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�������� � ���� ��� �� ���� � �� ��������������������������������������������������������� ��� ��!""�# �#$%!� 9::�+*�'�( '&��#4%<( Aviso A medicina é uma ciência em constante transformação. À medida que novas pesquisas e experiências clínicas ampliam nosso conhe- cimento, mudanças no tratamento e na terapia medicamentosa são necessárias. Os autores e o editor deste livro consultaram fontes consideradas confiáveis a fim de fornecer informação completa e de acordo com os padrões aceitos no momento da publicação. Con- tudo, considerando a possibilidade de mudanças na área, recomen- da-se que os leitores verifiquem a bula inclusa na embalagem de cada medicamento antes de sua administração. Essa recomendação é de particular importância em relação a fármacos novos ou usados raramente. D981f Dutton, Mark. Fisioterapia ortopédica [recurso eletrônico] : exame, avaliação e intervenção / Mark Dutton ; tradução: Paulo Henrique Machado, Maria da Graça Figueiró da Silva ; revisão técnica: Débora Grace Schnarhdorf, Silviane Machado Vezzani. – 2. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2010. Editado também como livro impresso em 2010. ISBN 978-85-363-2371-8 1. Fisioterapia ortopédica. I. Título. CDU 615.8:616-089.23 Catalogação na publicação: Renata de Souza Borges CRB-10/1922 Iniciais_Eletronico.p65 1/6/2010, 10:112 C A P Í T U L O 7 CONCEITO DE FUNÇÃO OBJETIVOS DO CAPÍTULO � Ao concluir o capítulo, o leitor será capaz de: 1. Listar os vários componentes do processo de incapacidade e discutir cada um deles. 2. Diferenciar dano, limitações funcionais e incapacitação. 3. Descrever alguns modelos do processo de incapacitação. 4. Discutir as variáveis que influenciam o processo patologia-incapacitação. 5. Descrever os propósitos de ferramentas específicas para medições de doenças. 6. Demonstrar conhecimento acerca dos vários métodos de medição de dano, limitações funcionais e incapacitação. VISÃO GERAL Você não precisa ser incapacitado para ser diferente – todos são diferentes. Kim Peek (1951–) Talvez um dos mais importantes desenvolvimentos na assistência médica na última década seja o reconhecimento da importância da percepção do paciente sobre a saúde e os resultados funcio- nais.1 Esse reconhecimento mudou o foco de exames, avaliações e diagnósticos subsequentes da fisioterapia para o reconhecimen- to dos danos e sua relação com quaisquer limitações ou incapaci- tações funcionais. � Danos. Danos, de acordo com o Guide to Physical Therapist Practice, representam uma perda ou anormalidade da estrutu- ra ou função anatômica, fisiológica ou psicológica.2 Nem to- dos os danos são modificados pelo fisioterapeuta e nem todos causam limitações da atividade e restrição na participação. Dois tipos de danos são reconhecidos: Dano primário – pode resultar de patologia ativa ou de doen- ça. O dano primário pode criar danos secundários, levando a patologias secundárias. Dano secundário – origina-se do dano primário e da patologia. � Limitação funcional. O termo limitação funcional refere-se à restrição, apresentada por um indivíduo, da capacidade de executar uma atividade física ou tarefa de maneira eficiente, comumente esperada ou competente. � Incapacitação. O termo incapacitação refere-se, tradicional- mente, a uma ampla categoria de limitações diversas na capa- cidade de atender as demandas sociais ou ocupacionais.3 De- ficiência foi o termo historicamente usado para descrever in- capacitação. Devido às conotações negativas associadas ao ter- mo, várias organizações passaram a usar o termo incapacita- ção para enfatizar as atividades específicas que as pessoas conseguem executar, assim como para identificar como o ambiente pode ser modificado para permitir que os indiví- duos executem atividades associadas a várias necessidades sociais ou ocupacionais.3 Modelos de incapacitação Os modelos de incapacitação têm como objetivo detalhar conse- quências e relações, dano e limitações funcionais da doença. Muitos modelos de incapacitação foram propostos ao longo dos anos.4-10 A maioria deles se baseia no modelo de Nagi, que repre- senta a relação entre as seguintes séries de eventos correlatos:7,11 patologia/fisiopatologia (presença da doença), que pode provocar danos (anormalidades anatômicas e estruturais), os quais, por sua vez, podem causar limitações funcionais (restrições a ações men- tais e físicas básicas), que, por fim, resultam na incapacitação (di- ficuldade para executar as atividades rotineiras). O Guide to Phy- sical Therapist Practice2 emprega a terminologia do modelo de incapacitação de Nagi, mas também descreve seu esquema de tra- balho como sendo consistente com outros modelos de incapaci- tação. Os modelos de incapacitação exemplificam o mecanismo ou o percurso de uma associação.12 Usando a artrite reumatoide como exemplo de patologia, esse tipo de associação revela evidências de que danos como as deformações articulares resultam em incapa- citação, causando limitações funcionais. Há padrões semelhantes de associação entre duração da doença e os sinais e sintomas arti- culares. Esses padrões fundamentam a ideia de que a associação entre a duração da doença e a incapacitação é controlada pelos sinais e sintomas articulares.12 07-CAP-Fisioterapia-Ortopédica.p65 6/5/2010, 09:10174 CAPÍTULO 7 • CONCEITO DE FUNÇÃO 175 Embora haja um grau de inevitabilidade em muitos modelos de incapacitação, uma série de fatores pode causar impactos no caminho da patologia-incapacitação ou no processo de incapaci- tação. Em 2001, o Comitê Executivo da Organização Mundial de Saúde aprovou a Classificação Internacional de Funcionamen- to, Incapacidade e Saúde (ICF, do inglês International Classifica- tion of Functioning, Disability and Health). A ICF enfatiza “com- ponentes da saúde”, em vez de “consequências da doença” (i.e., participação, em vez de incapacitação) e “fatores ambientais e pessoais como importantes determinantes da saúde”. Alguns des- ses fatores são modificáveis, outros não. As características de uma doença que não são receptíveis à modificação podem ser chama- das de variáveis contextuais. Essas características inatas incluem ida- de, sexo, origem étnica e condições socioeconômicas. Por sua vez, os fatores modificáveis são características que os indivíduos podem con- trolar ou ajustar. O impacto exercido por estes sobre o percurso da patologia-incapacitação ou sobre o processo de incapacitação depen- de da capacidade dos indivíduos e das expectativas impostas pelo ambiente social e ocupacional imediato.13 Escalante e del Rincon12 utilizam o termo modificadores externos para descrever aquelas condi- ções secundárias que influenciam o nível de incapacitação, mas não estão diretamente relacionadas ao próprio processo da doença (Fig. 7-1). Esses modificadores externos incluem a presença de depressão ou comorbidade (p. ex., dores causadas por pressão, contraturas, in- fecções no trato urinário). Definições mais amplas para essas condi- ções incluem autoconceito, trabalho e participação social, consequên- cias econômicas relacionadas à saúde do indivíduo e da família e outros membros da família.10,14 Exemplos específicos de fatores modificáveis para o paciente incluem: � Nível de atividade. Uma série de estudos associou os níveis de atividade física e o início da incapacitação.15-26 � Reação à doença. Diferentes origens culturais estão associa- das a diferentes crenças sobre dor, estratégias de enfrentamento, expressões de dor e resposta ao cuidado com a saúde.27,28 O termo papel de doente foi usado para definir um estado que o próprio indivíduo pode associar a si mesmo e que outros mem- bros da sociedade podem consensualmente associar a uma con- dição médica.13 O papel de doente de um indivíduo reflete não somente sua condição primária, mas também quaisquer condições secundárias ou adicionais.5,29 � Origem educacional. Pacientes com menor educação formal tendem a ter aumento da frequência de incapacitação.30,31 � Estratégias compensatórias e coberturade seguro-saúde. Al- gumas pessoas simplesmente não têm recursos emocionais e sociais para enfrentar os problemas da vida, em especial em tempos de adversidade.32 � Tolerância à dor e motivação. Vários estudos28,33 revelam diferenças étnicas e de gênero em resposta a dores clínica e experimental. De forma específica, os investigadores indica- ram recentemente que os afro-americanos registram níveis de dor maiores do que os brancos para condições como glauco- ma, síndrome da imunodeficiência adquirida, enxaqueca, dor de cabeça, dor na mandíbula, dor pós-operatória, dor miofascial, angina, dor nas articulações, dor diária não espe- cífica e artrite.34 As interpretações desses achados permane- cem difíceis, contudo, por causa da diferença potencial entre os grupos na gravidade da doença e tratamento médico.34 Exis- FIGURA 7-1 O processo de incapacitação. (Reproduzida, com permissão, de Dutton M: Manual Therapy of the Spine, New York: McGraw-Hill, 2001: 5.) Modificadores externos Idade Sexo Educação Renda Origem étnica Estado civil Apoio social Modificadores específicos Situação econômica Variáveis contextuais Comorbidade Depressão Outras medicações Autoeficácia Intervenções incorretas Reações adversas às intervenções Uso de álcool e outros comportamentos de estilo de vida Cobertura de Seguro-saúde Litígio Patologia Dano Limitações funcionais Incapacitação 07-CAP-Fisioterapia-Ortopédica.p65 6/5/2010, 09:10175 176 SEÇÃO I • FUNDAMENTOS DA ORTOPEDIA tem, também, registros desiguais sobre diferenças observadas entre os sexos na sensibilidade à dor em humanos e animais, indicando que as mulheres têm tolerância menor à dor do que os homens.35-37 Porém, não está claro se as mulheres são mais propensas a relatar a dor do que os homens ou se a sen- tem de maneira diferente do que os homens. Quaisquer que sejam as razões para as diferenças na tolerância à dor, há indí- cios suficientes para supor que quaisquer melhorias na tole- rância à dor e na motivação possam ser instrumentos adequa- dos na redução do dano e da incapacidade. O modelo da adap- tação à dor crônica de Lund e colaboradores38 descreve dimi- nuição da ativação dos músculos durante os movimentos nos quais eles agem como agonistas e aumento da ativação duran- te os movimentos em que adotam o papel de antagonistas. Essas mudanças na ativação muscular, características de vá- rios tipos de dor musculoesquelética crônica, são descritas como adaptação protetora normal para evitar mais dor e pos- síveis danos.38 � Hábitos pessoais e relacionados à saúde. O elo entre inca- pacitação e comportamento de saúde, como o abuso de álcool, é sutil, pois existem muitas trajetórias possíveis. A ligação entre peso corporal e morbidade e mortalidade foi largamente examinada, mas poucas pesquisas investigaram a relação entre peso do corpo e incapacitação. Entre os es- tudos que investigaram essa relação, os achados são incon- sistentes.39-42 � Nível de apoio social. A família é a unidade primária da so- ciedade e aquela na qual acontecem os primeiros e mais po- derosos aprendizados sociais.13 A literatura sobre o papel da família no desenvolvimento e manutenção da dor crônica e da incapacitação é extensa. Sistemas familiares disfuncionais podem promover, permitir e manter a dor crônica e a incapa- citação.13 � Estado civil. Há um número considerável de pesquisas evi- denciando que a reação do cônjuge pode modificar o com- portamento de pacientes com dor crônica e incapacitação.13 � Litígios e indenizações. Poucos assuntos relacionados à inca- pacitação deram origem a mais controvérsias do que as ques- tões de litígios, indenizações e rendas secundárias. A expe- riência clínica e jurídica é unânime ao expor que alguns recla- mantes aumentam ou exacerbam seu sintomas e incapacita- ções em diferentes graus durante o exame médico específico para ações jurídicas.13 Patologia e fisiopatologia O termo patologia é, talvez, autoexplicativo. Ele se refere ao diag- nóstico de quaisquer doenças, lesões, distúrbios ou condições anormais que sejam (1) caracterizados por um conjunto particu- lar de sinais e sintomas e (2) reconhecidos pelo paciente ou pelo médico como anormais.2,3,43 A patologia pode resultar em mudanças manifestadas como uma condição clínica que produz uma alteração no, ou que é atribuída ao, estado de saúde de um indivíduo. A patologia é primariamente identificada no nível celular, sendo em geral determinada pelo diagnóstico médico.2,3 A presença da pato- logia pode gerar sofrimento ou interferência no estado fun- cional. Sua gravidade e seu impacto sobre o estado funcional do paciente depende de vários fatores. Estes incluem, mas não se limitam a: � Comorbidade (o grau e a localização do edema, a qualidade do suprimento vascular, a presença de infecção e o grau de atrofia). � O estado geral de saúde do paciente. � A idade do paciente. � A situação nutricional do paciente. Os pacientes costumam ser encaminhados aos serviços de fisioterapia com diagnóstico médico baseado na patologia (p. ex., osteoartrite do quadril). Embora o conhecimento da pa- tologia e da fisiopatologia possam auxiliar o terapeuta a pre- ver o alcance, a gravidade e o prognóstico de uma condição específica, o diagnóstico médico não estabelece a maneira como tratar o paciente. Um diagnóstico de fisioterapia, no entanto, é um rótulo diagnóstico que identifica o impacto de uma con- dição ou função. Quando um paciente for encaminhado com o diagnóstico médico, há quatro cenários possíveis após o exa- me fisioterapêutico:2 1. Os achados clínicos são consistentes com o diagnóstico mé- dico. Esse cenário permite que os fisioterapeutas prossigam com intervenções que são justificadas pelas mudanças no es- tado funcional do paciente. 2. Os achados clínicos sugerem uma condição patológica ou fi- siopatológica que é inconsistente com o diagnóstico médico e está fora do alcance da prática da fisioterapia. Esse cenário requer que o fisioterapeuta reencaminhe o paciente ao médi- co ou a outro especialista. 3. Os achados clínicos sugerem a presença de uma condição patológica ou fisiopatológica adicional que não foi previamente identificada. Se essa nova condição estiver dentro do âmbito da prática da fisioterapia, o fisioterapeuta pode continuar tra- tando o paciente. Se, contudo, a nova condição fisiopatológi- ca estiver fora do escopo da prática fisioterapêutica, o pacien- te deverá ser reencaminhado a outro especialista (p. ex., um fonoaudiólogo). 4. Os achados clínicos não conseguem identificar as causas subjacentes. Com esse cenário, o fisioterapeuta continua testando os sinais e sintomas enquanto faz as intervenções que são justificadas pelas mudanças no estado funcional do paciente. Se a intervenção da fisioterapia for justificada, o seu objetivo é restaurar a função, tendo como foco da intervenção a redução e a prevenção dos fatores de risco e a diminuição do impacto dos danos, de limitações funcionais e de incapacidades.2 Danos O Guide to Physical Therapist Practice define dano como qual- quer perda ou anormalidade de estrutura ou função anatômica, fisiológica, mental ou psicológica que resulta em (1) mudanças subjacentes no estado normal e (2) contribui para a doença.2 As- sim, os danos podem ser vistos como anormalidades da estrutura ou da função de acordo com os sinais e sintomas. Verbrugge e Jette4 sugerem que os sintomas de doenças são, essencialmente, danos e acompanham o processo patológico. 07-CAP-Fisioterapia-Ortopédica.p65 6/5/2010, 09:10176 CAPÍTULO 7 • CONCEITO DE FUNÇÃO 177 Os danos têm o potencial de provocar dor e alterações sutis nas funções normais da articulação envolvida e nos tecidos adja- centes (Tabs. 7-1 a 7-3). Os danos podem manifestar-se de forma objetiva, por exemplo, pela redução da amplitude de movimen- to, deformidade articular, marcha anormal e perda de força, po- tência, resistência ou propriocepção. Os danos também podem manifestar-se de forma subjetiva, por exemplo, pela dor (ver a seguir), sensibilidade, rigidez matinal oufadiga. A definição de dano está relacionada a alguma forma de perda. Perda ou perda de uso se refere a mudanças de um estado normal ou pré-existente. O termo normal se refere a uma amplitude re- presentando o funcionamento saudável, que varia com a idade, o sexo e outros fatores, como as condições ambientais. Por exemplo, a amplitude de movimento normal para a flexão do joelho é de 150o.3 Embora uma perda de mais de 70o de flexão do joelho possa impedir a execução de atividades como entrar ou sair de uma banheira ou subir e descer escadas, o paciente ainda tem condi- ções de deambular pela casa. É importante observar que o dano e o funcionamento físico parecem ser algo distinto, que não possui, ne- cessariamente uma relação linear. Além disso, algumas medidas de dano não estão correlacionadas com a função do paciente, levantan- do dúvidas sobre sua eficácia como ferramentas de medição. O Guide to Physical Therapist Practice2 usa padrões de prática preferenciais dos grupos de danos musculoesqueléticos que ocor- rem juntos. Por exemplo: � O Padrão 4B faz referência a condições resultantes de distúr- bios posturais. � O Padrão 4C faz referência a condições resultantes de distúr- bios no desempenho muscular. � O Padrão 4D faz referência a condições resultantes de distúr- bios na mobilidade articular, na função motora, no desempe- nho muscular e na amplitude de movimento associadas a dis- funções do tecido conjuntivo. � O Padrão 4E faz referência a condições resultantes de distúr- bios na mobilidade articular, na função motora, no desempe- nho muscular e na amplitude de movimento associadas a in- flamações localizadas. � O Padrão 4F faz referência a condições resultantes de distúr- bios na mobilidade articular, na função motora, no desempe- nho muscular, na amplitude de movimento e na integridade reflexa associadas com distúrbios na coluna vertebral. � O Padrão 4G faz referência a condições resultantes de distúrbios na mobilidade articular, na função motora, no desempenho muscular e na amplitude de movimento associadas a fraturas. � O Padrão 4H faz referência a condições resultantes de distúr- bios na mobilidade articular, na função motora, no desempe- nho muscular e na amplitude de movimento associadas a ar- troplastia articular. � O Padrão 4I faz referência a condições resultantes de distúr- bios na mobilidade articular, na função motora, no desempe- nho muscular e na amplitude de movimento associadas a ci- rurgia óssea ou de tecido mole. � O Padrão 4J faz referência a condições resultantes de distúr- bios na função motora, no desempenho muscular, na ampli- tude de movimento, na marcha, na locomoção, no equilíbrio e na função motora associadas a amputações. � O padrão 5F faz referência a condições resultantes de distúr- bios na integridade nervosa periférica e desempenho muscular associadas a lesões nervosas periféricas. Cada padrão representa um diagnóstico ou classificação do dano. Os danos causados sobretudo por dores são integrados em todos os padrões de prática. A dor pode ter grande influência sobre a capacidade de funcionamento, dependendo de sua locali- zação e gravidade. Contudo, a percepção de dor é altamente in- dividual, podendo ser influenciada pela dor em diferentes graus. Embora não seja possível uma quantificação absoluta de dor, sua gravidade pode ser estimada utilizando-se uma escala analógica visual ou uma escala numérica. Escalas mais complexas incluem o Índice de Incapacitação da Dor (PDI; do inglês Pain Desability Index)1,44,45 (Tab. 7-4) e o Questionário McGill para Dor (MPQ; do inglês McGill Pain Questionnaire)46-48 (ver Cap. 8). O PDI é um instrumento de autorregistro usado para avaliar o grau no qual a dor crônica interfere em várias atividades diá- rias. O PDI consiste em uma série de escalas de 0 a 10 nas quais o indivíduo classifica a interferência relacionada à dor. As sete categorias da escala abordam responsabilidades familiares/domés- ticas, recreação, atividade social, ocupação, comportamento se- xual, autocuidado e atividades que garantem a vida (p. ex., co- mer, dormir e respirar). Um estudo inicial1 descobriu que o PDI é efetivo em discriminar pacientes imediatamente após a cirurgia (alto comprometimento) daqueles que tiveram alta da cirurgia há vários meses (baixo comprometimento).1 Um estudo subse- quente45 evidenciou que o PDI é sensível a diferenças entre pa- cientes ambulatoriais (baixo comprometimento) e hospitalizados (alto comprometimento) com dor crônica.44 O MPQ contém uma lista de palavras selecionadas para refle- tir os componentes sensoriais, afetivos e avaliar os componentes da experiência da dor (ver Cap. 8). Um dos objetivos do processo de exame é determinar quais danos estão relacionados às limitações funcionais do paciente. Após a identificação desses danos, é possível determinar quais podem ser solucionados por intervenções fisioterapêuticas. Curiosidade Clínica Vale a pena observar que existem várias definições de danos, além do campo da fisioterapia. Por exemplo o Guide to the Evaluation of Permanent Impairment,3 da American Medical Association (AMA) classifica os danos usando a escala do indivíduo como um todo (WP, do inglês whote person). Nessa escala, um escore de percenta- gem é designado a um indivíduo dependendo da quantidade de danos. Uma escala WP de 0% é dada a um indivíduo com dano se não houver consequências significativas no sistema funcional de um órgão ou do corpo e o desempenho das atividades comuns da vida diária (AVDs) resumidas na Tabela 7-5 não estiver limitado. A classificação de dano de 90 a 100% implica danos sistêmicos gra- ves em um órgão ou no corpo, tornando o indivíduo dependente do auxílio de outras pessoas para a realização do cuidado pessoal, ou seja, está aproximando-se da morte. Limitações funcionais A limitação funcional é definida pelo Guide to Physical Therapist Practice como a restrição da capacidade de executar uma ação física básica, tarefa ou atividade de uma maneira eficiente, comu- 07-CAP-Fisioterapia-Ortopédica.p65 6/5/2010, 09:10177 178 SEÇÃO I • FUNDAMENTOS DA ORTOPEDIA Categoria II (5 a 8% de danos no indivíduo como um todo) A história e os achados clínicos feitos são compatíveis com uma lesão específica; os achados podem incluir defesa ou espasmo muscular significativo observado durante o exame, perda assimétrica da amplitude de movimento, ou queixas radiculares não verificáveis, definidas como queixas de dor radicular sem achados objetivos; nenhuma alteração da integridade estrutural e nenhuma radiculopatia significativa, ou O indivíduo apresenta radiculopatia clinicamente significativa e o estudo de imagens revela hérnia de disco nesse nível e na parte lateral que pode ser esperada com base em radiculopatia prévia, mas não apresenta mais radiculopatia após o tratamento sem cirurgia, ou Fraturas: (1) <25% de compressão do corpo vertebral; (2) fratura do elemento posterior sem luxação (sem espondilólise em desenvolvimento) que cicatrizou sem alteração da integridade do segmento de movimento; (3) fratura no processo espinal ou transverso com luxação sem fratura do corpo vertebral que não partiu o canal espinal. Categoria III (10 a 18% de danos no indivíduo como um todo) Sinais significativos de radiculopatia, como dores dermatômicas e/ou distribuição dermatômica, perda sensorial, perda de reflexos relevantes, perda de força muscular ou atrofia unilateral, medida acima ou abaixo do joelho, comparada com medidas no lado contralateral na mesma localização; o dano pode ser verificado por meio de achados eletrodiagnósticos ou História de hérnia de disco nivelado ou no lado compatível com os achados clínicos objetivos, associada a radiculopatia, ou indivíduos que foram submetidos a cirurgia para radiculopatia, mas que agora estão assintomáticos ou Fraturas: (1): 25 a 50% de compressão do corpo vertebral; (2) fratura do elemento posterior com luxação, rompendo o canal espinal: em ambos os casos, a fratura cicatrizou sem alteração da integridade estrutural. CategoriaIV (20 a 23% de danos no indivíduo como um todo) Alterações na integridade do segmento de movimento definidas a partir de radiografias de flexão e extensão de, no mínimo, 4,5 mm de translação de uma vértebra sobre a outra ou movimento angular maior do que 15% em L1-2, L2-3 e L3-4, maior do que 20o em L4-5 e maior do que 25o em L5-S1; pode ter perda de movimento completa ou quase completa no segmento de movimento devido à fusão evolutiva ou a tentativa bem ou malsucedida de artrodese cirúrgica ou Fraturas: (1) >50% de compressão de um corpo vertebral sem comprometimento neurológico residual. TABELA 7-1 Critérios para classificar danos causados por distúrbios na coluna lombar Categoria I (0% de danos no indivíduo como um todo) Não há achados clínicos significativos, nenhuma defesa muscular, nenhum espasmo, nenhum dano neurológico perceptível, nenhuma alteração documentada na integridade estrutural e nenhuma outra indicação de dano relacionado a lesões ou doença; nenhuma fratura. Categoria V (25 a 28% de danos no indivíduo como um todo) Satisfaz as categorias de Critérios III e IV; isto é, a radiculopatia e a alteração da integridade do segmento de movimento estão presentes; o dano significativo na extremidade inferior está presente como indicado pela atrofia ou perda de reflexos, dor e/ou mudanças sensoriais dentro da distribuição anatômica (dermatômica) ou achados eletromiográficos como afirmado na Categoria lombossacral III e alteração da integridade do segmento de movimento na coluna como definido na Categoria lombossacral IV ou Fraturas: (1) maior do que 50% de compressão de um corpo vertebral com comprometimento neurológico unilateral. American Medical Association: Guides to the Evaluation of Permanent Impairment, 5th edn. Chicago, IL: American Medical Association, 2001. Com permissão da American Medical Association. mente esperada ou competente.2 Em outras palavras, limitações funcionais são restrições na execução de ações físicas e mentais básicas. Exemplos de limitações funcionais incluem dificuldade em caminhar e a incapacidade de calçar sapatos. A grande maio- ria dos testes tradicionais utilizados nas clínicas de fisioterapia, como amplitude de movimento e força, são medidas de danos, não de funções. As medidas das limitações funcionais incluem teste de desempenho sensório-motor durante atividades como ca- minhar, escalar, flexionar, mudar de lugar, erguer e carregar.2 É importante que essas medidas avaliem a capacidade do paciente de executar tarefas que ele considere importantes (Tab. 7-6). O processo de identificação de metas funcionais significati- vas e factíveis deve ser um esforço conjunto entre o terapeuta e o paciente, a família do paciente ou outras pessoas significativas.2 Para identificar os objetivos funcionais, Randall e McEwen49 re- comendam os seguintes passos: 07-CAP-Fisioterapia-Ortopédica.p65 6/5/2010, 09:10178 CAPÍTULO 7 • CONCEITO DE FUNÇÃO 179 TABELA 7-2 Critérios para classificar danos causados por lesões na coluna torácica Categoria I (0% de danos no indivíduo como um todo) Nenhum achado clínico, nenhum espasmo ou defesa muscular observados, nenhum dano neurológico perceptível, nenhuma alteração documentada na integridade estrutural e nenhuma outra indicação de dano relacionado a lesões ou doença; nenhuma fratura. American Medical Association: Guides to the Evaluation of Permanent Impairment, 5th edn. Chicago IL: American Medical Association, 2001. Com permissão da American Medical Association. Categoria II (5 a 8% de danos no indivíduo como um todo) A história e os achados clínicos são compatíveis com doença ou danos específicos; os achados podem incluir defesa ou espasmo muscular significativo durante o exame, perda assimétrica de amplitude de movimento (dismetria) ou queixas radiculares não- verificáveis definidas como queixas de dor radicular sem achados objetivos; nenhuma alteração na integridade do segmento do movimento ou Hernia de disco nesse nível e na lateral a partir de achados clínicos objetivos, mas sem sinais radiculares após tratamento conservador ou Fraturas: (1) <25% de compressão do corpo vertebral; (2) fratura do elemento posterior, sem luxação, que cicatrizou sem alteração da integridade do segmento de movimento ou radiculopatia; (3) fratura do processo transversal ou espinal com luxação, embora sem fratura do corpo vertebral. Categoria III (10 a 18% de danos no indivíduo como um todo) Dano neurológico nas extremidades inferiores relacionado a lesão toracolombar documentada pelo exame das funções sensorial e motora, reflexos ou achados de atrofia unilateral acima ou abaixo do joelho não relacionados com nenhuma outra condição; o dano pode ser verificado pelo teste eletrodiagnóstico ou Radiculopatia clinicamente significativa verificada pelo estudo de imagens que indica a presença de hérnia de disco nesse nível ou lateral, que geralmente é esperada a partir dos achados clínicos objetivos, história de radiculopatia que melhorou após o tratamento cirúrgico ou Fraturas: (1) 25 a 50% de compressão de um corpo vertebral; (2) fratura do elemento posterior com leve luxação rompendo o canal espinal: em ambos os casos, a fratura cicatrizou sem alteração da integridade estrutural; deve ser feita a diferenciação entre condição congênita ou evolutiva, se possível, por meio de exames de roentgenogramas de pré- -lesão, se disponíveis, ou pelo exame ósseo feito após o início da condição. Categoria IV (20 a 23% de danos no indivíduo como um todo) Alteração na integridade do movimento ou radiculopatia bilateral ou multinível; a alteração na integridade do segmento do movimento é definida a partir das radiografias de flexão e extensão, como a translação de uma vértebra sobre a outra de mais de 2,5 mm; as radiculopatias, de acordo com a definição da Categoria torácica III não precisam, necessariamente, estar presentes se houver alteração da integridade do segmento de movimento; se o indivíduo for colocado na Categoria torácica IV DRE (Diagnóstico Relacionado Estimado); a última deve ser bilateral ou envolver mais de um nível ou Fraturas: (1) >50% de compressão do corpo vertebral sem comprometimento neurológico residual. Categoria V (25 a 28% de danos no indivíduo como um todo) Danos nas extremidades inferiores de acordo com a definição da Categoria toracolombar III e perda da integridade estrutural de acordo com a definição na Categoria torácica IV ou Fraturas: (1) >50% de compressão do corpo vertebral com comprometimento motor neural, mas sem envolvimentos bilaterais que possam qualificar o indivíduo para avaliação do trato corticospinal. 1. Determinação do resultado esperado pelo paciente. 2. Desenvolvimento do conhecimento das atividades de autoa- juda, trabalho e lazer e os ambientes em que essas atividades ocorrem. 3. Determinação, em conjunto com o paciente, dos objetivos relacionados aos resultados pretendidos (ver Tab. 7-6).49 Após obter consenso sobre os objetivos, o fisioterapeuta deve descrevê-los de modo que contenham os seguintes elementos:49,50 � Quem (o paciente) � Fará o quê (atividades) � Sob quais condições (no ambiente domiciliar ou de tra- balho) 07-CAP-Fisioterapia-Ortopédica.p65 6/5/2010, 09:10179