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1 ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO (NOTURNO) PROVA 2 NOME: Camilo Ortega Hernandez Nº USP: 11238909 QUESTÕES 1) Um experimento é conduzido em três diferentes países. Os participantes são comunicados sobre seus níveis de renda (em moeda nacional) efetiva do contribuinte representativo de cada país, a alíquota tributária, a probabilidade de detecção de fraude e a multa (“F = punição”) em caso de detecção de fraude. Todos estes parâmetros são os mesmos para cada um dos três países. Constata-se, todavia, que o montante de renda não declarada é diferente para cada um dos três países. Como explicar esse resultado mediante o uso do modelo (completo) de evasão tributária discutido em aula? Demonstre esse modelo (completo) e mostre graficamente o ótimo da evasão fiscal que ele propõe, de modo que, a partir dele você possa ilustrar seus argumentos-resposta quanto à questão aqui proposta. O montante de renda não declarada é diferente para cada um dos três países pois observando as condições de evasão mesmo com os três países com os mesmos parâmetros não podemos concluir nada sobre a magnitude dessa evasão. Esse montante de renda não declarada depende das preferências dos indivíduos também e por isso é diferente para cada um dos três países, mesmos com todos estes com parâmetros iguais. Utilizando o modelo completo de evasão tributária discutido em aula podemos chegar nessa conclusão. Demonstrando o modelo: Ele parte do princípio como um jogo em que os contribuintes vão escolher a partir da sua renda efetiva ( Y ), declarar uma parte de sua renda ( X ) tributada à uma alíquota ( t ) considerando uma probabilidade detecção da fraude tributária ( p ), uma multa de punição ( F ) que incide sobre o montante de tributo que foi evadido e a partir de sua utilidade, qual será sua evasão, caso haja alguma. Montante de renda não declarada → (Y – X) ≥ 0 Montante do tributo não recolhido → t.(Y – X) ≥ 0 Quando o contribuinte evade e não é detectado a sua Renda Líquida é → Ynd = Y – t.X Quando o contribuinte evade e é detectado, acontece uma multa que incide sobre o montante de tributo que foi evadido → F.t.(Y – X) Nesse caso a Renda Líquida será → Yd = [(1 – t).Y – F.t(Y – X)] Tendo tudo isso o contribuinte vai ponderar a partir da utilidade da sua Renda Líquida obtida em dois estados possíveis e incertos (Detecção e Não Detecção) → U = U (Yd, Ynd) = [p.U(Yd + (1 – p).U(Ynd)] Já que Y, t, p e F são dados a única decisão de escolha é sobre X para: MÁX.: E{U(YLÍQ. )} = {(1 – p).U[Y– t.X] + p.U[(1 – t).Y - F.t.(Y – X)]} Com um valor alto de ( X ) provê mais renda no estado de Detecção, já com um valor mais baixo de ( X ) provê mais renda no estado de não detecção. 2 Em casos extremos de X temos: - Caso em que toda renda efetiva é declarada ( X =Y ) → Ynd = Yd = (1 – t). Y - Nenhuma renda é declarada ( X=0 ) → Ynd = Y → Yd = [1 – t.(1 + F)].Y Em casos em que 0 < X < Y temos uma reta que liga os casos extremos: Com Yd = (1 – t).Y – F.t.(Y – X) e Ynd = Y – t.X, temos que → Yd = [(1 + F).(1 – t)].Y – F.Ynd Essa equação representa o conjunto de oportunidade que mostra o trade-off entre (Yd) e (Ynd) Dessa forma a inclinação no plano (Ynd, Yd) será → dYd/dYnd = - F Com essas informações podemos chegar à conclusão que a escolha ótima ( X* ) será aquele ponto sobre a reta do conjunto de oportunidade que tangencia a mais elevada curva de indiferença dada pela função de utilidade que foi dita mais acima ( U = U (Ynd, Yd) ). Essa escolha ótima implica que ele vai decidir evadir alguma parte de sua renda efetiva ( Y – X* ) e, também, vai declarar parte de sua renda efetiva ( X*) como podemos ver pelo gráfico: 45 0 SOB: X = Y SOB: X = 0 (1 – t).Y [1 – t.(1 + F)].Y (1 – t).Y Y Y ND Y D CONJUNTO DE OPORTUNIDADE DAS ALOCAÇÕES POSSÍVEIS ENTRE OS DOIS ESTADOS: DETECÇÃO E NÃO- DETECÇÃO 45 0 SOB: X = Y SOB: X = 0 [1 – t.(1 + F)].Y (1 – t).Y (1 – t).Y Y Y ND Y D SOLUÇÃO INTERIOR: 0 < X* < Y Y ND * = (Y- t.X*) Y D * = [(1-t)Y- F.t(Y- X*)] TRIBUTO PAGO TRIBUTO EVADIDO 3 Em condições de soluções ótimas de canto temos o caso em que implica uma honestidade total do contribuinte ( X* = Y ), ou uma desonestidade total ( X* = 0 ), temos o gráfico: A utilidade esperada será → E[U(YLÍQ.)] = [(1 – p).U(Ynd ) + p.U(Yd )] Diferenciando a utilidade esperada é possível chegar que a inclinação em cada ponto da curva de indiferença é → (dYd /dYnd ) = - [(1 – p).U’(Ynd )]/[p.U’(Yd )] Se o ponto estiver na reta de 45° → Yd = Ynd E a inclinação da curva de indiferença será → (dYd /dYnd ) = - [(1 – p).U’(Ynd )]/[p.U’(Yd )] = - (1 – p)/p Mas vimos também que na reta de restrição a inclinação é → dYd/dYnd = - F Tendo essas duas informações em mãos e analisando os gráficos é possível perceber que não haverá evasão quando a inclinação da curva de indiferença no ponto de honestidade total for menor inclinada do que a reta de restrição de oportunidades, então a escolha ótima será necessariamente a solução extrema/de canto. Com honestidade total → - (1 – p)/p ≥ 0 Implicando que → p ≥ [1/(1 + F)] Assim, a desonestidade implica → p < [1/(1 + F)] 45 0 X* = Y X* = 0 INCLINAÇÕES NO PONTO DE TANGÊNCIA Y D Y ND Y (1-t)Y [1-t(1+F)]Y (1-t)Y 4 Com isso, concluímos que dada uma multa ( F ) a condição de evasão implica que → (1 – p) > (p.F) Como dito no início, essa condição conclusiva que tivemos a partir da demonstração, só diz a respeito se haverá ou não evasão, mas a quantidade da evasão não podemos concluir nada. Isso por que dependerá também das curvas de indiferença e das preferências do indivíduos. E é por esse motivo que mesmo com os parâmetros iguais poderá haver diferenças no montante de renda não declarado 5 2) Suponha o financiamento do déficit público por títulos e moeda, mas que senhoriagem obtida seja inferior ao déficit primário inicial. Suponha que a economia de determinado país tenha inicialmente uma taxa de crescimento do produto real maior do que a taxa real de juros e que, mesmo apresentando inicialmente um déficit primário como proporção do PIB, essa economia esteja nessa situação inicial com a estabilidade da sua razão dívida pública com relação ao PIB. Dado essa situação inicial, suponha agora que um novo governo assuma o comando da política econômica e que o mesmo eleve a taxa real de juros acima da taxa de crescimento do produto real e, simultaneamente, gere um superávit primário líquido de senhoriagem nulo (“zero”) como proporção do PIB. Pede-se: (A) Mostre a situação inicial dessa economia e a nova dinâmica da dívida pública que é gerada com a política econômica adotada pelo novo governo. Na situação inicial tem-se um Déficit Primário [total de despesas correntes (exceto juros) e investimento – total de receitas superior] superior à senhoriagem obtida (define-se senhoriagem do setor público como sendo o total de recursos reais obtidos pelo governo junto ao setor privado mediante emissão de moeda primária). Além disso, dado que “economia de determinado país tenha inicialmente uma taxa de crescimento do produto real maior do que a taxa real de juros”, pode-se afirmar que o país vive um caso benigno, onde a taxa de crescimento do produto real é maior do que a taxa real de juros, então se déficit primário não for significativo, a razão (dívida/PIB) tende a decrescer ou ficar constante. Isso ocorre, pois, uma vez que o crescimento do PIB real é suficiente para reduzir os efeitos do pagamento de juros reais sobre a dívida pública, mesmo com um certo nível de déficit primário líquido, há a possibilidade da razão dívida/PIBpermanecer estável ao longo do tempo. Sendo assim, a economia em questão, antes do novo governo assumir, convergia para uma razão (dívida/pib) estável, mesmo diante de um déficit fiscal inicial. Com a nova dinâmica da nova política econômica adotada pelo governo surge um novo panorama com uma nova dinâmica da dívida pública. Dado que “que o mesmo eleve a taxa real de juros acima da taxa de crescimento do produto real”, pode-se afirmar que o país começa a viver um “caso problemático” com a taxa real de juros sendo maior do que a taxa de crescimento do produto real, os pagamentos de juros (reais) sobre a dívida pública estarão crescendo mais rapidamente do que o PIB (real) e, portanto, o pagamento do serviço real da dívida (juros reais) estará elevando a carga da dívida. a única forma disto ser contrabalançado é o governo obter um superávit primário adequado aos níveis dos juros existentes. Utilizando as fórmulas, tem-se a dinâmica da razão (dívida/PIB) é dada por: [(dYPR - SEY)t + (r - g)t.bt-1] = ∆bt Todavia, essa equação pode ser interpretada como uma equação de reta no plano b x ∆b, se tomarmos como dados e constantes no tempo, isto é, definir como parâmetros: (“r, g, dypr, sey”). A equação de reta é (abstratamente) definida pela equação no plano (x, y): “y = α + 6 β.x”, onde os parâmetros são: α = intercepto no eixo vertical (y) e β = inclinação da reta. Fazendo: α = (dypr - sey) > 0; β = (r - g) > 0 (“inclinação positiva”), então tem-se: (∆b), (y). Quando (dypr - sey) ≤ 0, isto é, quando o déficit primário líquido de senhoriagem é negativo e, portanto, há liquidamente um superávit fiscal primário. Evidentemente, essa economia se encontra em um "equilíbrio instável": qualquer choque positivo que eleve a razão dívida/PIB coloca a economia numa trajetória de aumento indefinido da dívida pública. Da mesma forma, qualquer choque negativo que reduza essa razão faz com que ∆b seja negativo, reduzindo indefinidamente a razão dívida/PIB. Em suma, qualquer choque, seja positivo ou negativo, colocaria o governo numa trajetória indefinida de aumento/redução da sua dívida. Nesse cenário, um superávit primário líquido significativo é necessário para estabilizar a razão (dívida/PIB). Quanto mais elevado for o nível inicial do endividamento público, maior será tal superávit necessário para a estabilização de b. Nesse sentido, se o governo não tiver perspectiva de alcançar o superávit que acarreta a estabilização, há a possibilidade de que ele enfrente problemas de solvência. (B) Mantida a taxa real de juros maior do que a taxa real de crescimento do produto, pergunta-se se há necessidade de alteração da política fiscal do novo governo (e qual, em caso afirmativo) para que, a partir da situação inicial acima descrita, se mantivesse a variação nula da proporção da dívida pública no produto? Justifique as respostas com base no modelo de análise da dinâmica da dívida pública efetuada no curso, mostrando algebricamente e ilustrando os argumentos e gráficos de sua resposta às duas questões aqui propostas. Mantida a taxa real de juros maior do que a taxa real de crescimento do produto, o governo precisa alterar sua política fiscal para uma política fiscal prudente. Dessa forma, é relevante que o governo tome atitudes para evitar a insolvência e garantir que haja sustentabilidade fiscal. Um governo garante solvência da sua dívida caso ele possa pagar todas as suas dívidas, ao longo do tempo, por meio da obtenção de superávits fiscais e receitas de senhoriagem. O desenvolvimento da regra de política fiscal prudente se dá a partir da seguinte demonstração algébrica: A equação que mostra a dinâmica da dívida pública é: (dYPR - SEY)t + (r - g).bt-1 = ∆bt mas como: dYPR = (DPR/P.y)t = [(G+Ig)/P.y – (T)/P.y]t = [(gi/y)t – (t/y)t] Onde: gi = (G+I)/P ; t = T/P Obtém-se que → (dYPR - SEY)t = [(gi/y)t – (t/y)t – (SEY)t] Portanto → [(gi/y)t – (t/y)t – (SEY)t] + (r - g).bt-1 = ∆bt No longo prazo, para que se mantenha a variação nula da proporção da dívida pública no produto (∆bt = 0), ou seja, não se eleve em termo de valores permanentes de tendência de longo prazo de gastos e receitas, isso implica que: [(gi/y)P – (t/y)P – (SEY)P] + (rP – gP).bt-1 = ∆bP = 0 7 Assim, a tributação permanente (tendencial) terá de ser igual a: (t/y)P = [(gi/y)P – (SEY)P] + (rP – gP).bt-1 Na medida em que a tributação (efetiva) a cada período “t” é aquela que garante os valores permanentes (“(t/y) = (t/y)P”), obtendo, assim, uma variação da razão (Dívida/PIB) nula em termo de tendência de longo prazo, obteremos a chamada regra de política fiscal prudente, i.e, de “suavização tributária” → (t/y)t = (t/y)P = [(gi/y)P – (SEY)P] + (rP – gP).bt-1 E, substituindo a regra de política fiscal prudente na equação da dinâmica da dívida, chegaremos que a cada período “t” a dinâmica da dívida será dada por: [(gi/y)t – (gi/y)P] - [SEY(t) - (SEY)P] + [(rt – rP) – (gt – gP)].bt-1 = ∆bt Dessa forma, se a política fiscal segue a regra de política fiscal prudente, a variação da razão b = (Dívida/PIB) a cada momento “t” ao longo do ciclo econômico depende de: Como: [(gi/y)t – (gi/y)P] - [SEY(t) - (SEY)P] + [(rt – rP) – (gt – gP)].bt-1 = ∆bt A equação nos diz que se os gastos correntes mais investimentos, senhoriagem, taxa de juros e crescimento da economia forem maiores do que os seus valores permanentes, a razão da dívida/PIB irá crescer. Finalmente, o novo governo deve alterar sua política fiscal para manter nula a variação da proporção da dívida pública no produto caso ele não esteja seguindo a regra de política fiscal prudente. Assumindo que a senhoriagem, a taxa de juros e a taxa de crescimento da economia no momento t são iguais aos seus valores permanentes, podemos observar a dinâmica graficamente. Conforme o valor de (gi/y)t fica mais acima ou abaixo do seu valor permanente, a variação da razão dívida/PIB aumenta ou diminui, respectivamente: (gi/y) t (gi/y) t0 > (gi/y) P IMPLICA: ∆b t0 > 0 (gi/y) t1 < (gi/y) P IMPLICA: ∆b t1 < 0 TEMPO (gi/y) P = (t/y) P = (t/y) t t 0 t1
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