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Alfred Marshall – Consolidação da teoria neoclássica e bases para a microeconomia atual. História do Pensamento Econômico FEA-USP Alfred Marshall certamente pode ser colocado entre os principais pensadores da Economia Política. Determinou conceitos fundamentais até hoje utilizados na análise microeconômica e consolidou a teoria neoclássica como dominante no pensamento econômico. Assim, aprofundando conceitos do Marginalismo de Jevons, Marshall deu novos ares à análise econômica em comparação com a economia política clássica. Talvez a contribuição mais importante, dentre tantas outras, desse autor tenha sido a dedução das clássicas curvas de oferta e demanda. Alfred Marshall dedica boa parte de sua principal obra (Princípios de Economia) aos estudos que elucidam como essas duas componentes da economia são constituídas e como se comportam até alcançar o equilíbrio de mercado. Cabe, então, analisar a visão marshalliana acerca delas. ▪ A demanda segundo Marshall Para Marshall, a definição de demanda é a busca dos seres humanos por satisfazer suas necessidades através da compra de mercadorias. Quando adquiro um bem é com vistas a cumprir um desejo meu. A satisfação que surge com essa aquisição é chamada de utilidade, também relacionada ao termo necessidade. Qual a utilidade, ou seja, qual a necessidade do bem que compro e quanto de satisfação ele pode me dar? A medição desse fator nunca é direta, mas é, na Economia, feita pela determinação dos preços. O preço de um bem no mercado é o sinal mais eficiente, segundo Marshall, da sua capacidade de me satisfazer, ou seja, de sua utilidade. A utilidade total da aquisição de várias quantidades de uma mercadoria é sempre crescente. Mas ela aumenta a taxas decrescentes. Quando estou 10 horas sem tomar água, minha sede é tamanha que um gole de 20 ml consegue diminui-la muito. Ele possui alta utilidade. Se eu tomar mais do mesmo volume, me satisfaço consideravelmente, mas menos do que antes. O segundo nível de utilidade é ainda alto, mas menor do que o primeiro. E assim vou tomando mais e mais até que as utilidades dos acréscimos sucessivos vão diminuindo a tal ponto que fico em dúvida se tomo mais 20 ml ou não. A decisão de tomar esse último gole é uma decisão marginal. Podemos dizer, portanto, que a utilidade marginal decresce a cada acréscimo de quantidade. Se aplicarmos o mesmo raciocínio na compra de uma mercadoria, a aquisição última dela é chamada de compra marginal, uma vez que mede a margem de dúvida se devo ou não comprar, tendo em vista o quanto de utilidade ela pode me trazer. O preço dessa aquisição, por sua vez, é denominado preço de procura marginal. Ele sempre diminui conforme mais de um mesmo bem é comprado, já que o benefício marginal decresce a cada acréscimo1. Pode-se ver que Marshall determina a curva de demanda a partir da medida de utilidade marginal. Esta é alta quando as quantidades adquiridas são baixas e diminui na medida em que mais é comprado. Por essa razão que o gráfico possui uma curva cuja inclinação é negativa: o preço de procura marginal diminui conforme mais de um bem pode ser comprado, de modo que assim possa atrair maior número de compradores. Cabe dizer aqui que, para Marshall, a demanda do mercado é a soma das demandas individuais. ▪ A oferta segundo Marshall Na visão de nosso autor, os ofertantes possuem quatro agentes principais: o trabalho, o capital, a terra e a organização. A oferta, por sua vez, constitui-se na superação da relutância em suportar incomodidades, as quais têm origem principalmente nos dois primeiros fatores. Quando se fala em trabalho, as incomodidades decorrem principalmente da fadiga excessiva, da insalubridade, de um ambiente ruim dentro da firma, etc. Tudo isso contribui para elevar cada vez mais a “desutilidade marginal do trabalho”. Quanto ao capital, o adiamento da satisfação com os ganhos, ou seja, a espera que leva à acumulação de capital, constitui seu custo e sua incomodidade. Esses custos, somados às despesas com matérias-primas e outros fatores de produção, formam o preço de oferta. Este, por sua vez, precisa ser o mínimo suficiente para induzir um capitalista a levar a produção adiante e lucrar com ela. Tomando por base esse raciocínio, Alfred Marshall enuncia o princípio de substituição: as firmas que usam fatores menos eficientes e mais custosos, elevando o 1 Isso deve ser afirmado se considerarmos que a utilidade marginal do dinheiro permanece constante. Se ela for alta, o dispêndio é menor do que quando ela é baixa. Isso altera as condições estabelecidas para determinar o preço de demanda. preço de oferta, são naturalmente substituídas pelo mercado por empresas mais eficientes, as quais utilizam fatores mais baratos, culminando em menor preço de oferta. Marshall introduz no estudo de Economia a análise de um novo elemento: o tempo, que é delimitado em três períodos básicos. O período de mercado, aquele em que a oferta é fixa. O curto período, em que a demanda é mais influente no preço de mercado, possui pelo menos um fator fixo, mas a produção pode se alterar dentro de uma capacidade instalada. Finalmente, o longo período, em que os preços de mercado se baseiam principalmente na oferta, não possui nada fixo. A potencial variação dos agentes pode alterar a capacidade instalada, que ora aumenta ora diminui. Estabelecidos todos os critérios, o autor inglês ainda acrescente que as curvas de oferta podem ser de inclinação positiva, negativa ou até mesmo nula. Tudo depende do comportamento dos custos de produção. No primeiro caso, o mais comum, eles crescem na medida em que a produção aumenta. No segundo, típico de indústrias de grande escala, há uma diminuição dos custos conforme aumenta a aplicação produtiva. Quando os custos são constantes, independentemente da produção, a curva é horizontal. Quando o preço de demanda é maior que o de oferta, temos que os produtores recebem mais do que o necessário para produzir e auferir lucro. Há, dessa forma, estímulos para aumentar a quantidade colocada no mercado. Na situação oposta, a firma está ganhando menos do que o suficiente. Há incentivo para cortar a produção e reduzir as quantidades. Essas são medidas que acentuam a tendência para o equilíbrio de mercado, em que os preços e, consequentemente, as quantidades, se igualam. Nesse caso, o capitalista ganha o estritamente necessário para produzir e lucrar.
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