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Editora CRV
Curitiba – Brasil
2021
Alexandre Rezende
Alexandre Jackson Chan-Vianna
(Organizadores)
KARATE KYOKUSHIN NO BRASIL
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K18
Karate Kyokushin no Brasil / Alexandre Rezende, Alexandre Jackson Chan-Vianna (orga-
nizadores) – Curitiba : CRV, 2021.
204 p. 
Bibliografia
ISBN Digital 978-65-251-0270-2 
ISBN Físico 978-65-251-0274-0
DOI 10.24824/978652510274.0
1. Educação física 2. Esporte – Karate I. Rezende, Alexandre. org. II. Chan-Vianna, 
Alexandre Jackson. org. III. Título IV. Série.
CDU 796 CDD 796.8981
Índice para catálogo sistemático
1. Educação física – Karate 796.8981
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV
Arte desenhos Kihon: Francisco Henrique Queiroz
Supervisão dos desenhos: Ulisses Riyuji Matushita Isobe
Revisores técnicos: Ulisses Riyuji Matushita Isobe (Shihan Riyuji Isobe), 
Susete Midori Morino (Shihan Susete Morino), Marcos Alberto Ribeiro Costa 
(Shihan Marcos Costa), Henrique Nelson Martinicorena (Sensei Henrique 
Martinicorena), Josimar Aparecido Ikeda (Sensei Josimar Ikeda), 
Randal Farah de Oliveira Leão (Senpai Randal Farah)
Revisão: Analista de Escrita e Artes
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
CATALOGAÇÃO NA FONTE
Bibliotecária responsável: Luzenira Alves dos Santos CRB9/1506
2021
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV
Tel.: (41) 3039-6418 – E-mail: sac@editoracrv.com.br
Conheça os nossos lançamentos: www.editoracrv.com.br
ESTA OBRA TAMBÉM SE ENCONTRA DISPONÍVEL 
EM FORMATO DIGITAL.
CONHEÇA E BAIXE NOSSO APLICATIVO!
Obra financiada pelo Ministério da Cidadania, Secretaria Especial de Esporte, 
Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social – SNELIS.
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Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
Comitê Científico:
Adalberto Santos Souza (UNIFESP)
Allyson Carvalho (UFRN)
António Camilo Teles Nascimento 
Cunha (UMINHO)
Arnaldo Luis Mortatti (UFRN)
Daniel Carreira Filho (Faculdade FUTURA)
Gumercindo Vieira dos Santos (UTFPR)
José Martins Filho (UNICAMP)
Laura Ruiz Sanchis (UCV – Espanha)
Luciana Venâncio (UFC)
Luciene Ferreira da Silva (UNESP)
Luiz Carlos Vieira Tavares – Mestre Lucas (IFS)
Luiz Sanches Neto (UFC)
Marcílio Souza Júnior (ESEF)
Marcos Garcia Neira (USP)
Mauro Betti (FC/UNESP)
Nara Rejane Cruz de Oliveira (UNIFESP)
Sérgio Luiz Carlos dos Santos (UFPR)
Suraya Cristina Darido (UNESP)
Walter Roberto Correia (USP)
Conselho Editorial:
Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB)
Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN)
Anselmo Alencar Colares (UFOPA)
Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ)
Carlos Alberto Vilar Estêvão (UMINHO – PT)
Carlos Federico Dominguez Avila (Unieuro)
Carmen Tereza Velanga (UNIR)
Celso Conti (UFSCar)
Cesar Gerónimo Tello (Univer. Nacional 
Três de Febrero – Argentina)
Eduardo Fernandes Barbosa (UFMG)
Elione Maria Nogueira Diogenes (UFAL)
Elizeu Clementino de Souza (UNEB)
Élsio José Corá (UFFS)
Fernando Antônio Gonçalves Alcoforado (IPB)
Francisco Carlos Duarte (PUC-PR)
Gloria Fariñas León (Universidade 
de La Havana – Cuba)
Guillermo Arias Beatón (Universidade 
de La Havana – Cuba)
Helmuth Krüger (UCP)
Jailson Alves dos Santos (UFRJ)
João Adalberto Campato Junior (UNESP)
Josania Portela (UFPI)
Leonel Severo Rocha (UNISINOS)
Lídia de Oliveira Xavier (UNIEURO)
Lourdes Helena da Silva (UFV)
Marcelo Paixão (UFRJ e UTexas – US)
Maria Cristina dos Santos Bezerra (UFSCar)
Maria de Lourdes Pinto de Almeida (UNOESC)
Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA)
Paulo Romualdo Hernandes (UNIFAL-MG)
Renato Francisco dos Santos Paula (UFG)
Rodrigo Pratte-Santos (UFES)
Sérgio Nunes de Jesus (IFRO)
Simone Rodrigues Pinto (UNB)
Solange Helena Ximenes-Rocha (UFOPA)
Sydione Santos (UEPG)
Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA)
Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA)
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AGRADECIMENTOS
O trabalho para se chegar ao resultado desse livro contou com a colaboração 
inestimável de muitas pessoas.
Não podemos deixar de agradecer, em primeiro lugar, à comunidade 
Kyokushin, em especial, aos praticantes e aos atletas, bem como seus familia-
res, que nos acolheram e compartilharam conosco suas experiências e histórias 
pessoais, que nos abriram as portas e nos apresentaram os caminhos iniciais por 
onde trilhamos nossas investigações.
Agradecemos à Secretaria Especial de Esporte do Ministério da Cidada-
nia pelo financiamento do projeto e destacamos a importância do fomento à 
pesquisa para fortalecer a cultura esportiva brasileira, ampliando o conheci-
mento sobre modalidades que já possuem atletas com um destaque esportivo 
de âmbito internacional.
Agradecemos à UnB, que é a instituição da maioria dos autores do livro, 
pelo apoio e pelas condições de trabalho, que permitiram a nossa reunião em 
torno deste estudo, em prol do conhecimento da realidade social na qual o esporte 
brasileiro está inserido, neste caso em particular, como um símbolo da aproxi-
mação entre o Brasil e o Japão.
No cotidiano da pesquisa, tivemos contato com algumas pessoas que se 
dedicam ao Kyokushin não apenas como esporte, mas, como parte de suas vidas. 
Queremos destacar algumas, mesmo correndo o risco de omitir outras, igual-
mente importantes: Senpai Randal Farah, principal contato da equipe de pesquisa 
com a CBKKO, Senpai Walter Emura, intérprete de japonês nas entrevistas reali-
zadas ao longo do estudo, Sensei Josimar Ikeda, responsável pelo Kyokushin em 
Brasília/DF e Vice-Presidente da CBKKO. Com eles convivemos e desfrutamos 
do prazer de participar das atividades cotidianas e dos eventos do Kyokushin.
Por fim, agradecemos às personalidades e às autoridades do Kyokushin, no 
Japão e no Brasil, que gentilmente nos receberam e nos contaram a sua história, 
são elas: Kancho Shokei Matsui, Shihan Seiji Isobe e Shihan Francisco Filho.
Esperamos que a obra seja para os praticantes um catalisador de exaltação 
sobre a jornada do Kyokushin no Brasil e ponto de reflexão para sua continuidade 
segura e próspera. Para a comunidade científica e da educação física, uma obra 
capaz de fundamentar o conhecimento sobre a modalidade e permitir penetrações 
em outras modalidades e áreas de conhecimento. Para o público em geral, que 
seja uma boa leitura, repleta de revelações surpreendentes e cativantes, como 
foi para nós autores vivermos durante esse tempo a cultura Kyokushin.
Brasília/DF, 2021.
Alexandre Rezende
Alexandre Jackson Chan-Vianna
(Organizadores)
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ������������������������������������������������������������������������������������������ 11
Alexandre Rezende
Alexandre Jackson Chan-Vianna
PREFÁCIO �����������������������������������������������������������������������������������������������������17
Shihan Francisco Filho
CAPÍTULO 1
O KARATE KYOKUSHIN E DA SUA IMPLANTAÇÃO NO BRASIL: 
apontamentos sobre as raízes culturais e a trajetória da implantação ����������� 19
Alexandre Rezende
Alexandre Jackson Chan-Vianna
CAPÍTULO2
OS PRATICANTES DE KARATE KYOKUSHIN: identidade Kyokushin ������ 85
Alexandre Jackson Chan-Vianna
Felipe Rodrigues da Costa
Alexandre Rezende
CAPÍTULO 3
PROTOCOLO DE ENSINO E PRÁTICA DO KYOKUSHIN: 
descrição do protocolo de treinamento do Karate Kyokushin ������������������������111
Ulisses Riyuji Matushita Isobe
CAPÍTULO 4
KYOKUSHIN PARA IDOSOS: Karate Kyokushin para idosos �������������������� 131
Marisete Peralta Safons 
Márcio de Moura Pereira 
CAPÍTULO 5
TÉCNICAS DE CALEJAMENTO: técnicas do calejamento e suas 
adaptações anátomo-fisiológicas baseadas em evidências ������������������������� 153
Lídia Mara Aguiar Bezerra 
Victor Lage 
CAPÍTULO 6
KARATE KYOKUSHIN: 
a percepção do público no primeiro contato com a arte marcial ������������������� 183
Jonatas Maia da Costa
Luiz Cézar dos Santos
Alexandre Rezende
ÍNDICE REMISSIVO �����������������������������������������������������������������������������������201
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APRESENTAÇÃO
Recebemos o convite da Confederação Brasileira de Karate Kyokushin 
Oyama – CBKKO para escrever sobre a modalidade em razão dos 40 anos de 
presença no país e 50 anos de origem no Japão. Nossa tarefa foi dar visibili-
dade a produção esportiva que esta comunidade construiu ao longo do tempo 
vivido. Porém, como acadêmicos, nosso olhar e nossa escrita não se asseme-
lham ao relato descritivo e pontual do jornalista, por exemplo. Nos interessou 
observar e compreender os mecanismos estruturantes, os agenciamentos e 
as interações sociais que foram alicerçando esta modalidade esportiva, que 
surge de uma luta marcial, e como as pessoas foram se engajando e, ao mesmo 
tempo, constituindo e sendo constituídas no contexto do Kyokushin. O livro 
reflete, pois, o olhar atento e analítico, sobre uma rede de sociabilidade que 
introduziu e desenvolve a cada dia este esporte em nossa sociedade.
A decisão estratégica para atingir nossos objetivos não poderia ser outra, 
senão, a imersão no cotidiano da vida dos praticantes da modalidade. Os tra-
balhos foram organizados em três frentes – a história; os ícones; e os atores 
cotidianos da modalidade. Resgatamos o passado a partir dos relatos dos 
mais antigos e da análise de materiais promocionais da modalidade em todo o 
Brasil; entrevistamos as personalidades da gestão e da excelência do esporte; 
observamos, conversamos e vivenciamos treinos e eventos com os praticantes; 
e avaliamos nos eventos a percepção do público sobre a modalidade. Nossos 
esforços foram no sentido de captar as ações objetivas dos acontecimentos e 
a subjetividade expressa nas atitudes e nas narrativas dos atores sociais desse 
esporte. Durante um ano nos aproximamos, tanto quanto possível, do que é ser 
um praticante da modalidade para compreender aqueles que têm construído, 
ao longo do tempo e nos dias atuais, a prática do Kyokushin.
Sabemos, no entanto, que devido à complexidade de como se constituem 
as relações humanas e, em consequência, as instituições, é impossível cap-
tar uma prática em todas as suas faces. Tomamos, pois, uma direção e uma 
delimitação. Quando assumimos o desafio de descrever uma comunidade 
inteira vinculada a uma mesma atividade, mas dispersa por todo o Brasil e 
com origens no Japão, assumimos deliberadamente investigar e organizar o 
conhecimento a partir de um ponto de vista. Isso deve remeter o leitor a duas 
atenções importantes.
Primeiro, que um ponto de vista é somente um ponto. Ou seja, que por 
mais que a ciência tenha técnicas de investigação para coletar o conhecimento 
geral através de amostras do todo, cada indivíduo, por mais que esteja imerso 
em uma comunidade, é singular e tem sua própria interpretação, sua teoria, 
do que seja a cultura em que está inserido. Partimos de uma localidade e 
avançamos para a rede de praticantes nos eventos nacionais e internacionais 
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nos quais nos envolvemos. Captamos de diversas formas o que os mem-
bros da comunidade quiseram nos apresentar como sendo importante para 
compreensão do que é ser um praticante de Kyokushin. Tentamos amainar 
os regionalismos entre outras identidades constituintes de cada ator social 
estudado para centralizar esforços no que fosse recorrente e aparentemente 
comum à maioria no que se referisse a prática em estudo.
A segunda atenção é que o ponto de vista é a vista de um ponto. Ou seja, 
é necessário acompanhar a clareza da ciência atual de que por mais analítico e 
imparcial que o investigador possa ser, ele não deixa de observar e refletir com 
sua subjetividade, seus conhecimentos prévios e sua intencionalidade sobre 
o fenômeno estudado. Por isso, a seguir, descreveremos de onde pensamos, 
refletimos e escrevemos este livro, pois quando assumimos passar o filtro ana-
lítico de pesquisadores reconhecemos e cuidamos das informações, sabendo 
o valor inestimável do conhecimento acumulado pela comunidade em foco.
Antes de sermos pesquisadores, somos professores de Educação Física. 
Militamos no esporte de diversas formas em nossas atribuições profissionais, 
sempre de forma crítica, mas em favor de valorizar e aperfeiçoar a experiência 
esportiva em prol da realização humana. Como analistas culturais do esporte, 
nos interessa conhecer como cada sujeito vivencia e reinterpreta a experiência 
da prática esportiva para inseri-la em sua vida cotidiana. Nos apropriamos 
de diversas teorias que explicam o fenômeno sociocultural que chamamos 
esporte e que fundamentam a formação de novos ou experientes praticantes.
Temos adotado diferentes práticas esportivas em nossas vidas diárias. 
Entretanto, até então, nossa visão das artes marciais de combate era consi-
deravelmente de fora e de longe. Assim, não somos completos outsiders, 
mas também não somos nativos da comunidade na qual nos inserimos para 
estudar. Esse distanciamento nos limitou de chegar em camadas mais vis-
cerais das pessoas e das organizações estudadas, mas, nos permitiu olhar 
com estranhamento para fatos dados como naturais ou inquestionáveis pelos 
praticantes. Acreditamos ter chegado, para além do discurso racional e coti-
diano, em camadas mais subjetivas e nas representações mais ancoradas da 
comunidade que sustentam o que definimos chamar de cultura Kyokushin. 
Enfim, somos pensadores do esporte analisando a construção simbólica dos 
praticantes do Kyokushin para interpretar a prática como ela se apresenta e, 
a partir daí, construir conhecimentos e tecnologias que fortaleçam a conti-
nuidade de sua trajetória.
Nossa compreensão do fenômeno esporte vincula-se sempre aos preceitos 
da Educação Física. Quando pensamos, analisamos e estabelecemos processos 
de desenvolvimento do esporte temos em mente que esta prática é, antes de 
tudo, pedagógica. Significa que promover e praticar esporte é uma relação 
entre pessoas em prol da melhoria da performance e da saúde sem dúvida, 
KARATE KYOKUSHIN NO BRASIL 13
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mas também da autonomia, da visão crítica sobre a realidade e da busca de 
plenitude do ser humano em todas as suas dimensões existenciais.
Nos interessa, pois, sempre refletir sobre quais engenhos propostos pelos 
atores sociais que desenvolvem e praticam esportes podem ser socializados em 
nome dos objetivos gerais da Educação Física. As reflexões contidas no livro 
revelam nossas inquietudes do que observamos ser significativo na prática 
do Kyokushin para perseguir nossos objetivos como esportistas, professores 
e pesquisadores da Educação Física.
O livro se organiza em duas partes. Na primeira apresentamos os dados e 
as reflexões que captamos nas três investigações que realizamos sobre a cultura 
Kyokushin. Na segunda, apresentamos a avaliação e sugestões deespecialistas 
em temas caros para o funcionamento das atividades do Kyokushin de modo 
mais amplo, mas também, mais eficiente e seguro.
O primeiro capítulo se dedica a uma reflexão sobre raízes culturais do 
Kyokushin como uma arte marcial oriental, o que o diferencia do conceito 
ocidental do esporte moderno. Observa-se, no entanto, um conflito, pois, a 
implantação e a difusão do Kyokushin têm uma relação direta com os signifi-
cados atualmente atribuídos ao esporte, mas, como no caso das demais lutas, 
não há uma intenção se afastar de suas origens, que exigem um envolvimento 
por completo da pessoa com a sua filosofia e maneira de compreender a rela-
ção entre o homem e a natureza. Sendo assim, observa-se um destaque para 
o papel exercido pelos Mestres e pelas suas façanhas; no caso do Kyokushin, 
a figura de destaque é Masutatsu Oyama, e, no caso do Brasil, Seiji Isobe e 
os brasileiros que se sagraram Campeões Mundiais de Kyokushin, em parti-
cular, o primeiro não-japonês campeão mundial, Francisco Filho. Contamos 
um pouco desta história e de seus personagens principais, da implantação o 
Kyokushin no Brasil, como também, dos princípios filosóficos que acompa-
nham o Karate Kyokushin e de como impactam a vida dos seus praticantes.
O segundo capítulo se dispõe, a partir da aproximação com os praticantes 
de Kyokushin, construir uma interpretação dos significados que a arte marcial 
adquire em suas vidas. Dentre outros possíveis, destacamos: o processo de 
Entrada e Permanência como praticante de Kyokushin, como uma modalidade 
full-contact, marcada por um treinamento vigoroso e exigente, que implica na 
seleção de um perfil específico de pessoas que se identificam com os valores 
de persistência e disciplina que inspiram o treino e justificam os resultados 
práticos para a defesa pessoal e a qualidade de vida; paralelamente, a organiza-
ção das atividades e os valores transmitidos ressaltam o reconhecimento pelos 
mestres e o respeito à Hierarquia, definida a partir de suas próprias conquis-
tas, que passam a servir de exemplo, como também, alimentam uma cultura 
de veneração aos bem-sucedidos; este quadro se completa com os aspectos 
morais chaves para esta atitude e o compromisso com valores humanos que 
tem um forte impacto sobre a vida cotidiana.
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O terceiro capítulo faz uma descrição geral do Protocolo de Treinamento 
do Karate Kyokushin. Como se trata de uma questão técnica, solicitamos a 
indicação da Confederação Brasileira de Karate Kyokushin Oyama e a res-
ponsabilidade recaiu sobre o Shihan Ulisses Riyuji Matushita Isobe. Como a 
missão de ensinar é restrita a praticantes que detenham a faixa-preta, a função 
do protocolo é ilustrativa, mais para dar uma noção geral aos leitores, como 
também, aos pesquisadores que vão escrever, em seguida, sobre a prática 
do Kyokushin para idosos e sobre as técnicas de calejamentos. A descrição 
contribui, também, para demonstrar a estrutura organizacional que caracte-
riza a proposta técnico-instrucional de formação de novos praticantes a ser 
adotada pelos que se dedicam ao Karate Kyokushin Oyama, enriquecida com 
ilustrações e detalhes técnicos.
O quarto capítulo, escrito pelos doutores, Marisete Safons e Márcio 
Pereira, pesquisadores que se dedicam ao estudo da atividade física para 
idosos, faz uma avaliação, a partir do conceito de envelhecimento ativo, das 
contribuições da prática do Kyokushin por pessoas da terceira idade. A ques-
tão não desperta polêmica no âmbito das artes marciais quando se trata do 
envelhecimento de um praticante regular de Karate, pois, neste caso, a expe-
riência conta a seu favor e costuma lhe conferir o respeito e a admiração dos 
demais praticantes. O texto, porém, considera a possibilidade de iniciantes 
da terceira idade, e destaca o valor deste tipo de atividade física, que oferece 
desafios psicomotores e físicos, realizados dentro de um contexto social e 
filosófico favorável, que corresponde aos interesses de uma parcela dos ido-
sos. Os autores ressaltam, no entanto, a necessidade da realização de algumas 
adequações na intensidade e no volume do treinamento a ser realizado, de 
forma a minimizar o risco de lesões, acidentes e agravos de doenças, cuida-
dos que devem ser estendidos a todos os demais praticantes, pois, nem todos 
possuem o perfil ideal de atletas e campeões, o que não impede a prática da 
modalidade, com ajustes para as suas condições pessoais.
O quinto capítulo foi escrito pelos doutores, Lídia Bezerra e Victor Lage, 
pesquisadores que se dedicam ao estudo do planejamento e da prescrição 
adequada de atividade física de acordo com as características dos praticantes 
e das finalidades a serem alcançadas, em termos da saúde e do esporte. As 
técnicas de calejamentos fazem parte da tradição do treino de praticantes de 
arte marcial e, geralmente, ganham destaque nos filmes de lutas pela supe-
ração dos limites de dor. A partir da avaliação científica dos autores, temos 
acesso a uma descrição criteriosa dos mecanismos fisiológicos que estão em 
ação neste tipo de treinamento. A título de conclusão, podemos afirmar que o 
calejamento, (1) se praticado de forma adequada, em termos de intensidade, 
volume e progressividade, (2) com uma supervisão competente, de profissio-
nais habilitados, (3) por atletas experientes, que apresentam uma execução 
técnica apurada, (4) devidamente adaptado às condições do praticante e às 
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finalidades do treinamento e (5) mediante prévia consulta médica e posterior 
acompanhamento contínuo de quaisquer eventuais desconfortos, torna-se 
fundamental para o aperfeiçoamento técnico do karateca.
O sexto capítulo foi escrito pelos doutores, Jonatas Costa, Luiz San-
tos e Alexandre Rezende, que aceitaram o desafio de realizar uma análise, 
pautada nas representações sociais, para fornecer uma interpretação sobre 
o quê o público expectador vê em um evento de Kyokushin, que costuma 
reunir diversos elementos da cultura japonesa, além das disputas em si entre 
os lutadores. De acordo com o relato dos expectadores, disciplina, força e 
respeito foram os significados mais destacados, o que guarda uma relação 
com a necessidade de uma dedicação aos treinos, com o caráter de realista 
de uma modalidade full-contact e com a conduta reverente de acatamento 
das regras e deferência ao adversário. Os autores destacam, paralelamente, a 
existência, na percepção do público, de pelo menos quatro domínios chaves 
do Kyokushin: (1) educativo; (2) qualidade de vida; (3) defesa pessoal; e 
(4) esportivo. Como as artes marciais como um todo têm se constituído na 
sociedade atual sob a égide do esporte, os autores investem na análise das 
aproximações do Kyokushin brasileiro com o modelo esportivo.
Assim, dentro desse mapa que descrevemos, os resultados que iremos 
apresentar devem revelar duas faces para o leitor. De um lado, os sentimentos 
mais gerais de todos e algumas particularidades dos praticantes. Do outro, 
margens para tantas outras interpretações do todo e nuances singulares que 
cada adepto do Kyokushin defenderia como relevante. Esperamos que o resul-
tado seja uma oportunidade dos amantes da modalidade se reconhecerem, 
refletirem com serenidade e se municiarem de informações profícuas para 
continuar a construção do que é e do que deve vir a ser o Karate Kyokushin 
nos próximos 50 anos.
Alexandre Rezende
Alexandre Jackson Chan-Vianna
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PREFÁCIO
“O mais importante que desenvolvemos na prática do Karate Kyokushin 
é a atitude e o espírito”
Masutatsu Oyama (1992).
Quando o mestre Shihan Seiji Isobe chegou ao Brasil, em 1972,sabia 
perfeitamente o significado das palavras do mestre Oyama o fundador do 
estilo Kyokushin, pois mesmo sem saber o idioma português, e sem possuir 
atributos físicos favoráveis para o combate (168 cm de altura e pesando 62 
kg), ele tinha o mais importante para vencer: o espírito Kyokushin. O qual 
segundo o Mestre Masutatsu Oyama, pode ser resumido em 4 ensinamentos:
- manter a cabeça baixa em sinal de humildade;
- olhar para o alto – objetivo;
- boca fechada – serenidade;
- um coração grande – compaixão.
Depois de mais de 40 anos de dedicação ao extremo e muito esforço do 
introdutor do Karate Kyokushin no Brasil, estamos colhendo os frutos por 
ele plantados. Nossa nação conseguiu alcançar a hegemonia japonesa, que 
era mantida por 30 anos com o título de campeão do mundo. Além do Japão, 
o Brasil foi o primeiro país a conquistar o ponto mais alto do pódio mundial, 
graças a força motriz do mestre Seiji Isobe, que irradiava para todos o desejo 
de que fôssemos o número um do mundo.
Mesmo sendo um país mundialmente conhecido pelo futebol e pelo 
gingado da capoeira, a cultura brasileira se misturou com os princípios de 
conduta dos japoneses e filosofia oriental, gerando assim a fórmula para for-
mação de campeões.
Comecei a treinar o Kyokushin aos 11 anos de idade e tive a honra de 
ter o Shihan como treinador. Hoje me confundo quando tento definir quem é 
o Francisco Filho, pois mesmo sendo brasileiro fui criado recebendo todo o 
treinamento da escola japonesa de karate. Sinto-me orgulhoso e satisfeito por 
todo conhecimento adquirido, o que mais aprendi com esta experiência foi 
sempre acreditar e vencer a mim mesmo, e é o que procuro passar aos meus 
alunos. Percebi que nos tornamos vencedores quando somos verdadeiros e 
persistentes conosco, aprendendo com tudo que está ao nosso redor. A prática 
do Karate Kyokushin não se deve resumir apenas ao treinamento no dojo.
O karate pode ser praticado por todas as pessoas, não tem gênero, idade, 
raça ou religião. Nunca é tarde para começar, pois como diz nosso fundador: 
é a atitude e o espírito que devem ser desenvolvidos na prática dessa arte. É 
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claro que, paralelamente, o praticante fortalecerá seu corpo, aprenderá a se 
defender e assim ser capaz de defender os mais fracos, procurando a harmonia 
no mundo, que é o objetivo principal da nossa organização.
Para os leigos, a nossa regra de luta pode parecer muito agressiva, porém 
os praticantes são preparados para o contato total nos treinos, começando 
devagar e aumentando gradativamente o ritmo de treinamento. Quando olha-
mos uma luta de Karate Kyokushin pela primeira vez, temos uma ideia errô-
nea do que vemos, parece muito brutal, mas, com a prática, você terá um 
novo conceito.
Para o melhor entendimento, cito aqui o desafio das 100 lutas que rea-
lizei no Japão no ano de 1995, o qual a meu ver foi apenas mais uma prova 
a ser superada, pois como sempre, estava preparado mentalmente, treinado, 
condicionado e focado para fazer aquilo, portanto, era algo natural para mim 
naquela ocasião. Porém quando participei das 100 lutas do Kazumi, em que eu 
era um dos 100 adversários que ele enfrentou, tive uma ideia muito diferente 
do que é o teste das 100 lutas. Pareceu-me uma loucura, algo muito agressivo, 
fora da realidade. Agora, observando essas situações, vejo que na vida tudo 
segue a mesma regra, julgamos tudo pela aparência sem sabermos ao menos 
a verdade enquanto não nos submetermos as tais provas. Tudo está na nossa 
mente. Devemos nos observar mais, policiar os nossos pensamentos e praticar 
a meditação zen para assim adquirirmos um melhor equilíbrio na vida.
Tanto no dojo como na vida, estamos sempre aprendendo. Precisamos 
cultivar o espírito de dar o nosso melhor, sem nos importarmos com as nossas 
atuais circunstâncias e condições. Porque enquanto estivermos dando nosso 
melhor em nossa versão atual, estaremos sempre ganhando. Não perderemos 
nem mesmo quando estivermos em uma posição desfavorável. Nesse momento 
o mundo passa por uma crise, todos muito aflitos e incertos do futuro com a 
pandemia do coronavírus, muitos estão enclausurados em suas residências 
sem escolha. É o momento de refletirmos e de colocarmos os ensinamentos 
do karate em prática, dando o nosso melhor neste exato momento, sermos 
mais disciplinados, positivos e esperançosos.
A palavra treino significa “ação, processo ou efeito de treinar-se”. A pala-
vra VIDA significa “modo de viver, o tempo de existência ou funcionamento 
de alguma coisa”, portanto, quando vivemos ou treinamos devemos apenas 
viver ou treinar, nada mais... não perdemos nunca.
Uma ótima leitura a todos.
Osu!
Bragança Paulista/SP, 2021.
Shihan Francisco Filho1
1 Presidente da Organização de Karate Kyokushin da América do Sul.
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CAPÍTULO 1
O KARATE KYOKUSHIN E DA 
SUA IMPLANTAÇÃO NO BRASIL: 
apontamentos sobre as raízes culturais 
e a trajetória da implantação
Alexandre Rezende2
Alexandre Jackson Chan-Vianna3
Introdução
Neste capítulo apresentamos as características principais do karate 
Kyokushin. Partiremos dos elementos que compõem a prática corporal que 
está inserida no universo das artes marciais. Em comparação com outras 
práticas corporais consideradas esportivas, as artes marciais se reves-
tem de tradições culturais que as diferenciam daquelas vinculadas a era 
moderno-contemporânea.
A diferença temporal de origem implica as artes marciais com elementos 
da vida cotidiana para além de uma prática físico-recreativa. Como se escla-
recerá, nas artes marciais, de forma original e, portanto, na sua base, a prática 
corporal está envolvida diretamente com a formação militar e a construção 
de si em inúmeras dimensões humanas.
No resgate do processo histórico de difusão das artes marciais na moder-
nidade existem algumas questões que são recorrentes e devem ser analisadas 
de forma a esclarecer a alternância que se observa nas posições assumidas 
ao longo do tempo. A seguir descreveremos as características que dão fun-
damento a essa discussão, nos possibilitando inserir na análise específica do 
karate Kyokushin no Brasil com maior acuidade.
Arte marcial: o caminho para a formação do mestre
Nas artes marciais, os relatos históricos normalmente remontam às con-
tribuições fornecidas por um mestre em particular. Como parte da tradição, 
2 Doutor em Ciências da Saúde. Membro do Núcleo do Esporte da UnB. Professor da Faculdade de Educação 
Física da UnB. Contato: rezende@unb.br
3 Doutor em Educação Física. Membro do Núcleo do Esporte da UnB. Professor da Faculdade de Educação 
Física da UnB. Contato: chanvianna@unb.br
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cada mestre, ao longo do processo de formação de seus discípulos, presta 
reverência ao seu próprio mestre, o que indica a existência de uma cadeia de 
transmissão de saberes e de valores, marcada pelo respeito e pela gratidão. 
Quando esse vínculo se mantém íntegro, o mestre atual é reconhecido como 
herdeiro do legado deixado pelo mestre antecessor, como também, no futuro, 
deve ser capaz de formar um mestre sucessor, capaz de perpetuar a transmis-
são desse legado.
Essa tradição, de certa forma, vincula-se com as honrarias que costu-
mam ser concedidas no oriente aos antepassados e, ao mesmo tempo, com a 
valorização das proezas e façanhas realizadas pelo homem, logo, não é algo 
específico das artes marciais, e sim, um princípio que marca a sociedade 
como um todo. Mesmo nas situações em que o vínculo direto entre mestre e 
discípulo porventura se rompe, a tradição termina sendo preservada, pois o 
discípulo normalmente estabelece o vínculo com um mestre anterior ao seu 
próprio mestre, para não se desligar da raiz que define a sua própria identidade.
De qualquer maneira, deve-se considerarque um mestre nas artes mar-
ciais adquire notoriedade a partir de suas conquistas pessoais ou das conquistas 
auferidas pelos seus discípulos fiéis. No caso do mestre que é reconhecido 
como herdeiro da tradição de um mestre antecessor, as condições para que 
seja bem-sucedido na missão de difundir a arte marcial são excelentes. Porém, 
quando se trata de um discípulo divergente em relação ao seu mestre, resta-lhe 
como alternativa, ao assumir a posição de mestre, vincular-se a um grande 
mestre antecessor e, mesmo sem ser visto como herdeiro de um mestre espe-
cífico, ele ainda pode ligar-se à tradição geral e ser capaz de alcançar destaque 
dentro do cenário das artes marciais, desde que seja reconhecido por suas 
próprias proezas.
Os mestres pioneiros, ou o processo de criação de um novo estilo de luta, 
são fenômenos geralmente marcados por uma experiência de vida que possui 
alguns traços em comum. Após viver alguns momentos difíceis ou enfrentar 
desafios que suscitaram uma crise de identidade ou um questionamento sobre 
o significado da vida, o mestre resolve fazer um retiro espiritual, ocasião em 
que se afasta das outras pessoas para viver em contato direto com a natureza. 
Inicia-se, dessa maneira, uma peregrinação, geralmente em uma montanha 
(local simbólico onde o homem se aproxima do céu e, portanto, dos deuses 
ou dos antepassados), dedicada à meditação e ao aprendizado, por meio da 
observação e do treino das habilidades corporais e espirituais imprescindíveis 
para sobrevivência.
Ao enfrentar, de forma obstinada, desafios e privações naturais, tais 
como, frio e calor, fome e sede, medo e solidão, o mestre, de acordo com os 
princípios da dialética oriental, desenvolve resistência, força, disciplina, cora-
gem e autonomia. Ao longo desse processo e como síntese dessas experiências, 
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o mestre desenvolve um estilo próprio de arte marcial, que lhe permite pre-
servar as habilidades adquiridas e transmitir, a outros, o que a natureza lhe 
ensinou. Por fim, o novo estilo marcial precisa passar pelo teste que demonstra 
suas vantagens no confronto com outras formas de luta já consolidadas, o que 
indica a necessidade de o mestre retornar ao convívio social para desafiar e 
vencer outros mestres, de forma a divulgar o novo estilo e despertar o inte-
resse pela sua prática.
Essa narrativa, que se assemelha a uma saga, é revivida, simbolicamente, 
por todas as pessoas que resolvem se tornar praticantes de uma arte marcial. 
A iniciação nas artes marciais costuma ser descrita como um renascimento, 
ou seja, a oportunidade de viver um processo de reconstituição de sua per-
sonalidade. Se o praticante não realiza, literalmente, um retiro espiritual, a 
cultura em torno da arte marcial, simbolicamente, convida-o, passo-a-passo, a 
assumir o compromisso com novos valores, o que requer dele uma dedicação 
zelosa que o afasta do tumulto do seu cotidiano para um lugar de paz e de 
descoberta, o dojo.
A peregrinação do mestre pela montanha é substituída pela frequência 
diária do praticante ao dojo, onde tem a oportunidade de aperfeiçoar as suas 
habilidades corporais, aprender a observar o outro e a si mesmo, testar os seus 
limites e desenvolver a capacidade de meditar. Os anos de disciplina trans-
mitem um legado de coragem, força e resistência, reconhecido pelo mestre 
e pelos outros praticantes, que se materializa na conquista da faixa preta, 
momento em que o praticante é aclamado, de forma solene, como um novo 
mestre, tanto pela sua maneira de lutar como pela sua capacidade de transmitir 
a outros, o que a arte marcial lhe ensinou.
Arte marcial: significados diversos
A proposta de fazer um breve relato histórico do processo de implantação 
e difusão do Karate Kyokushin Oyama no Brasil deve, necessariamente, estar 
articulada com a compreensão dos significados culturais que, de acordo com 
seus precursores, estão presentes nas origens das artes marciais, como um 
todo, e do Karate, em particular. Não pretendemos fazer uma periodização 
cronológica ampla que remonte a um passado distante, e sim compartilhar 
uma leitura interpretativa dos significados culturais identificados como mais 
relevantes a partir da obra literária utilizada por Matsutatsu Oyama para divul-
gar o Karate Kyokushin, Mas Oyamas’s Esential Karate (1971).
As artes marciais, em um sentido geral, fazem parte de um conjunto de 
práticas corporais, presente em diversas culturas, que, de uma forma abran-
gente, podem ser denominadas como “lutas”. Nem todos os tipos de lutas, no 
entanto, podem ser classificados como “arte marcial”.
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O conceito de luta abrange atividades de enfrentamento corporal direto 
entre dois ou mais oponentes, que podem ocorrer em diferentes situações 
lúdicas ou de confronto, que permitem testar as habilidades corporais em um 
contexto agonístico, marcado pela necessidade de articular, de forma simul-
tânea, ações de defesa, que anulam a ação do oponente, com ações de ataque, 
que encontrem a vulnerabilidade do outro.
As artes marciais, por sua vez, constituem-se em sistemas de aperfeiçoa-
mento das habilidades requeridas pelas situações de combate que ocorrem em 
um contexto específico de guerra. Do ponto de vista etimológico, arte marcial 
é uma expressão ocidental que reúne o conceito de “arte”, que se refere ao 
desenvolvimento de habilidades magistrais, que se exprimem de forma cria-
tiva, com o adjetivo “marcial”, expressão latina que se refere às características 
próprias de “Marte”, considerado o “deus romano da guerra”. A expressão 
“arte marcial”, portanto, pode ser entendida como a atividade humana que se 
dedica ao processo de aperfeiçoamento das habilidades corporais relacionadas 
à capacidade de sobrepujar um adversário em uma guerra.
No oriente, são utilizados outros termos para se referir às artes mar-
ciais que não somente delimitam o contexto em que a luta se desenvolve, 
mas, principalmente, fazem menção ao processo de formação que conduz ao 
desenvolvimento das habilidades próprias de um guerreiro, como é o caso da 
expressão japonesa bu-shi-do, que significa “caminho do guerreiro”, ou da 
expressão chinesa wu-shu, que significa “arte de guerra”.
Essas diferenças conceituais chamam atenção para as divergências na 
concepção de homem entre a cultura ocidental e a oriental e, consequente-
mente, para a maneira como cada uma dessas culturas interpreta o que é arte 
marcial e como compreende os vínculos existentes entre os sentidos presentes 
no cotidiano dessa prática corporal e a vida das pessoas que se dedicam a ela.
A perspectiva atomística, que caracteriza a cultura ocidental, divide o 
homem, tanto em diversas dimensões sobrepostas, como em vários papéis 
sociais diferentes. Sendo assim, as artes marciais serão consideradas importan-
tes, por um lado, para o treinamento de habilidades corporais e o condiciona-
mento físico, considerados como os elementos chaves da maestria técnica, e, 
por outro lado, para o aperfeiçoamento do controle emocional e da capacidade 
de decisão, considerados cruciais para a inteligência tática. Esses aspectos 
são requeridos ao máximo em um contexto marcial, mas, em momentos de 
paz, podem representar benefícios relevantes para a saúde, o lazer, a estética, 
o esporte e a educação, assumindo novos significados sociais.
A perspectiva holística, que caracteriza a cultura oriental, considera o 
homem como um todo, portanto, indivisível. As dimensões humanas são inter-
dependentes entre si, de forma que, as artes marciais estão comprometidas 
com o desenvolvimento espiritual, entendido como a libertação do sofrimento 
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que advém das misérias da vida. Tornar-se um guerreiro exigea reunificação 
do ser humano com as suas origens na natureza, algo que precisa ser vivido 
na prática, por meio do exercício da meditação e do treino disciplinado do 
corpo para superar os seus limites. Esses aspectos são também requeridos 
ao máximo, e, as habilidades desenvolvidas ao longo desse processo, são 
suficientes para que a pessoa lide com todas as vicissitudes da vida social.
Sendo assim, na ótica ocidental, as artes marciais são consideradas como 
parte do acervo cultural que reúne as diversas maneiras como o homem lida 
com seu corpo, o que, certamente, não abrange o conjunto de outras práti-
cas culturais que se dedicam aos cuidados considerados importantes para 
o espírito, pois, os cuidados com o espírito são afetos a outras instituições, 
responsáveis por definir a relação a ser estabelecida entre o homem e Deus.
Na perspectiva oriental, por sua vez, o conceito de unidade entre corpo e 
espírito se refere muito mais à aproximação a ser estabelecida entre o homem 
e a natureza, sendo essa última entendida como a origem da vida. O homem 
não tem um corpo que é instrumento do seu espírito que, por sua vez, busca 
aproximar-se de Deus. O homem é definido a partir de como ele vive, do 
ponto de vista de uma moral que está presente e que dirige o seu comporta-
mento social.
Isso significa que é por meio do controle do corpo, que é parte da natu-
reza, que o homem desenvolve o seu espírito, pois a sua vida se vincula à vida 
existente na natureza como um todo. Atividades como a meditação, quando 
o homem se desvencilha dos desejos e interesses que cercam a vida humana 
e se liga à natureza, em um estado de perfeita tranquilidade, ou, atividades 
relacionadas ao controle da respiração, quando o homem recorre a técnicas 
que mobilizam a entrada e saída do ar e interfere na movimentação da energia 
em seu corpo, são consideradas como parte do treinamento que transcende 
o corpo e promovem o desenvolvimento espiritual da pessoa como um todo.
As artes marciais nascem como uma forma de preparação da pessoa para 
lidar com as circunstâncias da vida e, paralelamente, como uma forma de 
expressão e de interação social. Em alguns momentos da história, o homem 
conviveu com a necessidade de enfrentar as condições adversas da natureza 
para obter alimentos e, muitas vezes, de combater contra outras pessoas para 
garantir tanto a defesa pessoal como a de sua família, é dentro desse cenário 
social que se observa o desenvolvimento das artes marciais.
Se a luta pela vida e até mesmo os momentos de guerra são elementos 
que estão presentes na origem das artes marciais, também é verdade que a 
prática das artes marciais ao se incorporar dentro de cada cultura, articula-se 
com uma série de outros valores vigentes em cada época. Assim como ocorre 
com outras práticas corporais, uma vez criada, a arte marcial não se resume 
a uma luta, pois envolve tanto a compreensão da maneira como o homem 
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deve lutar, como também, os motivos que justificam a necessidade da luta. 
Ao se constituir em uma prática corporal que está repleta de significados que 
extrapolam a luta e, portanto, revelam muito mais “quem é esse homem que 
luta” e “qual é a cultura em que está inserido”, as artes marciais continuam 
a ser praticadas em momentos de guerra, como também a ganhar novos sig-
nificados que a valorizam como uma prática que tem outros sentidos quando 
realizada em um contexto de paz.
É dessa maneira que as artes marciais ganham um sentido educativo de 
formação integral da criança e do homem para a vida, um sentido que destaca 
a preocupação com a defesa pessoal diante de um quadro de violência social, 
um sentido que se preocupa com a promoção e manutenção da saúde e da 
qualidade de vida, um sentido que lhe atribui um caráter lúdico para que passe 
a ser praticada como esporte e assim por diante.
É possível, portanto, afirmar que as artes marciais terão tantos sentidos 
quantos forem os interesses das pessoas que estão envolvidas em sua prática. 
Existe, dessa maneira, um karate que se aproxima das preocupações dos 
mestres, que se dedicam a encontrar pessoas dignas de receber o seu legado 
de conhecimentos e experiências para garantir a perpetuidade da tradição. 
Mas, existe, também, um karate que está ligado às inquietações típicas dos 
iniciantes, que estão ávidos para aprender e para estabelecer uma conexão 
entre os valores presentes no karate e seus demais interesses e desejos pessoais.
Somente as pessoas que são capazes de se colocar no lugar e de pensar 
“como os orientais pensam”, podem compreender o significado pleno que as 
artes marciais podem ter para o desenvolvimento humano.
Artes marciais: origens
O conceito de artes marciais reúne diversas modalidades de luta. Cada 
modalidade possui uma relação direta com as necessidades ditadas pelo modo 
de vida da época, como também, com a maneira pela qual seus criadores vis-
lumbravam a participação do homem na solução dos problemas do contexto 
social em que estavam inseridos.
De acordo com Oyama (1971), ao relatar os antecedentes históricos 
das artes marciais, o Karate é descrito como uma arte marcial originária da 
tradição shaolin. Os monges shaolin desenvolveram um sistema de defesa 
pessoal a partir da influência exercida pelo monge indiano Bodhidharma, 
que, em viagem à China, introduziu como parte das atividades cotidianas de 
desenvolvimento espiritual, a prática de uma série de exercícios de yoga e 
de meditação. As práticas corporais estavam estreitamente articuladas com o 
aprendizado e a compreensão dos fundamentos da filosofia Zen. Os monges 
desenvolveram um nível de proficiência corporal que contribuía para o seu 
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desenvolvimento espiritual, ao mesmo tempo em que lhes permitia enfrentar 
os malfeitores que, vez ou outra, saqueavam o templo e oprimiam a popula-
ção circunvizinha.
Ao reconhecer essa narrativa como a raiz histórica do Karate, Oyama 
(1971) reforça o sentido de que o Karate foi criado como uma arte marcial 
comprometida com a compreensão de que o desenvolvimento do corpo e do 
espírito ocorre de maneira interdependente, como essências coexistentes e 
indivisíveis. O aperfeiçoamento, tanto do corpo como do espírito, somente 
é possível para as pessoas que conseguem compreender e viver a completa 
unidade que existe entre eles. De forma que, a purificação e a libertação do 
espírito são alcançadas por meio da disciplina e do controle que a pessoa 
adquire sobre as propriedades do seu próprio corpo.
Outro componente, igualmente importante na cultura das artes marciais, 
está relacionado com o caráter libertário que marca a sua inserção social. As 
habilidades especiais desenvolvidas pelos mestres para o combate, costumam 
ser colocadas a serviço do enfrentamento da opressão que incide sobre a popu-
lação em geral. O uso legítimo da força, assim como na guerra, reveste-se de 
um sentido positivo quando é exercido em prol da justiça, ou seja, da proteção 
daqueles que se encontram em uma situação de vulnerabilidade.
Outras influências culturais, que associam o Karate, em linhas gerais, ao 
conjunto de outras práticas corporais ligadas às lutas, relatam, antes da cria-
ção de sua acepção moderna no Japão, a sua vinculação com a tradição mais 
remota, advinda da Coréia (oriunda da China), e, em seguida, e de acordo com 
uma sequência temporal, com a Índia. Em cada um desses cenários culturais 
a arte marcial sofre diversas influências que as diferenciam entre si, dando 
origem a técnicas corporais de luta, por vezes, totalmente inovadoras.
As técnicas que caracterizam cada estilo, por exemplo, atendem a exi-
gências impostas pelas condições materiais do ambiente e pela filosofia de 
vida dos seus praticantes. Dessa maneira, temos algumas modalidades que 
se destacam pelas estratégias deagarre, que caracterizam as lutas a curta 
distância, enquanto outras modalidades introduzem o uso de armas, o que, 
consequentemente, amplia a distância entre os combatentes.
As modalidades de luta ou as escolas existentes dentro de uma mesma 
modalidade de luta possuem diversos matizes, que refletem as características 
de seus criadores.
É possível destacar, a título de exemplo, algumas tendências contra-
ditórias, presentes no contexto sociocultural de origem das artes marciais, 
que marcam a proeminência de novas modalidades. O que se pretende com 
essas colocações é demonstrar os vínculos existentes entre a modalidade de 
luta, a realidade de vida e os interesses que marcam a sociedade no momento 
histórico em que foram criadas.
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Algumas modalidades enfatizam a proteção e defesa pessoal em detri-
mento do combate e de um ataque agressivo. Algumas modalidades enfatizam 
o uso eficiente das armas, que ampliam a capacidade letal, enquanto outras 
consideram que as mãos livres podem ser treinadas para ser tão letais quanto as 
armas com a vantagem de estarem sempre disponíveis. Algumas modalidades, 
em função do estilo de vida rural, enfatizam o uso das pernas, enquanto outras, 
próprias de um meio urbano, desenvolvem o domínio de técnicas manuais.
Na análise do processo de criação de novas modalidades ou de criação de 
novos estilos ou tendências dentro de uma mesma modalidade de arte marcial, 
observa-se que cada mestre, ao organizar os grupos sob a sua responsabili-
dade e ao definir as diretrizes de formação que marcam a maneira como eram 
realizados os treinamentos, acrescentava elementos marcantes de sua cultura 
ou de sua história de vida, que terminavam por transformar cada modalidade 
ou estilo em algo singular, completamente diferente dos demais existentes.
As diversas modalidades de artes marciais ou estilos de cada uma delas 
eram identificadas por nomes escolhidos por seus criadores para transmitir 
o que consideravam ser o significado mais adequado para descrever a pro-
fundidade de sua proposta. Esses nomes, por vezes estavam relacionados a 
palavras tradicionais, pouco conhecidas, que se reportavam a animais, outros 
elementos da natureza ou a determinadas virtudes humanas, de difícil tra-
dução para outros idiomas. Com a intenção de facilitar a difusão das artes 
marciais, foi necessário recorrer a nomes modernos e mais compreensíveis 
para o público em geral.
No caso específico do Karate, temos uma modalidade que prioriza o uso 
de socos e chutes, em um cenário no qual o combate é realizado sem o recurso 
das armas e a uma distância média.
Uma característica interessante que ilustra a relação entre os estilos e as 
condições usuais de vida dos mestres é o fato de que a região norte possui um 
relevo característico, formado por diversas montanhas, o que conduz a um 
estilo de vida marcado pelo andar a cavalo ou a pé. De certa forma influenciado 
por essas circunstâncias da vida, o estilo de karate do norte enfatiza, com uma 
frequência e uma precisão técnica mais apurada, a realização de golpes com 
as pernas, enquanto a região sul, onde o relevo é plano e cortado por muitos 
rios, dá ensejo a um estilo de vida totalmente diferente, com predomínio do 
uso de botes a remo. Sendo assim, da mesma forma que no norte, a maneira 
de viver do sul também deixa marcas na forma de se praticar o karate; nesse 
caso, a técnica mais apurada é a realizada com as mãos, logo, com predomínio 
de socos.
As diferenças e particularidades dessas técnicas de combate, que mes-
clam, ao mesmo tempo, pontos positivos e fragilidades, estão articuladas em 
torno de um conceito geral que as une como arte marcial e como karate.
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Karate: significado do nome “mão vazia”
O povo de Okinawa, particularmente, os habitantes das Ilhas Ryukyu, 
utilizavam simplesmente a palavra “te”, que significa “mão”, para se referir a 
arte marcial que no Japão é denominada de “karate”. Segundo Oyama (1971), 
a palavra karate, como é escrita atualmente, é formada pela justaposição de 
duas outras palavras: “te” (mão) e “kara” que significa “vazio”. Quando a arte 
marcial começou a ser praticada e ensinada no Japão, o seu nome foi escrito 
de acordo com os caracteres e a tradição linguística chinesa do período Tiang, 
que as une no sentido inverso para formar karate, que significa: a arte de lutar 
ou combater com as mãos vazias ou livres, logo, sem o uso de armas.
O Karate, portanto, é uma arte marcial que preconiza a utilização de 
técnicas de enfrentamento corporal nas quais o praticante está com as mãos 
livres. Como nem sempre a pessoa tem armas à sua disposição para se defender 
ou para enfrentar um oponente, o Karate transforma todas as partes do corpo 
humano em potenciais armas que podem ser utilizadas no combate. Nesse 
sentido, em função da imprevisibilidade das circunstâncias, seja na vida ou no 
campo de batalha, a não dependência em relação às armas é apontada como 
uma grande vantagem, pois, nesse caso, o guerreiro está sempre preparado e 
não pode ser surpreendido em uma situação desprotegida.
O karate foi introduzido no Japão em 1923. Não há critérios que sejam 
aceitos por toda a comunidade do karate para classificar os diferentes estilos 
ou escolas que surgiram. Cada novo mestre, aos poucos, na medida em que 
consolida a sua própria escola, funda um novo estilo, que reúne, ao mesmo 
tempo, as vantagens oriundas dos pontos fortes de suas habilidades técnicas, 
e, como corolário, as desvantagens relacionadas com as suas “fragilidades” 
técnicas, por assim dizer – não é correto atribuir fragilidades a um mestre, 
o que o texto pretende dizer é que existem habilidades que ele executa da 
forma correta e outras que ele executa com uma perfeição acima do normal, 
essas habilidades excepcionais são as vantagens referidas acima, enquanto 
as técnicas que executa de forma correta, mas, não com maestria, podem ser 
apontadas como possíveis fragilidades em um momento de combate.
No resgate histórico do processo de difusão das artes marciais na moder-
nidade existem algumas questões que são recorrentes e devem ser analisadas 
de forma a esclarecer a alternância que se observa nas posições assumidas ao 
longo do tempo, ora enaltecendo ora criticando as artes marciais.
Arte marcial: ameaça
Em determinados períodos históricos, as artes marciais, em virtude do 
seu caráter potencialmente militar, como também, da mobilização de um 
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grupo de pessoas ligadas por laços de subordinação, foram consideradas uma 
ameaça pelas autoridades políticas, pois, poderiam se tornar partidárias de 
causas comprometidas com uma determinada forma de organização social, 
de maneira a adotar uma posição subversiva diante da ordem social vigente. 
Sendo assim, em alguns momentos, a prática de artes marciais que não esta-
vam sob os auspícios do grupo social no poder, foi marginalizada, seus mestres 
e praticantes foram presos ou proibidos de dar continuidade às atividades de 
treino e demonstração.
As autoridades constituídas, portanto, receavam que os praticantes de 
arte marcial pudessem colocar suas habilidades a serviço de grupos sociais 
que almejavam o poder, transformando-se em perigosos opositores. Diante da 
incerteza do controle que podiam exercer sobre os praticantes de arte marcial, 
a melhor opção dos governantes era, nos momentos de paz, desmobilizá-los, 
pois, não precisavam deles para enfrentar seus inimigos.
Os grandes guerreiros também foram considerados ambivalentes na Pai-
déia de Platão. Ao mesmo tempo em que eram imprescindíveis na proteção 
militar da cidade-estado e nas guerras para a conquista e dominação de outros 
povos, constituíam-se, também, em uma ameaça velada aosatuais gover-
nantes, caso deixassem de concordar com a sua maneira de dirigir a cidade 
e utilizassem a sua força contra as autoridades públicas. Para evitar a possi-
bilidade deles se envolverem em um motim, os guerreiros eram agraciados 
com benesses para garantir sua cooptação aos governantes.
Arte marcial versus esporte
A discussão sobre a transformação das artes marciais em modalidades 
esportivas também é marcada por um conflito entre, de um lado, a necessidade 
de resguardar o vínculo existente entre as artes marciais e as situações reais 
de luta, a fim de evitar a perda de suas vantagens como um recurso de defesa 
pessoal, e, por outro lado, a proposta de formalização das artes marciais como 
esporte, que envolve a criação de regras e o uso de equipamentos de proteção 
que resguardem a integridade física dos praticantes, mas que transformam as 
artes marciais em um jogo fictício que se distancia dos elementos que carac-
terizam a luta originária.
Ao se transformar em esporte as artes marciais têm a seu favor o reco-
nhecimento social de uma prática normatizada nos valores da modernidade. 
O esporte amplia a possibilidade de difusão de uma prática pelo mundo, pois, 
quando passa a ser regida por valores contemporâneos ocidentais, mobiliza 
a atenção da mídia, ao mesmo tempo em que consegue envolver crianças, 
mulheres e um público diversificado que não teria acesso ao ambiente marcial 
de um dojo.
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A necessidade de reduzir o nível de exigência em relação a intensi-
dade dos exercícios, de tolerar a diversidade de ritmos na aprendizagem das 
habilidades técnicas, de garantir a participação daqueles que não revelam 
aptidão para alcançar o alto rendimento, e várias outras características que 
acompanham a iniciação esportiva ou a prática do esporte apenas como lazer, 
terminam sendo consideradas pelos mestres tradicionais como uma fonte 
de distorção dos valores e princípios das artes marciais. A aproximação do 
esporte pautada nesses aspectos é vista como uma ameaça ao futuro das artes 
marciais, pois, não corresponde aos conceitos de excelência e mérito, ao clima 
de disciplina e vigor, que definem o seu pertencimento à cultura de exaltação 
das artes marciais.
Um exemplo disso, é o fato de que, no contexto ocidental, em con-
sequência da aludida visão dissociativa de homem, costuma-se confundir 
o Karate com uma série de outras práticas corporais que, apesar de serem 
consideradas como importantes para a promoção da saúde e da qualidade de 
vida, não podem ser confundidas com uma arte marcial. Dentre as atividades 
que costumam ser diretamente relacionadas com o Karate, mas que não são 
karate, podemos citar: a ginástica, a dança, o lazer e o próprio, esporte.
Apesar da prática do Karate envolver a realização disciplinada de exer-
cícios ginásticos que aumentam a força e a potência muscular, aperfeiçoam a 
flexibilidade das articulações, aprimoram o equilíbrio corporal e desenvolvem 
a agilidade na execução de movimentos coordenados e precisos, o karate não 
é uma ginástica. O praticante de Karate faz exercícios regulares e adota um 
estilo de vida ativo e saudável não como um objetivo em si mesmo, mas como 
meio para alcançar a excelência na arte marcial. O karate, segundo os mestres, 
é uma atividade que proporciona prazer ao praticante e requer a realização 
sistemática de diversos exercícios, a ponto de se transformar em uma maneira 
de promover e manter o condicionamento físico muito mais efetiva do que a 
própria ginástica. Mas, isso não faz do karate uma forma de ginástica.
O mesmo raciocínio pode ser aplicado ao lazer, a dança e outras práticas 
corporais, ou seja, a arte marcial pode ser considerada como uma prática cor-
poral realizada no tempo livre e com foco na fruição pessoal, mas, mesmo que 
seja a única opção de lazer da pessoa, não pode ser descrita com uma atividade 
de lazer; a execução do kata, que também é apelidado de “balé da morte”, 
possui uma fluidez associada à precisão técnica dos movimentos, realizados 
de forma coordenada com a respiração, para demonstrar a eficiência dos 
golpes em um confronto com um adversário simbólico, o que é semelhante a 
dança, mas, novamente, o conceito de dança não é suficiente para esgotar os 
sentidos presentes na arte marcial.
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Arte marcial e desenvolvimento humano
Com o intuito de explicar o significado essencial das artes marciais, 
Oyama (1973) esclarece que a formação de um Mestre de Karate (Sensei), 
requer, além da comprovação de um domínio magistral da técnica, comple-
mentarmente, uma forte conexão espiritual com a maneira por meio da qual 
a pessoa á capaz de demonstrar, socialmente, que se dedica plenamente à 
missão de: (a) tornar-se um ser humano cada vez melhor; (b) corresponder 
às expectativas que a sociedade nutre em relação a ele; (c) ser valorizado e 
satisfazer as necessidades da sua família.
No processo de iniciação à prática de artes marciais, a pessoa entre em 
contato, progressivamente, com uma série de princípios que prescrevem uma 
atitude moral a ser adotada diante dos desafios presentes no cotidiano do 
treinamento. Esses princípios normativos podem divergir entre as diversas 
modalidades de luta, principalmente em função do contexto sociocultural no 
qual está inserida e dos interesses dos seus praticantes, mas, existem alguns 
princípios comuns que perpassam a maioria das artes marciais, como é o caso 
da disciplina, hierarquia e persistência.
Disciplina e hierarquia
Normalmente, e talvez como uma consequência do grande risco de se 
provocar danos aos oponentes, os ambientes de treinamento das artes mar-
ciais são marcados pelo rigor disciplinar, pelo zelo com a integridade do 
outro e pela responsabilidade com a higiene do próprio ambiente. As relações 
interpessoais transcorrem em um contexto organizado em torno do respeito 
a uma hierarquia, definida em função do nível de aprimoramento de cada 
praticante. Sendo assim, quanto maior for a graduação do praticante, maior 
serão as exigências em relação à disciplina, à dedicação e ao cumprimento 
de suas responsabilidades.
A disciplina, em uma perspectiva oriental, não se refere simplesmente 
a importância da obediência às regras e aos superiores. As regras a serem 
obedecidas nas artes marciais não são imposições externas e dissociadas dos 
praticantes. As regras são a expressão dos valores nos quais acreditam e sem os 
quais a vida perde o sentido. Seguir as regras não significa se submeter à von-
tade ou ao comando de outrem, mas, uma submissão voluntária a princípios 
que são essenciais para o seu desenvolvimento pessoal e para a constituição 
de sua própria identidade. A disciplina é uma opção de vida.
A hierarquia, da mesma maneira, não é uma estrutura formal de subor-
dinação entre os praticantes, e sim, um princípio alicerçado no mérito e na 
valorização da dedicação sincera à cultura das artes marciais, em torno do 
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qual se define as responsabilidades de cada um, e as contribuições para o 
funcionamento da organização como um todo. Essa é uma característica do 
meio militar, que lida com a guerra, a situação mais extrema na qual uma 
pessoa pode se envolver: a luta pela sobrevivência em um combate contra 
outra pessoa. A mesma hierarquia que encontramos na organização social de 
animais que vivem de forma gregária, e que garante a sobrevivência do grupo. 
Uma hierarquia que não garante poder para pessoas, e sim para o grupo como 
um todo, pois, precisa ser renovada para não perder a sua propriedade mais 
relevante, a funcionalidade.
Perseverança
Para se transformar em um praticante de artes marciais a pessoa deve ser 
perseverante diante do desafio contínuo de superaros seus próprios limites. 
Ao treinar, o praticante tanto luta contra outros oponentes, como também, luta 
contra si mesmo, contra suas fraquezas e fragilidades. Reiniciar, diariamente, o 
treinamento e se esforçar para aumentar a resistência ao desgaste físico com a 
realização dos diversos exercícios, aperfeiçoar as suas habilidades motoras na 
realização dos movimentos e técnicas, manter o controle emocional durante o 
enfrentamento do outro, aprender a serenidade diante da vitória e da derrota, 
todas essas experiências, e muitas outras, fazem parte dos princípios culturais 
que caracterizam as artes marciais.
O conceito de perseverança é um dos requisitos chaves de um praticante 
de artes marciais e pode ser ilustrado por meio da descrição do treinamento 
individual para desenvolver a capacidade de “quebrar objetos”, no caso, um 
pedaço de madeira, por exemplo. Temos, portanto, uma situação de confronto 
entre homem e natureza, que substitui o confronto entre homens que é típico 
das lutas.
No início do treino, a natureza é mais forte, e figura como o desafio a 
ser superado. Isso esclarece que a relação de aprendizagem, nas artes mar-
ciais, tem como ponto de partida a diferença de “conhecimento”, por assim 
dizer, entre o mestre, que vai compartilhar suas experiências, e o discípulo, 
que vai aprender com a experiência do outro. Ao longo do processo educa-
tivo, o discípulo iguala-se ou, até mesmo, supera o mestre. Logo, ao final do 
treinamento para “quebrar objetos” escolhido como exemplo, o praticante é 
capaz de quebrar a madeira e torna-se, em tese, mais forte do que a natureza 
representada pelo pedaço de madeira.
O praticante deve iniciar o treino para quebrar o pedaço de madeira 
acostumando-se ao contato físico com o objeto, por meio de um soco. O 
processo consiste em aumentar, aos poucos, a força empregada, mas, com 
o cuidado de não provocar feridas na pele, ponto de contato com a madeira. 
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Esse limite contribui para que os estímulos provoquem mudanças internas 
em um nível adequado, ou seja, ocorrem alterações que fortalecem paulati-
namente o corpo do praticante até que ele seja capaz de quebrar a madeira, 
sem provocar danos ao corpo.
Ao ser capaz de quebrar a madeira pela primeira vez, o praticante deve 
retomar os treinos de forma a demonstrar que é capaz de realizar o mesmo 
prodígio uma segunda vez. Em seguida, deve ser capaz de repetir uma ter-
ceira, quarta, quinta... até a centésima vez. Findo esse processo, o praticante 
consolida a certeza de sua capacidade, ao ter repetido a façanha em diferentes 
momentos e com diferentes pedaços do mesmo tipo e espessura de madeira.
Agora, uma vez alcançado esse novo patamar de habilidades, o treina-
mento deve recomeçar com o acréscimo de algum novo quesito de dificuldade, 
ou seja, uma madeira mais dura ou um aumento da espessura dos pedaços de 
madeira. Ao recomeçar todo o processo, o praticante sabe que não começa da 
mesma maneira, como também, fica claro que esse desafio não tem fim, pois o 
treinamento de quebrar objetos não tem como objetivo alcançar um resultado 
em particular, e sim, envolver o praticante com o processo de treinamento 
contínuo de suas habilidades.
Ao vivenciar o processo de desenvolvimento progressivo de suas habi-
lidades, o praticante de artes marciais adquire uma consciência, cada vez 
mais evidente, do que é capaz de fazer, do que tem condições adequadas de 
aprender, e, das coisas que, atualmente, estão fora do seu alcance.
Diante disso, é possível, por exemplo, que ao longo do envelhecimento, 
quando as condições orgânicas do praticante sofrem uma alteração, que o 
conceito de “aumentar” o nível de dificuldade, signifique diminuir a espessura 
ou o nível de resistência da madeira, pois a diminuição progressiva das capa-
cidades físicas faz com que o praticante retome a condição de inferioridade 
diante da natureza. Repare, o desafio não sofreu modificação, o homem conti-
nua a se confrontar com a natureza, da mesma forma, o treinamento continua 
a ter o mesmo objetivo, conseguir manter-se forte. Em nenhum momento o 
treinamento tinha por objetivo fazer o homem sempre mais forte do que a 
natureza, porque isso é impossível.
A rigor, da mesma forma que o praticante, quando vence o confronto 
contra a natureza, e quebra um objeto qualquer, obtém uma vitória apenas 
figurada, o praticante deve ter clareza de que quando vence o confronto com 
outros homens, obtém uma vitória que também é circunstancial, pois significa 
apenas que ainda não se deparou com alguém capaz de sobrepujá-lo, e não 
que ele é mais forte do que todos os outros homens.
Dessa maneira fica claro que o que estava em jogo não era um confronto 
entre homem e natureza, ou um confronto entre homens, e sim um confronto 
do homem com ele mesmo. Dentro dessa lógica, encontrar alguém capaz de 
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lhe derrotar deve ser considerado um grande privilégio, pois significa encontrar 
alguém que tem algo a ensinar para você.
O conjunto de experiências descrito acima está presente, de forma implí-
cita, na realização das atividades que fazem parte do cotidiano de treinamento 
da maioria das artes marciais, de forma que, paralelo à dedicação do praticante 
para o aperfeiçoamento das habilidades corporais e para a conquista da maes-
tria técnica, ocorre também, o aprimoramento de diversas habilidades psicoló-
gicas e morais, mesmo quando os praticantes não estejam conscientes disso.
Arte marcial: treinamento
A meditação Zen, praticada em uma posição sentada, requer do prati-
cante a manutenção de uma postura corporal correta, além da distribuição 
equilibrada do peso nos apoios do corpo no solo, do relaxamento muscular 
do restante do corpo, e do controle consciente da respiração. O domínio 
dessas técnicas corporais era exercitado durante longos períodos de árdua 
meditação. A perseverança exigida dos monges para que fossem capazes de 
suportar essas experiências corporais desgastantes, que conduzem o homem 
ao conhecimento dos seus limites em tolerar a dor e o sofrimento, são consi-
deradas imprescindíveis para que eles alcancem a elevação espiritual.
Uma parte importante do processo de aperfeiçoamento das habilidades 
nas artes marciais é a assimilação da técnica que preconiza o desenvolvimento 
da capacidade de o praticante “emprestar a força” de outras fontes que não seja 
ele mesmo. Esse princípio está pautado na compreensão de que a força natural 
do homem não é suficiente, seja em termos de intensidade ou de quantidade, 
para vencer todos os desafios, como também, que a coesão e harmonia com 
a natureza dá acesso a uma fonte inesgotável de força e, ao mesmo tempo, 
habilita o praticante a preservar as suas energias e usar a força do seu oponente 
contra o próprio oponente.
O treinamento para adquirir proficiência na técnica de “emprestar a força” 
possui, para os coreanos, seus criadores, um significado em parte místico, 
quando propõe ao homem que viva em contato com a natureza e como um 
animal, com intuito dele se reencontrar com a natureza que existe dentro dele 
mesmo, e, em outra parte, um significado mental, desde que esse conceito seja 
compreendido como o aprendizado da atitude que deve dirigir o comporta-
mento do praticante diante dos desafios que terá que enfrentar.
O treinamento de “emprestar a força” se divide em 3 aspectos: (1) o 
espiritual, (2) o médico e (3) o físico, unidos pelo mesmo princípio chave, 
esgotar as energias do praticante para que ele aprenda a se conectar e a usar 
outras fontes de energia.
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O desenvolvimento do aspecto espiritual requer do praticante um retiro 
para a floresta e para as montanhas. Em contato direto com a natureza o pra-
ticante deve fazerlongos exercícios de meditação e de controle da respiração 
em situações que viabilizem o seu contato com a água (lago, rio e cachoeira), 
com a terra (montanha) e com o ar (árvore). Os exercícios devem ser reali-
zados nas 3 partes do dia (manhã, tarde e noite). Para conhecer o seu corpo 
e aperfeiçoar a acuidade dos seus sentidos, o praticante deve praticar jejuns, 
seja de alimentos ou de sono. O conjunto dessas experiências contribui para 
o aprimoramento da visão, da audição e do olfato.
Para compensar o grande desgaste corporal desse tipo intensivo de trei-
namento, os praticantes costumavam utilizar chás ou ervas que tinham com-
ponentes dietéticos importantes para o fortalecimento do sistema imunológico 
e para a recomposição das condições do organismo. Essas substâncias con-
tribuíam para ampliar a resistência em relação às bactérias e outras doenças, 
como também, para o funcionamento geral dos órgãos.
O treinamento físico, em contato com a natureza, visava desenvolver 
força, flexibilidade, agilidade e resistência por meio da prática de atividades 
funcionais, tais como: rolar troncos de árvores, correr pelas trilhas íngremes 
das montanhas, carregar objetos pesados, dependurar-se nas árvores, nadar 
nos rios, pular sobre obstáculos e tantas outras atividades com os recursos 
naturais e obstáculos presentes na floresta.
Difusão versus identidade
Em diversos momentos se observa um conflito entre, de um lado, o inte-
resse em difundir e tornar a prática das artes marciais não só conhecidas, mas 
também, incorporadas como parte da vida de pessoas em diversos lugares do 
mundo, e, de outro lado, a preocupação em preservar o sentido original e a 
identidade cultural das artes marciais como a expressão autêntica dos valores, 
tanto do Oriente como do país em que foram criadas ou aperfeiçoadas.
As dificuldades para a formação de um mestre nas artes marciais, pro-
cesso que requer pelo menos 10 anos de treinos sistemáticos, combinada com 
as dificuldades de relacionamento entre os mestres, torna quase impossível 
uma conciliação entre a difusão e ampliação do número de praticantes do 
karate e a preservação de sua identidade. Existe a crença de que, nos ambientes 
tradicionais da arte marcial, a hierarquia e a gratidão são capazes de manter a 
fidelidade de um mestre-discípulo em relação ao seu mestre-instrutor. Porém, 
no caso de mestres contemporâneos, que se formam lado a lado, portanto, 
onde as relações de subordinação são relativizadas e, às vezes, até mesmo sem 
contato um com o outro, é comum a existência de conflitos e, até mesmo, o 
questionamento do legado dos mestres tradicionais.
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Se os mestres, que podem ser apontados como guardiões do rigor técnico 
e da cultura que envolve o karate, precisam enfrentar todas essas questões 
quando se dedicam a uma proposta de difusão das artes marciais na comuni-
dade em que estão inseridos, é de se supor a magnitude das questões a serem 
enfrentadas para uma difusão global do karate, realizada por pessoas diversas 
que se autocredenciem para essa importante missão.
Sendo assim, encontramos diversos relatos históricos que simbolizam 
esse, que é comum a outros segmentos sociais, insuperável dilema contem-
porâneo: de um lado, o forte desejo de difundir mundialmente o karate, e, de 
outro lado, o zelo para preservar as qualidades técnicas do karate e garantir 
a sua identidade como arte marcial.
Karate: características
De acordo com Oyama (1973), o acesso à prática do Karate é facilitado 
em função de: (a) não requerer o uso de equipamentos especiais; (b) poder 
ser praticado em pequenos espaços ou ao ar livre; (c) poder ser distribuído 
em curtos períodos de treinamento ao longo do dia; (d) manter alta motivação 
dos praticantes para uma prática regular e sistemática; (e) envolver a prática 
de exercícios que estimulam todas as partes do corpo e aperfeiçoam diversas 
funções do organismo, tais como: força, flexibilidade, equilíbrio, coordena-
ção motora.
Dentre as características do estilo Kyokushin, destaca-se o princípio de 
que o desenvolvimento das habilidades técnicas do lutador deve ser realizado 
o mais próximo possível de uma situação real de combate, o que lhe confere 
a denominação de full-contact. Esse termo é utilizado para diferenciar um 
estilo em que o objetivo principal do confronto é o nocaute (knockdown), logo, 
nas competições, os lutadores têm menos restrições para o uso dos golpes, e 
não utilizam equipamentos de proteção, como luvas, capacete ou protetores 
para o corpo.
Muitos expectadores, ao assistirem uma competição do estilo Kyokushin, 
ficam impressionados com o vigor e com a quantidade de golpes desferidos 
durante o combate. Como isso não é usual nos esportes de luta, é comum 
ouvir comentários de pessoas que o consideram como um estilo violento. É 
preciso considerar, no entanto, que o esporte é uma das maneiras de expressão 
do Kyokushin nos momentos de paz, mas, que o Kyokushin é, e não pretende 
se afastar de sua origem, uma arte marcial.
Ciente dos desafios que o lutador deve enfrentar, uma parte importante 
dos treinos do Kyokushin está relacionada com o desenvolvimento da capa-
cidade do lutador para absorver o impacto dos golpes, como também, dele 
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aprender a perder o medo de levar golpes, o que faz com que considerarem 
a troca de golpes como uma ação normal.
A luta (kumite) deve seguir regras que preservem a integridade física dos 
lutadores, mas, as regras não devem ser tão restritivas a ponto de prolongar 
desnecessariamente o combate. Em uma situação real de confronto, o mais 
adequado é deixar o adversário fora de ação o mais rápido possível e com a 
menor quantidade de golpes.
Segundo as explicações contidas nas revistas publicadas durante os tor-
neios de Kyokushin, a impressão de que o estilo é violento decorre do fato 
de que, quando se realiza o combate entre lutadores com diferenças no perfil 
corporal, para que um lutador pequeno tenha condições de vencer um grande, 
é preciso que ele seja capaz de desferir golpes potentes e precisos. Essa situa-
ção nos reporta às fotos que mostram imagens do Grande Mestre Oyama 
aplicando, com as mãos, o golpe mortal na cabeça de um touro.
Em alguns exemplares das revistas distribuídas nos campeonatos, encon-
tramos textos destinados a explicar para o público leigo, de uma maneira 
geral e com poucas palavras, a essência da filosofia que inspira e fundamenta 
o karate Kyokushin:
o lutador deve se dedicar ao treinamento com disciplina, para obter o 
controle do próprio corpo e da mente, no intuito de conduzir sua vida em 
direção ao pleno desenvolvimento de suas qualidades físicas, mentais e 
espirituais. O treinamento, para um lutador de karate, não é um caminho 
florido. Treinar requer a dedicação a uma rotina repetitiva que transforma 
os seus movimentos em algo habitual. Suportar essa rotina é um dos 
desafios mais importantes. É por meio dela que o lutador vai adquirir a 
confiança em si, que é a base para o autocontrole. Quando o lutador estiver 
consciente da força do seu corpo, com a mente confiante no que é capaz de 
realizar, e sob o total domínio do seu espírito, então ele consegue alcançar 
a perfeita serenidade.
Outros aspectos chaves que distinguem atributos próprios ao estilo 
Kyokushin são: (a) a perfeição das técnicas de ataque e defesa, (b) a educa-
ção para o emprego adequado e preciso da força, (c) o método vigoroso de 
treinamento da aptidão corporal, e (d) a imposição austera de uma disciplina 
de respeito ao código de honra e aos ideais do bushido.
Karate Kyokushin: o legado de Masutatsu Oyama
Oyama, após a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, passou por 
um período de depressão. Para superar essa fase difícil, contou com o apoio 
de Nei Chu, coreano que residia no Japão e erauma das maiores autoridades 
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do estilo Goju Ryu. Foi ele quem encorajou Oyama a dedicar a sua vida à 
arte marcial, como também, que realizasse um retiro voluntário de 3 anos 
para a floresta, de maneira a ficar longe do resto do mundo para treinar a sua 
mente e o seu corpo.
Em 1946, Oyama iniciou o primeiro retiro para a montanha, inspirado na 
história do mais famoso Samurai do Japão, “Musashi”, criador do estilo Nito 
Ryu, como parte do aprendizado do código do Bushido. No entanto, algumas 
dificuldades geradas pela suspensão do patrocínio que apoiava a realização 
dos treinos gerou a interrupção do retiro no décimo quarto mês, ao invés dos 
trinta e seis meses inicialmente previstos.
Insatisfeito por não ter cumprido o período de 3 anos de solidão, Masu-
tatsu Oyama, em 1948, impõe-se novamente um voluntário exílio de 18 meses, 
no monte Kiyozumi, distrito de Chiba. A rotina de treinos físicos e de estudo 
envolvia cerca de 12 horas diárias, com pelo menos 7 horas de Karate, aper-
feiçoando suas técnicas e culminando na criação, em 1961, do estilo que veio 
a ser conhecido como Kyokushinkai.
À medida em que Oyama tomava consciência de suas prodigiosas 
faculdades, um projeto começava a germinar em seu espírito: o de reali-
zar uma façanha fora do comum, que provasse a superioridade do Karate 
sobre todas as outras formas de combate com as mãos livres, sem o uso de 
armas. Decide, então, demonstrar a potência dos golpes ao abater touros 
com um golpe na cabeça. Nos EUA, como parte das demonstrações do estilo 
Kyokushinkai, Oyama enfrentou 52 touros, partindo o chifre de 49 e matando 
os 3 outros. Outro aspecto que impressionava o público eram as demonstra-
ções de quebramento.
Veja o relato de Oyama sobre uma situação em que o desafio exigiu o 
emprego de toda a sua habilidade:
O Wrestling Hall de Chicago era um imenso Ginásio que podia receber 
mais de 15.000 pessoas. Naquela noite estava lotado. Great Togo me 
apresentou ao público. Ele falava inglês e não entendi uma palavra do que 
disse. Eu devia fazer uma demonstração de meus talentos no Karate, antes 
da luta-combate que deveria se constituir no acontecimento principal da 
noite. Eu havia previsto quebrar de início uma única tábua de madeira de 
uma polegada de espessura, depois duas, três... até quebrar cinco tábuas 
empilhadas umas sobre as outras. Mas quando me apresentaram as tábuas 
surpreendi-me com o tamanho delas: tratava-se na verdade de duas tábuas 
de madeira de 5 polegadas de espessura cada! Compreendi que a bar-
reira da linguagem poderia custar caro. Felizmente, fui bem-sucedido 
no desafio. Na verdade, desgostava-me aceitar dinheiro pra fazer uma 
demonstração de Budo, mas, era preciso para viver.
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Depois da estadia em Okinawa e nas ilhas do Havaí, Oyama decide 
reviver, no karate kyokushin, uma prova antiga, praticada desde muito tempo 
nas escolas de kendo e de judô: a prova dos 100 combates. Existe uma his-
tória célebre, que mistura realidade com lenda, na qual Oyama, na época de 
seus melhores dias, teria enfrentado a prova dos 100 combates durante 3 dias 
seguidos, ou seja, enfrentou 100 combates por dia, durante 3 dias consecutivos. 
Nessa ocasião, seu dojo já era famoso no Japão pelo valor de seus lutadores. 
Oyama, mesmo tendo vencido todas as lutas, terminou seriamente ferido.
Oyama teve um certo número de praticantes que, por razões diversas, 
separaram-se da corrente Kyokushin para fundar suas próprias organizações. 
Ao se referir a esses dissidentes, Oyama dizia:
É fútil perseguir alguém que já fugiu; aqueles que decidem sair da família 
Kyokushin, geralmente, perdem todos os seus amigos. Na verdade, tenho 
enfrentado situações diferentes com reações diferentes, estou consciente de 
que o mais importante para um homem é fixar uma meta e viver para alcan-
çá-la. Minha missão é tornar o Karate Kyokushin célebre no mundo todo.
Ao se defender das críticas ao Kyokushin em função da proposta de um 
estilo “full-contact”, Oyama disse:
As vitórias que conquistei com o estilo Kyokushin foram um fator deter-
minante para a propagação do renome do Karate em outros países. Um 
lutador não é capaz de conhecer a verdadeira natureza das artes marciais 
se não passar pela experiência do combate real. Tenho sido denegrido 
por pretensos praticantes de Karate que se dizem pacifistas, mas, não 
conhecem nada do combate real. Como devemos julgar instrutores que 
ensinam uma espécie de “dança” de karate? Instrutores que transmitem 
aos seus alunos técnicas, mas, que não conhecem o espírito do combate, 
pois, eles próprios, nunca combateram? A essência do Karate, como arte 
marcial, reside no combate.
Visita de Masutatsu Oyama ao Brasil em 1985
Masutatsu Oyama esteve no Brasil mais de uma vez. A sua última 
visita ocorreu em 1985, por ocasião do 3o Campeonato Sul-Americano de 
Kyokushin. A comitiva do Grão Mestre Masutatsu Oyama foi recebida no 
Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, por cerca de 12.000 pessoas. Na oca-
sião, os organizadores conseguiram formar uma fila com 2.200 praticantes, 
todos vestidos com uniforme de Karate. Lado a lado, a fila iniciou na Rua 
Augusta, no hotel onde o Grão Mestre estava hospedado, seguindo pela Av. 
Paulista até a Av. Brigadeiro Luiz Antônio e, depois, até a entrada do Ginásio 
KARATE KYOKUSHIN NO BRASIL 39
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do Ibirapuera, por cerca de 4km de extensão. O fato foi inédito e considerado 
inesquecível para o Mestre Oyama.
O mestre Masutatsu Oyama, em muitos dos seus pronunciamentos, fez 
questão de preservar as origens marciais do Karate e de ser fiel à filosofia do 
Budo, de forma que o Kyokushin preconiza uma disciplina rígida, capaz de 
tornar o praticante exigente consigo mesmo.
As pessoas que conviveram com Masutatsu Oyama relatam que a intera-
ção do mestre com pessoas não praticantes de karate era marcada pelo carinho 
e pela atenção. No caso dos adeptos do Kyokushin, no entanto, o mestre era 
rigoroso e costumava exigir responsabilidade, dedicação, respeito e educa-
ção. Ensinava que os mais fortes e mais antigos deveriam sempre apoiar os 
mais fracos e os iniciantes, para que pudessem também aprender a ser fortes 
e experientes.
O Kyokushin Brasil
Os apontamentos iniciais desse capítulo pretendem fornecer elemen-
tos de análise que possibilitem a elaboração de uma interpretação histórica 
da inserção do karate kyokushin no Brasil. Para adentrar nas características 
especificas da modalidade no país, a partir do trabalho de pioneiros, e seus 
discípulos, que seguem a corrente de tradição original, foi estabelecido contato 
com a comunidade de prática e consultado material bibliográfico produzido 
pelos membros da Confederação Brasileira de Karate Kyokushin Oyama.
O Karate Kyokushin é um dos estilos de arte marcial mais difundidos 
em grande parte do mundo em função da vitalidade e da assertividade de seus 
métodos de ensino, treinamento e competição. O processo de consolidação do 
Karate Kyokushin Oyama no Brasil inicia em 1972, ou seja, acerca de meio 
século, a partir da vinda para São Paulo, do instrutor Seiji Isobe, um jovem 
engenheiro agrônomo, formado pela Universidade de Fukui no Japão. Shihan 
Isobe se manteve fiel aos ideais do Kyokushinkai e à liderança do Mestre 
Oyama e com o apoio de amigos brasileiros, estabeleceu uma academia em 
Santo André/SP, que se transformou em um marco histórico para a difusão e 
o fortalecimento do Kyokushin no Brasil. Shihan Isobe é reconhecido como 
um dos melhores técnicos do estilo Kyokushinkai do mundo.
Existem apontamentos que registram iniciativas anteriores para introduzir 
o Kyokushin no Brasil que, por diversos motivos, não prosperaram. Duas ten-
tativas ainda permanecem na memória dospraticantes mais antigos. Em 1967, 
foi enviado para o Brasil o instrutor Shoitiro Ogura a fim de auxiliar o repre-
sentante brasileiro na divulgação das técnicas do Kyokushin, porém, não se 
acostumou longe de sua terra natal e retornou para o Japão meses depois.
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Outra tentativa faz menção a Tsunioshi Tanaka, antigo praticante do estilo 
Shotokan, que conheceu e estudou as técnicas do mestre Oyama por meio dos 
livros. Ao ter conhecimento do grande interesse e da admiração de Tanaka 
pelo Kyokushinkai, o mestre Oyama convidou-o para fazer um estágio prático 
na matriz em Tóquio, o que lhe conferiu autorização para ser o representante 
brasileiro do estilo Kyokushinkai. Porém, um ano depois, por motivos par-
ticulares e divergências em relação as regras impostas pela matriz, Tanaka 
desvincula-se do estilo de Oyama e estabelece a sua própria organização.
Shihan Isobe, por sua vez, a despeito das dificuldades, demonstrou perse-
verança no cumprimento da missão, aprendendo a conviver com a cultura bra-
sileira, como também, manteve disciplina e respeito às orientações advindas 
do Mestre Masutatsu Oyama, o que consolidou a sua distinção como pioneiro. 
Em 1977, 5 anos após sua chegada no Brasil, uma de suas irmãs veio para 
levá-lo de volta ao Japão, após o encerramento da tarefa inicial que lhe foi 
conferida, mas, obteve como resposta: “Eu já sou brasileiro e não quero mais 
voltar”. Assim, na experiência brasileira, o relato da implantação e difusão 
do Karate Kyokushin Oyama se confunde com a história de vida do mestre 
imigrante japonês Seiji Isobe. Com isso, a história narrada neste livro aponta 
para a trajetória de Isobe e seu legado. Primeiro, por ter trabalhado sempre 
com referência a matriz do Kyokushin. Segundo, pelo sucesso que alcançou 
na difusão e excelência da prática no Brasil, o que encontra incontestável 
respeito, mesmo daqueles que apresentaram as outras histórias possíveis da 
origem da modalidade no Brasil.
Encerramos, portanto, nossa trajetória histórica sobre a implantação do 
Karate Kyokushin no Brasil. Temos ciência de que esta narrativa é uma das 
possíveis histórias a serem contadas sobre o Kyokushin, pois, estamos restritos 
às fontes que estavam acessíveis. Esta versão, no entanto, se reúne a outras 
que venham a ser ou que já estejam escritas para descrever a riqueza da cultura 
existente em torno do Karate Kyokushin. A seguir, serão apresentados textos 
adicionais, selecionados para ilustrar os aspectos chaves do Kyokushin, na 
perspectiva dos seus próprios praticantes e precursores.
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REFERÊNCIAS
OYAMA, Mas. Mas Oyama’s Classic Karate. New York: Sterling 
Publishing, 2004.
OYAMA, Mas. Mas Oyama’s Essential Karate. New York: Sterling 
Publishing, 1971.
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ANEXOS
1.1 O Karate Kyokushin Oyama: a organização esportiva
1.2 Produção técnico-informativa sobre o Kyokushin: o acervo da CBKKO
1.3 Entrevista com o Shihan Isobe
1.4 Entrevista com o Shihan Francisco Filho
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1.1 O Karate Kyokushin Oyama: a organização esportiva
A estrutura organizacional do esporte no Brasil segue o modelo federativo 
que marcou a criação do esporte na Inglaterra e é amplamente utilizada em todo 
mundo. A arte marcial, em momentos de paz, aproxima-se do esporte, conside-
rando que: (a) tem por objetivo desenvolver a maestria no domínio das habili-
dades corporais, (b) as competições são realizadas com respeito incondicional 
ao fair play, e (c) os treinos beneficiam os lutadores com uma saúde vigorosa.
No caso do Karate, existem oito grandes estilos:
1. Shotokan; 2. Wado Ryu; 3. Kenyu Ryu; 4. Shorin Ryu; 5. Shito Ryo; 
6. Goju Ryu; 7.Uechi Ryu e
8. Kyokushin kaikan
Sendo assim, a organização do Karate Kyokushin Kaikan, no Brasil, ini-
cia pela reunião das academias adeptas ao estilo que estão ligadas ao Mestre 
Masutatsu Oyama em torno de uma federação estadual, e, consequentemente, 
pela reunião das federações estaduais na criação da Confederação Brasileira 
de Karate Kyokushin Oyama.
De acordo com os registros consultados, apresentamos a cronologia de 
criação das entidades esportivas representativas do Karate Kyokushin Oyama 
no Brasil:
• 1976 – Criação da primeira Associação Kyokushin de Artes Marciais, 
em São Paulo, vinculada à Federação Paulista de Artes Marciais. Nos 
registros, existe uma confusão de datas e de vinculações, ora apare-
cem registros que indicam a vinculação com a Federação Paulista 
de Pugilismo, ora com a Federação Paulista de Karate;
• 1986 – Criação da Federação Paulista de Luta de Contato Kyokushin 
Oyama (vinculada à Confederação Brasileira de Pugilismo);
• 1986 – Criação da Federação Amazonense de Luta de Contato;
• 1988 – Criação da Federação Gaúcha de Luta de Contato;
• 1990 – Criação da Associação Brasileira de Luta de Contato 
Kyokushin Oyama.
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Participação de delegações brasileiras nos Campeonatos 
Mundiais de Kyokushin
O Campeonato Mundial de Karate Kyokushin Oyama é um evento que 
reúne os melhores lutadores do estilo no mundo, sendo assim, a exemplo 
dos principais eventos esportivos internacionais em outras modalidades, os 
resultados obtidos no evento pelos lutadores de um determinado país, podem 
ser considerados como indicadores seguros do estágio de desenvolvimento 
técnico que o Karate Kyokushin conseguiu alcançar nesse país.
A formação de um campeão ou de lutadores reconhecidos como exce-
lentes, requer uma conjugação de esforços e de condições apropriadas que 
nunca ocorrem de maneira ocasional, mesmo quando isso ocorre eventual-
mente. No caso do Brasil, a cronologia apresentada a seguir demonstra que 
o Karate Kyokushin se destaca pela qualidade técnica dos mestres pioneiros, 
que conseguiram desenvolver um nível de excelência dos seus discípulos, de 
forma a obter resultados de destaque, de forma sistemática.
Shihan Isobe entre os brasileiros Campeões Mundiais de Karate 
Kyokushin: Francisco Filho (esquerda) e Ewerton Teixeira (direita)
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Resultados dos Campeonatos Mundiais
12º Mundial – Tóquio/JAPÃO – 23, 24 e 25/11/2019 8º Mundial – Tóquio/JAPÃO – 1, 2 e 3/11/2003
Campeão Mikio Ueda Japão Campeão Hitoshi Kiyama Japão
2º Lugar Aleksandr Eremenko Rússia 2º Lugar Sergey Plekhanov Rússia
3º Lugar Andrei Luzin Rússia 3º Lugar EWERTON TEIXEIRA BRASIL
4º Lugar Yuta Takahashi Japão 4º Lugar GLAUBE FEITOSA BRASIL
5º Lugar Konstantin Kovalenko Rússia 5º Lugar Lechi Kurbanov Rússia
6º Lugar Ryunosuke Hoshi Japão 6º Lugar Yasuhiro Kimura Japão
7º Lugar Igor Zagainov Rússia 7º Lugar Sergey Osipov Rússia
8º Lugar Shouki Arata Japão 8º Lugar Hiroyuki Kidachi Japão
T. REVELAÇÃO ÍCARO NASCIMENTO BRASIL
11º Mundial – Tóquio/JAPÃO – 20, 21 e 22/11/2015 7º Mundial – Tóquio/JAPÃO – 5, 6 e 7/11/1999
Campeão Zahari Damyanov Bulgária Campeão FRANCISCO FILHO BRASIL
2º Lugar Djema Belkhodja França 2º Lugar Hajime Kazumi Japão
3º Lugar Darmen Sadvokasov Rússia 3º Lugar Alexsander Pichkunov Rússia
4º Lugar Kirill Kochnev Rússia 4º Lugar GLAUBE FEITOSA BRASIL
5º Lugar Ashot Zarinyan Rússia 5º Lugar Nicholas Pettas Dinamarca
6º Lugar Mikio Ueda Japão 6º Lugar Yasuhiro Kimura Japão
7º Lugar Ivan Mezentsev Rússia 7º Lugar Ryuta Noji Japão
8º Lugar Shouki Arata Japão 8º Lugar Ryu Narushima Japão
10º Mundial – Tóquio/JAPÃO – 4, 5 e 6/11/2011 6º Mundial – Tóquio/JAPÃO – 3, 4 e 5/11/1995
Campeão Tariel Nikoleishvili Rússia Campeão Kenji Yamaki Japão
2º LugarEWERTON TEIXEIRA BRASIL 2º Lugar Hajime Kazumi Japão
3º Lugar Goderzi Kapanadze Rússia 3º Lugar FRANCISCO FILHO BRASIL4
4º Lugar Makoto Akaishi Japão 4º Lugar Garry O’Neill Austrália
5º Lugar Zahari Damyanov Bulgária 5º Lugar Nicholas Pettas Dinamarca
6º Lugar Nikolai Davydov Rússia 6º Lugar Hiroki Kurosawa Japão
7º Lugar Oleksandr Ieromenko Ucrânia 7º Lugar LUCIANO BASILE BRASIL
8º Lugar Ilya Karpenko Rússia 8º Lugar GLAUBE FEITOSA BRASIL
9º Mundial – Tóquio/JAPÃO – 16, 17 e 18/11/2007 5º Mundial – Tóquio/JAPÃO – 2, 3 e 4/11/1991
Campeão EWERTON TEIXEIRA BRASIL Campeão Kenji Midori Japão
2º Lugar Jan Soukup Rep. Tcheca 2º Lugar Akira Masuda Japão
3º Lugar Artur Hovhannisian Armênia 3º Lugar Hiroki Kurosawa Japão
4º Lugar Darmen Sadvokasov Rússia 4º Lugar Jean Riviere Canadá
5º Lugar Andrey Stepin Rússia 5º Lugar Kenji Yamaki Japão
6º Lugar Alejandro Navarro Espanha 6º Lugar Yutaka Ishii Japão
7º Lugar EDUARDO TANAKA BRASIL 7º Lugar Yasuhiro Schichinohe Japão
8º Lugar Tatsuya Murata Japão 8º Lugar Johnny Kleyn Holanda
Troféu Shinjin-shô Francisco Filho Brasil
4 Incidente que retirou Francisco Filho, nas oitavas de final, da disputa do 1º lugar: a luta contra Kenji Yamaki 
terminou empatada. De acordo com as regras, em caso de empate, o atleta com menor peso é proclamado 
vencedor; como Francisco Filho era 11kgs mais leve que o adversário, deveria ser indicado como vencedor, 
porém, a luta teve que continuar, com 3 prorrogações não previstas no regulamento; como o empate pre-
valecia, Francisco Filho foi declarado perdedor por decisão da organização.
continua...
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4º Mundial – Tóquio/JAPÃO – 6, 7 e 8/11/1987 2º Mundial – Tóquio/JAPÃO – 23, 24 e 25/11/1979
Campeão Shokei Matsui Japão Campeão Makoto Nakamura Japão
2º Lugar Andy Hug Suíça 2º Lugar Keiji Sanpei Japão
3º Lugar Akira Masuda Japão 3º Lugar Willie Willians Estados Unidos
4º Lugar Michael Thompson Inglaterra 4º Lugar Takashi Azuma Japão
5º Lugar ADEMIR DA COSTA BRASIL 5º Lugar Howard Collins Inglaterra
6º Lugar Hiroki Kurosawa Japão 6º Lugar Bernard Creton Inglaterra
7º Lugar Yasuhiro Schichinohe Japão 7º Lugar Ceno Maxer Liechtenstein
8º Lugar Nicholas da Costa Inglaterra 8º Lugar Koichi Kawabata Japão
Troféu Kanto-shô Jemusu Kitamura Brasil
3º Mundial – Tóquio/JAPÃO – 20, 21 e 22/01/1984 1º Mundial – Tóquio/JAPÃO – 1, 2 e 3/11/1975
Campeão Makoto Nakamura Japão Campeão Katsuaki Sato Japão
2º Lugar Keiji Sanpei Japão 2º Lugar Hatsuo Royama Japão
3º Lugar Shokei Matsui Japão 3º Lugar Joko Nimoniya Japão
4º Lugar ADEMIR DA COSTA BRASIL 4º Lugar Daigo Oishi Japão
5º Lugar Yasuto Onishi Japão 5º Lugar Toshikazu Sato Japão
6º Lugar Nicholas da Costa Inglaterra 6º Lugar Takashi Azuma Japão
7º Lugar Keizo Tahara Japão 7º Lugar Charles Martin Estados Unidos
8º Lugar Dave Greaves Inglaterra 8º Lugar Frank Clark Estados Unidos
Troféu Kanto-shô Jemusu Kitamura Brasil
Termos e Princípios do Kyokushin Brasil
A comunidade do Kyokushin no Brasil reúne os adeptos do estilo em 
torno de eventos regulares de congraçamento que celebram, dentre diversos 
outros aspectos:
1. a cultura japonesa e os valores que estão no cerne do Karate como 
arte marcial; não é possível entender o Karate dissociado de sua 
inserção sociocultural e desvinculado dos valores que inspiram o 
modo de vida e o código de ética dos japoneses;
2. a arte marcial e os métodos de treinamento utilizados para aprimo-
rar o desenvolvimento técnico-tático dos lutadores; as competições 
revelam o estágio de domínio dos fundamentos do Kyokushin e 
criam a oportunidade singular para um aprendizado inusitado, que 
resulta do confronto com a perícia de cada lutador; existem apren-
dizados que somente serão verdadeiramente assimilados quando 
o lutador precisa enfrentar um adversário que tem habilidades 
ímpares, que exigem dele o emprego de toda sua virtuosidade, 
mesmo que esse lutador ainda não seja um mestre;
continuação
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3. a dedicação e admiração ao esporte, que cria laços de cumpli-
cidade e amizade entre pessoas que encontraram, na prática do 
Kyokushin, significados que correspondem aos seus anseios pes-
soais e lhes conferem uma imagem social; progressivamente, ao 
longo dos anos de compartilhamento de experiências, essa imagem 
social se confunde com a identidade de cada praticante, tornando-
-se um aspectos distintivo de sua personalidade, a ponto de fazer 
parte da maneira como a pessoa se descreve: “meu nome é [...], 
sou praticante de karate, do estilo Kyokushin, há [...] anos, [...]”.
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1.2 Produção técnico-informativa sobre o Kyokushin: o acervo 
da CBKKO
Por ocasião da realização desses eventos, é comum a elaboração de uma 
revista com a programação completa das atividades a serem realizadas, desde 
a cerimônia de abertura, com a participação de autoridades, até a premiação 
final dos lutadores que se destacaram. Essas revistas, além de fornecerem 
informações chaves para os lutadores e seus mestres, sobre: regras, juízes, 
horários, adversários, dentre outras orientações importantes para os partici-
pantes, também incluem informações gerais sobre o Kyokushin para o público 
expectador, de maneira a aproveitar ao máximo essa oportunidade para difun-
dir e estimular a prática do estilo por um número maior de pessoas, como 
também, para ampliar a quantidade de pessoas que conhece e admira o esporte.
Após a leitura do acervo disponível na Confederação Brasileira de Karate 
Kyokushin Oyama, alguns trechos foram extraídos, seja por estarem presentes 
em vários exemplares, seja pela relevância do seu conteúdo. O restante do 
capítulo é uma transcrição destes textos.
Juramento da academia – Dojo-Kun
1. Treinaremos firmemente nosso coração e nosso corpo para ter-
mos um espírito inabalável.
2. Alimentaremos o verdadeiro significado da arte marcial do 
Karate para que, no devido tempo, os nossos sentidos possam 
atuar melhor.
3. Com verdadeiro vigor procuraremos cultivar o espírito 
de abnegação.
4. Observaremos as regras de cortesia, respeito aos nossos supe-
riores e de abstermo-nos da violência.
5. Seguiremos nosso Deus e eternas verdades, jamais esqueceremos 
a verdadeira virtude da humildade.
6. Olharemos para o alto, para a sabedoria e para o poder, não 
procurando outros desejos.
7. Toda nossa vida através da disciplina do Karate Kyokushin, pro-
curaremos preencher o verdadeiro significado da filosofia da vida.
Como criar um campeão mundial? – Shihan Isobe
Quando surge um aluno talentoso procuro mostrar para ele o cami-
nho a ser percorrido para se tornar um grande atleta, o que exige uma 
combinação de rigor nos treinos com reconhecimento pelos seus progressos. 
Aos 16 anos, Francisco Filho, na disputa da final do campeonato paulista 
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na categoria juvenil, como peso pesado, teve que enfrentar 8 prorrogações 
duras até obter o título de campeão. Nessa oportunidade, ao ver a sua 
obstinação, articulada com as suas qualidades físicas destacadas, acreditei 
no seu potencial para se tornar um campeão mundial.
Qualquer pessoa imagina que o trabalho a ser realizado para tor-
nar-se um campeão mundial é uma meta difícil e reservada para aqueles 
que tem um talento especial. Então, o primeiro passo foi fazê-lo acreditar 
que reunia condições para ser campeão. Porém, como a autoconfiança é 
fundamental, mas, não era suficiente, resolvi inventar um treinamento 
especial e secreto, exclusivo para ele, que lhe daria uma vantagem sobre 
os demais: o treino, realizado uma vez por semana, era baseado no uso de 
elásticos que aumentavam a sobrecarga na execução dos golpes.
Chegar ao título de campeão exigemuita disciplina, o treinamento é 
árduo e rígido, envolve preparação técnica, física, mental e espiritual, que 
aperfeiçoem ao máximo as características naturais do atleta. O treinamento 
diário não deve ser igual, como uma rotina, as técnicas devem ser variadas, 
procurando sempre evoluir ao nível ótimo. Conquistar um campeonato 
mundial requer, além do talento do atleta para utilizar uma técnica apurada 
no momento correto durante o combate, características físicas destacadas, 
como a altura e peso. A aptidão física deve estar no auge, logo, a idade é 
de suma importância.
A preparação para participar em outros campeonatos, realizados em 
cada país, exige, aproximadamente, 2 a 4 anos de treinamentos diários e 
exigentes, mas, a preparação para ser o campeão mundial, exige de 8 a 12 
anos de dedicação. Para formar um grande atleta, o treinamento dever ser 
elaborado de forma individual e personalizada; cada pessoa tem caracte-
rísticas diferenciadas, tais como: estrutura física, personalidade, caráter e 
temperamento, forma de pensamento e maneira de agir, se gosta de treinar 
e se está disposto a dedicar-se totalmente ao que se propõe; todo professor 
ou treinador deve analisar estes detalhes. Quando, treinador e atleta, não 
identificam todas essas características, dificilmente, conseguirão atingir o 
objetivo de ser campeão, além de perderem anos de treinamento.
O treinador também deve estar informado sobre os campeonatos, 
como estão os níveis dos atletas de outras regiões ou países, deve ter uma 
visão global da situação. A preparação do atleta para chegar ao título de 
campeão não tem segredo, basicamente é o treino do “kihon”, do “idou-
gueiko” e do “kata”, a este treinamento agrega-se uma variedade de técnicas 
e de simulações que praticamos dia a dia. Com dedicação pura e exclusiva, 
tanto o treinador como o atleta devem procurar saber qual a melhor forma 
de aplicação destas técnicas. Descobrir e aplicar novas técnicas depende do 
talento, habilidade e capacidade, que estão ocultos em cada um, utilizando 
esses recursos é possível despertá-las para se chegar a uma vitória.
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Em todos os campeonatos que participamos, os treinamentos foram 
baseados nas características de cada atleta, com objetivo de surpreender os 
competidores. No 6º Campeonato Mundial, quando Francisco Fiho ficou 
em 3º lugar, esbarramos na imaturidade, perdendo em razão dele ter lutado 
confiando em demasia na sua força corporal. Para conseguir o título de 
campeão no 7º Campeonato Mundial, Francisco Filho utilizou a tática de 
um treinamento que alia força com potência. No 8º Campeonato Mundial, 
Ewerton Teixeira e Glaube Feitosa fizeram um treinamento com base na 
velocidade dos golpes, denominado de “corte afiado”, o que resultou na 
obtenção do 3º e 4º lugares, respectivamente. No 9º Campeonato Mundial, 
a conquista do título de campeão pelo atleta Ewerton Teixeira foi baseada 
na resistência física sem limites, infinita. Como vocês podem ver, três for-
mas diferentes de treinamento, que estão relacionadas a táticas diferentes, 
articuladas com técnicas específicas, resultaram nestas grandes conquistas.
Os professores precisam treinar rigorosamente e de forma correta 
todos os dias, a fim de apresentar um bom exemplo para os seus atletas. 
Com essa atitude eles inspiram seus alunos, que percebem a verdade no 
que buscam, e passam a desejar e a fazer o mesmo, dedicando-se para 
aprender desde o mais simples movimento, a fim de corresponder a expec-
tativa colocada sobre eles. A iluminação vem com o esforço, decorrente de 
sua persistência e dedicação. Quem sabe, dessa maneira, não seja possível 
termos outros brasileiros habilitados para chegar ao título de campeão 
mundial. Nos próximos campeonatos mundiais fica aqui o meu desejo e 
esperança de que os campeões sejam todos brasileiros.
A importância do Kiai
O kiai costuma, erroneamente, ser interpretado como um poder mís-
tico adquirido por algumas pessoas envolvidas com forças inexplicáveis. Na 
verdade, o kiai é o uso consciente e deliberado de uma técnica que todos 
nós usamos de forma inconsciente. Por exemplo, quando você tem que 
levantar algo muito pesado, é preciso contrair o abdômen e, se tiver que 
fazer muita força, vai emitir um grunhido: isso é uma forma rudimentar 
do kiai. O treinamento do kiai viabiliza o uso deliberado, de modo mais 
eficiente, do seu potencial de energia vital, que é o ki.
A técnica do kiai é dividida em duas fases: primeiro há uma prepara-
ção para a ação, que, em parte, é física, ou seja, um retesamento muscular 
do abdômen associado a uma inspiração profunda, e, em parte, é mental, 
a determinação para realizar o movimento; em seguida, há a ação propria-
mente dita, quando o movimento é realizado como um impulso, associado 
com uma expiração brusca, acompanhada por um grito, o kiai.
O som do kiai produz dois efeitos psicológicos: assusta e desconcerta 
o adversário, ao mesmo tempo em que aumenta a coragem do atleta. Com 
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o treinamento, é possível concentrar a energia onde ela é mais necessária, 
ao invés de deixar a energia espalhada pelo corpo. Isto envolve uma con-
centração física e mental que canaliza e direciona a energia para regiões 
definidas do corpo. Você, a princípio, não é capaz de conseguir fazer isso, 
mas, com o passar do tempo, sua capacidade de concentração aumentará 
cada vez mais, até obter domínio sobre a técnica do kiai.
Não se esqueça de que o karate não visa somente a vitória ou a derrota 
em competições. Além dos resultados esportivos, o karate possui diversas 
qualidades essenciais, que estão ao alcance de todos, não somente dos 
campeões. O praticante de Karate Kyokushin, ao se dedicar aos aprendi-
zados físicos e mentais, decorrentes da mobilização de seus esforços para 
aperfeiçoar suas habilidades, não tem como objetivo somente a técnica, 
mas também, consegue aprender a tirar o máximo proveito de sua força 
interna. O essencial é possuir sentimentos, e agir com seriedade e dedicação 
incessante aos treinos, a fim de obter o real brilho do ser humano.
O significado da expressão Osu
Osu é uma expressão fonética formada por dois caracteres. O primeiro 
carácter “osu” significa literalmente “pressionar”, e determina a pronúncia de 
todo o termo. O segundo carácter “shinobu” significa literalmente “suportar”.
A expressão osu foi criada na Escola Naval Japonesa, e é usada univer-
salmente para expressões do dia a dia como “sim”, “por favor”, “obrigado”, 
“entendi”, “desculpe-me”, para cumprimentar alguém, bem como no mundo 
do Karate para quase qualquer situação onde uma resposta seja requerida. 
Para um karateca, osu é a palavra mais importante que existe.
A palavra osu implica em pressionar a si mesmo no limite de sua 
capacidade para suportar. Osu significa, de uma maneira mais simples, 
“perseverança sob pressão”. É uma palavra que por si só resume a filosofia 
do Karate. Um bom praticante de Karate é aquele que cultiva o “espírito 
de osu”.
Osu não deve ser dita de forma relaxada, usando apenas a garganta, 
mas, como tudo no karate, deve ser pronunciado usando o “hara” (tanden). 
Pronunciado durante o cumprimento, osu expressa respeito, simpatia, e 
confiança no colega. Osu também diz ao Sensei que as suas explicações 
foram compreendidas, e que o estudante irá fazer o melhor para segui-las.
Osu significa paciência, respeito e apreciação. Para desenvolver um 
corpo e espírito forte é necessário se submeter a um rigoroso treinamento. 
Isto é muito necessário, porque você precisa se esforçar até o que você 
acredita ser o seu limite, até quando quiser parar, desistir. Ao alcançar 
esse ponto, você precisa lutar contra si próprio e você precisa vencer. Para 
isso precisa ser perseverante, mas acima de tudo precisa aprender a ser 
paciente. Isto é osu.52
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O Kumite
O Kumite é a expressão utilizada para identificar a luta corporal, 
momento em que as habilidades de defesa e ataque de um lutador são 
colocadas a prova em uma situação real de contato com outro lutador de 
karate. Ao se colocarem um diante do outro, os lutadores descrevem um 
círculo imaginário; enquanto estiverem na borda do círculo, estão fora 
do alcance do adversário, desde que não desviem a atenção do centro do 
círculo, ou seja, toda vez que o adversário avançar para desferir um golpe, o 
lutador deve esquivar ou se afastar de maneira a ficar protegido. Da mesma 
forma, quando pretende atingir o adversário com um golpe, o lutador 
precisa avançar, conquistar o centro do círculo para tentar atingir o outro 
lutador. Seja de defesa ou de ataque, os movimentos devem ser suaves e 
carregados de muita técnica e precisão, a fim de vencer o adversário com 
o mínimo de golpes possíveis.
Nos mais profundos conhecimentos das artes marciais temos 
três máximas:
1. Conhecendo-se a si próprio e conhecendo adversário, den-
tre 100 lutas há a possibilidade de se obter 100 vitórias;
2. Conhecendo-se a si próprio e, desconhecendo o adversário, den-
tre 100 lutas há a possibilidade de se obter somente 50 vitórias;
3. Desconhecendo a si próprio e, desconhecendo o adversário, a 
possibilidade de se obter alguma vitória é quase nula.
Dentro do espírito do Kyokushin, os princípios morais são de uma 
importância imprescindível, de tal forma que, em qualquer competição, as 
disputas se iniciam com cumprimentos e se findam com cumprimentos.
Como tornar-se professor de nível profissional
Um bom professor sempre tem o domínio da situação. Não só de si e 
da proposta de treinamento, mas também, da satisfação dos alunos. Cada 
aluno é diferente do outro, por isso é necessário analisar individualmente as 
características de cada aluno, para conhecer quais são seus pontos fortes e 
fracos. Após essa avaliação criteriosa, o professor tem condições de refletir 
sobre qual é a melhor maneira para auxiliar o aluno a desenvolver de seu 
potencial. É nesse momento que um bom professor se destaca.
Ao longo do treinamento, ocorrem diversas mudanças no desempe-
nho físico, técnico e psicológico dos alunos. O professor deve estar atento 
para, de acordo com as mudanças ocorridas, realizar adaptações nas ati-
vidades de treinamento, a fim de que estejam adequadas para promover o 
crescimento dos seus alunos. Caso contrário, se continuar a insistir sempre 
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na mesma rotina, sem criatividade, a tendência é que o aluno termine por 
definhar, e, dessa maneira, corre-se o risco de perder o que se construiu. 
As adaptações devem contribuir para lapidar e aperfeiçoar a técnica dos 
alunos, como também, para que o professor avalie os benefícios das ati-
vidades utilizadas.
Um aspecto importante, para que o professor tenha uma visão ade-
quada sobre as atividades que são cruciais no treinamento dos seus alunos, 
é relembrar as atividades que foram decisivas para ele quando iniciou a 
sua carreira. Ao recordar a sua origem, como também, os relatos de outros 
praticantes sobre a origem deles, o professor é capaz de entender as neces-
sidades dos alunos e estudar a melhor maneira para atendê-las.
O bom professor não pode perder de vista que, no mundo das lutas, 
não há limite, logo, a interrupção é contraindicada. Até mesmo quando o 
praticante se consagra campeão, isso não é o fim; a batalha torna-se mais 
difícil e o sofrimento a ser enfrentado é maior ainda, pois, para manter a 
posição na qual se encontra, é preciso, no próximo campeonato, ser campeão 
novamente. Quando você ainda não é um campeão, a responsabilidade é 
menor, mas o esforço a ser realizado para chegar ao nível do campeão é, 
em tese, o mesmo: alcançar o seu maior nível de excelência possível.
Nessa luta de manter a excelência do seu rendimento, o primeiro 
mandamento é que, ao adquirir autoconfiança em função de vitórias repe-
tidas, não se esqueça que a principal luta é contra você mesmo, para superar 
os seus limites, pois, senão, você pode se tornar arrogante e vaidoso. O 
vaidoso descuida dos mínimos detalhes, que, para formar os campeões, 
são os mais importantes. É nesse momento que o atleta decai.
Portanto, mesmo que hoje você obtenha sucesso no alcance das metas 
estabelecidas para sua vida, deve sempre manter-se com o foco direcionado 
para alcançar a próxima meta, mais exigente do que a já conquistada. Dessa 
maneira, você estará consciente da necessidade de sempre continuar a 
lutar para conseguir melhorar cada vez mais. Isto exige humildade, e essa 
é a mente de quem age como um profissional. Um bom profissional deve 
sempre mostrar calma e tranquilidade, mesmo nas situações mais deses-
peradoras; deve inspirar segurança e confiança a todos ao seu redor, pois, 
assim, será capaz de mostrar sua máxima capacidade. E o que devemos 
fazer para obter esse nível profissional?
Nunca se apresse. Dê passo de cada vez. Empenhe-se para ter a 
certeza de que está realizando a técnica corretamente, como também, que 
está dando o máximo de sua capacidade. Nunca se deve pensar que é 
possível alcançar seu objetivo instantaneamente e sem esforço. O verda-
deiro combate não é no momento das lutas, para vencer um adversário na 
competição, mas, o combate que você precisa vencer todos os dias contra 
você mesmo. Se você for capaz de lutar e vencer diariamente os seus limi-
tes, dedicando-se com afinco aos treinos, sempre estará em condições de 
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atingir a excelência no seu rendimento. Se isso não lhe garante a vitória, lhe 
dá a certeza de poder aprender algo com as suas derrotas, como também, 
que você estará sempre preparado para um combate, a qualquer instante.
Pense sempre em treinar rigorosamente, isso lhe dará a confiança 
necessária para adquirir o status correspondente ao de um profissional. É 
lógico que essa jornada será árdua e marcada por muitos sacrifícios, cheia 
de sofrimentos. Mas, quando temos um objetivo nobre, tudo é possível 
suportar. Lembre-se que, sem esforço, não se tem glória.
A prova das 100 lutas
A prova das 100 lutas constitui-se no teste máximo do Kyokushin, 
e quem passa por ele reveste-se de uma importância correspondente a de 
um campeão mundial. Para se submeter ao teste, o atleta precisa obter 
a aprovação da Matriz Mundial Kyokushin, em Tóquio. Para ser bem 
sucedido, o atleta tem que reunir qualidades físicas primorosas, tais como: 
força, velocidade e resistência; articuladas com o domínio das técnicas de 
defesa, que lhe permita esquivar e suportar muitos golpes, e, das técnicas 
de ataque, de forma a vencer cada luta com o mínimo de desgaste possível. 
Além disso, o teste coloca a prova qualidades psicológicas que precisam 
estar equilibradas coragem, autocontrole e calma.
Segundo o depoimento de Kancho Matsui e Masuda, um dos lutado-
res que conseguiu ser aprovado no teste das 100 lutas, quando o atleta chega 
à 70ª luta, o cansaço domina o corpo do atleta, os movimentos passam a ser 
automáticos, pois o atleta não tem mais condições de pensar antes de agir; é 
nesse momento que, sem uma preparação mental forte, o atleta certamente 
fracassa. A partir da 80ª luta, o atleta passa a lutar principalmente com sua 
força de vontade, o cansaço deixa seu corpo lento e desobediente, mas, o 
lutador deve se fortalecer com a determinação que lhe inspire confiança, a 
ponto dele mesmo e, consequentemente, de o adversário, sentirem de que, 
apesar do esforço, ele ainda tem força suficiente para terminar o desafio.
São necessárias mais de 3 horas para completar as 100 lutas; como 
os rounds nos campeonatos costumam ter 3 minutos de duração, é possí-
vel dimensionar o nível de dificuldadedo teste. Quando Francisco Filho 
enfrentou o teste das 100 lutas, ele estava envolvido com a preparação 
para o Campeonato Mundial de Kyokushin. Sendo assim, fiz para ele as 
seguintes recomendações: Não se preocupe com o resultado das lutas, esse 
é um teste de resistência. Você deve adotar uma estratégia centrada em 
quatro pontos prioritários: primeiro, mantenha o foco em completar as 
lutas; segundo, previna-se para não se machucar; terceiro, sempre que tiver 
oportunidade, vença a luta o mais rápido possível; e, quarto, evite ter que 
ser hospitalizado. Francisco Filho fez uma preparação excelente, estava no 
auge da forma física, como também, mentalmente equilibrado. A fim de 
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familiarizar-se com o desafio e fortalecer a sua autoconfiança, realizamos 
um treino decisivo no dia 5 de fevereiro: Francisco Filho realizou, de forma 
não oficial, 100 lutas sucessivas no Brasil, apresentando ótimo resultado.
Finalmente, no dia 18 de março, em Tóquio, Francisco Filho se sub-
meteu a famosa Prova das 100 Lutas, e, no decorrer de 3 horas e 2 minutos 
terminou o combate sem nenhuma derrota: foram 76 vitórias, sendo 26 por 
ippon, 38 por wazari, e 12 por pontos, e somente 24 empates. Ao final, não 
precisou de cuidados médicos nem de ir para o hospital. No mesmo dia em 
que ele fez as 100 lutas, o bicampeão japonês Kenji Yamaki, também fez 
a Prova das 100 Lutas, mas, ao final, precisou depois ficar hospitalizado 
durante 10 dias.
A seguir, fiel a tradição das artes marciais de aprender com a sabedoria 
conquistada pelos lutadores bem-sucedidos, vamos apresentar uma série 
de depoimentos que traduzem os princípios e valores que fundamentam 
e inspiram a prática do Karate Kyokushin.
Depoimentos do Kyokushin Brasil
Masutatsu Oyama
Essas são algumas das principais lições que o mestre Masutatsu 
Oyama repetia em diversas ocasiões:
Se você perder dinheiro, perderá pouco; mas, se você perder a con-
fiança, perderá muito. Se, em algum momento, você perder a coragem, 
então, perderá tudo, porque, nesse caso, você perderá a si próprio. Logo, 
diante das dificuldades, mantenha sempre a coragem como o bem mais 
precioso da vida (Masutatsu Oyama).
Os praticantes de Kyokushin devem ter coragem, confiança e determi-
nação. Todos devem treinar continuamente, com garra e força, como 
se estivessem escalando uma montanha íngreme. O alpinista sabe 
que não pode parar no meio do caminho, pois corre o risco de cair e 
voltar à estaca inicial.
Todos os praticantes que treinarem com empenho durante 1.000 
dias (que corresponde a 3 anos), comprovam que compreenderam 
a filosofia do Kyokushin, logo, podem ser considerados iniciantes. 
Aqueles, porém, que treinarem com empenho durante 10.000 dias 
(que corresponde a 30 anos), aprenderão o verdadeiro significado da 
filosofia do Kyokushin.
Quando Masutatsu Oyama, fundador do Kyokushin, faleceu em 
função de um câncer pulmonar, muitos acharam que o Kyokushin, aos 
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poucos, enfraqueceria. Mas, os adeptos do Kyokushin se uniram e estão 
dando continuidade ao estilo e perpetuando o trabalho do Mestre, sob a 
liderança do seu sucessor Shokei Matsui.
Kancho Shokei Matsui
Atualmente, o Kyokushin, mundialmente, é liderado por Kancho 
Shokei Matsui. Para entender a sua indicação por Masutatsu Oyama é 
preciso conhecer os principais fatos de sua história e o seu envolvimento 
com o Kyokushin. Aos 13 anos de idade, Matsui, em 1976, ingressou na 
matriz mundial do Karate Kyokushin, em Tóquio. Renunciou a todas as 
diversões e, pela sua dedicação integral, 3 anos depois já era faixa marrom.
Em 1979, participou pela primeira vez do Campeonato Regional 
Norte do Japão e se classificou em 5º lugar. Era o início da preparação 
para colocações melhores. No ano seguinte, aos 17 anos, foi vice-campeão 
do I Campeonato do Estado de Chiba e participou do XII Campeonato 
Nacional do Japão, tendo se classificado entre os 4 melhores.
Em 1983, durante o XV Campeonato Nacional do Japão, Matsui 
fraturou 3 costelas. Mesmo machucado, continuou a lutar e venceu mais 
duas lutas. Disposto a continuar na disputa pelo título, foi retirado do 
campeonato pela intervenção do Mestre Oyama, que não permitiu que 
lutasse com a lesão. O episódio o fez refletir e decidir pela intensificação 
do treinamento para o ano seguinte.
Apesar do esforço e da dedicação, no ano seguinte, Matsui não pode 
participar do XVI Campeonato Nacional do Japão, pois, ao fazer agacha-
mentos com uma carga de 200kg, deslocou a coluna e teve que suspender, 
por recomendação médica, as atividades físicas por um período de 6 meses.
Exemplo de garra e determinação, Matsui chegou ao título de cam-
peão nos XVII e XVIII Campeonatos Nacionais do Japão. Com a proximi-
dade do Campeonato Mundial, Matsui passou a treinar de 8 a 10 horas por 
dia. Embora não estivesse entre os favoritos ao título, Matsui surpreendeu 
a todos e sagrou-se campeão entre os 207 atletas participantes.
Indagado sobre o que um lutador precisa fazer para alcançar a primeira 
colocação no campeonato mundial, Matsui fez a seguinte recomendação:
Em primeiro lugar, o lutador precisa treinar rigorosamente para poder 
ficar forte. Em seguida, o lutador deve confiar em si próprio e conti-
nuar a treinar com dedicação. Para ser campeão, o lutador não deve 
negligenciar o valor do Kihon, deve ter sempre disposição para avançar 
cada vez mais. O Karate deve fazer parte de sua própria vida, seja nos 
momentos alegres ou tristes.
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Depois de sua aposentadoria como atleta, em 1987, Matsui passou a 
atuar como técnico da seleção japonesa e viajou ao redor do mundo junto 
com o Mestre Oyama para fazer demonstrações técnicas da arte.
Com a morte do Mestre Oyama, em 1994, a indicação de Shokei 
Matsui para sucedê-lo surpreendeu a todos. Mas, foi o próprio mestre 
Oyama quem o escolheu em seu testamento. Oyama, em diversas ocasiões, 
disse que seu sucessor deveria ser uma pessoa jovem, dinâmica e forte; como 
líder mundial, deveria demonstrar claramente ter assimilado, em profundi-
dade, a filosofia e os ensinamentos do Kyokushin. Shokei Matsui enfren-
tou, com sucesso o desafio das 100 lutas, era campeão japonês de Karate 
Kyokushin, como também, consagrou-se campeão mundial de Kyokushin.
No início muitos não acreditavam que Matsui, com apenas 33 anos, 
conseguiria dar continuidade aos planos do Mestre. Porém, após a reali-
zação do primeiro mundial organizado por Matsui, as opiniões sobre sua 
capacidade de liderança mudaram. Todos concordaram que Mestre Oyama 
havia tomado a decisão certa.
Princípios básicos do Karate Kyokushin – Kancho Shokei Matsui
Manter a cabeça baixa, ter o olhar altivo, saber moderar a fala, manter 
o coração amplo, agir com respeito aos pais e a seus semelhantes. Estas 
atitudes refletem o espírito do Kyokushin.
O Kyokushin superou todos os limites da discriminação de países, 
raça, povos, religião, política e ideologia. Conseguimos promover um inter-
câmbio cultural e a aproximação dos povos por meio do Karate. Nos dedi-
camos a contribuir na educação saudável de jovens visando ao bem-estar 
social e a paz mundial.
Os princípios básicos que devem inspirar os praticantes do Kyokushin 
são: humildade, respeito e disciplina, complementados pelo aperfeiçoa-
mento do caráter, fortalecimento do corpo e bondade da alma.
Existem dois lemas que os praticantes de Kyokushin devem ter sem-
pre em mente:
Justiça sem força é incompetência. Força sem justiça é violência.
Sem realização não há prova; sem comprovação não há confiança; sem 
confiança não há respeito.
Comentário feito por Matsui sobre a repercussão da vitória de um 
brasileiro, Shihan Francisco Filho, no campeonato mundial deKyokushin.
O fato de um lutador de outra nacionalidade, que não a japonesa, ter 
se consagrado campeão mundial de Karate Kyokushin, provocou uma 
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reação motivadora na comunidade do Kyokushin distribuída nas filiais 
do mundo inteiro. Esse acontecimento contribuiu para difundir o 
espírito de que: “pela dedicação ao fazer é possível realizar um sonho”. 
A partir desse momento, praticantes de Kyokushin, em qualquer lugar 
do mundo, podem perseguir a meta de se tornar campeão mundial, o 
que elevou o espírito positivo de competição dos atletas e revitalizou a 
organização como um todo. Todos perceberam que é possível aumentar 
a dedicação para aperfeiçoar as técnicas e competir para alcançar um 
futuro promissor.
Vice Grão Mestre do Mundo Yuzo Goda
Ao comentar sobre sua experiência pessoal, quando conheceu o 
Kyokushin, Yuzo Goda conta que, logo em sua primeira aula, teve que 
lutar com o seu professor faixa preta. Considerando suas experiências ante-
riores com as artes marciais, acreditou que teria condições para enfrentar 
o professor. Quando o combate começou, no entanto, verificou que a luta 
era verdadeira. Recebeu poderosos golpes e percebeu que também poderia 
golpear o professor com toda a sua força, mas, não conseguiu acertar um 
golpe sequer. A precisão e a potência dos golpes do professor fizeram com 
que percebesse suas fragilidades, como também, o ajudaram a sentir o seu 
próprio corpo de uma maneira que até então não conhecia.
Chegou à conclusão de que os estilos que tinha praticado, até então, 
assemelhavam-se a um passatempo infantil. Todo o conhecimento que 
tinha sobre as artes marciais se modificou a partir daquela experiência. 
Uma inquietação nasceu em seu espírito: o desejo de conhecer os segredos 
daquele estilo, marcado pela autenticidade do combate. Adotou, portanto, 
como meta pessoal de vida, conseguir consagrar-se como faixa preta e 
dedicar-se ao estilo por toda a sua vida.
No aprendizado, não existia uma preocupação excessiva com as gra-
duações, e sim como o aperfeiçoamento das habilidades para lutar. Os 
treinos eram marcados pela objetividade: os alunos deviam prestar atenção e 
ficar atentos aos movimentos do professor para, em seguida, serem capazes 
de repetir a execução até ficarem perfeitos.
O percurso que um lutador deve percorrer para obter a faixa preta é 
muito difícil. Desafios penosos eram impostos até que se aperfeiçoassem.
Durante os treinos, quando os combates eram realizados, a intenção 
era que apenas 1 ou 2 golpes fossem aplicados, com grande potência, de 
forma a serem contatos perfeitos, que levassem o oponente ao nocaute. 
Quanto menos golpes aplicados, melhores resultados se obtinham.
Por isso o Kihon é o longo caminho exaustivo, onde muitos não 
conseguiram percorrer até o fim. Para melhor assimilação eram repetidas 
inúmeras vezes, até a boca sentir-se ressequida.
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Palavras para os atletas – Shihan Isobe
As palavras que deixo hoje para todos os atletas, é que se desejam, 
um dia, conquistar o título de Campeão Mundial de Kyokushin, devem 
treinar com afinco e esforçar-se para entender o significado do sacrifício e 
da abnegação, duas qualidades imprescindíveis para aqueles que almejam 
essa conquista. Ao longo do processo de preparação e na competição, deve 
prevalecer a articulação entre todos esses componentes.
Tivemos que enfrentar dificuldades, e passar por momentos de tor-
mento, mas, conseguimos manter, em nosso subconsciente, a certeza de que 
era possível realizar aquele sonho. Um sonho que não pode ser abandonado, 
que se transforma em uma meta de vida, que para ser alcançada, exige toda 
nossa força de vontade e total dedicação.
É preciso ter resignação para não deixar que os momentos de crise 
convertam a futura vitória em um fracasso antecipado. Se formos perse-
verantes, no final da batalha, teremos a satisfação infinita de olhar para 
trás, de ver as etapas do caminho percorrido e, poder dizer: vencemos o 
combate, mas, principalmente, vencemos nós mesmos!
Quando almejamos alcançar objetivos fáceis, tenho certeza de que, ao 
final, não teremos o mesmo sentimento de satisfação e nem nos sentiremos 
valorizados com a vitória. As pessoas que se esquecem dos seus sonhos 
não progridem. Não importa o que você já tenha conquistado, até hoje, 
luto para alcançar novos objetivos, sempre difíceis, pois, na expectativa de, 
em um breve futuro, conseguir realizá-los, eles contribuem para mobilizar 
minhas energias para continuar sempre aprendendo e melhorando.
Shihan Francisco Filho
Um dos momentos marcantes na história de vida do Shihan Fran-
cisco Filho foi a realização, no Japão, da Prova das 100 lutas. Na ocasião, 
a façanha foi marcada pela quebra de dois recordes. Primeiro, o recorde 
de duração, pois as 100 lutas foram realizadas no menor tempo, a prova 
durou 3 horas e 2 minutos. Segundo o recorde do número de vitórias, pois, 
foram 76 vitórias e 24 empates.
Em um depoimento após a realização da prova, Shihan Francisco 
Filho disse:
Após a realização, com sucesso, da prova das 100 lutas senti a con-
fiança em mim mesmo revigorada. Ao longo da duração do teste, 
tive a oportunidade de me deparar com a essência da filosofia do 
Kyokushin: AGUENTAR. Ao completar as 30 primeiras lutas, estava 
confiante e tranquilo. A partir de 60 lutas, comecei a ficar preocupado 
com algumas pequenas lesões que não me impediam de continuar, 
mas, que limitavam meu poder de ataque. Depois de 70 lutas, o seu 
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corpo está tão cansado, que os movimentos passam a ser realizados 
de forma automática. Você não consegue mais organizar os coman-
dos, e os movimentos simplesmente acontecem. O corpo se recusa a 
continuar, os músculos do peito, dos braços e das pernas começam a 
ter câimbras, e parecem estar sem energia. A única razão que o faz 
prosseguir é a força de espírito, porque, nesse momento, a sua mente 
age para proteger o seu corpo, e o incentiva a parar. Esse é o verdadeiro 
teste para o lutador, superar os limites do seu corpo e da sua mente. 
A Prova das 100 lutas exige disciplina do corpo, controle da mente e, 
principalmente, firmeza de espírito,
Em abril de 1997, após ser o primeiro lutador não-japonês a vencer 
o Campeonato Mundial de Karate Kyokushin Oyama, Shihan Francisco 
Filho foi convidado para participar do K-1. A participação no K-1 o con-
sagrou como lutador, pois, conseguiu vencer os quatro maiores campeões 
do torneio. Em algumas lutas, a rapidez com que nocauteou seus adver-
sários chamou atenção do público e dos comentaristas, o que se tornou 
mundialmente conhecido como “ichigeki”, que significa o golpe perfeito, 
pois a luta termina com “um único golpe”.
Na opinião do Shihan Francisco Filho:
Devemos nos dedicar com afinco para a difusão do Karate Kyokushin 
Oyama em todo o território brasileiro, não apenas para descobrir 
talentos ou investir na formação de atletas, mas também, para cola-
borar na educação do caráter da juventude brasileira, para que em um 
futuro próximo, possamos viver em uma sociedade mais harmoniosa.
Sou muito afortunado por ter encontrado o Karate Kyokushin, que 
me proporcionou maravilhas nesta vida. Realmente foi um grande 
aprendizado: inúmeras competições e viagens, conhecendo culturas 
diferentes e novas pessoas. Deixo aqui os meus mais sinceros agra-
decimentos ao meu mestre Shihan Seiji Isobe por todo ensinamento 
e ao meu falecido irmão Uélcio Alves por ter me apresentado esta 
magnífica arte marcial.
Se eu tivesse conquistado o título de campeão mundial na minha 
primeira participação, que foi no campeonato de 1991, não teria adquirido 
todo o aprendizado que obtive até o campeonato de mundial 1999, ano em 
que conquistei o título de campeãomundial. Durante esse período, pude 
aprender bastante e crescer muito como atleta e ser humano. Atualmente 
entendo perfeitamente no que se resume a filosofia do Karate Kyokushin 
– nas palavras do Grão-Mestre fundador Sosai Masutatsu Oyama
Devemos manter a cabeça baixa em sinal de humildade; olhos para 
o alto em sinal de ambição; a boca fechada em sinal de serenidade; e 
ter o coração grande representando a compaixão.
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Hoje, eu me sinto vitorioso. Eu sei que devo continuar no propó-
sito das artes marciais, vencendo a mim mesmo a todo o momento, 
seguindo no objetivo de nossa organização mundial que é buscar a 
PAZ NO MUNDO.
Jemusu Kitamura
Conheci o Kyokushin por meio de uma revista mangá que descrevia a 
vida e a história do nosso “Grande Mestre Masutatsu Oyama”. Certo 
dia, ao visitar minha avó no bairro da Liberdade, deparei-me com 
uma placa: “Karate Oyama“. Fiquei surpreso em saber que existia uma 
academia desse estilo no Brasil. Em 1977, aos 15 anos de idade, fiz 
minha matrícula e iniciei as aulas. Não me esqueço do primeiro dia, 
com um professor faixa preta rigoroso; senti uma mistura de ansie-
dade e medo do desconhecido que me deixaram nervoso; lembro que 
fiquei extremamente cansado. Desde então, passei a treinar todos os 
dias, exceto sábados e domingos, aprendendo e aprimorando técnicas 
sem questionar, apenas treinando conforme era orientado, até con-
quistar, em 1982, a tão sonhada faixa Preta. Todas essas conquistas 
foram apoiadas pelo nosso “Mestre Shihan Seiji Isobe”, fundador do 
Kyokushin no Brasil e na América do Sul, por quem tenho a mais pro-
funda gratidão e respeito. O mérito dos títulos por mim conquistados 
devem ser compartilhados com ele. A convivência e o aprendizado, ao 
longo de 10 anos de treinamento dentro da filosofia do Kyokushin, 
constituem-se em uma experiência de vida singular. Sempre procu-
ramos aliar a parte emocional e espiritual com o esforço físico; nos 
dedicávamos aos mesmos objetivos e nunca desistimos deles. Até hoje 
continuamos com a mesma filosofia. Agradeço ao Kyokushin por ter 
me tornado a pessoa que sou hoje.
Glaube Araújo Feitosa
O Karate Kyokushin Oyama, como uma luta de contato, é uma arte 
marcial árdua e exigente. Quando o lutador se esforça nos treinos, mas, 
não se sai bem na competição, mesmo que conquiste uma boa coloca-
ção, ele se sente mal consigo mesmo. Ao contrário, se ele consegue ter 
um bom desempenho, independente da colocação, ele se sente satis-
feito internamente. Em ambos os casos, a motivação deve ser sempre 
melhorar cada vez mais, para alcançar um objetivo sempre mais alto.
A confiança em si mesmo é um sentimento muito forte no atleta de 
Kyokushin, e, o que ele aprendeu do seu mestre, é um tesouro que deve 
ser por ele demonstrado no momento crucial de um combate.
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Riyuji Isobe
Quando era criança, aos 7 anos, meu pai me apresentou ao Kyokushin. 
Muito criança, não me adaptei aos treinos puxados e à rígida disciplina. 
Como entender que na academia meu pai não era meu pai e, sim, Shihan? 
Acabei desistindo em duas semanas...
Mesmo sem treinar, o convívio com o Kyokushin era inevitável. Aos 
poucos, fui me interessando cada vez mais pelo karate. E desta vez, era um 
sentimento que partia de mim, sem pressão nem cobrança de ninguém.
Quatro anos mais tarde, viajei ao Japão pela primeira vez e tive o 
privilégio de assistir ao 4º Mundial de Kyokushin, vencido por “Kancho” 
Matsui. Fiquei encantado com a grandeza do evento, vibrei com a energia 
das torcidas, cada uma delas gritando por seu país... Meus olhos brilharam 
com as lutas disputadas golpe a golpe, round a round. Naquele dia, sim, 
acendeu em mim a chama de praticar Kyokushin. Prometi a mim mesmo 
que um dia subiria naquele tatame para representar o Brasil. Assim, com 11 
anos, comecei a treinar de verdade.
Como filho do Shihan, sempre fui mais cobrado que os outros alunos. 
Pensei em desistir, mas no fundo, sabia que aquilo era para o meu bem. 
Sentia que, de alguma forma, o sofrimento me fortalecia. Descobri que o 
Kyokushin fazia parte de minha vida e comecei a lutar para que a minha 
vida também fizesse parte do Kyokushin.
Tive ótimos professores. Naquela época, 1989, além do Shihan 
Isobe, os instrutores da Matriz no bairro da Liberdade eram Francisco 
Filho, Tsutomu Morimoto, Glaube Feitosa, Aderino Silva e Tadeu Cortez. 
Aprendi – e ainda aprendo – muito com todos eles. Registro aqui o meu 
muito obrigado.
Até hoje, participei de 33 competições. Todas foram importantes, 
mas cito algumas que me marcaram:
Meu primeiro campeonato na categoria Infantil leve, na cidade de 
Suzano (SP). Terminei em 3º lugar. Fiquei tão feliz que dormi com o troféu.
Meu primeiro título de campeão veio no Campeonato Paulista, onde 
disputei na categoria Infanto-juvenil. Treinei muito para isso. Apesar da 
pouca idade, eu tinha apenas 14 anos, pedi permissão ao Shihan Fran-
cisco Filho para treinar com a equipe de elite da Liberdade. Era ano do 5º 
Mundial. Foi uma honra treinar com eles.
Meu último campeonato competindo na categoria Juvenil, Shihan 
Francisco me aconselhou a participar de duas categorias para pegar expe-
riência. Foi o dia em que mais lutei na vida: oito vezes! Fui o campeão da 
categoria Juvenil pesado e o 3º colocado no Absoluto leve.
Meu primeiro campeonato internacional, em 1996, classifiquei-me 
em 4º lugar no All American Open, em Nova York (EUA). Minha per-
formance foi muito elogiada. Apesar de jovem e leve, consegui vencer 
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atletas bem mais pesados e experientes. Esse campeonato me trouxe muita 
confiança para seguir em frente.
Meu primeiro Mundial foi em 1999, em Tóquio – Japão. Realizei dois 
sonhos ao mesmo tempo: participei do maior campeonato do Kyokushin 
e vi o Brasil ser campeão mundial, com o Shihan Francisco.
Em 2002 tive a honra de compor o time brasileiro no Mundial por 
Equipes com uma equipe muito forte. Eu no leve; médio: Eduardo Tanaka; 
pesado: Diogo Silva; super-pesado: Ewerton Teixeira; livre: Glaube Fei-
tosa, reserva: Sergio Costa e Rodrigo Kotake. Esse evento foi realizado no 
Brasil, e com certeza foi a maior torcida que tivemos. Foi de arrepiar. Com 
a ajuda de todos, conseguimos o título mundial e, com isso, presenteamos 
o Shihan Isobe por seus 30 anos de Kyokushin no Brasil.
Em 2017, realizei um grande sonho, conquistei o 1º título mundial 
de Kata para o Brasil, em Tóquio ( Japão)
Fora dos tatames, em minha vida pessoal e profissional, também 
obtive muitas vitórias graças ao karate. A filosofia do Kyokushin me 
ensinou novas formas de ver as coisas, pensar e agir. Posso dizer que o 
Kyokushin é meu espírito. Por meio dele, busco superar meus limites e 
enfrentar os obstáculos da vida, perseverando, mantendo o autocontrole e 
transformando tudo em força positiva!
Agradeço a Deus por me dar saúde, aos meus pais por terem cuidado 
de mim e me educado, a minha esposa Joana e meus filhos Henrique e 
William pelo amor incondicional, a toda minha família pelo apoio de 
sempre, a equipe do Dojo Liberdade e a todos por terem me apoiado 
nas minhas conquistas.
Por fim, gostaria de parabenizar meu grande mestre e pai, Shihan Seiji 
Isobe, por este livro. É mais que merecido. Mesmo sem falar o idioma 
português, e com muitas outras dificuldades, conseguiu implantar o 
Kyokushin no Brasil e na América do Sul com muito sucesso. Com 
sabedoria e criatividade, construiu vários karatecas, muitos deles de 
renome internacional, e tornou nosso karate admirado e respeitado 
no mundo inteiro.
Fabiana Pignatari Resende
Na competição, manter a calma e dar o melhor de mim, aplicando o 
que aprendi, para vencer, mas também como auto-avaliação. Assim,os progressos alcançados e os bons resultados projetam-se em todas 
as minhas ações, no dia-a-dia.
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Mensagem dos professores
Os treinamentos eram rigorosos, pois o Mestre Isobe nos ensinava, 
e ensina até hoje, que se quiséssemos ter sucesso como atletas e nas nossas 
vidas pessoais, teríamos que dar o máximo de nós mesmos e quando esti-
véssemos pensando que tínhamos alcançado o máximo de nossas forças 
físicas e espirituais deveríamos olhar dentro de nós mesmos e encontrar e 
renovar essa energia para superar outras barreiras que surgiriam pela frente.
O que aprendi no Kyokushin contribuiu com minha educação e todas 
estas conquistas pessoais que me fizeram um homem de grande valor para 
meus familiares, amigos e para os meus pais. Também tive a oportunidade 
de viajar para o exterior e conhecer outras cidades do meu país.
Depoimentos diversos de atletas
No início, os treinamentos eram cansativos e o meu corpo sentia os 
efeitos do despreparo físico. Gradativamente, fui sentido uma evolução 
no meu comportamento através dos treinos básicos. Shihan Isobe 
soube ensinar a importância da expressão Osu, que significa aguentar o 
treinamento rigoroso, além do cumprimento respeitoso em relação aos 
nossos colegas. Meu saudoso pai sempre me orientava a ser enérgico 
comigo mesmo e não desistir por qualquer obstáculo que surgir na vida.
Tinha 58 anos e estava saindo de uma doença muito grave quando 
conheci o Shihan Isobe. Perguntei se ele concordaria em desenvolver 
um projeto de treinamento para uma pessoa naquela idade e em con-
dições físicas precárias. E foi assim que começamos. O dia a dia de 
esforços repetitivos, sem nunca desanimar, fizeram com que, após 18 
meses de treinamento, eu pudesse escalar o Pico das Agulhas Negras, 
uma das 5 montanhas mais altas do Brasil (2.840 metros de altitude).
Há 9 anos contemplo com admiração cada vez maior este moderno 
filósofo estoico, incutindo na juventude brasileira os princípios de 
dever para com a pátria e família, o rigor que cada um deve ter para 
consigo mesmo, e a tolerância que deve ter para com seus semelhantes. 
A noção de que a vitória vem em função do esforço honesto, mas que 
também é preciso aprender a perder, suportar a for com dignidade 
e que nenhum dinheiro do mundo paga a perda do auto-respeito e 
da auto-estima. Observo com admiração a transformação de jovens 
inseguros em homens fortes, livres do medo, pois a coragem franca é 
a maior qualidade de um homem.
Consegui aproveitar e beneficiar-me dos ensinamentos que me foram 
transmitidos pelo Shihan Isobe. Treinei arduamente, fui rigoroso 
comigo, com disciplina pratiquei os princípios do estilo Kyokushin, 
adotando-os como uma filosofia de vida que me proporciona muita 
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paz interior. Tenho desenvolvido grandes melhorias. Como resultado 
desse intenso treinamento tenho adquirido boa musculatura, ossos 
fortes, bom reflexo, boa flexibilidade, boa condição cardiorrespiratória 
e vascular. Enfim, boas qualidades físicas apesar de meus 61 anos de 
idade. Há também que considerar os aspectos mentais, psicológicos 
e sociais que fazem parte do Karate, como filosofia de vida. Levan-
do-me a incluir os princípios do Dojo-Kun em cada ato praticado 
em minha vida.
Naquela época havia um aluno com seus 3 anos de idade, que o Shihan 
Isobre ensinou, orientou e acalentou em seus braços quando o sono 
chegava. Assim como ele treinou crianças, também orientou pessoas 
da terceira idade, como a karateca Tereza Jocie Sezaki, que com seus 77 
anos conseguiu chegar a faixa preta e guarda uma gratidão eterna.
No início, os meus pais eram contra, pois tudo que eu iniciava, não 
prosseguia, mas aos poucos, percebendo meu interesse, recebi apoio de 
minha família, com exceção de minha mãe, ela era totalmente contra, 
não concordava com os campeonatos, e quando eu chegava machucada 
ou cansada em casa dos treinos, ela brigava muito comigo! Hoje ela 
me apoia e juntamente comigo descobriu que quando iniciei apenas 
fazia parte do Karate, mas hoje, é o Karate que faz parte de mim.
O Karate Kyokushin me ensinou que tendo fé em nós mesmos, con-
seguimos tudo o que queremos, porque quando confiamos na nossa 
capacidade sem temer obstáculos, correspondemos à confiança depo-
sitada em nós; seguindo em frente, mesmo que tudo esteja contra nós; 
só com isso conseguiremos vencer mesmo que sozinhos, pois os únicos 
responsáveis por nossos atos somos nós mesmos.
Procuro ser humilde em todas as circunstâncias e não acredito que ser 
humilde é dizer sim a tudo e a todos, nem apregoar aos outros que 
somos humildes, agachando-se mentalmente a tudo que os outros 
dizem. Humildade para mim é saber exatamente o que somos e o 
que valemos e conhecermos a nós mesmos, procurando corrigir sin-
ceramente os nossos defeitos e não nos querendo impor aos outros. 
Aprendi a não guardar rancores de ninguém, aproveito as oportunida-
des que tenho para estar ao lado dessas pessoas para fazer-lhes bem, em 
troca do mal que me fizeram, ficando com minha consciência tranquila.
Como seres humanos necessitamos além de nossa própria vontade de 
muito apoio e incentivo. Não treino para superar alguém e nem para 
provar nada a ninguém. Treino par ao meu progresso; para sim, superar 
a mim mesma, procurando ultrapassar todos meus limites. Enquanto 
muitas pessoas se perguntam qual o segredo da vitória, eu acredito 
fielmente que o único segredo é treinar, treinar muito!
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Em 1979 estava treinando bem para participar do II Campeonato 
Brasileiro quando tivemos uma surpresa, onde a Federação Paulista 
de Karate não permitiu que as mulheres participassem da competição, 
pois eles achavam o Karate Kyokushin muito agressivo. Na época só 
poderia existir uma Federação de Karate no Estado de São Paulo. Com 
a fundação da nossa própria Federação, em 1986, o Karate Kyokushin 
ficou independente para criar o regulamento das suas competições.
Procuramos, por meio do Kyokushin, formar não só faixas pretas, 
mas cidadãos úteis e preparados pra a sociedade, a fim de divulgar 
mais o Kyokushin e desenvolver nossos atletas. O Kyokushin permitiu 
que viajasse para lugares e também proporcionou a oportunidade de 
conhecer pessoas especiais e com grande importância na minha vida. 
Sou uma pessoa realizada, aprendi a ser útil, o sentido de respeito, 
honestidade, humildade.
Ao longo destes 15 anos como praticante de karate Kyokushin, posso 
dizer que esta arte marcial mudou minha forma de olhar para a vida, 
pois me ensinou a lutar constantemente por cada objetivo e sonho, 
tanto dentro como fora do Dojo, o karate Kyokushin me mostrou que 
nenhum sonho é impossível você apenas tem que trabalhar duro para 
alcançá-los. Agradeço ao Shihan Seiji Isobe por trazer para o Brasil 
está arte marcial que tanto me ensinou e agradeço ao meu pai João 
Borba por apresentá-la e ter batalhado ao meu lado para que cada dia 
eu me tornasse uma atleta melhor.
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REFERÊNCIAS
Material que consta do acervo da Confederação Brasileira de Karate Kyokushin 
Oyama e reúne revistas, folders, folhetos, jornais, informativos e anuários com a 
divulgação de eventos competitivos, informações técnicas, informações gerais, 
dados históricos, regras, regras de arbitragem, regulamentos, filosofia, histórico 
dos atletas e dados sobre exame de faixas (utilizamos a expressão que identi-
ficava o material, sem a preocupação de checar a classificação bibliográfica).
Site do Dojo Liberdade – Karatê Kyokushin www.kyokushin.com.br
Revista do II Campeonato Brasileiro Kyokushin de Lutas Marciais, 1977.
Folheto do IV CampeonatoNacional Kyokushin de Lutas Marciais, 1980.
Anuário Kyokushin da América do Sul e Revista do I Campeonato Sul-Ame-
ricano e V Torneio Nacional Kyokushin de Lutas Marciais, 1981.
Folheto do VI Torneio Nacional Kyokushin de Lutas Marciais, 1982.
Folheto do VII Torneio Nacional Kyokushin de Lutas Marciais, 1983.
Revista do 1º Torneio Nipo-Brasileiro e VIII Torneio Nacional Kyokushin de 
Lutas Marciais, 1984.
Revista do Kyokushin Oyama – Karate, 1985.
Revista do I Campeonato Brasileiro de Luta de Contato Kyokushin Oyama, 1987.
Revista do III Campeonato Paulista de Luta de Contato Kyokushin Oyama, 1988.
Folheto do II Campeonato Brasileiro de Luta de Contato Kyokushin 
Oyama, 1988.
Revista do III Campeonato Brasileiro de Luta de Contato Kyokushin 
Oyama, 1989.
Folheto do IV Campeonato Brasileiro de Luta de Contato Kyokushin 
Oyama, 1990.
Folder do V Campeonato Paulista de Luta de Contato Kyokushin Oyama, 1990.
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Folheto do VI Campeonato Brasileiro de Kyokushin Oyama, 1992.
Folheto do VII Campeonato Brasileiro de Kyokushin Oyama, 1993.
Revista do 1º Mundialito Kyokushin Oyama – Luta de Contato, 1994.
Revista do 9º Campeonato Brasileiro de Luta de Contato Kyokushin 
Oyama, 1995.
Revista do 10º Campeonato Brasileiro Masculino e 1º Campeonato Brasileiro 
Feminino, 1996.
Revista do I Campeonato Brasileiro de Karate Oyama Kyokushinkai, 1996.
Informativo do 11º Campeonato Brasileiro masculino e 2º Campeonato Brasi-
leiro Feminino, 1997.
Informativo do 12º Campeonato Brasileiro masculino e 3º Campeonato Brasi-
leiro Feminino, 1998.
Revista Kyokushin News Brasil – Luta De Contato, 1998.
Folheto do Kyokushin Oyama – 2ª Seletiva Sul Americana, 2000.
Revista do Karate Kyokushin Oyama – II Copa do Mundo por Equipe, 2002.
Folheto do Karate Kyokushin Oyama, 2004 e 6ª Seletiva Sul Americana, 2004.
Folheto do Kyokushin – XI Campeonato Sul-Americano, 2005.
Revista do Karate Kyokushin Oyama, 2008.
Jornal do Ichigeki – Brasil 2011 – 6º Desafio Internacional, 2011.
Folheto do Ichigeki – Brasil 2012 – 7º Desafio Internacional, 2012.
Revista do Kyokushin Campeonato Brasileiro, 2012.
Folheto do Ichigeki – Argentina 2013 – 1º Desafio Internacional – Kickboxin-
g-MMA-Kyokushin, 2013.
Folheto do 1º Simpósio Técnico de Karate Kyokushin, 2014.
Informativo do Karate Kyokushin – O karate forte e dinâmico, s/d.
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1.3 Entrevista com o Shihan Isobe
Shihan Seiji Isobe
Apontamentos históricos a partir da entrevista concedida por 
Shihan Isobe
Por ocasião do 9º Ichigeki, realizado em Guaíba/RS, Shihan Isobe con-
cedeu uma entrevista para a equipe de pesquisadores da UnB, encarregada de 
realizar um estudo sobre as artes marciais japonesas, suas tradições e, parti-
cularmente, o processo de implantação do Karate Kyokushin no Brasil, em 
comemoração, no ano de 2016, aos 40 anos da implantação da modalidade.
A conversa não foi conduzida por um roteiro pré-estabelecido. Pedimos 
ao Shihan Isobe que contasse para nós os pontos que ele considerava mais 
importantes sobre a sua história de vida e sobre o Kyokushin. Inspirado pela 
noção comum sobre o que é uma narrativa histórica, Shihan Isobe fez um 
relato que retrocedeu ao que, em sua opinião, é a origem do Karate Kyokushin. 
O seu relato inicia com uma referência respeitosa ao mestre fundador do 
estilo, Masutatsu Oyama, o que demonstra a admiração e o reconhecimento 
pela valiosa contribuição do mestre.
Segundo Shihan Isobe, a criação do Kyokushin, descrito como uma arte 
marcial de contato, é justificada pela necessidade de tornar o karate mais 
eficiente no confronto com outras lutas, algo que Masutatsu Oyama concluiu 
após ter que enfrentar lutadores adeptos de diferentes artes marciais. A despeito 
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de também ser praticante de judô e kung fu, Masutatsu Oyama escolheu o 
Karate como o legítimo representante da arte marcial japonesa.
Esse início é crucial para definir a identidade do Karate Kyokushin, mar-
cada pelo resgate do orgulho de ser japonês, após o fim da Segunda Guerra 
Mundial, na qual o Japão foi derrotado. A possibilidade de um lutador japonês, 
praticante de uma arte marcial reconhecida como japonesa, sobrepujar luta-
dores de outras nacionalidades, praticantes de outros estilos, era uma espécie 
de resgate da honra. Masutatsu Oyama, portanto, pode ser considerado como 
um tipo de “herói” moderno, que se notabilizou pela sua abnegação e pela 
coragem de lutar para representar o Japão.
Em 1968, quando se transferiu de Fukui, uma cidade pequena, para capi-
tal Tóquio, a fim de fazer o curso de 2 anos para ser Engenheiro Agrônomo, 
Shihan Isobe decidiu se dedicar ao aprendizado do karate. O estilo Kyokushin 
lhe chamou a atenção pela exigência de que os praticantes não deveriam pro-
vocar outras pessoas nem se envolver em brigas, como também, que deveriam 
aprender a anular o ataque do oponente para, depois, se necessário, atacar, de 
forma precisa e eficiente, para vencer o combate.
No contato inicial com o Kyokushin, Shihan Isobe comenta:
Tive que aprender o que era o karate para esse estilo. A técnica para execu-
tar os socos e chutes era diferente, e a luta também. Nos treinos, um terço 
da preparação era kihon associado com a preparação física, que deviam ser 
complementados, os dois terços restantes, com a capacidade de lutar. Essa 
é a caraterística de um estilo que valoriza o contato. É preciso aprender o 
que dá certo no confronto real com um oponente. Precisei mudar minha 
cabeça. A primeira coisa que aprendi foi que a gente se machuca bastante. 
Tem que desenvolver a resistência para aguentar, porque não é um dia só, 
é a semana inteira, sem descanso.
Fiel aos princípios basilares de subordinação a hierarquia que inspiram as 
artes marciais, algo que provém do contexto militar no qual elas estão inseri-
das, Shihan Isobe faz questão de demonstrar o respeito que sempre teve pelos 
seus pais, e dedica um tempo da entrevista para narrar os acontecimentos em 
torno do seu pedido de autorização para treinar e se dedicar ao karate, afinal, 
o exemplo de obediência deve começar em casa.
“Quando disse a meu pai que queria fazer karate, ele ficou irritado [...]”, 
para uma família tradicional japonesa, naquela época, o judô era reconhecido 
como uma atividade nobre e importante para a formação do homem, mas, 
o karate ainda era visto com preconceito. Para conseguir o consentimento 
paterno, Shihan Isobe teve que contar com o apoio do tio para argumentar a 
seu favor. Em meio a uma conversa informal, enquanto degustavam uma dose 
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de saquê, o pedido virou um desafio, e o filho recebeu autorização para treinar 
karate durante 3 anos, de maneira a provar tanto que era habilidoso como que 
o karate era importante para fazer dele um homem melhor.
O próximo elemento de destaque na narrativa de Shihan Isobe, muito 
comum no ideário das artes marciais, é a disciplina aos treinos e a disposição 
para o enfrentamento das situações adversas. Não há como formar um lutador 
completo se ele não tem a oportunidade de viver experiências nas quais precisa 
provar o seu valor, ou seja, demonstrar que é capaz de suportar o sofrimento 
que faz parte do processo de aperfeiçoamento das habilidades para alcançar 
a excelência. Shihan Isobe comenta sobre algumas dificuldades vividas nessa 
fase, que o levaram a pensar em desistir e retornar para casa, mas, foi diligente 
e, após cerca de 5 anos de treinamento diário, conseguiu graduar-se como 
um faixa preta, como também, foi o terceiro a conseguir, no Japão, o certifi-
cado que autorizava a abertura de uma academia filial, vinculada à matrizde 
Masutatsu Oyama, em Tóquio.
A vinda de Shihan Isobe para o Brasil foi motivada por um convite de 
Masutatsu Oyama, como parte do projeto de difusão do Karate Kyokushin 
para outros países, algo que não estava nos planos pessoais de vida de Isobe. 
Na reunião da academia sede, em Tóquio, ele teve a oportunidade de escolher 
entre Taiwan, Austrália ou Brasil. Apesar de nunca ter estudado o Brasil, o 
que conhecia sobre os brasileiros era somente: café, carnaval, Rio de janeiro 
e Amazônia, Shihan Isobe foi convencido pelo Mestre Oyama de que era 
importante para ele, durante um período curto de 1 ou 2 anos, ter uma expe-
riência internacional no ensino do Karate.
Dentre as dificuldades vividas, Shihan Isobe nos contou sobre o longo 
tempo de viagem e a troca de aeronaves, o desconhecimento do português 
e da cultura brasileira, a burocracia para obter os documentos e resolver as 
questões jurídicas dos contratos, as dificuldades para organizar a infraestru-
tura de treinamento e para obter recursos financeiros que garantissem sua 
manutenção, o grande número de aulas, às vezes, em cidades diferentes, a 
necessidade de usar ônibus como meio de transporte e morar como hóspede. 
Esses relatos eram descritos como reminiscências desse período inicial, que 
demonstravam a disposição para alcançar o objetivo, difundir o karate. Sempre 
que possível, Shihan Isobe escolhia acontecimentos inusitados e engraçados, 
que terminavam com o sorriso de todos que estavam ouvindo.
Nesse período inicial, o apoio de algumas pessoas foi decisivo para que 
Shihan Isobe se instalasse de forma cômoda no Brasil. O Coronel Heizo, nosso 
grão-mestre, e sua família, foram “anfitriões” dedicados, que se envolveram 
com a cultura do karate e desenvolveram uma amizade. O contato com a 
colônia japonesa no Brasil, no entanto, não era considerado como um ponto 
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de apoio para a difusão do Kyokushin, talvez para evitar o conflito entre os 
estilos. A meta era: ensinar karate para brasileiros. Tudo foi, de certa forma, 
organizado aos poucos para alcançar esse objetivo. O Mestre Oyama chegou 
a alertar de forma explícita que Isobe não poderia se instalar junto da colônia 
japonesa. Era preciso estar entre os brasileiros para aprender a se comunicar 
com eles e a expandir o karate entre eles.
Mestre Oyama veio visitar o Brasil para conhecer a comunidade que 
se dedicava à prática de Kyokushin, avaliar as condições existentes para a 
difusão do karate e resolver a questão sobre quem deveria ser o representante 
brasileiro da International Karate Organization – Kyokushin. Durante a visita, 
motivado pelo convívio com o Mestre Oyama e consciente da relevância 
estratégica dessa função, Shihan Isobe decidiu permanecer no Brasil como 
“embaixador” do Kyokushin.
Shihan Isobe:
O Mestre me disse como era importante que eu ficasse no Brasil. Então, 
mudei totalmente a minha cabeça. No início, tive que fazer tudo sozinho: 
ensinar, e ao mesmo tempo, criar e abrir filiais. Eu dava diversas aulas no 
mesmo dia. Tinha que me deslocar de uma cidade para outra, de dia dava 
aulas em Santo André e, à noite, em Mogi das Cruzes. É mais ou menos 
assim que minha história começa.
Na oportunidade, conversou com o Mestre Oyama sobre a vinda, impres-
cindível, de outros instrutores japoneses de Kyokushin para auxiliarem na 
ambiciosa missão, tendo em vista as dimensões continentais e o tamanho da 
população brasileira.
Shihan Isobe:
Pedi ao Mestre Oyama que enviasse novos instrutores para o Brasil. Eu 
queria pelo menos uns 30 instrutores, mas, ele enviou 3. (risos)
Segundo Shihan Isobe, uma das principais dificuldades para o ensino do 
Kyokushin no Brasil foi a diferença de valores entre a cultura japonesa e a 
brasileira. No Japão, ao longo da formação, as crianças aprendem princípios 
que orientam a vida social, como também, a história dos Samurais, a impor-
tância das artes marciais e a filosofia do bushido, ou seja, o código de conduta 
e os valores que contribuem para o pleno desenvolvimento de um guerreiro. 
Sendo assim, é muito mais fácil abrir uma academia no Japão. No Brasil, é 
preciso ensinar tudo, desde o início.
Shihan Isobe:
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A primeira coisa quando cheguei no Brasil que eu senti diferença foi a 
cultura. Quando a academia começou a funcionar, as pessoas chegavam 
atrasadas e entravam no dojo de sapato na hora de treinar. Quando ter-
minava a aula elas não queriam limpar o dojo. Acabava a aula e elas, 
simplesmente, iam embora. Foi preciso ensinar que: não pode entrar de 
sapato porque suja; tem que deixar limpo o que você usou. Mas, não 
culpo os brasileiros porque não é algo da cultura daqui. Os alunos me 
viam limpando o lugar antes de começar a aula e começaram a entender 
que precisavam fazer o mesmo.
Em seguida, a entrevista abordou dois pontos chaves da carreira de 
Shihan Isobe: A importância do Kyokushin para a sua vida? E, os desafios 
em torno da formação de um campeão?
Na resposta, Shihan Isobe explica como a dedicação ao karate Kyokushin 
passa a fazer parte da sua identidade, como pessoa, a ponto de sua vida, sem 
o karate, perder o sentido. Os valores da filosofia do Karate Kyokushin estão 
por detrás de quem ele é como profissional, mas, também, como cidadão, 
marido, pai e tudo mais. O objetivo do Karate não é agredir as pessoas, nem 
servir as ambições egoístas. Porém, por mais importante que seja aprender e 
viver na prática a filosofia que inspira as artes marciais, isso não é suficiente. 
É preciso praticar, viver e aprender com as experiências de auto-superação e 
de confronto que as artes marciais oferecem.
A partir do momento em que você se envolve completamente com esse 
ideal, o sofrimento se transforma em desafio, as experiências se transformam 
em aprendizado, a motivação se transforma em conquistas, a disciplina se 
transforma em persistência. Esse é um caminho que não tem fim. Quando 
mais você aprende, mais entende que ainda há muito mais para aprender, 
como também, que tudo que já aprendeu, está em transformação e precisa 
ser novamente aprendido, até mesmo porque você não é mais o mesmo... Na 
vida, o descanso faz parte de um breve ciclo de preparação para iniciar novas 
experiências e, consequentemente, novos aprendizados. Parar de praticar 
karate significa começar a morrer.
Shihan Isobe:
Precisamos entender como o sofrimento faz parte da nossa vida e contribui 
para o nosso aprendizado; é preciso enfrentar o sofrimento e aprender 
com ele. Nossa função, como instrutores mais experientes, é motivar as 
pessoas a sempre se dedicarem um pouco mais, para poderem conquistar a 
auto-superação. Não podemos parar. Eu pratico karate há 56 anos, e tenho 
que continuar a praticar, não posso parar. É preciso prosseguir, pois, você 
continua aprendendo. Mesmo quando aparentemente não muda muita 
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coisa, todo dia é quase igual ao que você faz antes, mas, o aprendizado, 
de forma às vezes imperceptível, continua aumentando. Eu continuo, sei 
que não é fácil, mas continuo.
Ao descrever a experiência de formar um campeão, Shihan Isobe destaca 
que a atitude do instrutor é praticamente a mesma para todos os atletas, porém, 
as diferenças entre as qualidades e as habilidades dos atletas é que exigem algo 
a mais dos instrutores. O instrutor deve prestar atenção e observar todas as 
reações dos atletas. O potencial para ser um campeão depende da capacidade 
do atleta reunir, ao mesmo tempo, qualidades corporais incomuns com garra 
e determinação para aprender e vencer.
O instrutor deve avaliar o domínio técnico que o atleta possui e encontrar 
estratégias de treinamento que contribuam para aperfeiçoar suas habilida-
des de combate. Essa observação meticulosa para identificar,todos os dias, 
novos desafios para testar as forças do atleta e revelar suas insuficiências, é a 
conduta adequada para preparar o atleta para ganhar o campeonato mundial. 
Além disso, “o treinador tem que ser honesto, sério e dar bom exemplo. Estar 
sempre ao lado.”
Shihan Isobe:
Da minha parte, é preciso observar atentamente os atletas. Às vezes encon-
tramos um atleta forte, mas, ao longo dos treinamentos ou da luta, ele 
não tem garra. Outro atleta, tem a garra e a coragem de um campeão, 
mas, não tem as qualidades físicas necessárias. Por exemplo o Francisco 
Filho, desde os 15 anos, demonstrava ter corpo, garra e a vontade de ser 
campeão. Quem tem vontade de vencer, mesmo quando está cansado 
e machucado, continua treinando ou lutando. Apesar da juventude, era 
possível verificar que ele era diferente dos outros, tinha talento para ser 
campeão. Mesmo assim, foi necessário ter uma década de dedicação para 
alcançar esse objetivo.
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1.4 Entrevista com o Shihan Francisco Filho
Shihan Francisco Filho
 
Apontamentos históricos a partir da entrevista concedida por 
Shihan Francisco Filho
A entrevista, concedida pelo Shihan Francisco Filho, foi realizada por 
web conferência, no início de 2016, como parte do estudo sobre as artes 
marciais tradicionais, em particular, o Karate Kyokushin, e o seu processo de 
implantação do no Brasil. O objetivo era registrar uma versão da história do 
Kyokushin, entendida como parte da história de vida dos seus personagens 
principais, os instrutores e os praticantes de karate. A conversa foi sobre: 
o primeiro contato com o karate, suas descobertas, as dificuldades vividas 
durante a jornada que envolve tornar-se um praticante, um lutador, um atleta 
e um campeão mundial. Foi dito ao Shihan Francisco que ele tinha total 
autonomia para selecionar os aspectos que, em sua opinião pessoal, foram 
os mais importantes nessa sua experiência de vida. Em função disso, o relato 
está na primeira pessoa, sem o uso de aspas, apenas com caracteres menores.
Comecei no Karate Kyokushin aos 11 anos de idade, em 1982, incentivado 
pelo meu irmão e por filmes de lutadores, como Bruce Lee. Gostaria de 
ser forte e de realizar as mesmas proezas dos personagens. Na academia, 
conheci o que era realmente uma arte marcial, a disposição para enfrentar 
desafios e o esforço para superar seus limites pessoais. Apesar da identi-
ficação com o Karate Kyokushin, meu projeto inicial era praticar várias 
modalidades, ao longo do tempo, porém, os desafios que surgiram dentro 
do próprio Karate Kyokushin foram suficientes para me satisfazer.
Quando alcancei a faixa marrom, dois anos após ter iniciado, minha família 
enfrentou uma dificuldade financeira. Sem condições para pagar a men-
salidade, pensei em parar de treinar, isso somente não ocorreu porque o 
Uchi deshi da academia não podia continuar e, com a concordância do 
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Sensei, pude assumir a sua função. Uchi deshi é o termo utilizado para 
designar o aprendiz que se dedica em tempo integral à academia e, dentre 
outras obrigações, fica responsável pela limpeza e pela organização do 
ambiente. Durante esse período, frequentava a escola na parte da manhã 
e, às 13h já estava na academia, de onde saía às 22h.
A maior parte do tempo era dedicada ao treinamento, mas também, come-
cei a ministrar aulas para iniciantes. Ensinar exercita a paciência, algo que 
é fundamental na arte marcial. Sempre gostei muito mais de lutar do que 
de treinar a técnica, mas, como instrutor, tinha que orientar meus alunos 
sobre a importância do treinamento básico de kihon, que permite auto-
matizar os movimentos para que, durante a luta, você consiga realizá-los 
sem pensar. Você, como lutador, não pode lutar todos os dias, nem exigir 
que seus alunos façam isso. A luta provoca lesões que, às vezes, exigem 
uma recuperação demorada, o que prejudica a dedicação ao treinamento. 
É preciso aprender a se poupar.
Existem também atividades complementares de preparação física que 
auxiliam a desenvolver força e resistência, como a musculação e a corrida. 
O fundamental, porém, no karate, não é a preparação técnica ou física. O 
que é decisivo é a vontade de vencer e o espírito de um guerreiro, algo que 
você sempre vai encontrar em um campeão. Ao longo do treinamento e 
das lutas você, aos poucos, é capaz de identificar o que precisa fazer para 
melhorar, o mais importante, porém, é ter a vontade de vencer.
Ao viver a experiência de treinar diariamente e participar de diversas 
competições, pude verificar que os bons lutadores da academia nem sem-
pre eram bem-sucedidos nas competições. Na medida que enfrentava e 
vencia lutadores cada vez melhores, minha autoconfiança aumentava e, 
consequentemente, minha motivação para treinar.
Consegui superar a dificuldade de intercâmbio com outras academias, 
quando me sagrei faixa preta, aos 17 anos de idade, e passei a frequentar 
a academia matriz, na Liberdade, para fazer aulas especiais com o Shihan 
Isobe, esse foi meu primeiro contato com ele. Após ter sido duas vezes 
campeão juvenil, participei, pela primeira vez do Campeonato Paulista, 
na categoria Absoluto. Na final, me tornei campeão paulista ao vencer a 
luta contra meu Sensei, e conquistei a vaga para participar do Campeonato 
Sul-americano, onde também consegui ser campeão e chamar a atenção 
do Shihan Isobe.
Mesmo com tantas conquistas, novamente enfrentei dificuldades para 
conciliar o treinamento com o final de minha educação profissional. Fazia 
um curso técnico, com aulas a noite e o estágio durante o dia. Com o fale-
cimento do meu pai, fui obrigado a começar a trabalhar, e quase parei de 
praticar arte marcial. Então o Shihan Isobe, acreditando no meu potencial, 
se dispôs a ajudar. Me transferi para a academia da Liberdade. Como 
resultado de minha dedicação ao karate, em 1988, me tornei um lutador fai-
xa-preta. Hoje, quando relembro os momentos mais importantes de minha 
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vida, vejo que grande parte deles estão relacionados com a academia. Foi 
na academia, por exemplo, que conheci a minha ex-esposa, infelizmente 
não estamos mais juntos. Casamos em 1996 e tivemos duas filhas.
Na academia da Liberdade, o contato com outros lutadores e as oportu-
nidades de aprendizado aumentaram o meu conhecimento e, em 1991, 
com 20 anos, fui participar do Campeonato Mundial no Japão, na cidade 
de Tóquio, com a expectativa de ser campeão! Fiquei entre os 16 melhores 
do mundo e obtive, como um reconhecimento pelo meu desempenho, o 
Troféu Shinjin-shô, como lutador revelação.
Com o incentivo e as orientações de Shihan Isobe, dediquei-me aos trei-
namentos, ao longo do ciclo de 4 anos, para participar do próximo Cam-
peonato Mundial. Foram os 4 anos mais árduos da minha vida, treinei 
com intensidade total. Estava decidido a ser campeão.
Em março de 1995, antes do Campeonato Mundial, recebi o convite, 
e consegui completar de forma bem-sucedida, o famoso Teste das 100 
Lutas, o que aumentou ainda mais a minha autoconfiança. Fui o primeiro 
brasileiro a completar esse teste no Japão. A experiência foi marcante. 
Durante o transcorrer do desafio, chega um momento em que você per-
cebe que está lutando contra você mesmo! A luta não é mais contra o 
adversário. Como o desgaste corporal é progressivo, o seu corpo, depois 
de muitas lutas, não responde mais aos comandos. Você fica mais lento, e 
tem que ajustar a técnica à essa capacidade física limitada. Outro aspecto 
surpreendente: você observa que, em algumas situações, machuca muito 
mais tentar defender do que deixar o adversário bater em você! No final é 
evidente que o verdadeiro desafio do karate é a busca por autossuperação, 
ou seja, sempre a lutaé você contra você mesmo, e não, contra o adver-
sário. Hoje eu respeito muito o adversário, porque é uma das pessoas que 
mais contribui para o meu aperfeiçoamento físico, mental e espiritual.
No Campeonato Mundial de Karate Kyokushin Oyama de 1995, infe-
lizmente, fiquei em terceiro lugar. Apesar de ser a melhor colocação já 
conquistada por um brasileiro nessa competição, foi como se o mundo 
tivesse acabado pra mim. Perdi a vontade de fazer qualquer coisa, entrei 
em um estado de depressão, não queria treinar e só engordava. Após o 
período de decepção com o resultado, recebi apoio de muitos amigos e do 
próprio Shihan Isobe, que mostraram o valor da conquista e a importância 
de ser persistente para alcançar a meta de ser campeão, sendo assim, voltei 
a treinar. Para mim, o principal elemento de motivação para me dedicar 
ao karate sempre foi o desafio e, apesar de ter que enfrentar um novo 
ciclo com quatro anos de treinamento para ter novamente a possibilidade 
de disputar o Campeonato Mundial, como era jovem, devia aproveitar 
essa oportunidade.
Em 1996, como parte da preparação para o Campeonato Mundial e em 
busca de novas oportunidades, inclusive profissionais, mudei para o Japão. 
Nessa época o evento K-1, considerado como um dos mais importantes 
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torneios de Kickboxing do mundo, organizava os Grandes Prêmios (GP) 
de “trocação”, termo utilizado para se referir a luta de contato realizada em 
pé, entre lutadores sem limite e peso. Convidado para participar do evento 
e figurar como um dos “representantes” do Kyokushin na competição, 
consegui vencer as primeiras lutas e recebi o convite para me tornar um 
lutador profissional. O contrato era de 3 anos, ou seja, de 1997 até 2000. 
Tive que negociar a possibilidade de interromper a participação em 1999 
para poder competir no Campeonato Mundial de Karate Kyokushin, o que 
foi aceito pela organização.
A oportunidade de participar do K-1 permitiu avaliar se o karate é um 
estilo forte no confronto com outras artes marciais. É possível dizer que, 
nas primeiras lutas, estávamos diante de um combate entre dois estilos: 
um lutador que usava a técnica do Kyokushin para enfrentar outro lutador 
versado na técnica do kickboxing. E o resultado foram quatro vitórias por 
knockout no primeiro round. Em seguida, o quadro se modifica, pois, 
comecei a treinar para aperfeiçoar as técnicas específicas do kickboxing. 
Essa experiência contribuiu para diversificar o meu domínio da técnica de 
socos e a minha movimentação durante a luta, habilidades que consegui 
transferir para o karate.
De acordo com o que estava previsto no meu contrato, no final de 1999, 
solicitei a liberação para participar do Campeonato Mundial de Karate 
Kyokushin. No vídeo com a gravação da luta final, existem imagens que 
registram a presença da minha mãe e o apoio da minha ex-esposa, que 
torciam pela minha vitória. Foi assim que, após 17 anos de dedicação ao 
karate, na terceira vez que participei do Campeonato Mundial, que me con-
sagrei como o primeiro lutador não japonês a se tornar Campeão Mundial 
de Karate Kyokushin. Minha mãe, que não gostava de me ver machucado 
e dizia ser contrária a minha participação nas lutas, ficou impressionada 
com a magnitude do evento e com a repercussão da minha vitória. Creio 
que foi somente nesse momento que ela entendeu o quanto a arte marcial 
era importante, para mim e para muitas outras pessoas. Ao verificar que 
todos me tratavam com muito respeito e admiração, ficou orgulhosa e 
passou a me apoiar integralmente. Nos dias seguintes, ela contava para 
todas as pessoas na rua, que o filho dela era campeão mundial de karate.
Cheguei a receber convites para lutar em torneios de MMA – Mixed 
Martial Arts, mas, cheguei à conclusão de que a minha experiência com 
o K-1 foi suficiente para comprovar a força do karate, como também, 
a certeza de que a disciplina e a perseverança que aprendi com as artes 
marciais, contribuem para que eu tenha sucesso em tudo aquilo que eu 
me propor a fazer.
Nas artes marciais existem princípios que estão relacionados, ao mesmo 
tempo, com aspectos morais e práticos. Quando não tenho um adversário 
equivalente, não tenho como me fortalecer, porque não sou obrigado a 
utilizar todo o meu potencial e a fazer o meu melhor. É nessas situações 
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de confronto que você verdadeiramente aprende, quando está diante da 
dificuldade. Por isso, temos, sempre, que agradecer ao adversário, inde-
pendente do resultado ser a sua vitória ou derrota. É difícil agradecer 
quando se perde, mas, é um princípio importante. A derrota deixa lições 
valiosas: primeiro, você adquire a consciência de que não é invencível e, 
depois, você reage com motivação para avaliar os seus erros e se tornar 
melhor. Lembre-se que o adversário está vivendo o mesmo processo de 
aprendizagem que você, logo, merece o seu respeito. Além disso tudo, o 
praticante de karate precisa ser cortês. Muitos lutadores, quando vencem 
a luta, começam a pular de alegria; isso é uma falta de respeito com o 
adversário. O lutador deve ter serenidade na vitória.
O mestre Masutatsu Oyama costumava dizer que é preciso aprender a: 
primeiro, manter a cabeça baixa em sinal de humildade; segundo, olhar 
pra cima, pois, se você estiver atento a todos os movimentos do adversário 
vai conseguir alcançar sua meta, vencê-lo; terceiro, exercite a capacidade 
de escutar, mais do que falar, e, quarto, é preciso ter o coração generoso 
e respeitar o próximo. Esses quatro ensinamentos me marcaram muito: 
humildade, ambição, serenidade e generosidade com os outros. Existem 
princípios de vida presentes no karate que os praticantes conseguem enten-
der somente depois de um longo período de prática.
Shihan Isobe diz que o karate começa a fazer parte de você depois de 1000 
dias de treino, e que, somente é possível apreender a essência do karate 
depois de 30 anos de prática. Como tenho 33 anos de prática do karate, 
posso confirmar que os princípios aprendidos no dojo são válidos para a 
vida como um todo. O dojo é uma representação do nosso cotidiano, um 
espaço de exercício da sabedoria. Muitos procuram o karate para aprender 
a lutar, e conseguem aprender, mas, em conjunto com esse aprendizado, 
recebem muito mais. Aprendem a viver em harmonia, consigo mesmo e 
com os outros.
Tornar-se um praticante de karate significa, sem dúvida nenhuma, tornar-se 
um pouco japonês. Atualmente, não sei dizer se o meu jeito de ser e de 
pensar é algo moldado em mim pelo karate, ou se é algo da minha própria 
personalidade. O meu contato com a cultura japonesa fortaleceu algumas 
características pessoais, como a determinação e a disciplina. Creio, por-
tanto, que existe uma mistura; em parte a cultura japonesa me influenciou 
e, em outra parte, a minha escolha pelo karate tem uma relação direta com 
a minha personalidade e as coisas em que acredito.
O karate, a partir de sua difusão, sofreu um processo de globalização. Na 
medida em que os estrangeiros entendem e dominam a técnica, passam 
tanto a fazer parte do próprio karate, como também, a fazer com que o 
karate se pareça com eles. Depois de décadas de existência, o karate rece-
beu uma influência do ocidente. Existe uma preocupação em preservar as 
raízes do karate, mas, não há como evitar a criação de um novo karate, 
praticado por novas pessoas. Os japoneses entenderam que reconhecer o 
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karate como um esporte mundial é algo que o valoriza e fortalece, apesar 
de ser algo que foge do controle deles. Sendo assim, o surgimento de um 
campeão estrangeiro era uma questão iminente.
No início, a resistência era maior, agora, as portas estão abertas e os 
japoneses demonstram receptividade para conviver comestrangeiros que 
partilham dos valores que inspiram o karate. No meu caso em particular, a 
decisão de morar no Japão com certeza contribuiu para que as pessoas me 
conhecessem. Elas puderam verificar de perto a minha educação, o meu 
respeito pela tradição, e a minha dedicação ao karate. É compreensível 
que haja uma barreira em relação aos estrangeiros, pois, o campeão, tem 
uma responsabilidade enorme: ele deve honrar o título e agir como um 
modelo para os demais. Existe, portanto, um grande risco de alguém, que 
não é japonês, não entender esses princípios. Apesar de ser estrangeiro, 
posso dizer que passei por um processo de “naturalização” e, após algum 
tempo, de certa forma me tornei semelhante aos japoneses.
O campeão deve incentivar que todos os praticantes reconheçam e valo-
rizem o legado dos precursores. Se não fosse a herança dos mestres e 
das demais pessoas que participaram da minha formação, com certeza, 
não seria o que sou. Procuro transmitir aos meus alunos o respeito pelos 
ancestrais. Quando você entra no dojo, você deve cumprimentar o dojo, 
local onde você vai aprender; deve cumprimentar o mestre, pois, se ele não 
existisse, você não teria nada a aprender; deve cumprimentar o instrutor, 
pois, é ele quem vai te ensinar; deve cumprimentar seus colegas, pois, são 
eles que vão te ajudar a aprender. O aluno não é aluno se não tem um pro-
fessor e vice-versa. Um depende do outro. Um tem que respeitar o outro.
Atualmente, compreendo que, quando contamos a história, temos uma 
tendência para ampliar os fatos. Já ouvi relatos de que o Mestre Oyama 
lutou, sem interrupção, contra 300 lutadores! Isso, certamente, não é ver-
dade. Tive a oportunidade de ver esse tipo de exagero acontecendo com 
a minha própria história, ou seja, pessoas que atribuem a mim coisas 
que não fiz! As pessoas querem acreditar nessas histórias, e terminam 
exagerando ainda mais. O mais importante pra mim é seguir o exemplo 
do Mestre Oyama, que sempre procurou a verdade. Fico impressionado e 
considero como a sua principal façanha, o isolamento na montanha. Essa 
experiência deve proporcionar uma série de ensinamentos que resultam 
em força, serenidade e paz de espírito. Pensei em realizar algo semelhante, 
mas, para mim, parece algo praticamente impossível.
Dentre os diversos benefícios da prática regular do karate, o principal, na 
minha opinião, é o espírito de um guerreiro e a vontade de vencer, por-
que, com essas qualidades, você é capaz de combater e ser bem-sucedido 
diante de qualquer desafio. Você enfrenta e vence o estresse, a obesidade, 
a ansiedade. Ao longo da vida, sempre nos deparamos com situações 
difíceis, e temos que estar preparados para isso. Às vezes nos depara-
mos com barreiras que parecem intransponíveis, mas, a possibilidade da 
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vitória, está em dar o primeiro passo. O karate exercita essa capacidade 
de enfrentar as situações adversas e se esforçar para superá-las. Uma vez 
que você conquista pequenas vitórias, você ganha confiança, e isso lhe 
dá forças para encarar desafios maiores. A paciência exigida para realizar 
grandes conquistas, desenvolve em você a serenidade. Saber que, na vida, 
é preciso ter perseverança e acreditar em você mesmo. O karate te cobra 
isso, e você, tem que aprender a ser rigoroso com você mesmo.
Atualmente estou na presidência da Confederação Brasileira de Karate 
Kyokushin Oyama/CBKKO. Atuar na gestão do esporte ajuda a entender 
quais são as principais dificuldades para a organização do karate no Brasil. 
O crescimento do número de praticantes gera conflitos de interesses, logo, 
é acompanhado pela divisão do karate em diversos grupos. Creio que isso 
faz parte desse processo de crescimento, e que todos estão na luta por um 
propósito maior que os une: a evolução do karate. As associações ligadas 
à CBKKO enfrentam dificuldades comuns para crescer: a concorrência de 
outras modalidades e as complicações administrativas para se organizar 
uma academia. Muitos veem o karate somente pelo aspecto financeiro, 
como um negócio. É lógico que o instrutor precisa ter a sua fonte de renda 
para se sustentar, mas, esse não pode ser a razão principal nem o foco de 
inspiração para a criação de um dojo. O propósito de um verdadeiro mestre 
nas artes marciais deve ser engrandecer o praticante.
Para isso, precisamos ter instrutores que consigam transmitir esses valo-
res para a comunidade. O crescimento, portanto, está mais lento, mas, a 
evolução continua, mesmo que aos poucos. A CBKKO é responsável pela 
formação e pela certificação de novos instrutores. É um processo lento. 
A principal exigência, do ponto de vista técnico, é ser um faixa-preta. 
Porém, nem todos os que têm faixa-preta estão aptos para ministrar aulas. 
É preciso fazer uma avaliação da trajetória da pessoa como um todo. Nesse 
ponto, os critérios combinam o aspecto técnico com o moral. Apenas os 
que atendem a ambos os critérios receberão um alvará para atuar como 
instrutor. Esse processo deve ser feito com muita cautela. Cada instrutor 
deve ser considerado como adequado para ser uma espécie de “represen-
tante” do karate na sua comunidade.
Na CBKKO temos uma política que valoriza o contato direto com os 
instrutores. As pessoas que participam da entidade nutrem um respeito 
mútuo, e isso é algo que nos diferencia. Os cargos são definidos em fun-
ção da trajetória de vida dentro do karate. O respeito pelo Presidente da 
CBKKO não é algo definido pelo Estatuto da entidade, mas, algo que 
está ligado a própria trajetória de conquistas da pessoa dentro do karate. 
Sendo assim, todos que são autorizados a abrir uma academia, devem ter 
a responsabilidade de transmitir esse princípio adiante.
Nós zelamos de forma diligente por esse respeito. Somos uma organização 
pequena, comparado com outras entidades. Temos um número pequeno de 
academias, mas, todas são muito fortes e unidas pelo mesmo propósito: o 
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desenvolvimento do karate. Se, como Presidente da CBKKO, enviar uma 
convocação, que conclama todos a se reunirem, às 5 horas da manhã, em 
tal local, você pode ficar tranquilo, todos estarão, pontualmente, no local 
previsto, porque eles têm respeito. Outras organizações não têm isso. Não 
somos grandes, mas, temos um grande afeto e respeito entre nós.
A CBKKO aproxima o karate do esporte. Ao nos caracterizarmos como 
uma entidade esportiva, damos um respaldo jurídico para as academias, 
que passam a fazer parte da estrutura organizacional prevista pela legis-
lação brasileira para o esporte de uma maneira geral. No caso do karate, 
no entanto, a modalidade tem uma estrutura própria que é definida em 
função do mundo do karate. No futebol, por exemplo, é possível ter pes-
soas que estão na gestão da CBF, mas, que nunca foram jogadores nem 
treinadores. No karate isso não acontece, porque o karate é mais forte que 
a organização esportiva em si mesma. Tudo começa pelo karate e deve 
ser feito em torno do desenvolvimento do karate.
Estamos cientes de que o crescimento do karate depende das questões finan-
ceiras e políticas, logo, temos que conciliar todos esses aspectos. Mas, não 
tem como o presidente da CBKKO ser alguém que não tem conhecimento 
do karate. Creio que é muito importante ter uma assessoria que faça uma 
gestão profissional e auxilie a desenvolver o aspecto administrativo, mas, 
a liderança da entidade deve estar sob a responsabilidade de alguém que 
tenha experiência e que conheça profundamente a filosofia do karate. Na 
verdade, não vemos o karate como um esporte, e sim, como uma arte mar-
cial. Atualmente, porém, se o karate não se une ao esporte, corre o risco de 
morrer. Logo, temos que conciliar essas duas dimensões. É uma conciliação 
difícil e, como em toda relação, é preciso fazer concessões, porém, não 
podemos perder o vínculo comnossa essência que é ser uma arte marcial.
O caso da aproximação entre o Karate Kyokushin e o Comitê Olímpico 
Internacional/COI é um exemplo interessante dessa questão. Em um 
primeiro momento, surgiram divergências que impediram o ingresso do 
Karate Kyokushin como uma modalidade esportiva dos Jogos Olímpicos. 
As regras sugeridas para disciplinar a luta, como também, a necessidade 
do uso de equipamentos para proteção dos lutadores, foram consideradas 
como uma descaracterização da essência do Kyokushin como uma arte 
marcial de contato.
Atualmente, os dirigentes internacionais do Karate Kyokushin, em conjunto 
com representantes do karate no Japão, estão se reaproximando do COI 
para identificar o que é necessário para que o karate seja uma das modali-
dades que compõem as Olimpíadas. Provavelmente, o karate olímpico deve 
seguir as regras próprias de uma competição com a marcação de pontos. 
Muitos praticantes do Kyokushin são contra, porque isso descaracteriza 
a “luta de contato”, que prioriza o knockout. Substituir um combate real 
pela marcação de pontos é visto como uma regressão do karate, mas, em 
minha opinião, é uma forma de diversificação e, portanto, de crescimento.
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Cada vez mais temos pessoas com diferentes interesses se aproximando 
do karate. Algumas chegam na academia com a expectativa de emagrecer 
e ou de descontrair, após um dia árduo de trabalho. No caso dos Jogos 
Olímpicos, ocorre algo semelhante. O ponto de interesse que promove a 
aproximação não é idêntico à finalidade que inspira a arte marcial, mas, 
é o começo. Se a pessoa começa a praticar ao karate, aos poucos, com 
paciência, podemos mostrar para ela o que o karate é realmente. A verdade 
é que precisamos expandir, se ficarmos quietos e não aceitarmos as regras 
sugeridas por eles, seremos deixados de lado. Precisamos nos juntar ao 
movimento esportivo mundial, sem deixar que o karate se afaste da sua 
origem como arte marcial.
Os Jogos Olímpicos movimentam o mundo a cada 4 anos e precisamos 
fazer parte desse empreendimento. Quando pensamos em como isso dá 
visibilidade ao karate, entendo muito bem a posição favorável do nosso 
presidente internacional. Não devemos ter receio desse novo desafio. Com 
certeza temos atletas que seriam bem-sucedidos nas competições com 
essas regras. Tenho consciência que esse não é o foco do Kyokushin. 
Não temos que mudar nosso foco, nem pretendemos fazer o karate voltar 
ao passado. Mas, precisamos avançar, e reconhecer que podem coexistir 
inúmeras formas de se praticar karate. O fato é que, para crescer, preci-
samos entrar nos Jogos Olímpicos, mesmo que o karate olímpico seja 
uma modalidade de não-contato. É muito mais fácil um atleta do karate 
de contato ser bem-sucedido em uma luta de marcação do que o oposto, 
logo, não temos o que recear.
Em relação a rivalidade entre os diferentes estilos de karate, que no pas-
sado era algo muito acirrado, é preciso esclarecer que, depois que o karate 
de contato foi criado, há cerca de 50 anos, após um breve período de 
resistência ao diferente, outras modalidades criaram as suas versões para 
o “karate de contato”, ou seja, ao invés de se contrapor, apropriaram-se 
dessa proposta, até mesmo porque ela está presente na base do karate, 
logo, não deve ser vista como uma inovação, e sim, como a ênfase a uma 
das características do karate.
A despeito dos eventos de luta livre, que inicialmente eram organizados 
para possibilitar um confronto entre praticantes de diversas artes mar-
ciais, a proposta atual dos eventos de MMA “artes marciais mistas” deixa 
implícito que não faz sentido afirmar que uma determinada arte marcial 
é melhor do que as outras. Os lutadores são obrigados a treinar diversos 
estilos, pois, se não conhecem uma determinada arte marcial, estão vul-
neráveis às suas estratégias. O resultado das lutas indica que as vitórias 
são conquistadas por recursos provenientes de diferentes artes marciais.
Entre os mestres, pelo menos entre os grandes mestres, o princípio que 
os orienta é o respeito, logo, não faz sentido aumentar a rivalidade, seja 
entre praticantes de um mesmo estilo que divergem na organização da 
própria modalidade, ou, entre praticantes de estilos diferentes. Em alguns 
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momentos, como parte da disputa inerente ao esporte, todos se dedicam 
para ser os melhores, para alcançarem um lugar de destaque, mas, o desejo 
de vencer não deve dar margem a atitudes de desrespeito a outras modali-
dades. Toda arte marcial é boa. Todas as artes marciais possuem raízes em 
comum, logo, não faz sentido brigar entre si. É preciso deixar os interesses 
pessoais de lado. Como todos estamos juntos no mesmo sonho, é preciso 
que cada um esteja disposto a ajudar o outro.
A CBKKO organiza o calendário esportivo de forma a oferecer competi-
ções periódicas que estejam articuladas entre si. As disputas estaduais são 
consideradas como seletivas para as nacionais, e essas, por sua vez, para 
as internacionais. Sendo assim, anualmente as federações locais realizam 
os campeonatos estaduais que permitem selecionar representantes para o 
campeonato nacional, organizado pela CBKKO. Em ciclos de 2 anos são 
realizados os campeonatos sul-americanos. Atualmente também estou 
responsável pela organização sul-americana. Por fim, temos 2 campeo-
natos mundiais, o aberto e o por categorias, em ciclos de 4 anos, mas, 
intercalados entre si.
A relação entre a CBKKO e a entidade internacional, International Karate 
Oganization – Kyokushin, sediada no Japão, envolve uma subordina-
ção normativa, que se refere às regras, um intercâmbio de técnicas, e 
a confraternização social entre os praticantes de Kyokushin em todo o 
mundo. Não existe uma relação financeira, como o pagamento de taxas, 
por exemplo. O único pagamento que é realizado se refere à emissão do 
certificado de graduação, nos exames de mudança de faixa, que são todos 
emitidos pela sede. Eles enviam o certificado e a faixa; assim é realizado 
em todo o mundo.
Shihan Francisco Filho
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CAPÍTULO 2
OS PRATICANTES DE KARATE 
KYOKUSHIN: identidade Kyokushin
Alexandre Jackson Chan-Vianna5
Felipe Rodrigues da Costa6
Alexandre Rezende7
Apresentação
A ideia central do texto é analisar os significados da prática do Karate 
Kyokushin para seus praticantes. Nos esforçamos para descrever o que é o 
Karate Kyokushin a partir de como seus praticantes o reconhecem, sem nos 
esquecermos de que descrever uma prática é construir uma terceira versão 
dos fatos, pois o pesquisador interpreta a interpretação do ator social sobre a 
realidade vivida. Para tanto, adotamos Identidade como a chave explicativa 
do estudo.
Ao participar de uma rede de relacionamentos, uma comunidade tende 
a convergir as narrativas para um centro comum entre as pessoas. Assim, as 
pessoas passam a ser aceitas e a se reconhecerem como parte integrante de 
determinada instituição ou rede de pessoas. Alguns elementos são funda-
mentais para a construção coletiva desta identificação – o consenso sobre os 
fatos históricos que fundam a visão de mundo mais aceita; a versão e reflexão 
desses fatos pelas pessoas com mais notoriedade e/ou tempo de vivência com 
os demais; e as cerimônias e rituais do cotidiano seguidos por todos. Iremos 
descrever estes elementos ao longo do texto sempre com foco em desvendar 
como as pessoas se autoproclamam como praticantes da modalidade. Alcançar 
esse centro comum entre as pessoas, portanto, é descrever a interpretação, a 
teoria, que os próprios praticantes afirmam ser a razão de ser e de existirem 
como praticantes da modalidade.
Importante refletir que a autoidentidade é construída a partir da imposição 
de limites espaciais e simbólicos. Faz-se isso,inevitavelmente, afirmando 
5 Doutor em Educação Física. Membro do Núcleo do Esporte da UnB. Professor da Faculdade de Educação 
Física da UnB. Contato: chanvianna@unb.br
6 Doutor em Educação Física. Líder do Grupo de Pesquisa sobre Dupla Carreira Esportiva (FEF-UnB). Contato: 
frcosta@unb.br
7 Doutor em Ciências da Saúde. Membro do Núcleo do Esporte da UnB. Professor da Faculdade de Educação 
Física da UnB. Contato: rezende@unb.br
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quem e o que são os outros diferentes de nós. Analisar as identidades é com-
preender como indivíduos se reconhecem, ao reconhecerem os seus iguais e 
os diferentes de si e dos seus.
Nossa pergunta de partida foi: qual os significados da prática do karate 
Kyokushin Oyama para seus praticantes? No intuito de seguir essa questão, 
temos como objetivos da presente obra descrever e analisar a prática do Karate 
Kyokushin brasileiro e analisar os significados da prática para os praticantes 
veteranos do Karate Kyokushin brasileiro.
O desenho metodológico do trabalho apresentou diversas fontes de coleta 
de dados. Observações Participantes nos treinamentos e em eventos foram 
realizadas pelos autores do trabalho para descrever e contextualizar as práticas 
e a organização da modalidade. Entrevistas e grupo focais com praticantes 
adultos, veteranos, de ambos os sexos, que participaram de eventos nacionais 
e internacionais em 2015 captaram as narrativas identitárias desses pratican-
tes, entendendo que são os que assimilam um discurso do coletivo ao mesmo 
tempo que são as vozes legitimadas de transmissão dos valores da prática. 
Entrevistas com líderes e ícones mundiais da modalidade serviram como com-
paração das narrativas dos demais sujeitos estudados, de modo a compreender 
como as teorias nativas vão se espraiando. A análise historiográfica da origem 
da modalidade no Brasil e no Mundo, registradas de forma detalhada no capí-
tulo 1 deste livro, foram consideradas como base para compreender as raízes 
que suportam as narrativas coletadas dos praticantes estudados.
Os dados foram organizados seguindo a lógica da Teoria Fundamentada 
(CHARMAZ, 2006). A Análise e interpretação dos dados nesse processo pre-
tende construir uma teoria original baseada nos dados coletados com os pró-
prios atores de uma dada prática para explicar e entender ações e fenômenos do 
contexto social em estudo e não em testar uma teoria preexistente ao trabalho. 
Os dados do estudo de campo foram organizados em quatro categorias que 
descrevem a teoria nativa de acordo com os próprios conceitos considerados 
importantes para os praticantes. Utilizando a técnica de codificação dos dados, 
foi realizada a análise e interpretação que serão apresentadas a seguir.
Em um segundo momento os dados já categorizados foram, então, ana-
lisados tendo como chave explicativa o conceito de identidade social e con-
textualizados nas características da sociedade moderno-contemporânea. Para 
a boa compreensão do texto, apresentaremos a teoria analítica primeiramente 
para depois descrever a teoria nativa organizada nas categorias de maior 
relevância para os atores sociais participantes.
Identidades, esporte e a vida contemporânea
Para as pessoas que participaram de diferentes ambientes multi-esportivos 
é notório observar que nos identificamos e somos identificados pelo esporte 
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que praticamos e o grupo com o qual somos reconhecidos. Identificamos par-
ticularidades de comportamento e estilos diferentes vinculados a cada grupo 
esportivo. Nós tipificamos (BERGER; LUCKMAN, 2004) cada sujeito pelo 
lugar/esporte que frequenta/pratica. Não se trata, no entanto, de um olhar só 
para o outro. Para o sujeito que pratica uma modalidade apaixonadamente, as 
características particulares do seu esporte também passam a ser, muitas vezes, 
utilizadas como idealizações de atitudes e valores para si, o que se estende 
para outros segmentos da vida. Nesses casos, o esporte se transforma em 
estilo de vida, eventualmente, em uma espécie de doutrina. Como veremos, 
a “identidade pessoal está interligada com a identidade do grupo, que por sua 
vez repousa num passado histórico” (STRAUSS, 1999 p. 170).
Strauss (1999), analisando o modo pelo qual as pessoas estão implica-
das umas às outras e se afetando mutuamente, afirma que a identidade é um 
conceito esquivo, mas que
está associada às avaliações decisivas feitas de nós mesmos – por nós mes-
mos ou pelos outros. Toda pessoa se apresenta aos outros e a si mesma, e 
se vê nos espelhos dos julgamentos que eles fazem dela. As máscaras que 
ela exibe, então e depois, ao mundo e a seus habitantes, são moldadas de 
acordo com o que ela consegue antecipar desses julgamentos. Os outros 
se apresentam também; usam as suas próprias marcas de máscaras e, por 
sua vez, são avaliados (p. 29).
Visto dessa forma, o conceito de identidade está intimamente associado 
ao contato com os outros. Nos termos de Strauss (1999), é disso que se trata 
a interação – um jogo de “espelhos” e “máscaras”, em que cada pessoa, se 
apresenta ao(s) outro(s) numa “trama fantasticamente complexa de ação e 
contra-ação” (p. 75).
Para descrever esse fenômeno da interação, Goffmam (1975) se utiliza 
da metáfora do teatro. Toma como partida que os indivíduos em interação 
estão sempre em um dado cenário – uma configuração específica de local 
e tempo que indica expectativa de valores, modos e comportamentos mais 
adequados a serem adotados pelos indivíduos ali inseridos. Assim, um dado 
indivíduo para tomar uma ação se encontra sempre num cenário específico 
e, como ator, encena para outro, que da mesma forma se apresenta para ele e 
ambos para a plateia – os outros indivíduos presentes – que os assiste. Todos 
os envolvidos avaliam o cenário, os atores, a plateia para identificar como 
cada um dos indivíduos com quem interage pode reagir a cada ato que se 
pense executar. Da mesma forma, cada um deles sabe que, da mesma forma, 
está sendo avaliado pelos outros. Cada ator em cena, então, se apresenta de 
acordo com o que pensa que o outro está pensando dele. Essas avaliações em 
perspectiva têm por base o que a experiência pessoal e a estrutura mais ampla 
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informam ao indivíduo do que pode acontecer em seguida, mesmo diante de 
um cenário desconhecido e novo.
Como estamos implicados uns aos outros, procuramos identificações para 
afirmar quem somos em situações que precisamos nos diferenciar. Segundo 
Elias e Scotson (2000), atores sociais de grupos interligados podem narrar essas 
identificações, por vezes, nas diferenças de aparência física ou personalidade 
dos indivíduos em questão, como também, pela posição social que ocupam 
num dado contexto. Entretanto, é a contestação da assimetria de poder que 
mobiliza o discurso identitário e efetiva uma dinâmica na interação dos grupos. 
Assim, identidades se relacionam e se encontram em uma escala hierárquica, 
de modo que quem tem mais poder – os estabelecidos – tem maiores e melho-
res condições de impor tanto a própria identidade individual e coletiva, como 
a dos intrusos – outsiders –, quando adentram no espaço dos estabelecidos.
As interações que constituem e são constituídas pelas identidades em 
jogo tomam uma dimensão decisiva nas relações sociais de hoje. Giddens 
(1991, 2002) e Hall (2005) definem os tempos atuais como alta moderni-
dade, ou modernidade tardia. Esse período que representa os últimos 50 
anos traz mudanças profundas na sociedade. A modernidade “refere-se ao 
estilo, costume de vida ou organização social que emergiu na Europa a partir 
do Século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais 
em sua influência” (GIDDENS, 1991, p. 11). Esse período representa uma 
descontinuidadeentre as ordens sociais tradicionais e as instituições sociais 
modernas. A tradição, por sua vez, modo de vida social que caracterizou a 
vida pré-moderna, é explicada por Giddens como
um modo de integrar a monitoração da ação com a organização tempo-
-espacial da comunidade. Ela é uma maneira de lidar com o tempo e o 
espaço, que insere qualquer atividade ou experiência particular dentro 
da continuidade do passado, presente e futuro, sendo estes por sua vez 
estruturados por práticas sociais recorrentes (1991, p. 31).
Hall (2005) e Giddens (1992, 2002) interpretam então que, como conse-
quências da modernidade, surgem novas identidades culturais que provocam 
mudanças que repercutem sobre a subjetividade e intimidade dos sujeitos. 
Giddens aponta que a globalização promove a ampliação do tempo-espaço na 
vida local, provocando um desencaixe das instituições sociais tradicionais. O 
projeto da modernidade que era de superar os dogmas da tradição, no entanto, 
muito distante de conseguir elucidar uma verdade única, produziu diversidade 
e consequentemente incertezas. A garantia de estabilidade baseada em uma 
moral tradicional dissolveu-se e as múltiplas possibilidades de escolha fizeram 
com que as identidades do sujeito se tornassem fluidas e dependentes de uma 
reorganização constante do indivíduo. O “estilo de vida” construído por meio 
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da “auto-identidade como projeto reflexivo do eu” (GIDDENS, 2002), passa 
a ser fundamental para se construir uma narrativa coerente que dê sentido à 
existência de cada um.
Ao contrário da modernidade, Giddens (1995) aponta que a ordem social 
construída na tradição valoriza a transmissão oral e os símbolos do passado 
para vincular a experiência das gerações. A tradição, para Giddens, é “um meio 
organizador da memória coletiva” (p. 82). Assim, a tradição opera construindo 
costumes locais que se tornam hábitos, estes são reforçados pelos rituais que 
tem como função garantir a familiaridade, ou seja, formar um ambiente seguro 
em uma comunidade pela homogeneização de todas as pessoas.
Simmel (2005), já no início do Século XX, apresentava as transformações 
que ocorriam no modo de vida dos indivíduos em razão da complexidade 
da vida urbana. Um dos aspectos fundamentais levantados pelo autor, em 
decorrência das rápidas mudanças e do grande e heterogêneo número de inte-
rações sociais nas grandes metrópoles, inverso ao modo de vida tradicional, 
é a “atitude blasé” como condição necessária para sobrevivência e proteção 
do indivíduo. Atitude que não se trata de uma indiferença ou frieza da alma 
em relação aos outros, mas uma forma de reserva, que precisamente garante 
ao indivíduo uma espécie de liberdade pessoal, ao estabelecer suas fronteiras 
de segurança na cidade. Wirth (1967) ainda nos lembra que os agregados 
gigantescos de pessoas aglomeradas, que são as cidades, são formados através 
do tempo pelo êxodo do campo e não de forma instantânea, o que sustenta 
as influências históricas de continuidade do tipo de personalidade rural em 
combinações variadas com o modo de vida urbano.
A tradição e a modernidade, como modos de vida social característicos 
de diferentes épocas, estão presentes na atualidade, ora se completando, ora 
entrando em desajustes. As pessoas vivem cada situação de acordo com a 
percepção mais moderna ou mais tradicional para classificar os fatos a sua 
frente, de acordo com as trajetórias que constituíram a interpretação de cada 
um. Giddens (1995, 2002), no entanto, afirma que as transformações dos 
processos da modernidade afetam questões íntimas e existenciais aos quais 
ninguém está imune.
Assim, a “segurança ontológica”, estabelecida pelo referencial protetor 
da tradição, tem que ser substituída por um projeto reflexivo de construção 
da identidade, que atinge até o nível existencial do questionar-se “quem sou 
eu?”. Ao necessitar exercer o poder de sua individualidade – autenticidade 
que depende de uma remoralização das normas tradicionais –, visto que a 
modernidade tornou todos os conceitos e valores fluidos, as pessoas procura-
riam agrupar-se em torno de identidades comuns, diferentes do pertencimento 
de classe social, que possibilitam o exercício desta política emancipatória e 
celebram o encontro em torno de práticas sociais que as aproximam.
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Sendo assim, para verificar os valores presentes na prática do Karate 
Kyokushin, em comparação com a afirmação de Giddens, será preciso analisar 
como os praticantes interpretam a prática para torná-la parte significativa no 
cotidiano de suas vidas.
Fundamentos da narrativa Kyokushin
Os resultados foram divididos em dois momentos. O primeiro, reúne uma 
síntese da história do Kyokushin desde a origem até a organização dos dias 
atuais, apresentada no capítulo 1, a descrição da rotina dos praticantes nos 
treinos, apresentada no capítulo 3, e as atividades que compõem os encontros 
nacionais, apresentada no capítulo 6. No segundo momento, neste capítulo, 
apresentamos a análise das narrativas dos praticantes veteranos apontando 
os tópicos que descrevem os significados desta prática para seus praticantes.
A análise das narrativas produzidas a partir dos grupos focais, entrevis-
tas de elite e observações participantes descreveram as visões de mundo dos 
praticantes veteranos de Kyokushin. Importante marcar que no decorrer das 
argumentações os praticantes apontavam com quem comparavam sua prática 
de vida esportiva. Primeiramente, eram as demais modalidades de luta e até 
outros esportes que apareciam simbolizando o outro relacional do Kyokushin. 
Adiante, quando descrevem o caráter filosófico e de formação humana das 
artes marciais, a comparação se dava para fora do ambiente esportivo, nota-
damente as relações sociais que envolviam moralidades e formas de conduta 
questionáveis no cotidiano. Assim, os praticantes apontavam a distinção do 
Kyokushin tanto no campo esportivo quanto no de valores morais para marcar 
a identidade da prática que realizavam.
Os praticantes que participaram das entrevistas foram sempre muito 
cuidadosos, até respeitosos, com as outras modalidades esportivas, mesmo 
quando se tratava da concorrência com as outras lutas. Foi nítida a intenção de 
distinguir as características do Kyokushin das outras modalidades e evidente 
que a comparação quando ocorreu se remeteu a exaltar os resultados práticos 
do treinamento do Kyokushin. Em relação aos outros estilos de karate os 
praticantes se apresentaram como mais modernos e avançados, uma espécie 
de respeito às tradições combinado com os avanços presentes na modalidade; 
em relação às outras lutas, apresentaram-se como mais efetivos nos resultados 
e respeitados por isso; em relação as outros esportes, apresentaram-se como 
sendo mais do que esporte, uma filosofia de vida. Assim, nenhuma das moda-
lidades citadas apareceu como marcadamente um outro relacional recorrente 
para os praticantes veteranos, mas, como exemplos genéricos que reforçavam 
as diferenças existentes entre o Kyokushin e todas as outras práticas esportivas.
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O Kyokushin se difere [dos] outros estilos de karate [que] são os tradicio-
nais. Eles [os outros estilos de karate] têm os movimentos calculados [ao 
inferir sobre a luta mais tática que realiza o Kyokushin em saber como 
atingir cada adversário]
Eu queria acrescentar... [...] não é qualquer karate. O Kyokushin é muito 
respeitado no Japão, no Mundo, em qualquer lugar. Então quando falam 
“Kyokushin”, nossa! É forte né? Um karate de contato. Então não é um 
simples karate. A gente respeita todos os tipos de karate. Há vários. Mas 
o Kyokushin é o karate verdade. É respeitado mesmo.
O Shihan Chico (FranciscoFilho) foi convidado pra treinar o [expoente 
de outra modalidade de luta com maior visibilidade de mídia que o 
Kyokushin], porque o Kyokushin é muito forte. Então ele foi passar a 
técnica do Kyokushin para aquele atleta porque ele é reconhecido como 
um estilo muito forte. Os outros estilos... cada um tem a sua caracterís-
tica né? Mas todos os outros estilos, quando tem algum contato tem uma 
proteção, tem vários artifícios. E o Kyokushin não. Então já começa por 
aí. O cara tem que ser forte pra aguentar e pra bater.
Eu acho que outros esportes não têm o que a gente tem, a filosofia que o 
nosso maior inimigo não é o outro: somos nós. Desculpa, mas eu vou citar. 
Eu acho que no [exemplo de esporte coletivo] falta muito aos atletas se 
darem conta que na maioria das vezes que eles perdem não a outra equipe 
[vence], foram eles! Eu tenho certeza, condição plena. E eu já lutei contra 
atletas maravilhosas, e eu sei que as vezes que eu perdi, foi pra mim, não 
foi pra [outras atletas].
Para além da narrativa relacional, neste processo de se identificar foi 
possível organizar os dados em quatro categorias mais recorrentes. Estas 
foram intituladas Entrada e permanência; Treino e resultados; Hierarquia e 
veneração; Moral e valores cotidianos. As quatro categorias foram organizadas 
analiticamente para descrever o modo coletivo como os praticantes tentaram 
construir explicações para o questionamento principal da pesquisa que era 
compreender qual o significado do Kyokushin na vida dos praticantes.
Entrada e Permanência
Chan-Vianna (2010) sugere um processo ritual ou “carreira” pela qual os 
praticantes de esportes passam para se estabelecer na prática escolhida. Este 
processo foi definido em quatro etapas sendo iniciada pela (1) tentação, quando 
o praticante se mostra suficientemente motivado a agir em uma investida na 
prática escolhida; segue na etapa de (2) perseverança, quando precisa superar 
desafios impostos pela nova prática e pelos praticantes veteranos que detém o 
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poder simbólico sobre as rotinas da prática; depois a (3) permanência, quando 
o praticante reconhece e sabe lidar com tais códigos socializados e exigidos 
pelos veteranos da prática, tornando-se aceito como um desses; e a (4) dis-
persão que é quando o praticante esgota seu interesse ou se torna impedido 
de permanecer na rede de interações que sustenta a prática.
A tentação em participar do Kyokushin nasce da sinergia da pessoa 
com o dinamismo e as situações reais de combate, essenciais nas lutas. Nas 
histórias de vida captadas foi mais recorrente, no caso dos homens, o início 
da prática na infância por gostarem de lutar ou os pais procurarem por essas 
atividades para conter o agito ou agressividade excessiva do filho. No caso 
das mulheres, o início ocorria na adolescência ou juventude e era recorrente a 
explicação da procura por uma atividade física para saúde que fosse diferente 
das práticas femininas convencionais das academias voltadas para estética. 
Em ambos os casos a escolha entre as lutas e artes marciais conhecidas se 
dava por circunstâncias de oportunidade, como uma academia perto de casa 
ou o oferecimento da atividade na escola. 
Com menos recorrência, mas ainda de forma significativa, aparece como 
motivação para iniciar a prática, a influência exercida pelos pais que prati-
cavam alguma modalidade de luta. Nesses casos, a prática dos pais passa a 
ser a porta de entrada no universo das lutas, seja o Kyokushin ou alguma 
outra. Em poucos casos a escolha inicial acontecia por se ter conhecimento 
das particularidades nas quais os veteranos identificam que o Kyokushin se 
diferencia das outras práticas de combate e dos demais esportes.
Na carreira daqueles que migraram de outras lutas para o Kyokushin é 
recorrente a narrativa de que, na sua trajetória singular, em algum momento 
especial, ocorreu o encontro com o Kyokushin, o que possibilitou, na maioria 
das vezes, a descoberta de um estilo marcado pela intensidade e veracidade, 
presente na prática da arte marcial nos treinos e competições esportivas. Tal 
descoberta se dava por meio das mídias eletrônicas, por assistir ou participar 
de eventos de lutas mistas, ou por saber sobre a trajetória de grandes campeões 
que praticavam Kyokushin como estilo principal de treinamento. Alguns rela-
tos destacam, ainda, a combinação do acaso com a curiosidade de expandir 
seus conhecimentos no universo das lutas.
Eu morava em [...], eu era um adolescente assim, bem agitado, inquieto, 
então eu procurava uma distração... Acho que talvez meu pai e minha mãe 
tenham indicado uma arte marcial. Lá perto [de casa] tinha uma academia e 
daí eu comecei a fazer. Fiz um ano e meio de [outra arte marcial] e eu ainda 
tinha muita coisa pra extravasar, aí eu andando pela [bairro da mesma cidade 
que morava], aí eu olhei assim e ouvi um grito, né? Lá de cima do prédio, 
que despertou minha curiosidade. Um dia eu falei assim – eu vou subir lá 
pra ver como é que é. Aí subi a escadaria e comecei assistir o treino e disse 
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– nossa! É isso aqui o que estava procurando. Eu tinha uns 17 anos, daí me 
matriculei e me envolvi com aquilo de uma tal forma que dura até hoje.
Desde pequeno eu brincava de [outras lutas] ... Alguma iniciação eu já 
tinha, comecei na época do colégio. Então, no [Ensino Médio] eu comecei 
a praticar o Kyokushin. Fui lá, conheci, gostei e procurei um próximo de 
casa. Treinei um ano e parei [informa que logo depois teve que se mudar 
para estudar e parou de praticar]. Terminando a faculdade procurei aca-
demias que se adaptassem com os meus horários de trabalho.
Fica evidente nos relatos que é a partir do ponto de suas trajetórias em 
que conhecem as particularidades do Kyokushin que os praticantes tomam 
uma importante decisão. Não mais procurar por uma prática de melhor con-
veniência na sua rotina diária, mas, organizar sua rotina diária para a prática 
que melhor lhes convém.
Em relação a perseverança na prática não existe uma resposta recor-
rente nas “camadas argumentativas” (CHAN-VIANNA, 2010) mais super-
ficiais. Diferentes praticantes apontam diferentes motivos para se manterem 
regularmente na atividade, tais como: o aperfeiçoamento das habilidades, o 
condicionamento para competir em alto nível ou em nível de representação 
da academia que pertencem, o bem-estar físico e mental, a reabilitação de 
problemas de saúde, a sociabilidade, dentre outros. Esses motivos se enqua-
dram no perfil de idade, tempo de prática e nível de desempenho de cada 
praticante. Entretanto, na proximidade com os praticantes aparecem as argu-
mentações mais profundas que apontam um motivo comum da permanência. 
O Kyokushin é apresentado como uma instituição presente e importante na 
vida dos praticantes para além da atividade física e seus objetivos funcionais.
Mas, eu acho também que é a identificação. As vezes tá dentro da pes-
soa, mas, ela ainda não conheceu. E depois que ela conhece sente prazer, 
sente amor, sente vontade daquilo que ela conheceu ali, e ali ela começa 
a crescer, a desenvolver coisas que já estavam dentro dela e que aquilo ali 
estava ajudando a desenvolver e ali [nessa hora] ela segue, né? É como se 
fosse um casamento mesmo, né? É você conhecer, você gostar, você amar, 
e falar assim... não que as outras artes marciais eu não queira conhecer ou 
já não vi... mas naquilo do fato de você conhecer o KYOKUSHIN, você 
olhar, você se identificar, você falar “eu quero ser fiel a isso aqui”... me dá 
prazer, é o que eu gosto de fazer... e eu acho que é questão de conhecer... 
você apresentar... pode ser que algumas [pessoas] não se identifiquem, mas 
quem tiver essa identificação com certeza não vai conseguir largar mais.
Mas aí tem uma coisa... quando o bichinho te morde, eu costumo dizer. 
Eu tô desde[22 anos atrás], no karate. E eu não estou esse tempo todo 
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treinando direto. Eu parei, me mudei, voltei, fui, vim, não sei o que... E 
eu costumo dizer assim: eu até posso sair do karate, mas o karate não 
sai de mim. É uma coisa que, no meu caso, não fica dentro da academia.
Os relatos apontam, como descreve Chan-Vianna (2010), que a perma-
nência em um esporte ocorre não pelo tempo de dedicação, mas pela incorpo-
ração dos códigos socializados em determinada prática. O que os praticantes 
de Kyokushin narram inicialmente como “amor”, “um casamento” e “o gosto 
de praticar” nas camadas argumentativas mais profundas vai se traduzindo 
em identificação com os símbolos e condutas dos praticantes veteranos. A 
prática do Kyokushin, como veremos, se recobre de uma referência para a 
organização da vida cotidiana dos seus praticantes, contemplando um espaço 
de sociabilidade, espiritualidade, educação e filosofia de cada praticante que 
se reconhece como pertencente a uma unidade comunitária com os outros 
praticantes do Kyokushin até em nível global.
Interessante notar ainda como se efetiva a etapa de dispersão da car-
reira dos praticantes de Kyokushin na visão dos veteranos. Em um primeiro 
momento todos são unânimes em defender o caráter democrático da prática 
em suas academias e de modo geral na modalidade. Por vezes é utilizado o 
argumento de que a modalidade está aberta para todos e, de fato, nas acade-
mias e eventos nacionais observados foi constatado a participação de crianças, 
jovens e adultos, de homens e mulheres, de praticantes de diversos níveis de 
desempenho esportivo e de diferentes níveis de escolaridade ou pertencimento 
a estratos sociais. Entretanto, ao serem questionados sobre o que motivava 
a desistência das pessoas nas academias, os veteranos afirmavam ser uma 
incompetência individual em sobreviver ao nível de exigência da prática.
Se você pega quem começa e quem vai até uma faixa preta! É muita gente 
que para. Já diz um Sensei nosso. Fica quem aguenta. Se não aguenta sai. 
O karate não vai mudar. Porque tem gente que não consegue aceitar que, 
os seus limites, quem está colocando é você mesmo. Tem gente que não 
consegue ir ao limite e entender o que pode fazer. Porque eu já ouvi [indi-
cando que aceitou regra dos mais graduados]: para de reclamar, para de 
chorar, vai lá e faz. Faz! E não é o limite físico. É o limite físico também 
e tem o limite psicológico.
Eu acho que é uma questão de ego. Quem tem um ego alto, uma auto-pie-
dade demais, não fica. Porque uma hora você vai largar isso [...] pobre de 
mim, e essa coisa toda. E tem gente que não aguenta mesmo. Não aguenta 
a pressão, de vai lá e faz, fecha a boca e para de falar [...]
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O Kyokushin nos leva ao limite, do limite, do limite da sua cabeça, do 
seu físico. Você acha que vai morrer, que não aguenta mais, quer desistir 
[...] porque que eu tô nessa porcaria? Eu estou sofrendo [dramatizando]... 
só que aí, quando chega nesse ponto existem duas escolhas que você 
vai tomar: ou continua ou desiste. E aí se continua, começa a colher os 
frutos. Por quê? Vamos dar um exemplo prático. Num treino eu cheguei 
nesse ponto. Num outro treino eu cheguei nesse ponto [mais elevado] e 
vou avançando. E não só na questão física. Mas na questão psicológica. 
A cabeça acha que você não consegue.
Nitidamente ocorre um processo seletivo na carreira dos praticantes. Se 
a entrada de todos sem distinções é valorizada e proclamada, parece ocorrer 
um mecanismo cotidiano interno que vai colocando continuamente à prova 
cada novato a permanecer praticando. Para além das avaliações formais de 
progressão de faixas, os praticantes encontram um desafio físico e mental 
cotidiano que, se não for superado, coloca o novato na condição ímpar de 
se auto-excluir. Se a entrada e recepção do novato foi cercada de zelo pelos 
veteranos interessados no crescimento de sua academia, a perseverança é uma 
distinção que cada um deve solucionar por si mesmo.
As falas dos veteranos não apontam para existência de ações dos mais 
antigos para interferir nesse processo de superação dos novatos. Se não apa-
recem exemplos de atitudes de provações ou provocações imputados aos 
iniciantes, também não informam apoiá-los em momentos que precisam se 
superar nos treinos. Com isso, cada desistência reforça a narrativa dos vete-
ranos sobre o princípio chave: a persistência, a despeito do sofrimento. Esse 
princípio está conectado com as demais experiências de vida do praticante e 
o tornam resignado para enfrentar qualquer dificuldade que apareça. Quem 
faz parte do Kyokushin se distingue por ser forte, e essa força provém da 
capacidade física e moral de suportar os sacrifícios dos treinos e enfrentar 
seus próprios limites no combate com outro praticante que está no mesmo 
caminho, na mesma busca.
Quando questionados sobre a capacidade do Kyokushin construir tal 
capacidade de superação e resistência física e moral às exigências dos treinos, 
as vozes apresentam rara dissonância. Por um lado, existe a afirmação de que 
a própria prática fortalece essas competências, transformando o caráter de uma 
pessoa. Por outro, existem afirmações que expressam que a prática é seletiva 
exatamente nesse ponto, quando por exemplo inferem que “no Kyokushin você 
acha o seu melhor. É isso... Cada um resgata o seu valor, né?” O que aponta 
para compreensão de que, quem não tem como resgatar tais comportamentos 
dentro de si mesmo, não se enquadra entre os que conseguem permanecer.
Em síntese, considerando as quatro etapas de uma carreira no esporte 
sugeridas por Chan-Vianna (2010), para permanecer na prática do Kyokushin 
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foi observado que o praticante percorre uma trajetória que parte do interesse 
genérico pelas lutas para a identificação com o Kyokushin. Nessa trajetória 
o sujeito vai se apropriando do ethos da prática e se tornando um adepto 
exclusivo ao adentrar no universo simbólico da modalidade.
Em outras palavras, se considerarmos os termos de Lovisolo (1995) para 
explicar os motivos que levam o indivíduo a aderir a uma atividade, podemos 
sugerir que o praticante de Kyokushin inicia a sua adesão tomando por base a 
“utilidade”, por exemplo, os benefícios das atividades para a saúde funcional 
ou a vantagem de dominar uma técnica de defesa pessoal, para, posterior-
mente, construir sua escolha exclusiva do Kyokushin por uma questão de 
“gosto”. A seguir demonstraremos nas outras categorias de análise como esse 
“gosto”, que está pautado em vivenciar um ambiente acolhedor e prazeroso, 
vai se transformando em “normas” para favorecer o que Chan-Vianna cha-
mou de “permanecer praticante”, o que se dá pela implicação em condutas 
e atitudes específicas, típicas dessa prática, que devem ser reproduzidas em 
suas vidas cotidianas.
Treino e Resultados
A categoria Treino e Resultados aparece porque os praticantes veteranos 
colocaram a prática na centralidade de toda a teoria nativa acerca do que seja 
o cotidiano e os significados do Kyokushin. Em especial aparecem o Kihon 
(treino das técnicas) e a resistência física com calejamentos como dois ele-
mentos fundamentais para explicar a identificação dos praticantes em distinção 
a outras práticas esportivas.
O Kihon é o treinamento das técnicas, dos movimentos específicos da 
luta. Na rotina de treinamento, o Kihon é a primeira etapa das atividades 
físicas e segue uma sequência fixa de movimentos. Cada movimento é repe-
tido inúmeras vezes em cada treino, e a sequência, como um todo, se repete 
indefinidamente, treino após treino, para todos os praticantes, independente 
do nível de graduação. Para quem não tem familiaridade com a perspectiva 
oriental, que entendeos movimentos corporais a partir da dialética entre 
forma e conteúdo, parece que não há variação entre os praticantes ou entre 
os movimentos de um mesmo praticante, o que sugere uma despreocupação 
com a individualidade.
A repetição, no entanto, é um ponto chave para o desenvolvimento 
da maestria, desde que o movimento seja realizado de forma consciente e 
intencional. No início, o praticante pode estar concentrado apenas na forma 
(aspecto externo), mas, ao longo do tempo e com a repetição, vai absor-
vendo, progressivamente, o conteúdo (aspecto interno), e aprimorando não 
os movimentos, mas, a si mesmo, pois, cada novo movimento executado, 
amplia o seu potencial. Portanto, quem está se modificando, nesse processo, 
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é o próprio praticante, a ponto de não ser mais possível falar em repetição, 
porque, quem realiza um novo movimento, não é mais a mesma pessoa, e 
sim, alguém que se encontra em um nível superior a partir do que aprendeu 
com o último movimento realizado.
De acordo com essa perspectiva, quantidade e qualidade são elementos 
dialéticos que fazem parte de um mesmo processo, não como dois elementos 
que se complementam, mas, como um mesmo e único elemento cuja existên-
cia concreta se dá por meio da contradição entre esses polos. Logo, na lógica 
oriental, não há como alcançar a maestria apenas pela qualidade, porque ela 
é indissociável da quantidade.
É em função disso que todos devem participar do kihon, pois, as contri-
buições advindas do treinamento são individualizadas. No kihon, a relevância 
não está no movimento em si mesmo, e sim, na pessoa que realiza o movi-
mento e no que ela pode aprender a partir dessa nova experiência.
A aparente sincronia esconde pequenas, mas, significativas, diferenças 
de intensidade e precisão. Quando a turma é composta de praticantes com 
diversidade de condições em termos de idade, sexo ou tempo de treinamento, 
o professor pode fazer pequenos ajustes no ritmo de execução de forma a 
contemplar a todos, além de transmitir dois valores importantes: a unidade, 
pois, todos os praticantes participam ao mesmo tempo das atividades, e, a 
humildade, pois, todos tem algo a aprender com aquela atividade.
Um exemplo claro, que ajuda a perceber a diferença existente entre os 
movimentos de cada praticante, são as competições de kata, assim como, as 
competições de outras modalidades esportivas descritas como de exibição. Às 
vezes, mesmo sem um conhecimento específico da modalidade e sem um olhar 
treinado para fazer a análise do desempenho, somos capazes de comparar e 
perceber a diferença entre o rendimento apresentado pelos atletas. Em outros 
casos, precisamos do comentário de um árbitro esportivo ou de um treinador 
experiente para identificar as diferenças que fazem com que um atleta tenha 
uma nota superior ao outro em um kata, na Ginástica Artística, no Nado Sin-
cronizado ou nos Saltos Ornamentais, por exemplo.
O modelo técnico preconizado pelo kihon é definido em função da inten-
ção marcial dos movimentos, como um golpe de ataque ou uma esquiva de 
defesa. Os limites anatômicos, de ângulos e de alcance dos movimentos, 
devem ser ajustados ao biótipo e à habilidade de cada praticante, de forma 
que, um movimento curto, pode significar um golpe de ataque sem potência, 
enquanto um movimento longo, expõe o praticante a um contragolpe, pois 
diminui a eficiência de uma esquiva de defesa. Com o treino continuado dos 
golpes em sequência e das repetições até a exaustão física, o praticante deve 
aperfeiçoar a técnica e melhorar a forma física. Assim, o Kihon se caracteriza 
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como um treino não apenas de movimentos, mas, da resistência física e mental 
para o combate.
É o alicerce da casa, né? Se não tiver um alicerce sólido... o Kyokushin 
construiu a história dele, eu acredito que, com um alicerce... nenhuma arte 
marcial faz isso. Então se você tem um bom alicerce, sua casa sobe e não 
cai mais. E o kihon seria pra gente o nosso alicerce.
Eu acho que os alunos hoje em dia, a maioria, não gostam de fazer o 
kihon. Por que essa não seja talvez a parte mais prazerosa do Kyokushin. 
Mas com certeza ela é a parte mais necessária. Então por as vezes ser 
muito repetitivo, e ter uma quantidade muito grande de golpes, se torna 
cansativo, não é muito prazerosa e a pessoa fica “esse não é o que eu gosto 
mais”. Mas todos os atletas que gostam de lutar, que querem crescer no 
Kyokushin, todos têm a plena consciência de que sem o kihon é impos-
sível. Essa parte é toda a base, é a parte mais necessária. Sem essa parte 
não existe um lutador, não existe um atleta bom no kata, não tem como 
desenvolver essas partes sem o kihon.
É como numa criança. Uma criança não nasce andando, correndo. Ela 
nasce, depois vai sentar, depois vai engatinhar, depois ela vai andar e 
depois ela vai correr. E o kihon é o comecinho. Se você pular essa parte 
[fazendo gesto de insuficiência]... os grandes atletas aí são grandes técnicos 
[porque] eles fazem o kata perfeito, o kihon perfeito. [...] Eu acredito que 
é muito difícil você pular toda essa etapa e [dizer] eu vou lutar.
O que eles ensinam pra todos nós é a base... kihon, ido gueiko, kata... e 
aí dentro da luta a gente tem que também ter o nosso jeito de lutar, ter a 
nossa técnica, o nosso princípio de luta, nossa essência. Mas a base não 
vai mudar, vai ser igual. Todos aprendem igual. Agora, vai diferenciar na 
parte da luta. Hoje também, por exemplo, você viu a competição de kata, 
todo mundo fez o mesmo kata de um jeito diferente. Qual que é o certo? 
Não sei qual que é o certo. Mas “aquele” lá ganhou mais nota que o outro. 
Por quê? Porque mostrou mais técnica, mostrou chute alto, mostrou força, 
mostrou velocidade, então é isso que vai diferenciar.
O Kihon e, ademais, todas as técnicas de treinamento, costumam ser 
motivo de questionamento sobre a sua eficiência para o aprendizado ou para 
o incremento do desempenho. Como a International Karate Organization 
Kyokushin padroniza o treinamento em todo mundo, identificamos um choque 
cultural entre oriente e ocidente. Na realidade brasileira, um dos pontos que 
é alvo de ressalvas de alguns praticantes é o kihon. Os veteranos da prática 
apontaram essa particularidade, mas, em outras localidades, ou até mesmo 
para alguns indivíduos em particular, a divergência pode ser em relação a 
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outros aspectos do treinamento. A tradição, no entanto, é um ponto chave 
para que a modalidade tenha um padrão global, capaz de aproximar as pes-
soas que vivenciaram as mesmas atividades no aprendizado de base, para se 
transformarem em verdadeiros praticantes de Kyokushin.
É o que a gente busca. Na mesma coisa, sempre ali. E o atleta tanto do 
nosso país, como de fora que [fazem intercâmbio] ... como os brasileiros 
que vão pra lá... é a mesma coisa... eles já até batizaram o Brazilian Kick, 
que é do Shihan Francisco Filho. Então as técnicas que a gente leva pra lá 
eles também estão copiando. E eles vem pra cá, olha, “muito interessante”, 
é o modo de lutar. As vezes você não se desgasta tanto e consegue um 
resultado positivo no final. E antigamente a gente se desgastava demais e 
não obtinha nem resultado. Você lutava praticamente no instinto: “vai lá, 
pega ele!”. Aí ia lá, e lutava... hoje não, é tudo pensado... tudo...
É que funciona assim. Eu acho que no mundo de hoje sempre tem téc-
nico pra aprender e inventar. A gente tá sempre fazendo experiências 
novas pra adquirir mais técnicas. Mas antigamente cada país tinha sua 
técnica. Os brasileiros eram mais técnica de chute, de movimentação. O 
Japão era uma técnica mais de resistência... de velocidade e resistência. 
A Rússia era mais uma técnicade força – muita pancada forte. Só que 
hoje qualquer um desses três países, por exemplo, que são os atuais top 
no mundo, praticamente todos eles têm essas três características no país 
dele. Porque ele estudou o Brasil e levou a técnica de chute pro Japão, e 
pegou a força da Rússia e também colocou no Japão. E o russo a mesma 
coisa e o brasileiro a mesma coisa.
Para além do melhor método de treinamento, o Kihon marca uma espécie 
de alfabetização corporal que vai dar ao praticante garantias de se comunicar 
dentro da rede de sociabilidades do Kyokushin em escala global.
Se o Kihon é apresentado como a base de todo o treinamento, a resistên-
cia física e o calejamento são encarados como desafios a serem vencidos para 
se tornar um verdadeiro lutador de Kyokushin. De diversas formas os pratican-
tes reforçavam o lema “sofrer e vencer sofrimento ao invés de se lamentar”. 
Na prática do treinamento isso se materializava com exercícios repetidos 
a exaustão do Kihon, mas também em aperfeiçoar a resistência a dor, por 
exemplo, socando repetidas vezes uma superfície dura para dar conformidade 
ao punho ou a mão na melhor posição para o golpe. Da mesma forma que a 
preparação para golpear de forma efetiva, precisava ser desenvolvida a ponto 
de se formarem calos nas mãos e pernas, pois, dessa maneira, a superfície 
do corpo se tornava mais incisivas para realizar os golpes, a capacidade de 
suportar a dor e de aprender a absorver tais golpes era igualmente importante 
e valorizada.
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Nas observações participantes realizadas nos treinamentos foi possível 
perceber como era recorrente o discurso de suportar a dor. Um dia de treina-
mento poderia exigir aproximadamente 750 movimentos em simulação de 
chutes, socos e defesas de ataques originados acima da cabeça ou frontais, 
circulares e em diferentes alturas. O nível de graduação exigiria ainda mais 
perfeição do movimento, intensidade e repetições. Os alongamentos e simula-
ção de ataque para alguns praticantes já significava a exaustão. A compreensão 
do grupo era de que cada um realizaria os movimentos de acordo com a sua 
possibilidade e condição física, mas a dedicação deveria ser no limite de cada 
um. Suportar as dores pessoais era um primeiro nível de testar os próprios 
limites. O próximo seria resistir à dor em simulação de combate – a prática 
real dos movimentos de ataque e defesa. Todos os presentes se enfrentavam 
atacando, chutando, socando e defendendo. Importante registrar que a dife-
rença de graduação não era impeditiva do combate, sendo possível um faixa 
preta simular combate com um faixa branca na sua primeira aula. Nesses 
casos a intervenção seria mais pedagógica e instrutiva, mas a demonstração 
do limite estaria presente.
Esses confrontos são interessantes por diferentes perspectivas. A pri-
meira é o desenvolvimento da compreensão dos limites pessoais enquanto 
aquele que vai receber o ataque. Um exemplo claro é que um chute na coxa 
se defende com a coxa. Simples. Não se desvia. Ao contrário de outras lutas, 
no Kyokushin a defesa é a coxa ir de encontro ao pé que a ataca. A segunda, 
das capacidades enquanto atacante. Para um iniciante a possibilidade de chutar 
ou socar alguém precisa ser naturalizada, o que significa aumentar a força e a 
velocidade do ataque e da mesma forma, um praticante mais experiente socar 
ou chutar um iniciante. Nesse aspecto três questões aparecem: a) quando o 
adversário pede para aumentar a força do ataque; b) quando ele resiste para 
suportar o ataque realizado (mesmo que a dor seja, naquele momento, insu-
portável); c) quando sua adversária é mulher.
Diversos valores morais podem preencher esse rápido momento do treino: 
chutar/socar alguém e fazê-lo com uma adversária – mesmo que ela peça 
para aumentar a intensidade do ataque. Por mais que seja inerente ao esporte, 
leva-se tempo para compreender tal cenário.
À medida que se ganha experiência com as técnicas e toma-se consciência 
do seu papel enquanto praticante do Kyokushin, a relação com os colegas de 
dojo muda. A intensidade do ataque aumenta, de ambos os lados. Demonstrar 
capacidade de resistir é louvado e estimulado. Sua presença naquele ambiente 
se naturaliza: procedimentos de entrada e saída, reverência aos rituais iniciais 
e finais, chutar, socar, defender, lutar e limpar o espaço utilizado tornam-se 
parte da rotina do praticante. A dor, os hematomas e as torções são emblemas 
de força e orgulho por ter suportado mais um treino ao máximo.
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Outro exemplo da importância da resistência e do calejamento é que 
uma das realizações a ser alcançada pelo praticante, a fim de demonstrar 
que havia alcançado um nível diferenciado de rendimento na modalidade, é 
o quebramento. Na cerimônia de abertura e de encerramento das competi-
ções, um dos itens obrigatórios da programação é o quebramento de ripas de 
madeira ou de blocos de gelo com um único e certeiro golpe. O sucesso dessa 
apresentação requer, primordialmente, a preparação do golpe pela incansável 
repetição deste em superfícies rígidas e o calejamento que favorece a maior 
eficácia final ao movimento técnico.
Se o enfrentamento e convívio com a dor tem origem no treinamento 
para a performance do corpo é na valorização do crescimento interpessoal que 
ele encontra sua justificativa realizadora. Os praticantes veteranos apontam 
como resultado maior do treinamento de resistência e calejamento o aumento 
da força espiritual de enfrentar os desafios da vida. Isso torna coerente a nar-
rativa que apresentam do Kyokushin ser “um karate de contato, de atitudes 
concretas e não de simulações”.
Acho que só fosse pelo físico a gente até sairia porque é muito sofrido. 
Mas tem outro lado que dá uma equilibrada, [...] que dá uma vontade de 
ser uma pessoa melhor.
o objetivo de treinar até o sofrimento vai] até a forma de se portar. Além 
disso, o contato é exatamente testar limite e a determinação naquilo que 
você está fazendo.
Este processo vicia. A dor, no Kyokushin, é companheira. Ela não é ini-
miga. E aí, essas barreiras que você vai trilhando e vai aprendendo a 
superá-las. Esse processo de superação vai te viciando.
As repetidas vezes que os praticantes veteranos apontaram que o 
Kyokushin é um esporte de contato e de verdade une resultado esportivo com 
uma filosofia de vida. Ao afirmarem que o Kyokushin é “vida real. Não tem 
disfarce é luta mesmo, como deve ser a vida” estão transpondo as vivências de 
treinamento e competições para as situações cotidianas. Aqui existe um ponto 
fundamental para se entender a permanência dos praticantes e da forma tão sig-
nificativa que compõe suas rotinas de vida a ponto de mudá-las se necessário 
for para continuar praticando o Kyokushin. Em algum momento da carreira 
do praticante desta luta ele se converte em uma espécie de fiel dessa prática. 
Nesse momento ele já não enxerga mais o Kyokushin em um esporte de pre-
ferência, mas uma doutrina de vida. Para aqueles que não dispersaram por 
conseguir perseverar e permaneceram praticando (CHAN-VIANNA, 2010) 
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o esporte se torna uma metáfora da vida, ou melhor, o que a vida deveria ser, 
quando vivida em sua melhor performance.
“Eu as vezes me pego falando isso com amigos “ah porque eu não con-
sigo...”. [respondendo a si mesmo fazendo sinal de negação com a cabeça] 
“resolve aí! Para de reclamar”. Porque as vezes a gente acaba enxergando 
que não faz sentido aquele sofrimento, só que a pessoa se agarra no sofri-
mento e não acha a solução”.
“O seu fardo pra si mesmo se torna maior. [Exemplificando] Eu estou com 
um [grande] de um problema... [respondendo como em um diálogo] Olha 
pro lado! Você está assim [representando sofrimento e fraquezacom o 
corpo]. Teu fardo é o maior problema que você tem. Abre seu horizonte e 
olha pro lado. Olha pro seu parceiro, olha pro seu companheiro, olha pro 
seu semelhante. Você vai ver que teu problema não é nada.”
O sofrimento pelo treinamento se reveste de uma experiência holística. 
Enfrentar a dor, vivenciar a dor, superar a dor se torna um exercício espiri-
tual para o praticante de Kyokushin. Seja no treinamento ou na luta, seja na 
vida cotidiana em situações físicas ou emocionais o praticante se remete ao 
enfrentamento e a sensação de dor experimentada na prática esportiva como 
um aprendizado para a vida cotidiana, ou como gostam de referir “a vida 
de verdade”.
Hierarquia e veneração
Além do convívio com a dor e sofrimento gerados pelo treinamento, 
outro elemento importante presente na narrativa dos praticantes veteranos é 
a relação hierárquica que se estabelece e é respeitada e reforçada por todos. 
Os dados que apontam para esse fenômeno aparecem antes mesmo do con-
tato direto com os praticantes nas entrevistas. Ao tentar organizar as fontes 
de informações ou se chegar aos praticantes ficou evidente como os mais 
graduados tem ascendência sobre os demais no que se refere a cumprir obri-
gações e mesmo em falar.
A exigência do voluntarismo dos colaboradores para a pesquisa foi sem-
pre uma questão delicada de se lidar. A possibilidade de se conseguir um 
participante passava inevitavelmente pelo pedido do Sensei ou ao menos ao 
entendimento, mesmo que silenciosa, da sua autorização. Nos grupos focais de 
entrevistas mais ainda se percebeu que o primeiro a falar era o mais graduado, 
que dominava a fala por mais tempo, se seguindo os demais pela ordem de 
faixa ou de tempo de prática. Mesmo que todos falassem era evidente que 
não haveria contestação a fala do mais graduado mesmo entre as pequenas 
opiniões dos menos graduados.
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Curiosamente nunca foi possível se fazer um grupo focal sem um Sensei 
presente. Ao que pareceu, essa atitude de respeito a hierarquia estabelecida 
é aceita e valorizada por todos ou é tolerada pelos menos graduados para se 
manterem praticando em seus grupos. Como informa um dos praticantes, é 
“seguir o Sensei mesmo que não entenda porque”.
Eu pratico esporte, pratico outra artes marciais, por isso talvez a adaptação 
veio mais fácil, mas quando você vem da rua entra aqui e cumprimenta 
antes de começar o treino, a gente fecha os olhos, depois abre, cumpri-
menta [repetindo os gestos e falas do treino] aí [...] você não fica bravo, 
não faz cara feia, obedece o mestre. É esse o ambiente [dos treinos].
Você só consegue absorver os conhecimentos com o mestre.
É formação do caráter, é respeito que a gente tem. Se a gente tem uma 
hierarquia, é respeito pelos nossos superiores. Respeito aos nossos pais. 
Então isso a gente aprende no juramento que a gente faz todos os dias no 
nosso treinamento. E isso é nossa filosofia. A gente tem que ser rigoroso 
consigo mesmo, mas não pode ser oba-oba. A gente tem que respeitar 
aqueles que nos ensinaram. Ter gratidão. Baixar a cabeça pra eles. É o que 
é a lei. Acho que essa é a grande diferença também [entre o Kyokushin 
e outras práticas].
Mais ainda que um valor de posicionamento social, a hierarquia esta-
belecida tem sua sustentação na veneração que os praticantes têm pelos seus 
superiores. As observações dos treinos e dos eventos demonstraram o quanto 
os praticantes respeitam e admiram aqueles que alcançaram resultados excep-
cionais no Kyokushin, seja como praticantes, formadores de praticantes ou 
gestores. Essa situação fica clara, por exemplo, quando foram questionados 
sobre como respeitar a hierarquia quando são liderados por pessoas que não 
reconhecem como legitimamente superiores (o exemplo dado se remetia 
aos acontecimentos de desmando e corrupção dos políticos nacionais que 
preenchiam as notícias policiais naquele momento e a um chefe no trabalho 
sem competência)
Geralmente as pessoas esperam [sugerindo uma situação hipotética des-
trutiva] “ah porque meu chefe isso ou aquilo”. Dentro do karate a gente 
não tem isso. A gente fala do Shihan Isobe porque ele é o Shihan Isobe. 
Porque ele é e porque ele merece estar onde ele está. Na vida tem chefe 
que não merece estar onde ele está. Mas a gente sabe que ele está lá, é 
nosso chefe, se você não concorda com ele, passa dele, vira chefe dele e 
pronto, resolveu. É assim que a gente lida. Não gosta do chefe, arruma 
outro trabalho. É a sua relação com o que está acontecendo que muda. 
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Obviamente eu tive várias situações que discordava: sai ou passa dele; 
pronto... ou aceita. Resolve, não fica aí reclamando.
A referência máxima nesse sentido é Sossai Oyama, fundador do 
Kyokushin e que, mesmo sem estar presente nos dias atuais, é anunciado 
como exemplo a ser seguido.
Ele (Sossai Oyama) foi considerado o Iron man, ninguém vencia ele. 
Ninguém nunca venceu ele. Então isso, essa garra, tudo que ele passou lá 
atrás, a gente segue até hoje.
Pelos desafios que tem né? Quem faz 100 lutas no mesmo dia? Acho que 
em outras artes marciais, ninguém. [se referindo ao desafio realizado e 
vencido pelo Sossai Oyama]
Interessante notar que a posição de líder no Kyokushin em qualquer 
atividade está intimamente ligada a performance corporal, pois, não se separa 
o bom lutador e vencedor de um bom mestre e nem mesmo de um bom ges-
tor. Esta referência está clara quando temos que o mestre é o praticante mais 
graduado e apenas quando consegue a faixa preta, principalmente os que 
conseguem consagrar-se como campeão, adquirem o reconhecimento dos 
demais e ganha o direito de ser considerado um Sensei, ou seja, alguém que 
tem algo a ensinar para os demais. Da mesma forma, espera-se do gestor para 
organizar as academias, federações e órgãos internacionais do Kyokushin, 
uma pessoa que tenha no currículo uma grande experiência de sucesso como 
praticante, tendo passado por todas os desafios icônicos da modalidade como 
apontou Kancho Shokei Matsui, presidente da Organização Internacional da 
modalidade em sua entrevista, sobre o perfil ideal do seu substituto no órgão 
central do Kyokushin no Mundo.
Assim, a hierarquia no Kyokushin se constitui com base na veneração 
que se tem por aqueles que realizaram uma alta performance na luta e que 
por isso devem ser respeitados por já terem realizado o que se pede que 
todos realizem para serem respeitados como praticantes de Kyokushin. Assim, 
afirma um praticante
A gente acaba admirando... até ontem o Kancho tava falando pra gente 
procurar fazer o movimento correto, pro outro que tá olhando... menos 
graduado vai querer fazer igual porque ficou bacana, ficou bonito... eu 
acho que é isso aí que inspira, é o que dá continuidade... que nem o meu 
pequeno [filho] ele é faixa amarela que nem eu. A gente ficava perguntando 
no começo [deixou subentendida a pergunta]... e o Sensei falou assim – a 
resposta que a gente quer quando for a sua primeira troca de faixa é qual 
a sua expectativa no KYOKUSHIN? E a resposta que ele mais gostaria de 
ouvir que você gostaria de treinar pra ser faixa preta, mas pra poder algum 
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dia dar continuidade, poder ensinar isso, ou seja, continuar, pra não parar. 
Não adianta ser faixa preta pra colocar na parede. Você não é faixa preta, 
está faixa preta. E aí desde o começo a gente conversa muito sobre isso.
A hierarquia e veneração atuam, portanto, não apenas na organização 
cotidiana da prática, mas também, na continuidade da modalidade. Fica evi-
dente na fala dos praticantes veteranos, sejam eles atletas ou mestres, que a 
preservação da prática, com seus valores e princípios, deve ser perseguida 
por todos os novatoscomo uma meta ou motivação em se aperfeiçoar nos 
treinos. Esta orientação aparece no mais alto grau de liderança da modalidade 
quando Kancho Shokei Matsui afirma que mesmo o Karate se tornando uma 
modalidade olímpica que conferiria um novo status a modalidade trazendo 
visibilidade e inovações ampliando a base de praticantes do Kyokushin no 
Mundo, as tradições deveriam ser preservadas em nome de garantir que a 
modalidade permaneça coesa e forte.
É claro o entendimento de todos que a sobrevivência do Kyokushin 
depende tanto da manutenção das tradições quanto da expansão da modali-
dade, mesmo que essas duas metas guardem entre si algumas incompatibi-
lidades. O que pode ser considerado como um dilema a ser enfrentado pela 
comunidade Kyokushin em seus próximos passos.
Moral e valores cotidianos
Para os praticantes do Kyokushin a experiência na atividade, em todas 
as suas dimensões, eleva o nível dos valores sociais de cada indivíduo. Tal 
afirmação poderia ser aplicada a cada diferente prática esportiva. Inclusive a 
sociedade, em grande medida, credita ao esporte esse poder de se revestir em 
um espaço/tempo de formação moral de excelência, por vezes até de forma 
ingênua e simplificadora. No entanto, cada prática esportiva carrega consigo, 
em razão da natureza de sua performance ou de como se constituiu histori-
camente, valores de referência que são compartilhados entre os veteranos e 
repassados aos novatos. Caráter forte e poder de superação, serenidade nas 
atitudes e disciplina em todas as atividades da vida são os valores mais pre-
sentes nas descrições dos praticantes veteranos sobre as transformações de 
valores que ocorrem com aqueles que permanecem na prática do Kyokushin.
Eu sempre gostei das artes marciais, desde pequeno. Eu sempre assisti. 
Assistia um aqui, um ali... mas nunca praticava. aí eu falei “karate!”, e 
aí foi paixão a primeira vista, porque na hora que eu vi o kihon, foi uma 
coisa que... assim que eu entrei foi o que mais me marcou foi o kihon, 
porque é muito disciplina...
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A arte marcial tem algo além da luta. Aqui tem uma carga de filoso-
fia por trás da química de treino. É uma metáfora da vida que tá aqui 
dentro... Tudo isso [valores e conceitos sobre o cotidiano] acaba sendo 
treinado aqui.
Ele [o Sensei] falou lá na sequência de treinos, né? E ele falou nesse sen-
tido dos valores, de você ter paciência e não querer revidar [exemplificando 
o caso de uma discussão do cotidiano]. É o dia a dia do treino mesmo. 
Não é só questão de falar! É questão de vivenciar.
... e você se submete em superação no karate e você começa a traçar um 
paralelo na vida pessoal, na vida familiar, na vida profissional. Então 
aqueles obstáculos que te apresentam ou que você psicologicamente cria 
[...]. Aqueles obstáculos, aquelas barreiras que você acaba criando, você vê 
que é capaz de superar e ainda o que você toma por base dessa superação 
na vida profissional, na vida familiar, na vida amorosa, na vida, seja no 
que for. Experiências que você [vive] dentro do karate: seja numa luta, 
seja numa preparação, seja num treino especial, seja num exame de faixa 
– queira ou não todo mundo fica nervoso. Então, conforme os graus de 
superação, dentro do karate, faixa por faixa, isto vai te calejando, isto vai 
te dando experiência, isso vai te amadurecendo para que as experiências 
que você tem dentro da nossa modalidade, permita você levar pra sua vida.
Percebo em mim e na minha vida a motivação [de fazer outras coisas], mas 
aí eu entro aqui [no treino], o que me motiva continuar é a convicção de 
que o [Sensei] faz parte dos principais atores que ajudaram a forjar a minha 
personalidade. A minha família, a questão religiosa, isso aí [também] teve 
uma importância na minha formação. Ao longo desses dezoito anos [de 
prática do Kyokushin] eu tentei sair assim como eu parei de ir à igreja em 
vários momentos. Então, o motivo [de continuar] é essa cobrança, esse 
nível de exigência [se referindo ao esforço físico e de atitudes sociais] 
que faz a gente entender a rotina de treinamento.
A permanência dentro do Kyokushin é mais pela minha formação mesmo, 
como pessoa. Eu comecei com cinco anos e daí fui treinando, parei dois 
anos, e aí voltei. O Kyokushin moldou a minha pessoa, o meu caráter, meu 
jeito de ser; a parte de respeito, que hoje infelizmente tá se perdendo com 
pai, mãe, os mais velhos... então o Kyokushin desde quando eu comecei 
até agora nunca mudou... a disciplina. E isso me formou como pessoa. 
Lógico, é a família que forma, mas como [a família] estava lá dentro já, 
meus pais davam aula, minha família é do Kyokushin... [mas] pode ser até 
outra pessoa que começasse também, novo, mas que não tivesse família 
no Kyokushin, acho que ia ser igual. Formar caráter.
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Se a formação do caráter está no centro das explicações sobre a impor-
tância da prática, é a sensação do ambiente familiar que é apontada como a 
motivação para se sentir bem, mesmo estando fazendo uma prática de alta 
intensidade, que tem como consequência o convívio permanente com a dor. 
Se por um lado existem os praticantes que iniciaram e se mantém fiéis, devido 
aos pais serem praticantes e até mesmo mestres da modalidade, por outro 
lado, alguns adultos passam a praticar o Kyokushin como forma de motivar 
os filhos ou de estar junto a eles no momento da atividade.
Entre os praticantes adultos que não competem nos campeonatos é 
comum encontrar a justificativa da prática para o exemplo e para a socia-
bilidade com os filhos em uma atividade saudável, carregada de exigências 
com atitudes e comportamentos sociais que consideram importantes para a 
formação deles. Nesse sentido, a prática parece ir se conformando em um 
ambiente familiar onde todos, familiares de sangue ou não, passam a se sentir 
compartilhando um mesmo ambiente agradável e seguro de conviver.
Você passa a considerar o Kyokushin como uma família. Você passa a 
ouvir mais e aceitar o outro indivíduo, entender que, por exemplo, algumas 
coisas que a gente faz que parecem que não machucam, mas machucam 
outra pessoa. Passa a entender como nós somos frágeis, como a gente deve 
se cuidar, cuidar das pessoas, etc. O Kyokushin é muito além! Eu como 
todo mundo tenho problemas! Problemas de muitas vezes não querer 
ouvir a opinião do outro, ansiedade, até mesmo já tive problema de saúde 
que o Kyokushin ajudou resolver, tinha problema de enxaqueca, uma ou 
duas vezes por mês eu tinha crises fortes. Hoje eu já não tenho tudo isso. 
A arte [marcial] melhora o ser humano, o bem-estar, o convívio com o 
seu próximo... não é coisa de [exemplificando] vou ficar mais forte pra 
ser mais forte que o outro. Não! Vou ficar mais forte na minha vida! E 
melhorar como pessoa.
Eu te digo, especificamente como experiência própria, é tão ou mais gra-
tificante do que estar um atleta de reconhecimento nacional de [esporte 
coletivo] ou de algum outro esporte. Por quê? Porque nós que somos do 
Kyokushin... o fato, por exemplo, agora há pouco, tá abraçado, tirando uma 
foto com o Navarro [atleta espanhol], campeão do mundo, conversando 
de igual pra igual, participando de igual pra igual e vendo que, apesar 
de ser um campeão mundial, de outra nacionalidade, de outro país, com 
outra cultura, a família Kyokushin, fala uma língua só. Então isso é muito 
gratificante. Por quê? Por que queira ou não, independente de ser atleta, de 
ser membro da diretoria, de ter a participação direta ou indireta no evento, 
o fato de estar próximo, abraçando, cumprimentando, e podendo ver, não 
só os próprios atletas,[mas também] Kancho Matsui, Shihan Isobe, e todos 
aqueles outros Shihan’s, que você ou toma conhecimento através de livros, 
ou através de reportagem... te digo por experiência própria, não tem, não 
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tem... saindo daqui [evento internacional realizado no Brasil], a gente sai 
com a sensação do dever cumprido, com a sensação de prazer, de realiza-
ção profissional, realização esportiva, dentro da nossa família Kyokushin.
Pra mim é da mesma forma, né. O meu pai quem me levou até o Kyokushin. 
Na verdade, ele não sabia o que era o Kyokushin, a gente estava procu-
rando uma academia e por sorte foi academia de Kyokushin. E aí nós 
começamos, eu e meu irmão. E a cada treino, a cada dia a gente foi vendo 
que... meu pai na verdade foi vendo – a gente era bem criança – foi vendo 
que realmente era um negócio sério, um negócio que educava, que tinha 
filosofia, que tinha um ambiente familiar, que o ambiente do dojo é bem 
parecido com o ambiente de casa mesmo. O amor, a consideração, o 
respeito. Então era como se fosse o ambiente de casa. Se o ambiente de 
casa sempre foi de amor, apaixonante, que ensinou, que também cobrou, 
o Kyokushin pra mim é também a mesma coisa. Como se fosse a minha 
segunda família. Eu nunca parei, sempre fui Kyokushin, e sempre vai ser 
porque eu sinto essa necessidade desse amor, dessa segunda família, do 
ambiente familiar. Pra mim... eu não me vejo sem isso.
Aqui, nós, interagindo uns com os outros, acabamos sabendo exatamente 
o que o outro está sentindo. A gente acaba tendo uma interação que vai 
muito além da palavra.
É igual pra todo mundo independente da faixa. É igual a disciplina, o 
respeito, o carinho um com o outro na academia de sempre querer ajudar 
e é por isso aí que eu estou até hoje, né. Eu gosto do que eu faço. As vezes 
eu largo algumas coisas que eu tenho que fazer porque eu quero treinar, 
que quero lutar, eu quero estar junto com eles, e isso é bem gratificante 
pra mim.
Significados do Karate Kyokushin
Em síntese, a prática do Kyokushin se reveste de um ambiente mais 
complexo do que apenas uma luta. Como um local de prática esportiva, con-
siderada saudável, apresenta uma multiplicidade de possibilidades para o 
crescimento em todos os segmentos da vida para aqueles que suportam seus 
desafios, com seus ídolos acessíveis como referência, com uma doutrina clara 
de conduta e que é compartilhada por pessoas que comungam os mesmos 
valores desde a escala local até a global. O Kyokushin passa a ser tempo/
espaço de encontro, conforto e serenidade na atribulada vida cotidiana ao 
mesmo tempo que de crescimento pessoal no nível em que cada indivíduo 
se sente necessitado a investir. É assim que, nas palavras dos praticantes, se 
resume a reflexão do que seja o significado do Kyokushin:
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- “um karate verdade”;
- “uma luta como deve ser a vida”;
- “o melhor que resgatamos de nós”;
- “uma família”;
- “minha paixão”;
- “nossa religião”.
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CAPÍTULO 3
PROTOCOLO DE ENSINO E PRÁTICA 
DO KYOKUSHIN: descrição do protocolo 
de treinamento do Karate Kyokushin
Ulisses Riyuji Matushita Isobe8
Duração total do treino
1 hora e 30 minutos (90 minutos)
Frequência de treinos
Recomendado 5 vezes por semana, mínimo 2 vezes por semana
Formação do treino
As aulas são multiníveis, ou seja, reúnem praticantes de todos os níveis 
de graduação em um mesmo grupo que faz aula ao mesmo tempo. É possível 
também, dividir as turmas de acordo com o nível de aprendizado, de maneira 
a ter turmas específicas para iniciantes e turmas para praticantes com mais 
tempo de experiência, de diversos níveis de graduação. Existem também 
turmas específicas para o treino do Kata e de Kumite.
Etapas
– Etapa inicial: orientações iniciais e alongamento/aquecimento
Descrição: Ativação neuromuscular e alongamento corporal dos segmen-
tos musculares que serão utilizados ao longo da aula (membros inferiores, 
tronco e membros superiores).
Deve-se manter a posição alongada durante 10 segundos e, em seguida, 
iniciar o alongamento de outra parte do corpo.
Se considerarmos o tempo de orientação, e também o fato de a maioria 
dos alongamentos serem realizados uma vez para cada lado do corpo, cada 
8 Shihan – 5º Dan. Campeão Mundial de Kata, Campeão Mundial por Equipes Kumite Leve. Professor de 
Educação Física. Indicado como representante técnico da CBKKO.
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alongamento dura cerca de 30 segundos, o que permite uma estimativa de 
alongamento de aproximadamente 20 partes diferentes do corpo nessa etapa 
da aula.
– Etapa principal: treinamento técnico, exercícios e luta, com distribui-
ção planejada para cada treino, considerando as seguintes partes:
1) Kihon gueiko: execução dos movimentos básicos;
2) Idogueiko: execução de movimentos combinados de ataque, defesa 
e chutes;
3) Kata: execução de sequências de movimentos de uma luta imagi-
nária predefinida;
4) Sanbon kumite e Ippon Kumite: aplicação de movimentos combi-
nados com contato e articulados com projeções e finalizações no 
último passo;
5) Goshin jutsu: execução dos movimentos técnicos de defesa pessoal;
6) Kumite: aplicação de todas as técnicas treinadas na luta com contato 
e de acordo com as regras;
7) Calejamento: preparação física para absorção e aplicação de golpes;
8) Treino com aparadores: execução de exercícios para aprimorar a 
potência dos golpes e a aplicação da técnica de ataque (chutes e 
socos) em situações equivalentes às do kumite, mas, com equipa-
mentos de proteção;
9) Tempo de reação: execução de exercícios para desencadear a ação 
motora, de defesa ou contra-ataque, em função da interpretação 
visual adequada dos movimentos e intenções do adversário;
10) Exercícios calistênicos: preparação física sistemática para desen-
volver as capacidades físicas: força, potência corporal e resistência;
11) Treino da flexibilidade: realização de exercícios e técnicas voltadas 
para ampliar a mobilidade.
– Etapa final: alongamento e orientações
Além do reforço dos avisos, quando necessário, é dada orientação sobre 
o aprendizado do dia e realizada reflexão sobre a filosofia,os princípios do 
Karate Kyokushin. Existe um aprendizado associado a cada treinamento rea-
lizado, como por exemplo a necessidade de levar ao cotidiano, para além 
do Dojo, o respeito ao próximo, a não violência, a não discriminação e pre-
conceito de qualquer natureza, o esforço e a dedicação para o alcance dos 
objetivos, entre outros.
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Parte principal
Primeira parte: “Kihon gueiko” – execução dos movimentos básicos
Descrição: Movimentos que fazem parte do treino básico, que é reali-
zado em todas as academias de Kyokushin. A padronização, realizada em um 
Seminário Técnico em 2014, visa garantir qualidade técnica para o ensino do 
Karate Kyokushin. São 30 fundamentos técnicos, sendo 19 movimentos de 
ataque e defesa com os membros superiores e 11 movimentos com membros 
inferiores, que devem ser realizados em todas as aulas, por todos os prati-
cantes, independentemente do nível da graduação. Veja, nos quadros abaixo, 
o nome, em japonês, de cada fundamento técnico, assim como, o respectivo 
número de repetições sugeridas.
N° Golpes com as mãos Lado Repetições
1 Seiken chudan zuki Direito e Esquerdo 100
2 Seiken jodan zuki Direito e Esquerdo 50
3 Uraken gammen uchi Direito e Esquerdo 30
4 Uraken sayu uchi Direito e Esquerdo 30
5 Uraken hizo uchi Direito e Esquerdo 30
6 Uraken mawashi uchi Direito e Esquerdo 30
7 Seiken ago uchi Direito e Esquerdo 100
8 Seiken shita zuki Direito e Esquerdo 30
9 Hiji yoko uchi Direito e Esquerdo 30
10 Jodan uke Direito e Esquerdo 30
11 Chudan soto uke Direito e Esquerdo 30
12 Chudan uti uke Direito e Esquerdo 30
13 Gedan barai Direito e Esquerdo 30
14 Chudan uti uke gedan barai Direito e Esquerdo 30
15 Shuto gammen uchi Direito e Esquerdo 30
16 Shuto sakotsu uchi Direito e Esquerdo 30
17 Shuto sakotsu uchi komi Direito e Esquerdo 30
18 Shuto uti Direito e Esquerdo 30
19 Shuto hizo uchi Direito e Esquerdo 30
Total de repetições dos movimentos básicos com as mãos: 730
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N° Golpes com as pernas Lado Repetições
1 Mae keague Direito / Esquerdo (cada lado) 20
2 Uti mawashi Direito e Esquerdo 20
3 Soto mawashi Direito e Esquerdo 20
4 Hiza gueri Direito e Esquerdo 30
5 Kin gueri Direito e Esquerdo 30
6 Mae gueri Direito e Esquerdo 100
7 Mawashi gueri Direito e Esquerdo 100
8 Yoko keage Direito e Esquerdo 30
9 Kansetsu gueri Direito e Esquerdo 30
10 Yoko gueri Direito e Esquerdo 30
11 Ushiro gueri Direito e Esquerdo 30
Total de repetições dos movimentos básicos com as pernas: 460
TOTAL GERAL DE REPETIÇÕES: 1.190
Conheça os detalhes sobre a execução técnica dos movimentos nos dese-
nhos anexos no final do capítulo.
O professor, em função das características da turma, define qual é o 
ritmo de execução dos movimentos, o que permite um ajuste da intensidade 
do desgaste físico dessa parte da aula. Podem ser realizadas pausas de recu-
peração quando, de acordo com a condição física do grupo, o professor julgar 
necessário. Ao final dessa parte da aula, devem ser realizadas atividades leves, 
com cerca de 2 a 3 minutos de duração, de forma a permitir a recuperação 
física dos praticantes, sem que ocorra perda do aquecimento corporal.
O professor deve, ao longo da execução, fornecer orientações, demonstrar 
e corrigir os seguintes aspectos:
(a) a postura corporal,
(b) a posição dos pés (19 variações na posição dos pés – ver detalhes 
nos desenhos anexos),
(c) o ângulo e a direção dos movimentos,
(d) a potência na execução dos movimentos,
(e) a respiração sincronizada com os movimentos e o grito ao final 
(KIAI),
(f) a coordenação motora no encadeamento e na realização simultânea 
dos movimentos.
A distribuição dos praticantes na sala auxilia na visualização do modelo, 
pois, os mais graduados devem estar à frente. Quando a turma possui um pra-
ticante com graduação marrom ou superior, é possível organizar subgrupos 
continuação
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com os iniciantes que serão supervisionados pelo praticante mais graduado 
(tutoria). Normalmente, os iniciantes precisam de 5 a 10 aulas para aprender 
a executar os movimentos básicos dentro de um padrão mínimo de precisão. 
O aperfeiçoamento dos movimentos básicos ocorre durante toda a vida do 
praticante, independente do seu nível de graduação.
Os movimentos são realizados de 10 em 10 repetições. A contagem é 
realizada em japonês de forma sincronizada. Ao final de cada série de 10 
repetições, os praticantes devem realizar a liberação de energia sob a forma de 
“kiai”, o que auxilia na conscientização da respiração durante os exercícios.
Segunda parte: “Idogueiko” – execução de movimentos combinados 
de ataque, defesa e chutes
Atividade desenvolvida de acordo com o nível de graduação dos prati-
cantes – exclusiva para atletas a partir da faixa laranja.
Nessa atividade o professor realiza por duas vezes a descrição verbal de 
uma sequência aleatória de movimentos básicos ou avançados, dependendo 
da graduação da turma, sem demonstração. A quantidade de movimentos 
a serem realizados varia de acordo com o nível da faixa do praticante, na 
seguinte proporção:
• para faixa laranja, 2 movimentos (apenas do kihon);
• para faixa azul, 3 movimentos;
• para a faixa amarela, 4 movimentos;
• para a faixa verde, 5 movimentos;
• para a faixa marrom (2º kyu), 6 movimentos;
• para a faixa marrom (1º kyu), 6 movimentos divididos em dois 
passos (niju dachi).
O nome dos movimentos é ditado no idioma japonês, o que exige aten-
ção dupla dos praticantes: é preciso lembrar o nome em japonês de cada 
movimento e executá-los na ordem ditada pelo professor. É considerado, 
portanto, um treino que associa estímulos mentais com o aperfeiçoamento da 
técnica, além de favorecer a capacidade de o praticante ouvir orientações e 
se comunicar com a equipe que o acompanha nas competições. O idogueiko 
estimula também a criatividade do praticante, de maneira a torná-lo um atleta 
versátil na hora do combate.
São realizadas 3 sequências para frente, em seguida o praticante deve 
virar (na virada também executa os movimentos) e executar 3 sequências para 
retornar à posição inicial.
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Terceira parte: “Kata” ou sequências de movimentos de luta imaginária 
predefinida
O treino de Kata envolve a memorização de uma sequência fixa de 20 
ou mais movimentos de ataque e defesa que descrevem uma simulação de 
combate. Os movimentos devem ser realizados com maestria técnica, beleza 
postural e vigor. Nas situações de ataque, o movimento deve ser executado 
como se o oponente estivesse na frente do praticante, isso se aplica no caso 
da defesa, quando o movimento deve ser executado como se o adversário 
estivesse realmente desferindo um golpe contra o praticante.
Cada movimento, portanto, tem um objetivo claro e deve ser executado 
de forma a respeitar os ângulos e a direção correta, como também a sincronia 
temporal e a distância espacial que lhe garantem precisão e qualidade técnica.
O kata pode ser executado individualmente ou em grupos, podendo ser 
apresentadas em 3 formas: exame de faixa, demonstrações e competições.
O nível de dificuldade da tarefa é novamente dosado de acordo com a 
graduação dos praticantes. Esse treino estimula o aprimoramento da postura, 
concentração e percepção do praticante na hora do combate.
KATA
Requisitos para o exame de mudança da faixa
Branca Laranja Azul Amarela Verde Marrom 2
para para para para para para
Laranja Azul Amarela Verde Marrom 2
Marrom 
1
1� Taikyoku sono 1 Sorteio
2� Taikyoku sono 2 Sorteio
3� Taikyoku sono 3 Sorteio
4� Sokugui Taikyoku 
sono 1 Sorteio
5� Sokugui Taikyoku 
sono 2 Sorteio
6� Sokugui Taikyoku 
sono 3 Sorteio7� Pinyan sono 1
8� Pinyan sono 2
9� Pinyan sono 3
10� Pinyan sono 4
11� Pinyan sono 5
12� Yantsu
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KATA
Requisitos para o exame de mudança da faixa
Branca Laranja Azul Amarela Verde Marrom 2
para para para para para para
Laranja Azul Amarela Verde Marrom 2
Marrom 
1
13� Pinyan Urá 1, 2, 3, 4 5
14� Sanchin
15� Tsuki No Kata
16� Saifa
17� Guekisai Dai
18� Tekki sono 1
*Todas as faixas terão que saber os Katas anteriores, pois terá sorteio de 1(um) de Kata�
Quarta parte: “Sanbon kumite” e “Ippon Kumite”: aplicação de 
movimentos combinados com contato aplicando projeções e finalizações 
no último passo e Goshin jutsu (Técnicas de defesa pessoal)
Descrição: São técnicas de finalizações e projeções com defesas, chutes, 
joelhadas e socos realizados em duplas. Devem ser realizadas com 3 passos 
(sanbon kumite), 1 passo (ippon kumite), ou defesa pessoal (goshin jutsu). São 
técnicas aplicadas para cada lado com movimentos contínuos, executando as 
duas funções de ataque e defesa. Os exercícios fornecem uma noção real do 
ângulo e da direção dos movimentos, como também, da distância em relação 
ao oponente para que o movimento seja efetivo. Esses aspectos combinados 
contribuem de maneira significativa para o aperfeiçoamento da técnica, e 
principalmente para se autodefender em caso de extrema necessidade.
Em algumas categorias essas técnicas também são aplicadas como um 
dos requisitos para o exame de faixa preta.
Treino com aparadores: exercícios para aprimorar a potência e técnica 
dos golpes
Os treinos com aparadores podem ser feitos em duplas ou com um 
número maior de praticantes organizados em um circuito. Os exercícios podem 
ser variados, divididos em grupos com 1 minuto de duração para cada técnica, 
ou realizados no formato de rounds, de maneira a simular o tempo real de 
combate (3’2’2’). No caso do praticante não ter um parceiro, os exercícios 
podem ser realizados com um saco de pancadas.
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Tempo de reação: exercícios para aprimorar a técnica de defesa e 
contra-ataque diante de pistas visuais
Treinos realizados em duplas, posicionadas junto da parede, de maneira 
a limitar a área de escape e obrigar o praticante a realizar um movimento de 
defesa para se proteger dos golpes do oponente, como também, devido a pro-
ximidade, estimular a realização do contra-ataque. Como os movimentos são 
rápidos, é preciso identificar pistas visuais que permitam antecipar a intenção 
de ataque do oponente, com a devida atenção para não ser enganado por “fin-
tas”, ou seja, a simulação inicial de um golpe que, em seguida, é substituído 
por outro para o qual o oponente não está preparado para a defesa.
Exercícios calistênicos: para desenvolvimento de potência muscular
Exercícios físicos que utilizam o peso do corpo para o fortalecimento 
corporal. Envolve a realização de movimentos: (a) concêntricos, que exigem a 
aplicação de força enquanto o músculo se contrai; (b) excêntricos, que exigem 
a aplicação de força enquanto o músculo sofre extensão resistida; ou (c) iso-
métricos, que exigem a aplicação de força sem que o músculo se movimente.
• Flexão de braço (progressão de 3 etapas: etapa 1, com a mão espal-
mada no chão; etapa 2, com a mão fechada; etapa 3, com o apoio 
“seiken” (dos ossos dos dois dedos centrais da mão);
• Agachamento;
• Abdominal;
• Sugado (burpee);
• Parada de mãos (bananeira) – realizado encostado na parede (pro-
gressão de 6 etapas: etapa 1, com a mão espalmada no chão; etapa 2, 
com a mão fechada; etapa 3, na ponta dos cinco dedos; etapa 4 na 
ponta de quatro dedos; etapa 5, na ponta de três dedos; e etapa 6, 
na ponta de dois dedos)
Calejamento: preparação física para absorção e aplicação de golpes
Preparação física para assimilação/absorção de golpes, aumentando a 
resistência para dor, assim como, o controle e equilíbrio do corpo após o 
golpe, como também, a preparação para a aplicação de golpes com alta inten-
sidade de impacto. O calejamento é uma forma de treino que deixa o corpo 
mais resistente para receber e para aplicar golpes. Os exercícios podem ser 
realizados em duplas ou individualmente, com a ajuda de um acessório ou de 
aparelhos, tais como: taco de beisebol; makiwara (anteparo, geralmente de 
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madeira, amarrado com uma corda de sisal, e fixado no chão); e sunabukuro 
(saco de areia).
Preparação prévia: devem ser realizados exercícios para aquecer a muscu-
latura local que será alvo do treino de calejamentos, como por exemplo: antes 
de treinar a capacidade de assimilar socos na região do abdômen, devem ser 
realizados exercícios abdominais; antes de treinar a capacidade de assimilar 
chutes na perna, devem ser realizados exercícios de agachamento.
Os golpes devem ser realizados sem defesa e com intensidade gradativa, 
de acordo com a demanda do praticante que está recebendo os golpes, que 
informa qual deve ser a intensidade do próximo golpe: mais forte, igual ou 
mais fraco. O treino não deixa de ser também uma oportunidade de aperfeiçoa-
mento para quem executa os golpes. São realizadas 20 repetições de cada golpe 
para cada posição. Normalmente são realizados os seguintes movimentos:
• Chute – na parte interna e externa da coxa;
• Socos – no peito e no abdômen;
• Golpes com antebraço ou chute na parte lateral do corpo (costela);
• Golpes de antebraço com antebraço
• Makiwara/ Sunabukuro: Treino de golpes num equipamento para 
calejamento feito com madeiras, cordas e areia;
Obs: o treino de calejamento não é aconselhado fazer todos os dias. O 
ideal seria intercalar os dias.
Treino para mobilidade e flexibilidade
Antes de realizar exercícios para ampliação da flexibilidade na execução 
de chutes, deve ser realizado um alongamento das partes do corpo envolvidas 
na realização do golpe. No caso da abertura/flexibilidade, os exercícios podem 
ser realizados individualmente ou com auxílio do parceiro, o que permite 
intensificar o treino. No caso dos exercícios com auxílio, em função do nível 
de exigência ser maior, recomenda-se a realização prévia de atividades de 
aquecimento por pelo menos 20 minutos, evitando-se, assim, a ocorrência 
de distensões.
Quinta parte: “Kumite” ou aplicação em luta com contato
Essa atividade costuma ser diária, na maioria das academias, mas, a 
periodicidade é definida pelo instrutor, tendo em vista que nem todos os pra-
ticantes treinam o Karate com a intenção de competir. Algumas academias 
têm treinos específicos para o aprimoramento das técnicas de combate, logo, 
dedicam um tempo maior para essa etapa, que pode chegar a 50 lutas por dia.
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Descrição: os praticantes devem lutar, em sistema de rodízio, todos contra 
todos, independente do nível de graduação. No caso de iniciantes, a parti-
cipação nas atividades de kumite somente é permitida após a realização de, 
pelo menos, 15 aulas, para que tenham adquirido habilidades básicas e uma 
capacidade de autocontrole. Cada confronto pode variar de 30 segundos até 
no máximo de 2 minutos de duração, em seguida, trocam-se os oponentes.
Durante os treinos de kumite os praticantes devem respeitar as regras 
utilizadas nas competições realizadas em campeonatos e nas academias, ou 
seja, golpes proibidos:
• Soco, cutelada e cotovelada no rosto;
• Cabeçada;
• Qualquer golpe na região genital;
• Chute na região frontal do joelho;
• Acertar nas costas;
• Agarrar e bater;
• Segurar, segurar e bater, derrubar e acertar o oponente ainda no chão 
com chute;
• Empurrar 2 vezes seguidos com uma ou duas mãos abertas ou fecha-
das no tronco;
• Fugir da luta também é consideradocomo uma falta.
OBS: Em competições cada atleta poderá sofrer duas advertências: a 
primeira é tchui-ichi; tchui-ni (2ª advertência); getten ichi (-1 ponto); getten 
ni = shikaku (-2 pontos) desclassificando o atleta infrator;
Os golpes válidos são:
• Golpes no tronco: soco, cutelada e cotovelada;
• Joelhada ou chute na coxa;
• Joelhada ou chute no tronco;
• Joelhada ou chute no rosto;
• Empurrar uma vez com uma ou duas das palmas ou facas das mãos, 
punho serrado, antebraço e/ou cotovelo;
• Sabaki é permitido – afastar os braços e/ou pernas rapidamente 
como defesa;
• Keriage (chute aplicado do chão) é permitido caso o atleta seja 
derrubado, o chute deve ser realizado para cima a fim de acertar o 
adversário, podendo ocorrer wazaari ou ippon;
*Aplicação de wazaari (nocaute técnico)
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• É considerado wazaari quando o atleta sente o golpe, mas dentro de 
três segundos consegue se recuperar demonstrando que tem con-
dição de lutar. Caso a recuperação ultrapasse os três segundos será 
considerado ippon;
• Jodan gueri (chute no rosto) é considerado wazaari quando é apli-
cado com perfeição marcando imediatamente o kime e zanshin 
com precisão;
• Ashibarai (dar rasteira na perna), seguido de um apoio com uma 
mão aberta no tronco e aplicar uma tesoura usando os braço e perna 
simultaneamente e rapidamente e golpe seguido de “kime e zanshin” 
(marcação de ponto);
• Derrubar o oponente com golpe seguido de “kime e zanshin” é 
considerado wazaari;
• Quando o atleta consegue se defender e/ou desviar do chute kaiten 
do (chute giratório vertical pulando) marcando imediatamente com 
leve contato no estômago do oponente ainda no chão, marcando o 
kime e zanshin;
• É também considerado wazaari quando há aparecimento de sangue 
na face por motivo de algum golpe permitido no decorrer da luta;
OBS: Dois wazaaris no mesmo round equivale ao ippon (nocaute);
*Aplicação de Ippon (nocaute);
• É considerado ippon quando há aplicação de ashibarai, marcando 
imediatamente com leve contato no estômago do oponente que está 
no chão o kime e zanshin;
• É considerado ippon quando se aplica um golpe perfeito válido, 
deixando o atleta sem condições de luta.
Sexta parte: Volta a calma (relaxamento e orientações)
No final de cada aula, com intuito de desacelerar o ritmo dos batimentos 
cardíacos, são realizados exercícios de relaxamento. Antes de encerrar a aula, 
o instrutor comunica aos praticantes informações sobre eventos que tenham 
sido realizados ou que estejam agendados para serem realizados. Quando 
necessário, são fornecidas orientações adicionais sobre as atividades realizadas 
no dia, com destaque para os aprendizados a serem alcançados.
Os instrutores costumam finalizar as sessões de treino com uma refle-
xão sobre a filosofia e os princípios básicos do Karate Kyokushin. Existe 
uma lição de vida associada a cada tipo de treinamento realizado, como por 
exemplo a necessidade de levar a para o cotidiano o que é vivenciado dentro 
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do Dojo, ou seja: o respeito ao próximo; a não violência; a recriminação ao 
preconceito de qualquer natureza; o esforço e a dedicação para o alcance dos 
objetivos, dentre outros.
Quando existem alunos iniciantes no grupo, o instrutor deve repassar as 
regras de etiqueta da academia e algumas instruções básicas.
No quadro a seguir estão descritas as principais partes do treino, seus 
objetivos e a duração (em minutos) de cada uma delas
Divisão Objetivo Duração (minutos) Frequência Para quem?
Início Alongamento 10 Todas as aulas Todos
1a parte Movimentos básicos 15 a 20 Todas as aulas Todos
2a parte Movimentos combinados 0 20 a 30
2 a 3 vezes por 
semana
A partir da 
faixa azul
3a parte Kata 15 2 a 3 vezes por semana Todos
4a parte
Exercícios 
combinados com 
contato
30 2 a 3 vezes por semana Todos
5a parte Confronto direto (Kumite) 15
2 a 5 vezes por 
semana Todos
6a parte Calejamento 5 Aulas intercaladas Todos
Tempo total 90
Veja os diagramas nas próximas páginas.
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Figura 1 – Ilustrações de calejamento com taco de beisebol
Referência: Retirado do trecho do vídeo https://youtu.be/VsLfc0y7W0M
Figura 2 – Alguns equipamentos para exercícios de calejamentos
Referência: Foto arquivo pessoal do autor – Academia Liberdade Kyokushin.
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Figura 3 – Shuto Uchi aplicado no Makiwara na horizontal
Referência: Foto arquivo pessoal do autor – Demonstração de 
Shihan Seiji Isobe na Academia Liberdade Kyokushin�
Figura 4 – Treinamento de Ude Tanren para região do antebraço
Referência: Foto arquivo pessoal do autor – Demonstração 
de Shihan Seiji Isobe e Shihan Riyuji Isobe�
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CAPÍTULO 4
KYOKUSHIN PARA IDOSOS: 
Karate Kyokushin para idosos
Marisete Peralta Safons9
Márcio de Moura Pereira10
Introdução
Este capítulo tem por objetivo discutir os desafios impostos aos pro-
fessores do Karate Kyokushin responsáveis pelo planejamento e oferta de 
treinamento para o público idoso do século XXI que chega ao Dojo com 
histórico de sedentarismo e presença de doenças prevalentes. Reunimos refle-
xões sobre o envelhecimento ativo e as principais características da oferta 
de atividades físicas para a população idosa, bem como sobre os principais 
riscos envolvidos nesta oferta que fornecem a fundamentação teórica para a 
Validação do Protocolo de Treinamento do Karate Kyokushin para professores 
que optam por atender idosos trabalhando com esta modalidade na forma de 
esporte de participação.
Verificamos que o Protocolo atende aos princípios gerais da prescrição 
visando incrementos na saúde, qualidade de vida e maior autonomia nas ativi-
dades da vida diária. Recomendamos adaptações em relação à divisão formal 
dos conteúdos de condicionamento físico e de treinamento específico da arte 
marcial, bem como adequações na intensidade e no volume de treinamento 
visando diminuir risco de lesões, acidentes e agravos de doenças. Respeitadas 
estas recomendações, concluímos que o Protocolo de Treinamento do Karate 
Kyokushin possui conteúdos desafiadores do ponto de vista físico e psicomo-
tor, além de estimulantes do ponto de vista social e filosófico, podendo ser 
desenvolvido satisfatoriamente com alunos idosos.
O idoso no Karate é sempre uma figura de reverência. É tradicional nos 
Dojos o espaço de honra onde fica a fotografia do “velho sensei”. Ele é a 
representação do ponto máximo de colheita dos benefícios da prática da arte 
9 Doutora em Ciências da Saúde. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Atividade Física para 
Idosos (GEPAFI/UnB). Professora da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília. Contato: 
mari7@unb.br
10 Doutor em Educação Física. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Atividade Física para 
Idosos (GEPAFI/UnB), Professor dos programas de pós-graduaçãolato sensu da ESMPU. Contato: 
profmarcio.m.pereira@gmail.com
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marcial: uma vida longa, com uma velhice saudável, independente, vigorosa 
e plena de sabedoria.
É claro que o momento histórico em que os mestres viveram tam-
bém favoreceu esta velhice bem-sucedida. Eles se beneficiaram ainda de 
um estilo de vida mais ativo, de uma alimentação menos processada, de 
uma vida em cidades menores com baixos índices de estresse e laços sociais 
mais significativos.
Ao contrário destes mestres, o idoso do início do Século XXI é filho da 
sociedade industrial, criado dentro de um estilo de vida sedentário, alimen-
tação com grande oferta de calorias oriundas de alimentos processados e 
vivendo sob intenso estresse do trabalho e da violência urbana. Estes idosos, 
devido às tecnologias de comunicação, também possuem laços sociais mais 
frágeis e superficiais.
Este capítulo está divido em duas partes e tem por objetivo discutir o 
desafio que se impõe aos professores do Karate Kyokushin que, tendo como 
referência o vigor de seus mestres idosos, precisarem planejar a oferta de 
treinamento para o público idoso que lhe chega ao Dojo com as características 
acima descritas.
Na primeira parte, fundamentação teórica, o objetivo é proporcionar ao 
professor uma reflexão sobre o envelhecimento ativo, os desafios para quem 
educa e as principais características da oferta de atividades físicas para a 
população idosa, bem como sobre os principais riscos envolvidos nesta oferta.
Já na segunda parte, validam-se as partes do protocolo que estão adequa-
das à população idosa e discutem-se as adaptações das partes que precisam 
ser realizadas para atender a este público, visando principalmente à prevenção 
de riscos à saúde.
Envelhecimento ativo
O processo de envelhecimento é dinâmico e progressivo, portanto, buscar 
atualização e aprofundamento sobre esse fascinante tema de estudo, está longe 
de ser uma opção: é uma necessidade para os profissionais da saúde em geral 
e para educadores físicos em particular. Fatores como tabagismo; doenças 
crônicas não transmissíveis; doenças metabólicas; neurológicas, assim como 
nível de atividade física colaboram para o decréscimo de diversas funções da 
vida diária que vão além das alterações próprias do envelhecimento natural. 
A sobreposição desses acontecimentos intrínsecos e extrínsecos do envelhe-
cimento torna desafiadora a tarefa de planejar e ofertar exercícios físicos e 
treinamento esportivo para idosos.
No Brasil, o Estatuto do Idoso, Lei nº 10741, assegura a preservação 
da saúde física e mental como um dos direitos dos idosos. Mesmo com o 
estatuto aprovado, tais direitos ainda não estão sendo totalmente atendidos 
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pelo estado. As políticas direcionadas ao idoso devem seguir em concordân-
cia com os princípios da Organização Mundial da Saúde (OMS) que adotou 
o termo “Envelhecimento ativo” para expressar o processo de desenvolver 
oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar 
a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas (OPAS, 2005).
O Envelhecimento ativo se aplica tanto aos indivíduos quanto aos gru-
pos populacionais. Permite que as pessoas percebam o seu potencial para o 
bem-estar físico, social e mental ao longo do curso da vida, visa permitir sua 
participação na sociedade de acordo com suas necessidades, desejos e capaci-
dades; ao mesmo tempo propicia proteção, segurança e cuidados adequados, 
quando necessários.
A palavra “ativo” caracteriza a participação contínua nas questões sociais, 
econômicas, culturais, espirituais e civis, e não somente à capacidade de estar 
fisicamente ativo ou de fazer parte da força de trabalho. Esta perspectiva desa-
fia os estereótipos de idade mais avançada, caracterizada pela passividade e 
dependência, colocando ênfase no papel que os idosos ocupam na sociedade. 
Pelo menos em teoria, o conceito parte de uma noção de envelhecimento, não 
mais centrada em termos econômicos, mas em direção a uma abordagem mais 
global, incluindo a qualidade de vida, participação social, bem-estar físico e 
mental (FOSTER; WALKER, 2015).
A atividade física compreende todos os tipos de atividade muscular que 
levam ao aumento do gasto energético acima dos níveis de repouso e são 
atividades não estruturadas feitas no contexto do trabalho, como forma de 
deslocamento, doméstico e lazer. Já os exercícios físicos são um subconjunto 
da atividade física, feito de maneira intencional, planejados, estruturados 
e regulares que podem auxiliar na melhora ou manutenção de um ou mais 
componentes da aptidão física (ACSM, 2009).
Com o processo natural de envelhecimento, os sistemas fisiológicos do 
indivíduo apresentam declínios tanto em aspectos estruturais como também 
nas funções possibilitando o aparecimento de doenças crônico-degenerativas 
e aumentando as incapacidades. Essa realidade faz com que a habilidade e 
o desempenho físico para realizar tarefas do dia a dia tornem-se limitadas. 
Tarefas que são consideradas simples e desempenhadas sem grande dispêndio 
de energia por jovens e adultos, como por exemplo, levantar de uma cadeira 
ou subir um lance de escadas são consideradas tarefas de desgaste máximo 
para alguns idosos frágeis.
Para manter a aptidão física e reduzir os riscos de doenças crônicas nos 
idosos, é recomendada a realização de, no mínimo, 150 minutos de atividade 
aeróbica na intensidade moderada no decorrer da semana ou, no mínimo, 75 
minutos de atividade aeróbica na intensidade vigorosa ao longo da semana 
ou uma combinação equivalente das intensidades moderada e vigorosa. As 
atividades físicas devem ser realizadas em períodos mínimos de 10 minutos. 
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Para benefícios adicionais a saúde, os idosos devem dobrar os tempos de 
atividade física anteriormente citados.
Idosos com pouca mobilidade devem realizar exercícios para melhorar 
o equilíbrio e evitar quedas em 3 ou mais dias por semana. Exercícios de 
fortalecimento muscular devem ser feitos envolvendo grandes grupos muscu-
lares, em dois ou mais dias da semana. As quedas são um dos acidentes mais 
comuns aos idosos e desencadeiam graves consequências sendo responsáveis 
por 12% dos óbitos na população geriátrica mundial e a sexta causa de óbito 
dessa população. No Brasil, em um estudo transversal com 4.003 idosos, a 
prevalência de quedas entre eles foi de 34,8%. Verificou-se também que 12,1% 
daqueles que sofreram queda tiveram alguma fratura como consequência 
(MEROM et al., 2012).
Desafio para os educadores físicos no ensino de artes marciais
No atendimento ao idoso é tarefa de toda a equipe de saúde promover 
o incremento de vida ativa e estimular a prática de atividades físicas dentro 
das limitações impostas pelas condições de saúde de cada indivíduo. Entre-
tanto, quando se aborda a função específica da prescrição de exercícios para o 
idoso, do ponto de vista acadêmico, surgem questões a respeito dos aspectos 
pedagógicos e fisiológicos envolvidos nesta tarefa. Isto tem levado estudiosos 
a se debruçar sobre o problema de quais seriam as características destas ati-
vidades, que fundamentos teóricos e que objetivos específicos embasariam e 
justificariam uma proposta de atividades físicas capaz de promover a adesão 
e a permanência de idosos (SOUSA, 2014).
Com base nisso, é possível defender como preferenciais as intervenções 
baseadas no conceito de Promoção da Saúde (biopsicossocial), utilizando 
como apoios auxiliares as Teorias do Hábito de Pierre Bourdier (MEDEIROS; 
GODOY, 2009) e do Interacionismo Simbólico de Blumer (FONTES, 2011), 
colocando seus objetivos em aspectos situados além das questões da aptidão 
física e da saúde, que embora trabalhados intensamente,são tratados como 
meios e não como fins na proposta pedagógica: o foco real da proposta de 
um programa de exercícios para idosos deve ser “o desenvolvimento de um 
ser idoso para a vida” (SAFONS; PEREIRA, 2014).
Nesta perspectiva, todo programa de atividades físicas para idosos deve 
ser um espaço de educação e como o processo educativo se dá na relação 
dialética entre professor e o aluno, ao se buscar novos significados para o “ser 
aluno idoso” a consequência lógica é rever o papel do educador e também 
encontrar um novo significado para o “ser professor do aluno idoso”.
Ser educador em um programa para idosos não é apenas ser instrutor 
ou especialista em ministrar conteúdos esportivos ou de condicionamento 
físico. A relação com o idoso obriga o professor a transcender as tradicionais 
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orientações psicossociais, fisiológicas e o treinamento físico. Sua atuação 
passa a aproximar-se mais à da prevista no original grego que define o pro-
fessor como um condutor (“agogé”, de onde vem a palavra pedagogo): nesta 
concepção o papel do professor é de conduzir, guiar, o educando pelos novos 
conteúdos a que ele se submete, utilizando os recursos, métodos, técnicas à 
sua disposição para dar cabo da tarefa (SAFONS et al., 2011b).
Em um programa para idosos o professor é acima de tudo um intérprete 
de significados, um intermediário, um condutor que utiliza a linguagem e os 
recursos do corpo para guiar o aluno no trânsito entre o mundo do real, do 
concreto (o que é velhice? O que é saúde? Onde estão os limites? Por que e 
para que treinar?) e o mundo das possibilidades, da transcendência (O que 
pode vir a ser na velhice: na mente, no corpo, nos valores, na estética, nos 
afetos etc.? Existe vida após os 60 anos?).
Nesta tarefa o professor torna-se uma espécie de Sensei pós-moderno, 
uma combinação da filosofia e disciplina do monge zen com a formação em 
educação física. Ao assumir este papel quase mítico, o professor que treina 
idosos resgata o verdadeiro espírito das artes marciais, que é arte, é luta e é 
meditação em movimento: um caminho para a formação de um ser humano 
melhor. Um professor com este espírito, a partir do ritual diário do exercí-
cio concreto (vigoroso, suado) guia os novos discípulos (por acaso idosos) 
em direção à transcendência (autossuperação, saúde, qualidade de vida) e 
à sabedoria.
Nesta perspectiva de Jogo Simbólico, a escolha de cada gesto desportivo 
e de cada opção de condicionamento físico dentro de um programa de artes 
marciais para idosos deve buscar oferecer diferentes elementos que enri-
queçam este Jogo de Significados, que constitui o cerne de um verdadeiro 
programa de Educação Física que, associando exercícios físicos a conteúdos 
cognitivos, tem como missão preparar indivíduos para exercerem em sua plena 
forma e capacidade funcional sua liberdade, cidadania, atividades laborais, 
sociais, esportivas, recreativas e demais atividades da vida diária (MATU-
RANA, 2001; HUIZINGA, 2000).
Por isso, no programa de artes marciais ofertado para idosos, o dilema 
entre a distribuição das atividades esportivas e das atividades de condicio-
namento físico deve ser resolvido da mesma forma que no treinamento de 
qualquer modalidade esportiva: primeiro vem o treinamento de base (con-
dicionamento físico, saúde) e depois a inserção nas atividades esportivas, 
progredindo para o refinamento do gesto desportivo e a prática avançada.
No trabalho com idosos a sugestão é que as artes marciais sejam traba-
lhadas preferencialmente como esportes de participação. Só posteriormente, 
se houver interesse e não houver restrições médicas, encaminham-se para o 
treinamento visando rendimento apenas aqueles alunos idosos identificados 
como possuidores de talento esportivo.
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Observe-se que nesta proposta o aluno idoso não recebe tratamento espe-
cial. Esta recomendação é a mesma que se adota para alunos de qualquer 
idade: afinal, a maioria dos alunos buscam práticas esportivas visando saúde, 
condicionamento físico, lazer, convivência, prazer. Apenas uma minoria, 
justificadamente tratada como heroica, possuem as características físicas, 
genéticas e psicológicas para suportar o treinamento de rendimento e a árdua 
rotina das competições (SAFONS; PEREIRA, 2014).
Doença prevalentes e riscos durante a prática
As artes marciais, como esportes coletivos, constituem um bom recurso 
para se trabalhar os diversos aspectos do condicionamento físico em uma 
única atividade, além de proporcionarem para os praticantes idosos inúmeros 
outros benefícios psicomotores (tempo de reação, reorganização de esquemas 
corporais, espaço-temporais etc.) e psicossociais (socialização, integração, 
participação etc.).
Entretanto, cuidado especial deve ser dado no controle da atividade, uma 
vez que a competição é parte do jogo e pode levar o idoso a superestimar suas 
capacidades e subestimar suas limitações, o que o leva a ultrapassar seus limi-
tes fisiológicos e entrar em uma intensidade de treino na qual o risco supera 
o benefício da atividade (SAFONS; PEREIRA, 2014).
No planejamento das práticas, também é aconselhável levar em conta 
exercícios específicos ou estratégias de trabalho, visando à prevenção ou ao 
auxílio na reabilitação das doenças prevalentes. Um conjunto de exercícios 
indicados e precauções a serem tomadas diante de algumas dessas doenças 
prevalentes em idosos é apresentado no Quadro 1.
Doença Exercícios indicados Precauções
Artrose e dor 
crônica
Todos� Priorizar 
contínuos, aeróbios e 
treinamento muscular 
para diminuir rigidez 
e dor
Evitar sobrecarregar articulações 
(levantamentos de peso, corridas e práticas 
competitivas)
Cardiopatias Todos� Priorizar 
contínuos, aeróbios
Igual para hipertensão; evitar longa 
permanência estática de pé (queda por 
hipotensão postural)
Colesterol Todos� Priorizar 
contínuos, aeróbios
Nenhuma
continua...
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Doença Exercícios indicados Precauções
Diabetes Todos� Contínuos, 
aeróbios devem 
ser realizados 
7 dias na semana, 
preferencialmente no 
mesmo horário
Riscos aos MMII (varizes, pé diabético); risco 
de hipoglicemia (importante comer antes, 
evitar fazer esportes solitários ou muito 
radicais: pois pode desmaiar quando só); 
evitar exercícios de média a alta intensidade 
quando glicemia > 250 mg/dl (pode levar 
à cetose, ao coma, à lesão cerebral ou 
à morte)� Controlar PA nos exercícios 
resistidos: pressão elevada pode acelerar 
problemas oftalmológicos, renais e cardíacos
Hipertensão Todos� Priorizar 
contínuos, aeróbios
Manobra de Valsalva durante esforço. Longa 
permanência de braços ou pernas elevados
Hipotensão 
e síncopes 
(desmaios)
Todos� Priorizar 
contínuos, aeróbios
Atividades após comer; mudança rápida 
das posições deitada ou sentada para de pé 
(principalmente pela manhã); permanência 
em pé por longo tempo; exercícios 
respiratórios forçados; mergulho em água 
fria; ducha fria; massagens no pescoço; 
verificação de frequência cardíaca na artéria 
carótida
Instabilidade 
e quedas
Todos� Priorizar 
exercícios sensoriais 
e tai chi chuan
Cuidado na escolha do espaço físico e 
demais riscos ambientais para instabilidade 
e queda
Obesidade Todos� Priorizar 
contínuos, aeróbios
Sobrecarga para articulações dos MMII, 
como nas corridas, e cuidado com práticas 
esportivas competitivas
Osteoporose Todos� Priorizar 
contínuos, aeróbios 
ao sol e os de 
força para todos os 
músculos
Riscos para quedas e fraturas
Problemas 
respiratórios
Todos� Priorizar 
contínuos, aeróbios� 
Acrescentar 
exercícios 
respiratórios
Atividades fatigantes
Sedentarismo Todos� Priorizar 
contínuos, aeróbios
Irregularidade (< 2 vezes/semana) + 
competitividade= síndrome do atleta de fim 
de semana (risco de infarto, óbito)
Varizes Todos� Priorizar 
contínuos, aeróbios� 
Fortalecer membros 
inferiores
Isométricos de membros inferiores e longa 
permanência estática de pé (prejudica 
retorno venoso)
Fonte: SAFONS et al. (2011a). Onde: MMII = Membros Inferiores; PA = Pressão 
Arterial; Manobra de Valsalva = prender a respiração durante esforço.
continuação
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Validação
As discussões apresentadas nesta seção para validação do Protocolo de 
Treinamento do Karate Kyokushin aplicam-se aos professores que optam por 
trabalhar com esta modalidade na forma de esporte de participação, atendendo 
a alunos idosos típicos, não treinados e prováveis portadores de doenças 
prevalentes, que buscam o Dojo sob prescrição médica para praticar uma 
atividade física que lhe agrada, visando incrementos na saúde, qualidade de 
vida e maior autonomia nas atividades da vida diária.
Para idosos treinados, com bom condicionamento físico e que chegam 
ao Dojo com longa experiência e prática do Karate Kyokushin ou de outras 
artes marciais, estas recomendações poderão nortear o professor no período 
de adaptação deste aluno ou no período de retorno à atividade após período 
de inatividade para recuperação de tratamento de saúde. Descartados os riscos 
e respeitadas as limitações da prescrição médica, o aluno idoso atleta pode e 
deve ser incluído no grupo de treinamento de alto rendimento do Dojo.
Aplicabilidade à população idosa
Como as demais artes marciais (PEREIRA, 2005), o Karate Kyokushin 
pode ser prescrito para idosos na perspectiva de esporte de participação e 
promoção da saúde. O seu protocolo pode ser utilizado no treinamento do 
Karate como modalidade esportiva e também no condicionamento físico com 
o objetivo de melhorar capacidade aeróbia, força, equilíbrio, o trabalho em 
equipe e a memória, além de ser um auxiliar na redução das queixas dolorosas.
Benefícios adicionais do ponto de vista psicossocial podem ser obtidos a 
partir do trabalho previsto no protocolo como “momento de avisos, orientação 
sobre aprendizado do dia e reflexão sobre a filosofia e os princípios do Karate 
Kyokushin”. Temas como o respeito ao próximo, a não violência, a não dis-
criminação e preconceito de qualquer natureza, o esforço e a dedicação para o 
alcance dos objetivos, entre outros, estão previstos e possuem potencial para 
responder adequadamente à necessidade de se trabalharem temas transversais 
dentro das aulas de educação física para todas as populações.
Como é um exercício que utiliza basicamente o próprio corpo e o dos 
companheiros de prática como implemento, o Karate Kyokushin tem ainda a 
vantagem de ser de baixo custo, de fácil aplicação e capaz de atender a grandes 
grupos no tocante à versatilidade de local, horário e roupas para sua prática, 
podendo responder aos desafios propostos pelo Estatuto do Idoso, OMS e 
OPAS no tocante à adaptação, planejamento e oferta de exercícios físicos e 
treinamento esportivo para idosos.
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Adaptação da carga do treinamento
O Karate Kyokushin é uma modalidade com grande riqueza de gestos e 
coreografias. Este conjunto de técnicas se manejadas com foco nas necessi-
dades dos alunos e prescritas com intensidades variadas (de leve a intensa), 
poderá constituir-se em um exercício seguro para idosos e ainda capaz de 
atender às recomendações do Colégio Americano de Medicina do Esporte 
(ACSM) para incremento da capacidade funcional nesta população.
A adaptação da carga deve ser feita respeitando-se o Princípio da Sobre-
carga do treinamento esportivo. De acordo com este princípio, para que um 
programa de exercícios seja efetivo, é preciso manejar a carga de trabalho em 
relação à necessidade do aluno ou grupo de alunos.
A carga de trabalho é o somatório da quantidade de trabalho (volume = 
duração + frequência + repouso) com a qualidade do trabalho (intensidade = 
tipo de esforço). Aumenta-se a carga diminuindo-se o repouso ou aumentando-
-se um ou mais dos seguintes componentes: intensidade, duração e frequência 
do exercício (SAFONS et al., 2011a).
A intensidade refere-se a quanto do máximo esforço se situa a prescrição. 
Exemplo: passar de 50% para 55% da frequência cardíaca máxima (FCM) 
é fazer sobrecarga em um treino aeróbio. Passar de 60% para 70% de uma 
repetição máxima (1RM) é fazer sobrecarga em um treino de força.
A duração refere-se ao tempo durante o qual o corpo será submetido ao 
esforço. Exemplo: aumentar o tempo da sessão de treinamento de 30 min 
para 40 min é fazer sobrecarga a partir da duração. Outra via para se trabalhar 
com a duração é diminuir o repouso.
A frequência refere-se ao número de sessões semanais. Exemplo: aumen-
tar o número de práticas de 3 vezes para 4 vezes na semana é fazer sobrecarga 
a partir da frequência
Recomendações em relação ao volume de treinamento
O padrão típico da oferta do Karate Kyokushin de 5 aulas semanais 
atende às recomendações dos organismos nacionais e internacionais para a 
prática de exercícios para idosos. Já a duração de 1h30 (90 min) excederia o 
padrão de 1h/aula (50 min) recomendável para a prática de uma única moda-
lidade por indivíduos idosos.
Entretanto, como o protocolo do Karate Kyokushin prevê uma prática 
mista, com dois momentos principais (condicionamento físico e treinamento 
esportivo) a validação do protocolo fica condicionada à recomendação ao 
professor durante sua formação de que estes dois momentos sejam sistema-
ticamente respeitados em seu planejamento.
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Do ponto de vista formal, o professor deve planejar duas aulas: uma com 
conteúdos e objetivos específicos de condicionamento físico e outra com con-
teúdos e objetivos específicos de treinamento técnico do Karate Kyokushin. 
Como o aquecimento e a volta à calma ocorrerão uma única vez, é possível 
equacionar os conteúdos das 2 aulas no tempo de 90 minutos, conforme 
sugerido no Quadro 2.
Aula Exercícios Duração Frequência/semana
Parte 1: 
Condicionamento 
físico
Aquecimento 10 – 15 min 5
Treinamento aeróbio 30 – 35 min 3
Treinamento resistido 30 – 35 min 2
Parte 2: 
Treinamento 
esportivo
(Protocolo de 
Treinamento 
do Karate 
Kyokushin)
1) Kihon gueiko: execução 
dos movimentos básicos 10 min 5
2) Idogueiko: execução de 
movimentos combinados 10 min 5
3) Kata: execução de luta 
imaginária predefinido 10 min 5
4) Sanbon kumite: 
aplicação de movimentos 
combinados com contato
5 min 5
5) Kumite: aplicação em 
luta com contato
----------- Evitar para todo aluno 
fora da categoria 
atleta de rendimento
6) Calejamento e abertura/
flexibilidade: preparação 
física para absorção e 
aplicação de golpes
------------ Excluir esta etapa 
do treinamento 
de idosos� 
Risco articular, 
osteomuscular, 
neurossensorial, 
neurovascular e 
agravamento de 
doenças prevalentes: 
osteoporose, artrose, 
artrite, neuropatias e 
vasculopatias etc.
Treinar a flexibilidade 
na Volta à Calma�
Volta à calma
(Treinamento flexibilidade) 10 min 5
Prescrição para rotina de 5 aulas semanais com duração de 90 minutos�
Sugere-se nesta proposta de validação a exclusão de 2 conteúdos do pro-
tocolo no atendimento a idosos: o Kumite (luta com contato) e o Calejamento.
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A exclusão da luta com contato justifica-se em aspectos fisiológicos e psi-
cológicos que aumentam o risco da prática. Fisiologicamente, doenças como 
osteoporose, distúrbios de equilíbrio, perdas visuais e menor controle neuro-
motor sob velocidade podem ter aumento no risco de fraturas por impacto e 
queda. Psicologicamente o risco de acidentes aumenta pelo “efeito grupo”:pessoas de qualquer idade e condição de saúde tendem a desrespeitar limites 
e a submeter-se a maior risco em atividades coletivas, buscando aprovação 
do grupo.
Já a exclusão do Calejamento justifica-se também em questões fisiológi-
cas: a pele, os músculos e articulações no idoso tendem a ser mais frágeis e, 
quando lesionados, tendem a ter recuperação mais delicada. Doenças como 
diabetes e outras com comprometimento neurovascular podem levar o idoso a 
desprezar o limite e lesionar-se, uma vez que a dor não é uma referência con-
fiável. Indivíduos com doenças articulares diversas também poderiam ter seu 
quadro degenerativo e doloroso agravados. Por outro lado, diante da sugestão 
de exclusão do combate, desaparece qualquer justificativa para o treinamento 
de calejamento visando a preparação para aplicação e absorção de golpes.
Outra ressalva que também deve ser feita é em relação à possibilidade 
prevista no protocolo de se permitir a opção de ser ofertar turmas com ape-
nas 2 aulas semanais. Tecnicamente, no condicionamento físico aeróbio, uma 
frequência de exercícios inferior a 3 vezes por semana é considerada insu-
ficiente para proporcionar os benefícios esperados tanto para idosos quanto 
para a população em geral.
Já para o trabalho de força e flexibilidade, a frequência de 2 vezes por 
semana atende aos requisitos mínimos em relação aos ganhos para o condi-
cionamento físico e para a saúde.
Desta forma, o professor que trabalha com a perspectiva de oferta deverá 
priorizar o condicionamento de força e flexibilidade, orientando os alunos a 
buscar atividades predominantemente aeróbias nos outros 3 dias para com-
plementar o trabalho feito no Karate.
Do ponto de vista econômico e da fidelização dos alunos (adesão e per-
manência), provavelmente esta seja a melhor oferta do Kyokushin para idosos 
devido às características de repetição dos gestos desportivos e das coreografias 
nas aulas: menor frequência semanal diminui o risco de lesões por fadiga 
muscular e sobrecarga articular.
Também em relação à adesão e permanência o professor deverá ponderar 
a oferta em relação à Formação do Treino. De acordo com o Protocolo “as 
aulas são multi-níveis, ou seja, reúnem praticantes de todos os níveis de gra-
duação em um mesmo grupo que faz aula ao mesmo tempo” sendo possível 
também “dividir as turmas de acordo com o nível de aprendizado, de maneira 
a ter turmas específicas para iniciantes e turmas para praticantes com mais 
tempo de experiência, de diversos níveis de graduação”.
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Tanto do ponto de vista pedagógico quanto físico, provavelmente a opção 
pela oferta dividindo as turmas por nível de aprendizado seja mais inclusivo, 
facilitando adesão e permanência, diminuindo risco de lesões.
Isto não descarta a possibilidade de o professor trabalhar na Formação 
de Treino Multi-nível, entretanto será necessário ajustar sua metodologia: se 
a aula for só para idosos, talvez o multi-nível adaptado possa ter atrativos e 
oferecer desafios extras.
Recomendações em relação a intensidade de treinamento
Um método bastante seguro de se fazer o controle do esforço durante o 
exercício é a Escala de Percepção Subjetiva do Esforço (PSE). A mais utilizada 
em educação física é a Escala de PSE CR10 de Borg (BORG, 2000). Ela se 
aplica a toda situação em que se deseja levar em conta como a pessoa está se 
sentindo durante o exercício e é especialmente útil para aquelas pessoas em 
que a frequência cardíaca não é um parâmetro confiável (cardiopatas, medi-
cados etc.). Também é útil quando se propõem atividades de grupo, como é o 
caso do Karate Kyokushin, em que o controle individual fica quase impossível 
sem prejuízo dos aspectos pedagógicos e da dinâmica da modalidade.
A Escala CR10 de Borg é uma escala numérica e visual, que classifica 
o esforço percebido em valores que vão de 0 (zero) a 10 (dez). Estes valores 
têm uma alta correlação com os valores da Frequência Cardíaca Máxima 
(FCM) e com todo tipo de esforço e percepção da dor. Paro os objetivos do 
trabalho com idosos estes valores podem ser adaptados conforme apresentado 
no Quadro 3.
Quadro 3 – Percepção do Esforço pela CR-10 de Borg
CR10 
BORG PSE
Aeróbio
(FCM)
Força
(% 1RM)
Flexibilidade
(Ângulo, esforço)
0 Absolutamente nada
1 Muito fraco Aquecimento
2 Fraco 40% 40% Aquecimento
3 Moderado 50% 50% Volta à Calma
4 Um pouco forte 60% 60% Volta à Calma
5 Forte 70% 70% Volta à Calma
6 80% 80% Volta à Calma
7 Muito forte 90% Risco lesão
8 Risco lesão
9 Risco lesão
10 Extremamente forte Risco lesão
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Para utilizar a escala com um grupo de idosos é importante lembrar-se 
de reproduzi-la em um tamanho que permita sua fácil utilização. Se for indi-
vidual, usar fontes grandes para números e letras. Se for para uma turma o 
cartaz, quadro ou pôster deverá ser de um tamanho que permita ao aluno fazer 
a leitura de onde estiver no Dojo.
Um sinal externo de que o idoso já está em 4 na Escala CR10 de Borg 
(60% da FCM) é a aceleração da respiração. Com percepção até 3 na escala 
(50%) é possível fazer o exercício e conversar naturalmente. A partir de 4 na 
escala a fala já vai ficando entrecortada pela respiração, significando que o 
organismo já começa a acelerar a respiração para eliminar mais gás carbônico 
e evitar a acidose metabólica. Esta mudança na respiração deve ser considerada 
um indicador de que o trabalho já está próximo de 60%, mesmo que o idoso 
não esteja ainda reconhecendo isto, deve-se considerar que o esforço já está 
em 4 (um pouco forte).
Por outro lado, a sudorese (presença de suor) não é um sinal confiável 
para avaliar o nível do esforço. A quantidade de suor é muito influenciada 
por características genéticas, climáticas e, também, por medicações. Isso faz 
com que algumas pessoas fiquem ensopadas de suor em pouco tempo e sob 
o mínimo esforço, enquanto outras permanecem totalmente livres de suor 
diante dos maiores esforços.
Sabe-se que 1 em cada 10 idosos terá dificuldade em utilizar esta escala 
(devido a questões culturais, déficit de atenção, depressão, demência etc.), 
portanto utilize-a de forma crítica: na Escala de Borg 10% dos idosos poderão 
apontar valores diferentes daquilo que realmente estão sentindo.
Como é uma escala subjetiva, o desejo de parecer melhor, de agradar 
o Sensei, competir com os colegas pode levar o idoso a informar que está 
percebendo um esforço menor que o real – e o professor precisará ajudar esta 
pessoa a refrear sua pressa, sua ânsia por competir. Por outro lado, o medo de 
tentar algo novo, o medo de sofrer, o desejo de atenção extra, poderá levá-la a 
informar que está se esforçando mais que o real – e o professor precisará ajudar 
essa pessoa a aprender a lidar com seus medos e ansiedades, mostrando a ela 
que o que você planejou é seguro e que ela é capaz de cumprir o programa.
Existem diversos modelos da Escala de Borg. Algumas foram adaptadas 
colocando desenhos no lugar da PSE, de forma a facilitar o entendimento do 
aluno a esta escala. A escolha deve recair sempre sobre o modelo que melhor 
atenda às necessidades do grupo de idosos praticantes do Karate Kyokushin.
Ao compor a Parte 1 (condicionamento físico) do Protocolo de Treina-
mento de referência com 5 aulas semanais com as adaptações aqui sugeridas, 
o professor poderá dosar a intensidade em relação ao volume de treinamento 
cada componente de acordo com os parâmetros sugeridos no Quadro 4.
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Quadro 4 – Condicionamento Físico: intensidade x volume
Tipo de 
treino Intensidade Duração Frequência Repouso
Aeróbio 40 a 80% da FCM 30 a 
35 min
3 aulas/sem 6 a 24 h entre 
sessões
Força 50 a 80% de 1 RM 30 a 
35 min
2 aulas/sem 60 s entre séries 
24 a 48 h por 
grupo muscularFlexibilidade Para alongamento/
aquecimento: ângulo = 
fisiológico , movimento 
ativo.
Para volta à calma: 
ângulo = ou > fisiológico, 
movimento passivo.
10 a 
15 min
5 aulas/sem Igual ou o dobro 
do tempo de 
permanência em 
cada 
articulação
Recomendações para flexibilidade, aquecimento e volta à calma
Com relação ao aquecimento, ele pode ser feito utilizando-se os mes-
mos movimentos que serão aplicados durante o treinamento específico, sem 
pesos. O objetivo é aumentar a circulação sanguínea de forma a alcançar um 
pequeno aumento da temperatura nos músculos, facilitando o metabolismo, 
melhorando a resposta ao exercício e diminuindo os riscos. Outra estratégia 
é utilizar, nessa fase, movimentos de flexibilidade de curta duração, com 
várias repetições e dentro dos limites articulares usuais. Isso proporciona 
uma movimentação corporal geral que atinge o mesmo objetivo anterior de 
preparação para a atividade e redução de riscos.
Alongamento passivo, com maior permanência, é indicado para o final 
da atividade, na fase de relaxamento, desaquecimento ou volta à calma. 
Ele diminui a frequência cardíaca, assim como o ritmo respiratório e libera 
alguns neurotransmissores nos músculos e articulações que promovem rela-
xamento muscular e, indiretamente, relaxamento mental. Além de promover 
ganhos na amplitude articular, este tipo de exercício de flexibilidade passiva 
ameniza ou previne a sensação de dor tardia pós-treino.
Uma precaução para o professor: Se esse tipo de exercício de flexibi-
lidade passiva for realizado a título de aquecimento, antes do trabalho com 
pesos, da corrida ou do treino mais intenso do Karate, acaba-se por atingir 
o resultado oposto ao esperado, pois a redução da frequência cardíaca e o 
relaxamento muscular não são objetivos do aquecimento. Além disso, o 
relaxamento promovido pode aumentar o risco de lesões musculares.
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Recomendações de intensidade para treinamento aeróbio
As atividades físicas de natureza aeróbia são fundamentais para a saúde 
do idoso e atuam como proteção contra diversos fatores de risco para as 
doenças cardiovasculares.
As características básicas na prescrição de um treino aeróbio para ido-
sos são as mesmas da prescrição para o adulto jovem. Quando se fala em 
intensidade, a FCM representa o máximo de esforço fisiologicamente possí-
vel; a partir dele, o sistema cardiorrespiratório não consegue mais suportar 
esse empenho. Jamais se treinará próximo a 100% da FCM com o idoso. 
Mesmo atletas jovens, que têm alto rendimento, não trabalham mais que 
alguns minutos nessa intensidade.
Em um programa de treinamento para idosos atletas, a intensidade 
será diferente em cada fase do treino, podendo chegar a valores próximos 
dos 85% da FCM. Para a maioria dos idosos ativos, com o objetivo de pro-
moção de saúde e condicionamento físico, a faixa de trabalho será de 50% 
até valores próximos dos 60% da FCM (um pouco mais para alguns, um 
pouco menos para outros).
Para idosos em reabilitação cardíaca (depois de um infarto ou de uma 
internação por fratura, por exemplo), para os sedentários em início de treina-
mento e para aqueles que se afastaram do Karate Kyokushin para tratamento 
de saúde, a intensidade deve começar com FCM próxima de 40%. A duração 
do treinamento deve variar entre 20 e 35 minutos e os aumentos devem ser 
feitos gradualmente, tendo como meta a intensidade de 50% a 60%. Após 
essa fase terapêutica de adaptação ao exercício é que o idoso passará a 
treinar com prescrições semelhantes à dos idosos ativos.
Com relação à seleção de atividades para o treinamento aeróbio, é 
preciso separar as atividades de acordo com a maior ou menor possibilidade 
de controle sobre a intensidade do exercício que cada modalidade possi-
bilita. Como o objetivo dos exercícios aeróbios neste protocolo é garantir 
o condicionamento físico para os praticantes idosos de karate (iniciantes, 
sedentários e em reabilitação) é necessário escolher atividades que permi-
tam um controle maior da intensidade (denominadas exercícios contínuos). 
Bons exemplos dessas atividades são caminhar e correr em pista ou esteira, 
pedalar, subir escadas.
Recomendações para treinamento de força
O treinamento da força muscular é importante para o idoso manter 
a sua capacidade de realizar as tarefas cotidianas, as quais, normalmente, 
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necessitam muito mais de força muscular e de flexibilidade do que de capa-
cidade aeróbia.
As características básicas na prescrição de um treino de força para 
idosos são as mesmas da prescrição para o adulto jovem. Os princípios 
fundamentais do planejamento de um programa de treinamento de força 
são os mesmos, não importa qual a idade dos participantes.
No protocolo de um programa de exercício de força para idosos, deve-
-se considerar a seleção do exercício, a sequência de exercícios, a inten-
sidade utilizada, o número de séries, o tempo de repouso entre as séries e 
entre os exercícios, respeitando, dessa maneira, as adaptações dos meca-
nismos fisiológicos. O melhor programa é o individualizado, para atender 
às necessidades e às condições de saúde de cada pessoa, porém como o 
Karate é uma atividade grupal, o programa deverá ser ajustado para respeitar 
esta característica.
Diferentes protocolos de prescrição atingem diferentes resultados. 
Assim, com intuito de melhorar a força para atender às necessidades da 
vida diária, aplica-se o protocolo com as recomendações gerais de exercícios 
múltiplos, uniarticulares, com ênfase na fase concêntrica do movimento 
realizado em velocidade lenta a moderada. Indicam-se 1 a 3 séries para 
cada exercício, realizando-se 8 a 12 repetições com 60% a 80% de 1 RM 
com intervalo de recuperação de 1 a 3 min entre as séries.
Para trabalhos específicos de potência e resistência, os protocolos 
sofrem pequenos ajustes. No treinamento de potência, recomendam-se 
exercícios múltiplos, uniarticulares e de 1 a 3 séries para cada exercício, 
realizando-se de 6 a 10 repetições com 30% a 60% de 1 RM com velocidade 
maior na execução dos movimentos.
Já para a melhora de resistência, indica-se protocolo semelhante ao 
de adultos jovens, com cargas moderadas, maior número de repetições (10 
a 15 ou mais) e velocidade baixa.
Quanto à seleção de atividades para o treinamento de força, estão incluí-
das nessa categoria todas as modalidades de trabalho resistido, tanto em 
máquinas, quanto com pesos livres e aquelas que utilizam o peso do próprio 
corpo e outros implementos, como elásticos, bolas etc.
Não há diferença no resultado final para o desenvolvimento da força 
em idosos entre trabalhos com ou sem aparelhos quando o objetivo é o 
condicionamento físico dentro de um protocolo de prática esportiva. As 
diferenças situam-se mais em relação a outras variáveis, como segurança 
e trabalho neuromotor.
No que diz respeito à segurança, os aparelhos fixos (de muscula-
ção, pilates etc.) são os mais indicados, porém oferecem menor estímulo 
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neuromotor para desenvolvimento de habilidades, como equilíbrio e coor-
denação, entre outras. Já nas atividades com implementos móveis ou peso 
do próprio corpo, esses estímulos são mais evidentes, principalmente com 
relação ao equilíbrio. Entretanto, o controle do exercício não é tão grande 
quanto nas máquinas, o que os contraindica para situações que exijam con-
trole total do risco.
A vantagem das técnicas com implementos móveis e utilizando o peso 
do próprio corpo no trabalho de força com o idoso praticante do Karate 
Kyokushin está, inicialmente, no seu baixo custo e na facilidade de ser 
desenvolvido no próprio Dojo. A outra vantagem é com relação ao aspecto 
pedagógico: é mais dinâmico, facilitaa interação, o convívio, a participação 
e a integração, favorecendo os aspectos psicossociais do trabalho.
Outra opção de trabalho de força para o professor de Karate que não 
possui equipamentos para musculação no Dojo é a realização desta parte 
do treino ao ar livre nos parques e praças que possuem instalados circuitos 
de treinamento dos programas de saúde pública.
Recomendações para treinamento das técnicas do Karate
Primeira parte: “Kihon-gueiko” – execução dos movimentos básicos
Nesta parte da aula são praticados os 30 movimentos obrigatórios da 
arte do Karate Kyokushin, que devem ser realizados em todas as aulas, por 
todos os praticantes, independentemente do nível da graduação.
Na validação para idosos a principal recomendação é em relação à 
duração, sugerindo-se a redução para 10 minutos (Quadro 2), visando dimi-
nuir o risco de sobrecarga muscular e articular devido ao elevado número 
de repetições preconizado (1.190 no total).
Sugere-se que o professor utilize a prerrogativa prevista no Protocolo 
de que, em função das características da turma, ele pode definir qual é o 
ritmo de execução dos movimentos, o que permite um ajuste da intensi-
dade do desgaste físico dessa parte da aula, inclusive realizando pausas 
de recuperação.
Como, de acordo com o Protocolo, os movimentos são realizados de 10 
em 10 repetições, sugere-se que o professor que atende grupos de idosos 
realize apenas séries de 10 repetições para cada movimento, alternando 
séries para membros superiores com outras para os membros inferiores.
Em relação às correções ao longo da execução, o professor deverá 
investir em todos os aspectos preconizados pelo protocolo, com especial 
atenção aos itens (c) e (d): ângulo, direção e potência na execução dos 
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movimentos. Por questões de segurança e prevenção de lesões, os ângulos, 
direções e potência deverão respeitar os limites fisiológicos.
Devem-se evitar hiperextensões, compressões articulares, posições 
instáveis com grande exigência de controle motor e também os gestos que 
combinem força e velocidade em curto espaço de tempo (potência, no jargão 
das artes marciais).
Esta recomendação deve ser seguida mesmo em detrimento da perfeição 
do gesto desportivo (performance) pois, no caso do trabalho com idosos 
saúde e segurança para poder praticar por muitos anos é mais importante 
que alcançar metas em curto prazo e deixar a prática para tratar lesões.
Segunda parte: “Idogueiko” – execução de movimentos 
combinados
Nessa atividade, em que o professor realiza a descrição verbal de uma 
sequência aleatória de movimentos básicos, sem demonstração, a memória, 
a orientação espaço-temporal e outras habilidades psicomotoras dos idosos 
são desafiadas.
Para esta parte, para validação do protocolo, mantêm-se as sugestões 
relativas à duração (10 minutos) e cuidados com a execução (alternância 
entre membros superiores e inferiores e cuidados com ângulo, direção e 
potência na execução dos movimentos). Sugere-se ainda que se evitem, para 
um mesmo segmento corporal, séries acima de 10 repetições, pelas mesmas 
razões expostas na Primeira Parte.
Terceira parte: “Kata” ou luta imaginária
Esta atividade também oferece desafios para a memória, a orientação 
espaço-temporal e outras habilidades psicomotoras dos idosos, pois o treino 
de Kata reproduz simuladamente a situação de combate, exigindo a memori-
zação de uma sequência fixa de 20 ou mais movimentos de ataque e defesa. 
Nesta atividade busca-se o refinamento da técnica, devendo os movimentos 
serem realizados com maestria técnica, beleza postural e vigor.
Como o Kata é constituído por um sequenciamento dos movimentos 
básicos, valem para esta parte da aula as mesmas recomendações em relação 
à segurança e execução dos movimentos propostas para as outras partes da 
aula, sendo que se propõe também que o tempo dedicado a esta parte da aula 
não ultrapasse 10 minutos. Se necessário, os objetivos de aprendizagem e 
performance devem ser distribuídos ao longo do tempo no planejamento 
do professor.
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Quarta parte: “Sanbon kumite’ ou aplicação de movimentos 
combinados com contato
Nesta parte da aula realiza-se o combate simulado em duplas com 
movimentos previamente combinados de chutes, joelhadas e socos, com 10 
repetições para cada lado.
Valem também para esta parte as recomendações das partes anteriores, 
acrescidas da sugestão de que se reduza o tempo da atividade para 5 minu-
tos, para que o efeito motivador do “prazer de lutar” não seja superado pelo 
risco de lesões e acidentes.
Como nesta validação propõe-se a separação entre parte técnica e condi-
cionamento físico, sugere-se a supressão dos exercícios de condicionamento 
(apoio, agachamento, parada de mãos etc.) previstos no Protocolo para esta 
parte da aula.
Quinta e sexta partes: “kumite” com contato e calejamento
Nesta validação sugere-se que, no atendimento a grupos de idosos com 
objetivos de saúde, condicionamento físico e qualidade de vida estas partes 
sejam excluídas das aulas, pelas razões expostas em “3.3. Recomendações 
em relação ao volume de treinamento”.
Idosos em condições físicas e interessados nos aspectos competitivos 
da arte do Karate Kyokushin devem ser encaminhados para o treinamento 
em grupos específicos para a prática da arte como esporte de rendimento.
Progressão e prevenção de riscos
Para se realizar com segurança a progressão do treinamento sugere-se 
que, na aplicação do Protocolo de Treinamento do Karate Kyokushin, o 
professor respeite rigorosamente o Princípio da Progressividade do treina-
mento esportivo. Este princípio preconiza que a sobrecarga deve ser aplicada 
sem saltos, gradativamente, para garantir os benefícios e prevenir lesões 
ou acidentes.
Recomendações ou proibições médicas em relação a doenças, limi-
tações físicas, necessidades especiais ou outras que afetem a intensidade 
devem ser rigorosamente respeitadas e constantemente relembradas durante 
a prática. O idoso tende a ter memória seletiva, esquecendo o que lhe desa-
grada. Além disso, em grupo, todo mundo tende a ter comportamentos mais 
arriscados buscando inclusão e aceitação.
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Considerações finais
Verificou-se que o Protocolo de Treinamento do Karate Kyokushin 
atende aos princípios gerais da prescrição visando incrementos na saúde, 
qualidade de vida e maior autonomia nas atividades da vida diária de idosos, 
podendo ser prescrito para idosos na perspectiva de esporte de participação 
e promoção da saúde.
O treinamento do Karate Kyokushin pode melhorar a capacidade aeró-
bia, a força, o equilíbrio, o trabalho em equipe e a memória, além de ser um 
auxiliar na redução das queixas dolorosas. O professor que trabalha com 
idosos deve observar algumas recomendações de adaptações em relação à 
divisão formal dos conteúdos de condicionamento físico e de treinamento 
específico da arte marcial, bem como adequações na intensidade e no volume 
de treinamento visando diminuir risco de lesões, acidentes e agravos de 
doenças prevalentes.
Respeitadas estas recomendações, conclui-se que o Protocolo de Trei-
namento do Karate Kyokushin possui conteúdos desafiadores do ponto de 
vista físico e psicomotor, além de estimulantes do ponto de vista social e 
filosófico, podendo ser desenvolvido satisfatoriamente com alunos idosos.
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CAPÍTULO 5
TÉCNICAS DE CALEJAMENTO: 
técnicas do calejamento e suas adaptações 
anátomo-fisiológicas baseadas em evidências
Lídia Mara Aguiar Bezerra11
Victor Lage12
Introdução
Nas bases do Karate praticado como arte marcial está o conceito conhe-
cido como “ikken hissatsu” ou “ichigeki hissatsu” (em japonês 拳必殺) que 
pode ser traduzido livremente por “um golpe, uma morte”, ou seja, aniquilar o 
oponente em uma luta com apenas um golpe. Para que tamanha eficiência seja 
obtida, o karateka deve se submeter a um treinamento intenso, que promova 
o aperfeiçoamento da técnica e do corpo.
Em alguns estilos de Karate, principalmente aqueles com linhagem ou 
influência okinawana, além do aprendizado dos fundamentos técnicos de 
kihon13, kata14 e kumite15, há o treinamento intenso chamado “hojo undo”, tam-
bém conhecido como “kigu undo” (em japonês 補助運動), que pode ser tradu-
zido como “exercícios suplementares”, os quais ensejam o condicionamento 
físico e estão enraizados nas tradições marciais chinesas (CLARKE, 2009) 
(Figura 1), e algumas de suas técnicas são popularmente conhecidas como 
“calejamento”.
É intrínseco ao conceito de um treinamento intenso: (a) que é uma prática 
indicada para aqueles que apresentam um nível de proficiência elevada; (b) 
11 Doutora em Educação Física. Docente credenciada do Programa de Pós-Graduação em Educação Física 
da FEF/UnB. Contato: lidiabezerra@unb.br
12 Doutor em Ciências da Saúde. Membro da Diretoria Científica da Federação Paulista de Karate-Do Tradicional 
(FPKT). Contato: victorlage@unb.br
13 Kihon (em japonês: 基本): pode ser traduzido como “fundamento”, “base”, e compreende o conjunto de 
fundamentos e técnicas básicas do Karate.
14 Kata (em japonês:型): pode ser traduzido como “forma”, e compreende o conjunto de técnicas combinadas 
de maneira lógica com bloqueios, chutes, socos e demais técnicas fundamentais do karate em exercícios 
formais, com movimentos em ordem, sincronia e direção específicos (NAKAYAMA, 2011).
15 Kumite (em japonês: 組手): e consiste no método de treinamento em que se aplicam as técnicas de ataque 
e defesa aprendidas no kihon e no kata. Trata-se da luta propriamente dita, a qual evolui progressivamente 
em aspectos técnicos durante o aprendizado e desenvolvimento no karate.
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que deve ser supervisionada por profissionais especializados; (c) que exige 
avaliação prévia que dê garantias de uma boa condição de saúde; (d) que a 
intensidade do treino é regulada de forma individualizada; (e) que é uma 
prática recomendada para jovens adultos.
Figura 1 – Ilustrações do “hojo undo” feitas por chineses
Retirado e adaptado do site https://br�pinterest�com/pin/220254238000685223/
Geralmente, esta sessão de condicionamento físico é precedida por uma 
preparação do corpo e da mente do karateka, conhecida como “junbi undo” 
(em japonês 準備運動), que pode ser traduzido como “exercícios prelimina-
res” (Figura 2). A preparação é composta por técnicas de aquecimento, que 
exigem concentração e foco do executante e estão alinhadas com as exigências 
físicas dos grupos articulares e musculares específicos a serem explorados 
na sessão seguinte do “hojo undo”. Outro detalhe importante na sessão de 
“junbi undo” está em “acalmar a mente”, reduzir as “distrações externas” e 
concentrar-se no objetivo do treino.
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Figura 2 – Alguns “exercícios preliminares” realizados no “junbi undo”
 
Retirado do site http://legacy.ymaa.com/articles/about-junbi-undo-part-1
As possibilidades de execução do treinamento do “hojo undo” (cale-
jamento) podem ser didaticamente divididas em exercícios realizados com: 
equipamentos de levantar; equipamentos de impacto; outros tipos de equipa-
mentos; exercícios de condicionamento e auxiliares (ver Figura 3).
Figura 3 – Esquema simplificado das diferentes formas 
de treinamento do “hojo undo” (calejamento)
HOJO UNDO
EQUIPAMENTOS
LEVANTAR
IMPACTO
OUTROS
CONDICIONAMENTO
AUXILIARES
EXERCÍCIOS
Historicamente, condicionar o corpo e a mente para enfrentar os desafios 
reais de combate com “equipamentos de levantar” encontra os seus registros 
históricos em diferentes povos. Para este fim, os orientais desenvolveram varia-
das ferramentas, as quais algumas ainda encontramos atualmente. Quase todas 
as ferramentas foram elaboradas a partir de itens domésticos comuns, objetos 
de trabalho e utensílios que estavam facilmente à mão (CLARKE, 2009), e 
eram utilizados com o objetivo de aumentar a força e aperfeiçoar a técnica, 
como pesos que se assemelham a halteres, barras, arcos de metal, jarras e até 
tamancos feitos de pedra ou ferro (Figura 4).
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Figura 4 – Alguns objetos utilizados do “hojo undo”
Retirado do site https://br.pinterest.com/pin/559290847448539185/?lp=true
Nos exercícios e os materiais utilizados no treinamento de calejamento, 
não há uma ordem pré-estabelecida, como também, não precisam ser construí-
dos necessariamente com os materiais descritos neste capítulo, podem variar 
de acordo com os recursos disponíveis e objetivo do treinamento.
A utilização destes equipamentos de levantar além de robustecer o corpo 
como um todo, fortalecem as bases/posturas das pernas, braços, tronco, mãos 
e pés, por exemplo, ao segurar os “nigiri gami” (“jarras de segurar”) com as 
pontas dosdedos enquanto fica imóvel e/ou executa diferentes movimentos 
com as pernas. Em outro exercício há a utilização do “tetsu geta” (“tamanco 
de ferro”) com o objetivo de levantar as pernas e pés de diferentes formas 
(ver Foto 1).
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Foto 1 – Karatecas no treino de calejamento com 
o “tetsu geta” (A) e o “nigiri gami” (B)
A
B
Retirado dos sites: (A): http://www.nantanreikan.ca/Glossary/T/tetsu%20geta/tetsu%20geta.html; 
(B): https://borhshotokan.wordpress.com/2015/06/08/hojo-undo-metodos-de-entrenamiento-olvidados-
del-karate-tradicional/
Na preparação física, o uso de equipamentos se caracteriza como um recurso 
crucial para o treinamento esportivo, tendo em vista que permite um aumento subs-
tancial na intensidade da sobrecarga. Porém, todas as vezes em que o organismo 
precisa lidar com uma caga superior à decorrente dos seus próprios movimentos 
naturais, amplia-se, proporcionalmente, o risco da ocorrência de lesões, ou, algo 
que também deve ser supervisionado pelos profissionais responsáveis pelo treino, 
o risco da ocorrência de erros na execução técnica dos movimentos.
Os equipamentos de impacto são amplamente conhecidos e envolvem 
materiais e estruturas que visam fortalecer as áreas do corpo utilizadas nas 
técnicas de ataque e defesa. A diversidade de equipamentos é grande, como o 
“jari bako” (“caixa de cascalho”16), “ude kitae”17 (“poste de bater”), entretanto, 
o mais conhecido é o “makiwara” (“palha enrolada”), usualmente feito com 
16 Apesar da tradução conter o material “cascalho”, o conteúdo do jarro pode variar de acordo com a opção 
do praticante (grãos, sementes etc), sendo também comum o uso de areia (“suna bako”).
17 A tradução literal de “ude kitae” (em japonês 腕鍛) seria “forjar o braço”, “fortalecer o braço”. Este treinamento 
está inserido no bloco de treinamento conhecido como “ude tanren” (em japonês 腕鍛錬), que pode ser 
traduzido como “exercícios de braço”.
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madeira, palha ou outros materiais flexíveis e utilizado para imprimir golpes 
geralmente com os cotovelos, mãos e pés (Foto 2).
Foto 2 – Sosai Oyama em treinamento no “makiwara” (A); Karatekas 
em treinamento com o “jari bako” (B) e “ude kitae” (C)
A B C
Retirado do site: (A) https://br�pinterest�com/pin/104145810112325800/; 
(B e C) https://iogkfcolombia.wordpress�com/hojo-undo/
Outros equipamentos ou instrumentos do calejamento podem englobar 
os sacos de pancada, para golpear com ataques diversificados (socos, chutes 
etc.) ou simplesmente deixar que colidam com determinadas regiões do corpo, 
arcos de ferro ou pequenos sacos de pedra para fortalecer as mãos (ver Foto 3).
Foto 3 – Treinamento com o saco de pancada em colisão com a coxa (A), 
fortalecimento das mãos e antebraços com o “tetsuwa” (“arco de ferro”) (B); 
fortalecimento das mãos e dedos com o “ishibukuro” (“saco de pedras”) (C)
A B C
Retirado e adaptado de Clarke (2009)�
Os exercícios de impacto e os voltados para ampliar a potência na rea-
lização de golpes devem ter, obrigatoriamente, como corolário, a avaliação 
prévia do praticante que assegure o domínio e a precisão técnica na execução 
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dos movimentos, caso contrário, tanto não há vantagem em desenvolver uma 
força que não é utilizada de forma correta, como também, as falhas técnicas 
podem ampliar o risco de lesões, pois, a carga é aplicada de forma inadequada 
sobre o corpo.
Os exercícios de condicionamento corporal são realizados geralmente em 
duplas e sem o uso de ferramentas. Há inúmeras formas de execução e podem 
ser combinados com o objetivo geral de cultivar a habilidade de “aplicar e 
absorver/receber o impacto”, um elemento importante de qualquer técnica de 
karate (CLARKE, 2009). Estes treinamentos se fazem em sequências repeti-
das de ataques e defesas em determinadas partes do corpo, como antebraços, 
coxas, pernas e abdômen (ver Foto 4).
Foto 4 – Treinamento de “ude tanren” para região do antebraço
 
Retirado de Clarke (2009)�
Nos exercícios em duplas é fundamental que os praticantes estejam no 
mesmo nível de proficiência técnica, como também, que tenham características 
corporais equilibradas, caso contrário, o praticante mais graduado e o com 
porte físico mais avantajado devem ser alertados para sua responsabilidade 
em não machucar, em hipótese alguma, o seu companheiro de treino.
E para completar a composição do calejamentos, incluem-se os exercícios 
auxiliares que possuem múltiplas variantes, podem ser realizados individual-
mente ou em duplas, com o objetivo de fortalecer o corpo com movimentos 
semelhantes a calistenia, porém, com maior direcionamento para os grupos 
musculares utilizados no karate (Figura 5). A execução pode preceder ao pró-
prio treino específico do calejamento, ou também aplicado em praticantes que 
apresentam alguma limitação física (temporária ou não), além daqueles que 
ainda não são considerados aptos a praticar o calejamento, como crianças e 
adolescentes, devido ao risco de lesões que agravem o sistema osteomuscular.
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Figura 5 – Ilustrações com a execução de alguns exercícios auxiliares
Retirado e adaptado de Clarke (2009)�
A prática do calejamento geralmente está associada à familiarização com 
a dor corporal e, consequentemente, ao aumento da capacidade para absorver 
os golpes. Apesar desta concepção já ter sido ampliada e aprofundada neste 
texto, torna-se importante a compreensão dos possíveis desdobramentos de 
sua prática em relação a saúde. Assim, por causa da natureza de contato da 
modalidade, lesões são um risco inerente e devem ser investigados.
Greier, Riechelmann e Ziemska (2014) realizaram um estudo retrospec-
tivo ao longo de 36 meses sobre lesão em “karatekas” amadores de Kyoku-
sinkai (full contact) com 114 participantes e Karate tradicional (semi-contato) 
com 101. Os resultados mostraram das 217 lesões, 125 (58%) ocorreram com 
a técnica de full contact 92 (42%) com o estilo “semi-contato”. Para a lesão 
musculoesquelética 33% para full contact contra 20% para o semi-contato, 
seguindo pelas entorses, 19% e 16%, respectivamente. Os dados sugerem 
que não existem diferenças na incidência de lesões quando se comparam 
modalidades de luta que sejam full contact ou semi-contato, o que pode estar 
associado às especificidades que caracterizam a fase de preparação dos luta-
dores em cada um dos estilos.
Por outro lado, aqueles que praticam a modalidade, com o objetivo de 
melhora ou manutenção da saúde, devem receber a orientação adequada do 
profissional da luta para que essas lesões não ocorram. Dessa forma, as téc-
nicas de calejamento serviriam para praticantes experientes, interessados em 
aumentar o rendimento competitivo, ou, que estejam sujeitos a situações reais 
de luta/combate, pois, apesar da intensidade do treinamento, podem, com uma 
orientação adequada, manterem-se íntegros fisicamente para dar continuidade 
à prática da modalidade.
Se a intenção for oportunizar a todos os karatecas experiências equivalen-
tes e o contato com os elementos tradicionais do estilo, é importante analisar 
as adaptações que podem ser sugeridas para que os praticantes tenham as 
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experiências, porém, com um nível de exigência e intensidade adequados à 
sua condição biológica, sua idade e seus interesses na prática da modalidade.
Assim, para auxiliar nessa reflexão, este capítulo também abordará quais 
adaptações ocorrem no corpo que se submete ao treino do calejamento espe-
cífico do Karate. Todas as informaçõesforam baseadas em estudos científicos 
com treinos do Karate, outras lutas e situações similares.
Para que ocorram as adaptações do corpo ao estresse provocado pelo 
treinamento do calejamento, são necessárias adaptações dos sistemas ósseo, 
muscular (força, massa muscular e velocidade) e tegumentar (calos). Adiante 
será reportado, baseados em evidências, as adaptações osteomioarticulares e 
tegumentar relacionado às técnicas de calejamento. No entanto, as adaptações 
não ocorrerão se o participante não preparar a mente para se submeter às 
situações como dor e superação da dor, assim como, se não planejar, atencio-
samente, a progressão adequada da intensidade dos exercícios.
Adaptações corporais
A dor
As atitudes em relação a dor, e as estratégias cognitivas que atletas utili-
zam enquanto experimentam a dor, podem ser refletidas nos níveis de tolerân-
cia da dor e sua performance e aderência à reabilitação após lesão no esporte. 
A associação e dissociação são as estratégias mais utilizadas para aumentar a 
tolerância à dor e aumentar a performance. Ainda não está claro como esses 
resultados atuam na superação da dor associada à reabilitação.
A maioria das técnicas de indução de dor se justifica por serem seguras, 
pois os indivíduos podem dosar a força dos golpes que desejam receber ou a 
força que impõem ao executar um golpe contra alguma superfície. Em outras 
palavras, a indução à dor está sob controle do praticante e pode terminar a 
qualquer momento. Não apenas o agente estressor será finalizado, mas a 
experiência da dor também diminuirá porque a dor é devida à estimulação.
É possível que, durante o treino da tolerância a dor, o nível da estimula-
ção seja maior, em algumas situações experimentais, do que na maioria das 
situações reais da vida. Sendo assim, a dor muscular induzida pelo exercício 
de calejamento, fornece níveis reais de dor para tolerar, de forma a ajudar o 
praticante a suportar, em situações de combate, a sensação de algum golpe 
recebido, sem perder o controle da situação (PEN; FISHER, 1994).
Portanto, aqueles que almejam estar mais próximos das situações reais 
da luta deverão expor, de forma responsável, partes do corpo para indução de 
dor. A teoria do “portão da dor” proposta por Wall e Melzack (1965) e Fields 
(2013) explica anátomo-fisiologicamente o alívio da dor por meio da técnica 
de Estimulação Periférica Nervosa (EPN). A teoria propõe que a transmissão 
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da dor da periferia para o cérebro é regulada pelo “portão da dor” localizado 
na coluna posterior da substância cinzenta da medula espinhal. O “portão” 
pode ser aberto pelo impulso das fibras do neurônio nociceptivo C e A – e 
“fechado” pelo impulso da fibra “larga” não-nociceptiva. De acordo com 
essa teoria, a estimulação elétrica aumenta até que o impulso da fibra larga 
se sobrepor ao impulso da fibra nociceptora e “fechar” o “portão”.
A dor é uma experiência sensorial desagradável produzida pelo risco 
potencial de danos em tecidos do corpo. No entanto, a “dor” sendo uma expe-
riência sensorial é distinta de nocicepção, na qual refere-se ao mecanismo 
neural que detecta o dano tecidual. Assim, essa distinção denota que a dor 
não está necessariamente relacionada, de forma direta, com um dano tecidual. 
Um dado estímulo pode ou não ser acompanhado da sensação de dor, ou seja, 
existem condições nas quais a dor ocorre sem dano aparente. Essa definição 
também salienta que a dor tem um componente motivacional importante, 
um aspecto de desconforto ou sofrimento. Esta qualidade aversiva pode ser 
avaliada e muitas vezes separada do componente sensorial discriminativo 
da sensação na qual se julga sobre a intensidade, a qualidade e a localização 
(HEINRICHER, 2004).
O treinamento de calejamento, portanto, contribui, de certa maneira, para 
desarmar o mecanismo biológico criado para proteger o organismo de lesões, 
a dor. Os praticantes devem, portanto, estar conscientes de que a capacidade 
de suportar a dor pode contribuir para ocultar uma lesão inicial, que pode 
se agravar pela não interrupção do treinamento ou da competição. Logo, se 
a dor perdurar com a mesma intensidade ou com intensidade maior por um 
período superior a 48h (qual é o tempo?), um médico deverá ser consultado. 
Uma recomendação importante para os instrutores é iniciar o treino com uma 
pergunta sobre as consequências do treino anterior, o que lhe permite avaliar a 
gravidade da situação e decidir se o praticante deve ou não participar do treino.
Na pele
A pele é o tecido mais dinâmico de toda a parede corporal (fáscias, ten-
dões, ligamentos, músculos) e oferece potencial adaptação. A pele é composta 
por duas camadas principais, a epiderme (mais superficial) e a derme (mais 
profunda). A epiderme é uma camada desprovida de vascularização, e sua 
espessura varia de 0.07 – 0.12mm, e para as palmas das mãos e planta dos 
pés varia de 0.8 mm – 1.4 mm. Essa camada contribui para a manutenção à 
tolerância às cargas mecânicas e serve de proteção. Já a camada da derme é 
a matriz de tecido conjuntivo da pele provendo força estrutural, estoque de 
água e interação com a epiderme (Figura 6).
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Figura 6 – Estrutura da pele e suas camadas
Epiderme
Derme
Hipoderme
Fáscia profunda
Músculo
Fonte: Adaptada de Sander et al. (1995)�
Na derme existem componentes que promovem às adaptações, uma 
delas é a Elastina que fornece à pele integridade às cargas leves, pois a essa 
proteína ao se degradar faz com que a pele perca sua capacidade de recuo. O 
colágeno é o principal componente de suporte de carga e fornece integridade 
mecânica à carga mais altas, pois sua remodelação ocorre inclusive durante 
o estresse e na recuperação de feridas. Essa remodelação depende da síntese 
e catabolismos do colágeno.
Já os Glicosaminoglicanos (ácido hialurônico, sulfato de dermatam e 
sulfato de condroitina) contribuem para a viscoelasticidade natural da pele. 
Durante a recuperação dos tecidos os níveis de ácido hialurônico e sulfato de 
condroitina aumentam em resposta à adaptação à pressão imposta no local. Por 
outro lado, células como os fibroblastos são responsáveis pelo o alinhamento 
das fibras de colágeno no local onde foi imposto a carga, assim contribuindo 
para a recuperação/adaptação e fortalecimento in situ.
Em relação às cargas providas de cisalha e fricção, essas forças são apli-
cadas na superfície plana da pele, enquanto as outras vem de diversas direções 
na forma de pressão. A fricção ocorre quando existe um deslocamento entre 
a pele e a superfície de suporte podendo desenvolver bolhas. Para entender a 
função na formação de bolhas o estudo de Jogada et al (1981) demonstrou que 
a probabilidade de aparecimento de bolhas nos pés foi menor em pessoas que 
corriam 30 milhas/semana quando comparados aos que corriam 10 milhas/
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semana e nesse estudo também pode ser observado que a formação de bolhas 
ocorria nos estágios iniciais.
Adicionalmente, as bolhas se formam no interior da epiderme como 
um resultado de cisalhamento entre a epiderme e às camadas mais profun-
das ancoradas criando uma zona de contato que sofre algumas modificações 
(SULZBERGER et al., 1966). Em resposta à fricção, a pele se ruboriza e 
a epiderme se rompe suavemente produzindo uma dor aguda. As bolhas se 
formam apenas nas palmas das mãos e planta dos pés, pois a camada mais 
superficial é espessa o suficiente para formar uma proteção (telhado), para 
peles mais finas a fricção resulta em abrasão.
A sensibilidade da pele acima das proeminências ósseas é explicada de 
forma mecânica, pois o estresse concentrado em uma região com pouca quan-
tidade de tecido conectivo (elastina) entre osso e superfície da pele aumentao risco de dano tegumentar. Portanto, torna-se necessário os cuidados ao 
submeter áreas com muita sensibilidade de pele tais como o dorso das mãos 
(dedos e metacarpos) e dos pés e região anterior da perna, cotovelos, joelhos.
Assim como músculos e ossos, a pele também se altera quando sua super-
fície é imposta às cargas, pois ocorre um espessamento da sua estrutura quando 
submetidas à pressão gerando um estímulo conhecido como “força de cisa-
lhamento”. Isso ocorre quando um tecido (no caso pele) é forçado em direção 
oposta, por exemplo: uma mão segurando em uma barra, pois enquanto uma 
pessoa tenta elevar seu corpo, em especial na palma da mão, a força da gra-
vidade é contrária à força de preensão palmar para sustentar o peso do corpo. 
Com isso, a força de cisalhamento é iniciada nas camadas mais superficiais da 
pele (epiderme e derme), assim deve-se tomar o cuidado para que essa força não 
rompa o tecido e ocasione injúrias. O rompimento da pele interrompe ou dimi-
nui a intensidade do treinamento, o que compromete o resultado pretendido.
Os calos formados pela exposição às forças de cisalhamento promovem 
uma “área de força” na qual é provida de melhor circulação do que outras áreas 
não treinadas, pois quando um calo é formado em uma área na qual ocorreu 
uma fricção, esta região torna-se como escudo para os próximos estímulos. 
Para tanto, é importante que calos sejam formados nas mãos e nos pés para 
otimizar as ações de força (durante movimentos e recepção de cargas extra-
corpóreas) dos membros superiores e inferiores.
Exige-se cuidado ao expor as áreas durante as técnicas do calejamento, 
pois caso desenvolvam-se danos teciduais como mudança na cor da pele, 
bolhas, contusões e escoriações são sinais de má condução dos exercícios. 
Caso o praticante insista (sem devida orientação) em continuar a submeter a 
área às práticas podem desenvolver lesões irreversíveis como úlceras e danos 
ao nível articular e ósseo e necrose tecidual.
É importante frisar para os praticantes que a essência do treinamento de 
“hojo undo” é colocar o seu corpo diante de um elemento da natureza que, 
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inicialmente, é mais forte do que ele, no caso do “makiwara”, por exemplo, 
a madeira. O treino sistemático e o enfrentamento da dor contribuem, pro-
gressivamente, para o fortalecimento do corpo, até que, ao final, o praticante 
seja capaz de realizar um quebramento, sem se ferir. Logo, um praticante que 
menospreza a força da natureza, ou, que não conhece os limites do seu corpo, 
ou, que não tem humildade e paciência para colher os resultados esperados, 
pode ser considerado como um lutador sem sabedoria.
No Tecido Ósseo
Além do aumento da tolerância à dor, existem outras adaptações que 
ocorrem em pessoas que treinam essa técnica de calejamento. Assim como em 
outras artes marciais, o Karate requer alto nível de técnica, alto desempenho 
físico que envolva em conjunto força, flexibilidade, rapidez e capacidade 
aeróbia. Logo, ocorrem adaptações osteomioarticulares.
Em relação à adaptação óssea vale ressaltar que o osso é um tecido dinâ-
mico, sendo 90% composto por material orgânico extracelular de uma única 
proteína que permite força tênsil ao osso. E está presente também o compo-
nente inorgânico da matriz óssea é composto basicamente de cálcio e fosfato 
formando os cristais de hidroxiapatita que quando submetido à compressão e/
ou tensão geram descarga elétrica (efeito pizoelétrico) que ativa células ósseas 
(osteoblastos, osteoclastos e osteoides) para a remodelação óssea.
A remodelação óssea, em uma situação normal, dura em média três 
semanas (PEAK et al., 2000) e em pessoas idosas, por volta de quatro meses 
(CAREY et al., 2009). Assim, o osso sendo um tecido altamente dinâmico 
(Figura 7), suficientemente rígido para resistir às forças de tração, compressão, 
torção etc. Segundo Ihijma et al. (2001), o osso é um tecido elástico e quando 
submetido à ação de uma força, sofre deformação, mas se cessada essa força, 
volta ao seu estado inicial. Ainda, segundo a teoria de Woff’s que apregoa o 
“princípio da adaptação funcional”, pois, o osso adapta-se às suas funções 
por práticas recentes (RUBIN et al., 2002).
Figura 7 – Processor de remodelação óssea
Adaptado do site http://ns�umich�edu/Releases/2005/Feb05/bone�html
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Outra teoria que contribui para o entendimento de como o exercício atua 
no osso é a teoria de Frost (1960) a qual relata que o mínimo de tensão efetiva 
é necessário para manter a massa óssea e, se induzir tensão acima do nível 
mínimo, essa massa aumentará. Adicionalmente, a teoria descreve que os 
ciclos de tensão, se este ocorre em excesso a carga se torna saturada podendo 
inclusive gerar a reabsorção óssea (retirada de cálcio no osso).
No estudo de Drozdzowska et al. (2011) demonstra que a densidade 
mineral óssea na área das falanges de praticantes de Karate (por aproximada-
mente 5 anos) foi superior quando comparado aos controles (não praticantes). 
Esses resultados imputam que a prática de Karate promove melhor deposição 
de material ósseo nas falanges o que aumenta a “força óssea” contra fraturas.
A compreensão dos mecanismos fisiológicos que são desencadeados a 
partir dos estímulos presentes no treino, principalmente no caso dos ossos, 
deixam evidente que as contribuições advindas do “hojo undo” são lentas e 
progressivas, logo, que exigem: (a) regularidade, pois, os treinos esporádicos 
representam um risco e não geram os benefícios esperados; (b) paciência, pois, 
as alterações corporais demandam um tempo de adaptação celular, interno e 
microscópico, logo, não visível, mas, que está ocorrendo.
Musculares
O avanço das técnicas do calejamento depende substancialmente dos 
treinos desenvolvidos em paralelo, pois exige-se o aprendizado da aplicação de 
força, velocidade, direção e precisão. A necessidade de um corpo adaptado aos 
treinos promove aumento da força muscular e promove a melhora da cognição 
em relação às técnicas do Karate. Assim, o participante se torna fisicamente e 
mentalmente preparado para aprimorar as técnicas do calejamento.
Em relação as adaptações musculares sabe-se que a Tabben et al. (2014) 
realizaram um estudo no qual o objetivo foi comparar variáveis físicas e 
fisiológicas entre atletas de judô (n = 19), karate (n = 19) e taekwondo (n = 
16) e como resultado foi observado que os atletas de karate apresentaram 
melhores resultados para os teste de saltos com contramovimento e sem con-
tramovimento e o no teste de 5 saltos verticais quando comparado com judô 
e taekwondo.
Um estudo conduzido em 39 crianças (idade 9 – 10 anos) demonstra que 
o treino regular resulta em adaptações musculares e que favoreciam funções 
cerebrais. Nesse estudo foi comparado habilidades motoras (sprint, coordena-
ção, força explosiva de membros inferiores) e habilidade cognitivas (memória 
de trabalho, atenção e função executiva) entre praticantes (n = 19) de karate 
(kumite) e sedentários (n = 20). Os resultados mostraram que praticantes de 
karate demonstraram melhores resultados na velocidade, força explosiva de 
membros inferiores e habilidades de coordenação quando comparados aos 
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sedentários e ainda mostraram melhores escores de memória de trabalho, 
atenção seletiva visual e funções executivas quando comparados aos sedentá-
rios. Dessa forma, o participante pode de forma consciente e com orientação 
adequada avançar com as técnicas de calejamento sem lesões.
Um estudo comparando um grupo de jovens (idade 23-26 anos) pratican-
tes de artes marciais (n = 13) e um grupo controle (n = 12), teve como objetivo 
verificar a força de tronco (isométrica) e de membros inferiores (isocinética),bem como verificou o tempo de reação. Como resultado, os praticantes de 
artes marciais demonstraram melhor força isométrica de extensão de tronco e 
força isocinética de flexão e extensão de joelho quando comparados ao grupo 
controle. Para o tempo de reação houve também uma diferença estatística 
entre os praticantes de artes marciais sendo mais rápidos quando comparados 
ao grupo controle (O’DONOVAN et al., 2006).
Não foram localizados na literatura relatos sobre as adaptações muscu-
lares em relação às técnicas do calejamento, mas sim em relação ao tipo de 
treino e tempo de intervenção aplicados. Os benefícios, no entanto, dependem 
de uma orientação adequada e de uma supervisão atenta para que não sejam 
cometidos excessos, logo, não é qualquer treinamento que contribui para a 
melhoria do rendimento dos praticantes, mas, o que é realizado por profissio-
nais competentes e dedicados. Sugerimos, portanto, que os treinadores tenham 
disponibilidade para colaborar na realização de estudos específicos sobre as 
técnicas de calejamentos, pois, independente de serem técnicas tradicionais, 
o estudo científico pode auxiliar na eficácia da sua aplicação e na eficiência 
dos seus resultados.
Riscos associados às técnicas de calejamento
Calejamento das mãos
A prática tradicional do “makiwara” consiste em golpear alguma superfí-
cie com a região do segundo e do terceiro metacarpo18, sendo que essa região 
é anatomicamente provida de uma camada reticular fibrosa (tipo tendínea) 
somadas à acomodação do tecido adiposo demonstra um aspecto de “escudo 
da mão” (FAHRER, 1984). Os praticantes de karate utilizam essa técnica 
por horas para fortalecer mãos e punhos para proferir golpes mais potentes.
O treino de karate inclui condicionamento das articulações da mão. Dois 
métodos; 1) “Radical” – no qual envolve socar as articulações com golpes 
múltiplos até o tendão do músculo digitais aparecerem, assim o calo formado 
seria permanente (Figura 8); 2) Progressivo – trata-se de um programa pro-
gressivo de golpes em objetos firmes, permitindo tempo suficiente para que 
o dano seja curado.
18 Região denominada tecnicamente como “seiken”.
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Como esse tipo de treinamento promove alterações corporais visíveis no 
corpo, os praticantes devem ser alertados para suas implicações estéticas e 
para o seu caráter relativamente duradouro, tendo em vista que, mesmo com 
a interrupção do treinamento, existirão vestígios permanentes. Outro aspecto 
importante a ser destacado é a exigência de precisão técnica na realização dos 
treinos, caso contrário, o praticante fica exposto a lesões.
Figura 8 – Demonstra a formação de calos
Retirada do site http://www.backinthegi.com/wp-content/uploads/2012/02/knuckl.jpg
Riscos do calejamento das mãos
Larose e Sik (1969) estudaram 6 casos de praticantes altamente treinados, 
capazes de matar búfalos com golpes de karate, que praticavam o calejamento 
com as mãos e não foi observado mudanças degenerativas ou calcificação 
distrófica de tecido mole no segundo e terceiro metacarpo. Essas evidências, 
apesar da amostra reduzida, suportam a inferência de que um treinamento 
intenso de calejamento, realizado de forma adequado, por praticantes habili-
dosos e experientes, não traz prejuízos para o corpo dos karatekas.
O segundo e terceiro metacarpo, são as áreas primárias do contato. As 
fraturas seriam a causa de má posição de condução. As fraturas ocorrem no 
quarto e quinto cabeça metacarpal (Figura 9). Larose e Sik (1969) explicam 
que a predominância de fratura no quarto e quinto metacarpo é devido a 
estrutura e falta de suporte para os últimos dois metacarpos em um punho 
sem proteção. O segundo e terceiro metacarpo são suportados pela eminência 
tenar e tem um córtex mais espesso. Um soco com trajetória circular usará o 
quarto e quinto metacarpo e aumentando a chance de fratura. Por isso o polegar 
deve estar bem fixado para prevenir o deslocamento de Bennett (Figura 10).
A principal ocorrência da fratura do quinto metacarpo é também atribuída 
a um erro técnico ao fechar os dedos das mãos para formar o punho, visto que, 
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apesar do contato nos socos frontais ser predominantemente nos dois primei-
ros metacarpos, o principal responsável pela estabilidade e força do punho 
durante os socos é a contração máxima e instantânea dos flexores dos dedos, 
em especial o quinto dedo. O quinto dedo também se torna imprescindível em 
outras artes marciais que não desferem socos e chutes, como o judô e jiu jitsu, 
devido a importância deste na formação da “pegada” no uniforme19, pela maior 
capacidade de preensão palmar e sustentação da posição de luta almejada.
O treinamento adequado junto ao “makiwara”, além de preparar o prati-
camente para obter foco e precisão nos movimentos de soco, objetiva desen-
volver a habilidade de contrair adequadamente toda musculatura das mãos e 
antebraço, para estabilizar o punho e dissipar a energia do impacto por toda 
estrutura envolvida. Logo, torna-se importante a atenção nestes detalhes técni-
cos envolvidos no treinamento com o “makiwara”, em busca de reduzir estes 
riscos e transferir estas habilidades para o contexto de combate (“kumite”).
Figura 9 – Destaque em vermelho, fratura do quinto metacarpo
Retirada do site www�sport-injury-info�com
Streeton (1970) relatou um homem de 26 anos de idade com 3 meses de 
história de hemoglobinúria por causa do calejamento do karate. O raio X foi 
mostrado em uma mão normal e ao término da condição do exercício. Apenas 
um praticante altamente treinado poderia bater forte o suficiente para produzir 
essa condição, que pode ser descrita como uma “fratura por estresse”.
19 Popularmente conhecido como “kimono”, os uniformes nas lutas orientais nipônicas são designados como 
“gi”, portanto: “karate gi” ou “judô gi”, por exemplo.
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Figura 10 – Fratura de Benett na base do primeiro metacarpo (polegar)
Retirado do site http://www.clinic-hq.co.uk/article_54_Bennett’s+Fracture+-+Broken+Hand
Gardner (1970) relata um policial militar de 19 anos que tentou tornar 
mais rápido o processo de calejamento forçando seus punhos a cada momento 
livre em um saco cheio de areia e cascalho. Depois de vários meses, tornou-se 
incapaz de flexionar o flexor digital longo. Havia uma grande dor na articu-
lação metacarpofalangeana. Uma cirurgia foi necessária para corrigir esta 
condição. Nieman e Swann (1971) relataram que novatos no karate sofriam 
de lesão ulnar nervosa após um mês de prática na qual batiam em tábuas e 
resultou em fraqueza da mão. A interrupção fez a condição se reverter.
Esse é um exemplo de que o primor na execução técnica deve ser con-
siderado como um pré-requisito imprescindível para a realização de um trei-
namento de calejamento de alta intensidade, caso contrário, o praticante fica 
exposto ao risco de desenvolver uma lesão, como também, que o desprezo 
em relação ao princípio da progressividade é algo extremamente prejudicial 
e contraproducente, pois, os resultados são contrários ao que se pretende.
Em um estudo de caso mais recente, Vít et al. (2015) acompanhou por 100 
dias (duas vezes/dia) de treinamento de “makiwara”, um homem de 24 anos, 
com massa corporal 84.5 kg e com 10 anos de experiência em artes marciais 
(inclusive o Karate Kyoukushin) sem lesões prévias. Os resultados mostraram 
um aumento da DMO20 da região do antebraço conhecida como “radio33%” 
em 2.1% no lado direito e 1.6% no lado esquerdo. Existem, portanto, relatos 
científicos sobre benefícios que levaram a um fortalecimento corporal a partir 
do emprego adequado das técnicas de calejamento.
A disposição do arco transversal e longitudinal do metacarpo é deter-
minante para a funçãoda mão. O sistema de contenção dessas articulações 
20 DMO: Densidade Mineral Óssea.
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se compõe de grupos de ligamentos potentes como os ligamentos dorsais, 
ligamentos palmares e ligamentos interósseos fixados nas bases metacarpais. 
No estudo de Loureda et al. (1989) foram avaliados 15 praticantes e nos 
exames das radiografias foram encontradas entorses das articulações carpo-
metacárpicas. Caso essas entorses ocorram em excesso, podem gerar peque-
nas calcificações no interior dos ligamentos dorsais, e microavulsões ósseas 
podem acontecer, difíceis de serem identificadas pela imagem radiográfica, 
no entanto, sintomas como a dor na ponta do dedo nas primeiras horas pode 
ser o indicativo da lesão.
O risco de sofrer lesões é uma variável que depende do estilo de karate 
(aspectos técnicos), horas e intensidade de treinamento, grau de competitivi-
dade, (TERRY, 2006; NISHIME, 2007), graduação e orientação dos treinos 
(prática geral ou destinada as competições). Arriaza e Leyes (2005) analisaram 
as lesões sofridas por atletas de karate dos estilos shotokan, shitoryu, goju-
ryu e wadoryu em três campeonatos mundiais consecutivos e as lesões mais 
comuns foram contusões dos grandes grupos musculares (50,3%), traumas 
faciais resultando em sangramento do nariz (16,2%), cortes e abrasões (13,7%) 
e torção de ligamentos (3,5%). Neste estudo, identificou-se 89,3% de lesões 
leves, 7,9% moderadas e 2,8% lesões graves. Em comparação com atletas 
do estilo kyokushin, Piejko, Mosler e Grzebisz (2019) identificaram maior 
percentual de lesões leves como contusões e lesões nas articulações nas mãos 
e pés. Em contrapartida, a proporção geral de lesões graves foi menor do que 
no estudo de Arriaza e Leyers (2005), e sem diferença entre os tipos de lesão 
nas mãos (ex. entorses, torções etc.) entre os sexos
Outros fatores que podem influenciar as taxas de lesão entre os pratican-
tes, entretanto, não há investigações que relacionem o treino de calejamento 
(técnicas, volume e intensidade, graduação etc.) com a prática competitiva e 
não competitiva no karate.
Neste sentido, são necessárias mais informações sobre as causas e méto-
dos eficazes de prevenção de lesões no karate (THOMAS; ORNSTEIN, 2018), 
e considera-se que ajustes e orientações técnicas possam auxiliar, visto que 
uma técnica mal executada ou precisão ruim também podem levar a lesões 
do atacante (PIEJKO; MOSLER; GRZEBISZ, 2019), apresentaremos abaixo 
algumas sugestões para a região das mãos e punho.
A principal ocorrência da fratura do quinto metacarpo pode ser atribuída 
a um erro técnico ao fechar os dedos das mãos para formar o punho, visto 
que, apesar do contato nos socos frontais ser predominantemente nos dois 
primeiros metacarpos, o principal responsável pela estabilidade e força do 
punho durante os socos é a contração máxima e instantânea dos flexores dos 
dedos, em especial o quinto dedo. O quinto dedo também se torna imprescin-
dível em outras artes marciais que não desferem socos e chutes, como o judô e 
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jiu jitsu, devido a importância deste na formação da “pegada” no uniforme21, 
pela maior capacidade de preensão palmar e sustentação da posição de luta 
almejada. Assim, fechar as mãos corretamente e alinhar o punho em relação 
ao antebraço tornam-se fundamentais para direcionar as forças de impacto 
durante as ações de socos no Karate.
Foto 6 – Orientações técnicas com relação ao alinhamento correto (A e D) 
e incorreto (B, C, E e F) do punho em relação ao antebraço nas técnicas de 
soco, e a importância de cerrar o punho e todos os dedos com firmeza, com 
destaque em vermelho para o 5º dedo na forma correta (G) e incorreta (H)








A
D
G H
E F
B C
Fonte: Autores�
Calejamento das pernas
O calejamento nas pernas consiste em desferir chutes na parte interna 
e externa da coxa para adaptação do praticante aos golpes reais em situação 
de luta (figura 11).
21 Popularmente conhecido como “kimono”, os uniformes nas lutas orientais nipônicas são designados como 
“gi”, portanto: “karate gi” ou “judô gi”, por exemplo.
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Figura 11
Retirado do trecho do vídeo https://youtu.be/VsLfc0y7W0M
3.4 Riscos de calejamento das pernas
Doiz et al. (2008) estudaram um caso de um homem que apresentou um 
pseudoaneurisma traumático na artéria femoral gerando dor e edema na coxa 
direita após uma prática de full contact Karate. Os resultados do exame de 
ultrassom e de arteriografia demonstraram a presença do pseudoaneurisma em 
um ramo da artéria femoral profunda. Pseudoaneurisma define-se como um 
hematoma perceptível pela pulsação, pois se comunica com a artéria acome-
tida por uma passagem estreita (Figura 12) gerando os sintomas supracitados 
(NOGUEIRA et al., 2013).
Figura 12 – PA – pseudoaneurisma
Adaptada de Nogueira et al� (2013)�
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Apesar de um caso isolado não ser suficiente para indicar a inadequa-
ção do treinamento de calejamento, até mesmo porque seriam necessárias 
informações adicionais sobre a forma como esse treinamento foi realizado, o 
respeito a integridade física dos praticantes e os princípios que fundamentos 
o bushido fortalecem a recomendação dos cuidados a serem observados para 
a prática adequada desses exercícios, principalmente, a recomendação médica 
de que não existem riscos relacionados à condição clínica ou predisposição 
do praticante para alguma complicação decorrente do treino de calejamento.
Adiante, maiores detalhes sobre as adaptações osteomioarticulares decor-
rentes do treinamento de calejamento serão abordados por região corporal; 
membros superiores, tronco e membros inferiores.
Primeiramente, vejamos as técnicas mais comuns aplicadas aos pratican-
tes da arte do karate e suas adaptações baseadas em evidências.
Calejamento do tronco
Socos e/ou chutes são proferidos na região peitoral e abdominal como 
parte do treinamento de calejamento (Figura 13).
Figura 13 – Demonstra a técnica de calejamento na região abdominal
Retirada do trecho do vídeo https://youtu.be/VsLfc0y7W0M
Riscos de calejamento do tronco
Cantwell (1973) relataram um estudo de caso de uma mulher de 39 anos 
que recebeu um golpe no abdômen durante sua segunda aula de Karate. Nesse 
dia ela estava praticando a técnica de calejamento a qual envolve uma com-
binação de golpes na área subcostal e na região do abdômen. Após o treino, 
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a praticante relatou os seguintes sintomas: dor, náusea, episódios de vômitos 
e síncopes, que indicaram a ocorrência de danos lacerativos no fígado. Esse 
estudo demonstra a importância de uma orientação adequada para a prática 
segura de uma arte marcial, principalmente, no caso de novatos, assim como, 
a responsabilidade que recai sobre os instrutores, que devem supervisionar, 
de forma atenta e próxima, todas as atividades que ocorrem no dojo.
Vale ressaltar a necessidade de que as entidades responsáveis pela forma-
ção dos instrutores que ministram aulas de karate façam um acompanhamento 
de sua atuação profissional, de forma a identificar práticas inadequadas que 
possam causar danos à saúde de seus alunos/atletas. A divulgação, que pode ser 
anônima, de casos a serem evitados, contribui para o fortalecimento do estilo 
pela adoção de regras de conduta que garantam a segurança dos praticantes, e, 
evitem situações como a descrita no estudo de Arora et al. (2013), que relata 
o caso de um homem saudável de 30 anos de idade que apresentou déficits 
neurológicos transitóriose, após exame de ressonância magnética cerebral, 
foi constatado lesões cerebrais de etiologia embólica.
Como também, um segundo caso em que, após um exame de ecocardio-
grama transtorácico, foi ser constatado a presença de uma massa de 1.5cm x 1.5 
cm no ventrículo esquerdo (ápice) e o praticante foi encaminhado à cirurgia. 
Na investigação clínica, o indivíduo relatou um trauma no tórax durante uma 
exibição de luta dois anos antes. Acredita-se que, em função do trauma, houve 
uma estenose (estreitamento) de 30% da artéria descendente anterior esquerda 
devido a massa encontrada. Os autores relatam que essa artéria cardíaca é a 
mais comumente afetada por trauma no tórax pela vulnerabilidade da posição 
anatômica. Ortu et al. (2006) discute o caso de um homem de 45 anos, pra-
ticante de Karate e sem histórico prévio que explicassem o acontecimento, 
apresentou hematoma da glândula adrenal (não sintomática) causada pelo 
trauma de um chute, proferido com o dorso do pé na região do rim direito.
Esses e outros casos devem ser evitados pela conscientização da comuni-
dade do karate de que o rigor e os diferentes tipos de treinos que fazem parte 
da tradição de uma arte marcial, foram criados no contexto de uma preparação 
marcial de guerreiros com qualidades corporais destacadas, logo, não podem 
ser estendidos indiscriminadamente para todos os praticantes.
Riscos do calejamento da cabeça e pescoço
Os riscos de traumas relacionados a região do pescoço e cabeça nas 
artes marciais tem gerado discussões na mídia e na literatura científica 
(HUTCHISON et al., 2014; SEIFERT, 2017; THOMAS; ORNSTEIN, 2018, 
FARES, 2019) acerca das sequelas e possíveis questionamentos sobre a segu-
rança na sua prática recreacional ou competitiva.
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Os exercícios de calejamento destinados a esta região do corpo geral-
mente incluem o fortalecimento da musculatura do pescoço. Estudos biome-
cânicos que avaliaram a transferência de energia entre a cabeça e o tronco, por 
exemplo, advinda de golpes que atinjam o tronco como socos ou chutes, iden-
tificaram menor aceleração dos impactos na cabeça para indivíduos com maior 
força isométrica da musculatura do pescoço (VERSTEEGH et al., 2019).
Apesar de não haver um consenso na literatura sobre o tema, segundo 
Hrysomallis (2016), a musculatura do pescoço tem um papel essencial no 
posicionamento e estabilização da cabeça e pode influenciar o desempenho 
esportivo e diminuir o risco de lesões. Entre jovens jogadores de esportes 
de contato (ex artes marciais, hockey, futebol americano, wrestlers, dentre 
outros), Eckner et al. (2014) identificou uma correlação negativa entre uma 
maior força no pescoço com a antecipação da ativação muscular e redução da 
velocidade linear e angular do pescoço, ou seja, que os atletas que apresenta-
ram maior força na região cervical possuíam um tempo de ativação menor e 
uma maior capacidade de frear a velocidade de deslocamento da cabeça, sendo 
estes fatores associados com aspectos positivos do treino para esta população.
Ao investigar diferentes dados de atletas do ensino médio estadunidense 
de múltiplas modalidades, Collins et al. (2014) observaram uma força na 
região cervical de 11 a 22% menor entre aqueles que haviam sofrido concussão 
durante a modalidade quando comparados aos que não sofreram. Os mesmos 
autores identificaram que para cada 1 libra (450 gramas) que se aumenta na 
força desta região, a probabilidade de se ter uma concussão reduz em 5%.
Logo, os programas de treinamento de força da região cervical geral-
mente têm sido eficazes para participantes não treinados e treinados, usando 
vários tipos de resistência Hrysomallis (2016), e entendemos que estes estudos 
possam esclarecer mais sobre o contexto. Um importante aspecto a ser consi-
derado é não confundir o fortalecimento da região cervical no calejamento com 
a técnica de “tameshi wari”22, que é o quebramento de objetos com diferentes 
partes do corpo (mãos, cotovelos, cabeça etc.), como forma de aperfeiçoar ou 
demonstrar diferentes técnicas, e pode auxiliar o Karateca na busca do “ichi-
geki hissatsu”. Essas práticas são distintas e podem ser confundidas ou mal 
interpretadas quando analisadas de forma superficial ou descontextualizada, 
e não é o foco deste tópico aprofundar estes conceitos no campo do Karate e 
das artes marciais orientais.
Conclusão
A prática do “hojo undo” ou calejamento exige grande atenção para os 
potenciais riscos em relação ao controle da intensidade e ao volume dos golpes 
nas regiões envolvidas, cuidados acerca das condições prévias de saúde, e, o 
22 Tameshi wari (em japonês: 試し割り) pode ser traduzido como “teste de quebrar”.
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nível de domínio técnico adequado dos participantes para se submeterem à 
iniciação ou ao aprofundamento dos treinamentos.
É importante que o treino de calejamento seja supervisionado por pro-
fissionais competentes, que ajustem as atividades às características e aos inte-
resses de cada praticante, como também, que no caso de crianças, iniciantes, 
idosos e pessoas com deficiência o treino seja adaptado e a intensidade da 
sobrecarga reduzida significativamente.
As entidades responsáveis pela formação e habilitação dos profissionais 
que se dedicam ao ensino das artes marciais devem estudar estratégias para 
acompanhamento de eventuais problemas, de forma a tanto estimular a rea-
lização de estudos científicos, como também, o compartilhamento de saberes 
que contribua para que práticas inadequadas sejam identificadas e corrigidas.
Os praticantes devem ser alertados para a importância de respeitarem 
os limites do seu corpo, das alterações estéticas decorrentes do treinamento, 
e, da necessidade de terem uma atenção especial no monitoramento de suas 
condições de saúde, de forma que, o médico deve ser consultado previamente 
para atestar o gozo de condições adequadas para a prática de uma arte marcial, 
assim como, diante da constatação de qualquer tipo de desconforto.
Por último, é importante frisar que, no contexto da arte marcial, o cale-
jamentos, quando praticado de forma adequada, por praticantes experientes, 
torna-se fundamental para o desenvolvimento e aperfeiçoamento do karateka 
ao longo da vida e demonstra ter um grande potencial para seu aprimoramento 
técnico, desde que seja orientado e tenha uma supervisão qualificada.
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