Reciclagem de tintas e solventes

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Reciclagem de tintas e solventes
4. O descarte deste material no Brasil e no mundo – 
4.1. Como é feito o descarte
Os resíduos industriais são resultados de atividades industriais específicas de cada processo que exigem um método especial para sua eliminação, devido a inviabilidade de descarte comum, e assim, são classificadas segundo suas características em resíduos classe I e resíduos classe II. 
· Resíduos de classe I (perigosos) – são aqueles que podem trazer algum risco à saúde pública, provocando mortalidade e doenças, ou apresentam algum risco ao meio ambiente.  
· Resíduos de classe II (não perigosos) – são divididos em duas subclasses, sendo elas, Resíduos classe II A – Não Inertes e Resíduos de classe II B – Inerte.
Tomando como referência a norma brasileira ABNT NBR 10004:2004, em relação a classificação dos resíduos, uma vez que a maioria das tintas apresentam características de periculosidade, pela reatividade, toxicidade, inflamabilidade ou serem patogênicas, elas são descritas como resíduos da Classe I. 
Dependendo da classificação, é determinada a destinação adequada que envolve não só o descarte, mas também seu transporte.
Dentre as principais destinações, estão:
· Coprocessamento: alternativa sustentável para o tratamento de resíduos sólidos, que ajuda na preservação de recursos naturais, substituindo o uso de matérias-primas e combustíveis fósseis por resíduos na produção do cimento. É uma operação combinada de economia circular e gerenciamento de resíduos na produção de um cimento de qualidade. Em resumo, transforma os resíduos em combustível para fornos das indústrias cimenteiras, sem geração de gases poluentes.
· Incineração: destinado aos resíduos da classe I, com seu processo visando eliminar os resíduos perigosos por meio de alta temperatura (de 900 a 1.250ºC).
Muitas vezes o coprocessamento é considerado semelhante a incineração, porém apresenta condições principais que o diferem, tal como o comprimento do forno e temperaturas finais do processo de fabricação de clínquer por apresentar longos tempos de residência e altas temperaturas, superiores aos dos incineradores convencionais.  
· Aterramento: destinado ao resíduo industriais de classe I, com área reservada para lixo industrial.
· Beneficiamento de resíduos: destruição técnica dos itens contamináveis, ou seja, funciona como um processo de reutilização, propiciando a destruição térmica dos materiais dos elementos que causam a contaminação que estão presentes nos resíduos sólidos. Alguns tipos de tratamentos que são aplicados no beneficiamento de resíduos são a reciclagem, a compostagem, a incineração e a utilização de um biodigestor.
Em 2014, foi realizada uma pesquisa pela Eurostat sobre os métodos de tratamento de resíduos usados em 28 estados membros da União Europeia, com objetivo de avaliar os impactos e estimular sistemas para cumprir os objetivos da política de resíduos da União Europeia e da importância da gestão dos resíduos industriais. 
Conforme a Figura x, que contém o gráfico construído, é verificado que naquele ano, 41% dos resíduos apresentavam destinação em depósito sobre ou na terra. Mas, vale destacar que a reciclagem com 36%, continuava relevante como um dos principais métodos utilizados, enquanto o destino a aterros (10%) e incineração (6%) possuíam um papel secundário.
Figura x – Dados levantados acerca dos métodos de tratamento de resíduos usados em 28 estados membros da União Europeia em 2014
Fonte: Eurostat, 2014
Quando o descarte não é efetuada da maneira correta, é considerado o desrespeito das empresas a Política Nacional de Resíduos Sólidos em vigor, que foi criada como forma de ampliar a proteção ao meio ambiente. Essa política integra a Política Nacional do Meio Ambiente.
É relevante o conhecimento de que o Brasil possui uma expressiva atuação no setor de tintas e solventes, e de acordo com a Associação Brasileira de Fabricantes de Tintas, conseguiu fabricar cerca de 1,623 bilhão de litros de tinta, estando, dessa forma, entre os maiores produtores de tinta do mundo.
Desde o final da década de 1970, a CETESB tem realizado levantamento de dados de indústrias, a fim de identificar os tipos de segmentos responsáveis pela geração de resíduos perigosos, em virtude da crescente necessidade de emprego de metodologias na gestão de resíduos industriais. Na Figura x, da pesquisa realizado no ano de 1996, é possível perceber que no Estado de São Paulo, foram geradas mais de 500 mil toneladas de resíduos sólidos perigosos, com atenção a indústria química em que as tintas e solventes estão inseridos em maior quantidade. Além disso, nos estudos do mesmo ano, foram verificados que 53% dos resíduos perigosos são tratados, 31% são armazenados e os 16% restantes são depositados no solo.
Figura x – Relação de geradores de resíduos industriais perigosos no Estado de São Paulo (1996)
Fonte: CETESB, 1996
Em questionário realizado para saber quais as opções seriam indicadas pelas pessoas no município de Sobradinho no RS, local que não possui linhas de tratamento de esgoto, foi observando nos índices da Figura x, que evidencia-se uma proporção alta (40%) de opiniões para aqueles que não souberam o que responder, tanto por falta de conhecimento sobre o assunto como por não terem vivenciado alternativas que indiquem a reutilização, reciclagem ou deposição.
Figura x – índices quanto à destinação de tintas e vernizes em Sobradinho (RJ),
Fonte: FARDIN e NOGUEIRA, 2016.
4.2. Impacto ambiental da produção 
https://propeq.com/fabricacao-de-tintas-problemas-e-sustentabilidade/#:~:text=Essas%20emiss%C3%B5es%20podem%20ir%20para,problemas%20como%20a%20chuva%20%C3%A1cida.
Com uma relevante produção em território nacional, estão presentes diversos problemas para a indústria em relação a fabricação, com geração de efluentes altamente tóxicos, que dificultam a sustentabilidade na indústria de tintas. 
O descarte de tintas, vernizes e solventes no solo acarreta diversos riscos de contaminação, podendo levar até mais de 250 anos para sua descontaminação no lençol freático. Além disso, outros pontos desse descarte em bueiros ou pios, também oferecem problemas como a contaminação encaminhada direto para a rede fluvial e para os cursos d’água, e em casos mais graves, a geração de gases e explosões. Vale ressaltar, que os mesmos cuidados devem ser pensados para as embalagens, tão importantes quanto os produtos nelas contidos.
Entre os efluentes presentes, o efluente líquido é o mais comum, uma vez que é o rejeito principal do processo, e na mistura, é encontrado material particulado que não reagiu, restos de solventes, e os pigmentos. 
O material particulado está relacionado, na maioria das vezes, aos processos de pesagem de matérias-primas sólidas (pós) e dispersão e para reduzir a quantidade de material particulado em suspensão, algumas medidas que podem ser conduzidas são enclausuramento da etapa do processo e instalação de sistema de exaustão.
Segundo o site Ecycle em 2015, as tintas apresentam solventes orgânicos, tais como benzeno, tolueno e ciclohexano, chamados também de compostos orgânicos voláteis que no organismo humano são responsáveis por causar diversas patologias, pois são incorporados à corrente sangüínea e distribuídos pelos tecidos gordurosos do corpo, incluindo o cérebro, fígado, medula óssea, rins e sistema nervoso.
Desde 2008, por exemplo, a concentração do elemento químico chumbo não pode ser superior a 0,06%, em peso, sendo proibida a fabricação, comercialização, distribuição e importação de produtos fora do estipulado.
Quando há o descarte incorreto de tintas no Meio Ambiente, são indicadas como danos: a degradação da camada de ozônio por ação dos compostos orgânicos voláteis, gerando problemas no Efeito Estufa, descongelamento de geleiras e o aumento do nível da água nos oceanos; dificuldade do tratamento de efluentes pelo acúmulo de clorobenzeno; alteração do pH de águas e do solo, favorecendo água ácida abaixo de 7 ou alcalina superior ao valor mencionado, que como consequência, colabora na mortandadede animais habitantes de mananciais e no caso do consumo humano, haverá necessidade de maior demanda de tratamentos químicos para abastecimento.
Outra perspectiva de impacto ambiental é o consumo energético indispensável nos processos de fabricação das tintas. De acordo com a CETESB em 2006, uma grande parte dos setores da indústria de tintas não se utilizavam de instalações e maquinários com eficiência enérgica ou com emprego de fontes naturais renováveis, e acabavam por se utilizar do emprego de fontes de energia a partir da queima de óleo combustível, gás natural ou óleo diesel. Ao mesmo tempo, a utilização em larga escala de água em seus processos, seja diretamente a produção ou para limpeza, piora a questão hidrológica, rebaixamento do nível dos aqüíferos subterrâneos, seja pela perfuração exagerada ou exploração excessiva de poços existentes.
Logo, analisando todos os impactos, está sendo cada mais discutido na atualidade, o conceito de Produção mais Limpa (“P+L”), o qual engloba uma série de estratégias e condutas do âmbito ambiental e técnico, que visam evitar e/ou reduzir as emissões e gerações de resíduos, por meio de alternativas e ações preventivas, de forma que haja a reutilização e reciclagem.
Dentre algumas estratégias tomadas, tem-se o aumento da eficiência no uso de matérias-primas, água e energia, minimização na geração de resíduos e efluentes, reutilização de recursos, etc. Portanto, em suma, os maiores benéficos da “P+L” são voltados para o próprio negócio da empresa, em virtude das reduções de custos de produção, o aumento da produtividade e consequentemente eficiência, diminuição dos riscos de acidentes ambientais, melhoria da imagem da empresa frente o mercado e a seus consumidores, entre outros.
O solvente recuperado é tão bom quanto um solvente novo e pode ser reutilizado em seu processo sem quaisquer efeitos colaterais negativos, propiciando economia de tempo e dinheiro na compra. A empresa Maratek por exemplo, possui unidades de reciclagem de solventes no local que funcionam separando solventes residuais em solventes reutilizáveis ​​e resíduos residuais. Após o processamento, as empresas de impressão e tinta podem então usar o solvente reciclado e simplesmente descartar os resíduos.
A reciclagem traz para a empresa benefícios de custo-benefício, e com base no preço de compra de solvente de US$ 8/gal e preço de descarte de resíduos de US$ 3/gal, são apresentados na Tabela x elaborada pela Maratek, os números de compras reduzidas de solventes e descarte de resíduos resultando em economias anuais típicas baseadas no uso do tambor.
Tabela x -Benefícios custo-benefício com base no uso de tambor
	Quantidade de tambores
	Economia de custo
	1-2 Tambores
	$ 9.200 – $ 18.400
	3-5 Tambores
	$ 27.600 - $ 46.000
	6-14 Tambores
	$ 55.200 – $ 128.800
	15-42 Tambores
	$ 138.000 – $ 386.400
Fonte: Adaptado Maratek, 2018
4.3. Impacto ambiental resultante do descarte do material, se possível, registrar dados numéricos)
Em dados divulgados pelo IBGE no ano de 2017, realizados pelo módulo inédito sobre sustentabilidade e inovação ambiental da Pesquisa de Inovação (Pintec), é mostrado na Figura x que o número de empresas ecoinovadoras no Brasil ainda é pequeno. 
De um total de 116.962 empresas com mais de 10 pessoas ocupadas investigadas na PINTEC, 33,6% do total haviam implementado algum tipo de inovação em produtos ou processos e menos da metade (40,6% das empresas inovadoras) realizaram inovações com impactos ambientais positivos no período analisado. Além disso, pode ser verificado que a reciclagem tem relevância considerável nos impactos ambientais, principalmente do ponto de vista do total e da indústria.
Figura x – Empresas ecoinovadoras segundo os tipos de impactos ambientais (2015-2017)
Fonte: PINTEC, 2017
Comparando as tecnologias e os impactos ambientais, foi levantada uma pesquisa no âmbito das tintas de impressão pela EuPIA (European Printing Ink Association) para obtenção de uma visão geral muito ampla do impacto ambiental das diferentes tecnologias de impressão, na qual foi construído um esquema de cores de semáforo (Figura x) para classificação dos impactos: vermelho – amarelo – verde.
Figura x – Esquema Semáforo de classificação dos impactos ambientais
 
Fonte: EuPIA, 2013
A exemplo das tintas líquidas por solvente, há ponto de atenção em vermelho para o efeito estufa, pois os vapores dos solventes orgânicos colaboram para acelerar estes efeitos e dados experimentais sugerem que os solventes normalmente usados em tintas de impressão se degradam rapidamente na atmosfera em água e dióxido de carbono.
Referências
https://cetesb.sp.gov.br/consumosustentavel/wp-content/uploads/sites/20/2013/11/tintas.pdf (pg 52)
https://sqquimica.com/descarte-tintas-vernizes-solventes-como-fazer/
https://fibersals.com.br/blog/classificacao-de-residuos-industriais-para-descarte/
https://www.ilhaambiental.com.br/beneficiamento-de-residuos/
https://cetesb.sp.gov.br/residuossolidos/residuos-industriais/introducao-residuos-industriais/
https://coresab.com.br/2020/07/08/a-incineracao-de-residuos-urbanos/
Revista Monografias Ambientais - REMOA v. 15, n.1, jan-abr. 2016, p.61-73 - Revista do Centro de Ciências Naturais e Exatas - UFSM, Santa Maria – UMA PERSPECTIVA DOS RESÍDUOS DE TINTAS E VERNIZES NO MUNICÍPIO DE SOBRADINHO/RS - Hedelvan Emerson Fardin1 , Jorge Orlando Cuéllar Noguera2 1 Especialização em Educação Ambiental - UFSM 2 Doutorado em Engenharia de Produção, Departamento de Engenharia Química, UFSM, Santa Maria, RS, Brasil.
https://www.ibeas.org.br/congresso/Trabalhos2015/II-019.pdf
https://www.maratek.com/blog/printing-and-ink-industries-how-solvent-recycling-can-save-you-money
https://www.ecodebate.com.br/2020/07/07/melhorar-a-imagem-e-o-principal-motivo-para-empresas-realizarem-inovacoes-ambientais/
https://propeq.com/fabricacao-de-tintas-problemas-e-sustentabilidade/#:~:text=Essas%20emiss%C3%B5es%20podem%20ir%20para,problemas%20como%20a%20chuva%20%C3%A1cida.
https://www.eupia.org/fileadmin/FilesAndTradExtx_edm/2013-03-05_EuPIA_Environmental_Impact_of_Printing_Inks_01.pdf