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Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM II - Farmacologia O ciclo de vida da malária envolve um parasito, um mosquito vetor e um hospedeiro humano. Um mosquito Anopheles spp. pode ingerir formas sexuadas dos parasitos da malária (gametócitos) ao alimentar-se do sangue de ser humano infectado. Após fusão dos gametócitos masculino e feminino e maturação do zigoto no mosquito, esporozoítos são liberados do oocisto. Esporozoítos, que migram para as glândulas salivares do mosquito, podem ser inoculados na corrente sanguínea de outro hospedeiro humano, durante subsequente refeição de sangue. No ser humano, os esporozoítos abandonam o sangue e multiplicam-se no fígado, formando esquizontes teciduais. Esse estágio hepático exoeritrocítico é assintomático. Em típica infecção por P. falciparum, células hepáticas liberam parasitos na corrente sanguínea, sob forma de merozoítos. Merozoítos invadem hemácias, multiplicam-se de modo assexuado e formam esquizontes sanguíneos. Trata-se do estágio eritrocitário. Eritrócitos infectados acabam por se romper, liberando outra geração de merozoítos, que continua o ciclo eritrocitário. Raros merozoítos também maturam a gametócitos. A ingestão desses gametócitos circulantes por um mosquito apropriado completa o ciclo de vida. Os sintomas clínicos da malária, mais usualmente febre, são causados por lise intravascular de eritrócitos e liberação subsequente de merozoítos no sangue. A fase eritrocítica é responsável pela sintomatologia da malária, na qual entram-se os sintomas agudos. Dessa forma, a maior parte dos fármacos antimaláricos atuam nessa fase, ou seja, nos eritrócitos. O Plasmodium vivax, assim como o ovale, possuem uma forma evolutiva latatente chamada de hipnozoito, responsável pelas recaídas (recrudescência) da doença. Com isso, os antimaláricos consistem também em eliminar os hipnozoitos, que estão dormentes (cura radical). Além disso, existem ainda fármacos que eliminam os gametócitos, impedindo a inoculação pelo mosquito e bloqueando o ciclo. Atuam em 4 vias fisiológicas distintas dos plasmódios: Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM II - Farmacologia Metabolismo do grupo heme: cloroquina, quinina, mefloquina e artemisina; Transporte de elétrons: primaquina e atovaquona; Translação de proteínas: doxiciclina, tetraciclina e clindamicina; Metabolismo do folato: sultadoxina- pirimetamina e proguanil. Fármacos esquizonticidas sanguíneos: agem nas formas eritrocíticas do plasmódio (fase aguda). Efetuam a cura em infecções sem estágio exoeritrocítico. Artemisina e compostos relacionados; Quinina, mefloquina, cloroquina; Dapsona; Pirimetamina; Atovaquona; Agentes esquizonticidas teciduais: erradicação dos parasitas no fígado. Também eliminam gametócitos, promovendo menor disseminação da infecção. Além disso, são fármacos usados para cura radical da doença, ao eliminarem hipnozoitos. Primaquina e tafenoquina Ao estrarem no eritrócito, o protozoário capta hemoglobina (Hb) e a metaboliza para gerar aminoácidos em seu vacúolo digestivo, utilizados então para o funcionamento celular, montagem de nucleotídeos, reserva metabólica, etc. No entanto, um dos compostos da Hb é a hematina (Hm), que é toxica para o plasmódio. Dessa forma, ocorre uma conversão de Hm em hemozoína (Hz) através de polimerização. Ao ser administrada, acumula-se nos eritrócitos parasitários e nos vacúolos alimentares do parasita. Por ser ácido, os vacúolos digestivos transformam a cloroquina aprisionada dentro das células em cloroquina protônica, inibindo a polimerização do heme. A enzima heme- polimerase, ao ser inibida, faz com que o grupo heme se acumule e cause lesão oxidativa na membrana. Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM II - Farmacologia O plasmódio falciparum possui resistência a cloroquina por conta de uma mutação na proteína PfCRT que promove o efluxo do fármaco, através do bombeamento da cloroquina protônica para fora de seu vacúolo alimentar. Possuem ação idêntica à da cloroquina, impedindo a polimerização do heme. No entanto, possuem menor concentração no parasita, comparado a cloroquina. Além disso, também agem no DNA, intercalando-se a ele. Isso faz com que haja inibição da separação das fitas e da transcrição do DNA. Dessa forma o crescimento e a replicação da forma eritrocitária do parasita são inibidos. É administrada pela via oral, com rápida absorção e possui uma meia vida longa, em torno de 30 dias. Faz com que ocorra uma provável interrupção da polimerização do metabólito do heme. Ademias, não se liga ao DNA como a quinina/quinidina. São administradas em combinações fixas (Teoria de Combinação de Artemisinina) com outros fármacos. Ele atua em gametócitos sanguíneos, reduzindo a transmissão e inibindo proteínas importantes do parasita. Isso se dá pela ativação do fármaco pelo ferro, formando radicais livres que interagem com moléculas promovendo alquilação. Esse fármaco interrompe os processos metabólicos das mitocôndrias dos plasmódios. Dessa forma, atuam na eliminação de hipnozoitos. A primaquina interfere na cadeia transportadora de elétrons do parasita, por meio de interferência com a ubiquinona, impedindo a formação de nucleotídeos e inibindo a síntese de DNA. A primaquina promove estresse oxidativo, é contraindicado em gestantes e possui risco em pacientes com deficiência de G6PD (glicose 6-fosfato desidrogenase). Também atuam na cadeia transportadora de elétrons, interrompendo a síntese de pirimidinas e, consequentemente, da síntese de DNA. Isso se dá através de uma interrupção entre a interação da Q e do Cit bc1. Dessa forma, uma mutação no Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM II - Farmacologia citocromo promove a resistência ao fármaco. OBS: atovaquona não é utilizada em monoterapia. O proguanil é inibidor da diidrofolato redutase e atua contra formas pré- eritrocitárias de P. falciparum e P. vivax. A sulfadoxina + pirimetamina são esquizonticidas sanguíneos. Durante a hematofagia, o triatomíneo pica e defeca ao mesmo tempo, uma vez que possui um intestino curto. A forma tripomastigota presente nas fezes consegue invadir o hospedeiro através da ferida que surge ao coçar. Ao entrar, invadem células fagocitárias e se diferenciam em amastigotas, sofrendo multiplicação por divisão binária e se transformando em tripomastigotas. Na circulação, as tripomastigotas podem entrar em células e continuar se multiplicando, ou serem destruídas por células imunes ou ainda permanecem no sangue e serem ingeridas por triatomíneos. Esses dois fármacos atuam produzindo radicais livres, o que provoca efeito tripanocida. Além disso, o T. cruzi não possui catalase, o que favorece o aparecimento dos EROS. O flebotomíneo fêmea infectado, ao sugar a sangue, injeta formas promastigotas durante a picada. Cerca de 4h-8h depois, essas formas promastigotas são interiorizadas pelos macrófagos teciduais, através de receptores de membranas, que facilitam a entrada e sua sobrevivência no interior da célula (vacúolo parasitófago). Depois de interiorizadas, essas formas se transformam em amastigotas, que se adaptam ao meio e depois se dividem por divisão binária, até provocar a lise do macrófago, liberando essas formas parasitárias que são novamente fagocitadas por novos macrófagos. Na forma cutânea e mucosa da doença, destacam-se: Antimoniato de meglumina; Alopurinol + antimoniais; Termoterapia; Pentamidina; Antimonial pentavalente sistêmico; Antimonial pentavalente sistêmico + pentoxifilina. Na forma visceral da doença, destacam- se: Anfotericina B convencional ou lipídica; Anfotericinalipossomal seguida de miltefosina; Antimoniato de meglumina; Miltefosina; Paromomicina. Estibogliconato de sódio; Antimoniato de meglumina. Esses fármacos atuam na inibição da via glicolítica e da oxidação de ácidos graxos, ou seja, atuam em processos importantes no metabolismo do parasita. Efeitos adversos: Supressão da medula óssea; Prolongamento do intervalo QT; Pancreatite; Exantema cutâneo. Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM II - Farmacologia OBS: a resistência aos antimoniais está em crescimento. A anfotericina se liga a membrana plasmática, causando alterações no equilíbrio iônico e perda da permeabilidade celular. Entre seus efeitos adversos, destaca-se febre, calafrios, hipotensão e toxicidade renal. A miltefosina é um análogo sintético de fosfolipídios e promove inibição de sistemas enzimáticos associados a membrana plasmática. Possui efeitos imunomoduladores como: Ativação de células T; Aumento na produção de IFN-gama, IL2 e HLA-DR. A pentamidina atua na inibição da síntese de DNA, RNA, proteínas e fosfolipídios. Possui alta afinidade pelo DNA em cinetoplastos (parasita) afetando no processo de replicação e inibindo a di- hidrofolato redutase. Seus efeitos adversos são: Fadiga; Tontura; Hipotensão; Pancreatite; Lesão renal.
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