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Lógica do Pensamento Jurídico

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CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI - UNIASSELVI 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
ANA CAROLINE MARIANO 
 
 
 
 
 
 
 
LÓGICA NO PENSAMENTO JURÍDICO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BLUMENAU/ SC 
2020 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO……………………………………………………………………….2 
2. DESENVOLVIMENTO……………………………………………….……………...3 
2.1. Positivismo jurídico……………………………………….….……………...3 
2.2. Lógica formal e lógica jurídica……………………………..……………….3 
2.3. Lógica e silogismo……………………………………..…………………….4 
2.4. Estranheza específica do raciocínio jurídico……….…………………….5 
2.5. Caso para discussão……………………………...………………………...6 
3. CONCLUSÃO………………………………………………………………………..7 
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS……………………………………………....8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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1. INTRODUÇÃO 
 
Ao longo de muitos anos, acreditava-se que o uso da lógica formal seria a 
maneira mais eficaz de se interpretar e aplicar o Direito. Dessa forma, o positivismo 
jurídico e o silogismo - raciocínio dedutivo formado a partir de duas premissas que 
resultará em uma terceira - ganharam força e tornaram-se base nas sentenças e 
decisões judiciais da época. Os juízes acreditavam que na lei escrita, haveria uma 
fórmula rígida que deveria ser aplicada nos casos apresentados. Assim, a função 
dos juristas tornou-se meramente uma atividade programada, em que deveriam 
apenas aplicar a lei como estava escrita, reduzindo o seu poder de julgamento. 
No entanto, Chaim Perelman, estudioso e professor da Universidade de 
Bruxelas, buscou criar uma “lógica jurídica”, que ao contrário do que prega o 
positivismo jurídico, analisa os casos com base nos juízos de valores, mas sem se 
distanciar da aplicação das leis escritas. Dessa forma, serão usados a obra 
“Considerações sobre uma lógica jurídica”, de Chaim Perelman, e “Um olhar sobre a 
lógica jurídica de Chaim Perelman” de Patrícia de Aguiar Hirano e Silva como bases 
deste trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2. DESENVOLVIMENTO 
2.1. Positivismo jurídico 
 
O positivismo jurídico diz que o Direito é apenas aquilo que é posto pelo 
Estado por meio das leis escritas por ele, rechaçando qualquer tipo de juízo de valor, 
como a moral, os valores e os pensamentos pessoais, a fim de evitar a variação das 
sentenças. Excluindo a subjetividade das decisões judiciais, o Direito resultou em 
uma atividade programada, assim como um computador, onde a lei era aplicada 
conforme critérios objetivos e anteriormente determinados. 
Naquele tempo, pensava-se que esse método objetivo usado pelos juízes iria 
certificar que todos recebessem o mesmo tratamento, sem qualquer desigualdade. 
No entanto, a história mostrou-nos que a aplicação das leis de forma literal nem 
sempre faz com que o objetivo do Direito seja alcançado, já que cada caso possui 
suas próprias características e peculiaridades. 
 
2.2. Lógica formal e lógica jurídica 
 
No pensamento de Perelman, é possível fazer uma distinção entre a lógica 
formal e a lógica jurídica usadas para tomar decisões e manifestar pensamentos. A 
lógica formal dá-se através do positivismo jurídico e do silogismo, reduzindo a justiça 
à meramente uma questão de validade dos artigos normativos, ao omitir qualquer 
tipo de juízo de valor na aplicação e interpretação das leis. Dessa forma, esse 
movimento dirigiu o Direito à objetividade, impessoalidade e atemporalidade, criando 
um abismo entre a lei e os fatos, e consequentemente transformando os seres 
humanos em somente coisas. Ele também reduziu o poder de interpretação e 
julgamento dos juízes, fazendo-os com que apenas aplicassem a lei como estava 
escrita nas normas e códigos, deixando de lado sua moral e sensibilidade perante 
aqueles que estavam sendo julgados. Opondo-se à esse pensamento positivista, 
Chaim Perelman sentiu a necessidade de introduzir a hermenêutica na aplicação do 
Direito, através da criação da lógica jurídica. De forma contrária à lógica formal, a 
lógica jurídica não somente aplica as normas de forma objetiva, mas adequa-se em 
relação aos pensamentos, questões e anseios sociais daquele momento, não 
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separando-se totalmente da moral e dos valores, de forma a colocar o homem em 
primeiro lugar. Assim, o juiz não é mais visto como somente aquele que aplica as 
normas sem nem contestar, mas sim aquele que julga baseando-se na sociedade 
naquele período e em certos aspectos peculiares de cada caso, a fim de buscar a 
pacificação social. Deste modo, o jurista Brasileiro João Baptista Herkenhoff expõe 
sua opinião dizendo que: 
 
“(...) vejo a função de um juiz como uma função que tem um misto de 
ciência e arte. Um juiz não é um simples aplicador da lei, um simples 
elaborador de silogismos, (...). Vejo o ofício de um juiz como um ofício de 
arte, como um ofício humano. Vejo o juiz como alguém que tenha de 
atender ao desafio humano. Vejo o juiz como alguém que tenha de atender 
ao desafio de descer às pessoas julgadas e, muito longe de elaborar 
silogismos, como alguém que enfrente o enigma da realidade humana, 
porque, ao meu ver, só este tipo de Justiça pode servir ao homem.” 
(HERKENHOFF, 1993, p.43-44) 
 
 
 
Seguindo o mesmo pensamento, o pensador Perelman (2000, p.114) defende 
que “são os juízos de valor, relativos ao caráter adequado da decisão, que guiam o 
juiz em sua busca daquilo que, no caso específico, é justo e conforme ao direito, 
subordinando-se normalmente esta última preocupação à precedente”. Com isso, é 
possível concluir que o Direito atual é lógico, mas não como a lógica formal, visando 
apenas a aplicação das leis de forma objetiva e rigorosa, e sim como a lógica 
jurídica, que de acordo com Patrícia de Aguiar Hirano e Silva (2020, p.5) “deverá 
buscar uma decisão que considere o valor da solução sem se desligar de sua 
conformidade com o direito”. Isto posto, a lógica jurídica mostra-se de extrema 
importância, fazendo com que haja uma adaptação do Direito em relação às ideias e 
vontades sociais daquela época, visando atingir o bem comum. 
 
2.3. Lógica e silogismo 
 
Para muitos leigos e parte dos juristas, o Direito ainda é uma prática 
inteiramente programada, cabendo ao juiz, apenas aplicar a norma escrita ao caso 
concreto, deduzindo as sentenças a partir de silogismos criados previamente e 
desconsiderando totalmente os juízos de valor. Porém, de acordo com o que foi 
4 
 
previamente exposto, a lógica formal, baseada nos silogismos, e a lógica jurídica, 
baseada na jurisprudência defendida por Perelman, em muitos aspectos se diferem. 
Como já dito, a lógica formal não se apresenta como a melhor forma de interpretar e 
aplicar as leis, devendo, portanto, ser adotada somente às questões da Ciência do 
Direito, ou seja, à teoria. No entanto, nos casos reais, deve ser aplicada a lógica 
jurídica, baseada na jurisprudência, já que tomar decisões com base em silogismos 
poderia causar injustiças, desviando-se do real propósito do Direito. 
Assim sendo, o raciocínio jurídico deve deixar de ser um mero silogismo, 
baseado apenas em deduções, e tornar-se uma prática jurisprudencial,adaptando-se às mudanças ocorridas em uma sociedade. 
 
2.4. Estranheza específica do raciocínio jurídico 
 
Nas Ciências Exatas, por exemplo, é possível fazermos afirmações que 
poderão ser aplicadas de forma rígida a todos os casos, como dizer que “1 + 1 = 2”. 
No entanto, isso não se mostra possível no Direito, já que este não é um sistema 
fechado e totalmente previsível, ou seja, como estamos falando de seres humanos, 
os quais estão em um constante processo de mudança, esta prática não deve ser 
inflexível, a fim de julgar e aplicar a lei da forma mais justa possível. Além disso, as 
decisões judiciais também podem ser alteradas devido às motivações e 
circunstâncias de cada caso analisado. Entretanto, ainda que seja imprevisível, é 
necessário que exista um conjunto de regras que oriente a população em relação ao 
que pode ou não ser feito. 
Assim a estranheza específica do raciocínio jurídico que dizer que as 
decisões tomadas pelos juízes nem sempre vão de encontro com o que está escrito 
de forma geral na lei, já que cada caso possui seus próprios fatos, circunstâncias e 
peculiaridades, fazendo com que sofram alteração. Por exemplo, no artigo 121 do 
Código Penal, está escrito que aquele que matar, sofrerá pena de reclusão de seis a 
vinte anos. No entanto, no parágrafo seguinte diz que “Se o agente comete o crime 
impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta 
emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a 
pena de um sexto a um terço”. 
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2.5. Caso para discussão 
 
O caso disponibilizado para análise discorre sobre um suposto estupro 
praticado contra uma jovem menor de 14 anos. Diante dele, é possível posicionar-se 
de duas formas: a primeira, posicionamento tomado pelo Supremo Tribunal de 
Justiça (STJ), tem caráter absoluto e faz uso da lógica formal, não admitindo prova 
em contrário e baseando-se em uma interpretação positivista. Isto é, se está na lei 
que manter relações sexuais com menores de 14 anos é crime, então, em qualquer 
caso, será aplicada a pena sobre réu, sem preocupar-se com as circunstâncias e 
peculiaridades dos casos em questão. Já a segunda, posicionamento tomado pelo 
Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), tem caráter relativo e faz uso da lógica 
jurídica, devendo, portanto, serem analisadas as circunstâncias e peculiaridades dos 
casos. Pois, de acordo com o exposto no caso, as menores mencionadas já se 
prostituíam há algum tempo, fazendo com que o réu fosse considerado inocente. De 
acordo com a juíza relatora do caso ​“O direito não é estático, devendo, portanto, se 
amoldar às mudanças sociais, ponderando-as, inclusive e principalmente, no caso 
em debate, pois a educação sexual dos jovens certamente não é igual, haja vista as 
diferenças sociais e culturais encontradas em um país de dimensões continentais”. 
Dessa forma, o que se pode concluir sobre o caso mencionado é que as 
decisões tomadas pelos juízes dependem do tipo de lógica usada como base para a 
interpretação e aplicação das normas, ainda que utilizada a mesma legislação. 
Assim, se for usada a lógica formal, será aplicada a lei em sentido estrito, no 
entanto, se utilizada a lógica jurídica, além de levar em conta a lei escrita, serão 
analisados os fatos, circunstâncias e peculiaridades dos casos em questão. 
 
 
 
 
 
 
 
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3.​ ​CONCLUSÃO 
 
Chaim Perelman conclui que a utilização da lógica formal, ou seja, a aplicação 
literal das leis não é suficiente para que se cumpra a função do Direito, e sim uma 
conciliação entre o que está escrito e o julgamento subjetivo do juiz. Dessa forma, 
faz-se necessário que haja uma lógica no Direito por meio das leis escritas pelo 
Estado, porém sem se esquecer do olhar humano do juiz, que se apresenta através 
da moral, valores e pensamentos baseados nos anseios e vontades da sociedade. 
Perelman reforça essa ideia, dizendo que: 
 
“De fato, se o direito é um instrumento flexível e capaz de adaptar-se aos 
valores considerados prioritários pelo juiz, não será necessário, em tal 
perspectiva, que o juiz decida em função de diretrizes vindas do governo, 
mas em função dos valores dominantes na sociedade, sendo sua missão 
conciliar com esses valores as leis e as instituições estabelecidas, de modo 
que ponha em evidência não apenas a legalidade, mas também o caráter 
razoável e aceitável de suas decisões” (PERELMAN, 2000, p. 200). 
 
 
Por meio desse trabalho, também foi possível criar uma distinção entre a 
lógica formal, baseada no positivismo e em silogismos, e a lógica jurídica, baseada 
sobretudo na jurisprudência, onde são analisadas as ideias e vontades da sociedade 
naquela época, assim como as circunstâncias e peculiaridade de cada caso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
BRASIL. Código Penal. ​D​ecreto-lei n​o 2.848, de 7 de dezembro de 1940. 
Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 
21 abr. 2020. 
 
CHRISTIAN, Nathan. ​Seminário 10 – pensando como um advogado, frederick 
schauer. Disponível em: 
https://nathchristian.wordpress.com/2016/06/24/seminario-10-pensando-como-um-ad
vogado-frederick-schauer/. Acesso em: 15 abr. 2020. 
 
FUGA, Bruno Augusto Sampaio. ​A nova retórica, os valores e a reabilitação da 
razão prática no direito​. Disponível em: 
http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=96ddc5dc8fec5254. Acesso em: 15 
abr. 2020. 
 
LIMA, José Edmilson de Souza; CALADO, Veronica. ​Comentários acerca da nova 
retórica de Chaim Perelman​. Disponível na Revista de Teorias da Justiça, da 
Decisões e da Argumentação Jurídica, v.2, n.1, Jan/Jun, p. 148-165, Brasília, 2016. 
 
MAIA, Mayssa Maria Assmar Fernandes Correia. ​Hermenêutica, Pragmatismo e 
Aplicação do Direito​. Trabalho de curso (Mestrado em Direito) - Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2016. 
 
PERELMAN, Chaim. ​Lógica jurídica​: nova retórica. São Paulo: Martins Fontes, 
2004. 
 
SILVA, ​Patrícia de Aguiar Hirano e. Um olhar sobre a lógica jurídica de Chaim 
Perelman. Disponível em: 
8 
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEL%202.848-1940?OpenDocument
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEL%202.848-1940?OpenDocument
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEL%202.848-1940?OpenDocument
 
http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=7498903b9c4f0c4b. Acesso em: 14 
abr. 2020. 
 
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