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2 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S 2 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S 3 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S 3 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S Núcleo de Educação a Distância R. Maria Matos, nº 345 - Loja 05 Centro, Cel. Fabriciano - MG, 35170-111 www.graduacao.faculdadeunica.com.br | 0800 724 2300 GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO. Material Didático: Ayeska Machado Processo Criativo: Pedro Henrique Coelho Fernandes Diagramação: Heitor Gomes Andrade PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira, Gerente Geral: Riane Lopes, Gerente de Expansão: Ribana Reis, Gerente Comercial e Marketing: João Victor Nogueira O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para a formação de profi ssionais capazes de se destacar no mercado de trabalho. O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem. 4 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S 4 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S Prezado(a) Pós-Graduando(a), Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional! Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confi ança em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as suas expectativas. A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma nação soberana, democrática, crítica, refl exiva, acolhedora e integra- dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a ascensão social e econômica da população de um país. Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida- de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos. Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas pessoais e profi ssionais. Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi- ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver um novo perfi l profi ssional, objetivando o aprimoramento para sua atua- ção no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe- rior e se qualifi car ainda mais para o magistério nos demais níveis de ensino. E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a) nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial. Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos conhecimentos. Um abraço, Grupo Prominas - Educação e Tecnologia Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas! . É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo- sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve- rança, disciplina e organização. Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua preparação nessa jornada rumo ao sucesso profi ssional. Todo conteúdo foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho. Estude bastante e um grande abraço! Professor Thiago Henrique Sampaio O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc- nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela conhecimento. Cada uma dessas tags, é focada especifi cadamente em partes importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in- formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao seu sucesso profi sisional. Este modelo terá como foco a disciplina Introdução à Antro- pologia. Foram especifi cadas quatro temáticas desenvolvidas ao longo dessas páginas: a) O surgimento da Antropologia e as primeiras gran- des correntes; b) Os conceitos de cultura e seus signifi cados ao longo do tempo; c) Temas da Antropologia contemporânea e d) A Antropologia brasileira. Ao longo do material, serão percebidas transformações, con- ceitos, desenvolvimentos e métodos do trabalho antropológicos. Neles, poderemos notar como a Antropologia é uma disciplina que passou por constantes transformações. As mudanças no meio social do homem também impactaram a Antropologia, com o surgimento de novas temáti- cas e metodologias de análise. Além disso, não podemos esquecer que a entrada dessa área de pesquisa no Brasil aconteceu tardiamente, de- vido ao surgimento demorado das primeiras universidades brasileiras. Cultura. Método Antropológico. Antropologia Brasileira. Antropologia. 9 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S 9 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S CAPÍTULO 01 DO SURGIMENTO DA ANTROPOLOGIA E AS PRIMEIRAS CORREN- TES O surgimento do pensamento antropológico e o Evolucionismo_ Apresentação do módulo __________________________________ Antropologia Funcionalista_____________________________________ A antropologia francesa________________________________________ Franz Boas e o surgimento da linha americana__________________ 12 10 18 21 23 Recapitulando_________________________________________________ 29 Fechando a Unidade_______________________________________ 81 Cultura e Natureza_____________________________________________ 36 Cultura popular e cultura erudita_______________________________ 42 Transformações culturais nas sociedades industrializadas_______ Recapitulando__________________________________________________ 44 51 A Antropologia brasileira___________________________________ 67 Recapitulando__________________________________________________ 74 CAPÍTULO 02 OS CONCEITOS DE CULTURA CAPÍTULO 03 TEMAS CONTEMPORÂNEOS DA ANTROPOLOGIA E A ANTROPO- LOGIA BRASILEIRA Temas contemporâneos da Antropologia_____________________ 58 Considerações Finais_______________________________________ 82 Referências____________________________________________________ 83 10 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S O homem contemporâneo passa por constantes transforma- ções e é carregado de informações cotidianamente. Afi nal, em uma so- ciedade que cada vez mais se industrializa e se moderniza, qual o im- pacto que isso pode ter em nossas vidas? Que tipo de cultura e padrões somos constantemente recebidos? Partindo dessas indagações, o módulo busca compreender as bases de uma disciplina fundamental para o conhecimento humano: a Antropologia. Disciplina que passou por diversas transformações ao lon- go do tempo, e tem se modifi cado cada vez mais, devido aos avanços tecnológicos e os impactos que eles causam na vida das populações. O módulo Introdução à Antropologia busca compreender o sur- gimento dessa área das ciências e como ela se desenvolveu o longo do tempo, seus objetivos, métodos, conceitos e principais abordagens teó- ricas e metodológicas. Assim, apresentaremos três capítulos divididos, com as temáticas fundamentais da área. No primeiro capítulo, Do surgimento da antropologia e as pri- meiras correntes, buscaremos mostrar os motivos que levaram oapa- recimento da Antropologia enquanto ciência e as primeiras grandes cor- rentes. Nele veremos os primeiros antropólogos, como Marcel Mauss, Malinowski e Franz Boas e como seus pensamentos infl uenciaram a posteridade. Conceitos e métodos surgindo nesses primeiros momen- tos são usados até os dias de hoje, no campo antropológico. No capítulo seguinte, Os conceitos de cultura, será tratado o principal objeto de pesquisa da Antropologia: os modos e as diferentes formas que se constituem a cultura. Nele veremos como as noções de cultura variaram ao longo do tempo, além de abordar importantes con- ceitos desse campo, como cultura erudita, cultura popular, cultura de massa e indústria cultural. O último capítulo, Temas contemporâneos da antropologia e a antropologia brasileira, está dividido em duas partes principais. A pri- meira busca discutir temáticas que se fortaleceram após a Segunda Guerra Mundial no campo antropológico: como gênero, sexualidade, etnicidade e identidade. Nele veremos questões que são discutidas até os dias de hoje. Além disso, notaremos que, para a solidifi cação dessas temáticas, foi importante o contato da Antropologia com outras áreas de conhecimento humano, como a Sociologia, a Filosofi a, a História e a Etnografi a. Na segunda parte, discutiremos a evolução e a construção da Antropologia enquanto ciência no Brasil, quais foram seus principais antropólogos, suas temáticas e especifi cidades próprias que tomou em terras brasileiras. Esse material foi desenvolvido com toda a atenção e cuidado 11 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S que o aluno necessita para se aprofundar nos conhecimentos antropo- lógicos. Esperamos que as páginas seguintes agradem. Façam bom proveito dos temas tratados! 12 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S 12 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S O SURGIMENTO DO PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO E O EVO- LUCIONISMO A Antropologia é uma ciência relativamente recente, surgiu no fi nal de XIX e início do XX e busca compreender o homem em sua totalidade, seus aspectos culturais e sociais, em interação. A palavra Antropologia vem do grego (anthropos = homem, logia = estudo) é a área que tem como foco de estudo homem em sua totalidade. Desta forma, percebe-se que os homens são seres sociais e culturais, que são construídos e estudados por outros homens. Quando entendemos que a Antropologia é uma ciência onde o homem estuda o próprio homem, estamos inserindo a Antropologia dentro da área das Ciências Humanas. Ao mesmo tempo que busca- mos compreender a interação do homem socialmente, a colocamos no grupo de Ciências Sociais. Esse momento de aparecimento da Antropologia, as Ciências DO SURGIMENTO DA ANTROPOLOGIA E AS PRIMEIRAS CORRENTES LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S jorge.anjos Realce jorge.anjos Realce 13 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S Sociais estão surgindo, fazendo comparação com as Ciências Natu- rais. Dando legitimidade para seu campo de atuação, dessa forma são pensados aspectos em que o homem refl ita seus problemas de forma racional e científi ca. De modo geral, a Antropologia buscou compreender as socie- dades conhecidas como “primitivas”, aquelas sociedades não ociden- tais e não europeizadas, hoje denominadas sociedades simples ou de pequena escala. Na segunda metade de Oitocentos1, devido ao Impe- rialismo, cada vez mais se tem contato com essas culturas. Assim, a Antropologia surge dentro do grande contexto do Imperialismo2. Outras partes do globo, como África, Ásia, Oceania e América são colonizadas pelos europeus e, essas regiões são estuda- das pelos primeiros antropólogos, que buscam compreender como é a confi guração de sociedades que não eram industrializadas, e como o homem se vê diante de sua organização. As diferenças culturais entre as diversas sociedades são o foco desse momento. Desta forma, as primeiras abordagens antropológicas estão situadas nesse contexto colonial. Os antropólogos estão pensando e acreditando na existência de apenas uma cultura, que estaria em di- versos estágios de desenvolvimento, ou seja, haveria culturas mais ou menos desenvolvidas. Os métodos que os primeiros antropólogos empregavam era a análise de relatos de viajantes e missionários nos contextos coloniais. Esses documentos apresentavam uma visão única desse homem que não vivia em uma sociedade industrializada e urbanizada igual a euro- peia. Essas narrativas traziam, na maioria dos casos, tons preconcei- tuosos sobre o homem nesses contextos sociais, pois, consideravam essas culturas menos evoluídas ou desenvolvidas que as da Europa. As fontes sobre essas populações, que eram vistas como dife- rentes pelos europeus, possibilitaram o surgimento das primeiras pes- quisas antropológicas. Esse conhecimento que surgiu era motivado por vários fatores, como o interesse em conhecer melhor aquelas socieda- des consideradas primitivas, pois, possibilitaria compreende-las melhor para dominá-las (no caso de administradores coloniais e missionários). Um dos fatores científi cos para esse estudo era tentar entender os diversos leques da história da humanidade. Assim, conhecer socie- dades que eram vistas como primitivas ou em estágios simples era um laboratório prático, pois, acreditavam que estavam vendo os primeiros estágios do passado do homem. 1 Oitocentos é uma referência ao século XIX 2 O Imperialismo consistiu de uma ideologia de dominação política, econômica e social empregada por países europeus para ocuparem territórios na Ásia, África e Oceania. Essas práti- cas de colonialismo do século XIX se penduraram até a segunda metade do século XX. jorge.anjos Realce jorge.anjos Realce jorge.anjos Realce jorge.anjos Realce 14 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S Esses primeiros antropólogos acreditavam que a cultura hu- mana passava por estágios de evolução, por isso, fi caram conhecidos como evolucionistas. Eles classifi cavam as sociedades em selvagens ou primitivas (aqueles habitantes que moravam em locais de selva); bárbaros (seriam sociedades mais avançadas que as primeiras, mas longe das características industriais) e os civilizados (as sociedades in- dustriais, no caso o modelo europeu que existia. Os principais teóricos dessa corrente eram Lewis Henry Mor- gan (1818-1881), Edward Tylor (1832-1917) e James George Frazer (1854-1941). Cada um destes antropólogos narrou sua visão evolucio- nista sobre as sociedades conhecidas, e sobre as possibilidades de li- nhas evolutivas existentes no homem. As defesas desses teóricos par- tiram da ideia de progresso, todos acreditavam que as sociedades mais primitivas avançavam à civilização. Eles foram fortemente infl uenciados por Charles Darwin e pelo fi lósofo Herbert Spencer. Os evolucionistas comparavam esses estágios de evolução das sociedades com fases da vida humana, assim teríamos: Sociedades primitivas sociedades bárbaras sociedades civilizadas (infância) (jovem) (adulta) jorge.anjos Realce jorge.anjos Realce 15 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S Figura 1. Antropólogo James Frazer Fonte: https://www.fi ndagrave.com/memorial/21820/james-george-fra- zer Acesso em 21 de fevereiro de 2019. Para Frazer (2005, p. 107-108) Um selvagem está para um homem civilizado assim como uma criança está para um adulto; e, exatamente como o crescimentogradual da inteligência de uma criança corresponde ao crescimento gradual da inteligência da espécie. (...) Em suma, a selvageria é a condição primitiva da humanidade, e, se quisermos entender o que era o homem primitivo, te- mos de saber o que é o homem selvagem hoje. Nesse discurso percebemos certa hierarquização das socie- dades humanas, pois, existe uma comparação nos níveis de evolução das sociedades humanas, e compara ao crescimento de um homem. Os critérios de classifi cação são vistos a partir de determinadas carac- 16 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S terísticas culturais, e comparado com outras sociedades. Notamos nos discursos dos primeiros evolucionistas o surgimento dos ideais etno- cêntricos. O etnocentrismo consistia em pegar uma determinada carac- terística do homem em contexto social e compará-la dentro de outras. Por exemplo, era pego um critério como a religião e comparado en- tre as sociedades conhecidas. A partir da comparação, era criada uma hierarquização das sociedades, pois, considerava-se que determinadas sociedades eram melhores que outras. Assim, a Antropologia Evolucio- nistas sempre é etnocêntrica. O Etnocentrismo consistia em indivíduos, de uma sociedade, analisarem e julgarem outras culturas, dentro de suas próprias noções, do que seria certo ou errado, em seus próprios contextos sociais. Como afi rmava Fernando Rocha (1999, p. 7) Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo, e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas defi nições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a difi culdade de pensarmos a diferença, no plano afetivo, como sentimentos de estranhe- za, medo, hostilidade, etc. Perguntar sobre o que é etnocentrismo, é, pois, inda- gar, sobre um fenômeno onde se misturam tanto elementos intelectuais e racionais quanto elementos emocionais e afetivos. No etnocentrismo, estes dois planos do espírito humano – sentimento e pensamento – vão juntos compondo um fenômeno não apenas fortemente arraigado na história das sociedades, como também facilmente encontrável no dia a dia das nossas vidas. Ao estudarmos Antropologia, notaremos diferentes concep- ções de culturas e, como o homem se comporta diante delas. Na uni- dade, discutiremos diversas formas de compreensão sobre o assunto, e uma delas é através do Etnocentrismo. De acordo com Roque de Barros Laraia (2002, p. 72-73) “O homem tem despedindo grande parte de sua história na Terra, separando em pequenos grupos, cada um com a sua própria lin- guagem, sua própria visão de mundo, seus costumes e expectativas. O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como consequência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural. Tal tendência, denominada etnocentrismo, é responsável em seus casos extremos pela ocorrência jorge.anjos Realce jorge.anjos Realce jorge.anjos Realce jorge.anjos Realce 17 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S de numerosos confl itos sociais.” Devemos entender que, os critérios de hierarquização social, nesse momento, não são usadas comparações raciais. Desta forma, é pensada a existência de uma unidade humana, não existindo uma se- paração entre a “raças”, pois, todos são igualmente humanos, mas exis- tem diferenças sociais que prevalecem. Isso mostra um grande avanço, pois, defendia-se a superioridade dos caucasianos (brancos) entre os demais povos. Um critério explicitado, nesse momento, para hierarquização desses povos, era a passagem do estágio de barbárie para civilizado, através da adoção da propriedade privada e um Estado organizado. Assim, grande parte dos antropólogos olhavam para as sociedades pri- mitivas e não conseguiam ver essas estruturas presentes. Entretanto, o antropólogo britânico Henry Maine (1822-1888) buscou uma resposta à pergunta: O que possibilitava a organização das sociedades primitivas? Segundo ele, era o parentesco. Era defendido que, todas as sociedades humanas criam relações regulares entre indivíduos, e o parentesco é um tipo específi co na relação existente entre os homens, dentro de uma comunidade. Figura 2. Henry Maine Fonte: http://article1000.com/sir-henry-maine-anthropological-approa- ch/ Acesso em 21 de fevereiro de 2019. 18 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S Dentro do sistema de parentesco, cada indivíduo tem suas ca- tegorias especifi cadas. Por exemplo, quando falamos “pai” sabemos o papel e as obrigações que este ser tem entre os demais membros fa- miliares que ele mantém. Todas as sociedades produzem o parentesco como sistema, mas elas são construídas de formas diferentes. Algumas sociedades se estruturam pelo parentesco, seguindo regras próprias como, por exemplo, a não existência da propriedade privada da terra, sendo elas de uso coletivo. Além disso, tudo que é produzido é compar- tilhado entre os membros dessa relação de parentesco. A Antropologia Evolucionista fi cou conhecida como Antropolo- gia de Gabinete, pois, é baseada em análise de relatos de viajantes, questionários coloniais e relatórios de governadores coloniais. O an- tropólogo não tem um contato direto com o seu objeto de estudo, mas através de narrativa de terceiros. Esse pensamento evolucionista começou a ser superado a partir do surgimento de novos métodos e teorias. Dessa forma, pode- mos entender que sua substituição ocorreu conforme as necessidades do contexto histórico e social do seu momento. ANTROPOLOGIA FUNCIONALISTA Uma alternativa à Antropologia Evolucionista começou a surgir a partir dos ingleses, que estavam mais interessados em entender as estruturas sociais e suas funções dentro de um grupo. Nesse momento, aconteceu o surgimento do antropólogo profi ssional, ou seja, a antro- pologia como conhecemos hoje surgiu com essa corrente. Essa nova escola é fortemente infl uenciada pelo pensamento durkheimiano. Os dois principais nomes dessa corrente são Bronislaw Malinowski (1884- 1942) e Radcliff e-Brown (1881-1955). Ambos advogavam romper com o evolucionismo e recusam a evolução histórica como fator explicativo, pois, acreditam que não existem provas concretas da existência de de- terminados fatos. Assim, o antropólogo deveria olhar à sociedade na- quele momento e explicar seu funcionamento no presente. O anseio por entender o modo de viver dos homens revelaria suas estruturas sociais. No funcionalismo, seu método consiste na observação parti- cipante, sendo o fi m de quem coletou os relatos e quem os analisou, cria-se um novo objeto de estudo. A cultura não é pensada mais em sua totalidade, mas que cada cultura tem sua lógica de funcionamento e seu modo de organização social. Não é retirado um critério para ser analisado, mas sim seu todo. Desta forma, os antropólogos funcionalis- tas buscam entender o nativo da forma que eles são. De acordo com 19 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S Brown (1982, p.12) O método aqui adotado não é o histórico nem o pseu- do-histórico, mas o que associa comparação e análise. Comparam-se os sistemas sociais com vistas à defi nição das suas diferenças e, para além delas, procura-se defi nir as suas semelhanças fundamentais e seus aspec- tos gerais. Um dos objetivos do método comparativo é obter esquemas de classifi cação. O próprio pesquisador vai até o lugar e busca compreender seu objeto de estudo, participando do seu conjunto. Exemplo, um antro- pólogo buscando compreender uma sociedade indígena, ele irá ao local e buscará ser inserido nessa sociedade, para conseguir compreendê-la, adaptando seus hábitos dentro do contextosocial daquela comunidade. Dessa forma, busca compreender a lógica daquela sociedade. Assim, o objeto de estudo passa da cultura para a compreen- são do funcionamento daquela sociedade. Com o funcionalismo, surge uma ferramenta de extrema impor- tância para o antropólogo, que é o diário de campo. Esse recurso é a anotação que o próprio antropólogo faz a respeito da experiência vivida naquela sociedade em que se inseriu. Malinowski defendia que o antropólogo só conseguiria com- preender o funcionamento e a cultura de uma determinada sociedade se ele convivesse com essa comunidade por um tempo. As descrições culturais do povo investigado nos diários de campo deram origem as etnografi as. 20 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S Figura 3. Bronislaw Malinowski Fonte: https://www.larousse.fr/encyclopedie/personnage/Bronis%- C5%82aw_Malinowski/131349 Acesso em 21 de fevereiro de 2019. A Etnografi a consiste na observação, participante, prolongada, junto a um grupo, no qual o antropólogo queira pesquisar, criando uma inter-relação entre objeto e pesquisador. Na etnografi a ocorrem rela- ções entre o pesquisador e o grupo pesquisado. Malinowski compara o funcionamento das sociedades como de um corpo humano, buscando entender que, cada instituição social tem sua importância para o desenvolvimento do todo. Por exemplo, em um corpo humano, se um órgão adoecer, afetará outras partes do corpo, no caso da sociedade, as instituições como família, escola, religião, eco- nomia, política, interagem e dependem uma da outra para funcionar. Dessa forma, devemos compreender o local que cada instituição atua e como ela se comporta dentro daquela sociedade. As propostas que o Malinowski faz à Antropologia estão pre- sentes em sua obra Os argonautas do pacifi co ocidental, onde é relata- do seu trabalho de campo desenvolvido nas Ilhas Trobriand, entre 1914 a 1918. Em sua obra, Malinowski defendia que, o homem deveria ser estudado, através da articulação dos elementos sociais, biológicos e psicológicos. Entretanto, novas escolas estarão sendo desenvolvidas na mesma época, como as de linha francesa e a abordagem cultura de 21 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S Franz Boas. A ANTROPOLOGIA FRANCESA Nesse momento de surgimento da Antropologia Funcionalista, outra corrente estava se desenvolvendo na França, que se distanciaram da noção de estruturas sociais dos ingleses. Os principais representan- tes nesta linha são Marcel Mauss (1872-1950) e Lévi-Strauss (1908- 2009). Figura 4. Marcel Mauss Fonte:https://citacoes.in/autores/marcel-mauss/ Acesso em 21 de feve- reiro de 2019. Sobrinho de Durkheim, Marcel Mauss desenvolveu seus traba- lhos em torno da revista L’Année Sociologique. Tanto Mauss como Lévi- -Strauss buscaram respostas mais gerais e comparativas, sem advogar pelo evolucionismo. Seus modelos explicativos não incluíam a noção de progresso, e ambos faziam comparações sistemáticas. Um dos textos mais conhecido de Mauss é o Ensaio sobre a dádiva (1923), que acreditava que, em qualquer sociedade existe um sistema de alianças, e que elas precisam de grupos para que isso ocor- ra. Assim, à retribuição de uma dádiva, cria-se um sistema de trocas (econômicas, matrimoniais e simbólicas) em uma sociedade. As trocas existentes em uma sociedade criam seu sistema de relações. De acor- do com Mauss (2003,p. 305) 22 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S O motivo dessas dádivas e desses consumos exage- rados, dessas perdas e destruições loucas de riquezas, não é de modo al- gum, sobretudo nas sociedades com potlach, desinteressado. Entre chefes e vassalos, entre vassalos e servidores, é a hierarquia que se estabelecer por essas dádivas. Dar é manifestar superioridade, (...) aceitar sem retribuir, ou sem retribuir mais, é subordinar-se, tornar-se cliente e servidor (...) Lévi-Strauss foi um dos alunos de Mauss, e fortemente infl uen- ciado por teorias linguísticas, sendo um dos antropólogos mais impor- tantes do século XX, e propôs a teoria do estruturalismo. Para compreender seu pensamento, devemos entender que Lévi-Strauss imaginava uma situação, como um estado de natureza, anterior a sociedade em que as pessoas não realizariam as trocas. Ele propôs que as pessoas são levadas a fazerem trocas, devido o incesto ser uma prática proibida. Para Lévi-Strauss, toda a sociedade impõe limitações na prá- tica do casamento como, por exemplo, o casamento de parentes ou irmãos. Assim, as pessoas buscam se casar com pessoas de fora do grupo, desta forma estabelece-se uma troca entre os diversos grupos que compõe a sociedade. Desta forma, as pessoas se casariam sem violar as regras de proibição da prática do incesto. Além disso, para ele, as sociedades consideradas simples, realizavam trocas de casamento mais restritivas, e comunidades distantes, mantinham sistemas de pa- rentescos bem semelhantes. Figura 5. Claude Lévi-Strauss Fonte: https://blogs.wsj.com/speakeasy/2009/11/04/claude-levi-strauss- -elegy-for-an-anthropologist/ Acesso em 21 de fevereiro de 2019. 23 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S Lévi-Strauss notou que, os sistemas de parentescos existiam e eram reproduzidos ao redor do mundo, e isso demonstrava que havia uma estrutura em comum entre todas aquelas sociedades. Ele defendia que existia no pensamento humano, algo que possibilitava que várias sociedades produzissem coisas bastante parecidas. Desta forma, Lé- vi-Strauss acreditava na possibilidade de existência de uma estrutura universal. Ao longo de sua vida, Lévi-Strauss desenvolveu diversos estu- dos sobre parentesco e mitologia sobre os povos indígenas da Améri- ca. Nesses estudos eram construídas oposições, que seriam o motor à construção de algo, no pensamento humano. Na década de 1930, rea- lizou-se diversas expedições etnográfi cas no Brasil, que infl uenciaram todo seu pensamento ao longo da carreira. FRANZ BOAS E O SURGIMENTO DA LINHA AMERICANA Franz Boas, um alemão no fi nal do século XIX, desenvolveu uma teoria crítica sobre o conceito de civilização, proposta pelos evolu- cionistas. A noção de civilização e progresso foi duramente criticado por ele. Franz Boas foi um dos primeiros a utilizar o termo cultura no sentido como conhecemos hoje a palavra, anteriormente, civilização e cultura eram sinônimos. Ao invés de falar cultura, o antropólogo preferiu utilizar o termo culturas. A partir do momento que começamos a pensar no termo “cul- turas” começamos a quebrar as hierarquizações impostas pelas pro- postas dos evolucionistas. Dessa forma, não havia uma cultura superior ou inferior, mas todas teriam seu patamar de importância, devido a sua realidade própria. Boas acreditava que, era impossível estabelecer hierarquias culturais, devido a pluralidade de povos que habitam o mundo. A partir do momento que adotamos critérios de uma dada população, para esta- belecer hierarquia com outras, estaríamos cometendo arbitrariedades. 24 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S Figura 6. Franz Boas Fonte: https://timesofsandiego.com/opinion/2018/12/28/franz-boas-an- d-the-controversy-over-scientists-as-spies/ Acesso em 21 de fevereiro de 2019. Essa concepção de cultura, desenvolvida por Boas, foi a par- tir da concepção da palavra alemã Kultur, que signifi cava o “espírito de uma nação/povo”. Desta forma, ele acreditava que tudo que existia na sociedade estava integrado, formando sua cultura própria. Assim, qualquer tentativa de comparação geraria interpretações racistas ou ar- bitrárias, pois, a cultura seria exclusiva de cada sociedade.Franz Boas foi o fundador do que conhecemos como relativismo cultural, podemos considerar esse termo como uma inversão do que o evolucionismo pro- punha. O relativismo cultural é uma forma de perceber as múltiplas di- versidades de sociedades, sem colocarmos juízo de valores ou escalas hierárquicas. Boas percebeu que, não era por uma evolução biológica que existiam diferenças entre os homens, mas por uma questão cultural. Desta forma, o homem consegue criar coisas independentes de outros contatos culturais. Para entendermos um dado cultural, não podemos comparar com outras culturas, mas pensá-la na sua própria realida- 25 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S de. Assim, a comparação perde espaço, com a visão antropológica de Franz Boas. Franz Boas mudou-se para o Estados Unidos, para desenvol- ver seus estudos antropológicos. O seu pensamento possibilitou que começasse a se perceber que, diferentes culturas constroem diferentes realidades sociais, com comportamentos e realidades próprias. Essa forma de comportamento social e as suas práticas continuam, deram origem ao conceito de padrões culturais. Duas importantes pensadoras que vão refl etir sobre o tema de padrões culturais foram Margaret Mead (1901-1978) e Ruth Benedict (1887-1947) que acreditavam que indivíduos de uma mesma sociedade possuíam inclinações semelhantes, ou seja, construindo padrões den- tro dos seres de uma determinada sociedade. Para elas, a cultura moldava a construção das personalidades individuais e um modelo de tipo-padrão. Esse tipo-padrão seria a perso- nalidade predominante em uma sociedade, entretanto, haveriam varia- ções desse modelo comportamental. Cada sociedade teria sua visão do seu modo de ser no mundo. Mas como esses padrões culturais seriam transmitidos aos in- divíduos que compõem uma sociedade? Tanto para Boas quanto para outros antropólogos norte-americanos, a linguagem era o mecanismo que transmitia os valores culturais de uma sociedade, e possibilitava ao homem refl etir sobre a forma de estar no mundo. Desta forma, ne- nhuma sociedade consegue transmitir sua cultura ou entendê-la sem a linguagem. Essas transmissões aconteceriam de geração para geração, o que possibilitaria uma perpetuidade dessas culturais dentro de uma sociedade. Essas formas de perpetuação dessas culturas estariam presentes em qualquer tipo de sociedade, tanto àquelas consideradas “primitivas”, quanto as consideradas “civilizadas”. Desta forma, segun- do as antropólogas infl uenciadas por Franz Boas, hábitos que seriam considerados naturais, em qualquer sociedade, são padrões arbitrários, e isso levantou muitos questionamentos no momento que escreveram essa teoria, pois, iniciou-se um movimento intelectual que, dizia que a forma como a sociedade se confi gura é a força da continuidade dos costumes. A teoria de Margareth Mead e de Ruth Benedict infl uenciaram o pensamento feminista da época, dando força para questionar o papel da mulher nas sociedades ocidentais. 26 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S Figura 7. Margareth Mead Fonte: https://www.britannica.com/biography/Margaret-Mead Acesso em 21 de fevereiro de 2019. Após a Segunda Guerra Mundial, outros teóricos americanos debateram o conceito de cultura criado por Franz Boas. Marvin Harris (1927-2001) e Julian Steward (1902-1972), a partir da perspectiva mar- xista, criticaram o conceito de Boas e consideravam que, ao analisar- mos a especifi cidade de cada sociedade não desenvolveríamos uma refl exão que englobasse a humanidade. Nos anos de 1960, Cliff ord Geertz (1926-2006) e Marshall Sahlins (1930-) começaram a criticar a noção de cultura como práticas e costumes integrados e articulados entre si. Para eles, a cultura era um todo integrado, mas passível de mudanças. Desta forma, notamos que a cultura deixou de ser práticas observáveis para uma noção de campo simbólico, assim, seria mais fácil associá-la a um código, do que a padrões de costumes. A partir do momento que começamos a entender a cultura como um código de regras, conseguimos entender as mudanças e transfor- mações culturais. Desta forma, quando ocorrem mudanças comporta- 27 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S mentais ou nas práticas de uma sociedade, não podemos dizer que a cultura se perdeu, mas ela se modifi cou. Percebemos assim que, quan- do as sociedades consideradas primitivas começavam a adaptar-se a hábitos civilizatórios dos colonizadores, muitos antropólogos diziam que aquela cultura estava se perdendo ou terminando, a partir dessa nova visão nota-se que a cultura apenas se transformou. No fi nal do século XX e no início do XXI, o termo cultura vem sofrendo diversas críticas, e algumas levantam a questão da não utilização mais do termo. Os pós-modernistas defendem que, a partir do momento em que o antropólogo descrever costumes e hábitos de uma sociedade, ele carrega um poder absoluto que não é questionado, e é carregado como verdade. Não dando voz aos descritos e sendo uma visão autoritária sobre o outro. Os alvos dessas críticas estavam principalmente na descrição de práticas e estereótipos de sociedades não ocidentais. 28 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S CUCHE, Denys. A noção de cultura nas Ciências Sociais. Bauru: EDUSC, 1999. DA MATTA, Roberto. O Ofício de etnólogo, ou como ter “An- thropological Blues”. IN: NUNES, Edson. A aventura sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1978, p. 23-35. GEERTZ, Cliff ord. “Uma descrição densa: por uma teoria in- terpretativa da Cultura”. IN: A interpretação das Culturas. São Paulo: Livros Técnicos e Científi cos, s.d., p. 13-44. LEVI-STRAUSS, Claude. “Raça e História”. IN: Antropologia Estrutural DOIS. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1976, p. 328-366. MALINOWSKI, Bronislaw. Introdução. IN: Os argonautas do Pacífi co Ocidental. Col. Os Pensadores. São Paulo: Abril, 1984, p. 16- 34. MEAD, Margareth. “Como escreve o antropólogo”. IN: Macho e fêmea. Petrópolis: Vozes, 1971, p. 36-53. MONTAIGNE, Barão de. Dos Canibais. IN: ENSAIOS. Col. Os Pensadores. São Paulo: Abril, 1984, p. 100-106. VELHO, Gilberto. Observando o familiar. IN: NUNES, Edson. A aventura sociológica. Rio de Janeiro: zahar, 1978,p. 36-46. 29 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO 1 Ano: 2013 Banca: ENEM Órgão: INEP Prova: ENEM De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a es- tender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares [...]. Porém o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. Carta de Pero Vaz de Caminha. In: MARQUES, A.; BERUTTI, F.; FA- RIA, R. História moderna através de textos. São Paulo: Contexto, 2001 A carta de Pero Vaz de Caminha permite entender o projeto coloni- zador para a nova terra. Nesse trecho, o relato enfatiza o seguinte objetivo: a) valorizar a catequese a ser realizada sobre os povos nativos. b) descrever a cultura local para enaltecer a prosperidade portuguesa. c) transmitir o conhecimento dos indígenas sobre o potencial econômico existente. d) realçar a pobreza dos habitantes nativos para demarcar a superiori- dade europeia. e) criticar o modo de vida dos povos autóctones para evidenciar a au- sência de trabalho. QUESTÃO 2 Ano: 2009 Banca: FUNIVERSA Órgão: IPHAN Prova: Antropólogo. Estudiosos que se chamamantropólogos sociais são de dois tipos. O protótipo do primeiro foi ______________________, autor de The Golden Bough. Ele foi um homem de saber monumental que não tinha experiência direta com a vida dos povos primitivos sobre os quais escreveu. Esperava descobrir verdades fundamentais sobre a natureza da psicologia humana, comparando os detalhes da cul- tura humana em uma escala mundial. O protótipo do segundo foi ___________________, que passou grande parte de sua vida acadêmica analisando os resultados da pesquisa que ele mesmo conduziu por um período de quatro anos, em uma única e pequena aldeia na distante Melanésia. Seu objeti- vo foi mostrar que esta exótica comunidade ‘funcionava’ como um sistema social. Ele estava mais interessado nas diferenças entre 30 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S as culturas, do que na sua abrangente similaridade. Edmund Leach, 1970:2 apud, Roberto DaMatta. Relativizando: uma introdução à antropologia social. Rio de Janeiro : Rocco, 1997, p89-9 (com adaptações). Os nomes que completam correta e respectivamente as lacunas do texto são a) Lewis Henry Morgan / E.E Evans-Pritchard. b) James Frazer / Bronislaw Malinowski. c) Herbert Spencer / Marcel Mauss. d) Leslie White / Franz Boas. e) Edward Burnett Tylor / Radcliff e-Brown QUESTÃO 3 Ano: 2010 Banca: UFFS Órgão: UFFS Prova: Antropologia. Funcionalismo e Estruturalismo possuem pontos em comum. A al- ternativa que apresenta uma diferença entre ambos é: a) O método comparativo. b) A visão sistemática da cultura. c) O aspecto sincrônico da cultura. d) Infl uência da antropologia francesa. e) Explicação da cultura e da sociedade sem uma incursão necessária na história. QUESTÃO 4 Ano: 2010 Banca: UFFS Órgão: UFFS Prova: Antropologia. A noção de ‘relatividade cultural’ contrapõe a idéia de que: a) itens culturais podem gerar comparações na unidade do gênero hu- mano. b) o sistema de valores de uma dada cultura explica o comportamento humano. c) normas éticas e valores só podem ser julgados dentro de seus con- textos. d) as diferenças entre os homens são criadas pela história. e) um olhar diferenciado sobre os valores da própria cultura. QUESTÃO 5 Ano: 2017 Banca: IFB Órgão: IFB Prova: Professor – Sociologia. Sobre as diversas escolas do pensamento antropológico, analise as afi rmativas abaixo: I) Bronislaw Malinowski representa a escola funcionalista inglesa e é autor de “Coral Gardens”. II) Claude Levi-Strauss representa o estruturalismo e é autor de 31 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S “Tristes Trópicos”. III) Radcliff e-Brown representa a escola culturalista americana e é autor de “Os Nuer”. IV) Margareth Mead representa a escola interpretativista e é autora de “Sexo e Temperamento”. Apresentam as alternativas CORRETAS: a) Alternativas I,II,III e IV. b) Somente a alternativa I. c) Somente a alternativa IV. d) As alternativas I e II. e) Alternativas I, II e IV. QUESTÃO 6 Ano: 2013 Banca: UNIOESTE Órgão: UNIOESTE Prova: Vestibular UNIOESTE A antropologa norte-americana Margaret Mead, em sua obra Sexo e Temperamento, pesquisa sobre o condicionamento das perso- nalidades sociais de homens e mulheres. Descreve os comporta- mentos típicos de cada sexo em três culturas diferentes da Nova Guiné da seguinte maneira: “Numa delas (os Arapesh), homens e mulheres agiam como esperamos que mulheres ajam: de um sua- ve modo parental e sensível; na segunda (os Mundugumor), ambos agiam como esperamos que os homens ajam: com bravia iniciati- va; e na terceira (os Tchambuli), os homens agem segundo o nosso estereótipo para as mulheres, são fi ngidos, usam cachos e vão às compras, enquanto as mulheres são enérgicas, administradoras e parceiras desadornadas.” MEAD, M. Sexo e Temperamento, prefácio à edição de 1950. Partindo da análise do texto transcrito acima, assinale a alternativa correta. a) O sexo, no seu aspecto biológico, é o fator determinante dos tempe- ramentos masculinos e femininos nas diferentes sociedades. b) O condicionamento cultural é de fundamental importância na defi - nição de temperamentos e papéis sociais de homens e mulheres nas diferentes sociedades. c) As diferenças biológicas entre homens e mulheres determinam todas as diferenças culturais associadas aos sexos, moldando temperamen- tos e papéis sociais de homens e mulheres. d) Em qualquer sociedade, homens são fortes, agressivos, dominado- res, calculistas, controlam as relações sociais e sexuais; as mulheres são frágeis, submissas, passionais, temperamentais, vaidosas. e) Homens e mulheres são morfologicamente diferentes, portanto, apre- 32 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S sentam diferenças de temperamento e de aprendizado, uns sendo mais aptos para algumas tarefas sociais e papéis sociais que outros. QUESTÃO 7 Ano: 2018 Banca: FUMARC Órgão: SEE-MG Prova: Professor – So- ciologia O etnocentrismo pode ser defi nido como sendo a visão de mundo demonstrada por indivíduos que consideram seu grupo étnico ou sua cultura como melhor e o centro de tudo. Com efeito, todas as diferentes formações culturais são pensadas a partir desse refe- rencial único, que é colocado num plano superior aos outros. Em relação ao conceito de etnocentrismo, é CORRETO afi rmar: a) A visão etnocêntrica demonstra, por vezes, desconhecimento dos diferentes hábitos culturais existentes na sociedade, originando sentimentos de desrespeito, depreciação e intolerância em relação a quem é diferente, chegando a provocar, nos casos mais extremos, atitudes preconceituosas, radicais e xenófobas. b) A visão etnocêntrica é uma corrente de pensamento ou doutrina que tem como objetivo compreender as diferenças culturais entre os homens e estudar as causas históricas, econômicas e sociais que promovem essas diferenças. c) O etnocentrismo é um fenômeno estritamente local e apenas se manifesta quando culturas tecnicamente mais frágeis entram em contato com outras culturas dominantes, que se encontram territorialmente mais próximas. d) O etnocentrismo é uma ideologia que defende que os valores, os princípios morais, o certo e o errado, o bem e o mal são convenções sociais intrínsecas a cada cultura, ou seja, um ato considerado errado numa determinada cultura não signifi ca que seja errado também para outras culturas. e) Um indivíduo etnocêntrico considera as normas e os valores de sua própria cultura como sendo melhores que das outras culturas. No entan- to, este fato não se confi gura como um problema sociológico, tendo em vista que todos os indivíduos nascem livres e iguais. QUESTÃO 8 Ano: 2014 Banca: VUNESP Órgão: UNESP Prova: Vestibular Segundo Franz Boas, as pessoas diferem porque suas culturas di- ferem. De fato, é assim que deveríamos nos referir a elas: a cultura esquimó ou a cultura judaica, e não a raça esquimó ou a raça ju- daica. Apesar de toda a ênfase que deu à cultura, Boas não era um relativista que acreditava que todas as culturas eram equivalentes, 33 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S nem um empirista que acreditava na tábula rasa. Ele considerava a civilização europeia superior às culturas tribais, insistindo apenas em que todos os povos eram capazes de atingi-la. Não negava que devia existir uma natureza humana universal ou que poderia haver diferenças entre as pessoas de um mesmo grupo étnico. O que importava para ele era a ideia de que todos os grupos étnicos são dotados das mesmas capacidades mentais básicas. (Steven Pinker. Tábula rasa: a negação contemporânea da nature- za humana, 2004. Adaptado.) Considerando o texto, é correto afi rmar que, de acordo com o an- tropólogo Franz Boas, a) os critérios para comparação entre as culturas sãointeiramente relativos. b) a vida em estado de natureza é superior à vida civilizada. c) as diferenças culturais podem ser avaliadas por critérios universalistas. d) as diferenças entre as culturas são biologicamente condicionadas. e) o progresso cultural é uma ilusão etnocêntrica europeia. QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE Ao longo do capítulo, podemos observar diferentes correntes e aspectos da Antropologia, em suas primeiras décadas de surgimento. Uma das principais foi o Evolucionismo, que acabou sendo superado por novos métodos e abordagens. Entretanto, no século XXI consegui- mos perceber padrões ou concepções evolucionistas ainda no nosso cotidiano? TREINO INÉDITO A antropologia começa a criar sua profi ssionalização a partir do: a) evolucionismo b) funcionalismo c) multiculturalismo d) estruturalismo e) pós-modernismo NA MÍDIA CHEGADA AO BRASIL A BIOGRAFIA DO ANTROPÓLOGO CLAUDE LÉVI-STRAUSS 34 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S Que tal ler sobre um homem que viveu 101 anos e morreu Imortal? Que criou uma ciência (ou ao menos um ramo frondoso dela)? Que escreveu um livro clássico, acima de tudo inclassifi cável? Que deu aulas na USP, em Nova York e Paris, e aprendeu muita coisa com gente que andava pelada e dormia no chão? Um homem cujo nome era música, calça e fi losofi a, e por vezes um risco mortal? Salivando? Então basta percorrer as 782 feéricas páginas da biografi a Lévi-Strauss, de Emanuelle Loyer. A autora é especialista em história intelectual da Universidade Sciences-Po, em Paris. Confi rmando a bar- bada, esta obra embolsou o prêmio Femina de ensaio, em 2015. Um dos supremos intelectuais do século 20, Claude Lévi-Strauss (1908- 2009) nasceu em Bruxelas, mas é tão francês quanto Astérix. De origem obviamente judaica, o sobrenome de Lévi-Strauss sempre deu pano para mangas. Em 1940, com a França sob ocupação alemã, ele foi a Vichy pedir autorização para voltar à capital, onde nazistas saíam pelo ladrão. O funcionário pestanejou: “Com esse nome, o senhor quer ir para Paris?” Caindo a fi cha, Claude se mandou para os EUA, onde foi aconselhado pelos diretores da New School a usar L. Strauss em vez de Lévi-Strauss – “para que o senhor não seja confundido com uma marca de jeans”. Também foi confundido com o autor de valsas vienenses Ri- chard Strauss. E com o fi lósofo Leo Strauss. Hoje é inconfundível. Fonte: Estadão Data: 22 de maio de 2018 Leia a notícia na íntegra: https://alias.estadao.com.br/noticias/ geral,chega-ao-brasil-a-biografia-do-antropologo-claude-levi-s- trauss,70002303632 NA PRÁTICA Ao analisar o cotidiano das pessoas no século XXI, percebemos dife- rentes culturas, grupos sociais, formas de comportamentos, roupas, estilos e performances diferentes em cada pessoa que cruzamos em nosso dia a dia. Entretanto, nem todos os tipos de pessoas são bem vistos socialmente, notamos um mundo cada vez mais carregado de preconceitos e estereótipos. Muitas vezes esses estereótipos foram construídos ao longo do tempo e por preconceito que foi herdado de geração para geração. É muito difí- cil quebrarmos completamente essas amarras ideológicas que carrega- mos. Mas, todo o profi ssional das ciências humanas consegue desna- turalizar o entorno do seu e-mail e questionar o porque dessas atitudes. 35 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S GABARITOS CAPÍTULO 01 Questões de concursos 01 02 03 04 05 A B A A B 06 07 08 B A C QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO DE RESPOSTA O Evolucionismo foi uma corrente de pensamento que acreditava em hierarquizações sociais. Na Antropologia, ele era muito utilizado nas primeiras décadas do seu desenvolvimento, devido aos primeiros antro- pólogos estarem presentes em territórios coloniais. Esse contato com culturas e povos diferentes fez acreditá-los em uma escala social de evolução humana. Entretanto, percebemos o pensamento evolucionista presente em nos- so cotidiano, através de noções preconceituosas. Por exemplo, quando observamos práticas racistas, presentes na sociedade, de tratar negros e indígenas como povos diferentes ou inferiores, são fortemente car- regadas por uma mentalidade evolucionista. Ou quando percebemos formas de tratamento da mulher, dela não poder ocupar determinados cargos sociais, ou a responsabilidade pelo lar e a educação dos fi lhos, isso é uma forma de o evolucionismo estar presente. Outras formas possíveis de percebermos a mentalidade evolucionista em nossas vidas, são preconceitos com culturas consideradas simples ou por pessoas homossexuais, transexuais ou grupos marginalizados socialmente, sendo vistos como uma ameaça. TREINO INÉDITO Gabarito: B 36 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S 36 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S CULTURA E NATUREZA Ao longo do tempo, sempre existiu uma visão sobre a rela- ção cultura e natureza. Numa sociedade que encontra-se cada vez mais modernizada, urbanizada e globalizada os ambientes não urba- nos, que tenham a presença de coisas simples, animais e plantas, são superestimados. Podemos encarar isso como um desagravo à respeito da vida “civilizada” ou “moderna” e uma valorização ao natural. Esta valorização ao natural, ao simples e o maior contato com o meio ambiente cria uma oposição ao mundo urbano, cada vez mais conectado, rápido e desenvolvido. Notamos uma oposição entre o sim- ples e o complexo, o considerado culto e o inculto, o valorizado e o desvalorizado. Dessa forma, percebemos que o mundo considerado civilizado sempre está mais ligado à cultura e natureza ao que seria selvagem. Essas defi nições carregam uma forte carga ideológica. As pessoas que vivem nesse mundo que seria da natureza e OS CONCEITOS DE CULTURA LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S 37 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S o cultural também são taxadas. O homem do mundo natural, do mundo do campo, é visto muitas vezes como inculto ou aculturado, sem estudo ou formação. O homem urbano é sempre considerado um homem cul- to, estudado ou formal. Dessa forma, notamos que cultura e natureza carregam essas cargas ideológicas que foram construídas ao longo do tempo. A palavra cultura vem do latim colere, que signifi ca cultivar, cul- tuar. Dessa forma, ela está ligada á noção de terra, quanto ao culto aos deuses. No Império Romano, ela era relacionada ao cultivo da terra, por isso dará origem à palavra agricultura. Outra defi nição empregada naquela época era a noção de criação de crianças, ou seja, prepará-las e capacitá-las para a vida adulta e sociedade, essa prática recebia o nome de puericultura. Nessa época, um importante pensador romano, Cícero, no sé- culo I a.C. elaborou a expressão cultura animi que signifi ca “cultura da alma”, que buscaria transmitir a ideia de cada homem cuidar de si mes- mo, se preocupar com seu desenvolvimento interior. Essa prática não seria algo natural, mas de uma série de trabalhos referentes ao meio em que se relaciona. O homem deveria desenvolver trabalhos voltados à imitação de grandes homens, aqueles que teriam desenvolvidos gran- des feitos e proezas. Nos séculos XVIII e XIX, o termo cultura esteve relacionado à noção de civilização. Isso se deve às conquistas territoriais que come- çaram a ganhar força ao longo do globo, que viria a receber o nome de Imperialismo. Os primeiros a empregar a noção de civilização foram os ingleses e os franceses, que acreditavam estar levando desenvolvimen- to, capacitação e civilidade a outrospovos. Dessa forma, eles recebe- riam uma cultura. Em diversas obras de artes e poemas aparecem essa ideia civilizacional, como vemos abaixo no texto O fardo do homem branco, de Rudyard Kipling (1865-1936): 38 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S 39 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S 40 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S Notamos no texto um tipo de responsabilidade (civilização) do homem branco sobre os demais povos do globo. Dessa forma, acredi- tou-se que os povos que eram colonizados fossem bárbaros, incivili- zados e suas culturas eram primitivas. Caberia ao homem branco (eu- ropeu) levar a civilização e o desenvolvimento para eles, “guiá-los” no caminho do progresso. Na mesma época, na Alemanha é cunhado o termo kultur (cul- tura) para tratar de assuntos que não seriam relacionados à noção de civilidade ou progresso. Estando relacionado ao conhecimento erudito, fi losófi co e científi co, diferente do que o termo signifi cava até então. Dessa forma, o termo cultura fi ca relacionado tanto ao caráter restrito, como algo relacionado à erudição ou ao culto, mas ao mesmo tempo, no sentido amplo ao caráter de civilizado. O século XIX foi marcado por grandes transformações, por conta da forte industrialização e da urbanização de diversas partes do mundo. Diversas cidades europeias cresceram e se modernizaram ra- pidamente, principalmente as grandes capitais, como Paris e Londres. Essa rápida modernização e a introdução de objetos industrializados na vida cotidiana das pessoas mudaram seus hábitos culturais, e até o próprio comportamento das pessoas. Nessa época, as palavras moder- nidade e progresso, marcaram a vida da população. Com os países sendo modernizados e com acentuado cres- cimento populacional, houve a necessidade de construção de culturas nacionais, ou seja, cultura que diferenciava uma nação da outra. O pa- pel da construção de uma cultura nacional foi fundamental, para o forta- lecimento da formação dos Estados Nacionais, que estavam ocorrendo. Assim, cada Estado Nação que estava se formando deveria moldar há- bitos e costumes, como algo tradicional da sua cultura, que o diferen- ciasse de outros países, isso deu origem às tradições nacionais. As tradições nacionais darão origem a uma divisão entre as culturas que formariam um Estado Nação, uma cultura mais voltada à elite da sua população, e outra voltada ao povo, conhecida como cultura popular. De acordo com Stuart Hall (2004, p. 56) Notamos no texto um tipo de responsabilidade (civilização) do 41 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S O discurso da cultura nacional não é, assim, tão moder- no como aparenta ser. Ele constrói identidades que são colocadas, de modo ambíguo, entre o passado e o futuro. Ele se equilibra entre a tentação de retornar a glórias passadas e o impulso por avançar ainda mais em direção à modernidade. As culturas nacionais são tentadas, algumas vezes, a se voltar para o passado, a recuar defensivamente para aquele “tempo perdido”, quando a nação era “grande”, são tentadas a restaurar as identidades pas- sadas (...). Mas frequentemente esse mesmo retorno ao passado oculta uma luta para mobilizar as “pessoas” para que se purifi quem suas fi leiras, para que expulsem os “outros” que ameaçam a sua identidade (...) O conceito de natureza também passou por diversas transfor- mações ao longo da História. Natureza sempre esteve vinculada a algo internado dos seres ou a forma de organização dos seres vivos, como o ambiente em que os homens vivem. Por muito tempo, cultura e natureza não eram consideradas oposição, mas a cultura como algo que constituiria a segunda natureza dos seres. Foi com o pensamento do fi lósofo Immanuel Kant (1724- 1804) que pensou a oposição existente entre os dois conceitos. Para ele, natureza e cultura não são continuidade, mas oposições. Natureza seria o mundo da repetição, da causa e efeito, e a cultura a vontade dos homens racionais, o ser humano consegue manipular seu ambiente através da racionalidade e transformação que ela consegue fazer na sociedade. SAIBA MAIS Immanuel Kant (1724-1804) foi um importante fi lósofo do Sé- culo das Luzes. Nessa época, o Iluminismo era a principal corrente de pensamento existente e abriria um caminho para pensar nas transfor- mações sociais que a sociedade da época precisava. De acordo com Kant (1991, p. 43-45), o Iluminismo era: “lluminismo é a saída do homem da sua menoridade de que ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de se servir do entendimento sem a orientação de outrem. Tal menoridade é por culpa própria, se a sua causa não residir na carência de entendimento, mas na falta de decisão e de coragem em se servir de si mesmo, sem a guia de outrem. Sapere aude! Tem a coragem de te servires do teu próprio entendimento! Eis a palavra de ordem do Iluminismo.” A seguir analisaremos alguns conceitos que existem, relacio- nados à cultura, como as noções de cultura erudita, cultura popular, indústria cultura e as relações que a cultura pode ter com ideologia e formas de poder. 42 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S CULTURA POPULAR E CULTURA ERUDITA Ao longo do tempo, sempre aconteceu de estudiosos analisa- rem distinção entre as culturas de diversas sociedades e classes. Per- cebemos que, ao se falar de uma cultura voltada às altas classes ou do topo da pirâmide social, notamos que essas eram bem mais vistas, do que de aqueles grupos sociais que estavam na base da pirâmide. Esse olhar diferenciado constrói uma distinção entre culturas que podem existir numa mesma sociedade. Os diversos grupos que compõem uma sociedade, têm suas culturas distintas umas das outras, algumas são mais aceitas e bem melhor vistas, que outras. Algumas características culturais típicas de determinados grupos, por muito tem- po, foram vistas de maneiras preconceituosas pelas elites como, por exemplo, o samba ou o carnaval de rua. Se voltarmos ao tempo, veremos que essas distinções de cul- turas estão presentes nas transmissões orais, de estórias folclóricas ou nos próprios contos de fadas. Essas estórias, normalmente, são trans- mitidas oralmente e fazem parte de uma cultura típica de determina- da região. É impossível falarmos de crianças que nunca ouviram falar de saci, mula-sem-cabeça ou Iara. Notaremos nas histórias folclóricas, narrativas que constroem hábitos, costumes e características de deter- minados grupos sociais. Os contos de fadas também carregam essa função, mas suas narrativas passaram por modifi cações ao longo do tempo. De acordo com o Robert Darnton, a Antropologia mantém estrei- to contato com o mundo construído pelos contos de fada: Como podem os historiadores entender esse mundo? Uma maneira de ele não perder o pé, em meio às ondas de psiquismo expres- sos nas primeiras versões de Mamãe Ganso, é segurar-se fi rme em duas dis- ciplinas: a antropologia e o folclore. Quando discutem teoria, os antropólogos discordam quanto aos fundamentos de sua ciência. Mas, quando saem em campo, usam, para a compreensão das tradições orais, técnicas que podem, com discernimento, ser aplicados ao folclore ocidental. Com exceção de al- guns estruturalistas, eles relacionam os contos com a arte de narrar histórias e com o contexto no qual isso ocorre. Examinam a maneira como o narrador adapta o tema herdado a sua audiência, de modo que a especifi cidade do tempo e do lugar apareça, través da universalidade do motivo. Não esperam encontrar comentários sociais diretos, ou alegorias metafísicas, porém mais um tom de discurso ou umestilo cultural, capaz de comunicar um ethos e uma visão de mundo particulares (DARNTON.2005, p. 26) Essas narrativas populares fazem parte do que é conhecido 43 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S como cultura popular. No século XV, com o Renascimento, esse termo ganhou força entre os estudiosos, que queriam entender como o povo se manifestava culturalmente. Em oposição a essa cultura popular, exis- tiria uma cultura voltada apenas à elite considerada culta e formada, de um determinado lugar, e fi cou conhecida como cultura erudita. Em geral, as culturas populares eram caracterizadas como algo espontâneo, pro- duzido por membros de uma comunidade, sendo produzida anonima- mente e, nem sempre seus produtores eram letrados. Sua propagação ocorria de forma rápida, normalmente oralmente, passava de geração em geração. Já a cultura erudita, seus produtores tinham alguma forma- ção, uma certa educação mais refi nada, se comparada com os produto- res da cultura popular. Na cultura erudita havia a valorização de quem a produzia quanto ao produto, ou seja, os produtores da cultura erudita (músicos, pintores e escritores) tinham uma posição social um pouco mais agraciada, muitos eram burocratas ou funcionários públicos. Sua forma de transmissão aconteceria em escolas, igrejas ou eventos como concertos. No caso da literatura, suas narrativas eram divulgadas em livros. Dessa forma, notamos algumas diferenças entre essas culturas: a cultura popular era mais voltada ao coletivo, e a cultura erudita, algo mais restritivo, além de acontecer uma valorização de seu produtor. Com o Iluminismo, começaram a aprofundar os estudos sobre as práticas dessas manifestações culturais, principalmente a cultura e os hábitos dos populares. Os iluministas tinham como objetivo estudar as narrativas e culturas populares, para desmistifi car as concepções que existem sobre as camadas e cotidianos populares. Ao mesmo tem- po que buscava-se compreender a formação e a construção dessas culturas, os estudiosos direcionavam suas pesquisas á compreensão e afi rmação de identidades. Isso, posteriormente, fortalecerá a ideia de formação dos Estados Nacionais. No momento que os Estados Nacionais estavam sendo cons- truídos, os regimes absolutistas eram questionados por esses grupos, que buscavam construir as identidades nacionais. Parte das culturas populares por eles estudada foi apropriada para esse objetivo. Essa descaracterização e o dinamismo empregado nas cultu- ras populares, fi zeram com que alguns estudiosos diferenciassem ela do folclore. Fazendo com que se pense que as culturas populares so- frem certa dinâmica, mas o folclore seria algo mais ligado às tradições populares e mais mórbido no tempo. Entretanto, o carárter simples e os primitivos estão presentes nesses dois termos, fazendo com que essas manifestações culturais acabassem sendo vistas como algo menor ou inferiorizado. A noção de ver culturas mais simples de forma inferiorizada, 44 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S esteve fortemente presente nos pensadores do século XIX. Eles asso- ciavam os estágios de desenvolvimento da sociedade pela sua cultura, ou seja, sociedades mais urbanizadas, industrializadas, tinham suas culturas vistas como complexas ou superiores àquelas vistas como pri- mitivas. Essa ideia foi discutida no primeiro capítulo e retomaremos par- te dela aqui. Como as nações europeias estavam em rápido desenvolvi- mento e urbanização, ocorreu uma forte interpretação de considerar a cultura europeia mais complexa e avançada que as dos demais povos do globo. Isso seria uma justifi cativa, inclusive ideológica, para que as potências europeias empregassem as dominações política e econômica em outros territórios do mundo. A dominação sobre outros povos se apropriou de motivos etno- cêntricos. No caso dos séculos XIX e XX, o etnocentrismo carregou ca- racterísticas fortemente eurocêntricas. Pois, acreditava que as nações europeias que estavam passando pela sua segunda fase de industriali- zação, tinham alcançado o ápice do desenvolvimento tecnológico e in- dustrial. Entretanto, essas noções etnocêntricas perderam espaço com os avanços dos estudos antropológicos e o surgimento do relativismo cultural. Sobre o relativismo cultural, Clyde Kluckhohn (1986, p. 1057) afi rma que: Durante o século XIX houve uma tendência entre os antropólogos no sentido de realçar a unidade do gênero humano e a diversi- dade do ambiente inanimado. Mas no fi m do século essa ideia se modifi cou. Isso, graças a F. Boas, que afi rmou repetidas vezes que a antropologia es- tava interessada nas diferenças criadas pela história, deixando então para a psicologia a tarefa de exploração da natureza humana. Sublinhou também a posição de que cada aspecto de uma cultura – desde os sons da fala até as formas de casamento – deve ser considerado na totalidade do contexto em que ocorreu. Essa é em essência a doutrina da relatividade cultural. Como vimos no capítulo anterior, após as noções de relativis- mo cultural, o termo Cultura e a forma que são vistas as sociedades consideradas “primitivas” passam a ser revistos. TRANSFORMAÇÕES CULTURAIS NAS SOCIEDADES INDUSTRIA- LIZADAS Nos séculos XIX e XX, a cultura passa por profundas trans- formações, por conta das modifi cações dos meios industrial e urbano 45 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S das sociedades desenvolvidas. A cultura da época burguesa, tradicional desde o período renascentista, durou até a segunda fase da Revolução Industrial em Oitocentos. A partir desse momento, novas invenções e técnicas apareceram e modifi caram profundamente o universo cultural da época. Uma das grandes invenções do século XIX foi a fotografi a. Seu impacto nas artes visuais foi gigantesco, pintores fi caram preocupados com a invenção, por conta da rapidez para reproduzir paisagens e pes- soas através de uma máquina. O impacto da fotografi a sobre a vida de artistas visuais foi importante, devemos lembrar que, após a invenção da fotografi a, os pintores começaram a adaptar novas técnicas, inversão de cores e formas, dando origem ao desenvolvimento da arte moderna. Após a fotografi a e a fantasia que ela gerou sobre as repro- duções de imagens, criou-se uma máquina para a reprodução de ima- gens, que posteriormente, dará origem ao cinema. Com a invenção do cinema, a ideia de ver as imagens em movimento e suas reproduções despertou enorme interesse na população da época e criou-se uma era de espetacularização da cultura. Segundo Guy Debord (1997, p. 14) O espetáculo apresenta-se mesmo tempo como a pró- pria sociedade, como uma parte da sociedade, e como instrumento de unifi - cação. Como parte da sociedade, ele é expressamente o setor que concentra todo olhar e toda consciência. Pelo fato de esse setor estar separado, ele é o lugar do olhar iludido e da falsa consciência; a unifi cação que realiza é tão somente a linguagem ofi cial da separação generalizada. O cinema revolucionou a época do seu surgimento. Devemos entender que, as pinturas que eram reproduzidas até então, fi cavam restritas a um público mais seletivo e algo mais específi co. Os jornais da época também faziam a reprodução de imagens. Mas apenas com o cinema, conseguiu-se apresentar imagens para um grande público, em um só instante. O fortalecimento da reprodução das imagens, gerou, posteriormente, o início do declínio de uma cultura letrada, e a preocu- pação com a forma com que a imagem se reproduz, ganhou cada vez mais espaço. Esse declínio da cultura letrada para uma cultura mais visual, despertou interesse das massas. Começou-se a questionar até que ponto o surgimento dessa nova cultura geraria uma alienação do es- pectador que a contempla.Segundo Guy Debord (1997, p. 24) A alienação do espectador em favor do objeto contem- plado (o que resulta da sua própria atividade inconsciente) se expressa as- 46 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S sim: quanto mais ele contempla, menos vive; quanto aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos compreende sua própria existência e seu próprio desejo. Em relação ao homem que age, a exterio- ridade do espetáculo aparece no fato de seus próprios gestos já não serem seus, mas de um outro que os representa por ele. É por isso que o especta- dor não se sente em casa em lugar algum, pois o espetáculo está em toda parte. Esse homem dessa sociedade que passou por transformações deixou decair a cultura letrada, e vive sua dependência de informações rápidas e imagens. Além disso, a espetacularização criada pelas ima- gens e meios de divertimentos, possibilitaram ao homem da sociedade industrializada, ter contato cada vez mais com meio de alienação. Desta forma, percebemos nas sociedades fortemente industrializadas e urba- nizadas, uma relação direta entre cultura e alienação. Cada vez mais que o homem consome esses novos meios culturais, mais ele se aliena e mais consome, alimentando o crescimento da economia. Assim, nota- remos que, uma pessoa alienada torna-se, nessa sociedade, um consu- midor em potencial, e tem cada vez suas características, pensamentos e formas de agir moldados por essas novas culturas e mentalidades dominantes. Foi apenas no século XX que obras culturas tiveram técnicas de reprodução? Devemos lembrar que com o Renascimento, a partir do século XV, com a invenção da imprensa, que tornou possível o apareci- mento do jornal e dos livros, deu-se origem ao surgimento de técnicas de reprodução cultura. Entretanto, apenas no fi nal do século XIX e iní- cio do XX ocorreu uma intensifi cação de técnicas para reprodução de imagens e sons, com isso, a imprensa perdeu seus séculos de domínio que vinha ocupando. Devemos entender que, com o século XX, os suportes pelos quais a cultura é transmitida se modifi caram radicalmente e diversas técnicas e aparelho surgiram. O suporte seria o meio pelo qual a cul- tura é transmitida como, por exemplo, anteriormente, uma pintura era reproduzida em um quadro. O quadro era seu suporte. Nos dias de hoje podemos ver uma pintura ser reproduzida na televisão, no mural, na in- ternet e em outros meios. Dessa forma, notamos que diversos suportes culturais surgiram ao longo do século XX. Além disso, a comunicação e a transmissão deles tornaram-se cada vez mais rápidas, o que deu origem ao termo comunicação de massas. Assim, em qualquer parte do mundo, quando alguém tira uma foto e dispõe na internet, rapidamente ela pode repercutir para milhões de pessoas, em questão de minutos. Além disso, os jornais, que por muitos séculos foram transmissores cul- turais, perderam seu espaço para as televisões e, posteriormente, para 47 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S a internet. Notamos que, nas sociedades com forte industrialização e urbanização, os suportes que as culturas são transmitidas são cada vez mais rápidos e buscam ser modernos. Com os meios tecnológicos cada vez mais avançando e a co- municação entre as pessoas avançando nas sociedades industrializa- das, a vida cultural também se modifi cou. As produções culturais, de caráter artesanal, perderam fortemente o espaço que tinham, pois, fi ca- vam restrita a um público. Com essa vida cada vez mais em transforma- ção, a cultura precisou atingir o coletivo e, principalmente, as massas. Mas porque as massas precisavam ser atingidas? Em um mundo com intensas transformações, ocorreu a consolidação da classe operária, como agente social e político, dessa forma, ela é um ator importan- te socialmente às transformações e modifi cações que uma sociedade precisa. Infl uenciar ou dominar as massas tornou-se importante em um mundo com intensas mudanças sociais. Assim, precisou-se pensar di- versos meios que, cada vez mais intensifi caria a transmissão de cultu- ras e comunicação para essa população. Diversos sociólogos, fi lósofos, historiadores e antropólogos pensaram essas transformações que as sociedades urbanas e indus- trializadas passaram no século XX. Uma importante corrente de pen- sadores, que pensou a relação entre cultura e industrialização, que as sociedades consideradas modernas vinham passando, foi a Escola de Frankfurt, que contou com importantes pensadores como Max Horkhei- mer, Theodor Adorno, Walter Benjamim e Herbert Macuse. Benjamin acreditava que os avanços técnicos, principalmente o cinema, possibilitariam uma emancipação cultural do proletariado, pos- sibilitando um advento de um novo tipo de cultura diferente da cultura tradicional burguesa. Nessa nova cultura, os anseios da massa seriam expressivos e contemplativos. No caso, Adorno discordava completa- mente do pensamento de Benjamin, pois, defendia que essas inova- ções técnicas não possibilitariam uma democratização cultural. Adorno acreditava que, as culturas surgidas através desse meio, eram voltadas ao mercado e apenas para o consumo, os espectadores delas não con- seguiriam se emancipar culturalmente, mas alienar-se. Max Horkheimer e Theodor Adorno, em 1940, conceituaram o termo Indústria Cultural em substituição do termo cultura de massas. A criação desse novo conceito deu-se porque os meios de comunicação de massas são caros e poucos o possuem, assim, eles são pensados dentro da lógica do capital. Apenas seus donos podem transmitir o que querem e quando querem, quem não os possuem não podem transmitir seus ideais. Os donos desses meios empregam produtores culturais para criarem culturas e transmiti-las, mas apenas aquelas que os donos 48 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S estão de acordo. Assim, a cultura começa a ser pensada como uma mercadoria, que estaria na mão de poucos produzi-la, e de muitos para consumi-las. Desde o século XIX, a cultura está sujeita a essa mercantilização, mas apenas com o advento do século XX ela passa por um processo de pla- nejamento industrial. Assim, existe um sistema que cria, a torna merca- doria e faz de tudo para conseguir vendê-la às massas consumidoras. Para Rodrigo Duarte (2007, p. 60) Especialmente sob o ponto de vista da tarefa de gerar adaptação ao processo produtivo, Horkheimer e Adorno chamam a atenção para as características infi nitamente repetitivas das mercadorias culturais, as quais são consideradas uma espécie de prolongamento, durante o ócio, dos mesmos procedimentos repetidos do trabalho da fábrica ou do escritório. É por isso que, no consumo da mercadoria cultural, toda a ligação lógica que pressupõe um esforço intelectual é escrupulosamente evitado. Os desenvol- vimentos devem resultar tanto quanto possível da situação imediatamente anterior, e não dá ideia do todo. Mediante a explicação dessa tarefa discipli- nadora para o trabalho, o mencionado estimulo a tendências masoquistas do público ganha uma nova dimensão, que se manifesta até mesmo no que os autores chamam de crueldade organizada dos desenhos animados. Podemos notar essa mecanização do processo através do próprio cinema. Notaremos que, os fi lmes quando são lançados bus- cam cativar e atingir grandes públicos, para gerar lucro às companhias que investiram neles. Se os fi lmes forem sucesso de bilheteria, terão continuação, senão isso não ocorre. Além disso, diversas pesquisas de opinião são lançadas pelo mercado, para saber os gostos de seus consumidores e a forma de encaminhar a produção de determinadas mercadorias. Desta forma, notamos que um dos objetivos da indústria cultural é agradar seu consumidor, além de entreter e diverti-lo, para que possacontinuar consumindo seus produtos. Assim percebe-se que A indústria cultura e os meios de comunicação de mas- sa penetram em todas as esferas da vida social, no meio urbano ou rural, na vida profi ssional, nas atividades religiosas, no lazer, na educação, na par- ticipação política. Tais meios de comunicação não só transmitem informa- ção, não só apregoam mensagens. Eles também difundem maneiras de se comportar, propõem estilos de vida, modos de organizar a vida cotidiana, de arrumar a casa, de se vestir, maneiras de falar e de escrever, de sonhar, de sofrer, de pensar, de lutar, de amar. (SANTOS, 1983, p. 69) Uma característica importante dos produtos vendidos pela in- 49 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S dústria cultural é que eles não podem ter coisas extraordinárias de uma vez, pois, impossibilitaria o consumo de novos produtos fabricados pela empresa. Além disso, a infl uência que o consumo pode ter na vida das pessoas, faz com que elas mudem hábitos, formas de comer, de se ves- tir, de estudar ou de se relacionar com outras pessoas. Notamos isso, ao perceber a proliferação das redes sociais com o advento do século XXI. Além disso, a indústria cultural busca, através da propaganda, mostrar a noção de mundo organizado, diferente da realidade. Essa no- ção de um mundo organizado, com sentidos, faz com que o consumidor acredite nessa realidade e deixe de ver o mundo como algo complexo e caótico. Assim, os esforços interpretativos de entender a realidade são diminuídos pela industria cultural, fazendo com que o espectador consuma até a interpretação de mundo que a indústria cultural queira. Em uma sociedade cada vez mais globalizada e com diversas interpre- tações sobre as realidades do fato, cativar o público sobre uma noção de “verdade” e uma “interpretação” única é importante para continuar a lógica do consumo. No século XX, em um primeiro momento, a indústria cultural era composta por aparelhos como rádio, cinema, editoras de HQs, re- vistas e a imprensa. Após a Segunda Guerra Mundial, outros meios começaram a aparecer para intensifi cá-la como a televisão. Nesse início do século XXI, notamos que a televisão perdeu espaço para a internet e as redes sociais. Notamos que a indústria cul- tural cada vez mais se globalizou, determinadas coisas, situações ou informações rapidamente ganham pessoas no mundo todo em questão de minutos. Em uma sociedade que o mundo cada vez mais se indus- trializa e se urbaniza, a indústria cultural continuará a ganhar força e transmitir seus valores interpretativos de mundo. 50 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibili- dade técnica in: Obras escolhidas. São Paulo, Brasiliense, 1987. v.1. CHAUÍ, Marilena. Cultura política e política cultural. São Paulo: Estudos Avançados 9 (23), 1995, p.71-84. COELHO, Teixeira. Dicionário crítico de política cultural. São Paulo: Editora Iluminuras, 1997. CUCHE, Denys. O Conceito de Cultura nas Ciências So- ciais. Tradução de Viviane Ribeiro. 2 ed. 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( ) Os fatos folclóricos reproduzem a cultura dos círculos eruditos e das instituições que se dedicam à renovação e à conservação dos patrimô- nios científi co e artístico. ( ) As expressões “cultura popular” e “cultura erudita” designam dois conjuntos coerentes e internamente homogêneos no que se refere às suas práticas. A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é a a) V, V, F, F, F b) F, V, V, F, V c) V, F, F, V, F d) F, V, F, V, V e) V, V, F, V, F QUESTÃO 2 Ano: 2016 Banca: COMVEST Órgão: UNICAMP Prova: Vestibular Leia os versos iniciais do poema The White Man’s Burden (O fardo do homem branco). 52 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S O poema de Rudyard Kipling foi escrito em Londres, em 1898, após a estadia do autor nos EUA. Considerando-se o contexto do impe- rialismo do século XIX, o poeta expressa a) a defesa do expansionismo norte-americano, justifi cado como um dever moral explicitado no título “The White Man’s Burden”. b) o olhar caridoso em relação aos povos dominados no contexto do imperialismo do século XIX, como se observa no verso “half devil and half child”. c) uma crítica à visão da superioridade branca vigente durante a corrida imperialista do século XIX, ao enaltecer as características “folk and wild”. d) a visão de que as famílias americanas não devem ser punidas pela política expansionista dos EUA, como se observa na recomendação “Go send your sons to exile”. QUESTÃO 3 Ano: 2013 Banca: INEP Órgão: ENEM Prova: ENEM O antropólogo americano Marius Barbeau escreveu o seguinte: sempre que se cante a uma criança uma cantiga de ninar; sempre que se use uma canção, uma adivinha, uma parlenda, uma rima de contar, no quarto das crianças ou na escola; sempre que ditos e provérbios, fábulas, histórias bobas e contos populares sejam representados; aí veremos o folclore em seu próprio domínio, sem- pre em ação, vivo e mutável, sempre pronto a agarrar e assimilar novos elementos em seu caminho. UTLEY, F. L. Uma defi nição de folclore. In: BRANDÃO, C. R. O que é folclore. São Paulo: Brasiliense, 1984 (adaptado). O texto tem como objeto a construção da identidade cultural, reco- nhecendo que o folclore, mesmo sendo uma manifestação asso- ciada à preservação das raízes e da memória dos grupos sociais, a) está sujeito a mudanças e reinterpretações. b) deve ser apresentado de forma escrita. c) segue os padrões de produção da moderna indústria cultural. d) tende a ser materializado em peças e obras de arte eruditas. e) expressa as vivências contemporâneas e os anseios futuros desses grupos. QUESTÃO 4 Ano:2016 Banca: IBFC Órgão: EBSERH Prova: Jornalista O pontocentral da teoria é que a alienação é mais do que uma des- crição de emoções ou um aspecto psicológico individual. É a con- 53 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S sequência do modo capitalista de organização social que assume novas formas e conteúdos em seu processo dialético de separação e reifi cação da vida humana. Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido se afastou numa representação. Diante do exposto, assinale a alternativa que contempla a Teoria descrita acima e seu criador: a) Teoria Hipodérmica – Lasswell b) A Sociedade do Espetáculo – Lasswell c) A Sociedade do Espetáculo – Guy Debord d) Teoria Hipodérmica – Guy Debord e) Estruturalismo - Sausurre QUESTÃO 5 Ano:2008 Banca: CESPE Órgão: SEPLAG-DF Prova: Professor – Sociologia A respeito das correntes do pensamento sociológico: funcionalismo, marxismo e teoria crítica da sociedade, julgue os itens que se seguem. A teoria crítica da Escola de Frankfurt dedicou-se, entre outros te- mas, aos estudos e pesquisas que criticavam a cultura de massa. ( ) Certo ( )Errado QUESTÃO 6 Ano: 2010 Banca: EsFCEx Órgão: EsFCEx Prova: Comunicação Social Segundo Theodor W. Adorno, sobre “indústria cultural”, analise as afi rmativas abaixo e, a seguir, assinale a alternativa correta. I. É uma cultura que surge espontaneamente das massas, ou seja, da forma contemporânea da arte popular. II. Em todos os seus ramos fazem–se produtos, não só adaptados ao consumo das massas, mas que, em grande medida, determinam esse consumo. III. Os diversos ramos da indústria cultural assemelham–se em sua estrutura ou, pelo menos, ajustam–se uns aos outros para cons- tituir um sistema. IV. Promove a união de domínios, antes separa- dos, da arte superior e da arte inferior, com vantagem para ambos. V. Constitui um sistema de produção de bens culturais que privile- gia a elaboração de conteúdos próprios da alta cultura. a) Somente I e III estão corretas b) Somente I e IV estão corretas 54 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S c) Somente II e III estão corretas d) Somente IV e V estão corretas e) Somente I, III e IV estão corretas QUESTÃO 7 Ano: 2011 Banca: UFFS Órgão: UFFS Prova: Vestibular É uma forma de cultura produzida industrialmente, e tem por objetivo a lucratividade das corporações de mídia que nela investem grande capital em máquinas e infraestrutura fabril. Utiliza tecnologia de ponta, destina-se a um grande público anônimo e impessoal e é distribuída através do mercado e depende de patro- cinadores: a) Cultura Erudita. b) Cultura Popular. c) Cultura de Massa. d) Cultura Midiática. e) Cultura Eletrônica. QUESTÃO 8 Ano: 2010 Banca: UNICENTRO Órgão: UNICENTRO Prova: Vesti- bular “A indústria cultural, com suas vantagens e desvantagens, pode ser caracterizada pela transformação da cultura em mercadoria, com produção em série e de baixo custo, para que todos possam ter acesso. É uma indústria como qualquer outra, que deseja o lu- cro e que trabalha para conquistar o seu cliente, vendendo ima- gens, seduzindo o seu público a ter necessidades que antes não tinham”. a) A indústria Cultural não é uma característica da sociedade contempo- rânea ela é um produto natural em qualquer sociedade. b) A indústria Cultural é responsável por criar no indivíduo necessidades que ele não tinha e transformar a cultura em mercadoria. c) A Indústria Cultural não infl uência nas necessidades do indivíduo com a sua produção em série e de baixo custo. d) A indústria cultural faz com que o indivíduo refl ita sobre o que neces- sita, não desejando lucro. e) A Indústria Cultural prioriza a heterogeneidade de cada cultura. QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE No século XXI, passamos por intensos recebimentos de infor- mações diariamente. A tecnologia em rápida transformação, possibilita 55 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S a criação de novos hábitos de consumo e mexe nos costumes da po- pulação. Uma forma de percebermos isso é a prática das redes sociais e, como elas podem ajudar ou prejudicar a interação entre as pessoas. Será que existe um distanciamento ou uma aproximação através das redes sociais entre as pessoas? E até que ponto elas são transmissoras de cultura? TREINO INÉDITO “A história, que cria a autonomia relativa da cultura e as ilusões ideoló- gicas a respeito dessa autonomia, também se expressa como história da cultura. E toda história de vitórias da cultura pode ser compreendida como a história da revelação de sua insufi ciência, como uma marcha para sua auto-supressão. A cultura é o lugar da busca da unidade per- dida. Nessa busca da unidade, a cultura como esfera separada é obri- gada a negar a si própria.” DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contrapon- to, 1997. De acordo com a afi rmação, a cultura é: a) dinâmica e em constante transformação b) estática e não passa por transformação c) dinâmica e não passa por transformação d) estática e passa por transformação e) uma negação do homem NA MÍDIA ASSIM FRANÇA E ALEMANHA FOMENTAM A CULTURA Com uma das maiores redes mundiais de museus, óperas e bibliotecas públicas, Alemanha é uma líder global de difusão artística. Na França, é longa a tradição de estímulo estatal, e assunto é prioridade de Estado. Dois modelos de sucesso, que servem de exemplo e tentam ser copia- dos em outros países. Com uma das maiores e melhores redes de mu- seus, casas de concerto, teatros, óperas e bibliotecas públicas do glo- bo, a Alemanha é considerada um centro difusor artístico como poucos no mundo. No país, arte e cultura são principalmente sustentados por verbas públicas, de forma descentralizada, com especial participação das administrações regionais. Já a França tem uma tradição centenária 56 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S de incentivo à cultura reconhecida internacionalmente. No país, o tema sempre foi prioridade de Estado, artigo de exportação e até mesmo mo- tor da economia. Fonte: Deutsche Welle Data: 21 de fevereiro de 2019 Leia a notícia na íntegra: https://www.dw.com/pt-br/assim-fran%- C3%A7a-e-alemanha-fomentam-a-cultura/a-47597417 NA PRÁTICA Até os dias de hoje, ao falarmos da palavra cultura, acreditamos que é algo distante do cotidiano de pessoas comuns, e só membros da elite ou com poder aquisitivo maior, podem ter acesso. Mas ao refl etirmos sobre a nossa vivência diária, ao passarmos em frente a museus públicos, patrimônios tombados, apresentações cul- turais de rua, será que não estamos vivendo, cotidianamente, com um acesso à cultura? A cultura está presente em nossas práticas do dia a dia, trocas de informações, leituras, alimentação, contatos com o outros e refl exões que temos sobre o nosso meio. Já pararam para pensar como diariamente recebemos diversas informações culturais? A cultura é viva e se faz presente na vida de cada ser humano. 57 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S GABARITOS CAPÍTULO 02 Questões de concursos 01 02 03 04 05 A A A C Certo 06 07 08 C C B QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO DE RESPOSTA Em um mundo que passa por constantes transformações, diariamente percebemos que os aparelhos tecnológicos são trocados rapidamente. Por exemplo, os celulares e computadores que, cotidianamente, novas versões aparecem e são trocadas por outras. O ser humano não conse- gue acompanhar esses níveis de trocas rápidas. A Internet tem tido um papel importante na aproximação de pessoas, por conta das distâncias, nem todos poderemencontrar-se com frequência ou a possibilidade de conhecer pessoas de diferentes lugares. Dessa forma, percebemos que as redes sociais, que possibilitam esse contato, são importantes no aspecto cultural, pois, proporcionam trocas culturais e de informações sobre diferentes seres humanos. Entretanto, se observarmos a geração atual, e quando saímos, muitos jovens conectados a celulares, redes sociais e a falta de interação entre pessoas próximas, isso é um sintoma do distanciamento que a tecno- logia tem acometido ao ser humano. Ao invés de prestar atenção, as pessoas ao nosso redor, se atentam às redes sociais. Além disso, quan- tas crianças não vemos mais brincar com coisas simples, como pipa, bonecas ou bolas, ao preferirem objetos tecnológicos avançados, como tablete e celulares, para efetuar suas brincadeiras. TREINO INÉDITO Gabarito: A 58 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S 58 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S TEMAS CONTEMPORÂNEOS DA ANTROPOLOGIA A etnicidade em questão Desde os primórdios da Antropologia, questões relacionadas à etnicidade permeiam o campo antropológico. Entretanto, com a in- dependência das colônias na África, Ásia e Oceania, após a Segunda Guerra Mundial, o termo começou a ganhar força para refl etir sobre a múltipla pluralidade de sociedades existentes. Esse é um momento fortemente marcado por questões étnicas, confl itos de independência, guerras civis e construções nacionais que as ex-colônias estarão pas- sando. O mundo nesse momento, com o pós-Segunda Guerra é forte- mente marcado pela instabilidade. Devemos lembrar que, é o período TEMAS CONTEMPORÂNEOS DA ANTROPOLOGIA E A ANTROPOLOGIA BRASILEIRA LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S 59 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S da Guerra Fria, propostas de sociedades antagônicas estão em disputa naquele momento, de um lado o capitalismo e de outro o socialismo. Além disso, as principais potências do período, União Soviética e Esta- dos Unidos, tentavam infl uenciar as nações que estavam se tornando independentes a adotar modelos de sociedade que cada uma defendia. A pergunta que fazemos é: Será que as sociedades considera- das civilizadas, também estavam passando por essas transformações, ou apenas aquelas que estavam se tornando independente? As antigas potências coloniais europeias saíram desestabilizadas após a Segunda Guerra Mundial, prova disso é que não conseguiram segurar mais seus antigos Impérios Coloniais em diferentes partes do globo. Além disso, questões de racismo, discriminação, disputas internas, fl uxos migrató- rios, tornaram-se crescentes na Europa. Isso demonstra que, após o confl ito bélico, as transformações sociais e culturais estavam a todo vapor em diversas partes do mundo. Em sociedades que passam por grandes transformações é im- portante notarmos que, questões de reafi rmações étnicas e de identi- dade ganham força. E foi isso que aconteceu tanto com as ex-colônias, quanto com suas antigas metrópoles coloniais. O Imperialismo, que marcou o surgimento da Antropologia a partir da busca das diferenças culturais, existentes entre as sociedades consideradas “primitivas” e as “civilizadas”, deixou marcas profundas em ambas. Desta forma, ao fa- larmos em fi m de Impérios Coloniais, devemos entender que as socie- dades que estão surgindo estão mescladas e carregam marcas, tanto das sociedades tradicionais, quanto das sociedades coloniais que as constituíram. O conceito de etnicidade é sempre relacional, ou seja, depende da comparação com outros grupos. Segundo essa perspectiva, determi- nado grupo tem características próprias (culturais, históricas ou sociais) que o distinguem dos demais, em uma perspectiva comparativa. Dessa forma, a característica que os mantêm diferentes dos outros, cria uma identifi cação coletiva nos membros desse grupo. Nesse período, na Inglaterra surgiu a conhecida escola de Manchester, em que foram alunos de Radcliff e-Brown, entre eles esta- va Max Gluckman (1911-1975), que buscava estudar os processos de luta de libertação dos países africanos e asiáticos, e as transformações acarretadas naquelas sociedades, após as independências. Esse grupo se utilizou, constantemente, do termo etnicidade em suas pesquisas, tomando emprestado as noções desenvolvidas por Fredrik Barth (1928- 2016), um norueguês, que se debruçou sobre a temática em seus tra- balhos. Nas sociedades ocidentais, o termo etnicidade começou a apa- 60 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S recer constantemente e ser utilizado pela luta de minorias discriminadas nas grandes sociedades: populações homossexuais, negros, mulheres e imigrantes. Esses grupos reivindicavam melhores tratamentos sociais e maior participação nas decisões políticas. As descriminações sofridas por eles eram carregadas de injustiças sociais. Um importante exemplo dessa época foi a luta por direitos civis negros nos Estados Unidos, com fi guras importantes como Martin Luther King e Malcom X. Devemos entender que, ao se utilizar o termo minorias, não signifi ca que os indivíduos desse grupo são menores em números, mas que não possuem poder e nem participação em assuntos políticos, sociais, econômicos ou religiosos. Um exemplo que podemos dar é a confi guração demográfi ca da população brasileira, mais de 50% são constituídos por mulheres e nem sempre elas têm grande participações em empresas ou na política nacional. Outro exemplo histórico é o apar- theid na África do Sul, onde uma minoria branca impunha suas vonta- des à maioria da população negra do país. Entretanto, minoria pode ser utilizada para distinguir grupos que concentram poder e constroem a noção de normalidade social como, por exemplo, as ideias de elite po- lítica, elite cultura ou elite intelectual em um país. É um grupo reduzido de pessoas que impõe suas noções para os demais que constituem um país. Uma das grandes discussões que o termo etnicidade tem gera- do é a questão dos confl itos étnico presentes em diversas sociedades. Devemos entender que a partir do momento que determinados grupos acabam sendo excluídos, por conta de suas características, existe todo um mecanismo de construção para que ocorra essas exclusões. Diver- sos confl itos étnicos têm acontecido na África, devido ao mecanismo construído na época colonial que permaneceu, posteriormente, com as independências. O conceito de identidade Ao longo do tempo, o conceito de identidade tem aparecido nos debates antropológicos, mas sempre acompanhando outros termos como, por exemplo, identidade social. O termo vem ganhando força ao longo do século XX devido a infl uência de Franz Boas. Nas décadas posteriores a Segunda Guerra Mundial, o mundo passou por uma recuperação econômica intensa que foi até a década de 1970. Essa época, como o historiador Hobsbawn chamou de A Era de Ouro do Capitalismo foi um momento de intensa industrialização e reurbanização de diversas partes do globo. Tanto países comunistas, 61 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S quanto capitalistas, tiveram investimentos fortíssimos da União Sovié- tica e dos Estados Unidos. Nesse período, as ex-colônias de países europeus que estavam passando por guerras civis, problemas internos desencadeados com as lutas de libertação, tiveram suas populações aumentadas drasticamente. Além disso, o fl uxo migratório para países desenvolvidos e em desenvolvimento aumentou. É nesse cenário que o termo identidade começa a ganhar novas conotações,e esse mundo cada vez mais transformado e fragmentado socialmente, criou novas demandas sociais, e esse termo buscou dar respostas às aulas. Os conceitos de cultura e etnicidade não serviriam para respon- der às novas demandas, que essas sociedades, passando por intensas transformações, estavam passando. Enquanto etnicidade muitas vezes remetia a uma ancestralidade ou características comuns nos grupos, não dava para conseguir colocar nos mesmos grupos um ativista negro e um homossexual, por conta de suas demandas próprias por direitos civis. No conceito de identidade, as práticas sociais são sufi cientes para produzir características próprias nos grupos sociais, sem necessá- rio recorrer à história, culturas ou ancestralidades comuns. A identidade é estática, nunca está defi nida, é um processo de contínua construção, devido as relações das pessoas socialmente. Para alguns estudiosos, sobre as questões de identidade, como Stuart Hall (1933-2014), toda a identidade é moldada por coi- sas que escolhemos e que não escolhemos. Por exemplo, a identida- de sexual, religiosa, discriminações cotidianas, são algo que ajudam a moldar o comportamento e as identidades individuais de cada pessoa. Se alguém cresce numa família extremamente religiosa e com hábitos conservadores, muitas vezes aquilo que é diferente para ela, como ca- sais homoafetivos, mulheres mais autônomas e negros se ascendendo socialmente, não é bem aceito e ela tentará reproduzir o discurso que cresceu criando discriminação para esses indivíduos. Em um mundo que se encontra cada vez mais fragmentado e conectado com diversas partes e culturas distintas, por conta da globali- zação, o termo identidade é oportuno para refl etirmos sobre as diversas alternativas que se apresentam aos indivíduos nessas sociedades. Os indivíduos nessas sociedades podem moldar sua identidade através de várias identidades como, por exemplo, um homossexual negro constrói sua identidade através da experiência da discriminação racial, em uma sociedade racista, e a homofobia, presente em sociedades com precon- ceitos sexuais. As discussões contemporâneas de gênero, sexualidade e paren- 62 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S tesco As discussões sobre gênero e parentesco atuais são forte- mente infl uenciadas pelas questões do feminismo e debates sobre a homossexualidade. A contemporaneidade refl ete muito sobre como os gêneros são construídos socialmente e as discriminações que mulheres e homossexuais passam na sociedade. Os pensadores atuais questio- nam muito sobre as relações entre homens e mulheres nas sociedades e como a homossexualidade está inserida no mundo atual. Retornando a primeira metade do século XX, Margareth Mead afi rmava que, homens e mulheres eram categorias culturais, e que cada sociedade defi ne como essas categorias se comportam e suas práticas socialmente. Ela demonstrou que essas categorias são dinâmicas, pois, cada sociedade tem seu conceito e papel do que seria o homem e a mulher, e suas práticas comportamentais variavam ao longo do tempo. Assim, Mead demonstrou que, os gêneros são uma questão cultural e não algo natural, sendo uma construção social. Um dos principais livros da antropóloga sobre as discussões de gênero e sexualidade foi Sexo e Temperamento em três sociedades primitivas, onde Mead demonstrou que a tribo Tchambuli da Papua-Nova Guiné as mulheres que exerciam o papel de dominação. Após a Segunda Guerra Mundial, o livro O segundo sexo, da socióloga Simone de Beauvoir, ajudou a fortalecer os debates sobre gênero nesse momento. Mesmo não tendo fi ns militantes, o livro é uma obra celebre nas discussões sobre feminismo. O livro carrega uma for- te carga das discussões existencialistas e autora usa diversas discipli- nas como história, literatura, sociologia e até a área de biológicas para demonstrar que as mulheres passam por submissões e passividades sociais construídas ao longo do tempo. Segundo a autora, as mulheres não eram donas dos seus destinos, mas os homens controlavam as ascensões sociais e o papel delas em cada momento histórico. Simone de Beauvoir defende que, para as mulheres conseguirem se emanci- par, precisariam manter uma relação de solidariedade entre homens e mulheres, controle de natalidade e o acesso a posições melhores no mercado de trabalho. Outras áreas das ciências humanas, como a fi losofi a, os es- tudos sobre gênero e sexualidade ganharam força com as pesquisas desenvolvidas pelo fi lósofo Michel Foucault. Um dos seus escritos prin- cipais que infl uenciaram os estudos nessa época foi História da Sexua- lidade, obra que foi pensada originalmente em seis tomos, mas teve apenas três publicados, devido o falecimento do escritor. No primeiro livro, A vontade de saber, Foucault defende que as sociedades ociden- 63 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S tais, desde o século XVII até o XX, empregam táticas repressivas sobre a sexualidade, mas mesmo combatidos os discursos sobre sexualidade se proliferam ao longo destes séculos. Nesse mesmo período, ocorrem avanços sobre as pesquisas cientifi cas sobre gênero e sexualidade, em que as sexualidades individuais e comportamentos sexuais começam a serem catalogados. Foucault defendia que, a sexualidade do indivíduo era uma construção social, e que muitas vezes ocorre de forma imposta pelos mecanismos sociais. Outros estudiosos, como as antropólogas Sherry Ortner (1941- ) e Gayle Rubin (1949), nos anos 1970, levantaram a hipótese de que, normalmente as mulheres tem suas atividades sociais mais ligadas ao plano do lar e do mundo doméstico, como os cuidados com os fi lhos, a amamentação e a maternidade. As mulheres, segundo as autoras, seriam mais ligadas à natureza, e o homem ao plano da cultura. Nesses casos, percebemos uma clara separação dos afazeres masculinos e femininos, o homem como provedor do lar e a mulher com o cuidado da casa e das crianças. Segundo as antropólogas, essas construções de papeis de homens e mulheres não são naturais e são construídas dentro de uma lógica que apenas o homem é benefi ciado. As relações de parentesco ganham maiores discussões após a publicação de American Kinship, em 1968, de David Schneider. Nesse li- vro, o autor discute as relações de parentesco na sociedade americana, e nota que essa construção é feita através da oposição natureza e cultura. Para o autor, a noção de natureza seria algo dado e a de cultura tudo aquilo que pode ser criado e imposto socialmente. Para Schneider, os laços con- sanguíneos criam uma relação de identidade nos indivíduos, assim, os norte-americanos acreditam que as pessoas ligadas por esses laços se aparentam com seus pais e herdam traços comportamentais familiares. Dessa forma, a reprodução de padrões comportamentais caracterizaria o parentesco. Entretanto, para Schneider as noções de família e parentesco não devem ser confundidas. De acordo com ele, a família é sempre construída através de uma das noções de amor e sexo, assim, ela é resultado de rela- ções de sangue e casamento. No caso de parentesco, Scheneider defende que a noção de parente é construída por critérios socioemocionais e iden- tifi cação que o indivíduo tem com o outro, essa relação de se reconhecer no outro seria mais importante para a construção desses laços do que o sanguíneo. Às noções discutidas por Schneider derivaram o termo parentes- co construído, foi uma importante conquista para os estudos sobre mulhe- res e homossexualidade. O papel das mulheres dentro do lar e na socieda- de passaram a ser pensados, não apenas no plano biológico, mas como 64 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S algo construído e imposto por essas relações. Além disso, a defesa que parentesconão depende de fatores biológicos, favoreceram a noção de que os parentescos homoafetivos são tão legítimos, quanto os parentescos tradicionais, ou seja, a noção de famílias homossexuais ganharam força a partir dessa noção e aumentaram as exigências de seu reconhecimento pelo Estado. Os debates sobre cultura e natureza Em meados dos anos de 1970, Roy Wagner, antropólogo ame- ricano, publicou a obra A invenção da cultura, que em um primeiro mo- mento, não teve muita importância nos debates antropológicos. No ano da primeira edição da obra, Cliff ord Geertz e Marshall Sahlins publicaram, respectivamente, A interpretação das culturas e Cultura e razão prática, sendo livros que tiveram enorme sucesso e difusão. Entretanto, hoje, a obra de Roy Wagner é importante para pensarmos uma nova refl exão so- bre o termo cultura. O livro de Roy Wagner demorou para chegar ao Brasil, só teve uma tradução em português, em 2010, pela editora Cosac Naify. A ideia principal da obra de Wagner é a noção de invenção, mas estamos acostu- mados a entender o termo de forma negativa, como algo “falso”, que pode ser imposto aos indivíduos que compõem um grupo social. Entretanto, para o antropólogo, as tradições culturais são dependentes de contínua inven- ção (p. 94), ou seja, elas passam por contínuas mudanças, confi gurações e legitimações. Roy Wagner lançou uma série de críticas ao método antropoló- gico e à relação do antropólogo com seu objeto de estudo. Ele critica a noção de que o trabalho de campo desenvolvido pelos antropólogos fosse apenas ir a campo observar diferentes sociedades e depois escrever so- bre isso aos seus pares. Para ele, os antropólogos se baseiam em suas próprias categorias culturais para pensar o que acontece com as cultu- ras nativas. Assim, sua crítica e opinião sobre determinadas culturas fi cam subjugadas aos seus conhecimentos culturais. Notamos nessa perspectiva que, o conceito de observador é duramente criticado, pois, as experiências vividas por estes são submetidas as suas próprias experiências em sua so- ciedade. Desta forma, o antropólogo não descreveria, objetivamente, suas análises de uma cultura alheia, mas ao fazer o trabalho de campo, ele entra em contato com as diferenças culturais que existem entre ele e seus obser- vados, e as experiências desse trabalho de campo resultaria, no relato de uma diferença, e essa seria a cultura descrita pelo antropólogo. Wagner percebe uma relação dialética entre o observador e o ob- 65 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S servado, para ele, ambos produzem, criam e transformam as culturas. As- sim, a cultura seria permanentemente inventada pelos seus participantes, o que geraria novas confi gurações e momentos de estabilizações. Essas estabilizações não seriam permanentes, continuamente passariam por de- sestabilizações causadas por novas invenções. Essa noção defendida por Wagner faz refl etirmos como o antro- pólogo ainda exerceria um pensamento autoritário sobre o que ele descre- ve, sobre o nativo e que, o próprio nativo poderia criar suas concepções sobre a cultura do pesquisador, que entra em contato com ele. Dessa for- ma, perceberíamos que as trocas culturais ocorrem mutuamente e cada parte nessa relação constrói sua visão sobre o “outro”. Outra grande corrente que surgira nesse momento será impul- sionada por Bruno Latour, antropólogo francês, que faz uma crítica à ideia de separação entre natureza e cultura. Nessa perspectiva, existiria uma separação entre o mundo humano e o mundo de natureza, esse último seria tudo o que fosse não humano (animais, plantas e objetos). Para ele, o homem trata esse mundo como algo inerte, que só se desenvolve ou movimenta a partir do contato com o mundo humano. Latour se debruçou sobre o conceito moderno de ciência e nota que a ciência é um discurso sobre essas distinções de mundo, pois, des- creveria o que constitui o mundo de natureza. Segundo o autor, o conceito de natureza é algo dinâmico, ele existe, pois, existe um acordo entre os cientistas para considerar o que faz parte ou não dele. Assim, a noção de avanços científi cos também são acordo entre pares, para determinar se o que se conquistou foi realmente importante ou não. Dessa forma, Latour percebeu que, o discurso científi co seria uma convenção entre indivíduos que mudam constantemente para impor uma visão ao coletivo. Por exemplo, as noções de física, química e biologia passaram por constantes transformações ao longo dos dois últimos sécu- los, o que era considerado defi nitivo no século XIX, não era o mesmo no fi nal do século XX. Assim, Latour defende que a natureza não mudou, mas o entendimento do homem sobre o que constituiria ou não. Ele afi rma que não dá para separarmos o conceito de natureza e cultura, que ambas se complementam e fazem parte de um todo. Além disso, essa distinção entre as duas, para o autor, aconteceu por conta das concepções ocidentais de pensar essas duas formas. O pensamento de Latour fez com que a Antropologia começasse a refl etir sobre o tratamento com o “outro”, ou seja, o antropólogo não pode tratar a sociedade em que vive e a sociedade que trabalha em campo de formas distintas. Assim, seus olhares para uma sociedade “complexa” e uma sociedade “simples” não pode ser algo assimétrico. 66 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S BHABHA, Homi. “A questão do ‘outro’: diferença, discrimina- ção e o discurso do colonialismo”. IN: ALMEIDA, Heloisa Buarque de. (Org.). Pós-modernismo e Política. Rio de Janeiro: Rocco, 1991, pp. 177-203. BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Ber- trand Brasil, 1989. BOURDIEU, Pierre. Meditações pascalianas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. DUMONT, Louis. O individualismo: uma perspectiva antro- pológica da sociedade moderna. Rio de Janeiro: Rocco, 1985. ELIAS, Norbert. O processo civilizador: uma história dos costumes. Vol. I. Rio de Janeiro: Zahar, 1994. FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008. GEERTZ, Cliff ord. O saber local: novos ensaios em antro- pologia interpretativa. Petrópolis: Vozes, 2004. 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Até então, o co- nhecimento antropológico era exercido por profi ssionais não formados na área, por conta da não existência da formação acadêmica no país. As principais fi guras intelectuais do país, nesse momento, que exerciam trabalhos considerados do campo antropológico foram Eucli- des da Cunha (1866-1909), Nina Rodrigues (1866-1906), Silvio Romero (1851-1914) e Oliveira Vianna (1883-1951). A primeira coisa que notare- mos é a pluralidade de formação desses intelectuais, estando presentes desde o campo sociológico até a área das letras. Os trabalhos desenvolvidos acreditavam que a população indí- gena estaria entrando em decadência. Diversos alemães estavam rea- lizando trabalhos sobre essa população no país, fortemente infl uencia- dos pelos trabalhos de Franz Boas, um dos principais nesse momento foi Karl Von den Steinen (1855-1929). O pensamento desses intelectuais categorizava hierarquica- mente a população brasileira, do ponto de vista racial. A miscigenação brasileira era vista como perigosa, e que sua composição racial era infe- rior, se comparada com outras nações. Isso faria com que o país tivesse difi culdades para se desenvolver. Embora hoje questionamos essas vi- sões raciais, naquele momento era comum acreditar em raças superior e inferior, e questionar a efi cácia da miscigenação nas nações. Como os povos que constituíram a nação brasileira eram vistos como algo nega- tivo à miscigenação (negros e indígenas), nas décadas fi nais de XIX e início de XX ocorreram um fonte incentivo à imigração europeia, para se tentar “branquear” a população brasileira. A política de branqueamento se assentava na justifi cativa que a população constituída, majoritaria- mente, por negros, indígenas e mestiços, não conseguiria construir um 68 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S país desenvolvido. Dessa forma, perceberemos uma relação direta com a marginalização que essas populações sofrem nos dias de hoje, por conta de certas decisões de época. Notamos fortemente nesses mo- mentos iniciais dos estudos antropológicos no Brasil seu caráter evolu- cionista. Com a profi ssionalização da Antropologia e a abertura de cur- sos na década de 1930, perceberemos algumas mudanças em suas concepções sobre o povo brasileiro e a constituição da nação. Diversos antropólogos estrangeiros vieram ao Brasil para lecionar nos cursos de Antropologia da USP e da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Entre eles, podemos listar Claude Lévi-Strauss, Roger Bastide, Emilio Willems, Donald Pierson e Herbelt Baldus. Além do desenvolvimento da disciplina no Estado de São Pau- lo, o Rio de Janeiro começou a criação e edifi cação da área. Gilberto Freyre (1900-1987) e Arthur Ramos (1903-1949) ocuparam as cátedras de antropologia no que viria a ser a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nesse momento de desenvolvimento da disciplina, ocorreu for- te intercâmbio entre os antropólogos brasileiros e americanos. Assim, a concepção de cultura e de formação da população brasileira estava fortemente atrelada com noções estrangeiras. A década de 1930 foi for- temente infl uenciada por teorias que buscavam entender a formação da nação brasileira. Diversos pensadores se destacaram na época para entender essas questões, podemos listar, além de Gilberto Freyre, Sér- gio Buarque de Holanda e Caio Prado Jr. Gilberto Freyre foi fortemente infl uenciado pelas noções cultu- rais de Franz Boas. Ele chegou a ser aluno de Boas na Universidade de Columbia, Estados Unidos. Diferente do que acreditava-se até en- tão sobre a mestiçagem e ela ser encarada como algo negativo pelos primeiros intelectuais brasileiros, Gilberto Freyre não acreditava que a mestiçagem era algo que causava o atraso social para o desenvolvi- mento do país. Para Gilberto Freyre, a mestiçagem tinha um caráter progressista e de desenvolvimento de uma civilização única. Os ideais freyrianos sobre a civilização brasileira e de outros povos colonizados pelos portugueses fi caram conhecidos como luso-tropicalismo. Gilberto Freyre acreditava em qualidades que o povo brasileiro herdou devido a colonização, segundo ele: (...) de formação portuguesa é a primeira sociedade moderna constituída nos trópicos com características nacionais e qualidades de permanência. Qualidades que no Brasil madrugaram, em vez de retarda- rem, como nas possessões tropicais de ingleses, franceses e holandeses. 69 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S Outros europeus, estes brancos puros, dólico-louros habitantes de clima frio, ao primeiro contato com a América equatorial sucumbiriam ou perderiam a energia colonizadora, a tensão moral, a própria saúde física, mesmo a mais rija, como os puritanos colonizadores de Old Providence, os quais da mesma fi bra que os pioneiros da Nova Inglaterra, na ilha tropical se deixaram espa- paçar nuns dissolutos e moleirões. Não foi outro o resultado da emigração de loyalistas ingleses da Geórgia, e de outros novos Estados da União America- na, para as ilhas Bahamas – duros ingleses que o clima tropical em menos de cem anos amolengou em ‘poor white trash’. O português, não; por todas aquelas predisposições de raça, de mesologia e de cultura a que nós nos re- ferimos, não só conseguiu vencer as condições de clima e solo desfavoráveis ao estabelecimento de europeus nos trópicos, como suprir a extrema penúria de gente branca para a tarefa colonizadora, unindo-se com mulher de cor... O colonizador português foi o primeiro, de entre os colonizadores modernos, a deslocar a base da colonização tropical da pura extração de riqueza mineral, vegetal ou animal – o ouro, a prata, a madeira, o âmbar, o marfi m – para a criação local de riqueza. (FREYRE. 1940, p. 14-15) Perceberemos no pensamento de Gilberto Freyre uma quebra da polarização, que existia até então, entre colonizador e colonizado, negros e brancos, índios e brancos ou casa-grande e senzala. De acor- do com Antonio Candido (1993, p. 82): Esse Gilberto Freyre da nossa mocidade, cujo gran- de livro sacudiu uma geração inteira, provocando nela um deslumbramento como deve ter havido poucos na história mental do Brasil (...) misturando à linhagem aristocrática uma grande simpatia pelo povo, que o levara a com- bater as ditaduras e acreditar nas virtudes da mestiçagem como fator demo- crático, que deveria produzir nestes trópicos uma civilização ao mesmo tem- po requintada e popular, herdeira da Europa e criadora de um nobre timbre próprio. As ideias presentes nos trabalhos de Freyre foram apropriadas à ideologia ofi cial do Estado Novo Português. Devemos lembrar que, o Império Colonial Português na África se prolongou até 1975 e, tendo como discurso ofi cial as noções presentes do luso-tropicalismo. A antropologia brasileira da década de 1960 aos dias de hoje No Brasil, até a década de 1960, ocorreram outros trabalhos na área de antropologia de caráter funcionalista. Esses trabalhos bus- cavam compreender o funcionamento das sociedades indígenas. Flo- restan Fernandes e Egon Schaden (1913-1991) foram os principais in- telectuais que buscavam analisar as sociedades de forma integrada. 70 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S Seus estudos podem ser comparados com os desenvolvidos por Rad- cliff e-Brown e Malinowski. Além disso, o pensamento de Florestan Fer- nandes foi polêmico, ao quebrar o mito de democracia racial no Brasil: Não existe democracia racial efetiva, onde o intercâm- bio entre indivíduos pertencentes a “raças” distintas começae termina no plano da tolerância convencionalizada. Esta pode satisfazer às exigências de “bom-tom”, de um discutível “espírito-cristão” e da necessidade prática de “manter cada um em seu lugar”. Contudo, ela não aproxima realmente os homens senão na base da mera coexistência no mesmo espaço social e, onde isso chegar a acontecer, da convivência restritiva, regulada por um código que consagra a desigualdade, disfarçando-a acima dos princípios da ordem social democrática. (FERNANDES. 1960, p. XIV) Pesquisas com a temática sobre as manifestações culturais de camadas populares e do considerado folclore marcaram a área no pe- ríodo. Nos anos 1960, Octávio Ianni e Florestan Fernandes se aprofun- daram nas temáticas onde a cultura popular deixava de ser considerada atrasada ou vestígio do passado, esse tipo de abordagem deve-se à renovação que os estudos funcionalistas também estavam passando. Para Florestan e Ianni, as culturas populares eram manifestações legíti- mas das camadas populares, que estavam passando por um processo de modifi cação, em decorrência da rápida industrialização e urbaniza- ção que o Brasil vinha passando desde os anos de 1930. Nas décadas de 1950 e 1960, a Antropologia brasileira desen- volveu diversos trabalhos sobre comunidades. Da mesma forma que era feita com as sociedades indígenas, os antropólogos buscavam observar a transição que estava ocorrendo entre a ruralidade e urba- nidade no Brasil. Essas mudanças são fortemente ligadas ao caráter de forte urbanização e industrialização que o país vinha passando. Os pensadores buscavam entender essas comunidades que passaram por transformações como entidades funcionais e autônomas. Dessa forma, percebemos que uma das preocupações dos antropólogos naquele mo- mento era a respeito do desenvolvimento e a forma que ele atingia a população nacional. Os interesses sobre as mudanças culturais eram centrais nes- ses estudos, muitos amparados pelas teorias de Franz Boas. Esses estudos faziam parte de grandes projetos, que buscavam entender de forma ampla as transformações culturais, sociais, políticas e econômi- cas que a sociedade brasileira estava passando. Assim, as relações do campo com a cidade, rural e urbanizado, popular e erudito estavam presentes nas refl exões apontadas nesse momento. E o questionamen- to central era para que tipo de sociedade o Brasil estava caminhando? 71 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S Com a profi ssionalização da Antropologia, o aumento do núme- ro de cientistas sociais e as abordagens teóricas, as pesquisas a partir da década de 1960 passaram por importantes transformações. Novos objetos de pesquisas como o campesinato, a vida nas favelas, o êxodo rural, o emigrante no mercado de trabalho, as frentes de expansão e o operariado na rápida industrialização brasileira ganharam destaques. Além disso, o estruturalismo, as teorias sobre etnicidade e identidade ganharam força entre os antropólogos brasileiros. Uma nova geração de antropólogos como Darcy Ribeiro, Euni- ce Durham, Gilberto Velho e Roberto DaMatta surge a partir dos anos de 1960, e sua variedade de temas se proliferaram. Entretanto, a situa- ção das populações marginalizadas e os efeitos da industrialização e urbanização no Brasil ainda eram pensadas. Com a urbanização e industrialização, a população que era do campo procurou novas formas de trabalho na cidade. As pessoas que participaram desse êxodo rural produziram novas classes marginaliza- das, como os moradores de periferias. As populações quilombolas e indígenas foram fortemente afetadas com a rápida modernização do país, pois, sofreram processos de adaptação à sociedade nacional, e passaram, sistematicamente, a métodos de aculturação. Muitas dessas comunidades foram integradas a força e o contato com as populações brancas eram constantes. Devemos lembrar que, a situação das mulheres e homosse- xuais começou a ganhar destaque nas pesquisas nesse momento. O papel social que esses grupos carregavam e sua marginalização nas sociedades urbanas foram objetos de importante refl exão. As pesquisas de relações de gênero e sexualidade ganharam força, devido a violência sofrida a população LGBTs e mulheres, diversos centros de pesquisas, ONGs e linhas de pesquisas em programas de pós-graduação surgi- ram a partir dessas novas demandas sociais. Os estudos sobre gêneros buscaram desnaturalizar as relações homens e mulheres e trabalhar com os termos masculinidade e feminilidade. Temas sobre identidades sexuais de populações homossexuais e transexuais começaram a ter importante papel nesse momento, devido as lutas por direitos e comba- tes a discriminação. Além disso, devemos lembrar que a partir dos anos 1970, o Brasil passou por um boom demográfi co, então o choque cultu- ral entre jovens e idosos eram constantes. Nesse momento, os concei- tos de identidade ganharam força nas pesquisas nacionais. A Antropologia Brasileira se debruçou fortemente nas transfor- mações sociais, culturas, econômicas e até religiosas que o avanço da modernização e urbanização no país acarretava em sua população. Novos atores sociais estavam surgindo, e pesquisas com temáticas religiosas co- 72 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S meçaram a aparecer mais forte no cenário nacional, principalmente nas áreas urbanizadas. Por isso, a Antropologia urbana se desenvolveu mais rapidamente a partir dos anos de 1960. Devemos lembrar que com os processos de urbanização e mo- dernização expandiram o campo de análise da Antropologia. As cidades tiveram um aumento populacional importantíssimo a partir dos anos 60, e aconteceu a entrada de muitas multinacionais no país, assim o cotidiano dessa população das cidades se alterou. Fora que os antropólogos que começaram a atuar dentro da área urbana não tinham um distanciamento com seus objetos de estudos. As- sim, os que eram considerados diferentes nesses novos contextos, não estavam isolados, mas eram populações desfavorecidas que iam surgindo nessa rápida modernização, e o papel que as classes médias e altas da população tinham para com esses atores. As dimensões e interesses por seus objetos de análise na antro- pologia também se alteraram. Muitas antropólogas começaram a estudar a opressão da mulher e seu papel como autora social, antropólogos negros começaram a dedicar maior atenção às questões raciais, aos quilombolas e mestiços, além que muitos antropólogos e antropólogas homossexuais aderiram aos estudos da relação de gênero e as formas que a sexualida- de acontece na sociedade brasileira. Devemos lembrar que essas áreas de estudos não fi caram restritas apenas aos profi ssionais com esse perfi l, mas a Antropologia ganhou um caráter mais militante e de aproximação com movimentos sociais e minorias. Gilberto Velho, Eunice Durham e Ruth Cardoso são os principais nomes dessa corrente da Antropologia Brasileira. Um livro que marcou nesse momento é a obra A caminho da cidade, de Eunice Durham, sobre as práticas de migração e como o migrante encara esse processo. Poste- riormente, Eunice Durham e Ruth Cardoso se debruçaram em estudos so- bre movimentos sociais, e Gilberto Velho sobre as classes médias urbanas no Rio de Janeiro. A violência nas periferias, o tráfi co de drogas, as tribos urbanas (punk, skinheads e vegetarianos), doenças e saúde, cotidiano popular, in- fância, juventude e população idosa viraram temáticas dos estudos sobre Antropologia urbana. Dessa forma, percebemos que o leque de assuntos tem se expandido ao longo da formação da área no Brasil. O número de profi ssionais em Antropologia vem crescendo desde os anos de 1980 e isso tem demonstrado o crescimento da variedade dos objetos de pesquisa da área nas últimas décadas. As infl uências da globa- lização se fazem sentir nessas pesquisas como, porexemplo, as relações sociais existentes nas redes (Facebook, Whatsapp e outros) ou como os avanços tecnológicos infl uenciam o comportamento das pessoas. 73 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S CANDIDO, Antonio. Os parceiros do rio bonito: estudos so- bre o caipira paulista e a transformações dos seus meios de vida. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2010. CASTRO Faria, Luiz de. A Antropologia no Brasil. Depoimento sem compromisso de um militante em recesso. IN: Anuário antropoló- gico 82. Edições UFC. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984. DA MATTA, Roberto. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. DA MATTA, Roberto. Relativizando. Rio de Janeiro: Rocco, 1987. FERNANDES, Florestan. A integração do negro na socieda- de de classes. São Paulo: Editora Ática. FERNANDES, Florestan. 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QUESTÃO 2 Ano: 2016 Banca: Colégio Pedro II Órgão: Colégio Pedro II Prova: Professor – Filosofi a. Até os doze anos a menina é tão robusta quanto os irmãos e mani- festa as mesmas capacidades intelectuais; não há terreno em que lhe seja proibido rivalizar com eles. Se, bem antes da puberdade e, às vezes, mesmo desde a primeira infância, ela já se apresenta como sexualmente especifi cada, não é porque misteriosos instintos a destinem imediatamente à passividade, ao coquetismo, à materni- dade: é porque a intervenção de outrem na vida da criança é quase original e desde seus primeiros anos sua vocação lhe é imperiosa- mente insufl ada. (BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo (Vol. 2). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980, p. 9-10.) Os estudos de Simone de Beauvoir (1908-1986) contribuíram incontestavelmente para os debates acerca da situação da mulher e a luta para a igualdade de gênero. A partir do trecho acima, assinale a opção que melhor demonstra o problema apresentado pela fi lósofa. a) Beauvoir afi rma a distinção entre os sexos e inaugura o pensamento de uma feminilidade que faz parte da condição humana da mulher. A natureza feminina é que compõe seu ser enquanto mulher. b) Beauvoir discute a consolidação da posição social da mulher, pois, biológica e psiquicamente suas distinções se apresentam de forma cla- ra para um tratamento diferenciado em relação aos homens. c) Não há, para Beauvoir, qualidades, valores, modos de vida espe- cifi camente femininos. Esse é um mito inventado pelos homens para prender as mulheres na sua condição de oprimidas. 75 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S d) A ideia de que “ninguém nasce mulher: torna-se mulher” representa o ápice da fi losofi a feminista presente em O segundo sexo, afi rman- do que, por natureza, qualquer um pode-se tornar mulher socialmente. QUESTÃO 3 Ano: 2009 Banca: UFGO Órgão: SEE-GO Prova: Professor de Filo- sofi a Michel Foucault, na obra História da sexualidade I – a vontade de saber –, afi rma haver uma radical distinção entre a política tal qual a concebia Aristóteles e a política moderna, porque a) na modernidade, a participação cidadã é o fundamento da legitimida- de do poder soberano. b) na antiguidade, a política tomava a seu cargo o zelo integral pela vida privada e pública do cidadão. c) na modernidade, a gestão da vida biológica passa a ser concebida como a tarefa política fundamental. d) na antiguidade, a liberdade do indivíduo se traduzia no direito a não tomar parte nas funções de governo. QUESTÃO 4 Ano: 2016 Banca: IFB Órgão: IFB Prova: Psicólogo Analisando a produção da sexualidade nas sociedades modernas, Foucault (1985) afi rma que a sujeição dos corpos e o controle das populações são efeitos de técnicas diversas que se instauram como um “bio-poder”. A respeito do biopoder e do poder sobera- no, assinale a alternativa INCORRETA: a) O poder soberano exercia-se por um direito de vida e morte de forma assimétrica. O soberano só marca seu poder sobre a vida pela morte que tem condições de exigir, isto é, o direito de causar a morte ou de deixar viver, relacionando-se a um tipo histórico de sociedade, pré-mo- derna, em que o poder se exercia, essencialmente, pelo confi sco. b) O direito de causar a morte ou deixar viver foi substituído por um poder de causar a vida ou devolver a morte. O seu papel é garantir, sustentar, reforçar, multiplicar a vida e pô-la em ordem. São mortos le- gitimamente aqueles que constituem uma espécie de perigo biológico para os outros, porque o poder se exerce ao nível da espécie, da raça e dos fenômenos de população. c) Jamais as guerras foram tão sangrentas como a partir do século XIX e nunca, guardadas as proporções, os regimes haviam, até então, prati- cado tais holocaustos em suas próprias populações. Foi como gestores da vida e da sobrevivência dos corpos e da raça que tantos regimes puderam travar tantas guerras, causando a morte de tantos homens. 76 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S O princípio: poder matar para poder viver, que sustentava a tática dos combates, tornou-se estratégia entre Estados. d) As disciplinas do corpo (anátomo-política) e as regulações da popu- lação (bio-política) constituem os dois pólos em torno dos quais se de- senvolveu a organização do poder sobre a vida. A instalação, durante a época clássica, desta grande tecnologia de duas faces – individualizan- te e especifi cante, voltada para os desempenhos do corpo e encarando os processos da vida – caracteriza um poder cuja função mais elevada já não é mais matar, mas investir sobre a vida, de cima a baixo. e) Na tecnologia do poder, a partir do século XIX, aparecem duas dire- ções nitidamente separadas. Do lado da disciplina as instituições como o Exército ou a escola; as refl exões sobre a tática ou sobre a aprendiza- gem. Do lado das regulações de população a demografi a, a estimativa da relação entre recursose habitantes, a tabulação das riquezas e de sua circulação, das vidas com sua duração provável. Desse modo, em- bora a sexualidade seja dispositivo comum a essas técnicas de poder, distingue-se pelo controle dos corpos individuais nas disciplinas e pela administração dos fenômenos maciços da população, na biopolítica. QUESTÃO 5 Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: IPHAN Prova: Técnico I – Área 1 Com relação às teorias da cultura, julgue o item a seguir. Roy Wagner formulou uma noção de cultura baseada na atividade criativa, pois, para ele, o ato de inventar constitui uma atividade dinâmica humana. ( ) Certo ( ) Errado QUESTÃO 6 Ano: 2012 Banca: FCC Órgão: SEE-MG Prova: Professor - Socio- logia A importância da obra de Gilberto Freyre, Casa Grande & Senzala, para a análise do comportamento dos diferentes grupos raciais na sociedade brasileira, consiste na a) afi rmação da existência de uma democracia racial na sociedade brasileira. b) substituição de uma explicação biológica das diferenças raciais por uma interpretação cultural. c) elaboração de uma interpretação biológica das diferenças raciais por oposição a uma ênfase nos elementos culturais. d) ênfase nas diferenças socioestruturais por oposição às diferenças culturais. 77 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S QUESTÃO 7 Ano: 2017 Banca: IFB Órgão: IFB Prova: Professor – Sociologia A teoria da democracia racial, derivada a partir da hipótese de pes- quisa desenvolvida por Gilberto Freyre, principalmente com sua obra “Casa-Grande e Senzala”, pode ser relacionada à política de cotas implementada nos institutos federais a partir da Lei 12.711 de 29 de agosto de 2012. Dentre as opções abaixo, marque a CORRE- TA em relação aos conteúdos do enunciado acima. a) A teoria desenvolvida por Gilberto Freyre contribui para explicar a di- ferença entre os níveis de violência racial ocorridos nos EUA e no Brasil, bem como sustenta teoricamente a política de cotas raciais adotada em nosso país. b) A teoria da democracia racial, derivada da obra de Freyre, sustenta uma suposta convivência pacífi ca e democrática entre os negros, in- dígenas e brancos europeus, de modo a sustentar a política de cotas raciais. c) A teoria desenvolvida por Freyre atribui uma visão romantizada da realidade, tornando invisíveis várias formas de violência praticadas por brancos europeus em relação aos negros. A política de cotas raciais, nesse sentido, visa validar a teoria de Freyre. d) A teoria da democracia racial, derivada da obra de Freyre, mascara em grande medida a violência praticada por brancos contra negros no Brasil, sustentando de certo modo parte das críticas atribuídas à adoção de cotas raciais no país. e) A teoria da democracia racial de Freyre tem por princípio desvelar todas as formas de violência de brancos contra negros no Brasil, ampa- rando teoricamente a adoção de cotas raciais como forma de compen- sação histórica. QUESTÃO 8 Ano: 2010 Banca: CESPE Órgão: MPU Prova: Analista – Antropo- logia Na antropologia brasileira, é clássica a comparação entre os con- textos de discriminação racial existentes no Brasil e nos Estados Unidos da América (EUA), expressos pelas categorias preconceito racial de marca e preconceito racial de origem. Acerca dessa dis- tinção, julgue o item a seguir. O preconceito racial de marca se refere à suposição de que o indi- víduo descende de certo grupo étnico. ( ) Certo ( ) Errado 78 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S QUESTÃO 9 Ano: 2012 Banca: VUNESP Órgão: SEE-SP Prova: Professor – So- ciologia Roberto Da Matta afi rma que a nossa teorização sobre o racismo brasileiro deu-se com base no estudo do mestiço e do mulato. Foi com tal preocupação que o nosso racismo foi pensado de maneira pioneira por intelectuais do porte de a) Florestan Fernandes e Octávio Ianni, pensadores fundamentais para se entender a Escola de Sociologia Paulista. b) Oliveira Vianna e Oracy Nogueira, ideólogos importantes para se en- tender o processo de branqueamento da sociedade brasileira. c) Clóvis Moura e Alberto Guerreiro Ramos, pensadores fundamentais para o entendimento da patologia social do brasileiro. d) Manuel Bonfi m e Arthur Ramos, ideólogos importantes para o enten- dimento de que, via educação de base, melhora-se o nosso estoque racial. e) Sílvio Romero e Nina Rodrigues, doutrinadores fundamentais e para- digmáticos do nosso mundo intelectual. QUESTÃO 10 Ano: 2012 Banca: CCV-UFC Órgão: SEDUC-CE A sociologia no Brasil, criada e desenvolvida a partir de núcleos institucionais e autorais diversos, se voltou desde o princípio a um exame de nossa formação histórica. Entre as mais respeitadas (e ao mesmo tempo controversas) interpretações desse processo, está a contribuição de Gilberto Freyre e seu entendimento de nos- sa realidade social de fundo colonial. Para esse autor, era funda- mental redimensionar a leitura de nossa construção política inicial: a) alternando as pesquisas entre exercícios de exame cultural e estudos de antropologia física. b) negligenciando o papel da política portuguesa para criar um foco de pesquisa adequado ao Brasil. c) criticando a diferença dos grupos humanos brasileiros no que toca nosso desenvolvimento econômico. d) buscando reforçar a validade dos estudos promovidos por Euclydes da Cunha e Nina Rodrigues sobre a ideia de cultura. e) valorizando o aspecto cultural e histórico do brasileiro em detrimento de análises raciais simplistas e biologizantes. QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE Na sociedade brasileira, percebemos diversas interações cultu- 79 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S rais, resultado da miscigenação de povos. Isso é uma característica im- portante para a construção da nossa nacionalidade. Ao mesmo tempo, percebemos que determinadas culturais são tratadas ainda com certos preconceitos perante a sociedade. Na sua opinião, quais culturas que em nosso país ainda sofrem preconceitos? TREINO INÉDITO Sob os olhos impassíveis, perplexos ou hostis dos “brancos”, ergueu-se o “protesto negro”, como o “clarim da alvorada”, inscrevendo nos fatos históricos da cidade [de São Paulo] os pródromos da Segunda Abolição. [...] Em virtude da própria situação histórica do negro e do mulato, a re- belião que se ensaiava não possuía o caráter de uma revolução contra a ordem social estabelecida. FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de clas- ses. São Paulo: Globo, 2008. A passagem do texto faz uma referência as críticas de Florestan Fer- nandes ao: a) estruturalismo b) evolucionismo c) mito da democracia racial d) pós-modernismo e) miscigenação NA MÍDIA Qual o papel das cotas na garantia de diversidade nas instituições? Nas universidades brasileiras, apenas dois por cento dos alunos são negros”. Esta é uma das frases que abre a música “Capítulo 4, Versículo 3”, da banda de rap Racionais MC’s. O número indica índice conferido pelo IBGE. Trata-se da faixa número dois do álbum “Sobrevivendo no Inferno” (Cosa Nostra, 1997), lançado um ano antes de um dos episó- dios mais famosos de denúncia de racismo estrutural no ensino superior do Brasil e que seria uma bandeira na luta do movimento negro para a implementação de legislações de ação afi rmativa no país. Em 1998, Arivaldo Lima Alves, aluno com desempenho acadêmico de destaque, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e mestre em comunicação e cultura pela Universidade Fede- 80 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S ral do Rio de Janeiro (UFRJ), foi reprovado na disciplina “organização social e parentesco” do curso de doutorado do Departamento de An- tropologia da Universidade de Brasília(UNB). Ele foi o primeiro aluno reprovado em 20 anos do curso (exceto em casos de excesso de faltas). Ari era o único aluno negro do departamento. Fonte: Terra Data: 18 de fevereiro de 2019 Leia a notícia na íntegra: https://www.terra.com.br/noticias/dino/qual-o- -papel-das-cotas-na-garantia-de-diversidade-nas-instituicoes,83454da- 1ca3ca45e04d1316b6d79d1feei1hzv9p.html NA PRÁTICA O Brasil foi um dos últimos países do mundo a abolir a escravidão em seus territórios e, a forma em que foi feito o processo do pós-abolição é até hoje duramente criticado, devido a exclusão que a população negra e mulata sofreu em nossa sociedade. Por décadas se construiu o mito de que o Brasil seria uma democracia racial, que as raças que a compunham viviam em harmonia e não exis- tiriam confl itos entre elas. Entretanto, com os passar dos anos é difícil vermos a inserção dos negros no mercado de trabalho e acesso de carreira em grandes empresas. Ao mesmo tempo, podemos questionar quantos negros conhecemos com ensino superior completo? Ou com títulos de mestres e doutores? Ao fazermos essas refl exões, percebe- mos como passados 130 anos da abolição da escravidão, os processos de pós-abolição ainda não se encerraram. Até hoje estão sendo criados mecanismo para tentar integrar o negro na sociedade. 81 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S GABARITOS CAPÍTULO 03 Questões de concursos 01 02 03 04 05 B C C E Certo 06 07 08 09 10 B D Errado E E QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO DE RESPOSTA É importante ressaltarmos a miscigenação de povos que ocorreu no Brasil para pensarmos sobre a construção das diversas interações culturais que aconteceram e a formação das diversas culturas presentes em território nacional. Devemos salientar que culturas relacionadas a alguns povos ou cama- das sociais ainda sofrem muito preconceitos e são estereotipadas na sociedade brasileira. Um exemplo disso, são as religiões de matrizes africanas, que constantemente sofrem perseguição ou são vítimas de ataques por grupos intolerantes. Além disso, culturas populares e de população rural são vistas ainda como inferiores por diversos grupos da população brasileira e sofrem chacotas dos mais variados tipos. Esses estereótipos e preconceitos que muitos brasileiros carregam sobre determinadas culturas e povos que compõem nosso país apresentam a noção de como a mentalidade nacional é carregada de preconceitos culturais. Só através de uma boa formação, uma educação de qualidade e o maior acesso ao público, sobre as diferenças culturais que compõem nosso país, conseguiremos quebrar esses estereótipos e preconceitos que penduram até os dias de hoje. TREINO INÉDITO Gabarito: C 82 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S No módulo Introdução à Antropologia aprendemos a importân- cia da Antropologia enquanto ciência para a vida do homem e como ela é determinante para compreendermos os impactos da industrialização e modernização que o homem passa constantemente em seu cotidiano. A Antropologia ajuda compreender como o homem se compor- ta, se relaciona, como a modernização afeta seus hábitos cotidianos e costumes. Além disso, vimos que, constantemente a cultura humana passou por transformações e foi interpretada de novas formas. Essas novas interpretações são por conta das grandes mudanças que a in- dustrialização, a urbanização e os meios de comunicação de massa transformaram as sociedades. Vimos que os métodos e teorias antropológicas passaram por constantes transformações, e alguns se penduram até os dias de hoje, nas aplicabilidades das pesquisas da área. Assim, notamos que diver- sas abordagens conseguem conviver lado a lado nas áreas das Ciên- cias Humanas. Os principais antropólogos e o contato com outras áreas do conhecimento, como sociologia, fi losofi a, história e a etnografi a fo- ram fundamentais para a elaboração de novas interpretações sobre o comportamento e hábitos do homem. Não podemos esquecer que o campo antropológico no Brasil teve um fl orescimento tardio, mas com interpretações de grande impac- to sobre a realidade nacional. Temas como a urbanização, racismo, gê- nero, sexualidade, comunidades indígenas e quilombolas fi zeram parte das primeiras indagações dos cientistas sociais aqui no país. 83 LI Ç Õ ES P R EL IM IN A R ES D E A N TR O P O LO G IA B R A SI LE IR A - G R U P O P R O M IN A S BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016. BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibili- dade técnica in: Obras escolhidas. São Paulo, Brasiliense, 1987. 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