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ECONOMIA MONETÁRIA #CURRÍCULO LATTES# APRESENTAÇÃO Professor Dr. Murilo Borges ● Doutorado em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). ● Mestrado em Teoria Econômica pela UEM. ● Bacharel em Ciências Econômicas pela UEM. ● Especialista em Tecnologias Aplicadas ao Ensino a Distância pelo Centro Universitário Cidade Verde (UniFCV). ● Especialista em Administração Tributária pela Universidade Castelo Branco. ● Certificação de Investimentos Anbima CPA10 e CPA20. ● Docente dos cursos de Administração e Economia da UniFCV. ● Professor de pós-graduação na UniFCV. Funcionário do Banco do Brasil e professor do Centro Universitário Cidade Verde (UniFCV). Possui graduação em Ciências Econômicas (2003), Mestrado (2014) e Doutorado (2019) em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Bancária e Financeira, atuando principalmente nos seguintes temas: certificações de investimentos, economia monetária, estatística e econometria. APRESENTAÇÃO DA APOSTILA Olá aluno! Para ser graduado em qualquer curso superior é preciso concluir várias disciplinas. A regra é clara: se a soma das disciplinas concluídas for igual as disciplinas exigidas, então, o aluno leva o canudo para casa. Cada disciplina, portanto, é uma fração da graduação. É como uma longa caminhada; não há como concluí-la sem antes dar todos os passos necessários. Somente ao final de todos os passos, você terá caminhado o suficiente para concluir uma longa caminhada. E aqui estamos nós, iniciando novos passos rumo à conclusão de sua caminhada. Todos os passos que iremos dar a partir de agora compõem uma caminhada chamada Economia Monetária. Além dos conceitos associados ao tema, nesta nossa caminhada, iremos essencialmente responder a seguinte questão: qual a real importância da economia monetária para a política econômica? Para responder esta questão, nosso curso está dividido em quatro unidades. A unidade I visa contextualizar o que será tratado em nossa disciplina. Trata-se de uma unidade introdutória. Veremos os mecanismos de transmissão da política monetária, uma breve revisão histórica do pensamento econômico sobre economia monetária, os instrumentos de política monetária e, por fim, a apresentação do mercado financeiro e do processo de intermediação financeiro em que a política monetária está inserida. São assuntos importantes que irão lhe auxiliar para o melhor entendimento do que virá a seguir. A unidade II pode ser dividida em duas partes. A primeira é a continuação da contextualização que começamos na unidade anterior. Nesta parte iremos tratar do Sistema Financeiro Nacional instituído pela Lei nº 4.595 de 1964, as definições e funções da moeda, as principais características do Banco Central e os principais agregados monetários e meios de pagamento. Na segunda parte dessa unidade iremos iniciar a discussão a respeito das teorias monetárias. É uma discussão bastante intensa e aberta até os dias atuais. Essencialmente, a economia monetária está fundamentada sobre essas discussões teóricas. Aqui iremos demonstrar a Teoria Quantidade da Moeda e a Teoria da Preferência pela Liquidez. São duas teorias basilares que deram o pontapé inicial para as teorias monetárias subsequentes. A unidade III é uma continuação da segunda parte da unidade anterior. Continuaremos, portanto, demonstrando as seguintes teorias monetárias: os modelos neoclássicos keynesianos de demanda por moeda, a teoria da política monetária no modelo keynesiano, fundamentada no modelo IS-LM, a teoria da política monetária do modelo monetarista e a teoria da política monetária novo-clássica. Por fim, na unidade IV trataremos dos conceitos relacionados à inflação e do sistema de metas de inflação derivado da teoria da política monetária novo-clássica e atualmente utilizado por diversos países, inclusive o Brasil. Concluindo esta unidade, iremos apresentar a organização do regime de metas de inflação em funcionamento no Brasil desde 1999. Então é isso meu caro aluno. Que essa disciplina, feita com dedicação por várias mãos, acrescente coisas boas à sua caminhada e que a partir dela você possa começar outras novas caminhadas em direção ao seu crescimento pessoal e profissional. Seja, portanto, muito bem-vindo ao nosso curso de Economia Monetária! Muito obrigado e bons estudos! UNIDADE I CONCEITUALIZAÇÃO Professor Murilo Borges Plano de Estudo: • Conceitos Gerais • Teorias Monetárias • Políticas e Instituições • Política Financeira Objetivos de Aprendizagem: ● Contextualizar a evolução da história do pensamento econômico sobre a moeda; ● Apresentar os canais de transmissão da política monetária; ● Verificar o objetivo precípuo da política monetária no Brasil; ● Definir os instrumentos de políticas monetária; ● Apresentar a estrutura geral da política monetária; ● Diferenciar o mercado financeiro do mercado monetário. INTRODUÇÃO Olá, aluno! Tudo bem? Vamos iniciar nossa jornada pela economia monetária. Vale lembrar uma frase antiga, mas que jamais perderá sentido: uma longa caminhada começa com o primeiro passo. O passo mais difícil é o primeiro. É aquele que você precisa mudar a chave da inércia. A mesma lei que diz que um corpo em repouso tende a permanecer em repouso, diz também que um corpo em movimento tende a permanecer em movimento. Uma vez rompido o estado de repouso, o movimento passa a ser a regra. Por essa perspectiva, o passo mais complicado você já deu: começar uma graduação. A partir desse primeiro passo, a física é nossa aliada. Aqui não será diferente, você dará mais um passo em direção ao seu objetivo. E ele começa agora, com nossa primeira unidade. Nesta primeira unidade, portanto, iremos tratar de assuntos introdutórios que visam contextualizar o assunto e proporcionar uma visão macroscópica, i.e., mais abrangente. A regra é essa: partimos do todo para o específico. A vida é assim! Os fundamentos precedem a intimidade e os detalhes. No tópico 1 iremos verificar que a discussão sobre a eficácia da política monetária é tema central de nossa disciplina. Hoje o entendimento predominante é de que a política monetária tem capacidade de influenciar a atividade econômica e sua condução deve ser pautada precipuamente pela estabilidade dos preços. A partir dessa contextualização, iremos verificar os canais de transmissão da política monetária, ou seja, quais são os caminhos que a política monetária percorre para influenciar a atividade econômica. No tópico 2 iremos percorrer a linha do tempo das principais teorias monetárias e os grandes pensadores que contribuíram para sua evolução. Trata-se de uma discussão bastante antiga e controversa. Desde a visão clássica até os dias atuais já se passaram mais de dois séculos e, ao longo de todo esse período, a ressonância dos pensamentos econômicos acerca da política monetária foi a chave para sua evolução. No tópico 3 trataremos das políticas e instituições monetárias. Iremos verificar a posição do Banco Central do Brasil sobre o porquê de a estabilidade dos preços ser o objetivo primário da política monetária no Brasil. Para tanto, iremos apresentar a estrutura geral da política monetária no Brasil, desde a definição dos instrumentos de políticas monetária até o atingimento de seus objetivos. Por fim, no tópico 4 iremos tratar da diferenciação entre mercado financeiro e mercado monetário. Mercado financeiro é tema mais abrangente e o mercado monetário é um dos quatro mercados que o compõem. Além disso, será verificado que o mercado financeiro, de forma mais abrangente, está associado ao processo de intermediação financeira. Então é isso meu caro aluno! Reforço a mensagemdada no início desta introdução. O passo mais difícil você já deu! Uma vez em movimento, você tende a permanecer em movimento. Assim como a física, esperamos contribuir para o seu constante movimento. Estude, pesquise, pergunte, aprofunde-se... aproveite ao máximo cada movimento! Forte abraço e bons estudos! 1 CONCEITOS GERAIS Imagem do Tópico: ID: 161075384 Convido o aluno a fazer um esforço imaginário. Nele, o Doutor Emmett Brown e seu DeLorean DMC-12 (DeLorean Motor Company), da famosa trilogia De Volta para o Futuro (Universal Studios), existem. E melhor! Doutor Brown nos convida a uma viagem ao passado em sua incrível máquina do tempo. Mas adianto, não é permitido levar consigo a relação de todos resultados dos concursos da loteria já realizados no país. A viagem no tempo terá fins mais nobres: verificar a mudança de interpretação quanto a importância da política monetária. Ao chegar no passado, até meados dos anos 1970, descobriríamos que a política monetária não era tão importante como nos dias de hoje. Até essa época predominava a ideia de que a política monetária não possuía capacidade para influenciar o desempenho econômico do país. Em outras palavras, a política monetária era impotente para afetar as variáveis reais1, i.e., basicamente, emprego e renda. Nesse passado 1 Segundo Lopes e Vasconcellos (2009), a dicotomia clássica é um conceito econômico em que (a) as variáveis reais e nominais são distintas e (b) as variáveis reais não são afetadas por variações nas variáveis nominais. Por este conceito entende-se que variáveis nominais são todas aquelas expressas em relativamente recente, a grande protagonista era a política fiscal, em que os gastos do governo e a política tributária, atuando de forma direta na demanda agregada, eram quem de fato influenciavam a atividade econômica. De volta para o futuro, ou melhor, para o presente, podemos concluir que a mudança na interpretação quanto aos efeitos da política monetária se deve, entre outros motivos, ao relativo abuso dos poderes da política fiscal com a geração de déficits públicos difíceis de administrar e que o processo de decisão da política fiscal é lento e conflitivo, dependendo de negociações políticas que por vezes podem inviabilizar o uso dessa política como instrumento de estabilização (CARVALHO et al., 2007). Do ponto de vista macroeconômico, o que importa é o gasto total do setor público, mas, na negociação orçamentária, o que existem são os gastos em bens e serviços específicos, com beneficiários específicos etc. Enquanto o conflito pela apropriação das benesses fiscais não for resolvido, o gasto total não estará determinado. O tempo necessário para a solução do conflito orçamentário entre os diversos grupos de beneficiários nada tem a ver com o tempo necessário para a utilização da política fiscal como instrumento de estabilização do nível de atividade (CARVALHO et al., p. 198, 2007). Portanto, devido aos conflitos inerentes à política fiscal, a política monetária foi ganhando novos contornos e passou a receber novas interpretações, entre as quais a de que, em comparação a política fiscal, é mais ágil, sendo assim, um instrumento mais eficaz de política econômica. Dada a mudança de paradigma em relação à política monetária, podemos dar um passo adiante. Pergunto a você caro aluno: já que atualmente a política monetária é um eficaz instrumento de política econômica, de que forma ela afeta a demanda agregada e, consequentemente, a atividade econômica? Basicamente, a política monetária consiste em fixar o valor de uma taxa de juros de curto prazo, no caso do Brasil é a taxa Selic que iremos discutir mais adiante ainda nesta Unidade, que por sua vez afeta outras variáveis que são relevantes para a tomada de decisão por parte dos agentes econômicos. Portanto, o processo pelo qual as mudanças na política monetária afetam a demanda agregada é denominado de mecanismos de transmissão da política monetária (DORNBUSCH & FISCHER & STARTZ , 2011). unidades monetárias (exemplos: preços, salários nominais, PIB nominal...) e as variáveis reais são expressas em termos relativos (exemplos: nível de emprego, salário real, PIB real...). Carvalho et al. (2007) apresenta três mecanismos de transmissão da política monetária: (a) canal do valor dos ativos; (b) canal do crédito; (c) canal da taxa de câmbio. Um quarto canal pode ser incluído segundo o próprio Banco Central do Brasil (BACEN), (d) o canal das expectativas. Primeiramente, o canal do valor dos ativos se dá, principalmente, pelo efeito-riqueza resultante da variação dos preços dos ativos. Ao variar a taxa de juros de curto prazo, a autoridade monetária leva o mercado financeiro a promover uma oscilação no valor dos ativos financeiros, que por sua vez influencia diretamente no consumo desses ativos e no investimento em capital real. Vamos imaginar que a autoridade monetária eleve a taxa de juros de curto prazo, assim o preço dos ativos diminui2 impondo perdas aos agentes que possuem esses ativos, logo, esses agentes diminuem o consumo para compensar a perda obtida pela elevação da taxa de juros. Além disso, com a elevação da taxa de juros de curto prazo e a manutenção da taxa de lucro esperada sobre investimentos reais é natural muitos investidores adiarem suas decisões de investimentos e passem a dar preferência aos títulos financeiros. O efeito da política monetária sobre o investimento real é facilmente verificado no dia a dia do mercado, principalmente quando vemos a história recente do Brasil. Nesse caso específico não precisa nem de máquina do tempo, pois isso aconteceu há poucos anos. Agora mesmo em 2015, a taxa de juros básica da economia atingiu 14,25% ao ano. Nessa época, um investimento com retorno, por exemplo, de 10% ao ano provavelmente seria esquecido. Por outro lado, atualmente, com a taxa de juros a 2% ao ano, esse mesmo investimento poderia ser uma opção viável de investimento. De outra forma, a taxa de juros atua como custo de oportunidade, pois quanto maior a taxa de juros, maior o custo de oportunidade de um investimento. O segundo canal de transmissão da política monetária é o canal de crédito. Também é fácil de perceber a dinâmica deste canal, pois, quando a taxa de juros é alterada pela autoridade monetária, todas as demais taxas de juros do mercado são impactadas, inclusive aquelas que remuneram os empréstimos e financiamentos. Além 2 O preço de ativos e taxas de juros são inversamente proporcionais. Segundo Carvalho et al. (2007), podemos simplificar afirmando que P=Ar, onde P é o preço de mercado do ativo, A é o valor do título e r é a taxa de juros de mercado. Assim, para um dado A, quando r sobe, P necessariamente se reduz. disso, pode ainda alterar a própria disponibilidade do crédito, pois com taxas de juros mais altas os bancos podem restringir a oferta de crédito devido ao maior risco envolvido na operação. Portanto, se um empréstimo ou financiamento fica mais caro, com taxas de juros mais elevadas, a compra de um imóvel, carro, geladeira... mais facilmente pode ser postergada. Formalmente, Carvalho et al. (2007) apresenta a seguinte sequência do canal do crédito: (1) variação da taxa de juros de curto prazo (2) provoca variação das taxas de empréstimos cobradas do público não bancário por parte dos bancos ou racionamento de empréstimos concedidos pelo setor bancário, (3) que por sua vez provoca variação do volume dos elementos de demanda agregada mais dependentes do crédito, como a demanda por bens de capital, bens de consumo durável etc. O terceiro canal de transmissão da política monetária é o canal da taxa de câmbio. Trata-se do mecanismo criado pela liberalização financeira internacional. Este mecanismo de transmissão opera quando um país adota o regime de câmbio flutuante,i.e., o valor da moeda doméstica em relação à moeda estrangeira (no caso brasileiro a taxa de câmbio mais usual é real por dólar - 𝑅$ 𝑈𝑆$ ) se dá de acordo com as demandas e ofertas privadas de moeda estrangeira. Neste âmbito, um dos efeitos mais importantes da fixação da taxa de juros pela autoridade monetária se dá sobre a saída e entrada de capitais, sejam eles os desejados investimentos estrangeiros diretos ou os temidos capitais voláteis (CARVALHO et al., 2007). Imaginemos que o BACEN, nossa autoridade monetária, eleve a nossa taxa de juros de curto prazo. Se tudo mantiver constante, em relação ao resto do mundo, os investimentos locais podem se tornar mais atrativos, atraindo investidores estrangeiros e fazendo com que investidores domésticos permaneçam no país. Neste cenário, haverá uma maior demanda por moeda doméstica e, consequentemente, uma valorização da moeda local em relação às moedas do resto do mundo. Essa mudança na taxa de câmbio devido à alteração prévia da taxa de juros de curto prazo, afeta a demanda agregada via oscilações na quantidade exportada ou importada. Em nosso exemplo, (1) a elevação da taxa de juros, coeteris paribus, (2) valoriza a moeda local e (3) estimula as importações e desestimula as exportações. Por fim, o quarto canal, é o canal das expectativas. Este canal está associado ao fato de que as expectativas dos agentes sobre o futuro da inflação afetam o comportamento atual dos preços (BACEN, 2007). Então, se por exemplo as empresas esperam que a inflação futura seja de 10%, logo, a correção de seus preços irá considerar essa expectativa. Portanto, a expectativa de inflação tem como consequência a própria inflação. Vimos então nesse tópico dois importantes raciocínios: (a) a política monetária, diferentemente de como era vista no passado, é capaz de influenciar a demanda agregada e, por óbvio, a atividade econômica do país; e, (b) os canais de transmissão da política monetária (para afetar a demanda agregada) são o canal do valor dos ativos, o canal do crédito, canal da taxa de câmbio e o canal das expectativas. 2 TEORIAS MONETÁRIAS Imagem do Tópico: ID: 601804022 A economia monetária é um ramo da macroeconomia, logo, suas discussões e teorias estão intrinsecamente associadas. A macroeconomia estuda a dinâmica da economia por meio dos agregados econômicos. Esse estudo fundamenta-se na ideia de que é possível explicar a operação da economia sem que haja a necessidade de compreender o comportamento de cada indivíduo ou empresa que dela participa (SANDRONI, 2003). O próprio início da ciência econômica, fundamentalmente proveniente da escola clássica, cujos principais pensadores são Adam Smith, David Ricardo e John Stuart Mill, já se preocupava com o crescimento econômico por meio de uma visão macroscópica. Entretanto, com a revolução marginalista, que teve início no final do século XIX, cujos principais nomes são William Stanley Jevons, Carl Menger e Leon Walras, a preocupação com o nível agregado perdeu força e a ótica microeconômica passou a ser o foco da análise econômica (PAULANI & BRAGA, 2020). costa.claudio Realce Durante a revolução marginalista, a preocupação com o nível macroeconômico sobrevivia com a escola clássica e seus desdobramentos, entre os quais a teoria quantitativa da moeda, que será abordada ao longo deste curso. Na época, a discussão em torno dos problemas monetários era proveniente da constante dificuldade que as autoridades monetárias possuíam para determinar o estoque de moeda adequado. A moderna teoria monetária britânica surge da controvérsia gerada pelas tentativas de suprimento das necessidades anormais de emissão de moeda e de criação de crédito, geradas pelas prolongadas guerras contra a França, no final do século XVIII e no princípio do século XIX. Em particular, os problemas monetários emergiram quando as notas de papel, especialmente as notas dos bancos, começaram a competir com a moeda metálica como meio de troca, levantando as restrições técnicas que mantinham a oferta de moeda limitada. A ruptura ocorreria a partir de 1797, quando o Banco da Inglaterra cortou o vínculo automático entre suas notas e os metais preciosos, que eram em princípio conversíveis, suspendendo assim os pagamentos em espécie – metal (CARVALHO et al., p. 27, 2007). O debate ganharia força a partir da controvérsia bulionista3 na primeira década do século XIX. A discussão era basicamente a seguinte: por que a libra, moeda da Inglaterra, se depreciava frente ao ouro? A controvérsia bulionista advém dessa questão, pois, um lado acreditava que a elevação do preço do ouro ocorria devido a emissão excessiva de papel-crédito, posição defendida pelos bulionistas, o outro lado, os antibulionistas acreditavam que a elevação do preço do ouro ocorria devido às circunstâncias a que estavam sujeitos naquele momento, basicamente em função dos gastos de guerra e da redução das exportações (CARVALHO et al., 2007). Portanto, uma importante corrente do pensamento econômico nos séculos XVIII e XIX acreditava que as variações nos preços estariam associadas à emissão excessiva de papel-moeda. Essa teoria, denominada teoria quantitativa da moeda, embora discutida e aceita por vários autores da época, somente ficou conhecida e popularizada pelo trabalho desenvolvido por Irving Fisher em 1911, em que é assumida a neutralidade da moeda, ou seja, a política monetária somente provoca variações nos preços sendo, portanto, incapaz de afetar as variáveis reais. 3 Segundo Sandroni (2003), o bulionismo é a designação dada ao sistema monetário em que o papel- moeda é livremente conversível em metal e deve estar integralmente garantido por um encaixe metálico. O nome vem de bullion, que em inglês significa lingote ou barra de ouro ou prata. Entretanto, pelo bem e pelo mal, o mundo gira! Já dizia o filósofo grego Platão: “a necessidade é a mãe da invenção”. Mais uma vez essa máxima se aplica, pois, com a complexa situação vivida na década de 1930, período entre Guerras Mundiais e o Crash de 1929, a teoria econômica estava descolada da realidade. Diante deste “hiato existencial”, a macroeconomia e, consequentemente, a economia monetária, em detrimento da visão marginalista, ganham novo fôlego com o famoso trabalho Teoria do Emprego, do Juro e da Moeda (1936) de John Maynard Keynes, também denominado como revolução keynesiana4. Entre as várias inovações propostas por Keynes, uma muito importante para nosso estudo é a preferência pela liquidez – visão alternativa à teoria quantitativa da moeda e que iremos abordar ao longo deste curso. De forma geral, pela teoria keynesiana a moeda desempenha papel duplo: (a) meio de pagamento; e, (b) reserva de valor, e o seu retorno não vem por compensação pecuniária, mas sim na forma de um prêmio de liquidez5 (CARVALHO et al., 2007). Nesse sentido, diferentemente da visão clássica, Keynes propõe que a política monetária é um importante instrumento de política econômica capaz de influenciar as variáveis reais, ou seja, a moeda não é neutra coisa nenhuma! Dada sua dimensão e inovação, a revolução keynesiana torna-se importante por seus desdobramentos. Isto porque os diversos questionamentos e interpretações dela decorrente impulsionaram de forma significativa a teoria monetária. Além disso, estes questionamentos abrangiam um grupo heterogêneo de autores, com pensamentos divergentes em alguns pontos. E é justamente a partir desta divergência surge a chamada síntese neoclássica, que foi iniciada por John Hicks e difundida por Paul Samuelson, ambos Nobel de Economia, respectivamente, em 1972 e 1970. A síntese neoclássica, termo cunhado por Paul Samuelson, também conhecida como velhos keynesianos, abrange tanto ensinamentos da teoria clássica quanto da 4 Segundo Paulani e Braga (2020), define-se revolução keynesianacom a intervenção proposta por Keynes no debate acadêmico, em que conferiu aos economistas a capacidade de verificar o comportamento e a evolução da economia de um país numa dimensão sistêmica, ou seja, não só medindo produção, renda e consumo, mas fazendo isso de modo que se perceba exatamente a relação entre esses agregados e a lógica do sistema econômico como um todo. 5 De acordo com Sandroni (2003) liquidez é a disponibilidade em moeda corrente, meios de pagamento, ou posse de títulos, ou valores conversíveis rapidamente em dinheiro. teoria keynesiana. Foi a partir desta escola de pensamento que surgiu o modelo IS-LM (1937), a demanda especulativa, o modelo de composição de carteira de James Tobin (1956), Nobel de Economia em 1981, e a visão de que a política monetária, em comparação a política fiscal, tem potência reduzida para influenciar as variáveis reais. Desta forma, para esta escola de pensamento a política monetária e a moeda possuem papel secundário, e, portanto, reduções na taxa de juros teriam impacto desprezível sobre as decisões de investimento e, consequentemente, um reduzido efeito sobre o nível de emprego e renda (CARVALHO et al., 2007). Ainda nos anos 1950, em oposição à teoria keynesiana e seus desdobramentos, surge a escola monetarista, cujo principal pensador é Milton Friedman, Nobel de Economia em 1976 e obstinado anti-keynesiano. Esta escola está baseada em três conceitos que iremos trabalhar ao longo deste curso: taxa natural de desemprego, curva de Phillips e expectativas adaptativas. De forma geral, esta escola adiciona à teoria quantitativa da moeda novas considerações, o que passou a ser considerada como a nova teoria quantitativa da moeda. Apesar de novas variáveis incluídas no modelo, o resultado é semelhante ao encontrado pela teoria clássica, i.e., a moeda está em função da renda da sociedade e que variações de preços é essencialmente um fenômeno monetário, logo, qualquer aumento na taxa de crescimento da oferta de moeda acima da taxa de crescimento do produto acarreta no longo prazo apenas aumento no nível de preços. Entretanto, no curto prazo a moeda importa, pois, é possível alterar as variáveis reais via política monetária, ainda que temporariamente (CARVALHO et al. 2007). A partir dos anos 1960 surge nova linha de pensadores denominada novo- clássica, promovendo uma nova revolução na economia monetária, chamada de revolução das expectativas racionais, cujos principais expoentes são John Fraser Muth, conhecido como o pai das expectativas racionais, Robert Lucas Jr, Nobel de Economia 1995, e Thomas Sargent, Nobel de Economia em 2011. A escola novo-clássica voltou-se parcialmente contra Milton Friedman e a escola monetarista e radicalmente contra as ideias dos keynesianos. Quanto aos monetaristas, a crítica era quanto a forma como os agentes econômicos formavam suas expectativas, em vez de expectativas adaptativas (agentes cometem erros sistemáticos) passam a considerar as expectativas racionais (os agentes não cometem erros sistemáticos). Já quanto aos keynesianos eram contrários a qualquer tipo de intervenção macroeconômica. Diante deste posicionamento, para esta escola os agentes corrigem suas expectativas diante de qualquer política monetária expansionista (CARVALHO et al., 2007). Há, portanto, a possibilidade de afetar as variáveis reais por meio da política monetária, mas somente até o momento em que os agentes façam a correção e incorporem em suas decisões suas novas expectativas. Entretanto, essa intervenção traria no longo prazo incerteza e desconfianças quanto ao comportamento do governo. Logo, o melhor a ser feito pela autoridade monetária é promover transparência, credibilidade e um ambiente com expectativas inflacionárias pacíficas e equilibradas, para não ter como consequência a própria inflação. Deste raciocínio, são provenientes temas bastante atuais e que são realidade em muitos países como a tese da independência do Banco Central e o regime de metas de inflação. A Figura 1 apresenta um pequeno resumo do que tratamos neste tópico. Nela são destacadas as principais teorias e seus expoentes mais célebres. É evidente que, como em qualquer seleção, estamos sujeitos a cometer alguma injustiça. Em termos econômicos, isso não deixa de ser um custo de oportunidade, já que toda escolha implica em custo em termos de algo não escolhido. A justificativa para algumas ausências é que este material considera a corrente principal da teoria monetária. Tenha ciência, portanto, caro aluno, que o assunto não se esgota aqui. Existem teorias heterodoxas, como por exemplo a moderna teoria monetária, que podem ser encontradas em livros específicos. De qualquer forma, eu acredito que estamos bem servidos, consideramos as principais teorias e grandes economistas, muitos dos quais prêmio Nobel de Economia, que em sua época representaram, e muitos ainda representam, a dinâmica da economia monetária. Figura 1 – Linha do tempo da economia monetária Teorias e seus grandes pensadores Fonte: elaboração própria Vimos então neste tópico uma breve revisão da história do pensamento da economia monetária. Entretanto algo pode ser destacado, existe uma questão chave sobre as teorias apresentadas: a capacidade ou não da política monetária de influenciar as variáveis reais. Como vimos, essa discussão é antiga, já faz alguns séculos! Vai desde a neutralidade da moeda, vertente defendida pela escola clássica, até a sua não neutralidade, em que a política monetária afeta o emprego e a renda tanto no curto quanto no longo prazo, visão defendida por Keynes. Mas como falamos, veremos mais sobre isso! Aqui foi apenas um aperitivo do que será tratado ao longo deste curso. 3 POLÍTICAS E INSTITUIÇÕES Imagem do Tópico: ID: 286279040 Concluímos o tópico anterior apresentando a questão chave do debate monetário: a capacidade da política monetária em afetar as variáveis reais. Esse debate tem grande influência sobre a atuação das autoridades monetárias, pois, o tipo de políticas que serão adotadas, com que intensidade, quais serão seus objetivos e até mesmo qual será o fim das instituições monetárias, necessariamente, depende de como essa questão chave será respondida. A definição dos objetivos finais para a política monetária é um tema particularmente controverso da teoria econômica, envolvendo discussões diversas, como a existência (ou não) de um trade-off manipulável entre inflação e desemprego [...] ou, ainda, da validade da hipótese da taxa natural de desemprego. A aceitação dessas hipóteses teóricas têm consequências diretas sobre a condução da política monetária, pois resulta em aceitar ou não se esta tem capacidade de afetar a longo prazo as variáveis reais da economia, como o nível de produto e de emprego, ou se afeta apenas as variáveis nominais, como a inflação. Em outras palavras, o que está em jogo é saber o que a política monetária é capaz de fazer e, portanto, se ela deve ser conduzida de forma discricionária ou com base em uma regra (CARVALHO et al., p. 158, 2007). As autoridades monetárias, teoricamente, têm como principal objetivo promover a estabilidade de preços, porém, na prática, ainda que implicitamente, outros objetivos também são almejados, tais como: estimular o emprego, o crescimento econômico, a estabilidade da taxa de câmbio e a prevenção e redução do risco sistêmico. Novamente, o objetivo fundamental da autoridade monetária é motivo de constante controvérsia, principalmente quanto ao dilema: estimular emprego e renda ou promover a estabilidade de preço. Posso apostar que o aluno já deve ter ouvido coisas do tipo: é um erro ter meta para inflação e não ter meta para o produto. Basicamente, é disso que se trata essa discussão. Enquanto para uns a política monetária é um fim em si mesma, promovendo de forma direta o crescimentoeconômico, para outros a política monetária é um meio em que para se obter crescimento econômico sustentável, previamente deve-se promover a estabilidade e previsibilidade dos preços. Nesse sentido, veja o posicionamento do BACEN (2016) à pergunta: por que a estabilidade de preços foi escolhida como objetivo primordial da política monetária no Brasil? Hoje há consenso na sociedade sobre as vantagens da estabilidade de preços, condição necessária para que possa haver crescimento auto sustentado. Além disso, no médio e longo prazo, maior inflação não gera maior crescimento; pelo contrário, cria ambiente desfavorável aos investimentos e penaliza as camadas mais pobres da sociedade, promovendo concentração de renda. Vale adicionar que os principais bancos centrais do mundo adotam, de forma implícita ou explícita, a estabilidade de preços como principal objetivo da política monetária (BACEN, 2016). Apesar da discussão quanto à finalidade da política monetária, atualmente na prática os pensamentos de várias escolas são compartilhados. É como um “mix” de escolas econômicas, em que a política monetária tem capacidade para afetar as variáveis reais (visão de Keynes) e que autoridade monetária, com base em regras, deve promover a previsibilidade, a transparência e a credibilidade a fim de diminuir incertezas e evitar expectativas inflacionárias por parte dos agentes econômicos (visão monetarista e novo clássica). Especificamente no Brasil, apesar de ingerências na política monetária ocorrida na primeira metade da década de 2010, o sistema vigente utiliza-se da política monetária para estimular as variáveis reais, bem como respeitar as regras e a meta de inflação previamente estabelecida. Para que a finalidade da política monetária seja alcançada, as autoridades monetárias utilizam-se de métodos ou, como são majoritariamente conhecidos, de instrumentos de política monetária. São três os instrumentos de política monetária: (a) operações de mercado aberto; (b) taxa de redesconto; e, (c) reservas compulsórias (DORNBUSCH & FISCHER & STARTZ , 2011). A operação de mercado aberto é o instrumento de política monetária mais eficaz e mais utilizado pelas autoridades monetárias, pois opera diretamente sobre as reservas bancárias6. Este instrumento, também chamado de open market, funciona por meio da compra e venda de títulos públicos por parte do BACEN, afetando o volume de reservas bancárias da seguinte forma: (a) se as vendas de títulos em um dia são maiores que os resgates, há redução de reservas; e (b) se os resgates de títulos em um dia são maiores que as vendas, há aumento de reservas (CARVALHO et al., 2007). Para facilitar o entendimento, imagine uma operação simples de compra e venda. Quando o BACEN vende títulos públicos a um banco qualquer, ele está entregando o título para este banco, que por sua vez saca de suas reservas bancárias para pagar o BACEN. Logo, o banco em questão terá mais títulos e menos reservas bancárias. Isso equivale a uma política monetária contracionista, i.e., o BACEN está diminuindo a oferta de moeda da economia (redução das reservas bancárias). Por outro lado, se o BACEN quer aumentar a oferta de moeda, i.e., realizar uma política monetária expansionista, deverá comprar títulos públicos, e a contrapartida será o aumento da conta reservas bancárias. O segundo instrumento de política monetária são as taxas de redesconto. Também chamadas de assistência financeira de liquidez, são empréstimos que o BACEN faz aos bancos. São como empréstimos de última instância, voltado normalmente para atender necessidades esporádicas de reservas por parte das instituições financeiras (CARVALHO et al., 2007). Para auxiliar no entendimento, o redesconto é como um cheque especial dos bancos. Nesse sentido, o BACEN atua como banco dos bancos, promovendo uma linha de empréstimo para assistência de liquidez. A taxa de juros cobrada por esse empréstimo é a taxa de redesconto. Por meio desta taxa, o BACEN controla a oferta de 6 Reservas Bancárias é a conta mantida no Banco Central para receber as disponibilidades em moeda nacional de participantes do Sistema Financeiro Nacional (SFN), utilizadas na liquidação financeira das operações realizadas com a autoridade monetária ou com outras instituições do SFN (BACEN, 2016). Portanto, de forma simplificada, são os depósitos que os bancos possuem no Banco Central. moeda da economia. A dinâmica é a mesma quando vamos usar o nosso cheque especial. Se a taxa do cheque especial for muito alta, devemos ser conservadores com nossos recursos para não precisarmos recorrer a ele. Agora, se a taxa do cheque especial for bem baixinha, muitos irão flexibilizar as contas pessoais, pois, se for necessário, terão acesso a recursos a custos menores. Assim, quanto maior for essa taxa, menor será o estímulo para os bancos emprestarem recursos ao público, uma vez que o “custo” do seu empréstimo (redesconto) está mais alto. Logo, a taxa de redesconto mais alta restringe a oferta de moeda, i.e., uma política monetária contracionista. Por outro lado, ocorrerá uma política monetária expansionista quando a taxa de redesconto for menor, pois, os bancos serão incentivados a aumentarem seus empréstimos ao público sem serem penalizados no caso de necessidade do redesconto. Por fim, o terceiro instrumento de política monetária são as reservas compulsórias, ou, recolhimento compulsório. Como o próprio nome já diz, são depósitos, sob a forma de reservas bancárias, que cada instituição financeira é legalmente obrigada a manter no BACEN em reserva bancária, sendo calculada como um percentual sobre seus depósitos (CARVALHO et al., 2007). Quando um você vai ao seu banco efetuar um depósito, seja na conta corrente, na poupança ou depósitos a prazo (CDB), o seu banco é obrigado a recolher parte desse depósito ao BACEN sob a forma de depósito compulsório. O montante recolhido compulsoriamente pode ser observado no Gráfico 1, evidenciando que, atualmente, a principal fonte de recolhimento compulsório são os depósitos a prazo. Gráfico 1 - Reservas Compulsórias Recolhimento obrigatórios de instituições financeiras – Valores Nominais (R$ milhões) Fonte: BACEN (2021). Portanto, fica fácil de perceber que quanto maior a parte que deve ser obrigatoriamente recolhida, menos recursos irão sobrar para a instituição financeira emprestar aos seus clientes e vice-versa. É dessa maneira que a autoridade monetária utiliza este instrumento para fazer política monetária, pois, elevando o percentual de reserva compulsória menor será o volume de moeda disponível na economia, i.e., menor será a capacidade dos bancos de emprestar os recursos captados. Portanto, a elevação do percentual da reserva compulsória equivale a uma política monetária contracionista. Por outro lado, se a autoridade monetária quer praticar uma política monetária expansionista, via depósitos compulsórios, deverá recolher percentual menor de reserva obrigatória, assim, maior será a quantidade de recursos a disposição das instituições financeiras e, consequentemente, maior será a moeda em circulação. Foi justamente isso que o BACEN fez em 2020 no início da pandemia da Covid-19, reduziu a alíquota do compulsório a fim de estimular a economia com mais dinheiro em circulação. Um jeito útil de entender as coisas ao nosso redor é levar no limite a questão em pauta. Vamos aplicar essa lógica à reserva compulsória. Se a reserva compulsória for de 100%, todos depósitos captados pelas instituições financeiras ficarão em poder da autoridade monetária, portanto, todos os recursos que foram captados não poderão ser aplicados pelas instituições financeiras. Nesse caso extremo, fica evidente como seria restrito o volume de crédito na economia, pois, o processo de intermediação financeira, que veremos no próximo tópico, deixa de existir. Agora,se a reserva compulsória for de 0%, todos os recursos que as instituições financeiras captarem ficarão integralmente à sua disposição, podendo aplicar todos esses recursos conforme sua conveniência, emprestando mais dinheiro para seus clientes ou criando e ampliando linhas de financiamento. No segundo caso extremo, ausência de reserva compulsória, podemos inferir uma outra questão: se é interesse das instituições financeiras emprestar o máximo de seus recursos para obter maior lucro, o risco do sistema financeiro não seria maior se todo recurso pode ser emprestado? Nesse caso, o risco sistêmico seria muito maior. Portanto, as reservas compulsórias assumem também um papel de “colchão de liquidez”, ou seja, a critério do BACEN, as reservas de emergência que podem ser utilizadas pelas instituições financeiras em situações de crise, como a que ocorreu em 2008. Portanto, as reservas compulsórias são ainda importante instrumento para a preservação da estabilidade financeira (BACEN, 2021). A Tabela 1, apresenta de forma resumida os efeitos na quantidade de moeda em circulação decorrente da alteração nos instrumentos de política monetária. Tabela 1 – Instrumentos de Política Monetária Os efeitos da política monetária sobre a quantidade de moeda Instrumentos Política Monetária Expansionista Contracionista Operações de Mercado Aberto Governo injeta dinheiro na economia adquirindo títulos públicos. Governo retira dinheiro da economia vendendo títulos públicos. Taxa de Redesconto Autoridade monetária diminui a taxa do redesconto. Autoridade monetária aumenta a taxa do redesconto. Reservas Compulsórias Diminui o percentual de recolhimento compulsório. Aumenta o percentual de recolhimento compulsório. Fonte: (ASSAF NETO, p. 27, 2017). Uma vez visto os instrumentos de política monetária, vamos dar um passo adiante para concluirmos a operacionalização e a atuação das autoridades monetárias na política monetária. Entre a operacionalização dos instrumentos de política monetária e a consecução de seus objetivos, existe um intervalo de tempo, denominado de defasagens ou lags. A evidência empírica aponta que a defasagem da política monetária é de três a cinco trimestres (BACEN, 2007). Ou seja, o que é semeado hoje deverá ser colhido daqui a três a cinco trimestres. Mas entre a semeadura e a colheita ninguém fica de braços cruzados, é preciso muito trabalho nesse meio tempo. Evidentemente, entre a operacionalização dos instrumentos e a obtenção dos objetivos, a autoridade monetária não irá ficar no escuro esperando todo esse período para ver se a operação atingiu seu objetivo. Ao longo desse período a autoridade monetária possui (a) metas operacionais e (b) metas intermediárias, que “são como sinais de estrada que servem para informar ao Banco Central se a política está a caminho de fazer efeito ou não” (CARVALHO et al., p. 159, 2007). As metas operacionais são (a) determinação da taxa de juros básica de curto prazo; e, (b) controle das reservas bancárias agregadas. Mudanças nas variáveis operacionais afetam as metas intermediárias. Por sua vez, as metas intermediárias são (a) taxa de juros de longo prazo; e (b) os agregados monetários. Estas servem como indicadores da política monetária e fornecem informações imediatas e contínuas, importante para verificar se os instrumentos estão tendo o impacto desejado, e se as ações da política estão no sentido desejado, contracionista ou expansionista (CARVALHO et al., 2007). A Tabela 2 evidencia a estrutura da política monetária, em que é sintetizado os passos dados pela autoridade monetária para atingir seus objetivos. Resumidamente, do ponto (A) até o ponto (B) existe uma defasagem de tempo, logo, para garantir que a política está no caminho pretendido, a autoridade monetária operacionaliza (A1) e analisa o comportamento de (A2). Tabela 2 – Estrutura analítica da política monetária Instrumentos e metas para alcançar os objetivos da política monetária (A) (A1) (A2) (B) Instrumentos de Política Monetária Metas Operacionais Metas Intermediárias Objetivos de Política Monetária Operações de Mercado Aberto Taxa de Juros de curto prazo Taxa de Juros de Longo Prazo Inflação Nível de atividade Taxa de Redesconto Reservas Bancárias Agregados Monetários Taxa de desemprego Reservas Compulsórias Estabilidade do Sistema financeiro Fonte: (CARVALHO et al., p. 161, 2007). Vimos então neste tópico os instrumentos de política monetária que podem ser utilizados pela autoridade monetária de acordo com sua estratégia de política monetária. Vimos que existe um tempo entre a operação da política monetária e seus efetivos resultados. Nesse meio tempo, a autoridade monetária foca suas atenções em metas operacionais e intermediárias para que o resultado efetivo esteja em conformidade ao desejado. 4 POLÍTICA FINANCEIRA Imagem do Tópico: ID: 530884738 Quando falamos em política financeira, estamos tratando de algo mais amplo que a política monetária que temos discutido. Isso ocorre porque o mercado monetário é uma das espécies do gênero mercado financeiro. Embora nosso foco seja o mercado monetário, ao menos nesse tópico iremos tratar de forma breve acerca do mercado financeiro. Para isso, devemos ter em mente que o mercado financeiro engloba outros mercados. Portanto, além do mercado monetário, o mercado financeiro engloba ainda o mercado de crédito, mercado de capitais e o mercado cambial. Como já sabemos, o mercado monetário visa o controle da oferta monetária na economia por meio dos instrumentos de política monetária e da fixação da taxa de juros básica da economia. A atuação é restrita à autoridade monetária. O mercado de crédito engloba as operações de financiamento de curto e médio prazos, direcionadas aos consumidores, aos ativos permanentes e capital de giro das empresas. É um mercado de fácil assimilação, pois estamos familiarizados com seus operadores, que são principalmente os Bancos e as Sociedades Financeiras (ASSAF NETO, 2017). O mercado de capital compreende as operações de médio e longo prazos e de prazo indeterminado, envolvendo títulos derivados do capital das empresas (ações) e de operações de empréstimos sem a intermediação financeira dos bancos. Neste caso, esses empréstimos ocorrem por meio direto no mercado, como exemplo, as debêntures7 (ASSAF NETO, 2017). Geralmente associamos o mercado de capital, como o mercado acionário, entretanto, ele é muito mais abrangente que a compra e venda de ações de empresas de capital aberto. O mercado de capitais pode ser definido com um conjunto de instituições e de instrumentos que negociam com títulos e valores mobiliários, objetivando a canalização dos recursos dos agentes compradores para os agentes devedores. Ou seja, o mercado de capitais representa um sistema de distribuição de valores mobiliários que tem o propósito de viabilizar a capitalização das empresas e dá liquidez aos títulos emitidos por elas. O surgimento do mercado de capitais ocorreu quando o mercado de crédito deixou de atender às necessidades da atividade produtiva, no sentido de garantir um fluxo de recursos nas condições adequadas em termos de prazos, custos e exigibilidades. (PINHEIRO, p. 180, 2016). Por fim, o mercado cambial abrange as operações de conversão de moedas de diferentes países. Está vinculado, portanto, na relação de um país com o resto do mundo, principalmente, pela necessidade da prática de comércio internacional. É um mercado regulamentado pelo BACEN e seus operadores são bancos múltiplos, corretoras, agências de turismo e outras instituições autorizadas pelo BACEN (ASSAF NETO, 2017). Portanto, de forma geral, uma política financeira pode englobar diversos mercados, seja na alteração da taxa básica da economia pelo BACEN (mercado monetário), sejauma alteração em alguma linha de financiamento ofertada pelos bancos (mercado de crédito), seja uma nova exigência para uma empresa abrir seu capital (mercado de capital), ou, ainda, seja alguma mudança na política cambial do país (mercado cambial). De forma ainda mais abrangente, a política financeira está relacionada com processo de intermediação financeira, i.e., o processo por meio do qual a transferência de recursos entre os agentes superavitários e deficitários é realizada, promovendo diversos benefícios para dinâmica econômica, entre eles: redução das 7 Debênture é um título mobiliário que garante ao comprador uma renda fixa. O portador de uma debênture é um credor da empresa que a emitiu e tem como garantia todo o patrimônio da empresa. Há ainda as debêntures conversíveis, que são aquelas que podem ser conversíveis em ações, segundo condições estabelecidas previamente (Sandroni, 2003). De forma geral, é um empréstimo que você faz diretamente a empresa, não havendo, por exemplo, um banco como intermediário financeiro. incertezas, economias de escala, compartilhamento de riscos, incentivo a poupança, disseminação de informação, ganhos de eficiência etc. (PINHEIRO, 2016). Sob a supervisão das autoridades governamentais, as políticas financeiras têm por finalidade estimular os benefícios econômicos provenientes do processo de intermediação financeira. A Figura 1 apresenta de modo esquemático o processo de intermediação financeira. Os agentes deficitários (tomadores de fundos) conseguirão recursos por meio de várias instituições (intermediários financeiros), que por sua vez, captam recursos dos agentes superavitários (fornecedores de fundos). As transferências de recursos de um agente a outro são viabilizadas por meio do mercado financeiro. Figura 1 – Esquema geral do Mercado Financeiro Processo de Intermediação Financeira Fonte: (PINHEIRO, p. 26, 2016). Fechamos este último tópico de nossa primeira unidade, esclarecendo que a política financeira se difere da política monetária por se tratar de política mais abrangente. Vimos que os mercados monetário, de crédito, de capital e cambial estão contidos no mercado financeiro e que uma política financeira, sob a supervisão de órgãos governamentais, visa estimular o processo de intermediação financeira como um todo. SAIBA MAIS Canal de transmissão da política monetária Expectativas de Mercado Uma importante complementação aos nossos estudos é verificar as fontes de dados reais associados à economia monetária. Para tanto, uma importante fonte de informação é o site do Banco Central do Brasil (https://www.bcb.gov.br/). Complementando nosso estudo, vamos verificar um importante relatório do BACEN, o relatório Focus. O Relatório Focus resume as estatísticas calculadas considerando as expectativas de mercado coletadas até a sexta-feira anterior à sua divulgação. Ele é divulgado toda segunda-feira. O relatório traz a evolução gráfica e o comportamento semanal das projeções para índices de preços, atividade econômica, câmbio, taxa Selic, entre outros indicadores. As projeções são do mercado, não do Banco Central (BACEN, 2021). Como vimos, um dos canais de transmissão da política monetária é o canal das expectativas, e o Relatório Focus traz as expectativas das principais variáveis macroeconômicas. Uma delas é a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) a preços de mercado. Como podemos observar no Gráfico 2, a previsão de crescimento do PIB a preços de mercado para o ano de 2021 era de 2,48% em 18/03/2020. Esse crescimento foi alterado a partir desta data, devido aos efeitos negativos decorrentes da pandemia de Covid-19. Como a previsão para o ano de 2020 passou a ser uma recessão, é natural uma expectativa de crescimento maior no ano seguinte, já que a base de comparação será menor. Portanto, não se trata de uma melhora nos fundamentos da economia para o ano de 2021, mas sim de uma piora no crescimento econômico para o ano de 2020. Após discretas oscilações a partir do mês maio, a expectativa de crescimento para o ano de 2021 em 19/02/2021 é de 3,37%. Provavelmente o crescimento econômico de 2021 não irá compensar a recessão de 2020. Será necessário mais de um ano para "tapar o buraco” de 2020. Haja coração!!! Fonte: https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/relatoriofocus (BACEN, 2021) Gráfico 2 – Expectativa de Crescimento do PIB 2021 Taxa de crescimento anual (%) Fonte: BACEN (2021). REFLITA A prosperidade, o capitalismo e o sistema financeiro A longuíssimo prazo – digamos, os mil anos que antecederam o século XVIII – as rendas pessoais na Europa Ocidental duplicavam a cada período de 630 anos. Após a disseminação do moderno capitalismo, contudo, começaram a duplicar a cada período de 50 ou 60 anos. Dobravam a cada 40 anos nos Estados Unidos e a cada 25 anos no Japão, que começou mais tarde e pode se beneficiar dos exemplos europeu e americano (GIAMBIAGI & SCHWARTSMAN, p. 81, 2014). Não há como dissociar o capitalismo moderno da evolução do sistema financeiro. Se há tantos benefícios, se a evolução humana é tão evidente com o atual sistema, por que tantos pensamentos contrários? Por que tantos duvidam da sua eficiência? Fonte: elaboração própria. #REFLITA# 18/03/20 2,48 19/02/21 3,37 2,40 2,60 2,80 3,00 3,20 3,40 3,60 CONSIDERAÇÕES FINAIS Olá aluno, Chegamos ao final de nossa primeira unidade. Como vimos, trata-se de uma unidade de contextualização. Trouxemos aqui assuntos mais abrangentes que nos auxiliarão na compreensão das próximas unidades. Essencialmente, podemos destacar que ao longo da evolução da teoria monetária a grande questão a ser respondida é se a moeda tem capacidade ou não para influenciar o emprego e a renda. Dependendo da época e da teoria vigente o papel da política monetária se alterava. Atualmente predomina o pensamento de que a política monetária possui capacidade para afetar as variáveis reais. Além disso, ela deve ser guiada pela previsibilidade a fim de minimizar as incertezas. Tratamos ainda de outros assuntos que são essenciais à teoria monetária. A partir destes conhecimentos, podemos responder algumas questões, tais como: ● Quais são os mecanismos de transmissão da política monetária? ● Quais são os principais pensadores e teorias da economia monetária? ● Por que há meta para inflação e não há meta para o emprego? ● Quais são os principais instrumentos de política monetária? ● Como funciona o processo de intermediação financeira? De posse dos assuntos aqui tratados, podemos seguir adiante, desenvolver novos conceitos e, acima de tudo, permanecer em movimento! Parabéns pela conclusão desta unidade! Nos vemos na unidade II. Forte abraço!! LEITURA COMPLEMENTAR ● Relatório do Focus https://www.bcb.gov.br/content/focus/focus/R20210305.pdf ● Recolhimento compulsório https://www.bcb.gov.br/conteudo/relatorioinflacao/EstudosEspeciais/EE072_Discussao _sobre_as_funcoes_dos_recolhimentos_compulsorios.pdf LIVRO • Título. Juros, moeda e ortodoxia - Teorias monetárias e controvérsias • Autor. André Lara Resende • Editora. Portfolio; 1ª edição (26 junho 2017) • Sinopse. Neste conjunto de ensaios, André Lara Resende reflete sobre as origens e o desenvolvimento da teoria monetária e suas implicações no contexto brasileiro. Juros, inflação e política fiscal recebem do autor um enfoque inovador, ancorado nas melhores investigações da atualidade, que põem em questão algumas convicções estabelecidas. Da teoria à história, os ensaios discutem as políticas comumente receitadas para a inflação crônica, a recessão e o desemprego. Antes de buscar a polêmica fácil ou propor uma “nova heterodoxia”, este livro pretende estimular o debate ao abrir uma janelade oportunidade para a reflexão sobre políticas públicas da mais alta relevância. FILME/VÍDEO • Título. Luta do século - Keynes x Hayek • Ano. 2010 • Sinopse. Embate animado entre dois célebres economistas com duas teorias bastante conhecidas e opostas. • Link do vídeo (se houver). https://www.youtube.com/watch?v=O5jeXrKvJXU REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Mercado Financeiro. 13º Edição. Editora Atlas. São Paulo. 2017. BACEN - Banco Central do Brasil – Sistema de Metas para Inflação. Disponível em:< http://www.bcb.gov.br/>. Acesso em: várias datas. 2021. BACEN - Banco Central do Brasil – Regime de Metas para a Inflação no Brasil. Série Perguntas Mais Frequentes. Disponível em:<https://www.bcb.gov.br/content/ cidadaniafinanceira/Documents/publicacoes/serie_pmf/FAQ%2010- Regime%20de%20Metas%20para%20a%20Infla%C3%A7%C3%A3o%20no%20Brasil. pdf>. Acesso em: várias datas. 2016. BACEN - Banco Central do Brasil – Política Monetária e Defasagens do Mecanismo de Transmissão. Disponível em:<https://www.bcb.gov.br/content/ri/relatorioinflacao /200709/RELINF200709-ri200709b6p.pdf>. Acesso em: várias datas. 2007. CARVALHO, F.C.; SOUZA, F.E.P.; SICSÚ, J.; PAULA, L.F.R.; STUDART, R. Economia Monetária e Financeira. 2º Edição. Editora Campus. 2007. DORNBUSCH, R.; FISCHER, S.; STARTZ, R. Macroeconomia. 11ª Edição. Editora Bookman. 2011. GIAMBIAGI, F.; SCHWARTSMAN, A. Complacência: entenda por que o Brasil cresce menos do que pode. Editora Elsevier. Rio de Janeiro. 2014. LOPES, L.M.; VASCONCELLOS, M.A.S. Manual de Macroeconomia. 3º Edição. Editora Atlas. São Paulo. 2009. PAULANI, L.M.; BRAGA, M.B. A Nova Contabilidade Social. 5º Edição. Editora Saraiva. São Paulo. 2020. PINHEIRO, J.L. Mercado de Capitais. 8º Edição. Editora Atlas. São Paulo. 2016. SANDRONI, P. Novíssimo dicionário de Economia. 11º Edição. Editora Best Seller. São Paulo. 2003. UNIDADE II SISTEMATIZAÇÃO Professor Murilo Borges Plano de Estudo: ● Sistema Financeiro Nacional ● Moeda e o Sistema Bancário ● Banco Central e o Sistema Monetário ● Teoria Quantitativa da Moeda ● A demanda por Moeda, a escolha de Ativos e a Preferência pela Liquidez de Keynes Objetivos de Aprendizagem: ● Apresentar a organização do Sistema Financeiro Nacional; ● Apresentar as principais atribuições do Conselho Monetário Nacional; ● Contextualizar a origem e evolução da moeda; ● Descrever as funções da moeda; ● Diferenciar a moeda manual da moeda escritural; ● Apresentar as principais atribuições do Banco Central do Brasil; ● Definir os agregados monetários e o multiplicador monetário; ● Demonstrar a Teoria Quantitativa da Moeda; ● Demonstrar a Teoria da Preferência pela Liquidez. INTRODUÇÃO Olá, aluno! Tudo bem? Vamos continuar nossa jornada pela economia monetária! Antes, porém, vale esclarecer que se uma longa caminhada começa com o primeiro passo, entende-se que vários outros passos serão dados. E aqui estamos nós, dando mais um passo em direção à linha de chegada. Chegar é bom, mas não é o mais importante. Chegar por chegar, perde o sentido. Não faça da caminhada apenas um meio para alcançar o final de sua jornada. A caminhada deve ter valor em si mesma. Portanto, não subestime a caminhada, ela é tão importante quanto à própria chegada. Gostar de caminhar faz você desfrutar ao máximo cada passo dado. E quanto mais você aproveitar os passos de sua caminhada maior será a glória em sua chegada. Aproveite ao máximo mais este passo que se inicia neste momento! Se em nossa primeira unidade tivemos uma visão macroscópica, a partir de agora iremos ficar mais íntimos de nossa disciplina. Além de aprofundar os conceitos vistos na unidade anterior, vamos iniciar os estudos sobre as teorias de economia monetária. No tópico 1, iremos apresentar a organização do Sistema Financeiro Nacional (SFN). Veremos que o SFN é dividido em subsistema de supervisão e subsistema operativo. Para nós é de fundamental importância conhecermos as características das duas principais instituições do subsistema de supervisão: o Conselho Monetário Nacional (CMN) e o Banco Central do Brasil (BACEN). Essas duas instituições são responsáveis por conduzir a política monetária no Brasil. Especificamente neste tópico iremos tratar do CMN, isso porque o BACEN, dada a relevância para nossa disciplina, será tratado em tópico específico ainda nesta unidade. No tópico 2, trataremos da moeda propriamente dita. Veremos que a evolução da moeda está vinculada ao processo de intermediação financeira. Com o passar dos anos, os certificados de depósitos passaram a ser aceitos como se fosse a própria moeda. Era o início da moeda fiduciária como temos hoje. Veremos ainda as funções da moeda e as formas que ela pode assumir: moeda manual (moeda física; a moeda que está na sua carteira) e a moeda escritural (moeda criada pelo sistema bancário). No tópico 3 iremos conhecer mais detalhadamente as principais características do BACEN. Após apresentarmos seus objetivos, atribuições e competências veremos também seu balancete estilizado, pois, a partir deste, poderemos definir os agregados monetários, os meios de pagamento e, consequentemente, o multiplicador monetário. Por fim, nos tópicos 4 e 5 iremos abordar duas das principais teorias de economia monetária, respectivamente, teoria quantitativa da moeda (TQM) e teoria da preferência pela liquidez. Essencialmente essas teorias se diferem devido a forma como encaram a moeda. Se para a TQM a moeda é neutra sem qualquer capacidade para afetar as variáveis reais, para a teoria de Keynes a moeda, além de não ser neutra, é um ativo financeiro, cuja recompensa é sua liquidez absoluta. Fechado então meu caro aluno!? Lembre-se de aproveitar os próximos passos, só assim a chegada deixará de ser um alívio para ser uma conquista! Forte abraço e bons estudos! 1 SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL Imagem do Tópico: ID: 693725104 Concluímos a Unidade 1 apresentando o processo de intermediação financeira e a política financeira. A partir desse entendimento, podemos dar mais um passo adiante e entender que o processo de intermediação e a política financeira ocorrem sob o amparo de uma grande organização denominada Sistema Financeiro Nacional (SFN). Porém, antes de conhecermos como é organizado nosso sistema financeiro, é importante ter em mente que a necessidade de o compreender aumenta com o passar do tempo. Não há dúvida que sua participação é crescente na dinâmica econômica atual e, cada vez mais, suas operações têm aumentado em volume e complexidade. Diante desse entendimento, agora sim, vamos a ele! É claro que o SFN não surgiu do dia para noite. Ele é fruto de um processo que evolui continuamente. Tanto é assim que até hoje temos vivenciado inúmeras inovações por ele promovidas. E como veremos a seguir, propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros é um dos objetivos da política do órgão máximo do SFN. Exemplo claro disso é o PIX, i.e., meio de pagamento criado pelo BACEN em que os recursos são transferidos entre contas em poucos segundos, a qualquer hora ou dia (BACEN, 2021). E melhor, a custo baixo; em determinados casos é custo zero mesmo! Mas, se formos mais pontuais, o SFN surgiu com a Lei nº 4.595, de 31/12/1964, que dispõe sobre a política e as instituições monetárias, bancárias e creditícias, cria o Conselho Monetário Nacional e dá outras providências. Logo em seu primeiro artigo, a citada lei diz que o SFN é estruturado e regulado por ela e será constituído por diversas instituições financeiras públicas e privadas. Além desta norma, a Lei nº 4.728, de 14/07/1965, que disciplina o mercado de capitais e estabelece medidas para o seu desenvolvimento, e a Resolução BACEN nº 1.524, de 21/09/1988, que dispõe sobre a figura dos bancosmúltiplos, são também determinantes para configuração atual do SFN. O SFN, portanto, pode ser entendido como um conjunto de instituições financeiras e instrumentos financeiros que regulam, fiscalizam e executam todas as operações financeiras. De forma mais abrangente, é o SFN que promove a intermediação financeira, isto é, o encontro entre tomadores e credores de recursos (BACEN, 2021). Logo, por meio do SFN viabiliza-se a relação entre agentes carentes de recursos para investimento (agentes deficitários) e agentes capazes de gerar poupança (agentes superavitários). Desta forma, tornar possível esse encontro, consequentemente, promover condições para financiar o crescimento da economia, é o principal objetivo do SFN (ASSAF NETO, 2017). Para fins didáticos podemos dividir o SFN em dois subsistemas: subsistema de supervisão ou normativo e subsistema operativo. O subsistema de supervisão é composto pelas instituições governamentais, tais como: Conselho Monetário Nacional (CMN), o próprio Banco Central do Brasil (BACEN) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). São essas instituições que exercem a fiscalização e definem as diretrizes básicas de seu funcionamento (ASSAF NETO, 2017) Por outro lado, o subsistema operativo é composto pelas instituições financeiras que estamos mais familiarizados, que temos contato frequentemente, tais como: bancos (Itaú, Bradesco, Inter entre tantos outros que conhecemos), bolsa de valores (B3 Brasil, Bolsa e Balcão), Sociedades Corretoras de Títulos e Valores Mobiliários (BTG Pactual, Rico Investimentos, Easy Invest etc.) entre outras. São essas instituições que operacionalizam a transferência de recursos do poupador para o tomador, ou seja, são elas que realizam de fato o processo de intermediação financeira de acordo com as regras estabelecidas pelas entidades do subsistema de supervisão (ASSAF NETO, 2017). A Figura 1 ilustra de forma geral como está organizado o SFN. Figura 1 – Estrutura do Sistema Financeiro Nacional Organograma Fonte: https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/sfn (BACEN, 2021). Especificamente quanto às instituições que integram o subsistema operativo, elas podem ser classificadas ainda em bancárias (ou monetárias) e não bancárias (ou não monetárias). A diferença entre elas é quanto à capacidade de criar moeda escritural por meio de depósitos a vista (conceito que iremos ver ainda nesta Unidade). As instituições bancárias são representadas basicamente pelos bancos múltiplos e bancos comerciais. São essas instituições que operacionalizam os meios de pagamento restrito de uma economia, i.e., papel-moeda em poder do público e depósitos a vista do público nos bancos. Por outro lado, as instituições não bancárias são as corretoras, bancos de investimento, financeiras etc. Estas, por sua vez, não podem receber depósitos à vista, logo, não possuem a capacidade de criar moeda escritural. A elas incumbe uma outra função, que é operacionalizar ativos não monetários, tais como ações, certificados de depósito bancário, debêntures, entre outros (ASSAF NETO, 2017). Como pode ser visto pelo organograma apresentado na Figura 1, o SFN é composto por diversas instituições. Vale destacar que não é nosso objetivo estudar cada uma das instituições que o integram. Isso acaba sendo tema para outras disciplinas, como, por exemplo, a disciplina Mercado Financeiro. Digo isso, porque, como vimos, nossa disciplina é um dos ramos do Mercado Financeiro. Entretanto, há duas instituições do subsistema normativo que não podemos deixar de falar e que estão diretamente relacionadas com a Economia Monetária. Uma é o Banco Central, que de tão relevante para nosso estudo, temos um tópico exclusivo sobre ele ainda nesta Unidade. A outra instituição que merece destaque é o Conselho Monetário Nacional (CMN) que trataremos agora. É relevante destacar as características do CMN, pois, seus objetivos e atribuições norteiam todo o SFN. Como vimos, a Lei 4.595/64 foi quem criou o CMN. Trata-se do órgão máximo de SFN, com atribuição eminentemente normativa, não desempenhando, portanto, nenhuma atividade executiva, cabendo ao BACEN exercer o papel de Secretaria- executiva do CMN. De forma geral, o CMN possui amplas atribuições que podem ser conjugadas em sua finalidade principal: formular a política da moeda e do crédito, objetivando a estabilidade da moeda e o desenvolvimento econômico e social do país (BACEN, 2021). Atualmente o CMN é composto pelo Ministro da Economia, acumulando a função de presidente do Conselho, Presidente do Banco Central e o Secretário Especial de Fazenda do Ministério da Economia. Conforme expresso no artigo 3º da Lei 4.595/64, as políticas adotadas por seus membros devem ter como objetivo: (1) adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessidades da economia; (2) regular o valor interno e externo da moeda e o equilíbrio do balanço de pagamentos; (3) orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras; (4) propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros; (5) zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras; (6) e coordenar as políticas monetária, creditícia, orçamentária e da dívida pública interna e externa (BACEN, 2021). De forma mais específica, o artigo 4º da referida lei elenca as competências do CMN. A seguir apresentamos algumas das atribuições do CMN: • Autorizar as emissões de papel-moeda; • Determinar o percentual de recolhimento compulsório; • Disciplinar o crédito em todas as suas modalidades; • Disciplinar os instrumentos de política monetária e cambial; • Estabelecer normas a serem observadas pelo Banco Central do Brasil em suas transações com títulos públicos; • Fixar as diretrizes e normas da política cambial; • Limitar as taxas de juros, descontos e comissões; • Regulamentar, fixando limites, prazos e outras condições, as operações de redesconto e de empréstimo; • Regular a constituição, funcionamento e fiscalização das instituições financeiras. Então é isso caro aluno. Fechamos mais um tópico. Aqui tratamos das especificidades do SFN. Vimos que o SFN é hierarquizado e composto por diversas instituições financeiras com atribuições específicas. Para facilitar o entendimento, é dividido em subsistema normativo, responsável por estabelecer e fiscalizar as regras do jogo, e subsistema operativo, responsável por efetivamente realizar o processo de intermediação financeira. Quanto a este último subsistema, vimos ainda que ele se subdivide de acordo com a possibilidade das instituições receberem ou não depósitos à vista de seus clientes. Por fim, apresentamos as características principais do órgão máximo do SFN, o CMN. 2 MOEDA E O SISTEMA BANCÁRIO Imagem do Tópico: ID: 249974521 Nesse tópico iremos tratar o que talvez seja a principal mercadoria de uma economia de mercado: a moeda. Bem, ao menos em nossa disciplina não resta qualquer dúvida: a moeda é sim a mercadoria mais importante em uma economia moderna. Antes de falarmos de conceitos mais específicos sobre a moeda, acredito que vale a pena conversarmos sobre sua evolução. A própria evolução da moeda está relacionada com o surgimento do processo de intermediação financeira que já discutimos e fundamental para o sistema financeiro tal qual conhecemos hoje. A moeda já teve várias formas. A primeira delas, a moeda era uma mercadoria propriamente dita. Ter uma mercadoria como moeda limita a realização de trocas. Só as trocas diretas (escambo) são possíveis, ou seja, uma transação é, ao mesmo tempo, venda de uma mercadoria e compra de uma outra. Processo conhecido também como coincidência mútua e complementar de necessidades (CARVALHO et al., 2007). Imaginemos: eu tenho um cavalo e quero um porco. Preciso encontrar alguém que quer um cavalo e quer se desfazer de um porco. Mas umcavalo vale mais que um porco! Vou ter que trocar meu cavalo por mais de um porco e trocar o porco excedente em outra coisa que necessito. Poxa, isso dá trabalho! Eu só preciso de um porco! Era desse jeito que funcionava. Isso só é possível em uma economia primitiva, baseada na subsistência e autossuficiência. Basicamente, no escambo há os seguintes inconvenientes: (a) custo para manter a acumulação em ativos reais; (b) dificuldade de especialização e divisão do trabalho; e, (c) perda de eficiência na alocação de recursos (PINHEIRO, 2016). É evidente que não há bons incentivos ao realizar trocas diretas. Porém o mundo gira e as necessidades vão sendo alteradas. A própria evolução econômica e social vai demandando novas formas de interação (qualquer semelhança com a atualidade não é mera coincidência!). Aos poucos o escambo foi dando lugar a processos indiretos de troca. Surgem então a segunda forma de moeda, são as chamadas moedas- mercadorias. São moedas que possuem valor intrínseco, i.e., um valor em si mesma. Diversas mercadorias já foram utilizadas como moedas. Eram produtos que mesmo que não fossem no momento úteis ou desejados pelos que recebiam, eram aceitos sem grandes restrições, porque todos os aceitavam. Portanto, temos uma mercadoria que fará a intermediação, logo, a coincidência mútua e complementar de necessidades não será mais necessária (PINHEIRO, 2016). Apenas para fins de curiosidade, até hoje usamos termos que nos remetem a essa época remota das moeda-mercadorias. Um exemplo clássico é a palavra salário. Durante o império romano, o sal era utilizado para pagar o trabalho dos soldados. Era uma mercadoria muito importante, pois era utilizada para acelerar o processo de cicatrização e para conservar e dar sabor aos alimentos. Numa época sem as facilidades da modernidade, o sal era um presente de Deus, na verdade um presente da deusa Salus, a deusa da saúde, de onde deriva a palavra sal. Mas veja; embora a história seja interessante e que havia mercadorias demandadas por todos, isso não parece ainda muito eficiente. No nosso exemplo de troca de cavalo por porco, incluindo agora o intermediário sal como moeda, vou ter que trocar meu cavalo por um monte de sal e procurar alguém que esteja precisando de sal e que tenha um porco. Pelo visto, podemos imaginar que estocar e transportar o sal não eram das tarefas mais fáceis. Sem falar da possibilidade de “batizar” o sal e vender um quilo de 800 gramas de sal! Com essas dificuldades ainda presentes, gradativamente surge a moeda metálica e, em virtude das vantagens oferecidas ao comércio, difundiu-se pelo mundo inteiro. Os metais foram escolhidos como moedas por possuírem algumas características importantes: valor intrínseco, dureza, raridade relativa, grande valor, identidade, pequena variação de valor, facilidade de reconhecimento e ponto de fusão elevado (PINHEIRO, 2016). Entretanto, temos uma limitação importante. O volume de negócio não podia ficar limitado ao volume de estoque de metais preciosos. Com pouco metal precioso para uma demanda cada vez maior de transações, o valor do metal se eleva, ficando escasso, dificultando o comércio e gerando conflitos e convulsões sociais importantes. Como corrigir esse problema caro aluno? Que tal fazermos igual o sal, vamos “batizar” o ouro ou a prata! Agora que tal emitir um quilo de metal precioso de 800 gramas. Teremos 10 quilos de moedas de “ouro” utilizando apenas 8 quilos de ouro1. Fica claro que a falsificação sempre foi uma alternativa, mas como dizem: a necessidade é a mãe da invenção! A variação de tamanho das moedas metálicas e a diversidade de materiais utilizados em sua confecção, entre eles o ouro, obrigavam os comerciantes a pesar as moedas e verificar o teor do metal utilizado, em operações bastante morosas. Para facilitar as negociações, os ourives passaram a depositar as moedas em bancos, recebendo então certificados de depósitos, com promessa de devolução ao portador da quantia entregue. Esses certificados, conversíveis a vista, deram início ao aparecimento da moeda papel, ou representativa, que possuía um lastro de metal nobre. As vantagens que os certificados representavam para o comércio eram enormes, pois inspirava confiança, sendo aceitos como se fossem a própria moeda. (PINHEIRO, p. 16, 2016). É evidente que demos aqui um salto histórico de alguns séculos, mas, relativamente, estamos bem próximos do que entendemos ser uma moeda: moeda fiduciária (de fidúcia ou confiança), sem lastro (sem valor intrínseco), papel-moeda (cédula) e inserida num processo de intermediação financeira. 1 Os governos que tinham a necessidade de se financiar se utilizavam desse “jeitinho” para aumentar a capacidade de fazer mais moeda, pois, ao diminuir a quantidade de ouro nas moedas, o governo ampliava o montante de moeda em circulação. Essa prática deu origem ao termo senhoriagem, i.e., o ganho decorrente da emissão apropriado por aquele (senhor) que tem o poder (monopólio) de emissão (Lopes & Vasconcellos, 2009). Diante disso, podemos dar um passo adiante e definir quais são as funções da moeda. A moeda é um objeto que desempenha três funções: (1) meio de troca; (2) unidade de conta; (3) reserva de valor (LOPES & VASCONCELLOS, 2009). A função meio de troca é uma função básica da moeda e está associada ao que tratamos até aqui. A própria evolução econômica e social da humanidade exigia maiores facilidades, um processo mais ágil em consonância com o volume crescente de trocas comerciais. Com a função meio de troca é possível realizar trocas indiretas e, em última análise, ao permitir que vendas e compras sejam feitas em datas diferentes, a moeda exerce a função meio de pagamento. Portanto, meio de troca/meio de pagamento é a função que elimina os atritos das transações comerciais que são típicos de uma economia primitiva (CARVALHO et al., 2007). A segunda função da moeda é a unidade de conta. Esta função expressa a ideia de que a moeda é a expressão geral de valor, i.e., é uma referência para todas as demais mercadorias. Portanto, o preço relativo entre as diferentes mercadorias passa a ser definido pela relação entre os respectivos preços monetários (LOPES & VASCONCELLOS, 2009). Em outras palavras, é um meio que os agentes econômicos utilizam para orientar seus preços. Como todos os agentes têm como referência e orientação sua respectiva moeda, logo todos os bens e serviços de uma economia tem seus preços nela baseados. A moeda de conta, ou unidade de conta contratual, é a representação intangível da moeda; a moeda como meio de troca, ou unidade de pagamento é sua representação concreta. A função moeda de troca deriva da função moeda de conta. A existência da moeda de troca é requerida porque se atribui a todas as mercadorias, serviços e ativos de uma economia valores na forma de moeda de conta. A moeda de conta que aparece no conjunto de contratos estabelece qual será a moeda corrente de uma economia. Assim, a moeda é aceita, em geral, por todos em todas as transações (CARVALHO et al., p. 3, 2007). A terceira e última função da moeda é a reserva de valor. Esta função decorre das anteriores, pois, justamente pela moeda ser referência para todas as transações (unidade de conta) e, consequentemente, todos os agentes a utilizam (meio de troca) será possível a retenção da moeda por período maior que a transação em si (reserva de valor). Assim, a função reserva de valor é ser um repositório de poder de compra sobre o tempo (PINHEIRO, 2016). Além disso, por meio da reserva de valor abrimos a possibilidade de que as transações não sejam imediatamente liquidadas, logo, uma mercadoria ou serviço qualquer pode circular com uma promessa futura de pagamento. Esta possibilidade de diferir o pagamento, ou seja, a liquidação de uma transação em data futura, é a origem do sistema de crédito
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