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PRÁTICAS CONTÁBEIS EM LABORATÓRIO AULA 1 Profª Adriely Camparoto Brito CONVERSA INICIAL Entre as inúmeras opções de atuação profissional que o contador tem, é notória a alta concentração de vagas disponíveis em empresas prestadoras de serviços contábeis (escritórios de contabilidade) e em departamentos internos de contabilidade nas organizações. Considerando este contexto profissional, essa disciplina tem o objetivo de iniciar as noções básicas das atividades desenvolvidas na constituição de pessoas jurídicas, a escrituração dos eventos contábeis e a gerações dos demonstrativos contábeis, bem como o cumprimento das obrigações principais e acessórias que são impostas. Nesta aula, abordaremos o que é uma personalidade jurídica, os tipos societários existentes, os requisitos necessários para constituição de cada um e as orientações iniciais do processo de elaboração dos atos constitutivos. CONTEXTUALIZANDO A constituição de uma pessoa jurídica não é uma atividade simples e exige do profissional o conhecimento de diversas possibilidades e opções disponíveis e suas respectivas particularidades, pois é este profissional o responsável por explicar aos futuros empresários sobre os requisitos necessários e as obrigações que estarão sujeitos após a constituição da empresa. Este assunto é bastante vasto, e nesta aula serão abordados os conceitos principais que subsidiam o profissional de contabilidade. TEMA 1 – PESSOA FÍSICA E PERSONALIDADE JURÍDICA Todo ser humano é uma pessoa física, desde o seu nascimento, momento em que inicia sua vida e, enquanto indivíduo de uma sociedade é capaz de adquirir direitos e deveres na ordem civil, conforme estabelece o Código Civil em seu artigo 1º (Brasil, 2002). A instrução normativa da receita federal (IN/RFB) n. 1548 de 13 de fevereiro de 2015 dispõe a respeito do Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), de competência da Receita Federal do Brasil, estabelecendo que as pessoas físicas brasileiras residentes no Brasil ou no exterior estão obrigadas a inscrever-se no CPF. 3 Esse cadastro pode ser realizado no nascimento da pessoa e sua inscrição é comprovada por meio de uma sequência numérica de onze dígitos, única e exclusiva, não se repetindo e não podendo existir legalmente mais que um cadastro para a mesma pessoa (RFB, 2015). A pessoa jurídica não se trata de um ser vivo e, por isso é denominada por muitos de ficção jurídica, pois sua constituição é prevista e autorizada em lei, mas não fisicamente. Pode ser constituída por uma única ou por várias pessoas físicas, que se reúnem para realização de objetivos comuns. O Código Civil em seu art. 52, define que se aplica às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos de personalidade, ou seja, tem direito à nome, marca, imagem, privacidade e, também tem seus deveres. Isso é o que se chama de personalidade jurídica. Assim como a pessoa física possui cadastro próprio (CPF), pessoas jurídicas possuem o Cadastro Nacional das Pessoas Jurídicas (CNPJ), também de competência da Receita Federal do Brasil, identificado por uma sequência numérica de 15 números, único e exclusivo por pessoa jurídica, que não pode se repetir, conforme disposto na IN/RFB n. 1.863 de 27 de dezembro de 2018. Todas as entidades domiciliadas no Brasil são obrigadas a inscrever-se no CNPJ antes de iniciar suas atividades, assim como cada um de seus estabelecimentos, como é o caso de empresas que possuem filiais no Brasil ou no exterior (RFB, 2018). Resumindo, uma ou mais pessoas físicas juridicamente constituem uma nova pessoa, a jurídica, e esta passa possui uma vida fictícia amparada legalmente e tem direitos e obrigações perante a sociedade, e seus constituidores responderão juridicamente pelos atos praticados por meio dessa nova pessoa (jurídica). No Brasil, temos o código civil e demais legislações societárias que estabelecem as formas jurídicas pelas quais podem ser constituídas as pessoas jurídicas e regulamentam a respeito de seu funcionamento. Nesse sentido, duas abordagens precisam ser destacadas para a constituição de pessoas jurídica: quanto ao direito e quanto à finalidade. 1.1 Quanto ao direito público versus privado O Código Civil, Lei Federal n. 10.406 de 10 de janeiro de 2002, em seu título II, arts. 40 ao 69, dispõe sobre as pessoas jurídicas. Inicialmente 4 estabelece que podem ser de direito público, interno ou externo, ou de direito privado, conforme mostra a Figura 1 (art. 40) (Brasil, 2002). Figura 1 – Direitos das pessoas jurídicas As pessoas jurídicas de direito público interno são as que exercem atividades do estado, a nível municipal, estadual e federal que serão civilmente responsabilizadas pelos atos de seus agentes, gestores ou representantes. Conforme o art. 41 do Código Civil, são elas: I – A União; II – Os estados, o Distrito Federal e os territórios; III – Os municípios; IV- As autarquias, inclusive associações públicas; V – As demais entidades de caráter público criadas por lei. (Brasil, 2002) São várias as entidades que compõem os governos federal, estadual e municipal, mostra o Quadro 1. Quadro 1 – Entidades que compõem o governo federal É importante destacar que a estrutura de governo pode ser alterada com a mudança de gestor, seja ele o presidente, o governador ou o prefeito. Assim como o governo federal possui seus membros, os governos estaduais e 5 municipais também possuem e estes, por sua vez, são menos complexos em relação ao governo federal, conforme demonstra o Quadro 2. Quadro 2 – Entidades que compõem o governo estadual e municipal Pessoas jurídicas de direito público externo são aquelas dos estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público, conforme previsto no art. 42 do Código Civil. Como por exemplo: a União das Nações Unidas (ONU); a UNESCO; a União Europeia e o Mercosul. As pessoas jurídicas de direito privado são organizadas por pessoas com interesses particulares, conforme o art. 44 do Código Civil. Podem ser constituídas sob várias formas, como mostra a Figura 2. Figura 2 – Formas de constituição das pessoas jurídicas 1.2 Quanto à finalidade: com fins lucrativos versus sem fins lucrativos Toda pessoa jurídica é constituída com uma finalidade específica, ou seja, para cumprir determinado objetivo de comum acordo entre seus idealizadores e instituidores. 6 Essa finalidade pode ser a obtenção de lucros para distribuição entre os sócios ou acionistas ou ainda, uma finalidade voltada ao bem-estar social que não vise a acumulação ou distribuição de lucros, embora sejam necessários resultados positivos para sua continuidade e reinvestimentos. Quanto à finalidade, as pessoas jurídicas se dividem em: com fins lucrativos ou sem fins lucrativos. Os tipos de pessoa jurídica citados nos incisos I, III, IV e V do art. 44 do Código Civil são organizações constituídas por meio da união de pessoas físicas com objetivos em comum voltado ao exercício de atividades sem finalidades lucrativas e econômicas. Assim, as associações, fundações, organizações religiosas e partidos políticos são denominados de entidades sem fins lucrativos. Enquanto as sociedades e empresas individuais de responsabilidade limitada (Eireli), são organizações com finalidade de lucro (Hauser, 2017). 1.3 Sintetizando Para melhor compreender os conceitos abordados até aqui, o Quadro 3 representa um resumo. Quadro 3 – Pessoa física e pessoa jurídica TEMA 2 – TIPOS DE ORGANIZAÇÕES JURÍDICAS DE PESSOAS JURÍDICAS O Código Civil, por meio da Lei Federal n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002, em seu título II dos arts. 40 ao 69, estabelece as formas jurídicas que podem ser utilizadas para constituição de pessoas jurídicas de direito privado(Brasil, 2002). São elas: Associações; Sociedades; Fundações; Organizações religiosas; Partidos políticos; Empresa individual de responsabilidade limitada. 7 2.1 Associações (inciso I) As associações, conforme previsto nos arts. 53 ao 61 do Código Civil, serão constituídas por pessoas organizadas para atender um propósito em benefício dos associados, sem finalidade lucrativa, como por exemplo, uma associação de bairro constituída pelos seus moradores para buscar melhorias nos serviços públicos e estruturais do bairro, e contribuir para melhoria de vida dos associados e moradores do próprio bairro (Brasil, 2002). Para sua constituição, é necessária a criação de um estatuto social que abrange: sua denominação, sede, composição, finalidade pretendida, funcionamento dos órgãos deliberativos e administrativos, assembleias, regras para admissão, demissão e exclusão de associados, direitos e deveres, fonte de recursos, entre outras cláusulas e condições facultativas (Brasil, 2002). É importante destacar que essas organizações sem fins lucrativos são constituídas com a finalidade de atender necessidades relacionadas à assistência social, saúde, educação, ensino e pesquisa, cultura, esporte, entre outras que sejam relevantes à sociedade, de forma beneficente e filantrópica e que nem sempre são atendidas pelo poder público. 2.2 Fundações (inciso III) As fundações, previstas nos arts. 62 ao 69 do Código Civil, são constituídas por escritura pública ou testamento, em que o instituidor destinará um patrimônio para servir à alguma causa de interesse público, também sem finalidade de lucro. Podem ser fundadas para atender finalidades religiosas, de assistência social, cultural, educacional, saúde, segurança alimentar, defesa do meio ambiente, pesquisas científicas, promoção da ética, cidadania, democracia e direitos humanos (Brasil, 2002). Como exemplos, há a Fundação Getúlio Vargas (voltada ao ensino e pesquisa); Fundação Nacional do Índio (FUNAI), criada para proteção dos direitos indígenas; Fundação SOS Mata Atlântica (defesa do meio ambiente). 2.3 Organizações religiosas (inciso IV) As pessoas interessadas são livres para criar, organizar, estruturar internamente e funcionar organizações religiosas, desde que todos esses detalhes sejam especificados em seu estatuto, conforme previsto no Código 8 Civil, sendo, portanto, vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento. (Brasil, 2002). É importante destacar que organizações religiosas tradicionais abrangem não somente a estrutura formal, mas também as entidades mantidas pelas igrejas, templos de culto e santas casa de misericórdia de todas as religiões e demais formas organizadas para desenvolvimento de atividades voltadas para a religião. 2.4 Partidos políticos (inciso V) Os partidos políticos serão criados pelas pessoas com interesses políticos em comum, que defendam e proponham uma mesma ideologia, com o objetivo de participar de eleições para ocupar cargos políticos. Devem ser organizados e funcionar conforme legislação específica, como é o caso da Lei Federal n. 9.096 de 19 de setembro de 1995, que dispõe sobre os partidos políticos (Brasil, 1995; Brasil, 2002). 2.5 Sociedades (inciso II) Como citado anteriormente, o Código Civil define quais as naturezas jurídicas que podem ser utilizadas para a constituição de pessoas jurídicas e, entre as opções, estão as sociedades. Há nove possibilidades que podem ser utilizadas para a constituição de pessoa jurídica do tipo sociedade, conforme mostra o Quadro 4, relacionando quais os artigos as disciplinam. 9 Quadro 4 – Os tipos societários previstos no código civil Apesar dessa variedade de tipos societários, vamos abordar a sociedade limitada e a sociedade por ações, pois estão entre as mais utilizadas. 2.5.1 Sociedade limitada A sociedade limitada está prevista nos arts. 1.052 a 1.087 do Código Civil e, conforme o próprio nome traz, a expressão limitada evidencia que há neste tipo de pessoa jurídica, o limite, que se refere à responsabilidade de cada sócio, restrita ao valor de suas quotas. Porém, todos respondem solidariamente pela integralização do capital social, ou seja, o capital social é dividido em quotas e cada sócio terá sua participação proporcional à quantidade de quotas integralizadas no ato da constituição da sociedade ou em alterações posteriores. Assim, sua participação, por exemplo, nos resultados positivos ou negativos apurados, será correspondente ao percentual de suas quotas (Brasil, 2002). Neste tipo de sociedade é necessária a participação de no mínimo dois sócios, todavia, devido à possibilidade de transformação da sociedade empresária em outro tipo, atualmente a sociedade pode prosseguir com apenas um sócio, sendo então categorizada como sociedade unipessoal, desde que pelo prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias, considerando o disposto no art. 1.033 do Código Civil (Brasil, 2002). 2.5.2 Sociedade anônima 10 O Código Civil prevê a sociedade anônima em seus arts. 1.088 e 1.089 e estabelece que esse tipo de sociedade será disciplinada por lei especial, que neste caso, é a Lei Federal n. 6.404 de 15 de dezembro de 1976 (lei das sociedades anônimas), que define em seu art. 1º que a companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas (Brasil, 1976; Brasil 2002). A razão social destas sociedades deverá possuir as expressões companhia ou sociedade anônima, expressas por extenso ou abreviadamente (Cia. e S.A., SA ou S/A). A expressão companhia normalmente é utilizada no início, sendo vedada sua utilização ao final, e a expressão sociedade anônima normalmente é representada ao final da razão social (Brasil, 1976). Podem ser companhias de capital aberto ou fechado, conforme os valores mobiliários de sua emissão. Companhias de capital aberto são aquelas que negociam suas ações na bolsa de valores brasileira. Companhias de capital fechado são sociedades anônimas, e não disponibilizam suas ações para negociação em bolsa de valores, ficando o capital fechado àqueles acionistas que já compõem seu quadro societário. 2.6 Empresa individual de responsabilidade limitada (inciso VI) As empresas individuais de responsabilidade limitada são compostas por um único sócio, enquanto as sociedades são constituídas, em situações normais, por no mínimo dois sócios (Hauser, 2017; Brasil, 2002). A possibilidade de constituição de empresas do tipo empresa individual de responsabilidade limitada foi regulamentada pela Lei Federal n. 12.441 de 11 de julho de 2011, que alterou o Código Civil, em seu art. 980-A (Brasil, 2002). Até então, a responsabilidade limitada era um benefício apenas das pessoas jurídicas constituídas sob a forma de sociedades. Esse tipo de empresa será constituído por um único sócio, que deverá integralizar capital social de sua integral titularidade e, no valor mínimo de 100 (cem) salários mínimos, vigente no país na data do registro do seu instrumento constitutivo ou alterador. A razão social deverá finalizar com a expressão Eireli. O empresário poderá constituir uma única empresa nesta natureza jurídica (Brasil, 2002). 11 A vantagem oferecida por meio deste tipo jurídico é a proteção ao patrimônio particular do sócio, e sua responsabilidade fica limitada ao capital da empresa constituída. 2.7 Empresário individual Além dos tipos jurídicos de direito privado abrangidos pelo Código Civil, ainda existe mais uma opção, o empresário individual, previsto nos arts 966 a 980 (Brasil, 2002). O empresário individual é uma forma jurídica sob a qual pode ser constituída uma empresa contendo apenas um sócio, denominadoempresário. A pessoa física poderá constituir uma única empresa com este tipo jurídico e, não há previsão de limites para a integralização do capital social, desde que este seja integralmente de titularidade do empresário. A desvantagem desse tipo de empresa é que o patrimônio da pessoa física poderá ser atingido caso o capital (patrimônio) da empresa não seja suficiente para o cumprimento das obrigações. Por exemplo, em caso de falência, acabando os bens da empresa, a justiça pode determinar a liquidação de bens particulares do empresário para quitar as obrigações que ainda existirem sob responsabilidade da pessoa jurídica. Para melhorar essa situação e oferecer uma opção com maior segurança aos empresários individuais, foi criada e regulamentada a limitação da responsabilidade por meio do tipo Eireli (Brasil, 2002). TEMA 3 – PRODUTOR RURAL: PESSOA FÍSICA VERSUS PESSOA JURÍDICA O produtor rural é a pessoa física ou jurídica que desenvolve atividades de exploração da terra com finalidades econômicas, em propriedade própria ou de terceiros, ou seja, sob a forma de cessão, parcerias, arrendamentos ou outras. As atividades desenvolvidas pelos produtores rurais podem ser: a pecuária (criação de animais); a agricultura (plantio de vegetais) e o extrativismo (extração de produtos da natureza); e atividades específicas, como por exemplo a piscicultura (criação de peixes), a apicultura (criação de abelhas), a suinoculturas (criação de suínos), entre inúmeras outras. 12 O produtor rural pessoa física é aquele que explora a atividade rural de forma autônoma, ou seja, organiza, estrutura e individualiza a sua produção e movimentação de compras e vendas em seu cadastro de pessoa física (CPF). Dessa forma, todas as notas fiscais e demais documentos serão emitidos em seu CPF, de modo a permitir que a apuração dos resultados seja feita individualmente. A tributação a nível federal será em conformidade com a tributação das pessoas físicas, ou seja, na apuração do imposto de renda realizada na declaração de imposto de renda pessoa física, apresentada no período de março a abril, contendo os dados de todo o ano calendário anterior. Destaca-se que as informações da atividade rural devem ser declaradas na ficha específica da atividade rural, apurando-se o resultado, que se positivo, será tributado nos limites da tabela progressiva do imposto de renda. Se negativo, será acumulado para a apuração do ano calendário seguinte, conforme disposto no regulamento do imposto de renda, Decreto-Lei n. 9.580 de 22 de novembro de 2018 (Brasil, 2018). Para que o produtor rural pessoa física esteja regularizado para comercialização dos seus produtos, é necessário providenciar seu cadastro na secretaria de fazenda do estado de sua localização, obtendo a inscrição estadual, um número de identificação desse produtor junto ao Estado. Após esse cadastro, normalmente é emitido o cartão da inscrição estadual, que evidencia as atividades rurais que o produtor está autorizado a desenvolver, sua habilitação / autorização para emissão de documentos fiscais, bem como sua regularidade quanto à utilização de benefícios fiscais concedidos pelos estados, como a redução de impostos de competência estadual, como é o caso do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Há alguns casos em que, além do cadastro da inscrição estadual, o produtor necessita providenciar o cadastro junto à prefeitura municipal da sua localidade. Essa exigência é específica das prefeituras, podendo ou não acontecer, por isso é necessário sempre realizar consulta prévia junto aos órgãos públicos para confirmar quais os cadastros e documentos que precisam ser feitos para regularizar o desempenho da atividade rural. O produtor rural pessoa jurídica é quando, individualmente ou em coletivo com outros produtores, uma pessoa constitui uma empresa para a 13 exploração da atividade rural, podendo ser formalizada em qualquer um dos tipos jurídicos previstos com finalidade de lucro: sociedade limitada, sociedade anônima, Eireli, etc. Depois que a pessoa jurídica é constituída, suas atividades e movimentações deverão respeitar em todos os aspectos, os dispositivos legais que regem as pessoas jurídicas, além daqueles específicos para o segmento. Nesse sentido, independente de quantos produtores rurais são os sócios, toda a movimentação é centralizada na empresa para tributação e apuração dos resultados e distribuição entre os sócios. A tributação será em conformidade com a tributação das pessoas jurídicas, respeitando os regimes impostos, que podem ser: simples nacional, lucro presumido ou lucro real. A distribuição dos resultados também respeitará as legislações em vigor. No cenário econômico brasileiro, é notória a participação da agricultura familiar como uma importante fonte de sustento de muitas famílias possuidoras de pequenas propriedades rurais e logo, é muito comum a exploração da atividade rural por meio da pessoa física. TEMA 4 – ELEMENTOS NECESSÁRIOS PARA CONSTITUIÇÃO DE PESSOA JURÍDICA Há alguns elementos que necessitam de atenção para constituição de pessoas jurídicas, em conformidade com o disposto nas legislações federais. É importante destacar que antes de executar os procedimentos, é primordial conhecer, além da legislação federal abordada aqui, os dispositivos legais específicos de cada estado, verificando normativos na respectivas juntas comerciais, secretarias de fazenda de Estado, assim como os demais órgãos regulamentadores específicos da atividade a ser explorada, além das disposições da prefeitura municipal, pois elas podem determinar particularidades para o processo de formalização e autorização de funcionamento das empresas estabelecidas em sua localidade. Resumindo, há sempre três níveis de legislação a serem cumpridos, para que a documentação fique adequada e permita as autorizações e licenciamentos necessários à exploração da atividade, conforme mostra a Figura 3. 14 Figura 3 – Níveis de legislação 4.1 Razão social e nome fantasia Conforme apresenta o inciso I do art. 46 do Código Civil, as pessoas jurídicas devem informar no documento constitutivo, qual será a sua denominação (Brasil, 2002). A denominação é a razão social de uma pessoa jurídica, ou seja, o nome pela qual será conhecida juridicamente. Ou seja, uma pessoa física possui o seu nome e sobrenome, que formam seu nome completo, já a pessoa jurídica possui sua razão social. A instrução normativa do Departamento de Registro Empresarial e Integração (DREI) n. 15 de 05 de dezembro de 2013 aborda as especificidades da formação do nome empresarial e sua proteção, sendo fundamental seu estudo para compreensão desse assunto e composição da maneira correta, já que as razões sociais apresentadas com inconsistência aos dispositivos legais serão rejeitadas pelas juntas comerciais. Conforme estabelecido em seu art. 1º, o nome empresarial é aquele sob o qual a pessoa jurídica, seja ela do tipo empresário individual, empresa individual de responsabilidade limitada, etc., sociedades empresárias ou cooperativas irá desempenhar suas atividades, obrigando-se aos atos a elas pertinentes, respondendo por meio de seus representantes legais (DREI, 2013). No caso de Microempreendedor Individual (MEI), a razão social será formada pelo nome completo, sem qualquer tipo de abreviação seguido do número do CPF da pessoa. Assim, sempre que se observar empresas que apresentam o número de CPF à frente de sua razão social, pode- se identificar que essa pessoa jurídica é (ou foi) do tipo MEI, como o exemplo do Quadro 5 (Brasil, 2006). 15 Quadro 5 – Exemplo de razão social de MEI Para o empresário individual a razão social será o seu nome completo, podendo haver abreviações, exceto para o último sobrenome. Poderáainda apresentar opcionalmente a atividade da empresa, conforme o Quadro 6 apresenta (DREI, 2013). Quadro 6 – Exemplo de razão social de empresário individual É importante fazer uma observação sobre a indicação da atividade, de que esta seja a atividade principal, não sendo recomendado informar várias atividades. Para o empresário individual de responsabilidade limitada (Eireli), a razão social poderá ser composta pelo próprio nome ou ainda pelo nome fantasia da empresa. A única obrigatoriedade que se faz é que seja apresentada a sigla Eireli ao fim, conforme exemplos no Quadro 7 (DREI, 2013). Quadro 7 – Exemplo de razão social de empresário individual de responsabilidade limitada 16 Na sociedade limitada a razão social poderá individualizar todos os sócios, ou seja, apresentar o nome de todos, apresentar o nome de apenas um dos sócios acompanhando da expressão “e companhia”, ou ainda pode utilizar o nome fantasia da empresa. Em qualquer das situações, sempre deverá possuir a expressão limitada ao final, por extenso ou abreviado, sendo mais comum a utilização da forma abreviada: LTDA (Quadro 8). Quadro 8 – Exemplo de razão social de sociedade limitada Nas sociedades anônimas não é utilizado o nome dos acionistas, até pelo fato de serem muitos. A orientação é que a razão social deve ser acompanhada das expressões companhia ou sociedade anônima, de forma abreviada ou por extenso, conforme a preferência (Quadro 9). Quadro 9 – Exemplo de razão social de Sociedade Anônima As sociedades em nome coletivo, sociedade em comandita simples e sociedade em comandita por ações podem utilizar o nome de um ou mais sócios, desde que acrescidos da expressão e companhia, podendo também 17 optar por utilizar o nome fantasia ou outro nome representativo da sociedade como razão social. Especificamente para a sociedade em comandita por ações deve-se utilizar a expressão comandita por ações de forma abreviada ou por extenso ao final da razão social. É importante destacar que a razão social das pessoas jurídicas, no momento de sua constituição deverá ser novidade, ou seja, não haverá duas pessoas jurídicas com a mesma razão social, registradas na mesma junta comercial. As palavras filho, júnior, neto, sobrinho ou qualquer outro que indique a relação de parentesco no nome da pessoa, não são consideradas sobrenome e não podem ser apresentadas de forma abreviada. Além disso, não é permitido a utilização na razão social de palavras ou expressões atentatórias à moral e aos bons costumes (DREI, 2013). Além da denominação empresarial, as pessoas jurídicas possuem o nome comercial, aquele apresentado na fachada do estabelecimento e utilizado nas publicidades, propagandas e demais meios de divulgação, chamado de nome fantasia. Exemplificando: se fosse uma pessoa física, o nome fantasia se assemelha ao apelido ou nome pelo qual a pessoa é popularmente conhecida. A razão social e o nome fantasia podem ser diferentes ou semelhantes, conforme exemplos no Quadro 10. Quadro 10 – Exemplo de razão social e nome fantasia As informações de razão social e nome fantasia, podem ser melhor visualizados no modelo de cartão de CNPJ apresentado na Figura 4. A razão social das pessoas jurídicas se constitui pelo nome completo da pessoa e deve ser utilizado em seus atos legais, tais como nos documentos de constituição e alteração e nos documentos fiscais (notas fiscais) emitidas e recebidas, nos recibos e documentos disponibilizados aos colaboradores, como holerites, recibos de férias, termo de rescisão de contrato, contratos de prestação de serviços e em todos os documentos que vier a emitir e receber. 18 O nome fantasia também pode ser utilizado nos documentos emitidos pela empresa, desde que sempre estejam acompanhados da razão social. Vale destacar aqui, que mesmo sendo informado no contrato social qual será o nome fantasia da empresa, esse registro não garante a proteção do nome ou da marca, devendo ser providenciado esse ato específico nos órgãos competentes de registro de marcas e patentes. 4.2 Objeto social e CNAEs O objeto social refere-se à finalidade a que se propõe a pessoa jurídica, podendo ser de lucro ou não, como no caso das associações, fundações, organizações religiosas e partidos político. Essa finalidade não poderá ser ilícita, impossível, indeterminável ou em contrário aos bons costumes, à ordem pública e à moral (DREI, 2018). O objeto de uma pessoa jurídica é a descrição de todas as atividades, tanto a principal como as secundárias, que serão desenvolvidas. A atividade principal refere-se ao que a empresa se dedicará realizar como objetivo maior. Para as empresas com finalidade de lucro, a atividade principal deve ser aquela responsável pela maior receita ou faturamento da empresa, ou seja, a atividade preponderante. As demais atividades desenvolvidas são classificadas como secundárias. Não há previsão legal que estabeleça um limite na quantidade de atividades a serem informadas no contrato social e demais documentos societários, assim como nada impede que uma pessoa jurídica contenha apenas a atividade principal. Nesse sentido, deve ser feita uma análise do que realmente a empresa pretende desempenhar e então definir no contrato social. O objeto social pode ser alterado a qualquer momento, conforme o desenvolvimento das atividades organizacionais e as necessidades de ampliação ou mudança de segmento da pessoa jurídica. No contrato social há uma cláusula específica em que se deve informar o objeto (a finalidade) da empresa, utilizando-se nesse campo, normalmente, uma descrição semelhante àquelas da tabela de Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), acrescentando-se detalhes específicos das particularidades desempenhadas e oferecidas pela empresa (DREI, 2018). 19 Na sequência do objeto social, mas ainda na mesma cláusula, é necessário informar o CNAE correlacionado a cada atividade e nesta parte deve-se manter na íntegra a descrição constante na tabela de CNAE do IBGE, pois essa é a tabela padrão utilizada pela receita federal, receitas estaduais, prefeituras municipais e demais órgãos regulamentadores das atividades empresariais. Todas as atividades que irão compor o objeto social da pessoa jurídica devem estar correlacionadas a algum dos CNAE da tabela do IBGE, sob pena de não autorização pela junta comercial ou órgão competente. A CNAE é disponibilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Comissão Nacional de Classificação (CONCLA), disponível no link: <https://concla.ibge.gov.br/classificacoes/por- tema/atividades-economicas>. A vigente atualmente é a versão de número 2.3. É fundamental destacar que na descrição do objeto no contrato social devem ser evitadas as expressões: em geral, não especificadas anteriormente, e outros, ainda que constem dessa forma na tabela de CNAE, pois são termos genéricos. As atividades a serem desempenhadas devem ser apresentadas com maior clareza e detalhamento possível, evitando indefinição, ambiguidade e duplo sentidos. O Quadro 11 traz um exemplo. Quadro 11 – Exemplo de descrição de objeto social e CNAE correspondente Observa-se que a descrição do objeto apresenta o que a empresa realizará de maneira simples, clara e específica. Na parte dos CNAE a descrição está idêntica à da tabela do IBGE. É fundamental que o contrato social contenha a descrição de todas as atividades desenvolvidas, para que a empresa possa fornecer as notas fiscais adequadas e em conformidade com a legislação comercial e tributária. Emitir documento fiscal de produto ou serviço não autorizado nos documentos constitutivos, licenças e autorizações de funcionamento 20 caracteriza inidoneidade de operação, podendo ocasionar sanções às partes envolvidas na operação.4.2 Capital social O capital social é o valor que os sócios ou acionistas investem na pessoa jurídica para iniciar as atividades, ou seja, o capital inicial é aquele disponível no momento da constituição, devendo ser expresso em moeda corrente nacional. Será administrado visando o alcance dos objetivos da empresa (DREI, 2018). O capital social pode compreender qualquer espécie de bens desde que sejam possíveis de avaliação pecuniária. Por exemplo, pode o capital ser integralizado com dinheiro em espécie, imóveis, veículos, máquinas ou outros bens, desde que estes possam ser mensurados monetariamente, sejam legalmente documentados, estejam disponíveis para transferência em favor da empresa e tenham sua descrição especificamente detalhada no contrato social (DREI, 2018). É vedada a indicação de integralização do capital social baseada na realização de lucros futuros que o sócio venha a obter, mesmo porque a constituição de uma pessoa jurídica não é garantia de obtenção de resultados positivos, mesmo que seja esta a sua finalidade (DREI, 2018). Em se tratando de sociedades, o valor do capital deverá ser discriminado no contrato social, detalhados os valores de cada sócio, a fim de que se apure a participação de cada um na pessoa jurídica, conforme apresentado no Quadro 12. Quadro 12 – Exemplo de composição de capital social em sociedade limitada 21 Na sociedade limitada a participação e as responsabilidades serão definidas com base no capital integralizado por cada sócio. Neste caso, o capital social deverá ser dividido em cotas, normalmente no valor de R$1,00 (um real) cada (não é obrigatório que o valor de cada cota seja este, entretanto, é o utilizado com maior frequência). TEMA 5 – DIRECIONAMENTOS INICIAIS PARA A CONSTITUIÇÃO DE EMPRESAS O art. 45 do Código Civil estabelece que as pessoas jurídicas somente passam a existir legalmente quando existe registro do seu ato constitutivo no órgão específico, seja na junta comercial ou em cartório e serão precedidas das autorizações necessárias nas esferas federais, estaduais e municipais para o desenvolvimento de suas atividades (Brasil, 2002). Somente após estar devidamente regularizada em todos os órgãos necessários a pessoa jurídica pode iniciar suas atividades, por isso, a etapa da constituição precisa ser executada com muito zelo, observando aos dispositivos legais pertinentes, possibilitando assim a obtenção das licenças e autorizações necessárias. 5.1 Cuidados na elaboração do contrato social A elaboração do contrato social ou do ato constitutivo em si, conforme o tipo jurídico definido, é uma atividade que exige muita atenção do profissional que está a executando, e principalmente, clareza por parte dos sócios e administradores. Neste documento deverão constar as informações que irão conduzir o desenvolvimento das atividades da empresa, quanto aos aspectos legais e societários, bem como os direitos e obrigações dos sócios proprietários. É importante ressaltar aqui, que os exemplos apresentados dos elementos abaixo seguirão como base os tipos empresariais da sociedade limitada ou Eireli por serem os mais utilizados e possuírem algumas semelhanças em certas cláusulas do contrato social. Em casos específicos de outros tipos jurídicos deverão ser observadas as orientações e modelos disponibilizados no site da junta comercial do seu estado. 22 O art. 46 do Código Civil estabelece que os elementos que devem ser declarados e esclarecidos no documento de constituição da pessoa jurídica. Inciso I: a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando houver” (art. 46). (Brasil, 2002) A denominação é a razão social, conforme já especificado, ou seja, o nome jurídico da empresa. Normalmente é utilizada a primeira cláusula do contrato social para apresentar a razão social. Pode-se aproveitar a mesma cláusula do contrato para apresentar também o nome fantasia, conforme mostra o Quadro 13. Quadro 13 – Exemplo de cláusula de razão social e nome fantasia Note que se considera a mesma razão social como se fosse uma única empresa, mudando apenas a sigla ao final, que indica o tipo de personalidade jurídica escolhida. Se a opção fosse por sociedade limitada, utiliza-se a sigla “LTDA”, se a escolha for pelo tipo empresa individual de responsabilidade limitada, utiliza-se a sigla Eireli. Relembrando que a razão social somente será utilizada após aprovação da junta comercial do respectivo estado, indicando que é novidade e não há outra razão social semelhante. Os fins referem-se à finalidade a que se propõe, ou seja, as atividades. É necessário apresentar a descrição destas atividades (objeto social), acompanhando dos respectivos CNAEs. O Quadro 14 evidencia. 23 Quadro 14 – Exemplo de cláusula de objeto social Nota-se que na descrição do primeiro e segundo CNAE, há as expressões em geral e não especificados anteriormente ao final, e estas não foram utilizadas na primeira parte da cláusula, em que se define o objeto social. Isso refere-se ao tópico 4.2, que aborda a vedação de utilização de expressões genéricas ou ambíguas, que tornem o objeto indefinido, ou seja, o ideal é que toda clareza seja utilizada nessa cláusula. A sede é o endereço em que a pessoa jurídica será estabelecida, precisa ter informação completa (logradouro, número, bairro, município, CEP), alguns órgãos solicitam até a informação de um complemento e um ponto de referência que facilitem a localização do estabelecimento para fins de fiscalização. Recomenda-se ainda, que antes de formalizar a constituição seja feita a consulta na prefeitura municipal para confirmação do endereço, evitando possíveis transtornos no momento da emissão do alvará municipal. O Quadro 15 traz o exemplo. Quadro 15 – Exemplo de cláusula da sede O tempo de duração corresponde à expectativa de atuação da pessoa jurídica. Normalmente é informado no contrato social que o tempo é indeterminado, e é rara a constituição de uma empresa com prazo ou data definida para sua dissolução (Quadro 16). Apesar dos altos índices de 24 encerramento de empresas, o tradicional é que sejam constituídas pensando na sua continuidade e prosperidade. Quadro 16 – Exemplo de cláusula da duração O fundo social (quando houver), é um fundo financeiro destinado a garantir a finalidade social, normalmente utilizado em instituições sem fins lucrativos voltadas ao bem-estar social. Inciso II: o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores, e dos diretores. (Brasil, 2002). Isso refere-se à identificação completa de todos os sócios e administradores da pessoa jurídica. Essa identificação deve conter pelo menos o nome completo, nacionalidade, data de nascimento, documento de identificação, número do CPF e endereço. Também deve ser destacada a função exercida, se é apenas sócio ou sócio administrador, entre outros. A identificação completa é apresentada no preâmbulo (parte inicial) do contrato social, conforme pode-se observar no Quadro 17. Quadro 17 – Exemplo de preâmbulo de um contrato social de sociedade limitada 25 O exemplo acima contempla o preâmbulo do contrato social de uma sociedade limitada composta por dois sócios, entretanto, utiliza-se o mesmo modelo para o preâmbulo de contrato social de uma empresa individual de responsabilidade limitada (Eireli), ajustando-se o que for necessário, como na última frase em que é citado o tipo jurídico da empresa a ser constituída. Além da apresentação dos sócios, devem ser discriminadas as suas participações no capital social, pois isto define a responsabilidade de cada sócio, como demonstra o Quadro 18. Quadro 18 – Exemplo de cláusula do capital social Inciso III: o modo por que se administra e representa, ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente. ” (Brasil,2002). Corresponde à forma que ocorrerá a administração e representação legal da pessoa jurídica, se caberá aos próprios sócios de maneira conjunta ou isoladamente, qual sócio será o representante legal ou, se será por meio de conselhos de administração, identificando quais existirão, a função principal de cada um, seus membros e respectivas funções (Quadro 19). Quadro 19 – Exemplo de cláusula de administração da sociedade Nota-se que a cláusula apresenta apenas um sócio como administrador, mas nada impede que a administração da sociedade seja realizada por mais de 26 um sócio ou até mesmo por todos os sócios. É necessário apenas que isso seja devidamente detalhado no instrumento de constituição. Poderá ainda, ocorrer mudança de sócio administrador ou sócios administradores no decurso das atividades organizacionais, para tanto, faz-se necessário o registro do instrumento alterador. Inciso IV: se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração e de que modo. (Brasil, 2002) No caso de sociedades administradas por meio de conselhos, o próprio ato constitutivo deve prever condições específicas para a alteração da administração, ou seja, qual será o conselho responsável, se será por eleição, a quantidade mínima de membros que devem estar presentes, entre outros detalhes. Em caso de sociedade limitada, é fundamental que o ato constitutivo apresente cláusula específica a respeito da vedação de atos ilícitos ou alheios à finalidade da sociedade. Isso também pode ser observado no exemplo acima, em que se apresenta a cláusula a respeito da administração da sociedade, já citando que é vedado a realização de atividades estranhas ao interesse social. Inciso V: se os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais. (Brasil, 2002) Os atos constitutivos devem apresentar as obrigações dos sócios e administradores e sua participação nos resultados apurados, seja ele lucros ou prejuízo. Em caso de dívidas, deve apresentar como ocorrerá sua quitação e o alcance do patrimônio para honrar as obrigações. O Quadro 20 exemplifica. Quadro 20 – Exemplo de cláusula da apuração dos resultados Inciso VI: as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio, nesse caso. (Brasil, 2002) 27 Mesmo que as empresas não sejam constituídas pensando em sua dissolução, o contrato social deve conter cláusula específica estabelecendo as condições para sua extinção, discriminando como ocorrerá a apuração dos haveres, a quitação de obrigações, a distribuição do patrimônio entre os sócios, e a destinação do patrimônio no caso de entidades sem fins lucrativos. Quadro 21– Exemplo de cláusulas que abordem sobre a dissolução É notório destacar que as próprias juntas comerciais de cada estado disponibilizam modelos dos atos constitutivos alterador e de extinção, e as normas para elaboração em seus sites institucionais. Além disso, há o Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração (DREI), que disponibiliza as instruções normativas e demais atos legais que regulamentam os atos de constituição, alteração e extinção, sendo fundamental a realização da leitura dessas orientações antes da sua formalização. 5.2 Porte das pessoas jurídicas Após definir o tipo jurídico da empresa a ser constituída é necessário pensar em seu porte. O porte é uma classificação realizada com base no tamanho da empresa. Existem classificações feitas por órgãos como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico Sustentável (BNDES), normalmente utilizadas em estudos estatísticos. Para a prática contábil deve-se considerar a classificação trazida pela Lei Complementar Federal n. 123 de 14 de dezembro de 2006 (LC n. 123/2006), popularmente conhecida como a lei do simples nacional (Brasil, 2006). 28 Conforme estabelecido no art. 3º da referida legislação, podem ser consideradas como microempresa ou empresa de pequeno porte, a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada (Eireli) e o empresário. Ou seja, essa classificação é aplicável somente às empresas constituídas sob esses tipos jurídicos. Demais pessoas jurídicas como associações, fundações, órgãos públicos, etc., não utilizam enquadramento por porte (Brasil, 2006). Para ser considerada microempresa (ME) a receita bruta prevista para o exercício atual, no caso de constituição de empresa ou receita bruta obtida no ano calendário anterior, no caso de empresas já em atividade, deve ser igual ou inferior a R$360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais). Ultrapassado este limite, deve-se providenciar o reenquadramento como empresa de pequeno porte (Brasil, 2006). Para ser considerada empresa de pequeno porte (EPP) a receita bruta prevista para o exercício atual no caso de constituição de empresa, ou receita bruta obtida no ano calendário anterior para empresa já em atividade deve ser superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais). Ultrapassado esse limite, deve-se providenciar o desenquadramento de EPP (Brasil, 2006). Era comum a utilização das expressões ME e EPP ao final da razão social das empresas, o que foi alterado pela revogação do art. 72 da Lei Complementar n.123/2006, não sendo mais permitido utilizar a indicação do porte juntamente com a razão social. Em virtude disso, foi criado um novo campo no comprovante de inscrição no CNPJ. Para as empresas que já possuíam a indicação do porte em sua razão social, deve-se providenciar a alteração de razão social, excluindo o mesmo em cláusula específica, conforme modelo sugerido: Retira-se a expressão ME ou EPP (conforme o constante na razão social da empresa) do nome empresarial, em razão da revogação do Art. 72 da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006, pelo Art. 10 da Lei Complementar nº 155, de 27 de outubro de 2016. Destaca-se que não foi estabelecido um prazo para essa alteração da razão social, pois as alterações possuem custos de honorários do profissional responsável e taxas dos órgãos específicos (como junta comercial, secretaria de estado de fazenda e prefeitura municipal). Diante disso, fica obrigatório sua 29 realização na primeira alteração que a empresa venha a ter após a publicação da nova regra. Para os empresários individuais que não possuem contrato social, e sim, requerimento de empresário, não se utiliza a cláusula citada acima, devendo incluir o evento de alteração de nome empresarial em sua alteração. Figura 4 – Cartão de CNPJ É fundamental que as empresas mantenham seu porte informado corretamente nas juntas comerciais e na receita federal e, quando há mudança de porte, deve-se providenciar no início do ano calendário, o reenquadramento ou desenquadramento. Isso é relevante para que a informação apresentada seja correta, o que garante o usufruto de benefícios previstos na lei, como por exemplo, as participações em licitações (Brasil, 2006). TROCANDO IDEIAS Para melhor compreensão do assunto abordado, propõe-se a reflexão e discussão a respeito do novo tipo jurídico, a empresa individual de responsabilidade de limitada (Eireli). Considerando os conceitos e a classificação do Código Civil apresentados nesta aula, pode-se entender a Eireli como uma sociedade empresária? 30 NA PRÁTICA Para melhor fixação dos conteúdos estudados nesta aula, propõe que o aluno identifique os itens abaixo, de pelo menos três empresas/estabelecimentos que você frequenta rotineiramente, baseado no cupom ou nota fiscal de alguma compra (pode ser o lanche feito em uma cantina, o almoço em um restaurante, o café em uma cafeteria, etc.).: a. O tipo jurídico; b. A razão social; c. O nome fantasia. FINALIZANDONa aula de hoje estudamos as diferenças da pessoas físicas e pessoas jurídicas, os diversos tipos jurídicos que podem ser constituídos, inclusive para a atividade de produtor rural. Além disso, abordamos os conceitos principais que precisam ser apreciados para a constituição de uma pessoa jurídica, quanto à sua composição da razão social, sua finalidade e o objetivo social, o capital e outras cláusulas e esclarecimentos necessários ao instrumento constitutivo. Mesmo sendo uma atividade complexa a constituição e a legalização de pessoas jurídicas, com os conceitos abordados nessa aula o aluno adquire condições de compreender a prática. REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto Federal n. 9.580, de 22 de novembro de 2018. Regulamenta a tributação, a fiscalização, a arrecadação e a administração do imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza. Disponível em: <http://www2.planalto.gov.br/>. Acesso em: 24 maio 2019. _____. Lei Complementar Federal n. 123 de 14 de dezembro de 2006. Institui o estatuto nacional da microempresa e da empresa de pequeno porte; altera dispositivos das leis n. 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei n. 5.452, de 1o de maio de 1943, da Lei n. 10.189, de 14 de fevereiro de 2001, da Lei Complementar n. 63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga as leis n. 9.317 de 5 31 de dezembro de 1996 e 9.841 de 5 de outubro de 1999. Disponível em: < http://www2.planalto.gov.br. Acesso em: 24 maio 2019. _____. Lei Federal n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o código civil. Disponível em: <http://www2.planalto.gov.br>. Acesso em: 24 maio 2019. _____. Lei Federal n. 12.441, de 11 de julho de 2011. Altera a Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 para permitir a constituição de empresa individual de responsabilidade limitada. Disponível em: < http://www2.planalto.gov.br>. Acesso em: 24 maio 2019. _____. Lei Federal n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as sociedades por ações. Disponível em: <http://www2.planalto.gov.br>. Acesso em: 24 maio 2019. _____. Lei Federal n. 9.096, de 19 de setembro de 1995. Dispõe sobre partidos políticos, regulamenta os arts. 17 e 14, § 3º, inciso V da Constituição Federal. Disponível em: <http://www2.planalto.gov.br>. Acesso em: 24 maio 2019. DREI – Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração. Instrução Normativa DREI n. 50, de 11 de outubro de 2018. Altera os manuais de registro aprovados pela instrução normativa n. 38, de 2 de março de 2017. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/>. Acesso em: 24 maio 2019. _____. Instrução Normativa n. 15, de 5 de dezembro de 2013. Dispõe sobre a formação do nome empresarial, sua proteção e outras providências. Disponível em: <www.mdic.gov.br>. Acesso em 24 maio 2019. HAUSER, P. Contabilidade tributária: dos conceitos à aplicação. Curitiba, InterSaberes, 2017. RFB - Receita Federal do Brasil. Instrução Normativa RFB n. 1.548 de 13 de fevereiro de 2015. Dispõe sobre o Cadastro de Pessoas Físicas (CPF). Disponível em: <<normas.receita.fazenda.gov.br>>. Acesso em: 24 maio 2019. _____. Instrução normativa RFB n. 1.863 de 27 de dezembro de 2018. Dispõe sobre o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ). Disponível em: <<normas.receita.fazenda.gov.br>. Acesso em: 24 maio 2019. PRÁTICAS CONTÁBEIS EM LABORATÓRIO AULA 2 Prof.ª Adriely Camparoto Brito 2 CONVERSA INICIAL Anteriormente, aprendemos a respeito dos tipos jurídicos pelos quais as pessoas jurídicas podem ser constituídas, bem como os principais aspectos conceituais necessários para sua constituição. Nesta aula, vamos verificar a aplicação prática dos conceitos aprendidos anteriormente. Para tanto, abordaremos as etapas dos processos de constituição, alteração e extinção de pessoas jurídicas em âmbitos federal, estadual e municipal, tentando evidenciar a ideia de como é atualmente a operacionalização de cada uma dessas etapas. Para complementar esse estudo do ambiente de funcionamento das pessoas jurídicas, também abordaremos as licenças e autorizações necessárias para o desenvolvimento das atividades operacionais. CONTEXTUALIZANDO Até alguns anos atrás o processo de constituição, alteração e, principalmente, de baixa de pessoas jurídicas era realizado em sua grande parte (ou em sua totalidade) de maneira manual. Esse cenário se refletia em longos dias de espera pelos empresários para que tivessem seus atos devidamente registrados. Sempre houve uma grande demanda por parte dos profissionais que atuam nessa área, em especial os contabilistas, para que os governos de todos os níveis se esforçassem para melhorar e reduzir o tempo desses processos. Esse é o ambiente atual, de mudanças, pois os governos estão tentando otimizar e facilitar os processos de registro e legalização das pessoas jurídicas, por meio da criação de um portal único que visa integrar os sistemas federal, estadual e municipal, que ainda está em fase de implantações e aperfeiçoamentos, principalmente quanto aos serviços municipais. Este novo ambiente de registros e legalização é o que estudaremos nesta aula. TEMA 1 – CONSTITUIÇÃO DE EMPRESA PELO REDESIM O Redesim reduziu de 8 para 5 dias o tempo médio de abertura de empresas no Brasil, comparando os últimos trimestres de 2017 e 2018. Além disso, aumentou em 20% a quantidade de empresas abertas em até 3 dias (Receita Federal, 2018). 3 1.1 O que é o Redesim? O Redesim é a Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios, criado por meio da Lei Federal n. 11.958, de 3 de dezembro de 2007, com o objetivo de estabelecer (e continuar aprimorando) diretrizes e procedimentos para a integração e a simplificação dos processos de constituição, alteração, baixa e legalização de pessoas jurídicas (Sempe, 2019; Brasil, 2007). O projeto completo do Redesim é que todos os órgãos responsáveis por registros e legalizações de pessoas jurídicas participem dessa rede nacional, compartilhando o mesmo banco de dados, desburocratizando e agilizando os processos de registros de atos. Conforme observa-se pela Lei de criação, o projeto idealizado desde 2007 foi implementado no início de 2017 no município de São Paulo e somente em julho de 2018 foi disponibilizado para todo o Brasil – e ainda está em desenvolvimento. Desde sua implantação, o Redesim se tornou “a janela única dos órgãos partícipes para a interação com o cidadão empreendedor” (Receita Federal, 2018). Atualmente, os órgãos responsáveis pelos registros de atos e legalização das pessoas jurídicas são: Receita Federal, Juntas Comerciais, Receitas Estaduais e Secretarias de Fazenda de todos os estados e do Distrito Federal, prefeituras de todos os municípios brasileiros e órgãos de licenciamentos de atividades, tais como corpo de bombeiros, vigilâncias sanitárias e órgãos do meio ambiente. Entretanto, a participação no Redesim é obrigatória apenas para os órgãos federais responsáveis pelos processos de registro e legalização (Receita Federal e Juntas Comerciais). Para os demais órgãos estaduais, municipais e de legalização, a adesão é voluntária (Sempe, 2019). A administração do Redesim é feita pelo comitê gestor CGSIM, e sua secretaria executiva é de responsabilidade do Departamento de Registro Empresarial e Integração (DREI), da Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa (Sempe). O modelo de trabalho consolidado pelo CGSIM marca uma mudança significativa na relação do empreendedor com o governo, pois até pouco tempo era preciso elaborar documentação separada para cada órgão e, com a evolução do Redesim, o contribuinte poderá acessar em um local único todos os sistemas governamentais de registro e legalização envolvidos (Sempe, 2019; Receita, 2018).O endereço eletrônico do site atual do Redesim é 4 <www.redesim.gov.br>. Para melhor segregação dos serviços, o portal divide- se em “Já possuo pessoa jurídica”, campo que dará acesso aos serviços disponíveis para as pessoas jurídicas já constituídas, e a opção “Abra sua pessoa jurídica”, que permite o acesso dos serviços disponíveis para a constituição de novas pessoas jurídicas (Redesim, 2019). Como se trata de um site institucional, além das opções de serviços citadas, também são disponibilizadas outras opções de acesso, conforme pode- se observar no cabeçalho da ilustração do Quadro 1 e que são melhor detalhadas a seguir, na ordem da direita para a esquerda (Redesim, 2019): • Busca no site: campo para realização de pesquisas no site, bastando digitar a palavra do serviço desejado que a busca será feita. É uma opção padrão disponibilizada nos sites institucionais. • Parceiros: neste campo estão disponíveis nomes de todos os parceiros do Redesim, juntamente com os canais (links) para acessar seus sites institucionais. São órgãos e instituições que participam e apoiam essa rede de integração nacional. • Serviços: ao clicar nesta opção, será direcionado para uma página contendo o detalhamento de todos os serviços disponibilizados pela Redesim que poderão ser acessados pelo contribuinte, bem como as orientações disponibilizadas para cada tipo de serviço. • Estatísticas: este campo reúne as informações e dados estatísticos dos estabelecimentos matrizes e filiais, por situação cadastral ativa, baixada e outras, segregados por estado e por município. • Consultas: neste campo o Redesim disponibiliza serviços de consultas e pesquisas relacionadas ao CNPJ, sendo possível imprimir o comprovante do CNPJ caso já possua o número em mãos. Uma novidade deste serviço de consultas é a disponibilização de pesquisa de um número de CNPJ pelo nome empresarial ou fantasia. Essa busca não era disponibilizada anteriormente, entretanto, para essa opção é necessário acessar a área de usuário. Qualquer pessoa pode se cadastrar na área de usuário, preenchendo os dados solicitados e gerando a senha de acesso. Além dessas opções, são disponibilizados campos para consultar o andamento dos serviços já solicitados, sendo necessário informar o número de protocolo do Redesim, que é gerado no ato de cada solicitação. Figura 1 – Opção passo a passo: esquema básico dos serviços concentrados no Redesim Crédito: Redesim, 2019. • Passo a passo: esta opção sintetiza o fluxo de serviços disponibilizados pelo portal Redesim, conforme a ordem em que devem ser realizados. Para melhor visualização desse processo, apresentamos a ilustração no Quadro 2 (página anterior). Pode-se observar que se divide em três passos, sendo (Redesim, 2019): 1. Consulta prévia, também chamada de viabilidade: é a etapa em que se realiza a pesquisa na Junta Comercial do respectivo estado da sede da empresa. Somente com a viabilidade aprovada é que se prossegue para a etapa seguinte. 2. Coleta de dados da Receita Federal: são informados os dados para registro no CNPJ, na página do Coletor Nacional. 3. Licenças operacionais que a pessoa jurídica necessita obter para iniciar suas operações. É importante destacar que a realização da etapa seguinte somente será possível após a aprovação ou deferimento da etapa anterior. Ressaltamos esse fluxo operacional devido à sua relevância para os conteúdos que serão abordados nos tópicos seguintes desta aula. 1.2 Constituição de empresas – Junta Comercial e Receita Federal Constituir uma pessoa jurídica refere-se ao ato de providenciar seu registro nos órgãos específicos competentes, ou seja, transformar a ideia em algo legalmente existente. Somente após o deferimento do registro pelos órgãos competentes é que a empresa estará formalmente constituída e terá seu número do Cadastro Nacional das Pessoas Jurídicas – CNPJ. Toda pessoa jurídica possui o seu CNPJ, único e exclusivo, não se repetindo, inclusive em casos de filiais, que apesar de possuírem a mesma numeração da raiz do CNPJ de sua matriz (ou seja, os primeiros 8 números), a numeração final sempre será diferente (6 últimos números), indicando a quantidade de filiais inscritas e seu digito de verificação. Conforme abordamos anteriormente, a constituição de uma pessoa jurídica é uma fase que exige decisões por parte do(s) empresário(s), tais como: qual tipo jurídico optar entre as opções existentes, quais atividades serão desenvolvidas, qual será a forma de atuação, quanto de capital social será integralizado, qual será o endereço, o nome fantasia etc. Tendo todas essas informações, pode-se iniciar o processo de formalização da empresa. Figura 2 – Opções do Redesim para a constituição de pessoas jurídicas Crédito: Redesim, 2019. O processo de formalização da constituição de uma pessoa jurídica vai ser iniciado pelo Redesim, conforme pode-se observar no Quadro 3, página anterior, na opção de serviços “Abra sua pessoa jurídica”. Ao clicar nessa opção, será aberta uma pequena tela com o “Passo 1 – Consulta Prévia” e, logo abaixo, o campo para selecionar o estado onde será a sede da empresa (Redesim, 2019). No Quadro 3, utilizamos o estado de Mato Grosso como exemplo, e prosseguiremos os próximos exemplos deste tópico utilizando esse mesmo estado. Entretanto, é importante ressaltar que as opções de serviços serão as mesmas para todas as Juntas Comerciais, pois estão vinculadas ao Redesim. Pode ser que o layout dos sites de cada Junta Comercial tenha diferenças em sua forma de apresentação, mas os serviços disponíveis serão os mesmos. Apresentamos no Quadro 4 a relação das Juntas Comerciais e sistema de registro de empresas por estado. Quadro 1 – Relação de Juntas Comerciais por estado Estado Junta Comercial Estado Junta Comercial Acre JUCEAC Paraíba Redesim PB Alagoas Facilita Alagoas Paraná Empresa Fácil Paraná Amapá Empresa Fácil Amapá Pernambuco JUCEPE Amazonas Empresa Super Fácil Amazonas Piauí Piauí Digital Bahia JUCEB Rio de Janeiro JUCERJA Ceará JUCEC Rio Grande do Norte Redesim RN Distrito Federal Portal de Serviços – RLE Digital – Junta DF Rio Grande do Sul JUCISRS Espírito Santo JUCEES Rondônia Empresa Fácil Rondônia Goiás Portal do Empreendedor Goiano Roraima JUCERR Maranhão Empresa Fácil Maranhão Santa Catarina JUCESC Mato Grosso JUCEMAT São Paulo – Capital Empresa Simples - RLE Mato Grosso do Sul JUCEMS São Paulo – outros municípios JUCESP Minas Gerais JUCEMG Sergipe Agiliza SE Pará JUCEPA Tocantins Simplifica Tocantins No Quadro 5, pode ser visualizado o sistema Redesim redirecionando para o site da Junta Comercial selecionado. Figura 3 – Página de redirecionamento para a Junta Comercial dos estados Crédito: Redesim, 2019. Observando o Quadro 5, nota-se que, ao selecionar o estado, o sistema Redesim fará o redirecionamento para o site da Junta Comercial ou sistema de registro digital do estado indicado, para que seja possível dar prosseguimento aos serviços de constituição das pessoas jurídicas. Vale destacar que com essa evolução do sistema de registro de atos empresariais, os serviços podem ser realizados a qualquer momento e de qualquer lugar do Brasil, sem a necessidade de que a documentação física seja apresentada na Junta Comercial respectiva. Além de reduzir custos e tempo, isso facilita os serviços do profissional contábil responsável. Atualmente, os registros de atos empresariais nas Juntas Comerciais são realizados de forma digital, ou seja, após concluída a fase de elaboração da documentação, ela é transmitida por meio de um processo digital para que a Junta Comercial respectiva possa fazer a análisee deferimento ou não do registro solicitado. Esse envio de documentos é realizado por meio de certificado digital dos sócios ou representantes legais, o que permite identificação, autenticidade e integridade das transações em meio eletrônico (DREI, 2018). Apresentamos, no Quadro 6 a seguir, o campo de registro digital do site da Junta Comercial do estado do Mato Grosso. Figura 4 – Registro digital na Jucemat Pode-se observar no exemplo as opções de solicitar “Novo registro”, ou seja, um novo processo e “Consultar registro”, para acompanhar o andamento do pedido de registro. No campo de “Assinar documentos” são utilizados os certificados digitais, conferindo autenticidade e integridade aos documentos e, após assinados, deve-se “Enviar para Jucemat” para que sejam analisados. Na opção “Consultar solicitação”, acompanha-se a análise e seu resultado. Figura 5 – Opções de eventos de inscrição na viabilidade Crédito: Redesim, 2019. Ao selecionar no sistema Redesim a opção de constituição de empresa e informar o estado, conforme já citado, você será redirecionado(a) para o site da Junta Comercial específica. A partir de então, inicia-se o processo de preenchimento das informações (Redesim, 2019). Já citamos também que o passo 1 é a consulta prévia, chamada de viabilidade. A viabilidade é a pesquisa inicial que se faz na Junta Comercial, informando todos os dados necessários para a constituição da empresa, sendo eles (Jucemat, 2019): • natureza jurídica e o porte; • endereço completo; • atividades, principal e secundárias, e descrição do objeto social; • opções de nome para a razão social; • nome e CPF dos sócios; • tipo de unidade e forma de atuação. Além destes dados, que já estudamos anteriormente, pode haver mais questionamentos estabelecidos pela Receita Estadual ou pela prefeitura municipal da localidade em que a empresa será estabelecida, para utilização na parte de legalização da empresa, tais como se o imóvel é próprio ou alugado, o tamanho do imóvel utilizado em metros quadrados, entre outros. Após preenchida, a viabilidade é transmitida gerando um protocolo que será utilizado nas demais etapas do processo. Pelo protocolo, deve-se acompanhar a análise desta viabilidade, que pode ser deferida ou indeferida. Quando indeferida, são apresentados seus motivos para que sejam sanados na apresentação de uma nova viabilidade. Quando deferida, pode-se prosseguir para o Passo 2. Quando indeferida, o órgão responsável (Junta ou prefeitura) deverá apresentar o motivo do seu indeferimento (Jucemat, 2019). O Quadro 7 nos apresenta a tela inicial de preenchimento da viabilidade, com as opções de “Eventos de inscrição” e “Eventos de alteração”, devendo ser selecionado o tipo de evento que se pretende registrar. Existem quatro opções de eventos para inscrição, entre as quais as mais utilizadas são: a 101 – inscrição de primeiro estabelecimento utilizado para criação de empresa matriz ou única; 102 – inscrição dos demais estabelecimentos, utilizados para constituição de filiais; 106 – para inscrição de missões diplomáticas ou órgãos internacionais; e a opção de proteção de nome empresarial (evento 150) (Jucemat, 2019). Figura 6 – Opções de natureza jurídica e órgão de registro Crédito: Redesim, 2019. Após selecionar o tipo de evento a ser registrado, a página seguinte de preenchimento da viabilidade solicita o preenchimento de mais dois campos relevantes, conforme apresentado no Quadro 8, sendo eles: • Enquadramento: em Micro Empresa (ME); Empresa de Pequeno Porte (EPP) e outros. Quanto à constituição de empresa, a opção de Micro Empresa (ME) deve ser selecionada quando a previsão de faturamento para o exercício atual seja igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) ou na proporcionalidade de até R$ 30.000,00 (trinta mil reais) por mês, considerando os casos em que a constituição é realizada entre os meses de fevereiro e dezembro. Caso este limite seja ultrapassado no exercício corrente, deve-se providenciar o reenquadramento como empresa de pequeno porte, no mês de janeiro do exercício seguinte (Brasil, 2006). Já a opção de empresa de pequeno porte (EPP) deve ser selecionada quando a expectativa de faturamento prevista para o exercício atual seja superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais), ou ainda proporcionalmente a R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais) por mês considerando os casos em que a constituição é realizada entre os meses de fevereiro e dezembro. Ao ultrapassar esse limite, deve-se providenciar o desenquadramento de EPP no mês janeiro do exercício seguinte (Brasil, 2006). A opção Outros deverá ser utilizada nos casos em que a expectativa de faturamento para o exercício atual ultrapasse o limite de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais) mensais. Essa opção também será utilizada para as entidades governamentais, organizações sem fins lucrativos e outras pessoas jurídicas imunes ou isentas, visto que não são enquadradas como ME ou EPP (Jucemat, 2019). • Órgão de registro: órgão responsável por realizar registro do ato. As opções disponíveis de órgão de registro são: Junta Comercial, cartório de registro de pessoa jurídica, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), ato legal (legislação) e outros (Jucemat, 2019). Para melhor compreensão de qual tipo deve ser utilizado e em quais situações, destinamos o item 2 desta aula para explicar detalhadamente esse assunto. Figura 7 – Passo 2: coleta de dados Crédito: Receita Federal, 2019. Após indicar o porte e o órgão de registro, as próximas telas da viabilidade vão apresentar campos para preenchimento dos dados específicos da pessoa jurídica que se pretende constituir, tais como (Jucemat, 2019): • O endereço, que deve ser o mais completo possível, de preferência apresentando um complemento e ponto de referência e se a natureza do imóvel é urbana, rural ou sem regularização. Uma novidade é o campo para informar as coordenadas geográficas, caso tenha e queira preencher, assim como a opção de localizar o endereço pelo Google Maps. Observa-se que são todas as opções possíveis para localização exata do estabelecimento, a fim de evitar a sua não localização pelas fiscalizações responsáveis no processo de legalização e licenciamento, e ainda contribui para inibir a constituição de empresas fantasmas. • A descrição do objeto social, abordando todas as atividades que serão desenvolvidas, tanto a principal quanto as secundárias, e seus respectivos CNAE (classificação nacional de atividades econômicas), em conformidade com a tabela disponibilizada pela Receita Federal e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). • As opções de nome empresarial que se pretende utilizar; normalmente pede-se que sejam informadas três opções para que a Junta analise e aprove uma opção para uso. Lembrando que é função da Junta Comercial analisar a disponibilidade do nome empresarial, visto que não pode haver mais de uma pessoa jurídica com a mesma razão social. Nesse sentido, deve-se preencher as opções de nome conforme a prioridade de preferência, pois a análise inicia-se pela primeira opção, que, estando disponível, já será deferida. Somente são analisadas as demais opções no caso de indisponibilidade da primeira. • O nome e o número de CPF de todos os sócios e outras informações que venham a ser solicitadas em cada caso. Concluída e transmitida a viabilidade, é gerado um protocolo necessário para acompanhar seu andamento. Quando deferida, prossegue-se para o passo 2, conforme evidenciado no Quadro 9, da páginaanterior. O passo 2 é o preenchimento da coleta de dados, realizado no ambiente Coletor Nacional da Receita Federal. Ao clicar na opção “Crie sua pessoa jurídica”, evidenciada no Quadro 9, o Redesim vai direcionar para a página de preenchimento, que é apresentada no Quadro 10, a seguir. Figura 8 – Página inicial de preenchimento da coleta de dados Crédito: Receita Federal, 2019. No Quadro 10, apresenta-se a página inicial de preenchimento do “Passo 2 – Coleta de dados”, no ambiente do Coletor Nacional. O Coletor Nacional é um aplicativo da Receita Federal, de uso obrigatório em todo o território nacional desde 10 de novembro de 2014. Em 31 de julho de 2018, seu acesso passou a ser realizado pelo portal Redesim, estando integrado ao sistema nacional e compartilhando os dados (Receita Federal, 2019). Os primeiros dados a serem preenchidos no Coletor Nacional (2019) são: • UF: campo em que se deve selecionar a sigla do estado onde será a sede da empresa; ou ainda marcar a opção “Exterior” caso seja uma pessoa jurídica internacional. • Município: neste campo aparecerão as opções dos municípios pertencentes ao estado selecionado anteriormente, para que seja preenchido com o município da sede da empresa. • Natureza jurídica: nesta opção será selecionado o tipo jurídico (denominado natureza jurídica nos órgãos de registros) da empresa que está sendo constituída. Estudamos no tema 2 da aula 1 alguns dos tipos jurídicos mais utilizados, caso queira revisar esse assunto. Existe uma tabela de natureza jurídica padrão que é utilizada por todos os órgãos de registro. Nesta tabela, cada tipo jurídico é identificado por um código numérico composto por quatro números. Podemos observar alguns exemplos no quadro 11. Quadro 2 – Exemplos de natureza jurídica Código Descrição 101-5 Órgão Público do Poder Executivo Federal 113-9 Fundação Federal 201-1 Empresa Pública 204-6 Sociedade Anônima Aberta 205-4 Sociedade Anônima Fechada 206-2 Sociedade Empresária Limitada 213-5 Empresário Individual 214-3 Cooperativa 230-5 Empresa Individual de Responsabilidade Limitada As naturezas jurídicas apresentadas no Quadro 11 são apenas algumas escolhidas aleatoriamente para exemplificar. A tabela completa está disponível em todos os aplicativos e programas de constituição e alteração de empresas e 19 nos sites das Juntas Comerciais, com acesso público e livre para todos os interessados. Devido à sua extensão, optamos por não apresentar aqui a tabela na íntegra. • Protocolo de viabilidade: neste campo será informado o número de protocolo da viabilidade aprovada pela Junta Comercial responsável. Ao informar a viabilidade, o sistema do Coletor Nacional realiza a conferência dos dados informados nos três campos anteriores (UF, município e natureza jurídica). Estando em conformidade, todos os dados da viabilidade são automaticamente importados para o Coletor Nacional, não sendo necessário digitar novamente as informações constantes na viabilidade. Com isso, os campos de endereço, objeto social, atividades, razão social e nome fantasia serão todos importados (Coletor Nacional, 2019). No Coletor Nacional, são solicitadas informações adicionais, além daquelas já importadas da viabilidade, tais como capital social e a respectiva participação de cada sócio em sua integralização (se for o caso de constituição de sociedades), o endereço dos sócios e do administrador/representante legal, e os dados do profissional ou organização contábil que será responsável pela empresa. Podem ser solicitadas ainda outras informações específicas determinadas pelo estado e/ou município-sede da pessoa jurídica (Coletor Nacional, 2019). • Transmitir com certificado digital: a última opção dessa tela inicial do Coletor Nacional é a respeito da assinatura do documento, se será realizada por meio digital ou não. É importante destacar que ainda não é obrigatória a assinatura digital neste campo. Esta é apenas uma opção que, se for selecionada, ao final do preenchimento aparecerá o campo para selecionar o certificado digital e realizar a assinatura. Não sendo assinado digitalmente, deverá ser assinado de forma manual pelo sócio administrador ou representante legal, após o deferimento da solicitação e liberação para sua impressão (Coletor Nacional, 2019). Concluído o preenchimento do Coletor Nacional, este é transmitido para a Receita Federal, órgão responsável por sua análise, que pode deferir ou indeferir o pedido. O protocolo de acompanhamento desta solicitação é o mesmo da viabilidade, pois fazem parte de uma mesma solicitação. Em casos de indeferimento, será apresentado o motivo para que seja providenciada a 20 regularização e o preenchimento de uma nova solicitação. Sendo deferida a solicitação, é disponibilizado o documento para impressão, que se chama DBE – Documento Básico de Entrada (Coletor Nacional, 2019). O DBE é o documento emitido pela Receita Federal utilizado para o registro de qualquer ato ou evento perante ao Cadastro Nacional das Pessoas Jurídicas (CNPJ). Somente um DBE permite a aprovação, alteração ou baixa em um CNPJ. A solicitação feita no Coletor Nacional é repleta de dados e informações, entretanto, o documento a ser impresso (DBE) é composto por apenas uma página “resumo” indicando os eventos solicitados, a identificação da empresa e do responsável por sua assinatura. Para maior familiaridade com este documento, o Anexo I desta aula apresenta um modelo de DBE. Após aprovado o DBE, deverá ser elaborado o documento de constituição da pessoa jurídica, que pode ser um requerimento de empresário para o caso de empresário individual, contrato social para casos de sociedade, ou outros conforme o tipo jurídico. Essa etapa é realizada digitalmente em algumas Juntas Comerciais, por meio do processo digital, com a integração dos dados da viabilidade e do DBE. Nos casos em que a Junta Comercial ainda não disponibilize essa opção, deve-se elaborar manualmente o instrumento constitutivo, conforme as orientações e modelos disponibilizados pelas próprias Juntas Comerciais em seus sites. O Anexo II desta aula apresenta um modelo de contrato social de constituição de uma empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI), elaborado e registrado digitalmente em uma Junta Comercial. Um processo básico de constituição de empresa é composto por no mínimo os seguintes documentos: • capa do processo (modelo-padrão das Juntas Comerciais); • viabilidade; • Documento Básico de Entrada – DBE; • instrumento constitutivo; • documentos pessoais de todos os sócios; • taxas de serviços de registros devidamente recolhidas. Além dessa documentação, podem ser necessários outros documentos conforme a exigência estadual e/ou municipal. Estando pronto, o conjunto de documentos deverá ser apresentado na Junta Comercial do estado-sede da 21 empresa. Essa apresentação de documentos em muitos casos tem sido realizada digitalmente por meio de processos digitais, assinados por certificação digital dos sócios e/ou representantes legais. Para as Juntas Comerciais em que os processos ainda não sejam totalmente digitais, deverá ser apresentada a documentação física, devidamente assinada e com reconhecimento de firma, pelos sócios e/ou representantes legais. Recebendo o conjunto de documentos (seja digital ou fisicamente), a Junta Comercial fará sua análise, deferindo ou indeferindo o registro. Se indeferido, o analista deverá apresentar todos os motivos para que sejam sanados e reapresentada a documentação. Se deferido, é disponibilizado o ato devidamente registrado, juntamente com o número de CNPJ da pessoa jurídica ora constituída. E, assim, está concluído o processo de constituição em âmbito de Junta Comercial e Receita Federal. O passo seguinte
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