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Avaliação em �sioterapia neurofuncional Isabela Andrelino de Almeida Shigaki Descrição Avaliação em Fisioterapia Neurofuncional e sua aplicabilidade para a compreensão do quadro clínico, identificação da topografia da lesão, e para a elaboração do plano de tratamento fisioterapêutico após lesão no sistema nervoso. Propósito A avaliação em Fisioterapia Neurofuncional bem executada, por meio de exames e testes adequados ao tipo e ao local em que ocorreu a disfunção neurológica, é essencial para a elaboração do diagnóstico fisioterápico e é a principal ferramenta de auxílio ao profissional na elaboração do plano de tratamento após dano ao sistema nervoso. Objetivos Módulo 1 Identi�cando os itens do exame neurológico Identificar os itens do exame neurológico e sua aplicabilidade clínica após dano ao sistema nervoso. Módulo 2 Aplicando testes funcionais Aplicar os testes funcionais em neurologia de maneira adequada após dano ao sistema nervoso. Módulo 3 Interpretando a avaliação neurológica Formular o diagnóstico fisioterápico neurofuncional a partir da interpretação da avaliação neurológica. Introdução A avaliação fisioterapêutica, de uma maneira geral, é o ponto de partida para o estabelecimento do diagnóstico funcional, para a tomada de decisão, o estabelecimento de metas e a elaboração do plano de tratamento dos pacientes, pois é a partir dela que o profissional expressa o raciocínio clínico, que é a base do gerenciamento do paciente. Vale ressaltar que esse raciocínio clínico envolve alguns processos, tais como as habilidades, as experiências e o conhecimento, além de sua capacidade de traçar estratégias de solução de problemas. Quando estudamos a avaliação em Fisioterapia Neurofuncional, é importante destacarmos algumas particularidades, pois, além do exame físico, que envolve testes neurológicos específicos e exames motores clássicos da fisioterapia, devemos compreender a maneira de avaliar e a indicação de alguns itens, dependendo do local da lesão, para sermos capazes de classificar o indivíduo corretamente, a partir do quadro clínico e das alterações que ele apresente. Sendo assim, você aprenderá a realizar uma avaliação em Fisioterapia Neurofuncional e sua aplicabilidade clínica na elaboração do diagnóstico fisioterapêutico, que contribuirá para o seu desenvolvimento do raciocínio clínico e da elaboração de estratégias e planos de tratamento. 1 - Identi�cando os itens do exame neurológico Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os itens do exame neurológico e sua aplicabilidade clínica após dano ao sistema nervoso. Exame neurológico O principal papel da fisioterapia no manejo de pacientes com disfunção neurológica é a avaliação e o treinamento das funções motoras diárias, de modo que o indivíduo possa retornar às atividades de lazer, às domésticas e de trabalho, e à sua função independente na sociedade. A prática da fisioterapia, portanto, envolve a coleta de informações objetivas sobre a disfunção, a fim de facilitar o entendimento do quadro clínico e de informações precisas sobre a habilidade de desempenho do indivíduo nas tarefas motoras mais importantes para o seu dia a dia. Essas informações, adquiridas no início do tratamento fisioterápico, são fundamentais para planejamento, evolução e modificação do programa de tratamento. As informações coletadas de maneira adequada fornecem o conhecimento necessário para o planejamento de exercícios e práticas apropriadas, mas também podem ser usadas para comparar dados em grupos de pacientes dentro de um centro e entre centros ou países, sendo uma importante ferramenta para a pesquisa científica. Portanto, trata-se de um meio fundamental de estabelecer a melhor prática e fazer mudanças para práticas ainda melhores, à medida que novos métodos de intervenção são desenvolvidos. Neste módulo, discutiremos as etapas que fazem parte da avaliação em Fisioterapia Neurofuncional e sua aplicabilidade clínica nessa população de pacientes. Iniciaremos com o estudo da anamnese e, então, falaremos sobre o exame físico, identificando os testes específicos utilizados em neurologia. Anamnese em neurologia A primeira etapa do processo de avaliação é a anamnese, que significa trazer à memória os sintomas, por meio de uma entrevista do profissional com o paciente, com a intenção de ser um ponto inicial no diagnóstico funcional de uma doença. Busca-se relembrar todos os fatos que se relacionam com a doença. Pode ocorrer de forma livre, ou seja, com o relato espontâneo do paciente, ou de maneira dirigida, quando o avaliador conduz a entrevista. Deve- se procurar, dentro do máximo possível, “traduzir” a queixa do paciente, sem o induzir em suas respostas. Como elementos fundamentais da anamnese, podemos destacar a tentativa de precisar, dentro do possível, a época em que iniciaram os sintomas e, a partir de então, questionar ao paciente quanto à evolução cronológica dos eventos. Exemplo Pensando no paciente neurológico, se o início dos sintomas for de natureza aguda (minutos ou horas), sobressai uma causa vascular; se de natureza subaguda (poucos dias), geralmente, está associada à causa inflamatória. Ainda nessa linha de pensamento, se o início dos sinais são imprecisos e apresentam evolução gradual e progressiva, suspeita-se de doenças degenerativas, principalmente, se estiver evoluindo de modo simétrico. Se esse mesmo tipo de progressão for de maneira assimétrica, sugere causas relacionadas a processos expansivos. Também existe a possibilidade de a doença estar evoluindo por surtos, com períodos de melhora ou piora, característica de algumas doenças desmielinizantes, como a esclerose múltipla, por exemplo. Mesmo que o diagnóstico seja óbvio, a história fornece informações valiosas sobre a alteração neurológica, seu estado atual, seu prognóstico e o tratamento adequado. A história também permite que o avaliador determine o tipo de pessoa que o paciente é, sua linguagem e capacidade cognitiva e de articulação, qualquer tratamento que o paciente tenha recebido e o comportamento da lesão. Além da história da doença ou da lesão atual, o examinador deve anotar a história pregressa, o tratamento e os resultados relevantes. O histórico médico anterior deve incluir doenças graves, cirurgias, acidentes ou alergias. Em alguns casos, pode ser necessário investigar as histórias sociais e familiares do paciente, se elas parecerem relevantes. Padrões de hábitos de vida, incluindo padrões de sono, estresse, carga de trabalho e atividades recreativas, também devem ser observados. Por fim, as informações coletadas na anamnese de um indivíduo com diagnóstico de lesão no sistema nervoso envolvem ainda a referência a relevantes notas médicas, incluindo resultados de exames complementares, como os de imagem, tais como radiografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética, por exemplo, além de investigações sobre a condução elétrica das células nervosas, a partir do exame de eletroencefalograma ou eletroneuromiografia. Informações acerca de avaliações psicológicas e medicação em uso também podem ser importantes. Exame físico em neurologia Inspeção e palpação Durante a inspeção, seu objetivo é obter informações sobre visíveis defeitos, deficit funcionais e anormalidades. Grande parte da fase de observação envolve a avaliação da postura, e as descobertas ligadas a assimetrias são comuns. O avaliador deve observar a maneira de se mover do paciente, bem como a postura geral, e qualquer sinal de comportamento evidente de dor. A inspeção tem início no primeiro momento de contato com o paciente e já é possível observar a marcha, mesmo que ainda superficial, podendo detectar alguns problemas, como sinal de Trendelenburg ou pé caído, por exemplo. Sendo assim, de maneira geral, a partir da inspeção, alguns itens podem ser relevantes, tais como: Com quem o paciente chegou acompanhado. Se ele se apresenta comunicativo e colaborativo. Se a inspeção ocorrer em ambientehospitalar, é importante coletar informações sobre postura no leito, uso de acessos e sondas, além de padrões respiratórios e dispositivos auxiliares respiratórios, como uso de cateter, máscaras de oxigenação e uso de ventilação não invasiva ou invasiva. Durante o momento de palpação, o profissional deve tocar no paciente, sendo possível identificar: 1. Presença de edemas 2. Quadro de dor ao toque 3. Aferição dos sinais vitais básicos 4. Trofismo muscular Em relação aos sinais vitais, vale lembrar que são medidas que fornecem dados fisiológicos e indicam as condições de saúde do paciente. A frequência cardíaca é um desses sinais, que pode ser observada a partir da palpação da artéria radial e, então, contar o número de batimentos em um minuto, além de ser possível observar o ritmo e a intensidade. Como se locomove e deambula. Se há necessidade de algum dispositivo auxiliar para locomoção. Se há presença de algum padrão patológico instalado. Se há deformidades, assimetrias, lesões ou cicatrizes aparentes. Atenção! Vale lembrar ainda que, em indivíduos adultos, espera-se que esteja em torno de 80 batimentos por minuto. Também deve ser realizada a avaliação dos outros sinais vitais, como a frequência respiratória, a pressão arterial, a temperatura e a ausculta pulmonar básica, se houver indicação. Ainda sobre a palpação, a avaliação de trofismo envolve o toque nos principais grupos musculares e que apresentam maior volume, tais como flexores e extensores de cotovelo, flexores e extensores de joelho, e plantiflexores, devendo sempre ser realizado de maneira bilateral e comparativa. Quando o volume muscular está preservado, é classificado como normotrofia; quando está diminuído, classifica-se como hipotrofia; e se estiver aumentado, o que não é comum em pacientes com disfunção neurológica, pode ser classificado como hipertrofia. Tônus muscular O tônus muscular representa a integridade neurológica do paciente e é definido como um estado de semicontração basal da musculatura estriada esquelética, e a maneira mais simples e bastante objetiva de avaliá-lo é a partir da movimentação passiva das articulações dos membros superiores e inferiores e observado o grau de resistência existente. É importante realizar essa movimentação em diferentes velocidades e graus de amplitude de movimento, pois o tônus é sensível a esses aspectos e sempre de modo comparativo com os dois lados do corpo. Avaliação passiva do tônus muscular do membro superior. Classificamos como normotonia o tônus muscular considerado normal; hipotonia, quando está diminuído ou flácido, comum em doenças que comprometam o sistema nervoso periférico, o cerebelo e também algumas síndromes, como é o caso da síndrome de Down, por exemplo. E ainda podemos classificar como hipertonia, quando há aumento do tônus, que pode ser dividido em dois tipos: elástica ou plástica. Hipertonia elástica (espasticidade) apresenta um caráter seletivo, e também pode ser chamada de sinal do canivete. Esse tipo ocorre quando há lesão na via piramidal, normalmente, acompanhado de respostas reflexas exacerbadas e que favorecem a instalação de um padrão patológico, comuns nos acidentes vasculares encefálicos, por exemplo. Hipertonia pós-acidente vascular encefálico no membro superior direito. Se apresenta de modo generalizado, e é também chamado de cano de chumbo ou roda denteada, e está presente quando há lesão em vias extrapiramidais, como é o caso da doença de Parkinson. Amplitude de movimento articular A avaliação de amplitude de movimento pode ser realizada de algumas maneiras, como de forma passiva, mobilizando todas as articulações e, então, registrando se há limitação de movimento e por qual motivo, como encurtamentos, deformidades ósseas, bloqueios articulares, tônus muscular ou dor, por exemplo. De uma maneira mais objetiva, também é possível avaliar por meio da goniometria, com o uso de um instrumento que mensura a angulação articular, de uma forma padronizada quanto aos fatores anatômicos e pontos de referência. Hipertonia plástica Teste com o goniômetro para medir a amplitude da articulação do joelho. Motricidade voluntária e involuntária O movimento voluntário pode ser avaliado por meio da solicitação dos movimentos ativos e dos testes de força muscular. A solicitação dos movimentos requer que o paciente apresente algum grau de compreensão. Veja abaixo Membro inferior É pedido que o paciente execute os movimentos de flexão e extensão dos artelhos, planti e dorsiflexão, flexão e extensão de joelhos e quadris, além de adução e abdução de quadris. Membro superior É pedido que o paciente realize flexão, extensão, adução e abdução de ombros, flexão e extensão de cotovelo, punho e dedos. A partir da solicitação dos movimentos ativos, o examinador observa e descreve se o movimento solicitado é realizado, com simetria, sequenciamento, se ocorre com bom controle e coordenação, se completa todo arco de movimento e atinge o alvo proposto. O paciente, então, é classificado com quadro de paresia, quando há deficit de movimento ou com quadro de plegia, que ocorre quando há ausência de movimento (MAGEE, 2010). Ainda podem ser realizados testes específicos de força muscular, mais indicados para identificar o nível motor em pacientes com lesões medulares e também em lesões do sistema nervoso periférico. É realizado colocando o músculo ou grupo muscular a ser testado em posição de teste, e aplicada resistência isométrica e o nível de força muscular é graduado segundo a escala MRC (Medical Research Council of The United Kingdom, o Conselho de Pesquisa Médica do Reino Unido), atribuindo graus de força que variam de 0 a 5. Aplicação do teste de força muscular para os flexores de cotovelo. Após a aplicação da escala MRC, a classificação ocorre do seguinte modo: Em relação à motricidade, devemos avaliar as respostas motoras de caráter involuntário, característico de alterações nas vias extrapiramidais, avaliado por meio de observação. Os principais movimentos involuntários encontrados são o tremor de repouso, presente na doença de Parkinson e parkinsonismos; o 0 é a ausência de contração muscular. 1 é encontrado uma contração palpável. 2 há presença de movimento sem a ação da gravidade. 3 há presença de movimento contra a ação da gravidade. 4 ocorre movimento contra resistência leve. 5 é considerado grau máximo de força, vencendo a resistência manual do examinador. tremor de intenção, encontrado nos distúrbios vestibulares; os movimentos coreicos; e as distonias, alterações que cursam com flutuações de tônus muscular. Avaliação do movimento A especialista Isabela Andrelino de Almeida Shigaki abordará o conteúdo teórico e conceitual sobre a aplicabilidade clínica da avaliação da motricidade voluntária nos diferentes tipos de lesões neurológicas (encefálicas, medulares e periféricas) e o impacto da correta avaliação para a elaboração do plano de tratamento do paciente. Respostas re�exas A avaliação das respostas reflexas é uma etapa fundamental do exame neurológico, pois não depende do paciente e proporciona elementos importantes para a interpretação diagnóstica. A literatura aponta uma grande quantidade de reflexos; no entanto, na rotina de um exame, podemos observar que muitos carecem de objetividade. Portanto, a seguir, serão descritos os comumente investigados na prática clínica. Para avaliar os reflexos profundos, que são os de estiramento fásico, o profissional realiza a percussão de alguns tendões com um instrumento, conhecido como martelo de reflexos, que gera um pequeno estiramento capaz de ativar proprioceptores localizados nessa estrutura e uma resposta reflexa, por meio da ativação do arco reflexo. Essa avaliação deve ser realizada sempre de maneira bilateral e comparativa. Ativação do arco reflexo após percussão do tendão patelar. Entre os reflexos de membro inferior, vale destacar o reflexo patelar, que deve ser avaliado com o paciente em uma posturarelaxada, com flexão de joelho, e, então, o examinador golpeia o tendão patelar e espera observar como resposta a contração rápida (fásica) do quadríceps, por meio da extensão involuntária do joelho. Outro reflexo do membro inferior que merece destaque é o aquileu, que pode ser avaliado com o paciente em decúbito dorsal, com o membro inferior flexionado, com o terço distal do membro sobre a perna contralateral, ficando o pé “livre”. O examinador, então, exerce uma leve dorsiflexão e golpeia o tendão aquileu e espera-se como resposta a plantiflexão. Percussão do tendão patelar. Entre os reflexos de membro superior, é recomendada a avaliação dos seguintes: Percutindo a região da apófise estiloide do cúbito, com o membro em ligeira supinação, e espera-se a pronação da mão. Percutindo a região da apófise estiloide do rádio e espera-se a flexão do antebraço. Cubitopronador Estiloradial Avaliação do reflexo estiloradial. Com o antebraço do paciente “descansando” sobre o examinador, percutindo o tendão do bíceps e espera-se a flexão do cotovelo. Com o braço do paciente apoiado sobre a palma do examinador, percutindo o tendão do tríceps e como resposta espera-se a extensão do cotovelo. Avaliação do reflexo tricipital. Essas respostas podem ser classificadas como hiporreflexia (diminuição), hiperreflexia (aumento) e normorreflexia (normal). Respostas reflexas exaltadas são sinais de lesões no sistema nervoso central, patognomônicas de lesão de via piramidal e respostas diminuídas são características de lesão no sistema nervoso periférico. Bicipital Tricipital Devemos avaliar ainda os reflexos cutâneos, também chamados de superficiais, e vale destacar o sinal de Hoffman, que é realizado a partir da percussão da falange distal do dedo médio, e sua presença se expressa com a flexão dos dedos e também o cutâneo plantar, conhecido como sinal de Babinski, sendo realizado um estímulo no sentido de lateral para medial da planta do pé, e se a resposta for em extensão do hálux, o reflexo encontra-se presente. A presença desses reflexos cutâneos é um indicativo de lesão na via piramidal, presente, portanto, apenas em lesões no sistema nervoso central. Avaliação do reflexo cutâneo plantar e sua resposta positiva em extensão do hálux. Sistema sensorial A sensibilidade é outro tópico importante da avaliação, e pode ser dividida em superficial ou profunda. Embora seja um tópico importante do exame físico, ela depende da colaboração do paciente, o que torna esse item bastante subjetivo e leva em conta a experiência e a paciência do examinador. De uma maneira geral, a sensibilidade superficial investiga a integridade das sensações táteis nos segmentos corporais, que são as sensações exteroceptivas. Avaliação da sensação exteroceptiva com um pincel sensorial. Algumas particularidades devem ser levadas em conta ao avaliar a sensibilidade superficial, após lesão neurológica. Ao avaliar um paciente com lesão encefálica, o teste deve ser realizado passando um pincel nos segmentos corporais, tais como braço, antebraço, mão, tronco, coxa, perna e pé. Essa distribuição segue a representação das partes do corpo a partir do Homúnculo de Penfield, localizado no lobo parietal. Então, por esse motivo, a avaliação deve ser feita por segmento corporal. Atenção! Quando o paciente apresenta alguma lesão ou alteração na medula espinhal, o teste deve ser realizado a partir dos dermátomos, que irá investigar o local na medula espinhal em que há a lesão sensorial. E, se a lesão for no sistema nervoso periférico, comprometendo raízes e nervos, essa avaliação deve ser feita a partir dos territórios de inervação cutânea dos nervos que estão sendo investigados. A avaliação de sensibilidade profunda é realizada do mesmo modo, independentemente do local da lesão neurológica, e tem como função investigar a propriocepção consciente, ou seja, a capacidade em reconhecer a articulação no espaço, se ela está parada ou em movimento (cinética) e em qual posição se encontra (postural), sem o auxílio da visão. A articulação a ser avaliada deverá ser movimentada e, então, o paciente é questionado se ela está parada ou em movimento, e em qual posição se encontra. A classificação dos testes de sensibilidade, seja superficial ou profunda, refere-se à diminuição da sensação, chamada de hipoestesia; ao aumento da sensação, conhecida como hiperestesia; à sensação normal, normoestesia; ou a uma sensação estranha ou desagradável, chamada de parestesia. É importante destacar que deve se realizar de forma bilateral e comparativamente. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A avaliação do tônus muscular pode ser realizada por meio da movimentação passiva das articulações que se pretende avaliar, e é importante que seja realizada com mudança na velocidade. Ao avaliar um paciente que tenha sofrido um acidente vascular cerebral, com lesão na via piramidal, qual a provável classificação quanto ao tônus desse paciente? A Hipertonia do tipo plástica Parabéns! A alternativa D está correta. Um dos sinais característicos de lesão na via piramidal, a principal via motora, é a espasticidade, que inclui a hipertonia do tipo elástica, ou o sinal do canivete, e respostas reflexas exacerbadas. A hipertonia plástica é decorrente de lesão em vias extrapiramidais e a hipotonia ocorre em lesões de sistema nervoso periférico. Questão 2 O sistema sensorial apresenta algumas maneiras particulares de avaliação, dependendo do local em que ocorreu a lesão. De uma maneira geral, a avaliação da sensibilidade superficial ocorre por meio da investigação das sensações táteis, ou seja, exteroceptivas, e é realizada com o uso de um pincel nos segmentos corporais do paciente. Sobre essa avaliação, assinale a alternativa correta. B Hipertonia do tipo cano de chumbo C Normotonia D Hipertonia do tipo elástica E Hipotonia A A avaliação sensorial de um paciente com lesão medular deve ser feita por meio dos segmentos corporais, seguindo a representação das partes do corpo no córtex. B Em um paciente que sofreu lesão medular, a avaliação da integridade sensorial deve ser realizada por meio dos dermátomos. C Em pacientes que sofreram uma lesão nervosa periférica, a maneira de avaliar a integridade do sistema sensorial é a partir dos dermátomos, a fim de investigar a Parabéns! A alternativa B está correta. A avaliação da sensação exteroceptiva em pacientes com lesão neurológica é feita de acordo com o local lesionado. No caso de lesões encefálicas, a investigação deve ser feita a partir dos seguimentos corporais, já quando a lesão ocorreu na medula espinhal, deve ser realizada por meio dos dermátomos e, quando a lesão é periférica, essa avaliação deve ocorrer por meio do território de inervação dos nervos espinhais. 2 - Aplicando testes funcionais localização da alteração na medula espinhal. D A avaliação sensorial de um paciente com lesão encefálica deve ser realizada a partir dos territórios de inervação correspondente ao nervo ou à raiz nervosa que se pretende investigar. E A avaliação das sensações táteis em pacientes neurológicos deve ser realizada da mesma maneira, ou seja, a partir dos seguimentos corporais. Ao �nal deste módulo, você será capaz de aplicar os testes funcionais em neurologia de maneira adequada após dano ao sistema nervoso. Testes funcionais em neurologia Neste módulo, você conhecerá outros testes importantes em neurologia, que demandam um caráter mais funcional do processo de avaliação dessa população de pacientes. Novamente, discutiremos alguns itens que têm relação com a motricidade, tais como a coordenação motora e as manobras deficitárias, além de testes de equilíbrio, marcha, atividades funcionais e atividades de vida diária. Coordenação motora A pesquisa da coordenação motora é uma etapa indispensável do exame neurológico e envolve a utilização de manobras bastante simples, mas que exige compreensão do paciente.Além disso, em quadro de plegias ou paresias não há indicação de sua aplicação, pois a má execução nos testes pode ser devido ao deficit de movimento, em vez de alteração na coordenação de fato. Essas manobras podem ser indicadas nos casos de lesões em vias extrapiramidais e no cerebelo principalmente. Saiba mais Também vale ressaltar que, ao avaliar a marcha e o equilíbrio, assim como a motricidade voluntária, já é possível detectar alterações de coordenação (como nas ataxias que veremos na avaliação de marcha). Habitualmente, são utilizadas as seguintes manobras: Com o paciente em decúbito dorsal, solicitar que o paciente deslize o calcanhar sobre a tíbia oposta até a altura dos joelhos e retorne para a posição de início. Essa prova pode ser realizada em duas etapas, inicialmente, com os olhos abertos e depois sem o controle visual. Calcanhar-joelho O paciente, com os membros superiores em total abdução e com os indicadores em extensão, movimentará os membros no sentido de que as pontas dos indicadores toquem uma na outra, e a prova deve ser verificada com e sem o controle visual. Ainda existe uma variação dessa prova, conhecida como índex-nariz, na qual o paciente deve encontrar a ponta do indicador na ponta do nariz, bilateralmente. Esses testes, quando se encontram positivos, podem ser classificados com a presença de dismetria, que é quando o paciente não acerta o alvo ou, então, o ultrapassa e ainda pode apresentar a decomposição dos movimentos, que são sinais clássicos de ataxia e incoordenação motora. Outra prova de coordenação consiste em solicitar que o paciente repouse suas mãos sobre suas coxas, uma com a palma virada para cima e a outra virada para baixo, e é pedido que alterne a posição das mãos, alterando a velocidade. Se o paciente não consegue realizar o comando ele apresenta uma adiadococinesia, e se ele realiza, mas com dificuldade, pode ser classificado como disdiadococinesia, sinais de alterações na coordenação motora. Consiste em posicionar o membro superior do paciente apoiado em uma superfície, com flexão de cotovelo, e o terapeuta deve aplicar uma resistência manual no antebraço do paciente, no sentido da extensão, e soltar de maneira abrupta, para observar o controle da musculatura agonista e antagonista em frear o movimento e impedir que a mão do paciente acerte o seu próprio rosto, apontando também deficit de coordenação. Durante esse teste, é importante que a mão livre do terapeuta esteja protegendo o rosto do paciente. Índex-índex Diadococinesia Teste de rechaço Manobras de�citárias Essas manobras são utilizadas de maneira complementar à avaliação de motricidade voluntária que você aprendeu no módulo anterior, especificamente para auxiliar a solicitação dos movimentos ativos, e tem como objetivo detectar deficits motores leves, que não tenha sido possível identificar nos outros testes motores. As manobras deficitárias são as seguintes: Decúbito dorsal ou sentado, ombros a 90 graus de flexão, cotovelos e mão estendidos. Decúbito dorsal, flexão de cotovelos a 90 graus, punhos e mãos em posição neutra. Decúbito dorsal, flexão de quadril e joelho a 90 graus e tornozelo em dorsiflexão. Decúbito ventral, joelhos a 90 graus de flexão e tornozelos em dorsiflexão. Braços estendidos Raimiste Mingazzini Barré Decúbito dorsal, flexão de quadril e joelho, pés apoiados na maca. É solicitado que o paciente permaneça na posição durante 30 segundos de olhos fechados e, então, o examinador observa se o paciente é capaz de manter a posição, se há oscilação do membro, e, se houver, se é proximal ou distal. Avaliação do equilíbrio A avaliação de equilíbrio pode ser realizada de maneira dinâmica ou estática. A dinâmica envolve a observação e descrição durante as atividades, por exemplo, de saltar, correr, caminhar e durante as transições posturais, devendo ser descrita a maneira de realização, se há compensação, como é o alinhamento postural, a dissociação dos movimentos e a base de suporte. Posturas de Tandem e Romberg. De forma estática, existem alguns testes específicos que podem ser utilizados, como a postura em Romberg, na qual é solicitado ao paciente que permaneça com os pés juntos; a postura em Tandem, realizada com um pé posicionado à frente do outro; e a postura unipodal, sobre apenas uma perna no apoio. Esses testes devem ser cronometrados, realizados sempre de modo bilateral (nas posturas em Tandem e unipodal) e também se incentiva sua avaliação, tanto com os olhos fechados quanto abertos. Comentário Queda dos membros inferiores em abdução Além da informação em segundos sobre o tempo que o paciente consegue permanecer em cada postura, também é importante descrever como foi essa permanência, se ocorreu de forma estável ou se houve desequilíbrios e reações exageradas para auxiliar na manutenção da postura, por exemplo. Também devemos chamar a atenção que a avaliação do equilíbrio, ou seja, dos ajustes posturais, podem ser testados de maneira mais objetiva, como por meio de um acelerômetro, uma plataforma de força e por meio de análise de vídeo. Além disso, algumas escalas validadas testam o equilíbrio ortostático e podem ser utilizadas facilmente no ambiente clínico. A seguir, serão descritas algumas delas. Mensura a diferença entre o comprimento do braço e o alcance máximo à frente e em pé. Realiza-se com o paciente próximo a uma parede, à qual um mastro é preso. A posição inicial é com os pés discretamente separados e o braço fletido à frente no mesmo plano horizontal do mastro, mas sem tocá-lo, então, é anotada a medida da posição do terceiro metacarpo em relação ao mastro e pede- se que o paciente alcance à frente o mais longe possível sem dar um passo, e a posição do terceiro metacarpo é novamente anotada. A distância alcançada é comparada a padrões relacionados à idade e é preditivo de quedas em idosos. Trata-se de um teste relativamente simples de ser executado, que mede ações comuns nas atividades de vida diária e relacionado com as mudanças biomecânicas. Outro teste originalmente desenvolvido para detectar alterações de equilíbrio em idosos é o teste “levante-se e ande”, mais conhecido como Timed up and go. Pede-se ao paciente que se levante da cadeira, caminhe por 3 metros, vire e retorne novamente. A partir da observação do tempo da execução da caminhada, o desempenho é pontuado em normal (1), muito discretamente anormal (2), discretamente anormal (3), moderadamente anormal (4) e gravemente anormal (5). Um aumento no risco de queda está associado com pontuações acima de 3. Como última ferramenta a ser apresentada, temos a Escala de Berg, que mede o equilíbrio em 14 tarefas, incluindo sentar-se e ficar em pé sem apoio, passar de sentado para em pé, pegar um objeto Teste de alcance funcional Teste "levante-se e ande" Escala de Berg do chão estando em pé, girar 360 graus e transferências. Avaliação da marcha A maneira mais usual de realizar a avaliação da marcha é solicitar que o paciente caminhe normalmente e observar atentamente como ele realiza a atividade. O avaliador não deve deixar de observar os seguintes aspectos: alinhamento anteroposterior e médio-lateral, dissociação de cinturas, balanceio dos membros superiores, base de suporte e apoio dos membros inferiores, levando em conta as fases da marcha (apoio e balanço). Também existem maneiras mais objetivas de avaliar a marcha, tais como com o uso de análise por vídeo, em que é possível investigar alguns parâmetros mais objetivos, como o tempo percorrido em determinada distância, a velocidade da marcha (metros/segundo), o número de passos e a cadência (número de passos/minuto). A partir da avaliação da marcha, é possível classificá-la em normal ou patológica, o que é comum em paciente com desordens no sistema nervoso. As marchas neurológicas mais comuns são: Comum após lesão na via piramidal, que cursa com espasticidade (hipertonia e presença de respostas reflexas), encontradaapós acidente vascular cerebral e traumatismos cranioencefálicos, por exemplo. Nesse tipo de marcha, devido ao quadro de hipertonia elástica presente na musculatura flexora e adutora de quadril, extensora de joelho e plantiflexora, o paciente apresenta (do lado comprometido) curta fase de apoio e longa fase de balanço, realizando elevação pélvica, pobre extensão de quadril, hiperextensão de joelho e pobre dorsiflexão. Encontrada após lesão nervosa periférica (nervo fibular por exemplo) nas radiculites, polineurites e poliomielites que cursem com plegia da musculatura dorsiflexora dos artelhos e do pé. Portanto, ao tentar caminhar, o paciente toca o solo com a ponta do pé, arrastando-o e assim interferindo na fase de apoio. O paciente ainda pode tentar realizar uma compensação elevando o joelho na tentativa de não arrastar o pé. Marcha espática ou ceifante Marcha escarvante Ocorre após lesão no cerebelo, e como o próprio nome indica, reproduz a marcha de um indivíduo em estado de embriaguez alcoólica. O paciente apresenta uma base alargada durante a marcha, com incoordenação dos membros inferiores, passos largos e imprecisos, além de pobre controle postural. Acontece após perda das informações sensoriais, comuns nas afecções que se localizam nos funículos posteriores da medula, impactando diretamente na propriocepção. Apresenta-se de modo bastante semelhante à marcha cerebelar descrita acima, com base de suporte alargada e perda da noção do solo em relação aos pés, o que faz com que o paciente pareça estar arremessando o pé à frente e o coloque abruptamente ao solo. Uma característica importante é que, nesse tipo de marcha, a fiscalização pelo olhar é rigorosamente realizada. Encontrada em pacientes com doença de Parkinson ou parkinsonismos, uma vez que os pacientes apresentam passos curtos, ritmados, rígidos e arrastados, com base de suporte diminuída, associado a uma postura típica de anteriorização de tronco, com pobre dissociação de cinturas, balanço dos membros superiores e controle postural. A marcha dos pacientes neurológicos A especialista Isabela Andrelino de Almeida Shigaki abordará os diferentes tipos de marcha de pacientes neurológicos (espástica, atáxica e festinada), relacionando cada tipo com o quadro clínico da doença respectiva, além de apontar para as principais estratégias de reabilitação para cada uma delas. Marcha atáxica cerebelar ou ebriosa Marcha atáxica sensitiva ou talonante Marcha festinada Atividades funcionais e atividades de vida diária Para finalizarmos este módulo, não podemos deixar de discutir sobre a avaliação das atividades funcionais, que, em neurologia, referem-se às passagens de postura, tais como: Transições de decúbito dorsal para lateral. Transições de decúbito lateral para ventral. Transições de decúbito ventral para gato (quatro apoios). Transições de gato para ajoelhado. O examinador deve solicitar a passagem de postura ao paciente e verificar se ele é capaz ou não de realizá- la. Atenção! É importante descrever como a tarefa foi realizada, com dificuldades, compensações, assimetrias, padrões patológicos que possam ficar mais evidentes em alguma transição, reações de endireitamento, de proteção, equilíbrio e coordenação. Vale ressaltar que essa observação pode auxiliar muito o profissional a detectar alterações e assimetrias que antes possam ter passado despercebidas. As atividades de vida diária são referentes à vestimenta, à alimentação e à higiene e são avaliadas após questionamento ao paciente, como de que maneira ele realiza essas atividades no seu dia a dia. Caso seja possível, pode ser solicitado que o paciente simule algumas dessas tarefas no ambiente clínico, a fim de facilitar para o investigador. Deve ser descrito se o paciente é capaz de realizar as atividades e o grau de dificuldade se houver, se precisa de auxílio, qual sua maior queixa e sua maior vontade. E, assim, é classificado como dependente, semidependente e independente para as atividades questionadas. Sobre essas atividades de vida diária, existem algumas escalas funcionais, validadas, que podem ser ferramentas úteis ao profissional e capazes de quantificar esses aspectos, tais como o Índice de Barthel, que apresenta algumas categorias, divididas em questões relacionadas à função de intestino e bexiga, vestir-se, uso do vaso sanitário, alimentação, transferência, arrumar-se, mobilidade, escada e banho. Esses itens são pontuados de zero a três, com zero indicando total dependência. Por fim, outra escala bastante usada em diversos países é a mensuração de independência funcional (MIF), que inclui categorias sobre: Transições de ajoelhado para semiajoelhado. Transições de semiajoelhado para a postura em pé. Cuidados pessoais Comer, arrumar-se, banhar-se, vestir-se e higiene. Independência Controle esfincteriano. Mobilidade Transferências. Locomoção Marcha, dispositivos e escadas. Comunicação Compreensão e expressão. Cognição social Interação, solução de problemas e memória. Cada categoria é pontuada de um a quatro e, quanto maior a pontuação, maior a independência do paciente. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 O teste conhecido como diadococinesia, que é realizado em uma avaliação fisioterapêutica, mensura qual condição motora? Parabéns! A alternativa B está correta. A Equilíbrio corporal B Coordenação motora C Motricidade involuntária D Amplitude de movimento E Tônus muscular A questão cita um teste utilizado para avaliar a coordenação motora, no qual as mãos do paciente são posicionadas sobre as pernas, com uma das mãos com a palma virada para cima, então, é solicitado que inverta a posição das mãos de maneira alternada e com aumento da velocidade. Os principais testes que avaliam o equilíbrio corporal são Romberg, Tandem e apoio unipodal, já a motricidade involuntária é avaliada por meio de observação e a avaliação de amplitude de movimento e tônus muscular é realizada principalmente por meio de mobilização passiva das articulações. Questão 2 Os ajustes posturais podem ser avaliados por meio de escalas e instrumentos validados, que fornecem uma medida mais objetiva e de fácil comparação, facilmente, utilizadas em ambiente clínico. Uma escala bastante utilizada mensura o equilíbrio de forma dinâmica em diferentes tarefas diárias, tais como se sentar e se levantar sem apoio, pegar um objeto no chão a partir da postura em pé, entre outros movimentos. Qual escala é citada em questão? Parabéns! A alternativa C está correta. Os testes Timed up and go e o de alcance funcional avaliam o equilíbrio, porém, não envolvem os itens citados, mas atividades únicas e específicas para investigar os ajustes posturais. Já o índice de Barthel A Teste Timed up and go B Índice de Barthel C Escala de equilíbrio de Berg D Escala MIF E Teste de alcance funcional e a escala MIF são utilizadas para avaliação de funcionalidade e atividades de vida diária, e para avaliação do equilíbrio.. 3 - Interpretando a avaliação neurológica Ao �nal deste módulo, você será capaz de formular o diagnóstico �sioterápico neurofuncional a partir da interpretação da avaliação neurológica. Diagnóstico �sioterapêutico neurofuncional A avaliação e o tratamento devem estar estreitamente interligados. Uma avaliação minuciosa dos problemas e das alterações de cada paciente é fundamental para que o tratamento possa produzir os melhores resultados, e ambos não devem ser considerados etapas isoladas do processo de reabilitação. O tratamento, portanto, deve ser planejado e conduzido com base em avaliações criteriosas e frequentes. A maneira como os problemas do paciente é observada, avaliada e interpretada deve determinar a abordagem, os objetivos e a escolha das estratégias por parte do terapeuta. O ponto central entre o momento da avaliação e a elaboração do plano de tratamento é o que será desenvolvido neste módulo, a formulação do diagnósticofisioterapêutico neurofuncional, essencial para nortear o profissional nas suas escolhas relacionadas ao processo de reabilitação. Para fins didáticos, discutiremos, a seguir, o raciocínio clínico a partir da avaliação realizada nas diferentes doenças que comprometem o sistema nervoso, com destaque para as lesões que ocorrem no encéfalo e cursam com quadro de espasticidade, tais como o acidente vascular cerebral, o traumatismo cranioencefálico e a paralisia cerebral, e as lesões medulares decorrentes de malformações, traumatismo ou inflamações. Ao final do módulo, observaremos a relação entre o diagnóstico neurofuncional e a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Diagnóstico �sioterapêutico neurofuncional nas lesões encefálicas Neste tópico, abordaremos especificamente as lesões que comprometem o encéfalo e cursam com lesão na via córtico-espinhal. Para facilitar o entendimento, vale lembrarmos alguns pontos anatômicos importantes. Nosso encéfalo é dividido em alguns lobos cerebrais, e chamamos a atenção para dois deles, o lobo frontal, onde habitam as nossas áreas motoras, e o lobo parietal, que é essencialmente relacionado às nossas funções sensoriais. No lobo frontal, há um giro, conhecido como pré-central, que apresenta grande importância, pois é nesse local que se origina a via motora mais conhecida, a via córtico-espinhal, que tem papel fundamental na motricidade primária, ou seja, é por meio desse trajeto que as informações sobre o movimento atingem a medula espinhal, influenciando os neurônios motores inferiores e, então, a informação eferente sobre o movimento é destinada aos músculos estriados esqueléticos (MACHADO, 1993). Via córtico-espinhal. Ainda sobre o giro pré-central, outra área importante é o conhecido Homúnculo de Penfield, que nada mais é do que a representação das nossas partes do corpo a nível cortical. Nessa região, localiza-se a área específica relacionada à mão, ao antebraço, ao braço, ao ombro, ao tronco, e assim por diante, e é partir dessas regiões representadas que a informação motora, por meio da via córtico-espinhal, irá se originar a fim de exercer influência nos segmentos corporais correspondentes. Homúnculo motor localizado no giro pré-central do lobo frontal representado em um corte coronal. O outro lobo que vale a pena lembrarmos é o parietal, localizado logo ao lado do lobo frontal, separados apenas pelo sulco central. Também nesse lobo há uma região importante, chamada agora de giro pós- central, que é responsável pela captação das informações sensoriais oriundas da periferia, ou seja, as aferências sensitivas. Assim como no giro pré-central, nessa região, também há a presença do Homúnculo de Penfield, e as informações sensitivas atingem as áreas específicas que representam as nossas partes do corpo, para serem codificadas e interpretadas. Agora que você relembrou pontos importantes, ficará mais fácil compreender alguns achados da avaliação neurológica e o papel deles para a elaboração do diagnóstico fisioterapêutico. Após lesão nas regiões citadas, o que ocorre com frequência em pacientes que sofreram o acidente vascular encefálico, principalmente, quando a alteração vascular ocorre na artéria cerebral média (maioria dos casos) ou artéria cerebral anterior, é comum que um lado do corpo, ou os dois lados fiquem com alterações motoras e sensitivas, que o profissional irá conseguir identificar e estabelecer, para traçar seu diagnóstico. O diagnóstico do fisioterapeuta leva em conta primordialmente o comprometimento motor, que será definido após a avaliação de motricidade, que você aprendeu no primeiro módulo. Inicialmente, o profissional irá estabelecer se o paciente apresenta um quadro de plegia (ausência de movimento) ou paresia (dificuldade de movimento), decorrente de lesão na via córtico-espinhal nos casos das lesões encefálicas e em qual ou quais segmentos corporais ele está presente (DORETTO, 2001). A partir desse entendimento, o fisioterapeuta utiliza a nomenclatura correta para classificar e diagnosticar o indivíduo com lesão encefálica, do ponto de vista motor. Essa classificação se dá da seguinte forma (BOBATH, 2001): Lesões que gerem paralisia dos movimentos de um lado do corpo são classificadas como hemiplegias ou hemiparesias. Lesões que cursem com paralisia dos movimentos dos dois lados do corpo são classificadas como quadriplegias ou quadriparesias. Lesões menos frequentes, mas que também podem ocorrer, são os quadros de monoplegias ou monoparesias, quando a alteração motora acomete apenas um membro. Ainda nessa linha de raciocínio, vale lembrar que, quando o paciente sofre dano na via piramidal, provavelmente, ele ficará com alteração de tônus, que, em fases iniciais, poderá apresentar quadro de hipotonia, evoluindo para a hipertonia do tipo elástica. Essa alteração de tônus acompanha as alterações nas respostas reflexas, e nessa população, a espasticidade pode estar presente (hipertonia elástica associada a respostas reflexas exaltadas). Sendo assim, é importante que o profissional, ao descrever o diagnóstico levando em conta a avaliação motora, também complemente com a descrição quanto ao tônus e ao reflexo. Por exemplo, em um paciente vítima de acidente vascular encefálico, com quadro de hemiplegia, ele poderia ter recebido o diagnóstico do fisioterapeuta da seguinte maneira: hemiplegia à direita do tipo espástica, ou ainda, hemiplegia à direita do tipo flácida (tônus diminuído e abolição dos reflexos). A partir desse diagnóstico, o profissional é capaz de compreender de maneira geral quais as limitações do ponto de vista funcional do paciente, e nortear o estabelecimento de metas e os planos de tratamento. É claro que essa etapa poderá vir acompanhada de informações adicionais, tais como comprometimento sensorial (hemianestesias, por exemplo), ou alguma particularidade, que estará associado e que terá sido observado e descrito na avaliação inicial. Devemos ressaltar ainda que a elaboração do diagnóstico atua como uma síntese do que foi investigado a partir de todo o exame neurológico, e o profissional deverá levar em consideração para a elaboração do seu tratamento todos os itens e etapas desse exame, impreterivelmente. Diagnóstico �sioterapêutico pós AVE A especialista Isabela Andrelino de Almeida Shigaki abordará os principais itens da avaliação neurológica que contribuem para a elaboração do diagnóstico de um paciente pós AVE, e qual o impacto disso na elaboração do tratamento dessa população, com exemplos práticos. Diagnóstico �sioterapêutico neurofuncional nas lesões medulares O raciocínio para a elaboração do diagnóstico fisioterapêutico nesse grupo de pacientes segue o mesmo já descrito, porém, apresenta nomenclaturas diferentes e algumas particularidades importantes de serem observadas e discutidas. Vamos relembrar também alguns pontos anatômicos importantes sobre a medula espinhal, que é uma estrutura cilindriforme, localizada no canal vertebral, fazendo parte do sistema nervoso central. Ela é uma continuação do bulbo, uma estrutura que compõe o tronco encefálico, e sua porção terminal, no adulto, está no nível da primeira ou segunda vértebra lombar. Ela é responsável pela transmissão de informação provenientes das áreas centrais para a periferia (informações motoras) e da periferia para as áreas centrais (informações sensoriais). Medula espinhal. Sendo assim, fica fácil compreender que, após um dano nessa estrutura, o paciente, provavelmente, apresentará distúrbios motores e sensitivos, entre outros, tais como os relacionados ao sistema nervoso autônomo, que possui seus centros na medula espinhal. O que diferencia no diagnóstico nesses pacientes é o tipo de lesão (completa ou incompleta) e o nível neurológico, ou nível da lesão, que apresenta grande impacto no processo de reabilitação e será discutido a seguir. De maneira geral, a nomenclatura correta para classificar o paciente que sofreu uma lesãona medula espinhal é a tetraplegia, ou tetraparesia, quando a lesão comprometeu qualquer nível do segmento cervical, e a paraplegia ou paraparesia, quando a lesão atingiu os segmentos torácicos, lombares ou sacrais. Porém, apenas essa informação não é suficiente para o fisioterapeuta, necessitando de diagnóstico mais elaborado. A definição da tetraplegia/paresia ou da paraplegia/paresia leva em conta o grau de movimentação do paciente, e isso é realizado a partir do exame de motricidade. Mas devemos lembrar que os segmentos medulares (cervical, torácico, lombar e sacral) apresentam níveis, e é essa observação que faz com que o diagnóstico fisioterápico seja mais detalhado. Exemplo Um paciente que apresente uma tetraplegia com nível motor C2 é totalmente diferente de um paciente que apresente também uma tetraplegia com nível motor C7. E a mesma definição vale para os demais segmentos. Existem músculos-chaves já definidos, que representam os respectivos segmentos medulares e, durante a avaliação de força muscular, o profissional gradua a força desses músculos por meio da escala MRC (conforme visto no módulo 1). Uma graduação de, no mínimo, 3 é classificada como o segmento preservado, expressando, assim, o nível motor do paciente. Exemplo A musculatura flexora de cotovelo representa o segmento medular cervical C5; os extensores de punho, o segmento C6; e os extensores de cotovelo o segmento C7. Sendo assim, se um paciente apresentar graduação de força, segundo a escala MRC de 3 na avaliação do grupo que representa o nível C6 e a graduação de 0 no grupo que representa o nível C7, ele será classificado como um paciente tetraplégico com nível motor C6. A mesma interpretação vale para o membro inferior. Por exemplo, os flexores de quadril representam o nível medular L2, os extensores de joelho o nível L3 e os dorsiflexores o nível L4 e, se o último grupo muscular íntegro, ou seja, com graduação de no mínimo 3 na escala MRC, forem os extensores de joelho, ele será classificado como um paciente paraplégico de nível motor L3. Também vale chamar a atenção que o nível neurológico do paciente com lesão medular, além de levar em conta o nível motor, também envolve o nível sensitivo, que, na maioria dos casos, é o mesmo. A avaliação sensorial nessa população deve ser realizada por meio dos dermátomos, que, conforme já estudado no primeiro módulo, aponta em qual segmento medular ocorre o comprometimento sensitivo (CARR; SHEPHERD, 2008). O fisioterapeuta é o profissional que apresenta o conhecimento de toda a musculatura íntegra, ou seja, preservada, e de todas as capacidades e as potencialidades ligadas à independência funcional que o paciente apresenta após uma lesão medular, de acordo com cada um dos níveis medulares (cervicais, torácicos, lombares e sacral). Portanto, a partir do diagnóstico fisioterápico bem estabelecido, o planejamento acerca das estratégias de tratamento será mais bem elaborado e desenvolvido. Diagnóstico neurofuncional e a classi�cação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde (CIF) As classificações internacionais, ou codificações, são regidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para facilitar a comunicação integrada, classificando a saúde. Em 2009, uma resolução do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional foi realizada para o incentivo da adoção do uso da CIF entre os profissionais, podendo ser uma ferramenta bastante útil para diversas áreas. Comentário Em relação aos pacientes com disfunções neurológicas, na maioria dos casos, eles evoluem com quadros de alterações no movimento, alterações no tônus muscular e nas respostas reflexas, além de problemas sensoriais, que associados às alterações posturais e de marcha levam a incapacidades e a limitações funcionais, conforme já discutido nos módulos anteriores. A primeira classificação surgiu em 1893, identificando a causa de morte. Seguida pela Classificação Internacional de Doenças (CID) em 1946, classificando a etiologia das doenças. Em 1980, surgiu a Classificação Internacional de Incapacidade (CIDID), especificando a incapacidade como consequência de doenças, levando em conta deficiência, incapacidade e desvantagens. Esses últimos termos foram revistos e substituídos (incapacidade por limitação das atividades e desvantagem por restrição na participação), e, em 2001, foi criada a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), Incapacidade e Saúde, para classificar a funcionalidade humana, que atua como uma ferramenta para se conhecer melhor a condição de saúde, traçar diagnósticos e nortear a abordagem clínica. Em um importante artigo sobre esse tema, publicado em 2002, na Revista Physical Therapy, por Steiner et al., acerca do uso da CIF como uma importante abordagem para a resolução de problemas, baseada em uma avaliação centrada no indivíduo, fica evidente a relevância do tema para classificação dos pacientes neurológicos, a partir do diagnóstico funcional e para o processo de reabilitação. Saiba mais Há um conceito central que envolve o uso da CIF, chamado de “atividade”, que segundo Steiner (2002) pode ser considerado como a informação mais importante da classificação, envolvendo a execução de uma ação ou tarefa (por exemplo, uma passagem de postura como rolar, sentar ou passar para de pé) e outro conceito, chamado de “participação”, que investiga o envolvimento social em uma situação de vida, como apresentar dificuldade de caminhar até o mercado ou não conseguir trabalhar, pois perdeu a função manual que é exigida, por exemplo. A partir dessas informações centrais, o fisioterapeuta identifica em quais situações do dia a dia o paciente apresenta dificuldade, como qual movimento ou tarefa que impossibilita essa participação social, para traçar o diagnóstico fisioterápico e levantar as hipóteses relacionadas às estruturas que fazem com que o paciente não consiga executar determinada tarefa (como, por exemplo, devido à alteração de tônus, deficit sensorial ou fraqueza muscular). Resumindo Sendo assim, a CIF pode se apresentar como uma maneira bastante útil no auxílio do raciocínio clínico a partir da avaliação do paciente, e norteia o profissional para o estabelecimento do diagnóstico e sobre quais as estratégias de tratamento são adequadas para contribuir para a resolução dos problemas encontrados no paciente. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Para o fisioterapeuta estabelecer o diagnóstico funcional do paciente, o principal item da avaliação física é o teste de motricidade. Sendo assim, ao classificar um paciente que sofreu um acidente vascular encefálico e como sequela apresenta ausência de movimento do lado esquerdo do corpo, qual a nomenclatura correta para o diagnóstico? Parabéns! A alternativa E está correta. O termo correto para a ausência de movimento é a plegia, e por se tratar de um comprometimento em um lado inteiro do corpo, deve-se usar a nomenclatura hemiplegia. A quadriplegia ou a paresia se refere a um deficit de movimento nos dois lados do corpo por completo, ou seja, nos quatro membros, e a monoplegia apenas em um segmento corporal. Questão 2 Um paciente vítima de traumatismo raquimedular apresenta lesão completa na medula cervical, especificamente, no nível C7. O seu quadro clínico envolve perda dos movimentos do nível da lesão para baixo, ausência de sensibilidade e disfunções autonômicas. A partir do enunciado, assinale a alternativa que apresenta o diagnóstico fisioterapêutico mais adequado. A Quadriplegia à esquerda B Quadriparesia à esquerda C Monoplegia à esquerda D Hemiparesia à esquerda E Hemiplegia à esquerda A Tetraparesia espástica com nível neurológico C7 Parabéns! A alternativa B está correta. Após uma lesão na medula cervical, o paciente apresenta quadro de tetraplegia ou tetraparesia, que vai depender do grau de movimento. O enunciado aponta ausência de movimento abaixo do nível da lesão, o que indicaum quadro de tetraplegia com nível neurológico C7. Considerações �nais Chegamos ao fim do estudo dos principais aspectos que devemos levar em conta ao avaliar um paciente com disfunção neurológica, tais como a maneira adequada de conduzir uma anamnese, os itens importantes do exame físico como, por exemplo, a avaliação da motricidade voluntária e da sensibilidade de acordo com os diferentes locais de lesão, além da investigação do tônus muscular, respostas reflexas e testes de coordenação, equilíbrio e marcha, entre outros. Outro ponto importante e fundamental para a elaboração de um plano de tratamento adequado em neurologia é a compreensão da maneira de elaborar o diagnóstico fisioterapêutico, intimamente ligado ao processo de avaliação, e que você irá aplicar em sua prática clínica. B Tetraplegia espástica com nível neurológico C7 C Tetraplegia espástica com nível motor C6 D Paraplegia flácida com nível neurológico C7 E Paraparesia espástica com nível motor C7 Podcast Agora, a especialista Isabela Andrelino de Almeida Shigaki apresentará um caso clínico de um paciente com doença de Parkinson, discutindo todas as etapas do exame físico neurológico e os achados clínicos compatíveis com essa afecção do sistema nervoso central, além de sugerir estratégias de tratamento ao final da explanação. Explore + Para saber mais sobre os assuntos estudados neste conteúdo, pesquise o artigo Fisioterapia baseada no treinamento de dupla tarefa no equilíbrio de indivíduos com doença de Parkinson, de Isabela Andrelino de Almeida e de outros autores, publicado na Revista Saúde, e observe as maneiras de avaliação do equilíbrio abordadas para esse perfil de pacientes neurológicos. Referências BOBATH, B. Hemiplegia em adultos - Avaliação e tratamento. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2001. CARR, J.; SHEPHERD, R. Reabilitação Neurológica - Otimizando o Desempenho Motor. 1. ed. São Paulo: Manole, 2008. DORETTO, D. Fisiopatologia clínica do sistema nervoso: fundamentos semiologia. 3. ed. São Paulo: Manole, 2001. MACHADO, A. B. M. Neuroanatomia funcional. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 1993. MAGEE, D. J. Avaliação musculoesquelética. 5. ed. São Paulo: Manole, 2010. STEINER, W. A. et al. Use of the ICF model as a clinical problem-solving tool in physical therapy and rehabilitation medicine. Physical Therapy, v. 82, n. 11, p. 1098-107, 2002. Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? Relatar problema javascript:CriaPDF()
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