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EDUCAÇÃO, DIREITOS 
HUMANOS E 
CIDADANIA
PROFESSORA
Me. Francieli Muller Prado
ACESSE AQUI 
O SEU LIVRO 
NA VERSÃO 
DIGITAL!
https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/1001
EXPEDIENTE
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. 
Núcleo de Educação a Distância. PRADO, Francieli Muller.
Educação, Direitos Humanos e Cidadania. 
Francieli Muller Prado.
Maringá - PR.: UniCesumar, 2020. Reimpresso 2021.
144 p.
“Graduação - EaD”. 
1. Educação 2. Direitos 3. Cidadania. EaD. I. Título. 
FICHA CATALOGRÁFICA
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 
Coordenador(a) de Conteúdo 
Eder Rodrigo Gimenes
Projeto Gráfico e Capa
Arthur Cantareli, Jhonny Coelho
e Thayla Guimarães
Editoração
Juliana Duenha
Design Educacional
Jociane Karise Benedett
Revisão Textual
Diego Delavega Marques
Ilustração
Marta Kakitani
Fotos
Shutterstock CDD - 22 ed. 379.26 
CIP - NBR 12899 - AACR/2
ISBN 978-85-459-2075-5
Impresso por: 
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679
Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional 
Débora Leite Diretoria de Graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria 
de Pós-graduação, Extensão e Formação Acadêmica Bruno Jorge Head de Produção de Conteúdos Celso 
Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos 
Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão 
de Projetos Especiais Yasminn Zagonel
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de 
Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de 
EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi 
DIREÇÃO UNICESUMAR
BOAS-VINDAS
Neste mundo globalizado e dinâmico, nós tra-
balhamos com princípios éticos e profissiona-
lismo, não somente para oferecer educação de 
qualidade, como, acima de tudo, gerar a con-
versão integral das pessoas ao conhecimento. 
Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profis-
sional, emocional e espiritual.
Assim, iniciamos a Unicesumar em 1990, com 
dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, 
temos mais de 100 mil estudantes espalhados 
em todo o Brasil, nos quatro campi presenciais 
(Maringá, Londrina, Curitiba e Ponta Grossa) e 
em mais de 500 polos de educação a distância 
espalhados por todos os estados do Brasil e, 
também, no exterior, com dezenasde cursos 
de graduação e pós-graduação. Por ano, pro-
duzimos e revisamos 500 livros e distribuímos 
mais de 500 mil exemplares. Somos reconhe-
cidos pelo MEC como uma instituição de exce-
lência, com IGC 4 por sete anos consecutivos 
e estamos entre os 10 maiores grupos educa-
cionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos edu-
cadores soluções inteligentes para as neces-
sidades de todos. Para continuar relevante, a 
instituição de educação precisa ter, pelo menos, 
três virtudes: inovação, coragem e compromis-
so com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, 
para os cursos de Engenharia, metodologias ati-
vas, as quais visam reunir o melhor do ensino 
presencial e a distância.
Reitor 
Wilson de Matos Silva
Tudo isso para honrarmos a nossa mis-
são, que é promover a educação de qua-
lidade nas diferentes áreas do conheci-
mento, formando profissionais cidadãos 
que contribuam para o desenvolvimento 
de uma sociedade justa e solidária.
P R O F I S S I O N A LT R A J E T Ó R I A
Me. Francieli Muller Prado
Licenciatura e Bacharelado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de 
Maringá-PR (2013). Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais 
da Universidade Estadual de Maringá, na linha de pesquisa Dinâmicas Urbanas e 
Políticas Públicas. Especialização em Gestão de Projetos pelo Centro Universitário 
de Maringá (2016). Desenvolvedor de pesquisas na área de Antropologia Urbana, 
Antropologia Visual (Vídeo e Foto-Elicitação). Atuante na área de Inovação Social, 
Empreendedorismo Social e Responsabilidade Social.
http://lattes.cnpq.br/5329262896894768
A P R E S E N TA Ç Ã O D A D I S C I P L I N A
EDUCAÇÃO, DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA
A aprendizagem e a integração dos direitos humanos possuem relação com conhecer, possuir, 
planejar e agir. Assim, o(a) aluno(a) assume uma responsabilidade única, a partir do momento 
que passa a conhecer os direitos humanos como inalienáveis, pertencentes a todos, e ao saber 
que são uma ferramenta de organização, uma estratégia única para o desenvolvimento econô-
mico, humano e social. Desse modo, a própria escrita sobre a temática dos direitos humanos 
nos engaja em um trabalho de amor para mudar o mundo, de modo a integrar aprendizagem 
significativa dos direitos humanos em todos os níveis da sociedade, o que leva ao planejamento 
positivo das ações.
Proponho alguns questionamentos: de fato, todos nós conhecemos inerentemente os direitos 
humanos? Sabemos quando a injustiça é presente? Ainda, temos a noção de que a justiça é a 
expressão máxima dos direitos humanos? Espontaneamente, deveríamos confiar e respeitar 
o outro, internalizando e socializando os direitos humanos como um modo de vida. Não só, 
mas aprender que esses direitos exigem mútuo respeito e que todos os conflitos devem ser 
resolvidos por intermédio deles.
Teremos a oportunidade de refletir sobre como os Direitos Humanos são uma ferramenta po-
derosa para ação contra a desintegração social, pobreza e intolerância. Com o conhecimento 
acerca dos direitos humanos, podemos nos unir para mudar um mundo onde o sistema é, por 
vezes, injusto, em que justiça é injusta e mulheres e homens trocam a sua igualdade por sua 
sobrevivência.
Este livro aspira evocar um diálogo e discussões que levem ao pensamento crítico e à análise 
sistêmica do futuro da humanidade que todos esperamos gerar. Nas páginas a seguir, você 
terá contato com uma estrutura que traça o caminho para compreensão dos principais temas 
relacionados aos Direitos Humanos: educação, cidadania, minorias, política e desigualdade.
A indivisibilidade, interconexão e inter-relação desses temas, as quais serão atestadas a seguir, 
são essenciais para a compreensão dos direitos humanos, que desafiam você a refletir sobre 
os aspectos morais, políticos e as implicações dos direitos humanos. Ao integrarmos os temas 
e as abordagens compartilhadas no livro, esperamos despertar um senso de responsabilida-
de, a fim de que você se torne um multiplicador de direitos humanos como um modo de vida.
ÍCONES
Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece? Este ele-
mento ajudará você a conceituá-la(o) melhor da maneira mais simples.
conceituando
No fim da unidade, o tema em estudo aparecerá de forma resumida 
para ajudar você a fixar e a memorizar melhor os conceitos aprendidos. 
quadro-resumo
Neste elemento, você fará uma pausa para conhecer um pouco 
mais sobre o assunto em estudo e aprenderá novos conceitos. 
explorando Ideias
Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e 
transformar. Aproveite este momento! 
pensando juntos
Enquanto estuda, você encontrará conteúdos relevantes 
online e aprenderá de maneira interativa usando a tecno-
logia a seu favor. 
conecte-se
Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar 
Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo 
está disponível nas plataformas: Google Play App Store
CONTEÚDO
PROGRAMÁTICO
UNIDADE 01 UNIDADE 02
UNIDADE 03
UNIDADE 05
UNIDADE 04
FECHAMENTO
INTRODUÇÃO AOS 
DIREITOS
HUMANOS
8
DIREITOS
HUMANOS
E A CONSTRUÇÃO DA 
CIDADANIA
34
58
TRATADOS DE
DIREITOS
HUMANOS E SEUS 
IMPACTOS NA 
EDUCAÇÃO
84
DIREITOS HUMANOS 
NO
CONTEXTO
DA POBREZA E DAS 
POLÍTICAS PÚBLICAS
110
QUESTÕES
CONTEMPORÂNEAS
DE DIREITOS 
HUMANOS
134
CONCLUSÃO GERAL
1INTRODUÇÃO AOS 
DIREITOS
humanos
PLANO DE ESTUDO 
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Introdução aos direitos humanos 
• Definição de direitos humanos • Origem dos direitos humanos no mundo • Principais fatos históricos 
da Constituição dos Direitos Humanos • Os direitos humanos no Brasil.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 
Compreender os pressupostos que serviram como base para a constituição dos direitos humanos no 
mundo e no Brasil • Estudar as principais definições conceituais que envolvem os direitos humanos e 
como ele evoluiu ao longo da história • Conhecer a origem dos direitos humanos • Evidenciar os prin-
cipais fatos históricos que constituíram os direitos humanos no Brasil e no mundo • Saber mais sobre 
o desenvolvimento dos direitos humanos no Brasil.
PROFESSORA 
Me. Francieli Muller Prado
INTRODUÇÃO
Os direitos humanos, por definição, devem ser aplicados a todos os seres 
humanos. Na prática, contudo, eles são distribuídos de forma desigual e, às 
vezes, até considerados como algo “merecido” apenas por alguns.
Em um breve passeio pelas periferias das grandes cidades brasileiras, 
podemos observar que alguns serviços básicos, que deveriam ser garanti-
dos como direitos humanos – como educação, saúde, saneamento e justiça 
–, são cada vez mais difíceis de ser alcançados. Isso é contrário ao próprio 
conceito garantido pela Declaração de Direitos Humanos, da ONU, ou, 
neste caso, mais, diretamente pela Constituição Brasileira em si.
O conceito de cidadania, por vezes, apresenta-se como algo ambíguo, 
pois, embora a cidadania supostamente traga direitos iguais para todos, 
na prática, reflete desigualdades históricas. A distribuição de direitos não 
é apenas sobre o que está escrito em uma constituição, mas sobre como 
esses direitos são, de fato, aplicados, frequentemente baseados, em enten-
dimentos herdados de quem, em uma determinada sociedade, é entendido 
como digno.
Com base nesta breve introdução, partiremos do início, ou seja, da com-
preensão histórica da evolução dos direitos humanos no mundo e no Brasil. 
Essas reflexões servirão como base para as discussões seguintes, quando 
avançamos na discussão acerca das inúmeras implicações concernentes ao 
conceito e aplicação dos direitos humanos na sociedade contemporânea. 
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INTRODUÇÃO AOS
DIREITOS
humanos
Olá, aluno(a), seja muito bem-vindo(a)! Nesta unidade, iniciaremos os nossos 
estudos compreendendo a origem dos direitos humanos no mundo e no Bra-
sil, sobretudo como eles surgiram e quais foram as bases de sua constituição. 
Esse aprendizado será fundamental para avançarmos em nossas discussões.
Existe um consenso, no mundo de hoje, que todos os seres humanos têm 
direitos a uma existência digna. Nesse sentido, os seres humanos, em todos os 
lugares, podem e devem exigir a realização de valores diversos para assegurar o 
seu bem-estar coletivo. No entanto, essas exigências ou direitos são negados por 
intermédio da exploração, opressão, perseguição etc. em muitos países do mundo. 
A discussão acerca dos direitos humanos ganhou mais atenção a nível interna-
cional após a Segunda Guerra Mundial, acontecimento em que milhões de pessoas 
perderam suas vidas. Horrorizados pela devastação da vida causada pelo Segunda 
Guerra, membros da Organização das Nações Unidas (ONU), comprometeram-se 
a tomar medidas para a realização do respeito universal e a observância dos seus 
direitos humanos e do direito à liberdade para todos. O termo direitos humanos, 
usado desde a Segunda Guerra Mundial, ganhou importância nos debates contem-
porâneos e se tornou um fenômeno universal após a adoção da Declaração Universal 
dos Direitos Humanos (DUDH) em 10 de dezembro de 1948, pelos Estados Unidos.
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Como a Segunda Guerra Mundial levou às nossas modernas leis de direitos humanos? 
Nos anos 30 e 40, cerca de seis milhões de judeus e milhões de outros, incluindo romanos, 
homossexuais e pessoas com deficiência, morreram nas mãos dos nazistas. O surto da 
Segunda Guerra Mundial levou a uma perseguição muito mais selvagem, incluindo assas-
sinatos em massa. Essa política de tratamento cruel e genocídio deliberado e sistemático 
em toda a Europa ocupada pelos alemães chocaram o mundo. Depois que os nazistas 
foram derrotados pelas Forças Aliadas na Segunda Guerra Mundial, o mundo se uniu 
para estabelecer padrões mínimos de dignidade a serem concedidos a todos os seres hu-
manos. Esses padrões mínimos se tornaram conhecidos como direitos humanos, foram 
registrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos e executados na Europa sob 
a Convenção de Direitos Humanos. Os artigos da Convenção que proíbem a tortura, a es-
cravidão e o trabalho forçado visavam claramente limitar o tratamento bárbaro à história.
Fonte: a autora.
explorando Ideias
Você sabia que os direitos humanos envolvem direitos e obrigações? Os Estados assu-
mem obrigações e deveres sob o direito internacional de respeitar, proteger e cumprir os 
direitos humanos. No nível individual, apesar de termos nossos direitos humanos, tam-
bém devemos respeitar os direitos humanos de outras pessoas. 
pensando juntos
Essa ação foi compreendida, por muitos, como um sinal de otimismo para uma 
melhor proteção, promoção e aplicação dos direitos humanos. No entanto, 50 
anos desde a adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos, foi relatado 
que os abusos dos direitos humanos não diminuíram. O mundo está repleto de 
exemplos de violações de direitos básicos, como censura, discriminação, prisões 
políticas, torturas, escravidão, desaparecimentos, genocídios, execuções extraju-
diciais, detenções, assassinatos arbitrários, pobreza etc. Não só, mas os direitos 
de mulheres e crianças também são ignorados de muitas maneiras diferentes.
Os princípios dos direitos humanos foram elaborados como uma forma de ga-
rantir que a dignidade de todos sejam igualmente respeitadas, isto é, para garantir 
que um ser humano seja capaz de desenvolver e usar plenamente suas qualidades 
humanas e satisfazer suas necessidades sociais e de sobrevivência.
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A dignidade dá, ao indivíduo, um senso de valor e a existência de direitos hu-
manos demonstra que os indivíduos estão cientes do valor um do outro. Assim, a 
dignidade humana não é um sentido individual, exclusivo e isolado, pois faz parte 
de nossa humanidade comum. Desse modo, os direitos humanos nos permitem 
respeitar um ao outro e vivermos uns com os outros. Em outras palavras, eles não 
são apenas direitos a serem solicitados ou exigidos, mas a serem respeitados, isto 
é, os direitos que se aplicam a você também se aplicam aos outros.
A negação dos direitos humanos e das liberdades fundamentais não somente é 
um problema individual e pessoal, mas também cria condições para a ordem social e 
política, de modo a evitar casos de violência e conflito dentro e entre sociedades e nações.
Os direitos humanos são universais e inalienáveis, indivisíveis, interdepen-
dentes e inter-relacionados. Eles são universais, porque todos nascem e possuem 
os mesmos direitos, independentemente de onde moram, do sexo, da raça ou 
religião, da origem cultural ou étnica. Inalienáveis, pois os direitos das pessoas 
nunca podem ser levados embora. Indivisíveis e interdependentes, uma vez que 
todos os direitos – políticos, civis, social, cultural e econômico – são iguais em 
importância e nenhum pode ser totalmente apreciado sem os outros.
Desse modo, os direitos humanos se aplicam a todos igualmente e todos têm 
o direito de participar de decisões que afetam as suas vidas. Tal direito (participa-
ção) é mantido pelo Estado de Direito e fortalecido por meio de reivindicações 
legítimas de compromisso dos responsáveis por padrões internacionais, como o 
caso do voto, por exemplo.
Agora que entendemos a gênese dos direitos humanos, falaremos um pouco 
de sua história. Sobre isso, vale destacar que os direitos humanos passaram por 
uma grande transformação– ao que entendemos por direitos humanos hoje – no 
decorrer da Segunda Guerra Mundial, por respostas à experiência do nazismo 
(e, em menor grau, ao stalinismo).
Entre as primeiras manifestações dessa transformação, estava o estabelecimento 
de crimes contra a humanidade como uma ofensa no direito internacional, o que 
permitiu a acusação de chefes de estado por crimes que violam os direitos da huma-
nidade. Assim, a concepção da ideia de “o genocídio” e, em seguida, a aprovação da 
Convenção sobre Genocídio, que foram desencadeados em parte pelo Holocausto, 
abriram novos caminhos, à medida que procuravam transformar os direitos huma-
nos em algo tangível e que nenhum poder poderia anular, impunemente.
Nessa perspectiva, a ascensão dessa estrutura de direitos humanos foi explo-
rada por meio do legado do Tribunal de Nuremberg. Esse tribunal, que levou 13 
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julgamentos realizados em Nuremberg, Alemanha, entre 1945 e 1949, foi realiza-
do com o objetivo de levar os criminosos de guerra nazistas à justiça. Esse evento 
foi muito significativo para a consolidação dos direitos humanos, uma vez que 
materializava um senso de justiça aclamado pelo mundo todo.
No entanto, o desenvolvimento da Guerra Fria (1947 – 1991) e de novas formas 
de nacionalismo colocaram um ponto de interrogação sobre até onde se conseguiu 
responsabilizar os mais violentos abusos de poder. Assim sendo, podemos sinalizar, 
ainda, os eventos contemporâneos de violência de países, guerras civis etc.
Na teoria, não podemos falar de direitos humanos sem falar de Jürgen Ha-
bermas, que procurou explorar as ramificações dos direitos humanos. O autor 
trouxe, em suas discussões, a teorização dos direitos humanos sobre a constitu-
cionalização do direito internacional. Assim:
 “ No entendimento de Habermas, “direito”, na expressão “direitos humanos”, é um conceito jurídico, donde direitos humanos, para ele, serem direitos jurídicos, normas legais declaradas em atos de 
fundações do Estado ou anunciadas em convenções do direito inter-
nacional e/ou constituições estatais. Ao conceber assim os direitos e 
tematizar os direitos humanos numa abordagem tríplice (focando-
-os entre moral, direito e política), ele fornece diferentes definições 
teóricas dos direitos humanos (LOHMANN, 2013, p.1 ).
Para o autor, na aplicação dos direitos humanos além das fronteiras do estado-na-
ção, tem-se, como fundamento, as responsabilidades do poder, sobretudo de pre-
venir ou de impedir atrocidades que ocorrem em outros Estados (LOHMANN, 2013).
Habermas (1999) apresenta uma crítica aos regimes neoliberais de direitos 
humanos, os quais restringem os direitos humanos às liberdades negativas dos 
cidadãos que adquirem um status imediato em relação à economia global. Além 
disso, o autor menciona os direitos básicos para a provisão de condições de vida, 
que são social, tecnológica e ecologicamente salvaguardados. No entanto, assim 
como ele explica, esses direitos devem ser entendidos como derivados dos direitos 
liberais e políticos clássicos (HABERMAS,1999).
Ainda de acordo com a “prioridade” aos direitos sociais e culturais, os direitos 
básicos não fazem sentido, pela simples razão de que eles servem apenas para ga-
rantir o “valor justo” dos direitos básicos liberais e políticos, isto é, os pressupostos 
para a igualdade de oportunidades para exercer direitos individuais. Em outras 
palavras, o direito de exigir, para garantir uma condição de vida socialmente dig-
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DEFINIÇÃO DE
DIREITOS
humanos
na, deve ser entendido como um direito que as pessoas as quais vivem dentro de 
ordens liberais e democráticas podem exigir da sociedade como uma condição 
necessária para o exercício de direitos civis e políticos iguais.
Nessa perspectiva, como tal, o direito à subsistência não deve ser entendido como 
um direito humano universal e que se aplica a qualquer pessoa, não importa em que 
tipo de sociedade ela viva. Ele deve ser entendido como menos universal, como um di-
reito político destinado a salvaguardar a solidariedade igualitária, sem a qual a cidadania, 
em qualquer sociedade liberal e democrática, seria impensável (HABERMAS,1999).
Vale destacar que uma das características distintivas da teoria dos direitos huma-
nos do discurso de Habermas (1999) é o fato de que o estudioso concebe os direitos 
humanos em termos institucionais, e não interacionais, ou seja, por meio da interação 
entre os indivíduos. Nessa perspectiva, para o autor, não há razão para esperar que os 
seres humanos possam chegar a um consenso universal sobre interesses gerais, a menos 
que assumam, como uma ideia reguladora, que compartilham uma natureza comum.
Existem várias definições contemporâneas de direitos humanos. A ONU de-
finiu direitos humanos como aqueles inerentes ao nosso estado de natureza e 
sem os quais nós não podemos viver como seres humanos. Os direitos humanos 
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pertencem a todas as pessoas e não 
dependem das especificidades do 
indivíduo: são os direitos que todos 
possuem igualmente, em virtude de 
sua humanidade. 
Christian Bay (1982) definiu direi-
tos humanos como quaisquer reivin-
dicações que devam ter proteção legal 
e moral para assegurar que os direitos 
humanos podem ser definidos como 
os direitos mínimos que cada indiví-
duo deve ter contra o Estado ou outra 
autoridade pública, em virtude de ser 
um membro da família humana. 
No preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, é des-
crito que “o reconhecimento da dignidade inerente e dos direitos iguais e inaliená-
veis de todos os membros da família humana é o fundamento da liberdade, justiça 
e paz no mundo” (ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, 2009, p. 2).
Assim como fora descrito na Declaração dos Direitos humanos, os direitos 
humanos, em um sentido geral, denotam os direitos dos cidadãos. Contudo, num 
sentido mais específico, constituem aqueles direitos que se tem precisamente por 
ser humano. 
 Nas palavras de Freeden (1996), um direito humano é um dispositivo con-
ceitual, expresso em forma linguística, que confere prioridade a certos atributos 
humanos ou sociais, os quais são considerados essenciais para o adequado funcio-
namento de um ser humano. Não só, mas se destina a servir como proteção para 
aqueles atributos e apela para uma ação deliberada, a fim de garantir tal proteção. 
Scot Davidson (1992) definiu os direitos humanos como intimamente ligados à 
proteção de indivíduos do exercício do governo ou autoridade estadual em certas 
áreas de suas vidas. Isso é também direcionado para a criação de condições sociais 
pelo estado em que os indivíduos podem desenvolver seu potencial máximo. 
Com base nas contribuições desses autores, pode-se afirmar que os direitos 
humanos podem ser definidos como aqueles sem os quais os seres humanos não 
podem viver com dignidade, liberdade (política, econômica, social, cultural) e 
justiça em qualquer nação ou estado, independentemente da cor, local de nasci-
mento, etnia, raça, religião, sexo ou quaisquer outras considerações. Esses direitos 
Figura 1 – Nuvem de palavras / Fonte: a autora.
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são inerentes à natureza do ser humano e, portanto, garantidos e protegidos pelo 
Estado, sem distinção de qualquer tipo.
Quando tais direitos são negados a um indivíduo, seja pelos atores estatais 
ou não-estatais, constituem-se violações dos direitos humanos. Quando ocorrem 
violações em larga escala de tais direitos para qualquer comunidade ou grupo de 
pessoas em suas vidas cotidianas, podemos categorizar como abuso dos direitos 
humanos. Por exemplo, quando ocorrem prisões, assassinatos, tortura, estupro, 
legislações repressivas, discriminação etc., essas ações podem ser contra qualquer 
comunidade ou setores da sociedade, por atores estatais ou não-estatais, com o 
objetivo de suprimir a aspiração ou demanda de um grupo em particular por 
padrão de vida em relação a outros grupos naquele país.
Além disso, o conceitode direitos humanos pode ser entendido como uni-
versal, incontroverso e subjetivo. Os direitos humanos são universais, já que per-
tencem a todo ser humano, sem qualquer distinção de etnia, raça, gênero, religião 
ou tipo de governo. São incontroversos, isto é, absolutos e inatos. Além disso, são 
subjetivos, pelo fato de que são propriedades de indivíduos que as possuem por 
causa de sua capacidade pela racionalidade, agência e autonomia.
Hoje, o conceito de direitos humanos inclui os direitos civis e políticos ou os 
direitos públicos, liberdades, necessidades econômicas, sociais e culturais, particu-
larmente no que diz respeito ao ambiente e à autodeterminação. Assim como fora 
exposto, é responsabilidade do Estado proteger e promover os direitos humanos. É, 
também, dever do Estado criar condições para a existência da paz, que permite que 
os direitos humanos sejam usufruídos por todos os indivíduos nesse estado. Toda-
via, com o crescente risco de violação dos direitos humanos, decorrente das ativida-
des do Estado, muito tem-se questionado acerca da legitimidade desse direito em 
nossa sociedade. Um exemplo dessas violações são os decorrentes assassinatos de 
civis e crianças envolvendo policiais na ativa (em serviço e fora de serviço).
 Segundo levantamento realizado pelo Monitor da Violência, do Núcleo de 
Estudos da Violência da USP e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o 
Brasil teve 6.160 pessoas mortas por policiais no ano de 2018 – um aumento de 
18% em relação ao ano anterior, quando foram registradas 5.225 vítimas (VE-
LASCO; CAESAR; REIS, 2019, on-line)¹. 
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ORIGEM DOS
DIREITOS
humanos no mundo
O termo direitos humanos entrou em vigor após a Segunda Guerra Mundial, par-
ticularmente, com a fundação das Nações Unidas, em 1945. Substituiu o termo 
direitos naturais, porque se tornou uma questão de grande controvérsia e o termo 
posterior, os direitos do homem, não era compreendido universalmente para a 
inclusão dos direitos das mulheres. É comum, na filosofia política e entre os estu-
diosos, sugerir que os antecedentes dos direitos e liberdades contemporâneos são de 
origens históricas dos direitos humanos da Grécia e da Roma antigas, os quais estão 
intimamente ligados às doutrinas pré-modernas da lei natural do estoicismo grego. 
A doutrina dos direitos humanos surgiu sob a forma de direitos naturais nos 
escritos políticos de Thomas Hobbes, os quais foram chamados de “Leviatã”. A 
chave para a filosofia política deste estudioso é a sua doutrina do estado de na-
tureza, na qual é descrita a pré-situação política da condição humana. Segundo 
Hobbes (1997), todos os homens são iguais e cada um é dominado pelo desejo de 
autopreservação. Na referida obra, o estudioso afirmou que todos os indivíduos 
possuem liberdades e liberdades simples, que são correlacionadas com deveres e 
obrigações por parte de outros.  Para Hobbes (1997), o direito da natureza (direi-
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tos naturais) é definido como o direito à autopreservação, que é imediatamente 
em contraste com a lei da natureza (lei natural), que proíbe indivíduos de fazerem 
algo destrutivo em suas vidas ou de omitir os meios de auto-preservação.
Nesse sentido, para que a ideia de direitos humanos (naturais) se consolide 
como uma necessidade social geral, certas mudanças básicas nas crenças e nas 
práticas da sociedade tinham que acontecer. Além disso, quando a resistência à 
intolerância religiosa e à escravidão econômica começou, a longa transição para 
as noções liberais de liberdade e igualdade, particularmente em relação ao uso e à 
posse de propriedade, foi o fundamento do conceito moderno de direitos humanos. 
Os escritos de Tomás de Aquino (1224-1274) e as Leis da Guerra e da Paz 
explicam que os direitos naturais surgiram com a defesa de que os homens ti-
nham o direito de realizar reivindicações pela proteção de sua vida, liberdade e 
propriedade. Nesse sentido, Locke (1997, p. 11) afirma que:
 “ Homem que está nascendo com um pouco para aperfeiçoar a liberda-de e para um descontrolado gozo de todos os direitos e privilégios da lei da natureza, igualmente com qualquer outro homem por natureza 
não só para preservar sua propriedade, sua vida, liberdade e proprie-
dade contra os ferimentos e tentativas de outros homens, mas julgar 
e punir as violações da lei em outros (LOCKE, 1997, p. 11).
Ainda de acordo com Hobbes (1997) e John Locke (1997), existem muitos direi-
tos naturais, mas todos eles são inferências de um direito original, que é o direito 
de um indivíduo de preservar sua vida. O que é intrinsecamente correto não é 
mais o que é requerido ou o que participa da boa vida: é o que é subjetivamente 
considerado pelo indivíduo como necessário à sua segurança.
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PRINCIPAIS FATOS 
HISTÓRICOS
da constituição dos direitos 
humanos
A era moderna dos direitos humanos pode ser atribuída às lutas para acabar com 
a escravidão, o genocídio, a discriminação e a opressão do governo. Atrocidades 
durante a Segunda Guerra Mundial deixaram claro que os esforços anteriores 
para proteger os direitos individuais contra violações do governo eram inade-
quados. Assim, nasceu a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) 
como parte do surgimento das Nações Unidas (ONU). A DUDH foi o primeiro 
documento internacional que enuncia os direitos civis, políticos, econômicos, so-
ciais e culturais básicos que todos os seres humanos deveriam gozar. A declaração 
foi ratificada, sem oposição, pela Assembleia Geral da ONU em 10 de dezembro 
de 1948. Entretanto, antes disso, encontramos discussões, teorias e debates em 
torno dos direitos humanos. É isso que vamos discutir a partir de agora. 
ESCRITOS PRECURSORES DOS DIREITOS 
HUMANOS 
Os direitos humanos são produto de um debate filosófico que dura mais de dois 
mil anos, na busca de padrões morais de organização e comportamento político. 
O surgimento dos direitos humanos se deu a partir da tradição de que existe uma 
ordem moral cuja legitimidade precede condições sociais e históricas e se aplica a 
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todos os seres humanos em todos os lugares e em todos os momentos. Nessa visão, 
crenças e conceitos morais são capazes de serem validados como fundamentais e 
universalmente verdadeiros. As origens e o desenvolvimento da teoria dos direitos 
humanos estão ligados ao desenvolvimento do universalismo moral, ou seja, um 
sistema ético que é aplicado para todas as pessoas em situação semelhante.
Desse modo, entre esses documentos, podemos destacar a Carta Magna 
(1215), a Carta de Direitos Inglesa (1689), a Declaração Francesa Sobre os Direi-
tos do Homem e do Cidadão (1789) e a Declaração dos Direitos da Constituição 
dos EUA (1791), que foram os precursores dos direitos humanos no mundo e que 
inspiram os documentos até os dias de hoje. No entanto, vale destacar que muitos 
desses documentos, quando originalmente traduzidos em política, excluíam mu-
lheres, pessoas de cor e membros de certos grupos sociais, religiosos, econômicos 
e políticos, que foram incluídos na contemporaneidade. 
SÉCULO XIX
O direito internacional contemporâneo dos direitos humanos e o estabelecimen-
to da Organização das Nações Unidas (ONU) têm importantes antecedentes 
históricos. Esforços no século XIX para proibir o tráfico de escravos e limitar os 
horrores da guerra são exemplos primordiais. 
Em 1919, após o término da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), foram co-
locadas em pauta a necessidade e a preocupação de se estabelecer parâmetros inter-
nacionais de defesa dos grupos minoritários e das pessoas fragilizadas pelo impacto 
da guerra. Como resultado dessa preocupação, em 1919, foi criada a Organização 
Internacional do Trabalho, que tinha como objetivo principal proteger e garantir os 
direitos dos trabalhadores. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) foi incor-
porada à ONU como uma agência especializada em 1946. O objetivo da organização 
é servir como uma força deunião entre governos, empresas e trabalhadores, e enfatiza 
a necessidade de os trabalhadores gozarem de “condições de liberdade, equidade, 
segurança e dignidade humana” (OIT, [2019], on-line)².por meio do emprego.
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O NASCIMENTO DAS NAÇÕES UNIDAS
A Segunda Guerra Mundial durou de 1939 a 1945 e, à medida que o fim se apro-
ximava, cidades da Europa e da Ásia estavam em ruínas. Além disso, milhões de 
pessoas estavam mortas, ou desabrigadas e famintas. 
Em abril de 1945, delegados de cinquenta países se reuniram em São Francisco, 
com o objetivo de participar da Conferência das Nações Unidas. O propósito era 
que essa organização internacional formasse um organismo internacional para pro-
mover a paz e impedir futuras guerras. Assim, a Carta da Organização das Nações 
Unidas entrou em vigor em 24 de outubro de 1945, data que é comemorada todos 
os anos como o Dia das Nações Unidas. A Declaração Universal dos Direitos Hu-
manos inspirou várias outras leis e tratados de direitos humanos em todo o mundo.
Em 1948, a nova Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas havia 
capturado a atenção do mundo. Sob a presidência dinâmica de Eleanor Roosevelt – 
viúva do presidente Franklin Roosevelt, defensora dos direitos humanos e delegada 
dos Estados Unidos na ONU –, a Comissão decidiu redigir o documento que se 
tornaria a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Roosevelt, creditado com 
sua inspiração, referiu-se à Declaração como a Magna Carta Internacional para 
toda a humanidade. Foi adotada pelas Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948.
Em seu preâmbulo, a Declaração proclama os direitos inerentes a todos os seres 
humanos: 
 “ Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos huma-nos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os todos go-
zem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a 
salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta 
aspiração do ser humano comum (DUDH, 1948, p. 2).
Assim, “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos” 
(DUDH, 1948, p. 4).Os Estados-membros das Nações Unidas comprometeram-se 
a trabalhar juntos para promover os trinta Artigos de direitos humanos, que, pela 
primeira vez na história, foram reunidos e codificados em um único documento. 
Em consequência, muitos desses direitos, de várias formas, fazem, hoje, parte das 
leis constitucionais das nações democráticas.
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A partir deste discurso, vieram apelos de todo o mundo, em busca de padrões 
de direitos humanos para proteger os cidadãos dos abusos de seus governos. Essas 
vozes desempenharam um papel importante na reunião de São Francisco, que 
elaborou a Carta das Nações Unidas em 1945.
A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS 
HUMANOS (1948)
A Declaração Universal dos Direitos Humanos surgiu com o fim da segunda Guer-
ra Mundial. Com o término do conflito e a criação de Nações Unidas, a comunidade 
internacional se uniu com um objetivo comum: nunca mais suportar as atrocidades 
que o mundo acabara de testemunhar na guerra. A partir de então, os líderes do 
mundo decidiram ampliar a Carta das Nações Unidas, a fim de consagrar e enco-
rajar garantias para os direitos dos seres humanos em todo o mundo. 
A Assembleia Geral examinou os documentos entre setembro e dezembro de 
1948, com mais de 50 Estados-membros, os quais votaram 1.400 vezes em, pratica-
mente, todas as cláusulas e em praticamente todas as palavras do texto. Em dezembro 
de 1948, a Assembleia Geral, reunida em Paris, votou pela adoção DUDH com oito 
nações abstendo-se, mas nenhuma discordando. Foi um momento histórico e a As-
sembleia Geral apelou a todos os Estados-membros que divulgassem o texto da De-
claração e a tornasse disseminada, exibida, lida e exposta principalmente nas escolas. 
DOCUMENTOS SUBSEQUENTES SOBRE DIREITOS 
HUMANOS
Dos muitos instrumentos de direitos humanos elaborados, a ONU designou nove 
deles como principais tratados internacionais de direitos humanos. Eles incluem um 
tratado sobre direitos civis e políticos; um tratado sobre direitos econômicos, sociais 
e culturais; tratados para combater a discriminação racial e de gênero; tratados que 
proíbem a tortura e os desaparecimentos forçados; e tratados que protegem os direitos 
das crianças, trabalhadores migrantes e pessoas com deficiência. Para cada um desses 
tratados básicos, a ONU estabeleceu um painel de especialistas independentes, co-
nhecido como órgão do tratado, o qual é responsável por monitorar a implementação 
do tratado pelos Estados Partes que o ratificaram (SHIMAN,1993). 
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OS DIREITOS
HUMANOS
no Brasil
A Segunda Guerra Mundial trouxe um renascimento da atual teoria dos direitos 
humanos. Até 1945, a proteção internacional dos direitos humanos era confinada 
a tratados abolindo o tráfico de escravos, as leis de guerra e os direitos das mino-
rias, que foram concluídos após o Tratado de Versalhes (28 de junho de 1919). 
Foi depois de 1945 que os direitos de todos os indivíduos estão sob a proteção 
do direito internacional. Após a Segunda Guerra Mundial, as regras de compor-
tamento e de direitos estatais de indivíduos dentro dos estados foram reescritos 
em documentos internacionais autorizados, como a Carta dos Direitos Huma-
nos das Nações Unidas de 1945; a Declaração Universal dos Direitos Humanos 
Direitos de 1948; a Convenção do Genocídio de 1948; a revisão das Convenções 
de Genebra em 1949; a Convenção Europeia dos Direitos do Homem de 1950; e 
as Nações Unidas Organizações Educacionais, Científicas e Culturais, em 1945. 
Todos esses documentos surgiram com o impulso moral de reconstruir a mora-
lidade pública após a Segunda Guerra Mundial.  A Carta dos Direitos Humanos das 
Nações Unidas é dirigida aos Estados como atores morais, enquanto a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos (DUDH) trata do indivíduo humano.
A Carta das Nações Unidas, assinada em São Francisco, em 26 de junho de 
1945, foi um documento com suas raízes no passado e com possibilidades para 
futuro que só poderia ser imaginado. Não só, mas representou o desenvolvimento 
histórico da organização social da humanidade. Essas colocações foram baseadas, 
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em grande parte, na experiência do passado e era um compromisso com propó-
sitos e princípios, cuja realização se dava à luz das mudanças nas condições do 
mundo. É importante destacar que a Carta não apenas incorporava limitações à 
liberdade de ação de um Estado, mas também fez referência para o desenvolvi-
mento dos direitos humanos por meio da Constituição de cada nação.
A atual conjuntura de consolidação democrática pede uma lista mínima de 
pré-requisitos para manter a democracia – como a liberdade de opinião, expres-
são, associação e organização, eleições livres e competitivas, rotação em poder, 
mecanismos de responsabilização do governo, a capacidade dos movimentos so-
ciais participar abertamente na esfera pública. Nesse contexto, os compromissos 
do Estado com a proteção dos direitos humanos se constituem como um fator 
primordial na consolidação da cidadania.
No Brasil, a história dos direitos humanos está vinculada com a história das 
constituições brasileiras e com a importância delas à garantia dos direitos. Nesse 
contexto, a Constituição Imperial de 1824, que foi primeira constituição brasileira 
a ser outorgada após a dissolução da Constituinte, trouxe a inviolabilidade dos 
direitos civis e políticos que se baseavam na liberdade, na segurança individual 
e na propriedade. Já a Constituição de 1934 trouxe alguns pressupostos liberais, 
que, em alguma medida, garantiram alguns direitos adquiridos, além de:
 “ Vedar a pena de caráter perpétuo; proibiu a prisão por dívidas, multas ou custas; criou a assistência judiciária para os necessitados (assistên-cia esta, que ainda hoje, não é observada por grande parte dos Estados 
brasileiros); instituiu a obrigatoriedadede comunicação imediata de 
qualquer prisão ou detenção ao juiz competente para que a relaxasse, 
se ilegal, promovendo a responsabilidade da autoridade coatora, além 
de várias outras franquias estabelecidas (ALVES,2009,p.10).
Vale destacar que, além dessas garantias, a Constituição de 1934 trouxe novas 
normas de proteção social para os trabalhadores, estabelecendo igualdade de 
direitos de salário, sobretudo em relação à idade, ao sexo, à nacionalidade ou ao 
estado civil. Além disso: 
 “ Proibiu o trabalho para menores de 14 anos de idade, o trabalho noturno para os menores de 16 anos e o trabalho insalubre para menores de 18 anos e para mulheres; determinando a estipulação 
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de um salário mínimo capaz de satisfazer às necessidades normais 
do trabalhador, o repouso semanal remunerado e a limitação de tra-
balho a oito horas diárias que só poderão ser prorrogadas nos casos 
legalmente previstos, além de inúmeras outras garantias sociais do 
trabalhador (ALVES,2009, p.10).
Contrário aos avanços anteriores, a Constituição de 1967 apresentou alguns re-
trocessos referentes à liberdade, pautados em punições e arbitrariedades decre-
tadas pelos Atos Institucionais. Um aspecto a ser destacado nesse retrocesso é 
referente à redução de idade mínima para o trabalho, que foi para 12 anos. Além, 
ainda, de proibir movimentos grevistas e a liberdade de opinião e de expressão. 
Tudo isso representou um grande retrocesso dos direitos sociais.
A Constituição de 1967 esteve em vigor até 17 de outubro de 1969. Na prática, foi 
instaurado o mais terrível Ato Institucional, o AI-5, o que mais desrespeitou os direitos 
humanos no país, provocando uma revolta na sociedade civil, em jovens e estudantes.
A Constituição de 1988 veio como um alento, depois de um longo período 
de retrocessos sociais e nos direitos humanos. É justamente por esse motivo que 
a Constituição de 1988 foi chamada de Constituição Cidadã “porque ela mostrou 
que o homem tem uma dignidade, dignidade esta que precisa ser resgatada e que 
se expressa, politicamente, como cidadania” (ALVES,2009,p.13).
A Constituição de 1988, já no preâmbulo, trata sobre a dignidade da pessoa 
humana quando sustenta que:
 “ Inviolabilidade à liberdade e, depois, no artigo primeiro, com os fun-damentos e, ainda, no inciso terceiro (a dignidade da pessoa humana), mais adiante, no artigo quinto, quando fala da inviolabilidade do direito 
à vida, à liberdade, à segurança e à igualdade (ALVES, 2009, p. 13).
Desse modo, a Constituição de 1988 se apresenta como um marco importante 
para a consolidação dos direitos humanos no Brasil, inclusive como um dos prin-
cípios que regem as relações internacionais do país (ALVES,2009).
No campo dos direitos humanos, o Brasil teve destaque com a preparação e rea-
lização da Conferência Mundial de Direitos Humanos, a qual aconteceu em Viena, 
em 1993, onde foi presidido o comitê de redação da Declaração e do Programa de 
Ação, adotado pela conferência em 25 de junho de 1993. Já em 1996, foi assumida 
a presidência da 52ª Reunião da Comissão de Direitos Humanos da ONU.
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A Conferência Mundial de Direitos Humanos trouxe um maior envolvimen-
to dos países, sobretudo, nas discussões de medidas de proteção, promoção e 
implementação dos direitos humanos. O Brasil seguiu esse movimento e, por 
isso, a conferência foi um marco não só para o mundo, mas para o Brasil, uma 
vez que os direitos humanos começaram a ser defendidos e foram debatidas as 
formas de os países cumprirem a declaração.
Na década de 90, o então presidente Fernando Henrique Cardoso criou a 
Secretaria de Direitos Humanos, que era ligada ao Ministério da Justiça. Essa se-
cretaria foi responsável pelas primeiras políticas relacionadas aos direitos huma-
nos. Já em 1996, foi criado o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), 
estruturado com mais de 500 metas voltadas para os direitos civis e políticos.
No tocante aos direitos humanos, o Brasil escolheu, como linhas de atuação, a 
administração da Justiça, a defesa de crianças e adolescentes, a educação e a proteção 
de minorias e deficientes, seguindo os principais instrumentos da ONU (ALVES, 
2009). As políticas de direitos humanos foram aprofundadas no governo de Luiz 
Inácio Lula da Silva, quando o país começou a discutir políticas de enfrentamento 
à violação dos direitos e reformulou o Programa Nacional de Direitos Humanos. 
Foi criado, ainda, o Plano Nacional de Educação e Direitos Humanos.
Embora o governo brasileiro tenha se esforçado para corrigir os abusos dos 
direitos humanos, raramente responsabiliza os responsáveis pelas violações sig-
nificativas de direitos humanos no Brasil. A polícia é frequentemente abusiva e 
corrupta, as condições das prisões são péssimas e a violência rural e os conflitos 
fundiários estão em andamento. Os defensores dos direitos humanos sofrem 
ameaças e ataques. 
O que podemos observar é que, embora essas ações são positivas na garantia 
de avanços nos direitos humanos, no Brasil, a violência ainda é algo muito pre-
sente em várias instâncias sociais, sobretudo no que se refere aos direitos huma-
nos. Tudo isso, somado à violência desproporcional e à exclusão econômica de 
minoria, ilustram um cenário que necessita ser melhor desenvolvido. 
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitas pessoas consideram o desenvolvimento dos direitos humanos como uma 
das maiores conquistas do século XX. De fato, assim como observamos ao longo 
do livro, os direitos humanos não começaram exclusivamente com um movimen-
to político isolado, nem apenas com as Nações Unidas. Eles tiveram início com 
um movimento de várias frentes, que foram legitimadas por documentos que 
reivindicam os direitos individuais e se apresentam como precursores escritos 
dos instrumentos de direitos humanos.
Embora a estrutura internacional de direitos humanos se baseie em documen-
tos próprios, todos são inspirados e tomam, como direcionamento, principalmente, 
os documentos das Nações Unidas, que tratam os direitos humanos como uni-
versais: são sempre os mesmos e para todos os seres humanos em todo o mundo.
Nesse contexto, os direitos humanos não são garantidos a um sujeito, porque 
ele é cidadão de qualquer país, mas porque é membro da família humana. Isso 
significa que as crianças têm direitos humanos, bem como os adultos. Os direitos 
humanos são inalienáveis: não se pode perdê-los. Além disso, são indivisíveis: 
ninguém pode tirar um direito porque é “menos importante” ou “não essencial”.
Os direitos humanos são interdependentes e, juntos, formam uma estrutura 
complementar. Por exemplo, a sua capacidade de participar da tomada de deci-
sões locais é afetada diretamente pelo seu direito de se expressar, de se associar 
com os outros, de obter educação e até de obter as necessidades da vida.
Ademais, os direitos humanos refletem as necessidades humanas básicas, as 
quais são necessárias para que os indivíduos possam viver com dignidade. Desse 
modo, violá-los pressupõe que as pessoas não possuem a sua cidadania garantida. 
Assim, defender os direitos humanos é exigir que a dignidade humana de todas 
as pessoas seja respeitada.
28
na prática
1. Em 2018, foi publicado, no site do atual Ministério da Mulher, da Família e dos 
Direitos Humanos, um relatório que identifica violações de direitos humanos em 
comunidades quilombolas do Brasil (MDH, 2018, on-line)³. Com base nesse aconte-
cimento, pode-se afirmar que a violação desses direitos: 
a) Constitui violações dos direitos humanos de escala, as quais são cometidas re-
petidamente por indivíduos que não seguem as normas legais de convivência. 
Tais sujeitos não têm direitos assegurados, sobretudo os humanos. 
b) Atribui uma obrigação à população de apresentar relatórios periódicos para a 
apuração da responsabilidade dos Estados em relação aos direitos sociais.
c) Sugere que os direitos humanos não podem ser entendidos como universais, 
visto que cada país possui as suasnormas morais e legais, e deve ser considerada 
a sua distinção de etnia, raça, gênero, religião ou tipo de governo.
d) Constitui violações dos direitos humanos de escala, as quais são cometidas repe-
tidamente por atores estatais ou não-estatais a qualquer comunidade ou grupo 
de pessoas em suas vidas cotidianas.
e) Define o conceito de direitos humanos com a inclusão de direitos civis e sociais, 
apenas.
2. A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi criada em 10 de dezembro de 1948 
pela ONU, que, neste período, contava com 58 Estados-membros. Com base nessa 
afirmação, descreva qual é o principal objetivo dessa declaração. 
3. Trecho da música Comida, dos Titãs: 
[...] A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte
A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé [...].
https://www.mdh.gov.br/
https://www.mdh.gov.br/
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na prática
Com base no fragmento da música e nos conteúdos discutidos em nosso livro, reflita 
e descreva quais são os direitos que efetivamente são respeitados em seu bairro 
e/ou cidade.
4. Desde a sua criação, as Nações Unidas têm se esforçado para concretizar as pro-
messas feitas pela comunidade internacional ao ser humano individual. O fato de 
a organização ter ajudado a formular uma série de declarações e convenções é 
de grande importância. Com base no exposto, qual documento é de fundamental 
importância e apresenta as diretrizes para a consolidação dosdireitos humanos? 
a) A Carta Nacional dos Direitos Humanos marca uma das ações importantes rea-
lizadas pelas Nações Unidas com a intenção de promover os direitos humanos 
e as liberdades fundamentais.
b) O Pacto dos Direitos Civis e Políticos.
c) A Carta Americana, a qual marca uma das ações importantes realizadas pelas 
Nações Unidas com a intenção de promover os direitos humanos e as liberdades 
fundamentais.
d) A Assembleia Geral adotou a Declaração Universal, que reconhece a dignidade 
inerente e os direitos iguais e inalienáveis de todos os membros da família hu-
mana, em 10 de dezembro de 1948.
e) O Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
5. A Assembleia Geral confirmou que o pleno gozo de uma categoria de direitos de-
pende da realização das demais. Em outras palavras, todos os direitos humanos 
e as liberdades fundamentais são indivisíveis e inter-relacionadas. Além disso, a 
promoção e a proteção de uma categoria de direitos nunca deve isentar ou descul-
par os Estados da promoção e proteção de outra. Sobre essa afirmação, julgue as 
afirmativas a seguir: 
I - O exposto deixa claro que todos os direitos humanos são universais, indivisíveis, 
interdependentes e inter-relacionados.
II - Os esforços para promover uma categoria de direitos devem levar plenamente 
em consideração o progresso na implementação de outras categorias. 
30
na prática
III - Os direitos humanos são divisíveis e variam de acordo com o local.
IV - A negação de direitos civis e políticos tende a ter efeitos adversos no gozo de 
direitos econômicos e sociais. A negligência da proteção social e do bem-estar, 
geralmente, está relacionada com a incapacidade de grupos populacionais mais 
pobres e mais vulneráveis ou de pessoas como um todo de terem voz para 
influenciar as decisões.
É correto afirmar que:
a) Estão corretas apenas as afirmativas I, II e III.
b) Estão corretas apenas as afirmativas II e III.
c) Estão corretas apenas as afirmativas I, II e IV.
d) Estão corretas apenas as afirmativas IV e III.
e) Estão corretas apenas as afirmativas I e III. 
31
aprimore-se
CIDADANIA NO BRASIL
Em 1992, a polícia militar paulista invadiu a Casa de Detenção do Carandiru para 
interromper um conflito e matou 111 presos. Em 1992, policiais mascarados massa-
craram 21 pessoas em Vigário Geral, no Rio de Janeiro. Em 1996, em pleno Centro 
do Rio de Janeiro, em frente à Igreja da Candelária, sete menores que dormiam na 
rua foram fuzilados por policiais militares. No mesmo ano, em Eldorado do Carajás, 
policiais militares do Pará atiraram contra trabalhadores sem-terra, matando 19 de-
les. Exceto pelo massacre da Candelária, os culpados dos outros crimes não foram 
até hoje condenados. No caso de Eldorado do Carajás, o primeiro julgamento ab-
solveu os policiais. Posteriormente anulado, ainda não houve segundo julgamento. 
A população ou teme o policial, ou não lhe tem confiança. Nos grandes centros, as 
empresas e a classe alta cercam-se de milhares de guardas particulares para fazer 
o trabalho da polícia, fora do controle do poder público. A alta classe média entrin-
cheira-se em condomínios protegidos por muros e guaritas. As favelas, com menos 
recursos, ficam à mercê de quadrilhas organizadas que, por ironia, se encarregam 
da única segurança disponível. Quando a polícia aparece na favela é para trocar 
tiros com as quadrilhas, invadir casas e eventualmente ferir ou matar inocentes.
O Judiciário também não cumpre seu papel. O acesso à justiça é limitado a peque-
na parcela da população. A maioria ou desconhece seus direitos, ou, se os conhece, 
não tem condições de os fazer valer. Os poucos que dão queixa à polícia têm que 
enfrentar depois os custos e a demora do processo judicial. Os custos dos serviços 
de um bom advogado estão além da capacidade da grande maioria da população. 
Apesar de ser dever constitucional do Estado prestar assistência jurídica gratuita aos 
pobres, os defensores públicos são em número insuficiente para atender à demanda.
Ao lado dessa elite privilegiada, existe uma grande massa de “cidadãos simples”, de 
segunda classe, que estão sujeitos aos rigores e benefícios da lei. São a classe média mo-
desta, os trabalhadores assalariados com carteira de trabalho assinada, os pequenos 
funcionários, os pequenos proprietários urbanos e rurais. Podem ser brancos, pardos 
ou negros, têm educação fundamental completa e o segundo grau, em parte ou todo.
32
aprimore-se
Essas pessoas nem sempre têm noção exata de seus direitos, e quando a têm 
carecem dos meios necessários para os fazer valer, como o acesso aos órgãos e 
autoridades competentes, e os recursos para custear demandas judiciais. Frequen-
temente, ficam à mercê da polícia e de outros agentes da lei que definem na prática 
que direitos serão ou não respeitados. Os “cidadãos simples” poderiam ser localiza-
dos nos 63% das famílias que recebem entre acima de dois a 20 salários mínimos.
Para eles, existem os códigos civil e penal, mas aplicados de maneira parcial e 
incerta.
Finalmente, há os “elementos” do jargão policial, cidadãos de terceira classe. São 
a grande população marginal das grandes cidades, trabalhadores urbanos e rurais 
sem carteira assinada, posseiros, empregadas domésticas, biscateiros, camelôs, 
menores abandonados, mendigos. São quase invariavelmente pardos ou negros, 
analfabetos, ou com educação fundamental incompleta. Esses “elementos” são par-
te da comunidade política nacional apenas nominalmente. Na prática, ignoram seus 
direitos civis ou os têm sistematicamente desrespeitados por outros cidadãos, pelo 
governo, pela polícia. Não se sentem protegidos pela sociedade e pelas leis.
Fonte: Carvalho (2002).
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eu recomendo!
SEGURANÇA PÚBLICA, DIREITOS HUMANOS E VIOLÊNCIA
Autor: Rafael Fortes 
Editora: Luminária Academia 
Sinopse: o livro Segurança Pública, Direitos Humanos e Violência, 
projetado e coordenado pelo professor Rafael Fortes, seleciona e 
sistematiza tópicos críticos e densos. Entrevistas correlacionadas 
oferecem um conjunto eficaz. O elenco reúne vozes com timbres 
diferentes do nazi-fascismo, hoje, hegemônico, e que, embora 
não tenha destruído militarmente a humanidade na 2ª Grande Guerra, ainda nos 
oprime em trevas de fel e enxofre. Há o uso de argumentos das entrevistas aqui 
enfeixadas, sublinhando algumas pontuações críticas, enquanto notas para cote-
já-las com a pobre e linear visão positivista que o Direito brasileirotraduziu: dog-
matismo formal. Este medíocre pensar é útil e servente súcubo da elite sempre 
contente. Socialmente, representa constantes e crescentes alternativas de lesões 
enormes.
livro
Direitos Humanos, a Exceção e a Regra
Ano: 2008
Sinopse: a partir de imagens selecionadas por João Roberto Ri-
pper, o diretor faz um filme-denúncia sobre a situação dos direi-
tos humanos no Brasil, destacando os principais eventos e mo-
mentos marcantes da história do país nos últimos 40 anos. 
filme
O Armazém Memória é uma iniciativa de articulação e construção coletiva de um 
sítio na Internet, visando colaborar com o desenvolvimento de políticas públicas 
que possam garantir, ao cidadão brasileiro, o acesso à sua memória histórica, 
por meio de Bibliotecas Públicas Virtuais interligadas em um sistema de busca 
direta de conteúdo. Na plataforma, você encontra: coleções de periódicos, depoi-
mentos, livros, vídeos, áudios, artigos, documentos e imagens, obras de natureza 
histórica, jurídica e educativa com foco nos direitos humanos.
http://armazemmemoria.com.br/r 
conecte-se
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PLANO DE ESTUDO 
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Desigualdades e a sua relação 
com os direitos humanos • Cidadania e os direitos humanos • Movimentos sociais e a busca pela 
cidadania.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 
Entender as diferentes formas de constituição das desigualdades e a sua relação com os direitos huma-
nos • Abordar o que é cidadania e como os direitos humanos influenciam a sua consolidação • Refletir 
em que medida os movimentos sociais contribuem para a consolidação da cidadania na sociedade 
global e brasileira.
DIREITOS
HUMANOS
e a construção da cidadania
PROFESSORA
Me. Francieli Muller Prado
INTRODUÇÃO
O mundo assistiu a um aumento dramático das desigualdades de renda 
e de riqueza nas últimas três décadas, tornando o extremo contraste eco-
nômico uma das questões definidoras da atualidade. A indignação com a 
injustiça acerca da extrema desigualdade estimulou uma onda sem prece-
dentes de mobilização popular em todo o mundo, de modo a evidenciar o 
desequilíbrio econômico no debate político em muitos países. Desse modo, 
torna-se centralem compreender esse fenômeno, sobretudo a sua relação 
com os direitos humanos e os impactos na cidadania. 
Além disso, compreender essa relação se torna fundamental para ex-
plicar a busca do ser humano por um lugar e vida dignos, mantendo o 
seu direito de, participação plena na sociedade, o que, em grande medida, 
explicita seu direito de cidadania. No entanto, quando refletimos sobre, 
as noções de direitos humanos e de direitos de cidadania parecem ter co-
notações contraditórias, não é mesmo? Na realidade, as duas tendem a de-
sempenhar um papel de complementar o desenvolvimento e o bem-estar 
do ser humano na era da globalização. 
Esta unidade, portanto, procura fornecer uma reflexão sobre cidadania 
e direitos humanos, e como essa relação se tornou uma questão central para 
a política contemporânea. Desse modo, iniciamos nossos estudos com 
uma breve visão geral das teorias dos direitos humanos e da desigualdade, 
antes de abordarmos dois tópicos cruciais para essa relação: o direito hu-
mano à cidadania e o direito humano à democracia e participação social. 
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DESIGUALDADES E SUA
RELAÇÃO
com os direitos humanos
Olá aluno(a), seja muito bem vindo(a) à segunda etapa de nossa discussão. Neste 
momento, avançamos na compreensão de todo o arcabouço que contempla a 
discussão geral sobre direitos humanos e cidadania, com discussões de temas 
transversais ao conceito, como desigualdade, cidadania e movimentos sociais. 
Por desigualdade entendemos um estado de não igualdade, especialmente em 
status, direitos e oportunidades. Existem muitas discussões acerca dessas duas 
colocações, igualdade e desigualdade, à medida que tendem a significar coisas 
diferentes para diferentes pessoas. Muitos autores definem a desigualdade econô-
mica como sinônimo principalmente renda e desigualdade monetária ou, mais 
amplamente, de desigualdade em condições de vida. Outros distinguem ainda 
mais os direitos baseados em abordagem legalista da desigualdade – desigualda-
de de direitos e obrigações associadas (por exemplo, quando as pessoas não são 
iguais perante a lei ou quando têm poder político desigual).
No que tange à desigualdade econômica, grande parte da discussão pode resu-
mir-se em duas. A primeira é mais preocupada com a desigualdade de resultados nas 
dimensões materiais do bem-estar e isso pode ser o resultado de circunstâncias além 
do controle (etnia, antecedentes familiares, gênero e assim por diante) bem como 
talentos e esforço. Já a segunda diz respeito à desigualdade de oportunidades, ou seja, 
concentra-se apenas nas circunstâncias, além de um controle que afeta os resultados 
possíveis. Esta é uma perspectiva que considera o potencial de realização.
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De acordo com o relatório da ONG Oxfam, divulgado em 2017, que utilizou como base 
levantamentos sobre bilionários da revista “Forbes” e dados sobre a riqueza no mundo de 
um relatório do banco Credit Suisse, no mundo, apenas oito bilionários acumulam a mesma 
quantidade de dinheiro que a metade mais pobre da população do planeta, ou seja, 3,6 
bilhões de pessoas juntas. No Brasil, seis homens concentram a mesma riqueza que toda 
a metade mais pobre da população do país, ou seja, mais de 100 milhões de brasileiros. 
Fonte: OXFAM (2017). 
explorando Ideias
No entanto, sobretudo, no Brasil, facilmente encontramos ambas as desigual-
dades: econômica e de oportunidade. Amartya Sen (1999) propôs que o bem-estar 
deve ser definido e medido em termos dos seres e dos feitos valorizados pelas pes-
soas (funcionamentos) e da liberdade de escolher e agir (capacidades). Essa abor-
dagem enfatiza a liberdade de escolher um tipo de vida em detrimento de outro. 
Neste quadro, a equalização do rendimento não deve ser o objetivo, porque 
nem todas as pessoas convertem renda em bem-estar e liberdade da mesma ma-
neira. Além disso, esse relacionamento parece altamente dependente de “circuns-
tâncias contingentes, pessoal e social” (SEN, 1999, p. 70), que incluem idade, sexo, 
antecedentes familiares e incapacidade. Não só, mas também depende de condi-
ções climáticas, sociais (cuidados de saúde, sistemas de educação, prevalência do 
crime, relações com a comunidade) e convenção entre outros fatores. Portanto, o 
que deveria ser equalizado não é o meio de viver, mas as oportunidades reais de 
viver que dão às pessoas a liberdade de perseguir uma vida de escolha própria.
Já Stewart (2005) defende a ideia de ir além do foco em indivíduos e examinar, 
também, as desigualdades que surgem entre indivíduos, devido ao(s) grupo(s) 
com o(s) qual(is) se identificam (cultural, gênero, idade etc.) e que podem ser a 
causa do preconceito, da discriminação, da marginalização ou vantagem – um 
fenômeno que o estudioso denominou como desigualdades horizontais.
Para concluir, pode-se afirmar que uma sociedade oferece oportunidades 
iguais quando as circunstâncias não determinam as diferenças na vida (FER-
REIRA et al., 2000). Na prática, a igualdade de oportunidades existe quando as 
políticas compensam os indivíduos que enfrentam circunstâncias desvantajosas.
A desigualdade econômica diz respeito ao modo como as variáveis econômicas 
são distribuídas – entre indivíduos em um grupo, entre grupos em uma população 
ou entre países. A teoria do desenvolvimento tem-se preocupado, com as, desigual-
dades nos padrões de vida, como as desigualdades em renda/riqueza, educação, 
saúde e nutrição.
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Trabalho e renda:
• A PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua de 2017 mostra que 
há forte desigualdade na renda média do trabalho: R$ 1.570 para negros, R$ 1.606 para 
pardos e R$ 2.814 para brancos.
• O desemprego também é fator de desigualdade: a PNAD Contínua do 3º trimestre de 
2018 registrou um desempregomais alto entre pardos (13,8%) e pretos (14,6%) do que na 
média da população (11,9%).
• Dados também da PNAD só que mais antigos, de 2015, mostram que apesar dos negros 
e pardos representam 54% da população na época, a sua participação no grupo dos 10% 
mais pobres era muito maior: 75%.
• Já no grupo do 1% mais rico da população, a porcentagem de negros e pardos era de 
apenas 17,8%.
Fonte: Portal da Câmara dos Deputados (2018, on-line)4. 
explorando Ideias
Muito dessa discussão se resumiu a um debate entre duas perspectivas: a primei-
ra se preocupa principalmente com a desigualdade de oportunidades, como o 
acesso desigual ao emprego ou à educação. Já a segunda, com a desigualdade de 
resultados em várias dimensões materiais do bem-estar humano, como o nível 
de renda, a realização educacional, o estado de saúde e assim por diante.
A igualdade de oportunidades existe quando os resultados da vida dependem so-
mente de fatores pelos quais as pessoas podem ser consideradas responsáveis, e não 
de atributos desvantajosos fora de seu controle, tais como gênero, etnia, antecedentes 
familiares etc. Em termos práticos, a igualdade de oportunidade existe quando os 
indivíduos são compensados de alguma forma por suas circunstâncias desvantajosas.
A falta de oportunidade é uma realidade marcante na sociedade brasileira. 
Uma grande camada da população encontra-se em situação de desvantagem 
de oportunidade. De acordo com os dados da PNAD (Pesquisa Nacional por 
Amostra de Domicílios) realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística), em 2017, em todos os aspectos pesquisados, os negros encontram-se 
em desvantagens, em relação: ao branco na sociedade. 
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Educação
• A taxa de analfabetismo é mais que o dobro entre pretos e pardos (9,9%) do que entre 
brancos (4,2%), de acordo com a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 
Contínua de 2016.
• Quando se fala em acesso ao Ensino Superior, os dados se invertem: de acordo com a 
PNAD Contínua de 2017, a porcentagem de brancos com 25 anos ou mais que possuem 
Ensino Superior completo é de 22,9%. É mais que o dobro da porcentagem de pretos e 
pardos com diploma: 9,3%.
• Já a média de anos de estudo para pessoas de 15 anos ou mais é de 8,7 anos para pretos 
e pardos e de 10,3 anos para brancos.
Fonte: Exame (2018, on-line)5.
explorando Ideias
O que se percebe, no Brasil, é que a estrutura formal não garante a democratiza-
ção dos recursos, bens de direito e acesso a serviços básicos proporcionados pelo 
Estado. Desse modo, democracia e direitos humanos andam de mãos dadas. Isso 
significa que todo ser humano tem direito humano à democracia. 
Os direitos humanos também podem ser realizados em um sistema políti-
co e jurídico que não é democrático? Não, os direitos humanos não podem ser 
totalmente implementados se o sistema político e jurídico não for democrático, 
pois a participação de todos os seres humanos nos processos de construção de 
opinião e tomada de decisão é protegida pelos direitos humanos.
 Em nível global, outros fatores, tais como as crises econômicas, conflitos arma-
dos, emergências de saúde pública, insegurança alimentar e mudanças climáticas 
têm ameaçado a realização dos direitos humanos. Dentro desses fatores, a alarmante 
desigualdade de renda e riqueza emergiu como outra área de crescente preocupa-
ção. O quadro de direitos humanos oferece orientação parcial sobre as implicações 
de nossas sociedades cada vez mais polarizadas, mas as lacunas permanecem. 
Dado o forte aumento da desigualdade nas últimas décadas, é fundamen-
tal compreender melhor as conexões entre a realização dos direitos humanos 
e a desigualdade – como pensamos e medimos a desigualdade, até que ponto a 
desigualdade crescente ameaça os direitos básicos, e o que é humano e o que a 
estrutura de direitos diz e não diz sobre desigualdade.
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As pessoas experimentam desigualdades em várias dimensões, como no nível 
educacional, na saúde e na distribuição de poder, por exemplo. O tempo livre que 
homens e mulheres têm distribui-se desigualmente, uma vez que as demandas 
por trabalho remunerado e não remunerado são levadas em consideração. As 
desigualdades também são medidas entre indivíduos, famílias, grupos sociais 
(por exemplo, raça, gênero e etnia) e entre países.
Na definição da desigualdade, uma distinção importante é entre a desigualdade 
horizontal e a vertical. A desigualdade horizontal ocorre entre grupos culturalmente 
definidos ou socialmente construídos, como as diferenças de gênero, raça, etnia, 
religião, casta e sexualidade. Já a desigualdade vertical ocorre entre indivíduos ou 
entre famílias, como a renda geral ou a distribuição de riqueza de uma economia.
A distinção entre desigualdade horizontal e vertical é grande no âmbito dos 
direitos humanos, uma vez que as questões de desigualdade horizontal são mais 
fortemente incorporadas. Basta refletir, por exemplo, nos princípios de direitos 
humanos de não-discriminação e igualdade, que afirmam que a realização de 
direitos não deve diferir entre os indivíduos com base em gênero, raça, etnia, 
nacionalidade ou grupos sociais semelhantes.
As pessoas devem ter oportunidades iguais para reivindicar seus direitos e os prin-
cípios de direitos humanos se aplicam a todas as indivíduos igualmente. No entanto, 
pelo fato de que as implicações para a desigualdade vertical são menos claras, isso não 
implica necessariamente uma distribuição perfeitamente igual de renda e riqueza. 
A desigualdade de renda está frequentemente associada aos resultados mais 
desfavoráveis em relação à saúde, educação e outros direitos econômicos e sociais. 
Não é de surpreender que as famílias mais ricas desfrutem de melhores resulta-
dos do que as mais pobres. Contudo, a própria desigualdade pode levar a piores 
resultados, independentemente do nível de renda. Por exemplo, famílias de baixa 
renda, em uma sociedade muito desigual, podem ser piores do que famílias com 
renda idêntica em uma sociedade mais igualitária.
No quadro dos direitos humanos, o Estado tem a obrigação primária de 
respeitar, proteger e cumprir os direitos, mas isso depende de um Estado em 
funcionamento, com plena participação democrática e transparência. No en-
tanto, a desigualdade na renda e na riqueza afeta os processos políticos formais 
e informais, de modo a determinar o acesso das pessoas à educação, à saúde, ao 
emprego e à previdência social.
Alguns cientistas políticos argumentam que um processo democrático é ca-
paz de compensar o impacto das desigualdades na renda e na riqueza e pressões 
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para a redistribuição em sociedades desiguais, desde que exista uma democracia 
que funcione bem. Isso ocorre, porque a maioria da população – aqueles que 
estão no meio da distribuição de renda e abaixo dela – votará pela redistribuição 
quando a renda e a riqueza estiverem concentradas em poucas mãos. 
Entretanto, essa abordagem faz suposições muito fortes: que as pessoas são 
capazes de reivindicar seus direitos, que o Estado é democraticamente responsável, 
que as políticas apoiadas pela maioria não prejudicam os direitos de outros grupos, 
que a integração global não limita as escolhas políticas e que os interesses econômi-
cos da elite não devem influenciar de modo negativo o acesso aos direitos sociais. 
Na realidade, as desigualdades de renda e riqueza produzem desigualdades 
na distribuição de poder. Quando o poder político das elites se expande à medida 
que a distribuição de renda e riqueza se torna mais polarizada, isso compromete 
toda a gama de direitos humanos.
 Estudos que analisam as variações de desigualdade dos países mostraram que 
a maior desigualdade está associada aos gastos governamentais redistributivos, 
medidos pelos gastos com seguridade social e assistência social como parcela do 
PIB. No Brasil, as duas das principais políticas públicas de ajuda aos mais pobres, 
como o Programa Bolsa Família e o Benefíciode Prestação Continuada (BPC), 
juntos, representaram um investimento apenas de 1,21% do PIB brasileiro. É 
por meio da transferência de renda que é possível fazer que milhares de famílias 
deixem a pobreza extrema e passem a ter condições de vida mais dignas (TRI-
SOTTO, 2018, on-line)6.
Vale destacar que as elites econômicas tendem a resistir às formas progressi-
vas de tributação mais justa, o que limita a capacidade do governo de mobilizar 
recursos para o cumprimento de direitos.
Os direitos humanos fornecem orientações parciais sobre as implicações do 
aumento das desigualdades na obtenção de direitos. No entanto, o quadro de 
direitos humanos não chega a declarar uma distribuição particular de renda ou 
riqueza como justa ou não justa. Isso se deve, em parte, porque os direitos huma-
nos focam sobre os resultados realizados, que moldam as escolhas e as liberdades 
das pessoas. Portanto, uma distribuição justa de renda é aquela que permite a 
mais plena realização dos direitos possíveis, consistente com os princípios de não 
discriminação e igualdade.
O Art. 28 da Declaração Universal dos Direitos Humanos declara que “todos 
têm direito a uma ordem social e internacional na qual os direitos e liberdades esta-
belecidos nesta Declaração possam ser plenamente realizados” (DUDH, 1948, p.6 ). 
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CIDADANIA E OS
DIREITOS
humanos
A distribuição de renda e riqueza e a dinâmica política representam uma 
dimensão importante dessa ordem social e internacional. Existe uma obrigação 
dentro da estrutura de direitos humanos para os estados considerarem o im-
pacto da desigualdade nos direitos e, quando necessário, tomar medidas para 
uma distribuição mais justa da renda. A desigualdade não é apenas uma ameaça 
aos direitos econômicos e sociais: ela ameaça a realização de todas as formas de 
direitos em todos os lugares.
 O conceito de cidadania, como entendemos hoje, nem sempre foi o mesmo. 
Aristóteles, em seu livro Política, afirmou que o homem é um animal social e, para 
o desenvolvimento de sua personalidade, ele precisa participar dos assuntos da 
polis. Com isso, o estudioso apontou para a necessidade de cidadania do homem. 
Depois de Aristóteles, várias definições surgiram sobre o conceito de cidadania.
Os gregos compreendiam a cidadania como o gozo do direito de compar-
tilhar e participar da vida política e judicial. A cidadania dos romanos garantiu 
o direito de votar, a elegibilidade para cargos públicos, de casamento etc. Bodin 
(1967) entendia a cidadania como a obrigação mútua entre sujeito e soberano 
de obedecer e proteger. Já nos períodos posteriores, a cidadania foi discutida 
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por pensadores, tais como Mill, Bentham, que se concentrou principalmente na 
liberdade individual, na participação política e nos direitos de propriedade, com 
foco no critério de ter uma vida boa e bem-estar social.
Um “cidadão” é um membro de uma comunidade política, definida por um 
conjunto de direitos e deveres. “A cidadania representa, portanto, uma relação 
entre o indivíduo e o estado, no qual os dois estão unidos por relações recíprocas 
direitos e obrigações” (HEYWOOD, 1994, p. 155).
Cidadania é um status legal e uma identidade. Assim, existe uma dimensão 
da cidadania, a qual compõe direitos e obrigações específicos com os quais um 
Estado investe em seus membros e em uma dimensão subjetiva, um senso de 
lealdade e pertencimento. Contudo, a cidadania objetiva, por si só, não garante 
a existência de cidadania subjetiva, porque “membros de grupos que se sentem 
alienados de seu estado, talvez por causa de desvantagem social ou discriminação 
racial, não pode ser pensado adequadamente como ‘cidadãos plenos’, mesmo que 
possam desfrutar de gama de direitos formais” (HEYWOOD, 1994, p. 156).
O sociólogo britânico Thomas Humphrey Marshall tem sido um ponto de 
referência central da análise histórico-sociológica do desenvolvimento da cida-
dania moderna. Para o estudioso:
 “ Cidadania é um status concedido àqueles que são membros de pleno direito de uma comunidade. Todos que possuírem o status são iguais em relação aos direitos e deveres com os quais o status é concedido. 
Não existe um princípio universal que determine quais serão esses 
direitos e deveres, mas as sociedades em que a cidadania é uma insti-
tuição em desenvolvimento criam uma imagem de um ideal de cida-
dania em relação ao qual a conquista pode ser medida e em relação ao 
qual a aspiração pode ser dirigida (MARSHALL, 2002, p. 17).
Marshall (2002) compreendia a cidadania como partes diferentes e defendia que elas 
estavam todas interligadas. Em seu livro Cidadania e classe social, o referido autor 
destaca esses pontos e considera a cidadania como uma ideia dinâmica, como um 
status dado àqueles que são membros de uma comunidade. No entanto, não existe 
um princípio universal que determine quais são esses direitos e deveres. Além disso, 
Marshall (2002) divide a cidadania em três partes: uma civil, uma política e uma social. 
Esses três elementos da cidadania foram fundidos como resultado da fusão 
das instituições. Marshall (2002) prossegue traçando a história da cidadania estu-
dando-a como um processo de fusão e separação, em que a fusão era geográfica e 
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a separação funcional. Ele atribuiu o desenvolvimento de cada parte a um século: 
direitos civis ao século XVIII, político ao século XIX e social ao século XX.
O elemento civil é composto pelos direitos necessários à liberdade individual, 
como liberdade pessoal, liberdade de expressão, direito à propriedade, liberda-
de de pensamento etc. As instituições mais diretamente associadas aos direitos 
civis são os tribunais de justiça. Inclui, também, o direito ao trabalho, ou seja, o 
de seguir a ocupação da escolha de alguém, algo que foi negado pelos estatutos 
e costumes (MARSHALL, 2002).
Os direitos civis foram os primeiros a aparecer, no século XVIII. Em seu 
período formativo, foi uma adição gradual de novos direitos a um status que já 
existia. Com cidadania civil, a lei e a igualdade foram garantidas para proteger a 
liberdade do povo, se era certo trabalhar, o direito de circular livremente etc. A 
cidadania civil abriu o caminho para a cidadania política (MARSHALL, 2002). O 
elemento político significa principalmente o direito de participar no exercício do 
poder político enquanto membro de um órgão investido de autoridade política 
ou como eleitor dos membros de tal órgão, em que as instituições correspon-
dentes são o parlamento e os conselhos do governo local (MARSHALL, 2002).
Já o elemento político surgiu no século XIX, quando os direitos civis ligados 
ao status de liberdade já estavam no centro de uma ideia geral de cidadania. A 
cidadania política visava conceder os antigos direitos às novas seções da socieda-
de. O sufrágio universal marcou o início da cidadania política para os indivíduos, 
mas Marshall (2002) afirma que a política não era um dos direitos de cidadania: 
na verdade, era um privilégio da classe econômica limitada.
O elemento social significa ser capaz de viver em uma sociedade como um ser 
civilizado, de acordo com os padrões vigentes na sociedade. Não só, mas de posse 
de bem-estar econômico e segurança, para o direito de compartilhar plenamente, 
no patrimônio social, as instituições do sistema educacional e os serviços sociais 
mais intimamente ligados a ele (MARSHALL, 2002).
Os interesses variados de diferentes classes, gradualmente, levaram a um con-
flito maior. Enquanto os industriais buscavam mais lucros e nenhuma tributação, o 
Estado de bem-estar social da cidadania precisava aumentar a taxação. A cidadania 
social garantiu o suprimento de necessidades básicas, como saúde e educação, de 
regras mínimas de salário, regras de horas máximas de trabalho, condições mínimas 
de trabalho, segurança ocupacional e indenização por acidentes de trabalho etc. 
Historicamente, a ideologia capitalista é baseada na desigualdade e na ex-
ploração dos trabalhadorese, portanto, o conceito de direitos sociais acaba por 
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conflitar com esses interesses sociais. O Estado lidou com esses dois interesses 
opostos, ao conceder alguns direitos à classe trabalhadora, impedindo-os de avan-
çar para um conflito maior que poderia derrubar o sistema.
A introdução dos direitos de cidadania, portanto, não acabou com as desi-
gualdades, mas apenas deu uma ilusão de igualdade, empurrando ainda mais a 
classe trabalhadora para o sistema de exploração, consolando-as com melhorias 
externas. Assim, Marshall (2002) levantou o questionamento da justiça da de-
mocracia, que só levaria o expansionismo capitalista com o véu da igualdade.
Desse modo, cidadão, para Marshall (2002), é aquele que exerce seus direitos 
civis, políticos e sociais de forma efetiva. O conceito de cidadania não é fixo: 
ele está sempre em construção à medida que a humanidade está em constante 
luta pela ampliação dos direitos e maiores garantias de direitos individuais. Ser 
cidadão, portanto, significa ter consciência dos direitos à vida, à liberdade e à 
igualdade, os quais são divididos em civis, políticos e sociais. Assim, o Estado 
tem o dever de garantir os direitos humanos, protegendo-os contra a violação, 
mesmo que, em muitos casos, ele próprio cometa. 
Brian Turner (1993), entre os primeiros a revisitar a teoria de Marshall, defi-
ne a cidadania como um conjunto de práticas legais, econômicas e culturais que 
determinam um indivíduo como membro competente da sociedade. Tais práticas 
moldam o fluxo de recursos para indivíduos e grupos sociais. A definição de Turner 
nos permite analisar como indivíduos e grupos têm oportunidades diferenciadas 
de se tornar membros competentes da sociedade. Desse ponto de vista, a identidade 
cidadã, o sentimento de pertencimento e a solidariedade estão necessariamente 
ligados ao problema da distribuição desigual de recursos na sociedade.
Já para Zamudio (2004), existem três dimensões da cidadania: status, exer-
cício e consciência. O status de cidadania é o conjunto de direitos e obrigações 
entre indivíduos e o estado. Somente aqueles indivíduos e grupos que cumprem 
todos os requisitos que definem a cidadania em um país terão o reconhecimento 
formal do estado. Exercício de cidadania se refere às condições necessárias para a 
realização dos direitos de cidadania e a incorporação de novos direitos (transfor-
mação das necessidades em direitos legítimos), de modo a redefinir e a expandir 
a noção anterior de cidadania.
Por último, mas não menos importante, a consciência de cidadania faz refe-
rência à convicção de ser cidadão, com o reconhecimento do Estado expresso em 
práticas concretas que garantem o exercício da cidadania. Em uma democracia 
liberal, ser cidadão, ou seja, um membro competente da sociedade, parece estar 
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Pode-se afirmar que a maioria dos brasileiros tem seus direitos respeitados? A cidadania 
que vigora é real ou formal? Na cidadania formal, o direito à moradia digna foi reconhe-
cido e implantado como pressuposto para a dignidade da pessoa humana, desde 1948. 
Todavia, na cidadania real, cerca de 33 milhões de brasileiros não têm onde morar.
pensando juntos
intimamente relacionado com a educação. A razão disso é porque, por meio da 
educação, os indivíduos adquirem conhecimentos e habilidades que favorecem 
o desenvolvimento da consciência da cidadania e exercício, os quais são, por sua 
vez, indispensáveis para a construção da cidadania.
No Brasil, historicamente, os direitos de cidadania que estiveram vinculados 
aos interesses das elites socioeconômicas e políticas, poucas vezes foram resul-
tado de uma participação popular mais ampla e democrática, com objetivo de 
inclusão social.
José Murilo de Carvalho (2002) desenvolveu uma teoria que complementa 
esse raciocínio. Para o autor, vivemos em uma estadania, como a relação cliente-
lista com o Estado, ou seja, muitos de nossos direitos advêm de uma concessão 
do Estado feita de cima para baixo. Desse modo, os direitos são encarados como 
benefícios advindos dos grupos dominantes para a classe mais baixa. Essa con-
cepção denota a falta de acesso à compreensão dos direitos sociais dos sujeitos em 
sociedade. Também explica a relação da população, sobretudo, a mais humilde, 
com a política e políticos, que estabelecem uma relação de clientelismo e/ou troca 
de votos por bens materiais, como alimento, acesso à saúde etc.
Além disso, destaca-se, no Brasil, uma grande diferença do que chamamos de 
cidadania formal e cidadania real. A cidadania formal é aquela presente nas leis e 
é fundamental para a liberdade e para a garantia de direitos individuais, ou seja, 
garante a igualdade de todos perante a lei. Já a cidadania real é a do cotidiano, que 
ilustra a desigualdade presente em todas as dimensões da sociedade. 
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MOVIMENTOS
SOCIAIS
e a busca pela cidadania
O tema cidadania se entrelaça com a história e a atuação dos movimentos sociais 
no Brasil e no mundo, à medida que muitos direitos de cidadania são alcançados 
por meio da articulação desses movimentos sociais. 
Os movimentos sociais são alianças amplas de pessoas que estão conectadas por 
meio de seu interesse comum pela mudança social. Os movimentos sociais podem 
advogar por uma mudança social específica, mas também podem se organizar para 
se opor a uma mudança social que está sendo defendida por outra entidade. Esses 
movimentos não precisam ser formalmente organizados para serem considerados 
movimentos sociais. Diferentes alianças podem trabalhar separadamente para cau-
sas comuns e ainda serem consideradas um movimento social.
Movimentos sociais modernos se tornaram possíveis por meio da ampla disse-
minação da literatura e da crescente mobilidade do trabalho, ambos causados pela 
industrialização das sociedades. Anthony Giddens (1996) identificou quatro áreas 
nas quais os movimentos sociais operam nas sociedades modernas: os movimentos 
democráticos, que trabalham por direitos políticos; os movimentos trabalhistas, os 
quais trabalham pelos direitos trabalhistas; os movimentos ecológicos, que estão preo-
cupados com o meio ambiente; e os movimentos de paz, que trabalham para a paz.
É interessante notar que os movimentos sociais podem gerar movimentos 
contrários. Por exemplo, o movimento de mulheres das décadas de 60 e 70 re-
sultou em uma série de contramovimentos que tentaram bloquear as metas do 
movimento de mulheres. 
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Tratando-se do movimento primário que contribui para a consolidação dos 
movimentos sociais, os cientistas sociais citaram a “privação relativa” como uma 
causa potencial de movimentos. A privação relativa é a experiência de ser privado 
de algo que se sente como tendo direito. Não só, mas refere-se ao descontenta-
mento que as pessoas sentem quando comparam suas posições com as pessoas ao 
seu redor e percebem que elas têm menos daquilo que elas acreditam ter direito. 
Cientistas sociais, particularmente cientistas políticos e sociólogos, citaram a 
“privação relativa” (especialmente a privação relativa temporal) como uma causa 
potencial de movimentos. Em situações extremas, pode levar a violência política, 
como tumultos, terrorismo, guerras civis e outras instâncias de desvio social, 
como o crime. Entretanto, de modo geral, tem foco na luta por direitos ou pela 
consolidação de políticas públicas. 
Alguns estudiosos explicam a ascensão dos movimentos sociais ao citarem as 
queixas de pessoas que sentem que foram privadas de valores aos quais têm direi-
to. Da mesma forma, os indivíduos se envolvem em comportamentos desviantes 
quando seus meios não correspondem aos seus objetivos. Com isso, ocorre a 
conjectura de manifestações coletivas que reivindicam ou fiscalizam direitos até 
então não garantidos e/ou efetivados pelo Estado.
Nessa dinâmica, muitas vezes, o Estado é visto como adversário na luta política, 
ocasionando uma relação de confronto. Em outros casos, o Estadoé mais aberto às 
demandas da sociedade civil, aumentando, assim, as possibilidades de ampliação 
de leis, a construção de políticas públicas e a consolidação de direitos e cidadania. 
Desse modo, o que se observa é que a articulação dos movimentos sociais está 
muito associada à injustiça social, decorrente de diferentes formas e dimensões, 
e que ganha expressão e consciência na arena política. Sua busca por objetivos 
políticos, no entanto, é marcada por suas origens econômicas.
A maioria dos movimentos têm uma especificidade nacional, seja uma luta 
contra a ditadura, contra a austeridade ou contra a privatização da educação, 
por exemplo. Eles são enquadrados por terrenos políticos nacionais que exibem 
padrões regionais, ou seja, uma mobilização nacional que se repete nas regiões 
etc. Ainda, ao mesmo tempo, esses movimentos também estão conectados global-
mente, sobretudo por meio de mídias sociais. Os movimentos se tornaram uma 
inspiração um para o outro, mesmo que seu quadro de referência seja, geralmente, 
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nacional. Vale destacar, porém, que a ocupação de espaços públicos tornou os 
movimentos sociais vulneráveis a uma severa reação repressiva da polícia, muitas 
vezes, mas nem sempre, apoiada pelos militares. 
Essa repressão é consistente com a destruição do público em geral e com a 
valorização do privado, mas levou a um contínuo jogo de gato e rato entre os mo-
vimentos e a polícia. Esses movimentos não irão embora. Eles são uma forma de 
“protesto líquido” que desaparece aqui apenas para reaparecer em outro lugar. É 
preciso olhar para eles como parte de um movimento global conectado por mídias 
sociais que fornecem o veículo para reorganização e flexibilidade contínuas. 
Já aprendemos, em nossos estudos, que a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos protege não apenas os direitos civis e políticos, mas também os direi-
tos socioeconômicos “indispensáveis” para a dignidade humana. Tais direitos 
incluem os de trabalho em condições justas e favoráveis para a educação e para 
moradia, assistência médica e serviços sociais necessários para garantir um pa-
drão de vida adequado.
Na última década, os apelos aos direitos humanos universais ganharam força 
renovada, animando uma série de lutas socioeconômicas no Brasil. Ativistas ala-
vancam cada vez mais os direitos para chamar a atenção para a injustiça social, 
o racismo estrutural inerente às políticas públicas regressivas e que incluem o 
defasamento e a desregulamentação dos serviços públicos essenciais. 
Os direitos humanos também estão inspirando programas de ação impor-
tantes, como os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS/ONU), por 
exemplo. Projetos como esses explicitam as medidas necessárias a serem reali-
zadas na prática com envolvimento público e privado.
Entender a desigualdade econômica como uma causa e uma consequência 
das violações dos direitos humanos tem o potencial de ser transformador. Os 
direitos ajudam a mudar a narrativa sobre o que é justo e injusto. Ao exigir que 
certas necessidades materiais essenciais para o ser humano devem ser garantidas 
a todos, os direitos desafiam diretamente a lógica do fundamentalismo de mer-
cado. Dessa forma, observar os movimentos sociais de hoje unirem-se cada vez 
mais ao redor dos direitos socioeconômicos é uma prova da visão duradoura da 
Declaração Universal dos Direitos Humanos.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Iniciamos nossos estudos compreendendo como a desigualdade não é apenas 
uma ameaça aos direitos econômicos e sociais – ela ameaça a realização de todas 
as formas de direitos em todos os lugares –, mas também à cidadania e aos direitos 
humanos. No quadro dos direitos humanos, o Estado tem a obrigação primária 
de respeitar, proteger e cumprir os direitos, mas isso depende de um estado em 
funcionamento com plena participação democrática e transparência.
No entanto, a desigualdade na renda e na riqueza afeta os processos políticos 
formais e informais, de forma a determinar o acesso das pessoas à educação, à 
saúde, ao emprego e à previdência social. Encontramos facilmente, em nosso 
contexto, seja ele global, seja local, crises nas mais variadas ordens econômicas, 
conflitos armados, emergências de saúde pública, insegurança alimentar e mu-
danças climáticas que têm ameaçado a realização dos direitos humanos. Dentro 
dessa constelação de fatores, a intensificação da desigualdade em renda e riqueza 
emergiu como outra área de crescente preocupação. 
O quadro de direitos humanos oferece uma orientação parcial sobre as implica-
ções de nossas sociedades cada vez mais polarizadas, mas as lacunas permanecem. 
Dado o forte aumento da desigualdade nas últimas décadas, é fundamental com-
preender melhor as conexões entre a realização dos direitos humanos e a desigual-
dade – como pensamos e medimos a desigualdade, até que ponto a desigualdade 
crescente ameaça os direitos básicos que garantem a cidadania. Vale destacar, tam-
bém, que as pessoas devem ter oportunidades iguais para reivindicar seus direitos e 
os princípios de direitos humanos se aplicam a todas os indivíduos igualmente. Um 
modo de alcançar esse objetivo é observado na atuação dos movimentos sociais. 
51
na prática
1. A construção de uma esfera democrática no mundo contemporâneo refere-se a 
existência e consolidação de uma série de direitos. Com base nessa afirmação, 
identifique e caracterize os direitos presentes na tipologia apresentada por Thomas 
Marshall, citando exemplos que ilustram cada um desses direitos. 
2. O conceito de direitos humanos tem sido sujeito a definições variadas, devido às 
diferentes perspectivas dos pensadores sobre o conteúdo e o valor dos direitos 
humanos como um aspecto inalienável da vida humana. Apesar das variações na 
conceituação da ideia, a palavra final a esse respeito parece ter vindo do Centro 
de Direitos Humanos das Nações Unidas. Com base nessa afirmação, assinale a 
alternativa que descreve o conceito de direitos humanos para as Nações Unidas:
a) As Nações Unidas definiu o conceito de direitos humanos como aquele que 
representa os direitos que são inerentes à nossa natureza e sem os quais não 
podemos viver como humanos. 
b) Para as Nações Unidas, os direitos humanos são compostos de duas categorias 
inseparáveis de direitos: os direitos essenciais à dignidade da existência humana 
e os direitos essenciais para o desenvolvimento financeiro.
c) A Declaração Universal dos Direitos Humanos percorreu um longo caminho para 
assegurar um lugar de destaque aos direitos humanos no sistema legal de dois 
países no mundo, sendo os EUA e o Brasil.
d) Os direitos humanos não são comuns a todos os membros da comunidade 
internacional, pois cada membro dessa comunidade reconhece alguns deles.
e) A Declaração Universal dos Direitos Humanos é proclamada como um padrão 
comum de conquista para todos os povos e nações. Reconhece que a realização 
desse objetivo depende de ação e força internacional, que obrigam a nação a 
participar. 
3. O objetivo dos direitos humanos não é apenas o de garantir a vida do indivíduo, 
mas também o de garantir os caminhos para que ela se desenvolva ao máximo nível 
possível, o que permite observarmos certa similaridade com os direitos de cidadania. 
Com base nessa afirmação, descreva uma diferença entre os direitos humanos e os 
direitos de cidadania.
52
na prática
4. O conceito de cidadania se relaciona com uma relação legal entre o indivíduo e 
o Estado. A maioria das pessoas no mundo são cidadãos legais de um ou outro 
Estado-nação e isso lhes dá direito a certos privilégios ou direitos. Sobre cidadania, 
julgue as afirmativas a seguir:
I - Ser cidadão também impõe certos deveres em termos do que o Estado espera 
de indivíduos sob a sua jurisdição.
II - Os cidadãos cumprem certas obrigações com o seu Estado e, em contrapartida, 
podem esperar a proteção de seus interesses vitais. Isso é uma realidade da 
maioria dos países com democracias consolidadas.III - O conceito de cidadania tem muito mais camadas de significado do que a cida-
dania legal, que é a que encontramos no dia a dia.
IV - Atualmente, a cidadania é muito mais do que uma construção legal e se rela-
ciona – entre outras coisas – com o acesso aos direitos, que entendemos como 
cidadania real.
É correto afirmar que:
a) Estão corretas apenas as afirmativas I, II e IV.
b) Estão corretas apenas as afirmativas I e IV
c) Estão corretas apenas as afirmativas I e III.
d) Estão corretas apenas as afirmativas II e III.
e) Estão corretas apenas as afirmativas III e IV.
53
na prática
5. O direito à educação é fundamental para a própria ideia de direitos humanos. Em 
1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos proclamava que a educação 
elementar gratuita e compulsória era um direito humano básico. Assim, a educação 
é vista não apenas como um direito, mas também como um meio para a plena e 
efetiva realização de outros direitos humanos. Com base nessa afirmação, assinale 
a alternativa que descreve o papel do Estado no processo de consolidação da edu-
cação para os direitos humanos:
a) Os governos e o Estado não devem influenciar outros atores com responsa-
bilidades no processo de educação, uma vez que a educação não é requisito 
obrigatório.
b) Os pais da criança são os “primeiros educadores” e são responsáveis pela edu-
cação. Assim, devem fornecer orientação para a criança e para os profissionais 
da educação, não cabendo, ao Estado, nenhum papel frente a educação.
c) Os governos e o Estado devem respeitar, proteger e cumprir o direito à educação, 
tornando-a disponível, acessível, aceitável e adaptável.
d) A educação é menos importante que direitos civis e políticos, uma vez que, assim 
como o devido processo legal, a educação não tem proteção da lei.
e) A Declaração Universal dos Direitos Humanos não trata sobre o direito à edu-
cação, tampouco sobre o papel do Estado para garantir o acesso à educação.
54
aprimore-se
UMA CRISE DE DIREITOS HUMANOS
Há, hoje, uma epidemia de pessimismo em torno dos direitos humanos. Essa men-
talidade pessimista é compreensível por causa das situações preocupantes que os 
ativistas de direitos humanos enfrentam todos os dias. A ideia de perigo e crise, no 
entanto, aponta não apenas para o momento presente, mas também implica algum 
conhecimento sobre tendências e mudanças ao longo do tempo: sugere que os di-
reitos humanos não foram desafiados antes e que a situação, agora, é pior.
Historicamente, o progresso dos direitos humanos ocorreu como resultado da 
luta e tem sido frequentemente liderado por grupos oprimidos. Onde isso ocorreu, o 
progresso dos direitos humanos não foi de todo inevitável, mas sim contingente ao 
compromisso e esforço contínuos. Alguns ativistas e acadêmicos temem que, se ad-
mitirem que houve progresso, as pessoas se tornarão complacentes e desengajadas.
Uma pesquisa realizada com 346 pessoas do campo dos direitos humanos cons-
tatou que esse trabalho está associado a níveis elevados de depressão e transtorno 
de estresse pós-traumático. Uma fonte disso parece ser uma autoavaliação negativa 
sobre o trabalho em direitos humanos. Essas descobertas sugerem que uma das 
partes mais difíceis de ser ativista de direitos humanos é a dúvida sobre se você está 
contribuindo para uma mudança positiva. Um quadro de crise excessiva, portanto, 
pode não apenas contribuir para a impressão de que o movimento pelos direitos 
humanos tem sido historicamente ineficaz, mas também pode diminuir a motivação 
e o bem-estar dos ativistas. Sem falar, ainda, no risco que as pessoas que trabalham 
com direitos humanos sofrem, sobretudo no Brasil, onde, segundo a ONU, é um dos 
países mais letais para ativistas.
http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0145188
https://www.openglobalrights.org/mental-health-well-being-and-resilience-in-human-rights/
55
aprimore-se
Em um relatório publicado pela Anistia Internacional, em dezembro de 2017, o Brasil 
se encontra como o país que mais mata defensores de direitos humanos no mundo. 
De janeiro a setembro de 2017, foram, pelo menos, 62 mortes. Alguns dos pessimistas 
atuais também sugerem que ativistas de direitos humanos eram populares em algum 
momento no passado e, agora, são denegridos. Contudo, ativistas de direitos humanos 
nunca foram populares nos países onde trabalham. Governos repressivos têm uma 
longa história de atacar e difamar grupos de direitos humanos, por meio de campa-
nhas de difamação e outras táticas repressivas. As organizações de direitos humanos 
frequentemente defendem os direitos de minorias impopulares, como esquerdistas 
políticos na América Latina, os ciganos na Europa e pessoas transexuais nos EUA.
O fato de que a luta pelos direitos humanos sempre enfrentou oposição significa-
tiva não deveria nos desencorajar. A longa história dos direitos humanos oferece uma 
mensagem positiva que pode ajudar a nos sustentar no contexto de nossas lutas atuais. 
Percebemos que os casos de violação de direitos humanos estão piorando, também, 
para quem é amparado por ativistas – como o número absoluto de refugiados desloca-
dos pela guerra ou a desigualdade econômica em muitos países. Então, por que tantas 
pessoas acreditam que as violações dos direitos humanos, no mundo, estão piorando 
em vez de melhorar? A resposta curta é que achamos que o mundo está pior, porque 
nos importamos mais e sabemos mais sobre os direitos humanos do que nunca.
 Fonte: Sikkink (2018, on-line)7.
https://anistia.org.br/wp-content/uploads/2018/02/informe2017-18-online1.pdf
56
eu recomendo!
Economia da Desigualdade
Autor: Thomas Piketty
Editora: Intrínseca
Sinopse: a desigualdade é consequência da concentração do ca-
pital? É transmitida de geração a geração ou deriva das diferenças 
salariais, que, por sua vez, resultariam do jogo de oferta e deman-
da do mercado de trabalho? É possível reduzir a desigualdade de 
oportunidades com investimento em educação? O sistema tributário moderno é 
capaz de promover a redistribuição de renda ou é preciso uma grande reforma? 
A Economia da Desigualdade demonstra que o antagonismo esquerda/direita do 
debate político não discorda necessariamente em suas noções de justiça social, 
mas sim nos mecanismos econômicos que produzem a desigualdade e em como 
minorá-la. Em uma edição atualizada, incluindo gráficos e tabelas, o livro é mais 
uma valiosa aula de Piketty sobre a natureza da distribuição de renda e o cenário 
econômico mundial.
livro
Numa Escola de Havana 
Ano: 2014
Sinopse: o filme conta a história de Chala, um menino cubano 
de 11 anos que sobrevive vendendo pombos e fazendo seus ca-
chorros competirem em rinhas. Seu refúgio é a professora de sua 
escola, que luta para que ele e os outros alunos tenham uma vida 
e educação de qualidade.
filme
57
eu recomendo!
Oxfam Brasil
A Oxfam Brasil faz parte de uma confederação global que tem como objetivo com-
bater a pobreza, as desigualdades e as injustiças em todo o mundo. Desde 2014, 
somos membros da Confederação Oxfam, que conta com 19 organizações atuan-
do em 93 países. No total, são mais de 10 mil funcionários e 55 mil voluntários 
pelo mundo, contribuindo para aliviar a vida de milhões de pessoas em situação 
de emergência e ajudando na transformação social com base nos direitos huma-
nos e no desenvolvimento justo e igualitário.
Consulte as informações e dados disponíveis na plataforma:
Web: https://www.oxfam.org.br/publicacoes.
Relatório Mundial de Direitos Humanos (Brasil), disponível em: https://www.hrw.
org/pt/world-report/2018/country-chapters/313303.
conecte-se
3
TRATADOS DE
DIREITOS
humanos e seus impactos na 
educação
PLANO DE ESTUDO 
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • A educação nos direitos humanos 
• Os direitos humanos na educação • A diversidade cultural e os direitos humanos • Igualdade de 
Gênero e os direitos humanos • Questões étnico-raciais e os direitos humanos.OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 
Compreender como a educação é inserida nos direitos humanos • Identificar como a abordagem dos 
direitos humanos pode ser discutida no âmbito educacional • Avaliar como a diverisade cultural dialo-
ga com os pressupostos dos direitos humanos • Perceber como a igualdade de gênero se estabelece 
dentro dos direitos humanos • Perceber como as questões étnico-raciais se estabelecem dentro dos 
direitos humanos.
PROFESSORA 
Me. Francieli Muller Prado
INTRODUÇÃO
A educação é tanto um direito humano em si mesma, como um meio indis-
pensável para realizar outros direitoIsso se deve, pois a humanos. Enquanto 
um direito de empoderamento, a educação é o principal veículo pelo qual 
adultos e crianças econômica e socialmente marginalizados podem sair da 
pobreza e obter os meios para participar plenamente de suas comunidades.
A educação tem um papel vital na promoção desses direitos. Por 
isso, não podemos falar, em direitos humanos sem em, algum momento 
relacioná-los com a educação, a qual, da mesma forma, está presente no 
coração de todos os esforços para desenvolver uma cultura e sociedade 
digna, inclusiva e igualitária. 
Nessa perspectiva, ao longo da unidade, discutiremos qual é o papel 
da educação nos direitos humanos, apresentando, as principais bases nor-
mativas para a instituição desses direitos. Abordaremos, também, como os 
direitos humanos podem e devem ser contemplados na educação.
No contexto social, alguns grupos sociais não têm seus direitos garan-
tidos em virtude, de um processo discriminatório. A discriminação – em 
todas as formas e expressões possíveis – é uma das formas mais comuns de 
violação e abuso dos direitos humanos, e afeta milhões de pessoas. todos os 
dias. Nesse sentido, uma vez que esses direitos humanos devem ser garan-
tidos a todos os cidadãos – de qualquer parte do mundo e sem qualquer 
tipo de discriminação – nos dedicaremos a refletir sobre a diversidade 
cultural e algumas das principais formas de exclusão de direitos presentes 
na sociedade contemporânea: a cor e de gênero.
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1 
A EDUCAÇÃO NOS
DIREITOS
humanos
Olá aluno(a), seja muito bem-vindo(a)! Chegamos na terceira etapa de nossos es-
tudos. Neste momento, estudaremos definitivamente a proposta central dessa dis-
ciplina. Para tanto, discutiremos a educação e sua relação com os direitos humanos.
O direito humano à educação pode ser caracterizado como um direito de 
empoderamento. Esse direito proporciona ao indivíduo maior controle sobre o 
curso de sua vida e, em particular, mais um controle sobre o efeito das ações do 
Estado sobre o indivíduo. 
Em outras palavras, exercer um direito de empoderamento por meio da lei-
tura e escrita permite que uma pessoa experimente alguns benefícios e direitos 
que existem, uma vez que eles podem ser acessados por meio da compreensão. 
Isso se deve, o gozo de muitos direitos civis e políticos, como a liberdade de infor-
mação, a liberdade de expressão, o direito de votar e de ser eleito e muitos outros, 
dependem de pelo menos um nível mínimo de educação.
Da mesma forma, uma série de direitos econômicos, sociais e culturais, como o 
direito de escolher o trabalho, receber remuneração igual pelo trabalho, aproveitar os 
benefícios do progresso científico e tecnológico e receber educação superior com base 
na capacidade, só pode ser exercida de forma significativa após a obtenção de um nível 
mínimo de educação. Isso se deve, vale para o direito de participar da vida cultural.
Além disso, para as minorias étnicas e linguísticas, o direito à educação é um 
meio essencial para preservar e fortalecer sua identidade cultural. Por meio da 
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A inclusão da igualdade de direitos de homens e mulheres na Carta da ONU, documento 
lançado em 1945 que criou as Nações Unidas, foi fruto da insistência de diplomatas latino-
-americanas lideradas pela cientista brasileira Bertha Lutz, que enfrentou forte oposição 
das delegações norte-americana e britânica. 
Fonte: ONU (2018, on-line)4. 
explorando Ideias
educação, é possível realizar um resgate de pressupostos universais de tolerância 
e respeito ao próximo, independentemente da sua diferença social e cultural, tais 
como grupos étnicos, diferentes classes sociais e culturais. 
A educação em direitos humanos tem seu início com, além de Carta das Na-
ções Unidas em 1948. Para Trindade (1993), foi nesse momento que a declaração 
se tornou um instrumento de conscientização dos valores fundamentais da de-
mocracia e dos direitos humanos. Isso se deve, sobretudo com o desenvolvimento 
de materiais educativos elaborados e disseminados pelos setores da sociedade 
civil, e organismos internacionais.
Como é possível perceber, é necessário um forte apoio institucional para a 
plena implementação do direito à educação. Nesse sentido, a UNESCO, como 
agência especializada das Nações Unidas, desempenha um papel de liderança, 
uma vez que, de acordo com a sua constituição de 1946, a educação se apresenta 
como uma de suas principais funções.
A ação da UNESCO na educação é construída em torno de três objetivos estra-
tégicos: promover a educação como um direito fundamental; melhorar a qualidade 
da educação; promover a experimentação, a inovação, a difusão e a partilha de infor-
mação, boas práticas, bem como o diálogo político na educação (UNESCO, 2005).
A UNESCO, em cooperação com outras organizações, como UNICEF e a Or-
ganização Internacional do Trabalho (OIT), por exemplo, tem sido instrumental 
para iniciar reformas educacionais e promover a plena implementação do direito 
à educação, assim como é evidenciado pelo extenso corpus de instrumentos de 
definição de padrões, vários documentos, relatórios, bem como, os numerosos 
fóruns, reuniões, grupos de trabalho e atividades de coordenação, colaboração 
com estados, organizações intergovernamentais internacionais e ONGs.
A UNESCO é, portanto, a principal agência de cooperação internacional no 
campo da educação. As Comissões Nacionais para a UNESCO asseguram que 
as suas ações estão bem enraizadas nos Estados-membros.
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 As nações que faziam parte da ONU acabaram por incluir, em seus programas, 
os temas debatidos na conferência, sobretudo os que tratavam da educação pela 
paz, dos direitos humanos, da democracia e da tolerância. Esse movimento aca-
bou por trazer forte influência nas reformas educativas de cada país, bem como 
no próprio Brasil, com a elaboração de documentos que incentivaram a inclusão 
dos direitos humanos na educação.
1946 Constituição da UNESCO: ideal de igualdade de oportunidades educacionais.
1948 A Declaração Universal dos Direitos Humanos é adotada pela Assembléia Geral da ONU. A 
educação é declarada um direito básico de todas as pessoas.
1959 A Declaração dos Direitos da Criança é adotada pela Assembléia Geral da ONU. A 
educação é declarada enquanto direito de todas as crianças.
1960 Convenção da UNESCO contra a Discriminação na Educação.
1965 A Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação 
Racial proclama o direito de todos à educação, independentemente de cor ou etnia.
1966 Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais Direitos.
1979 A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher 
pede a extinção da discriminação contra as mulheres e a igualdade de direitos na educação das 
mulheres é declarada a base para melhorar o status das mulheres.
1990 Declaração Mundial sobre Educação para Todos, em Jomtien, Tailândia. A conferência, 
co-patrocinada pelo PNUD, UNESCO, UNICEF, Banco Mundial e, posteriormente, UNFPA, 
apresentou um consenso global sobre uma visão ampliada da Educação Básica Cúpula de 
Educação E-9.
1993 Declaração de Nova Delhi sobre educação para todos. Líderes dos nove países em 
desenvolvimento mais populosos concordaram em atingir a meta de educação primária 
universal até 2000.
1994 Um Plano de Ação Mundial sobre Educação para osDireitos Humanos e Democracia é 
adotado por uma Conferência Internacional em Montreal. Há a Conferência Mundial sobre 
Necessidades Educativas.
1997 Conferência Internacional sobre Trabalho Infantil.
1998 Nomeação do Relator Especial sobre o Direito à Educação. 
1999 Convenção da OIT sobre as Piores Formas de Trabalho Infantil. Há o Comentário Geral Nº 
13 sobre o Direio à Educação.
2000 Dakar Framework for Action, adotada no Fórum Mundial de Educação em Dakar, Senegal.
2011 - 2019 A ONU aprova a Resolução AG/66/137 adotando a Declaração das Nações 
Unidas para a Educação e a Formação em Direitos Humanos, que versa sobre a atividade 
educativa voltada para a promoção dos direitos humanos.
1973 A convenção da OIT sobre Idade Mínima de Emprego.
1989 Convenção Internacional sobre os Direios da Criança.
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OS DIREITOS
HUMANOS
na educação
A definição de educação em direitos humanos expressa pela Declaração da ONU 
se apresenta como uma referência internacional ao descrever a educação em to-
das as formas de abordagem, treinamento, informação e atividades de aprendiza-
gem que contribuem para a prevenção de violações de direitos humanos e abusos. 
Desse modo, ao fornecer, às pessoas, conhecimento, habilidades e compreensão 
para desenvolver suas atitudes e comportamentos, a educação em direitos hu-
manos permite que os indivíduos contribuam para a construção e promoção de 
uma cultura universal de direitos humanos.
Essas três dimensões da aprendizagem – conhecimentos, habilidades e atitudes – 
foram destacadas como centrais para a educação em diferentes formas, principalmente 
pelo psicólogo educacional Benjamin Bloom, em 1956. Bloom (1956) queria promover 
formas mais elevadas de pensamento na educação e sugeriu uma taxonomia de objeti-
vos de aprendizagem que compreendesse seis grandes categorias, a saber: conhecimento, 
compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação, e não apenas memorização de fatos.
Além do conhecimento essas categorias foram apresentadas como habilida-
des e, com base no entendimento também prevalecente na Declaração da ONU 
sobre Educação e Treinamento em Direitos Humanos, foi definido que o co-
nhecimento é a pré-condição necessária para colocar as habilidades em prática.
Na educação para os direitos humanos, é crucial que todas as três dimensões 
da aprendizagem – conhecimento, habilidades e atitudes – sejam abordadas. Não 
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Você acredita que o direito à educação é atualmente uma prioridade para a comunidade 
internacional? 
pensando juntos
é suficiente que os sujeitos só conheçam os direitos humanos: eles também de-
vem ser capazes de agir de acordo com seus conhecimentos adquiridos e ter a 
confiança para exercer seus direitos e respeitar os dos outros. Para conseguir isso, 
os grupos-alvo precisam de habilidades e disposição (atitude) para poder aplicar, 
promover e proteger os direitos humanos.
A educação em direitos humanos se concentra não apenas nos objetivos de 
aprendizagem relativos ao conhecimento, habilidades e atitudes do aluno indivi-
dual, mas também no processo de aprendizagem, no ambiente de aprendizagem e 
no contexto. Isso é igualmente expresso na Declaração da ONU sobre Educação 
e Treinamento em Direitos Humanos, que afirma que a educação em direitos 
humanos deve abranger a educação sobre, através e para os direitos humanos.
A educação é mais do que apenas aprender a ler, escrever ou calcular. A origem 
latina da palavra em si é levar alguém para fora. O direito de uma pessoa à edu-
cação incorpora oportunidades educacionais, por exemplo, de acesso ao ensino 
primário, secundário e superior. Embora reconheça uma concepção mais ampla 
do direito à educação, esta é negada a um vasto número de pessoas.
Nessa perspectiva, o direito humano à educação, conforme prescrito na Carta 
Internacional dos Direitos Humanos das Nações Unidas, exige uma educação 
gratuita e obrigatória nas etapas “elementares e fundamentais”. Os estados, no en-
tanto, interpretam esse requisito de maneiras diferentes. Na Europa, América do 
Norte, Austrália e algumas partes do sul da Ásia, a educação elementar se estende 
ao Ensino Médio completo. Entretanto, cerca de 20 países em todo o mundo não 
têm idade específica para a escolaridade obrigatória.
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Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH) é uma política pública que 
consolida um projeto de sociedade baseado nos princípios da democracia, da cidadania 
e da justiça social, por meio de um instrumento de construção de uma cultura de direitos 
humanos que visa ao exercício da solidariedade e do respeito às diversidades.
O Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) é produto de uma construção demo-
crática e participativa, incorporando resoluções da Conferência Nacional de Direitos Hu-
manos, além de propostas aprovadas em mais de 50 conferências temáticas, promovidas 
desde 2003, em áreas como segurança alimentar, educação, saúde, habitação, igualdade 
racial, direitos da mulher, juventude, crianças e adolescentes, pessoas com deficiência, 
idosos, meio ambiente etc.
Fonte: Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos (2018).
explorando ideias
No Brasil, a luta pelos direitos humanos se consolidou no âmbito da educa-
ção em 1996, com o lançamento do Programa Nacional dos Direitos Humanos 
I (PNDH), que foi reformulado em 2010, a partir do lançamento do PNDH-3, 
com o eixo 5, exclusivo da Educação em Direitos Humanos.
A Educação em Direitos Humanos foi instituída, enquanto política pública, 
com a instituição do Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos (CNE-
DH), seguida da elaboração do Plano Nacional de Direitos Humanos (PNEDH), 
em 2003, em resposta às exigências da ONU. O PNEDH é um instrumento orien-
tador e fomentador de ações educativas no âmbito da Educação em Direitos 
Humanos, com o propósito de nortear a formação de sujeitos de direitos, voltados 
para os reais compromissos sociais (BRASIL, 2013).
Em 2012, no Brasil, foram aprovadas, pelo Ministério da Educação, as Dire-
trizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos (DNEDH), que, por sua 
vez, dialogam com a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases 
da Educação Nacional (Lei n° 9.394/1996). As diretrizes têm, como fundamen-
to, alguns princípios, tais como: a dignidade humana; igualdade de direitos; o 
reconhecimento e a valorização das diferenças e das diversidades; a laicidade do 
Estado; a democracia na educação; a transversalidade; a vivência e a globalização; 
e a sustentabilidade socioambiental.
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A DIVERSIDADE
CULTURAL
e os direitos humanos
O conceito de cultura sempre foi amplamente debatido na antropologia e já trou-
xe inúmeras definições para o termo, que muda com o passar dos anos, tornando 
sua definição muito complexa. De modo geral, a cultura significa todo o conjunto 
de costumes, instituições, símbolos, concepções e valores de um grupo. Além 
disso, inclui não apenas o comportamento aprendido, mas também a linguagem, 
e, portanto, tudo o que pode ser pensado e pronunciado.
Desse modo, os direitos humanos não podem ser vistos isoladamente da cul-
tura, pois aderir a outras normas e valores faz parte de uma construção cultural e 
pode variar de acordo com o espaço e tempo. Assim, é possível afirmar que, pelo 
fato de que os direitos humanos devem ser garantidos a todos os cidadãos de 
qualquer parte do mundo e sem qualquer tipo distinção, eles são uma expressão 
de uma cultura e são dinâmicos, uma vez que novos direitos e formas de vida 
serão transformadas com os anos.
Conforme as sociedades se tornam mais complexas, as diferenças culturais in-
ternas aumentam. Ao mesmo tempo, à medida que as sociedades aproximam con-
tato uma com a outra, as diferenças culturais entre elas se tornam mais aparentes.
O Brasil é o maior país da América do Sul e o terceiro a aprovar o casamento 
entre pessoas do mesmo sexo, mas testemunha um forte aumento nos crimes 
homofóbicos. Segundoo relatório publicado pela ONG Grupo Gay da Bahia 
(2019), um grupo de direitos LGBT, metade de todos os assassinatos causados por 
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No Brasil, por exemplo, segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), existem 225 povos 
indígenas, além de referências de 70 tribos vivendo em locais isolados e que ainda não fo-
ram contatadas. E, mas além do português – o único idioma oficial – há aproximadamente 
180 outras línguas no Brasil.
Fonte: Doarth (2018, on-line)10. 
explorando Ideias
homofobia no mundo são cometidos no Brasil. Existe uma violência estrutural e 
persistente contra esse grupo vulnerável. Vale destacar que essa causa se tornou 
uma luta ampla dos direitos humanos em nível global e que ganhou repercussão, 
sobretudo nos últimos anos, com o aumento da violência com o grupo.
Em 2011, 85 países assinaram uma declaração expressando a sua preocupação 
com as violações dos direitos humanos contra pessoas LGBT. No mesmo ano, 
o Conselho de Direitos Humanos da ONU adotou a primeira resolução para 
tratar, especificamente, sobre o assunto (ONU, 2013, on-line)9. Vale destacar que 
76 países ainda continuam a proibir relacionamentos entre pessoas do mesmo 
sexo, violando o direito do cidadão à privacidade. As penalidades variam entre 
sentenças de prisão até a pena de morte, em sete países (ONU, 2013, on-line)9.
 A cultura diz respeito ao comportamento das pessoas como membros de um 
grupo. Assim, as normas de uma sociedade e valores fazem parte de sua cultura. 
Nenhuma sociedade é culturalmente homogênea e pode haver diferenças cultu-
rais consideráveis dentro dos países. 
A diversidade cultural pode ser uma fonte de grande dinamismo. A heterogenei-
dade cultural que caracteriza o mundo fez que alguns defendessem o relativismo 
cultural. Tais argumentos podem ser encontrados no trabalho de importantes an-
tropólogos culturais, como Franz Boas e Ruth Benedict. Os estudiosos enfatizam 
até que ponto os comportamentos e as ideias são determinadas pelas culturas em 
que as pessoas crescem e apontam para as diferenças entre culturas. Observado 
desse ponto de vista, o ideal de tolerância implica respeito por padrões de vida 
iguais e muito cuidado ao fazer julgamentos sobre outras culturas ou práticas 
culturais e/ou comportamentos. Todavia, o que observamos é que quando os 
direitos humanos são debatidos nesses contextos, as normas de direitos humanos 
raramente são contestadas no debate global sobre esses direitos. 
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No mundo, um marco importante contemporâneo de luta pelo alcance dos 
direitos humanos é a adoção da Agenda 2030, pois ela representa uma referência 
internacional, não apenas em termos de complexidade e abrangência, mas tam-
bém em vista do grau de participação do público no processo de negociação e 
envolvimento de países. 
A Agenda 2030 está explicitamente fundamentada em instrumentos inter-
nacionais de direitos humanos e os 17 Objetivos de Desenvolvimento Susten-
tável (ODS) buscam realizar os direitos humanos de todos. A Agenda 2030 e os 
direitos humanos são, portanto, reforçados mutuamente: estes direitos oferecem 
orientação para a implementação daquela, pois é sustentada por instrumentos de 
direitos humanos que vinculam legalmente. Da mesma forma, a Agenda 2030 e os 
ODS podem contribuir substancialmente para a realização dos direitos humanos.
As questões abordadas pelos 17 objetivos e os seus 169 objetivos refletem uma 
ampla gama de direitos civis e políticos, além de econômicos, sociais e culturais. 
Além disso, 90% das metas dos ODS estão vinculadas a disposições específicas 
de instrumentos internacionais e regionais de direitos humanos. Os mecanismos 
propostos para o monitoramento (acompanhamento e revisão) da Agenda 2030 
também refletem princípios fundamentais e transversais de direitos humanos de 
participação, responsabilidade e não discriminação. Um dos principais Objetivos 
de Desenvolvimento Sustentável estabelecido na Agenda 2030 das Nações Unidas 
busca alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.
Vale destacar que, diariamente, mulheres do mundo todo são as principais ví-
timas de violência física ou sexual. Essa não é apenas uma questão de integridade 
física, mas também diz respeito a aspectos como direitos trabalhistas. As mulheres 
ainda não gozam das mesmas condições no local de trabalho que os homens – e, 
em todo o mundo, elas ganham menos. Além disso, ainda há casos de casamentos 
forçados entre adultos e meninas e/ou adolescentes ainda menores, de mutilação 
genital, sub-representação política e acesso garantido à educação sexual. 
Nas sociedades em que as visões fundamentalistas e conservadores são forta-
lecidas, ocorre um apoio generalizado à redução dos direitos humanos, visto que 
os governantes apelam para a homogeneidade cultural como base para restringir 
os direitos a minorias sociais. Consequentemente, há um aumento da violência 
contra esses grupos, o que têm impulsionado a população a uma maior intole-
rância e o ódio (contra os gays, as religiões diferentes, negros e indígenas).
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IGUALDADE DE 
GÊNERO
e os direitos humanos
Um aspecto importante da implementação de direitos em que os direitos hu-
manos desempenham um papel importante é a questão da igualdade para as 
mulheres. À priori, deveria ser uma pauta superada, pois, desde que a Carta da 
ONU foi redigida pela primeira vez, com a frase “para todos sem distinção como 
sexo” (ONU, 1945, p. 5-6), foi incluída em todos os momentos nos quais os direitos 
humanos e as liberdades fundamentais tenham sido mencionados.
Essa noção inclusiva de direitos humanos – reforçada pelo princípio comple-
mentar da liberdade contra a discriminação – pode ser encontrada em todos os 
principais documentos sobre direitos humanos, incluindo a Declaração Universal 
e os dois Pactos da ONU de 1966. No entanto, a discriminação em razão do sexo 
provoca um fenômeno de discriminação e exclusão persistente em muitos países 
do mundo, sobretudo no Brasil, onde todas as estatísticas apontam para uma 
desvantagem da mulher na vida social e profissional.
A discriminação baseada em sexo, identidade de gênero e orientação sexual é 
uma realidade: não se trata de uma exclusividade no Brasil, mas é difundida em todo 
o mundo. Isso limita especialmente o grau de participação de mulheres e pessoas 
LGBT na sociedade. Existem barreiras significativas em relação à participação plena 
e igualitária na educação, no emprego e na tomada de decisões políticas e públicas.
Embora exista um parcela maior de mulheres na educação superior, a pari-
dade de gênero é apenas um passo em direção à plena igualdade de gênero, uma 
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vez que existem muitas outras barreiras para a participação total das meninas. 
As mulheres podem ser encorajadas a estudar certos assuntos, por exemplo, as 
artes e as humanidades, ao invés de ciência e engenharia, pelo fato de serem 
compreendidas como mais adequadas aos estereótipos de gênero dominante. É 
muito provável que isso leve a criação de diferenças na realização. 
Embora, nas últimas décadas, tenham sido feitos grandes progressos na legis-
lação que promove a igualdade de gênero no emprego, na prática, ainda temos um 
longo caminho a percorrer para erradicar a discriminação no local de trabalho. 
Desde 1970, a luta das mulheres e do movimento feminista no Brasil vem avan-
çando, de modo a reduzir as estatísticas relacionadas às discriminações contra 
as mulheres e seus direitos. 
Vale destacar que as mulheres estão significativamente sub-representadas no 
processo político. Apesar de representarem, aproximadamente, metade da popu-
lação mundial, apenas 18,4% dos parlamentares nacionais e 17 chefes de Estado 
ou de governo em todo o mundo são mulheres. Em 2019, no Brasil, apenas 10% 
dos cargos políticos parlamentares eram ocupados por mulheres (CÂMARA 
DOS DEPUTADOS, 2018). 
Essa é uma das razões pelas quais, principalmente por iniciativa dasorganiza-
ções de mulheres, que, na esfera legislativa e das políticas públicas, a partir dos anos 
2000, foram criadas estruturas governamentais que trabalham na construção de po-
líticas para mulheres e são convocadas Conferências de Políticas para as Mulheres 
(ARAÚJO; FACCHINI, 2018). Apesar desses avanços e conquistas, ainda persistem 
as desigualdades de gênero, as discriminações e a violência contra as mulheres:
 “ O Relatório de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) de 2016 registra que, no Bra-sil, mulheres recebem até 25% a menos que homens desempenhando 
trabalhos semelhantes e que a taxa de mortalidade materna é de 44 
mortes a cada 100 mil nascidos vivos (a Noruega, a primeira colocada 
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Somente quando as mulheres participarem plenamente da formulação de políticas e da 
criação de instituições, sua perspectiva será verdadeiramente integrada. O conceito de 
democracia só é verdadeiramente realizado quando a tomada de decisão política é com-
partilhada por mulheres e homens: assim, a plena participação das mulheres na recons-
trução institucional é garantida.
Fonte: Pillay (2014).
explorando ideias
no ranking, apresenta 5 mortes para cada 100 mil). Na política brasi-
leira, apenas 10% dos assentos do parlamento são ocupados por mu-
lheres (a Argentina conta com 37% e a Arábia Saudita com 19,9%). A 
acentuada discrepância na participação política fez com que o Brasil 
caísse 11 posições (atualmente ocupa a 90ª posição no ranking, o que 
representa também uma queda de 23 posições desde 2011) no Relató-
rio de Desigualdade Global de Gênero 2017, divulgado em 2017 pelo 
Fórum Econômico Mundial (ARAÚJO; FACCHINI, 2018, on-line).
A implementação da igualdade de gênero constitui uma pauta de responsabilida-
des e obrigações para todos os países. O direito internacional, sobretudo a ONU, 
defende claramente uma obrigação de todos os estados de eliminar quaisquer 
leis e regulamentos discriminatórios.
No Brasil, o principal desafio é acabar com as práticas discriminatórias na socie-
dade, frequentemente baseadas em tradições e considerações de origem históri-
ca patriarcal, que reverberam até hoje. A alteração desses padrões exige grande 
mudança de mentalidade por parte do governo e dos cidadãos, que, por parte 
das políticas governamentais, implica em desenvolver políticas deliberadamente 
discriminatórias. Além disso, o apoio deve ser dado, sobretudo às ONGs locais 
e movimentos sociais que estão empenhados em promover os direitos das mu-
lheres e melhorar sua posição legal. 
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5 
QUESTÕES ÉTNICO 
RACIAIS
e os direitos humanos
Assim como fora estudado, os direitos humanos podem ser entendidos como 
algo que transcende interesses particulares ou contextos. Por isso, eles se tornam 
um veículo de bondade, igualdade e humanismo (FLORES, 2002).
Nessa perspectiva, os direitos humanos são internacionalmente reconheci-
dos por difundirem e defenderem normas e valores que adotam e promovem a 
dignidade, a justiça e a oportunidade para todas as pessoas e permitem satisfazer 
as suas necessidades básicas, inclusive de segurança. Essas normas reconhecem a 
inerente inter-relação entre o direito civil, político, social, econômico e os direitos 
culturais das diferentes expressões de cultura e raça.
Além disso, um quadro de direitos humanos gera uma obrigação afirmativa 
para os governos respeitarem, protegerem e cumprirem esses direitos. Essas obri-
gações exigem que o governo se abstenha de qualquer ação que interfira ou limite 
a liberdade das pessoas em exercer seus direitos e requer que ele proteja indiví-
duos e grupos de humanos de abusos de direitos por terceiros. Não só, mas que 
dê passos positivos para perceber o gozo dos direitos humanos de um indivíduo.
O sistema também pede ao governo que promova a igualdade e a não-dis-
criminação com base em categorias sociais, inclusive de raça, a qual é um fator 
importante na nossa sociedade. Isso se deve, à medida que o Brasil apresenta, 
desde a sua formação histórica até os dias de hoje, uma base racista velada, a qual 
se mostra de modo ainda mais cruel do que se fosse explícita.
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Além do mais, essa fumaça que esconde as relações de exclusão por raça fica evi-
dente quando são confrontadas as estatísticas de desigualdade racial. No Brasil, quan-
do brancos e pretos são comparados nos campos de trabalho, violência, educação e 
participação política, a distância é muito grande. De acordo com a PNAD (Pesquisa 
Nacional por Amostra de Domicílios) realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística) em 2017, há a seguinte desigualdade na renda média do traba-
lho: R$ 1.570 para negros, R$ 1.606 para pardos e R$ 2.814 para brancos (IBGE, 2018).
No Brasil, em 2017, registramos 11,3 milhões de analfabetos, sendo que os piores 
índices se concentram na população preta e parda, com cerca de 9,9%. Já entre bran-
cos, os índices se mantém em 4,2%. Na educação superior, apenas 8,8% da popula-
ção negra com mais de 25 anos frequentou uma faculdade. Por sua vez, o índice da 
população branca que chega à universidade se dá em torno de 22,2% (IBGE, 2018).
Essas estatísticas corroboram com a estrutura de racismo presente na nossa socieda-
de, em que os negros possuem seu acesso e direito à educação cerceados pela estrutura 
social e institucional. É importante lembrar que, por racismo, podemos entender: uma 
crença de que uma determinada raça ou etnia é inferior ou superior a outras. A discri-
minação racial envolve qualquer ato em que uma pessoa é tratada desfavoravelmente 
por causa de sua raça, nacionalidade, cor, descendência ou origem étnica.
O racismo pode tomar a forma de estereótipos, xingamentos ou insultos, co-
mentários negativos na mídia, dano ou abuso na internet. Não só, mas também 
pode ser a exclusão de pessoas e a dificultação do seu acesso a serviços (direta 
ou indiretamente), emprego, educação ou esporte. Além disso, o racismo pode 
ocorrer sistemicamente como resultado de políticas, condições e práticas que 
afetam um amplo grupo de pessoas. Em sua forma mais grave, é demonstrado 
em comportamentos e atividades que encarnam o ódio, a difamação, o abuso e a 
violência da raça – particularmente experimentados por grupos que são visivel-
mente diferentes em consequência de sua vestimenta cultural ou religiosa, sua 
pele cor ou sua aparência física.
Em última análise, o racismo é uma ferramenta para ganhar e manter o poder. 
Também está inextricavelmente ligado a fatores socioeconômicos que frequen-
temente refletem desigualdades subjacentes em uma sociedade. Além disso, vale 
destacar que a população mais vulnerável e marginalizada da sociedade acumula 
uma série de problemas sociais e disparidade de acesso, muitas delas enraizadas 
na estrutura social que possui relações diretas ao racismo.
Tudo isso quer dizer que o racismo, além da violência advinda do próprio 
problema, traz consigo outros fatores de exclusão decorrentes dele próprio. De 
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acordo com a campanha Vidas Negras, realizada pelas Nações Unidas ([2019], 
on-line)¹¹, as chances de um jovem negro ser vítima de homicídio é três vezes 
maior que o de um jovem branco na mesma faixa etária. Em outras palavras, a cor 
determina as chances de ser assassinado. Esse fator está relacionado ao estereótipo 
construído nas bases do racismo de que a cor define a sua relação com o crime.
Figura 1- Vítimas de homicídios no Brasil / Fonte: IPEA (2019).
É perceptível que o racismo pode levar a inúmeras consequências, desde uma 
violência verbal, discriminação, até crimes de ódio fatal. Podemos destacar, ainda, 
a existência do racismo estrutural como uma perspectiva importante. Utilizamos 
o termo racismo estrutural no sentido de que as ações racistas nem sempre se 
baseiam nas convicções políticas de um indivíduo, mas também podem ser in-
consciente. Em outras palavras, o racismo, em várias formas, existe como partedas estruturas de sociedade.
Tudo isso leva a compreender que o acesso das pessoas aos direitos e opor-
tunidades, bem como o poder e a influência se diferem, devido a pressuposições 
conscientes ou inconscientes dos outros sobre o grupo ao qual um indivíduo 
pertence. Uma perspectiva estrutural também significa que casos individuais de 
discriminação ou crime de ódio não devem ser vistos como incidentes isolados, 
mas como parte de um contexto mais amplo. Como exemplo, podemos citar o 
racismo institucional como parte das instituições.
Tais colocações também podem ser observadas no resultado de uma pesquisa 
realizada pelo Núcleo de Estudo da Violência da USP (NEV, 2011) sobre as “atitu-
des suspeitas” nos flagrantes realizados pela Polícia Militar de SP, a fim de traçar o 
perfil de abordagem e comportamento dos policiais. A pesquisa que os policiais 
Vítimas de
homicídios
Violência no Brasil
População
46%
Brancos
71%
Negros
54%
Negros
29%
Brancos
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se baseiam, no momento da abordagem, em um “conhecimento racial” para reali-
zar os flagrantes por acusação de tráfico de drogas. Vale destacar que esse dado é 
fundamental para explicar os inúmeros casos de violência policial e de “confusão” 
noticiados pela mídia, e que envolvem uma abordagem policial equivocada. 
Situações como essas trazem à tona outras muitas denúncias desse tipo, em 
que, na grande maioria das vezes, as vítimas mortas de modo equivocado pela 
polícia são negros, como se a atuação ocorresse com base em um estereótipo pa-
drão de bandido com a cor da pele negra, como um tipo ideal de criminoso nato. 
Isso quer dizer que o racismo, no Brasil, não está apenas em algumas pessoas: ele 
faz parte da estrutura e, por vezes, institucionaliza-se no próprio Estado, que, em 
tese, deveria zelar pela segurança e defesa de direitos de todos.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação assume o status de direito humano, posto que é parte integrante e au-
menta a dignidade humana por meio de seus frutos de conhecimento, sabedoria e 
compreensão. Além disso, a educação tem o status de direito humano social, econô-
mico e cultural multifacetado. É um direito social, porque, no contexto da comuni-
dade, promove o pleno desenvolvimento da personalidade humana. É um direito 
econômico, dado que facilita a autossuficiência econômica por meio do emprego. 
Assim, o direito à educação é fundamental para a própria ideia de direitos 
humanos. Em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos proclamava 
que a educação elementar gratuita e compulsória era um direito humano básico. 
Desse modo, a educação é compreendida não apenas como um direito, mas tam-
bém como um meio para a plena e efetiva realização de outros direitos humanos. 
O direito à educação é apoiado, em grande parte, nos instrumentos e tratados de 
direitos humanos. Vale destacar que todos esses instrumentos de direitos huma-
nos dependem amplamente do conhecimento e da educação sobre seus padrões 
e objetivos. Por exemplo, o preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Hu-
manos reconheceu tal fato ao observar que “uma compreensão comum desses 
direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse 
compromisso” (ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, 2009, p. 3) de 
promover o respeito universal e a observância dos direitos humanos. Isso implica 
que a educação sobre direitos humanos é essencial para criar um mundo onde 
estes sejam respeitados. 
Vale destacar, também, que todos nós temos direito a uma educação voltada 
para a construção e manutenção de uma cultura de direitos humanos. Devemos 
ser capazes de aprender os direitos humanos e estudar em um ambiente em que 
os direitos humanos sejam respeitados. É exatamente disso que trata a educação 
em direitos humanos. Assim, podemos concluir que o direito à educação inclui 
também o direito à educação em direitos humanos.
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na prática
1. Documentos internacionais de direitos humanos fornecem metas para a educação 
em direitos humanos. Por exemplo, as primeiras palavras da Declaração Universal 
dos Direitos Humanos proclamam que o “reconhecimento da dignidade inerente 
e dos direitos iguais e inalienáveis de todos os membros da a família humana é o 
fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo” (ASSEMBLEIA GERAL DAS 
NAÇÕES UNIDAS, 2009, p. 2). Para alcançar a liberdade, a justiça e a paz, as pessoas 
devem, também, abordar as questões sociais e econômicas concretas. Assim, a 
educação efetiva em direitos humanos tem dois objetivos essenciais: aprender os 
direitos humanos e adquirir uma aprendizagem para os direitos humanos. Com base 
nessa afirmação, diferencie os objetivos essenciais.
2. A UNESCO, como agência especializada das Nações Unidas, desempenha um papel 
de liderança, uma vez que, de acordo com a sua constituição de 1946, a educação 
é uma de suas principais funções. Além disso, a ação da UNESCO na educação é 
construída em torno de três objetivos estratégicos.
I - Promover a educação como um direito fundamental.
II - Melhorar a qualidade da educação.
III - Promover a igualdade de gênero no mercado de trabalho.
IV - Promover a experimentação, a inovação, a difusão e a partilha de informação e 
boas práticas, bem como o diálogo político na educação.
É correto afirmar que:
a) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
b) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.
c) Apenas a afirmativa I está correta.
d) Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas.
e) Apenas a afirmativa II está correta.
3. O direito humano à educação, conforme prescrito na Carta Internacional dos Direi-
tos Humanos das Nações Unidas, exige educação gratuita e obrigatória nas etapas 
“elementares e fundamentais”. Os estados, no entanto, interpretam esse requisito 
de maneiras diferentes. Assinale a alternativa que expõe como se constitui a obri-
gatoriedade da educação no Brasil:
78
na prática
a) No Brasil, a obrigatoriedade está vinculada à etapa de um ensino específico 
(fundamental).
b) No Brasil, a obrigatoriedade está vinculada a uma faixa etária que compreende 
dos 04 aos 17 anos.
c) No Brasil, a criança, obrigatoriamente, deve ingressar na pré-escola com 12 anos 
de idade.
d) No Brasil, a criança, obrigatoriamente, deve ingressar na pré-escola com 7 anos 
de idade.
e) No Brasil, não existe obrigatoriedade das crianças de frequentarem a escola.
4. Qual das alternativas define uma política pública que consolida um projeto de so-
ciedade o qual visa fortalecer as práticas individuais e sociais que geram ações e 
instrumentos para a promoção, defesa e proteção dos direitos humanos, bem como 
reparação de violações? 
a) Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH).
b) Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
c) O Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH).
d) Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos (DNEDH).
e) Organização das Nações Unidas (ONU).
5. A existência de discriminação estrutural deixa, aos estados, o desafio de adotar 
políticas que olhem não apenas para o arcabouço legal, mas também para outros 
incentivos, levando em consideração padrões de comportamento e como as diferen-
tes instituições operam. Assim, a educação em direitos humanos pode ser uma das 
respostas para esse problema. Com base nessa afirmação, descreva de que forma 
o Estado pode resolver esse problema estrutural.
79
aprimore-se
DIREITOS HUMANOS: O DESAFIO DA INTERCULTURALIDADE 
A forma como os Direitos Humanos se transformaram, nas duas últimas décadas, 
na linguagem da política progressista, em quase sinônimo de emancipação social, 
causa alguma perplexidade. De fato, durante muitos anos, após a Segunda Guerra 
Mundial, os Direitos Humanos foram parte integrante da política da Guerra Fria e, 
como tal, foram considerados pelas forças políticas de esquerda. Duplos critérios 
na avaliação das violações dos Direitos Humanos, complacência para com ditado-
res amigos do Ocidente,defesa do sacrifício dos Direitos Humanos em nome dos 
objetivos do desenvolvimento – tudo isso tornou os Direitos Humanos suspeitos 
enquanto roteiro emancipatório. 
Quer nos países centrais, quer em todo o mundo em desenvolvimento, as forças 
progressistas preferiram a linguagem da revolução e do socialismo para formular 
uma política emancipatória. No entanto, perante a crise aparentemente irreversível 
desses projetos de emancipação, são essas mesmas forças que recorrem hoje aos 
Direitos Humanos para reinventar a linguagem da emancipação. É como se os Di-
reitos Humanos fossem invocados para preencher o vazio deixado pelo Socialismo ou, 
mais em geral, pelos projetos emancipatórios. Poderão realmente os Direitos Humanos 
preencher tal vazio? A minha resposta é um sim muito condicional. 
O meu objetivo neste trabalho é identificar as condições em que os Direitos Hu-
manos podem ser colocados a serviço de uma Política progressista e emancipa-
tória. Tal tarefa exige que sejam claramente entendidas as três tensões dialéticas 
que informam a modernidade ocidental. A primeira ocorre entre regulação social e 
emancipação social. A segunda ocorre entre o Estado e a sociedade civil. A terceira 
ocorre entre o Estado Nação e o que designamos por globalização. 
A primeira tensão dialética entre regulação social – simbolizada pela crise do Es-
tado intervencionista e do Estado-providência – e emancipação social – simbolizada 
pela crise da revolução social e do Socialismo como transformação radical – deixou 
de ser, neste início de século, tensão criativa. As crises de regulação e emancipação 
sociais são simultâneas e alimentam-se uma da outra. A política de Direitos Huma-
nos, que pode ser simultaneamente uma política regulatória e uma política eman-
80
aprimore-se
cipatória, está armadilhada nessa dupla crise, ao mesmo tempo em que é sinal do 
desejo de a ultrapassar. 
A segunda tensão dialética que ocorre entre o Estado e a sociedade civil, apesar 
de considerado o dualismo fundador da modernidade ocidental, aponta como pro-
blemáticas e contraditórias a distinção e a relação entre ambos. 
Nas últimas décadas, tornou-se mais claro que a distinção entre o Estado e a socie-
dade civil, longe de ser um pressuposto da luta política moderna, é o resultado dela. 
A tensão deixa, assim, de ser entre Estado e sociedade civil para ser entre interesses e 
grupos sociais que se reproduzem sob a forma de Estado e interesses e grupos sociais 
que se reproduzem melhor sob a forma de sociedade civil, tornando o âmbito efetivo 
dos Direitos Humanos inerentemente problemático. Historicamente, nos países do 
Atlântico Norte, a primeira geração dos Direitos Humanos, dos direitos civis e políti-
cos, foi concebida como luta da sociedade civil contra o Estado, considerado principal 
violador potencial dos Direitos Humanos. A segunda e terceira gerações, dos direitos 
econômicos, sociais e culturais e da qualidade de vida foram concebidas como atua-
ções do Estado, considerado principal garantidor dos Direitos Humanos. 
Por fim, a terceira tensão ocorre entre o Estado Nação e o que designamos por 
globalização. Hoje, a erosão seletiva do Estado Nação, imputável à intensificação da 
globalização, coloca a questão de saber se, quer a regulação social, quer a emancipação 
social, deverão ser deslocadas para o nível global. É nesse sentido que se começa a falar 
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aprimore-se
em sociedade civil global, governança global, equidade global e cidadania pós-nacional. 
A efetividade dos Direitos Humanos tem sido conquistada em processos políticos de 
âmbito nacional, e por isso a fragilização do Estado Nação pode trazer consigo a fra-
gilização dos Direitos Humanos. Por outro lado, os Direitos Humanos aspiram hoje 
a um reconhecimento mundial e podem mesmo ser considerados como um dos 
pilares fundamentais de uma emergente política pós-nacional. A reemergência dos 
Direitos Humanos é hoje entendida como sinal do regresso do cultural e até mesmo 
do religioso. Ora, falar de cultura e de religião é falar de diferença, de fronteiras, de 
particularismos. Como poderão os Direitos Humanos ser uma política simultanea-
mente cultural e global? 
Nessa ordem de ideias, o meu objetivo é desenvolver um quadro analítico capaz 
de reforçar o potencial emancipatório da política dos Direitos Humanos no duplo 
contexto da globalização, por um lado, e da fragmentação cultural e da política de 
identidades, por outro. Pretendo apontar as condições que permitem conferir aos 
Direitos Humanos, tanto o escopo global como a legitimidade local, para fundar uma 
política progressista de Direitos Humanos – Direitos Humanos concebidos como a 
energia e a linguagem de esferas públicas locais, nacionais e transnacionais atuando 
em rede para garantir novas e mais intensas formas de inclusão social. 
Fonte: Santos (2009, p. 10-11).
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eu recomendo!
Educação e Direitos Humanos
Autor: Ricardo Castilho
Editora: Saraiva
Sinopse: a educação é um processo. Como processo, não pode 
nunca ser interrompido ou deixará de existir. Parafraseando um 
conceito da física, a educação não pode ser comparada ao moto- 
contínuo, porque não basta o primeiro impulso para que ela se 
mantenha em movimento – ao contrário, precisa ser alimentada, estimulada, con-
trolada, gerenciada, administrada, enfim, cuidada. Da mesma forma, a educação 
não pode ser reduzida a números, nem estar contida em uma disciplina somente. 
Perpassa, ao contrário, por todas as áreas do conhecimento, seja filosofia, socio-
logia, psicologia e, principalmente, direitos humanos. O foco deste livro está nos 
aspectos relacionados aos direitos humanos, ao longo de todas as nossas refle-
xões. Buscamos ter um olhar panorâmico sobre teorias e práticas de educadores 
de vários lugares do mundo, das diferentes tendências ideológicas ou convicções 
religiosas. Este é um trabalho democrático, porque estamos seguros de que a 
democracia é o regime que permite o florescimento e a efetividade da educação.
livro
Crianças Invisíveis 
Ano: 2005
Sinopse: o filme foi patrocinado pelo Unicef para retratar a in-
visibilidade de algumas crianças no mundo contemporâneo. Em 
todos os sete curtas, dirigidos por celebrados cineastas do mun-
do todo, o tema central é a vida de crianças que vivem dramas e 
responsabilidades como se fossem adultas.
Os sete curtas são excelentes, embora alguns sejam mais tristes 
ou pesados que outros. Embora tenha sido produzido há mais de uma década, 
continua, infelizmente, atualíssimo. Muitos professores já conhecem esse filme, 
mas é sempre bom lembrar que muitas crianças ainda não o viram. Os curtas 
tratam do abandono da infância de forma muito universal. Recomendamos, em 
especial, o brasileiro.
filme
83
eu recomendo!
Base de dados para consulta de toda a informação emitida pelos especialistas de 
direitos humanos dos Comitês da ONU. Um instrumento principal de referência 
para acadêmicos, advogados, sociedade civil, organizações, governos e servidores 
civis, nossos parceiros da ONU e o público em geral. 
Web: http://juris.ohchr.org.
conecte-se
4
DIREITOS HUMANOS NO
CONTEXTO
da pobreza e das políticas 
públicas
PLANO DE ESTUDO 
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Os direitos humanos como ins-
trumento contra a pobreza • direitos humanos e as políticas públicas • Violação de direitos humanos 
no Brasil.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 
Compreender o fenômeno da pobreza e qual é a sua relação com os direitos humanos • Identificar 
os princípios que orientam as políticas públicas para manutenção dos direitos humanos • Conhecer e 
refletir sobre as diversas formas de violação dos direitos humanos na contemporaneidade.
PROFESSORA 
 Me. Francieli Muller Prado
INTRODUÇÃO
Uma abordagem prática dos direitos humanos requer uma aproximação 
multidisciplinar que exige não apenas a compreensão de um arcabouço 
legal, mas também uma análise de uma perspectiva política, econômica esociológica, entre outras. Nessa perspectiva, sendo a pobreza um dos proble-
mas o qual, historicamente, já faz parte da conjuntura social brasileira, – que 
apresenta estreita relação com os direitos humanos, em que a manutenção da 
mesma impacta diretamente no bem-estar da sociedade e fere os princípios 
básicos de cidadania –, é fundamental compreender a sua formulação.
Vale destacar que a ação positiva do Estado, por meio de políticas pú-
blicas, é especialmente relevante quando se faz referência aos direitos dos 
indivíduos dentro de grupos vulneráveis. Nesse sentido, a política pública, 
com uma abordagem de direitos humanos, surge de um reconhecimento 
político, legal e institucional do sujeito social. 
O Estado deve adotar medidas para garantir que as pessoas integrantes 
de seus grupos vulneráveis, como povos indígenas ou crianças, tenham seus 
direitos garantidos. Nesse contexto, percebe-se a grande influência da atuação 
do Estado para minimizar a pobreza, garantir a cidadania e a manutenção 
dos direitos humanos, utilizando, como instrumento, as políticas públicas, 
para enfrentar as mazelas sociais e, consequentemente, dar efetividade ao 
princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. 
Neste momento de nossos estudos, analisaremos com criticidade o fe-
nômeno da pobreza e em que medida esse fenômeno e a marginalização 
socioeconômica acarretam violações sistemáticas aos direitos humanos.
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OS DIREITOS HUMANOS COMO
INSTRUMENTO
contra a pobreza
Olá, aluno(a), seja muito bem-vindo(a)! Chegamos na quarta etapa de nossos 
estudos, discutiremos alguns aspectos relevantes quando se trata de direitos hu-
manos da pobreza e como as políticas públicas, por meio da atuação do Estado, 
impactam e influenciam diretamente no processo de manutenção desses direitos. 
A pobreza é uma violação direta à segurança humana, pois não só ameaça 
a existência de um grande número de pessoas como também aumenta sua 
vulnerabilidade à violência, maus-tratos e problemas sociais e políticos. Amartya 
Sen (2001) enfatiza a necessidade de lutar pela equidade global e humana, para tanto:
 “ As tarefas urgentes incluem clarificação conceitual, bem como a pro-moção de discussão pública, além de identificar projetos concretos de ação relacionados à mudança institucional para promover a equidade 
e para a salvaguarda da segurança humana básica. Uma melhor com-
preensão dos conflitos e valores tem que ser integrada com a investiga-
ção das demandas de saúde, educação, pobreza, remoção e redução da 
desigualdade e insegurança de gênero (SEN, 2001, p. 38).
A pobreza é um estado de privação e de vulnerabilidade. O crescimento resultante 
da desigualdade e da discriminação entre e dentro das nações violam os direitos 
dos pobres de viver em segurança e com dignidade.
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Embora a pobreza tenha sido entendida como um fenômeno histórico, as for-
mas com que ela se manifesta, hoje, estão se tornando cada vez mais complexas. 
Essa complexidade é resultado de muitos fatores, incluindo a natureza mutável 
das relações entre os seres humanos, o relacionamento entre sociedade, fatores e 
processos de produção, as perspectivas dos governos e instituições internacionais, 
como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e as Nações Unidas.
O conceito de pobreza evoluiu com o tempo. A pobreza, que costumava ser 
compreendida apenas como relacionada à renda, é, agora, vista como um concei-
to multidimensional que deriva e está intimamente ligado à política, geografia, 
história, cultura e especificidades da sociedade. Em países em desenvolvimento, 
a pobreza é generalizada e caracterizada pela fome, falta de terra, recursos de 
subsistência, políticas ineficientes de redistribuição, desemprego, analfabetismo, 
epidemias, falta de serviços de saúde e água.
 Nos países desenvolvidos, a pobreza se manifesta sob a forma de exclusão so-
cial com o aumento do desemprego e baixos salários. Sendo assim, vale destacar, 
nos dois casos, que a pobreza faz-se presente pela falta de igualdade e equidade. 
Pobreza significa não ter acesso às oportunidades que o mundo pode oferecer. 
Isso se deve, porque pessoas que vivem nessa situação não são capazes de mudar 
a sua situação, visto que, a elas, são negadas a liberdade política, a participação na 
tomada de decisões de processos, a proteção pessoal, a possibilidade de participar 
da vida de uma comunidade, a segurança à sustentabilidade, bem como o capital 
próprio intergeracional. Enfim, a pobreza é a negação do poder e dos recursos 
econômicos, sociais e políticos.
Existem várias definições de pobreza e suas manifestações. Do ponto de vista da 
renda, uma pessoa é pobre se – e somente se – seu nível de renda está abaixo da linha 
de pobreza definida. Muitos países adotaram, para a pobreza de renda, linhas para 
monitorar o progresso na redução da incidência da pobreza. A linha de corte da po-
breza é definida em termos de ter renda para uma quantidade específica de alimentos.
De acordo com o Relatório do Desenvolvimento Humano do PNUD (RDH, 
1997, on-line)¹², “pobreza significa que as oportunidades e escolhas mais básicas 
ao desenvolvimento humano são negados – para liderar uma vida longa, saudável 
e criativa e para desfrutar de padrão de vida decente, liberdade, dignidade, autor-
respeito e o respeito dos outros”. O Índice de Pobreza Multidimensional utiliza 
indicadores às pessoas para identificar as várias dimensões de pobreza, quanto 
saúde e nutrição precárias, baixa educação e habilidades, meios de subsistência 
inadequados, más condições de habitação, exclusão social e falta de participação.
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Testemunhos de pessoas em áreas de vulnerabilidade social indicam que a merenda es-
colar é a garantia de consumo mínimo de alimentos durante o ano letivo para parte das 
crianças brasileiras
 (Paulo Adamo Idoeta e Mariana Sanches). 
pensando juntos
Vale destacar, ainda, o papel da escola na alimentação das crianças pobres. O 
Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde (SISVAN) 
estima que 9 milhões de crianças vivem em situação de extrema pobreza no Brasil. 
Além disso, de acordo com pais, professores, gestores das escolas, muitas crianças, 
durante as férias e/ou recesso escolar, têm sua alimentação suprimida, uma vez que 
é na escola que elas têm acesso à alimentação que não desfrutam em casa. 
Sob a ótica dos direitos humanos, a pobreza pode ser compreendida como: 
“uma condição humana caracterizada pela privação sustentada ou crônica de 
os recursos, capacidades, escolhas, segurança e poder necessário para o gozo de 
um padrão de vida adequado e outros fundamentais: civil, cultural, econômico, 
direitos políticos e sociais” (LINS et al., [2019], on-line)¹³.
Nesse contexto, a pobreza é como uma“forma extrema de privação”. É importante 
destacar que existe um conjunto comum de necessidades consideradas básicas 
na maioria das sociedades e isso inclui a necessidade do indivíduo de: ser ade-
quadamente nutrido, de forma a evitar morbidade e a mortalidade infantil; ter 
acesso à educação; ter a sua segurança garantida; ter acesso equitativo à justiça; 
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ser capaz de aparecer em público sem vergonha; ser capaz de ganhar a vida; e 
participar de uma comunidade.
Para as crianças, a pobreza apresenta um forte impacto à medida que as nega a 
oportunidade de cumprirem o seu potencial como seres humanos e as torna vul-
neráveis à violência, ao tráfico, à exploração e ao abuso. No Brasil, a desnutrição é a 
principal causa de mortalidade infantil. De acordo com os dados divulgados pelo 
Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde (2017), em 
média, 207 mil crianças apresentaram desnutrição grave no país. 
Com o aumento da pobreza e da desigualdade, o número de crianças fora da 
escola está aumentando. No Brasil, 2.802.258 crianças e adolescentes de 4 a 17 
anos estão fora da escola, segundo a Pesquisa Nacional por Amostrade Domicí-
lios (PNAD) de 2015. A exclusão escolar afeta principalmente meninos e meninas 
vindos das camadas mais vulneráveis da população, já privados de outros direitos 
constitucionais (UNICEF, [2020], on-line). O fator da evasão escolar está forte-
mente relacionado com a variável da pobreza. Um levantamento da Fundação 
Abrinq realizado em 2018 mostra que 40,2% daqueles que têm até 14 anos vivem 
em situação de pobreza; além disso, cerca de quatro milhões de crianças moram 
em favelas. No Brasil, mais de nove milhões de crianças e adolescentes de até 14 
anos vivem em extrema pobreza.
A estatística brasileira evidencia que o Estado é contraditório na sua atuação. 
Por um lado, cria leis, assina tratados e acordos internacionais que garantem os di-
reitos da pessoa humana. Na prática, contraditoriamente, desrespeita tais direitos 
e acaba por privar as crianças e os adultos de seus direitos constitucionais básicos.
Nos últimos anos, a pobreza e a exclusão social têm tomado centralidade nas 
áreas de pesquisa (demandando solução) e política (no campo de ação) e, a partir 
disso, acabam por definir o foco de outros temas e problemáticas sociais. Nesse 
contexto, é relevante ressaltar que a pobreza é um problema complexo e, por isso, 
não admite uma solução fácil, tampouco uma compreensão rasa. 
Tradicionalmente, o fenômeno da pobreza é associado à renda insuficiente. 
Isso quer dizer que, ao pensar em pobreza, a renda acaba por ser considerada um 
fator primordial de análise, porém não é o único. Critérios como gênero, com-
posição e estrutura familiar, etnia e cor da pele, idade e classe social e econômica 
devem ser considerados critérios para entender a pobreza.
De acordo com dados do Banco Mundial, a pobreza, no Brasil, atinge 21% 
da população (AGÊNCIA BRASIL, 2019). Por outro lado, nosso país tem uma 
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grande disponibilidade de recursos e é marcado principalmente por se posicionar 
entre as dez maiores economias do mundo. O fato é que, ao avaliar apenas o fator 
renda, não se tem um panorama do nível de bem-estar dos indivíduos. A pobreza 
e a desigualdade, desse modo, devem ser entendidas de forma mais abrangente, 
ou seja, como uma privação de capacidades básicas que conduz à vulnerabilida-
de, exclusão, carência de poder, de participação e de voz, exposição ao medo e à 
violência, enfim, à exclusão de direitos básicos e de bem-estar.
Por exemplo, em um caso de um Estado de bem-estar altamente desenvolvido, 
que oferece educação, assistência social e saúde à população, uma renda baixa 
não implica necessariamente em uma vida sem conforto, já que suas necessidades 
básicas estão sendo atendidas. Por outro lado, se o Estado não garante a educa-
ção, assistência social e saúde à população, uma renda altamente elevada pode 
não ser suficiente para proteger dos riscos ligados à pobreza. Sobre a temática, 
contribuem Rego e Pinzani (2013, p. 149):
 “ A presença da renda estável não constitui, portanto, uma garantia absoluta contra problemas ligados à pobreza: estes se resolvem antes por meio de políticas públicas voltadas à satisfação de necessida-
des básicas, quer diretamente (prestação de serviços básicos), quer 
indiretamente (criação das condições nas quais os indivíduos con-
seguem satisfazer suas carências básicas).
As autoras ainda destacam uma distinção entre pobreza primária e secundária. A 
pobreza primária se refere à impossibilidade de satisfazer as necessidades básicas 
por meio da renda, como nutrição e moradia. Já a pobreza secundária diz respeito 
à possibilidade da renda em satisfazer as necessidades básicas, porém o pobre 
não consegue satisfazer outras demandas, como saúde e educação de qualidade 
(REGO; PINZANI, 2013).
Por exemplo, a concepção de pobreza pode ser relativizada ao pensarmos em 
uma pessoa a qual vive na região do semiárido brasileiro e que possui condições 
básicas de moradia e de renda para se alimentar de modo adequado, mas não 
possui uma estrutura de saúde adequada que garanta um atendimento em saúde 
ou até mesmo uma educação de qualidade que possibilite a competitividade ao 
indivíduo em relação à condição de empregabilidade. 
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DIREITOS
HUMANOS
e as políticas públicas
Conforme estudamos até aqui, podemos afirmar, portanto, que a renda e a sua distri-
buição não são suficientes para pensar em pobreza, pois uma entende que a pobreza 
não deve ser considerada apenas a partir de uma perspectiva econômica, mas que 
outros fatores também devem ser considerados, tais como: a problemática do desem-
prego, assistência em saúde, discriminação social e cultural, violência e educação etc.
Para tratar essas problemáticas, o Estado desempenha um papel primor-
dial, sobretudo em relação à atividade política. Nesse caso, estamos nos refe-
rindo à ação de atender a um conjunto de necessidades da vida social de uma 
determinada comunidade, localidade, cidade, estado ou país. 
A atividade política de um Estado visa atender a uma série de objetivos da 
vida coletiva de um povo ou de determinado segmento social (MELAZZO; GUI-
MARÃES, 2010). Colocado dessa maneira, a problemática do desemprego, as-
sistência em saúde, discriminação social e cultural, violência e educação são de 
responsabilidade do Estado. Logo, cabe, às políticas públicas, a implantação de 
ações e estratégias de intervenção que possam impactar nessa realidade.
Afinal, o que são políticas públicas? A abordagem das políticas públicas se in-
sere no contexto das ciências sociais aplicadas, mais especificamente no da gestão 
pública. Partindo de um conceito geral, política pública é tudo o que um governo 
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faz e também o que não faz, pois até mesmo o não fazer pode ser considerado 
uma ação política, à medida que acarreta todos os impactos de suas ações e de 
suas omissões (AZEVEDO, 2011).
O que distingue política pública da política é que a política é exercida pela so-
ciedade civil, e não apenas pelo governo. Já a política pública é condição exclusiva 
do governo, desde sua formulação, deliberação, implementação e monitoramento. 
Do ponto de vista teórico-conceitual, as políticas públicas podem ser entendidas 
como toda ação abrangente e permanente do Poder Público em uma determinada 
área de atuação, ou seja:
 “ Trata-se de uma linha de estratégias adotadas para lidar com deter-minados objetivos/problemas previamente selecionados, linha essa que se materializa/consubstancia na maioria das vezes, por meio de 
princípios, diretrizes, objetivos e normas mais ou menos explicitados 
em planos, programas e projetos, e, dependendo de cada caso, tam-
bém por arcabouço legal (MELAZZO; GUIMARÃES, 2010, p. 237).
Dado o conceito, as políticas públicas ainda podem ser divididas em três tipos: 
políticas públicas distributivas, políticas públicas redistributivas e políticas pú-
blicas regulatórias:
Políticas distributivas: as políticas públicas distributivas têm 
objetivos pontuais ou setoriais ligados à oferta de equipamentos 
e serviços públicos. Quanto ao financiamento, é a sociedade 
como um todo, através do orçamento público, quem financia 
sua implementação, enquanto os beneficiários são pequenos 
grupos ou indivíduos de diferentes estratos sociais. As políticas 
públicas distributivas atendem a demandas pontuais de grupos 
sociais específicos. Em geral, porém, em um contexto de grandes 
desigualdades sociais, esse tipo de política pode ser usado como 
moeda de troca nas eleições. No entanto, é preciso sublinhar que 
as políticas distributivas podem ser implantadas sem cliente-
lismo. Exemplos: Rodovias: O governo construiu isto usando 
nosso dinheiro de imposto. Todas as classes de cidadãos são 
livres de usá-lo. Escolas públicas: As crianças de todas as classes 
são aceitas pelas escolas públicas. Programa de renda mínima. 
Programa Bolsa Família, política pública de transferência direta 
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de renda, ou seja, uma política distributiva alocando recursos 
para os segmentos mais pobresda população.
Políticas redistributivas: o objetivo das políticas públicas 
redistributivas é redistribuir renda na forma de recursos e/ou 
de financiamento de equipamentos e serviços públicos. No 
que se refere ao financiamento, são os estratos sociais de alta 
renda os responsáveis por essa modalidade de política, sendo 
os estratos de baixa renda os beneficiários. Como exemplos de 
políticas redistributivas clássicas, podemos citar a isenção ou 
a diminuição do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) 
para camadas sociais mais pobres da cidade, e o aumento desse 
imposto para os setores de maior nível de renda que vivem 
em mansões ou apartamentos de luxo. Esse tipo de política 
é popularmente chamada de “Política Robin Hood”. Outro 
exemplo desse tipo de política é a realocação de recursos orça-
mentários para os setores mais pobres da população por meio 
de programas sociais, tais como programas habitacionais, de 
regularização fundiária, reforma agrária, política tributária, 
distribuição dos royalties de petróleo.
Políticas regulatórias: as políticas públicas regulatórias visam 
regular determinado setor, ou seja, criar normas para o funciona-
mento dos serviços e a implementação de equipamentos urbanos. 
Assim, a política regulatória se refere à legislação e é um instru-
mento que permite regular (normatizar) a aplicação de políticas 
redistributivas e distributivas, como por exemplo, a Lei de Uso do 
Solo e o Plano Diretor; Proibição de dirigir bêbado (Código de 
Trânsito); Legislação Trabalhista, etc. (AZEVEDO, 2011, p. 17).
Além disso, as políticas públicas podem ser classificadas tomando, como base, o 
setor de atividade em que operam. Dessa forma, elas podem ser divididas em: po-
líticas econômicas, políticas de infraestrutura, políticas de estado e políticas sociais. 
A seguir, conheça cada uma delas:
Políticas Econômicas: o objetivo é a gestão da economia in-
terna e a promoção da economia externa. Exemplo: política 
monetária, cambial, fiscal, industrial etc.
Políticas de Infraestrutura: asseguram as condições para im-
plementação e a consecução dos objetivos das políticas econômi-
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Você sabe a diferença entre uma Política de Estado e uma Política de Governo?
Uma política de Estado é toda política que, independente do governo e do governante, 
deve ser realizada, pois é amparada pela constituição. Já uma política de governo pode 
depender da alternância de poder, pois cada governo tem seus projetos, os quais, por sua 
vez, transformam-se em políticas públicas.
Fonte: Costa (2019).
explorando Ideias
cas e sociais. Exemplo: políticas de transportes, energia elétrica, 
combustíveis, saneamento básico, mobilidade urbana e trânsito.
Políticas de Estado: “visam garantir o exercício da cidadania 
a ordem interna, a defesa externa e as condições essenciais à 
soberania nacional. Exemplo: política de direitos humanos, se-
gurança pública, defesa, etc.” (RUA; ROMANINI, 2013, p. 10). 
Políticas Sociais: “aquelas destinadas a prover o exercício de di-
reitos sociais como educação, seguridade social (saúde, previdên-
cia e assistência), habitação, etc.” (RUA; ROMANINI, 2013, p. 10). 
Essas considerações acerca dos diferentes tipos de políticas públicas têm como 
objetivo trazer para o debate a importância e o impacto delas para a sociedade 
como um todo, para o equilíbrio do Estado e para a garantia dos direitos hu-
manos. Desse modo, pensar em política pública implica o dever de identificar 
demandas na sociedade, com o intuito de analisar as reais necessidades da popu-
lação e realizar as ações, pois é fundamental que o Estado garanta os direitos de 
cidadania para população, tais como condições básicas de vida, saúde, educação, 
lazer, segurança etc. Um modo de minimizar os processos de exclusão e garantir 
maiores possibilidades de vida digna é por meio das políticas públicas.
A pobreza resulta das desigualdades sociais, de modo a agravar ainda mais a 
situação dessas, que, por consequência, acarretam a exclusão social. Portanto, para 
uma equidade dessa lógica, são necessárias políticas públicas sociais. Isso se deve, 
pois é por meio dessas políticas que o Estado consegue lidar com os problemas de 
pobreza e miséria, e apresentar mecanismos capazes de promover a autonomia 
individual e garantir a cidadania aos membros da sociedade.
Pereira (2009, p. 163) sustenta que, nos últimos tempos, “a menção às políticas 
sociais, associada aos conceitos de políticas públicas, necessidades sociais e direitos 
de cidadania, tornou-se uma tendência intelectual e política”. Isso acarretou um mo-
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vimento de interpretações simplistas do termo por algumas vertentes intelectuais, 
motivado principalmente pelas diferentes experiências nacionais, posicionamentos 
ideológicos, valores e perspectivas teóricas. Por conseguinte, essas interpretações 
acabaram por ilustrar e associar as políticas sociais como algo negativo.
Ianni (1991, p.194) traz uma perspectiva que revela o caráter histórico da difi-
culdade das questões sociais em serem incorporadas na agenda de reivindicações. 
Para o autor, “em geral, os setores sociais dominantes revelam uma séria dificul-
dade para se posicionarem em face das reivindicações econômicas, políticas e 
culturais dos grupos e classes subalternos”. Essa inclinação que se manifestava 
no passado ainda é muito forte no presente. Vale destacar, também, que essa 
ideia foi construída com base no pensamento liberal do século XIX, em que “os 
pobres eram pobres porque não tinham o caráter necessário para praticar esta 
abstinência” (CHANG, 2013, p. 197). 
Desse modo, os pobres são associados a atrasados(as), irracionais, preguiçosos(as), 
incompetentes e desqualificados(as) para o trabalho. Essa perspectiva permanece 
muito viva na opinião pública de muitos países, em particular, no Brasil. A política 
social se configura como uma política pública, ou seja, um tipo de política entre as 
políticas públicas, e ambas são policies (políticas de ação). Além disso, o conceito 
mais utilizado atualmente para política social a identifica como uma política de ação 
que tem objetivos próprios e produz impacto no contexto em que atua, além de estar 
estritamente relacionada ao Estado, governos e políticas (PEREIRA, 2009).
A política social deve ser focada em atender às necessidades sociais, cuja 
solução não se dá a partir da iniciativa privada ou ação individual e espontânea, 
mas requer a ação regida por princípios da justiça social e amparada por leis ga-
rantidoras de direitos. No entanto, vale salientar que a política social não deve se 
pautar na mera distribuição de recursos entre os cidadãos visando ao bem-estar, 
mas contemplar o conhecimento de como se criam essas necessidades e como 
elas se distribuem, com o objetivo de modificá-las.
Discutir a problemática da desigualdade requer não apenas apresentar as suas 
raízes, mas também a cultura política que vigora na configuração socioespacial. Isso 
se deve, pois os traços políticos desenvolvidos impactam diretamente nos segmentos 
sociais de modo positivo e negativo, dependendo do tipo de política que se desen-
volve. Em outras palavras, para a consolidação de um bem-estar individual e coleti-
vo, é fundamental uma dinâmica política que permita a construção de um projeto 
democrático e igualitário. Para isso, é necessário a constituição de espaços de debate 
democrático com participação ativa dos excluídos e reconhecimento dos conflitos.
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VIOLAÇÃO DE
DIREITOS
humanos no Brasil
A Constituição de 1988 apresenta o Estado como principal meio de articu-
lação de direitos e defende que ele tem um papel fundamental na manutenção 
da cidadania. Assim, parafraseando Rego (2013, p. 233), “a negação do papel do 
Estado trouxe (pode trazer) como consequência a negação da própria política”. 
Logo, um Estado que exclui e humilha seus cidadãos está desfazendo a política 
e negando aos sujeitos a sua autonomia cívica e política. Essas consideraçõesservem para salientar a importância das medidas legislativas verdadeiramente 
distributivas e indispensáveis à construção e à efetivação de direitos. Para isso, 
é fundamental a presença do Estado e, consequentemente, de agentes públicos 
preparados a fazerem da cidadania o seu núcleo central de atenção.
Existe, hoje, um consenso quase universal de que todos os indivíduos têm direito 
a certos direitos básicos sob quaisquer circunstâncias. Esses direitos incluem 
certas liberdades civis e direitos políticos, sendo, os mais fundamentais, o direito 
à vida e à segurança física. Os direitos humanos são a articulação da necessidade 
de justiça, tolerância, respeito mútuo e dignidade humana em todas as nossas 
atividades. Dessa forma, falar em direitos nos permite expressar a ideia de que 
todos os indivíduos fazem parte do escopo da moralidade e da justiça.
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Problemas crônicos de direitos humanos afligem o Brasil. Alguns policiais matam 
ilegalmente, torturam detentos e maltratam crianças em conflito com a lei. Muitas pri-
sões brasileiras estão severamente superlotadas e a falta de controle estatal adequado 
deixa os presos vulneráveis à violência, extorsão e recrutamento do crime organizado. 
Outros problemas de direitos humanos incluem violência contra as mulheres, assas-
sinatos de jornalistas e militantes dos direitos humanos, em virtude do seu trabalho, 
e violência contra ativistas rurais e indígenas envolvidos em conflitos por terra.
Além disso, perpetradores de abusos durante o regime militar de 1964 a 1985 
continuam a ser protegidos da justiça por uma lei de anistia aprovada pelo regime 
militar. Para lutar pela garantia dos direitos humanos, existem algumas instâncias 
competentes que podem ser acionadas:
 ■ Polícia: a polícia tem, entre outras responsabilidades, a garantia dos di-
reitos de cidadania. Em outras palavras, a instituição policial tem, entre 
suas funções, a de prevenir e reprimir as violações aos direitos, pois, no 
cumprimento do seu papel, ela é a responsável pela proteção dos direitos 
à vida, à segurança, à integridade física e entre outros.
 ■ Ministério Público: esse órgão tem o papel e a função de fiscalizar o 
cumprimento da lei. Nele, podemos denunciar as violações aos nossos 
direitos. Vale destacar que a sua atuação é sempre coletiva.
 ■ Defensoria Pública: esse órgão é responsável pela garantia dos direitos, 
quando é necessária a assistência jurídica e não existe recurso para pagar 
um advogado.
 ■ Poder Judiciário: o Judiciário é o responsável por analisar e julgar os 
casos denunciados à polícia e ao Ministério Público.
 ■ Comissão e Conselho de Direitos Humanos: esses órgãos recebem, 
orientam e encaminham denúncias aos órgãos competentes, além de po-
derem convocar audiências públicas para discutir os casos de violações.
 ■ Secretária dos direitos Humanos: esse órgão tem a função de formu-
lar e executar a política de direitos humanos, garantindo sua proteção e 
promoção.
 Existem várias formas de violações de direitos sofridas por sujeitos e defensores 
de direitos humanos que assumem a liderança nas lutas dos movimentos sociais 
e populares, tanto nas áreas urbanas quanto nas rurais do Brasil. Historicamente, 
o crescente processo de criminalização de lutas, movimentos e lideranças no 
Brasil é efetivado por meio de ações de agentes e instrumentos do Estado ou por 
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meio de grupos político-ideológicos em busca de poder e da prevalência de seus 
pontos de vista privados.
As violações históricas associadas aos interesses de grupos políticos e econo-
micamente poderosos no Brasil se refletem nas crescentes cifras de criminalização 
e assassinato de líderes em várias lutas, assim como em todas as dificuldades vi-
venciadas pelos mecanismos legais e operacionais quando se trata da garantia de 
lutas e direitos de movimentos sociais e defensores dos direitos humanos no Brasil.
De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), 3.964 pessoas foram 
presas no país entre 1995 e 2014, no contexto de lutas rurais organizadas por tra-
balhadores, líderes de sindicatos e movimentos sociais, e defensores dos direitos 
humanos (ALVARES, 2016). Tais números evidenciam a situação de perseguição, 
repressão e criminalização a que os defensores dos direitos humanos estão per-
manentemente sujeitos.
O uso repressivo do aparato estatal no contexto de um ataque à democracia, 
aos direitos e às liberdades também se tornou comum nas áreas urbanas. De 
acordo com uma pesquisa da ONG ARTIGO 19, houve 121 episódios de gra-
ves violações contra os comunicadores entre 2012 e 2015, em conjunto com os 
homicídios, o que representa um aumento de 67% nas graves violações contra 
comunicadores (CBDDH, 2016). 
Dentro da abordagem das ciências sociais, a compreensão dos direitos huma-
nos só recentemente ganhou espaço. Isso se deve, porque a maioria das teorias 
sociológicas clássicas (por exemplo, Marx, Weber, Durkheim) lidam com descon-
fiança com o tema direitos humanos. Já os sociólogos contemporâneos trazem 
uma contribuição mais forte acerca da compreensão de seu desenvolvimento e 
de suas práticas em evolução (CANDAU, 2008).
Para estudar direitos humanos, devemos tentar levar em consideração uma 
série de variáveis em torno do tema, pois grande parte da literatura a seu respei-
to acaba por simplificar muito o seu conceito e teorias. Assim, a contribuição 
teórica na área acaba por ganhar um foco de crítica, sob o argumento de que os 
direitos humanos acabam por despolitizar e individualizar, no sentido de que eles 
permitem que o mundo seja seguro para as elites globais neoliberais, em vez de 
acabar com o sofrimento de pessoas comuns (CANDAU, 2008). Dessa mesma 
perspectiva compartilha Souza (1997, on-line), quando afirma que:
 “ Se observarmos a história dos direitos humanos no período ime-diatamente a seguir à Segunda Grande Guerra, não é difícil concluir 
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que as políticas de direitos humanos estiveram em geral ao serviço 
dos interesses económicos e geopolíticos dos Estados capitalistas 
hegemónicos.
Uma outra corrente enfatiza que os discursos e as práticas dos direitos humanos 
contrapõem essa perspectiva ao valorizar o impacto positivo em nível global, e 
não necessariamente envolvem submissão ao neoliberalismo. Nesse sentido, os 
direitos humanos também representam uma linguagem na qual uma variedade 
de reivindicações de justiça é articulada contra o imperialismo e o neoliberalis-
mo. Não só, mas oferecem uma linguagem que permite tornar o mundo mais 
centrado nas pessoas e pacífico, melhorando-o, ao invés de restringir a liberdade, 
a igualdade e a solidariedade transfronteiriça.
O que se percebe, no nível teórico, é a investida dos autores em abordar tanto 
as dimensões progressivas quanto os problemáticos direitos humanos, pois não 
podemos correr o risco de simplificarmos a compreensão dos direitos humanos, 
visto que é uma análise muito complexa e envolve vários atores, organizações 
e estruturas. Vale destacar, ainda, que as análises que se opõem aos bons usos 
dos direitos humanos acabam sendo simplificadas, o que dificulta ainda mais a 
compreensão e aceitação do tema, dos reivindicados por movimentos populares 
em sociedade e dos maus usos dos direitos humanos da elite (feitos por elites 
nacionais, em organizações formais).
Você já parou para pensar onde encontrar os direitos humanos? Se pararmos para 
refletir sobre perceberemos que os direitos humanos são encontrados em pequenos lu-
gares, perto de casa, em ações de inclusão social da classe menos favorecida e no amparo 
de direitos sociais e civis. Essas situações, por mais complexas que sejam, não fazem mais 
do que sugerir a diversidade e a abrangência dos direitos humanos.
As demandas dos direitos são apoiadas por uma variedade de atores: movi-
mentos sociais, bem como grandes organizações não-governamentais interna-
cionais; organizações locais; políticos; e organizações intergovernamentais. Esses 
atores,muitas vezes, divergem entre si na definição e na defesa das justificativas 
específicas do que os direitos humanos são e devem ser na realidade. O fato é que 
os direitos humanos diferem nos diferentes contextos. Por exemplo, no Brasil, em 
casos de violência e extermínio da população indígena, o apoio transnacional 
para a manutenção dos direitos humanos desses povos é crucial, sobretudo para 
obter reconhecimento internacional desses casos, e há a tentativa, com isso, de 
barrar os casos, em virtude da mobilização e crítica internacional.
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Ao mesmo tempo, exemplos como esses também nos levam a questionar o 
valor da internacionalização dos direitos humanos. A tortura terminou? Os povos 
indígenas vivem em paz em suas terras ancestrais? O sistema brasileiro de direi-
tos humanos, constituído em 1988, por exemplo, é altamente desenvolvido, mas, 
aparentemente, permite violações de direitos básicos à liberdade – um direito 
geralmente fundamental na ONU.
Para Lohmann (2002), os direitos humanos ganham peso e poder quando se 
tornam parte de um sistema jurídico específico, por exemplo, de um sistema ju-
rídico nacional, por meio de um processo democrático, pois são, então, aplicáveis 
pela lei de maneira mais direta e democraticamente legitimada. Sobre a relação 
entre democracia e direitos humanos, é importante enfatizar que a democracia 
se baseia no direito humano de participar do processo de decisão política (Art. 
21 da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948), também chamado 
de princípio da democracia:
 “ 1. Todo ser humano tem o direito de fazer parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do 
seu país. 3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta 
vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio uni-
versal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade 
de voto (ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, 2009, p. 11).
Nesse sentido, é importante salientar que temos um direito humano à democra-
cia. Direitos humanos e democracia andam de mãos dadas, pois a democracia é 
o sistema político que incorpora a autonomia do indivíduo inerente à ideia e ao 
conceito de direitos humanos. Entretanto, um desafio e problema das sociedades 
democráticas é o fato de que nem todos os detentores de direitos podem partici-
par de decisões democráticas, como as pessoas que vivem nessa sociedade legal 
sem a cidadania desse estado em particular, por exemplo. Isso quer dizer que a 
falta dos direitos humanos afasta as pessoas de usufruírem seu papel cidadão de 
poder participar democraticamente da sociedade.
Obviamente, a implementação dos direitos humanos, ao mesmo tempo, en-
frenta desafios em todos os lugares e um dos principais pertence ao processo de 
incorporação dos direitos humanos nos sistemas jurídicos nacionais, tornando-se 
parte dos direitos fundamentais da constituição por meio de um processo demo-
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crático, como a Constituição Cidadã do Brasil de 1988, em que vários aspectos 
da Carta das Nações Unidas foram incorporadas no documento e, legalmente, 
passaram a fazer parte da legislação brasileira.
 Dentro do sistema jurídico nacional, os sujeitos jurídicos se reconhecem 
como detentores desses direitos dentro da estrutura da lógica interna de um siste-
ma jurídico de determinado país. Por outro lado, os países que não assumem essas 
diretrizes ou que não são cidadãos dessa sociedade legal específica permanecem 
sem direitos humanos.
Desse modo, para Lohmann (2002), os direitos humanos correm o risco de 
reduzirem a sua universalidade por meio da particularização como partes de um 
sistema jurídico nacional, ou seja, de cada país. Em nível prático, é necessário o 
processo de fortalecimento do direito internacional e de uma institucionalização 
global da implementação e proteção dos direitos humanos – paralelamente à 
integração dos direitos humanos nos sistemas jurídicos nacionais.
Se partirmos da perspectiva da Declaração Universal dos Direitos Humanos, 
em um estado em que eles não podem ser reivindicados legalmente, todo ser 
humano ainda é portador de direitos humanos, independentemente da posição 
oficial do estado. Todavia, para que esses indivíduos se empoderem a partir des-
se pressuposto, a educação em direitos humanos pode enfrentar esses desafios. 
Thomas (2008) enfatiza que educar os cidadãos em seus direitos humanos cria 
uma sociedade informada, que, por sua vez, fortalece a democracia. Nesse senti-
do, a educação em direitos humanos é essencial para: a prevenção de abusos dos 
direitos humanos; a promoção da não discriminação, a igualdade e o desenvolvi-
mento sustentável; o aprimoramento das pessoas, bem como a participação nos 
processos democráticos de tomada de decisão.
Para além, a educação em direitos humanos contribui para o funcionamento 
da democracia. O papel fundamental da educação em direitos humanos é o de 
capacitar os cidadãos para defender seus próprios direitos e os dos outros. “Esse 
empoderamento constitui um investimento importante para o futuro, destinado 
a alcançar uma sociedade justa, na qual todos os direitos humanos de todas as 
pessoas sejam valorizados e respeitados” (MELLO, 2004, p. 3). A ideia de empo-
deramento significa a capacidade de determinar o presente e o futuro com auto-
confiança e consciência dos próprios direitos, bem como de participar ativamente 
do processo de decisão política.
A educação em direitos humanos tem um horizonte global, em que a edu-
cação para a cidadania capacita as pessoas a se tornarem cidadãos ativos de seu 
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próprio país: porquanto ela as capacita a enfrentar os desafios da cidadania global 
e as ensina sobre os valores globais. Não se trata apenas de aprender e adquirir 
habilidades: a educação em direitos humanos te ensina a agir e te capacita a de-
fender seus direitos e os direitos dos outros (MELLO, 2004).
Com base na universalidade dos direitos humanos, a educação em direitos 
humanos utiliza uma abordagem inclusiva. Os direitos humanos somente podem 
ser alcançados se todo ser humano souber de seus direitos, entender-se como 
detentor de direitos e conseguir identificar os responsáveis correspondentes. So-
mente assim os seres humanos podem reivindicar seus direitos e reivindicar os 
direitos de outros em solidariedade. Em outras palavras, a conscientização dos 
direitos humanos é a base da possibilidade de se defender e impedir violações de 
seus próprios direitos e dos direitos de terceiros. 
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O papel do Estado em relação aos direitos humanos sempre foi contraditório. 
Contudo, é por meio dos Estados que se garante a proteção dos direitos humanos, 
assim como eles também podem ser violadores brutais dos direitos humanos. 
Essa tensão básica está enraizada na própria noção de Estado e permeia grande 
parte da literatura sobre direitos humanos. 
O fato é que o Estado é o principal detentor das obrigações dos direitos huma-
nos. Embora, esses direitos possam ser violados por qualquer pessoa ou grupo – o 
que, de fato, ocorre –, cometido por atores não-estatais, como empresas, grupos 
criminosos organizados, terroristas, paramilitares e organizações intergoverna-
mentais, é dever do Estado respeitar, proteger e cumprir os direitos civis, políticos, 
econômicos, sociais e culturais da sociedade.
Além disso, o Estado tem o dever de prevenir as violações dos direitos huma-
nos e desenvolver mecanismos para que eles sejam respeitados. Uma das formas 
de desenvolver e fomentar os direitos humanos é por intermédio das políticas 
públicas, que são expressas como objetivos tangíveis a serem alcançados por 
meio da implementação de programas específicos, com a participação de todos 
os setores relevantes do governo e da sociedade.
A ação do Estado, por intermédio de políticas públicas, torna-semuito re-
levante, à medida que faz referência aos direitos dos indivíduos, sobretudo dos 
grupos vulneráveis. Assim, a defesa dos direitos humanos se tornaria, portan-
to, um dever não apenas daqueles que lutam contra as violações dos direitos 
humanos e buscam evitá-las, mas também daqueles que estão em posições de 
tomada de decisão e podem adotar, preventivamente, medidas para garantir que 
as políticas desenvolvidas estão de acordo com a lei de direitos humanos desde 
o início. Desse modo, a política pública passa a ser um instrumento de cidadania 
e de conscientização sobre os padrões de direitos humanos, minimizando os im-
pactos de fenômenos como a pobreza e casos específicos de violação dos direitos.
104
na prática
1. As formas como a pobreza se manifesta, hoje, estão se tornando cada vez mais 
complexas. Essa complexidade é resultado de muitos fatores, incluindo a natureza 
mutável das relações entre os seres humanos, o relacionamento entre sociedade e 
fatores e processos de produção, e as perspectivas dos governos e instituições in-
ternacionais. Com base nessa afirmação, assinale a alternativa que mais se enquadra 
no conceito de pobreza na contemporaneidade:
a) A pobreza pode ser entendida como um fenômeno relacionado exclusivamente 
à renda, ou seja, é a falta de recursos financeiros que possibilita o acesso a bens 
materiais e imateriais.
b) Nos países com economia avançada, como é o caso do Brasil, que se posiciona 
entre as 10 maiores economias do mundo, não existe pobreza.
c) A pobreza pode ser entendida como um fenômeno dimensional que deriva e 
está intimamente ligado à política.
d) A pobreza deve ser entendida de forma mais abrangente, como a privação de 
capacidades básicas, o que conduz à vulnerabilidade, exclusão, carência de po-
der, de participação e voz, exposição ao medo e à violência, enfim, à exclusão de 
direitos básicos e de bem-estar.
e) A presença da renda estável constitui uma garantia absoluta contra problemas 
ligados à pobreza.
2. A abordagem das políticas públicas se insere no contexto das ciências sociais apli-
cadas, especificamente, no campo da gestão pública. Partindo de um conceito geral, 
política pública é tudo o que um governo faz e deixa de fazer, com todos os impactos 
de suas ações e de suas omissões (AZEVEDO, 2011). Com base nessa afirmação, 
qual é a relação das políticas públicas com os direitos humanos?
3. As políticas públicas podem ser classificadas tomando como base o setor de ativi-
dade em que operam. Dessa forma, podem ser divididas em: políticas econômicas, 
políticas de infraestrutura, políticas de estado e políticas sociais. Além disso, uma 
delas apresenta forte relação com a garantia de direitos humanos. Com base no 
exposto, assinale a alternativa que representa essa política:
105
na prática
a) As políticas econômicas, cujo objetivo é a gestão da economia interna e a pro-
moção da economia externa.
b) As políticas de infraestrutura, que asseguram as condições para implementação 
e a consecução dos objetivos das políticas econômicas e sociais.
c) As políticas de Estado, que visam garantir o exercício da cidadania, a ordem in-
terna, a defesa externa e as condições essenciais à soberania nacional.
d) As políticas sociais, as quais são destinadas a prover o exercício de direitos 
sociais, como educação, seguridade social (saúde, previdência e assistência), 
habitação etc.
e) As políticas redistributivas, que redistribuem a renda na forma de recursos e/ou 
de financiamento de equipamentos e serviços públicos.
4. Segundo um relatório da Global Witness, o Brasil registrou o maior número de 
assassinatos de defensores de direitos humanos, sociais e ambientais em 2018, 
ou seja, um a cada seis dias (REDE BRASIL ATUAL, 2018). Ainda, de acordo com o 
relatório, esse seria o maior número de ataques fatais contra pessoas defensoras 
de direitos humanos registrados desde 2002. Segundo esse mesmo estudo, 90% 
dos assassinatos de pessoas defensoras ocorrem na Amazônia brasileira. Com base 
nesses dados, quais mecanismos e ações podem ser desenvolvidos (sociedade e 
Estado) para a diminuição dessas estatísticas?
5. Mais de sessenta anos após a publicação da Declaração Universal dos Direitos Hu-
manos, tais direitos ainda são mais um sonho do que realidade. Violações existem 
em todas as partes do mundo e dos mais variados tipos. Felizmente, existem órgãos 
que atuam na defesa desses direitos e podem ser acionados em caso de violação. 
Com base nessa afirmação, relacione os órgãos com suas respectivas finalidades: 
I - Ministério Público.
II - Defensoria Pública.
III - Poder Judiciário.
IV - Comissão e Conselho de Direitos Humanos.
V - Secretaria dos Direitos Humanos.
106
na prática
( ) Esse órgão tem o papel e a função de fiscalizar o cumprimento da lei. Nele, 
podemos denunciar as violações aos nossos direitos. Vale destacar que a sua 
atuação, para iniciar uma causa, é sempre coletiva.
( ) Esse órgão é o responsável pela garantia dos direitos, quando é necessária a 
assistência jurídica e não existe recurso para pagar um advogado.
( ) É o órgão responsável por analisar e julgar os casos denunciados à polícia e ao 
Ministério Público.
( ) Esse órgão recebe, orienta e encaminha denúncias aos órgãos competentes, 
além de poder convocar audiências públicas para discutir os casos de violações.
( ) Esse órgão possui a função de formular e executar a política de direitos huma-
nos, garantindo a sua proteção e promoção.
A sequência correta é:
a) I, II, III, IV, V.
b) II, III, V, I, IV.
c) I, II, IV, V, III.
d) III, I, II, V, IV.
e) IV, V, III, II, I
107
aprimore-se
O IMPASSE DA POLÍTICA URBANA NO BRASIL
A construção ideológica que cerca o conceito de propriedade privada é tão forte 
que, em uma inversão completa de papéis, homens e mulheres que deveriam se 
beneficiar da aplicação das leis, e em nome dos quais elas são aprovadas, são acu-
sados de se insurgir contra elas.
Aqueles que foram objetos de tantas leis ignoradas, os desterrados, os acampados, 
as vítimas de violência das milícias privadas ou mesmo públicas, aqueles que não pos-
suem nada além da roupa do corpo e os instrumentos de trabalho são acusados de 
violência, porque não aceitam o destino das favelas, do tráfico, das marquises nas ruas.
Insistem no direito a um pedaço desse imenso território para plantar, princi-
palmente alimentos. Ressalta-se que a maior parte dos alimentos consumidos no 
Brasil é proveniente da agricultura familiar e, portanto, da pequena propriedade. Na 
comparação do uso de fertilizantes químicos e da água, a pequena propriedade tem 
uma relação menos danosa que a monocultura da grande propriedade.
A pequena propriedade é fundamental para a manutenção da biodiversidade, 
pois desempenha um papel importante na sustentabilidade ambiental, além de re-
ter parte da população no campo. No entanto, mais uma vez, confirmando o evento 
de “libertação” dos escravos, os pobres são impedidos do acesso à terra.
Entre 2000 e 2005, foram assassinados 223 camponeses, religiosos ou advoga-
dos, em disputas de terra. A criminalidade está, definitivamente, associada à pobre-
za no Brasil. Mas como a ilegalidade e a violência dos poderosos não têm “aparên-
cia” de crime, ela continua vergonhosamente impune. 
Atualmente, o Brasil vive um momento histórico, em que uma crise multidimen-
sional agrava as violações dos direitos humanos em seu território. Violações de di-
reitos têm ocorrido, historicamente, principalmente contra povos e comunidades 
tradicionais, campesinos e trabalhadores sem-terra, os sem-teto, a população negra 
e pobre das periferias urbanas brasileiras, entre outros.
A violência está presente de maneira mais séria e aguda quando afeta crianças, 
adolescentes, mulheres, idosos e jovens. Tanto a violência quanto a rápida perda de 
direitos levaram o país as suas piores crises institucionais desde a promulgação da 
Constituição Federal em 1988.
Fonte: Maricato (2011).
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eu recomendo!As Causas da Pobreza
Autor: Simon Schwartzman
Editora: FGV
Sinopse: a pobreza e a exclusão social são temas dominantes, o 
que requer atenção imediata e definem o foco dos demais temas 
das ciências sociais. Não é possível tratar esses problemas com 
os conceitos do passado. Ao examinar a questão racial, o traba-
lho infantil, a questão da educação e o relacionamento entre as políticas sociais 
e o uso da pobreza como instrumento de ação política, este livro, mais do que 
estabelece certezas, levanta dúvidas, para que possamos reformular nossa visão 
da pobreza e da desigualdade social e, assim, realmente enfrentá-las. Sumário: - 
As causas da pobreza. - Pobreza e exclusão. - As estatísticas públicas e a mediação 
da pobreza. - Raça e etnia. - Trabalho infantil. - O futuro da educação. - Conclusão: 
políticas sociais e política da pobreza.
livro
No site de dados da HRMI, você pode visualizar os dados por país ou por direito 
acerca dos direitos humanos no Brasil.
Web: https://data.humanrightsmeasurement.org/en.
conecte-se
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eu recomendo!
Inequality For All (desigualdade para todos)
Ano: 2013
Sinopse: desigualdade. Esse é o tema e parte do título do docu-
mentário. Um chamado aos norte-americanos para que se mobi-
lizem e briguem para reverter o processo que, desde os anos 80, 
vem promovendo concentração de renda cada vez maior no país.
Quem narra, apresenta e deixa claro o quanto a classe média per-
deu nas últimas décadas é o economista Robert Reich, que teve 
cargo equivalente ao de Ministro do Trabalho no governo do ex-presidente Bill 
Clinton e havia trabalhado com o democrata Jimmy Carter.
No filme, Reich argumenta que a concentração de renda não é apenas um pro-
blema para a economia dos Estados Unidos: é um perigo, porque solapa a pró-
pria democracia. A resposta, para Reich, está na política. Resposta que serve para 
qualquer país do mundo. O discurso da não-política serve apenas ao status quo a 
quem já tem tudo nos EUA ou em qualquer lugar do mundo.
Espanhol: https://www.youtube.com/watch?v=x4Ny6OlmOGE&t=427s
Inglês: https://www.youtube.com/watch?v=Q8swuwO_E8U&t=860s
filme
5
QUESTÕES
CONTEMPORÂNEAS
de direitos humanos
PLANO DE ESTUDO 
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • O estatuto da criança e do ado-
lescente e a “garantia” da cidadania • O pensamento de Paulo Freire e os direitos humanos • Direitos 
humanos: desafios e perspectivas contemporâneas.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 
Refletir sobre algumas questões contemporâneas que envolvem a temática dos direitos humanos e 
educação no Brasil e no mundo • Pensar a educação e os direitos humanos sob a perspectiva Freiriana 
• Analisar os argumentos e os contra-argumentos dos direitos humanos de forma crítica.
PROFESSORA 
Me. Francieli Muller Prado
INTRODUÇÃO
O movimento dos direitos humanos fez grandes progressos nas últimas sete 
décadas, mas os abusos ainda ocorrem com uma triste frequência. O ani-
versário da DUDH é uma oportunidade para comemorar os sucessos e nos 
comprometermos com os princípios descritos nos 30 artigos desta.
A lei internacional de direitos humanos determina que os Estados não 
discriminem membros de minorias étnicas, religiosas e sociais. Além dis-
so, a comunidade mundial – como a ONU –, por exemplo, espera que os 
Estados adotem medidas positivas que protejam e beneficiem as minorias 
na garantia de seus direitos. 
Se, por um lado, ao se tratar de conflitos de guerra, o Brasil seja um país 
pacífico, por outro, ele é recordista em violência a minorias – qualificados 
como minorias sob o direito internacional –, que se estende aos mais varia-
dos grupos sociais, como a violência contra negros, defensores de direitos 
humanos, de ativistas ambientais, moradores de comunidades carentes, 
homossexuais e mulheres. Vale destacar que a situação política de alguns 
desses grupos melhorou significativamente nos últimos anos. No entanto, 
o discurso discriminatório sobrevive e acaba por negar os direitos básicos 
aos membros dessas minorias, por vezes, baseado em crenças discrimina-
tórias e infundadas.
Com base nesse contexto, ao chegarmos à nossa última unidade do 
livro, a proposta é levá-lo a pensar em algumas questões contemporâneas 
relacionadas aos direitos humanos em relação a esses aspectos elencados 
Isso se deve, porque percebemos, pois sobretudo nos últimos anos, uma 
retomada de discussões e críticas referentes aos direitos humanos, de um 
discurso que, em alguns casos, vêm deslegitimar a luta pelos direitos uni-
versais, principalmente pela educação. 
Nessa perspectiva, a tentativa é a de trazer essas pautas contemporâneas 
e apresentar os seus argumentos e contra-argumentos, para que você reflita 
de forma crítica sobre os temas propostos. Bons estudos! 
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O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE
e a “garantia” da cidadania
O direito à educação é um direito humano em si e a um indispensável meio 
de realizar e adquirir outros direitos. Isso se deve, pois a educação capacita os 
indivíduos a saírem da pobreza e promoverem suas condições socioeconômicas 
e status. A política e, socialmente, a educação oferecem habilidades às pessoas 
para identificar objetivos comuns, assumir um lugar pleno e ativo na vida co-
munitária, reconhecer práticas manipulativas da mídia e resistir à opressão.
 Apesar de sua importância vital para garantir os direitos humanos – pro-
mover o desenvolvimento socioeconômico, a educação exige pouca atenção da 
mídia. Existe uma lacuna inaceitável entre necessidades educacionais e recursos 
disponíveis. Tanto no Brasil quanto em outros países, o total financeiro de apoio 
à educação caiu nos últimos anos.
Conforme já estudamos, o direito à educação está articulado no Art. 26 da 
DUDH, que enfatiza a universalidade, a igualdade de acesso e o papel da educa-
ção na promoção do respeito pelos direitos humanos e tolerância entre as nações 
e grupos sociais. É importante notabilizar que Brasil é membro fundador das 
Nações Unidas (ONU) e signatário da Declaração Universal dos Direitos Hu-
manos, que foi adotada e proclamada pela resolução da Assembleia Geral de 10 
de dezembro de 1948.
O Art. 25 da DUDH enuncia que a maternidade e a infância têm direito a 
cuidados e assistência especiais, além de que todas as crianças, nascidas dentro 
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ou fora do casamento, gozam da mesma proteção social. Em 1959, esse mesmo 
tema foi ampliado e a ONU proclamou a Resolução 1386 da Assembleia Geral 
de 20 de novembro de 1959, a Declaração dos Direitos da Criança. A declaração 
serviu de base para a futura Convenção sobre os Direitos da Criança, que seria 
adotada trinta anos depois pela Resolução 44/25 da Assembleia Geral da ONU, 
de 20 de novembro de 1989.
Foi em 21 de novembro de 1990 que o Brasil aprovou a Convenção das Na-
ções Unidas sobre os Direitos da Criança, incorporando-a integralmente à lei 
positiva do Brasil, por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O 
referido estatuto, promulgado em 1990 pelo Congresso Nacional do Brasil, foi o 
resultado de uma forte articulação entre a coalizão de organizações não-gover-
namentais (ONGs) brasileiras e movimentos sociais que lutavam pelos direitos 
das crianças e adolescentes. Assim, o ECA reformou radicalmente o status legal 
das crianças, redefiniu as responsabilidades do Estado e da sociedade civil, e de-
terminou a criação de conselhos participativos nos níveis federal, estadual e local. 
Vale destacar que, em 1990, o Brasil registrou 52 mortes de crianças a cada mil 
nascidos vivos, o que era um dado alarmante se comparado com o cenário atual, em 
que, no ano de 2018, registramos a taxa de 12,8 a cada mil nascidos vivos (IBGE, 2018). 
O ECA partiu de uma revisão da Constituição Brasileira de 1988, que, no 
Art. 227, afirma que:
 “ É dever da família, da sociedade e do estado garantir com absolu-ta prioridade os direitos das crianças e adolescentes à vida, saúde, alimentação, educação, lazer, treinamento ocupacional,cultura, 
dignidade, respeito, liberdade e vida familiar e comunitária, além 
de protegê-los de todas as formas de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988, on-line).
 O ECA criou um conjunto abrangente de leis que substituiu a legislação anterior, 
o então chamado Código de Menores, que era amplamente reconhecido como 
repressivo e, veículo para a internação em atacado de jovens pobres. O Código 
de Menores acabava por fomentar a discriminação à medida que associava a de-
linquência à pobreza. Isso acabava por esconder a real situação das crianças que 
se encontravam em uma estrutura social e familiar de violência, sobretudo pela 
desigualdade social e de renda, o que justificava ainda mais a repressão sobre as 
crianças que se encontravam sob a tutela do Estado. 
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Arantes (apud FIUZA, 2014) pontua que havia a ideia de que os mais pobres 
tivessem um comportamento desviante com “tendência natural à desordem”, sen-
do, assim, inaptos para viver em sociedade. Desse modo, diferente do Código de 
Menores, o ECA traz um reconhecimento legal do direito de todas as crianças e 
adolescentes à cidadania que independe da classe social, atuando como um me-
canismo de defesa de direitos àqueles que estão vulneráveis socialmente (PINO, 
1990). Em um esforço para descentralizar e ampliar a participação nas decisões 
políticas e orçamentárias, o Estatuto determina a criação dos Conselhos de Di-
reitos da Criança e dos Conselhos Tutelares.
Os Conselhos de Direitos da Criança são os responsáveis pela implementação 
do ECA no nível político e jurídico, os quais devem ser formados por um número 
igual de representantes da sociedade civil (ONGs) e de instituições governamen-
tais. Já o Conselho Tutelar tem como principal papel monitorar o cumprimento 
do ECA, de modo a intervir em nome de crianças vulneráveis e, de certa forma, 
servir como assistentes sociais nas comunidades. Portanto, o Conselho Tutelar é 
um “zelador dos direitos da criança e do adolescente: sua obrigação é fazer com 
que a não-oferta ou a oferta irregular dos atendimentos necessários à população 
infanto-juvenil sejam corrigidos” (SOUZA, 2008, p. 13).
Embora esses dois instrumentos (conselhos) representem uma grande con-
tribuição para o alcance da cidadania, a experiência real das crianças pobres têm 
pouca repercussão com os direitos atribuídos a elas no papel. Isso se deve, pois, 
passar das práticas tradicionais de exclusão, em que a criança era culpada, para 
novas práticas de incorporação e aceitação da responsabilidade coletiva pelo 
bem-estar da criança, é um desafio muito maior do que escrever as novas leis.
Vale destacar, ainda, os obstáculos encontrados na implementação do ECA 
por exemplo, com a falta de recursos e infraestrutura básicos, além da resistên-
cia de políticos locais e estaduais e o descumprimento dentro do judiciário. A 
aplicação do ECA é bloqueada, acima de tudo, por atitudes que continuam a 
considerar as crianças de rua como criminosas presentes ou futuras que preci-
sam ser reprimidas, concepção-que se estende até hoje. No entanto, é necessário 
reconhecer que a criação de conselhos se tornou uma das principais prioridades 
das organizações preocupadas com os direitos das crianças. Sendo assim, a im-
plementação do ECA é, portanto, não apenas uma reforma das leis de bem-estar 
infantil, mas também um teste significativo – e precedente – da democratização 
da sociedade brasileira, que se reverbera em várias áreas.
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A saúde da criança é encarada como um direito social em defesa e em garantia de 
princípios democráticos. O ECA determina, em seu Art. 1º, “a proteção integral à criança 
e ao adolescente” (BRASIL, 1990, on-line). Já no Art. 5º, inscreve esse compromisso:
 “ É dever da família, da sociedade e do Estado garantir às crianças e adolescentes, com absoluta prioridade, o direito à vida, saúde, nu-trição, educação, lazer, formação profissional, cultura, dignidade, 
respeito, liberdade e vida familiar e comunitária, bem como para 
protegê-los de todas as formas de negligência, discriminação, ex-
ploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1990, on-line).
A saúde, no Brasil, é considerada um direito de todos e um dever do Estado, ga-
rantido tanto por políticas sociais quanto por econômicas, destinadas a reduzir o 
risco de doenças e outros perigos, e pelo acesso universal e igual a ações e serviços 
por sua promoção, proteção e recuperação. Já na educação, o impacto foi ainda 
maior com o ECA. No Brasil, a educação é considerada um direito de todos e 
um dever do Estado e da família, que deve ser promovido e incentivado com a 
cooperação da sociedade, com vistas ao pleno desenvolvimento da pessoa e sua 
preparação para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho.
O ECA também garante acesso igual à escola, o direito de ser respeitado por seus 
educadores, de contestar os critérios de avaliação, de apelar, de ter ingresso na escola 
superior, bem como o direito de ser organizado, de participar de entidades estudantis e 
de obter acesso a escolas públicas e gratuitas perto de suas residências. Além disso, pais 
e responsáveis têm o direito de serem informados sobre o processo pedagógico, bem 
como o de participarem do desenvolvimento de propostas de políticas educacionais.
Em atenção a esses princípios constitucionais, além dos muitos tratados e 
convenções internacionais dos quais o Brasil é signatário ou parte, muitas leis 
foram promulgadas e programas de política foram desenvolvidos, oferecendo 
uma ampla gama de proteção legal aos direitos da criança e do adolescente.
 A promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990 consolidou 
os muitos direitos e deveres espalhados por diferentes peças da legislação e reflete 
o esforço para promover a proteção de crianças e adolescentes. Entretanto, ainda 
estamos distantes de universalizar os direitos das crianças e adolescentes, sobretu-
do na esfera da educação de qualidade, que as liberte a pensar e ser cidadãos, por 
meio de uma educação gratuita, com segurança, humanitária e emancipatória.
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Qual o papel da escola na consolidação dos Direitos Humanos? Esse é um questionamen-
to muito constante na contemporaneidade, sobretudo pela aparente crise e questiona-
mentos que giram em torno da desqualificação do papel dos Direitos Humanos, fomenta-
do, principalmente, pela má compreensão do seu verdadeiro significado. A escola, como 
um espaço de socialização, constituído a partir da diversidade, no qual ocorre a troca de 
conhecimento formado por jovens e crianças, pode ajudar na construção de uma socieda-
de mais igualitária e na verdadeira compreensão do que são os Direitos Humanos. Nesse 
contexto, o professor se apresenta como peça fundamental para desenvolver em sala de 
aula a verdadeira concepção do que são Direitos Humanos. A cultura dos Direitos Huma-
nos é algo a ser resgatado, entendido e compartilhado, portanto demanda um esforço 
constante no caminho da investigação.
Fonte: o autor. 
explorando Ideias
Um fato importante a ser considerado são os ataques à educação que ocor-
rem em todo o mundo, dentro e fora de situações de conflito armado. Em muitas 
regiões, grupos armados atacam intencionalmente escolas, professores e alunos. 
Tais atos violam os direitos da criança, pois, além de colocar as crianças em risco 
de ferimentos ou morte, eles podem impedir a chance de os alunos receberem 
educação. Ataques contra escolas, professores e discentes podem fazer que as 
crianças abandonem a escola com mais facilidade contribuindo para a evasão 
escolar. Em ambientes de violência e medo, como as escolas de periferias e co-
munidades, a qualidade da educação das crianças é severamente diminuída. Isso 
inclui ataques à infraestrutura da escola, aos professores e alunos, a ocupação do 
colégio pela polícia e militares, assédio e ameaças contra professores.
Tanto a imagem da criança quantoa visão da infância mudaram profunda-
mente nas últimas décadas. Abordar as questões da criança a partir da perspectiva 
dos direitos humanos faz parte da mudança da percepção da criança, a qual é 
apoiada pelo processo de implementação mundial da Convenção das Nações 
Unidas sobre os Direitos da Criança.
O direito de ter acesso à educação, é um aspecto central dos direitos da edu-
cação, mas elementos igualmente importantes relacionados a esse tema são seus 
principais objetivos, a fim de respeitar e desenvolver ainda mais a capacidade 
das crianças e jovens de desfrutar e aprovar direitos. Em suma, a educação não 
é apenas um direito humano em si, mas também é um veículo importante para 
uma conquista mais ampla e plena dos direitos humanos.
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2 
O PENSAMENTO DE
PAULO FREIRE
e os direitos humanos
Assim como já fora explicado, a visão de direitos humanos se refere à justiça em 
todos os níveis das relações individuais e sociais. Nesse sentido, o termo empo-
deramento tem um significado especial. Nas diretrizes das Nações Unidas sobre a 
Década para a Educação em Direitos Humanos, concluída em 2005, o Escritório 
do Alto Comissário apelou para a educação em direitos humanos que, entre ou-
tras coisas, permitisse que todas as pessoas participassem efetivamente de uma 
sociedade livre. Desse modo, podemos dizer que a educação em direitos humanos 
não se limita a valorizar e a respeitar os direitos humanos, mas a fomentar ações 
pessoais para garantir essas condições.
As contribuições de Paulo Freire (1921-1997) são particularmente relevantes 
para o trabalho social contemporâneo, com base em pontos fortes e perspectivas 
de empoderamento: é a partir disso que as suas ideias tiveram o maior impacto na 
abordagem dos pelos os direitos humanos. Para a educação em direitos humanos, a 
ideia de aprendizagem transformadora é completada e acrescentada pelo trabalho de 
Freire, que também é frequentemente citado nos círculos da educação intercultural. 
Na perspectiva desse filósofo e educador brasileiro, a transformação emancipatória 
leva a ideia de aprendizagem transformadora além da do indivíduo, para ação e mu-
dança social. Com Freire (1970), encontramos o vínculo direto entre a transformação 
pessoal e social, bem como a noção de reflexão crítica como redistribuição de poder.
É nesse sentido que muitos educadores de direitos humanos acreditam que 
uma experiência de aprendizado transformadora envolvendo conscientização 
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visa promover mudanças pessoais e sociais. Por isso, Freire deixou uma marca 
importante no pensamento sobre a prática progressista. A Pedagogia do 
Oprimido foi um dos textos educacionais mais citados, especialmente na Amé-
rica Latina, África e Ásia (CABRAL, 2005).
O educador foi capaz de recorrer e tecer uma série de vertentes de pensamento 
sobre a prática educacional e a libertação. Além disso, fez uma afluência de inovações 
teóricas importantes que tiveram um impacto considerável no desenvolvimento da 
prática educacional, bem como nas educações informal e popular, em particular.
A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos Humanos estabelece, em 
seu Art. 26, que “todo mundo tem direito à educação”, a qual deveria ser direcio-
nada ao "pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento 
do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais" (ASSEM-
BLEIA DAS NAÇÕES UNIDAS, 2009, p. 14). Assim, Paulo Freire, em suas obras, 
não apenas ensinou alfabetização, mas ensinou aos pobres que a participação 
no processo político era uma meta alcançável por meio do conhecimento de 
leitura e escrita, inclusive, partindo da premissa de que todo mundo tem direito 
à educação
Os conceitos e teorias de Freire foram amplamente disseminados e reconheci-
dos. Esse movimento logo tomou corpo e fez que, inclusive, os trabalhadores ru-
rais – por meio do acesso ao conhecimento – pudessem se manifestar em decisões 
cotidianas. Nesse sentido, quanto mais pessoas se tornavam alfabetizadas, menos 
passivas e submissas elas eram. Freire não apenas ensinou-as a ler, mas também 
ensinou a serem pessoas políticas. É nesse ínterim que reside um dos seus prin-
cipais impactos na esfera dos direitos humanos. Obviamente, tal acontecimento 
foi visto como extremo radicalismo aos olhos dos militares e dos proprietários 
de terras, que, na época, estavam dedicados em evitar a reforma agrária. Barrar a 
capacidade de ler e escrever foi compreendida como uma resposta para aqueles 
que queriam manter o controle.
Em suma, entre todos os educadores do século XX, Freire desenvolveu uma 
das críticas mais fortes à escolaridade e construiu uma alternativa radical que fez 
a difícil transição de texto acadêmico para a prática em sala de aula. Ele é mais co-
nhecido por seu trabalho no campo da alfabetização de adultos, em que defendeu 
a importância de “ler o mundo”, bem como “a palavra”, ou seja, de desenvolver 
uma compreensão mais ampla da sociedade ao mesmo tempo em que se aprende 
habilidades técnicas de alfabetização.
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Sabemos que muitas críticas feitas a Paulo Freire têm se caracterizado por um profundo 
desconhecimento não só de suas ideias, mas, igualmente, das reais condições da educa-
ção brasileira. Todavia, por outro lado, sabemos, também, que há críticas que não são 
fruto da incompreensão da sua obra e nem do desconhecimento das verdadeiras causas 
que afetam negativamente a educação brasileira. 
Fonte: Instituto Paulo Freire (2019).
explorando Ideias
As ideias de Freire foram implementadas pela primeira vez em programas de 
alfabetização, mas, com o seu exílio em 1964, desenvolveu seguidores no mundo 
inteiro e sua influência estendeu-se à escola convencional de educação. O estu-
dioso tem sido uma grande influência para vários educadores contemporâneos. 
Uma das máximas bem conhecidas é a de que a educação nunca pode ser neutra: 
ela sempre tem implicações políticas, mesmo que não esteja abordando questões 
políticas explicitamente:
 “ Nunca existe, nem nunca houve, uma prática educacional no espa-ço-tempo zero – neutro no sentido de estar comprometido apenas com preponderantemente abstrato, intangível ideias. Tentar fazer as 
pessoas acreditarem que existe algo assim. É indiscutivelmente uma 
prática política, na qual se faz um esforço para amenizar qualquer 
possível rebeldia por parte daqueles a quem a injustiça está sendo 
praticada. É tão político como a outra prática, que não esconde - de 
fato, que proclama - seu próprio caráter político (FREIRE,1970, p. 65).
Essa alegação tem uma base ontológica e epistemológica. Segundo Freire, existe 
uma dialética de subjetividade e objetividade na interação dos seres humanos e do 
mundo, com a consciência modificando e sendo modificada pela realidade externa.
Os seres humanos, no entanto, não são universalmente conscientes de seu 
potencial de transformar o mundo exterior, sendo imersos em sua realidade. Tal 
fato é, particularmente, verdade nos povos “oprimidos”, que podem acreditar que 
sua pobreza e opressão são inevitáveis e, de alguma forma, fadados. Para tanto, 
Freire (1988, p. 31) afirma que:
 “ Para que os oprimidos possam travar a luta por sua libertação, eles deve perceber a realidade da opressão não como um mundo fecha-do do qual não há saída, mas como uma situação limitadora que 
eles podem transformar.
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Qual é o papel da educação em direitos humanos – transformação pessoal ou mudança 
social? Estes podem ser separados?
pensando juntos
Desse modo, a educação, segundo Freire, está fundamentalmente ligada a essa ques-
tão, que serve tanto para reforçar o senso de falta de potencial dos alunos para agir – 
sendo objetos – ou para “libertá-los”, aumentando compreensão das possibilidades 
de transformação – tornar-se sujeito (FREIRE, 1988). Portanto, não há saída para 
os educadores: eles devem escolher qual dessas dinâmicas promover.
O que Freire deixa claro é que a aparente escolha denão agir é, na perspectiva 
ética que ele toma, na verdade, uma decisão de agir de uma maneira que continua 
o status quo e desumaniza todas as pessoas, já que perpetua injustiça e assegura 
que a situação injusta atual continuará em perpetuidade.
Esses processos não são apenas libertadores ou domesticadores em relação à cons-
ciência individual, mas também acerca das condições materiais da sociedade, desde a 
opressão dos grupos sociais ou, alternativamente, a libertação da opressão depende 
de sua consciência crítica. A educação, portanto, torna-se um ato fundamentalmente 
político. Se as pessoas não são incentivadas a serem críticas, elas aceitarão injustiças 
e não trabalharão em conjunto para derrubar a opressão e transformar a sociedade.
Freire (2010) também afirma que as pessoas têm uma vocação ontológica à 
humanização, caminhando em direção à maior realização de sua humanidade. 
Contudo, forças opressivas na sociedade (e métodos “bancários” de ensinamentos 
que enfatizam a transmissão) desumanizam, de maneira a restringir a agência de 
indivíduos e a sufocar a sua consciência crítica e capacidade de agir.
O pensamento de Paulo Freire ganhou projeção e teve muita relevância na-
cional e internacionalmente, mas, junto à ampla disseminação das ideias, vieram 
várias críticas, sobretudo ao discurso de construção de cidadania e de direitos hu-
manos a partir da educação, que, na perspectiva de alguns, parte de uma doutrina. 
Existem outras razões possíveis para a crítica da abordagem social de Freire, in-
cluindo desconforto com pensadores e ideias progressistas, até a inacessibilidade 
de compreensão de alguns dos escritos de Freire e negligência de fontes primárias 
na educação para os Direitos Humanos e emancipação individual e social. Pois, 
vale destacar que, embora Freire não seja um revolucionário político, ele baseia-se 
amplamente na teoria crítica que, em alguma medida, pode ser desconhecida ou 
desconfortável para alguns.
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DIREITOS HUMANOS:
DESAFIOS E
perspectivas 
contemporâneas
O fim da Guerra Fria e o colapso da União Soviética trouxeram mudanças funda-
mentais ao sistema internacional. O sistema Pós-Guerra Fria deixou de se basear 
em um equilíbrio de terror e dissuasão nuclear entre os dois blocos e passou a se 
basear em valores morais, tais como democracia, direitos humanos e Estado de 
direito, os quais foram compartilhados por todos os países.
Essa mudança levou os Estados a atribuírem destaque aos direitos humanos 
em suas políticas externas. Nesse contexto, as discussões sobre os Direitos Hu-
manos passaram para a vanguarda da agenda internacional. No entanto, também 
criou tensão entre os defensores dos direitos humanos e os próprios governos.
Para alguns grupos ativistas, o discurso sobre o “humanos direitos” transforma-
ram-se em um novo culto, ignorando os parâmetros existentes do sistema interna-
cional pelos quais direitos humanos são praticados. Qual é esse parâmetro? Antes de 
tudo, os principais atores do sistema internacional ainda são os Estados. Em segundo 
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lugar, os direitos humanos envolvem, basicamente, relações dentro de um Estado, en-
tre ele e os indivíduos ou entre indivíduos e grupos privados que vivem neste Estado.
A conclusão da Segunda Guerra Mundial marcou um ponto de virada no 
desenvolvimento de recursos humanos internacionais. A conduta da Alemanha 
nazista e das administrações em outros países, em colaboração como esforço de 
guerra alemão em relação aos cidadãos judeus, aos ciganos e homossexuais, o que 
gerou políticas de extermínio, foi considerada uma violação de qualquer poder 
que pudesse ser legitimamente reivindicado por uma autoridade soberana. Tais 
atos constituem crimes puníveis contra a humanidade.
Assim, a ONU adotou a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1947. 
O documento recebeu uma “declaração” para confirmar que não está tentando criar 
uma nova lei, mas busca declarar o direito internacional dos direitos humanos que 
existia antes e havia sido violado durante a Segunda Guerra. Sendo uma declara-
ção, não era juridicamente vinculativa. Portanto, para dar força legal à DUDH, foi 
adotada uma série de convenções internacionais que formaram a moderna base 
internacional do direito dos direitos humanos, que, inclusive, inspirou a Constitui-
ção Cidadã adotada no Brasil em 1988.
Recentemente, em 2015, foi adotada a Agenda 2030 para o Desenvolvimento 
Sustentável, adotada pelas Nações Unidas (ONU), movimento fortemente fun-
damentado no direito internacional dos direitos humanos. Os Objetivos de De-
senvolvimento Sustentável (ODS) visam realizar os direitos humanos de todas as 
nações. São 17 objetivos e 169 metas, as quais visam contribuir com as realizações 
econômica, social e cultural, e os compromissos de não deixar ninguém para trás 
e alcançar a igualdade de gênero. Assim, tais objetivos podem dar um significado 
concreto ao ser humano com direitos de igualdade e não discriminação:
 “ Essa já era a visão da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de modo que os ODS são uma nova forma de lhe dar efetividade. Os ODS trazem metas objetivas que, se cumpridas, permitirão grande 
avanço no campo dos direitos humanos. As noções de desenvolvi-
mento e direitos humanos estão intrinsecamente ligadas tanto na 
DUDH quanto nos ODS; assim, ressalta-se que o desenvolvimento 
deve ocorrer sem deixar ninguém para trás e, para isso, estratégias 
específicas no campo das políticas públicas devem ser buscadas para 
garantir essa vinculação (BRASIL, 2017, p.3).
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A Agenda 2030 também foi implementada com base nas obrigações do direito inter-
nacional, que incluem o dever de respeitar, proteger e cumprir as metas sem discrimi-
nação. O respectivo documento prevê um mundo de respeito universal aos direitos 
humanos e à dignidade, Estado de direito, justiça, igualdade e não discriminação.
Embora não estejam enquadrados na linguagem dos direitos humanos, os ODS 
procuram realizar direitos de todos. Não só, mas os objetivos relacionados à pobreza, 
segurança alimentar, saúde, educação, habitação, à água e ao saneamento incorpora-
dos classificam a maioria dos elementos dos direitos econômicos, sociais e culturais.
A pressão realizada por um movimento como esse acaba por forçar os Estados (par-
ticipantes) a adotarem uma nova abordagem das políticas econômicas e sociais baseada 
em direitos e redistributiva. Isso é necessário para mudar a trajetória do desenvolvi-
mento global para um caminho justo, sustentável e de realização dos direitos humanos.
Na seara dos direitos humanos, os ODS acabam por explorar um conjunto de 
políticas redistributivas – nas áreas de proteção social, saúde, educação e tribu-
tação – que é essencial para combater a desigualdade econômica da perspectiva 
dos direitos humanos. Para os ODS, ONGs, pesquisadores de direitos humanos 
e outras partes interessadas procuraram se engajar em todo o processo de desen-
volvimento, discussão e deliberação das metas para uma nova era de desenvolvi-
mento mais baseada em direitos.
Havia muitas oportunidades para esse engajamento durante um processo am-
plo e longo, incluindo consultas temáticas e nacionais antecipadas, as negociações 
da Rio + 20 e o Grupo de Trabalho Aberto sobre os ODS. Muitas ONGs se envol-
veram no processo, as Instituições Nacionais de Direitos Humanos descreveram 
qual poderia ser a sua posição e papel, e os órgãos de tratados da ONU, por sua vez, 
procuraram influenciar no processo para manter os direitos humanos no centro. 
Conforme contribui Lima (2019), os ODS podem e devem aprender com os 
instrumentos de direitos humanos, uma vez que existe uma governança mais ro-
busta e reativa quanto às violações de direitos humanos ocorridas no âmbito dos 
países. Isso pode significar uma maior responsabilização, eficiência e coerência 
em torno da temática dos direitos humanos dos países. 
Embora esses movimentos (como os das ODS), em alguma medida, venhamcontribuir para a inserção da temática dos direitos humanos na estrutura social, o 
que observamos, nos últimos anos, é a construção de uma narrativa que distorce 
o verdadeiro significado dos direitos humanos, o que contribuiu para fortalecer 
o estigma de “defensores de bandido”. Tal discurso é reforçado, por exemplo, pela 
falsa ideia de que criminosos são protegidos pela lei, quando, na realidade, o que 
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Você sabe o que caracteriza uma violação dos direitos humanos? O Estado é o principal 
guardião dos direitos humanos e tem autoridade para tomar as medidas necessárias para 
proteger seus direitos humanos. Portanto, é ele quem tem responsabilidade quando algo 
lhe acontece. Uma situação que leva a uma violação dos direitos humanos pode surgir nos 
seguintes casos de: Violação pelo Estado e Falha do Estado em proteger. 
pensando juntos
encontramos são situações desumanas nos presídios superlotados. Os direitos 
humanos precisam estar acessíveis para todos os seres humanos, inclusive para 
as minorias sociais, que se encontram em maior vulnerabilidade no Brasil.
Além disso, no Brasil, são notificados, todos os anos, mais de mil assassinatos pela 
polícia. Isso constitui uma grave violação dos direitos humanos e nos coloca entre 
os países mais violentos do mundo para quem defende tais direitos. Infelizmente, 
esse contexto de violência não é uma exclusividade do Brasil: outros países, como 
a Índia, África do Sul, República Dominicana e Irã apresentam sistemas judiciais 
em que, frequentemente, são notificados casos de abusos de direitos humanos.
Vivemos em um período da histórica contemporânea em que as violações 
dos direitos humanos permanecem generalizadas. O discurso dos direitos hu-
manos continua a existir, porém vem sendo criticado, em defesa de uma agenda 
conservadora e pouco progressista. Embora essas críticas, em alguma medida, 
sempre tenham existido, é somente nos últimos anos que começaram a ganhar 
notoriedade e força internacional. De modo geral, o mundo, mesmo que, aparen-
temente, luta em prol das defesas dos direitos humanos. Por exemplo, os países 
ocidentais frequentemente condicionam a ajuda externa aos direitos humanos e 
até lançaram intervenções militares baseadas em violações dos direitos humanos.
Muitas pessoas argumentam que a incorporação da ideia de direitos humanos 
no direito internacional é uma das grandes realizações morais da história da hu-
manidade. Como a lei de direitos humanos Concede Direitos a todas as pessoas, 
independentemente da nacionalidade, ela contribui quando os estrangeiros criti-
cam os abusos aos seus cidadãos, ou seja, “soberania”. Assim, o direito internacional 
dos direitos humanos fornece proteções às pessoas contra os abusos do Estado.
Os tratados de direitos humanos, em pouco tempo, atingiram seu objetivo e 
têm melhorado o bem-estar das pessoas, sobretudo quando pensamos que mais 
de 150 países (dos 193 países pertencentes à ONU) praticam tortura. O número 
de países autoritários aumentou nos últimos anos. As mulheres continuam a 
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Qual o limite de atuação da ONU?
Nas instituições internacionais de direitos humanos, como o conselho de direitos huma-
nos da ONU, existe uma falta de consenso entre as nações. Para que não sejam obrigados 
pelas instituições internacionais a reconhecer os direitos que rejeitam, os países lhes dão 
pouco poder. As múltiplas instituições carecem de um superior hierárquico comum – di-
ferentemente dos tribunais nacionais – e, portanto, fornecem interpretações conflitantes 
dos direitos humanos, e não podem obrigar as nações a prestá-las atenção. 
Fonte: a autora.
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explorando Ideias
ser uma classe subordinada em quase todos os países do mundo. Além disso, as 
crianças continuam trabalhando nas minas e fábricas vários países.
A razão para isso é que os direitos humanos nunca foram tão universais quan-
to as pessoas esperavam e a crença de que eles poderiam ser impostos aos países 
por uma questão de direito internacional foi tomada com suposições equivocadas 
desde o início. Isso se deve, pois, dificilmente, a ONU, por exemplo, consegue ir 
além das intervenções com ajuda humanitária.
Embora a noção moderna de direitos humanos tenha surgido durante o século 
18, foi em 10 de dezembro de 1948 que a história começou, de fato, com a adoção 
da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Assembleia Geral da ONU. 
A DUDH surgiu a partir da Segunda Guerra Mundial e teve como objetivo lançar 
uma nova era das, relações internacionais.
Em suma, os direitos humanos defendem que toda pessoa, em qualquer lugar 
do mundo, independentemente da cidadania ou da legislação territorial, possui 
alguns direitos básicos que outros devem respeitar. Nesse sentido, o apelo moral 
dos direitos humanos tem sido utilizado para vários propósitos, desde resistir à 
tortura e ao encarceramento arbitrário, até exigir o fim da fome e da negligência 
no controle e equilíbrio ambiental etc.
Ao mesmo tempo, a ideia central dos direitos humanos como algo que as 
pessoas têm, mesmo sem nenhuma legislação específica, é vista por alguns críti-
cos como fundamentalmente dúbia e com falta de coerência, em que a retórica 
dos direitos humanos é apenas uma conversa fiada – embora bem-intencionada.
Vale destacar, também, que outros críticos propõem uma rejeição discrimina-
tória: eles aceitam a ideia geral de direitos humanos, mas excluem, da lista aceitável, 
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classes específicas de direitos propostos, em particular, os chamados direitos econô-
micos e sociais ou direitos sociais. Tal fato é corroborado por Cranston (1979, p. 65):
 “ Os direitos políticos e civis tradicionais não são difíceis de instituir. Na maioria das vezes, eles exigem que os governos e outras pessoas em geral deixem um homem em paz. Os problemas colocados pe-
las reivindicações de direitos econômicos e sociais, no entanto, são 
de outra ordem. Como os governos dessas partes da Ásia, África e 
América do Sul, onde a industrialização mal começou, podem ser 
razoavelmente chamados a fornecer previdência social e férias a 
milhões de pessoas que habitam esses lugares e se multiplicam tão 
rapidamente? 
Além disso, Cranston (1979) apresenta um argumento contrário aos direitos eco-
nômicos e sociais. O estudioso afirma que os tradicionais direitos civis e políticos 
à vida, à liberdade e à propriedade são direitos universais, supremos e morais. 
Contudo, os direitos econômicos e sociais não são universais, concretos e nem 
possuem suprema importância, “pertencendo a uma diferente categoria lógica” 
– ou seja, não são verdadeiros direitos humanos.
Esses direitos, que, às vezes, são chamados de direitos de segunda geração, 
como um direito comum a subsistência ou a assistência médica, foram adicio-
nados recentemente a enunciados anteriores de direitos humanos. Assim, ex-
pandiu-se amplamente o domínio e a reivindicação de direitos humanos. Esses 
acréscimos, certamente, levaram a literatura contemporânea sobre direitos huma-
nos muito além das declarações do século XVIII, que se concentraram em uma 
classe mais restrita de “direitos do homem”, incluindo demandas como liberdade 
pessoal e política. Essas inclusões mais recentes foram sujeitas a críticas, focan-
do nos seus problemas de viabilidade e sua dependência de instituições sociais 
específicas que podem, ou não, existir.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) representa um marco muito im-
portante para o reconhecimento de uma parcela vulnerável da sociedade brasi-
leira. Entretanto, ele ainda está longe de representar ou trazer os direitos reais de 
modo pleno no Brasil.
O que percebemos é que, de modo geral, o Brasil evoluiu nas questões de 
direitos após a redemocratização – sobretudo, por ter se transformado em uma 
política de Estado. A prova disso foi a criação da Secretaria de Direitos Humanos. 
Nesse sentido, teoricamente, o Estado passa a ser visto comoum promotor dos 
direitos humanos, e não apenas violador. No entanto, ao se tratar de diversidade, 
sempre ocorrerá pressão, principalmente de setores conservadores na sociedade, 
contra os direitos humanos.
É importante saber que a educação reflete nos direitos humanos, à medida 
que confere, ao conhecimento sobre os direitos, acesso e promove a participação 
de diferentes atores no trato desses direitos. Nesse contexto, a escola se apresenta 
como um instrumento de pura cidadania, ao passo que trata da própria educação 
como um direito humano.
Ficou evidenciado, em nossos estudos, que os direitos humanos, mesmo tra-
duzindo avanços, não são capazes, por si só, de promoverem mudanças. Todavia, 
sem eles, mudar a realidade se torna uma tarefa ainda mais difícil, à medida que 
representam um instrumento de mobilização e esforço para a sua efetivação.
Vale destacar, ainda, a importância do desenvolvimento da consciência crítica 
da educação em direitos humanos e da própria sociedade e do seu processo de 
conscientização, politização e organização. Sendo assim, promover o conheci-
mento sobre os direitos humanos, estimular a reflexão e o debate sobre, e fazer 
valer esses direitos na vida cotidiana, sobretudo, na educação, são tarefas de todos 
e representa o maior avanço ao se tratar de direitos. 
128
na prática
1. Foi em 21 de novembro de 1990 que o Brasil aprovou a Convenção das Nações 
Unidas sobre os Direitos da Criança, incorporando-a integralmente à lei positiva do 
Brasil por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Sobre o ECA, assinale 
a alternativa correta.
a) O ECA foi o resultado de uma forte articulação entre os políticos de diferentes 
legendas e não teve a participação de movimentos sociais e demais agremiações.
b) O ECA reformou radicalmente o status legal das crianças, redefiniu as respon-
sabilidades do Estado e centralizou os aspectos de decisão e participação em 
instância federal.
c) A promulgação do ECA, em 1990, consolidou os muitos direitos e deveres es-
palhados por diferentes peças da legislação e reflete o esforço em promover a 
proteção de crianças e de adolescentes.
d) O ECA afirma que é exclusivamente dever do Estado garantir, com absoluta prio-
ridade, os direitos das crianças e adolescentes.
e) O ECA criou um conjunto abrangente de leis e reforçou a legislação anterior, o 
então chamado Código de Menores, que era reconhecido como progressista e 
humanizado.
2. Os principais termos que prevalecem no trabalho de Paulo Freire são: educação, 
liberdade, direitos humanos, necessidades humanas, justiça, amor, opressão e cons-
cientização. Com base nisso, Freire não apenas ensinou alfabetização, mas ensinou 
aos pobres que a sua participação no processo político era uma meta alcançável 
por meio do conhecimento de leitura e escrita. Com base nessa afirmação, julgue 
as afirmativas a seguir sobre a relação das contribuições e teorias de Paulo Freire 
para pensar nos direitos humanos:
I - O direito à educação oferece, às pessoas, a liberdade de fazer melhores escolhas 
sobre suas vidas. Desse modo, Freire fornece as ferramentas necessárias para 
exigir acesso a serviços e recursos, bem como permite que participem de uma 
democracia.
II - Paulo Freire, como um educador, acreditava que a boa educação afeta positiva-
mente a igualdade social e promove a economia e desenvolvimento.
129
na prática
III - A pedagogia de Freire é um plano educacional para libertar aqueles que estão 
oprimidos. Em seus primeiros livros, ele se concentra na educação de adultos. 
No entanto, a pedagogia foi adaptada a quase todos os contextos educacionais.
IV - A pedagogia, na perspectiva de Paulo Freire, deve ser criada juntamente com 
os oprimidos. Por isso, Freire se importa apenas com os direitos, e não com os 
deveres dos indivíduos. Assim, as ideias de Freire de democracia, autonomia e 
liberdade contribuíram para os alunos fazerem o que quiserem em sala de aula.
É correto afirmar que:
a) Estão corretas as afirmativas I, II e III.
b) Estão corretas as afirmativas I e IV.
c) Estão corretas as afirmativas I e III.
d) Estão corretas as afirmativas I, III e IV.
e) Estão corretas as afirmativas II e III.
3. A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um dos documentos mais importan-
tes do século XX. Seus princípios inspiraram centenas de leis, convenções e outros 
instrumentos legais que protegem os direitos humanos. À medida que ocorrem 
as violações de direitos, o trabalho de defesa dos direitos humanos atua. Todavia, 
observamos que, sobretudo na contemporaneidade, críticos ganham notoriedade 
com esses direitos e quem os defende. Com base nessa afirmação, descreva a base 
que pauta essa crítica e dê a sua opinião sobre os direitos humanos e sua atuação 
no mundo. 
4. A razão é que os direitos humanos nunca foram tão universais quanto as pessoas 
esperavam, e a crença de que eles poderiam ser impostos aos países por uma ques-
tão de direito internacional foi tomada com suposições equivocadas desde o início. 
Dificilmente, a ONU, por exemplo, consegue ir além das intervenções com ajuda 
humanitária. Sobre a atuação da ONU, julgue as afirmativas a seguir:
I - A Assembleia Geral da ONU organiza, anualmente, um debate entre os líderes 
mundiais, mas não tem se esforçado para tornar o seu trabalho mais substan-
tivo. Assim, as discussões se limitam ao âmbito econômico.
130
na prática
II - Desde a sua criação, a Assembleia Geral da ONU tem sido um fórum para de-
clarações grandiosas, com debate rigoroso sobre as questões sérias do mundo, 
da pobreza, direitos humanos e desenvolvimento paz e segurança.
III - A ONU é a organização intergovernamental mais representativa do mundo, 
atualmente. O papel das Nações Unidas nos assuntos mundiais é insubstituível 
por qualquer outra organização internacional ou regional, sobretudo na manu-
tenção da paz e da segurança internacionais, promovendo a cooperação entre 
os estados e o desenvolvimento internacional. 
IV - Para fortalecer o papel das Nações Unidas, é essencial garantir, a todos os 
Estados-membros das Nações Unidas, o direito à participação igualitária em 
assuntos internacionais. Além disso, os direitos e interesses dos países em de-
senvolvimento devem ser salvaguardados.
É correto afirmar que:
a) Estão corretas as afirmativas I, II e III.
b) Estão corretas as afirmativas I e IV.
c) Estão corretas as afirmativas I e III.
d) Estão corretas as afirmativas II, III e IV.
e) Estão corretas as afirmativas II e III.
5. A situação econômica e social do Brasil agrega novos desafios ao debate sobre os 
direitos humanos. Aliada a uma crise permanente do sistema de segurança pública e 
à combinação, ainda não devidamente analisada e compreendida, entre o aumento 
da violência e os ruins indicadores econômicos, foi disparada uma nova espiral de 
intolerância com os defensores dos direitos humanos e suas organizações. Com 
base nessa afirmação, argumente sobre a relação existente entre a intolerância com 
os direitos humanos e o desenvolvimento econômico e social.
131
aprimore-se
AS DIFICULDADES DA INTERCULTURALIDADE PROGRESSISTA
 A forma como os direitos humanos se transformaram, nas duas últimas décadas, 
na linguagem da política progressista, em quase sinônimo de emancipação social, 
causa alguma perplexidade.
De fato, durante muitos anos, após a Segunda Guerra Mundial, os direitos huma-
nos foram parte integrante da política da Guerra Fria e, como tal, foram considera-
dos pelas forças políticas de esquerda. Duplos critérios na avaliação das violações 
dos direitos humanos, complacência com ditadores amigos do Ocidente, a defesa 
do sacrifício dos direitos humanos em nome dos objetivos do desenvolvimento: 
tudo isso tornou os direitos humanos suspeitos enquanto roteiro emancipatório.
Quais possibilidades existem para um diálogo intercultural quando uma das cul-
turas em presença foi moldada por massivas e continuadas agressões à dignidade 
humana perpetradas em nome da outra cultura? O dilema culturalque se levanta é 
o seguinte: dado que, no passado, a cultura dominante tornou impronunciáveis al-
gumas das aspirações à dignidade humana por parte da cultura subordinada, será, 
agora, possível pronunciá-las no diálogo intercultural sem, ao fazê-lo, justificar e 
mesmo reforçar a subordinação? Um dos mais problemáticos pressupostos da her-
menêutica diatópica é a concepção das culturas como entidades incompletas.
Pode se argumentar que, pelo contrário, só culturas completas podem participar 
de diálogos interculturais sem correrem o risco de serem descaracterizadas ou mes-
mo absorvidas por culturas mais poderosas. Uma variante desse argumento reside 
na ideia de que somente a uma cultura poderosa e historicamente vencedora, como é 
o caso da cultura ocidental, pode atribuir-se o privilégio de se autodeclarar incompleta, 
sem, com isso, correr o risco de dissolução.
Assim sendo, a ideia de incompletude cultural será, afinal, o instrumento perfei-
to de hegemonia cultural e, portanto, uma armadilha quando atribuído a culturas 
subordinadas.
132
aprimore-se
As culturas dos povos indígenas das Américas, da Austrália, da Nova Zelândia, da 
Índia, dentre outras, foram tão agressivamente amputadas e descaracterizadas pela 
cultura ocidental que, recomendar-lhes, agora, a adoção da ideia de incompletude 
cultural como pressuposto da hermenêutica diatópica é um exercício macabro, por 
mais emancipatórias que sejam as suas intenções.
O dilema da completude cultural pode ser assim formulado: se uma cultura se 
considera inabalavelmente completa, então, não terá nenhum interesse em envol-
ver-se em diálogos interculturais; se, pelo contrário, admite, como hipótese, a in-
completude que outras culturas lhe atribuem e aceita o diálogo, perde confiança 
cultural, torna- se vulnerável e corre o risco de ser objeto de conquista.
Por definição, não há saídas fáceis para esse dilema, mas também não penso 
que ele seja insuperável. Tendo em mente que o fechamento cultural é uma es-
tratégia autodestrutiva, não vejo outra saída senão elevar as exigências do diálogo 
intercultural até um nível suficientemente alto, para minimizar a possibilidade de 
conquista cultural, mas não tão alto que destrua a própria possibilidade do diálogo.
Fonte: Santos (2009).
133
eu recomendo!
Direitos humanos, democracia e desenvolvimento
Autor: Boaventura de Sousa Santos e Marilena Chaui
Editora: Cortez Editora
Sinopse: este livro teve origem na concessão do grau de Doutor 
Honoris Causa ao Professor Boaventura de Sousa Santos pela 
Universidade de Brasília em 29 de outubro de 2012. A saudação, 
que ficou a cargo da Professora Marilena Chaui, salienta que "a 
obra inovadora de Boaventura de Sousa Santos abre perspectivas e horizontes 
inéditos para a compreensão de nosso presente. Num mundo atualmente pobre 
em pensamento, acomodado na razão idolente, é preciso fazer valer o trabalho 
criador do pensamento". O texto de Boaventura de Sousa Santos é a versão re-
vista e muito ampliada da sua palestra de aceitação do grau. Nele, são analisados 
os dilemas com que hoje se enfrentam os direitos humanos na sua relação com a 
democracia e as políticas de desenvolvimento que constituem a pauta dominante 
do mundo em que vivemos. 
livro
ERA O HOTEL CAMBRIDGE
Ano: 2017
Sinopse: refugiados recém-chegados ao Brasil dividem, com um 
grupo de sem tetos, um velho edifício abandonado no centro de 
São Paulo. Além da tensão diária que a ameaça de despejo causa, 
os novos moradores do prédio terão que lidar com seus dramas 
pessoais e aprender a conviver com pessoas que, apesar de dife-
rentes, enfrentam, juntos, a vida nas ruas.
filme
DhESCA Brasil – Plataforma Brasileira de Direitos Humanos Econômicos, Sociais, 
Culturais e Ambientais
A DhESCA Brasil é uma rede nacional de articulação de organizações da socieda-
de civil que visa promover os direitos humanos econômicos, sociais, culturais e 
ambientais. 
Web: http://www.plataformadh.org.br/.
conecte-se
134
conclusão geral
conclusão geral
134
conclusão geral
conclusão geral
Chegamos ao final do nosso livro. Durante nossos estudos, percebemos o quanto 
tratar de direitos humanos é falar sobre grupos vulneráveis, não é mesmo? Há um 
motivo principal: os direitos humanos, embora sejam para todos, acabam por atuar 
em prol desses grupos. Os direitos das minorias – que são os grupos sociais mais 
fragilizados, alvos de violência e desigualdade – são parte integrante do direito inter-
nacional e fundamentam disposições que visam proteger e promover esses grupos, 
sua cultura e tradições.
A atenção recente para questões minoritárias, como a proteção dos direitos das 
mulheres, indígenas e outros, evidencia que essas questões estão sendo priorizadas 
em nível mundial, com o uso da lei e da política de direitos humanos, que tentam re-
parar os erros impostos às minorias por séculos. Nesse contexto, percebemos que 
a educação e a aprendizagem em direitos humanos são essenciais para a cidada-
nia ativa em uma sociedade pluralista. Cidadãos ativos e responsáveis precisam ser 
capazes de pensar criticamente, para que compreendam seus direitos de acesso, 
respeito e liberdade, valores tão cerceados na contemporaneidade. 
Desse modo, aprender direitos humanos é amplamente cognitivo e perpassa a com-
preensão do histórico de direitos, documentos e mecanismos de implementação. Com-
preender os direitos humanos significa entender e abraçar os princípios da igualdade 
e dignidade, e o compromisso de respeitar e proteger os direitos de todas as pessoas.
Esperamos que o livro possa ter contribuído em suscitar as principais reflexões 
sobre os direitos humanos, bem como tenha gerado um debate sobre educação 
enquanto uma forma de moldar uma cultura desses em todas as esferas sociais. 
Acreditamos que a compreensão dos direitos humanos é um processo no qual a 
educação em direitos tem um papel central, de significativo empoderamento e é 
sinônimo de uma vida melhor para muitos.
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140
6 Em: https://www.gazetadopovo.com.br/politica/republica/bolsa-familia-e-bpc-o-brasil-gas-
ta-bem-o-dinheiro-da-assistencia-social-d250kbt746djoe63mm333da3o/. Acesso em: 20 
dez. 2019.
7 Em: https://www.openglobalrights.org/rethinkig--the-notion-of-a-human-rights-crisis/?lang-
Portuguese. Acesso em: 26 dez. 2019.
8 Em: https://nacoesunidas.org/exclusivo-diplomata-brasileira-foi-essencial-para-mencao-a-
-igualdade-de-genero-na-carta-da-onu. Acesso em: 27 dez. 2019.
9 Em: https://nacoesunidas.org/onu-quer-medidas-efetivas-para-protecao-dos-direitos-hu-
manos-da-populacao-lgbt/. Acesso em: 30 dez. 2019.
10 Em: https://cpaq.ufms.br/1a-noite-cultural-dos-povos-indigenas-ufmscpaq-sera-rea-
lizada-no-dia-2004/. Acesso em: 30 dez. 2019.
11 Em: https://vidasnegras.nacoesunidas.org/materiais/. Acesso em: 2 jan. 2020. 
12 Em: http://hdr.undp.org/en/reports/global/hdr1995. Acesso em: 7 jan. 2020.
13 Em: http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/dh/br/pb/dhparaiba/5/alimentacao.
html. Acesso em: 7 jan. 2020.
gabarito
141
UNIDADE 1
1. D
2. A Declaração Universal dos Direitos Hu-
manos é um documento que descreve 
os direitos fundamentais do ser huma-
no e defende que respeito e observân-
cia universal devem ser promovidos pe-
los Estados-membros da Organização 
das Nações Unidas.
3. Constituem violações dos direitos hu-
manos de escala cometidas repetida-
mente por atores estatais ou não-esta-
tais a qualquer comunidade ou grupo 
de pessoas em suas vidas cotidianas. A 
violação dos direitos humanos podem 
ocorrer pelo próprio Estado em casos 
de violência contra determinado grupo 
social, como em assassinatos de civis 
por policiais, atuação de milícias em 
comunidades ou, ainda, por empresas 
que mantêm pessoas em situação aná-
logas ao trabalho escravo, por exemplo. 
4. D
5. C
UNIDADE 2
1. Localização: Cidadania e direitos huma-
nos. Direito de cidadania civil (particu-
larmente as ideias de igualdade peran-
te a lei e direitos individuais), cidadania 
política (particularmente sufrágio uni-
versal) e cidadania social (a noção de 
que todos os membros de um governo 
devem desfrutar e compartilhar, pelo 
menos, um nível básico de bem-estar 
socioeconômico e cultural). Instituições 
e em alguns dos direitos ligados a cada 
dimensão da cidadania: tribunais (para 
garantir as liberdades civis); eleições 
para uma legislatura (direitos políticos); 
sistemas de previdência social (educa-
ção pública e saúde). Marshall tratou 
do desenvolvimento da cidadania civil, 
política e social como uma sequência 
evolutiva. 
2. A
3. Localização: Direitos Humanos e cida-
dania. Os direitos humanos são da na-
tureza de obrigações éticas do Estado 
em ter algum tipo de preocupação com 
os direitos e necessidades de cada indi-
víduo que vive dentro de seus limites, 
independentemente do fato de serem, 
ou não, cidadãos do Estado. Em outras 
palavras, os direitos humanos nascem 
da consciência ética da humanidade 
em conceder as necessidades mínimas 
de vida a todos. No entanto, o Estado 
pode fingir não estar legalmente obri-
gado a obedecer às obrigações éticas e, 
portanto, a garantia dos direitos huma-
nos para o povo pode não ser exequível. 
Pelo contrário, os direitos de cidadania 
são direitos legais no sentido estrito do 
termo, sem qualquer possibilidade de 
o Estado retroceder. De fato, quando 
as provisões para direitos de cidadania 
estão sendo feitas na constituição, a 
provisão adequada também é feita ao 
mesmo tempo, para obter a aplicabili-
dade de tais direitos intactos em todos 
os tempos. Assim, em resumo, embora 
os direitos humanos pareçam ser mo-
gabarito
142
rais e éticos por natureza, os direitos de 
cidadania são legais e vinculantes por 
natureza. Vale destacar, também, que 
enquanto se afirma que os direitos hu-
manos são de natureza universal, no 
sentido de que precisam de ser obser-
vados e honrados em todas as partes do 
mundo e por todos os países, indepen-
dentemente dos seus sistemas políticos 
e socioeconómicos, isso não acontece 
no caso dos direitos de cidadania. Na 
verdade, os direitos de cidadania pare-
cem ser tão diversos quanto o mundo 
é, geograficamente. Todos e cada um 
dos países do mundo seguem um pa-
drão particular de direitos de cidadania 
dentro de suas próprias fronteiras ter-
ritoriais, tendo em vista seus próprios 
sistemas socioeconômicos e políticos. 
Terceiro, os direitos humanos são indivi-
dualistas por natureza, em comparação 
com os direitos de cidadania, que pa-
recem ser coletivos e comuns a todos 
os cidadãos do país. Os direitos huma-
nos são individualistas, no sentido de 
que procuram proteger a integridade 
do indivíduo em termos de seu corpo e 
mente e as escolhas que ele faz a esse 
respeito. Pelo contrário, os direitos de 
cidadania visam fornecer certos status 
particulares, direitos e responsabilida-
des concomitantes a todos os cidadãos 
do país. 
4. A
5. C
UNIDADE 3
1. Aprender os direitos humanos é am-
plamente cognitivo, incluindo a histó-
ria dos direitos humanos, documentos 
e mecanismos de implementação. A 
aprendizagem para os direitos huma-
nos significa compreensão acerca dos 
princípios de igualdade e dignidade 
humana e o compromisso em respeitar 
e proteger os direitos dos todas as pes-
soas. Tem pouco a ver com o que sabe-
mos: o “teste” para esse tipo de aprendi-
zado é como agimos.
2. D
3. B
4. A
5. Em alguns casos, um tratamento pre-
ferencial ou positivo de pessoas per-
tencentes a certos grupos pode ser 
aplicado como uma tentativa de aliviar 
ou reparar os danos causados por discri-
minações estruturais. A ação afirmativa 
pode não apenas ser permitida, mas 
também bem-vinda, a fim de comba-
ter a desigualdade. Não só, mas tam-
bém é possível desenvolver programas 
educacionais que conscientizem sobre 
os mecanismos de preconceito e into-
lerância, e como eles contribuem para 
discriminar e oprimir as pessoas, a fim 
de valorizar a diversidade e promover a 
tolerância. O ativismo da sociedade ci-
vil para denunciar a discriminação e o 
preconceito, o combate aos crimes e o 
discurso de ódio, o apoio às vítimas de 
discriminação ou a promoção de mu-
danças na legislação também são váli-
gabarito
143
dos. Os educadores podem reconhecer 
a necessidade de desenvolver, em cada 
pessoa, uma atitude tolerante e não 
discriminatória, e criar um ambiente de 
aprendizagem que reconheça e se be-
neficie da diversidade, em vez de igno-
rá-la ou excluí-la. Comoparte desse de-
senvolvimento, aqueles que trabalham 
com crianças ou jovens, bem como 
crianças e jovens, devem se tornar cons-
cientes de seus comportamentos dis-
criminatórios e de outros. Por exemplo, 
atividades de educação em direitos hu-
manos podem ajudar os participantes 
a desenvolverem consciência e empa-
tia, por um lado, e resiliência e asserti-
vidade, por outro, para que as pessoas 
possam evitar, prevenir ou enfrentar 
a discriminação. A aprendizagem in-
tercultural é o processo de aprendiza-
gem sobre a diversidade, destinado a 
promover uma relação positiva entre 
pessoas e grupos de diferentes origens 
culturais, e suscita o respeito mútuo e a 
solidariedade.
UNIDADE 4
1. D.
2. O Estado tem o dever de prevenir as vio-
lações de direitos humanos e uma das 
formas de desenvolver e fomentar esses 
direitos é por meio das políticas públi-
cas, que são expressas como objetivos 
tangíveis a serem alcançados por inter-
médio da implementação de progra-
mas específicos, com a participação de 
todos os setores relevantes do governo 
e da sociedade. Desse modo, a política 
pública atua como um instrumento de 
cidadania e conscientização sobre os 
padrões de direitos humanos, conside-
rando a situação dos grupos vulneráveis, 
e minimiza os impactos de fenômenos 
como a pobreza e casos específicos de 
violação dos direitos.
3. As políticas de Estado que visam ga-
rantir o exercício da cidadania, a ordem 
interna, a defesa externa e as condições 
essenciais à soberania nacional.
4. A violação dos direitos econômicos, so-
ciais e culturais ocorre quando um Esta-
do falha em suas obrigações de garantir 
que esses direitos sejam usufruídos sem 
discriminação ou em sua obrigação de 
respeitá-los, protegê-los e cumpri-los. 
Muitas vezes, uma violação de um dos 
direitos está ligada a uma violação de 
outros. Desse modo, a solução para es-
ses casos é um maior envolvimento do 
Estado para propor medidas de prote-
ção aos grupos que atuam na defesa 
dos direitos humanos. Já a sociedade, 
ao se envolver mais em causas de de-
fesa dos direitos humanos, desenvolve 
empatia e conhecimento das causas.
5. A
gabarito
144
UNIDADE 5
1. B
2. A
3. Os críticos aceitam a ideia geral de di-
reitos humanos, mas excluem, da lista 
aceitável, classes específicas de direitos 
propostos, em particular, os chamados 
direitos econômicos e sociais ou direi-
tos sociais. Nesse contexto, os direitos 
políticos e civis tradicionais não são di-
fíceis de instituir. Na maioria das vezes, 
eles exigem que os governos e outras 
pessoas, em geral, deixem um homem 
em paz. Os problemas colocados pelas 
reivindicações de direitos econômicos 
e sociais, no entanto, são de outra or-
dem. Outra crítica se baseia na ideia de 
que os tradicionais direitos civis e polí-
ticos à vida, à liberdade e à proprieda-
de são “direitos universais, supremos e 
morais”. Todavia, os direitos econômicos 
e sociais, não são universais, concretos 
e nem possuem suprema importância, 
“pertencendo a uma diferente catego-
ria lógica” — ou seja, não são verdadei-
ros direitos humanos. Esses direitos, 
que, às vezes, são chamados de direitos 
de segunda geração, como um direito 
comum a subsistência ou a assistên-
cia médica, foram adicionados recen-
temente a enunciados anteriores de 
direitos humanos, expandindo, assim, 
o domínio e a reivindicação de direitos 
humanos.
4. D
5. Os direitos econômicos, sociais e cultu-
rais incluem: o direito humano ao tra-
balho; o direito a um padrão de vida 
adequado, incluindo alimentos, roupas 
e moradia; o direito à saúde física e 
mental; o direito à previdência social; o 
direito a uma saúde saudável e ao meio 
ambiente; e o direito à educação. Os 
direitos econômicos, sociais e culturais 
fazem parte do corpo das leis de di-
reitos humanos que se desenvolveram 
após a Segunda Guerra Mundial. A lei 
de direitos humanos inclui todos os di-
reitos econômicos e sociais, bem como 
os direitos civis e políticos, como o di-
reito à liberdade de expressão e a um 
julgamento justo. Esses direitos estão 
profundamente interligados: por exem-
plo, o direito de falar livremente signifi-
ca pouco sem uma educação básica; o 
direito de votar significa pouco se você 
está sofrendo de fome. Da mesma for-
ma, o direito ao trabalho significa pouco 
se você não puder se reunir em grupos 
para discutir as condições de trabalho.
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