quedas e fraturas em idosos Quadro clínico da hipocalcemia A hipocalcemia é mais sintomática do que a hipercalcemia, sendo que a intensidade dos sintomas é proporcional aos níveis de cálcio encontrados no organismo. Os sintomas estão especialmente relacionados ao aumento da excitabilidade neuromuscular esquelética e cardíaca. A parestesia periférica e perioral são os sintomas mais precoces da hipocalcemia aguda. Com acentuação da mesma, surgem cãibras, tetania e, em pessoas predispostas, podem ocorrer convulsões generalizadas, levando ao óbito. As manifestações cardíacas incluem aumento da frequência cardíaca e podem ser desde apenas eletrocardiográficas (aumento do intervalo QT) até arritmias. Na hipocalcemia acentuada, a insuficiência cardíaca pode se tornar refratária às medidas terapêuticas usuais. Sinal de Chvostek O sinal de Chvostek é pesquisado pela percussão do nervo facial em seu trajeto anteriormente ao pavilhão auricular. Nos casos de hipocalcemia, observa-se uma contração dos músculos perilabiais ipsilateral. É importante lembrar que este sinal pode ser positivo em até 10% das pessoas normais. Sinal de Trousseau O sinal de Trousseau é mais específico e consiste na observação de uma contração generalizada dos músculos do antebraço com flexão do punho (sinal de mão de parteira), após aplicação do esfigmomanômetro de pressão de cerca de 20 mmHg acima de pressão sistólica do paciente, por 3 minutos. Tratamento O tratamento da hipocalcemia consiste na administração de cálcio e vitamina D. No ambiente hospitalar, utilizasse principalmente Gluconato de cálcio, o qual deve ser diluído em soro (não pode ser aplicado diretamente na veia). Após estabilização do paciente, ele deve realizar suplementação oral de carbonato de cálcio e de vitamina D (calcitriol ou colecalciferol). Hiperparatireoidismo secundário O hiperparatireoidismo secundário se refere ao excesso da secreção de PTH em resposta à hipocalcemia ou deficiência de vitamina D. O diagnóstico é realizado através da mensuração do PTH (alto), cálcio sérico, cálcio urinário e vitamina D (baixa). O tratamento, por sua vez, é dividido em: Geovana Sanches, TXXIV • Dose de ataque: colecalciferol 50 mil/ semanas por 8 semanas o Caso vitamina D < 20 • Dose de manutenção: colecalciferol 14 mil/ semana por 6 a 8 meses OSTEOPENIA E OSTEOPOROSE A osteoporose constitui o distúrbio osteometabólico mais comum e um problema de saúde pública (alta incidência e alto custo). Possui grande morbi-mortalidade, ocasionando fraturas principalmente de vértebra, quadril, punho e outras, nessa ordem de acometimento. Apresenta entre 20 e 30% de mortalidade e até 50% de incapacidade. Caracteriza-se pela diminuição na massa óssea e deterioração da microarquitetura esquelética, levando a uma redução da resistência do osso que resulta em maior risco de fraturas. Pode ser classificada como primária, quando não são conhecidas as causas que produzem a diminuição da massa óssea, ou secundária, na qual incluem-se diversas etiologias que cursam com osteoporose. A osteopenia, por sua vez, é uma condição pré-clínica que sugere a perda gradual de massa óssea, comprometendo a resistência dos ossos e aumentando o risco de fraturas. Caso não seja tratada, pode evoluir para osteoporose. Fatores de risco / Causas • Idade: com o envelhecimento, os ossos ficam mais porosos. O aumento do risco relacionado com a idade chega a 30% em mulheres e 17% em homens para pacientes com mais de 80 anos. • Puberdade tardia • Menopausa precoce (< 39 anos): a deficiência estrogênica provavelmente causa perda óssea por dois mecanismos distintos, porém inter-relacionados: (1) ativação de novos locais de remodelamento ósseo e (2) exagero do desequilíbrio entre formação e reabsorção ósseas. O estrogênio também pode desempenhar um papel importante por determinar o período de vida das células ósseas, controlando a taxa de apoptose. Assim sendo, nas situações de privação de estrogênio, a sobrevida dos osteoblastos pode ser reduzida, enquanto a longevidade e a atividade dos osteoclastos aumentam. • Anorexia nervosa o Baixo peso corporal (IMC < 19 kg/m2) • Desnutrição o Baixa ingestão de cálcio o Hipovitaminose D • Doenças crônicas: quando apresentem componente inflamatório ou de má absorção, aumentam o remodelamento ósseo o Artrite reumatoide o Doença celíaca • Doenças endocrinológicas o Hipertireoidismo: doses excessivas de hormônio tireoidiano podem acelerar o remodelamento ósseo e resultar em perda óssea o Hiperparatireoidismo o Síndrome de Cushing: o excesso de corticoide está relacionado ao aumento do remodelamento ósseo • Insuficiência hepática • Insuficiência renal • Tabagismo, álcool, cafeína o O uso de cigarros durante um longo período comporta efeitos deletérios sobre a massa óssea. Esses efeitos podem ser mediados diretamente, por efeitos tóxicos sobre os osteoblastos, ou indiretamente, modificando o metabolismo do estrogênio. • Medicamentos: corticoide, quimioterapia, anticonvulsivantes, levotiroxina o Os pacientes submetidos a transplante correm alto risco de perda óssea rápida e de fratura, não apenas em virtude dos glicocorticoides, mas também devido ao tratamento com outros agentes imunossupressores, como ciclosporina e tacrolimo (FK506). Além disso, com bastante frequência, esses pacientes sofrem de anormalidades metabólicas Geovana Sanches, TXXIV subjacentes, como insuficiência hepática ou renal, que predispõem à perda óssea. • Sedentarismo: a inatividade, assim como o repouso prolongado no leito ou uma paralisia, resulta em perda óssea significativa. • Fraturas prévias e antecedentes familiares: histórico de fratura típicas em parentes de 1º grau ou própria (indica que já há alteração óssea). Diagnóstico Para o diagnóstico, são úteis a radiografia simples para avaliação inicial e a densitometria óssea. A densitometria óssea de dupla emissão com fonte de raios X (DXA) é o padrão de referência para diagnóstico, monitoração e investigação clínica do paciente com osteoporose. A principal fratura osteoporótica é de vertebras e, em dois terços dos casos, é assintomática; sendo assim a radiografia da coluna vertebral deve ser realizada para esse diagnóstico. Também devem ser solicitados exames laboratoriais gerais e marcadores bioquímicos do metabolismo ósseo, os quais são proteínas, enzimas ou peptídeos liberados na circulação durante o processo de remodelação óssea. Eles permitem a avaliação dinâmica da remodelação óssea, complementando a avaliação estática da DMO. Densitometria óssea A densitometria óssea é um exame não invasivo com baixa exposição a radiação. Os sítios de análise devem incluir o colo de fêmur, fêmur total e coluna lombar (L1 a L4), sendo necessária a análise de no mínimo duas vértebras. O local esquelético com menor valor deve ser considerado para o diagnóstico. Há dois parâmetros que podem ser utilizados: • T-score: utilizado para mulheres com 40 anos ou mais e/ou pós-menopausa, e homens com mais de 51 anos. o Comparação do paciente com adultos jovens do mesmo sexo e etnia • Z-score: utilizado para mulheres pré- menopáusicas com menos de 40 anos e homens com menos de 51 anos. o Comparação do paciente com pessoas da mesma faixa etária, sexo e etnia. à Interpretação do exame Score T Score Z Osteoporose < -2,5 DP Baixa massa óssea < 2 DP Osteopenia -1,1 DP a -2,4 DP- Normal Até -1 DP Normal Até -2DP à Análise do exame Marcadores bioquímicos do metabolismo ósseo A dosagem dos marcadores bioquímicos do metabolismo ósseo são uma avaliação não invasiva, de custo relativamente baixo, que pode ser repetida a curto prazo. Os marcadores de formação óssea incluem a fosfatase alcalina total e a fração óssea (FAL-O), a osteocalcina (OC) e os propeptídios carboxil ou aminoterminais do colágeno tipo I. Os marcadores da reabsorção óssea mais utilizados são produtos da degradação do colágeno, sendo que os interligadores (cross-links) do colágeno tipo I, N- Geovana Sanches, TXXIV telopeptídio (NTx) e C-telopeptídio (CTx) podem ser medidos por imunoensaio na urina e no soro. É importante lembrar que esses marcadores apresentam grande variabilidade no dia a dia, em especial quando medidos na urina. Além disso, os níveis de marcadores bioquímicos, sobretudo os de formação, variam ao longo do ciclo menstrual, sendo mais elevados durante a fase lútea comparativamente à fase folicular. Alterações importantes de função renal também podem interferir de forma significativa no metabolismo e na excreção desses marcadores. Na prática, o mais utilizado é o CTX, marcador da reabsorção óssea. Quando há reabsorção, uma porção do colágeno se solta e a ele dá-se o nome de C-telopeptídeo. Sendo assim, ao dosarmos essa partícula, é possível inferir o grau de reabsorção que está ocorrendo no osso. Além de ser útil no diagnóstico, esse exame também é utilizado para verificar a efetividade do bisfosfonato, sendo que nesse caso o CPX deve ser encontrado baixo ou suprimido. Prevenção / Orientações • Cuidado com quedas • Diagnóstico precoce: fazer a densitometria óssea quando indicada • Encaminhamento para o oftalmologista, para avaliação da visão do indivíduo • Realização de atividade física para prevenir a perda óssea Tratamento O tratamento objetiva retardar a degradação do tecido ósseo que pode levar à osteoporose. Todavia, a melhor opção é a prevenção, tendo em vista que nenhuma terapia restaura completamente a massa óssea perdida e o tratamento sintomático têm sucesso limitado. Medidas não farmacológicas • Cessar tabagismo • Dieta balanceada, rica em cálcio e vitamina D • Exposição da pele ao sol sem protetor solar por 10-15 minutos pela manhã ou ao final da tarde • Exercícios físicos regulares (30 min, 5x na semana) • Controlar ingestão de cafeína (interfere na absorção de cálcio) Tratamento farmacológico O tratamento farmacológico tem por objetivo estabilizar a densitometria óssea e reduzir o risco de fraturas. Pode ser anticatabólico (inibe reabsorção), pró-formador (aumenta massa óssea) ou apresentar dupla ação. • Suplementação de cálcio e vitamina D • Bisfosfonatos: são medicamentos anticatabólicos com alta afinidade pela hidroxiapatita óssea, onde se depoditam por longos períodos. Ao serem capturados pelos osteoclastos, inibem a atividade dessas células e aceleram a apoptose, diminuindo a reabsorção óssea e a osteoclastogênese. o Princípios aprovados: Alendronato, Risedronato, Ibandronato e ácido zoledrônico o Devem ser utilizados por 5 à no máximo 10 anos seguidos e fazer uma pausa, retornando com este ou outro medicamento. Isso pois, verificou-se que o uso contínuo e prolongado está associado a fraturas atípicas (especialmente na porção mediana da coxa). o Baixa biodisponibilidade o Recomendações: esse fármaco geralmente é ingerido BO, mas a infusão IV reduz efeitos adversos sobre o TGI. A administração deve ocorrer pela manhã, em jejum, com volume suficiente de água para favorecer sua dispersão. Deve-se evitar tomar outros líquidos por pelo menos meia hora seguinte e o paciente não deve se deitar durante esse período. • Teriparatida (Forteo®): polipeptídeo semelhante ao PTH humano, que estimula a atividade dos osteoblastos, aumentando a formação óssea. o Administração subcutânea o Não é recomendado o uso associado com bisfosfonato Geovana Sanches, TXXIV o Dentre as medicações, é a única que aumenta a massa óssea. Além disso, aumenta a densidade mineral óssea, a força óssea e melhora a microarquitetura óssea, reduzindo o risco de fraturas. o Efeitos adversos: tonturas; cãibras; náuseas; artralgia; hipercalcemia (ocasionalmente). • Desonumab: anticorpo monoclonal totalmente humano contra o (RANKL). Ao inibir a ação dessa molécula, este anticorpo reduz a diferenciação, atividade e sobrevida dos osteoblastos. o Administração IV ou subcutânea por cerca de 6 meses o Impede a interação entre o osteoblasto e o osteoclasto, diminuindo o turnover ósseo o Diminui a reabsorção óssea, e os marcadores do turnover ósseo, assim como o risco de fraturas o Aumenta a densidade mineral óssea o Efeitos adversos: alteração dos hábitos intestinais; dispneia; hipocalcemia; hipofosfatemia; infecções ou erupções cutâneas; osteonecrose da mandíbula • Ranelato de estrôncio: medicação que parece simultaneamente aumentar a formação e diminuir a reabsorção óssea. Em estudo in vitro, esse fármaco mostrou aumentar a formação óssea decorrente do aumento na replicação de pré- osteoblastos em osteoblastos, levando, assim, ao aumento na síntese da matriz óssea. A diminuição da reabsorção óssea parece ser secundária à redução da diferenciação de pré-osteoclastos em osteoclastos. • Raloxifeno e Tamoxifeno: modulares seletivos dos receptores estrogênicos (SERM). São compostos que se ligam ao receptor estrogênico com alta afinidade, exercendo tanto efeito agonista (nos ossos) quanto antagonista (na mama) em relação aos estrogênios, de maneira tecido-específica. • Terapia de reposição hormonal (TRH): indicado apenas para tratamento pós- menopausa e, em geral, é realizada com estrogênio e progesterona. Não é tratamento para osteoporose, mas pode auxiliar na prevenção da perda óssea. • Calcitonina: sua ação se dá por inibição direta da atividade dos osteoclastos. Além disso, apresenta acao analgésica, atuando no SNC na liberação de endorfina, bastante eficaz em reduzir a dor associada à fratura vertebral aguda. Quando falha a prevenção...