Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Allana Cristina - ATM 25/2 - Nefrologia DISTÚRBIO ÁCIDO-BASE Os distúrbios acidobásicos são complicações frequentes e, normalmente, estão associadas a alterações eletrolíticas, adquiridas ou genéticas. Equilíbrio ácido-base: manter o pH em faixa ideal para o funcionamento celular (7,35-7,45). Dados da anamnese, exame físico, acrescidos de gasometria e eletrólitos permitem a avaliação das principais etiologias, classificar gravidade e programar o tratamento adequado das alterações. A concentração de H+ é mantida dentro de limites muito estreitos a fim da manutenção das atividades celulares normais. pH = [H] (concentração de H). O estado de equilíbrio acidobásico pode ser, em geral, estimado com base na concentração plasmática do hidrogênio ou no pH. Conceitos Importantes → Ácidos: moléculas que contém átomos de hidrogênio e são capazes de liberar H+ em soluções. Ex.: HCl, H2SO4; → Bases: íons ou moléculas capazes de receber um H+. Ex.:bicarbonato, hemoglobina, proteínas, fosfato; → Ácidos voláteis: grande capacidade de dissipação celular, com eliminação pulmonar de CO2; → Ácidos fixos: provenientes do metabolismo celular e protéico, excreção renal (sem CO2). Ex: ácido clorídrico (lisina), ácido fosfórico (ácidos nucléicos), ácido sulfúrico (proteínas). Estados patológicos: cetoacidose diabética, alcoolismo, drogas, toxinas, jejum prolongado. Equilíbrio Ácido-Básico Para que ocorra o equilíbrio, deve haver um controle entre a entrada e a produção de íons hidrogênio e a livre remoção desse íon do organismo. → Reação essencial do Equilíbrio: CO2 + H2O <-> H2CO3 <-> H+ + HCO3- As variações vão se basear nessa equação. Se as [ ] tendem para um lado ou outro, temos os distúrbios de pH! Principais fontes de hidrogênio: ● metabolismo celular (produção de CO2, formação de H2CO3); ● oxidação de aminoácidos e hidrólise de ésteres de pirofosfato. Produção estimada de 1 mEq/Kg/dia de ácidos diariamente. Concentração normal de hidrogênio é de 0,00004 mEq/L (40 nEq/L). Pequenas alterações nas concentrações representam grandes variações no pH. → Equação de Henderson Hasselbalch: O rim é responsável pela excreção de ácidos fixos e controle dos níveis de hidrogênio, 1 Allana Cristina - ATM 25/2 - Nefrologia qualquer mínima alteração tem alterações importantes de pH (função logarítmica) -> Equação de Henderson Hasselbach. Mecanismos de Manutenção da [H] → Tampão: qualquer substância que possa ligar-se ao hidrogênio para formar um ácido fraco (pouca capacidade de liberar suas moléculas) e um sal correspondente. É a primeira “linha de defesa” reagindo às mínimas alterações no pH. Não elimina o H, apenas mantém o H estacionado até que o equilíbrio seja reestabelecido. Quanto + H no meio, + ácido é. 60% ocorre no LIC e 40% no LEC: ● sistema ácido carbônico - bicarbonato ● proteínas plasmáticas (albumina) ● hemoglobina (anidrase carbônica) ● tamponamento ósseo (60% de CO2 no organismo, complexos com Ca, Na etc. Tampão não diminui a quantidade de H mas é rápido, ele logo reage e forma ácido (dificuldade para liberar H) e sal fraco para tirar o H do meio. → Controle respiratório (hematose): Através da FR (bradi/taqui), controla a [] de CO2 (hematose), funciona para ácidos voláteis, os fixos não. Quanto mais CO2 forma mais ácido é formado e o ácido dissocia em H+ e bicarbonato (olhar a equação essencial anterior). → Controle renal: Excreção dos ácidos fixos é competência do túbulo contorcido distal e túbulos coletores através da secreção de HPO3 (fosfato) e NH3 (amônia) - funcionam como um receptor de prótons (base), favorecendo a excreção de um íon H+ (literalmente se livrar do H e dos ácidos). Gasometria arterial Gasometria é um exame de sangue, de origem arterial, coletado a fim de avaliar o 2 Allana Cristina - ATM 25/2 - Nefrologia perfil de gases no sangue, bem como o pH, e distúrbios relacionados ao equilíbrio acidobásico. Onde? Artéria radial, ulnar, femoral, pediosa, tibial posterior. → Teste de Allen: Teste para verificação da circulação arterial da mão por meio da análise da perfusão das artérias radial e ulnar (testa a perfusão colateral). Parâmetros avaliados BE = bases excess = [ ] de bases. Definições → Acidemia: pH < 7,35 (redução do HCO3 ou aumento do pCO2 ou ambos); → Alcalemia: pH > 7,45 (aumento do HCO3 ou redução do pCO2 ou ambos); → Acidose: processo fisiopatológico que cursa com alteração do pH < 7,35; → Alcalose: processo fisiopatológico que cursa com alteração do pH > 7,45. Só se denomina alcalose ou acidose (-ose) se houver processo patológico envolvido. Acidose Metabólica Definição: redução primária no HCO3. pH < 7,35. Quanto menor o bicarbonato, maior a sobrecarga ácida. Causas: ● acréscimo de ácido forte que consome o HCO3; ● perda de HCO3. redução do HCO3 → redução do pH → taquipnéia → redução da pCO2 → Compensação esperada: alcalose respiratória (taquipneia, >26 irpm, profunda e rápida → reduzir a pCO2). ● inicia-se após a primeira hora e se completa em 24h; ● na queda de cada 1mEq de HCO3 → redução de 1,2 mmHg na pCO2. Manifestações Clínicas → Náuseas, vômitos, dores no corpo; → Hiperventilação - respiração de Kussmaul; 3 Allana Cristina - ATM 25/2 - Nefrologia → Redução da contratilidade miocárdica, venoconstrição periférica e arteriolar pulmonar; → Redução do débito cardíaco, hipofluxo renal e hepático; → Redução da resposta cardiovascular às catecolaminas; → Redução progressiva do nível de consciência → coma. Diagnóstico Laboratorial Ânion-GAP (AG) ou Hiato Iônico: princípio da eletroneutralidade (cargas positivas = cargas negativas) ([Na+] + [K+] = [Cl-] + [HCO3-]). Equivale a todos os ácidos fixos não quantificados (10-12 mEq). AG= [Na] - [HCO3+Cl] Classificar de acordo com o AG. Sempre calcular: ● AG aumentado: cloro normal (aumentou [] dos ácidos e eu consumi o bicarbonato para compensar, sem alterar o cloreto); ● AG normal: hiperclorêmica (bicarbonato reduzido (por consumo), reteve cloreto (Cl) para compensar). Etiologias → Ânion GAP elevado: ● Cetoácidos: intoxicação por etanol (baixa acuidade visual, neurotóxico), jejum prolongado, cetoacidose diabética; ● Ácido Lático: choque, exercício, doenças sistêmicas; ● Intoxicações: - salicilatos - etilenoglicol (cristais de oxalato de cálcio) - metanol (baixa acuidade visual - ácido fórmico) ● Redução da função renal: doença renal aguda ou crônica (pelo acúmulo de todos esses ácidos). Na+ 135 - 145 Cl- 106 HCO3- 22 - 26 AG 10 - 12 Exemplo 1: Considere os seguintes resultados de uma paciente feminina, 34 anos, gasometria arterial: pH 7,21 Bica 14 paCO2 30 paO2 107 Na 136 Cl 100. Assinale a alternativa que apresenta a causa mais provável do distúrbio metabólico: a. acidose tubular renal tipo I; b. acidose metabólica por hiper-hidratação com soro fisiológico; c. hiperaldosteronismo hiporreninêmico; d. choque séptico. pH < 7,35 → acidose. Alteração de bicarbonato (<22), então é metabólica gerando acidose. AG = 136-(14+100) = 22 → AG aumentado. Pela 4 Allana Cristina - ATM 25/2 - Nefrologia etiologia: D) choque séptico (aumenta lactato no organismo). → Ânion GAP normal (hiperclorêmica): ● Perda intestinal de bicarbonato: diarréia, uretossigmoidectomia ou drenagem pancreatobiliar; ● Perda renal de bicarbonato: acidose tubular renal; ● Uso de inibidores da anidrase carbônica ● Aporte excessivo de cloretos: soro fisiológico (ele é ácido, rico em cloreto). Exemplo 2: A determinação do ânion-gap ajuda a classificar as acidoses metabólicas. Dentre as acidoses metabólicas relacionadas abaixo, qual não possui AG elevado? a. acidose tubular renal b. intoxicação por metanol c. cetoacidose diabética d. intoxicação por salicilato Exemplo 3: Qual dos pacientes descritos abaixo mais provavelmente apresentaria uma gasometria com acidose metabólica com AG normal: a. paciente de 70 com choque secundário à sepse urinária; (choque é lactato, AG aumentado) b. pacientede 28 anos com obstrução intestinal e elevado débito por sonda nasogástrica; (perda de bicarbonato no TGI) c. paciente de 15 anos que foi internado em coma hiperglicêmico após interrupção do uso de insulina; (cetoacidose diabética, AG aumentado) d. paciente de 21 anos que teve distúrbios visuais e rebaixamento do nível de consciência após consumo de bebida alcóolica de fabricação clandestina; (provável intoxicação, AG aumentado) e. paciente renal crônico com clearance de creatinina < 10mL/min e hiperfosfatemia. (DRC, AG aumentado) Exemplo 4: Paciente masculino, 19 anos, politraumatizado, foi atendido numa UPA, onde foram identificados fraturas de pelve, colo femoral e choque. O médico do plantão solicita infusão de Ringer Lactato para reposição volêmica, entretanto é informado que o serviço só dispõe de SF0,9%. Na reanimação inicial são necessários 4,5L para estabilização e transporte à unidade definitiva. Nessa situação, qual distúrbio hidroeletrolítico o paciente tenderá a desenvolver: a. alcalose hipoclorêmica; b. acidose hipercalêmica; c. alcalose hipernatrêmica; d. acidose hiponatrêmica; e. acidose hiperclorêmica. SF é ácido, pH de 5,8 (Na 154 + Cl 154). Acidoses Tubulares Renais Acontecem ou por perda de base (HCO3) ou por incapacidade de excreção de H+. Não há ganho de ácidos! → Tipo I - TCD (reduz secreção de H+): ● causas: Sjogren, paraproteinemias, anfotericina B; ● manifestações: osteopenia, nefrolitíase, nefrocalcinose, hipoK (eletroneutralidade). → Tipo II - TCP (Síndrome de Fanconi): 5 Allana Cristina - ATM 25/2 - Nefrologia ● causas: mieloma múltiplo, aminoglicosídeos, acetazolamida; ● manifestações: glicosúria, aminoacidúria, fosfatúria, bicarbonatúria. → Tipo IV - Túbulo Coletor (redução/bloqueio Aldosterona): ● causas: hipoaldosteronismo hiporreninêmico, espironolactona, IECA/BRA; ● manifestações: hiperK; ● bem comum no diabético. Tratamento Avaliar e tratar também a causa de base. Indicado se pH < 7,2 ou Bicarbonato < 8. Utilizar Bicarbonato de Sódio 8,4% (cada mL tem 1mEq). Risco de hipernatremia (bicarbonato de SÓDIO), curso com baixo potássio. Pode repor tudo de uma vez só. → Déficit de Bicarbonato: (Bica desejado - Bica atual) x (Peso x 0,5) Atenção: ● hipervolemia; ● hiperosmolaridade; ● hipocalemia; ● alcalose. Alcalose Metabólica Relacionada ao aumento do bicarbonato ou déficit de cloro. aumento do HCO3 → aumento do pH → bradipnéia → aumento pCO2 Causas: ● gastrointestinais (perda de HCl); ● renais (uso de diuréticos); ● expansão de volume (HAS, tumor secretor de renina, hiperaldosteronismo); ● administração de álcalis (citrato, lactato, acetato, uso prolongado de antiácidos). Citrato é convertido em lactato e bicarbonato, ele é usado como anticoagulante em bolsas de sangue (transfusões). Não há nenhum sinal patognomônico, depende da causa de base. Causas que perpetuam a alcalose: ● hipovolemia; ● depleção de cloro; ● hipocalemia; ● hipoventilação e hipercapnia. → Compensação esperada: para reduzir o pH → aumenta pCO2 (bradipneia/apneia): ● limitante dessa compensação: níveis de pO2; ● limite tolerável de pCO2 55mmHg. Diagnóstico Diferencial Exemplo 5: Uma vítima de acidente automobilístico é submetida a tratamento 6 Allana Cristina - ATM 25/2 - Nefrologia operatório por lesões abdominais e recebe dez unidades de concentrados de hemácias nas primeiras horas de internação. As complicações que podem resultar dessa hemotransfusão maciça são as seguintes: a. hipotermia, alcalose metabólica, hipocalcemia, hipercalemia b. hipertermia, acidose metabólica, hipercalemia, hipercalcemia c. hipertermia, acidose respiratória, hipocalcemia, hipocalemia d. hipotermia, alcalose respiratória, hipercalemia, hipercalcemia A) metabólica porque o citrato vai virar lactato e BICARBONATO. Hipocalcemia, hipercalemia pois transfusão é dar cálcio livre também, hipotermia devido a temperatura da bolsa. Tratamento Correção do distúrbio que impede os rins de excretar o excesso de bicarbonato. → alcaloses responsivas ao cloro: ● reposição de NaCl (SF0,9%); ● indicação de HCl apenas de pH estiver > 7,55 e em vigência de arritmia cardíaca ou confusão mental. → alcaloses não responsivas ao cloro: ● reposição de KCl; ● se hiperaldosteronismo primário → tto cirúrgico; ● síndromes de Gittelman e Bartter → espironolactona. Acidose Respiratória Ocorre quando há retenção de CO2 (hipercapnia), que cursa com elevação da pCO2 e incapacidade de remoção pelos pulmões. → Causas: aquilo que aumenta a frequência e ventilação pulmonar. ● distúrbios neuromusculares; ● doença pulmonar. → Manifestações clínicas: ● dependem da velocidade de instalação; ● relacionadas à retenção de CO2 (confusão mental, flapping e coma). Tratamento: direcionado à causa da hipoventilação. Alcalose Respiratória Ocorre quando há redução de CO2 (hipocapnia - hiperventilação) que cursa com redução da pCO2 sérica. → Causas: qualquer condição que estimule a ventilação pulmonar: ● dor, ansiedade; ● hipoxemia (TEP, IC, edema agudo de pulmão) (diminuição da troca de O2, se cai O2 aumenta a FR); ● estados hipercatabólicos, infecções (pneumonia). → Manifestações clínicas: parestesias de extremidades ou peri-orais (relacionados à hipocalcemia), alteração de consciência. → Tratamento: corrigir a hiperventilação Nos distúrbios metabólicos: ver se a alteração encontrada na gasometria é compatível com o distúrbio → avaliação compensatória → ver se está caminhando para a compensação. A compensação (respiratória) pode ser uma via de 7 Allana Cristina - ATM 25/2 - Nefrologia mão dupla, com efeitos negativos do CO2 no organismo. 1ª avaliação: acidemia ou alcalemia? 2ª metabólico (causado pelo bica) ou respiratório (causado pela pCO2)? 3ª avaliar AG se acidose e observar pCO2 esperada. 8 Allana Cristina - ATM 25/2 - Nefrologia 9
Compartilhar