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TCC Heranca digital - postar - pronto

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HERANÇA DIGITAL NO BRASIL: O DESTINO DOS BENS DIGITAIS APÓS A 
MORTE DO SEU TITULAR 
 
Eduarda Vívian Gontijo Silva1 
Gabriela Rabelo Resende2 
 
Resumo: O presente trabalho expõe acerca da herança digital no Brasil e possui 
como objetivo geral investigar o que ocorre na hipótese de morte do titular de bens 
digitais no país; e se eles devem estar integrados no inventário do falecido, no caso 
de não haver manifestação em vida do de cujus sobre esse acervo, considerando que 
não há regulamentação legislativa brasileira sobre herança digital. Além disso, a 
pesquisa baseia-se, especialmente, em doutrinas, legislações e artigos científicos, 
tratando, então, de uma metodologia descritiva, cujo método utilizado é o hipotético-
dedutivo, em razão da formulação de um problema de pesquisa, bem assim, de uma 
hipótese. No mais, explica-se a ausência de legislação específica brasileira, por se 
tratar de um tema recente, o que gera insegurança jurídica. Entretanto, ao longo do 
trabalho, será possível notar que os capítulos abrangem assuntos e tópicos basilares 
bem como essenciais, contribuindo, dessa forma, para melhor entendimento acerca 
da herança digital no Brasil. Por fim, justifica-se a escolha do tema por ser atual, 
possuir divergências doutrinárias e alguns projetos de lei, e também, por ser relevante 
para o Direito e para a sociedade atual, pois, nos últimos anos, as pessoas passaram 
a acumular muitos bens no ambiente virtual, e, com isso, veio a preocupação em como 
proceder a sucessão desse patrimônio digital. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Direito das Sucessões. Herança. Herança digital. Bens digitais. 
 
Abstract: The present work exposes about the digital heritage in Brazil and has as 
general objective to investigate what happens in the hypothesis of death of the holder 
 
1 Acadêmica do curso de Direito da Instituição de Ensino Superior (IES) da rede Ânima Educação. E-
mail: eduardavivian21@gmail.com 
2 Acadêmica do curso de Direito da Instituição de Ensino Superior (IES) da rede Ânima Educação. E-
mail: gabriela.rabeloresende@gmail.com 
Artigo apresentado como requisito parcial para a conclusão do curso de Graduação em Direito da 
Instituição de Ensino Superior (IES) da rede Ânima Educação. 2021. Orientador: Prof. Gilberto de 
Andrade Pinto, Mestre. 
mailto:eduardavivian21@gmail.com
 
 
 
of digital assets in the country; and whether they should be included in the deceased's 
inventory, in the event that there is no statement while the deceased about this 
collection, considering that there is no Brazilian legislative regulation on digital 
heritage. In addition, the research is based, especially, on doctrines, legislation and 
scientific articles, dealing, then, with a descriptive methodology, whose method used 
is the hypothetical-deductive, due to the formulation of a research problem, as well, of 
a hypothesis. Furthermore, the absence of specific Brazilian legislation is explained, 
as it is a recent issue, which generates legal uncertainty. However, throughout the 
work, it will be possible to note that the chapters cover basic as well as essential 
subjects and topics, thus contributing to a better understanding of the digital heritage 
in Brazil. Finally, the choice of the topic is justified because it is current, has doctrinal 
divergences and some bills, and also because it is relevant to the Law and to today's 
society, because, in recent years, people have accumulated many assets in the virtual 
environment, and with that came the concern about how to proceed with the 
succession of this digital heritage. 
 
KEYWORDS: Probate Law. Heritage. Digital heritage. Digital goods. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Nos últimos anos, houve o aumento do número de bens digitais, em razão da 
facilidade de acesso ao ambiente virtual. Além disso, nota-se que as pessoas 
passaram a acumular muitos destes bens, o que, consequentemente, acarretou 
aumento do patrimônio digital. 
Diante disso, o tema do presente trabalho se refere à transmissão e ao destino 
dos bens digitais após a morte de seu titular, sendo analisado com base na herança 
digital. Este artigo trata, ainda, especificamente, sobre herança digital no Brasil, de 
forma a entender melhor sobre o que ocorre na hipótese de morte do titular de bens 
digitais no país e se eles devem estar integrados no inventário do falecido, caso não 
haja manifestação, em vida, do de cujus sobre esse acervo, ressaltando que não há 
regulamentação legislativa brasileira acerca dessa temática. 
No mais, a metodologia usada foi a descritiva, logo, o estudo é baseado em 
doutrinas, legislações e artigos científicos. O método utilizado foi a abordagem 
 
 
 
qualitativa, pois a pesquisa foi baseada em interpretação teórica e na formulação de 
um problema/hipótese a respeito do tema, ressaltando que outro critério usado foi o 
hipotético-dedutivo. 
Em relação aos capítulos, o primeiro versa sobre os bens jurídicos, discorrendo 
acerca da definição, da classificação quanto à visão clássica e à visão moderna, bem 
como, acerca da informação e do valor existencial tido como bens jurídicos. Já o 
segundo capítulo refere-se aos bens digitais, trazendo sobre eles, o contexto histórico 
em que surgiram, conceituação e natureza jurídica. 
O terceiro capítulo aborda, brevemente, sobre as regras do Direito das 
Sucessões. O quarto capítulo é um dos mais importantes, pois pontua a relação da 
herança digital, a definição, as divergências doutrinárias, bem como, exemplos e o 
que se entende acerca do assunto. Por último, traz o capítulo que diz respeito à 
legislação brasileira e herança digital. Nesse é mostrado, basicamente, projetos de lei 
no Brasil; isso, porque, até este momento, como já foi dito não há lei brasileira que 
trata acerca da herança digital. 
Diante disso, percebe-se que o propósito deste trabalho é, especialmente, 
demonstrar acerca da transmissão post mortem dos bens digitais, sobre a qual há 
uma corrente que dispõe que ela pode ocorrer de forma irrestrita, e há outra corrente 
que defende que a transmissão deve ser restrita, o que justifica a divergência existente 
sobre o tema. Ademais, com base neste trabalho, é possível inferir que esses dois 
posicionamentos são a regra, posto que a exceção é quando o de cujus manifesta, de 
forma contrária, sua vontade através de testamento ou codicilo. 
Por fim, certifica-se que este assunto é de grande valia para o Direito e para a 
sociedade, haja vista que a herança digital é algo inevitável nos dias atuais, porque a 
maioria das pessoas acessam o ambiente virtual e, com isso, acumulam muitos bens 
digitais. Por isso, justifica-se a escolha do presente trabalho, porque questões ligadas 
ao destino dos bens digitais estão se tornando cada vez mais comuns, sendo que é 
preciso a consolidação do entendimento, bem como, a criação de lei brasileira 
específica sobre o assunto, a fim de garantir segurança jurídica. 
 
2 BENS JURÍDICOS 
 
 
 
 
Os bens jurídicos, muitas vezes, são estudados com base em doutrina, pois, 
apesar de ser possível encontrar disposição legal sobre eles no Código Civil Brasileiro 
de 2002, especificamente, no livro II, constata-se que esta lei não traz o conceito nem 
todas as classificações de bens, por exemplo. 
Então, conforme doutrina, os bens jurídicos são analisados sob duas visões, as 
quais são: visão clássica e visão moderna. No tocante à visão clássica, entende-se 
que os bens são o objeto da relação jurídica, a qual é um dos elementos do direito 
subjetivo, e, por isso, também é possível dizer que eles são o objeto do direito 
subjetivo. Ainda, para essa visão, os bens se manifestam na parte exterior da pessoa, 
uma vez que eles são considerados como a materialização do desejo e da 
necessidade daquela. 
Em relação à visão moderna, desde já, infere-se que, diferente da visão 
clássica, ela é mais ampla, quandodiz respeito ao conceito do que são os bens 
jurídicos. Isso, porque, para a visão moderna, o objeto constitui em algo que vai além 
dos meros bens, pois, leva em consideração que há uma divisão do objeto em 
imediato e mediato. 
Dessa forma, a fim de explicar essa classificação, segundo Francisco Amaral 
(2003 apud Zampier, 2021, p. 47), o objeto imediato se configura em atividade, ação 
ou omissão, bem como, em comportamento dos sujeitos. Já, o objeto mediato consiste 
nas “coisas propriamente ditas sobre as quais incidiria aquele comportamento” 
(AMARAL, 2003 apud Zampier, 2021, p. 47). 
Em relação ao conceito dos bens digitais, Bruno Zampier diz que: 
 
“As pessoas possuem necessidades, desejos e fins a serem perseguidos. No 
exercício de sua autonomia privada irão procurar manifestar sua vontade com 
a intenção de satisfazer essas contingências, como forma de alcançar êxito 
em sua realização existencial. Para que esse resultado se efetive, as pessoas 
terão que buscar os instrumentos adequados, residindo aí então a categoria 
dos bens jurídicos, como sendo exatamente esses meios aptos a satisfazer 
aquelas necessidades.” (ZAMPIER, 2021, p. 47-48) 
 
Nesse sentido, infere-se que o homem, ao exercer sua autonomia privada, de 
forma a buscar a sua realização existencial, bem como, a satisfação de seus desejos 
e de suas necessidades, utiliza-se dos bens jurídicos. Assim, compreende-se que 
estes bens são instrumentos aptos, ou melhor, meios adequados, que através deles, 
a pessoa pode ter sua vontade efetivada, seja ela de cunho patrimonial, existencial ou 
patrimonial-existencial. 
 
 
 
Ademais, da análise do Código Civil, é possível perceber que há a classificação 
dos bens jurídicos em: imóveis e móveis, fungíveis e consumíveis, divisíveis, 
singulares e coletivos. Não obstante, a classificação que importa para o presente 
trabalho é aquela que os divide em bens jurídicos incorpóreos e corpóreos, a qual não 
está prevista na referida lei. 
Então, recorre-se à doutrina, a qual, classicamente, expõe que a diferença 
básica entre os bens jurídicos incorpóreos e corpóreos possui relação com o termo 
tangibilidade. Além disso, conforme dicionário, sabe-se que tangibilidade consiste em: 
“qualidade ou caráter de tangível” (DICIO, 20–, on-line), e, tangível é “que se consegue 
tocar; que pode ser apalpado; tocável. Que se pode perceber através do tato; 
corpóreo” (DICIO, 20–, on-line). 
Ainda, de forma a ratificar o que foi dito no parágrafo anterior, nota-se que: “O 
critério classicamente construído para traçar a distinção entre essas categorias 
residiria na tangibilidade (possibilidade de serem tocadas).” (ZAMPIER, 2021, p. 52) 
Destarte, os bens jurídicos incorpóreos são aqueles que possuem existência 
abstrata, ou seja, são imateriais. Já, quanto aos bens jurídicos corpóreos, há que se 
dizer que diferente dos bens incorpóreos, eles possuem existência material. Porém, 
há doutrinadores, como é o caso de Caio Mario da Silva Pereira que critica isto: 
 
“Não é a tangibilidade, em si, que oferece o elemento diferenciador, pois há 
coisas corpóreas naturalmente intangíveis, e há coisas incorpóreas que 
abrangem bens tangíveis, como é o caso da herança ou do fundo de 
comércio, considerados em seu conjunto como bens incorpóreos, apesar de 
se poderem integrar de coisas corpóreas [...]” (PEREIRA, 2009a apud 
ZAMPIER, 2021, p. 52-53) 
 
Além do mais, outro assunto pertinente a este capítulo diz respeito a informação 
ser tratada como um bem jurídico, tendo em vista o conceito acima exposto. Contudo, 
primeiramente, faz necessário dizer que não são todas as informações que podem ser 
tratadas como bem jurídico, em razão de que há critérios que as definem como tal. 
Sobre isso, Bruno Zampier assevera que para que a informação seja 
considerada um bem jurídico, ela: 
 
“a) pode ser objeto de uma relação jurídica; 
b) os bens podem ter caráter patrimonial ou não; 
c) é possível se conceber bens com fruição múltipla; 
d) há possibilidade de sua tutela jurídica.” (ZAMPIER, 2021, p. 54) 
 
 
 
 
Logo, a informação, para ser tratada como bem jurídico, precisa: ter utilidade, 
por isso, ela será objeto da relação jurídica; ter caráter patrimonial ou não, então, é 
possível dizer que este requisito refere-se à possibilidade de apresentar característica 
econômica, não sendo uma exigência; ter serventia a mais de uma pessoa, o que 
indica a fruição múltipla; e, por último, ser tutelada juridicamente, isto é, tanto a 
informação criativa quanto a informação não original merecem ser protegidas. 
Além do mais, não só a informação, mas também o valor existencial pode 
comportar-se como bem jurídico. No que diz respeito a isto, Bruno Zampier afirma 
que: 
 
“Hoje não há dúvidas de que certos bens que integram a personalidade 
humana podem ser sim objeto de relações jurídicas, sem que com isso se 
diga que a pessoa que o detém tenha deixado de ser seu titular. Pense-se no 
exemplo da imagem. Na civilização do espetáculo, como visto, a imagem é 
um dos atributos mais explorados pela pessoa, a fim de se alcançar status, 
sendo reconhecida pelo outro. Mostra-se como fundamental que essa 
imagem, enquanto direito da personalidade, seja tutelada pelo ordenamento 
como verdadeiro bem jurídico inerente ao ser.” (ZAMPIER, 2021, p. 58-59) 
 
Nessa perspectiva, é possível dizer que com o fim da escravidão, o homem não 
mais foi tratado como propriedade de outrem, ou seja, como objeto da relação jurídica. 
Todavia, nos dias atuais, não é difícil verificar que existem bens jurídicos que estão 
ligados ao direito da personalidade, tal como é o caso do direito da imagem, sendo 
que quanto a isto, nota-se que não há a objetivação do ser humano, pois o que se 
percebe é a projeção objetiva deste. 
 
3 BENS DIGITAIS 
 
Primeiramente, pontua-se que os bens digitais surgiram em um momento 
concomitante ao surgimento do ambiente virtual, tendo isso ocorrido em meados da 
década de 1970. Além disso, em relação a esse contexto histórico, sabe-se que ele 
também reflete a origem da Internet, a qual é responsável por criar uma sociedade 
digital, bem como, uma infinidade de bens digitais, isso, em razão da Internet ter se 
tornado popular em todo o planeta através do uso, cada vez mais comum, dos 
computadores e dos smartphones. 
No mais, com o passar dos anos, é possível notar que houve um aumento de 
bens digitais, haja vista que isso é um reflexo dos momentos históricos vividos. E, 
 
 
 
pode-se afirmar que, consequentemente, o patrimônio, passível de herança, tornou-
se ainda mais amplo. 
Dessa forma, pode-se dizer que muitas pessoas nem imaginam que aquilo que 
elas fazem nas redes sociais, e, de forma geral, no ambiente virtual, pode integrar o 
seu inventário. Isto, porque são exemplos de bens digitais: milhas aéreas, moedas 
virtuais, e-mails, livros digitais, músicas on-line, entre outros. 
Além disso, com base em doutrinas, expõe-se sobre a definição dos bens 
digitais. Veja-se: 
 
“[...] Estes seriam aqueles bens incorpóreos, os quais são progressivamente 
inseridos na Internet por um usuário, consistindo em informações de caráter 
pessoal que trazem alguma utilidade àquele, tenha ou não conteúdo 
econômico.” (ZAMPIER, 2021, p. 63-64) 
 
“[...] bens digitais são bens imateriais representados por instruções 
codificadas e organizadas virtualmente com a utilização linguagem 
informática, armazenados em forma digital, seja no dispositivo do próprio 
usuário ou em servidores externos como no caso de armazenamento em 
nuvem, por exemplo, cuja interpretação e reprodução se opera por meio de 
dispositivos informáticos (computadores, tablets, smartphones dentre outros), 
que poderão estar ou não armazenado no dispositivo de seu próprio titular, 
ou transmitidos entre usuários de um dispositivo para outro, acesso via 
download de servidores ou digitalmente na rede, e podem se apresentar ao 
usuário.” (FACHIN; PINHEIRO, 2018apud TEIXEIRA; KONDER, 2021, p. 28) 
 
Destarte, entende-se que os bens digitais são todos aqueles bens acumulados 
pelo usuário no ambiente virtual. Ainda, que sejam tipos de bens jurídicos, uma vez 
que são compostos por informações, com relevância jurídica, porém o que é mais 
importante, são úteis. Ademais, foi falado que eles são classificados como bens 
incorpóreos, denominados também, de bens imateriais, pois sua existência se dá no 
ambiente virtual, logo, não são palpáveis. 
Em relação aos bens digitais, Bruno Zampier acrescenta que: 
 
“Para denominar este verdadeiro patrimônio, dois têm sido os nomes 
principais, cunhados especialmente nos Estados Unidos, uma vez que o tema 
no Brasil ainda não mereceu a detida atenção. Assim, é cada vez mais 
comum encontrar as expressões: digital assets e digital property.” (ZAMPIER, 
2021, p. 61) 
 
Assim, nota-se que o direito estrangeiro está atento aos novos bens digitais, já 
cunhando, até mesmo, expressões, como é o caso dos Estados Unidos, os quais 
 
 
 
trouxeram as seguintes expressões: digital assets e digital property, que, 
respectivamente, significam ativos digitais e propriedade digital. 
Além disso, sobre os bens digitais, faz-se interessante discorrer acerca de sua 
natureza jurídica, sendo possível afirmar que eles se dividem em três categorias, quais 
sejam, patrimoniais, existenciais e patrimoniais-existenciais, segundo expõe a citação 
a seguir: 
 
“Os bens digitais patrimoniais são aqueles cuja natureza é meramente 
econômica, a exemplo das moedas virtuais (Bitcoins), milhas aéreas, itens 
pagos em plataformas digitais; já os bens digitais existenciais (ou bens 
sensíveis), por sua vez, possuem natureza personalíssima, podendo ser 
exemplificados através dos perfis de redes sociais, blogs, correio eletrônico, 
mensagens privadas de aplicativos como o WhatsApp, entre outros; e, por 
último, os bens de caráter híbrido, os bens digitais patrimoniais-existenciais 
(ou patrimoniais-personalíssimos), os quais perfazem um misto de 
economicidade e privacidade, como ocorre com os influenciadores digitais, 
que são monetizados através da exploração de postagens de natureza 
pessoal, a exemplo da plataforma do Instagram ou Youtube.” (CARVALHO; 
GODINHO, 2019 apud ROSA; BURILLE, 2021, p. 247) 
 
Primeiramente, no que tange aos bens digitais patrimoniais, considera-se que 
são aqueles que possuem natureza econômica, visto que estes bens produzem 
repercussões de cunho econômico. Também, por serem patrimoniais, remetem-se a 
ideia de patrimônio, o qual consiste em um conjunto de bens pertencentes a alguém, 
ou seja, titular, e que sejam estimáveis economicamente. 
Bruno Zampier explana que: 
 
“Estes bens seriam manifestações da existência de interesses patrimoniais 
de seus titulares no ambiente virtual, como demonstrado no item 4.2, ao se 
falar da importância dos bens digitais. Relembre-se de que foram dados 
vários exemplos desses interesses no citado item, tais como as moedas 
virtuais, as milhas aéreas, e as ferramentas que incrementam os desafios em 
jogos de videogames. 
Além desses exemplos, vale registrar também que com a expansão dos 
livros, filmes e músicas em formatos digitais, milhões de usuários estão 
diuturnamente a formar bibliotecas, videotecas e discotecas no mundo virtual. 
Dezenas de softwares permitem a aquisição lícita desses arquivos, a partir 
do pagamento de valores variáveis. Ao realizar o download, o usuário terá a 
possibilidade de armazená-los em hardwares, tais como discos de memória, 
para acessá-los quando bem entender, ou, ainda, mantê-los armazenados 
remotamente em uma conta digital, acessada mediante a inserção de 
senhas.” (ZAMPIER, 2021, p. 79-80) 
 
Isto posto, confirma-se que os bens digitais patrimoniais são aqueles que 
carregam com eles o caráter econômico, sendo que, para Ana Carolina Brochado 
 
 
 
Teixeira e Carlos Nelson Konder os “exemplos dessa categoria são moedas virtuais 
(como bitcoins), milhas, sites, aplicativos, cupons eletrônicos e bens utilizados dentro 
de economias virtuais de jogo on-line. [...]” (TEIXEIRA; KONDER, 2021, p. 31). 
Ademais, estes autores supracitados expõem que: 
 
“Faz sentido considerar que outros bens que seguem a lógica do acesso 
também podem ser caracterizados por bens de cunho patrimonial, tal como 
aqueles obtidos por meio do streaming, locação para temporadas (como 
airbnb), para uso (tal qual um uber) etc. [...]” (TEIXEIRA; KONDER, 2021, p. 
31) 
 
Ainda, no tocante à ligação entre a importância dos bens digitais e sua natureza 
jurídica, infere-se que quando se fala da importância deles, baseia-se em dois fatores, 
quais sejam: valor econômico e valor sentimental. 
Dessa forma, não restam dúvidas de que a importância dos bens digitais no 
que concerne ao valor econômico liga-se aos bens digitais patrimoniais. Isso, porque, 
os bens de valor econômico consistem naqueles em que o usuário precisa 
desembolsar algum valor pecuniário para acessá-los ou que decorre da compra de 
outro bem. 
No que toca aos bens de valor sentimental, entende-se que constituem 
naqueles em que os arquivos são armazenados, de forma gratuita, na Internet. Então, 
com isso, fica claro que os bens de valor sentimental possuem ligação com bens 
digitais existenciais, haja vista que estes possuem natureza personalíssima e não 
econômica, pois produzem repercussões extrapatrimoniais. 
Também, Bruno Zampier traz alguns exemplos de bens digitais existenciais. 
Veja-se: 
 
“Portanto, teriam essa natureza os arquivos de fotografias pessoais 
armazenados em nuvens ou redes sociais, os vídeos, com imagem-voz e 
imagem-retrato do próprio sujeito que estejam arquivados ou foram 
publicados, as correspondências trocadas com terceiros, seja por meio de e-
mail, seja por meio de outro serviço de mensagem virtual, dentre outros.” 
(ZAMPIER, 2021, p. 117) 
 
No mais, quanto aos bens digitais patrimoniais-existenciais, nota-se que são 
bens híbridos, ou seja, eles possuem, ao mesmo tempo, características dos bens 
digitais patrimoniais e dos bens digitais existenciais. Sobre os bens digitais 
patrimoniais-existenciais, Bruno Zampier diz que: 
 
 
 
 
“À medida em que as pessoas passam a se interessar por aquele endereço 
eletrônico, esta audiência pode ser convertida em recursos financeiros, num 
processo conhecido por ‘monetização’. Logo, o que a princípio era apenas 
fruto de uma liberdade de expressão, torna-se um rentável negócio. O blog 
ou canal no youtube se torna um relevante ativo digital de natureza híbrida: 
só existirá por força da intelectualidade do seu administrador, ao mesmo 
tempo em que lhe gera recursos econômicos.” (ZAMPIER, 2021, p. 118) 
 
Desse modo, constata-se que os bens digitais patrimoniais-existenciais 
possuem natureza econômica e personalíssima, dado que em razão de existir 
pessoas interessadas no que o titular diz, ou melhor, sobre o que ele insere no 
ambiente virtual, ele concomitantemente, passa a ser rentabilizado. Outrossim, são 
exemplos de bens digitais patrimoniais-existenciais: 
 
“Os perfis em redes sociais e canais no Youtube podem ser exemplos que se 
enquadram em situações existenciais – quando feito para realização pessoal, 
registros de memórias familiares etc. –, ou dúplices, quando a inserção dos 
dados pessoais na Internet se presta a objetivos financeiros, como é o caso 
dos blogueiros, influencers e youtubers. [...]” (TEIXEIRA; KONDER, 2021, p. 
34) 
 
“Outro exemplo de situação jurídica dúplice relativa aos bens digitais são os 
social games. Trata-se de jogos eletrônicos casuais, simples, cujos 
participantes interagem entre si, e que ajudam a construir a identidade no 
ciberespaço. [...]” (TEIXEIRA; KONDER, 2021, p. 35) 
 
“[...] Às vezes, é necessário gasto de dinheiro (real) para determinados social 
games, o que acaba por gerar um risco ainda maior da patrimonialização da 
identidade virtual.” (TEIXEIRA; KONDER, 2021, p. 36) 
 
Por fim, diante doque foi exposto, o que se pode dizer é que foram estudados 
conteúdos essenciais, para que se possa entender melhor o tema, herança digital, 
especialmente, no que diz respeito a natureza jurídica dos bens digitais. 
 
4 DIREITO DAS SUCESSÕES 
 
Com base no art. 5º, inciso XXX, da CF, sabe-se que: 
 
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
XXX – é garantido o direito de herança”. (Constituição da República 
Federativa do Brasil de 1988) 
 
 
 
 
É possível inferir que o Direito das Sucessões possui fundamento na lei mais 
importante que rege a legislação brasileira, isto é, a Constituição Federal de 1988. 
O Direito das Sucessões encontra previsão legal no Livro V, do Código Civil 
Brasileiro de 2002, o qual traz inúmeras regras sobre como proceder a transmissão 
do patrimônio do de cujus. No mais, é importante salientar que o que dá início ao 
Direito das Sucessões é a morte, a qual pode ser real ou presumida, sendo que o art. 
6º, do Código Civil, assevera que: “a existência da pessoa natural termina com a 
morte”. 
Ainda, em texto de Heloisa Helena Barboza e Vitor Almeida, verifica-se que: 
 
“Um dos efeitos jurídicos da morte mais cogitado é a transmissão da herança, 
objeto do direito das sucessões. Com o falecimento do titular, a personalidade 
se extingue e há perda da titularidade exercida sobre todos os bens, exceção 
feita aos direitos vinculados à personalidade, que igualmente perecem, como 
acima indicado. Ocorre, em consequência, a sucessão, a continuidade em 
outrem de uma relação jurídica que cessou para o respectivo sujeito. 
Conforme doutrina clássica de Carlos Maximiliano, ‘sucessão é a transmissão 
de direitos’, uma alteração da titularidade que pode ocorrer em vida (inter 
vivos) ou após a morte (causa mortis). No primeiro caso a sucessão na 
titularidade se dá, no geral, a título singular; no segundo pode ocorrer a título 
universal, configurando a transmissão da herança e/ou a título singular, 
hipótese na qual se transmite um legado.” (BARBOZA; ALMEIDA, 2021, p. 9) 
 
Dessa forma, com base no art. 1.784, do CC, o qual possui conformidade com 
o Princípio de Saisine, entende-se que “aberta a sucessão, a herança transmite-se, 
desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários”. Assim, é possível dizer que 
todos os direitos e obrigações são herdados, com exceção daqueles que possuem 
natureza personalíssima, haja vista que se extinguem com a morte do de cujus. 
Ademais, conforme art. 1.786, do CC, o qual atesta: “a sucessão dá-se por lei 
ou por disposição de última vontade”, depreende-se que há duas modalidades de 
sucessão, quais sejam: legítima e testamentária. Primeiramente, no que diz respeito 
a sucessão legítima, entende-se que ela provém da lei, sendo que ocorre quando o 
autor da herança não deixa testamento, ou, quando não contempla a integralidade do 
patrimônio. 
Ainda, sobre a sucessão legítima, constata-se que há uma ordem de vocação 
hereditária, conforme informa o art. 1.829, do CC. 
 
“Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: 
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se 
casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da 
 
 
 
separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime 
da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens 
particulares; 
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; 
III - ao cônjuge sobrevivente; 
IV - aos colaterais.” (Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002) 
 
Em relação à sucessão testamentária, entende-se que ela decorre de 
manifestação de última vontade do de cujus, seja expressa através de testamento, 
seja expressa através de codicilo. 
Com base no art. 1.857, do Código Civil, infere-se que o de cujus, através de 
testamento, pode dispor de todos “os seus bens, ou de parte deles, para depois de 
sua morte. O art. 1.881, do Código Civil, determina que: 
 
“Art. 1.881. Toda pessoa capaz de testar poderá, mediante escrito particular 
seu, datado e assinado, fazer disposições especiais sobre o seu enterro, 
sobre esmolas de pouca monta a certas e determinadas pessoas, ou, 
indeterminadamente, aos pobres de certo lugar, assim como legar móveis, 
roupas ou joias, de pouco valor, de seu uso pessoal.” (Lei nº 10.406, de 10 
de janeiro de 2002) 
 
Quando se analisa a sucessão testamentária, é possível inferir que o titular, ora 
falecido, ao dispor sobre o seu patrimônio, se vale da autonomia privada. Por fim, é 
importante dizer que esse capítulo abordou de forma breve sobre Direito das 
Sucessões, deixando claro que este direito abarca muito mais conteúdos e regras do 
que aqui expostos. 
 
5 HERANÇA DIGITAL 
 
Faz-se, necessária, uma breve pontuação, no sentido das informações vistas 
até o momento e que se mostram válidas para o estudo do presente capítulo, haja 
vista que, foram expostos, de forma precisa, assuntos basilares e essenciais, que 
contribuirão para melhor entendimento acerca de herança digital. 
Assim, no que diz respeito à herança digital, conforme o arquivado Projeto de 
Lei n.º 4.847, de 2012, nota-se que: 
 
“Art. 1.797-A. A herança digital defere-se como o conteúdo intangível do 
falecido, tudo o que é possível guardar ou acumular em espaço virtual, nas 
condições seguintes: 
I – senhas; 
II – redes sociais; 
 
 
 
III – contas da Internet; 
IV – qualquer bem e serviço virtual e digital de titularidade do falecido.” 
(Projeto de Lei nº 4.847/2012) 
 
Dessa forma, da análise da citação supra, bem como, com base no conceito de 
herança no Direito das Sucessões, entende-se que herança digital é formada pelo 
acervo ou patrimônio digital, ou seja, o conjunto de bens jurídicos, especificamente, 
bens digitais acumulados pelo titular falecido no ambiente virtual. Destarte, nota-se 
que neste conceito dado, estão incluídos todos os bens digitais, tal como os 
patrimoniais, existenciais e patrimoniais-existenciais. 
Entretanto, conforme observa-se nas doutrinas, é preciso dizer que há 
divergências em relação à transmissão da herança digital em sua totalidade. Isso, em 
razão, especialmente, dos bens digitais que possuem natureza jurídica existencial e 
patrimonial-existencial, o que será visto adiante. 
 
“Na doutrina, dois entendimentos sobre o tema têm se firmado. De acordo um 
primeiro posicionamento, haveria a transmissão de todos os conteúdos como 
regra, exceto se houvesse manifestação de vontade do próprio usuário em 
vida em sentido diverso, na esteira dos fundamentos utilizados pelo 
Bundesgerichtshof – BGH. Uma segunda corrente doutrinária defende a 
intransmissibilidade de alguns conteúdos, sobretudo quando houver violação 
a direitos da personalidade.” (HONORATO; LEAL, 2021, p. 144) 
 
Então, desde já, é possível verificar que sobre o tema paira dois entendimentos 
doutrinários, os quais são diferentes, o que justifica a divergência existente. 
Um deles consiste, no fato, da transmissão da herança digital seguir os 
mesmos ditames da herança convencional. Logo, sendo uma transmissão de forma 
imediata, em conformidade ao Princípio de Saisine, como também, uma transmissão 
irrestrita, ou seja, todos os bens que compõem o patrimônio digital pode ser objeto de 
inventário. 
 
“‘[...] [s] e o que se visa tutelar é o caráter existencial do conteúdo, 
protegendo-se a privacidade, intimidade e personalidade do morto ou de 
terceiros, essa tutela teria que ser feita independentemente do meio no qual 
esse conteúdo personalíssimo se materializa’. Dito diversamente, seria 
‘incoerente permitir a transmissão de cartas, diários e informações 
confidenciais e vedar a transmissão daquelas armazenadas em nuvens ou 
nos servidores de plataformas digitais como o Facebook’. Issoporque o 
caráter existencial ou dúplice do bem jurídico digital a justificar a tutela da 
privacidade não derivaria da forma como tais informações são preservadas 
(se por meio analógico ou digital), mas, antes, do seu próprio conteúdo. E, 
‘até o momento, nenhum ordenamento jurídico parece vetar os herdeiros de 
 
 
 
acessar cartas e fotos confidenciais guardadas no fundo do baú’”. (TERRA; 
OLIVA; MEDON, 2021, p. 60) 
 
Nesse sentido, conforme Aline de Miranda Valverde Terra, Milena Donato Oliva 
e Filipe Medon, os quais citam Laura Schertel Mendes e Karina Nunes Fritz, sendo 
estas adeptas à esta corrente supramencionada, infere-se que a possibilidade de 
transmissão de todos os bens digitais, inclusive bens digitais existenciais e 
patrimoniais-existenciais, ocorre em paridade à sucessão de diários e de cartas, por 
exemplo, pois não há lei que vete isto, bem como, em razão de que percebe-se, 
somente, que estes bens de naturezas semelhantes estão expostos em ambientes 
diferentes, quer dizer, ambiente físico e ambiente digital. 
Além disso, de acordo com a corrente supra, cita-se, como exemplo, importante 
julgado ocorrido na Alemanha, em 2012, no qual os pais de uma garota, que tinha 15 
anos de idade quando faleceu, em Berlim, em uma estação subterrânea de metrô, 
ingressaram com ação contra o Facebook, pois esta empresa havia transformado a 
conta dela em “memorial” virtual, após a notificação de terceiro, e eles queriam 
acessar a referida conta, a fim de esclarecer acerca da causa e das circunstâncias da 
morte, bem como, “obter provas a serem utilizadas em sua defesa na ação judicial por 
danos morais movida pelo condutor do transporte público” (TERRA; OLIVA; MEDON, 
2021, p. 59), pois este disse ter ficado abalado emocionalmente em razão do suposto 
suicídio da adolescente. Em relação a este caso, sabe-se que os pais recorreram da 
decisão, a qual foi reformada em segunda instância, sendo que o Bundesgerichtshof 
– BGH, que se assemelha ao STF no Brasil, julgou da seguinte forma, conforme 
aponta Laura Schertel Mendes e Karina Nunes Fritz: 
 
Em síntese, a Corte Federal alemã reconheceu a pretensão dos pais, 
herdeiros únicos da menor, de ter acesso à conta e a todo o conteúdo nela 
existente, uma vez que essa pretensão decorre do contrato de consumo 
(contrato de utilização) existente entre a adolescente e o Facebook, o qual é 
transmissível aos herdeiros com a morte. Para a Corte, o direito sucessório à 
herança digital não se opõe aos direitos de personalidade post mortem da 
falecida, ao direito geral de personalidade do de cujus ou dos terceiros 
interlocutores, ao sigilo das comunicações, nem tampouco às regras sobre 
proteção de dados pessoais. (MENDES; FRITZ, 2019, p. 194) 
 
Já, o outro entendimento, diverge daquele, no que se refere a quais bens 
podem ser transmitidos, pois, para este segundo entendimento, entende-se que não 
são todos os bens digitais que podem integrar o inventário, sendo que os bens digitais 
 
 
 
de natureza existencial ou patrimonial-existencial, não poderão integrá-lo. Em relação 
a esse tipo de bem digital, ou seja, patrimonial-existencial é importante dizer o que 
não integra no inventário é o seu aspecto existencial, pois é permitido que o seu 
aspecto patrimonial seja objeto de transmissão post mortem. Isso, porque estes são 
permeados pelos direitos da personalidade, os quais devem ser protegidos até mesmo 
após a morte do titular. Assim sendo, trazem-se argumentos, pelos quais justifica-se 
que não se pode haver a sucessão dos bens digitais, de forma irrestrita. 
 
“Identificam-se três principais fundamentos para negar a transmissibilidade 
absoluta: (i) a preservação da privacidade e intimidade tanto do falecido como 
de quem tenha com ele se relacionado; (ii) a colisão de interesses entre o de 
cujus e seus herdeiros, que podem vir a demonstrar ‘interesses puramente 
econômicos em comercializar informações íntimas do falecido sob a forma de 
publicações e biografias póstumas ou em manter ativo o perfil do morto, 
explorando o nome e imagem do parente falecido’; e, por fim, (iii) a violação 
à proteção dos dados pessoais e ao sigilo das comunicações, materializada 
na ‘quebra na confiança legítima dos usuários no sigilo das conversas 
estabelecidas no mundo digital, pois a existência de senha de acesso às 
contas traz em si uma expectativa maior de sigilo’”. (TERRA; OLIVA; MEDON, 
2021, p. 58-59) 
 
Nessa perspectiva, Gabriel Honorato e Livia Teixeira Leal, os quais se filiam à 
esta segunda corrente, dizem que: 
 
“‘[...] ao menos a priori, somente deveria seguir a regra geral do direito 
sucessório os bens com característica patrimonial, ao passo que os demais 
não estariam sujeitos à transmissão para seus herdeiros em virtude da 
preservação da privacidade’ [...]” (TERRA; OLIVA; MEDON, 2021, p. 58) 
 
“[...] nem mesmo o titular do acervo digital poderia, em vida, optar por futura 
destinação de seu patrimônio para eventuais herdeiros quando o seu 
conteúdo pudesse ‘comprometer a personalidade de outrem, o que ocorre 
com conversas de WhatsApp, e-mail e também em redes sociais que dotam 
de espaços reservados para conversas particulares, como as direct 
messages do Facebook e do Instagram’”. (TERRA; OLIVA; MEDON, 2021, p. 
58) 
 
Além do mais, é importante ressaltar que há uma exceção para o que foi dito 
em relação aos dois entendimentos acima expostos, qual seja: caso o de cujus 
dispuser, em testamento ou codicilo, que deseje a transmissão dos bens digitais de 
forma diversa, devendo, então, esta sua manifestação de vontade ser respeitada. 
Ademais, passa-se a análise individual dos bens digitais, quanto a sua natureza 
jurídica, no tocante à possibilidade de serem transmitidos aos herdeiros do titular 
falecido. 
 
 
 
Deste modo, quanto aos bens digitais de cunho patrimonial, os quais, como já 
visto em capítulo anterior, possuem caráter econômico, infere-se que eles poderão 
ser objeto de inventário, a não ser que o de cujus manifeste o contrário. Logo, o que 
se entende é que se o titular falecido não dispõe, em testamento, sobre a destinação 
de seu acervo digital patrimonial, então este poderá ser transmitido aos herdeiros. 
Bruno Zampier traz o seguinte exemplo: 
 
“[...] imagine-se o falecimento de um importante empresário que realizava, 
por anos, viagens semanalmente mundo afora. Sem margem de erro, este 
indivíduo acumulou milhares de milhas aéreas, que podem não ter sido 
usadas até o fim de sua vida. [...]” (ZAMPIER, 2021, p. 130) 
 
Nota-se que, apesar de se compreender que os bens digitais patrimoniais são 
passíveis de serem objeto de herança digital, há algumas empresas que não 
concordam com isso, sendo que, por exemplo: 
 
“A discussão passa a se avolumar quanto à questão das videotecas, 
bibliotecas e musicotecas digitais. O ator hollywoodiano Bruce Willis vem 
travando uma briga com a empresa Apple, a fim de que sua extensa coleção 
de livros e músicas digitais adquirida junto ao programa iTunes possa ser 
transmitida em testamento a seus filhos, ao invés de simplesmente voltarem 
à propriedade daquela empresa, como consta no regulamento de utilização 
do serviço.” (ZAMPIER, 2021, p. 132) 
 
Dessa forma, é possível compreender que, em regra, deve sim ocorrer a 
transmissão dos bens digitais patrimoniais, sendo que, no atual momento, isso, 
ocorreria com base nas regras previstas no Direito das Sucessões. Mas, pontua-se 
que é preciso normas específicas que tratem a respeito da herança digital, de maneira, 
a trazer segurança jurídica. 
Posto isto, agora, passa-se a análise do segundo entendimento, que condiz 
com a transmissão da herança de forma restrita. Isto é, em regra, não inclui, no 
inventário, os bens digitais existenciais e os aspectos existenciais dos bem digitais 
patrimoniais-existenciais, pois os doutrinadores que concordam com esta corrente, 
defendem que pode ocorrer a transmissão post mortem dos aspectospatrimoniais 
destes bens digitais híbridos. 
No que diz respeito aos bens digitais existenciais e patrimoniais-existenciais, 
infere-se que eles possuem perfil personalíssimo, tal como já estudado em capítulo 
anterior. Também, sobre estes bens, entende-se que a transmissão deles aos 
 
 
 
herdeiros do de cujus não poderá ocorrer de forma imediata, em razão do caráter 
acima dito. 
Além disso, em relação a esse caráter personalíssimo, remete-se aos direitos 
de personalidade, e, quanto a estes, diz que eles estão atrelados à personalidade 
jurídica. 
Então, no que tange à personalidade jurídica, cita-se adiante artigos do Código 
Civil. O primeiro é o art. 2º, do CC, o qual informa que: “a personalidade civil da pessoa 
começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os 
direitos do nascituro”. Dessa forma, infere-se que este art. 2º pontua acerca do 
momento em que se inicia os direitos da personalidade. Já, o art. 6º, do CC, diz que: 
“a existência da pessoa natural termina com a morte”, sendo, que se concebe que o 
encerramento dos direitos da personalidade se dá com a morte. 
Ressalta-se que quando a pessoa morre, os direitos da personalidade também 
morrem, ou seja, se extinguem. Entretanto, a proteção dos direitos da personalidade 
não acaba com a morte do titular, conforme art. 12, do CC, o qual declara que: “pode-
se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar 
perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei”. A fim de ratificar o 
que foi dito, traz o art. 12, parágrafo único, do CC. Veja-se: “parágrafo único. Em se 
tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o 
cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto 
grau” (Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002). 
Também, sobre este assunto, a fim de exemplificá-lo, traz-se um julgado, 
ocorrido no ano de 2017, na comarca de Pompéu/MG, logo, em primeira instância, no 
processo n.º 0023375-92.2017.8.13.0520, no qual a mãe pleiteava o acesso aos 
vídeos, bem como, às fotos da filha falecida, na conta da Apple, sendo que, então, 
precisava, acessar o ID Apple. Neste caso, o juiz Manoel Jorge de Matos Junior julgou 
improcedente o pedido, sob o fundamento de que tanto a privacidade da filha falecida 
quanto a privacidade de terceiros que tiveram contato com esta seriam violadas, 
conforme nota-se no seguinte trecho retirado da decisão: 
 
“[...] Dada essa digressão, tenho que o pedido da autora não é legítimo, pois 
a intimidade de outrem, inclusive da falecida Helena, não pode ser invadida 
para satisfação pessoal. A falecida não está mais entre nós para manifestar 
sua opinião, motivo pela qual a sua intimidade deve ser preservada […]” 
(MATTA, 2018) 
 
 
 
 
Ainda, elucidando, sobre os bens digitais existenciais e patrimoniais-
existenciais, Livia Teixeira Leal diz que: 
 
“Quanto ao enquadramento de determinada situação jurídica, sobretudo 
quando o interesse envolve ambos os aspectos com graus similares de 
intensidade, a doutrina vem sinalizando a necessidade de se analisar dois 
fatores para que se verifique tal distinção: o relativo ao interesse (o que é) e 
o funcional (para o que serve). A análise funcional, baseada na síntese dos 
efeitos essenciais da situação jurídica, deve ser realizada em concreto, 
considerando-se ‘sob qual finalidade ela serve melhor para o cumprimento 
dos objetivos constitucionais, qual seja, a tutela da pessoa humana na 
perspectiva não apenas individual, mas também solidarista e relacional’, na 
esteira do caminho adotado pelo ordenamento jurídico brasileiro. (LEAL, 
2018, p. 194-195) 
 
[...] em relação a aplicações de caráter pessoal e privado, como é o caso de 
perfis de redes sociais e dos aplicativos de conversas privadas, não se deve 
permitir, a princípio, o acesso dos familiares, exceto em situações 
excepcionalíssimas, diante de um interesse existencial que prepondere no 
caso concreto. [...] (LEAL, 2018, p. 195) 
 
Então, por fim, entende-se que quanto aos bens digitais existenciais e aos 
aspectos existenciais dos bens digitais patrimoniais-existenciais, em regra, não 
poderão ser objeto de inventário, sendo que deverá analisar cada caso em concreto, 
pois deve-se proteger a privacidade, bem como, os direitos de personalidade do titular 
falecido. E, somente, de forma excepcional, quando houver interesse existencial que 
sobreponha, é que se poderá autorizar a herança destes bens digitais, ou seja, quando 
o de cujus manifestar de forma como bem entender acerca da destinação dos seus 
bens digitais, por meio de testamento, por exemplo, seja este puramente digital, seja 
misto – isto é, que engloba outras questões e o testamento digital surja como um 
capítulo dele, seja aquele disponibilizado pelas próprias plataformas digitais, como 
Facebook, Gmail, entre outras. 
 
7 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E HERANÇA DIGITAL 
 
No que tange à legislação brasileira acerca da herança digital, nota-se que não 
há regulamentação legal específica sobre este tema no Brasil, há apenas algumas 
propostas de lei. Assim, este capítulo tratará, de forma breve, a respeito destas 
propostas. 
 
 
 
A princípio, cita-se o primeiro projeto de lei que veio a abordar sobre herança 
digital no Brasil, o Projeto de Lei n.º 4.847/2012, o qual, no atual momento, encontra-
se arquivado e que possui a seguinte redação legal: 
 
“Art. 2º Fica acrescido o Capítulo II-A e os arts. 1.797-A a 1.797-C à 
Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, com a seguinte redação: 
Capítulo II-A 
Da Herança Digital 
“Art. 1.797-A. A herança digital defere-se como o conteúdo intangível 
do falecido, tudo o que é possível guardar ou acumular em espaço 
virtual, nas condições seguintes: 
I – senhas; 
II – redes sociais; 
III – contas da Internet; 
IV – qualquer bem e serviço virtual e digital de titularidade do falecido. 
Art. 1.797-B. Se o falecido, tendo capacidade para testar, não o tiver 
feito, a herança será transmitida aos herdeiros legítimos. 
Art. 1.797-C. Cabe ao herdeiro: 
I - definir o destino das contas do falecido; 
a) transformá-las em memorial, deixando o acesso restrito a amigos 
confirmados e mantendo apenas o conteúdo principal ou; 
b) apagar todos os dados do usuário ou; 
c) remover a conta do antigo usuário.” (Projeto de Lei nº 4.847/2012) 
 
Ainda, é de conhecimento outro projeto, o Projeto de Lei n.º 4.099/2012, que, 
também, encontra-se arquivado. Em relação a este projeto, sabe-se que o seu intuito 
foi propor alteração no Código Civil, acrescentado ao art. 1.788, um parágrafo único, 
com o seguinte dizer: “serão transmitidos aos herdeiros todos os conteúdos de contas 
ou arquivos digitais de titularidade do autor da herança” (LEAL, 2018, p. 187). 
Dessa forma, entende-se que os dois projetos de lei supramencionados ao 
disporem sobre herança digital, inclui nesta, todos os bens digitais, ou seja, bens 
digitais patrimoniais, existenciais e patrimoniais-existenciais. Logo, isso configura-se 
como uma transmissão irrestrita, sendo que, conforme estudado no capítulo anterior, 
há um entendimento que defende isso, porém, há um posicionamento contrário. 
Outra proposta é Projeto de Lei n.º 8.562/2017, o qual assevera: 
 
“O Congresso Nacional decreta: 
Art. 1º - Esta Lei estabelece normas a respeito da herança digital. 
Art. 2º Fica acrescido o Capítulo II-A e os arts. 1.797-A a 1.797-C à Lei nº 
10.406, de 10 de janeiro de 2002, com a seguinte redação: 
Capítulo II-A 
Da Herança Digital 
“Art. 1.797-A. A herança digital defere-se como o conteúdo intangível do 
falecido, tudo o que é possível guardar ou acumular em espaço virtual, nas 
condições seguintes: 
I – senhas; 
 
 
 
II – redes sociais; 
III – contas da Internet; 
IV – qualquer bem e serviço virtual e digital de titularidade do falecido. 
Art. 1.797-B. Se o falecido, tendo capacidade para testar, não o tiver 
feito,a herança será transmitida aos herdeiros legítimos. 
Art. 1.797-C. Cabe ao herdeiro: 
I - definir o destino das contas do falecido; 
a) - transformá-las em memorial, deixando o acesso restrito a amigos 
confirmados e mantendo apenas o conteúdo principal ou; 
b) - apagar todos os dados do usuário ou; 
c) - remover a conta do antigo usuário.” 
Art. 3°- Esta lei entrará em vigor na data da sua publicação.” (Projeto de Lei 
nº 8.562/2017) 
 
Em relação ao Projeto de Lei n.º 8.562/2017, a justificativa utilizada pelo 
senador Elizeu Dionizio foi que este projeto “pretende assegurar o direito dos 
familiares em gerir o legado digital daqueles que já se foram”. 
Além disso, mais uma proposta consiste no Projeto de Lei n.º 6.468/2019, que 
tem a seguinte redação legal: 
 
“O CONGRESSO NACIONAL decreta: 
CAPÍTULO I 
Das Disposições Gerais 
Art. 1º. Esta Lei altera o art. 1.788 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, 
que institui o Código Civil, a fim de dispor sobre a sucessão dos bens e contas 
digitais do autor da herança. 
Art. 2º. O art. 1.788 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, passa a vigorar 
acrescido do seguinte parágrafo único: 
“Art. 1.788. ................................................. 
Parágrafo único. Serão transmitidos aos herdeiros todos os conteúdos de 
contas ou arquivos digitais de titularidade do autor da herança.” (NR) 
Art. 3º. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.” (Projeto de Lei nº 
6.468/2019) 
 
E, ainda, com base em texto de Heloisa Helena Barbosa e Vitor Almeida, nota-
se outro projeto de lei. Veja-se: 
 
“[...] O Projeto de Lei n. 3.050/2020, pelo menos, restringe o alcance da 
‘herança digital’ aos conteúdos de qualidade patrimonial das contas ou 
arquivos de titularidade do autor da herança, embora nem sempre tal 
qualificação seja tão nítida.” (BARBOZA; ALMEIDA, 2021, p. 15) 
 
Por último, traz o Projeto de Lei n.º 1.144/2021, que é um dos mais recentes 
acerca do tema. Ademais, este projeto propõe modificação no Código Civil e no Marco 
Civil da Internet, de forma a definir quem são os legitimados a ingressarem com ação 
para proteção da imagem da pessoa morta, a dizer sobre quais são os bens digitais 
 
 
 
que integram a herança digital, bem como, sobre a possibilidade de remoção de 
conteúdos após a morte. 
Então, conclui-se que há vários projetos de lei, os quais ainda necessitam de 
ajustes, por se mostrarem insuficientes, haja vista a rapidez com que novos bens 
digitais surgem e com que as interações ocorrem no ambiente virtual. Ainda, ressalta-
se a importância desses projetos de lei, pois a partir deles, é possível ter uma base, 
e, consequentemente, uma busca para o aprimoramento de como se deve proceder 
quanto à herança digital no Brasil. 
 
9 CONCLUSÃO 
 
O presente trabalho buscou expor acerca da herança digital, especificamente, 
no Brasil, tendo como objetivo geral investigar o que ocorre na hipótese de morte do 
titular dos bens digitais neste país, se estes devem estar integrados no inventário do 
falecido, no caso em que não houver manifestação em vida do de cujus sobre esse 
acervo, levando em consideração que não há regulamentação legislativa brasileira 
acerca da temática. 
Ademais, verifica-se que no capítulo sobre bens digitais foi exposto sobre suas 
naturezas jurídicas, as quais são essenciais para o estudo do capítulo acerca da 
herança digital, isto, porque, a divergência doutrinária existente sobre a temática 
possui relação com elas. Assim, nos dias atuais, há duas correntes acerca da 
transmissão post mortem dos bens digitais, quais sejam: uma que defende que esta 
transmissão ocorra de maneira irrestrita e outra que defende que ela aconteça de 
forma restrita. 
Então, de acordo com o que foi dito acima, em relação ao primeiro 
entendimento, entende-se que todos os bens digitais podem integrar o inventário do 
titular falecido, isto é, segundo o ponto de vista desta corrente, bens digitais 
patrimoniais, existenciais e patrimoniais-existenciais poderão ser transmitidos aos 
herdeiros do de cujus. Já, o segundo entendimento, que reconhece a transmissão 
post mortem restrita, considera-se que os bens digitais patrimoniais e os aspectos 
patrimoniais do bens digitais patrimoniais-existenciais poderão integrar o inventário do 
falecido, pois, para este entendimento, os direitos de personalidade devem ser 
protegidos e respeitados. 
 
 
 
Além disso, no que diz respeito à esta divergência existente acerca da 
transmissão dos bens digitais após a morte do seu titular, depreende-se que é um 
assunto complexo e que demanda mais estudos. Todavia, reconhece que os 
fundamentos e as explicações sobre cada uma das correntes acima expostas são 
convincentes, ainda mais, considerando que o Brasil carece de legislação específica 
sobre o tema, o que gera insegurança jurídica. 
Apesar disto, entende-se que a corrente que defende a transmissão post 
mortem dos bens digitais de forma restrita é a que se manifesta como mais adequada, 
tendo em vista que os direitos da personalidade merecem proteção, e, por isso, bens 
digitais de natureza existencial, bem como, os aspectos existenciais dos bens digitais 
patrimoniais-existenciais não devem estar integrados no inventário do titular falecido. 
Ainda, que compactua com a ideia abordada ao longo do trabalho que diz respeito 
aos dois entendimentos serem tratados como a regra, pois a exceção é possível ser 
visualizada no caso em que o de cujus manifeste sua vontade, mediante testamento 
ou codicilo, o que deve ser respeitado. 
Destaca-se a importância do tema para o Direito, bem como, para a sociedade 
contemporânea, o que se justifica pela escolha do tema, sendo que como 
mencionado, ao longo do trabalho, a herança digital no Brasil será cada vez mais 
comum, uma vez que nos dias atuais, as pessoas têm facilidade em acessar o 
ambiente virtual, e, assim, acabam por acumular vários bens digitais, que formarão o 
patrimônio digital delas. Por fim, em razão do tema ser tão vasto e recente, deixa, 
aqui, sugestões de estudo sobre o tema, como a pesquisa acerca da legislação 
estrangeira no que diz respeito a herança digital, da exploração econômica das redes 
sociais das pessoas que já faleceram e do testamento virtual. 
 
REFERÊNCIAS 
 
BARBOZA, Heloisa Helena; ALMEIDA, Vitor. Tecnologia, morte e direito: em busca 
de uma compreensão sistemática da “herança digital”. In: TEIXEIRA, Ana Carolina 
Brochado; LEAL, Livia Teixeira (Coord.). Herança digital: controvérsias e 
alternativas. Indaiatuba: Foco, 2021. 
 
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei n. 1.144/2021. Dispõe sobre os 
dados pessoais inseridos na internet após a morte do usuário. Disponível em: 
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=227594
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https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2275941
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