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EDUCAÇÃO,DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA

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Prévia do material em texto

EDUCAÇÃO, DIREITOS 
HUMANOS E 
CIDADANIA
PROFESSORA
Me. Francieli Muller Prado
ACESSE AQUI 
O SEU LIVRO 
NA VERSÃO 
DIGITAL!
https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/1001
EXPEDIENTE
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. 
Núcleo de Educação a Distância. PRADO, Francieli Muller.
Educação, Direitos Humanos e Cidadania. 
Francieli Muller Prado.
Maringá - PR.: UniCesumar, 2020. Reimpresso 2021.
144 p.
“Graduação - EaD”. 
1. Educação 2. Direitos 3. Cidadania. EaD. I. Título. 
FICHA CATALOGRÁFICA
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 
Coordenador(a) de Conteúdo 
Eder Rodrigo Gimenes
Projeto Gráfico e Capa
Arthur Cantareli, Jhonny Coelho
e Thayla Guimarães
Editoração
Juliana Duenha
Design Educacional
Jociane Karise Benedett
Revisão Textual
Diego Delavega Marques
Ilustração
Marta Kakitani
Fotos
Shutterstock CDD - 22 ed. 379.26 
CIP - NBR 12899 - AACR/2
ISBN 978-85-459-2075-5
Impresso por: 
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679
Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional 
Débora Leite Diretoria de Graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria 
de Pós-graduação, Extensão e Formação Acadêmica Bruno Jorge Head de Produção de Conteúdos Celso 
Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos 
Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão 
de Projetos Especiais Yasminn Zagonel
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de 
Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de 
EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi 
DIREÇÃO UNICESUMAR
BOAS-VINDAS
Neste mundo globalizado e dinâmico, nós tra-
balhamos com princípios éticos e profissiona-
lismo, não somente para oferecer educação de 
qualidade, como, acima de tudo, gerar a con-
versão integral das pessoas ao conhecimento. 
Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profis-
sional, emocional e espiritual.
Assim, iniciamos a Unicesumar em 1990, com 
dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, 
temos mais de 100 mil estudantes espalhados 
em todo o Brasil, nos quatro campi presenciais 
(Maringá, Londrina, Curitiba e Ponta Grossa) e 
em mais de 500 polos de educação a distância 
espalhados por todos os estados do Brasil e, 
também, no exterior, com dezenasde cursos 
de graduação e pós-graduação. Por ano, pro-
duzimos e revisamos 500 livros e distribuímos 
mais de 500 mil exemplares. Somos reconhe-
cidos pelo MEC como uma instituição de exce-
lência, com IGC 4 por sete anos consecutivos 
e estamos entre os 10 maiores grupos educa-
cionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos edu-
cadores soluções inteligentes para as neces-
sidades de todos. Para continuar relevante, a 
instituição de educação precisa ter, pelo menos, 
três virtudes: inovação, coragem e compromis-
so com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, 
para os cursos de Engenharia, metodologias ati-
vas, as quais visam reunir o melhor do ensino 
presencial e a distância.
Reitor 
Wilson de Matos Silva
Tudo isso para honrarmos a nossa mis-
são, que é promover a educação de qua-
lidade nas diferentes áreas do conheci-
mento, formando profissionais cidadãos 
que contribuam para o desenvolvimento 
de uma sociedade justa e solidária.
P R O F I S S I O N A LT R A J E T Ó R I A
Me. Francieli Muller Prado
Licenciatura e Bacharelado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de 
Maringá-PR (2013). Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais 
da Universidade Estadual de Maringá, na linha de pesquisa Dinâmicas Urbanas e 
Políticas Públicas. Especialização em Gestão de Projetos pelo Centro Universitário 
de Maringá (2016). Desenvolvedor de pesquisas na área de Antropologia Urbana, 
Antropologia Visual (Vídeo e Foto-Elicitação). Atuante na área de Inovação Social, 
Empreendedorismo Social e Responsabilidade Social.
http://lattes.cnpq.br/5329262896894768
A P R E S E N TA Ç Ã O D A D I S C I P L I N A
EDUCAÇÃO, DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA
A aprendizagem e a integração dos direitos humanos possuem relação com conhecer, possuir, 
planejar e agir. Assim, o(a) aluno(a) assume uma responsabilidade única, a partir do momento 
que passa a conhecer os direitos humanos como inalienáveis, pertencentes a todos, e ao saber 
que são uma ferramenta de organização, uma estratégia única para o desenvolvimento econô-
mico, humano e social. Desse modo, a própria escrita sobre a temática dos direitos humanos 
nos engaja em um trabalho de amor para mudar o mundo, de modo a integrar aprendizagem 
significativa dos direitos humanos em todos os níveis da sociedade, o que leva ao planejamento 
positivo das ações.
Proponho alguns questionamentos: de fato, todos nós conhecemos inerentemente os direitos 
humanos? Sabemos quando a injustiça é presente? Ainda, temos a noção de que a justiça é a 
expressão máxima dos direitos humanos? Espontaneamente, deveríamos confiar e respeitar 
o outro, internalizando e socializando os direitos humanos como um modo de vida. Não só, 
mas aprender que esses direitos exigem mútuo respeito e que todos os conflitos devem ser 
resolvidos por intermédio deles.
Teremos a oportunidade de refletir sobre como os Direitos Humanos são uma ferramenta po-
derosa para ação contra a desintegração social, pobreza e intolerância. Com o conhecimento 
acerca dos direitos humanos, podemos nos unir para mudar um mundo onde o sistema é, por 
vezes, injusto, em que justiça é injusta e mulheres e homens trocam a sua igualdade por sua 
sobrevivência.
Este livro aspira evocar um diálogo e discussões que levem ao pensamento crítico e à análise 
sistêmica do futuro da humanidade que todos esperamos gerar. Nas páginas a seguir, você 
terá contato com uma estrutura que traça o caminho para compreensão dos principais temas 
relacionados aos Direitos Humanos: educação, cidadania, minorias, política e desigualdade.
A indivisibilidade, interconexão e inter-relação desses temas, as quais serão atestadas a seguir, 
são essenciais para a compreensão dos direitos humanos, que desafiam você a refletir sobre 
os aspectos morais, políticos e as implicações dos direitos humanos. Ao integrarmos os temas 
e as abordagens compartilhadas no livro, esperamos despertar um senso de responsabilida-
de, a fim de que você se torne um multiplicador de direitos humanos como um modo de vida.
ÍCONES
Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece? Este ele-
mento ajudará você a conceituá-la(o) melhor da maneira mais simples.
conceituando
No fim da unidade, o tema em estudo aparecerá de forma resumida 
para ajudar você a fixar e a memorizar melhor os conceitos aprendidos. 
quadro-resumo
Neste elemento, você fará uma pausa para conhecer um pouco 
mais sobre o assunto em estudo e aprenderá novos conceitos. 
explorando Ideias
Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e 
transformar. Aproveite este momento! 
pensando juntos
Enquanto estuda, você encontrará conteúdos relevantes 
online e aprenderá de maneira interativa usando a tecno-
logia a seu favor. 
conecte-se
Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar 
Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo 
está disponível nas plataformas: Google Play App Store
CONTEÚDO
PROGRAMÁTICO
UNIDADE 01 UNIDADE 02
UNIDADE 03
UNIDADE 05
UNIDADE 04
FECHAMENTO
INTRODUÇÃO AOS 
DIREITOS
HUMANOS
8
DIREITOS
HUMANOS
E A CONSTRUÇÃO DA 
CIDADANIA
34
58
TRATADOS DE
DIREITOS
HUMANOS E SEUS 
IMPACTOS NA 
EDUCAÇÃO
84
DIREITOS HUMANOS 
NO
CONTEXTO
DA POBREZA E DAS 
POLÍTICAS PÚBLICAS
110
QUESTÕES
CONTEMPORÂNEAS
DE DIREITOS 
HUMANOS
134
CONCLUSÃO GERAL
1INTRODUÇÃO AOS 
DIREITOS
humanos
PLANO DE ESTUDO 
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Introdução aos direitos humanos 
• Definição de direitos humanos • Origem dos direitos humanos no mundo • Principais fatos históricos 
da Constituição dos Direitos Humanos • Os direitos humanos no Brasil.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 
Compreender os pressupostos que serviram como base para a constituição dos direitos humanos no 
mundo e no Brasil • Estudar as principais definições conceituais que envolvem os direitos humanos e 
como ele evoluiu ao longo da história • Conhecer a origem dos direitos humanos • Evidenciar os prin-
cipais fatos históricos que constituíram os direitos humanos no Brasil e no mundo • Saber mais sobre 
o desenvolvimento dos direitos humanos no Brasil.
PROFESSORA 
Me. Francieli Muller Prado
INTRODUÇÃO
Os direitos humanos, por definição, devem ser aplicados a todos os seres 
humanos. Na prática, contudo, eles são distribuídos de forma desigual e, às 
vezes, até considerados como algo “merecido” apenas por alguns.
Em um breve passeio pelas periferias das grandes cidades brasileiras, 
podemos observar que alguns serviços básicos, que deveriam ser garanti-
dos como direitos humanos – como educação, saúde, saneamento e justiça 
–, são cada vez mais difíceis de ser alcançados. Isso é contrário ao próprio 
conceito garantido pela Declaração de Direitos Humanos, da ONU, ou, 
neste caso, mais, diretamente pela Constituição Brasileira em si.
O conceito de cidadania, por vezes, apresenta-se como algo ambíguo, 
pois, embora a cidadania supostamente traga direitos iguais para todos, 
na prática, reflete desigualdades históricas. A distribuição de direitos não 
é apenas sobre o que está escrito em uma constituição, mas sobre como 
esses direitos são, de fato, aplicados, frequentemente baseados, em enten-
dimentos herdados de quem, em uma determinada sociedade, é entendido 
como digno.
Com base nesta breve introdução, partiremos do início, ou seja, da com-
preensão histórica da evolução dos direitos humanos no mundo e no Brasil. 
Essas reflexões servirão como base para as discussões seguintes, quando 
avançamos na discussão acerca das inúmeras implicações concernentes ao 
conceito e aplicação dos direitos humanos na sociedade contemporânea. 
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INTRODUÇÃO AOS
DIREITOS
humanos
Olá, aluno(a), seja muito bem-vindo(a)! Nesta unidade, iniciaremos os nossos 
estudos compreendendo a origem dos direitos humanos no mundo e no Bra-
sil, sobretudo como eles surgiram e quais foram as bases de sua constituição. 
Esse aprendizado será fundamental para avançarmos em nossas discussões.
Existe um consenso, no mundo de hoje, que todos os seres humanos têm 
direitos a uma existência digna. Nesse sentido, os seres humanos, em todos os 
lugares, podem e devem exigir a realização de valores diversos para assegurar o 
seu bem-estar coletivo. No entanto, essas exigências ou direitos são negados por 
intermédio da exploração, opressão, perseguição etc. em muitos países do mundo. 
A discussão acerca dos direitos humanos ganhou mais atenção a nível interna-
cional após a Segunda Guerra Mundial, acontecimento em que milhões de pessoas 
perderam suas vidas. Horrorizados pela devastação da vida causada pelo Segunda 
Guerra, membros da Organização das Nações Unidas (ONU), comprometeram-se 
a tomar medidas para a realização do respeito universal e a observância dos seus 
direitos humanos e do direito à liberdade para todos. O termo direitos humanos, 
usado desde a Segunda Guerra Mundial, ganhou importância nos debates contem-
porâneos e se tornou um fenômeno universal após a adoção da Declaração Universal 
dos Direitos Humanos (DUDH) em 10 de dezembro de 1948, pelos Estados Unidos.
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Como a Segunda Guerra Mundial levou às nossas modernas leis de direitos humanos? 
Nos anos 30 e 40, cerca de seis milhões de judeus e milhões de outros, incluindo romanos, 
homossexuais e pessoas com deficiência, morreram nas mãos dos nazistas. O surto da 
Segunda Guerra Mundial levou a uma perseguição muito mais selvagem, incluindo assas-
sinatos em massa. Essa política de tratamento cruel e genocídio deliberado e sistemático 
em toda a Europa ocupada pelos alemães chocaram o mundo. Depois que os nazistas 
foram derrotados pelas Forças Aliadas na Segunda Guerra Mundial, o mundo se uniu 
para estabelecer padrões mínimos de dignidade a serem concedidos a todos os seres hu-
manos. Esses padrões mínimos se tornaram conhecidos como direitos humanos, foram 
registrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos e executados na Europa sob 
a Convenção de Direitos Humanos. Os artigos da Convenção que proíbem a tortura, a es-
cravidão e o trabalho forçado visavam claramente limitar o tratamento bárbaro à história.
Fonte: a autora.
explorando Ideias
Você sabia que os direitos humanos envolvem direitos e obrigações? Os Estados assu-
mem obrigações e deveres sob o direito internacional de respeitar, proteger e cumprir os 
direitos humanos. No nível individual, apesar de termos nossos direitos humanos, tam-
bém devemos respeitar os direitos humanos de outras pessoas. 
pensando juntos
Essa ação foi compreendida, por muitos, como um sinal de otimismo para uma 
melhor proteção, promoção e aplicação dos direitos humanos. No entanto, 50 
anos desde a adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos, foi relatado 
que os abusos dos direitos humanos não diminuíram. O mundo está repleto de 
exemplos de violações de direitos básicos, como censura, discriminação, prisões 
políticas, torturas, escravidão, desaparecimentos, genocídios, execuções extraju-
diciais, detenções, assassinatos arbitrários, pobreza etc. Não só, mas os direitos 
de mulheres e crianças também são ignorados de muitas maneiras diferentes.
Os princípios dos direitos humanos foram elaborados como uma forma de ga-
rantir que a dignidade de todos sejam igualmente respeitadas, isto é, para garantir 
que um ser humano seja capaz de desenvolver e usar plenamente suas qualidades 
humanas e satisfazer suas necessidades sociais e de sobrevivência.
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A dignidade dá, ao indivíduo, um senso de valor e a existência de direitos hu-
manos demonstra que os indivíduos estão cientes do valor um do outro. Assim, a 
dignidade humana não é um sentido individual, exclusivo e isolado, pois faz parte 
de nossa humanidade comum. Desse modo, os direitos humanos nos permitem 
respeitar um ao outro e vivermos uns com os outros. Em outras palavras, eles não 
são apenas direitos a serem solicitados ou exigidos, mas a serem respeitados, isto 
é, os direitos que se aplicam a você também se aplicam aos outros.
A negação dos direitos humanos e das liberdades fundamentais não somente é 
um problema individual e pessoal, mas também cria condições para a ordem social e 
política, de modo a evitar casos de violência e conflito dentro e entre sociedades e nações.
Os direitos humanos são universais e inalienáveis, indivisíveis, interdepen-
dentes e inter-relacionados. Eles são universais, porque todos nascem e possuem 
os mesmos direitos, independentemente de onde moram, do sexo, da raça ou 
religião, da origem cultural ou étnica. Inalienáveis, pois os direitos das pessoas 
nunca podem ser levados embora. Indivisíveis e interdependentes, uma vez que 
todos os direitos – políticos, civis, social, cultural e econômico – são iguais em 
importância e nenhum pode ser totalmente apreciado sem os outros.
Desse modo, os direitos humanos se aplicam a todos igualmente e todos têm 
o direito de participar de decisões que afetam as suas vidas. Tal direito (participa-
ção) é mantido pelo Estado de Direito e fortalecido por meio de reivindicações 
legítimas de compromisso dos responsáveis por padrões internacionais, como o 
caso do voto, por exemplo.
Agora que entendemos a gênese dos direitos humanos, falaremos um pouco 
de sua história. Sobre isso, vale destacar que os direitos humanos passaram por 
uma grande transformação– ao que entendemos por direitos humanos hoje – no 
decorrer da Segunda Guerra Mundial, por respostas à experiência do nazismo 
(e, em menor grau, ao stalinismo).
Entre as primeiras manifestações dessa transformação, estava o estabelecimento 
de crimes contra a humanidade como uma ofensa no direito internacional, o que 
permitiu a acusação de chefes de estado por crimes que violam os direitos da huma-
nidade. Assim, a concepção da ideia de “o genocídio” e, em seguida, a aprovação da 
Convenção sobre Genocídio, que foram desencadeados em parte pelo Holocausto, 
abriram novos caminhos, à medida que procuravam transformar os direitos huma-
nos em algo tangível e que nenhum poder poderia anular, impunemente.
Nessa perspectiva, a ascensão dessa estrutura de direitos humanos foi explo-
rada por meio do legado do Tribunal de Nuremberg. Esse tribunal, que levou 13 
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julgamentos realizados em Nuremberg, Alemanha, entre 1945 e 1949, foi realiza-
do com o objetivo de levar os criminosos de guerra nazistas à justiça. Esse evento 
foi muito significativo para a consolidação dos direitos humanos, uma vez que 
materializava um senso de justiça aclamado pelo mundo todo.
No entanto, o desenvolvimento da Guerra Fria (1947 – 1991) e de novas formas 
de nacionalismo colocaram um ponto de interrogação sobre até onde se conseguiu 
responsabilizar os mais violentos abusos de poder. Assim sendo, podemos sinalizar, 
ainda, os eventos contemporâneos de violência de países, guerras civis etc.
Na teoria, não podemos falar de direitos humanos sem falar de Jürgen Ha-
bermas, que procurou explorar as ramificações dos direitos humanos. O autor 
trouxe, em suas discussões, a teorização dos direitos humanos sobre a constitu-
cionalização do direito internacional. Assim:
 “ No entendimento de Habermas, “direito”, na expressão “direitos humanos”, é um conceito jurídico, donde direitos humanos, para ele, serem direitos jurídicos, normas legais declaradas em atos de 
fundações do Estado ou anunciadas em convenções do direito inter-
nacional e/ou constituições estatais. Ao conceber assim os direitos e 
tematizar os direitos humanos numa abordagem tríplice (focando-
-os entre moral, direito e política), ele fornece diferentes definições 
teóricas dos direitos humanos (LOHMANN, 2013, p.1 ).
Para o autor, na aplicação dos direitos humanos além das fronteiras do estado-na-
ção, tem-se, como fundamento, as responsabilidades do poder, sobretudo de pre-
venir ou de impedir atrocidades que ocorrem em outros Estados (LOHMANN, 2013).
Habermas (1999) apresenta uma crítica aos regimes neoliberais de direitos 
humanos, os quais restringem os direitos humanos às liberdades negativas dos 
cidadãos que adquirem um status imediato em relação à economia global. Além 
disso, o autor menciona os direitos básicos para a provisão de condições de vida, 
que são social, tecnológica e ecologicamente salvaguardados. No entanto, assim 
como ele explica, esses direitos devem ser entendidos como derivados dos direitos 
liberais e políticos clássicos (HABERMAS,1999).
Ainda de acordo com a “prioridade” aos direitos sociais e culturais, os direitos 
básicos não fazem sentido, pela simples razão de que eles servem apenas para ga-
rantir o “valor justo” dos direitos básicos liberais e políticos, isto é, os pressupostos 
para a igualdade de oportunidades para exercer direitos individuais. Em outras 
palavras, o direito de exigir, para garantir uma condição de vida socialmente dig-
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DEFINIÇÃO DE
DIREITOS
humanos
na, deve ser entendido como um direito que as pessoas as quais vivem dentro de 
ordens liberais e democráticas podem exigir da sociedade como uma condição 
necessária para o exercício de direitos civis e políticos iguais.
Nessa perspectiva, como tal, o direito à subsistência não deve ser entendido como 
um direito humano universal e que se aplica a qualquer pessoa, não importa em que 
tipo de sociedade ela viva. Ele deve ser entendido como menos universal, como um di-
reito político destinado a salvaguardar a solidariedade igualitária, sem a qual a cidadania, 
em qualquer sociedade liberal e democrática, seria impensável (HABERMAS,1999).
Vale destacar que uma das características distintivas da teoria dos direitos huma-
nos do discurso de Habermas (1999) é o fato de que o estudioso concebe os direitos 
humanos em termos institucionais, e não interacionais, ou seja, por meio da interação 
entre os indivíduos. Nessa perspectiva, para o autor, não há razão para esperar que os 
seres humanos possam chegar a um consenso universal sobre interesses gerais, a menos 
que assumam, como uma ideia reguladora, que compartilham uma natureza comum.
Existem várias definições contemporâneas de direitos humanos. A ONU de-
finiu direitos humanos como aqueles inerentes ao nosso estado de natureza e 
sem os quais nós não podemos viver como seres humanos. Os direitos humanos 
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pertencem a todas as pessoas e não 
dependem das especificidades do 
indivíduo: são os direitos que todos 
possuem igualmente, em virtude de 
sua humanidade. 
Christian Bay (1982) definiu direi-
tos humanos como quaisquer reivin-
dicações que devam ter proteção legal 
e moral para assegurar que os direitos 
humanos podem ser definidos como 
os direitos mínimos que cada indiví-
duo deve ter contra o Estado ou outra 
autoridade pública, em virtude de ser 
um membro da família humana. 
No preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, é des-
crito que “o reconhecimento da dignidade inerente e dos direitos iguais e inaliená-
veis de todos os membros da família humana é o fundamento da liberdade, justiça 
e paz no mundo” (ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, 2009, p. 2).
Assim como fora descrito na Declaração dos Direitos humanos, os direitos 
humanos, em um sentido geral, denotam os direitos dos cidadãos. Contudo, num 
sentido mais específico, constituem aqueles direitos que se tem precisamente por 
ser humano. 
 Nas palavras de Freeden (1996), um direito humano é um dispositivo con-
ceitual, expresso em forma linguística, que confere prioridade a certos atributos 
humanos ou sociais, os quais são considerados essenciais para o adequado funcio-
namento de um ser humano. Não só, mas se destina a servir como proteção para 
aqueles atributos e apela para uma ação deliberada, a fim de garantir tal proteção. 
Scot Davidson (1992) definiu os direitos humanos como intimamente ligados à 
proteção de indivíduos do exercício do governo ou autoridade estadual em certas 
áreas de suas vidas. Isso é também direcionado para a criação de condições sociais 
pelo estado em que os indivíduos podem desenvolver seu potencial máximo. 
Com base nas contribuições desses autores, pode-se afirmar que os direitos 
humanos podem ser definidos como aqueles sem os quais os seres humanos não 
podem viver com dignidade, liberdade (política, econômica, social, cultural) e 
justiça em qualquer nação ou estado, independentemente da cor, local de nasci-
mento, etnia, raça, religião, sexo ou quaisquer outras considerações. Esses direitos 
Figura 1 – Nuvem de palavras / Fonte: a autora.
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são inerentes à natureza do ser humano e, portanto, garantidos e protegidos pelo 
Estado, sem distinção de qualquer tipo.
Quando tais direitos são negados a um indivíduo, seja pelos atores estatais 
ou não-estatais, constituem-se violações dos direitos humanos. Quando ocorrem 
violações em larga escala de tais direitos para qualquer comunidade ou grupo de 
pessoas em suas vidas cotidianas, podemos categorizar como abuso dos direitos 
humanos. Por exemplo, quando ocorrem prisões, assassinatos, tortura, estupro, 
legislações repressivas, discriminação etc., essas ações podem ser contra qualquer 
comunidade ou setores da sociedade, por atores estatais ou não-estatais, com o 
objetivo de suprimir a aspiração ou demanda de um grupo em particular por 
padrão de vida em relação a outros grupos naquele país.
Além disso, o conceitode direitos humanos pode ser entendido como uni-
versal, incontroverso e subjetivo. Os direitos humanos são universais, já que per-
tencem a todo ser humano, sem qualquer distinção de etnia, raça, gênero, religião 
ou tipo de governo. São incontroversos, isto é, absolutos e inatos. Além disso, são 
subjetivos, pelo fato de que são propriedades de indivíduos que as possuem por 
causa de sua capacidade pela racionalidade, agência e autonomia.
Hoje, o conceito de direitos humanos inclui os direitos civis e políticos ou os 
direitos públicos, liberdades, necessidades econômicas, sociais e culturais, particu-
larmente no que diz respeito ao ambiente e à autodeterminação. Assim como fora 
exposto, é responsabilidade do Estado proteger e promover os direitos humanos. É, 
também, dever do Estado criar condições para a existência da paz, que permite que 
os direitos humanos sejam usufruídos por todos os indivíduos nesse estado. Toda-
via, com o crescente risco de violação dos direitos humanos, decorrente das ativida-
des do Estado, muito tem-se questionado acerca da legitimidade desse direito em 
nossa sociedade. Um exemplo dessas violações são os decorrentes assassinatos de 
civis e crianças envolvendo policiais na ativa (em serviço e fora de serviço).
 Segundo levantamento realizado pelo Monitor da Violência, do Núcleo de 
Estudos da Violência da USP e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o 
Brasil teve 6.160 pessoas mortas por policiais no ano de 2018 – um aumento de 
18% em relação ao ano anterior, quando foram registradas 5.225 vítimas (VE-
LASCO; CAESAR; REIS, 2019, on-line)¹. 
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ORIGEM DOS
DIREITOS
humanos no mundo
O termo direitos humanos entrou em vigor após a Segunda Guerra Mundial, par-
ticularmente, com a fundação das Nações Unidas, em 1945. Substituiu o termo 
direitos naturais, porque se tornou uma questão de grande controvérsia e o termo 
posterior, os direitos do homem, não era compreendido universalmente para a 
inclusão dos direitos das mulheres. É comum, na filosofia política e entre os estu-
diosos, sugerir que os antecedentes dos direitos e liberdades contemporâneos são de 
origens históricas dos direitos humanos da Grécia e da Roma antigas, os quais estão 
intimamente ligados às doutrinas pré-modernas da lei natural do estoicismo grego. 
A doutrina dos direitos humanos surgiu sob a forma de direitos naturais nos 
escritos políticos de Thomas Hobbes, os quais foram chamados de “Leviatã”. A 
chave para a filosofia política deste estudioso é a sua doutrina do estado de na-
tureza, na qual é descrita a pré-situação política da condição humana. Segundo 
Hobbes (1997), todos os homens são iguais e cada um é dominado pelo desejo de 
autopreservação. Na referida obra, o estudioso afirmou que todos os indivíduos 
possuem liberdades e liberdades simples, que são correlacionadas com deveres e 
obrigações por parte de outros.  Para Hobbes (1997), o direito da natureza (direi-
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tos naturais) é definido como o direito à autopreservação, que é imediatamente 
em contraste com a lei da natureza (lei natural), que proíbe indivíduos de fazerem 
algo destrutivo em suas vidas ou de omitir os meios de auto-preservação.
Nesse sentido, para que a ideia de direitos humanos (naturais) se consolide 
como uma necessidade social geral, certas mudanças básicas nas crenças e nas 
práticas da sociedade tinham que acontecer. Além disso, quando a resistência à 
intolerância religiosa e à escravidão econômica começou, a longa transição para 
as noções liberais de liberdade e igualdade, particularmente em relação ao uso e à 
posse de propriedade, foi o fundamento do conceito moderno de direitos humanos. 
Os escritos de Tomás de Aquino (1224-1274) e as Leis da Guerra e da Paz 
explicam que os direitos naturais surgiram com a defesa de que os homens ti-
nham o direito de realizar reivindicações pela proteção de sua vida, liberdade e 
propriedade. Nesse sentido, Locke (1997, p. 11) afirma que:
 “ Homem que está nascendo com um pouco para aperfeiçoar a liberda-de e para um descontrolado gozo de todos os direitos e privilégios da lei da natureza, igualmente com qualquer outro homem por natureza 
não só para preservar sua propriedade, sua vida, liberdade e proprie-
dade contra os ferimentos e tentativas de outros homens, mas julgar 
e punir as violações da lei em outros (LOCKE, 1997, p. 11).
Ainda de acordo com Hobbes (1997) e John Locke (1997), existem muitos direi-
tos naturais, mas todos eles são inferências de um direito original, que é o direito 
de um indivíduo de preservar sua vida. O que é intrinsecamente correto não é 
mais o que é requerido ou o que participa da boa vida: é o que é subjetivamente 
considerado pelo indivíduo como necessário à sua segurança.
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PRINCIPAIS FATOS 
HISTÓRICOS
da constituição dos direitos 
humanos
A era moderna dos direitos humanos pode ser atribuída às lutas para acabar com 
a escravidão, o genocídio, a discriminação e a opressão do governo. Atrocidades 
durante a Segunda Guerra Mundial deixaram claro que os esforços anteriores 
para proteger os direitos individuais contra violações do governo eram inade-
quados. Assim, nasceu a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) 
como parte do surgimento das Nações Unidas (ONU). A DUDH foi o primeiro 
documento internacional que enuncia os direitos civis, políticos, econômicos, so-
ciais e culturais básicos que todos os seres humanos deveriam gozar. A declaração 
foi ratificada, sem oposição, pela Assembleia Geral da ONU em 10 de dezembro 
de 1948. Entretanto, antes disso, encontramos discussões, teorias e debates em 
torno dos direitos humanos. É isso que vamos discutir a partir de agora. 
ESCRITOS PRECURSORES DOS DIREITOS 
HUMANOS 
Os direitos humanos são produto de um debate filosófico que dura mais de dois 
mil anos, na busca de padrões morais de organização e comportamento político. 
O surgimento dos direitos humanos se deu a partir da tradição de que existe uma 
ordem moral cuja legitimidade precede condições sociais e históricas e se aplica a 
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todos os seres humanos em todos os lugares e em todos os momentos. Nessa visão, 
crenças e conceitos morais são capazes de serem validados como fundamentais e 
universalmente verdadeiros. As origens e o desenvolvimento da teoria dos direitos 
humanos estão ligados ao desenvolvimento do universalismo moral, ou seja, um 
sistema ético que é aplicado para todas as pessoas em situação semelhante.
Desse modo, entre esses documentos, podemos destacar a Carta Magna 
(1215), a Carta de Direitos Inglesa (1689), a Declaração Francesa Sobre os Direi-
tos do Homem e do Cidadão (1789) e a Declaração dos Direitos da Constituição 
dos EUA (1791), que foram os precursores dos direitos humanos no mundo e que 
inspiram os documentos até os dias de hoje. No entanto, vale destacar que muitos 
desses documentos, quando originalmente traduzidos em política, excluíam mu-
lheres, pessoas de cor e membros de certos grupos sociais, religiosos, econômicos 
e políticos, que foram incluídos na contemporaneidade. 
SÉCULO XIX
O direito internacional contemporâneo dos direitos humanos e o estabelecimen-
to da Organização das Nações Unidas (ONU) têm importantes antecedentes 
históricos. Esforços no século XIX para proibir o tráfico de escravos e limitar os 
horrores da guerra são exemplos primordiais. 
Em 1919, após o término da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), foram co-
locadas em pauta a necessidade e a preocupação de se estabelecer parâmetros inter-
nacionais de defesa dos grupos minoritários e das pessoas fragilizadas pelo impacto 
da guerra. Como resultado dessa preocupação, em 1919, foi criada a Organização 
Internacional do Trabalho, que tinha como objetivo principal proteger e garantir os 
direitos dos trabalhadores. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) foi incor-
porada à ONU como uma agência especializada em 1946. O objetivo da organização 
é servir como uma força deunião entre governos, empresas e trabalhadores, e enfatiza 
a necessidade de os trabalhadores gozarem de “condições de liberdade, equidade, 
segurança e dignidade humana” (OIT, [2019], on-line)².por meio do emprego.
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O NASCIMENTO DAS NAÇÕES UNIDAS
A Segunda Guerra Mundial durou de 1939 a 1945 e, à medida que o fim se apro-
ximava, cidades da Europa e da Ásia estavam em ruínas. Além disso, milhões de 
pessoas estavam mortas, ou desabrigadas e famintas. 
Em abril de 1945, delegados de cinquenta países se reuniram em São Francisco, 
com o objetivo de participar da Conferência das Nações Unidas. O propósito era 
que essa organização internacional formasse um organismo internacional para pro-
mover a paz e impedir futuras guerras. Assim, a Carta da Organização das Nações 
Unidas entrou em vigor em 24 de outubro de 1945, data que é comemorada todos 
os anos como o Dia das Nações Unidas. A Declaração Universal dos Direitos Hu-
manos inspirou várias outras leis e tratados de direitos humanos em todo o mundo.
Em 1948, a nova Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas havia 
capturado a atenção do mundo. Sob a presidência dinâmica de Eleanor Roosevelt – 
viúva do presidente Franklin Roosevelt, defensora dos direitos humanos e delegada 
dos Estados Unidos na ONU –, a Comissão decidiu redigir o documento que se 
tornaria a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Roosevelt, creditado com 
sua inspiração, referiu-se à Declaração como a Magna Carta Internacional para 
toda a humanidade. Foi adotada pelas Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948.
Em seu preâmbulo, a Declaração proclama os direitos inerentes a todos os seres 
humanos: 
 “ Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos huma-nos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os todos go-
zem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a 
salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta 
aspiração do ser humano comum (DUDH, 1948, p. 2).
Assim, “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos” 
(DUDH, 1948, p. 4).Os Estados-membros das Nações Unidas comprometeram-se 
a trabalhar juntos para promover os trinta Artigos de direitos humanos, que, pela 
primeira vez na história, foram reunidos e codificados em um único documento. 
Em consequência, muitos desses direitos, de várias formas, fazem, hoje, parte das 
leis constitucionais das nações democráticas.
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A partir deste discurso, vieram apelos de todo o mundo, em busca de padrões 
de direitos humanos para proteger os cidadãos dos abusos de seus governos. Essas 
vozes desempenharam um papel importante na reunião de São Francisco, que 
elaborou a Carta das Nações Unidas em 1945.
A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS 
HUMANOS (1948)
A Declaração Universal dos Direitos Humanos surgiu com o fim da segunda Guer-
ra Mundial. Com o término do conflito e a criação de Nações Unidas, a comunidade 
internacional se uniu com um objetivo comum: nunca mais suportar as atrocidades 
que o mundo acabara de testemunhar na guerra. A partir de então, os líderes do 
mundo decidiram ampliar a Carta das Nações Unidas, a fim de consagrar e enco-
rajar garantias para os direitos dos seres humanos em todo o mundo. 
A Assembleia Geral examinou os documentos entre setembro e dezembro de 
1948, com mais de 50 Estados-membros, os quais votaram 1.400 vezes em, pratica-
mente, todas as cláusulas e em praticamente todas as palavras do texto. Em dezembro 
de 1948, a Assembleia Geral, reunida em Paris, votou pela adoção DUDH com oito 
nações abstendo-se, mas nenhuma discordando. Foi um momento histórico e a As-
sembleia Geral apelou a todos os Estados-membros que divulgassem o texto da De-
claração e a tornasse disseminada, exibida, lida e exposta principalmente nas escolas. 
DOCUMENTOS SUBSEQUENTES SOBRE DIREITOS 
HUMANOS
Dos muitos instrumentos de direitos humanos elaborados, a ONU designou nove 
deles como principais tratados internacionais de direitos humanos. Eles incluem um 
tratado sobre direitos civis e políticos; um tratado sobre direitos econômicos, sociais 
e culturais; tratados para combater a discriminação racial e de gênero; tratados que 
proíbem a tortura e os desaparecimentos forçados; e tratados que protegem os direitos 
das crianças, trabalhadores migrantes e pessoas com deficiência. Para cada um desses 
tratados básicos, a ONU estabeleceu um painel de especialistas independentes, co-
nhecido como órgão do tratado, o qual é responsável por monitorar a implementação 
do tratado pelos Estados Partes que o ratificaram (SHIMAN,1993). 
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OS DIREITOS
HUMANOS
no Brasil
A Segunda Guerra Mundial trouxe um renascimento da atual teoria dos direitos 
humanos. Até 1945, a proteção internacional dos direitos humanos era confinada 
a tratados abolindo o tráfico de escravos, as leis de guerra e os direitos das mino-
rias, que foram concluídos após o Tratado de Versalhes (28 de junho de 1919). 
Foi depois de 1945 que os direitos de todos os indivíduos estão sob a proteção 
do direito internacional. Após a Segunda Guerra Mundial, as regras de compor-
tamento e de direitos estatais de indivíduos dentro dos estados foram reescritos 
em documentos internacionais autorizados, como a Carta dos Direitos Huma-
nos das Nações Unidas de 1945; a Declaração Universal dos Direitos Humanos 
Direitos de 1948; a Convenção do Genocídio de 1948; a revisão das Convenções 
de Genebra em 1949; a Convenção Europeia dos Direitos do Homem de 1950; e 
as Nações Unidas Organizações Educacionais, Científicas e Culturais, em 1945. 
Todos esses documentos surgiram com o impulso moral de reconstruir a mora-
lidade pública após a Segunda Guerra Mundial.  A Carta dos Direitos Humanos das 
Nações Unidas é dirigida aos Estados como atores morais, enquanto a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos (DUDH) trata do indivíduo humano.
A Carta das Nações Unidas, assinada em São Francisco, em 26 de junho de 
1945, foi um documento com suas raízes no passado e com possibilidades para 
futuro que só poderia ser imaginado. Não só, mas representou o desenvolvimento 
histórico da organização social da humanidade. Essas colocações foram baseadas, 
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em grande parte, na experiência do passado e era um compromisso com propó-
sitos e princípios, cuja realização se dava à luz das mudanças nas condições do 
mundo. É importante destacar que a Carta não apenas incorporava limitações à 
liberdade de ação de um Estado, mas também fez referência para o desenvolvi-
mento dos direitos humanos por meio da Constituição de cada nação.
A atual conjuntura de consolidação democrática pede uma lista mínima de 
pré-requisitos para manter a democracia – como a liberdade de opinião, expres-
são, associação e organização, eleições livres e competitivas, rotação em poder, 
mecanismos de responsabilização do governo, a capacidade dos movimentos so-
ciais participar abertamente na esfera pública. Nesse contexto, os compromissos 
do Estado com a proteção dos direitos humanos se constituem como um fator 
primordial na consolidação da cidadania.
No Brasil, a história dos direitos humanos está vinculada com a história das 
constituições brasileiras e com a importância delas à garantia dos direitos. Nesse 
contexto, a Constituição Imperial de 1824, que foi primeira constituição brasileira 
a ser outorgada após a dissolução da Constituinte, trouxe a inviolabilidade dos 
direitos civis e políticos que se baseavam na liberdade, na segurança individual 
e na propriedade. Já a Constituição de 1934 trouxe alguns pressupostos liberais, 
que, em alguma medida, garantiram alguns direitos adquiridos, além de:
 “ Vedar a pena de caráter perpétuo; proibiu a prisão por dívidas, multas ou custas; criou a assistência judiciária para os necessitados (assistên-cia esta, que ainda hoje, não é observada por grande parte dos Estados 
brasileiros); instituiu a obrigatoriedadede comunicação imediata de 
qualquer prisão ou detenção ao juiz competente para que a relaxasse, 
se ilegal, promovendo a responsabilidade da autoridade coatora, além 
de várias outras franquias estabelecidas (ALVES,2009,p.10).
Vale destacar que, além dessas garantias, a Constituição de 1934 trouxe novas 
normas de proteção social para os trabalhadores, estabelecendo igualdade de 
direitos de salário, sobretudo em relação à idade, ao sexo, à nacionalidade ou ao 
estado civil. Além disso: 
 “ Proibiu o trabalho para menores de 14 anos de idade, o trabalho noturno para os menores de 16 anos e o trabalho insalubre para menores de 18 anos e para mulheres; determinando a estipulação 
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de um salário mínimo capaz de satisfazer às necessidades normais 
do trabalhador, o repouso semanal remunerado e a limitação de tra-
balho a oito horas diárias que só poderão ser prorrogadas nos casos 
legalmente previstos, além de inúmeras outras garantias sociais do 
trabalhador (ALVES,2009, p.10).
Contrário aos avanços anteriores, a Constituição de 1967 apresentou alguns re-
trocessos referentes à liberdade, pautados em punições e arbitrariedades decre-
tadas pelos Atos Institucionais. Um aspecto a ser destacado nesse retrocesso é 
referente à redução de idade mínima para o trabalho, que foi para 12 anos. Além, 
ainda, de proibir movimentos grevistas e a liberdade de opinião e de expressão. 
Tudo isso representou um grande retrocesso dos direitos sociais.
A Constituição de 1967 esteve em vigor até 17 de outubro de 1969. Na prática, foi 
instaurado o mais terrível Ato Institucional, o AI-5, o que mais desrespeitou os direitos 
humanos no país, provocando uma revolta na sociedade civil, em jovens e estudantes.
A Constituição de 1988 veio como um alento, depois de um longo período 
de retrocessos sociais e nos direitos humanos. É justamente por esse motivo que 
a Constituição de 1988 foi chamada de Constituição Cidadã “porque ela mostrou 
que o homem tem uma dignidade, dignidade esta que precisa ser resgatada e que 
se expressa, politicamente, como cidadania” (ALVES,2009,p.13).
A Constituição de 1988, já no preâmbulo, trata sobre a dignidade da pessoa 
humana quando sustenta que:
 “ Inviolabilidade à liberdade e, depois, no artigo primeiro, com os fun-damentos e, ainda, no inciso terceiro (a dignidade da pessoa humana), mais adiante, no artigo quinto, quando fala da inviolabilidade do direito 
à vida, à liberdade, à segurança e à igualdade (ALVES, 2009, p. 13).
Desse modo, a Constituição de 1988 se apresenta como um marco importante 
para a consolidação dos direitos humanos no Brasil, inclusive como um dos prin-
cípios que regem as relações internacionais do país (ALVES,2009).
No campo dos direitos humanos, o Brasil teve destaque com a preparação e rea-
lização da Conferência Mundial de Direitos Humanos, a qual aconteceu em Viena, 
em 1993, onde foi presidido o comitê de redação da Declaração e do Programa de 
Ação, adotado pela conferência em 25 de junho de 1993. Já em 1996, foi assumida 
a presidência da 52ª Reunião da Comissão de Direitos Humanos da ONU.
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A Conferência Mundial de Direitos Humanos trouxe um maior envolvimen-
to dos países, sobretudo, nas discussões de medidas de proteção, promoção e 
implementação dos direitos humanos. O Brasil seguiu esse movimento e, por 
isso, a conferência foi um marco não só para o mundo, mas para o Brasil, uma 
vez que os direitos humanos começaram a ser defendidos e foram debatidas as 
formas de os países cumprirem a declaração.
Na década de 90, o então presidente Fernando Henrique Cardoso criou a 
Secretaria de Direitos Humanos, que era ligada ao Ministério da Justiça. Essa se-
cretaria foi responsável pelas primeiras políticas relacionadas aos direitos huma-
nos. Já em 1996, foi criado o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), 
estruturado com mais de 500 metas voltadas para os direitos civis e políticos.
No tocante aos direitos humanos, o Brasil escolheu, como linhas de atuação, a 
administração da Justiça, a defesa de crianças e adolescentes, a educação e a proteção 
de minorias e deficientes, seguindo os principais instrumentos da ONU (ALVES, 
2009). As políticas de direitos humanos foram aprofundadas no governo de Luiz 
Inácio Lula da Silva, quando o país começou a discutir políticas de enfrentamento 
à violação dos direitos e reformulou o Programa Nacional de Direitos Humanos. 
Foi criado, ainda, o Plano Nacional de Educação e Direitos Humanos.
Embora o governo brasileiro tenha se esforçado para corrigir os abusos dos 
direitos humanos, raramente responsabiliza os responsáveis pelas violações sig-
nificativas de direitos humanos no Brasil. A polícia é frequentemente abusiva e 
corrupta, as condições das prisões são péssimas e a violência rural e os conflitos 
fundiários estão em andamento. Os defensores dos direitos humanos sofrem 
ameaças e ataques. 
O que podemos observar é que, embora essas ações são positivas na garantia 
de avanços nos direitos humanos, no Brasil, a violência ainda é algo muito pre-
sente em várias instâncias sociais, sobretudo no que se refere aos direitos huma-
nos. Tudo isso, somado à violência desproporcional e à exclusão econômica de 
minoria, ilustram um cenário que necessita ser melhor desenvolvido. 
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitas pessoas consideram o desenvolvimento dos direitos humanos como uma 
das maiores conquistas do século XX. De fato, assim como observamos ao longo 
do livro, os direitos humanos não começaram exclusivamente com um movimen-
to político isolado, nem apenas com as Nações Unidas. Eles tiveram início com 
um movimento de várias frentes, que foram legitimadas por documentos que 
reivindicam os direitos individuais e se apresentam como precursores escritos 
dos instrumentos de direitos humanos.
Embora a estrutura internacional de direitos humanos se baseie em documen-
tos próprios, todos são inspirados e tomam, como direcionamento, principalmente, 
os documentos das Nações Unidas, que tratam os direitos humanos como uni-
versais: são sempre os mesmos e para todos os seres humanos em todo o mundo.
Nesse contexto, os direitos humanos não são garantidos a um sujeito, porque 
ele é cidadão de qualquer país, mas porque é membro da família humana. Isso 
significa que as crianças têm direitos humanos, bem como os adultos. Os direitos 
humanos são inalienáveis: não se pode perdê-los. Além disso, são indivisíveis: 
ninguém pode tirar um direito porque é “menos importante” ou “não essencial”.
Os direitos humanos são interdependentes e, juntos, formam uma estrutura 
complementar. Por exemplo, a sua capacidade de participar da tomada de deci-
sões locais é afetada diretamente pelo seu direito de se expressar, de se associar 
com os outros, de obter educação e até de obter as necessidades da vida.
Ademais, os direitos humanos refletem as necessidades humanas básicas, as 
quais são necessárias para que os indivíduos possam viver com dignidade. Desse 
modo, violá-los pressupõe que as pessoas não possuem a sua cidadania garantida. 
Assim, defender os direitos humanos é exigir que a dignidade humana de todas 
as pessoas seja respeitada.
28
na prática
1. Em 2018, foi publicado, no site do atual Ministério da Mulher, da Família e dos 
Direitos Humanos, um relatório que identifica violações de direitos humanos em 
comunidades quilombolas do Brasil (MDH, 2018, on-line)³. Com base nesse aconte-
cimento, pode-se afirmar que a violação desses direitos: 
a) Constitui violações dos direitos humanos de escala, as quais são cometidas re-
petidamente por indivíduos que não seguem as normas legais de convivência. 
Tais sujeitos não têm direitos assegurados, sobretudo os humanos. 
b) Atribui uma obrigação à população de apresentar relatórios periódicos para a 
apuração da responsabilidade dos Estados em relação aos direitos sociais.
c) Sugere que os direitos humanos não podem ser entendidos como universais, 
visto que cada país possui as suasnormas morais e legais, e deve ser considerada 
a sua distinção de etnia, raça, gênero, religião ou tipo de governo.
d) Constitui violações dos direitos humanos de escala, as quais são cometidas repe-
tidamente por atores estatais ou não-estatais a qualquer comunidade ou grupo 
de pessoas em suas vidas cotidianas.
e) Define o conceito de direitos humanos com a inclusão de direitos civis e sociais, 
apenas.
2. A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi criada em 10 de dezembro de 1948 
pela ONU, que, neste período, contava com 58 Estados-membros. Com base nessa 
afirmação, descreva qual é o principal objetivo dessa declaração. 
3. Trecho da música Comida, dos Titãs: 
[...] A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte
A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé [...].
https://www.mdh.gov.br/
https://www.mdh.gov.br/
29
na prática
Com base no fragmento da música e nos conteúdos discutidos em nosso livro, reflita 
e descreva quais são os direitos que efetivamente são respeitados em seu bairro 
e/ou cidade.
4. Desde a sua criação, as Nações Unidas têm se esforçado para concretizar as pro-
messas feitas pela comunidade internacional ao ser humano individual. O fato de 
a organização ter ajudado a formular uma série de declarações e convenções é 
de grande importância. Com base no exposto, qual documento é de fundamental 
importância e apresenta as diretrizes para a consolidação dosdireitos humanos? 
a) A Carta Nacional dos Direitos Humanos marca uma das ações importantes rea-
lizadas pelas Nações Unidas com a intenção de promover os direitos humanos 
e as liberdades fundamentais.
b) O Pacto dos Direitos Civis e Políticos.
c) A Carta Americana, a qual marca uma das ações importantes realizadas pelas 
Nações Unidas com a intenção de promover os direitos humanos e as liberdades 
fundamentais.
d) A Assembleia Geral adotou a Declaração Universal, que reconhece a dignidade 
inerente e os direitos iguais e inalienáveis de todos os membros da família hu-
mana, em 10 de dezembro de 1948.
e) O Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
5. A Assembleia Geral confirmou que o pleno gozo de uma categoria de direitos de-
pende da realização das demais. Em outras palavras, todos os direitos humanos 
e as liberdades fundamentais são indivisíveis e inter-relacionadas. Além disso, a 
promoção e a proteção de uma categoria de direitos nunca deve isentar ou descul-
par os Estados da promoção e proteção de outra. Sobre essa afirmação, julgue as 
afirmativas a seguir: 
I - O exposto deixa claro que todos os direitos humanos são universais, indivisíveis, 
interdependentes e inter-relacionados.
II - Os esforços para promover uma categoria de direitos devem levar plenamente 
em consideração o progresso na implementação de outras categorias. 
30
na prática
III - Os direitos humanos são divisíveis e variam de acordo com o local.
IV - A negação de direitos civis e políticos tende a ter efeitos adversos no gozo de 
direitos econômicos e sociais. A negligência da proteção social e do bem-estar, 
geralmente, está relacionada com a incapacidade de grupos populacionais mais 
pobres e mais vulneráveis ou de pessoas como um todo de terem voz para 
influenciar as decisões.
É correto afirmar que:
a) Estão corretas apenas as afirmativas I, II e III.
b) Estão corretas apenas as afirmativas II e III.
c) Estão corretas apenas as afirmativas I, II e IV.
d) Estão corretas apenas as afirmativas IV e III.
e) Estão corretas apenas as afirmativas I e III. 
31
aprimore-se
CIDADANIA NO BRASIL
Em 1992, a polícia militar paulista invadiu a Casa de Detenção do Carandiru para 
interromper um conflito e matou 111 presos. Em 1992, policiais mascarados massa-
craram 21 pessoas em Vigário Geral, no Rio de Janeiro. Em 1996, em pleno Centro 
do Rio de Janeiro, em frente à Igreja da Candelária, sete menores que dormiam na 
rua foram fuzilados por policiais militares. No mesmo ano, em Eldorado do Carajás, 
policiais militares do Pará atiraram contra trabalhadores sem-terra, matando 19 de-
les. Exceto pelo massacre da Candelária, os culpados dos outros crimes não foram 
até hoje condenados. No caso de Eldorado do Carajás, o primeiro julgamento ab-
solveu os policiais. Posteriormente anulado, ainda não houve segundo julgamento. 
A população ou teme o policial, ou não lhe tem confiança. Nos grandes centros, as 
empresas e a classe alta cercam-se de milhares de guardas particulares para fazer 
o trabalho da polícia, fora do controle do poder público. A alta classe média entrin-
cheira-se em condomínios protegidos por muros e guaritas. As favelas, com menos 
recursos, ficam à mercê de quadrilhas organizadas que, por ironia, se encarregam 
da única segurança disponível. Quando a polícia aparece na favela é para trocar 
tiros com as quadrilhas, invadir casas e eventualmente ferir ou matar inocentes.
O Judiciário também não cumpre seu papel. O acesso à justiça é limitado a peque-
na parcela da população. A maioria ou desconhece seus direitos, ou, se os conhece, 
não tem condições de os fazer valer. Os poucos que dão queixa à polícia têm que 
enfrentar depois os custos e a demora do processo judicial. Os custos dos serviços 
de um bom advogado estão além da capacidade da grande maioria da população. 
Apesar de ser dever constitucional do Estado prestar assistência jurídica gratuita aos 
pobres, os defensores públicos são em número insuficiente para atender à demanda.
Ao lado dessa elite privilegiada, existe uma grande massa de “cidadãos simples”, de 
segunda classe, que estão sujeitos aos rigores e benefícios da lei. São a classe média mo-
desta, os trabalhadores assalariados com carteira de trabalho assinada, os pequenos 
funcionários, os pequenos proprietários urbanos e rurais. Podem ser brancos, pardos 
ou negros, têm educação fundamental completa e o segundo grau, em parte ou todo.
32
aprimore-se
Essas pessoas nem sempre têm noção exata de seus direitos, e quando a têm 
carecem dos meios necessários para os fazer valer, como o acesso aos órgãos e 
autoridades competentes, e os recursos para custear demandas judiciais. Frequen-
temente, ficam à mercê da polícia e de outros agentes da lei que definem na prática 
que direitos serão ou não respeitados. Os “cidadãos simples” poderiam ser localiza-
dos nos 63% das famílias que recebem entre acima de dois a 20 salários mínimos.
Para eles, existem os códigos civil e penal, mas aplicados de maneira parcial e 
incerta.
Finalmente, há os “elementos” do jargão policial, cidadãos de terceira classe. São 
a grande população marginal das grandes cidades, trabalhadores urbanos e rurais 
sem carteira assinada, posseiros, empregadas domésticas, biscateiros, camelôs, 
menores abandonados, mendigos. São quase invariavelmente pardos ou negros, 
analfabetos, ou com educação fundamental incompleta. Esses “elementos” são par-
te da comunidade política nacional apenas nominalmente. Na prática, ignoram seus 
direitos civis ou os têm sistematicamente desrespeitados por outros cidadãos, pelo 
governo, pela polícia. Não se sentem protegidos pela sociedade e pelas leis.
Fonte: Carvalho (2002).
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eu recomendo!
SEGURANÇA PÚBLICA, DIREITOS HUMANOS E VIOLÊNCIA
Autor: Rafael Fortes 
Editora: Luminária Academia 
Sinopse: o livro Segurança Pública, Direitos Humanos e Violência, 
projetado e coordenado pelo professor Rafael Fortes, seleciona e 
sistematiza tópicos críticos e densos. Entrevistas correlacionadas 
oferecem um conjunto eficaz. O elenco reúne vozes com timbres 
diferentes do nazi-fascismo, hoje, hegemônico, e que, embora 
não tenha destruído militarmente a humanidade na 2ª Grande Guerra, ainda nos 
oprime em trevas de fel e enxofre. Há o uso de argumentos das entrevistas aqui 
enfeixadas, sublinhando algumas pontuações críticas, enquanto notas para cote-
já-las com a pobre e linear visão positivista que o Direito brasileirotraduziu: dog-
matismo formal. Este medíocre pensar é útil e servente súcubo da elite sempre 
contente. Socialmente, representa constantes e crescentes alternativas de lesões 
enormes.
livro
Direitos Humanos, a Exceção e a Regra
Ano: 2008
Sinopse: a partir de imagens selecionadas por João Roberto Ri-
pper, o diretor faz um filme-denúncia sobre a situação dos direi-
tos humanos no Brasil, destacando os principais eventos e mo-
mentos marcantes da história do país nos últimos 40 anos. 
filme
O Armazém Memória é uma iniciativa de articulação e construção coletiva de um 
sítio na Internet, visando colaborar com o desenvolvimento de políticas públicas 
que possam garantir, ao cidadão brasileiro, o acesso à sua memória histórica, 
por meio de Bibliotecas Públicas Virtuais interligadas em um sistema de busca 
direta de conteúdo. Na plataforma, você encontra: coleções de periódicos, depoi-
mentos, livros, vídeos, áudios, artigos, documentos e imagens, obras de natureza 
histórica, jurídica e educativa com foco nos direitos humanos.
http://armazemmemoria.com.br/r 
conecte-se
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PLANO DE ESTUDO 
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Desigualdades e a sua relação 
com os direitos humanos • Cidadania e os direitos humanos • Movimentos sociais e a busca pela 
cidadania.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 
Entender as diferentes formas de constituição das desigualdades e a sua relação com os direitos huma-
nos • Abordar o que é cidadania e como os direitos humanos influenciam a sua consolidação • Refletir 
em que medida os movimentos sociais contribuem para a consolidação da cidadania na sociedade 
global e brasileira.
DIREITOS
HUMANOS
e a construção da cidadania
PROFESSORA
Me. Francieli Muller Prado
INTRODUÇÃO
O mundo assistiu a um aumento dramático das desigualdades de renda 
e de riqueza nas últimas três décadas, tornando o extremo contraste eco-
nômico uma das questões definidoras da atualidade. A indignação com a 
injustiça acerca da extrema desigualdade estimulou uma onda sem prece-
dentes de mobilização popular em todo o mundo, de modo a evidenciar o 
desequilíbrio econômico no debate político em muitos países. Desse modo, 
torna-se centralem compreender esse fenômeno, sobretudo a sua relação 
com os direitos humanos e os impactos na cidadania. 
Além disso, compreender essa relação se torna fundamental para ex-
plicar a busca do ser humano por um lugar e vida dignos, mantendo o 
seu direito de, participação plena na sociedade, o que, em grande medida, 
explicita seu direito de cidadania. No entanto, quando refletimos sobre, 
as noções de direitos humanos e de direitos de cidadania parecem ter co-
notações contraditórias, não é mesmo? Na realidade, as duas tendem a de-
sempenhar um papel de complementar o desenvolvimento e o bem-estar 
do ser humano na era da globalização. 
Esta unidade, portanto, procura fornecer uma reflexão sobre cidadania 
e direitos humanos, e como essa relação se tornou uma questão central para 
a política contemporânea. Desse modo, iniciamos nossos estudos com 
uma breve visão geral das teorias dos direitos humanos e da desigualdade, 
antes de abordarmos dois tópicos cruciais para essa relação: o direito hu-
mano à cidadania e o direito humano à democracia e participação social. 
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DESIGUALDADES E SUA
RELAÇÃO
com os direitos humanos
Olá aluno(a), seja muito bem vindo(a) à segunda etapa de nossa discussão. Neste 
momento, avançamos na compreensão de todo o arcabouço que contempla a 
discussão geral sobre direitos humanos e cidadania, com discussões de temas 
transversais ao conceito, como desigualdade, cidadania e movimentos sociais. 
Por desigualdade entendemos um estado de não igualdade, especialmente em 
status, direitos e oportunidades. Existem muitas discussões acerca dessas duas 
colocações, igualdade e desigualdade, à medida que tendem a significar coisas 
diferentes para diferentes pessoas. Muitos autores definem a desigualdade econô-
mica como sinônimo principalmente renda e desigualdade monetária ou, mais 
amplamente, de desigualdade em condições de vida. Outros distinguem ainda 
mais os direitos baseados em abordagem legalista da desigualdade – desigualda-
de de direitos e obrigações associadas (por exemplo, quando as pessoas não são 
iguais perante a lei ou quando têm poder político desigual).
No que tange à desigualdade econômica, grande parte da discussão pode resu-
mir-se em duas. A primeira é mais preocupada com a desigualdade de resultados nas 
dimensões materiais do bem-estar e isso pode ser o resultado de circunstâncias além 
do controle (etnia, antecedentes familiares, gênero e assim por diante) bem como 
talentos e esforço. Já a segunda diz respeito à desigualdade de oportunidades, ou seja, 
concentra-se apenas nas circunstâncias, além de um controle que afeta os resultados 
possíveis. Esta é uma perspectiva que considera o potencial de realização.
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De acordo com o relatório da ONG Oxfam, divulgado em 2017, que utilizou como base 
levantamentos sobre bilionários da revista “Forbes” e dados sobre a riqueza no mundo de 
um relatório do banco Credit Suisse, no mundo, apenas oito bilionários acumulam a mesma 
quantidade de dinheiro que a metade mais pobre da população do planeta, ou seja, 3,6 
bilhões de pessoas juntas. No Brasil, seis homens concentram a mesma riqueza que toda 
a metade mais pobre da população do país, ou seja, mais de 100 milhões de brasileiros. 
Fonte: OXFAM (2017). 
explorando Ideias
No entanto, sobretudo, no Brasil, facilmente encontramos ambas as desigual-
dades: econômica e de oportunidade. Amartya Sen (1999) propôs que o bem-estar 
deve ser definido e medido em termos dos seres e dos feitos valorizados pelas pes-
soas (funcionamentos) e da liberdade de escolher e agir (capacidades). Essa abor-
dagem enfatiza a liberdade de escolher um tipo de vida em detrimento de outro. 
Neste quadro, a equalização do rendimento não deve ser o objetivo, porque 
nem todas as pessoas convertem renda em bem-estar e liberdade da mesma ma-
neira. Além disso, esse relacionamento parece altamente dependente de “circuns-
tâncias contingentes, pessoal e social” (SEN, 1999, p. 70), que incluem idade, sexo, 
antecedentes familiares e incapacidade. Não só, mas também depende de condi-
ções climáticas, sociais (cuidados de saúde, sistemas de educação, prevalência do 
crime, relações com a comunidade) e convenção entre outros fatores. Portanto, o 
que deveria ser equalizado não é o meio de viver, mas as oportunidades reais de 
viver que dão às pessoas a liberdade de perseguir uma vida de escolha própria.
Já Stewart (2005) defende a ideia de ir além do foco em indivíduos e examinar, 
também, as desigualdades que surgem entre indivíduos, devido ao(s) grupo(s) 
com o(s) qual(is) se identificam (cultural, gênero, idade etc.) e que podem ser a 
causa do preconceito, da discriminação, da marginalização ou vantagem – um 
fenômeno que o estudioso denominou como desigualdades horizontais.
Para concluir, pode-se afirmar que uma sociedade oferece oportunidades 
iguais quando as circunstâncias não determinam as diferenças na vida (FER-
REIRA et al., 2000). Na prática, a igualdade de oportunidades existe quando as 
políticas compensam os indivíduos que enfrentam circunstâncias desvantajosas.
A desigualdade econômica diz respeito ao modo como as variáveis econômicas 
são distribuídas – entre indivíduos em um grupo, entre grupos em uma população 
ou entre países. A teoria do desenvolvimento tem-se preocupado, com as, desigual-
dades nos padrões de vida, como as desigualdades em renda/riqueza, educação, 
saúde e nutrição.
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Trabalho e renda:
• A PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua de 2017 mostra que 
há forte desigualdade na renda média do trabalho: R$ 1.570 para negros, R$ 1.606 para 
pardos e R$ 2.814 para brancos.
• O desemprego também é fator de desigualdade: a PNAD Contínua do 3º trimestre de 
2018 registrou um desempregomais alto entre pardos (13,8%) e pretos (14,6%) do que na 
média da população (11,9%).
• Dados também da PNAD só que mais antigos, de 2015, mostram que apesar dos negros 
e pardos representam 54% da população na época, a sua participação no grupo dos 10% 
mais pobres era muito maior: 75%.
• Já no grupo do 1% mais rico da população, a porcentagem de negros e pardos era de 
apenas 17,8%.
Fonte: Portal da Câmara dos Deputados (2018, on-line)4. 
explorando Ideias
Muito dessa discussão se resumiu a um debate entre duas perspectivas: a primei-
ra se preocupa principalmente com a desigualdade de oportunidades, como o 
acesso desigual ao emprego ou à educação. Já a segunda, com a desigualdade de 
resultados em várias dimensões materiais do bem-estar humano, como o nível 
de renda, a realização educacional, o estado de saúde e assim por diante.
A igualdade de oportunidades existe quando os resultados da vida dependem so-
mente de fatores pelos quais as pessoas podem ser consideradas responsáveis, e não 
de atributos desvantajosos fora de seu controle, tais como gênero, etnia, antecedentes 
familiares etc. Em termos práticos, a igualdade de oportunidade existe quando os 
indivíduos são compensados de alguma forma por suas circunstâncias desvantajosas.
A falta de oportunidade é uma realidade marcante na sociedade brasileira. 
Uma grande camada da população encontra-se em situação de desvantagem 
de oportunidade. De acordo com os dados da PNAD (Pesquisa Nacional por 
Amostra de Domicílios) realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística), em 2017, em todos os aspectos pesquisados, os negros encontram-se 
em desvantagens, em relação: ao branco na sociedade. 
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Educação
• A taxa de analfabetismo é mais que o dobro entre pretos e pardos (9,9%) do que entre 
brancos (4,2%), de acordo com a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 
Contínua de 2016.
• Quando se fala em acesso ao Ensino Superior, os dados se invertem: de acordo com a 
PNAD Contínua de 2017, a porcentagem de brancos com 25 anos ou mais que possuem 
Ensino Superior completo é de 22,9%. É mais que o dobro da porcentagem de pretos e 
pardos com diploma: 9,3%.
• Já a média de anos de estudo para pessoas de 15 anos ou mais é de 8,7 anos para pretos 
e pardos e de 10,3 anos para brancos.
Fonte: Exame (2018, on-line)5.
explorando Ideias
O que se percebe, no Brasil, é que a estrutura formal não garante a democratiza-
ção dos recursos, bens de direito e acesso a serviços básicos proporcionados pelo 
Estado. Desse modo, democracia e direitos humanos andam de mãos dadas. Isso 
significa que todo ser humano tem direito humano à democracia. 
Os direitos humanos também podem ser realizados em um sistema políti-
co e jurídico que não é democrático? Não, os direitos humanos não podem ser 
totalmente implementados se o sistema político e jurídico não for democrático, 
pois a participação de todos os seres humanos nos processos de construção de 
opinião e tomada de decisão é protegida pelos direitos humanos.
 Em nível global, outros fatores, tais como as crises econômicas, conflitos arma-
dos, emergências de saúde pública, insegurança alimentar e mudanças climáticas 
têm ameaçado a realização dos direitos humanos. Dentro desses fatores, a alarmante 
desigualdade de renda e riqueza emergiu como outra área de crescente preocupa-
ção. O quadro de direitos humanos oferece orientação parcial sobre as implicações 
de nossas sociedades cada vez mais polarizadas, mas as lacunas permanecem. 
Dado o forte aumento da desigualdade nas últimas décadas, é fundamen-
tal compreender melhor as conexões entre a realização dos direitos humanos 
e a desigualdade – como pensamos e medimos a desigualdade, até que ponto a 
desigualdade crescente ameaça os direitos básicos, e o que é humano e o que a 
estrutura de direitos diz e não diz sobre desigualdade.
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As pessoas experimentam desigualdades em várias dimensões, como no nível 
educacional, na saúde e na distribuição de poder, por exemplo. O tempo livre que 
homens e mulheres têm distribui-se desigualmente, uma vez que as demandas 
por trabalho remunerado e não remunerado são levadas em consideração. As 
desigualdades também são medidas entre indivíduos, famílias, grupos sociais 
(por exemplo, raça, gênero e etnia) e entre países.
Na definição da desigualdade, uma distinção importante é entre a desigualdade 
horizontal e a vertical. A desigualdade horizontal ocorre entre grupos culturalmente 
definidos ou socialmente construídos, como as diferenças de gênero, raça, etnia, 
religião, casta e sexualidade. Já a desigualdade vertical ocorre entre indivíduos ou 
entre famílias, como a renda geral ou a distribuição de riqueza de uma economia.
A distinção entre desigualdade horizontal e vertical é grande no âmbito dos 
direitos humanos, uma vez que as questões de desigualdade horizontal são mais 
fortemente incorporadas. Basta refletir, por exemplo, nos princípios de direitos 
humanos de não-discriminação e igualdade, que afirmam que a realização de 
direitos não deve diferir entre os indivíduos com base em gênero, raça, etnia, 
nacionalidade ou grupos sociais semelhantes.
As pessoas devem ter oportunidades iguais para reivindicar seus direitos e os prin-
cípios de direitos humanos se aplicam a todas as indivíduos igualmente. No entanto, 
pelo fato de que as implicações para a desigualdade vertical são menos claras, isso não 
implica necessariamente uma distribuição perfeitamente igual de renda e riqueza. 
A desigualdade de renda está frequentemente associada aos resultados mais 
desfavoráveis em relação à saúde, educação e outros direitos econômicos e sociais. 
Não é de surpreender que as famílias mais ricas desfrutem de melhores resulta-
dos do que as mais pobres. Contudo, a própria desigualdade pode levar a piores 
resultados, independentemente do nível de renda. Por exemplo, famílias de baixa 
renda, em uma sociedade muito desigual, podem ser piores do que famílias com 
renda idêntica em uma sociedade mais igualitária.
No quadro dos direitos humanos, o Estado tem a obrigação primária de 
respeitar, proteger e cumprir os direitos, mas isso depende de um Estado em 
funcionamento, com plena participação democrática e transparência. No en-
tanto, a desigualdade na renda e na riqueza afeta os processos políticos formais 
e informais, de modo a determinar o acesso das pessoas à educação, à saúde, ao 
emprego e à previdência social.
Alguns cientistas políticos argumentam que um processo democrático é ca-
paz de compensar o impacto das desigualdades na renda e na riqueza e pressões 
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para a redistribuição em sociedades desiguais, desde que exista uma democracia 
que funcione bem. Isso ocorre, porque a maioria da população – aqueles que 
estão no meio da distribuição de renda e abaixo dela – votará pela redistribuição 
quando a renda e a riqueza estiverem concentradas em poucas mãos. 
Entretanto, essa abordagem faz suposições muito fortes: que as pessoas são 
capazes de reivindicar seus direitos, que o Estado é democraticamente responsável, 
que as políticas apoiadas pela maioria não prejudicam os direitos de outros grupos, 
que a integração global não limita as escolhas políticas e que os interesses econômi-
cos da elite não devem influenciar de modo negativo o acesso aos direitos sociais. 
Na realidade, as desigualdades de renda e riqueza produzem desigualdades 
na distribuição de poder. Quando o poder político das elites se expande à medida 
que a distribuição de renda e riqueza se torna mais polarizada, isso compromete 
toda a gama de direitos humanos.
 Estudos que analisam as variações de desigualdade dos países mostraram que 
a maior desigualdade está associada aos gastos governamentais redistributivos, 
medidos pelos gastos com seguridade social e assistência social como parcela do 
PIB. No Brasil, as duas das principais políticas públicas de ajuda aos mais pobres, 
como o Programa Bolsa Família e o Benefíciode Prestação Continuada (BPC), 
juntos, representaram um investimento apenas de 1,21% do PIB brasileiro. É 
por meio da transferência de renda que é possível fazer que milhares de famílias 
deixem a pobreza extrema e passem a ter condições de vida mais dignas (TRI-
SOTTO, 2018, on-line)6.
Vale destacar que as elites econômicas tendem a resistir às formas progressi-
vas de tributação mais justa, o que limita a capacidade do governo de mobilizar 
recursos para o cumprimento de direitos.
Os direitos humanos fornecem orientações parciais sobre as implicações do 
aumento das desigualdades na obtenção de direitos. No entanto, o quadro de 
direitos humanos não chega a declarar uma distribuição particular de renda ou 
riqueza como justa ou não justa. Isso se deve, em parte, porque os direitos huma-
nos focam sobre os resultados realizados, que moldam as escolhas e as liberdades 
das pessoas. Portanto, uma distribuição justa de renda é aquela que permite a 
mais plena realização dos direitos possíveis, consistente com os princípios de não 
discriminação e igualdade.
O Art. 28 da Declaração Universal dos Direitos Humanos declara que “todos 
têm direito a uma ordem social e internacional na qual os direitos e liberdades esta-
belecidos nesta Declaração possam ser plenamente realizados” (DUDH, 1948, p.6 ). 
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CIDADANIA E OS
DIREITOS
humanos
A distribuição de renda e riqueza e a dinâmica política representam uma 
dimensão importante dessa ordem social e internacional. Existe uma obrigação 
dentro da estrutura de direitos humanos para os estados considerarem o im-
pacto da desigualdade nos direitos e, quando necessário, tomar medidas para 
uma distribuição mais justa da renda. A desigualdade não é apenas uma ameaça 
aos direitos econômicos e sociais: ela ameaça a realização de todas as formas de 
direitos em todos os lugares.
 O conceito de cidadania, como entendemos hoje, nem sempre foi o mesmo. 
Aristóteles, em seu livro Política, afirmou que o homem é um animal social e, para 
o desenvolvimento de sua personalidade, ele precisa participar dos assuntos da 
polis. Com isso, o estudioso apontou para a necessidade de cidadania do homem. 
Depois de Aristóteles, várias definições surgiram sobre o conceito de cidadania.
Os gregos compreendiam a cidadania como o gozo do direito de compar-
tilhar e participar da vida política e judicial. A cidadania dos romanos garantiu 
o direito de votar, a elegibilidade para cargos públicos, de casamento etc. Bodin 
(1967) entendia a cidadania como a obrigação mútua entre sujeito e soberano 
de obedecer e proteger. Já nos períodos posteriores, a cidadania foi discutida 
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por pensadores, tais como Mill, Bentham, que se concentrou principalmente na 
liberdade individual, na participação política e nos direitos de propriedade, com 
foco no critério de ter uma vida boa e bem-estar social.
Um “cidadão” é um membro de uma comunidade política, definida por um 
conjunto de direitos e deveres. “A cidadania representa, portanto, uma relação 
entre o indivíduo e o estado, no qual os dois estão unidos por relações recíprocas 
direitos e obrigações” (HEYWOOD, 1994, p. 155).
Cidadania é um status legal e uma identidade. Assim, existe uma dimensão 
da cidadania, a qual compõe direitos e obrigações específicos com os quais um 
Estado investe em seus membros e em uma dimensão subjetiva, um senso de 
lealdade e pertencimento. Contudo, a cidadania objetiva, por si só, não garante 
a existência de cidadania subjetiva, porque “membros de grupos que se sentem 
alienados de seu estado, talvez por causa de desvantagem social ou discriminação 
racial, não pode ser pensado adequadamente como ‘cidadãos plenos’, mesmo que 
possam desfrutar de gama de direitos formais” (HEYWOOD, 1994, p. 156).
O sociólogo britânico Thomas Humphrey Marshall tem sido um ponto de 
referência central da análise histórico-sociológica do desenvolvimento da cida-
dania moderna. Para o estudioso:
 “ Cidadania é um status concedido àqueles que são membros de pleno direito de uma comunidade. Todos que possuírem o status são iguais em relação aos direitos e deveres com os quais o status é concedido. 
Não existe um princípio universal que determine quais serão esses 
direitos e deveres, mas as sociedades em que a cidadania é uma insti-
tuição em desenvolvimento criam uma imagem de um ideal de cida-
dania em relação ao qual a conquista pode ser medida e em relação ao 
qual a aspiração pode ser dirigida (MARSHALL, 2002, p. 17).
Marshall (2002) compreendia a cidadania como partes diferentes e defendia que elas 
estavam todas interligadas. Em seu livro Cidadania e classe social, o referido autor 
destaca esses pontos e considera a cidadania como uma ideia dinâmica, como um 
status dado àqueles que são membros de uma comunidade. No entanto, não existe 
um princípio universal que determine quais são esses direitos e deveres. Além disso, 
Marshall (2002) divide a cidadania em três partes: uma civil, uma política e uma social. 
Esses três elementos da cidadania foram fundidos como resultado da fusão 
das instituições. Marshall (2002) prossegue traçando a história da cidadania estu-
dando-a como um processo de fusão e separação, em que a fusão era geográfica e 
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a separação funcional. Ele atribuiu o desenvolvimento de cada parte a um século: 
direitos civis ao século XVIII, político ao século XIX e social ao século XX.
O elemento civil é composto pelos direitos necessários à liberdade individual, 
como liberdade pessoal, liberdade de expressão, direito à propriedade, liberda-
de de pensamento etc. As instituições mais diretamente associadas aos direitos 
civis são os tribunais de justiça. Inclui, também, o direito ao trabalho, ou seja, o 
de seguir a ocupação da escolha de alguém, algo que foi negado pelos estatutos 
e costumes (MARSHALL, 2002).
Os direitos civis foram os primeiros a aparecer, no século XVIII. Em seu 
período formativo, foi uma adição gradual de novos direitos a um status que já 
existia. Com cidadania civil, a lei e a igualdade foram garantidas para proteger a 
liberdade do povo, se era certo trabalhar, o direito de circular livremente etc. A 
cidadania civil abriu o caminho para a cidadania política (MARSHALL, 2002). O 
elemento político significa principalmente o direito de participar no exercício do 
poder político enquanto membro de um órgão investido de autoridade política 
ou como eleitor dos membros de tal órgão, em que as instituições correspon-
dentes são o parlamento e os conselhos do governo local (MARSHALL, 2002).
Já o elemento político surgiu no século XIX, quando os direitos civis ligados 
ao status de liberdade já estavam no centro de uma ideia geral de cidadania. A 
cidadania política visava conceder os antigos direitos às novas seções da socieda-
de. O sufrágio universal marcou o início da cidadania política para os indivíduos, 
mas Marshall (2002) afirma que a política não era um dos direitos de cidadania: 
na verdade, era um privilégio da classe econômica limitada.
O elemento social significa ser capaz de viver em uma sociedade como um ser 
civilizado, de acordo com os padrões vigentes na sociedade. Não só, mas de posse 
de bem-estar econômico e segurança, para o direito de compartilhar plenamente, 
no patrimônio social, as instituições do sistema educacional e os serviços sociais 
mais intimamente ligados a ele (MARSHALL, 2002).
Os interesses variados de diferentes classes, gradualmente, levaram a um con-
flito maior. Enquanto os industriais buscavam mais lucros e nenhuma tributação, o 
Estado de bem-estar social da cidadania precisava aumentar a taxação. A cidadania 
social garantiu o suprimento de necessidades básicas, como saúde e educação, de 
regras mínimas de salário, regras de horas máximas de trabalho, condições mínimas 
de trabalho, segurança ocupacional e indenização por acidentes de trabalho etc. 
Historicamente, a ideologia capitalista é baseada na desigualdade e na ex-
ploração dos trabalhadores

Outros materiais