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ECONOMIA MONETÁRIA

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ECONOMIA MONETÁRIA 
#CURRÍCULO LATTES# 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Professor Dr. Murilo Borges 
 
● Doutorado em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). 
● Mestrado em Teoria Econômica pela UEM. 
● Bacharel em Ciências Econômicas pela UEM. 
● Especialista em Tecnologias Aplicadas ao Ensino a Distância pelo Centro 
Universitário Cidade Verde (UniFCV). 
● Especialista em Administração Tributária pela Universidade Castelo Branco. 
● Certificação de Investimentos Anbima CPA10 e CPA20. 
● Docente dos cursos de Administração e Economia da UniFCV. 
● Professor de pós-graduação na UniFCV. 
 
Funcionário do Banco do Brasil e professor do Centro Universitário Cidade Verde 
(UniFCV). Possui graduação em Ciências Econômicas (2003), Mestrado (2014) e 
Doutorado (2019) em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). 
Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Bancária e Financeira, 
atuando principalmente nos seguintes temas: certificações de investimentos, economia 
monetária, estatística e econometria. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO DA APOSTILA 
 
Olá aluno! 
Para ser graduado em qualquer curso superior é preciso concluir várias disciplinas. A 
regra é clara: se a soma das disciplinas concluídas for igual as disciplinas exigidas, então, 
o aluno leva o canudo para casa. Cada disciplina, portanto, é uma fração da graduação. 
É como uma longa caminhada; não há como concluí-la sem antes dar todos os passos 
necessários. Somente ao final de todos os passos, você terá caminhado o suficiente para 
concluir uma longa caminhada. E aqui estamos nós, iniciando novos passos rumo à 
conclusão de sua caminhada. Todos os passos que iremos dar a partir de agora 
compõem uma caminhada chamada Economia Monetária. 
Além dos conceitos associados ao tema, nesta nossa caminhada, iremos 
essencialmente responder a seguinte questão: qual a real importância da economia 
monetária para a política econômica? Para responder esta questão, nosso curso está 
dividido em quatro unidades. 
A unidade I visa contextualizar o que será tratado em nossa disciplina. Trata-se de uma 
unidade introdutória. Veremos os mecanismos de transmissão da política monetária, 
uma breve revisão histórica do pensamento econômico sobre economia monetária, os 
instrumentos de política monetária e, por fim, a apresentação do mercado financeiro e 
do processo de intermediação financeiro em que a política monetária está inserida. São 
assuntos importantes que irão lhe auxiliar para o melhor entendimento do que virá a 
seguir. 
A unidade II pode ser dividida em duas partes. A primeira é a continuação da 
contextualização que começamos na unidade anterior. Nesta parte iremos tratar do 
Sistema Financeiro Nacional instituído pela Lei nº 4.595 de 1964, as definições e funções 
da moeda, as principais características do Banco Central e os principais agregados 
monetários e meios de pagamento. Na segunda parte dessa unidade iremos iniciar a 
discussão a respeito das teorias monetárias. É uma discussão bastante intensa e aberta 
até os dias atuais. Essencialmente, a economia monetária está fundamentada sobre 
essas discussões teóricas. Aqui iremos demonstrar a Teoria Quantidade da Moeda e a 
Teoria da Preferência pela Liquidez. São duas teorias basilares que deram o pontapé 
inicial para as teorias monetárias subsequentes. 
A unidade III é uma continuação da segunda parte da unidade anterior. Continuaremos, 
portanto, demonstrando as seguintes teorias monetárias: os modelos neoclássicos 
keynesianos de demanda por moeda, a teoria da política monetária no modelo 
keynesiano, fundamentada no modelo IS-LM, a teoria da política monetária do modelo 
monetarista e a teoria da política monetária novo-clássica. 
Por fim, na unidade IV trataremos dos conceitos relacionados à inflação e do sistema de 
metas de inflação derivado da teoria da política monetária novo-clássica e atualmente 
utilizado por diversos países, inclusive o Brasil. Concluindo esta unidade, iremos 
apresentar a organização do regime de metas de inflação em funcionamento no Brasil 
desde 1999. 
Então é isso meu caro aluno. Que essa disciplina, feita com dedicação por várias mãos, 
acrescente coisas boas à sua caminhada e que a partir dela você possa começar outras 
novas caminhadas em direção ao seu crescimento pessoal e profissional. 
Seja, portanto, muito bem-vindo ao nosso curso de Economia Monetária! 
 
Muito obrigado e bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE I 
CONCEITUALIZAÇÃO 
Professor Murilo Borges 
 
 
Plano de Estudo: 
• Conceitos Gerais 
• Teorias Monetárias 
• Políticas e Instituições 
• Política Financeira 
 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
● Contextualizar a evolução da história do pensamento econômico sobre a moeda; 
● Apresentar os canais de transmissão da política monetária; 
● Verificar o objetivo precípuo da política monetária no Brasil; 
● Definir os instrumentos de políticas monetária; 
● Apresentar a estrutura geral da política monetária; 
● Diferenciar o mercado financeiro do mercado monetário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Olá, aluno! Tudo bem? 
Vamos iniciar nossa jornada pela economia monetária. Vale lembrar uma frase 
antiga, mas que jamais perderá sentido: uma longa caminhada começa com o primeiro 
passo. O passo mais difícil é o primeiro. É aquele que você precisa mudar a chave da 
inércia. A mesma lei que diz que um corpo em repouso tende a permanecer em repouso, 
diz também que um corpo em movimento tende a permanecer em movimento. Uma vez 
rompido o estado de repouso, o movimento passa a ser a regra. Por essa perspectiva, o 
passo mais complicado você já deu: começar uma graduação. A partir desse primeiro 
passo, a física é nossa aliada. Aqui não será diferente, você dará mais um passo em 
direção ao seu objetivo. E ele começa agora, com nossa primeira unidade. 
Nesta primeira unidade, portanto, iremos tratar de assuntos introdutórios que visam 
contextualizar o assunto e proporcionar uma visão macroscópica, i.e., mais abrangente. 
A regra é essa: partimos do todo para o específico. A vida é assim! Os fundamentos 
precedem a intimidade e os detalhes. 
No tópico 1 iremos verificar que a discussão sobre a eficácia da política monetária 
é tema central de nossa disciplina. Hoje o entendimento predominante é de que a política 
monetária tem capacidade de influenciar a atividade econômica e sua condução deve 
ser pautada precipuamente pela estabilidade dos preços. A partir dessa 
contextualização, iremos verificar os canais de transmissão da política monetária, ou 
seja, quais são os caminhos que a política monetária percorre para influenciar a atividade 
econômica. 
No tópico 2 iremos percorrer a linha do tempo das principais teorias monetárias e 
os grandes pensadores que contribuíram para sua evolução. Trata-se de uma discussão 
bastante antiga e controversa. Desde a visão clássica até os dias atuais já se passaram 
mais de dois séculos e, ao longo de todo esse período, a ressonância dos pensamentos 
econômicos acerca da política monetária foi a chave para sua evolução. 
No tópico 3 trataremos das políticas e instituições monetárias. Iremos verificar a 
posição do Banco Central do Brasil sobre o porquê de a estabilidade dos preços ser o 
objetivo primário da política monetária no Brasil. Para tanto, iremos apresentar a 
 
estrutura geral da política monetária no Brasil, desde a definição dos instrumentos de 
políticas monetária até o atingimento de seus objetivos. 
Por fim, no tópico 4 iremos tratar da diferenciação entre mercado financeiro e 
mercado monetário. Mercado financeiro é tema mais abrangente e o mercado monetário 
é um dos quatro mercados que o compõem. Além disso, será verificado que o mercado 
financeiro, de forma mais abrangente, está associado ao processo de intermediação 
financeira. 
Então é isso meu caro aluno! Reforço a mensagemdada no início desta introdução. 
O passo mais difícil você já deu! Uma vez em movimento, você tende a permanecer em 
movimento. Assim como a física, esperamos contribuir para o seu constante movimento. 
Estude, pesquise, pergunte, aprofunde-se... aproveite ao máximo cada movimento! 
 
Forte abraço e bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 CONCEITOS GERAIS 
Imagem do Tópico: 
 
ID: 161075384 
 
 Convido o aluno a fazer um esforço imaginário. Nele, o Doutor Emmett Brown e seu 
DeLorean DMC-12 (DeLorean Motor Company), da famosa trilogia De Volta para o 
Futuro (Universal Studios), existem. E melhor! Doutor Brown nos convida a uma viagem 
ao passado em sua incrível máquina do tempo. Mas adianto, não é permitido levar 
consigo a relação de todos resultados dos concursos da loteria já realizados no país. A 
viagem no tempo terá fins mais nobres: verificar a mudança de interpretação quanto a 
importância da política monetária. 
 Ao chegar no passado, até meados dos anos 1970, descobriríamos que a política 
monetária não era tão importante como nos dias de hoje. Até essa época predominava 
a ideia de que a política monetária não possuía capacidade para influenciar o 
desempenho econômico do país. Em outras palavras, a política monetária era impotente 
para afetar as variáveis reais1, i.e., basicamente, emprego e renda. Nesse passado 
 
1 Segundo Lopes e Vasconcellos (2009), a dicotomia clássica é um conceito econômico em que (a) as 
variáveis reais e nominais são distintas e (b) as variáveis reais não são afetadas por variações nas 
variáveis nominais. Por este conceito entende-se que variáveis nominais são todas aquelas expressas em 
 
relativamente recente, a grande protagonista era a política fiscal, em que os gastos do 
governo e a política tributária, atuando de forma direta na demanda agregada, eram 
quem de fato influenciavam a atividade econômica. 
 De volta para o futuro, ou melhor, para o presente, podemos concluir que a 
mudança na interpretação quanto aos efeitos da política monetária se deve, entre outros 
motivos, ao relativo abuso dos poderes da política fiscal com a geração de déficits 
públicos difíceis de administrar e que o processo de decisão da política fiscal é lento e 
conflitivo, dependendo de negociações políticas que por vezes podem inviabilizar o uso 
dessa política como instrumento de estabilização (CARVALHO et al., 2007). 
Do ponto de vista macroeconômico, o que importa é o gasto total do setor 
público, mas, na negociação orçamentária, o que existem são os gastos em bens 
e serviços específicos, com beneficiários específicos etc. Enquanto o conflito 
pela apropriação das benesses fiscais não for resolvido, o gasto total não estará 
determinado. O tempo necessário para a solução do conflito orçamentário entre 
os diversos grupos de beneficiários nada tem a ver com o tempo necessário para 
a utilização da política fiscal como instrumento de estabilização do nível de 
atividade (CARVALHO et al., p. 198, 2007). 
 
 Portanto, devido aos conflitos inerentes à política fiscal, a política monetária foi 
ganhando novos contornos e passou a receber novas interpretações, entre as quais a 
de que, em comparação a política fiscal, é mais ágil, sendo assim, um instrumento mais 
eficaz de política econômica. 
 Dada a mudança de paradigma em relação à política monetária, podemos dar um 
passo adiante. Pergunto a você caro aluno: já que atualmente a política monetária é um 
eficaz instrumento de política econômica, de que forma ela afeta a demanda agregada 
e, consequentemente, a atividade econômica? 
 Basicamente, a política monetária consiste em fixar o valor de uma taxa de juros 
de curto prazo, no caso do Brasil é a taxa Selic que iremos discutir mais adiante ainda 
nesta Unidade, que por sua vez afeta outras variáveis que são relevantes para a tomada 
de decisão por parte dos agentes econômicos. Portanto, o processo pelo qual as 
mudanças na política monetária afetam a demanda agregada é denominado de 
mecanismos de transmissão da política monetária (DORNBUSCH & FISCHER & 
STARTZ , 2011). 
 
unidades monetárias (exemplos: preços, salários nominais, PIB nominal...) e as variáveis reais são 
expressas em termos relativos (exemplos: nível de emprego, salário real, PIB real...). 
 
 Carvalho et al. (2007) apresenta três mecanismos de transmissão da política 
monetária: (a) canal do valor dos ativos; (b) canal do crédito; (c) canal da taxa de câmbio. 
Um quarto canal pode ser incluído segundo o próprio Banco Central do Brasil (BACEN), 
(d) o canal das expectativas. Primeiramente, o canal do valor dos ativos se dá, 
principalmente, pelo efeito-riqueza resultante da variação dos preços dos ativos. Ao 
variar a taxa de juros de curto prazo, a autoridade monetária leva o mercado financeiro 
a promover uma oscilação no valor dos ativos financeiros, que por sua vez influencia 
diretamente no consumo desses ativos e no investimento em capital real. 
 Vamos imaginar que a autoridade monetária eleve a taxa de juros de curto prazo, 
assim o preço dos ativos diminui2 impondo perdas aos agentes que possuem esses 
ativos, logo, esses agentes diminuem o consumo para compensar a perda obtida pela 
elevação da taxa de juros. Além disso, com a elevação da taxa de juros de curto prazo 
e a manutenção da taxa de lucro esperada sobre investimentos reais é natural muitos 
investidores adiarem suas decisões de investimentos e passem a dar preferência aos 
títulos financeiros. 
 O efeito da política monetária sobre o investimento real é facilmente verificado no 
dia a dia do mercado, principalmente quando vemos a história recente do Brasil. Nesse 
caso específico não precisa nem de máquina do tempo, pois isso aconteceu há poucos 
anos. Agora mesmo em 2015, a taxa de juros básica da economia atingiu 14,25% ao 
ano. Nessa época, um investimento com retorno, por exemplo, de 10% ao ano 
provavelmente seria esquecido. Por outro lado, atualmente, com a taxa de juros a 2% ao 
ano, esse mesmo investimento poderia ser uma opção viável de investimento. De outra 
forma, a taxa de juros atua como custo de oportunidade, pois quanto maior a taxa de 
juros, maior o custo de oportunidade de um investimento. 
 O segundo canal de transmissão da política monetária é o canal de crédito. 
Também é fácil de perceber a dinâmica deste canal, pois, quando a taxa de juros é 
alterada pela autoridade monetária, todas as demais taxas de juros do mercado são 
impactadas, inclusive aquelas que remuneram os empréstimos e financiamentos. Além 
 
2 O preço de ativos e taxas de juros são inversamente proporcionais. Segundo Carvalho et al. (2007), 
podemos simplificar afirmando que P=Ar, onde P é o preço de mercado do ativo, A é o valor do título e r 
é a taxa de juros de mercado. Assim, para um dado A, quando r sobe, P necessariamente se reduz. 
 
disso, pode ainda alterar a própria disponibilidade do crédito, pois com taxas de juros 
mais altas os bancos podem restringir a oferta de crédito devido ao maior risco envolvido 
na operação. Portanto, se um empréstimo ou financiamento fica mais caro, com taxas 
de juros mais elevadas, a compra de um imóvel, carro, geladeira... mais facilmente pode 
ser postergada. 
 Formalmente, Carvalho et al. (2007) apresenta a seguinte sequência do canal do 
crédito: (1) variação da taxa de juros de curto prazo (2) provoca variação das taxas de 
empréstimos cobradas do público não bancário por parte dos bancos ou racionamento 
de empréstimos concedidos pelo setor bancário, (3) que por sua vez provoca variação 
do volume dos elementos de demanda agregada mais dependentes do crédito, como a 
demanda por bens de capital, bens de consumo durável etc. 
 O terceiro canal de transmissão da política monetária é o canal da taxa de câmbio. 
Trata-se do mecanismo criado pela liberalização financeira internacional. Este 
mecanismo de transmissão opera quando um país adota o regime de câmbio flutuante,i.e., o valor da moeda doméstica em relação à moeda estrangeira (no caso brasileiro a 
taxa de câmbio mais usual é real por dólar - 
𝑅$
𝑈𝑆$
) se dá de acordo com as demandas e 
ofertas privadas de moeda estrangeira. Neste âmbito, um dos efeitos mais importantes 
da fixação da taxa de juros pela autoridade monetária se dá sobre a saída e entrada de 
capitais, sejam eles os desejados investimentos estrangeiros diretos ou os temidos 
capitais voláteis (CARVALHO et al., 2007). 
 Imaginemos que o BACEN, nossa autoridade monetária, eleve a nossa taxa de 
juros de curto prazo. Se tudo mantiver constante, em relação ao resto do mundo, os 
investimentos locais podem se tornar mais atrativos, atraindo investidores estrangeiros 
e fazendo com que investidores domésticos permaneçam no país. Neste cenário, haverá 
uma maior demanda por moeda doméstica e, consequentemente, uma valorização da 
moeda local em relação às moedas do resto do mundo. Essa mudança na taxa de câmbio 
devido à alteração prévia da taxa de juros de curto prazo, afeta a demanda agregada via 
oscilações na quantidade exportada ou importada. Em nosso exemplo, (1) a elevação da 
taxa de juros, coeteris paribus, (2) valoriza a moeda local e (3) estimula as importações 
e desestimula as exportações. 
 
 Por fim, o quarto canal, é o canal das expectativas. Este canal está associado ao 
fato de que as expectativas dos agentes sobre o futuro da inflação afetam o 
comportamento atual dos preços (BACEN, 2007). Então, se por exemplo as empresas 
esperam que a inflação futura seja de 10%, logo, a correção de seus preços irá 
considerar essa expectativa. Portanto, a expectativa de inflação tem como consequência 
a própria inflação. 
 Vimos então nesse tópico dois importantes raciocínios: (a) a política monetária, 
diferentemente de como era vista no passado, é capaz de influenciar a demanda 
agregada e, por óbvio, a atividade econômica do país; e, (b) os canais de transmissão 
da política monetária (para afetar a demanda agregada) são o canal do valor dos ativos, 
o canal do crédito, canal da taxa de câmbio e o canal das expectativas. 
 
 
 
 
2 TEORIAS MONETÁRIAS 
Imagem do Tópico: 
 
ID: 601804022 
 
A economia monetária é um ramo da macroeconomia, logo, suas discussões e 
teorias estão intrinsecamente associadas. A macroeconomia estuda a dinâmica da 
economia por meio dos agregados econômicos. Esse estudo fundamenta-se na ideia de 
que é possível explicar a operação da economia sem que haja a necessidade de 
compreender o comportamento de cada indivíduo ou empresa que dela participa 
(SANDRONI, 2003). 
O próprio início da ciência econômica, fundamentalmente proveniente da escola 
clássica, cujos principais pensadores são Adam Smith, David Ricardo e John Stuart Mill, 
já se preocupava com o crescimento econômico por meio de uma visão macroscópica. 
Entretanto, com a revolução marginalista, que teve início no final do século XIX, cujos 
principais nomes são William Stanley Jevons, Carl Menger e Leon Walras, a 
preocupação com o nível agregado perdeu força e a ótica microeconômica passou a ser 
o foco da análise econômica (PAULANI & BRAGA, 2020). 
costa.claudio
Realce
 
Durante a revolução marginalista, a preocupação com o nível macroeconômico 
sobrevivia com a escola clássica e seus desdobramentos, entre os quais a teoria 
quantitativa da moeda, que será abordada ao longo deste curso. 
Na época, a discussão em torno dos problemas monetários era proveniente da 
constante dificuldade que as autoridades monetárias possuíam para determinar o 
estoque de moeda adequado. 
A moderna teoria monetária britânica surge da controvérsia gerada pelas 
tentativas de suprimento das necessidades anormais de emissão de moeda e de 
criação de crédito, geradas pelas prolongadas guerras contra a França, no final 
do século XVIII e no princípio do século XIX. Em particular, os problemas 
monetários emergiram quando as notas de papel, especialmente as notas dos 
bancos, começaram a competir com a moeda metálica como meio de troca, 
levantando as restrições técnicas que mantinham a oferta de moeda limitada. A 
ruptura ocorreria a partir de 1797, quando o Banco da Inglaterra cortou o vínculo 
automático entre suas notas e os metais preciosos, que eram em princípio 
conversíveis, suspendendo assim os pagamentos em espécie – metal 
(CARVALHO et al., p. 27, 2007). 
 
O debate ganharia força a partir da controvérsia bulionista3 na primeira década 
do século XIX. A discussão era basicamente a seguinte: por que a libra, moeda da 
Inglaterra, se depreciava frente ao ouro? A controvérsia bulionista advém dessa questão, 
pois, um lado acreditava que a elevação do preço do ouro ocorria devido a emissão 
excessiva de papel-crédito, posição defendida pelos bulionistas, o outro lado, os 
antibulionistas acreditavam que a elevação do preço do ouro ocorria devido às 
circunstâncias a que estavam sujeitos naquele momento, basicamente em função dos 
gastos de guerra e da redução das exportações (CARVALHO et al., 2007). 
Portanto, uma importante corrente do pensamento econômico nos séculos XVIII e 
XIX acreditava que as variações nos preços estariam associadas à emissão excessiva 
de papel-moeda. Essa teoria, denominada teoria quantitativa da moeda, embora 
discutida e aceita por vários autores da época, somente ficou conhecida e popularizada 
pelo trabalho desenvolvido por Irving Fisher em 1911, em que é assumida a neutralidade 
da moeda, ou seja, a política monetária somente provoca variações nos preços sendo, 
portanto, incapaz de afetar as variáveis reais. 
 
3 Segundo Sandroni (2003), o bulionismo é a designação dada ao sistema monetário em que o papel-
moeda é livremente conversível em metal e deve estar integralmente garantido por um encaixe metálico. 
O nome vem de bullion, que em inglês significa lingote ou barra de ouro ou prata. 
 
Entretanto, pelo bem e pelo mal, o mundo gira! Já dizia o filósofo grego Platão: “a 
necessidade é a mãe da invenção”. Mais uma vez essa máxima se aplica, pois, com a 
complexa situação vivida na década de 1930, período entre Guerras Mundiais e o Crash 
de 1929, a teoria econômica estava descolada da realidade. Diante deste “hiato 
existencial”, a macroeconomia e, consequentemente, a economia monetária, em 
detrimento da visão marginalista, ganham novo fôlego com o famoso trabalho Teoria do 
Emprego, do Juro e da Moeda (1936) de John Maynard Keynes, também denominado 
como revolução keynesiana4. 
Entre as várias inovações propostas por Keynes, uma muito importante para nosso 
estudo é a preferência pela liquidez – visão alternativa à teoria quantitativa da moeda 
e que iremos abordar ao longo deste curso. De forma geral, pela teoria keynesiana a 
moeda desempenha papel duplo: (a) meio de pagamento; e, (b) reserva de valor, e o seu 
retorno não vem por compensação pecuniária, mas sim na forma de um prêmio de 
liquidez5 (CARVALHO et al., 2007). Nesse sentido, diferentemente da visão clássica, 
Keynes propõe que a política monetária é um importante instrumento de política 
econômica capaz de influenciar as variáveis reais, ou seja, a moeda não é neutra coisa 
nenhuma! 
Dada sua dimensão e inovação, a revolução keynesiana torna-se importante por 
seus desdobramentos. Isto porque os diversos questionamentos e interpretações dela 
decorrente impulsionaram de forma significativa a teoria monetária. Além disso, estes 
questionamentos abrangiam um grupo heterogêneo de autores, com pensamentos 
divergentes em alguns pontos. E é justamente a partir desta divergência surge a 
chamada síntese neoclássica, que foi iniciada por John Hicks e difundida por Paul 
Samuelson, ambos Nobel de Economia, respectivamente, em 1972 e 1970. 
A síntese neoclássica, termo cunhado por Paul Samuelson, também conhecida 
como velhos keynesianos, abrange tanto ensinamentos da teoria clássica quanto da 
 
4 Segundo Paulani e Braga (2020), define-se revolução keynesianacom a intervenção proposta por 
Keynes no debate acadêmico, em que conferiu aos economistas a capacidade de verificar o 
comportamento e a evolução da economia de um país numa dimensão sistêmica, ou seja, não só medindo 
produção, renda e consumo, mas fazendo isso de modo que se perceba exatamente a relação entre esses 
agregados e a lógica do sistema econômico como um todo. 
5 De acordo com Sandroni (2003) liquidez é a disponibilidade em moeda corrente, meios de pagamento, 
ou posse de títulos, ou valores conversíveis rapidamente em dinheiro. 
 
teoria keynesiana. Foi a partir desta escola de pensamento que surgiu o modelo IS-LM 
(1937), a demanda especulativa, o modelo de composição de carteira de James 
Tobin (1956), Nobel de Economia em 1981, e a visão de que a política monetária, em 
comparação a política fiscal, tem potência reduzida para influenciar as variáveis reais. 
Desta forma, para esta escola de pensamento a política monetária e a moeda possuem 
papel secundário, e, portanto, reduções na taxa de juros teriam impacto desprezível 
sobre as decisões de investimento e, consequentemente, um reduzido efeito sobre o 
nível de emprego e renda (CARVALHO et al., 2007). 
Ainda nos anos 1950, em oposição à teoria keynesiana e seus desdobramentos, 
surge a escola monetarista, cujo principal pensador é Milton Friedman, Nobel de 
Economia em 1976 e obstinado anti-keynesiano. Esta escola está baseada em três 
conceitos que iremos trabalhar ao longo deste curso: taxa natural de desemprego, 
curva de Phillips e expectativas adaptativas. 
De forma geral, esta escola adiciona à teoria quantitativa da moeda novas 
considerações, o que passou a ser considerada como a nova teoria quantitativa da 
moeda. Apesar de novas variáveis incluídas no modelo, o resultado é semelhante ao 
encontrado pela teoria clássica, i.e., a moeda está em função da renda da sociedade e 
que variações de preços é essencialmente um fenômeno monetário, logo, qualquer 
aumento na taxa de crescimento da oferta de moeda acima da taxa de crescimento do 
produto acarreta no longo prazo apenas aumento no nível de preços. Entretanto, no curto 
prazo a moeda importa, pois, é possível alterar as variáveis reais via política monetária, 
ainda que temporariamente (CARVALHO et al. 2007). 
A partir dos anos 1960 surge nova linha de pensadores denominada novo-
clássica, promovendo uma nova revolução na economia monetária, chamada de 
revolução das expectativas racionais, cujos principais expoentes são John Fraser 
Muth, conhecido como o pai das expectativas racionais, Robert Lucas Jr, Nobel de 
Economia 1995, e Thomas Sargent, Nobel de Economia em 2011. 
A escola novo-clássica voltou-se parcialmente contra Milton Friedman e a escola 
monetarista e radicalmente contra as ideias dos keynesianos. Quanto aos monetaristas, 
a crítica era quanto a forma como os agentes econômicos formavam suas expectativas, 
em vez de expectativas adaptativas (agentes cometem erros sistemáticos) passam a 
 
considerar as expectativas racionais (os agentes não cometem erros sistemáticos). Já 
quanto aos keynesianos eram contrários a qualquer tipo de intervenção 
macroeconômica. Diante deste posicionamento, para esta escola os agentes corrigem 
suas expectativas diante de qualquer política monetária expansionista (CARVALHO et 
al., 2007). 
Há, portanto, a possibilidade de afetar as variáveis reais por meio da política 
monetária, mas somente até o momento em que os agentes façam a correção e 
incorporem em suas decisões suas novas expectativas. Entretanto, essa intervenção 
traria no longo prazo incerteza e desconfianças quanto ao comportamento do governo. 
Logo, o melhor a ser feito pela autoridade monetária é promover transparência, 
credibilidade e um ambiente com expectativas inflacionárias pacíficas e equilibradas, 
para não ter como consequência a própria inflação. Deste raciocínio, são provenientes 
temas bastante atuais e que são realidade em muitos países como a tese da 
independência do Banco Central e o regime de metas de inflação. 
A Figura 1 apresenta um pequeno resumo do que tratamos neste tópico. Nela são 
destacadas as principais teorias e seus expoentes mais célebres. É evidente que, como 
em qualquer seleção, estamos sujeitos a cometer alguma injustiça. Em termos 
econômicos, isso não deixa de ser um custo de oportunidade, já que toda escolha implica 
em custo em termos de algo não escolhido. 
 A justificativa para algumas ausências é que este material considera a corrente 
principal da teoria monetária. Tenha ciência, portanto, caro aluno, que o assunto não se 
esgota aqui. Existem teorias heterodoxas, como por exemplo a moderna teoria 
monetária, que podem ser encontradas em livros específicos. De qualquer forma, eu 
acredito que estamos bem servidos, consideramos as principais teorias e grandes 
economistas, muitos dos quais prêmio Nobel de Economia, que em sua época 
representaram, e muitos ainda representam, a dinâmica da economia monetária. 
 
 
 
 
Figura 1 – Linha do tempo da economia monetária 
Teorias e seus grandes pensadores 
 
Fonte: elaboração própria 
 
 Vimos então neste tópico uma breve revisão da história do pensamento da 
economia monetária. Entretanto algo pode ser destacado, existe uma questão chave 
sobre as teorias apresentadas: a capacidade ou não da política monetária de influenciar 
as variáveis reais. Como vimos, essa discussão é antiga, já faz alguns séculos! Vai desde 
a neutralidade da moeda, vertente defendida pela escola clássica, até a sua não 
neutralidade, em que a política monetária afeta o emprego e a renda tanto no curto 
quanto no longo prazo, visão defendida por Keynes. Mas como falamos, veremos mais 
sobre isso! Aqui foi apenas um aperitivo do que será tratado ao longo deste curso. 
 
 
3 POLÍTICAS E INSTITUIÇÕES 
Imagem do Tópico: 
 
ID: 286279040 
 
Concluímos o tópico anterior apresentando a questão chave do debate monetário: 
a capacidade da política monetária em afetar as variáveis reais. Esse debate tem grande 
influência sobre a atuação das autoridades monetárias, pois, o tipo de políticas que serão 
adotadas, com que intensidade, quais serão seus objetivos e até mesmo qual será o fim 
das instituições monetárias, necessariamente, depende de como essa questão chave 
será respondida. 
A definição dos objetivos finais para a política monetária é um tema particularmente 
controverso da teoria econômica, envolvendo discussões diversas, como a existência 
(ou não) de um trade-off manipulável entre inflação e desemprego [...] ou, ainda, da 
validade da hipótese da taxa natural de desemprego. A aceitação dessas hipóteses 
teóricas têm consequências diretas sobre a condução da política monetária, pois 
resulta em aceitar ou não se esta tem capacidade de afetar a longo prazo as variáveis 
reais da economia, como o nível de produto e de emprego, ou se afeta apenas as 
variáveis nominais, como a inflação. Em outras palavras, o que está em jogo é saber o 
que a política monetária é capaz de fazer e, portanto, se ela deve ser conduzida de 
forma discricionária ou com base em uma regra (CARVALHO et al., p. 158, 2007). 
 
As autoridades monetárias, teoricamente, têm como principal objetivo promover a 
estabilidade de preços, porém, na prática, ainda que implicitamente, outros objetivos 
 
também são almejados, tais como: estimular o emprego, o crescimento econômico, a 
estabilidade da taxa de câmbio e a prevenção e redução do risco sistêmico. Novamente, 
o objetivo fundamental da autoridade monetária é motivo de constante controvérsia, 
principalmente quanto ao dilema: estimular emprego e renda ou promover a estabilidade 
de preço. 
Posso apostar que o aluno já deve ter ouvido coisas do tipo: é um erro ter meta 
para inflação e não ter meta para o produto. Basicamente, é disso que se trata essa 
discussão. Enquanto para uns a política monetária é um fim em si mesma, promovendo 
de forma direta o crescimentoeconômico, para outros a política monetária é um meio em 
que para se obter crescimento econômico sustentável, previamente deve-se promover a 
estabilidade e previsibilidade dos preços. 
Nesse sentido, veja o posicionamento do BACEN (2016) à pergunta: por que a 
estabilidade de preços foi escolhida como objetivo primordial da política monetária no 
Brasil? 
Hoje há consenso na sociedade sobre as vantagens da estabilidade de preços, 
condição necessária para que possa haver crescimento auto sustentado. Além 
disso, no médio e longo prazo, maior inflação não gera maior crescimento; pelo 
contrário, cria ambiente desfavorável aos investimentos e penaliza as camadas 
mais pobres da sociedade, promovendo concentração de renda. Vale adicionar 
que os principais bancos centrais do mundo adotam, de forma implícita ou 
explícita, a estabilidade de preços como principal objetivo da política monetária 
(BACEN, 2016). 
 
Apesar da discussão quanto à finalidade da política monetária, atualmente na 
prática os pensamentos de várias escolas são compartilhados. É como um “mix” de 
escolas econômicas, em que a política monetária tem capacidade para afetar as 
variáveis reais (visão de Keynes) e que autoridade monetária, com base em regras, deve 
promover a previsibilidade, a transparência e a credibilidade a fim de diminuir incertezas 
e evitar expectativas inflacionárias por parte dos agentes econômicos (visão monetarista 
e novo clássica). Especificamente no Brasil, apesar de ingerências na política monetária 
ocorrida na primeira metade da década de 2010, o sistema vigente utiliza-se da política 
monetária para estimular as variáveis reais, bem como respeitar as regras e a meta de 
inflação previamente estabelecida. 
Para que a finalidade da política monetária seja alcançada, as autoridades 
monetárias utilizam-se de métodos ou, como são majoritariamente conhecidos, de 
 
instrumentos de política monetária. São três os instrumentos de política monetária: 
(a) operações de mercado aberto; (b) taxa de redesconto; e, (c) reservas compulsórias 
(DORNBUSCH & FISCHER & STARTZ , 2011). 
A operação de mercado aberto é o instrumento de política monetária mais eficaz 
e mais utilizado pelas autoridades monetárias, pois opera diretamente sobre as reservas 
bancárias6. Este instrumento, também chamado de open market, funciona por meio da 
compra e venda de títulos públicos por parte do BACEN, afetando o volume de reservas 
bancárias da seguinte forma: (a) se as vendas de títulos em um dia são maiores que os 
resgates, há redução de reservas; e (b) se os resgates de títulos em um dia são maiores 
que as vendas, há aumento de reservas (CARVALHO et al., 2007). 
Para facilitar o entendimento, imagine uma operação simples de compra e venda. 
Quando o BACEN vende títulos públicos a um banco qualquer, ele está entregando o 
título para este banco, que por sua vez saca de suas reservas bancárias para pagar o 
BACEN. Logo, o banco em questão terá mais títulos e menos reservas bancárias. Isso 
equivale a uma política monetária contracionista, i.e., o BACEN está diminuindo a oferta 
de moeda da economia (redução das reservas bancárias). Por outro lado, se o BACEN 
quer aumentar a oferta de moeda, i.e., realizar uma política monetária expansionista, 
deverá comprar títulos públicos, e a contrapartida será o aumento da conta reservas 
bancárias. 
O segundo instrumento de política monetária são as taxas de redesconto. 
Também chamadas de assistência financeira de liquidez, são empréstimos que o 
BACEN faz aos bancos. São como empréstimos de última instância, voltado 
normalmente para atender necessidades esporádicas de reservas por parte das 
instituições financeiras (CARVALHO et al., 2007). 
Para auxiliar no entendimento, o redesconto é como um cheque especial dos 
bancos. Nesse sentido, o BACEN atua como banco dos bancos, promovendo uma linha 
de empréstimo para assistência de liquidez. A taxa de juros cobrada por esse 
empréstimo é a taxa de redesconto. Por meio desta taxa, o BACEN controla a oferta de 
 
6 Reservas Bancárias é a conta mantida no Banco Central para receber as disponibilidades em moeda 
nacional de participantes do Sistema Financeiro Nacional (SFN), utilizadas na liquidação financeira das 
operações realizadas com a autoridade monetária ou com outras instituições do SFN (BACEN, 2016). 
Portanto, de forma simplificada, são os depósitos que os bancos possuem no Banco Central. 
 
moeda da economia. A dinâmica é a mesma quando vamos usar o nosso cheque 
especial. Se a taxa do cheque especial for muito alta, devemos ser conservadores com 
nossos recursos para não precisarmos recorrer a ele. Agora, se a taxa do cheque 
especial for bem baixinha, muitos irão flexibilizar as contas pessoais, pois, se for 
necessário, terão acesso a recursos a custos menores. 
Assim, quanto maior for essa taxa, menor será o estímulo para os bancos 
emprestarem recursos ao público, uma vez que o “custo” do seu empréstimo 
(redesconto) está mais alto. Logo, a taxa de redesconto mais alta restringe a oferta de 
moeda, i.e., uma política monetária contracionista. Por outro lado, ocorrerá uma política 
monetária expansionista quando a taxa de redesconto for menor, pois, os bancos serão 
incentivados a aumentarem seus empréstimos ao público sem serem penalizados no 
caso de necessidade do redesconto. 
Por fim, o terceiro instrumento de política monetária são as reservas 
compulsórias, ou, recolhimento compulsório. Como o próprio nome já diz, são 
depósitos, sob a forma de reservas bancárias, que cada instituição financeira é 
legalmente obrigada a manter no BACEN em reserva bancária, sendo calculada como 
um percentual sobre seus depósitos (CARVALHO et al., 2007). 
Quando um você vai ao seu banco efetuar um depósito, seja na conta corrente, na 
poupança ou depósitos a prazo (CDB), o seu banco é obrigado a recolher parte desse 
depósito ao BACEN sob a forma de depósito compulsório. O montante recolhido 
compulsoriamente pode ser observado no Gráfico 1, evidenciando que, atualmente, a 
principal fonte de recolhimento compulsório são os depósitos a prazo. 
 
 
Gráfico 1 - Reservas Compulsórias 
Recolhimento obrigatórios de instituições financeiras – Valores Nominais (R$ milhões) 
 
Fonte: BACEN (2021). 
 
Portanto, fica fácil de perceber que quanto maior a parte que deve ser 
obrigatoriamente recolhida, menos recursos irão sobrar para a instituição financeira 
emprestar aos seus clientes e vice-versa. É dessa maneira que a autoridade monetária 
utiliza este instrumento para fazer política monetária, pois, elevando o percentual de 
reserva compulsória menor será o volume de moeda disponível na economia, i.e., menor 
será a capacidade dos bancos de emprestar os recursos captados. Portanto, a elevação 
do percentual da reserva compulsória equivale a uma política monetária contracionista. 
Por outro lado, se a autoridade monetária quer praticar uma política monetária 
expansionista, via depósitos compulsórios, deverá recolher percentual menor de reserva 
obrigatória, assim, maior será a quantidade de recursos a disposição das instituições 
financeiras e, consequentemente, maior será a moeda em circulação. Foi justamente 
isso que o BACEN fez em 2020 no início da pandemia da Covid-19, reduziu a alíquota 
do compulsório a fim de estimular a economia com mais dinheiro em circulação. 
Um jeito útil de entender as coisas ao nosso redor é levar no limite a questão em 
pauta. Vamos aplicar essa lógica à reserva compulsória. Se a reserva compulsória for 
de 100%, todos depósitos captados pelas instituições financeiras ficarão em poder da 
 
autoridade monetária, portanto, todos os recursos que foram captados não poderão ser 
aplicados pelas instituições financeiras. Nesse caso extremo, fica evidente como seria 
restrito o volume de crédito na economia, pois, o processo de intermediação financeira, 
que veremos no próximo tópico, deixa de existir. Agora,se a reserva compulsória for de 
0%, todos os recursos que as instituições financeiras captarem ficarão integralmente à 
sua disposição, podendo aplicar todos esses recursos conforme sua conveniência, 
emprestando mais dinheiro para seus clientes ou criando e ampliando linhas de 
financiamento. 
No segundo caso extremo, ausência de reserva compulsória, podemos inferir uma 
outra questão: se é interesse das instituições financeiras emprestar o máximo de seus 
recursos para obter maior lucro, o risco do sistema financeiro não seria maior se todo 
recurso pode ser emprestado? Nesse caso, o risco sistêmico seria muito maior. Portanto, 
as reservas compulsórias assumem também um papel de “colchão de liquidez”, ou seja, 
a critério do BACEN, as reservas de emergência que podem ser utilizadas pelas 
instituições financeiras em situações de crise, como a que ocorreu em 2008. Portanto, 
as reservas compulsórias são ainda importante instrumento para a preservação da 
estabilidade financeira (BACEN, 2021). A Tabela 1, apresenta de forma resumida os 
efeitos na quantidade de moeda em circulação decorrente da alteração nos instrumentos 
de política monetária. 
 
 
 
 
 
 
Tabela 1 – Instrumentos de Política Monetária 
Os efeitos da política monetária sobre a quantidade de moeda 
Instrumentos 
Política Monetária 
Expansionista Contracionista 
Operações de 
Mercado Aberto 
Governo injeta dinheiro na 
economia adquirindo títulos 
públicos. 
Governo retira dinheiro da 
economia vendendo títulos 
públicos. 
Taxa de Redesconto 
Autoridade monetária diminui a 
taxa do redesconto. 
Autoridade monetária aumenta a 
taxa do redesconto. 
Reservas 
Compulsórias 
Diminui o percentual de 
recolhimento compulsório. 
Aumenta o percentual de 
recolhimento compulsório. 
Fonte: (ASSAF NETO, p. 27, 2017). 
 
Uma vez visto os instrumentos de política monetária, vamos dar um passo adiante 
para concluirmos a operacionalização e a atuação das autoridades monetárias na política 
monetária. Entre a operacionalização dos instrumentos de política monetária e a 
consecução de seus objetivos, existe um intervalo de tempo, denominado de defasagens 
ou lags. A evidência empírica aponta que a defasagem da política monetária é de três a 
cinco trimestres (BACEN, 2007). Ou seja, o que é semeado hoje deverá ser colhido daqui 
a três a cinco trimestres. Mas entre a semeadura e a colheita ninguém fica de braços 
cruzados, é preciso muito trabalho nesse meio tempo. 
Evidentemente, entre a operacionalização dos instrumentos e a obtenção dos 
objetivos, a autoridade monetária não irá ficar no escuro esperando todo esse período 
para ver se a operação atingiu seu objetivo. Ao longo desse período a autoridade 
monetária possui (a) metas operacionais e (b) metas intermediárias, que “são como 
sinais de estrada que servem para informar ao Banco Central se a política está a caminho 
de fazer efeito ou não” (CARVALHO et al., p. 159, 2007). 
As metas operacionais são (a) determinação da taxa de juros básica de curto 
prazo; e, (b) controle das reservas bancárias agregadas. Mudanças nas variáveis 
operacionais afetam as metas intermediárias. Por sua vez, as metas intermediárias são 
(a) taxa de juros de longo prazo; e (b) os agregados monetários. Estas servem como 
indicadores da política monetária e fornecem informações imediatas e contínuas, 
importante para verificar se os instrumentos estão tendo o impacto desejado, e se as 
 
ações da política estão no sentido desejado, contracionista ou expansionista 
(CARVALHO et al., 2007). 
A Tabela 2 evidencia a estrutura da política monetária, em que é sintetizado os 
passos dados pela autoridade monetária para atingir seus objetivos. Resumidamente, do 
ponto (A) até o ponto (B) existe uma defasagem de tempo, logo, para garantir que a 
política está no caminho pretendido, a autoridade monetária operacionaliza (A1) e 
analisa o comportamento de (A2). 
 
Tabela 2 – Estrutura analítica da política monetária 
Instrumentos e metas para alcançar os objetivos da política monetária 
(A) (A1) (A2) (B) 
Instrumentos de 
Política Monetária 
Metas Operacionais Metas Intermediárias 
Objetivos de 
Política Monetária 
Operações de 
Mercado Aberto Taxa de Juros de 
curto prazo 
Taxa de Juros de 
Longo Prazo 
Inflação 
Nível de atividade 
Taxa de Redesconto 
Reservas Bancárias Agregados Monetários 
Taxa de desemprego 
Reservas 
Compulsórias Estabilidade do 
Sistema financeiro 
Fonte: (CARVALHO et al., p. 161, 2007). 
 
 Vimos então neste tópico os instrumentos de política monetária que podem ser 
utilizados pela autoridade monetária de acordo com sua estratégia de política monetária. 
Vimos que existe um tempo entre a operação da política monetária e seus efetivos 
resultados. Nesse meio tempo, a autoridade monetária foca suas atenções em metas 
operacionais e intermediárias para que o resultado efetivo esteja em conformidade ao 
desejado. 
 
 
4 POLÍTICA FINANCEIRA 
Imagem do Tópico: 
 
ID: 530884738 
 
Quando falamos em política financeira, estamos tratando de algo mais amplo que 
a política monetária que temos discutido. Isso ocorre porque o mercado monetário é uma 
das espécies do gênero mercado financeiro. Embora nosso foco seja o mercado 
monetário, ao menos nesse tópico iremos tratar de forma breve acerca do mercado 
financeiro. Para isso, devemos ter em mente que o mercado financeiro engloba outros 
mercados. 
Portanto, além do mercado monetário, o mercado financeiro engloba ainda o 
mercado de crédito, mercado de capitais e o mercado cambial. Como já sabemos, o 
mercado monetário visa o controle da oferta monetária na economia por meio dos 
instrumentos de política monetária e da fixação da taxa de juros básica da economia. A 
atuação é restrita à autoridade monetária. 
O mercado de crédito engloba as operações de financiamento de curto e médio 
prazos, direcionadas aos consumidores, aos ativos permanentes e capital de giro das 
empresas. É um mercado de fácil assimilação, pois estamos familiarizados com seus 
operadores, que são principalmente os Bancos e as Sociedades Financeiras (ASSAF 
NETO, 2017). 
 
O mercado de capital compreende as operações de médio e longo prazos e de 
prazo indeterminado, envolvendo títulos derivados do capital das empresas (ações) e de 
operações de empréstimos sem a intermediação financeira dos bancos. Neste caso, 
esses empréstimos ocorrem por meio direto no mercado, como exemplo, as debêntures7 
(ASSAF NETO, 2017). Geralmente associamos o mercado de capital, como o mercado 
acionário, entretanto, ele é muito mais abrangente que a compra e venda de ações de 
empresas de capital aberto. 
O mercado de capitais pode ser definido com um conjunto de instituições e de 
instrumentos que negociam com títulos e valores mobiliários, objetivando a 
canalização dos recursos dos agentes compradores para os agentes devedores. 
Ou seja, o mercado de capitais representa um sistema de distribuição de valores 
mobiliários que tem o propósito de viabilizar a capitalização das empresas e dá 
liquidez aos títulos emitidos por elas. O surgimento do mercado de capitais 
ocorreu quando o mercado de crédito deixou de atender às necessidades da 
atividade produtiva, no sentido de garantir um fluxo de recursos nas condições 
adequadas em termos de prazos, custos e exigibilidades. (PINHEIRO, p. 180, 
2016). 
 
 Por fim, o mercado cambial abrange as operações de conversão de moedas de 
diferentes países. Está vinculado, portanto, na relação de um país com o resto do mundo, 
principalmente, pela necessidade da prática de comércio internacional. É um mercado 
regulamentado pelo BACEN e seus operadores são bancos múltiplos, corretoras, 
agências de turismo e outras instituições autorizadas pelo BACEN (ASSAF NETO, 2017). 
Portanto, de forma geral, uma política financeira pode englobar diversos mercados, 
seja na alteração da taxa básica da economia pelo BACEN (mercado monetário), sejauma alteração em alguma linha de financiamento ofertada pelos bancos (mercado de 
crédito), seja uma nova exigência para uma empresa abrir seu capital (mercado de 
capital), ou, ainda, seja alguma mudança na política cambial do país (mercado cambial). 
De forma ainda mais abrangente, a política financeira está relacionada com 
processo de intermediação financeira, i.e., o processo por meio do qual a 
transferência de recursos entre os agentes superavitários e deficitários é realizada, 
promovendo diversos benefícios para dinâmica econômica, entre eles: redução das 
 
7 Debênture é um título mobiliário que garante ao comprador uma renda fixa. O portador de uma debênture 
é um credor da empresa que a emitiu e tem como garantia todo o patrimônio da empresa. Há ainda as 
debêntures conversíveis, que são aquelas que podem ser conversíveis em ações, segundo condições 
estabelecidas previamente (Sandroni, 2003). De forma geral, é um empréstimo que você faz diretamente 
a empresa, não havendo, por exemplo, um banco como intermediário financeiro. 
 
incertezas, economias de escala, compartilhamento de riscos, incentivo a poupança, 
disseminação de informação, ganhos de eficiência etc. (PINHEIRO, 2016). Sob a 
supervisão das autoridades governamentais, as políticas financeiras têm por finalidade 
estimular os benefícios econômicos provenientes do processo de intermediação 
financeira. A Figura 1 apresenta de modo esquemático o processo de intermediação 
financeira. Os agentes deficitários (tomadores de fundos) conseguirão recursos por meio 
de várias instituições (intermediários financeiros), que por sua vez, captam recursos dos 
agentes superavitários (fornecedores de fundos). As transferências de recursos de um 
agente a outro são viabilizadas por meio do mercado financeiro. 
 
Figura 1 – Esquema geral do Mercado Financeiro 
Processo de Intermediação Financeira 
 
Fonte: (PINHEIRO, p. 26, 2016). 
 
Fechamos este último tópico de nossa primeira unidade, esclarecendo que a 
política financeira se difere da política monetária por se tratar de política mais 
abrangente. Vimos que os mercados monetário, de crédito, de capital e cambial estão 
contidos no mercado financeiro e que uma política financeira, sob a supervisão de órgãos 
governamentais, visa estimular o processo de intermediação financeira como um todo. 
 
 
 
 
 
 
SAIBA MAIS 
 
Canal de transmissão da política monetária 
Expectativas de Mercado 
 
Uma importante complementação aos nossos estudos é verificar as fontes de 
dados reais associados à economia monetária. Para tanto, uma importante fonte de 
informação é o site do Banco Central do Brasil (https://www.bcb.gov.br/). 
Complementando nosso estudo, vamos verificar um importante relatório do BACEN, o 
relatório Focus. 
O Relatório Focus resume as estatísticas calculadas considerando as expectativas 
de mercado coletadas até a sexta-feira anterior à sua divulgação. Ele é divulgado toda 
segunda-feira. O relatório traz a evolução gráfica e o comportamento semanal das 
projeções para índices de preços, atividade econômica, câmbio, taxa Selic, entre outros 
indicadores. As projeções são do mercado, não do Banco Central (BACEN, 2021). 
Como vimos, um dos canais de transmissão da política monetária é o canal das 
expectativas, e o Relatório Focus traz as expectativas das principais variáveis 
macroeconômicas. Uma delas é a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto 
(PIB) a preços de mercado. 
Como podemos observar no Gráfico 2, a previsão de crescimento do PIB a preços 
de mercado para o ano de 2021 era de 2,48% em 18/03/2020. Esse crescimento foi 
alterado a partir desta data, devido aos efeitos negativos decorrentes da pandemia de 
Covid-19. Como a previsão para o ano de 2020 passou a ser uma recessão, é natural 
uma expectativa de crescimento maior no ano seguinte, já que a base de comparação 
será menor. Portanto, não se trata de uma melhora nos fundamentos da economia para 
o ano de 2021, mas sim de uma piora no crescimento econômico para o ano de 2020. 
Após discretas oscilações a partir do mês maio, a expectativa de crescimento para o ano 
de 2021 em 19/02/2021 é de 3,37%. 
Provavelmente o crescimento econômico de 2021 não irá compensar a recessão 
de 2020. Será necessário mais de um ano para "tapar o buraco” de 2020. Haja coração!!! 
Fonte: https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/relatoriofocus (BACEN, 2021) 
 
 
Gráfico 2 – Expectativa de Crescimento do PIB 2021 
Taxa de crescimento anual (%) 
 
Fonte: BACEN (2021). 
 
 
REFLITA 
 
A prosperidade, o capitalismo e o sistema financeiro 
 
A longuíssimo prazo – digamos, os mil anos que antecederam o século XVIII – as 
rendas pessoais na Europa Ocidental duplicavam a cada período de 630 anos. Após a 
disseminação do moderno capitalismo, contudo, começaram a duplicar a cada período 
de 50 ou 60 anos. Dobravam a cada 40 anos nos Estados Unidos e a cada 25 anos no 
Japão, que começou mais tarde e pode se beneficiar dos exemplos europeu e americano 
(GIAMBIAGI & SCHWARTSMAN, p. 81, 2014). 
Não há como dissociar o capitalismo moderno da evolução do sistema financeiro. 
Se há tantos benefícios, se a evolução humana é tão evidente com o atual sistema, por 
que tantos pensamentos contrários? Por que tantos duvidam da sua eficiência? 
 
Fonte: elaboração própria. 
 
#REFLITA# 
 
18/03/20
2,48
19/02/21
3,37
2,40
2,60
2,80
3,00
3,20
3,40
3,60
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Olá aluno, 
Chegamos ao final de nossa primeira unidade. Como vimos, trata-se de uma 
unidade de contextualização. Trouxemos aqui assuntos mais abrangentes que nos 
auxiliarão na compreensão das próximas unidades. 
Essencialmente, podemos destacar que ao longo da evolução da teoria monetária 
a grande questão a ser respondida é se a moeda tem capacidade ou não para influenciar 
o emprego e a renda. Dependendo da época e da teoria vigente o papel da política 
monetária se alterava. Atualmente predomina o pensamento de que a política monetária 
possui capacidade para afetar as variáveis reais. Além disso, ela deve ser guiada pela 
previsibilidade a fim de minimizar as incertezas. 
Tratamos ainda de outros assuntos que são essenciais à teoria monetária. A partir 
destes conhecimentos, podemos responder algumas questões, tais como: 
● Quais são os mecanismos de transmissão da política monetária? 
● Quais são os principais pensadores e teorias da economia monetária? 
● Por que há meta para inflação e não há meta para o emprego? 
● Quais são os principais instrumentos de política monetária? 
● Como funciona o processo de intermediação financeira? 
De posse dos assuntos aqui tratados, podemos seguir adiante, desenvolver novos 
conceitos e, acima de tudo, permanecer em movimento! 
Parabéns pela conclusão desta unidade! 
Nos vemos na unidade II. 
Forte abraço!! 
 
 
 
 
 
 
LEITURA COMPLEMENTAR 
● Relatório do Focus 
https://www.bcb.gov.br/content/focus/focus/R20210305.pdf 
● Recolhimento compulsório 
https://www.bcb.gov.br/conteudo/relatorioinflacao/EstudosEspeciais/EE072_Discussao
_sobre_as_funcoes_dos_recolhimentos_compulsorios.pdf 
 
 
 
 
 
 
 
LIVRO 
 
• Título. 
Juros, moeda e ortodoxia - Teorias monetárias e controvérsias 
• Autor. 
André Lara Resende 
• Editora. 
Portfolio; 1ª edição (26 junho 2017) 
• Sinopse. 
Neste conjunto de ensaios, André Lara Resende reflete sobre as origens e o 
desenvolvimento da teoria monetária e suas implicações no contexto brasileiro. Juros, 
inflação e política fiscal recebem do autor um enfoque inovador, ancorado nas melhores 
investigações da atualidade, que põem em questão algumas convicções estabelecidas. 
Da teoria à história, os ensaios discutem as políticas comumente receitadas para a 
inflação crônica, a recessão e o desemprego. Antes de buscar a polêmica fácil ou propor 
uma “nova heterodoxia”, este livro pretende estimular o debate ao abrir uma janelade 
oportunidade para a reflexão sobre políticas públicas da mais alta relevância. 
 
 
FILME/VÍDEO 
 
• Título. 
Luta do século - Keynes x Hayek 
• Ano. 
2010 
• Sinopse. 
Embate animado entre dois célebres economistas com duas teorias bastante conhecidas 
e opostas. 
• Link do vídeo (se houver). 
https://www.youtube.com/watch?v=O5jeXrKvJXU 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ASSAF NETO, A. Mercado Financeiro. 13º Edição. Editora Atlas. São Paulo. 2017. 
 
BACEN - Banco Central do Brasil – Sistema de Metas para Inflação. Disponível em:< 
http://www.bcb.gov.br/>. Acesso em: várias datas. 2021. 
 
BACEN - Banco Central do Brasil – Regime de Metas para a Inflação no Brasil. Série 
Perguntas Mais Frequentes. Disponível em:<https://www.bcb.gov.br/content/ 
cidadaniafinanceira/Documents/publicacoes/serie_pmf/FAQ%2010-
Regime%20de%20Metas%20para%20a%20Infla%C3%A7%C3%A3o%20no%20Brasil.
pdf>. Acesso em: várias datas. 2016. 
 
BACEN - Banco Central do Brasil – Política Monetária e Defasagens do Mecanismo 
de Transmissão. Disponível em:<https://www.bcb.gov.br/content/ri/relatorioinflacao 
/200709/RELINF200709-ri200709b6p.pdf>. Acesso em: várias datas. 2007. 
 
CARVALHO, F.C.; SOUZA, F.E.P.; SICSÚ, J.; PAULA, L.F.R.; STUDART, R. 
Economia Monetária e Financeira. 2º Edição. Editora Campus. 2007. 
 
DORNBUSCH, R.; FISCHER, S.; STARTZ, R. Macroeconomia. 11ª Edição. Editora 
Bookman. 2011. 
 
GIAMBIAGI, F.; SCHWARTSMAN, A. Complacência: entenda por que o Brasil 
cresce menos do que pode. Editora Elsevier. Rio de Janeiro. 2014. 
 
LOPES, L.M.; VASCONCELLOS, M.A.S. Manual de Macroeconomia. 3º Edição. 
Editora Atlas. São Paulo. 2009. 
 
PAULANI, L.M.; BRAGA, M.B. A Nova Contabilidade Social. 5º Edição. Editora 
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PINHEIRO, J.L. Mercado de Capitais. 8º Edição. Editora Atlas. São Paulo. 2016. 
 
SANDRONI, P. Novíssimo dicionário de Economia. 11º Edição. Editora Best Seller. 
São Paulo. 2003. 
 
 
 
UNIDADE II 
SISTEMATIZAÇÃO 
Professor Murilo Borges 
 
 
Plano de Estudo: 
● Sistema Financeiro Nacional 
● Moeda e o Sistema Bancário 
● Banco Central e o Sistema Monetário 
● Teoria Quantitativa da Moeda 
● A demanda por Moeda, a escolha de Ativos e a Preferência pela Liquidez de Keynes 
 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
● Apresentar a organização do Sistema Financeiro Nacional; 
● Apresentar as principais atribuições do Conselho Monetário Nacional; 
● Contextualizar a origem e evolução da moeda; 
● Descrever as funções da moeda; 
● Diferenciar a moeda manual da moeda escritural; 
● Apresentar as principais atribuições do Banco Central do Brasil; 
● Definir os agregados monetários e o multiplicador monetário; 
● Demonstrar a Teoria Quantitativa da Moeda; 
● Demonstrar a Teoria da Preferência pela Liquidez. 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Olá, aluno! Tudo bem? 
Vamos continuar nossa jornada pela economia monetária! Antes, porém, vale 
esclarecer que se uma longa caminhada começa com o primeiro passo, entende-se que 
vários outros passos serão dados. E aqui estamos nós, dando mais um passo em direção 
à linha de chegada. Chegar é bom, mas não é o mais importante. Chegar por chegar, 
perde o sentido. Não faça da caminhada apenas um meio para alcançar o final de sua 
jornada. A caminhada deve ter valor em si mesma. Portanto, não subestime a 
caminhada, ela é tão importante quanto à própria chegada. Gostar de caminhar faz você 
desfrutar ao máximo cada passo dado. E quanto mais você aproveitar os passos de sua 
caminhada maior será a glória em sua chegada. Aproveite ao máximo mais este passo 
que se inicia neste momento! 
Se em nossa primeira unidade tivemos uma visão macroscópica, a partir de agora 
iremos ficar mais íntimos de nossa disciplina. Além de aprofundar os conceitos vistos na 
unidade anterior, vamos iniciar os estudos sobre as teorias de economia monetária. 
No tópico 1, iremos apresentar a organização do Sistema Financeiro Nacional 
(SFN). Veremos que o SFN é dividido em subsistema de supervisão e subsistema 
operativo. Para nós é de fundamental importância conhecermos as características das 
duas principais instituições do subsistema de supervisão: o Conselho Monetário Nacional 
(CMN) e o Banco Central do Brasil (BACEN). Essas duas instituições são responsáveis 
por conduzir a política monetária no Brasil. Especificamente neste tópico iremos tratar 
do CMN, isso porque o BACEN, dada a relevância para nossa disciplina, será tratado em 
tópico específico ainda nesta unidade. 
No tópico 2, trataremos da moeda propriamente dita. Veremos que a evolução da 
moeda está vinculada ao processo de intermediação financeira. Com o passar dos anos, 
os certificados de depósitos passaram a ser aceitos como se fosse a própria moeda. Era 
o início da moeda fiduciária como temos hoje. Veremos ainda as funções da moeda e as 
formas que ela pode assumir: moeda manual (moeda física; a moeda que está na sua 
carteira) e a moeda escritural (moeda criada pelo sistema bancário). 
 
No tópico 3 iremos conhecer mais detalhadamente as principais características do 
BACEN. Após apresentarmos seus objetivos, atribuições e competências veremos 
também seu balancete estilizado, pois, a partir deste, poderemos definir os agregados 
monetários, os meios de pagamento e, consequentemente, o multiplicador monetário. 
Por fim, nos tópicos 4 e 5 iremos abordar duas das principais teorias de economia 
monetária, respectivamente, teoria quantitativa da moeda (TQM) e teoria da preferência 
pela liquidez. Essencialmente essas teorias se diferem devido a forma como encaram a 
moeda. Se para a TQM a moeda é neutra sem qualquer capacidade para afetar as 
variáveis reais, para a teoria de Keynes a moeda, além de não ser neutra, é um ativo 
financeiro, cuja recompensa é sua liquidez absoluta. 
Fechado então meu caro aluno!? Lembre-se de aproveitar os próximos passos, só 
assim a chegada deixará de ser um alívio para ser uma conquista! 
 
Forte abraço e bons estudos! 
 
 
 
 
1 SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL 
Imagem do Tópico: 
 
ID: 693725104 
 
Concluímos a Unidade 1 apresentando o processo de intermediação financeira e a 
política financeira. A partir desse entendimento, podemos dar mais um passo adiante e 
entender que o processo de intermediação e a política financeira ocorrem sob o amparo 
de uma grande organização denominada Sistema Financeiro Nacional (SFN). 
Porém, antes de conhecermos como é organizado nosso sistema financeiro, é 
importante ter em mente que a necessidade de o compreender aumenta com o passar 
do tempo. Não há dúvida que sua participação é crescente na dinâmica econômica atual 
e, cada vez mais, suas operações têm aumentado em volume e complexidade. Diante 
desse entendimento, agora sim, vamos a ele! 
É claro que o SFN não surgiu do dia para noite. Ele é fruto de um processo que 
evolui continuamente. Tanto é assim que até hoje temos vivenciado inúmeras inovações 
por ele promovidas. E como veremos a seguir, propiciar o aperfeiçoamento das 
instituições e dos instrumentos financeiros é um dos objetivos da política do órgão 
máximo do SFN. Exemplo claro disso é o PIX, i.e., meio de pagamento criado pelo 
BACEN em que os recursos são transferidos entre contas em poucos segundos, a 
 
qualquer hora ou dia (BACEN, 2021). E melhor, a custo baixo; em determinados casos 
é custo zero mesmo! 
Mas, se formos mais pontuais, o SFN surgiu com a Lei nº 4.595, de 31/12/1964, 
que dispõe sobre a política e as instituições monetárias, bancárias e creditícias, cria o 
Conselho Monetário Nacional e dá outras providências. Logo em seu primeiro artigo, a 
citada lei diz que o SFN é estruturado e regulado por ela e será constituído por diversas 
instituições financeiras públicas e privadas. Além desta norma, a Lei nº 4.728, de 
14/07/1965, que disciplina o mercado de capitais e estabelece medidas para o seu 
desenvolvimento, e a Resolução BACEN nº 1.524, de 21/09/1988, que dispõe sobre a 
figura dos bancosmúltiplos, são também determinantes para configuração atual do SFN. 
O SFN, portanto, pode ser entendido como um conjunto de instituições financeiras 
e instrumentos financeiros que regulam, fiscalizam e executam todas as operações 
financeiras. De forma mais abrangente, é o SFN que promove a intermediação 
financeira, isto é, o encontro entre tomadores e credores de recursos (BACEN, 2021). 
Logo, por meio do SFN viabiliza-se a relação entre agentes carentes de recursos 
para investimento (agentes deficitários) e agentes capazes de gerar poupança (agentes 
superavitários). Desta forma, tornar possível esse encontro, consequentemente, 
promover condições para financiar o crescimento da economia, é o principal objetivo do 
SFN (ASSAF NETO, 2017). 
Para fins didáticos podemos dividir o SFN em dois subsistemas: subsistema de 
supervisão ou normativo e subsistema operativo. O subsistema de supervisão é 
composto pelas instituições governamentais, tais como: Conselho Monetário Nacional 
(CMN), o próprio Banco Central do Brasil (BACEN) e a Comissão de Valores Mobiliários 
(CVM). São essas instituições que exercem a fiscalização e definem as diretrizes básicas 
de seu funcionamento (ASSAF NETO, 2017) 
Por outro lado, o subsistema operativo é composto pelas instituições financeiras 
que estamos mais familiarizados, que temos contato frequentemente, tais como: bancos 
(Itaú, Bradesco, Inter entre tantos outros que conhecemos), bolsa de valores (B3 Brasil, 
Bolsa e Balcão), Sociedades Corretoras de Títulos e Valores Mobiliários (BTG Pactual, 
Rico Investimentos, Easy Invest etc.) entre outras. São essas instituições que 
operacionalizam a transferência de recursos do poupador para o tomador, ou seja, são 
 
elas que realizam de fato o processo de intermediação financeira de acordo com as 
regras estabelecidas pelas entidades do subsistema de supervisão (ASSAF NETO, 
2017). A Figura 1 ilustra de forma geral como está organizado o SFN. 
 
Figura 1 – Estrutura do Sistema Financeiro Nacional 
Organograma 
 
Fonte: https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/sfn (BACEN, 2021). 
 
Especificamente quanto às instituições que integram o subsistema operativo, elas 
podem ser classificadas ainda em bancárias (ou monetárias) e não bancárias (ou não 
monetárias). A diferença entre elas é quanto à capacidade de criar moeda escritural por 
meio de depósitos a vista (conceito que iremos ver ainda nesta Unidade). As instituições 
bancárias são representadas basicamente pelos bancos múltiplos e bancos comerciais. 
São essas instituições que operacionalizam os meios de pagamento restrito de uma 
economia, i.e., papel-moeda em poder do público e depósitos a vista do público nos 
bancos. Por outro lado, as instituições não bancárias são as corretoras, bancos de 
investimento, financeiras etc. Estas, por sua vez, não podem receber depósitos à vista, 
logo, não possuem a capacidade de criar moeda escritural. A elas incumbe uma outra 
função, que é operacionalizar ativos não monetários, tais como ações, certificados de 
depósito bancário, debêntures, entre outros (ASSAF NETO, 2017). 
 
Como pode ser visto pelo organograma apresentado na Figura 1, o SFN é 
composto por diversas instituições. Vale destacar que não é nosso objetivo estudar cada 
uma das instituições que o integram. Isso acaba sendo tema para outras disciplinas, 
como, por exemplo, a disciplina Mercado Financeiro. Digo isso, porque, como vimos, 
nossa disciplina é um dos ramos do Mercado Financeiro. Entretanto, há duas instituições 
do subsistema normativo que não podemos deixar de falar e que estão diretamente 
relacionadas com a Economia Monetária. Uma é o Banco Central, que de tão relevante 
para nosso estudo, temos um tópico exclusivo sobre ele ainda nesta Unidade. A outra 
instituição que merece destaque é o Conselho Monetário Nacional (CMN) que 
trataremos agora. É relevante destacar as características do CMN, pois, seus objetivos 
e atribuições norteiam todo o SFN. 
Como vimos, a Lei 4.595/64 foi quem criou o CMN. Trata-se do órgão máximo de 
SFN, com atribuição eminentemente normativa, não desempenhando, portanto, 
nenhuma atividade executiva, cabendo ao BACEN exercer o papel de Secretaria-
executiva do CMN. 
De forma geral, o CMN possui amplas atribuições que podem ser conjugadas em 
sua finalidade principal: formular a política da moeda e do crédito, objetivando a 
estabilidade da moeda e o desenvolvimento econômico e social do país (BACEN, 2021). 
Atualmente o CMN é composto pelo Ministro da Economia, acumulando a função 
de presidente do Conselho, Presidente do Banco Central e o Secretário Especial de 
Fazenda do Ministério da Economia. Conforme expresso no artigo 3º da Lei 4.595/64, as 
políticas adotadas por seus membros devem ter como objetivo: (1) adaptar o volume dos 
meios de pagamento às reais necessidades da economia; (2) regular o valor interno e 
externo da moeda e o equilíbrio do balanço de pagamentos; (3) orientar a aplicação dos 
recursos das instituições financeiras; (4) propiciar o aperfeiçoamento das instituições e 
dos instrumentos financeiros; (5) zelar pela liquidez e solvência das instituições 
financeiras; (6) e coordenar as políticas monetária, creditícia, orçamentária e da dívida 
pública interna e externa (BACEN, 2021). 
De forma mais específica, o artigo 4º da referida lei elenca as competências do 
CMN. A seguir apresentamos algumas das atribuições do CMN: 
• Autorizar as emissões de papel-moeda; 
 
• Determinar o percentual de recolhimento compulsório; 
• Disciplinar o crédito em todas as suas modalidades; 
• Disciplinar os instrumentos de política monetária e cambial; 
• Estabelecer normas a serem observadas pelo Banco Central do Brasil em suas 
transações com títulos públicos; 
• Fixar as diretrizes e normas da política cambial; 
• Limitar as taxas de juros, descontos e comissões; 
• Regulamentar, fixando limites, prazos e outras condições, as operações de 
redesconto e de empréstimo; 
• Regular a constituição, funcionamento e fiscalização das instituições financeiras. 
Então é isso caro aluno. Fechamos mais um tópico. Aqui tratamos das 
especificidades do SFN. Vimos que o SFN é hierarquizado e composto por diversas 
instituições financeiras com atribuições específicas. Para facilitar o entendimento, é 
dividido em subsistema normativo, responsável por estabelecer e fiscalizar as regras do 
jogo, e subsistema operativo, responsável por efetivamente realizar o processo de 
intermediação financeira. Quanto a este último subsistema, vimos ainda que ele se 
subdivide de acordo com a possibilidade das instituições receberem ou não depósitos à 
vista de seus clientes. Por fim, apresentamos as características principais do órgão 
máximo do SFN, o CMN. 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 MOEDA E O SISTEMA BANCÁRIO 
Imagem do Tópico: 
 
ID: 249974521 
 
 Nesse tópico iremos tratar o que talvez seja a principal mercadoria de uma 
economia de mercado: a moeda. Bem, ao menos em nossa disciplina não resta qualquer 
dúvida: a moeda é sim a mercadoria mais importante em uma economia moderna. Antes 
de falarmos de conceitos mais específicos sobre a moeda, acredito que vale a pena 
conversarmos sobre sua evolução. A própria evolução da moeda está relacionada com 
o surgimento do processo de intermediação financeira que já discutimos e fundamental 
para o sistema financeiro tal qual conhecemos hoje. 
 A moeda já teve várias formas. A primeira delas, a moeda era uma mercadoria 
propriamente dita. Ter uma mercadoria como moeda limita a realização de trocas. Só as 
trocas diretas (escambo) são possíveis, ou seja, uma transação é, ao mesmo tempo, 
venda de uma mercadoria e compra de uma outra. Processo conhecido também como 
coincidência mútua e complementar de necessidades (CARVALHO et al., 2007). 
Imaginemos: eu tenho um cavalo e quero um porco. Preciso encontrar alguém que 
quer um cavalo e quer se desfazer de um porco. Mas umcavalo vale mais que um porco! 
 
Vou ter que trocar meu cavalo por mais de um porco e trocar o porco excedente em outra 
coisa que necessito. Poxa, isso dá trabalho! Eu só preciso de um porco! Era desse jeito 
que funcionava. Isso só é possível em uma economia primitiva, baseada na subsistência 
e autossuficiência. Basicamente, no escambo há os seguintes inconvenientes: (a) custo 
para manter a acumulação em ativos reais; (b) dificuldade de especialização e divisão 
do trabalho; e, (c) perda de eficiência na alocação de recursos (PINHEIRO, 2016). 
É evidente que não há bons incentivos ao realizar trocas diretas. Porém o mundo 
gira e as necessidades vão sendo alteradas. A própria evolução econômica e social vai 
demandando novas formas de interação (qualquer semelhança com a atualidade não é 
mera coincidência!). Aos poucos o escambo foi dando lugar a processos indiretos de 
troca. Surgem então a segunda forma de moeda, são as chamadas moedas-
mercadorias. São moedas que possuem valor intrínseco, i.e., um valor em si mesma. 
Diversas mercadorias já foram utilizadas como moedas. Eram produtos que mesmo 
que não fossem no momento úteis ou desejados pelos que recebiam, eram aceitos sem 
grandes restrições, porque todos os aceitavam. Portanto, temos uma mercadoria que 
fará a intermediação, logo, a coincidência mútua e complementar de necessidades não 
será mais necessária (PINHEIRO, 2016). 
 Apenas para fins de curiosidade, até hoje usamos termos que nos remetem a essa 
época remota das moeda-mercadorias. Um exemplo clássico é a palavra salário. Durante 
o império romano, o sal era utilizado para pagar o trabalho dos soldados. Era uma 
mercadoria muito importante, pois era utilizada para acelerar o processo de cicatrização 
e para conservar e dar sabor aos alimentos. Numa época sem as facilidades da 
modernidade, o sal era um presente de Deus, na verdade um presente da deusa Salus, 
a deusa da saúde, de onde deriva a palavra sal. 
Mas veja; embora a história seja interessante e que havia mercadorias 
demandadas por todos, isso não parece ainda muito eficiente. No nosso exemplo de 
troca de cavalo por porco, incluindo agora o intermediário sal como moeda, vou ter que 
trocar meu cavalo por um monte de sal e procurar alguém que esteja precisando de sal 
e que tenha um porco. Pelo visto, podemos imaginar que estocar e transportar o sal não 
eram das tarefas mais fáceis. Sem falar da possibilidade de “batizar” o sal e vender um 
quilo de 800 gramas de sal! 
 
Com essas dificuldades ainda presentes, gradativamente surge a moeda metálica 
e, em virtude das vantagens oferecidas ao comércio, difundiu-se pelo mundo inteiro. Os 
metais foram escolhidos como moedas por possuírem algumas características 
importantes: valor intrínseco, dureza, raridade relativa, grande valor, identidade, 
pequena variação de valor, facilidade de reconhecimento e ponto de fusão elevado 
(PINHEIRO, 2016). 
Entretanto, temos uma limitação importante. O volume de negócio não podia ficar 
limitado ao volume de estoque de metais preciosos. Com pouco metal precioso para uma 
demanda cada vez maior de transações, o valor do metal se eleva, ficando escasso, 
dificultando o comércio e gerando conflitos e convulsões sociais importantes. Como 
corrigir esse problema caro aluno? Que tal fazermos igual o sal, vamos “batizar” o ouro 
ou a prata! Agora que tal emitir um quilo de metal precioso de 800 gramas. Teremos 10 
quilos de moedas de “ouro” utilizando apenas 8 quilos de ouro1. Fica claro que a 
falsificação sempre foi uma alternativa, mas como dizem: a necessidade é a mãe da 
invenção! 
A variação de tamanho das moedas metálicas e a diversidade de materiais 
utilizados em sua confecção, entre eles o ouro, obrigavam os comerciantes a 
pesar as moedas e verificar o teor do metal utilizado, em operações bastante 
morosas. Para facilitar as negociações, os ourives passaram a depositar as 
moedas em bancos, recebendo então certificados de depósitos, com promessa 
de devolução ao portador da quantia entregue. Esses certificados, conversíveis 
a vista, deram início ao aparecimento da moeda papel, ou representativa, que 
possuía um lastro de metal nobre. As vantagens que os certificados 
representavam para o comércio eram enormes, pois inspirava confiança, sendo 
aceitos como se fossem a própria moeda. (PINHEIRO, p. 16, 2016). 
 
É evidente que demos aqui um salto histórico de alguns séculos, mas, 
relativamente, estamos bem próximos do que entendemos ser uma moeda: moeda 
fiduciária (de fidúcia ou confiança), sem lastro (sem valor intrínseco), papel-moeda 
(cédula) e inserida num processo de intermediação financeira. 
 
1 Os governos que tinham a necessidade de se financiar se utilizavam desse “jeitinho” para aumentar a 
capacidade de fazer mais moeda, pois, ao diminuir a quantidade de ouro nas moedas, o governo ampliava 
o montante de moeda em circulação. Essa prática deu origem ao termo senhoriagem, i.e., o ganho 
decorrente da emissão apropriado por aquele (senhor) que tem o poder (monopólio) de emissão (Lopes & 
Vasconcellos, 2009). 
 
Diante disso, podemos dar um passo adiante e definir quais são as funções da 
moeda. A moeda é um objeto que desempenha três funções: (1) meio de troca; (2) 
unidade de conta; (3) reserva de valor (LOPES & VASCONCELLOS, 2009). 
A função meio de troca é uma função básica da moeda e está associada ao que 
tratamos até aqui. A própria evolução econômica e social da humanidade exigia maiores 
facilidades, um processo mais ágil em consonância com o volume crescente de trocas 
comerciais. Com a função meio de troca é possível realizar trocas indiretas e, em última 
análise, ao permitir que vendas e compras sejam feitas em datas diferentes, a moeda 
exerce a função meio de pagamento. Portanto, meio de troca/meio de pagamento é a 
função que elimina os atritos das transações comerciais que são típicos de uma 
economia primitiva (CARVALHO et al., 2007). 
A segunda função da moeda é a unidade de conta. Esta função expressa a ideia 
de que a moeda é a expressão geral de valor, i.e., é uma referência para todas as demais 
mercadorias. Portanto, o preço relativo entre as diferentes mercadorias passa a ser 
definido pela relação entre os respectivos preços monetários (LOPES & 
VASCONCELLOS, 2009). 
Em outras palavras, é um meio que os agentes econômicos utilizam para orientar 
seus preços. Como todos os agentes têm como referência e orientação sua respectiva 
moeda, logo todos os bens e serviços de uma economia tem seus preços nela baseados. 
A moeda de conta, ou unidade de conta contratual, é a representação intangível 
da moeda; a moeda como meio de troca, ou unidade de pagamento é sua 
representação concreta. A função moeda de troca deriva da função moeda de 
conta. A existência da moeda de troca é requerida porque se atribui a todas as 
mercadorias, serviços e ativos de uma economia valores na forma de moeda de 
conta. A moeda de conta que aparece no conjunto de contratos estabelece qual 
será a moeda corrente de uma economia. Assim, a moeda é aceita, em geral, 
por todos em todas as transações (CARVALHO et al., p. 3, 2007). 
 
A terceira e última função da moeda é a reserva de valor. Esta função decorre das 
anteriores, pois, justamente pela moeda ser referência para todas as transações 
(unidade de conta) e, consequentemente, todos os agentes a utilizam (meio de troca) 
será possível a retenção da moeda por período maior que a transação em si (reserva de 
valor). Assim, a função reserva de valor é ser um repositório de poder de compra sobre 
o tempo (PINHEIRO, 2016). 
 
Além disso, por meio da reserva de valor abrimos a possibilidade de que as 
transações não sejam imediatamente liquidadas, logo, uma mercadoria ou serviço 
qualquer pode circular com uma promessa futura de pagamento. Esta possibilidade de 
diferir o pagamento, ou seja, a liquidação de uma transação em data futura, é a origem 
do sistema de crédito

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