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ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO [ECS] NA EDUCAÇÃO SUPERIOR JOCIANE MARTHENDAL OLIVEIRA SANTOS (ORG.) Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.-abr. 2019 ISSN:2446-6220 SANTOS, J.M.O. (Org.). Estágio curricular supervisionado [ECS] na educação superior (Dossiê Temático). Laplage em Revista (Sorocaba/SP), vol.5, n.1, jan.-abr. 2019. ISSN: 2446-6220, 158p. Disponível em: https://doi.org/10.24115/S2446-6220201951 1.Universidade Federal de São Carlos [UFSCar-Sorocaba]. 2. Programa de Pós-Graduação em Educação [PPGED]. 3. Departamento de Ciências Humanas e Educação [DCHE]. 4. Grupo de Estudos e Pesquisas Estado, Política, Planejamento, Avaliação e Gestão da Educação [GEPLAGE]. https://doi.org/10.24115/S2446-6220201951 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.-abr. 2019 ISSN:2446-6220 SUMÁRIO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO [ECS] NA EDUCAÇÃO SUPERIOR DOI: https://doi.org/10.24115/S2446-6220201951 EDITORIAL O papel do estágio curricular supervisionado na formação profissional do acadêmico Paulo Gomes Lima PDF p.1-2 APRESENTAÇÃO Estágio curricular supervisionado [ecs] na educação superior brasileira: desafios e solicitações de sua implementação Jociane Marthendal Oliveira Santos PDF p.3-5 DOSSIÊ TEMÁTICO O estágio curricular supervisionado (ecs) em psicologia e o mundo do trabalho Jociane Marthendal Oliveira Santos PDF p.6-18 Estágio curricular supervisionado em psicologia: aspectos legais, potencialidades e desafios para a formação do psicólogo Walter Mariano de Faria Silva Neto, Cárita Portilho de Lima PDF p.19-29 Formação do psicólogo e estágios curriculares na graduação: um estudo de caso realizado na PUC Minas Bruno de Morais Cury, João Leite Ferreira Neto PDF p.30-43 As práticas e a formação profissional em psicologia pelo trabalho para a saúde - uma revisão dialógica da literatura Aline Lopes de Santana, Jefferson de Souza Bernardes PDF p.44-57 Estágio curricular supervisionado: vivências na licenciatura em enfermagem Lourdes Missio, Fabiane Melo Heinen Ganassim, Marcia Maria Ribera Lopes Spessoto, Pâmela Luiza Araujo Gomes PDF p.58-70 Estágio curricular como eixo articulador nos cursos de formação inicial e continuada de professores(as): docência como base Denise Rosana da Silva Moraes, Berenice Lurdes Borssoi PDF p.71-84 A relação interinstitucional entre escola e universidade no contexto dos estágios curriculares supervisionados Danielle Monteiro Behrend, Cláudia da Silva Cousin, Elisabeth Brandão Schmidt PDF p.85-94 Estágio supervisionado na educação infantil: campo essencial na formação do pedagogo Kátia Patrício Benevides Campos, Luisa de Marillac Ramos Soares, Andresa de Souto Diniz PDF p.95-107 https://doi.org/10.24115/S2446-6220201951 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/606 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/606 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/606/855 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/607 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/607 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/607/856 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/608 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/608/857 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/609 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/609 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/609/858 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/610 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/610 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/610/859 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/537 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/537 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/537/860 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/611 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/611/861 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/612 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/612 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/612/862 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/613 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/613 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/613/863 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/614 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/614 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/614/864 SUMÁRIO LAPLAGE EM REVISTA – VOL. 5, N. 1, 2019 • LPG Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.-abr. 2019 ISSN:2446-6220 O estágio supervisionado na formação de professores como espaço-tempo de reflexão sobre e na prática Lucinalva Andrade Ataíde de Almeida, Solange Alves de Oliveira Mendes, Ana Priscila de Lima Araújo Azevêdo PDF p.108-120 Estágio: o início da profissionalização docente Neide de Aquino Noffs, Lilian de Assis Monteiro Lizardo, Tânia Mara de Andrade Oliveira e Silva PDF p.121-131 O estágio supervisionado e a prática de ensino: construção de saberes para acadêmicos que atuam como professores Gislene Miotto Catolino Raymundo PDF p.132-146 O estágio curricular supervisionado em educação física: saberes docentes e a relação teoria-prática Josué José de Carvalho Filho, Tânia Suely Azevedo Brasileiro, Samuel de Souza Neto PDF p.147-158 Os estágios curriculares supervisionados (práticas) de alunos da licenciatura em educação social – reflexões em torno das perceções de um grupo de estudantes Joaquim do Arco, Rosanna Barros PDF P.159-179 Proposta de estágio supervisionado na área de psicologia com enfoque na saúde Railda Sabino Fernandes Alves, Gabriella Cézar dos Santos, Fernanda Tássia Fernandes Alves PDF P.180-192 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/615 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/615 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/615/865 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/616 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/616/866 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/618 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/618 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/618/867 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/603 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/603 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/603/868 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/623 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/623 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/623 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/623/872 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/624 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/624 http://www.laplageemrevista.ufscar.br/index.php/lpg/article/view/624/873 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p. p.1-2 ISSN:2446-6220 EDITORIAL O PAPEL DO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO ACADÊMICO Prof. Dr. Paulo Gomes Lima Editor Responsávelformação do acadêmico em seu percurso inicial ou continuado requer, necessariamente a integração entre teorias e práticas, vivências e capacitação constantes. Sabe-se que uma das grandes lacunas do ensino superior no Brasil é a ênfase relativizada quanto a tais eixos, daí ser necessário retomar tal discussão em distintos quadros de referências para centrar o estágio curricular supervisionado como espaço e tempo em que o profissional se constrói e se prepara para a sua devolutiva social: engajando-se profissionalmente e atendendo aos cidadãos em distintas áreas do conhecimento. Os primeiros anos do século XXI são projetados internacionalmente com enormes desafios humanos e tecnológicos quanto à produção do conhecimento e competências do cidadão global frente às tecnologias e inovação que entendem não ser suficiente a prática de um ensino- aprendizagem dissociado da vida e de suas condições materiais da existência. Nesse contexto, o Brasil por conta da lei n. 11.788/2008, conhecida como ‘lei de estágios’ reestruturou a forma de introdução dos aprendizes, inclusive de ensino superior, levando-se em conta a necessidade de, ao menos amenizar a dicotomia teoria-prática. Não se pode ignorar que depois de mais de uma década da Lei de Estágios, ainda há muito para se discutir e encaminhar quanto aos desafios voltados ao mundo do trabalho, tendo os Estágio Curricular Supervisionado no ensino superior como um de seus eixos. Sim, precisamos de professores bem preparados, que consigam ressignificar sua forma de ensinar e sejam criadores de provocações aos seus alunos de ensino superior, por outro lado, os cursos de graduação de maneira geral, precisam observar que não basta ter Projetos Pedagógicos de Cursos em perspectiva, ou seja, os projetos devem ser guiados pela lógica do perfil necessário à educação e necessidade do país, conforme as regiões onde se localizam. Em parte esse olhar é desdobrado, mas ainda é necessário ampliar tal realidade e fazer da universidade um espaço mais articulador da vida social e para essa vida, logo “[...] ciência e trabalho, estabelecendo novas formas de relação, passam a exigir um intelectual de novo tipo [...] capaz de atuar na prática, trabalhar tecnicamente e ao mesmo tempo intelectualmente”. (KUENZER, 2001, p. 36) Pode-se afirmar que a formação do acadêmico, no processo de associação teoria-prática, quer seja no bacharelado ou licenciaturas, propicia o desenvolvimento da autonomia profissional, posicionamento técnico, político e amplia o olhar, a partir da área, de forma a criar e recriar o campo do conhecimento, em seu benefício e em benefício da sociedade. Mas, ainda que assim o seja, há que se ter cuidado entre o que requer o mercado de trabalho e o mundo do trabalho, visto que o primeiro solicita profissionais técnicos somente e o segundo, para além da técnica, forma o profissional que se compromete com seu tempo e posteridade na socialização da ciências, suas descobertas e aplicação vivencial ao campo de trabalho, isto quer dizer que muito mais que no primeiro caso, a qualidade de aprendizagem deve contribuir para a qualidade de intervenção do futuro profissional. Diz-se que o campo de estágio é o precursor do campo de trabalho, pois se o primeiro é A DOI: https://doi.org/10.24115/S2446-6220201951606p.1-2 LIMA, P.G. • 2 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.1-2 ISSN:2446-6220 condicionado pela processo da heteronomia de ações, os segundo pressupõe a autonomia, ou seja, a inserção do profissional em determinadas área de seu campo de estudo. Em seus cinco anos de existência, a Laplage em Revista se alegra em publicar o presente dossiê organizado pela Profa. Jociane Marthendal Oliveira Santos que, com muita desenvoltura debruçou-se em selecionar e socializar artigos de alguns profissionais que investigam e elencam contribuições para a área do Estágio Curricular Supervisionado no Ensino Superior. Desejamos a todos boas leituras e enfrentamentos na busca de uma efetivação da relação teoria-prática no âmbito da universidade. Referências BRASIL. Presidência da República. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96. Brasília, 1996. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 22 out. 2018. KUENZER, A. Z. Ensino médio e profissional: as políticas do Estado neoliberal. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.3-5 ISSN:2446-6220 APRESENTAÇÃO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO [ECS] NA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA: DESAFIOS E SOLICITAÇÕES DE SUA IMPLEMENTAÇÃO Jociane Marthendal Oliveira Santos Organizadora dossiê “Estágio Curricular Supervisionado [ECS] na educação superior brasileira: desafios e solicitações de sua implementação” é o resultado de aproximadamente dezoito meses de trabalho entre a idealização até a concretização do mesmo, o que torna um momento ímpar para todos os envolvidos. Este aborda o Estagio Curricular Supervisionado como um período de interlocução entre teoria e prática nas diferentes áreas que compõem o ensino superior brasileiro e como se efetiva como política pública. Buscou-se contribuir com publicações nas áreas de enfermagem, psicologia e pedagogia e educação física. Para todas as áreas o objeto comum, Estágio Curricular Supervisionado, é transversalizado pela dialogia com os processos de implementação no interior de cursos de graduação no Brasil e as implicações advindas de suas realidades. O primeiro artigo de Jociane Marthendal Oliveira reflete acerca do Estágio Curricular Supervisionado em Psicologia como uma proposta pedagógica que atende as demandas e as mudanças do Ensino Superior e o encontro deste com o mundo do trabalho. Por meio de estudo exploratório, a pesquisa revelou que poucos estudos se debruçam sobre o estágio curricular supervisionado em Psicologia, os impasses em relação aos currículos, à aprendizagem e ao encontro com o mundo do trabalho. Contribuindo com a área de psicologia, Walter Mariano de Faria Silva Neto e Cárita Portilho de Lima analisam o papel da supervisão e do supervisor no processo formativo do estagiário e contextualizam a prática do estágio curricular supervisionado em Psicologia no interior das legislações que regulamentam o exercício profissional no Brasil e que orientam a formação em Psicologia, identificando potencialidades e desafios inerentes a essa atividade no contexto da formação do psicólogo. A importância dos estágios curriculares na graduação em Psicologia é entendida por Bruno de Morais Cury e João Leite Ferreira Neto a partir de uma pesquisa de campo realizada na PUC Minas tendo como base um estudo de caso que envolveu entrevistas individuais e grupos focais. Ainda com o enfoque na área de psicologia, os autores Aline Lopes de Santana e Jefferson de Souza Bernardes discutem as práticas e a formação em psicologia pelo trabalho para a saúde focando os estágios supervisionados, a partir de Revisão Dialógica da Literatura, orientada pelas Práticas Discursivas e o Construcionismo Social. O trabalho buscou visualizar as continuidades e descontinuidades nas estratégias de formação em saúde a medida que emerge a perspectiva do cuidado integral. As autoras Lourdes Missio, Fabiane Melo Heinen Ganassim, Marcia Maria Ribera Lopes Spessoto e Pa mela Luiza Araujo Gomes apresentam aspectos do percurso e vive ncias enquanto docentes e discentes, que envolveu o esta gio curricular supervisionado na Licenciatura em Enfermagem, durante o processo de implantaça o e implementaça o, junto ao Curso de Graduaça o em EnfermagemO U DOI: https://doi.org/10.24115/S2446-6220201951607p.3-5 SANTOS, J.M.O. • 4 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.3-5 ISSN:2446-6220 da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul. Denise Rosana da Silva Moraes e Berenice Lurdes Borssoi socializam a estrutura do estágio de docência na graduação em Pedagogia e no Plano Nacional de Formação dos profissionais do Magistério da Educação Básica (PARFOR) ofertados na Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, campus de Foz do Iguaçu no Estado do Paraná. Apresentam as aproximações interdisciplinares entre a universidade e a escola no processo de formação inicial e continuada de professores(as) para o exercício do magistério na educação básica. A fim de compreenderem a relação interinstitucional entre as escolas de Educação Básica e a Universidade no contexto dos ECS, as autoras Danielle Monteiro Behrend, Cláudia da Silva Cousin e Elisabeth Brandão Schmidt, realizaram uma pesquisa qualitativa com o método denominado Estado da Questão-EQ a partir de uma abordagem fenomenológica-hermenêutica apresentando o Estágio Curricular Supervisionado no estado atual da Ciência. Destacam a importância da escola de Educação Básica se perceber como um lugar legítimo de formação, e como ainda são esporádicos os acordos e relações estabelecidos entre as instituições. O oitavo artigo do dossiê das autoras Kátia Patrício Benevides Campos, Luisa de Marillac Ramos Soares e Andresa de Souto Diniz tratam sobre a experiência do estágio supervisionado na Educação Infantil, no que diz respeito à pesquisa intervenção, utilizando a literatura infantil, pois entendem que esta pode ser ferramenta importante no processo de formação de leitores e no desenvolvimento da criança e imprescindível na formação de um indivíduo crítico. As autoras Lucinalva Andrade Ataíde de Almeida, Solange Alves de Oliveira-Mendes e Ana Priscila de Lima Araújo Azevêdo discutem sobre formação inicial, com ênfase no estágio supervisionado. Revisitam a legislação que conferiu a criação do curso de pedagogia, buscando entender, como se deram os distanciamentos entre teoria e prática, considerando o estágio supervisionado como espaço-tempo de formação que embora tenha sido marcado por este distanciamento. O décimo artigo das autoras Neide de Aquino Noffs, Lilian de Assis M. Lizardo e Tânia Mara de Andrade Oliveira e Silva apresenta o estágio curricular supervisionado por meio da profissionalização docente e sua importância para a construção de uma identidade profissional, coordenado pela professora doutora Neide de Aquino Noffs. As autoras refletem sobre que é necessário para superar a visão de estágio como mero cumprimento de obrigações, concebendo o estágio curricular supervisionado como fonte de conhecimento e de construção de uma pessoa humanizadora e transformadora. Gisele Miotto Catolino Raymundo analisa a possibilidade de o estágio supervisionado e a prática de ensino contribuírem para a (re)construção de saberes docentes durante o processo formativo, especificamente dos acadêmicos do curso de Pedagogia que atuam como professores da educação básica. Em seguida o artigo de Josué José de Carvalho Filho, Tânia Suely Azevedo Brasileiro e Samuel de Souza Neto, a partir de uma pesquisa descritiva/qualitativa realizada em uma universidade da Amazônia compreenderam que o estágio supervisionado na formação do professor de Educação Física a partir dos saberes docentes e da relação teoria-prática possibilita a construção da dimensão pedagógica que norteia a prática profissional na escola de Educação Básica. O artigo dos professores Joaquim do Arco e Rosanna Barros da Universidade do Algarve, tem como foco de reflexão a importância dos estágios curriculares supervisionados - ECS (Práticas) - no âmbito da formação integral dos estudantes, do ensino superior português, que pretendem vir a ser educadores sociais. Após um enquadramento breve da história da oferta nacional de estudos superiores nesta área, e de se convocar os principais aspetos teórico-conceptuais da pedagogia- educação social, tomou-se um caso organizacional como base para a análise das percepções sobre . • 5 Apresentação Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.3-5 ISSN:2446-6220 os ECS (Práticas) de um grupo de 30 estudantes, que foram recolhidas através da aplicação de um inquérito por questionário no ano letivo de 2017-2018. Os dados, aqui interpretados preliminarmente, apontam para resultados que corroboram a ideia da centralidade desta componente no âmbito da formação inicial do educador social, mas também sugerem pistas que justificam uma investigação continuada nesta matéria. E no último artigo Railda Sabino Fernandes Alves, Gabriella Cézar do Santos e Fernanda Tássia Fernandes Alves apresentam uma proposta de estágio supervisionado específico para a formação do psicólogo com ênfase na saúde. As autoras sugerem um rol de intervenções organizadas a partir da lógica dos níveis primário, secundário, terciário e quaternário de saúde, cujo alcance vai desde as ações básicas até as de alta complexidade. As sugestões do estudo são baseadas nos documentos oficiais que orientam a composição dos currículos em psicologia e se alicerçam na psicologia da saúde, entendida como alternativa à construção dos estágios específicos com ênfase em saúde. Tal proposta representa um avanço na atuação do psicólogo da saúde, por permitir uma ampliação das práticas clínicas mais tradicionais, cujo enfoque ainda prioriza a saúde-doença mental, para uma perspectiva de ações que o auxiliem a desenvolver programas de melhoria do potencial de saúde integral de uma comunidade. Esperamos que a leitura contribua para refletir sobre os caminhos da Educação Superior no Brasil e em novas estratégias que poderão auxiliar discentes e docentes nos estágios curriculares supervisionados. Mestranda em Educação pela UFSCar campus Sorocaba/SP, membro do GEPLAGE – Grupo de Estudos e Pesquisas Estado, Políticas, Planejamento, Avaliação e Gestão da Educação. Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES, Brasil. E-mail: jmarthendal@yahoo.com.br. mailto:jmarthendal@yahoo.com.br Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.6-18 ISSN:2446-6220 O ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO (ECS) EM PSICOLOGIA E O MUNDO DO TRABALHO The supervised curricular internship (ECS) in psychology and the world of work La pasantía curricular supervisada (ECS) en psicologia y el mundo del trabajo Jociane Marthendal Oliveira Santos Universidade Federal de São Carlos [UFSCar] – Campus Sorocaba – Bra. RESUMO Este artigo discute o Estágio Curricular Supervisionado (ECS) em Psicologia a sua proposta pedagógica, as demandas e as mudanças no contexto do mundo do trabalho. A metodologia utilizada foi a abordagem qualitativa por meio de estudo exploratório e levantamento de referências sobre a temática. Na base de teses e dissertações BDTD foram encontrados 19 resultados com o descritor Estágio Curricular Supervisionado em Psicologia, mas apenas 1 trabalho de dissertação se aproximou do assunto. Na base Scielo de periódicos do total de 31 revistas na área de Psicologia foram selecionadas somente as revistas brasileiras em um total de 12. Foram encontrados 10 resultados com o descritor estágio, mas 1 único resultadoaplicado à temática em questão. A pesquisa revelou o ausentamento de estudos sobre o estágio curricular supervisionado (ECS) em Psicologia, os impasses em relação aos currículos, à aprendizagem e ao encontro com o mundo do trabalho. Palavras-chave: Estágio Curricular Supervisionado (ECS), Psicologia. Mundo do trabalho. ABSTRACT This article discusses the Supervised Curricular Internship (ECS) in Psychology to its pedagogical proposal, demands and changes in the context of the world of work. The methodology used was the qualitative approach through an exploratory study and references’ survey on the theme. In the BDTD base of theses and dissertations were found 19 results with the descriptor Internship Curriculum Supervised in Psychology, but only 1 dissertation work approached the subject. In the Scielo database of journals from a total of 31 journals in the Psychology area, only Brazilian journals were selected in a total of 12. We found 10 results with the descriptor stage, but only 1 result applied to the theme in question. The research revealed the absence of studies on the supervised curricular stage (ECS) in Psychology, the impasses regarding curriculum, learning and the encounter with the world of work. Keywords: Supervised curricular internship. Psychology. World of work. RESUMEN Este artículo discute la Pasantía Curricular Supervisionada (ECS, em portugués) en Psicología a su propuesta pedagógica, las demandas y los cambios en el contexto del mundo del trabajo. La metodología utilizada fue el abordaje cualitativo por medio de estudio exploratorio y levantamiento de referencias sobre la temática. En la base de tesis y disertaciones BDTD se encontraron 19 resultados con la búsqueda Pasantía Curricular Supervisada en Psicología, pero sólo 1 trabajo de disertación se acercó al asunto. En la base Scielo de periódicos, del total de 31 revistas en el área de Psicología se seleccionaron solamente las revistas brasileñas en un total de 12. Se encontraron 10 resultados con la búsqueda de pasantía (Estágio, en portugués), pero 1 único resultado aplicado a la temática en cuestión. La investigación reveló la falta de estudios sobre la pasantía curricular supervisada (ECS) en Psicología, los impases en relación a los currículos, al aprendizaje y al encuentro con el mundo del trabajo. Palabras-clave: Pasantí as curriculares supervisadas. Psicologí a. El mundo del trabajo. Introdução Estágio Curricular Supervisionado (ECS) em Psicologia é requisito imprescindível para a obtenção do título formação de psicólogo. Esse requisito foi instituído em 1962, ampliando a formação de quatro para cinco anos, conforme a Lei no 4119/62 (BRASIL, 1962a) e o Parecer no 403/62 do CFE (BRASIL, 1962b), que previam a implementação do currículo mínimo. Nessa época a formação em Psicologia não exigia a realização de estágio nas O DOI: https://doi.org/10.24115/S2446-6220201951608p.6-18 . • 7 O estágio curricular supervisionado (ECS) em psicologia e o mundo do trabalho Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.6-18 ISSN:2446-6220 modalidades de licenciatura e bacharelado, nem havia alguma regulamentação a respeito disso. A partir de então acrescentou-se um ano ao curso e a obrigatoriedade de 500 horas de estágio à formação. Com a Resolução CNE/CES no 1.314, de 7 de novembro de 2001, as Diretrizes Curriculares Nacionais trouxeram mudanças para o curso de Graduação em Psicologia no Brasil – DCNPSI, separando os estágios obrigatórios em dois eixos: básico e específico. O ECS “[...] básico incluindo o desenvolvimento de práticas integrativas relacionadas a competências características do núcleo comum” da matriz curricular vigente, e o ECS “[...] específico inclui o desenvolvimento de práticas integrativas relacionadas a competências características de cada perfil” (BRASIL, 2001). Para os autores Naves, Silva, Peretta, Nasciutti e Silva (2017) a proposta das DCNs para a Psicologia abre possibilidades para uma maior articulação entre teoria e prática devido à organização da formação “[...] em núcleos comuns (disciplinas e estágios básicos que transversalizassem o curso de Psicologia, obrigatório a todos) e ênfases curriculares (disciplinas e estágios profissionalizantes de acordo com as dimensões de atuação específicas que o aluno escolhe cursar)” (NAVES, SILVA, PERETTA, NASCIUTTI, SILVA, 2017, p. 68). Com essa proposta, os estágios se realizam antes do término do último ano de curso possibilitando, “supostamente”, maior tempo de prática e de reflexão sobre os estágios realizados. Porém, as ênfases curriculares e habilidades trazidas aos currículos dos cursos de Psicologia pelas Diretrizes Curriculares Nacionais são passíveis de críticas devido ao atendimento ao neoliberalismo (BERNARDES, 2012) e à redução de horas no total geral do tempo de estágios (HOFF, 1999). Sobre essa temática surge-nos o seguinte questionamento: Os caminhos que a Psicologia tem percorrido no Brasil em relação à sua consolidação como profissão e sua história de formação no Ensino Superior no Brasil, sobretudo por meio das reformulações dos projetos pedagógicos, tem conduzido os alunos ao mundo do trabalho? Com o objetivo de refletir sobre o assunto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica integrativa, analisando o conhecimento pré-existente sobre o tema tendo como questão norteadora o Estágio Curricular Supervisionado em Psicologia. A coleta dos dados aconteceu durante fevereiro e novembro de 2018, nas bases de dados Scielo e BDTD. Na base de teses e dissertações BDTD foram encontrados 19 resultados com o descritor Estágio Curricular Supervisionado em Psicologia, mas 1 trabalho de dissertação se aproximou do assunto. Optou-se também pela pesquisa de revistas nacionais na área de Psicologia, das quais foram analisadas inicialmente 12, incluindo todos os números indexados independentemente do ano de publicação. Utilizando-se a palavra-chave estágio, foram encontrados 10 artigos, mas somente um artigo correspondeu à temática. A ausência dessa discussão nos revela o contexto alienante em que se encontra a Psicologia. As discussões têm ocorrido sobre a formação do psicólogo sem considerar a o mundo do trabalho no qual o profissional atuará nem o modo como iniciará suas atividades. A maioria das pesquisas encontradas tratam da subjetividade e das percepções dos estudantes e professores a respeito do estágio em áreas de atuação específicas. Para melhor compreensão da temática, o artigo foi dividido em três tópicos: O primeiro traz uma contextualização das mudanças no Ensino Superior do Brasil e a breve trajetória do estágio como conceito na legislação até a criação da Lei no 11788/2008. O segundo tópico apresenta o conceito de estágio e a sua importância no processo de formação do psicólogo. Por fim, o terceiro tópico identifica elementos que elucidarão a expressão “mundo do trabalho” bem como questões relativas à formação do psicólogo que inviabilizam ou não a inserção dos profissionais no mercado de trabalho. As mudanças nas políticas públicas para o Ensino Superior e a Lei no 11.788/2008 As mudanças e as transformações nas políticas educacionais brasileiras ocorreram de forma significativa na década de 90. O contexto dessa década “[...] forneceu elementos imprescindíveis à SANTOS, J.M.O. • 8 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.6-18 ISSN:2446-6220 compreensão das discussões sobre as condições de acesso, permanência, democratização e universalização à Educação Superior pública no Brasil” (LIMA, 2013, p. 85). ConformeLima (2013), as leituras da nova organização do trabalho em nível mundial, via organismos multilaterais, foram condicionantes para as mudanças nas políticas públicas do Brasil, em especial as educacionais “[...] Conferência Mundial de Educação para todos (1990), Encontro de Nova Delhi (1993), Reunião de Kingston, na Jamaica (1996)] e aquelas voltadas para o Ensino Superior propriamente [Conferência Mundial sobre Ensino Superior – 1998, 2009/ Declaração de Bolonha, 1999]” (LIMA, 2013, p. 86). Cabe ressaltar que nesse período, sob o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), ocorreu grande expansão do Ensino Superior no setor privado que seguiu a reforma de Estado propondo “ideias neoliberais hegemônicas contemporâneas” já introduzidas nos países vizinhos da América Latina (BARREYRO e COSTA, 2015, p. 20). Mediante a “reestruturação produtiva” e a “reforma do Estado”, as transformações nas políticas educacionais estabeleceram ou produziram “uma tipologia de homem correspondente”, modificando principalmente a formação de profissionais no nível superior. Como resposta a essas demandas foram denunciados os “currículos mínimos considerados rígidos e ineficazes pelo Parecer no 776/97” e os programas de estágios que acompanhavam a “ideia fragmentária presente de forma difusa nas políticas educacionais” (MARRAN e LIMA, 2011, p. 3). Para Marran e Lima (2011), com a aprovação das DCNs, o Estágio Curricular Supervisionado ganhou atenção especial, pois passou a representar uma das principais questões que compõem a agenda de discussões das instituições formadoras no processo de implementação de seus vetores em distintas áreas do conhecimento em nível de FORGRAD (Fórum de Pró-Reitores de Graduação). Antes das DCNs, o conceito de estágio no Brasil evoluía lentamente, segundo as mudanças na legislação e sem muito sucesso. Colombo e Ballão (2014) mencionam que na década de 40 o estágio era concebido como “período de trabalho”, pois este não cumpria o seu papel no processo educativo angariando mão de obra de baixo custo devido a não formalização entre a escola e a empresa, “considerando essa atividade mero trabalho” (COLOMBO e BALLÃO, 2014, p.174). Na década de 60, os autores mencionam que foi “[...] definida a importância do estágio para o aperfeiçoamento do ensino, criando condições favoráveis ao entrosamento entre a escola e a empresa”, focando muito fortemente no interesse das empresas. Nas décadas seguintes (70 e 80), não se “observam mudanças significativas” na legislação quanto ao papel do estágio como elemento de formação para o estudante (COLOMBO e BALLÃO, 2014, p. 174 e 175). Foi na década de 90, no governo FHC, que o estágio sofreu: [...] as primeiras intervenções em nível conceitual agregando uma distribuição diferenciada entre prática profissional, atividades complementares e a tentativa de um maior aclaramento ou busca de aproximação entre o contexto da formação acadêmica entre o âmbito teórico e o prático, mas somente tomará maiores proporções já no governo de Luis Inácio Lula da Silva (MARRAN e LIMA, 2011, p. 3). O alargamento na questão conceitual da legislação contribuiu para a não consideração do estágio como um elemento de formação plena do estudante, e a situação se perpetuou por seis décadas (1940-2000) (COLOMBO e BALLÃO, 2014), desde as primeiras legislações até a Lei no 11.788/08. Colombo e Ballão (2014) afirmam que a atual Lei do Estágio (Lei no 11.788/2008) significou um avanço devido ao fato de o estágio ser concebido como componente curricular. Essa concepção prevista na legislação contribuiu para que se estabelecesse a relação entre o estudante e a empresa evidenciando assim o processo pedagógico. Porém, esse processo foi árduo com a existência (histórica) de um “[...] confronto entre aqueles que defendiam o estágio com foco no interesse da escola e os que focavam o interesse das empresas” (COLOMBO e BALLÃO, 2014, p. 172). . • 9 O estágio curricular supervisionado (ECS) em psicologia e o mundo do trabalho Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.6-18 ISSN:2446-6220 O surgimento da Lei no 11.788/2008 clareou as normas que regem o posicionamento de professores, coordenadores, instituições e alunos na inserção da prática “[...] controlando o desenvolvimento das atividades de estágio com a perspectiva de garantir sua finalidade como componente pedagógico, evitando a exploração da mão de obra barata e uma formação superficial identificada” (MARRAN, 2012, p. 2). Essa nova proposta veio como uma tentativa de atender as necessidades dos profissionais preparados para o mercado de trabalho e ampliando as discussões sobre o estágio “[...] quanto a proporcionar aquisição dos conhecimentos exigidos e formação ética articulada aos parâmetros técnicos científicos, previstos pelas orientações do Sistema Único de Saúde – SUS, desde 1988” (MARRAN, 2012, p. 2). Resumidamente, a Lei no 11.788/2008 “[...] prevê duas grandes mudanças: o estagiário deve ter um tratamento diferenciado dentro da empresa, e a escola deve ser responsável por acompanhar e vincular o estágio ao processo didático-pedagógico de maneira formal” (COLOMBO e BALLÃO, 2014, p. 180). Em virtude do controle e rigor trazidos pela lei, tanto para o estagiário quanto para as empresas concedentes, com a exigência de relatórios dos estudantes a cada semestre e das empresas, bem como a regulação da duração de estágio, de até no máximo dois anos, e outras medidas (BRASIL, 2008), muitos locais recusam-se a receber estagiários. Essa situação se deve à falta de esclarecimentos “[...] sobre a formação da consciência profissional tanto dos supervisores da organização concedente quanto dos acadêmicos em formação e da importância da socialização recíproca dos conhecimentos e intervenções interinstitucionais” (LIMA e MARRAN, 2011, p. 15). Se por um lado a lei organiza as relações escola/empresa, trazendo rigidez aos acordos, defendendo o processo de aprendizagem e conceituando legalmente o estágio como pedagógico, por outro lado também atende uma demanda da produtividade “calcada no neoliberalismo” (MARRAN, 2012, p. 8). Encontramos a seguinte afirmação no Art. 1o: Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de Educação Superior, de educação profissional, de Ensino Médio, da educação especial e dos anos finais do Ensino Fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos (grifo nosso) (BRASIL, 2008). A preparação para o trabalho produtivo dos acadêmicos requer dos aprendizes competências próprias para a atividade profissional bem como a proposta curricular que convoca a busca da instrumentalização do educando. Portanto, cabem aqui dois questionamentos: Após as diretrizes foram realizadas mudanças profundas nos currículos a fim de promover essa instrumentalização ou elas reafirmam práticas tradicionais? Quem será atendido com esse trabalho produtivo? Essa problemática vai ao encontro de outras questões já abordadas por Marran e Lima (2011), sob a perspectiva de “trabalho produtivo”, regulamentadas na Lei no 11.788/08 e divididas em dois eixos presentes nas principais demandas dos organismos multilaterais: “Que tipo de homem se pretende formar?” e “Para que sociedade?” Para os autores, essas questões fazem parte “da discussão do Estágio Curricular Supervisionado no Brasil, principalmente na Educação Superior, quanto à tendência para o ensino e o distanciamento da pesquisa e extensão” (MARRAN e LIMA, 2011, p. 4). Tais reflexões sobre o Ensino Superior confirmam os estudos de Jessop (1998), Afonso (2003), Dale (2009), Ball eMainardes (2011) sobre a adequação das demandas educacionais, que discutem a reorganização do capitalismo ampliando as buscas de pesquisas sobre as o percurso formativo no Brasil, principalmente no que diz respeito ao Estágio Curricular Supervisionado. Considerando o panorama de demandas do capital sobre a educação, pode-se atribuir a expansão do Ensino Superior como o processo de mercantilização do ensino no país, colaborando para a transição do sistema de Ensino Superior no Brasil, que antes de 2010 era considerado de elite e se tornou um sistema de massa (GOMES e MORAES, 2012). SANTOS, J.M.O. • 10 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.6-18 ISSN:2446-6220 Bernardes (2003), Cury (2012), Silva (2010) e Yamamoto (2012) observam esse movimento na área da Psicologia nas duas décadas iniciais do século XXI como uma área pertencente a esse contexto mercantil, com a expansão numérica da oferta de cursos de graduação e a ausência de reformas curriculares. A formação em Psicologia deve ser compreendida por meio da análise de seu papel social ao longo da história dentro das relações das políticas do Ensino Superior “[...] que de uma forma ou outra respondem às demandas do capital internacional” (SEIXAS, 2014, p. 34). Ao iniciar um percurso formativo, o indivíduo se depara com um dilema: consolidar uma formação ética ou atender às demandas advindas do capital. Conforme Marran (2012), é justamente “[...] nesse contexto conflitivo que o estágio ganha destaque no processo de formação na Educação Superior, tornando-se mais presente e dispondo de maior organização nas matrizes curriculares dos cursos” (MARRAN, 2012, p. 1). Porém, veremos na próxima sessão que o estágio não tem sido muito considerado na formação em Psicologia, reconhecendo as demandas que recaem sobre o trabalho, devido a uma opção curricular fragmentada, que reforça um sistema educacional mercantilizado. A importância do estágio e da formação do psicólogo Para compreendermos a importância do estágio precisamos primeiramente conceituá-lo. O estágio constitui o ponto nodal entre a aprendizagem teórica e a prática. O trabalho do estagiário é de aprender o fazer profissional a partir dos conteúdos interiorizados visualizando nesse momento a “interlocução entre teoria e prática” (CURY, 2012, p. 114). Para Lima e Marran (2011, p. 6), o estágio é o “aprimoramento e desenvolvimento de habilidades e competências discentes à luz de uma postura crítico-reflexiva, assim, em qualquer momento estarão sendo revisitadas as questões de cunho ético, instrumental, epistemológico e humanas, dentre outras”. Existem conhecimentos que não serão aprendidos na academia se o estudante de Psicologia não se lançar nesse momento de desconforto que é o estágio. É nas relações sociais que ocorre a produção do conhecimento, e esse conhecimento “só tem um verdadeiro significado quando é colocado na prática, [...] ligado às atividades diárias do sujeito,[...] estabelecidas no seu ambiente de trabalho” (OLIVEIRA e ALMEIDA, 2009, p. 165). O aprendizado deve fazer parte da vida dos jovens tanto no que se refere à experiência de vida como no que se refere à profissão. O trabalho é um [...] princípio educativo porque é através dele que o ser humano produz a si mesmo, produz a resposta às necessidades básicas, imperativas, como ser da natureza (mundo da necessidade), mas também, e não separadamente, às necessidades sociais, intelectuais, culturais, lúdicas, estéticas, artísticas e afetivas (mundo da liberdade) (FRIGOTTO, 2009, p. 72). O estágio pode clarear as incertezas que muitos têm quanto às opções a seguir e quanto à área de atuação profissional e de conhecimento. Essas dúvidas só serão resolvidas se atuarem e viverem os pontos de tensão, os impasses e as resoluções “[...] no savoir-faire epistemológico e com o coletivo no campo de trabalho, sobre a maturação da intervenção que pode constituir-se no crivo da ação- reflexão-ação e sobre uma concepção emancipadora de trabalho produtivo” (MARRAN, 2012 p. 27). Sendo assim, o momento do estágio pode contribuir para a orientação profissional dos sujeitos. A orientação profissional deve ser compreendida aqui não como a visão clássica de “[...] auxiliar o indivíduo no processo de escolha de modo que este realize opções ocupacionais adequadas”, mas, como descreve Gatti (2011, p.60 e 61), baseado nas ideias de Ferretti (1997), de modo que esse indivíduo escolha sua profissão quando assumir um “papel ativo nas transformações da sociedade”. A esse respeito, Marran (2012) considera que o estágio se caracteriza como um espaço de oportunidades possibilitando a reflexão e o paralelismo entre o curso, as solicitações das categorias destinadas à formação; no caso, a de trabalho produtivo, a interdisciplinaridade e a suficiência ou aprimoramento necessários à constituição da inteireza profissional. A formação em Psicologia . • 11 O estágio curricular supervisionado (ECS) em psicologia e o mundo do trabalho Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.6-18 ISSN:2446-6220 oferece estágios básicos e estágios específicos, que devem compor 15% da carga total do curso. A proposta das DCNs para um currículo generalista, com 4.050 horas de estágio para a formação de psicólogo, e de 3.200 horas para Licenciatura e Bacharelado, é inferior ao tempo de 500 horas de estágio do Currículo Mínimo. Para Hoff (1999, p. 20), em relação à duração dos estágios pós DCNs, “[...] salienta-se uma duração anual menor, menos densa, da formação do psicólogo frente a outros cursos afins”, como Odontologia, Terapia Ocupacional, Medicina, Fonoaudiologia e Serviço Social. Para a autora, os estágios diluídos em 5 anos “mascara a redução da carga horária total em relação ao atual currículo pleno de muitos cursos”. Os únicos indicativos encontrados para tais mudanças, segundo Hoff (1999, p.20), baseado no que propõem Feitosa, Bastos, Bori, Galvão, Gomes (1997) são os Padrões de Qualidade para Cursos de Graduação em Psicologia. Ele declara que, por se tratar de uma proposta de formação generalista, os estágios, previstos antes pelo Currículo Mínimo e agora pelas DCNs, são “insuficientes”. Outro caminho pode compreender as Diretrizes Curriculares como “[...] dispositivos tecnológicos produzidos a partir de certa racionalidade prática”, que “caracterizam formas específicas de governo”, como declara Bernardes (2012, p. 220). O eixo de conteúdos epistemológicos e históricos nas DCNs também é considerado por Hoff (1999, p. 22) como inexistentes, pois [...] não há referência à Psicologia no Brasil. Com vistas ao conhecimento e à formação de atitudes, é essencial que o aluno se aproprie dos seguintes pontos e analise-os criticamente: a) a trajetória constitutiva da Psicologia nacional e seu status atual; a ampliação das áreas clássicas (clínica, escolar, organizações) com inclusão da área comunitária/ institucional, os vários desdobramentos internos e a diversidade de atuações sendo demandadas - Psicologia Jurídica, Psicologia Hospitalar, postos de saúde, ambulatórios de saúde mental, Psicologia dos Esportes, do Trânsito, etc.; b) as interfaces e os conflitos com outras áreas, como o ilustram situações atuais envolvendo a Psicopedagogia, recursos humanos, o terapeuta holístico, etc. Na perspectiva de que o aluno conheça a realidade brasileira, a História da Psicologia no Brasil, seus atuais rumos e diversidades deveriam ser explicitamente contemplados, tanto entre os compromissos da formação como entre os tópicos dos conteúdos (grifo nosso). Pode-se enfatizarque o aluno precisa conhecer a realidade da Psicologia no Brasil quanto à sua evolução científica com base nos estudos e atendimentos quaisquer das necessidades apresentadas pela realidade brasileira. Assim, a proposta de formação e o início do percurso formativo exigem do aluno a inserção na realidade brasileira que ele desconhece num primeiro momento. Desse modo, espera observar fenômenos psicológicos por meio dos quais possa fazer interpretações e aplicar as teorias clássicas aprendidas; porém, muitas vezes o que encontra são problemas sociais, como a pobreza. Dimenstein e Macedo (2012) discutem a relação entre a Psicologia e o SUS afirmando que o encontro com comunidades de baixa renda contribui para o questionamento das ferramentas de trabalho, do aparato teórico-técnico e da efetividade da atuação dos psicólogos. Essa situação sugere que muitas demandas deveriam incluir intervenções interdisciplinares que contassem com a atuação de equipes multiprofissionais. O estágio deve se caracterizar pelo treinamento que articula teorias aprendidas e a capacidade de análise da realidade brasileira que envolve postura crítica e ética (CURY, 2013). A experiência de estágio [...], bem como a construção da Psicologia, “não se separa da política, nem da vida” [...] “o trabalho se apoia em um saber que vai se fazendo no coletivo da própria prática” (NASCIMENTO, MANZINI E BOCCO, 2006, p. 15). Com o Currículo Mínimo, os estágios de Psicologia Clínica, Psicologia Escolar e Psicologia do Trabalho eram escolhidos tradicionalmente por boa parte dos cursos. Com as Diretrizes Curriculares, muitos cursos reduziram a obrigatoriedade de três para dois estágios, “[...] pois vincularam os mesmos às ênfases, sob a condição de obrigatoriedade do curso de ofertar ao menos duas delas aos alunos. As ênfases, além de uma ou outra disciplina, foram reduzidas aos estágios” (BERNARDES, 2012, p. 221). SANTOS, J.M.O. • 12 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.6-18 ISSN:2446-6220 Assim sendo, é importante dar uma atenção especial ao estágio, respeitando a sua duração e respeitando a proposta de prática, não confundindo ou misturando atividades de pesquisa ou a construção de conhecimento com atividades em laboratório (MATOS, 2000). A redução dos estágios contribui para menor tempo da realidade que os alunos vivenciarão como profissionais, exigindo a complementação da formação com cursos de especialização, o que descaracterizaria a formação generalista. Bernardes (2012, p. 222) afirma que a formação em Psicologia no Brasil [...] jamais foi generalista, ao contrário, sempre foi uma formação com dupla especialização precocemente estabelecida: a primeira especialização em determinado modus operandi centrado no indivíduo, individualizante e intimista, e uma segunda especialização em torno desse modus, localizada geralmente na atuação clínica. Nas diretrizes, a Psicologia está colocada de uma forma, porém no campo de atuação a realidade é outra, como declaram Nascimento, Manzini e Bocco (2006, p. 19): “[...] o mesmo movimento que legitimou e regulamentou o exercício da profissão no Brasil também instituiu o título profissional de especialista em Psicologia, circunscrevendo o trabalho em diversas áreas”. Dessa forma, a cada nova aprovação de especialidade os saberes na área da Psicologia “[...] delimitam a prática dos psicólogos em conhecimentos específicos, produzindo assim domínios de saber demarcados”. Percebe-se assim a importância do estágio, que se torna imprescindível como oportunidade em que os alunos podem exercer as habilidades e os conhecimentos que adquirirem durante o curso, de forma que essa qualificação não fique restrita às pós-graduações (MATOS, 2000). Além das especializações, levanta-se outra questão em relação às práticas tradicionais clínicas. Wojciekowski (2013, p. 71), baseado em Bernardes (2010), afirma que muitos alunos não conseguem sair das práticas tradicionais devido a “[...] questões que envolvem desde o rompimento com uma lógica assistencial até a ampliação de seus princípios para o acesso e a compreensão do que se considera cuidado”. Outra questão seria o “[...] ensino tecnicista que impossibilita o avanço dos profissionais nas intervenções nos serviços (de saúde, assistência, entre outros) independentemente dos locais de atuação” (WOJCIEKOWSKI, 2013, p. 80). Os problemas da formação e a redução de estágios podem refletir negativamente nos avanços dos profissionais psicólogos no mundo do trabalho como veremos na sessão a seguir. O mundo do trabalho e a formação do psicólogo Ao considerar que o mundo do trabalho envolve mais que o atendimento das demandas do mercado, e que abriga grande parte da atividade humana, abrem-se possibilidades infinitas para os alunos compreenderem tanto o ensino como o momento de estágio como caminhos para observar e agir diante das complexidades humanas em cenários variados. Conforme Fígaro (2008, p. 93), a definição de mundo do trabalho é “uma categorização ampla” que permite agregar vários conceitos como “[...] trabalho, mercado de trabalho, relações de trabalho, salário, tecnologia, troca, lucro, capital, cultura, controle, organizações, poder, sociabilidades, vínculo empregatício, relações de comunicação”. É a partir desse mundo que se constituem as organizações empresariais, sindicais, órgãos de Estado “que fiscalizam os direitos do trabalho e no trabalho, a legislação fiscal, sanitária, de saúde, de formação e de escola”. Por isso, é de grande relevância considerar o estágio curricular frente às profundas transformações no mundo do trabalho e o constante desenvolvimento científico e tecnológico instigando a universidade a repensar e discutir seu processo formador (SOUZA, 2009). As inserções inovadoras e criativas frente às profundas transformações no mundo do trabalho devem ser analisadas e trabalhadas desde o momento do estágio. O Estágio Curricular Supervisionado deveria preparar um profissional capaz de “identificar demandas de trabalho” (CURY, 2012, p. 115). . • 13 O estágio curricular supervisionado (ECS) em psicologia e o mundo do trabalho Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.6-18 ISSN:2446-6220 Portanto, os cursos de Psicologia devem promover estudos sobre o mundo do trabalho e sobre a atividade de trabalho desenvolvida no Brasil, de modo a aproximar o futuro profissional da realidade, dos desafios, dos conflitos, oferecendo-lhe novas modalidades de estágios a fim de perceber variadas demandas. Para Wojciekowski (2013, p. 80), é preciso “[...] ofertar novas modalidades de estágio, com todas as provocações e desacomodações que isso implique”. Para a autora, é importante abrir inserções em espaços e agendas de trabalho até então não acessadas, revendo e ressignificando as conhecidas e reproduzidas práticas, assumindo e problematizando as novas competências de hoje requeridas no fazer psicologia. Porém, a atuação da Psicologia possui fortes tendências históricas para se manter numa posição “[...] alienada diante das necessidades da sociedade brasileira”. A formação profissional em Psicologia foi construída durante muitos anos como profissão de atuação de clínica restrita e prática individual privada devido à formação oferecida (WOJCIEKOWSKI, 2013, p.24 e 25). Segundo os estudos de Bastos e Godim (2010), a Psicologia pode ser visualizada profissionalmente a partir do esquema didático: Esquema 1 – Inserção do profissional da psicologia no mercado de trabalho Fonte: Elaborado pela autora com a utilizaçãodos dados de Bastos e Godim (2010). Percebe-se, por meio do esquema, que é marcante a atuação dos profissionais na área clínica, e a inserção dos psicólogos em duas ou mais áreas, revelando as condições de trabalho tanto dos assalariados quanto dos autônomos, de precarização e deterioração da remuneração, configurando a consolidação da profissão (BASTOS e GODIM, 2010). Embora permaneça a predominância na atuação clínica exclusiva ou combinada, em 2010, o número de profissionais nessa área é menor (53%) (BASTOS e GODIM, 2010) quando comparado ao estudo de 1988 (60,7%) (BASTOS e GOMIDE, 1988, p. 9). Confirmando os dados apresentados em 2010 (BASTOS e GODIM, 2010), Menezes Filho (2010, p. 17) apresenta dados coletados pelo Insper, que revelam que a categoria foi a que mais sofreu “queda na atuação típica profissional”, acompanhada das áreas de Terapia e Reabilitação, Estatística e Odontologia. Embora a Psicologia tenha alcançado um bom crescimento, como em número de profissionais, em outras áreas de atuação, como a saúde, não são tão perceptíveis os sinais de desenvolvimento (YAMAMOTO, 2012). A expansão ao atendimento na área da saúde no país, desde a década de 80, mobilizou a categoria, que aproveitou o momento político para a implementação de ambulatórios. Porém, a categoria foi alvo de inúmeras críticas em virtude de o trabalho clínico tradicional não apresentar grande significado social, pois era destinado a uma pequena parcela da população, despreocupando-se com os problemas sociais, além de estar impregnado de forte conteúdo ideológico individualista. Como as respostas foram insatisfatórias às questões sociais cotidianas, a categoria foi perdendo sua legitimidade social, o que impulsionou os profissionais a buscarem novas formas de inserção no mercado de trabalho. A presença do profissional de Psicologia nos serviços e nas equipes de saúde em todo o país “[...] não implicou necessariamente mudança radical Áreas Clínica - 67% Saúde - 27,9 % Trabalho e organizações - 25,1% Educacional - 9,8% Inserções Profissionais Público - 40% Privado - 35% Terceiro setor - 25% 53% dos psicólogos se vinculam à área clínica como área de atuação exclusiva ou combinada. 65% dos psicólogos estão inseridos em duas ou mais profissões. SANTOS, J.M.O. • 14 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.6-18 ISSN:2446-6220 na lógica de produção de saberes e de atos de saúde pela própria categoria, bem como no agir diário dos outros profissionais” (DIMENSTEIN e MACEDO, 2012, p. 237). Os autores Dimenstein e Macedo (2012, p. 235) declaram que a atuação da Psicologia no SUS, especialmente com os serviços de atenção primária à saúde, bem como de saúde mental, colocam a profissão em uma “[...] realidade ainda distante da que comumente conhecemos e discutimos em nossa formação”. Para Yamamoto, (2012, p. 13) a formação e as práticas profissionais em Psicologia não visualizam o alcance social e o compromisso político. “A desqualificação de práticas profissionais que não estejam alinhadas a determinada abordagem teórico-metodológica e voltadas para a transformação social” contribuem para a ação política do psicólogo a ser recolocada sempre no âmbito individual. Para ser um agente de transformação social e promover melhorias na qualidade de vida do ser humano, o psicólogo brasileiro necessita discutir em sua formação questões teóricas e metodológicas e precisa conhecer e utilizar saberes técnicos. Cury (2012, p. 116), baseado nas ideias de Abbad e Mourão (2010), conclui que o psicólogo brasileiro necessita [...] atualizar-se constantemente, aprender novas tecnologias de trabalho, criar novos recursos e conhecimentos psicológicos, tornar-se polivalente, trabalhar em equipes multiprofissionais, incorporar às práticas profissionais múltiplas abordagens, metodologias e técnicas de intervenção provenientes de outras áreas do saber, além de ampliar a sua visão de mundo, sua concepção sobre a natureza dos fenômenos psicológicos e sua clientela. O aprendizado e o entendimento dessas coisas fazem parte de uma formação ética e de respaldo profissional que respeita o aluno apresentando o caminho que será percorrido no mundo do trabalho, não fora deste. Por isso, Marran (2012, p.15) defende a importância do ECS na formação do estudante, observando as transformações no mundo do trabalho, “bem como as ideologias respectivas que induzem as políticas educacionais e projetam as tipologias solicitadas do homem de acordo com sua teoria social”. Enfim, o estágio pode ser a porta que conduz a um despertar. Talvez o caminho inverso, a partir da prática, permita repensar as teorias e os caminhos práticos comuns já percorridos pela Psicologia. Considerações finais O texto apresentou as mudanças observadas no Ensino Superior brasileiro desde a década de 90, com a Reforma de Estado e o advento das DCNs, que trouxeram mudanças para o Estágio Curricular Supervisionado. Apresentou-se um breve histórico sobre as mudanças conceituais significativas na legislação sobre o estágio a partir do governo FHC (1995-2002), mas percebe-se que somente em 2008, com a Lei no 11.788/08, o estágio foi concebido como componente curricular estruturador no processo pedagógico. Observou-se o confronto que ronda o estágio entre aqueles que o defendem como interesse da escola e aqueles que querem por meio dele a obtenção da mão de obra barata. As reflexões prosseguiram a respeito do conceito de estágio e a sua importância no percurso formativo do psicólogo. Nesse processo, o estagiário pode fazer a interlocução entre a teoria e a prática e dissolver as incertezas quanto à escolha da profissão no curso de graduação ou no transcorrer do curso com a realização do estágio. Vimos também algumas críticas recorrentes sobre a proposta de ensino das DCNs, que tornam os estágios insuficientes porque não vão ao encontro das necessidades do país e porque o tempo geral dos cursos foi reduzido, restringindo-se a aquisição de habilidades e conhecimentos às pós- graduações, inviabilizando, assim, um ensino de qualidade. Por fim, percebeu-se que os problemas relacionados à formação e à redução de estágios podem provocar retrocessos para os profissionais psicólogos no mundo do trabalho, como é o caso do encontro da Psicologia com o SUS. Para compreender o contexto atual da formação dos psicólogos é preciso conhecer os dilemas . • 15 O estágio curricular supervisionado (ECS) em psicologia e o mundo do trabalho Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.6-18 ISSN:2446-6220 enfrentados por aqueles que estão se formando e saber se a proposta de formação no momento de estágio tem ou não dado respaldo para o ingresso no mundo do trabalho. Faltam pesquisas sobre a inserção dos estudantes de Psicologia no mercado de trabalho. Por isso, é preciso ter o olhar voltado para os estágios, pois são canais de demandas da sociedade brasileira que revisitam e reavaliam nossa formação e nossas práticas. Referências ABBAD, G. S.; MOURÃO, L. Competências profissionais e estratégias de qualificação e requalificação. In: BASTOS, A. V. B.; GONDIM, S. M. G. (Org.). O trabalho do psicólogo no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2010. AFONSO, A. J. Estado, globalização e políticas educacionais: elementos para uma agenda de investigação. Revista Brasileira de Educação , Jan/Fev/Mar/Abr 2003, n.º 22, p.35-46. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n22/n22a05.pdf. Acesso em: 20 nov. 2018. BARREYRO, G. B.; COSTA, F.L. O. Las Políticas de Educación Superior enBrasil en la primera década del siglo XXI: Algunas evidencias sobre impactos positivos en la equidade. 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Cárita Portilho de Lima Universidade Federal da Paraíba [UFPB] – Bra. RESUMO Constituindo-se como ensaio teórico, este artigo assume o objetivo de contextualizar a prática do estágio curricular supervisionado em Psicologia no interior das legislações que regulamentam o exercício profissional no Brasil e que orientam a formação em Psicologia, identificando potencialidades e desafios inerentes a essa atividade no contexto da formação do psicólogo. O texto analisa o papel da supervisão e do supervisor no processo formativo do estagiário. Como fio condutor da argumentação, defendem-se duas potencialidades centrais para o estágio: a abertura ao protagonismo do estagiário e a criação de condições para construir a unidade entre teoria e prática no contexto da Psicologia. A análise é concluída com a defesa de que a discussão sobre os desafios postos ao estágio curricular supervisionado em Psicologia a fim de concretizar suas potencialidades contribui para as discussões sobre os rumos da psicologia como ciência e campo profissional numa perspectiva geral. Palavras-chave: Estágio curricular supervisionado. Supervisão acadêmica. Supervisão prática. Formação do psicólogo. ABSTRACT As a theoretical essay, this article aims to contextualize the practice of overseen curricular internship in Psychology regarding laws that rule professional activity in Brazil and guide education in Psychology. It identifies potentialities and challenges inherent to the activity of internship in the context of the psychologist’s education. The text analyzes the role of the overseeing and the overseer in the education process of the intern. The argumentation Leitmotiv refers to two central potentialities defended for the internship: its opening to the standing out of the intern and the creation of conditions to build unit between theory and practice. The analysis is concluded with the defense that discussing challenges posed to the overseen curricular internship in psychology to materialize its potential may contribute to discussion on the direction of psychology as a science and a professional field in a general perspective. Keywords: Supervised curricular internship. Academic supervision. Practical supervised. Psychologist's formation. RESUMEN En éste artículo tiene el objetivo de contextualizar la práctica de la pasantía en Psicología considerando las legislaciones que regulan el ejercicio profesional en Brasil y que orientan la formación en Psicología, identificando potencialidades y desafíos inherentes a esta actividad en el contexto de la formación del psicólogo. Se presenta también en el intento de analizar el papel de la supervisión y del supervisor en el proceso formativo del pasante. Como hilo conductor de la argumentación, se defienden cómo potencialidades centrales para la pasantía: apertura al protagonismo del pasante y creación de condiciones para la construcción de la unidad teoría y práctica y en el contexto de la Psicología. El análisis se concluye con la defensa de que la discusión acerca de los desafíos planteados a la pasantía en Psicología para la afirmación de sus potencialidades aporta contribuciones a las discusiones sobre los rumbos de la Psicología, como ciencia y profesión, desde una perspectiva general. Palabras-clave: Pasantía curricular supervisada. Supervision académica. Supervisión práctica. La formación del psicólogo. DOI: https://doi.org/10.24115/S2446-6220201951609p.19-29 SILVA NETO, W.M.F.; LIMA, C.P. • 20 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.19-29 ISSN:2446-6220 Introdução ste ensaio teórico está organizado com o objetivo de contextualizar a prática do estágio curricular supervisionado em Psicologia no interior das legislações que regulamentam o exercício desta profissão no Brasil e que orientam a formação em Psicologia, identificando potencialidades e desafios inerentes ao estágio no contexto da formação do psicólogo. O ensaio também busca analisar o papel da supervisão e do supervisor no processo formativo do estagiário. Em linhas gerais, defende-se que o estágio curricular apresenta duas potencialidades centrais: fomenta o protagonismo do psicólogo em formação e cria possibilidades concretas para construir a unidade entre teoria e prática no contexto da psicologia como ciência e profissão. Parte-se da perspectiva de que o estágio ocupa lugar central na formação do futuro psicólogo; não apenas porque o convoca a assumir uma atitude ativa em seu processo de profissionalização (LIMA, 2011), mas também porque se materializa — na relação com a atuação do supervisor — como via possível para articular teoria e prática na formação do estagiário. No campo da psicologia como conhecimento científico e área de exercício profissional, não bastam discussões que ora focalizam aspectos teóricos, ora se restringem a problemas inerentes à prática do psicólogo. O desafio de construir a unidade entre teoria e prática é essencial para que a psicologia possa ser uma ciência e campo profissional a serviço do acolhimento das necessidades da maioria da população brasileira. Nesse sentido, o ensaio se coaduna com a perspectiva anunciada por Adorno (1995) de que a prática sem a teoria se torna impotente na mesma medida em que a teoria sem a prática se torna arbitrária. Além disso, entende-se que uma ciência e profissão que assumam, efetivamente, o compromisso social de anular desigualdades sociais e transformar a sociedade precisa eleger a unidade entre teoria e prática como lógica balizadora. Como defende Martín-Baró (2006), a prática deve constituir o ponto de partida e o de chegada no movimento de construção de um conhecimento que contribua para a transformação do real. A análise teórica que se apresenta aqui perscruta as dimensões legais e curriculares do estágio supervisionado no campo da psicologia. Apresenta questões teóricas para discutir a conceituação desse espaço formativo e de suas funções, com destaque ao papel da supervisão e do supervisor. A argumentação se encaminha para a identificação de desafios impostos à prática do estágio para que se possa concretizar as potencialidades que carrega em sua estrutura e dinâmica de funcionamento. Desenvolvimento Visto que as legislações da profissão de psicólogo (leis 4.119/62, de 27 de agosto, e 53.464/64, de 21 de janeiro) criaram o sistema de conselhos de Psicologia em âmbito federal e regional (vide lei 5.766, de dezembro de 1971) e dispõem sobre a formação em psicologia (diretrizes curriculares nacionais para graduação em Psicologia, 2004 e 2011), são marcos importantes para a discussão sobre o estágio curricular; ou seja, é ponto de partida deste debate a discussão sobre tal legislação. À luz de Silva Neto, Oliveira e Guzzo (2017), é possível afirmar que a regulamentação legal que orienta a constituição da psicologia como profissão, em certa medida, identifica-secom uma perspectiva tecnicista de compreensão dos estágios e da atividade de supervisão no contexto da formação do psicólogo. A institucionalização da atividade do estágio no interior da formação do psicólogo é o estabelecimento, pelo Conselho Nacional de Educação, do currículo mínimo para os cursos de Psicologia (parecer 403, de 19 de dezembro de 1962), que consolida a necessidade de atividades de natureza prática — o estágio supervisionado — como etapa formativa; isto é, como treinamento de conotação prática necessário ao futuro psicólogo para sua diplomação. No decorrer das décadas de existência da psicologia como ciência e profissão no Brasil, muitos têm sido os debates sobre a formação do psicólogo, a exemplo daqueles levantados pelo Conselho Federal de Psicologia/CFP (1988; 2013), por Bastos e Gomide (1989), Yazlle (1990), Souza (1996), Bernardes (2004), Campos (2007), Lisboa e Barbosa (2009), Yamamoto e Costa (2010), Lima E • 21 Estágio curricular supervisionado em psicologia: aspectos legais, potencialidades e desafios... Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.19-29 ISSN:2446-6220 (2011), Tizzei (2014) e outros. Algumas mudanças contribuíram para um processo formativo que ofereça, ao futuro profissional, de Psicologia instrumentos teórico-práticos sólidos para seu trabalho. As diretrizes curriculares nacionais (BRASIL, 2004) trouxeram mudanças importantes para a graduação em Psicologia do ponto de vista do estágio curricular. Os estágios, entendidos como espaços que “[...] visam assegurar o contato do formando com situações, contextos e instituições, permitindo que conhecimentos, habilidades e atitudes se concretizem em ações profissionais [...]”, passaram a ser distribuídos ao longo do curso de graduação e divididos em dois níveis: básico e específico, cada qual com carga horária própria. Essa proposta de organização dos estágios no contexto da formação dos psicólogos é reafirmada nas diretrizes curriculares nacionais para a graduação em Psicologia publicadas em 2011 (BRASIL, 2011). De modo geral, essa perspectiva carrega, dentre tantas outras concepções, uma proposta de enfrentamento da ideia de que, em primeiro lugar, o psicólogo em formação deve saber a teoria para, depois, ser capaz de interpretar a prática, em uma relação supostamente linear. Ainda sobre a regulação do estágio curricular supervisionado em Psicologia, é necessário destacar que toda a legislação está apoiada na lei 11.788, de 25 de setembro de 2008, que regula o estágio de estudantes em todos os níveis e todas as áreas de formação. Na seara desta discussão, convém comentar como, nesse documento, o estágio é compreendido e quais são os objetivos a ele direcionados. De acordo com a lei: Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos (BRASIL, 2008, art.1). Além disso, seu objetivo é “[...] o aprendizado de competências próprias da atividade profissional e a contextualização curricular, objetivando o desenvolvimento do educando para a vida cidadã e para o trabalho”. No contexto da Psicologia — e à luz de Marinho-Araújo (2007) —, os estágios objetivam ao desenvolvimento da capacidade de questionar a prática, as rotinas de trabalho, o exercício profissional e a dimensão pessoal da formação. Capacidade esta que o estudante desenvolve de forma assistida, reflexiva, acompanhada e com base em demandas e exigências reais. Assim, em que pese a obrigatoriedade da vivência do estágio para a diplomação do psicólogo, defende-se ser necessário que essa experiência qualifique a formação dos estagiários capacitando- os a estabelecer novas e complexas relações entre as teorias estudadas e as demandas apresentadas pela realidade. É essencial sublinhar que o estágio curricular supervisionado, ao proporcionar aos estudantes de Psicologia possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento mediante atendimentos oferecidos à população, apresenta como problemática permanente a reflexão sobre a qualidade do serviço oferecido aos sujeitos e comunidades atendidos nos estágios (LIMA, 2011). Em síntese: os estágios precisariam suprir as demandas de capacitação teórica, técnica, ético-política e conceitual dos estudantes para atender, com qualidade, às necessidades da população assistida. Ao realizar a contextualização do estágio em Psicologia em suas dimensões legais e curriculares, torna-se possível direcionar a discussão para os desafios apresentados a esses espaços formativos a fim de se concretizarem as potencialidades que o constituem: a promoção do protagonismo do psicólogo em formação e a criação de possibilidades de construção da unidade entre teoria e prática no contexto da psicologia como ciência e profissão. O avanço dessa discussão passa pela análise da qualidade dos estágios efetivados. Assume-se, como ponto de partida desta reflexão, o reconhecimento de que a qualidade da formação oferecida ao estagiário e do atendimento disponibilizado à população por meio do estágio constitui fenômeno multideterminado. Ou seja, reconhece-se que o estágio curricular supervisionado é um campo complexo, plural e, muitas vezes, contraditório. SILVA NETO, W.M.F.; LIMA, C.P. • 22 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.19-29 ISSN:2446-6220 Dada essa concepção, assume-se como foco importante de análise o contexto da supervisão e o papel do supervisor na consecução dos objetivos propostos para o estágio em Psicologia. Entende- se que esta seja uma estratégia potente para uma aproximação do cotidiano da formação do psicólogo, visto que, para esta discussão, não basta que se analise sua formação segundo legislações e currículos. Além disso, entende-se que o estágio não é um fim em si mesmo, tampouco uma abstração descolada dos sujeitos que o constroem cotidianamente. Dessa forma, a discussão das potencialidades do estágio na formação do futuro psicólogo precisa versar sobre as condições nas quais esse dispositivo se concretiza: o contexto — que é a supervisão — e o profissional por ele responsável — que é o supervisor. De acordo com a análise apresentada por Silva Neto, Oliveira e Guzzo (2017), a supervisão de profissionais e alunos em trabalhos técnicos e práticos de psicologia já era prerrogativa nas primeiras leis regulamentárias da profissão no Brasil e, desde então, essa atividade passou a ser exercida na graduação, considerando modalidades diferentes de atuação profissional. Ainda segundo esses autores, “[...] na graduação em Psicologia, a supervisão é obrigatória e se caracteriza pela tutela dos alunos em sua imersão na prática profissional” (SILVA NETO, OLIVEIRA E GUZZO, 2017, p. 1.043). Nesse sentido, entende-se que a análise da atividade de estágio precisa considerar a unidade entre a atividade dos estagiários e a atividade do supervisor acadêmico — mediadas pelas legislações específicas da psicologia e da Lei de Estágios (n. 11.788, de 25 de setembro de 2008) —, que, de maneira compartilhada, buscam estabelecer nexos e relações entre as teorias estudadas e os desafios enfrentados na prática, pretendendo avançar na construção de novas práticas profissionais. Nessa perspectiva, outros problemas ganham contornos no desenrolar desta discussão: o que seria a supervisãono contexto da psicologia? Qual é sua função? E qual é o papel do supervisor na formação do psicólogo? Com efeito, de acordo com a conceituação proposta por Silva Neto, Oliveira e Guzzo (2017, p. 574), “[...] a supervisão de estágio é uma modalidade didático-pedagógica que se delineia a partir da participação direta dos estudantes em situações profissionais de dadas áreas, com o objetivo de estabelecer correlações entre teoria e prática”. No entanto, ainda conforme esses autores, existe uma diversidade de significados sobre a supervisão no contexto da psicologia. Considerando o objetivo — há pouco anunciado — de compreender o que seria a supervisão nesse contexto, convém comentar as conceituações apresentadas. Segundo Silva Neto, Oliveira e Guzzo (2017), o emprego da palavra supervisão tem duas dimensões essenciais: a supervisão pedagógica (que analisa a prática de supervisores na rede escolar de ensino no contexto da formação de professores de níveis educacionais distintos e áreas de conhecimento diversas) e a supervisão na formação de profissionais da saúde, contexto no qual a supervisão em psicologia se enquadraria. No contexto da psicologia, por tradição a supervisão se relaciona mais com o campo da psicologia clínica. Entretanto, a investigação realizada por Silva Neto, Oliveira e Guzzo (2017) identificou, na literatura pesquisada, trabalhos acadêmicos no âmbito da psicologia social, política e dos direitos humanos; da psicologia jurídica, hospitalar e da saúde; e da psicologia comunitária e escolar. Partindo do reconhecimento da existência dessas possibilidades de compreensão da supervisão e de seus contextos, Silva Neto e Oliveira (2015) afirmam — em estudo bibliométrico sobre artigos acadêmico-científicos relativos à supervisão em psicologia no Brasil — que, mesmo se referindo a um vocábulo polissêmico, o espaço da supervisão propriamente dito é entendido, em geral, como instrumento essencial para a formação do psicólogo na medida em que abre espaço à discussão sobre o saber-fazer na psicologia, articulando teoria e prática por meio do trabalho conjunto entre supervisor e estagiários. Ainda à luz daqueles autores, a supervisão tem a função de propor estratégias que transformem o futuro psicólogo em um problematizador de sua prática e da realidade em que intervém. Coadunando-se com essa concepção de Silva Neto e Oliveira, Diehl, Maraschin e Tittoni (2006) entendem a supervisão como campo de experimentação e produção de novas ações e maneiras de atuar. • 23 Estágio curricular supervisionado em psicologia: aspectos legais, potencialidades e desafios... Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.19-29 ISSN:2446-6220 Ao analisarem especificidades da supervisão no contexto da psicologia escolar, Silva Neto, Oliveira e Guzzo (2017, p. 579) defendem que “[...] supervisionar uma prática não trata apenas de ensinar a aplicar técnicas do trabalho profissional, mas, mais do que tudo, a permitir que estagiários consigam ler a realidade para além da aparência”. Segundo a perspectiva de Silva, Ribeiro e Marçal (2004, p. 87), o papel da supervisão é “[...] promover a reflexão sobre as técnicas utilizadas em psicologia, enfatizando o estagiário na construção de seu percurso profissional”. Trazendo outras significações sobre as funções da supervisão, Barletta, Delabrida e Fonseca (2011) destacam o papel desse dispositivo não apenas no desenvolvimento técnico, mas também no crescimento pessoal do estagiário. Sobre o papel do supervisor na formação do psicólogo, entende-se que esse profissional é responsável pela construção de estratégias de acompanhamento (não tutela) e avaliação das atividades desenvolvidas pelos estagiários, qualificando suas ações, apresentando modos de atuação e vislumbrando como alcançar o objetivo de materializar, por meio da experiência do estágio, a unidade entre teoria e prática na atuação profissional do futuro psicólogo e, desse modo, contribuir para uma formação integral e crítica dos estagiários (SILVA NETO; OLIVEIRA, 2015). Na concepção apresentada por Angst e Silva (2009), a atuação do supervisor precisa contribuir para a qualificação das práticas desenvolvidas pelo estagiário no campo de estágio, auxiliando e instrumentalizando o estudante na problematização das questões e dos desafios apresentados pelo contexto, acompanhando a construção de enfrentamentos cabíveis à realidade que se lhe impõe, enfim, constituindo-se como ensaio para sua prática profissional. Para Silva (2004), o supervisor tem o papel de articular aspectos básicos da atuação do profissional em psicologia como manejos técnicos e elementos éticos, considerando sempre os fundamentos teóricos sólidos e cientificamente reconhecidos. No dizer de Sei e Paiva (2011), além do acompanhamento das práticas desenvolvidas pelos estagiários e da atenção a pessoas e instituições acolhidas por meio desse trabalho, é papel do supervisor manejar angústias, sofrimentos e as relações do grupo de estagiários. A necessidade de que esteja atento a esses quesitos advindos da prática do estágio é sinalizada, também, por Emílio et al. (2012). Sá, Azevedo Júnior e Leite (2010), ao discutirem o papel do supervisor acadêmico na formação do estagiário em Psicologia, destacam que é imprescindível a esse profissional manter uma abertura para o estranhamento e cultivar o exercício de não saber ou de não ter respostas prontas para todos os desafios teóricos e práticos que o desenrolar do estágio impõe. Por fim, destaca-se que o supervisor não executa as ações do estágio diretamente; antes, ocupa um lugar privilegiado que tem o sentido de “[...] ajudar a elaborar novas práticas e intervenções alternativas potencialmente transformadoras e fortalecedoras, em vez de ser mantenedoras das estratégias de controle social” (SILVA NETO; OLIVEIRA; GUZZO, 2017, p. 578). A apresentação das concepções a partir das quais esses autores analisam o papel e o lugar do supervisor revela a complexidade e natureza desafiadora do trabalho que o profissional tem a concretizar. Nesse contexto, vale reiterar que o campo do estágio precisa ser um terreno no qual o estagiário, acompanhado pelo supervisor, possa construir, de modo autoral e autônomo, seu processo de formação e se tornar capaz de refletir, de modo crítico, sobre as possibilidades de intervenção psicológica ante as demandas concretas dos setores nos quais pretende atuar (SILVA; RIBEIRO; MARÇAL, 2004; SAKAMOTO, 2006; BARLETTA; FONSÊCA; DELABRIDA, 2012; SILVA NETO; OLIVEIRA, 2015). Também cabe destacar que as relações e os encontros vivenciados coletivamente pelos estagiários têm um papel potente na aprendizagem e no desenvolvimento de cada membro do grupo (TAVORA, 2002). O processo de aprendizagem circunscrito à supervisão não pode ser entendido conforme lógicas tradicionais em que o supervisor é o detentor do saber que ensina a quem não sabe — o estudante — o que precisa ser aprendido (SEI; PAIVA, 2011). Dadas as potencialidades até agora discutidas sobre estágio curricular supervisionado em Psicologia, torna-se premente a discussão dos desafios SILVA NETO, W.M.F.; LIMA, C.P. • 24 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.19-29 ISSN:2446-6220 a ser enfrentados para que essas possibilidades consigam se efetivar. Em primeiro lugar, ante as complexidades das tarefas apresentadas aos supervisores para qualificar e formar psicólogos, defende-se que a supervisão precisa ser conduzida por um profissional com experiência prática e conhecimento teórico-científico sólido.No entanto, como analisam Silva Neto e Oliveira (2015), os artigos acadêmicos que discutem os processos de avaliação de supervisores evidenciam a fragilidade da formação desses profissionais para o exercício da supervisão acadêmica. Segundo os autores, resguardadas algumas poucas exceções, a maioria dos supervisores de estudantes de Psicologia não teve uma formação que os respaldasse diretamente na prática de supervisão. Ante a constatação desse fenômeno, Silva Neto e Guzzo (2016, tradução nossa) explicam que muitos profissionais que supervisionam estágios acabam se formando como supervisores com base na própria vivência da supervisão. Sem subestimar a centralidade da prática na formação dos profissionais de psicologia (dentre os quais se encontra o supervisor), entende-se, como anunciado, que a prática sem teoria acaba tornando-se arbitrária (ADORNO, 1995). A importância de analisar os processos formativos do supervisor reside na possibilidade de compreender alguns desafios inerentes à formação do psicólogo de modo geral. No documento publicado pelo CFP (2013) — que busca contribuir para a discussão no campo da formação do psicólogo —, denuncia-se que, muitas vezes, o supervisor não assume uma posição social e política clara e orientadora de sua prática de supervisão, não explicita qual perfil profissional está formando e ignora até as diretrizes curriculares nacionais para cursos de graduação em Psicologia, que deveriam constituir um norte para suas ações. Essa questão tem um desdobramento complexo para as possibilidades de a Psicologia formar profissionais comprometidos com o enfrentamento de problemas sociais cotidianos que se engendram como demandas psicológicas, pois — tal qual discute Caniato (2013) — um perfil profissional não se forja teoricamente, e sim por meio de práticas profissionais constituídas no seio da dinâmica cotidiana da realidade concreta e com base em fundamentos filosóficos e teóricos sólidos e coerentes. Além disso, existe pouca produção científica a respeito de métodos de supervisão, o que indica uma dificuldade em compartilhar práticas bem-sucedidas ou malsucedidas que poderiam contribuir para a atividade de supervisão de outros profissionais (BARLETTA; FÔNSECA; DELABRIDA, 2012; SEI; PAIVA, 2011; SILVA NETO; OLIVEIRA, 2015). No tocante aos princípios orientadores para a prática do supervisor no contexto da supervisão em psicologia escolar, Silva Neto (2014) e Silva Neto e Guzzo (2016, tradução nossa) defendem a tese de que a inserção do supervisor no campo e sua leitura crítica da realidade educacional são os elementos principais para que se torne possível a formação de futuros psicólogos comprometidos com a área e com os desafios a ser enfrentados em sua construção e consolidação. À parte os aspectos teóricos e metodológicos, existem desafios na regulamentação da atividade de supervisão no contexto do Sistema Conselhos de Psicologia e na elaboração de critérios para contratação dos psicólogos supervisores (COSTA JÚNIOR; HOLANDA, 1996). Como discute Gonçalves (2000), não há definição do perfil desse profissional, tampouco critérios para sua contratação nas Instituições de Ensino Superior. No caso das relações com estas, Silva Neto e Guzzo (2016, tradução nossa) salientam a necessidade de avaliações do contexto de trabalho do supervisor, destacando a articulação do estágio com a formação geral dos estudantes, o número de estagiários por grupo de supervisão e a dimensão das questões trabalhistas por meio das quais os supervisores são contratados. Em pesquisa anterior, Silva Neto (2014) discutiu o impacto das condições de trabalho de supervisores da área da psicologia escolar na organização da supervisão e na possibilidade de concretização de um trabalho com qualidade. Nesse cenário, Silva Neto e Oliveira (2015) questionam o papel das instituições educacionais no processo de escolha dos supervisores e como elas têm elegido os profissionais que acompanham a formação dos psicólogos no contexto do estágio curricular supervisionado; destacam a necessidade de se realizarem pesquisas que possam conhecer o perfil dos supervisores acadêmicos que atuam no contexto da formação em Psicologia no Brasil; enfim, asseveram que o crescimento da oferta de • 25 Estágio curricular supervisionado em psicologia: aspectos legais, potencialidades e desafios... Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.19-29 ISSN:2446-6220 graduação na área não tem sido acompanhado por uma preocupação com questões estruturais para a manutenção dos cursos, sobretudo com as condições de trabalho dos professores e supervisores acadêmicos. Convém reiterar outro desafio apresentado no contexto do estágio curricular supervisionado em Psicologia: ante a complexidade inerente ao próprio campo de estágio, o foco das atividades desenvolvidas acaba, por muitas vezes, deslocando-se para a formação do psicólogo e deixa muito a desejar na qualidade do serviço oferecido à população (YEHIA, 1996; SILVARES, 1996). Como se lê, tornam-se necessários questionamentos e problematizações com o sentido de inquirir os psicólogos em formação e os profissionais que se ocupam da supervisão sobre quais são os compromissos que, efetivamente, a psicologia tem assumido perante as reais necessidades da maioria da população brasileira. Considerações finais A discussão aqui apresentada organiza-se em nome da defesa de que a concretização das potencialidades encontradas no interior na prática do estágio em psicologia — promoção do protagonismo do estágio e efetivação da unidade entre teoria e prática na psicologia como ciência e profissão — está submetida à influência de determinantes que constituem esse dispositivo de formação do psicólogo. Diante dessa complexidade, elegeu-se a análise da função da supervisão e do supervisor como ponto de discussão para construir práticas formativas úteis à superação de lógicas tecnicistas e elitistas e concretizar práticas úteis a uma transformação das relações sociais que garanta melhores condições de vida para a maioria da população. A reflexão que se depreende da discussão sobre estágio curricular supervisionado em Psicologia aponta a constituição de um terreno fértil para o debate e a análise dos desafios postos à própria psicologia; ou seja, às suas possibilidades de atuar em meio à complexidade das demandas por atendimento psicológico apresentadas pela realidade brasileira. Entende-se que os direcionamentos dados a esse dispositivo formativo contêm projetos ético-políticos para a psicologia como ciência e profissão. Esta análise ganha ainda mais relevo no contexto da psicologia se se considera a trajetória desse campo de conhecimento e atuação no Brasil. Muitos são os desafios para construir uma identidade profissional que se coloque, efetivamente, a serviço dos interesses da maioria da população brasileira, como assevera Guzzo (2015): a psicologia no Brasil desenvolve-se com uma trajetória marcada por matizes ideológicos variados que carrega marcas da colonização e da proposição de práticas que perpetuam os interesses das elites — por vezes camufladas em discussões que restringem o saber psicológico a problemas de ordem instrumental e tecnicista; não por acaso, práticas que colaboram para a manutenção do status quo por escamotearem as condições concretas, sociais, históricas, culturais, econômicas e políticas que determinam a vida humana — com tentativas de construção de atuações profissionais que assumam um compromisso com a construção de melhores condições de vida para a maioria da população brasileira. Assim, defende-se que as discussões sobre como o estágio curricular supervisionado em Psicologia podem construir vias para concretizarsuas potencialidades no contexto da formação do psicólogo; o que qualifica as análises sobre os caminhos e rumos que essa ciência e profissão pode tomar quanto a se comprometer com o enfrentamento das desigualdades sociais. Referências ADORNO, T. W. Notas marginais sobre teoria e práxis. In: T. W. ADORNO. T. W. Palavras e sinais: modelos críticos 2. Petrópolis: Vozes, 1995, p. 202–29. SILVA NETO, W.M.F.; LIMA, C.P. • 26 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.19-29 ISSN:2446-6220 ANGST, R.; SILVA, M. B.. In. Anais do IX Congresso Nacional de Educação e III Encontro Sul Brasileiro de Psicopedagogia. Curitiba: Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2009. Disponível em: http://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2009/2019_1198.pdf. Acesso em: 30 nov. 2018. BARLETTA, J. B.; DELABRIDA, Z. N. C.; FONSÊCA, A. L. B. 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Recebido em 10/11/2018 Aprovado em 15/01/2019 http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-12052017-150732/pt-br.php http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-12052017-150732/pt-br.php http://www.scielo.br/pdf/pe/v7n1/v7n1a13.pdf http://tede.bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br:8080/jspui/bitstream/tede/456/1/Raquel%20Pondian%20Tizzei.pdf http://tede.bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br:8080/jspui/bitstream/tede/456/1/Raquel%20Pondian%20Tizzei.pdf mailto:walter.neto@uftm.edu.br mailto:carita.portilho@yahoo.com.br Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.30-43 ISSN:2446-6220 FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO E ESTÁGIOS CURRICULARES: UM ESTUDO DE CASO REALIZADO NA PUC/MINAS Psychologist training and curricular internships: a case study carried out at PUC/ Minas Formación del psicólogo y pasantías curriculares: un estudio de caso realizado en la PUC/Minas Bruno de Morais Cury João Leite Ferreira Neto Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais [PUC/MG] – Bra. RESUMO O objetivo do presente trabalho é discutir os estágios curriculares supervisionados na graduação em Psicologia e contribuições ao percurso formativo do psicólogo. A pesquisa de campo foi realizada na PUC Minas e teve como base um estudo de caso que envolveu entrevistas semiestruturadas individuais com a participação de duas supervisoras e a coordenadora de estágio da instituição selecionada, além de grupos focais com estudantes do curso de Psicologia. As devolutivas enfatizam que o enriquecimento da formação profissional envolve não somente o domínio de competências pelos futuros profissionais, mas dos agentes formadores, isto significa dizer que os supervisores e coordenadores de estágios devem ter mais e maior aprofundamentos quando o assunto é o desenvolvimento de competências e diversificação de métodos, visto que a sensibilização para o mundo do trabalho demarca tais solicitações. Palavras-chave: Estágio curricular. Formação do psicólogo. Diretrizes curriculares. Competências e habilidades. ABSTRACT The objective of the present work is to discuss supervised curricular internships in Psychology and contributions to the psychologist's training course. The field research was carried out at PUC Minas and was based on a case study that involved individual semi-structured interviews with the participation of two supervisors and the stage coordinator of the selected institution, as well as focus groups with students of the Psychology course. The devolutives emphasize that the enrichment of vocational training involves not only the mastery of competences by future professionals, but also of the training agents, this means that supervisors and trainees should have more and more depth when it comes to the development of competencies and diversification of methods, since the awareness of the world of work demarcates these demands. Keywords: Internship curriculum. Psychologists training. Curriculum guidelines. Skills and abilities. RESUMEN El objetivo del presente trabajo es discutir las pasantías curriculares supervisadas en el pregrado de Psicología y contribuciones al recorrido formativo del psicólogo. La investigación de campo fue realizada en la PUC Minas y tuvo como base un estudio de caso que involucró entrevistas semiestructuradas individuales con la participación de dos supervisoras y la coordinadora de pasantías de la institución seleccionada, además de grupos focales con estudiantes del curso de Psicología. Las devolutivas enfatizan que el enriquecimiento de la formación profesional implica no sólo el dominio de competencias por los futuros profesionales, sino de los agentes formadores, esto significa que los supervisores y coordinadores de pasantías deben tener más y mayor profundidad cuando el asunto es el desarrollo de competencias y diversificación de métodos, ya que la sensibilización para el mundo del trabajo así lo exigen. Palabras-clave: Pasantía curricular. Formación del psicólogo. Directrices curriculares. Competencias y habilidades. DOI: https://doi.org/10.24115/S2446-6220201951610p.30-43 . • 31 Formação do psicólogo e estágios curriculares: um estudo de caso realizado na Puc/Minas Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.30-43 ISSN:2446-6220 Introdução formação acadêmica é marcada por diversas relações que a cercam. As interações aluno/aluno, aluno/professor, aluno/funcionário e entre os professores fazem parte da relação interpessoal que é o alicerce que oportuniza a aprendizagem a partir da qual se dá sua eficácia. A estrutura da instituição, a formação do corpo docente, sua diversidade, as condições de trabalho oferecidas, a gestão do curso e da instituição, também são fatores que concorrem para a qualidade da formação oferecida. A entrada brusca dos alunos em uma situação desconhecida é um fator desencadeante de tensões e ansiedades. Estes tipos de sentimento interferem de modo negativo no aprendizado, sendo imprescindível que o docente que atua diretamente em campo de estágio – principalmente no estágio inicial, ou seja, aquele que vai ser o debut do aluno em campo de estágio – incorpore atitudes de compreensão do outro (CARVALHO et al., 1999). Afinal, durante todo o curso, o aluno deve fazer um intenso trabalho de autorreflexão. A partir do debate sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais, os estágios são definidos como conjuntos de atividades de formação, programados e diretamente supervisionados por membros do corpo docente da instituição formadora, que procuram assegurar a consolidação e articulação das competências estabelecidas. Estes visam assegurar o contato do formando com situações, contextos e instituições, permitindo que conhecimentos, habilidades e atitudes se concretizem em ações profissionais, sendo recomendável que as atividades do estágio supervisionado se distribuam ao longo do curso (BRASIL, 2004). A atual tendência das IES, induzidas pelas Diretrizes de colocarem o início dos estágios curriculares cada vez mais cedo nos cursos de graduação em Psicologia, tem gerado profundas mudanças na forma como os mesmos são concebidos, inclusive na sua relação com as disciplinas de núcleo comum e das ênfases. Fazer o aluno escolher uma dentre duas ou mais ênfases que são oferecidas no último ano interrompendo o núcleo comum, como faz o curso estudado, talvez não seja a melhor maneira de operacionalizar o que as diretrizes curriculares propõem (Art. 14). A organização do curso de Psicologia deve, de forma articulada,garantir o desenvolvimento das competências do núcleo comum, seguido das competências das partes diversificadas - ênfases - sem concebê-los, entretanto, como momentos estanques do processo de formação (BRASIL, 2004, grifo do autor). As Diretrizes Curriculares são claras ao especificarem que “as ênfases devem incorporar estágio supervisionado estruturado para garantir o desenvolvimento das competências específicas previstas” (BRASIL, 2004, p.207). No entanto, algumas IES têm optado, por exemplo, para que o aluno faça disciplinas de núcleo comum durante todo o curso, e somente algumas disciplinas específicas de ênfases sejam oferecidas juntamente com outras do núcleo comum, com os respectivos estágios supervisionados. O estágio básico é uma disciplina que integra a nova proposta de currículo do curso de graduação em Psicologia, antecipando, assim, sua aproximação do campo das práticas. Os objetivos dos estágios de núcleo básico são: promover a relação e o compromisso social dos alunos com a população regional, na perspectiva da Psicologia enquanto ciência e profissão, bem como propiciar a reflexão sobre os condicionantes históricos das características psicossociais da população regional. Como produto das reformas curriculares que se seguiram às Diretrizes, essa disciplina visa proporcionar ao estudante um contato inicial com o exercício da profissão, diminuindo a distância entre o campo e a sala de aula, lacuna observada na proposta anterior de “currículo mínimo”. Nota-se, também, que os estágios do final de curso tendem a ser mais valorizados, o que acaba, às vezes, por desmerecer os de núcleo básico (BRASIL, 2004). Os estágios devem ser planejados para a diversidade de cenários e modalidades de práticas profissional do psicólogo, dentre elas: acompanhamento terapêutico, análise institucional, trabalho em grupo, orientação vocacional, trabalho em equipes de recursos humanos junto ao setor jurídico, visitas domiciliares e a intensificação de cuidados em saúde. A integração teórico e prática durante o estágio aparece como confronto entre ambas, a formação prática ao invés de capacitar o aluno para analisar situações A CURY, B.M.; FERREIRA NETO, J.L. • 32 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.30-43 ISSN:2446-6220 em que irá atuar, estaria proporcionando apenas a aprendizagem técnica e a repetição automatizada da teoria nas diversas situações com clientes futuros (SILVA, 1999, p.4). Para Matos (2000), o curso de formação do psicólogo deve constituir uma plataforma para o desenvolvimento de profissionais capazes de responder, ao mesmo tempo, às necessidades de aperfeiçoamento da ciência psicológica e ao atendimento de necessidades sociais Desenvolvimento Como estratégia de produção dos dados, esta pesquisa qualitativa teve como base um estudo de caso, que envolveu procedimentos entrevistas individuais e grupos focais. Dentre os objetivos desse tipo de estudo, de acordo com Becker (1999), está um propósito duplo: por um lado, tenta- se chegar a uma compreensão abrangente do grupo ou situação social estudada e, por outro, tenta desenvolver declarações teóricas mais gerais sobre regularidades do processo e estruturas sociais. Tal etapa consistiu numa pesquisa de campo realizada por meio de entrevistas individuais a duas supervisoras e a coordenadora de estágio, além de grupos focais com estudantes do curso de Psicologia. A coleta desses dados foi feita na Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUC Minas/ Unidade Coração Eucarístico), localizada na cidade de Belo Horizonte/MG. O Projeto de Pesquisa foi aprovado sob o código CAAE – 0305.0.213.000-10 pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUC Minas, em 18 de Fevereiro de 2011. De acordo com Boschi e Marçolla (2009), a criação da Faculdade de Psicologia da PUC Minas – Unidade Coração Eucarístico foi uma ousadia de pioneiros que, antecedendo à regulamentação da profissão, em 27 de agosto de 1962, tornou-se o primeiro curso de Psicologia de Minas Gerais e o terceiro no Brasil. A Psicologia foi a ciência em destaque que possibilitou reformular o ensino e capacitar os formadores de uma nova sociedade. A educação encontrou na Psicologia a sustentação do novo projeto educacional. A prática do professor, por meio de métodos científicos, permitiria o controle da experimentação, garantindo a qualidade dos resultados (BOSCHI; MARÇOLLA, 2009, p.19). Por ocasião do aniversário de 50 anos desse curso, foi elaborado um número especial do periódico “Psicologia em Revista”, no qual vários docentes do curso contribuíram com artigos que discutem os cursos presentes nas cinco unidades da PUC Minas no estado de Minas Gerais: as duas de Belo Horizonte (Coração Eucarístico e São Gabriel), juntamente as de Betim, Arcos e Poços de Caldas. De acordo com Felippe (2009), o sistema de estágio tornou-se um ponto forte do curso, proporcionando uma formação profissional ancorada em intervenções em situações reais junto à população, especialmente o segmento das camadas populares, e junto às instituições sociais e organizações produtivas. Em 2003, foi proposto um novo projeto político-pedagógico para o curso, com a pretensão de não apenas formar um psicólogo apto para o mercado, mas um psicólogo com competências e habilidades para produzir seu próprio espaço de trabalho, já sob a influência do debate nacional em torno das Diretrizes Curriculares (JORGE; MOREIRA; SILVA; ANDRADE, 2009). Para os autores, O estágio constituiu-se, então, em parte essencial e privilegiada da aprendizagem e da formação com qualidade do aluno. Dessa maneira, os estágios no novo currículo, na sua concepção, buscaram explorar ao máximo toda a riqueza da prática na situação real, instigando novos questionamentos e articulando com os conhecimentos mais abrangentes da Psicologia e de áreas afins, constituindo-se no espaço primordial da interdisciplinaridade (JORGE; MOREIRA; SILVA; ANDRADE, 2009, p.70). . • 33 Formação do psicólogo e estágios curriculares: um estudo de caso realizado na Puc/Minas Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.30-43 ISSN:2446-6220 As entrevistas seguiram um modelo semiestruturado, no intuito de uma orientação do que eu deveria perguntar, a fim de obter as respostas para os dados que interessavam à pesquisa, ao mesmo tempo em que os entrevistados pudessem também sentir-se livres para trazer outros elementos que poderiam não ter sido perguntados. Foram realizadas três entrevistas, uma com a coordenadora de estágio e duas com supervisoras de estágio (uma de cada ênfase), além de dois grupos focais. A coordenadora de estágio entrevistada além de exercer esta função, supervisiona no turno da noite o estágio em “Psicodiagnóstico” (VII, 7º período), “Diagnóstico Organizacional” (VIII, 7º período), “Grupos de recepção” (IX, 8º período) e, no turno da manhã, o estágio de “Intervenção no Campo do Trabalho” (IX, 8º período). A primeira supervisora entrevistada supervisiona os estágios em “Avaliação psicopedagógica” (V, 6º período), “Psicopedagogia” (X, 8º período) e “Psicopedagogia clínica” (XII, e XIV, nono e décimo períodos, ênfase Psicologia Clínica), nos turnos da manhã e noite e o estágio de “Oficina de pensamento e expressão” (VII, 7º período) apenas para o turno da noite. A segunda supervisora entrevistada supervisiona os estágios em “Psicologia do trabalho e intervenção em organizações” (XII, 9º período, ênfase POS – Psicologia, Organizações e Sociedade) e “Intervenção em organizações e Instituto de divisão de setores” (XIV, 10º período, ênfase POS– Psicologia, Organizações e Sociedade), nos turno da manhã e noite e o estágio de “Psicologia e trabalho: diversidade na contemporaneidade” (XII, 9º período, ênfase POS – Psicologia, Organizações e Sociedade) apenas para o turno da noite. As perguntas para a coordenadora e as supervisoras de estágio envolveram aspectos que englobavam conhecimento sobre o projeto político-pedagógico do curso, a experiência enquanto docente da Instituição, o conhecimento das Diretrizes Curriculares Nacionais, as funções dos estágios curriculares, as diferenças do trabalho do professor e do supervisor e se a oferta de estágios por parte da Instituição era suficiente para o ingresso dos alunos no mercado de trabalho. Como critérios de inclusão para escolha das supervisoras de estágio, foram adotados os seguintes: a) ser supervisora de estágio dos dois turnos em que o curso é oferecido; b) ter experiência de, no mínimo, dois anos nessa atividade; c) ser supervisora de estágio de uma das ênfases que o curso oferece; e d) ser supervisora de estágio do nono ou décimo período do curso. Como critérios de exclusão: a) ter experiência apenas com supervisora de estágio, e não como professora; e b) ser supervisora de estágio anterior ao nono período do curso. O grupo focal reúne várias pessoas interessadas em discutir o tema da pesquisa, é conduzido pelo pesquisador e procura favorecer críticas e reflexões. O primeiro foi composto de sete alunos do nono e décimo períodos do curso de Psicologia (turno noite), sendo dois da ênfase curricular Psicologia, Organizações e Sociedade – POS e cinco da ênfase curricular Psicologia Clínica. O segundo teve cinco alunos do nono e um do décimo período do curso de Psicologia (turno manhã), sendo três da ênfase curricular POS e três da ênfase curricular Psicologia Clínica. Os alunos foram convidados para participarem dos grupos focais por e-mail, por aviso pessoal em sala de aula pelas coordenadoras de cada ênfase (Psicologia, Organização e Sociedade - POS e Clínica) e alguns abordados diretamente por mim. O número de alunos alcançado poderia ter sido maior do que o total de 13 (sete alunos do turno noite e seis do turno manhã), porém, alunos essencialmente do décimo período pediram para que eu voltasse em outro dia e horário, que estariam disponíveis e participariam do grupo. No entanto, os mesmos, no dia e hora combinados, não se dispuseram ao compromisso (esqueceram e/ou não foram à Universidade), tendo sido o grupo da manhã realizado com seis alunas do nono período e, o segundo, por cinco mulheres e dois homens. Desse modo, mesmo com um número reduzido de alunos, foram realizados os grupos focais. CURY, B.M.; FERREIRA NETO, J.L. • 34 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.30-43 ISSN:2446-6220 A escolha por alunos do nono e décimo períodos ocorreu pelo fato destes terem uma maior trajetória em relação à prática dos estágios, já que, na instituição em que foi feita a pesquisa, os mesmos se iniciam no segundo período do curso. Além disso, outros trabalhos indicam que alguns elementos da formação já se encontram mais solidificados quando o aluno está mais próximo de se formar, o que tornou possível traçar um panorama mais geral e completo do que aqueles que estão em outra fase (FERREIRA NETO; PENA, 2006). A escolha dos alunos por turnos justifica-se devido à hipótese de que a maturidade, a visão de mercado de trabalho e o comprometimento com o curso parecem ser diferentes entre eles, além dos períodos de trabalho (ocupação profissional) também não serem os mesmos. Essa realidade parece alterar se levarmos em conta que os alunos vindos do Pró-uni vêm mudando este perfil e os do turno da manhã vêm cada vez mais trabalhando após saírem da aula. Uma das alunas entrevistadas num dos grupos focais – ênfase Clínica, nono período do turno da manhã – mostrou-se insatisfeita por se sentir desprivilegiada no turno em que está e, ainda, criticou duramente os professores da instituição: Eu percebo que o curso da noite é muito mais aprofundado, muito mais bem dado teoricamente do que o da manhã, tanto que os professores são diferentes e a gente percebe que os professores da manhã são aqueles que já eram pra ter aposentado, ou já aposentaram e continuam dando aula, pra preencher tempo, e eles não dão do jeito que eles têm que dar, obviamente eles não dariam também, provavelmente, mas eles não dão a noite, não sei porque, mas é diferente, assim, a gente conversa com o pessoal que é do mesmo período, por exemplo, em clínica psicanalítica 2, é completamente diferente, eles sabem uma coisa que a gente fica assustado, porque a gente não sabe, a gente nunca nem ouviu falar! (A 13, ênfase CLÍNICA). Os critérios de inclusão de alunos foram: a) ter feito todos os estágios curriculares até o momento da entrevista; b) estar regularmente matriculado no nono ou décimo período do curso de Psicologia; e c) ter disponibilidade de horário de duas horas para o grupo focal. Já os critérios de exclusão de alunos foram: a) não estar regularmente matriculado no nono ou décimo período do curso; b) estar com algum estágio curricular pendente; e c) não ter a disponibilidade de participar de um grupo focal. As falas a partir das entrevistas individuais e dos grupos focais foram analisadas da seguinte forma: como pareceu haver concordância nas opiniões da coordenadora de estágio e das supervisoras entrevistadas, foram agrupadas no último capítulo o que pareceu ser temas comuns entre elas, indicadas pelas siglas C1, S1 e S2, respectivamente. As falas dos alunos entrevistados nos grupos focais que, por divergirem consideravelmente das professoras e terem sido produzidas em uma discussão de grupo focal, foram separadas das mesmas a fim de tornar mais clara a separação desses dois pontos de vista. Com isso, as siglas A1, A2, A3, A4, A5, A6, A7, A8, A9, A10, A11, A12 e A13 representaram os 13 alunos que foram entrevistados em dois grupos focais. Todas as entrevistas, incluídas as dos dois grupos focais, foram gravadas e transcritas, e serão identificadas conforme quadros abaixo: . • 35 Formação do psicólogo e estágios curriculares: um estudo de caso realizado na Puc/Minas Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.30-43 ISSN:2446-6220 Quadro 1. Identificação da coordenadora de estágio e das supervisoras entrevistadas ENTREVISTADO IDENTIFICAÇÃO Coordenadora dos estágios curriculares supervisionados C1 Supervisora de estágio curricular supervisionado da ênfase Psicologia Clínica turnos manhã e noite S1 Supervisora de estágio curricular supervisionado da ênfase POS – Psicologia, Organizações e Sociedade turnos manhã e noite S2 Fonte: Dados da pesquisa. Quadro 2. Identificação do Grupo Focal (turno noite) GRUPO FOCAL (TURNO NOITE) IDENTIFICAÇÃO Aluna, nono período, ênfase POS A1 Aluna, nono período, ênfase POS A2 Aluna, nono período, ênfase Psicologia Clínica A3 Aluna, nono período, ênfase Psicologia Clínica A4 Aluna, nono período, ênfase Psicologia Clínica A5 Aluno, décimo período, ênfase Psicologia Clínica A6 Aluno, décimo período, ênfase Psicologia Clínica A7 Fonte: Dados da pesquisa. Quadro 3. Identificação do Grupo Focal (turno manhã) GRUPO FOCAL (TURNO MANHÃ) IDENTIFICAÇÃO Aluna, nono período, ênfase POS A8 Aluna, nono período, ênfase POS A9 Aluna, nono período, ênfase POS A10 Aluna, nono período, ênfase Psicologia Clínica A11 Aluna, nono período, ênfase Psicologia Clínica A12 Aluna, nono período, ênfase Psicologia Clínica A13 Fonte:Dados da pesquisa. As perguntas para os alunos envolviam aspectos que englobavam a trajetória acadêmica do curso com foco nos estágios curriculares, nas funções dos estágios curriculares e em possíveis diferenças do trabalho entre o professor e o supervisor de estágio. O trabalho com grupos focais permitiu, assim, uma riqueza na coleta de dados e forneceu à pesquisa maior consistência para a análise das hipóteses. Como estratégia de análise dos dados obtidos, foi usada a análise temática de conteúdo, metodologia específica de análise quando na coleta estão presentes as entrevistas, seja semiestruturada ou em grupos focais, recursos utilizados na pesquisa. Esta metodologia pode ser CURY, B.M.; FERREIRA NETO, J.L. • 36 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.30-43 ISSN:2446-6220 entendida como uma das possibilidades derivadas da análise de conteúdo clássica (BARDIN, 2002; RICHARDSON et al., 1999). A análise temática de conteúdo “consiste em isolar temas de um texto e extrair as partes utilizáveis, de acordo com o problema pesquisado, para permitir sua comparação com outros textos colhidos da mesma maneira” (RICHARDSON, 1999, p.243). Na presente pesquisa, considerou-se a organização e os procedimentos para a realização prática da análise temática de conteúdo, devido à importância de se salientar que esta técnica parte da organização da sequência de uma análise inicial, da qual se mapeia de forma ampla e panorâmica os dados coletados, seguida do reconhecimento ou exploração desses dados para, finalmente, se alcançar a interpretação dos resultados. Conforme os trabalhos utilizados para o embasamento teórico da pesquisa, essa sequência pode ser variável. Tendo como eixo de análise a importância dos estágios curriculares na graduação em Psicologia, foram construídas, portanto, as seguintes categorias analíticas para a discussão do material pesquisado em campo: a) articulação dos estágios às dimensões necessárias para a formação universitária; b) estágio como articulador entre teoria e prática; c) relação dos estágios com as abordagens teóricas em Psicologia; e d) preparação do estagiário para o mercado de trabalho. Articulação dos estágios às dimensões necessárias da formação universitária Pensando no tripé que constitui o fazer acadêmico, ensino, pesquisa e extensão, o estágio está presente em todas essas dimensões e pode, até mesmo potencialmente, servir como elo entre elas (JORGE; MOREIRA; SILVA; ANDRADE, 2009). Para os autores, O estágio redimensiona os papéis de professor e aluno [...] Em situação de estágio, tais papéis devem solidarizar-se em torno da compreensão e encaminhamento de problemas que, não raro, constituem desafio para ambos. Dessa forma, o estágio pode superar vícios muitas vezes presentes nas relações ensinantes-aprendentes, em que o conhecimento transmitido se reifica, na forma de repetição, em detrimento da crítica e da inventividade (JORGE; MOREIRA; SILVA; ANDRADE, 2009, p.64). O ensino, dentre outros objetivos, é uma ferramenta poderosa de estratégia de aprendizagem. Os alunos concordam que os estágios são parte imprescindível da formação e, corroborando com essa ideia de ensino, destacam os pontos mais relevantes, bem como as principais vantagens: Bom, a meu ver, são interessantíssimos, acho importantíssimo, justamente por a gente ter a possibilidade do conhecimento de outras áreas, a gente aqui, acho que é uma coisa bacana, de abranger vários outros campos. Eu acho que é a oportunidade que a gente tem de conhecer outros locais do que a gente pode fazer, outras possibilidades, então a prática dos estágios ela é realmente imprescindível pra nossa formação (A 4 – ênfase CLÍNICA). Bem, é, a respeito dos estágios, sempre que me perguntam, eu falo, que foi, para mim, o que... onde eu mais aprendi, assim, enquanto, agora chegando no nono, ver a teoria na prática, eu acho que é uma grande oportunidade que o aluno, uma carga horária tão grande de estágios, né? Todos eles, acho que eles vem numa proposta de se completando ao longo do curso de cada vez ser mais intenso até chegar agora onde a gente tá (A 5 – ênfase CLÍNICA). Vê-se que mais do que considerarem os estágios como uma parte da formação, há uma ênfase na avaliação do estágio como sendo a parte mais relevante da formação. É o lugar onde eles mais aprenderam, o “ponto forte do curso”, que conjuga ensino e proximidade com o campo de trabalho. . • 37 Formação do psicólogo e estágios curriculares: um estudo de caso realizado na Puc/Minas Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.30-43 ISSN:2446-6220 É comum nas falas dos alunos o estágio como lugar puro de aprendizagem, a possibilidade do conhecimento das demais áreas da Psicologia e o mesmo enquanto aplicação da teoria de sala de aula se esvai. Um relevante desafio da formação é “fazer com que cada elemento do tripé universitário não se estabeleça num plano autônomo e dissociado do conjunto das experiências formativas que o aluno vivencia. Essa é uma dimensão a ser fortalecida em nosso cotidiano da formação” (FERREIRA NETO, 2011, p.47). Isso nem sempre se configura e por vezes os estágios são descritos como autônomos em relação à sala de aula. A pesquisa tem, neste trabalho, a conotação de produtor de problemas de investigação, sendo o estágio considerado a atividade que potencialmente carrega essa função. Duas alunas (um de cada ênfase) apontam que a pesquisa falta às mesmas e que ela deveria fazer parte de toda a formação; além disso, questionam se elas estariam de acordo com o que propõem as DCNs: Eu acredito que eles podiam casar metodologia de pesquisa quando você ta fazendo o seu estágio de projeto de pesquisa, que você fica um ano fazendo projeto de pesquisa, então, assim, acaba que se você conseguisse conciliar as duas coisas seria muito mais produtivo, aí você sai do método... você entra no estágio e fica mais perdido, então acho que isso é uma coisa muito complicada. (A 2 – ênfase POS). Eu acho que são suficientes, eu noto que falta um pouco do... um pouco de pesquisa nas ênfases e do curso inteiro, assim... e... o contexto espírito- investigativo na questão das ênfases, mas acho que elas contemplam sim. Agora, uma questão que eu coloco, é... é sobre as próprias ênfases, né? Porque as próprias diretrizes curriculares nacionais prevê a formação de um psicólogo como generalista, no entanto, quando cê chega no oitavo período, ce tem que fazer uma opção por uma das ênfases que é um certa especialização, né? (A 7 – ênfase CLÍNICA). Assiste-se a uma proliferação de cursos de graduação, mas o resultado, inclusive apontado pelo Enade, é de baixa qualidade do ensino, com sinais de desvinculação com a pesquisa, pois as competências relacionadas às investigações científicas estão entre as que apresentam maior demanda de requalificação. Vemos que mesmo reconhecendo-se a importância dos estágios no curso, sua articulação com o conjunto da formação ainda é frágil, cabendo mais ao aluno realizar essa conexão. Parece não haver protagonismo por parte dos discentes de fortalecer os laços entre as várias dimensões do processo formativo. Estágio como articulador entre teoria e prática Ferreira Neto (2011, p.43) aponta que a mudança de centro, a partir das DCNs para os cursos de graduação em Psicologia, de conteúdo para competências, “convoca os cursos ao enfrentamento de, pelo menos, dois de seus maiores perigos: as vicissitudes da relação entre teoria e prática na formação, e a segmentação, por vezes competitiva e iatrogênica, entreos diferentes campos que atravessam a organização dos cursos”. No que diz respeito às funções dos estágios curriculares, tanto a coordenadora de estágio quanto as duas supervisoras entrevistadas concordam que estes são imprescindíveis na formação, e os associam diretamente à teoria, como pode ser observado nos seguintes depoimentos: Os estágios são fundamentais. Sem a prática é difícil o salto da teoria, que promove a visão do que é universal para o particular. O ponto melhor da nossa estrutura vigente é termos 14 estágios, o MEC avalia bem esse quesito. O ponto- chave é poder aplicar a teoria junto à prática (C1). Eu acho que é algo assim bem interessante, diferente da formação que a gente já teve há mais ou menos vinte anos, porque são uma forma dos alunos praticar o conteúdo teórico adquirido. Então ele consegue aliar teoria à prática no campo de trabalho que ele tem interesse aperfeiçoar mais. Então é algo de alguns anos CURY, B.M.; FERREIRA NETO, J.L. • 38 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.30-43 ISSN:2446-6220 para cá que eu não acompanhei exatamente a partir de quando, mas, que dá uma outra visão para o aluno. Realmente, se ele se dedicar mesmo, ele tem todo o suporte da universidade neste sentido para conseguir adquirir este aprendizado (S2). Pode-se observar que, ao levarmos em conta o tempo dessas docentes na Instituição, C1 (21 anos) e S2 (10 anos), é ainda mantida a concepção dos estágios aplicarem ou praticarem a teoria, visão de certa forma contaminada pela concepção mais conteudista da formação. As alterações no currículo, por si somente, não garantiram a mudança de concepções e de processos de trabalho entre o corpo docente. De algum modo, mesmo que o vocabulário sobre “competências e habilidades” permear os documentos oficiais, sua inovação não produziu grandes impactos no cotidiano do curso, seja nos estágios, seja nas salas de aula, seja no restante das atividades do curso. Preparação do estagiário para o mercado de trabalho De acordo com Frasson (2008), o estágio costuma ser uma excelente oportunidade de iniciar a carreira e contar com um tempo – ainda misto de aprendizado e vivências práticas – de preparo para enfrentar com mais segurança os desafios de uma atividade efetiva. Os muitos movimentos do mercado de trabalho – fases de aquecimento e recessão, introdução de novos conceitos gerenciais, mudanças tecnológicas, novos padrões de comportamentos, entre outros – não fizeram as instituições abandonarem as ofertas de estágio (enquanto obrigação legal), o que reforça o quanto esta é uma prática solidificada e que traz bons resultados para todos os envolvidos nesse processo. Com relação à preparação dos alunos para o mercado de trabalho e aos estágios que a eles são oferecidos, a coordenadora de estágio e as duas professoras entrevistadas concordam que o fato deles se iniciarem no segundo período é fundamental para a experiência profissional do aluno. O “grande lance” dos estágios na Instituição é justamente eles se iniciarem no segundo período. Os alunos, assim, têm uma base para serem profissionais mais críticos, poderem pensar, refletir, questionar e propor intervenções (C1). Eu votei a favor. Não é bem um estágio, porque nosso aluno não é “jogado”. A partir do segundo período, ele tem um primeiro contato com as teorias e com as funções do psicólogo, acho leve. No terceiro período vem a pesquisa. Eu penso que a pesquisa, que a curiosidade, deveria banhar a graduação. Porque ainda, a meu ver, a graduação é uma educação compensatória... (S1). Eu acho que é importante porque eles começam desde as coisas elementares mesmo, como fazer uma escuta, como fazer uma pesquisa, coisas bem iniciais mesmo do projeto para eles conseguirem ir se colocando no mercado; então, acho que é interessante (S2). Nessas falas é reconhecida a importância dos estágios básicos, mas mesmo para uma das supervisoras não é claro se o que se inicia no segundo período, por exemplo, pode ser chamado dessa maneira. Em contraponto com o profissional, que se inicia geralmente no oitavo período do curso, há uma sobrevalorização destes devido à proximidade da formatura e maior autonomia por parte do aluno para atuar. As Diretrizes Curriculares não conceituam diferencialmente os dois estágios, pois aponta que ambos deverão incluir “o desenvolvimento de práticas integrativas das competências e habilidades” (BRASIL, 2004, p.208); seja no núcleo comum (estágios básicos), seja nas ênfases curriculares (estágios específicos). No entanto, não são semelhanças que se encontram nos depoimentos advindos das entrevistas. É possível notar um consenso entre a coordenadora de estágio e as supervisoras entrevistadas em considerarem que, mesmo com uma boa estrutura de estágios, eles não estão prontos para ingressarem no mercado de trabalho assim que se formam. O profissional recém-formado está inseguro; desde a graduação, há falta de implicação, de comprometimento. Percebo que os alunos sentem-se muito . • 39 Formação do psicólogo e estágios curriculares: um estudo de caso realizado na Puc/Minas Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.30-43 ISSN:2446-6220 inseguros quando chegam na prática, tanto quando iniciam os estágios quando são recém-formados. Nos primeiros estágios, não se interessam pela continuidade, como, por exemplo, no estágio “psicólogo na comunidade” (C1). Eu acho que a Universidade nunca consegue suprir tudo. Porque o objetivo dela também é formar conceitos e a prática ele vai ter que depois ir direcionando conforme a área realmente que ele está se colocando (S2). A relação entre educação e trabalho vem se estreitando em decorrência do reconhecimento de que a primeira, ao qualificar os trabalhadores, pode vir a contribuir para o desenvolvimento econômico. Gondim (2002) defende essa perspectiva, pois ela se torna mais visível não só a partir do surgimento das cidades modernas, que passaram a atribuir uma outra função à escola – a de formar cidadãos cientes de seus direitos e deveres –, como também das transformações científicas, tecnológicas e econômicas. Estas ocorreriam mais tarde e contribuiriam para o reconhecimento dos trabalhadores que dispusessem de uma escolarização básica, pois eles estariam mais habilitados intelectualmente a lidar com a complexidade crescente do sistema produtivo. A autora, ainda, questiona se há, de fato, a concretização de uma formação generalista nas IES: A ênfase numa formação generalista e a ampliação das possibilidades de experiência prática durante o curso superior são avaliadas como alternativas para atender a exigência de um perfil multiprofissional e proporcionar a maturidade pessoal e a identidade profissional necessária para agir em situação de imprevisibilidade, realidade a que estão sujeitas as organizações atuais. A dúvida é como isso está sendo concretizado na formação universitária (GONDIM, 2002, p.300). Bastos (2010) considera que embora seja comum pensar-se que o mercado, automaticamente, regula o volume de emprego e distribui os indivíduos de forma mais adequada, na realidade sua ação traduz decisões políticas, conscientes ou não. Tais decisões políticas, que integram quaisquer políticas econômicas, moldam o mercado de trabalho quando interferem em fatores que condicionam a intensidade da atividade econômica (por exemplo, disponibilidade financeira) e as tecnologias utilizadas. Vale assinalar que uma política de formação de mão de obra é um dos componentes de uma política econômica mais ampla e envolve a intervençãodo Estado na fixação de metas e alocação de recursos para o desenvolvimento de pessoal qualificado em áreas julgadas necessárias. “O mercado de trabalho é o lugar para onde convergem todas as consequências da adoção da recessão como mecanismo de combate aos problemas econômicos vividos pelo país” (BASTOS, 2010, p.29). Bastos, Gondim e Borges-Andrade (2010), em pesquisa sobre o trabalho do psicólogo no Brasil, constataram que a Psicologia se estrutura como uma profissão que oferece múltiplas portas de ingresso no mercado de trabalho. Isso resulta das possibilidades de trabalho assalariado em diferentes setores produtivos ao lado do trabalho autônomo. Tal multiplicidade também se revela no conjunto diversificado de atividades desenvolvidas, significando que os recém-graduados têm encontrado espaços para realizar seus distintos interesses de atuação. Considerações finais Após realização desta pesquisa, concluiu-se que o estágio, enquanto importante produto da formação deve preparar o aluno aspirante a psicólogo, neste contexto específico, para desenvolver as competências e habilidades necessárias ao exercício da profissão. Para Scottini (1998), competências descrevem habilidades ou capacidades humanas para realizar algo. A noção de competência assinala um saber integrador que responde às especificidades de um contexto da ação. Já Libâneo (2004) destaca que competências são as capacidades, habilidades, qualidades e atitudes relacionadas a conhecimentos práticos e teóricos que possibilitam a um profissional exercer adequadamente a sua profissão. É, ainda, para Bronckart e Dolz (2004), uma tentativa de redefinir CURY, B.M.; FERREIRA NETO, J.L. • 40 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.30-43 ISSN:2446-6220 e organizar os objetos e objetivos dos procedimentos de uma formação, assim como as capacidades exigidas dos aprendizes e de seus formadores. As competências são construídas por meio de processos de aprendizagem influenciados por três conjuntos de capacidades humanas: conhecimentos (informação, saber o quê e saber o porquê), habilidades (técnica, capacidade e saber como) e atitudes (querer fazer, identidade e determinação) (BRANDÃO; GUIMARÃES, 2001). São essas três dimensões que geram a capacidade de atuar, fundamentada na inteligência e personalidade das pessoas (FLEURY; FLEURY, 2001). Na presente pesquisa, a dificuldade da interlocução entre teoria e prática se mostra confusa no depoimento dos alunos e estes consideram restritas suas oportunidades de atuação no campo. Ferreira Neto (2011, p.46) suspeita que “só recentemente temos no Brasil as condições de possibilidade para uma formação que reúna, de modo crítico e criativo, teoria e prática”. Isso se relaciona, segundo o autor, ao avanço dos Programas de Pós-Graduação no país, que, juntamente com o incentivo à pesquisa, e o conjunto de estágios oferecidos pelos cursos em cumprimento às Diretrizes Curriculares, podem e têm permitido avanços significativos. As IES, contudo, no que diz respeito à graduação, oferecem apenas uma frágil base, que deve, por sua vez, ser fortalecida com a busca de conhecimento e aperfeiçoamento profissional por parte dos alunos aspirantes a psicólogos. No estudo de caso em questão, feito na PUC Minas – Unidade Coração Eucarístico, percebemos que a instituição pode estar pulverizando, fragmentando a formação, no sentido de que os estágios oferecidos são curtos. Faz-se, assim, muitas atividades pequenas, o que nos parece empobrecer a formação. O estágio não parece formar profissionais próximos da realidade da população brasileira e nem preparados para ingressarem no mercado de trabalho. A inserção do aluno na prática, no momento do estágio curricular, deveria voltar-se para a preparação de um profissional que fosse capaz de pensar cenários, de analisar demandas e, ainda, de elaborar, executar, avaliar e aprimorar projetos; um treinamento que atenderia à demanda externa, favorecendo ao aluno a capacidade de análise da realidade brasileira, que envolveria postura crítica e ética. O psicólogo brasileiro necessita atualizar-se constantemente, aprender novas tecnologias de trabalho, criar recursos e conhecimentos psicológicos, tornar-se polivalente, trabalhar em equipes multiprofissionais, incorporar às práticas profissionais múltiplas abordagens, metodologias e técnicas de intervenção provenientes de outras áreas do saber, além de ampliar a sua visão de mundo, sua concepção sobre a natureza dos fenômenos psicológicos e sua clientela. O psicólogo, nesse contexto, precisa desenvolver-se para atuar como agente de transformação social, que procura intervir em contextos de alta complexidade para promover melhorias na qualidade de vida do ser humano. Há pesquisas nacionais sobre formação do profissional de psicologia no nível de graduação, porém são escassas as informações sobre estratégias de qualificação e requalificação utilizadas pelo psicólogo brasileiro após inserção no mercado de trabalho (ABBAD; MOURÃO, 2010). O bom psicólogo, seria aquele capaz de identificar demandas de trabalho. De acordo com Matos (2000), o ideal seria que se desse aos alunos a oportunidade de exercerem as habilidades e conhecimentos que teriam adquirido durante o curso, de forma que esta qualificação não ficasse restrita às pós-graduações. O melhor seria que isso fosse feito ainda antes da titulação final desses alunos, para que eles tivessem a chance de discutir com alguém sua avaliação da situação problema, sua proposta de intervenção, bem como sua avaliação da intervenção. Também seria viável que isso fosse feito durante os estágios, completando e validando sua formação, não após sua formatura em sessões de “supervisão de caso”. Uma atenção especial deve ser dada a um projeto de atividade de estágio supervisionado no que diz respeito à sua duração. Atualmente as horas de estágio encontram-se distribuídas entre várias áreas e subáreas de atuação da Psicologia, entre temas e assuntos variados, em uma verdadeira miniaturização que representa a especialização no seu pior sentido, o de redução de capacitação. Sob a égide de “estágio” se misturam, às vezes, até atividades de pesquisa, que não estão voltadas – pelos seus objetivos – para a atuação profissional, e sim para a construção de conhecimento. O aluno . • 41 Formação do psicólogo e estágios curriculares: um estudo de caso realizado na Puc/Minas Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.30-43 ISSN:2446-6220 participa de pesquisas de campo e de laboratório, e isto é ótimo, mas não se trata de estágio (MATOS, 2000, p.21). Sobre a necessidade de capacitação dos psicólogos, a pesquisa mostrou que grande parte dos psicólogos pesquisados não está buscando a aprendizagem contínua, tampouco parece estar capacitada para realizar o autoestudo. As habilidades e competências que os capacitariam a estudar e compreender os avanços da produção científica de conhecimentos e as suas conexões com a prática profissional são exatamente aquelas em que foram registradas as menores médias de domínio e os maiores índices de necessidades de capacitação (ABBAD; MOURÃO, 2010). As diretrizes curriculares sugerem mudanças radicais e bastante positivas. Ao sugerirem múltiplas habilidades e competências profissionais, indicam valiosos caminhos para a melhoria dos processos de ensino-aprendizagem e o perfil do egresso em cursos de psicologia. O enriquecimento da formação profissional de psicólogos envolve, também, entre outras providências, a capacitação de coordenadores de graduação emelaboração de estruturas curriculares baseadas em competências. O desenvolvimento das competências exigidas do profissional de Psicologia requer uma formação baseada na diversificação de métodos e de estratégias na criação de situações de aprendizagem que levem o aluno a demonstrar as competências norteadoras do currículo como solução de problemas e geração de conhecimentos (ABBAD; MOURÃO, 2010). Considerando este trabalho enquanto foco nos estágios curriculares na graduação em Psicologia, as pesquisas que implicam profundas investigações não podem e nem devem parar por aqui. A prática deve ser sempre questionada e avaliada a fim de que as novas demandas sociais sejam atendidas. Referências ABBAD, G. S.; MOURÃO, L. Competências profissionais e estratégias de qualificação e requalificação. In: BASTOS, A. V. B.; GONDIM, S. M. G. (Org.). O trabalho do psicólogo no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2010. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2002. BASTOS, A. V. B.; GONDIM, S. M. G.; PEIXOTO, L. S. A. 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O aluno de psicologia frente ao desafio do estágio. Psicologia: discência e pesquisa. Revista de Iniciação científica, n.1, p.1-8, 1999. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/epsic/v7n2/a11v07n2.pdf. Acesso em: 02 jul. 2018. * Doutorando e Mestre em Intervenções Clínicas e Sociais, Psicólogo e Bacharel em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC MG). Especialista em Psicologia clínica pelo Instituto Humanista de Psicoterapia (IHP). Gestor, professor e supervisor de estágio do curso de Psicologia da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Viçosa (FAVIÇOSA). E-mail: brunocury@univicosa.com.br **Graduado em Psicologia pela UFMG (1984), mestrado em Filosofia pela UFMG (1994), doutorado em Psicologia Clínica pela PUC SP (2002) e pós-doutoradoem Psicologia Social pela UERJ (2010). Professor adjunto IV do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e técnico superior de saúde da Prefeitura de Belo Horizonte. E-mail: jleite.bhe@terra.com.br. Recebido em 10/11/2018 Aprovado em 15/01/2019 http://www.scielo.br/pdf/%0D/epsic/v7n2/a11v07n2.pdf mailto:brunocury@univicosa.com.br mailto:jleite.bhe@terra.com.br Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.44-57 ISSN:2446-6220 AS PRÁTICAS E A FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM PSICOLOGIA PELO TRABALHO PARA A SAÚDE - UMA REVISÃO DIALÓGICA DA LITERATURA Practices and professional training in psychology by work for health - a dialogical review of the literature Las prácticas y la formación profesional en psicología por el trabajo para la salud - una revisión dialógica de la literatura Aline Lopes de Santana Jefferson de Souza Bernardes Universidade Federal de Alagoas [UFAL] – Bra. RESUMO Discute as práticas e a formação em psicologia pelo trabalho para a saúde focando os estágios supervisionados, a partir de Revisão Dialógica da Literatura, orientada pelas Práticas Discursivas e o Construcionismo Social. Os procedimentos foram: pesquisa na Biblioteca Virtual em Saúde; organização das referências em quadros para visualização da informações; análise. Utilizou-se os descritores em ciências da saúde: “Estágio”; “Serviço de Integração Docente Assistencial”; “Educação continuada”; “Preceptoria”; e “Psicologia”. Foram selecionadas 74 referências agrupadas em contextos (hospitalar, saúde pública/coletiva, saúde mental e clínico); e temáticas (Adoecimento, Trabalho, Práticas da Psicologia e Formação). Argumenta-se que práticas e formação em psicologia, com estágios orientados à saúde, apresentam dois momentos distintos: o primeiro, articula-se ao contexto hospitalar e a estágios observacionais e pontuais; o segundo, articula-se à saúde pública/coletiva e a ampliação das relações dos cursos com os serviços de saúde. Palavras-chave: Estágios. Psicologia. Serviços de integração docente-assistencial. Educação continuada. Preceptorado. ABSTRACT It discusses practices and training in psychology by health work focusing on the supervised stages, based on Dialogical Review of Literature, guided by Discursive Practices and Social Constructionism. The procedures were as follows: research in the Virtual Health Library; organization of references in tables for visualization of information; analyze. We used the descriptors in health sciences: "Internship"; "Assistent Teaching Integration Service"; "Continuing Education"; "Preceptory"; and "Psychology". A total of 74 selected references were grouped in contexts (hospital, public / collective health, mental and clinical health); and thematic (Abuse, Work, Practices of Psychology and Training). It is argued that practices and training in psychology, with stages oriented to health, present two distinct moments: the first, is articulated to the hospital context and to observational and punctual stages; the second, is related to public / collective health and the expansion of the relations of the courses with the health services. Keywords: Internship. Psychology. Teaching care integration services. Continuing education. Preceptorship. RESUMEN Discute las prácticas y la formación en psicología por el trabajo para la salud enfocando las pasantías supervisadas, a partir de la Revisión Dialógica de la Literatura, orientada por las Prácticas Discursivas y el Construccionismo Social. Los procedimientos fueron: investigación en la Biblioteca Virtual en Salud; organización de las referencias en cuadros para visualización de la información y análisis. Se utilizaron las búsquedas en ciencias de la salud: "Pasantías"; "Servicio de Integración Docente Asistencial"; "Educación continua"; " Preceptoria"; y "Psicología". Se seleccionaron 74 referencias agrupadas en contextos (hospital, salud pública/colectiva, salud mental y clínica); y temáticas (Adopción, Trabajo, Prácticas de la Psicología y Formación). Se argumenta que prácticas y formación en psicología, con pasantías orientadas a la salud, presentan dos momentos distintos: el primero, se articula al contexto hospitalario y a las pasantías observacionales y puntuales; el segundo, se articula a la salud pública/colectiva y la ampliación de las relaciones de los cursos con los servicios de salud. Palabras-clave: Pasantí as. Psicologí a. Servicios de integracio n docente asistencial. Educacio n continua. Preceptoria. DOI: https://doi.org/10.24115/S2446-6220201951537p.44-57 . • 45 As práticas e a form. prof. em psic. pelo trab. para a saúde - uma rev. dialógica da literatura Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.44-57 ISSN:2446-6220 Introdução educação no trabalho, pelo trabalho e para o trabalho destina-se à refletir sobre os processos de trabalho e a intervir nele visando melhorar a qualidade dos serviços e as condições laborais, o que é considerado uma matriz qualificadora para a atenção à saúde da população. (CAVALCANTI; GUIZARDI, 2018; ROVERE, 1993). Apresenta-se como uma proposta educativa que, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), alinha-se à Educação Permanente em Saúde (EPS): política de ensino na saúde e estratégia pedagógica, presente com força nas reivindicações dos diversos atores/atrizes do SUS e nas propostas formuladas para o desenvolvimento do sistema (CECCIM; FERLA, 2008; PINTO, 2016). Abarca a formação profissional de psicólogos/as, pois a profissão está inserida na saúde, compõe as equipes multiprofissionais que estruturam o sistema e tem na rede cenários de práticas acadêmicas, como estágios supervisionados, pesquisas e atividades de extensão. Este artigo centraliza a discussão das práticas e da formação em psicologia pelo trabalho para a saúde, focando, principalmente, os estágios supervisionados, a partir da literatura acadêmica. Busca visibilizar continuidades e descontinuidades nas estratégias de formação em saúde a medida que emerge a perspectiva do cuidado integral. É um recorte da pesquisa, oriunda de dissertação de mestrado, intitulada “Formação profissional em psicologia pelo trabalho para a saúde - revisão dialógica da literatura”, que buscou: identificar os locais/contextos de saúde onde se formam psicólogos/as; identificar os atores/atrizes e interlocutores/as envolvidos/as nos processos de formação de psicólogos/as nesses locais; conhecer as estratégias utilizadas, e as temáticas que as perpassam no âmbito da psicologia (SANTANA, 2018). Educação permanente e formação em psicologia na saúde A EPS emerge com a proposta do SUS institucionalizada a partir da Constituição Federal (CF) de 1988 (BRASIL, 1988) e da Lei 8.080 de 1990 (BRASIL, 1990), identificada com o cuidado integral, acessível a todos e a todas, reconhecendo a ação das relações sociais, culturais, econômicas sobre o processo saúde-doença das pessoas. Parte da ideia de que as relações entre saúde e doença são polissêmicas e que para avançar em direção a integralidade do cuidado é necessária a atuação de diferentes profissionais, munidos de diferentes tecnologias. O encontro desses profissionais com o SUS tem os aproximado de territórios vivos, com problemas contextualizados e, muitas vezes, distantes do que comumente contactam durante suas formações. Isso por que, boa parte das vezes, os/as estudantes relacionam-se com os serviços apenas nos momentos dos estágios supervisionados, que sucedem a parte teórica dos cursos, e servem comotreinamento de procedimentos ou obrigação formal para cumprir o currículo. O tensionamento produzido por essa relação (cotidiano dos serviços de saúde – formação de trabalhadores para a saúde) tem contribuído para o questionamento das ferramentas de trabalho, do aparato teórico-técnico e da efetividade de atuação de profissionais de saúde em um campo que demanda habilidades, conhecimentos e valores capazes de fazer funcionar um sistema de saúde relativo à vida de todas as pessoas, estando qualidade de vida na antecedência de qualquer padrão técnico a apreender ou a exercer (CECCIM; FERLA, 2008; DIMENSTEIN; MACEDO, 2012). A Educação Permanente em Saúde é produzida na promoção do encontro entre saúde, educação e trabalho, implementada com a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS) por meio da portaria GM n. 198/2004 (BRASIL, 2004), revisada por meio da GM n. 1.996/2007 (BRASIL, 2007). A política propõe que os processos de qualificação dos trabalhadores tomem como referência as necessidades e a realidade local de saúde, que tenham como objetivo a transformação das práticas profissionais e a própria organização do trabalho e que sejam, sobretudo, estruturadas a partir da problematização dos processos de trabalho de saúde. O desenho operacional é o do Quadrilátero da Formação: sugestão de uma articulação orgânica entre ensino (educação formal, educação em serviço, educação continuada), trabalho (gestão setorial, práticas profissionais, A SANTANA, A.L.; BERNARDES, J.S. • 46 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.44-57 ISSN:2446-6220 serviço), atenção em diferentes níveis (básica, média e alta complexidade) e cidadania (controle social, práticas participativas, alteridade com os movimentos populares, ligações com a sociedade civil) (CECCIM; FERLA, 2008; CECCIM; FEUERWERKER, 2004). A proposta do sistema favoreceu o olhar multidisciplinar, portanto, a ampliação da equipe estruturante dos serviços tradicionais, constituídas inicialmente por profissionais de medicina e enfermagem. Os serviços, privados e públicos - e, especialmente, aqueles conveniados com o SUS -, tornaram-se opções para a inserção profissional de psicólogos/as (SPINK; MATTA, 2007). Acompanhando essa expansão, os Ministérios da Educação e da Saúde passaram a reconhecer a psicologia, conjuntamente com mais treze categorias, como sendo profissões da saúde, por meio da Portaria n. 287/1998 (BRASIL, 1998), aumentando a necessidade de dialogar a respeito da produção do saber e das práticas profissionais para dar conta dos novos desafios impostos por demandas sociais e de saúde. O que incidiu na construção das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de graduação em psicologia, preconizadas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996. Produzidas por um processo que envolveu debates, relações de poder e intensas negociações entre diversos atores e instituições, o documento reconhece a multiplicidade da atuação profissional, bem como a migração do trabalho isolado para o trabalho em equipe multidisciplinar e a expansão dos contextos de atuação, fundamentais no que concerne a inserção no campo da saúde (BERNARDES, 2012; FERREIRA NETO, 2004; MACEDO et al, 2015). A ideia das DCN é que a formação seja generalista, noção que pode ser discutida a partir de dois conceitos, que estruturam o documento: ênfases curriculares; e competências e habilidades. As ênfases são um conjunto delimitado e articulado de competências e habilidades, que configuram oportunidades de concentração de estudos e estágios em algum domínio de atuação da psicologia. A noção de competência relaciona-se ao saber fazer algo, que, por sua vez, envolve uma série de habilidades. De acordo com Bernardes (2007) essas noções remetem à lógica da psicologia aplicada que se configura como um dos desafios para o fortalecimento das relações entre a formação em psicologia e o SUS, uma vez que o reducionismo e a fragmentação em áreas nos leva a perder de vista a problematização do contexto, das demandas e da própria atuação profissional. Para avançar na perspectiva da formação generalista Bernardes (2006, 2012) propõe ressignificar as noções de ênfases curriculares, competências e habilidades, de modo dialógico, como um processo de reflexão compartilhado, em que se leva em consideração o contexto concreto em que os sujeitos estão inseridos e como se relacionam com isso. É nesse ponto que se encontram a formação profissional em psicologia, a formação pelo trabalho em saúde, principalmente, nas práticas e estágios supervisionados, e a Educação Permanente em Saúde: na perspectiva de formação generalista, não fragmentada, tomando a aprendizagem não como uma operação intelectual de acúmulo de informações, mas como atividade que inclui afetos e envolvimentos, que se revela no encontro entre as pessoas. O cuidar em saúde é, assim, uma produção coletiva concreta, intencional, em oposição ao trabalho abstrato, em que a razão de ser do trabalho de cada um se perde na indeterminação do trabalho coletivo (CECCIM; FERLA, 2008; RAMOS, 2009). Metodologia Foi realizada pesquisa qualitativa utilizando o método da Revisão Dialógica da Literatura: proposta metodológica que busca trabalhar a literatura de forma dinâmica, sem reduzi-la à quantificação e à sumarização de referências, nem a mera reprodução do que cada autor disse como se isso estivesse distante da revisora (MONTUORI, 2005; WALKER, 2015). Perpassa essa metodologia a compreensão de que as produções textuais se conectam umas com as outras, integram contextos socioculturais, científicos, paradigmáticos e expressam muitas vozes, ou seja, se articulam num processo de Interanimação Dialógica (BAKHTIN, 1997). Buscou-se referências conectadas com as questões de pesquisa no banco de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Para tanto utilizou- se os seguintes descritores, do banco Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Estágio”; “Serviço de Integração Docente Assistencial”; “Educação continuada”; “Preceptoria”; e “Psicologia”. Foram . • 47 As práticas e a form. prof. em psic. pelo trab. para a saúde - uma rev. dialógica da literatura Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.44-57 ISSN:2446-6220 identificadas trezentos e cinquenta e três referências (353), dentre as quais foram selecionadas setenta e quatro (74), relacionadas às discussões, práticas ou contextos de saúde, servindo como material e campo para esta pesquisa. As referências foram organizadas em quadros, processo que se configurou como aproximação ao material e também promoveu o início da análise da revisão dialógica da literatura. Para compor os quadros, num primeiro momento, foram destacadas as informações: Título; Autoras/es; Periódico; Ano; Descritores; Tipo de Produção; Referências; Resumo; Contexto; Ator/es; e Temáticas/Estratégias. Num segundo momento, ao buscar a dialogia entre as referências, identificou-se que há forte interanimação dialógica tanto por meio dos contextos nos quais estavam situadas, quanto por meio das temáticas, que eram transversais a estes contextos. Os contextos são: a) Hospitalar – referências que abordam a dinâmica hospitalar, processos e práticas que ocorrem em hospitais incluindo diversas modalidades como pronto-socorro, oncológicos e outros; b) Saúde mental – referências que abordam instituições ou práticas no âmbito da saúde mental e/ou da reforma psiquiátrica; c) Clínico – referências com ênfase na prática clínica com temáticas diversas, não se limitando ao espaçofísico da clínica; d) Saúde pública/saúde coletiva – referências que dialogam com princípios e políticas de saúde pública e do SUS, abordando os cenários de saúde numa perspectiva ampliada, em rede, que inclui espaços físicos tradicionais de saúde, mas também estratégias, ações, programas, projetos e espaços nas comunidades. Com relação as temáticas, os conjuntos identificados na dialogia foram Adoecimento, Trabalho, Práticas da Psicologia e Formação. O foco deste artigo são as temáticas práticas da psicologia e formação: conjunto das referências cujas práticas e formação são assuntos centrais. Problematiza- se aspectos como a relação entre os serviços, atividades de saúde e as Instituições de Ensino (IES); e contribuições das vivências nos serviços para as pessoas envolvidas. Alinhada à perspectiva dialógica, os referenciais teóricos e metodológicos desta pesquisa foram o Construcionismo Social (IBÁÑEZ, 2001; IÑIGUEZ, 2008) e as Práticas Discursivas e Produção de Sentidos (SPINK, 2010; 2013), evocando a todo o tempo a conexão de vozes (os diálogos e as negociações que se processam na produção de um enunciado); enunciados (como unidade real da comunicação verbal que vai da pergunta de alguém até a finalização da fala de outra pessoa, funcionando como um elo na cadeia de comunicação); posicionamentos (múltiplas narrativas com que entramos em contato e que se articulam nas práticas discursivas). (BAKHTIN, 1997; DAVIES; HARRÉ, 1990; SPINK, 2010). A proposta, a partir do que observa Walker (2015), foi a de conduzir uma revisão de literatura engajando diferentes textos a conversar uns com os outros, para que pudessem dialogar sobre seus “mundos” entre si. Tendo em vista essas questões, ao buscar aproximações entre as referências, a ideia foi engajá-las numa conversa, visibilizar as conexões entre temáticas e contextos, como em uma rede. Práticas da psicologia e formação De modo geral, as referências com foco nas práticas da psicologia e formação se dividem em dois momentos (com rupturas e continuidades): da década de 1980 até a primeira metade dos anos 2000, em que são menos frequentes e articulam-se, sobretudo, ao contexto hospitalar; e a partir da segunda metade dos anos 2000, quando ficam mais frequentes e articulam-se mais à saúde pública/coletiva. A saúde pública/coletiva é o principal contexto a partir do qual emergem as referências acerca da formação, e o que agrupa a maior parte das produções selecionadas para a pesquisa. SANTANA, A.L.; BERNARDES, J.S. • 48 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.44-57 ISSN:2446-6220 As referências datadas de 1980 a 2002 dialogam sobre a realização de estágios supervisionados em hospitais (alguns em interface com práticas clínicas) e em instituições de saúde mental. Nelas destacam-se as contribuições das vivências nesses locais para o processo de aprendizagem dos/as estudantes e para a construção de seu papel profissional (ANGERAMI, 1983; PADILHA, 2002; SEGAL, 1997); os sentimentos e afetações provocados nos/as estagiários/as (COELHO, 1997; MACHADO, 2002; PADILHA, 2002); e as práticas produzidas (ANDRADE, 2001). A referência mais antiga é a de Angerami (1983) que descreve a implantação e a realização de um estágio curricular em hospitais, cujo objetivo era conhecer a realidade institucional daquele lugar. Lia Baraúna (2008) caracteriza esses estágios, que eclodiram a partir dos anos 1980, como iniciativas rápidas e formais dos cursos de psicologia para adequar a profissão à realidade e aos problemas sociais. Ela faz a leitura de que tal formato de estágio, cujo objetivo inclui “conhecer a realidade”, favorece a psicologização das instituições, consideradas grandes aparelhos psíquicos doentes sobre os quais os/as psicólogos/as vão intervir para curar. Tanto no texto de Angerami (1983), quanto nas referências datadas dos anos 1990 (COELHO, 1997; SEGAL, 1997), os hospitais são espaços de formação que fogem das convencionais clínicas-escola, cuja atividade de estágio consiste no viés aplicativo das teorias, e se operacionaliza por meio de frequência semanal ao local, supervisão e estudo teórico. Baraúna (2008) problematiza também essa operacionalização, dizendo que: os/as estagiários/as frequentam os locais durante algumas horas semanais e depois levam suas dúvidas e observações para a supervisão, que lança um olhar externo e pouco implicado, e em nenhum momento se discute a instituição nem a sociedade que a produz (nem mesmo, onde está inserida). Vale destacar que a maioria desses estágios não se preocupava em articular-se com a saúde, mas tão somente articulações com uma psicologia clínica aplicada, colocada em prática em locais de tratamento de saúde e/ou de saúde mental (ANDRADE, 2001; ANGERAMI, 1983; MACHADO, 2002; PADILHA, 2002). Nos estudos desse primeiro momento, saúde era uma especialidade para a psicologia: a psicologia da saúde, que de acordo com Coelho (1997) era distante das graduações. Considera-se que os/as psicólogos/as que pesquisam e atuam no campo da saúde são provenientes, em sua maioria da psicologia clínica (com suas diferentes perspectivas teóricas), da formação em medicina psicossomática e comportamental, e da psicologia social e comunitária (também atravessadas por diferentes perspectivas teórico-metodológicas) (MENEGON; COÊLHO, 2006; SPINK; MATTA, 2007). A psicologia clínica identifica-se com as práticas psicoterápicas, voltadas à assistência médico- hospitalar, na perspectiva da medicina curativa e individual; a formação em medicina psicossomática relaciona-se à utilização de conceitos e técnicas oriundos da psicanálise, para estudar a relação entre médicos e pacientes. Ambos os campos contribuíram para que a psicologia galgasse seu espaço nas práticas de saúde, principalmente nos hospitais, como interventora nas relações entre mente e doença, ou seja, na causalidade psicológica das alterações fisiológicas (SPINK; MATTA, 2007; MATTA; CAMRGO JR., 2007). Desse modo, construiu-se uma preocupação das instituições de ensino em promover estágios supervisionados orientados a reivindicar (e delimitar) a mente dos sujeitos como objeto de intervenção da psicologia, deixando o corpo para a medicina. A superação da noção de indivíduo derivada do modelo médico-normativo, que busca fenômenos para circunscrever a patologia mental, é um dos desafios para a psicologia no SUS. É um desafio de formação, pesquisa e organização do trabalho, uma vez que essa noção produz perspectivas diagnósticas e clínicas marcadas por práticas dissociadas dos contextos sócio-sanitários e da integralidade (SPINK; MATTA, 2007). É a aproximação entre a psicologia social e a saúde que abre novas possibilidades de atuação por meio da percepção dos contextos institucionais, dos processos de trabalho e da relação com a comunidade. Diferentemente da psicossomática, que institui um campo de estudo, objetos e estratégias clínicas de intervenção apartados de seus contextos, a . • 49 As práticas e a form. prof. em psic. pelo trab. para a saúde - uma rev. dialógica da literatura Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.44-57 ISSN:2446-6220 psicologia social foca a saúde como campo e objeto de estudo como processos sociais, preocupada com as múltiplas formas de produção dos sujeitos (MATTA; CAMARGO JR., 2007). A saúde se destaca como um campo de pesquisa, atuação e formação de psicólogos/as nas referências produzidas a partir da segunda metade dos anos 2000 até os dias atuais, havendo aí possibilidades de incursões diversas.Segundo Menegon e Coêlho (2006) o aumento da demanda de psicólogos/as para atuarem na saúde, em função do aparecimento de novas concepções nas relações entre saúde e doença, aproximou psicologia e saúde. Para elas, esse cenário provocou a busca por definições do trabalho, da função e, principalmente, de competências, habilidades e conhecimentos necessários para formar profissionais aptos/as a desenvolver suas atividades na área. Desse modo, o processo que passa pelo movimento sanitarista e culmina na institucionalização do SUS e, decorrente dele, o imperativo de repensar a formação para contemplar a saúde em seus aspectos políticos, sociais e econômicos, além dos psicológicos, são producentes de um interesse da psicologia em discutir as práticas em psicologia e a formação a partir de contextos da saúde pública/coletiva. Porém, não estamos falando de processos consecutivos, nem homogêneos, uma vez que, a partir das referências com foco nas práticas e na formação em psicologia reconhecemos continuidades e descontinuidades. No sentido das continuidades, destaca-se que referências datadas entre 2005 e 2016, ou seja, do segundo momento aqui apresentado, fazem a manutenção de argumentos semelhantes a referências do momento anterior, de 1980 a 2002. Elas abordam: vivências dos/as estagiários/as e o modo como a atividade influencia na construção de certo papel profissional (GRAVINA, 2005; GUEDES, 2006; PAIM; KRUEL, 2012; SOUSA, 2006); a contribuição das atividades nos serviços para o processo de aprendizagem dos/as estudantes (LOPES; LIMA, 2012; SCORSOLINI-COMIN et al., 2008); a descrição das atividades realizadas. (WANDERBROOCKE et al., 2016). Mantém um discurso de que nos serviços de saúde há outra realidade, exótica e distante das instituições de ensino (GUEDES, 2006; LOPES; LIMA, 2012; SOUSA, 2006), sem problematizar essa realidade nem buscar compreender as pessoas ali inseridas. É produzida a noção de que ensino e serviço existem em mundos diferentes e não compartilham, muitas vezes, do mesmo território com questões que afetam a ambos. Os estágios são operacionalizados a partir de estratégias de intervenção e conceitos pautados num papel profissional construído em serviços relacionados aos hospitais ou à clínica, atrelada à psicossomática, numa perspectiva de treinamento de técnicas. O saber acadêmico é posicionado como superior, detentor do conhecimento que é capaz de intervir e solucionar problemas da população. As referências nessa perspectiva transplantam conceitos (Habilidades Sociais) (DURIGON; SALLA, 2007), e/ou modalidades de trabalho (plantão psicológico, atendimento clínico) (GOMES, 2008; SANTEIRO, 2012), pautadas em estratégias clínicas individualizadas e médico- normativas, para cenários considerados novos, como o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (atualmente chamado de Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica, NASF-AB), centros comunitários e escolas. Por outro lado, as referências ensaiam algumas descontinuidades, quando: diversificam os contextos formativos para além do hospital, voltando-se para dispositivos como Unidades Básicas de Saúde (UBS), Estratégia de Saúde da Família (ESF) e serviços de assistência especializada; pontuam a necessidade de mudanças nos currículos de cursos de psicologia (GUEDES, 2006); destacam como parte importante das atividades o diálogo com as equipes numa lógica multiprofissional (GUEDES, 2006; SOUSA, 2006; WANDERBROOCKE et al., 2016) e/ou interdisciplinar (PAIM; KRUEL, 2012); não centralizam os estágios em atendimentos individuais, incluindo atividades como oficinas (WANDERBROOCKE et al., 2016) e visitas domiciliares em conjunto com equipe multiprofissional (SOUSA, 2006). A partir daí, uma leitura possível é a de que a formação e as práticas em psicologia reconhecem e tem se movimentado em torno de pontos que são críticas antigas à profissão, como o trabalho individual da psicologia e a prática centrada SANTANA, A.L.; BERNARDES, J.S. • 50 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.44-57 ISSN:2446-6220 hegemonicamente na psicoterapia (BARAÚNA, 2008; FERREIRA NETO, 2004; SPINK; MATTA, 2007). Ainda na linha das descontinuidades verificamos que é neste segundo momento que emergem referências que se afastam da lógica de formação tradicional, a medida que se aproximam da proposta da EPS. A saúde é considerada um campo diverso, permeado por micro-processos e micro- políticas que envolvem parcerias, negociações e redes, o que para a psicologia implica em deslocamentos e uma postura de abertura para constantes encontros e construções. Vale destacar que a Educação Permanente é um conceito que remete aos anos 1970 e foi disseminado pelo Programa de Desenvolvimento de Recursos Humanos da Organização Pan- Americana de Saúde (OPAS). No Brasil, a discussão emerge com o movimento sanitarista, mas é a PNEPS que impõe força a noção de EPS, a partir de 2004, quando foi lançada sua primeira portaria. A partir desse momento, o Ministério da Saúde buscou articulações com o Ministério da Educação para fomentar estratégias e ações que ampliassem a discussão da formação pelo trabalho, por meio de pedagogia problematizadora, para promover a aprendizagem significativa, tanto nas IES quanto nos serviços de saúde. Um ponto que chama atenção nessas referências é que, não apenas o ensino – operacionalizado por meio dos estágios supervisionados – mas também pesquisa e extensão, são colocados como articuladores da formação nos cenários de saúde (BATISTA et al., 2014; HÜNING et al., 2013; STREPPEL; PALOMBINI, 2015). Duas dessas referências, a de Simone Hüning et al. (2013) e a de Cássia Batista et al. (2014), mapeam estágios, extensões e pesquisas em cenários de prática de saúde, a partir de cursos de graduação em psicologia, para discutir o modo como potencializam a formação para o trabalho no SUS. Hüning et al. (2013) argumentam que o caráter de “saída da universidade” dos estágios e extensões, bem como o contato com diferentes comunidades ou serviços, amplia a possibilidade de interlocução dos estudantes com diversos contextos. O que acarreta, segundo elas, numa experiência diferenciada, que pode ser pensada como uma cooperação da universidade e seus/suas atores/atrizes (estudantes, professores/as) com outros/as atores/atrizes sociais (usuários/as, trabalhadores/as de serviços ou membros de comunidades). A pesquisa, de acordo com Batista et al. (2014), é um dos produtos dessas experiências, materializado em monografias, apresentações de trabalho e publicações. Estão falando, portanto, de práticas educacionais em espaços coletivos de trabalho com potência para o fortalecimento do trabalho em equipes multiprofissionais, o que se configura como uma das diretrizes da PNEPS (BRASIL, 2014). Também chama a atenção nessas referências o relato de experiências formativas no trabalho em equipe multiprofissional, produzindo problematizações das práticas a partir desse cotidiano, de modo situado e contextualizado (BATISTA et al., 2014; COUTO et al., 2013; PITOMBEIRA et al, 2016). Alinhando-se à noção de aprendizagem em serviço da EPS, para a qual a situação de trabalho se torna, também, desde a ótica de aprendizagem, situação de investigação e de produção de conhecimento (BRASIL, 2014). Nesse sentido, Leandra Couto et al. (2013) relatam um estágio supervisionado junto a ESF, fazendo o recorte de um conjunto de oficinas desenvolvidas com um grupo de profissionais de áreas distintas. Dessa vivência elas destacam avanços e dificuldades: o principal avanço é a constatação de que a condução das oficinas por uma equipe multiprofissional oportunizou reflexões sobre os modos de vida dos/das participantes, o que favorece o cuidado integral; as dificuldades são os encontros entre os membros da equipe foradas oficinas, para planejar, discutir ou avaliar a atividade. Compreendem que essa dificuldade pode ser reflexo da formação dos profissionais, ainda marcada pela cultura de especialismos, concordando com a afirmação de Batista et al. (2014) de que a organização do conhecimento por disciplinas e por categorias profissionais dificulta práticas interdisciplinares e atuações em equipes multiprofissionais na universidade. Em suma, o que foi feito para ser disjunto (disjunção como a primeira máxima cartesiana na construção do conhecimento) dificilmente se junta… . • 51 As práticas e a form. prof. em psic. pelo trab. para a saúde - uma rev. dialógica da literatura Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.44-57 ISSN:2446-6220 Destaca-se ainda nas referências identificadas, produzidas entre 2005 e 2016, a perspectiva de que formar psicólogos/as na integração entre ensino, serviço, gestão e comunidade, faces do Quadrilátero da Formação (CECCIM; FEUERWERKER, 2004), associa-se a diminuição da fragmentação entre teoria e prática. Segue essa linha o relato de experiência de estágio básico de Delane Pitombeira et al. (2016), que integra atividades na universidade e nos serviços, englobando os diversos níveis de atenção. As autoras defendem que a aproximação entre a universidade e o serviço possibilita um diálogo direto e permanente entre a teoria e a prática, contribuindo para os/as estudantes na produção de autonomia e reflexão crítica. Flávio Mendes et al. (2012) concordam com isso e observam que os/as estudantes se tornam comprometidos com a qualidade e a efetivação do SUS, garantindo uma assistência adequada aos usuários desse sistema e dos demais sistemas e serviços articulados em rede. Esses autores chegam a tal conclusão a partir do relato de participação no projeto Vivências e Estágios na Realidade do SUS (VER-SUS): uma estratégia de integração alinhada à PNEPS cuja proposta é permitir maior contato de estudantes com os princípios e realidades do SUS, comunidades e movimentos sociais. Além do VER-SUS, outros programas e ações preconizados pela PNEPS, funcionando como grupos tutoriais, como Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde), Programa de Educação pelo Trabalho para Saúde (PET-Saúde/ PET-GraduaSUS), mobilizam professores/as e alunos/as para compreender o SUS, aproximando os cursos de psicologia e os serviços de saúde. (BATISTA et al., 2014; HÜNING et al., 2013; MENDES et al., 2012). O que ocorre por meio de propostas de novos campos de estágios, do desenvolvimento de projetos de pesquisa e de extensão em saúde pública e demonstram ações e iniciativas de mudanças na formação em saúde (BATISTA et al., 2014). Todavia, é relevante dizer que as referências com o foco na formação não abordam a integração entre as faces do Quadrilátero, visto que a gestão e as comunidades pouco ou nada são apresentadas. Quanto à gestão, é interessante notar que, ou ela é citada junto com ensino-serviço- controle social, nesses casos evidenciando a necessidade de modelos de gestão que propiciem essa integração (BATISTA et al., 2014; MENDES et al., 2012; SOUSA, 2006); ou é citada como instância com responsabilidade exclusiva para a produção de normas, geralmente burocratizadas (COUTO et al., 2013). Em ambos os casos o sentido que se produz é que os processos de gestão estão distantes dos processos formativos, processos de trabalho e de aproximação com a comunidade. As comunidades também são apresentadas de forma distanciada das problematizações do quadrilátero. Pitombeira et al. (2016) as apresenta como parte do cenário da experiência, mas não as posiciona como protagonista. Do mesmo modo, Couto et al. (2013) descrevem os/as usuários/as do serviço de saúde da família como participantes das oficinas, destacam a abertura das oficinas às sugestões e movimentações deles/as, mas não foca as afetações e as falas dessas pessoas no texto. A única referência identificada que articula universidade e sociedade é a de Streppel e Palombini (2015), que chama a atenção por visibilizar não apenas as pessoas da academia, mas também a comunidade que compõe a experiência. A experiência sobre a qual versam é a de um coletivo, convertido em campo de pesquisa, extensão e estágio, chamado Rádio Potência Mental. Esse coletivo é formado por acadêmicos e não acadêmicos, usuários/as e não usuários/as de serviços de saúde mental, implicados na produção de um programa radiofônico quinzenal com o objetivo de vivenciarem o mundo da cultura, da comunicação e da vida da cidade de formas outras que não excludentes. Por meio de um coletivo, explicam as autoras, se estabelece uma relação singular e múltipla entre as pessoas e as forças que circulam nele, há multiplicidade de afetos para além e aquém dos sujeitos. As autoras vizibilizam no texto a multiplicidade de vozes que circulam no coletivo, trazem para a discussão o que essas vozes enunciam de modo que a relação de cada pessoa com a rádio é importante, e não apenas de quem está institucionalmente ligado à universidade. Mas, não deixam de lembrar que ainda assim as escritas que derivam dessa experiência são feitas por um “eu”, mesmo que esse “eu” esteja atravessado pelo coletivo da Rádio. A problematização feita por Streppel e Palombini (2015) gira em torno dos tensionamentos que surgem desse encontro da universidade com a sociedade: o coletivo se pretendia independente, SANTANA, A.L.; BERNARDES, J.S. • 52 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.44-57 ISSN:2446-6220 mas estava vinculado como extensão à universidade; a extensão é para a universidade um novo processo de aprendizagem, mas quando um estudante buscava articular o coletivo às disciplinas do curso era desencorajado, como se o coletivo não valesse como formação. Elas questionam, então, quais seriam os critérios de inclusão e exclusão de sujeitos aptos a servirem de modelo na feitura de trabalhos escolares? O que conduz a um questionamento, decorrente desse: quais são os critérios para definir o que vale e o que não vale como formação e/ou atividade formativa, principalmente, quando esta pretende articular as práticas e os estágios à formação? Streppel e Palombini (2015) não se orientam pelo conceito de Educação Permanente em Saúde, não falam dele no texto, não citam o SUS, nem localizam-se em algum dispositivo de saúde mental. E ainda, a atividade relatada por elas borra as fronteiras de ensino, de serviço e comunidade: a sala de aula é um bar, a rua, um espaço aberto; o serviço é o coletivo, a relação, as discussões; a comunidade são os acadêmicos e não acadêmicos, diagnosticados e não diagnosticados. Mesmo assim o coletivo de rádio integra atores/atrizes e instituições; favorece a construção de processos de aprendizagem colaborativa e significativa; operacionaliza-se por meio de ações coletivas que orientam a reflexão sobre o cotidiano do trabalho, que caracterizam a EPS (BRASIL, 2014). O que indica que os critérios para definir como formar pessoas para o cuidado integral em saúde passam pela transposição de limites teóricos, conceituais e formais. Exige, assim, uma abertura dos/as envolvidos/as (atores/ atrizes e instituições) à reciprocidade, ou, à alteridade, como dizem Streppel e Palombini. Considerações finais A formação profissional em psicologia tem um histórico de centralizar-se em estratégias como o estágio supervisionado configurado como atividade pontual, individual, voltada boa parte das vezes para observação distanciada e pouco implicada dos/as estudantes,sobretudo no contexto hospitalar. Esse percurso formata um distanciamento entre formação em psicologia e os princípios do SUS, principalmente na perspectiva de cuidado integral em saúde, uma vez que: o estágio é considerado exigência formal dos currículos e momento de aplicação das teorias; a relação é hierarquizada e utilitarista, pois as IES são detentoras do conhecimento e os serviços são receptores de intervenções; produzem perfis profissionais que sentem dificuldades em lidar com os imprevistos, as contingências, o inesperado que acontece no cotidiano do trabalho. Entretanto, a profissão vem reconhecendo gradualmente a necessidade de revisitar perspectivas individualistas, mecanicistas e reducionistas que produzem esse afastamento, movimento impulsionado por uma aproximação com o SUS e suas políticas de formação de trabalhadores/as, como a PNEPS. É importante ressaltar que esse é um movimento de fora para dentro das universidades, dos movimentos sociais que culminaram na criação do SUS que, por meio de programas como Pró-Saúde, PET-Saúde, PET-Saúde/GraduaSUS e iniciativas como os Contratos Organizativos de Ação Pública Ensino-Saúde (COAPES - que objetivam o fortalecimento da integração ensino-serviço-comunidade no âmbito do SUS), vem provocando a academia a se deslocar para além dos seus muros. As possibilidades de integração do ensino com os serviços, além dos estágios supervisionados, tem se ampliado para a pesquisa e a extensão, ressignificando os sentidos da inserção de estudantes nos cenários de práticas. Tais atividades ensaiam a experimentação do trabalho multiprofissional, o vínculo com a equipe e com a comunidade, a articulação entre competências comuns as equipes com as competências técnicas específicas de cada categoria profissional. Os desafios, principalmente, no que concerne à psicologia dizem respeito à: avançar na formação de profissionais implicados com a noção de saúde integral, que não se satisfaça em apenas conhecer os marcos legais ou os aspectos prescritivos do trabalho na saúde, mas que se responsabilize pelas necessidades de saúde da população; na formação de trabalhadores/as que estejam abertos a construir suas práticas a partir do diálogo com os serviços e o território, e não restritos a uma lógica de conhecimento técnico aplicado. Talvez, uma das possibilidades para este intento seja a da . • 53 As práticas e a form. prof. em psic. pelo trab. para a saúde - uma rev. dialógica da literatura Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.44-57 ISSN:2446-6220 problematização das relações entre teoria e prática na formação, em toda a proposta político- pedagógica dos cursos. Um componente central a ser problematizado nessas propostas político-pedagógicas dos cursos é o estágio supervisionado, que na maior parte dos currículos é considerado disciplina prática, situada no final dos cursos, sucedendo as disciplinas teóricas. Essa organização curricular não favorece a inserção dos/as estudantes na rede de saúde de modo a vivenciar o cotidiano dos serviços, não contribui para que eles/as se impliquem nos cenários de práticas, que construam e operacionalizem estratégias para lidar com as contingências que se apresentam em qualquer processo de trabalho. Desta forma, as referências identificadas sugerem ressignificar o conceito de estágio e as relações entre teoria e prática ao longo dos cursos, promovendo um estar diário dos estudantes na rede de serviços desde os primeiros períodos dos cursos. Fundamental, também, a articulação dos estágios a pesquisa e aos projetos de extensão universitários, fomentando a autonomia estudantil e estratégias de grupos tutoriais, como as experiências já relatadas dos programas da PNEPS. Referências ANDRADE, A. N. Formação em psicologia: hierarquia versus antropofagia. Psicologia & Sociedade (Impressa), v. 13, n. 1, p. 29–45, 2001. ANGERAMI, V. A. Uma opção alternativa na pratica clinica em psicologia: atuação na instituição hospitalar. Arquivos Brasileiros de Psicologia (Rio de Janeiro), v. 35, n. 2, p. 110–122, 1983. Disponível em: http://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/psi-8956. Acesso em: 18 ago. 2018. BAKHTIN, M. M.. Estética da criação verbal. 2a ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. BARAÚNA, L. M. P. Da história da psicologia para uma história na psicologia. JACÓ-VILELA, A. M.; JABOUR, F.; RODRIGUES, H. B. C. (Org.). Clio-Psyché: Histórias da Psicologia no Brasil. 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Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/psicorevista/article/view/27798. Acesso em: 18 ago.2018. *Mestre em Psicologia pelo programa de pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Alagoas. Psicóloga na Secretaria Municipal de Saúde de Maceió. Universidade Federal de Alagoas (UFAL)/ Instituto de Psicologia. E-mail: aline.santana.aline@gmail.com **Doutor em Psicologia social Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professor Associado III do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). E-mail: jefferson.bernardes@ip.ufal.br. Recebido em 10/11/2018 Aprovado em 15/01/2019 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902008000200010 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902008000200010 http://tede.bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br:8080/jspui/handle/tede/367 http://tede.bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br:8080/jspui/handle/tede/367 http://seer.ufrgs.br/index.php/PolisePsique/article/view/53947 https://revistas.pucsp.br/index.php/psicorevista/article/view/27798 mailto:aline.santana.aline@gmail.com mailto:jefferson.bernardes@ip.ufal.br Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.58-70ISSN:2446-6220 ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO: VIVÊNCIAS NA LICENCIATURA EM ENFERMAGEM Supervised curricular internship: experiences in the nursing graduation Pasantía curricular supervisada: vivencias en la licenciatura en enfermería Lourdes Missio Fabiane Melo Heinen Ganassim Marcia Maria Ribera Lopes Spessoto Pâmela Luiza Araújo Gomes Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul [UEMS] – Bra. RESUMO O está gio curriculár supervisionádo, como cámpo de conhecimento, insere o ácáde mico ná á reá profissionál, pois fávorece o áprimorámento de sáberes e á construçá o de suá identidáde profissionál. Este texto envolveu o está gio curriculár supervisionádo ná Licenciáturá em Enfermágem, como objetivo de ápresentár áspectos do seu percurso, á pártir dás vive nciás enquánto docentes e discentes, duránte o processo de implántáçá o e implementáçá o, junto áo Curso de Gráduáçá o em Enfermágem dá Universidáde Estáduál do Máto Grosso do Sul. As átividádes preconizárám experie nciás em processos formáis de ensino e áprendizágem, proporcionándo á convive nciá com á doce nciá ná educáçá o bá sicá e em cursos de ensino profissionálizánte, como o Te cnico de Enfermágem. Envolveu, támbe m, átividádes em espáços ná o escoláres com áço es de educáçá o em sáu de. Acreditámos que á Licenciáturá em Enfermágem trouxe um diferenciál ná formáçá o, tánto nás átividádes ácáde micás do curso, quánto no ácompánhámento do egresso em suás átividádes profissionáis. Palavras-chave: Educação Superior em Enfermagem. Formação Docente. Serviço. Educador. ABSTRACT The supervised curricular internship as a field of knowledge inserts the academic in the professional area, because it favors the improvement of knowledge and the construction of its professional identity. This text involved supervised curricular internship in the Nursing Degree. The purpose was to present aspects of its course from the experiences as teachers and students during the implantation and implementation process, together with the Nursing Undergraduate Course of the State University of Mato Grosso do Sul (Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul). The activities advocated experiences in formal teaching and learning processes, providing coexistence with teaching in basic education and in vocational education courses such as the Nursing Technician. It also involved activities in non-school spaces with health education actions. We believe that the Nursing Degree has brought a differential in training, both in the academic activities in the course, and in the follow-up of the egress in their professional activities. Keywords: Major in nursing. Teacher training. Service. Educator. RESUMEN La práctica curricular supervisada como campo de conocimiento insiere lo académico en el área profesional., pues favorece la mejora de saberes en la construcción de su identidad profesional. Este texto envolvió la práctica curricular supervisada en la licenciatura en Enfermaría. Tuvo como objetivo presentar aspectos de su camino a partir de las vivencias en cuanto profesor y alumnos durante el proceso de implantación e implementación junto al programa de Pregrado en Enfermería de la Universidad Estadual do Mato Grosso do Sul. Las actividades preconizaron experiencias en procesos formales de enseñanza y aprendizaje, proporcionando la convivencia con la docencia en la educación básica y en cursos como el Técnico de Enfermería. Envolvió también actividades en espacios no escolares con acciones de educación en salud. Creemos que la Licenciatura en Enfermería trajo una diferencia en la formación, tanto en las actividades de los alumnos en el curso, como en el acompañamiento del graduado en sus actividades profesionales. Palabras-clave: Educácio n superior en enfermerí á. Formácio n docente. Servicio. Educádor. DOI: https://doi.org/10.24115/S2446-6220201951611p.58-70 . • 59 Estágio curricular supervisionado: vivências na licenciatura em enfermagem Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.58-70 ISSN:2446-6220 Introdução formáçá o ná á reá dá sáu de tem pássádo por diversás estruturáço es nos u ltimos ános demándádás pelo mundo do trábálho e pelás polí ticás dá á reá dá educáçá o e dá sáu de. Por isso, ná o pode ter como foco, ápenás, o diágno stico, á profiláxiá e o trátámento dás doençás e ágrávos. E preciso desenvolver condiço es párá ále m disso e átender ás necessidádes dá populáçá o, como promover áço es e prográmás de educáçá o em sáu de e átuár ná formáçá o de novos profissionáis. (CECCIM; FEUERWERKER, 2004). Párá tánto, torná-se necessá rio que o processo de formáçá o estejá orgánizádo párá átingir essá propostá. Nele, o está gio, integrándo ensino e serviço, e um dos momentos dá formáçá o em que o futuro profissionál pássá á ter contáto com essás necessidádes. Ná á reá dá sáu de, o enfermeiro e um profissionál que desempenhá um importánte pápel como educádor. Suás áço es educátivás envolvem os diferentes contextos de prá ticá profissionál, tánto junto áo indiví duo, fámí liá, comunidáde, equipe de enfermágem ou como docente ná formáçá o iniciál e continuádá, envolvendo o ensino te cnico-profissionálizánte, á gráduáçá o ou á po s-gráduáçá o. O processo de formáçá o iniciál do profissionál Enfermeiro contá, obrigátoriámente, com umá párcelá importánte dá cárgá horá riá do curso, destinádá áos está gios curriculáres supervisionádos. A Lei n. 11.788, de 25 de setembro, de 2008, Lei Gerál do Está gio, ápontá que o está gio tem como objetivo o áprendizádo pro prio de compete nciás dá átividáde profissionál e á contextuálizáçá o curriculár, visándo o desenvolvimento do áluno párá á vidá cidádá e párá o trábálho. (BRASIL, 2008). Segundo Souzá (2009), á importá nciá do está gio cáminhá de ácordo com ás necessidádes do mundo do trábálho e com o desenvolvimento cientí fico e tecnolo gico. Pode átuár, de máneirá importánte, ná construçá o dá identidáde profissionál do estudánte, á pártir de suás vive nciás nás situáço es reáis que este promove, ássociádo áo processo de reflexá o sobre ás mesmás. Ná á reá dá enfermágem, o está gio curriculár supervisionádo torná-se indispensá vel ná formáçá o do enfermeiro, pois á teoriá e á prá ticá ándám juntás. Segundo Evángelistá e Ivo (2014), o está gio pode ser visto como umá ferrámentá fundámentál párá á formáçá o do profissionál de enfermágem, por ser um perí odo em que o áluno pássá á utilizár os conhecimentos teo ricos ádquiridos no decorrer dá gráduáçá o que, ássociádo á s suás experie nciás pessoáis e dá pro priá átuáçá o, se identificá como profissionál. Emborá ás primeirás descriço es sobre o está gio remetem áos ános de 1960 (ANDRADE, RESENDE, 2010), e á Licenciáturá em Enfermágem ser criádá em 1968 (BAGNATO, 1994), tem-se encontrádo muitás publicáço es, envolvendo á á reá dá educáçá o, que se debruçám em fálár sobre o mesmo, pore m, os estudos e ás ábordágens referentes á Licenciáturá em Enfermágem sá o máis restritos. Poucos trábálhos ábordám essá á reá especí ficá ná enfermágem. Nestá perspectivá, propusemos ápresentár e refletir sobre á nossá vive nciá ná á reá. Assim, este texto envolve o está gio curriculár supervisionádo ná Licenciáturá em Enfermágem, tendo como objetivo ápresentár áspectos do seu percurso á pártir dás vive nciás em seu processo de implántáçá o e implementáçá o. Trátá-se de um texto de cárá ter descritivo, fundámentádo ná á reá quálitátivá, em que procurámos relátár ás vive nciás, enquánto docentes e discentes, duránte este processo de formáçá o desenvolvido junto áo Curso de Gráduáçá o em Enfermágem dá Universidáde Estáduál do Máto Grosso do Sul (UEMS). Párá ás descriço es, nos ápropriámos, enquánto áutorás, dás nossás vive nciás como ácáde micás dá primeirá turmá debácháre is licenciádos e como docentes, ácompánhándo ás disciplinás de Está gio Curriculár Supervisionádo I e II (ECSOL), dá Licenciáturá em Enfermágem. Utilizámos, támbe m, relátos de álunos que vivenciárám está propostá de formáçá o, momento em que retomámos á leiturá de seus reláto rios de está gios, desenvolvidos nos ános de 2015 á 2018. O estágio curricular supervisionado Nos u ltimos ános, o mundo do trábálho tem requisitádo, cádá vez máis, que os profissionáis sejám em prepárádos párá desempenhár ás funço es que á profissá o exige. Neste sentido, destácá-se á A MISSIO, L.; GANASSIM, F.M.H.; SPESSOTO, M.M.R.L.; GOMES, P.L.A. • 60 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.58-70 ISSN:2446-6220 importá nciá e á relevá nciá do desenvolvimento do está gio curriculár supervisionádo, pois, somente o conhecimento teo rico ná o e suficiente no prepáro do futuro profissionál párá enfrentár ás demándás átuáis. O está gio curriculár supervisionádo pode ser cárácterizádo como umá átividáde que proporcioná áo ácáde mico á suá párticipáçá o em situáço es reáis, tornándo-se um espáço profí cuo párá que possá áprimorár seus sáberes e posturás necessá riás áo seu cámpo de átuáçá o, gerándo á oportunidáde párá desenvolver trábálhos relácionádos com suá futurá profissá o, o que pode direcionár suás escolhás. E támbe m, compreendido como á exteriorizáçá o do áprendizádo que extrápolá os limites dá universidáde, pois e um espáço em que o ácáde mico poderá áprimorár suá formáçá o junto á s instituiço es\escolás, integrándo os conhecimentos teo ricos ádquiridos áos conhecimentos prá ticos que envolvem o trábálho nás mesmás (CABRAL, ANGELO, 2010). Entendemos que o está gio curriculár supervisionádo visá fortálecer á reláçá o entre á teoriá e á prá ticá, pois, párá o desenvolvimento dás compete nciás de cádá profissá o e necessá rio que se utilize dos sáberes ádquiridos, tánto ná vidá ácáde micá como ná vidá profissionál e pessoál. Sendo ássim, segundo Bárreto (2006), o está gio constitui-se em um importánte instrumento de conhecimento e de integráçá o do áluno com á reálidáde sociál, econo micá e de trábálho em suá á reá profissionál. Párá Biánchi et ál. (2005), no está gio curriculár supervisionádo o áluno terá á oportunidáde de construir experie nciás significátivás á suá formáçá o. Espáço este, em que poderá desenvolver e áprimorár suá criátividáde, independe nciá, áutonomiá e compete nciás. A experie nciá ádquiridá duránte o está gio curriculár, segundo Máfuáni (2011), e fundámentál párá á formáçá o integrál do áluno, tánto ná vive nciá dás situáço es de trábálho quánto dás reláço es interpessoáis que permeiám ás mesmás. Dessá formá, em quálquer á reá de formáçá o, o está gio curriculár deve ser visto como umá átividáde que levá o áluno á construir suá identidáde como profissionál. Párá tánto, o está gio ná o pode ser, ápenás, umá átividáde prá ticá instrumentál, más deve ser umá prá ticá refletidá. Segundo Pimentá e Limá (2006, p. 9), quándo o áluno reálizá á “prá ticá pelá prá ticá e o emprego de te cnicás sem á devidá reflexá o pode reforçár á ilusá o de que há umá prá ticá sem teoriá ou de umá teoriá desvinculádá dá prá ticá”. Entretánto, ácreditámos que á prá ticá deve estár sempre nutridá pelá teoriá, num processo de ir e vir que, segundo Bárreiro e Gebrán (2006), conduz á áçá o-reflexá o-áçá o, fázendo com que á teoriá e á prá ticá se componhám, modificándo e interferindo no reál. Márrán, Limá e Bágnáto (2015, p. 102) complementám este pensámento ressáltándo que está “prá xis requer movimento, interáçá o e á diálogicidáde necessá riá párá o áprofundámento do fázer reflexivo e refletido”. Nesse sentido, destácá-se á importá nciá de que o áluno relácione á teoriá e á prá ticá, de formá interdisciplinár, pois, ná sáu de, ás prá ticás ná o podem se dár de formá isoládá, descontextuálizádá. Párá Filho (2010), o está gio e considerádo um elo entre o conhecimento construí do duránte á vidá ácáde micá e á experie nciá reál que os discentes terá o quándo átuárem como profissionáis. Nesse contexto, Sácristá n (1999) reiterá á importá nciá dá prá ticá, ápontándo que e indispensá vel á junçá o dá teoriá e prá ticá duránte o processo de formáçá o, pois deve háver um elo entre o conhecimento pessoál e á prá ticá. Complementá que o conhecimento ná o e formádo, ápenás, ná experie nciá concretá do estágiá rio em párticulár, podendo este ser álimentádo pelá ‘culturá objetivá’ onde os sáberes teo ricos se árticulám e se (re)significám. Ná máioriá dás vezes, o áluno, áo chegár á universidáde, se depárá com o conhecimento teo rico, sendo difí cil relácionár teoriá e prá ticá por ná o experienciár momentos reáis do cotidiáno (MAFUANI, 2011). Párá tánto, e importánte inseri-lo o máis cedo possí vel, áos cámpos de prá ticá, párá que vivencie á reálidáde ápresentádá. Acreditámos que, ná á reá dá sáu de, áo imergir nestá reálidáde, conhecendo áspectos dá átuáçá o poderá áprofundár-se em seu contexto histo rico, polí tico, sociál e culturál o que coláborárá , átivámente, com o processo de desenvolvimento profissionál (ESTEVES et ál., 2018). Ná formáçá o do licenciádo em enfermágem, o está gio curriculár supervisionádo támbe m se . • 61 Estágio curricular supervisionado: vivências na licenciatura em enfermagem Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.58-70 ISSN:2446-6220 ápresentá como instrumento integrádor entre ás instituiço es de ensino (MARRAN, LIMA, BAGNATO, 2015) e os espáços formáis e ná o formáis em que se desenvolvem átividádes de formáçá o e de educáço em sáu de. O está gio nestá á reá segue ás legisláço es preconizádás pelás Diretrizes Curriculáres Nácionáis párá á enfermágem (BRASIL, 2001), bem como ás especí ficás dás licenciáturás, Resoluçá o CNE/CP, n. 02, de 01 de julho, de 2015 (BRASIL, 2015). Está u ltimá estábelece que o está gio curriculár supervisionádo párá ás licenciáturás tenhá umá cárgá horá riá de 400 horás, desenvolvidás á pártir dá segundá metáde do curso. Ná licenciáturá, o está gio curriculár supervisionádo tem como objetivo prepárár o licenciádo párá ás funço es do mágiste rio em determinádá á reá (SILVA, 2014). Pimentá e Limá (2006), destácám que o está gio e indispensá vel párá á formáçá o dá construçá o dá identidáde e dos sáberes do diá-á-diá do professor. A licenciatura em enfermagem De ácordo com á literáturá dá á reá, os cursos de gráduáçá o em enfermágem, que optárám pelá ofertá dá Licenciáturá em Enfermágem, procurárám orgánizár seus currí culos de formá á ofertár o bácháreládo e á licenciáturá ássociádos ou, áindá, á licenciáturá ná seque nciá do bácháreládo em enfermágem (BAGNATO, 1994; MOTTA; ALMEIDA, 2003; RODRIGUES, 2005). Bágnáto (1994) e Rodrigues (2005) ressáltám que á criáçá o dá Licenciáturá em Enfermágem foi influenciádá por determinántes polí ticos, econo micos e sociáis, com destáque párá á expánsá o dos serviços de sáu de privádos, á pártir dá perspectivá dá medicálizáçá o e dá utilizáçá o de tecnologiás párá o trátámento dás doençás. Dessá formá, erá necessá rio má o de obrá quálificádá e bárátá párá ácompánhár o ávánço dá demándá no setor dá sáu de, o que gerou á expánsá o dos cursos de ensino profissionálizánte de ní vel me dio, párá formár áuxiliáres e te cnicos de enfermágem, respáldándo á criáçá o dá Licenciáturá em Enfermágem. Todáviá, ás áutorás destácám que tendo sido implementádá em ássociáçá o ou em seque nciá áo bácháreládo em enfermágem, á formáçá o docente foi sendo, historicámente, construí dá como umá segundá opçá o párá á formáçá o do enfermeiro. Ressáltá-se que á configuráçáo de ássociáçá o do bácháreládo e dá licenciáturá ou á ofertá dá licenciáturá ná seque nciá do bácháreládo, no cáso especí fico dá formáçá o do enfermeiro, levá áo desáfio dá construçá o de projetos pedágo gicos (PP) que contemplem ás diretrizes párá á formáçá o nás duás á reás em questá o, á do enfermeiro báchárel e á do enfermeiro professor. Ou sejá, ás diretrizes dá enfermágem e ás diretrizes párá á formáçá o de professores devem ser á báse máteriál párá á construçá o dos currí culos do enfermeiro licenciádo. As Diretrizes Curriculáres párá os cursos de gráduáçá o em Enfermágem, de 7 de novembro, de 2001, em vigor, emborá ná o se áprofundem com reláçá o á Licenciáturá em Enfermágem, reconhecem como perfil do egresso/profissionál, o enfermeiro com Licenciáturá em Enfermágem cápácitádo párá átuár ná Educáçá o Bá sicá e ná Educáçá o Profissionál em Enfermágem e ápontám que á estruturá dá gráduáçá o em Enfermágem deverá ássegurár á suá árticuláçá o com á Licenciáturá em Enfermágem (BRASIL, 2001). Párá Spessoto (2018) ás DCN párá á formáçá o iniciál em ní vel superior, envolvendo os cursos de licenciáturá, tánto ás de 2002, como ás de 2015, ná o se áprofundám em direcionámentos párá á reás especí ficás de formáçá o, como o cáso do enfermeiro docente, más elencám umá se rie de componentes curriculáres á serem contempládos. A áutorá destácá que ás diretrizes párá á formáçá o de professores, de 2002 e de 2015, ávánçárám ná e nfáse concedidá á necessidáde dá árticuláçá o dos conhecimentos de cunho pedágo gico áos conhecimentos dá á reá especí ficá de formáçá o, bem como dá árticuláçá o dá teoriá com á prá ticá. Dessá formá, áo procurár átender áos márcos normátivos dá á reá dá enfermágem e dá á reá dá licenciáturá, os cursos de Licenciáturá em Enfermágem enfrentám umá se rie de desáfios, que ná o sá o o foco deste trábálho, más que repercutem ná ádesá o dás instituiço es de ensino superior á formáçá o do enfermeiro docente (SPESSOTO, 2018). Conforme ás informáço es contidás nás Sinopses dá Educáçá o Superior brásileirá, á quántidáde de cursos de gráduáçá o em enfermágem, pu blicos e privádos, cádástrádos como Licenciáturá em Enfermágem, entre os ános de 2001 á 2015, váriou entre quátro á 20 cursos (INEP, 2018). Spessoto MISSIO, L.; GANASSIM, F.M.H.; SPESSOTO, M.M.R.L.; GOMES, P.L.A. • 62 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.58-70 ISSN:2446-6220 (2018) destácá que os dádos oferecidos pelás Sinopses ápresentám discrepá nciás de um áno párá outro, feno meno que á áutorá ácreditá estár relácionádo á pro priá definiçá o do curso enquánto bácháreládo ou Licenciáturá em Enfermágem. Destá formá, á áutorá reálizou umá buscá nos sites dás universidádes pu blicás estáduáis brásileirás, (UPE) cádástrádás no sistemá e-MEC, por cursos de enfermágem ofertádos no gráu ácáde mico de licenciáturá. Entre ás 38 UPE, forám encontrádos nove cursos de licenciáturá em enfermágem, oferecidos pelás seguintes instituiço es á sáber, á Universidáde do Estádo do Rio Gránde do Norte, á Universidáde de Sá o Páulo, á Universidáde Estáduál de Cámpinás, á Universidáde Estáduál do Oeste do Páráná e á Universidáde Estáduál do Máto Grosso do Sul. Destácá-se que há representátividáde dos cursos de Licenciáturá em Enfermágem, em quátro regio es brásileirás, emborá ocorrá máior concentráçá o dos cursos ofertádos ná regiá o sudeste e sul. Dentre os nove cursos elencádos, oito ofertám á Licenciáturá em Enfermágem ássociádá áo bácháreládo, á pártir de um u nico PP e ápenás um curso oferece á licenciáturá ápo s á conclusá o do bácháreládo, com dois PP distintos, párá os gráus ácáde micos (SPESSOTO, 2018). A entrádá nos nove cursos e reálizádá de formá u nicá, por meio dos mecánismos escolhidos pelás UPE. O diplomá e u nico, conferindo os gráus de báchárel e licenciádo áo enfermeiro, em oito cursos que ásociám á ofertá dá licenciáturá e do bácháreládo, recebendo diplomás sepárádos de báchárel e liceciádo, o curso que possui PP distintos (SPESSOTO, 2018).Com reláçá o áo está gio curriculár supervisionádo, Spessoto (2018) destácá que todos os nove cursos descrevem á suá reálizáçá o em seus PP, á pártir dá inserçá o dos ácáde micos em escolás de educáçá o bá sicá e de ensino te cnico-profissionálizánte. Todáviá, cádá curso procurou átender ás orientáço es dás diretrizes párá á formáçá o de professores, á pártir de suás construço es histo ricás e sociáis, dentre eles, o curso de Bácháreládo e Licenciáturá em Enfermágem dá Universidáde Estáduál de Máto Grosso do Sul (UEMS). O estágio curricular supervisionado na licenciatura no Curso de graduação em enfermagem da UEMS A formáçá o do curso foi álterádá substánciálmente com ás mudánçás nás propostás curriculáres áo longo dos 25 ános de suá criáçá o. O Curso de Enfermágem dá UEMS – sede Dourádos – foi criádo em 1993 e implántádo em ágosto de 1994, pássándo á ser o segundo curso de enfermágem do estádo. Dá implántáçá o do curso, em 1994, áte 2017, forám concluí dás 20 turmás, perfázendo o totál de 565 novos profissionáis gráduádos que átuám nás diversás á reás dá enfermágem e em vá riás regio es do Brásil (HEINEN GANASSIN, 2015, UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL, 2018). Desde á implántáçá o do curso, em 1994, áte o áno de 2014, forám reálizádás cinco reformuláço es curriculáres, tre s destás ocorrerám depois dá proposiçá o dás DCN (2001), sendo em 2003, 2011 e 2014, e suás implementáço es ocorrerám nos ános subsequentes. A reestruturáçá o do áno de 2011 incorporou á modálidáde de Licenciáturá áo curso que, áte entá o, erá ápenás bácháreládo. Ressáltámos que está modálidáde e o foco do nosso estudo. A primeirá estruturá curriculár do curso foi orgánizádá conforme o Párecer CFE n. 163/72 e á Resoluçá o CFE n. 04/72, que regulámentávám o Currí culo Mí nimo párá o curso de enfermágem e obstetrí ciá. Assim, essá estruturá curriculár mántinhá o ensino centrádo no modelo me dico dá ássiste nciá hospitálár (HEINEN GANASSIN, 2015). Em 1994, foi áprovádo um currí culo mí nimo, átráve s dá Portáriá n. 1.721, de 15 de dezembro, do Ministe rio dá Educáçá o e do Desporto, onde “ficám os cursos de Enfermágem obrigádos á incluir no currí culo o está gio supervisionádo em hospitáis, ámbuláto rios e rede bá sicá de serviços de sáu de” (BRASIL, 1994, p. 69). Nesse mesmo áno, foi propostá á primeirá ádequáçá o curriculár do curso. Contudo, ná o átendeu inteirámente á s determináço es dá Portáriá n. 1.721/1994 (MISSIO, 2007). . • 63 Estágio curricular supervisionado: vivências na licenciatura em enfermagem Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.58-70 ISSN:2446-6220 Em 1997, ápo s o iní cio dos está gios curriculáres supervisionádos e dás átividádes de extensá o, com á entrádá do áluno nos serviços de sáu de; com á integráçá o do ensino dá á reá bá sicá com á profissionálizánte e pelá necessidáde de ádequáçá o á legisláçá o dá universidáde, surge á construçá o do primeiro Projeto Polí tico Pedágo gico do Curso de Enfermágem dá UEMS, no quál forám tráçádás ás metás geráis que pássárám á norteár o curso. Ocorrerám, támbe m, álteráço es nás disciplinás do currí culo mí nimo, bem como nás do currí culo pleno. Essá estruturá curriculár, áindá com propostá de currí culo mí nimo, buscává umá diminuiçá o dá frágmentáçá o do ensino, ná tentátivá de construir um trábálho interdisciplinár (MISSIO, 2007). A pártir do áno de 2001, o corpo docente, preocupádo com á quálidáde do curso, frente á nová legisláçá o que envolviá á educáçá o superior, ás propostás de mudánçás párá o ensino de enfermágem e, támbe m, o perfil do profissionál que estává sendoformádo, pássou á discutir os novos rumos que o curso deveriá tomár. O que resultou em um Currí culo Integrádo, implántádo em 2003, numá perspectivá de interdisciplináridáde compreendidá como á efetiváçá o de novás ábordágens de formáçá o que deveriám superár á orgánizáçá o de disciplinás, visándo á dinámizáçá o do processo ensino-áprendizágem. Este projeto vigorou párá ás turmás ingressántes no perí odo entre os ános de 2004 á 2011(HEINEN GANASSIN, 2015). Algumás dificuldádes, duránte á implementáçá o do projeto, fizerám com que fosse árticuládo um movimento de mudánçá e de ádequáçá o áo mesmo. Destá formá, á pártir de 2012, ocorreu á implántáçá o dá segundá mudánçá do PP, ápo s ás DCN (2001), ábárcándo ás modálidádes bácháreládo e licenciáturá concomitántes (HEINEN GANASSIN, 2015). A necessidáde de direcionár o ensino, támbe m párá á á reá dá Licenciáturá em Enfermágem, foi mostrádá em estudos reálizádos por álunos e professores, ápontándo que muitos egressos desejávám que o curso contemplásse á licenciáturá, pois encontrávám-se no cámpo dá doce nciá, em cursos de ensino profissionálizánte e dá educáçá o superior, sem ápresentár umá formáçá o ácáde micá párá tál (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL, 2012, LOPES, 2011). Considerándo o exposto, muitos professores se preocupárám em melhorár á quálidáde do curso, á formáçá o ná á reá dá educáçá o. Por isso, muitos buscárám cápácitáço es stricto sensu nestá á reá e estábelecerám ví nculos importántes com grupos de pesquisás de outrás instituiço es como á UNICAMP, á USP, á UCDB e á UFGD, o que veio á fortálecer o desenvolvimento dá Licenciáturá em Enfermágem ná UEMS. Assim, á propostá pedágo gicá foi orgánizádá párá que ás átividádes ácáde micás átendessem á á reá hospitálár, á sáu de coletivá e á Licenciáturá em Enfermágem. O curso pássou á ser denominádo Enfermágem, Bácháreládo e Licenciáturá, perfázendo umá cárgá horá riá de 5.406 horás, com duráçá o de cinco ános, átuándo no formáto disciplinár. Neste percurso de formáçá o, o áluno desenvolve átividádes teo ricás e prá ticás, tánto do bácháreládo quánto dá licenciáturá, concomitántemente, desde á primeirá se rie. Como foco deste trábálho, destácámos que ás átividádes do está gio curriculár supervisionádo do Curso de Gráduáçá o em Enfermágem dá UEMS, tem como objetivo o áprendizádo de compete nciás pro priás dá átividáde profissionál (Enfermeiro), bem como o desenvolvimento do ácáde mico párá á vidá cidádá e párá o trábálho. A propostá pedágo gicá párá á licenciáturá, ále m de integrár o itinerá rio formátivo do educándo, preconizá ás vive nciás em processos formáis de ensino e áprendizágem, proporcionándo á convive nciá com á doce nciá ná educáçá o bá sicá e em cursos de ensino profissionálizánte ná á reá dá sáu de, com foco no curso Te cnico de Enfermágem. Destá formá, buscá conhecer o trábálho pedágo gico e á construçá o de hábilidádes e compete nciás párá o ensino. Envolve, támbe m, átividádes em espáços ná o escoláres, com áço es de educáçá o em sáu de (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MATO GROSSO DO SUL, 2012). Algumás dificuldádes, duránte á implementáçá o do projeto, fizerám com que fosse árticuládo um movimento de mudánçá e de ádequáçá o á esse projeto. O Conselho de Educáçá o do estádo de Máto grosso do Sul – CEE/MS - determinou que fosse extinto o curso com “duás modálidádes” e que se optásse pelá ofertá u nicá de bácháreládo ou dá licenciáturá. Mediánte tál situáçá o, deu-se iní cio áo processo de eláboráçá o de novo projeto pedágo gico ápenás com á modálidáde bácháreládo MISSIO, L.; GANASSIM, F.M.H.; SPESSOTO, M.M.R.L.; GOMES, P.L.A. • 64 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.58-70 ISSN:2446-6220 (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL, 2014). Assim, á nová propostá curriculár decorreu no áno de 2014, com implántáçá o no áno de 2015, retornándo á formáçá o ná modálidáde do bácháreládo. A vivência nos estágios da licenciatura em enfermagem O está gio curriculár supervisionádo de Licenciáturá (ECSOL) e desenvolvido em formá de disciplinás, no quárto e quinto áno letivo do curso, com cárgá horá riá de 510 horás, distribuí dás nos dois u ltimos ános letivos. As instituiço es concedentes de cámpo de está gio sá o os serviços de sáu de dá rede pu blicá e privádá e ás escolás que ápresentám disponibilidáde em reálizár párceriá com á Universidáde, mediánte á celebráçá o de conve nios. A discipliná de Está gio Curriculár Supervisionádo dá Licenciáturá I (ECSOL I) foi vivenciádá pelás turmás, duránte o quárto áno do curso, totálizándo 272 horás. A mesmá insere os álunos, simultáneámente, em espáços de educáçá o bá sicá e espáços ná o escoláres. Nás escolás, á propostá e á áproximáçá o do áluno com á reálidáde educácionál, observándo e propondo intervenço es em situáço es de áprendizágem, plánejámento, execuçá o e áváliáçá o de propostás párá os processos educátivos, visándo á promoçá o dá sáu de e á prevençá o de doençás, á pártir dás experie nciás educácionáis árticuládás com todás ás disciplinás que compo em o currí culo. Os espáços ná o escoláres sá o contempládos por encontros com á comunidáde, que ocorrem em unidádes bá sicás de sáu de e em projetos de extensá o visándo á promoçá o dá sáu de á pártir de átividádes educátivás. Duránte o perí odo que vivenciámos o ECSOL I, nás escolás, o primeiro desáfio enfrentádo foi á nossá inserçá o, enquánto enfermeirás licenciádás, em um espáço ocupádo por profissionáis dá educáçá o bá sicá. Essá questá o mostrou-se desáfiádorá, tánto párá os estágiá rios como párá os professores e álunos dá escolá, hájá vistá que esperávám, ápenás, á funçá o curátivá e hospitáloce ntricá, historicámente impostá áos profissionáis dá sáu de. O objetivo do está gio curriculár nesse cená rio, no entánto, foi desenvolver átividádes de educáçá o em sáu de junto ás escolás. No primeiro momento do ECSOL I, foi reálizádá observáçá o nás se ries do ensino fundámentál e me dio, duránte ás áulás dás disciplinás de Biologiá, Cie nciás e Quí micá. Nesse perí odo, foi discutido com os professores sobre quál o melhor ássunto, envolvendo á sáu de, que poderiá ser ábordádo e, em seguidá, foi reálizádo o plánejámento dá átividáde párá ser desenvolvidá. Outro desáfio ácompánhou o plánejámento dás átividádes, pois o pu blico-álvo erá composto por ádolescentes, sendo necessá rio pensár em umá metodologiá de ensino átrátivá e, áo mesmo tempo, que ábordásse os conteu dos propostos. Párá essá etápá buscou-se o conhecimento cientí fico ádquirido duránte o processo formátivo do curso, sendo preciso retomár álgumás disciplinás já desenvolvidás, em se ries ánteriores, com enfoque ná licenciáturá, como á Didá ticá, que ábordárám conceitos de pláno de áulá, áváliáçá o e fomentou discussá o sobre metodologiás átivás. A execuçá o dessás átividádes ocorreu tánto em sálá de áulá, como em outros espáços dá escolá, como láboráto rios, bibliotecá, sálá de reunio es. Utilizámos nás estráte giás de ensino ále m do máteriál didá tico dá se rie, máteriáis lu dicos, recursos áudiovisuáis e diná micás párá integráçá o dos álunos como párticipántes átivos do processo de construçá o de conhecimento, válorizándo seus sáberes pre vios. Um desáfio enfrentádo nesse momento foi estimulár os álunos párá á reflexá o, no sentido de que se percebessem como ágentes de tránsformáçá o de suá reálidáde. Os espáços ná o escoláres, em que o ECSOL I foi reálizádo, contárám com á inserçá o dos álunos em projetos de extensá o, oportunizándo á interáçá o com á comunidáde, e o desenvolvimento dás átividádes de educáçá o em sáu de. Forám desenvolvidás átividádes em grupos diversos, como gestántes, idosos, ágentes comunitá rios de sáu de, mulheres, álunos dá Universidáde dá Melhor Idáde (UNAMI). Por serem desenvolvidás temá ticás máis fámiliáres párá enfermágem, os desáfios encontrádos forám menos significátivos, e oportunizárám umcontáto direto com á reálidáde dá profissá o. Os encontros educátivos promoverám, áo enfermeiro em formáçá o, reflexá o sobre suá . • 65 Estágio curricular supervisionado: vivências na licenciatura em enfermagem Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.58-70 ISSN:2446-6220 prá ticá, ále m dá trocá de sáberes e experie nciás que ocorrerám e que empoderárám os párticipántes (professores, estágiá rios, comunidáde e profissionáis). A educáçá o em sáu de tem como objetivo, conforme descrito por Souzá e Jácobiná (2009), á tránsformáçá o de sáberes existentes, ná o informándo párá á sáu de, más levándo os indiví duos á desenvolverám áutonomiá e responsábilidáde no cuidádo com á sáu de; ná o pelá imposiçá o de conhecimentos cientí ficos que os profissionáis em sáu de sá o detentores, más pelo desenvolvimento dá compreensá o de suá situáçá o enquánto ágentes tránsformádores de suá reálidáde. Já o ECSOL II, compreendendo á cárgá horá riá de 238 horás, foi implementádo ná educáçá o profissionál em sáu de, duránte o quinto e u ltimo áno do curso. As átividádes forám desenvolvidás junto á duás escolás de formáçá o do Te cnico de Enfermágem do municí pio que oferecerám está modálidáde, no perí odo mátutino e noturno. Esse está gio visá áo prepáro párá ás átividádes relácionádás á doce nciá nestes espáços formáis de ensino. A doce nciá no ensino Te cnico de Enfermágem e um cámpo de átuáçá o párá muitos enfermeiros, mesmo sem o prepáro sistemátizádo ná gráduáçá o párá átuár nessá á reá. Em estudo reálizádo por Sgárbi et. al (2018), com docentes de cursos Te cnicos de Enfermágem, evidenciou-se que á máioriá dos entrevistádos ácábám átuándo ná doce nciá pelo ácáso, e ná o por umá escolhá intencionál duránte á gráduáçá o, ále m de nenhum dos entrevistádos terem formáçá o ná á reá didá tico-pedágo gicá, pois possuí ám, ápenás, tí tulo de báchárel em enfermágem. Párá Bágnáto (1994), o enfermeiro precisá ter conhecimentos pedágo gicos duránte suá formáçá o que o hábilitem párá suá átuáçá o, sejá elá em instituiço es de ensino formál ou com suá equipe de sáu de, pois e necessá rio prepáro, plánejámento, execuçá o e áváliáçá o do processo ensino-áprendizágem. Párá á distribuiçá o, os álunos forám ágrupádos, buscándo fácilitár seu deslocámento, e ás átividádes ná escolá se dávám em duplás, escolhidás entre os páres. Ná escolá, os álunos ácompánhárám o desenvolvimento de disciplinás com átividádes de observáçá o, rege nciá em áulás teo ricás e prá ticás e, támbe m, átividádes de gestá o. Destácá-se que ás prá ticás coláborátivás com á escolá forám essenciáis párá o desenvolvimento do está gio. Assim, o ESCSOL II foi desenvolvido em formáto semelhánte áo ECSOL I, sendo dividido em momentos em sálá de áulá, com á observáçá o, plánejámento, rege nciá e áváliáçá o. Párá álgumás turmás o está gio envolveu, támbe m, o ácompánhándo de álunos do curso te cnico em átividádes prá ticás em hospitáis e ná átençá o bá sicá. Visándo conhecer áspectos dá gestá o e orgánizáçá o escolár, párte do ECSOL II ocorreu junto á ádministráçá o dá escolá te cnicá, párá que o estágiá rio vivenciásse, ále m dá orgánizáçá o do trábálho pedágo gico, o desenvolvimento e funcionámento dá mesmá. Destácá-se, como primeiro desáfio desse está gio, o despir-se dá condiçá o de áluno, párá tránsformár-nos em professores e poder contribuir párá o ensino-áprendizágem dos futuros profissionáis te cnicos. A observáçá o dás áulás teo ricás e teo rico-prá ticás ocorreu em todos os mo dulos do ensino te cnico, ácompánhándo os professores de diversás disciplinás do curso. Nesse momento, foi possí vel conhecer o perfil dos álunos que frequentávám e quáis metodologiás erám máis utilizádás pelos professores, duránte ás áulás, tendo em vistá que estes álunos erám jovens e ádultos, e á máioriá trábálhádores, com pouco tempo dedicádo áos estudos. Nesse sentido, ná o sá o todás ás metodologiás que conseguem motivá -los á párticipár dás áulás, contribuindo párá á construçá o de conhecimentos. O plánejámento foi á etápá que ocorreu ápo s á observáçá o em sálá de áulá. A átividáde foi reálizádá sob orientáçá o e ácompánhámento direto do docente dá escolá, responsá vel pelá discipliná. Momento em que forám estruturádos ás átividádes que seriám reálizádás e os conteu dos que seriám áplicádos, bem como ás metodologiás á serem utilizádás nás rege nciás dás áulás. Os conteu dos fáziám párte dá ementá já previstá nos cursos e ás metodologiás poderiám ser á nossá escolhá em comum ácordo com o professor dá discipliná. O pláno de áulá máis umá vez foi utilizádo párá áplicáçá o do conteu do proposto. Como desáfio encontrádo, duránte o plánejámento, destácámos á formá de ábordágem dos conteu dos, ássim como á escolhá dos principáis ássuntos, visto que se ássemelhám com os MISSIO, L.; GANASSIM, F.M.H.; SPESSOTO, M.M.R.L.; GOMES, P.L.A. • 66 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.58-70 ISSN:2446-6220 desenvolvidos ná gráduáçá o em enfermágem. Ná educáçá o superior, eles sá o áprofundádos em teoriás cientí ficás e, como á reálidáde do ensino te cnico e outrá, foi preciso ádáptár ás cárácterí sticás dos álunos, e enquádrár-se á reálidáde dos mesmos. Párá Lobáto e Quádros (2018), quándo um ámbiente diálo gico e implántádo em sálá de áulá, e possí vel que ás diferentes perspectivás culturáis e sociáis sejám discutidás, e o áprendiz tenhá á oportunidáde de entender suás limitáço es dás pro priás explicáço es, e se ápropriem de umá nová explicáçá o, construindo um novo sáber. Aindá segundo os áutores, o modelo de áulá, centrádo no professor como informádor, ná o promove esses diá logos. Emborá o está gio tenhá sido desenvolvido em, ápenás, duás escolás do municí pio, o cená rio de ámbás erá diversificádo. As duás possuí ám ámplás sálás de áulá, láboráto rio párá áulás prá ticás e bibliotecá. Apenás umá delás possuí á equipámentos tecnolo gicos, como computádor e dátáshow, disponí veis párá os professores e álunos estágiá rios utilizárem em suás áulás. Fáto que dificultou ás átividádes de rege nciá dos estágiá rios. Ambás átendiám umá me diá de 30 á 50 álunos por sálá. Ao reálizármos áulás diná micás, com o ápoio dá tecnologiá, propiciámos um ámbiente de áprendizágem significátivo e produtivo áos estudántes. A tecnologiá em sálá de áulá áuxiliá no ensino áprendizágem e no áprender á áprender. Autores como Prádo, Váz e Almeidá (2011) ácreditám ná incorporáçá o de diferentes mí diás no processo de construçá o e reconstruçá o dos sáberes ná enfermágem, visto que estás proporcionám o áprendizádo á pártir dás mu ltiplás potenciálidádes, cápácidádes e interesses dos educándos e contribuem, significátivámente, párá um áprendizádo coletivo. Umá questá o que ficou evidente, duránte o perí odo de observáçá o e rege nciá no ECSOL II, foi quándo háviá tentátivás de prá ticás pedágo gicás átivás como, por exemplo, uso de ártigos cientí ficos ou textos com embásámento máis cientí fico do que prá tico. Pore m percebeu-se que os álunos indágávám que seriám te cnicos de enfermágem e ná o enfermeiros, deixándo explicito que esperávám do ensino umá formáçá o ápenás te cnicá. Duránte o ácompánhámento dos está gios, no ámbiente hospitálár, fez-se necessá rio o empoderámento de umá gámá máior de conhecimento cientí fico, párá poder contribuir com á áprendizágem dos álunos. Essá estráte giá támbe m foi necessá riá párá que os álunos nos vissem como docentes, e ná o como colegás em formáçá o, pois ná o seriá possí vel executár o proposto pelá discipliná. As áulás teo ricás ministrádás nás átividádes de rege nciá forám contempládás com diná micás,estudo de cáso, áulás expositivás diálogádás, uso de recursos áudiovisuáis, e outrás estráte giás, pensádás e eláborádás párá que ás áulás fossem esclárecedorás e, áo mesmo tempo, átrátivás. Foi importánte, támbe m, á instrumentálizáçá o teo ricá dos ácáde micos párá o desenvolvimento dás átividádes do está gio. Está se deu com encontros perio dicos e sistemátizádos entre os ácáde micos e os professores dá universidáde, espáços em que se reálizávám leiturás e discusso es de textos relátivos á formáçá o párá á doce nciá, á prá ticás pedágo gicás, á estráte giás de ensino áprendizágem, á áváliáçá o, á supervisá o e áo ácompánhámento do está gio e temás ligádos á s átividádes desenvolvidás ná escolá te cnicá. Limá (2012) destácá que o cámpo de conhecimento pode possibilitár áo professor em formáçá o, ressignificár continuámente á prá ticá e descobrir novás máneirás de compreender o fázer pedágo gico. O está gio támbe m foi concebido como átividáde cientí ficá. Nele, desenvolvemos átividádes de pesquisá junto á s escolás. Destácámos um estudo que objetivou tráçár ás cárácterí sticás dos álunos mátriculádos, em umá dás escolás, e identificár os motivos que os levárám á procurár o curso ná referidá escolá. Entendemos que ás pesquisás levám á buscá de conhecimentos que permitám fázer umá áná lise dás questo es educátivás e dá profissá o, em seus diferentes contextos histo ricos, sociáis, culturáis, orgánizácionáis. Esses conhecimentos fávorecem á formáçá o. Párticipándo dos está gios, ná formáçá o em Licenciáturá em Enfermágem, podemos compreender que, vivenciár está modálidáde de formáçá o e muito máis ámplo do que, ápenás, dár umá áulá. Necessitámos dá teoriá párá o embásámento cientí fico, metodolo gico e didá tico e que á prá ticá sejá reflexivá e criticá. O está gio levá o docente em formáçá o á desenvolver máis o ráciocí nio, á . • 67 Estágio curricular supervisionado: vivências na licenciatura em enfermagem Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.58-70 ISSN:2446-6220 cápácidáde e o espí rito crí tico, ále m dá liberdáde do uso dá criátividáde e, o que e máis importánte, suá identidáde profissionál. Considerações finais A formáçá o ná á reá dá enfermágem tem pássádo por diversás estruturáço es, nos u ltimos ános, demándádás pelo mundo do trábálho ná á reá e pelás polí ticás ádvindás dá educáçá o e dá sáu de. A pártir dos ános 2001, á instituiçá o dás Diretrizes Curriculáres Nácionáis (DCN) pássou á direcionár á formáçá o páutádá pelos princí pios dá integrálidáde dá ássiste nciá, considerándo o Sistemá U nico de Sáu de como eixo estruturánte do processo formátivo. Nele, o está gio curriculár supervisionádo e párte importánte no intuito de formár profissionáis máis crí ticos e reflexivos, cápázes de átuár nás máis diversás situáço es e com condiço es de propor soluço es áos problemás encontrádos. O professor do está gio curriculár supervisionádo precisá ácompánhár os movimentos de mudánçás, tánto do contexto dá sáu de como dá educáçá o, párá direcionár seus álunos estágiá rios á formáçá o ádequádá á s necessidádes demándádás desses setores. Devem ter como objetivo comum á formáçá o de um profissionál e cidádá o com cárácterí sticás critico, reflexivá e humánistá. O enfermeiro docente formádo deve ser um profissionál flexí vel, com cápácidáde párá se ádequár á s diversás necessidádes que o ámbiente exige, que fáçá uso de metodologiás diversás párá ácompánhár o desenvolvimento tecnolo gico dá educáçá o e dá sáu de. Emborá o curso de gráduáçá o em enfermágem dá UEMS tenhá oferecido ás duás modálidádes de formáçá o, concomitántemente (Bácháreládo e Licenciáturá em Enfermágem), tem-se observádo, nestes ános em que vigorou está propostá pedágo gicá, que os sáberes pedágo gicos forám pouco válorizádos, predominándo, no desenvolvimento do curso, á identidáde profissionál ligádá áo bácháreládo, em detrimento dá formáçá o párá á doce nciá. Contudo, ácreditámos que á Licenciáturá em Enfermágem trouxe um diferenciál ná formáçá o destes ácáde micos, tánto no seu desenvolvimento nás átividádes ácáde micás no curso, quánto no ácompánhámento do egresso em suás átividádes profissionáis. Referências ANDRADE, R. C. R., RESENDE, M. R. Aspectos legáis do está gio ná formáçá o de professores: umá retrospectivá histo ricá. Educação em Perspectiva, Viçosá, v. 1, n. 2, p. 230-252, 2010. Disponí vel em: https://periodicos.ufv.br/ojs/educácáoemperspectivá/árticle/view/6474/2653. Acesso em: 02 nov. 2018. BAGNATO, M. H. 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Acesso em: 20 set. 2018. *Doutorá em Educáçá o pelá Universidáde Estáduál de Cámpinás (UNICAMP). Professorá dá Universidáde Estáduál de Máto Grosso do Sul (UEMS). Emáil: lourdesmissio@uems.br. **Doutorá em Educáçá o pelá Universidáde de Cámpinás (UNICAMP). Professorá dá Universidáde Estáduál de Máto Grosso do Sul (UEMS). Emáil: fábiáne_heinen@hotmáil.com. ***Doutorá em Educáçá o pelá Universidáde Federál dá Gránde Dourádos (UFGD). Professorá dá Universidáde Estáduál de Máto Grosso do Sul (UEMS). Emáil: spessotommrl@gmáil.com. ****Mestranda em Ensino e Saúde na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). Email: pl_araujogomes@hotmail.com Recebido em 10/11/2018 Aprovado em 15/01/2019 https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/13680/1/DesvelandoAtuacaoEnfermeira.pdf http://rbsp.sesab.ba.gov.br/index.php/rbsp/issue/view/60 https://www.franca.unesp.br/Home/Pos-graduacao/ServicoSocial/Dissertacoes/tatiana.pdf https://www.franca.unesp.br/Home/Pos-graduacao/ServicoSocial/Dissertacoes/tatiana.pdf http://files.ufgd.edu.br/arquivos/arquivos/78/MESTRADO-DOUTORADO-EDUCACAO/M%C3%A1rcia%20Maria%20Ribera%20Lopes(1).pdf http://files.ufgd.edu.br/arquivos/arquivos/78/MESTRADO-DOUTORADO-EDUCACAO/M%C3%A1rcia%20Maria%20Ribera%20Lopes(1).pdf http://www.uems.br/registro_academico/numeros http://www.uems.br/graduacao/curso/enfermagem-dourados/projeto_pedagogico http://www.uems.br/graduacao/curso/enfermagem-dourados/projeto_pedagogico mailto:lourdesmissio@uems.br mailto:fabiane_heinen@hotmail.com mailto:spessotommrl@gmail.com mailto:pl_araujogomes@hotmail.com Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.71-84 ISSN:2446-6220 ESTÁGIO CURRICULAR COMO EIXO ARTICULADOR NOS CURSOS DE FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES(AS): DOCÊNCIA COMO BASE Curricular internship as an articulating axis in the courses of initial and continued teacher(s) training: teaching as basis Pasantía curricular como eje articulador en los cursos de formación inicial y continuada de profesores y profesoras: docencia como base Denise Rosana da Silva Moraes Berenice Lurdes Borssoi Universidade Estadual do Oeste do Paraná [UNIOESTE] – Bra. RESUMO Este estudo socializa a tessitura do estágio de docência na graduação em Pedagogia e no Plano Nacional de Formação dos profissionais do Magistério da Educação Básica (PARFOR) ofertados na Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, campus de Foz do Iguaçu no Estado do Paraná. Pautado na pesquisa bibliográfica, legal e documental, apresenta as aproximações interdisciplinares entre a universidade e a escola no processo de formação inicial e continuada de professores(as) para o exercício do magistério na educação básica. Destaca o Seminário Integrador, como elemento articulador do currículo, e socializador das atividades desenvolvidas nos estágios curriculares. Fundamentado na filosofia da práxis, objetiva à superação da racionalidade mecânica e tecnicista que privilegia o isolamento entre teoria e prática. Os temas discutidos articulam à universidade, na formação inicial e a escola na formação continuada, tendo a docência como base e, o estágio como eixo que fundamenta essa práxis. Palavras-chave: Estágio. Formação de Professores. Seminário Integrador. Interlocução universidade- escola. ABSTRACT This study socializes the organization of teaching internship at graduation of Pedagogy and the National Training Plan of the teachers of the Basic Education Magisterium (PARFOR) offered at the State University of the West of Paraná - UNIOESTE, Foz do Iguaçu campus in the State of Paraná. Based by the bibliographic, legal and documentary research, it presents the interdisciplinary approaches between the university and the school in the process of initial and continuous training of teachers for the exercise of teaching in basic education. It highlights the Integrator Seminar, as an articulating element of the curriculum, and socializer of the activities developed in the curricular stages. Grounded in the philosophy of praxis, it aims at overcoming the mechanical and technical rationality that privileges the isolation between theory and practice. The themes discussed articulate the university, in the initial training and the school in the continuous training, having the teaching as base and, the stage like axis that bases this praxis. Keywords: Internship. Teacher training. Integrator Seminar. University-school interlocution. RESUMEN Este estudio socializa el camino metodológico de la pasantía de docencia en el Pregrado en Pedagogía y en el Plan Nacional de Formación de los profesionales del Magisterio de la Educación Básica (PARFOR), ofertados en la Universidad Estadual del Oeste de Paraná - UNIOESTE, campus de Foz do Iguaçu en la Provincia de Paraná. Guiado por la investigación empírica, bibliográfica, legal y documental, presenta la importancia de aproximaciones interdisciplinares entre la universidad y la escuela en el proceso de formación inicial y continuada de profesores para el ejercicio del magisterio en la educación básica. Destaca el Seminario Integrador, como elemento articulador del currículo, y socializador de las actividades desarrolladas en las pasantías curriculares. Fundamentado en la filosofía de la praxis, objetiva a la superación de la racionalidad mecánica y técnica que privilegia el aislamiento entre teoría y práctica. Los temas discutidos articulan a la universidad, en la formación inicial y la escuela en la formación continuada, teniendo la docencia como base y la pasantía como eje que fundamenta esa praxis. Palabras-clave: Pasantía. Formación de profesores. Seminario integrador. Interlocución universidad- escuela. DOI: https://doi.org/10.24115/S2446-6220201951612p.71-84 MORAES, D.R.S; BORSSOI, B.L. • 72 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5,n.1, jan.- abr. 2019, p.71-84 ISSN:2446-6220 Introdução o Brasil, o contexto social, político e educacional dos anos 1930, com movimentos, mobilizações e iniciativas da criação da universidade pública, como o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932), possibilitaram pensar numa concepção de educação e formação superior baseada na tríplice responsabilidade entre ensino, pesquisa e extensão (BIANCHETTI; SGUISSARDI, 2017). Essa tríade que fundamenta a universidade pública brasileira está estabelecida institucionalmente nos seus projetos políticos-pedagógicos (PPP), e o estágio supervisionado nos cursos de formação de professores e professoras tanto inicial como continuada, são os temas a serem abordados neste artigo, que compõe um dossiê especificamente acerca da importância e materialidade do estágio curricular supervisionado no percurso formativo do profissional graduado como um todo, mui sensivelmente na constituição do professor e da professora. O estágio de docência na graduação em Pedagogia e na formação de professores vinculados ao Plano Nacional de Formação dos profissionais do Magistério da Educação Básica (PARFOR) - Pedagogia e Formação Pedagógica - sob a coordenação da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE/ campus de Foz do Iguaçu, Estado do Paraná, são o objeto deste estudo. Este artigo apresenta a tessitura do estágio curricular supervisionado em um curso de Licenciatura em Pedagogia, bem como a experiência de formação continuada ou em serviço no âmbito do PARFOR e, como foram sendo construídas as aproximações interdisciplinares entre a universidade e a escola. O curso de Pedagogia da UNIOESTE/ Foz do Iguaçu, está situado em uma região de tríplice fronteira, entre a Argentina, o Brasil e o Paraguai. Falamos aqui de um espaço muito especial, uma tríplice fronteira com um trânsito fluente de pessoas, culturas, vidas que vem e vão nesse espaço e nas escolas, que é o objeto do estágio supervisionado, ainda que possa acontecer, também, em outros espaços não educacionais (MORAES, 2016, p.12). A diversidade nesse cotidiano de uma cidade transfronteiriça1, como Foz do Iguaçu, reforça a necessidade de problematizar e pautar as questões acerca da formação de professores, e o estágio curricular, como apregoa o título desse texto, como eixo articulador da formação inicial, com repercussão na formação continuada. Contudo, esse artigo apresenta o desenho de uma formação, sem o caráter de unicidade/sentido único, mas como, um contributo ao pensamento e tessituras acerca dessa temática tão instigante e ao mesmo tempo desafiadora, como a formação teórica e prática dos professores e professoras brasileiros contemporâneos. Organizamos este texto didaticamente em três momentos, inicialmente um breve contexto acerca da educação superior e da universidade em relação à formação docente. Em seguida abordamos a importância do estágio curricular sob a forma de prática de ensino, como eixo estruturante no curso de Pedagogia - formação inicial e, na formação continuada pelo PARFOR. Finalizamos com apresentação de práticas de estágio em seminários integradores nas e com as escolas de educação básica da cidade de Foz do Iguaçu e região Oeste do Estado do Paraná. Educação superior, universidade e formação para a docência: breve percurso A função da educação superior na universidade, e, sobretudo, da formação de professores e professoras, sempre foi um assunto pautado pelas políticas sociais como essencial para o desenvolvimento social, econômico, político, cultural e intelectual do país. A constituição da educação superior e da própria universidade no Brasil está dependente das caraterísticas do 1Segundo Cury (2010) as territorialidades transfronteiriças do Iguassu são compostas pela área urbana entre as cidades de Foz do Iguaçu - Estado do Paraná- Brasil; Puerto Iguazú - Provincia de Misiones -Argentina , e Ciudad del Este, Presidente Franco, Minga –Guazu e Hernandárias -Departamento de Alto Paraná - Paraguai. N . • 73 Est. cur. como eixo art. nos cursos de formação inicial e continuada de prof.(as): docência como base Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.71-84 ISSN:2446-6220 desenvolvimento da formação social brasileira vinculada a um modo de produção capitalista com tendência global (MINTO, 2014) com características locais. Cabe recordar que a educação superior no Brasil foi constituída numa estrutura de dominação e estatuto colonial, que se modificou ao longo do tempo, com características de algumas permanências. As universidades surgem no Brasil ao lado de duas faces inseparáveis, afirma Caio Prado Jr.: 1º) “a de uma economia subordinada ao sistema internacional imperialista” e, 2º) “a uma ordem social que se caracterizava com o afastamento material e cultural” (MINTO, 2014, p. 134). Neste sentido, a educação na universidade brasileira foi estabelecida por meio de relações complexas de conflitos entre setores diversos, e campos também diversos de disputas, ora de transmissão cultural e em outro momento de preparação de quadros específicos para ocupação profissional. Nesse panorama, a categoria de professores e professoras não se fazia presente já que para ensinar bastaria naquele momento e processo histórico cursar a Escola Normal. A partir do século XIX são criadas universidades cujas identidades são novas, outras modificadas, isto devido às emergências sociais. Algumas universidades permaneceram, outras foram reconfiguradas por novos modelos que podem ser resumidos em: 1º) o modelo de universidade napoleônica, surgida na França com características profissionalizantes, sua organização não-universitária centrada na junção de faculdades com finalidade de formar burocratas e com forte relação do Estado. Este modelo de funcionamento foi adotado no Brasil Colônia (1808). 2º) o modelo de universidade humboldtiana ou newmaniana em Berlin, caracterizada pela unidade ensino e pesquisa. A instituição se voltou para a investigação e produção do conhecimento, e, com isso afastou-se das necessidades imediatas do mercado, com o desafio de instituir uma gestão e regulação menos tutelada, pelo Estado, com a finalidade de consolidar sua autonomia nas tomadas de decisões (BIANCHETTI; SGUISSARDI, 2017). A universidade moderna teria a preocupação com a investigação científica e o preparo para o exercício profissional. A ausência de uma cultura da pesquisa era evidente devido aos fatores sociais de estratificação social e cultural, já que inicialmente esse não foi o objetivo da universidade. Na segunda metade do século XX em decorrência das manifestações dos estudantes nos anos de 1968, a universidade passou a assumir uma importância relevante em vários países. Talvez tenha sido a mais profunda transformação social do século, pois além da expansão em quase todos os países, atingiu todos os grupos sociais que tinham alguma representatividade, gerando novas concepções sociais e de mundo, aprofundando-se no século XXI e, sendo um diferencial para o mundo contemporâneo. Mudanças que transformaram o panorama do ensino superior em todo território, atingindo as estruturas e processos internos nas universidades (ROSSATO, 2005). Nesse contexto, no Brasil a referência de universidade alemã se instaura em âmbito nacional com a Lei n° 5.540/68, que situa e orienta a pesquisa na pós-graduação, deixando a cargo da graduação à formação profissional. Em relação à preocupação com a formação de professores e professoras brasileiros, ela emerge de forma explícita após a independência, quando se cogita a ideia de organização da instrução popular, entretanto desvinculadado tripé universitário, ou seja, a preparação para a docência não tinha necessidade de se fazer em um espaço de ensino, pesquisa e extensão. Anterior a isto, séculos XVII e XVIII, a preparação era incumbência, principalmente, das ordens religiosas, sem cursos superiores específicos, até que o Estado passou a se interessar pela organização da escola pública e formação desses profissionais (ARANHA, 2006). Com isso, a formação do profissional de educação tem seu início no século XIX. No Império, os espaços de formação de professores eram as Escolas Normais, criadas por meio de decretos, com pretensão de formar professores para o magistério primário, que na prática pouco era visível, visto que o governo não prescrevia obrigatoriedade do “ensino de primeiras letras” para todos os cidadãos. O Estado era desobrigado da formação docente. MORAES, D.R.S; BORSSOI, B.L. • 74 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.71-84 ISSN:2446-6220 O século XX apresenta um novo panorama já que a história da educação brasileira pensava na formação dos professores em níveis mais elevados de ensino. A reforma Francisco Campos (1931) elevou para o nível superior à formação de professores(as) atuantes no então nível secundário. A Escola Normal foi transformada em Instituto Pedagógico e formava professores primários e os especialistas em educação. A Universidade de São Paulo – USP deu origem a Faculdade de Educação, incorporando o Instituto de Educação. Tal prática foi discriminada por outras áreas mais nobres da academia que tinham um respaldo pela ciência, e as áreas sociais eram consideradas menos nobres, o que configurava uma disputa entre cientistas e educadores. Os anos 1920 e 1930 são marcados pelos Movimentos dos Pioneiros da Escola Nova (1932), que apontavam a necessidade de formação em nível superior a todos os(as) professores(as). Tentativa frustrada de Anísio Teixeira que propôs a incorporação da Universidade do Distrito Federal e da Escola de Professores do Instituto de Educação do Rio de Janeiro. Nesse percurso tem-se a criação do Curso de Pedagogia em 1939 que, privilegiava a formação do especialista. Momento que se institui a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, com o objetivo de formar o professor que após o bacharelado faria um ano de Didática, podendo assim exercitar a licenciatura, denominado por Chagas (1976) de “Didática da Pedagogia”, configuração que se manteve até 1969. A dicotomia teoria e prática na formação também se estabelecia na prática pedagógica no interior da escola. A ausência de um diálogo entre as áreas de conhecimento e as atividades desenvolvidas no processo de trabalho (do professor em sala de aula, do coordenador pedagógico e/ou do diretor) com vistas a pensar a formação docente não pela unilateralidade, mas pela prática da unidade era explícita e urgia a necessidade de pensar o curso/ formação pautada na concepção de práxis. Freire (1997) pensa a práxis como a estreita relação que se estabelece entre um modo de interpretar a realidade e a vida e a consequente prática que decorre dessa compreensão levando a uma ação transformadora. Esse sentido de práxis na obra de Paulo Freire é fundamental, pois indissociável do pensamento, da análise e da compreensão da função da educação na sua dimensionalidade. Já em 1985, orientadas pelos estudos, inclusive de Paulo Freire, as discussões acerca da reformulação do curso voltam a ser debatidas com mais fervor. Perspectiva que continuou nos anos 1990, onde as universidades com melhores condições ofereciam uma formação vinculada ao ensino, pesquisa e extensão ao professor, nascia assim o germe da pesquisa aliada à prática, campo fértil do estágio supervisionado. Em 1996 com a homologação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Lei n. 9.394, há a assunção de um papel neoliberal atrelado ao desenvolvimento do país com a participação de agências multilaterais que direcionavam as discussões governamentais acerca da dimensão educacional. Nessa década buscava-se ainda a reformulação do curso de Pedagogia diante o confronto de três concepções, sendo que a última foi a que prevaleceu aprovada por meio de Diretriz Curricular Nacional – Resolução CNE/CP nº. 01 de 15 de maio de 2006. A pedagogia centrada na docência, enquanto licenciatura; a pedagogia centrada na ciência da educação, como espaço de formação dos especialistas, enquanto bacharelado; e a pedagogia que integrava as duas dimensões, formando o professor e o Pedagogo unitário em um mesmo percurso, uma vez que a defesa da formação de especialistas na graduação foi se fragilizando ao longo do tempo, embora a LDBEN, intempestivamente, as resgatasse, com o que se ampliaram as divergências e as dificuldades (RODRIGUES e KUENZER, 2007, p. 45). Frente à preocupação com o processo de ensino e de gestão pedagógica na escola cria-se o Curso de Pedagogia – UNIOESTE, campus de Foz do Iguaçu, no formato de pedagogo unitário tendo à docência como base da formação e, como superação de um modelo em fragmentos. De acordo com a Diretriz a finalidade do curso seria “formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos” (BRASIL, 2006). . • 75 Est. cur. como eixo art. nos cursos de formação inicial e continuada de prof.(as): docência como base Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.71-84 ISSN:2446-6220 O Parecer CNE nº.5 enfatiza a docência como base, compreendida como ação educativa e processo pedagógico metódico e intencional e estabelece a formação teórica articulada à prática docente e à prática gestora tanto nos processos educativos escolares como não escolares (BRASIL, 2005). Desde a década de 1990 a formação de professores e professoras brasileiros tem ocorrido de forma diversificada em rede pública e privada de ensino, com forma e conteúdo diferente. Contudo, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, (9394/1996) no art. 61 assegura “a associação entre teorias e práticas, mediante estágios supervisionados” (BRASIL, 20092). Os estágios curriculares supervisionados durante a formação inicial e continuada é parte relevante dos cursos, porque possibilita a “relação trabalho-escola, teoria-prática, e eles podem representar, em certa medida, o elo de articulação orgânica com a própria realidade” (KULCSAR, 1991, p. 63). A formação de professores e professoras: a tessitura do estágio como prática de ensino, pesquisa e extensão O estágio curricular supervisionado tem como princípio fundamental na universidade pública e nos cursos de formação de professores(as), o da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão bem como, compromisso com a formação intelectual, política e pedagógica dos futuros e dos já profissionais da educação. O estágio é considerado, sob dois aspectos. Do ponto de vista pedagógico, ele pode ser um espaço de aprendizagem e de saberes epistemológicos numa perspectiva dialética entre teoria-prática, investigativa, interdisciplinar e emancipatória do processo de ensino no magistério e; do ponto de vista sociológico e cultural a possibilidade de inserção no mundo do trabalho na educação básica bem como, no seu exercício ampla aproximação com a sociedade e com as escolas. Desta forma, o estágio configura-se enquanto “atividade teórica de conhecimento, fundamentação, diálogo e intervenção narealidade [...], ou seja, é no contexto da sala de aula, da escola, do sistema de ensino e da sociedade que a práxis se dá” (PIMENTA; LIMA, 2004, p. 45). Embora o estágio curricular supervisionado muitas vezes possa parecer cumprimento de carga horária e preenchimento de documentos, importantes enquanto organização institucional e teor ético, é necessário ressaltar que é inviável discutir a educação e formação docente sem olhar para a concretude real da nossa sociedade e construir um diálogo pautado teoricamente. Sendo assim, apesar de poucas horas efetivas no ‘chão da escola’ (KUENZER, 2007), o estágio supervisionado é fundamental, por estabelecer um momento interdisciplinar que propicia preparação/planejamento, observação, análise, estudo, diálogo, intervenção, reflexão do agir/pensar/sentir, um repensar a prática/atividades desenvolvidas em uma determinada realidade educativa em prol de um efetivo trabalho qualitativo na escola. A prática de ensino e o estágio são elementos articuladores da formação do (a) professor(a) e, devem ser enfatizados no processo de formação inicial, pois podem se constituir como “lócus de reflexão e formação da identidade ao propiciar debates e pautá-los no decorrer das ações vivenciadas pelos alunos, desenvolvidas numa perspectiva reflexiva e crítica, desde que efetivado com essa finalidade” (BARREIRO; GEBRAN, 2006, p. 20). Essas autoras enfatizam que amparar-se da “reflexão para formar professores e professoras não significa valer-se apenas das teorias, e sim, mediante o pensamento, submeter à realidade a uma práxis, a uma atividade, na qual a ação e a reflexão operem simultaneamente” (Idem, p. 20-21).O estágio curricular supervisionado durante o curso de formação tanto no curso de Pedagogia quanto no PARFOR foi e tem sido um espaço importante de integração entre a graduação na universidade e as escolas de educação básica, na tessitura de uma relação de cooperação e aprendizagem que se faz interdisciplinar. A prática do pensar interdisciplinar possibilita a troca de conceitos, o intercâmbio teórico e metodológico, e com isso, a ampliação de conhecimentos (PAVIANI, 2005), de forma a estabelecer um trabalho coletivo. Nessa perspectiva, o estágio/prática de ensino, se insere numa compreensão 2Redação dada pela Lei nº 12.014, de 2009. MORAES, D.R.S; BORSSOI, B.L. • 76 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.71-84 ISSN:2446-6220 mais ampla da prática pedagógica e do trabalho docente, que segundo Freitas (2007) merece um entendimento de análise da relação escola e trabalho, trabalho e educação, processo de trabalho na sociedade capitalista, organização do trabalho pedagógico e relação teoria e prática, e também uma possível intervenção numa determinada realidade. Por meio do estágio supervisionado há a possibilidade de contextualizar o campo a fim de que as práticas eivadas de teoria e significação sejam ao encontro da escola, num processo de concretude e de construção da alteridade (LÉVINNAS, 2010). É dessa concretude do saber que tratamos ao conceber na formação de professores por meio dos momentos de estágio a “possibilidade de constituição de sujeitos atuantes no fortalecimento da democracia participativa” (GENRO; CRUZ; ZIRGER, 2009, p. 3). Isto é, a universidade pública como importante instituição social (CHAUÍ, 2001) pode criar e ampliar possibilidades de formação dos sujeitos políticos e democráticos, ir além de apenas cumprir seu papel de instrumentalizar para a educação técnica e formal enfatizando unicamente o conhecimento científico. Nesse sentido, a defesa do estágio curricular supervisionado integrador propalando a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, amparado pelo projeto político pedagógico e pelo plano de ensino das disciplinas de prática de ensino sob forma de estágio supervisionado no Curso de Pedagogia – UNIOESTE, campus de Foz do Iguaçu, diante do contexto sociocultural ao qual está inserida a universidade e os cursos que formam professores(as). Essa indissociabilidade, característica da universidade pública, na prática de ensino e estágios, carece num primeiro momento, (e claro, desde o início do curso) da preparação dos acadêmicos para inserção no campo da escola, preferencialmente na rede pública, tanto na questão legal3 como por meio de estudos teórico-práticos referentes ao campo de atuação das práticas de estágio supervisionado a serem desenvolvidas na unidade escolar ou instituições de ensino, previstas e aprovadas pelo plano de ensino da disciplina. Ao adentrar a escola o acadêmico ainda na experiência da aprendizagem, pois demanda de amadurecimento intelectual, se utiliza de meios e técnicas de pesquisa – observação, registros, anotações em diários de estágio, leituras documentais e legais, elaboração de planos de atividades, entre outros formatos pedagógicos de início no terreno da escola – como forma de aprender o exercício profissional da docência e gestão/organização do trabalho pedagógico – ou repensar/refletir quando já atua na área. Esses dados coletados mediante o estágio supervisionado são descritos em relatórios de prática de ensino/estágio, em diálogo com literaturas trabalhadas no decorrer da disciplina e do curso. Num outro momento, é realizado o seminário integrador, formalizado por meio de atividade de extensão. O seminário integrador constituiu-se como elemento articulador dos núcleos contextual, estrutural e integrador, que possibilita a discussão e a socialização das práticas experienciadas durante os estágios desenvolvidos nas disciplinas de Prática de Ensino sob forma de estágio, num movimento interdisciplinar (PPP, 2014). Ou seja, é um momento de encontro entre acadêmicos e professores formadores e profissionais da escola básica, para socialização das experiências de estágio como forma de reflexão das práticas pedagógicas na formação do Pedagogo acerca do trabalho pedagógico da escola, sua atuação e da docência na educação básica. Importa destacar que muitos acadêmicos do curso definem seus objetos de pesquisa desenvolvidos no trabalho de conclusão de curso (TCC), pela inserção no ambiente escolar, seja mediante práticas de ensino sob forma de estágios como pelas atividades práticas como componente curricular (APCC) nas demais disciplinas do curso. Esse processo formativo de aproximação real com a escola, com a sala de aula, com o trabalho docente em si impulsiona a tomada de consciência que possibilitará a conscientização. Freire (1979, p. 15) expressa que “a conscientização implica, pois, 3Que se refere às orientações legais e institucionais, apreciação e aprovação dos termos de compromisso e planos de atividades que celebram a realização dos estágios entre universidade-escola/instituições de ensino e acadêmicos, tendo respaldo do professor orientador. . • 77 Est. cur. como eixo art. nos cursos de formação inicial e continuada de prof.(as): docência como base Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.71-84 ISSN:2446-6220 que ultrapassemos a esfera espontânea de apreensão da realidade, para chegarmos a uma esfera crítica na qual a realidade se dá como objeto cognoscível e na qual o homem assume uma posição epistemológica”. Desse modo, tanto a universidade pública se fortalece em seu tripé como a formação de professores(as), pautadas pelo compromisso com a formação intelectual, política e pedagógica dos futuros e dos já profissionais da educação.Perspectiva que para Fávero (2001) se constitui pelo conhecimento dialético, em que a teoria e prática sejam consideradas como núcleo articulador no processo de formação por meio do trabalho desenvolvido com esses dois eixos de forma integrada, indissociável e complementar. Estágio curricular e os seminários integradores: articulação universidade e escola A formação de professoras e professores: a docência como base Conceituar docência é caminhar por sendas não tão novas, já que este conceito tem seu registro na Língua Portuguesa datado do ano de 1916, entretanto ainda carece de maior explicitação e reconhecimento, dado sua importância. Na reelaboração do Projeto Político-Pedagógico tanto do curso de Pedagogia da UNIOESTE, quanto do curso de Formação de Docentes pelo (PARFOR), a docência figura como a base do processo formativo. Esta premissa atende ao disposto nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Pedagogia, e, busca demarcar a importância da docência como concepção de formação. Docência provém do latim, seu sentido etimológico – docere - significa ensinar, dar a entender, instruir, mostrar, indica, portanto, uma experiência de significação, formação e transformação. Como concepção para o exercício da docência, exige além de vigilância epistemológica por parte do professor e da professora, disposição para aprender, buscar, dialogar com o outro, ampliar a leitura acerca da diversidade, ainda mais em uma região de fronteira. Sacristán e Gómez (2000) expressam que a função docente, bem como, os processos de sua formação e desenvolvimento profissional devem ser considerados em relação às concepções que concebem a prática educativa. Segundo esses autores Stenhouse (1987) considera a docência e o ensino como uma arte, inegavelmente interdisciplinar, em que as ideias se materializam por meio do processo de ensino e aprendizagem, prática eminentemente professoral assevera que o ensino não deve ser entendido e muito menos praticado como uma rotina mecânica de gestão, pois como arte que é as ideias surgidas são experenciadas e exigem uma aproximação face a face que só mesmo a docência pode ocasionar. Neste modelo de ensino, adotado no PPP e prática do curso, o currículo precisa ser construído pelo professor e pela professora e isso requer atividade criadora e intelectual a fim de aprofundar decisões e ações em torno dos valores educativos que serão mediados em sala de aula. Entretanto, há uma lógica instituída na formação de professores(as), que evidencia o caráter técnico e instrumental, cujo objetivo perpassa a transmissão de saberes como um instrutor que repassa saberes construídos por outrem. A perspectiva do PPP do Curso de Pedagogia é de denuncia a esse modelo de formação que treina peritos disciplinados (CANCLINI, 2008). E, com isso, a defesa de uma formação que tem como pressuposto a emancipação humana, evidencia que as áreas de conhecimento dispostas no currículo do curso, sejam à base da formação do professor e da professora no sentido integrador. Pois como expressa Gatti (2010) as propostas curriculares dos cursos de licenciaturas têm demonstrado poucos avanços em relação a favorecer sólidos conhecimentos teórico-práticos para enfrentar o campo de trabalho. A formação no modelo da racionalidade técnica evidencia a separação entre a teoria e a prática, e isso reflete na prática pedagógica do futuro professor(a) em que a reprodução, deslegitima a possibilidade de autoria docente. Uma formação que valoriza a indissociabilidade da teoria e prática, expressa Contreras (2002), entende a sala de aula como o local onde a teoria e os conhecimentos aprendidos da prática e da experiência são organicamente trabalhados pelos professores(as) em sua opção pedagógica. Ou seja, ao contrário de uma atuação docente regulada MORAES, D.R.S; BORSSOI, B.L. • 78 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.71-84 ISSN:2446-6220 por um sistema lógico e infalível de procedimentos, constituído a partir de um conjunto de premissas estabelecidas por agentes externos ao cotidiano da escola. A superação desse modelo significa valorizar a prática do professor, considerando sua função de construtor de conhecimento, e não mero instrutor que transmite os saberes produzidos por outros. O ensino na sala de aula pressupõe o encontro da teoria e da prática que indissociáveis, permitem o imprevisível, a incerteza que é própria da sua realidade. Nessa perspectiva, a formação do futuro professor(a) representa o compromisso assumido da necessidade de analisar sua prática, compreendendo suas inter-relações com as condições educacionais e sociais, e encontrando caminhos para desenvolver os saberes próprios da docência. A meta fundamental da formação docente para o exercício da prática educativa e de tão relevante profissão exige análise e intervenção nos mecanismos de socialização das novas gerações, o que contribui com diferentes possibilidades de pensamento, e ações. Importante destacar o pensamento de Gómez (1998) ao expressar que é uma ilusão considerar nas ciências humanas e, no âmbito educativo um esquema que transfere mecanicamente a teoria para a prática que se estabelece entre as ciências físicas e suas tecnologias. A proposição explicita no PPP do Curso tem como base a aproximação da teoria e prática a partir de suas potencialidades, tendo como horizonte a aprendizagem significativa que eivada de significação contribui com a emancipação. Para este pressuposto assumido de forma coletiva, o estágio curricular supervisionado é eixo articulador do processo de ensino e aprendizagem e com isso, destitui a máxima de que é um tempo separado do exercício cotidiano de formação, já que desde as primeiras séries do curso existe a aproximação da teoria e prática com o terreno da escola, expressando assim, a integração dos diferentes saberes das disciplinas que compõem a matriz curricular do Curso com o contexto e cotidiano da escola, tanto na formação inicial quanto na formação em serviço. O “desafio fundamental central é o de como potenciar essa experiência da ação cotidiana para que ela não se reduza à repetição mecânica, ao ativismo pedagógico ou ao voluntarismo político” (FRIGOTTO, 1996, p. 402). Para que isso não ocorra importa conceber o estágio supervisionado como integrador do ensino, pesquisa e extensão, como eixo articulador do processo de ensino e aprendizagem, de formação humana, profissional e intelectual, sendo uma dimensão curricular essencial na formação dos professores e professoras, de forma a integrar teoria, experiência cotidiana e as práticas numa perspectiva emancipatória e dialética. A práxis como uma atividade dialógica, transformadora e criadora que é, possibilita ao homem a superação da racionalidade mecânica e tecnicista que privilegia o isolamento entre teoria e prática, a separação homem e mundo, sujeito e objeto. Ela é uma forma de pensar-agir na totalidade e, promover a transformação social e de si (MORAES; BORSSOI, 2017). Desse modo, considerar a prática de ensino e os estágios pautados nessa concepção significa potencializar professores (as) tanto na formação inicial quanto continuada como sujeitos do processo educativo, como autor de sua prática pedagógica, do seu trabalho docente se revelando de fato como sujeitos que se reconhecem e são reconhecidos no outro e pelo outro, no ambiente escolar. O estágio assim concebido, como momento de interação-intervenção e diálogo, reconhece a força do outro na construção da prática professoral, como um momento único de representação da alteridade no espaço/tempo da escola, dos professores e professoras e da universidade. Os seminários integradores e a interlocução do estágio com as escolas: boas práticas - universidade e escola No Curso de Pedagogia da UNIOESTE, campus deFoz do Iguaçu, o estágio curricular supervisionado está assegurado no Projeto Político-Pedagógico, e segue as Diretrizes Curriculares Nacionais (2006) tendo como princípio epistemológico a indissociabilidade entre o ensino a pesquisa e a extensão universitária, tendo como pressuposto fundante a totalidade que permite a relação interdisciplinar apontada nos documentos legais da própria UNIOESTE (PDI, 2013), bem como na Carta Magna do país, a Constituição Federal (1988) (UNIOESTE, PPP, 2016). Para Moraes, André e Teruya (2011) a indissociabilidade entre a teoria e a prática, além da instrumentalização . • 79 Est. cur. como eixo art. nos cursos de formação inicial e continuada de prof.(as): docência como base Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.71-84 ISSN:2446-6220 puramente técnica da função docente, indica também a possibilidade de atuação de formar educadores pensantes e conscientes do seu contexto e seu tempo histórico, tendo condições de vislumbrar o caráter social e coletivo de sua profissão. O estágio supervisionado segue também o regulamento específico do curso, dos planos de ensino e normatizações legais vigentes e, se configura enquanto atividade teórico-prática, tanto inserida diretamente na realidade escolar, quanto como componente curricular no curso, materializado nas disciplinas Estágio Supervisionado sob a forma de Prática de Ensino (Quadro 1) com total de 632 horas. O estágio curricular supervisionado tem por objetivo: [...] compreender o contexto social, político e econômico em que a instituição de ensino está inserida; possibilitar a visão de totalidade da prática pedagógica através da unidade teoria e prática; propiciar momentos de investigação e problematização da realidade escolar e educativa, seus determinantes e possibilidades históricas de intervenção com vista a emancipação; garantir a indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão; desenvolver uma postura ética, política, crítica e investigativa no discente; vivenciar práticas cotidianas da organização do trabalho escolar em sua totalidade; desenvolver projetos específicos para a Educação Básica; vivenciar a docência na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental em escolas (UNIOESTE, 2016, p. 44). Quadro 1. Disciplinas de prática de ensino na estrutura curricular do curso de pedagogia 3. Estágio supervisionado 3.1 Prática de ensino sob forma de estágio supervisionado 3.1.1 Prática de ensino I sob forma de estágio supervisionado 136 3.1.2 Prática de ensino II sob forma de estágio supervisionado 248 3.1.3 Prática de ensino III sob forma de estágio supervisionado 248 Subtotal 632 Fonte: Projeto Político Pedagógico (UNIOESTE, 2016) No 2.º ano do Curso o estágio tem 136 horas, 68 teóricas e 68 práticas, contempla observação, participação e reconhecimento do trabalho de organização escolar na Educação Básica e, outros espaços educativos, no que tange a reflexão da práxis pedagógica, PPP e participação nas instâncias colegiadas. No 3.º ano possui 248 horas, 68 teóricas, 180 práticas, enfatiza a docência na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, desenvolvido somente no município de Foz do Iguaçu, em escolar públicas. No 4.º ano contém 248 horas, 68 teóricas e 180 práticas, tendo como lócus estreitamente ligado a função do Pedagogo como articulador do trabalho pedagógico, e a docência nas disciplinas pedagógicas do Ensino Médio (magistério) (UNIOESTE, PPP, 2016). Os estágios são desenvolvidos mediante a observação participativa na organização do trabalho pedagógico escolar em sua totalidade, tanto na coordenação pedagógica e administrativa por meio da participação das instâncias colegiadas, quanto em sala de aula/trabalho docente. Todas as práticas demandam de elaboração e desenvolvimento de planos de atividades e/ou projetos de ensino para a docência na Educação Infantil, nos anos iniciais do Ensino Fundamental e nas Matérias Pedagógicas do Ensino Médio (magistério), bem como um Plano de Ação do Pedagogo. No estágio do 4.º ano após a observação da função do Pedagogo como articulador do trabalho pedagógico os acadêmicos desenvolvem um Plano de Ação do Pedagogo a partir de uma temática que emerge na escola com objetivo de intervenção. Temas trabalhados: indisciplina e disciplina escolar; metodologias de ensino; o papel do grêmio estudantil; ingresso no ensino superior e papel da universidade; entre outras. Essa temática é planejada novamente em plano de atividade e MORAES, D.R.S; BORSSOI, B.L. • 80 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.71-84 ISSN:2446-6220 desenvolvida em oficina pedagógica para os alunos(as) do Curso de Formação de Professores e Professores do magistério – Curso Normal, efetivado em forma de seminário integrador entre Universidade e Escola com participação dos professores formadores, professores da rede básica de ensino e acadêmicos dos cursos – Pedagogia e Magistério. Consideramos um momento crucial após a efetivação dos estágios nas instituições de ensino básico a participação dos acadêmicos/professores no “Seminário Integrador de Prática”, tanto neste específico com o Curso de Formação de Professores quanto no desenvolvido ao final do ano integrando todos os anos do curso de Pedagogia. O seminário integrador constituiu-se como elemento articulador do núcleo curricular, que possibilita a discussão e socialização das atividades vivenciadas durante os estágios desenvolvidos em cada disciplina, num movimento interdisciplinar (UNIOESTE-PPP, 2016). No Curso de Formação Pedagógica do Programa Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR), realizado em interlocução com a universidade, o estágio supervisionado foi desenvolvido nas escolas de educação profissional - Foz do Iguaçu/PR. Duas disciplinas constituíram os estágios: Prática de Ensino I (ênfase na Gestão Escolar e PPP) – 40h; e Prática de Ensino II (ênfase na docência) – 120h (Quadro 2). Quadro 2. Características do seminário integrador - PARFOR Características da Prática de Ensino - Curso de Formação Pedagógica – PARFOR Prática de Ensino I PRÁTICA DE ENSINO I - Gestão Escolar e PPP (40h) Compreende a observação-participante na organização da escola em sua totalidade: Caracterização da escola; Estudo do Projeto Político Pedagógico; Estudo da Diretriz Curricular e Regimento Escolar; Análise do Processo de elaboração do planejamento escolar; Participação nas instâncias colegiadas – Conselho Escolar, Conselho de Classe, Associação de Pais, Mestres e Funcionários (APMF) e Grêmio Estudantil; Conversa/diálogo e observação: direção escolar; equipe pedagógica; professor; aluno; funcionário da escola; membro do Conselho de APMF e Conselho Escolar; Acompanhamento do trabalho da biblioteca e seus projetos Prática de Ensino II PRÁTICA DE ENSINO II - Docência (120h) Compreende a Docência na Educação Profissional: Observação; Elaboração; Desenvolvimento do Projeto da ação docente4; As horas foram assim distribuídas: 20h - Leituras e Elaboração do Projeto; 20h - Regência na Educação Profissional; 20h – Elaboração Relatório Final. Todos esses dados foram registrados em Relatório descritivo-analítico (portfólio) e socializado em Seminário Integrador. Fonte: Elaborado pelas autoras com base no PPP do Curso de Formação Pedagógica (2014). Neste curso também foi realizado o Seminário Integrador (Quadro 3) após a efetivação dos estágios, privilegiando a participação de acadêmicos, docentes e comunidade escolar. O seminárionão foi realizado na universidade, mas em uma das escolas da rede estadual. Importa destacar que neste curso a participação de professores de várias áreas do conhecimento foi marcante, e nesse momento de socialização das atividades concretizadas no estágio emergiram experiências significativas e de demonstração de como a interdisciplinaridade pode ser uma metodologia para romper o isolamento entre as diversas ciências. 4O Projeto deveria conter os seguintes itens: Escola/Turma/Turno; Tema/Conteúdo; Problema; Justificativa; Objetivos; Metodologia (descrever as atividades propostas, cronograma e recursos utilizados); Avaliação; Referências e Anexos. . • 81 Est. cur. como eixo art. nos cursos de formação inicial e continuada de prof.(as): docência como base Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.71-84 ISSN:2446-6220 Quadro 3. Características do Seminário Integrador - PARFOR5 SEMINÁRIO INTEGRADOR (20h): Compreende a socialização das experiências vivenciadas nas Práticas de Ensino I e II 10 h para sistematização de leituras, elaboração/análise de relatórios das práticas e discussão das situações experienciadas, leituras e orientação das formas de intervenção; 10 h apresentação e discussão dos relatórios no Seminário de Prática de Ensino. Todas as atividades desenvolvidas nas disciplinas de Prática de Ensino I e II foram registradas em forma de relatório descritivo analítico. Fonte: Elaborado pelas autoras com base no PPP do Curso de Formação Pedagógica (2014). Avaliamos que o estágio curricular supervisionado trabalhado no Curso de Formação Pedagógica do Programa Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR) teve uma característica muito peculiar, pois possibilitou uma ação dialógica entre as distintas áreas do conhecimento. Essas práticas interdisciplinares podem ser percebidas como uma nova postura diante do conhecimento, buscando superar a separação teoria e prática, a lógica disciplinar e fragmentaria e a ausência de uma relação deste com a realidade concreta (FAZENDA, 2001). Considerações finais Este artigo apresenta um desenho, mesmo que breve, da configuração das práticas de ensino e estágios curriculares supervisionados no processo de formação inicial e continuada de professores e professores para o exercício da educação básica no curso de Pedagogia e Formação Pedagógica do PARFOR. Esse estágio sem o caráter de unicidade, sentido único, mas como, um contributo ao pensamento e prática acerca dessa temática tão instigante e ao mesmo tempo desafiadora, como a formação teórica e prática do professor e da professora. Alguns aspectos merecem destaque após essa exposição. Primeiro, a luta dos movimentos educacionais pela conquista da formação de professores(as) realizada na universidade, sobretudo, a pública e gratuita, que tem como característica o tripé universitário - ensino, pesquisa e extensão, que faz toda a diferença na preparação profissional e intelectual do professor(a). Segundo, a superação da racionalidade técnica e pragmática nas práticas de ensino e estágios, que na história da formação docente eram considerados momentos separados e de mera realização de atividades, sem reflexão crítica da relação sociedade, escola e trabalho docente. A formação no modelo da racionalidade técnica evidencia a separação entre a teoria e a prática, e isso reflete na prática pedagógica do futuro professor(a) em que a reprodução, deslegitima a possibilidade de autoria docente. Terceiro, apesar das fragilidades das Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Pedagogia com a possibilidade de formação polivalente, é preciso considerar sua relevância quanto à concepção de Pedagogo unitário, tendo como base a docência. Isto é de suma importância, pois possibilita ao professor(a) um olhar para a totalidade, ou seja, a formação privilegia compreender a escola não de forma isolada, mas em sua amplitude e particularidade, e relacionar os problemas educacionais a relações sociais mais amplas. E quarto aspecto, as políticas educacionais nos últimos anos apontam para a necessidade de que os currículos sejam organizados em processos que promovam conhecimentos científicos, saberes da experiência, iniciação científica, e inserção do professor(a) no campo de trabalho. Aqui a relevância dos estágios e da interlocução entre Universidade e Escolas da rede básica. 5Esse dado foi publicado no artigo: MORAES, D. R. S.; BORSSOI, B. L. Formação Pedagógica para Professores da Educação Básica - PARFOR: o estágio curricular supervisionado numa perspectiva interdisciplinar. Revista internacional de educação superior, v. 3, p. 7782, 2017. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/riesup/article/view/8650624. Acesso em: 08 de nov. 2018. https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/riesup/article/view/8650624 MORAES, D.R.S; BORSSOI, B.L. • 82 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.71-84 ISSN:2446-6220 Por fim, a indissociabilidade teoria e prática no ensino, pesquisa e extensão no processo de formação de professores(as), a fim de superar uma preparação apenas de caráter instrumental e técnica da função docente, mas de possibilitar também uma formação profissional que integre a intelectual, a política e a cultural como possibilidade de atuação pensante e consciente do seu contexto e seu tempo histórico, tendo condições de vislumbrar o caráter social e coletivo de sua profissão. Importa destacar, que essa interlocução apresentada aqui, com as escolas de educação básica são realidade no curso de Pedagogia, já fazendo parte da organicidade do estágio curricular supervisionado. Ainda, que este texto tecido para esta coletânea que define o estágio como o aporte epistemológico a ser debatido, pode ser um interstício para que, de forma coletiva possamos realizar encontros de trocas de experiências bem como, compartilhar estudos e pesquisas sobre o tema que ainda demanda seu espaço como eixo estruturante da formação. Esse é o horizonte! Referências ARANHA, M. L. A. Filosofia da educação. São Paulo: Moderna, 2006. ARANHA, M. L. A. História da Educação e da Pedagogia: geral e Brasil. São Paulo: Moderna, 2006. BARREIRO, I. M. de F.; GEBRAN, R. A. Prática de Ensino e Estágio Supervisionado na Formação de Professores. São Paulo: Avercamp, 2006. BIANCHETTI, L.; SGUISSARDI, V. 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E-mail: denisepedagoga@gmail.com ou denise.moraes@unioeste.br.**Mestre em Educação, Doutoranda em Educação – Professora do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná-UNIOESTE. E-mail: berenice.borssoi@unioeste.br. Recebido em 10/11/2018 Aprovado em 15/01/2019 http://periodicos.unicesumar.edu.br/index.php/revcesumar/article/view/1171 https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/riesup/article/view/8650624 https://www5.unioeste.br/transparencia/images/Documentos/Planejamento_Orcamento/PDI_Anexo_res_081_2013.pdf https://www5.unioeste.br/transparencia/images/Documentos/Planejamento_Orcamento/PDI_Anexo_res_081_2013.pdf https://www5.unioeste.br/portal/plataforma-freire/cursos-parfor-na-unioeste http://www.unioeste.br/servicos/arqvirtual/arquivos/2872016-CEPE.pdf mailto:denisepedagoga@gmail.com mailto:denise.moraes@unioeste.br mailto:berenice.borssoi@unioeste.br Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.85-94 ISSN:2446-6220 A RELAÇÃO INTERINSTITUCIONAL ENTRE ESCOLA E UNIVERSIDADE NO CONTEXTO DOS ESTÁGIOS CURRICULARES SUPERVISIONADOS Interinstitutional relations between elementary school and college in the context of supervised teaching apprenticeship programs Relación interinstitucional entre la escuela y la universidad en el contexto de las pasantías curriculares supervisados Danielle Monteiro Behrend Cláudia da Silva Cousin Elisabeth Brandão Schmidt Universidade Federal do Rio Grande [FURG] – Bra. RESUMO Este artigo apresenta o Estado da Questão-EQ para a compreensão da relação interinstitucional entre escola de Educação Básica e Universidade no contexto dos Estágios Curriculares Supervisionados- ECS. O Estado da Questão mostrou que as escolas de Educação Básica e as Universidades são lugares privilegiados de aprendizagem da profissão docente. Porém, há necessidade de se estreitar a parceria entre as instituições com proposições coletivas para o provimento de experiências significativas que potencializem processos de aprendizagem da profissão docente. Palavras-chave: Estágio curricular supervisionado. Estado da Questão. Formação de professores. ABSTRACT This paper introduces the State of the Question (SQ) to understand interinstitutional relations between Elementary School and College in the context of Supervised Teaching Apprenticeship Programs (STAP). The SQ showed that Elementary Schools and Colleges are privileged places to learn about teaching. However, partnerships between both must be strengthened by collective projects so signigicant experiences can be developed, this may enhance learning processes which aim at teaching. Keywords: Supervised teaching apprenticeship program. The state of the question. Teacher education. RESUMEN Este artículo presenta el Estado de la Cuestión (EQ, en portugués) para la comprensión de la relación interinstitucional entre la escuela de Educación Básica y la universidad en el contexto de Pasantía Curriculares Supervisadas (ECS, en portugués). El estado de la Cuestión mostro que las escuelas de Educación Básica y las Universidades son lugares privilegiados para el aprendizaje de la profesión docente. Sin embargo, se tiene la necesidad de crear enlaces entre las instituciones con propuestas colectivas para la apertura a experiencias significativas que potencialicen el proceso de aprendizaje de la profesión docente. Palabras-clave: Estadio Curricular Supervisado. Estado de la Cuestión. Formación de profesores. Introdução istoricamente, a formação de professores tem sido objeto de estudos no meio acadêmico, compondo um cenário de debates, investigações e de intervenção nas escolas de Educação Básica e Universidades. Por se tratar de um campo complexo, anseia por compreensões que promovam mudanças e ações significativas nos processos constituintes da profissão docente. Nesse sentido, o Estágio Curricular Supervisionado - ECS, como um componente curricular obrigatório dos cursos de licenciatura, indispensável para formação inicial docente, tem se configurado como um campo fértil de construção do conhecimento, mostrando-se como lugar de ensino, de aprendizagem, de pesquisa e de reflexão da profissão docente. Pesquisas e estudos na área educacional mostram que o ECS constitui um campo do conhecimento “[...] que se produz na interação entre cursos de formação e o campo social no qual H DOI: https://doi.org/10.24115/S2446-6220201951613p.85-94 BEHREND, D.M.; COUSIN, C.S.; SCHMIDT, E.B • 86 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.85-94 ISSN:2446-6220 se desenvolvem as atividades educativas, entre as quais a de ensinar, própria dos profissionais professores” (PIMENTA, 2011, p.9-10). Assim, é possível pensar que a escola e a Universidade, com suas especificidades podem ser complementares na formação de professores oportunizando a construção de conhecimentos essenciais para a formação docente. Os estudos de Diniz-Pereira (2008); Pimenta e Lima (2010); Aroeira (2014); Barbosa e Grunennvaldt (2015) apresentam destaque para essas questões. Ao problematizar as intenções de aproximação e os (des)encontros na relação universidade-escola, Barbosa e Grunennvaldt (2015) afirmam que a escola e a universidade deveriam ser instituições com coesão em suas ações, mas, muitas vezes, o que prepondera é o estabelecimento de uma hierarquia no desenvolvimento dos ECS. A esse respeito os autores alertam que: Deve haver uma efetiva parceria, entre os que dominam a prática, apresentando os elementos de uma conjuntura educacional que acontece no presente momento, em sua prática, propostas e desafios. Por outro lado, os profissionais envolvidos com a pesquisa oferecem os instrumentos e benefícios dessa prática, como possibilidade de dinamizar e concretizar as intenções nomeadas de um processo de formação de qualidade (BARBOSA; GRUNENNVALDT, 2015, p.13). O desenvolvimento do ECS, no contexto das escolas de Educação Básica, pode ser um importante aliado com proposições de articulação entre as instituições formadoras, a saber: escola e universidade, fomentando ações colaborativas em prol da formação teórico/prática dos professores, pois compreendemos que o ECS promove “[...] a presença do aluno estagiário no cotidiano da escola, abre espaço para a realidade e para a vida e o trabalho do professor na sociedade” (PIMENTA; LIMA, 2010, p. 67-68). Entender a escola como lugar de produção de conhecimento da profissão docente requer ressaltar que não estamos deslegitimando a formação de professores nos cursos de licenciatura, mas apostando no reconhecimento das aprendizagens que também são construídas no cotidiano da escola como fundamentais para pensar a formação de professores, pois advém da práxis. A práxis defendida para este estudo como atividade teórica e prática na formação de professores. “Ou seja, teoria e prática são indissociáveis como práxis” (PIMENTA, 2012, p. 93). Em relação à aprendizagem da profissão docente, o Parecer CNE/CP 009/2001, o qual embasa, entre outros, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura e de graduação plena, destaca a relevância da coerência entre a formação de professores oferecida nas universidades com a prática esperada do futuro professor. Este parecer é um subsídio importante à formação docente, inclusive pelo destaque à noção de simetria invertida: A preparação do professor tem duas peculiaridades muito especiais: ele aprende a profissão no lugar similar àquele em que vai atuar, porém, numa situação invertida. Isso implica que deve haver coerência entre o que se faz na formação e o que dele se espera como profissional (BRASIL, 2001, p.30). O conceito de simetriainvertida aponta para as experiências do futuro docente como aluno no decorrer da sua trajetória escolar. Desse modo, o processo de constituição docente inicia nas experiências vividas, antes mesmo de chegarmos aos cursos de formação docente, ou seja, a formação do professor se dá no lugar similar ao que ele vai atuar, só que numa situação invertida. A partir dessa ótica, entendemos que a trajetória dos licenciandos como alunos, “[...] pode construir representações e saberes relativos ao ser/estar professor na escola. Isso significa que, ao mesmo tempo em que ainda não é, já sabe o que é ser docente” (AROEIRA, 2014, p.114-115). Podemos então considerar que o ECS como um campo de conhecimento que se constitui em atividade teórica e prática na formação de professores, em uma perspectiva de co-formação entre . • 87 A relação interinstitucional entre escola e universidade no contexto dos estágios cur. superv. Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.85-94 ISSN:2446-6220 as instituições, precisa apostar no diálogo, no (com)partilhar ideias e repertórios, na escuta, no acolhimento e no entendimento do lugar–escola como elementos basilares para a compreensão do fazer docente em sua complexidade. Nessa perspectiva teórica, escola e universidade “[...] deveriam compartilhar responsabilidades em termos da complexa tarefa de preparar novos profissionais da educação” (DINIZ-PEREIRA, 2008, p. 253, grifos do autor). Com objetivo de compreender a relação interinstitucional entre as escolas de Educação Básica e a Universidade no contexto dos ECS, realizamos uma pesquisa qualitativa com o método denominado Estado da Questão-EQ (NÓBREGA-THERRIEN; THERRIEN, 2010), a partir de uma abordagem fenomenológica-hermenêutica (BICUDO 2011). Apresentamos a seguir a construção do EQ sobre a temática dos ECS, com objetivo de investigar como se mostra o tema dos ECS no estado atual da Ciência. O estado da questão para compreensão dos estágios curriculares supervisionados Este estudo foi realizado para subsidiar uma pesquisa de doutorado, em desenvolvimento, no Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental (PPGEA) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), na linha de pesquisa intitulada Educação Ambiental: Ensino e Formação de Educadores (EAEFE). A pesquisa tem como objetivo central compreender os processos de Ambientalização das relações entre escola e Universidade nos Estágios Curriculares Supervisionados-ECS da FURG. Propor uma pesquisa que busca compreender a relação interinstitucional entre as escolas de Educação Básica e a Universidade no contexto dos ECS exigiu um levantamento bibliográfico sobre como se encontra o tema no estado atual da Ciência. Para realizar essa investigação optamos pelo método do Estado da Questão-EQ (THERRIEN; THERRIEN, 2010), por ser “[...] um caminho fértil para perceber o objeto à luz de outros olhares anteriormente lançados sobre o tema que move o pesquisador” (RODRIGUES, 2016, p. 40). O encontro com o EQ e com a abordagem fenomenológica-hermenêutica ocorreu por meio das investigações dos objetos de estudo de integrantes dos grupos de pesquisa Comunidades Aprendentes em Educação Ambiental, Ciências e Matemática (CEAMECIM) e do grupo Ciranda Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Ambiente (CIPEA). Nesses espaços formativos, em que nos constituímos professoras pesquisadoras, tivemos a oportunidade de estudar os aportes teóricos e metodológicos nas produções de Nóbrega-Therrien e Therrien (2010); Bicudo (2011); Nóbrega-Therrien e Silveira (2011); Rodrigues (2016). Embasadas nesses referenciais, entendemos que o EQ tem como finalidade “[...] levar o pesquisador a registrar, a partir de um rigoroso levantamento bibliográfico, como se encontra o tema ou o objeto de sua investigação no estado atual da ciência ao seu alcance” (NÓBREGA-THERRIEN; THERRIEN, 2010, p. 34). Para além do registro descritivo e quantitativo das produções que abarcam o tema investigado, o EQ possibilitou a busca seletiva com objetivos específicos das produções de interesse, selecionando as bases de dados, definindo os descritores e a periodicidade a ser investigada. Além disso, o EQ é um estudo sistematizado, que “não tem a pretensão de fazer um inventário descritivo dos estudos sobre o tema, como ocorre no Estado da Arte e no Estado do conhecimento” (RODRIGUES, 2016). Cabe destacar que a revisão de literatura faz parte do processo inicial do EQ e requer criticidade do pesquisador, para que este exercício investigativo contribua para construção das bases teóricas da pesquisa que se pretende realizar. Nessa mesma direção, Nóbrega-Therrien e Therrien (2010) contribuem, ao afirmar que: O estado da questão transborda, de certo modo, os limites de uma revisão de literatura centrada mais exclusivamente na explicitação de teorias, conceitos e categorias. A concepção proposta requer uma compreensão ampla da problemática em foco fundada nos registros dos achados científicos e nas suas bases teórico-metodológicas acerca da temática e, decorrente desse mergulho, requer igualmente a perspectiva de contribuição do próprio estudante/ BEHREND, D.M.; COUSIN, C.S.; SCHMIDT, E.B • 88 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.85-94 ISSN:2446-6220 pesquisador cuja argumentação, lógica, sensibilidade, criatividade e intuição apontam as dimensões da nova investigação(NÓBREGA-THERRIEN; THERRIEN, 2010, p. 35). Diante dos entendimentos construídos para a elaboração do EQ, apostamos na pesquisa qualitativa fenomenológica-hermenêutica pela possibilidade de descrição e de compreensão do fenômeno, em que os sentidos e os significados se mostram durante o caminho investigativo oportunizado pelo EQ. Este método dialoga com a proposta do EQ, pois exige do pesquisador um trabalho minucioso de pesquisa, análise e interpretação das informações produzidas, identificação de unidades de significados e a escrita narrativa das compreensões construídas. Importa salientar, que após o encontro com o material de pesquisa, é chegado o momento de organizar e confrontar as informações obtidas com a proposta de pesquisa em desenvolvimento “[...] havendo um diálogo entre o pesquisador e a produção científica encontrada, buscando-se articulações, convergências e divergências” (NÓBREGA-THERRIEN; SILVEIRA, 2010, p. 221). A abordagem fenomenológica-hermenêutica para esta pesquisa contribuiu para a compreensão e a interpretação do fenômeno investigado, pois entendemos que o olhar investigativo possibilitou possíveis respostas sobre o fenômeno. Dessa forma, a análise e a interpretação foram feitas por questionamentos relacionados ao assunto abordado, porque entendemos que “[...] não se obtém verdades lógicas sobre o investigado, mas indicações de seus modos de ser e de se mostrar” (BICUDO, 2011, p. 20). Diante das considerações apontadas sobre as especificidades para a elaboração do EQ, a seguir exibimos os caminhos percorridos para construção do EQ sobre os ECS. Apresentamos o mapeamento para a produção de dados e a análise das informações produzidas. Universidade e escola de educação básica: instituições formativas no ECS Respaldadas na perspectiva fenomenológica-hermenêutica, a qual busca esclarecimentos e interpretações sobre o fenômeno investigado, colocamos em foco o fenômeno de pesquisa a ser questionado, a partir da pergunta/questão: O que se mostra na relação interinstitucional entre escola de Educação Básica e Universidade no contexto dos Estágios Curriculares Supervisionados? Para ampliar o entendimento do problema que mobilizoua pesquisa, o EQ teve como principal objetivo compreender como se dá a relação entre a escola e a Universidade no contexto do ECS. Diante da questão levantada e do objetivo traçado, o EQ teve início pelo levantamento bibliográfico na busca por dados sobre o tema investigado, posteriormente a análise das informações produzidas para construção de pressupostos teórico-metodológicos que embasam os estudos sobre o ECS. O levantamento bibliográfico deu-se pela escolha de três fontes de consultas em sites on-line: Banco de Dissertações e Teses da CAPES; Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental - REMEA; e análise de trabalhos apresentados nas reuniões anuais da Associação Nacional de Pós- Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), especificamente do Grupo de Trabalho - Formação de Professores (GT8). O descritor utilizado em todas as bases de dados foi “Estágio Curricular Supervisionado”. Optamos pela periodicidade de 10 anos, pelo fato de termos iniciado o EQ no ano de 2017, assim demarcamos a busca entre os anos de 2006 a 2016. No primeiro levantamento, o resultado foi bem significativo, tendo sido necessário filtrar de acordo com os interesses de pesquisa. Inicialmente foram localizados 274 registros de produções sobre ECS. Diante do número expressivo de produções foi imprescindível filtrar algumas informações no Banco de Dissertações e Teses da CAPES, concentrando a busca na grande área do conhecimento em Ciências Humanas e na área do conhecimento em Educação. Devido ao elevado número de produções, foi realizada uma breve análise por meio da leitura atenta dos títulos, das palavras-chave e dos resumos das 274 pesquisas, destacando as produções que se aproximavam do problema e do objetivo traçado. As pesquisas que selecionamos foram as que problematizam a relação entre a universidade e a escola no contexto dos ECS, conforme consta no Quadro 1. . • 89 A relação interinstitucional entre escola e universidade no contexto dos estágios cur. superv. Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.85-94 ISSN:2446-6220 Quadro 1- Análise das produções sobre ECS Fontes de Consulta Número de Produções 1. Banco de Dissertações e Teses da CAPES 5 2. REMEA 1 3. ANPED- GT8 2 Fonte: Elaborado pelas autoras. As referências no quadro acima mostram que, para este estudo, foram analisadas cinco Dissertações. Dando continuidade à elaboração do EQ, após a seleção do corpus de análise, foi realizada a apreciação das informações produzidas, com olhar direcionado para o objeto de investigação e, posteriormente, a organização dos achados, a partir do destaque das unidades de análise, também denominadas Unidades de Significado (BICUDO, 2011c, grifos da autora); (MORAES; GALIAZZI, 2016). As Unidades de Significado “se constituem pontos de partida das análises, busquem elas pela estrutura do fenômeno, busquem pelo dito em textos que se mostrem significativos em relação à pergunta formulada e ao fenômeno sob investigação” (BICUDO, 2011c, p.50). Na mesma direção, Moraes e Galiazzi (2016, p. 40) afirmam que as Unidades de Significado, “[...] consistem num processo de desmontagem ou desintegração dos textos, destacando seus elementos constituintes. Significa colocar o foco nos detalhes e nas partes componentes dos textos, um processo de decomposição requerido por qualquer análise”. O exercício de análise contou com as Dissertações de Daniel (2009); Sousa (2009); Custódio (2010); Arruda (2014); Santos (2015). As produções analisadas apresentaram posicionamentos e reflexões sobre a relação entre as instituições formativas e serão apresentadas de acordo com as discussões propostas, tendo como respaldo teórico os estudos de Diniz-Pereira (2008); Pimenta e Lima (2010); Lima e Aroeira (2011); Almeida e Pimenta (2014); Barbosa e Grunennvaldt (2015). Como ponto de partida para organização dos achados do EQ, contamos com as unidades de significado, observando e destacando o que se mostra sobre a relação entre as instituições formativas, na busca pela compreensão de como as pesquisas na atualidade problematizam a complexa relação interinstitucional e as implicações desta nos ECS. Na aposta da parceria entre as instituições, Custódio (2010) e Arruda (2014) defendem a escola como co-formadora de professores em formação inicial. O estudo realizado por Custódio apresenta a escola de Educação Básica como co-responsável pelo processo formativo no desenvolvimento de práticas cooperativas e de intercâmbio entre os sistemas de ensino. Da mesma forma, Arruda (2014, p. 44) destaca que o papel da escola “vai muito além de espaço de aplicação de saberes oriundos das academias. É nesse ambiente em que há a socialização de saberes e de vivências entre professores em formação, professores experientes, alunos, funcionários”. A esse respeito destacamos as unidades 19 e 21: Quadro 2- Unidades de Significado - Custódio (2010) Unidade - 19 [...] a responsabilidade do trabalho coletivo (ou compartilhado) não pode ser responsabilidade apenas de uma instituição, mas de todas as envolvidas, escola e universidade. Fonte: Elaborado pelas autoras. Quadro 3- Unidades de Significado - Arruda (2014) Unidade - 21 [...] os professores regentes, em sua maioria, relataram que a relação (universidade e escola) existente é completamente informal, pelo fato de os orientadores das IES muitas vezes terem sido seus professores durante a época da faculdade. Portanto, existe uma relação amistosa, mas não necessariamente profissional ou de complementaridade na formação do estagiário. Fonte: Elaborado pelas autoras. A proposta de articulação entre as instituições ainda é uma proposição a ser alcançada, pois muitos são os desafios para implementação de ações colaborativas entre escola e universidade. Para o desenvolvimento de ações conjuntas e com propósitos comuns, Diniz- Pereira (2008, grifos do BEHREND, D.M.; COUSIN, C.S.; SCHMIDT, E.B • 90 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.85-94 ISSN:2446-6220 autor) aponta que é necessário romper com modelos de racionalidade técnica de formação, superando a visão aplicacionista e o discurso prescritivo na formação de professores. Com o objetivo de entender a triangulação entre professor regente, professor orientador e futuros professores no processo ECS, a pesquisa de Daniel (2009) mostrou que a universidade mantém uma relação instrumental distante das escolas de Educação Básica, decorrente de práticas hierarquizantes e burocráticas. Destacamos a unidade 22 com o posicionamento de Daniel (2009) em concordância com a narrativa de uma professora orientadora de ECS. Quadro 4- Unidades de Significado - Daniel (2009) Unidade - 22 Concordo com a parceria da escola e universidade, e com uma pressuposta alternativa para propiciar este elo, idealizo assim como também sugestionou uma das professoras orientadoras de estágio, a elaboração sistemática de grupos de trabalho entre professores regentes, futuros professores e orientadores no que tange ao planejamento e discussões conjuntas as ações do fazer pedagógico. Fonte: Elaborado pelas autoras. Barbosa e Grunennvaldt (2015), chamam atenção para os (des)encontros entre as instituições e destacam que, apesar das escolas de Educação Básica participarem da formação inicial de professores, ainda é perceptível o distanciamento entre as instituições, pois a contribuição das escolas não é uma atribuição regulamentada e oficializada institucionalmente. Assim, entendemos que a escola como referência para o desenvolvimentodas práticas pedagógicas “será sempre o ponto de partida e de chegada nos estágios e nas ações de formação contínua de professores. Esse pressuposto tem sido a conclusão de inúmeras pesquisas realizadas na área” (PIMENTA; LIMA, 2010, p.138). A esse respeito à pesquisa de Santos (2015) mostra a emergência de se problematizar a escola para além de uma instituição de ensino em que o ECS deve ser desenvolvido e, sim, como um lugar de formação docente. Conforme destacado na unidade 10: Quadro 5- Unidades de Significado - Santos (2015) Unidade - 10 É inegável que a universidade, como instituição formadora, estabeleça uma relação com a Escola de Educação Básica, entendida aqui como espaço de atuação docente. Cabe, entretanto, abordar que a Escola, além de espaço de atuação, é local de formação do professor. Fonte: Elaborado pelas autoras. A escola como lugar de formação docente, assim destacado por Santos (2015), aposta na imersão dos licenciandos em todas as etapas do processo de ECS, desde as primeiras aproximações com o contexto escolar, nas interações com os estudantes das escolas de Educação Básica, com os diálogos tecidos junto aos professores da escola e também com os professores orientadores que acompanham todas as etapas desse processo. Nesse ínterim, ocorrem, na prática, diálogos de saberes potencializados pela escola em que todos os envolvidos estão em situação de aprendizagem, pois “[...] quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (FREIRE, 2011, p. 25). Em se tratando da aproximação dos licenciandos ao contexto educativo para sua formação docente, Almeida e Pimenta (2014) afirmam: [...] acreditamos que para uma real aproximação com o futuro campo profissional é necessário que os estudantes levantem dados, observem a prática de profissionais mais experientes, reflitam, analisem, conceituem, busquem articular as teorias estudadas com as situações práticas, procurem articular os vários elementos que estão percebendo na realidade observada de modo que avancem no seu desenvolvimento pessoal e na constituição dos seus estilos e atuação. Esse é o movimento que lhes permite, com o apoio das referências teóricas estudadas e das discussões realizadas em sala, buscar refletir criticamente sobre a realidade, interpretar o que observam e, então, formular referências mais gerais para prática futura (ALMEIDA; PIMENTA, 2014, p. 29). . • 91 A relação interinstitucional entre escola e universidade no contexto dos estágios cur. superv. Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.85-94 ISSN:2446-6220 As considerações apontadas pelas autoras seguem na direção do ECS se constituir como um campo de conhecimento que envolve pesquisa, análise crítica, problematização com “[...] estatuto epistemológico que supere sua tradicional redução à atividade prática instrumental” (PIMENTA; LIMA, 2010, p. 29). A respeito da eficácia dessas relações pedagógicas estabelecidas no contexto escolar, a pesquisa desenvolvida por Santos (2015) considera a escola de Educação Básica como um importante papel na formação de novos professores, conforme consta na unidade 18: Quadro 6- Unidades de Significado - Santos (2015) Unidade - 18 O resultado disso mostra a importância da inserção de professores em formação no ambiente escolar e aponta para uma relação, quase inexistente, entre as instituições formadoras – escola e universidade – e o desejo, por parte das escolas estudadas, de que essa relação aconteça de forma efetiva, aprimorando os estudos, as práticas e os fazeres pedagógicos dos profissionais já atuantes na escola de educação básica, bem como dos professores em formação durante todo o curso. Fonte: Elaborado pelas autoras. Nessa direção, Lima e Aroeira (2011) afirmam que o ECS em colaboração com as escolas favorece o estabelecimento de redes coletivas de trabalho, rompendo com as práticas isoladas e ampliando a parceria entre as instituições formadoras por meio dos seus pares (professores e licenciandos). É nesse sentido que a pesquisa de Sousa (2009) aponta que o ECS deveria ser o articulador entre as instituições formativas, tendo o professor da escola de Educação Básica como mediador dessas relações. Assim destacamos a unidade 17: Quadro 7- Unidades de Significado - Souza (2009) Unidade - 17 A complexidade das relações entre a Universidade e as Escolas está longe de ser compreendida se não houver diálogo sobre a formação com qualidade do professor, nos espaços concretos em que ela acontece. Fonte: Elaborado pelas autoras. Sousa (2009) apresenta reflexões sobre a possibilidade de aproximação das instituições pela relação dialógica (Freire, 2011) com os licenciandos e com os professores orientadores, considerando o professor da escola como o mediador do processo dialógico. A esse respeito destacamos a unidade 3: Quadro 8- Unidades de Significado - Daniel (2009) Unidade - 3 [...] o professor regente é quem propicia elos entre os conhecimentos da academia e a realidade da prática pedagógica, já que são sujeitos que em meio aos confrontos produzem saberes, utilizando os conhecimentos conquistados na formação inicial somados as experiências vivenciadas no dia-a-dia escolar. Fonte: Elaborado pelas autoras. Notamos que as pesquisas analisadas no EQ mostram que a parceria entre a universidade e a escola poderá ser consolidada a partir das relações estabelecidas com os professores que acolhem os licenciandos em sua sala de aula. No entanto, o que percebemos é que a escola é tomada, na maioria das vezes, apenas como campo de aplicação de teorias apreendidas na universidade, e os professores das escolas Educação Básica não se veem como co-formadores dos estagiários. Diante das inúmeras responsabilidades que o professor da escola tem, sem seu devido reconhecimento profissional, questionamos se a sua mediação seria o suficiente para estabelecermos uma relação horizontalizada entre as instituições. Seria essa a solução? Não estaríamos responsabilizando o professor da escola por manter ou não a parceria entre as instituições? Na direção desses questionamentos, acreditamos que estreitar os vínculos entre a escola de Educação Básica com a Universidade, requer considerar suas especificidades e suas atribuições socialmente definidas. É na relação entre pares que a parceria entre os sujeitos envolvidos irá fomentar a compreensão mais ampla sobre os sistemas de ensino com possibilidades de aprendizagem da profissão docente. BEHREND, D.M.; COUSIN, C.S.; SCHMIDT, E.B • 92 Laplage em Revista (Sorocaba), vol.5, n.1, jan.- abr. 2019, p.85-94 ISSN:2446-6220 Considerações finais A construção do Estado da Questão-EQ possibilitou um levantamento de pesquisas concernentes à relação interinstitucional entre escola de Educação Básica e Universidade no âmbito dos Estágios Curriculares Supervisionados - ECS, e a identificação de produções científicas sobre a temática em estudo, no contexto atual. Ao analisarmos o que se mostrou no EQ sobre a relação interinstitucional entre escola e universidade, foi possível compreender que as pesquisas apontam que ambas as instituições são lugares de aprendizagem da profissão docente. Não obstante, a escola de Educação Básica, ainda não se percebe como lugar legítimo de formação, pois, de uma forma geral, as relações estabelecidas entre as instituições ainda são esporádicas, por meio de acordos firmados pontualmente entre professores orientadores, licenciandos e professores regentes. Outro fato a ser considerado, refere-se