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Carla Bertelli – 5° Período Hiper e Hipoparatireoidismo 1 – Revisar a morfofisiologia das paratireoides (metabolismo ósseo) 2 – Compreender a epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento do hiperparatireoidismo Paratireoides Localizadas na face posterior dos lobos direito e esquerdo da tireoide, são pequenas massas arredondadas, cerca de 40mg cada. Microscopicamente elas contêm 2 tipos de células epiteliais: é (produzem Paratormônio); é í (não é conhecida na glândula paratireoide normal). No entanto, sua presença ajuda a identificar com clareza a glândula paratireoide do ponto de vista histológico devido às suas características únicas de coloração. Além disso, no câncer de glândulas paratireoides, as células oxifílicas secretam PTH em excesso. Paratormônio – Principal regulador dos níveis de cálcio, magnésio e fosfato no sangue. Sua função é amentar a quantidade e a atividade dos osteoclastos. O resultado é a absorção óssea acentuada, o que libera cálcio e fosfato no sangue. O PTH também atua nos rins. Primeiro, retarda a perda de cálcio e magnésio do sangue para a urina, e em segundo lugar, acentua a perda de Fosfato. Uma vez que mais fosfato é perdido na urina do que ganho nos ossos, o PTH diminui o nível sanguíneo de fosfato e eleva os níveis sanguíneos de cálcio e magnésio. Um terceiro efeito do PTH sobre os rins é a promoção da formação do hormônio que consiste na forma ativa da Vitamina D, que aumenta a taxa de absorção sanguínea de cálcio, fosfato e magnésio no sistema digestório. Controle da Secreção de Calcitonina e Paratormônio O nível sanguíneo de cálcio controla diretamente a secreção de calcitonina e paratormônio por meio de alças de feedback negativo que não envolvem a glândula hipófise 1 – O nível sanguíneo de íons cálcio acima do normal estimula as células parafoliculares da célula tireoide liberarme mais calcitonina 2 – A calcitonina inibe a atividade dos osteoclastos, diminui o nível sanguíneo de cálcio 3 – O nível sanguíneo de cálcio abaixo do normal estimula as células principais da paratireoide a liberar PTH 4 – O PTH promove a reabsorção da matriz óssea extracelular, que libera cálcio no sangue e retarda a perda de cálcio na urina, elevando ele no sangue 5 – O PTH também estimula os rins a sintetizarem o calcitriol, que consiste na forma ativa da vitamina D. 6 – O calcitriol estimula a absorção mais acentuada de Ca2+ dos alimentos no sistema digestório, o que ajuda a aumentar o nível sanguíneo de Ca2+. Três hormônios regulam o movimento do cálcio entre osso, rim e intestino: Paratormônio, Calcitriol (Vitamina D) e Calcitonina. ô – Peptídeo que possui função de aumentar as concentrações plasmática de cálcio. É estimulado peça diminuição das concentrações de cálcio. Atua no osso, rim e intestino para aumentar a concentração do cálcio, atuando de 3 formas: ✓ á – Aumento da reabsorção óssea pelos osteoclastos (dissolvem a matriz calcificada) ✓ çã á – Néfron distal. O PTH aumenta a excreção renal de fosfato, reduzindo assim a sua absorção. ✓ PTH aumenta indiretamente a absorção intestinal de cálcio pela sua influência a vitamina D – Absorção intestinal de cálcio é estimulada pela ação de um hormônio conhecido como 1,25-di- idroxicolecalciferol (calcitriol ou vitamina D). É o principal hormônio responsável por aumentar a absorção de cálcio a partir do intestino delgado, além disso, facilita a reabsorção de cálcio e ajuda a mobilizar ele para fora do osso. Sua produção é regulada no rim por ação do PTH A absorção renal e intestinal de cálcio aumenta o cálcio sanguíneo, deligando o PTH em uma alça de retroalimentação negativa, diminuindo a síntese de calcitriol. Hiper e Hipotireoidismo Carla Bertelli – 5° Período – Produzido pelas células C da tireoide. Ações opostas ao PTH. É liberada quando as concentrações plasmáticas de cálcio aumentam. Diminui a reabsorção óssea e aumenta a excreção renal de cálcio. Funções do Cálcio A maior parte do cálcio do corpo, 99%, é encontrada nos ossos. Entretanto, esse ‘’pool’’ é relativamente estável, por isso é a menor fração corporal não ósseo que é mais crítica para o funcionamento fisiológico: • É uma é çã importante – O movimento de cálcio de um compartimento corporal para outro cria sinais de Cálcio. O cálcio que entra no citoplasma inicia a exocitose de vesículas sinápticas e secretoras, a contração de fibras musculares ou altera a atividade de enzimas e transportadores. A remoção do cálcio requer transporte ativo. • O Cálcio é parte do cimento intracelulares que mantém unidas as junções apertadas • O cálcio é um cofator na cascata de coagulação – Embora ele seja essencial para a coagulação, as concentrações corporais de cálcio nunca diminuem ao ponto de a coagulação ser inibida. No entanto, a remoção de cálcio de uma amostra de sangue previne que ela coagule dentro de um tubo de ensaio • As concentrações plasmáticas de cálcio afetam a excitabilidade dos neurônios. Se há hipocalcemia, a permeabilidade neuronal ao sódio aumenta, os neurônios despolarizam e o sistema nervoso se torna hiperexcitável. De forma mais intensa, a hipocalcemia causa contração sustentada dos músculos respiratórios, causando asfixia. • A hipercalemia tem efeito oposto, causando diminuição da atividade neuromuscular Metabolismo Ósseo O osso é um tecido dinâmico, constantemente formado, degradado ou reabsorvido. Os ossos geralmente possuem duas camadas, a externa, de osso compacto, e a interna de osso trabecular. O osso cresce quando a matriz é depositada mais rápida do que absorvida. Células especializadas formadoras de osso, denominada Osteoblastos, produzem enzimas e osteoide. O crescimento linear ósseo cessa no adulto, mas o osso é um tecido dinâmico que continua remodelando ao longo da vida. A reabsorção ou degradação do osso é controlada pelos osteoclastos. Osteoclasto – degrada a matriz óssea Osteoblasto – deposição da matriz, forma a matriz óssea Osteócito – célula madura da matriz óssea Hiperparatireoidismo O hiperparatireoidismo primário é um distúrbio que resulta da hipersecreção do PTH, é a causa mais comum de hipercalcemia. Epidemiologia – Pode ocorrer a qualquer tempo, porém é mais frequente entre os 40 e 65 anos de idade, pouco comum na adolescência e infância. Predomina no sexo feminino. O HPTP é uma doença relativamente comum, com estimada prevalência de 1 a 7 casos por 1.000 adultos e 0,78% em serviços de referência. Possíveis fatores de risco incluem exposição à radiação ionizante, terapia prolongada com lítio, síndromes endócrinas hereditárias, como neoplasia endócrina múltipla, atividade física reduzida e baixa ingestão de cálcio. Etiologia e Fisiopatologia – Pode ser primário ou secundário. ✓ á – Diretamente na glândula, superprodução autônoma de hormônio da paratireoide (PTH), geralmente resultante de um adenoma ou hiperplasia do tecido da paratireoide. ✓ á – Hipersecreção compensatória de PTH em resposta a uma hipocalcemia prolongada, mais comumente a uma insuficiência renal crônica. ✓ á – Hipersecreção persistente do PTH, mesmo depois de a causa de a hipocalcemia prolongada ser corrigida, como, por exemplo, após transplante renal. https://www.dynamed.com/condition/primary-hyperparathyroidism#GUID-06D1418A-C7FF-4964-9042-51526E7880DF Carla Bertelli – 5° Período Hiperparatireoidismo Primário Adenomas solitários das paratireoides são responsáveis por cerca de 85 a 90% dos casos de HPTP. Hiperfunção em múltiplas glândulas paratireoides (uma categoriaampla que inclui hiperplasia e adenomas múltiplos) ocorre na maior parte dos casos restantes. Na maioria das séries, o carcinoma de paratireoide é responsável por menos de 1% dos casos de HPTP; adenomas podem ser múltiplos (2 a 4%). A maioria dos casos é causada por adenoma de uma única glândula (relatado em 75%-85% dos pacientes) Causas menos comuns incluem: o (relatado em 2% a 15% dos pacientes) o (relatado em cerca de 1% dos pacientes) A tumorigênese pode resultar de mutações em genes que controlam o crescimento das células da paratireoide e/ou a síntese ou secreção do hormônio da paratireoide Alterações genéticas no hiperparatireoidismo primário adquirido podem incluir o Regulação positiva de ciclina D1 por rearranjo somático de PRAD1 em adenomas esporádicos (que é importante na regulação do ciclo celular) o Mutações de perda de função de MEN1 em tumores esporádicos o Mutações inativadoras somáticas e germinativas de CDC73 Síndromes familiares: hipercalcemia hipocalciúrica familiar, doença autossômica dominante rara causada por mutações de perda de função no gene do receptor sensível a cálcio da paratireoide (CASR), o que resulta em diminuição da sensibilidade ao cálcio extracelular. No hiperparatireoidismo primário, a perda do controle homeostático do eixo cálcio-paratireoide leva a • Aumento da secreção de PTH por células individuais (adenoma ou carcinoma) • Proliferação de células da paratireóide (hiperplasia) causando hipersecreção de PTH A superprodução de PTH leva a hipercalcemia e manifestações esqueléticas e/ou renais, incluindo ✓ Aumento da reabsorção óssea mediada pelo ativador do receptor do fator nuclear-kappa beta ligante ✓ Aumento da reabsorção tubular renal de cálcio e excreção de fosfato ✓ Hipercalciúria quando a carga de cálcio filtrado é maior que a capacidade do rim de reabsorver cálcio eficientemente, mesmo na presença de PTH ✓ Estimulação da conversão de 1,25-diidroxivitamina D nos túbulos renais para promover a absorção de cálcio no intestino çõ í – Pode ser assintomático (detectado em exames de rotina) ou associado a manifestações clínicas clássicas á – Causa mais comum de hipercalcemia assintomática. Entre as várias outras causas comuns de hipercalcemia, a malignidade se sobressai como a causa mais frequente de hipercalcemia sintomática em adultos e deve ser excluída por investigação clínica e laboratorial apropriada. O mecanismo mais comum (em cerca de 80% dos casos) através do qual os tumores osteolíticos induzem hipercalcemia é por secreção de peptídeo similar ao PTH (PTHrP), cujas funções são semelhantes ao PTH na indução de reabsorção óssea osteoclástica e hipercalcemia; os demais 20% induzem hipercalcemia através de metástases para o osso e a subsequente reabsorção do osso induzida pelas citocinas. Em indivíduos com hiperparatireoidismo primário, os níveis séricos de PTH estão inapropriadamente elevados para o nível de cálcio sérico, enquanto os níveis de PTH são baixos ou indetectáveis na hipercalcemia causada por doenças não paratireoidianas á – refletem os efeitos combinados da secreção aumentada de PTH e da hipercalcemia. O hiperparatireoidismo primário está associado a “dores ósseas, pedras renais, borborigmo abdominal e queixas psíquicas”. • Doença óssea e dor óssea secundária a fraturas dos ossos enfraquecidos por osteoporose ou osteíte fibrosa cística. • Nefrolitíase (pedras renais) em 20% dos pacientes, com dor concomitante e uropatia obstrutiva. Insuficiência renal crônica e alterações na função renal levam à poliúria e à polidipsia secundária. Carla Bertelli – 5° Período • Distúrbios gastrointestinais, incluindo constipação, náusea, úlceras pépticas, pancreatite e cálculos biliares. • Alterações no sistema nervoso central, incluindo depressão, letargia e convulsões eventuais. • Anormalidades neuromusculares, inclusive fraqueza e fadiga. • Manifestações cardíacas, incluindo calcificações da válvula aórtica ou mitral (ou ambas). As alterações mais diretamente relacionadas ao hiperparatireoidismo são nefrolitíase e doença óssea, enquanto aquelas atribuíveis à hipercalcemia incluem fadiga, fraqueza e constipação. Hiperparatireoidismo Secundário O hiperparatireoidismo secundário é causado por qualquer condição que dê origem à hipocalcemia crônica, a qual, por sua vez, leva à superatividade compensatória das glândulas paratireoidianas. A falência renal é, de longe, a causa mais comum de hiperparatireoidismo secundário, embora diversas outras doenças, incluindo ingestão alimentar inadequada de cálcio, esteatorreia e deficiência de vitamina D, possam causar esse distúrbio. A insuficiência renal crônica está associada à excreção diminuída de fosfato, que, por sua vez, resulta em hiperfosfatemia. Os níveis elevados de fosfato deprimem diretamente os níveis de cálcio e, portanto, estimulam a atividade da glândula paratireoide. Além disso, a perda de função renal reduz a disponibilidade da α- 1-hidroxilase necessária para a síntese da forma ativa da vitamina D, que, por sua vez, reduz a absorção intestinal de cálcio omo a vitamina D apresenta efeito supressivo no crescimento paratireoidiano e na secreção de PTH, sua deficiência relativa contribui para o hiperparatireoidismo na falência renal. çõ í – Geralmente dominadas pelos sintomas da falência renal crônica. Em geral, o hiperparatireoidismo secundário em si não é grave ou tão prolongado quanto o hiperparatireoidismo primário e, portanto, as alterações esqueléticas (referidas como osteodistrofia renal) tendem a ser mais leves. O controle do hiperparatireoidismo permite que as alterações ósseas regridam de forma significativa ou desapareçam por completo. A calcificação vascular associada ao hiperparatireoidismo secundário pode, ocasionalmente, resultar em danos isquêmicos significativos na pele e em outros órgãos, um processo algumas vezes denominado de calcifilaxia. Pacientes com hiperparatireoidismo secundário frequentemente respondem à suplementação alimentar de vitamina D, assim com os ligantes de fosfato, que fazem decrescer a hipofosfatemia predominante. Diagnóstico • Suspeitar de hiperparatireoidismo primário em pacientes com hipercalcemia • O diagnóstico de hiperparatireoidismo primário é baseado na hipercalcemia persistente na presença de hormônio da paratireoide (PTH) elevado ou inapropriadamente normal (não suprimido) • PTH sérico intacto tipicamente > 28 pg/mL (3 pmol/L) no hiperparatireoidismo primário A rotina diagnóstica do HPTP inclui a dosagem sérica de cálcio, fósforo, albumina, fosfatase alcalina, PTH intacto, 25-OHD e creatinina. A urina de 24 horas deve ser coletada para dosagem de cálcio. Uma vez que as manifestações ósseas do HPTP são comuns, todos os pacientes devem ser submetidos a investigação óssea radiológica e densitometria óssea em coluna, fêmur proximal e rádio (terço distal). Além disso, deve ser pesquisada a litíase renal, de preferência por meio de US, mesmo em pacientes assintomáticos ou com HPTPN. Bioquimicamente, o HPTP caracteriza-se pela associação de hipercalcemia e PTH elevado ou inapropriadamente normal, enquanto nas outras condições de hipercalcemia há inibição das paratireoides, que se traduz por níveis séricos baixos do PTH. – À ocasião do diagnóstico, localizam-se em gânglios regionais e em outros órgãos em menos de 5% e 2% dos casos, respectivamente, enquanto a invasão para a tireoide e outras estruturas adjacentes é relatada em cerca de 25%. Carcinomas caracterizam-se por níveis séricos do PTH intacto (10 a 65 pg/mℓ) bastante elevados (> 5 vezes o limite superior em mais de 70% dos pacientes, excedendo 1.000 pg/mℓ) e do cálcio (> 14 mg/dℓ em 50 a75% dos pacientes, com crise hipercalcêmica em 14%). Os níveis séricos de α e β-hCG podem estar elevados em pacientes com carcinoma. Carla Bertelli – 5° Período Tratamento Pacientes que apresentam crise hipercalcêmica (cálcio sérico corrigido por albumina de início rápido > 14 mg/dL e sinais ou sintomas de disfunção de múltiplos órgãos) requerem tratamento médico imediato seguido de paratireoidectomia Tratados de acordo com a causa; De acordo com as recomendações do Quarto Workshop Internacional sobre o manejo do HPTP assintomático, são também candidatos à paratireoidectomia pacientes com HPTP assintomático que, ao diagnóstico ou durante seu acompanhamento, apresentem uma ou mais das seguintes situações: • Cálcio sérico > 1 mg/dℓ acima do limite superior da normalidade • T-escore do terço distal de rádio, coluna, fêmur total e/ou colo femoral ≤ –2,5 ou fratura de fragilidade, incluindo fraturas vertebrais morfométricas • Redução no clearance de creatinina (ClCr) para menos de 60 mℓ/min/1,73 m2 • Hipercalciúria (> 400 mg/24 h) associada a outras alterações bioquímicas urinárias que aumentem o risco para cálculo renal. Exames de imagem para a pesquisa de cálculos renais devem sempre ser realizados. A identificação de nefrocalcinose (mesmo na ausência de nefrolitíase) configura indicação de paratireoidectomia • Idade < 50 anos. ã ú – Manter uma boa hidratação e evitar diuréticos tiazídicos e terapia com lítio, devido ao conhecido efeito hipercalcêmico desses medicamentos. Dieta com altos níveis de cálcio, especialmente em pacientes com níveis séricos elevados de 1,25(OH)2D, pode provocar hiperabsorção de cálcio e agravamento da hipercalciúria. Da mesma maneira, uma dieta com restrição de cálcio não seria desejável, já que poderia funcionar como combustível para os processos fisiopatológicos associados à secreção excessiva de PTH. á : • A deficiência de vitamina D pode estimular os mecanismos associados ao excesso de secreção do PTH. Desse modo, para pacientes com níveis baixos (< 20 ng/mℓ) de 25-OHD, deve-se administrar vitamina D; • Aumento da massa óssea; • ê Discreta redução na calcemia (cerca de 0,5 a 1 mg/dℓ) com a terapia de reposição estrogênica (TRE) foi demonstrada em mulheres pós-menopausadas com HPTP em estudos não controlados; • ê Em estudos que envolveram um pequeno número de pacientes, constatou-se que o uso do raloxifeno (60 a 120 mg/dia) pode também ser útil, proporcionando aumento da DMO, redução da calcemia (0,5 mg/dℓ) e dos marcadores da remodelação óssea, sem modificar o PTH • – O cinacalcete (Mimpara®) é um agente calcimimético e atua aumentando a sensibilidade do CaSR aos níveis circulantes de cálcio, reduzindo, assim, a secreção de PTH e a calcemia. Hipopatireoidismo Mais comum que o hiper. O hipoparatireoidismo adquirido é quase sempre uma consequência inadvertida da cirurgia; além disso, existem diversas causas genéticas de hipoparatireoidismo. – Remoção inadvertida de todas das glândulas da paratireoide durante tireoidectomia. – Associado a candidíase mucocutânea crônica e a insuficiência adrenal primária. ô – Causado por mutações de ganho de função no gene do receptor sensível a cálcio (CASR). A atividade de CASR inapropriada devido à sensibilidade aumentada ao cálcio suprime o PTH, resultando em hipocalcemia e hipercalciúria. Carla Bertelli – 5° Período – condição rara, com padrões de herança tanto autossômica dominante quanto autossômica recessiva. A FIH autossômica dominante é causada pela mutação no gene que codifica o peptídeo precursor do PTH, o que prejudica seu processamento para hormônio maduro. A FIH autossômica recessiva é causada por mutações de perda de função do gene do fator de transcrição células gliais ausentes-2 (GMC-2), o qual se revela essencial para o desenvolvimento da paratireoide. ê ê â – ode ocorrer em conjunção com outras malformações, como, por exemplo, displasia tímica e defeitos cardiovasculares, ou como um componente da síndrome de deleção do 22q11. Manifestações Clínicas – Relacionadas com a gravidade e a cronicidade da hipocalcemia. O marco da hipocalcemia é a tetania, caracterizada pela irritabilidade neuromuscular, resultado do decréscimo dos níveis da concentração sérica de cálcio. Os sintomas variam desde o entorpecimento perioral ou parestesia (formigamento) das extremidades distais e espasmo carpopédico até laringoespasmo com risco de vida e convulsões generalizadas. Esses achados clássicos no exame físico são o O sinal de Chvostek é evocado na doença subclínica por percussão ao longo do trajeto do nervo facial, o que induz as contrações dos músculos do olho, da boca ou do nariz. O sinal de Trousseau se refere aos espasmos carpais produzidos pela oclusão da circulação sanguínea do antebraço e da mão com o esfignomanômetro por alguns minutos. As alterações do estado mental incluem instabilidade emocional, ansiedade e depressão, confusão mental, alucinações e psicose franca. Manifestações intracranianas incluem calcificações do gânglio basal, distúrbios de movimento semelhantes à doença de Parkinson e pressão intracraniana aumentada com papiledema resultante. A associação paradoxal da hipocalcemia com as calcificações pode ser decorrente de aumento nos níveis de fosfato, o que resulta em depósito nos tecidos do cálcio existente no meio extracelular local. Doença ocular assume a forma de calcificação dos cristalinos e catarata. Manifestações cardiovasculares incluem um defeito de condução que produz um prolongamento característico do intervalo QT no eletrocardiograma. Anormalidades dentárias ocorrem quando a hipocalcemia está presente previamente, durante o desenvolvimento. Esses achados são altamente característicos do hipoparatireoidismo e incluem hipoplasia dentária, falha na erupção, formação de esmalte e raiz defeituosos e dentes cariados e desgastados. Pseudo-Hipoparatireoidismo – Nessa condição, o hipoparatireoidismo ocorre por causa da resistência do órgão final às ações do PTH. Na realidade, os níveis séricos de PTH estão normais ou elevados. Em uma forma de pseudo-hipoparatireoidismo, há resistência do órgão-alvo ao TSH e ao FSH/LH, assim como PTH. Todos esses hormônios sinalizam através dos receptores acoplados à proteína G, e o distúrbio resulta de defeitos genéticos em componentes nessa via que são compartilhados pelos tecidos endócrinos. A resistência ao PTH é a manifestação clínica mais óbvia, apresentando- se como hipocalcemia, hiperfosfatemia e PTH circulante elevado. Em geral, a resistência ao TSH é branda, enquanto a resistência ao FSH/LH se manifesta como hipogonadismo hipergonadotrófico em mulheres. Diagnóstico A suspeição do hipoparatireoidismo é feita com base no quadro clínico produzido pela hipocalcemia. O diagnóstico é confirmado pela presença de níveis normais ou baixos de hormônio da paratireoide, também denominado paratormônio (PTH), intacto, concomitantes a concentrações baixas de cálcio e elevadas de fósforo no sangue, na presença de função renal preservada. O diagnóstico do hipoparatireoidismo se estabelece pela detecção, em pelo menos duas ocasiões, de valores de PTH indetectáveis ou inapropriadamente baixos (< 20 pg/mℓ) na presença de hipocalcemia Os níveis de fosfato estão no limite superior da normalidade ou francamente elevados. Outros achados laboratoriais podem incluir baixos valores de 1,25(OH)2D e marcadores de reabsorção óssea. O cálcio urinário pode variar de acordo com a ingestão de cálcio. No entanto, sua fração de excreção costuma ser sempre aumentada,pela falta de reabsorção tubular mediada pelo PTH. Carla Bertelli – 5° Período Tratamento O objetivo do tratamento do paciente com hipoparatireoidismo, independentemente da etiologia, é deixá-lo sem sinais ou sintomas de hipocalcemia, mantendo a calcemia no limite inferior da normalidade e a fosfatemia no limite superior da normalidade. Um produto cálcio × fósforo < 55 e um valor de calciúria < 300 mg/24 horas são também recomendados. Atentar-se a esse equilíbrio é importante pois, devido à ausência da ação fosfatúrica do PTH, os níveis de fósforo tendem a ser mais elevados e, caso a calcemia aumente, existe o risco de calcificações ectópicas causadas pelo produto cálcio × fósforo aumentado ao longo do tempo.2-4 A falta da ação do PTH nos túbulos renais também colabora para que ocorra aumento da calciúria com a administração de sais de cálcio. – Quando a hipocalcemia é grave e/ou se instala em curto espaço de tempo, o quadro clínico costuma ser mais exuberante e é necessário intervir com maior rapidez – administração de Gliconato de Cálcio As indicações de cálcio IV incluem qualquer uma das • Hipocalcemia sintomática/grave ou hipocalcemia persistente devido a processo contínuo • Necessidade de correção rápida, como paciente com arritmias cardíacas devido a intervalos QT prolongados ou laringoespasmo ô – A longo prazo, o tratamento consiste na suplementação de cálcio e análogos de vitamina D. Os objetivos da administração de cálcio incluem direcionar o tratamento para manter a concentração sérica de cálcio ligeiramente abaixo do normal ou na faixa normal baixa sem sinais e sintomas de hipocalcemia Manutenção do produto cálcio-fosfato em < 55 mg 2 /dL 2 (4,4 mmol 2 /L 2 ) Evitando hipercalciúria, hipercalcemia e renal (nefrocalcinose/nefrolitíase) e outras calcificações extraesqueléticas á – Diversos sais de cálcio estão disponíveis no mercado. Inicialmente, é importante ressaltar que devem ser evitados sais que contenham fósforo (como o fosfato de cálcio), uma vez que o paciente hipoparatireóideo tem excreção renal de fósforo diminuída. O cálcio deve ser dado junto às refeições, quando pode agir como quelante do fósforo presente nos alimentos. á – Na reposição de vitamina D, podemos prescrever tanto o calcitriol isoladamente, quanto em conjunto com o colecalciferol. Apesar das baixas concentrações circulantes de PTH, qualquer quantidade do hormônio que for produzida pode ser suficiente para garantir uma conversão mínima de colecalciferol em calcitriol, consistindo em um possível aporte basal, além do fato de que vários tecidos conseguem converter sua própria 1,25(OH)2D • Calcitriol • Colecalciferol • Alfacalcidol é í – Hipercalciúria é uma das complicações da terapia com análogos de vitamina D no hipoparatireoidismo, visto que falta o PTH para promover a reabsorção tubular do cálcio filtrado nos glomérulos. Nessa situação, diante de calciúria persistente acima de 4 mg/kg/24 h ou 300 mg/24 h, a despeito de ajustes na dose do calcitriol e/ou do sal de cálcio, pode-se usar um diurético tiazídico, como hidroclorotiazida ou clortalidona, na dose de 25 a 50 mg/dia, em duas tomadas. A finalidade é a prevenção de nefrolitíase ou nefrocalcinose. Para minimizar o risco de hipocalemia, costuma-se associar um diurético poupador de potássio (p. ex., amilorida ou triantereno) ô – O PTH1-84 recombinante (NatPar®) foi aprovado em 2016 nos EUA e na Europa para os casos de difícil controle com o tratamento convencional (sais de cálcio e análogos da vitamina D), pacientes com disabsorção importante ou aqueles que necessitam de doses muito elevadas das citadas medicações orais. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737180/epub/OEBPS/Text/chapter84.html#re2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737180/epub/OEBPS/Text/chapter84.html#re4 https://www.dynamed.com/condition/hypoparathyroidism#TOPIC_NRW_P2P_53B Carla Bertelli – 5° Período Ê Silverthorn, Dee U. Fisiologia Humana . Disponível em: Minha Biblioteca, (7ª edição). Grupo A, [Inserir ano de publicação]. Tortora, Gerard, J. e Bryan Derrickson. Princípios de Anatomia e Fisiologia . Disponível em: Minha Biblioteca, (14ª edição). Grupo GEN, 2016. 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