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CCDD — Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico Elaboração e Análise de Projetos Internacionais Aula 1 Prof. João Alfredo Lopes Nyegray CCDD — Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico Conversa inicial Vamos pensar por um instante: quantos países existem hoje? São em torno de 196 países, mais alguns territórios, como o Vaticano e a Palestina. Arredondemos para 200. Agora, imagine quantas línguas diferentes são faladas em cada um desses 200 países!! Ok, alguns deles podem falar a mesma língua, com poucas diferenças, como Brasil, Portugal e Angola ou Estados Unidos, Austrália, Canadá e Inglaterra. Outros, como a África do Sul, possuem vários idiomas e dialetos oficiais. Cada um desses países, quer fale apenas um idioma, quer se expresse em vários idiomas e dialetos, pode ser berço de diversas culturas. Cada uma destas, por sua vez, manifesta-se em hábitos, costumes e padrões do que é ou não considerado “normal”, de acordo com sua própria lógica. Figura 1 — O mundo e suas diversas nações são como peças de um grande quebra cabeças Fonte: Barros, 2016. Nesses múltiplos países, berços de diferentes culturas, encontram-se as maiores empresas de cada nação. Algumas expandiram-se para o exterior, outras dominam apenas os mercados nacionais. Estas obedecem às regras e leis de seus respectivos países, com as quais devem estar bem familiarizadas. Quando buscam internacionalizar-se, por outro lado, precisam se adaptar às culturas, idiomas, leis e regulamentos dos países hospedeiros. Permeando todo esse cenário complexo, existem organizações e leis internacionais, que buscam CCDD — Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico normatizar um pouco o sistema financeiro mundial. Você percebe como esse pequeno mundo onde vivemos é complexo? Contextualizando Estima-se que, quando estourou a crise da bolsa de valores de Nova York, em 1929, a notícia levou pelo menos uma semana para chegar aos negociadores paulistas de café, em São Paulo. Naquele tempo, nas primeiras décadas do século XX, a informação não se propagava como hoje, de forma instantânea. Levava-se tempo para se ficar sabendo o que havia ocorrido em outros lugares, e ainda mais tempo para medir o impacto de tais acontecimentos sobre os negócios. Figura 2 Queda do muro de Berlim, em 1989 e invasão do Afeganistão em 2001: eventos de impacto internacional transmitidos ao vivo para todo o mundo, de forma instantânea Fontes: Altman, 2016; Unama, 2016. E nos dias de hoje? Quanto tempo depois dos fatos nós ficamos sabendo de sua ocorrência? Nós recebemos a notícia imediatamente. As tecnologias da informação, que evoluíram a passos largos no decorrer do século XX, aproximaram os países e, de certa forma, removeram as fronteiras impostas pela distância. Você já parou para pensar no impacto que essa nova realidade tem para o mundo dos negócios? É um impacto imenso! A sua empresa não concorre mais apenas com rivais locais; ela passa a concorrer com qualquer outra empresa do planeta que produza os mesmos bens. CCDD — Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico Se a concorrência aumentou, porém, aumentaram também as possibilidades de escolha dos consumidores, que já não compram mais como antigamente. Isso pode ser tanto uma oportunidade — para as empresas e profissionais bem preparados —, quando uma ameaça — para aqueles que não têm conhecimentos sólidos na sua área de atuação. Hoje, o comércio virtual está plenamente difundido, e nós compramos tanto de sites nacionais quanto internacionais. Além disso, os produtos que muitas grandes empresas oferecem aqui são exatamente os mesmos oferecidos no exterior. Nike, Ford, Fiat, Toyota, Tommy Hilfiger, Levi’s, Ralph Lauren, Calvin Klein, Absolut Vodka, Apple, Samsung, Microsoft e tantas outras empresas, de vários segmentos, estão absolutamente difundidas pelo mundo. Como você pode perceber, é fácil lembrarmos dessas grandes marcas, plenamente globalizadas e internacionalizadas. Mas, e as pequenas e médias empresas, como podem entrar no ciclo do comércio e das relações internacionais? De várias maneiras, e uma delas é através de projetos internacionais, que você passará a ver a partir de agora! Problematizando Leia o texto abaixo: A economia nos últimos anos não está sendo fácil. Crise econômica, retração de investimentos e o aumento da inadimplência em diversos setores tem assustado empresários do país todo. Diante desse cenário, a Fral Consultoria, [...] está buscando a internacionalização de seus negócios. A estratégia parece uma saída inteligente para o atual momento da economia brasileira. Contudo, esse movimento não é comum no país. Um estudo realizado pela consultoria Maksen recentemente, mostrou que das 50 maiores empresas do Brasil, apenas 56% delas tem negócios no exterior. Nos Estados Unidos são 90%. Cerca de 70% dos executivos entrevistados disseram que o mercado interno é suficiente para o crescimento da empresa. Outro motivo é a baixa competitividade das empresas brasileiras, além das estruturas de custo muito pesadas. Para expandir os negócios, a empresa investe em relacionamento com os países vizinhos. A Fral promove e participa de congressos nos principais players da América Latina. (...) A intenção da empresa é intensificar relações e buscar negócios CCDD — Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico principalmente no México, Colômbia e Chile, porque possuem melhores estruturas. [...] (Cajano, 2016) Considere as afirmações a seguir: 1) em tempos de crise, a internacionalização pode ser uma saída para as empresas brasileiras; 2) a internacionalização e a busca pelas relações internacionais só deve ocorrer em tempos de crise; 3) as empresas brasileiras são pouco internacionalizadas, e isso pode ser uma oportunidade para o profissional de relações internacionais mudar as perspectivas do empresariado nacional; 4) as empresas brasileiras são suficientemente internacionais, tal qual as estadunidenses. Tendo em vista o texto acima, assinale a alternativa verdadeira: a) ( ) As afirmações (i) e (ii) são falsas b) ( ) As afirmações (i) e (iii) são falsas c) (X) As afirmações (ii) e (iv) são falsas d) ( ) Somente a afirmação (iii) é falsa e) ( ) Somente a afirmação (ii) é falsa Comentário: Na introdução da presente aula, vimos que a globalização representa uma excelente oportunidade de negócios, visto que hoje o mundo está mais integrado. Para o profissional de relações internacionais, trata-se de uma excelente oportunidade de crescimento pessoal e profissional. Se as empresas brasileiras estão passando por um momento de crise interna, a internacionalização pode ser um caminho natural para o crescimento, visto que ela diminui a dependência das organizações do cenário nacional. Buscar mercados de melhor desempenho econômico pode ser uma saída para reduzir a sazonalidade das vendas no mercado interno. Investir em relacionamento com países vizinhos e buscar novos negócios e relações é essencial! CCDD — Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico Tema 1: Globalização e a Nova Forma de Fazer Negócios Globalização é um daqueles termos muito comentados, mas de fato pouco entendidos. Existem os que acham que a globalização é algo novo, recente, ligado ao avanço da internet. Mas não é. A globalização é um fenômeno antigo: o próprio Alexandre, o Grande, rei da Macedônia, buscou propagar pelo mundo conhecido de então aspectos diversosda vida e da cultura helênica da época. Depois, os romanos antigos buscaram levar suas leis e culturas para fora de sua bela cidade, e expandiram as fronteiras do império romano pela Europa de então. Como você pode ver, não é de hoje que a globalização existe. Justamente por isso é tão difícil traçar sua história. O que podemos perceber com alguma clareza, é que a globalização, como a conhecemos hoje, com inegável impacto nos negócios, tem seu início com as Grandes Navegações dos séculos XV e XVI, que acabam por alterar a balança comercial da época. Mais tarde ainda, é com a primeira revolução industrial, e com a nova tecnologia do motor à vapor, que se aprimoram os transportes, especialmente o marítimo e o ferroviário. A partir desse momento, uma série de tecnologias vão aprimorando não só os transportes, mas também os processos de produção e de manufatura. A partir do momento em que as Revoluções Industriais alteraram os paradigmas produtivos — da fabricação artesanal, passou-se a um modo de produção em escala industrial —, começa a haver uma maior oferta de uma série de produtos. Com isso, além de uma redução geral de preços motivada pela maior oferta de produtos, passa a haver um excedente exportável. Por volta do início do século XX, o uso corrente da eletricidade e do aço se difundem, colaborando ainda mais para a globalização. Concomitantemente, a humanidade desenvolver tecnologias cada vez mais novas, como o telefone, o avião, o telégrafo e tantos outros facilitadores da vida. Após 1945, surgem Organizações Internacionais interessadas em regular o ambiente internacional, seja para assuntos de paz e guerra, seja para assuntos financeiros e de comércio. Por fim, as telecomunicações experimentam uma revolução a partir da década de 1980, e as tecnologias bancárias tornam-se progressivamente mais modernas. CCDD — Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico Todos esses fatores e aspectos contribuíram para a integração do mundo através do processo de globalização. E quais foram os impactos disso? Os impactos são vários: os meios de transporte mais eficientes proporcionados por navios e aviões maiores e mais rápidos; as comunicações; as transferências financeiras; os acordos internacionais e tantos outros aspectos, acabam por industrializar, integrar e desenvolver o mundo cada vez mais. Por conta disso, as economias tornam-se mais integradas e os estilos de vida em muitos lugares — principalmente no Ocidente — convergem para a adoção de gostos e preferências semelhantes. Tudo isso colabora para que muitas empresas tornem-se globais. Basta que vejamos um símbolo, um logotipo, em qualquer lugar do mundo, para sabermos a qual empresa e a qual produto tal marca se refere. Figura 3 – Um mundo globalizado Fonte: Ruas, 2016. É por conta de todos esses fatores que podemos dizer: A globalização dos mercados abriu inúmeras oportunidades de negócios às empresas que se internacionalizaram. Ao mesmo tempo, ela implica a adaptação das empresas a novos riscos e uma acirrada concorrência de competidores estrangeiros. A globalização resulta em compradores mais exigentes, que buscam as melhores ofertas de fornecedores mundiais. [...] Os gestores das empresas devem, cada vez mais, adotar uma orientação global em vez de um foco local. (Cavusgil, Knight, Riesenberger, 2010) E você, está preparado para adotar uma orientação global no seu trabalho? CCDD — Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico Tema 2: Estados como Atores Internacionais Anteriormente, vimos que algumas grandes empresas estão presentes no mundo todo. Vimos, também, que a globalização age de forma a padronizador os estilos de vida em muitos lugares — principalmente no Ocidente — o que gera uma convergência de gostos e preferências semelhantes. Mas, e os países, os Estados, como ficam nesse cenário? Eles são entes passivos? Não! Os Estados continuam participando ativamente. A grande diferença é que, antigamente, os países eram os grandes atores das relações internacionais, os principais, mais importantes e mais ativos participantes. Hoje, as empresas, os indivíduos e as organizações internacionais também ganharam voz. Essa alteração ocorre, principalmente, após a Segunda Guerra Mundial. Foi a partir desse evento histórico que se consolidaram organizações internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU). Ademais, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, dá ao indivíduo proteção internacional e alguns direitos fundamentais, independentemente de onde essa pessoa tenha nascido. Assim, a progressiva integração mundial que se verifica a partir da segunda metade do século XX fez com que outros entes internacionais ganhassem importância. Isso não significa, no entanto, que os Estados hoje sejam meros entes passivos, pelo contrário. Numa tentativa de gerar segurança e ordem internacional, cabe aos Estados participar de fóruns e reuniões internacionais, redigir e aprovar acordos e normas, firmar tratados e estabelecer alianças. É de se lembrar, porém, que, no caso brasileiro, qualquer acordo internacional com o qual nosso país se comprometa deve ser submetido à aprovação do Congresso Nacional, para que, então, passe a fazer parte de nosso ordenamento jurídico. Esse exemplo é mais uma mostra do papel que o Estado desempenha nas relações internacionais da atualidade. Mas existem, obviamente, outros fatores que merecem atenção. Ao buscar a internacionalização, as empresas devem seguir as leis dos países hospedeiros. Nesse caso, pode haver leis e normas no país de destino de uma empresa que não existam no seu país de origem. Além das empresas, CCDD — Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico os profissionais de relações internacionais devem estar atentos também às condições legais impostas pelos Estados às organizações estrangeiras: Muitas nações impõe restrições à entrada de investimento direto estrangeiro (IDE). Por exemplo, no Japão, o daitenhoo (lei das lojas de varejo de grande escala) coibiu estrangeiros de abrir lojas no estilo atacadista como Walmart [...], restringindo as operações de gigantes varejistas [...]. Na Malásia, as empresas que desejam investir em negócios locais devem obter a permissão do Malaysian Industrial Development Authority, que examina as propostas para garantir que se adequem às metas da política nacional. Os Estados Unidos restringem investimentos estrangeiros que julgam afetar a segurança nacional; os de grande porte devem ser examinados pelo U.S. Committee on Investments. (Cavusgil, Knight, Riesenberger, 2010) Perceba como os Estados desempenham um papel importante, não só no sistema internacional, mas também na normatização de uma série de atividades. É de extrema importância que, para o sucesso dos projetos internacionais e dos profissionais neles envolvidos, haja atenção detalhada às mais variadas regulamentações. Obviamente, você não precisa tornar-se um aprofundado conhecedor das leis de todos os países, mas apenas daquelas leis que possam afetar o seu projeto, no país que você pretende abordar. CCDD — Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico Figura 4 – Mapa-múndi do risco político: quanto mais clara a cor do país, menor o risco. Quanto mais vermelha, maior. Fonte: Folgoso, 2016. Além das leis que tratam de investimento estrangeiro direto, existem outras que regulamentam marketing, distribuição, repatriação de lucro, meio ambiente e contratos. Por fim, existe uma série de riscos que os estados podem impor aos projetos internacionais. O risco-país, por exemplo,tenta alertar a respeito dos perigos de se fazer negócio em determinados locais. Algumas nações são conhecidas por confiscar propriedades privadas, sobretaxar empresários e não respeitar contratos ou propriedade intelectual. Nesses locais, raramente se farão grandes negócios. Assim, vale à pena atentar para o mapa de risco político acima! Tema 3: Organizações Internacionais No decorrer do século XIX, os estados europeus digladiaram-se para dividir a África, aumentar suas colônias e o poder de seus impérios. Uma complicada política de alianças, somada aos conflitos decorrentes do imperialismo, acabou levando à Primeira Guerra Mundial. No decorrer desse primeiro conflito, enquanto os estados europeus estavam envoltos em CCDD — Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico hostilidades, os Estados Unidos tornaram-se o grande produtor e fornecedor mundial de bens. Com o fim da guerra, em 1918, os estadunidenses mantiveram seu elevado ritmo de produção, o que gerou a crise da superprodução de 1929. Após a deflagração da crise, os países afetados adotaram políticas protecionistas, discursos nacionalistas e de ódio. Os ânimos ferveram e, em 1939, os alemães invadiram a Polônia, dando início à Segunda Guerra Mundial. Figura 5 – Desempregados fazem fila para uma xícara gratuita de café em Nova York Fonte: MiniWeb Educação, 2016. Por mais difícil que seja conjecturar o que não foi, mas poderia ter sido, vamos fazer um exercício de imaginação: e se, na época da Primeira e da Segunda Guerra Mundial, houvesse Organizações Internacionais (OIs) capazes de recorrer ao diálogo como fonte de resolução de controvérsias? Neste momento, os mais atentos dirão: mas havia a Sociedade das Nações (SDN), fundada em 1919! De fato, havia, mas a SDN não contava com a participação dos Estados Unidos e de vários outros países. Se, à época dos Conflitos Mundiais, houvesse organizações internacionais mais fortes, talvez os acontecimentos do século XX tivessem sido diferentes. Hoje, no entanto, existem várias dessas organizações, caracterizadas por possuir personalidade jurídica própria, “constituídas através de um Tratado, com a finalidade de buscar interesses comuns através de uma permanente cooperação entre seus membros” (Seitenfus, 2005, p. 27). A partir do final da Segunda Guerra, em 1945, e com a fundação da Organização das Nações Unidas, esse tipo de iniciativa internacional CCDD — Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico “populariza-se”, e criam-se OIs especializadas — como a agência internacional da energia atômica — e também regionais — como a Organização dos Estados Americanos (OEA). Na década de 1940, juntamente com a ONU, surge o Fundo Monetário Internacional (FMI), encarregado de prestar socorro financeiro aos países em crise e monitorar o sistema financeiro e monetário; e também o Banco Mundial, encarregado de fornecer fundos para a reconstrução da Europa. Figura 6 – Assinatura da Carta de São Francisco, durante a fundação da ONU, em 1945 Fonte: ONU Brasil, 2016. Atualmente, essas organizações atuam não só como fórum de diálogo para temas mundialmente relevantes, como meio ambiente, terrorismo, recursos hídricos, alimentação e mudanças climáticas, mas servem também como organismos fomentadores de pesquisa e entendimento de áreas relevantes e complexas, que necessitam de pareceres e estudos realizados por especialistas. A cooperação internacional encontra nas organizações internacionais uma forte aliada na busca por normas comuns, pesquisas conjuntas e prestação de serviços sincronizados. Tema 4: Empresas Multinacionais Por diversas vezes, no decorrer dessa aula, você se deparou com nomes e exemplos de grandes empresas. Internacionalmente, existem vários tipos de empresas, que atuam em diversas áreas. Logística, navegação, finanças e CCDD — Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico tantas outras, podem servir de exemplo. Um tipo específico de empresas com forte atuação internacional são as multinacionais. Essas organizações caracterizam-se por seu tamanho, sua capacidade financeira e seus recursos, e também por terem uma matriz em determinado país e filiais espalhadas pelo mundo. A revista Fortune classifica, ano a ano, as maiores empresas do planeta. Em edição recente (Global 500, 2016), ocupam o topo dessa classificação as empresas Walmart, Royal Dutch Shell, Exxon, British Petroleum, Volkswagen, Toyota, entre várias outras empresas e marcas altamente conhecidas. Muitas vezes, essas grandes empresas possuem um faturamento anual maior do que o PIB de diversas nações, o que lhes confere grande poder de negociação. Por essa razão, é possível afirmar que “atividade da Empresa Multinacional moderna é essencialmente diferente da de sequer trinta anos atrás. A globalização impulsionou os processos de internacionalização e, hoje, estas corporações cada vez mais se parecem com Estados independentes” (Sarfati, 2007). CCDD — Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico Figura 7 – Lista de grandes multinacionais, contendo, em azul escuro, seus bens e recursos no exterior e, em azul claro, seus bens nos países de origem Fonte: Almas, 2016. A semelhança, apontada por Sarfati, entre empresas multinacionais e países deve-se ao seu porte, à quantidade de pessoas que elas empregam e aos recursos que movimentam. Multinacionais como “Exxon, Honda e Coca Cola obtêm uma parcela significativa de suas vendas e lucros totais, geralmente mais da metade, de operações transnacionais” (Knight, Cavusgil, Riesenberger, 2010). Além disso, outras tantas grandes empresas acabam por desempenhar atividades diferentes em países diferentes: pesquisa e desenvolvimento no Japão e Estados Unidos, suprimentos vindos da China e Índia, manufatura no Leste Europeu ou México, e assim por diante. Isso é o que se chama de internacionalização da cadeia produtiva ou da cadeia de valor. CCDD — Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico Muitas nações subdesenvolvidas acabam, por pressão dessas grandes empresas, alterando leis nacionais para permitir a exploração de mão de obra, remissão de lucros ao exterior ou flexibilização de normas ambientais. Mesmo com esses aspectos negativos, é igualmente frequente que empresas sejam responsabilizadas em seus países de origem por malfeitos praticados no estrangeiro. Assim como a globalização não é um processo recente, a multinacionalização de empresas também não é: O processo de internacionalização (na verdade, multinacionalização das empresas) passou a tomar um grande impulso a partir da aceleração do processo de globalização, conforme discutido no capítulo passado. Segundo o World Investment Report 2002 produzido pela UNCTAD, o crescimento das EMNs é bastante significativo: em 1992 havia cerca de 35.000 EMNs com 150.000 empresas afiliadas. Já em 2001, havia 65.000 EMNs com 850.000 empresas afiliadas, empregando 54 milhões de pessoas (contra 24 milhões em 1990). (Sarfati, 2007) Atualmente, com a difusão e melhoria das tecnologias da informação as empresas estão se internacionalizando de maneira mais rápida e ágil. Um exemplo são as born globals — empresas nascidas globais. Trata-se de empresas jovens que, num curto intervalo de tempo, conseguem obter uma boa porcentagem de suas vendas do exterior — 25 ou 30% —, proveniente de dois ou três continentes diferentes. Essas empresas são, normalmente, criadas por profissionais de espírito empreendedor com alguma experiência internacional. Tem sido frequente o surgimento de empresas nascidas globais no segmentode tecnologia, as quais criam ou difundem algum tipo de inovação. Tema 5: Cultura e Gestão Intercultural Em relações internacionais é comum que o profissional ingresse em diferentes ambientes, em diferentes países, caracterizados por diferentes culturas e hábitos. Consequentemente, cada um desses ambientes traz diversos padrões de comportamento considerados normais. Com esses comportamentos, vêm os hábitos do consumidor, as leis e diretrizes, e uma série de outras dimensões que devem chamar a atenção dos profissionais de relações internacionais. CCDD — Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico O próprio termo cultura pode ter uma acepção ampla: frequentemente se diz que esta ou aquela pessoa é uma pessoa “culta”, referindo-se aos seus conhecimentos e comportamentos. No entanto, para as relações e projetos internacionais, cultura “refere-se aos padrões de orientação aprendidos, compartilhados e duradouros em uma sociedade. As pessoas demonstram sua cultura por meio de valores, ideias, atitudes, comportamentos e símbolos” (Knight, Cavusgil, Riesenberger, 2010). Por isso, um gesto que para você pode parecer comum, quando feito em um ambiente que não seja o seu pode ser um grande insulto! A figa, por exemplo, que para alguns significa sorte, na Itália representa uma ofensa. Quando levamos essa lógica ao mundo dos negócios, é fácil compreender que temos de tomar muito cuidado na hora de prospectar um produto ou elaborar um projeto: A cultura influencia uma gama de intercâmbios interpessoais, bem como operações de cadeia de valor, como desenvolvimento de produto e serviço, marketing e vendas. Os administradores devem criar produtos e embalagens levando em conta os aspectos culturais, inclusive em relação a cores. Se por um lado o vermelho pode ser bonito para os russos, por outro é símbolo de luto na África do Sul. (Knight, Cavusgil, Riesenberger, 2010) Imagine o que aconteceria se você lançasse um produto embalado em vermelho na África do Sul. A chance de sucesso diminui se a cultura é desconsiderada; consequentemente, ela aumenta à medida que a empresa preocupa-se com o fator cultural. Essas questões chegam a configurar um risco: o da gestão intercultural, o qual, quando ignorado, pode trazer sérias consequências aos envolvidos. Da mesma forma, porém, que você não precisa tornar-se amplamente versado nas questões legais dos mais diferentes países do mundo, também não precisa tornar-se um grande antropólogo e conhecedor de todas as culturas existentes. Basta que, ao elaborar um projeto, ao viajar ou fazer negócios em outro país, você se inteire dos hábitos, gostos e do que pode ser considerado ou não uma ofensa. É importante frisar que uma cultura não é algo herdado geneticamente, mas sim um comportamento aprendido. Ou seja: se você precisar ir morar em CCDD — Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico outro país, poderá aprender a comportar-se como os nativos. Todo profissional de relações internacionais deve também saber que nenhuma cultura é melhor ou pior do que a outra, mesmo porque esse tipo de comparação e afirmação não faz sentido. Chama-se etnocêntrico aquele que considera sua cultura melhor do que as demais. Pense, por um instante, nas questões gastronômicas; elas podem auxiliá- lo a entender as questões culturais: aquilo que para nós é comum, como comer carne de porco, para os israelenses é pecaminoso. Enquanto os chineses utilizam insetos e ovos fecundados em sua gastronomia, essa ideia pode não nos apetecer tanto quanto a eles... Na Prática Considere a notícia abaixo: Levy defende aumento da presença do Brasil no cenário internacional Ministro também afirma que parte do governo tem disposição de apoiar os empresários que estão querendo conquistar o mercado internacional. Brasília - O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, defendeu, por meio de nota à imprensa, a ampliação da presença do Brasil no cenário internacional. "O Brasil é uma economia que tem muitas vantagens; deve ser uma companhia que tem que competir pra ganhar", afirmou Levy. Segundo o ministro, a aprovação de hoje do Senado Federal do Acordo Constitutivo do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), e do Acordo Contingente de Reservas (CRA), além do fato de o Brasil ter se tornado integrante do Banco de Investimento Asiático, refletem a vontade do governo brasileiro e da presidente, de estar presente no cenário internacional. A nota também afirma que parte do governo tem disposição de apoiar os empresários que estão querendo conquistar o mercado internacional. Rússia e Índia também já aprovaram processos internos de ratificação para criação do banco. China e África do Sul indicaram que estão processando e que devem concluir em breve. Assim, o NBD poderá entrar em vigor para a efetiva criação do Novo Banco de Desenvolvimento. De acordo com a nota divulgada pelo Ministério da Fazenda, o Banco deverá contribuir de forma concreta e agrupar os desafios relacionados ao desenvolvimento internacional. "A nova instituição representará fonte alternativa de investimentos, CCDD — Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico aumentando a oferta de recursos para os entes públicos e privados do Brasil", afirmou o comunicado. O NBD deverá mobilizar recursos para projetos de infraestrutura e de desenvolvimento sustentável nos países membros do bloco e em outras economias emergentes ou em desenvolvimento e contemplar as ações dos bancos multilaterais. (Estadão Conteúdo, 2016) Depois de analisar a notícia acima, responda: qual ou quais devem ser as preocupações do empresário que gostaria de atuar internacionalmente? Nesse sentido, qual seria o papel do profissional de relações internacionais? A princípio, uma das preocupações dos empresários que pretendem atuar internacionalmente deve ser a maior concorrência. Para vender em um país que não é o seu, deve-se atentar a quem são os concorrentes e entender como enfrentá-los. Afinal, se uma empresa brasileira busca negócios em outros países, nada impede as empresas de outros países de fazerem o mesmo. A segunda preocupação é com a dimensão Estado: deve-se entender como as normas do país de destino podem afetar os negócios. Por fim, deve-se ter em mente que, dependendo de qual seja o país escolhido para as primeiras vendas internacionais, pode haver a necessidade de adaptação do produto ou serviço, por conta de questões culturais. Considerando todas essas preocupações, o papel do profissional de relações internacionais deve ser o de posicionar as empresas e organizações nas quais trabalham de modo a melhor compreender os desafios e oportunidades da atuação internacional. Entender os riscos políticos e financeiros na dimensão do Estado, as normas internacionais, e como as diferenças culturais podem acabar por afetar os planos da empresa, são questões essenciais a serem abordadas pelo profissional de relações internacionais. Síntese As tecnologias da informação, que evoluíram a passos largos no decorrer do século XX, aproximaram os países e, de certa forma, removeram as fronteiras impostas pela distância. A sua empresa deixou de concorrer apenas com os CCDD — Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico rivais locais, e passou a concorrer com qualquer outra empresa do planeta que produza os mesmos bens. Se a concorrência aumentou, aumentaram também as possibilidades de escolha dos consumidores, que já não compram mais da mesma forma como antigamente. Isso pode constituir tanto uma oportunidade, para as empresas eprofissionais bem preparados, quando uma ameaça para aqueles que não têm conhecimentos na área. A globalização agiu, então, como padronizadora de estilos de vida em muitos lugares — principalmente no Ocidente — o que gerou uma convergência para gostos e preferências semelhantes. Os Estados continuam participando ativamente nesse cenário. A grande diferença é que, antigamente, os países eram os grandes atores das relações internacionais, os principais, mais importantes e mais ativos participantes. Hoje, as empresas, os indivíduos e as organizações internacionais também ganharam voz. Ao buscar a internacionalização, porém, as empresas devem seguir as leis dos países hospedeiros. Nesse caso, pode haver leis e normas no país de destino que não existam no país de origem. Além das empresas, os profissionais de relações internacionais devem estar atentos também às condições legais impostas pelos Estados às empresas estrangeiras. Além das leis sobre investimento estrangeiro direto, existem outras sobre marketing, distribuição, repatriação de lucro, meio ambiente e contratos. Por fim, existe uma série de riscos que os Estados podem impor aos projetos internacionais. O risco-país, por exemplo, tenta alertar a respeito dos perigos de se fazer negócio em determinados locais. A partir do final da Segunda Guerra, em 1945, e com a fundação da Organização das Nações Unidas, um outro tipo de ator participante das relações internacionais surge: as Organizações Internacionais. A partir de então, esse tipo de iniciativa internacional “populariza-se”, e criam-se OIs especializadas — como a agência internacional da energia atômica — e também regionais — como a OEA, participantes ativos do cenário internacional de negócios. Além das organizações internacionais, há tipos específicos de empresas com forte atuação internacional: as multinacionais. Essas organizações caracterizam-se por seu tamanho, capacidade financeira e recursos, e por terem CCDD — Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico uma matriz em determinado país, e filiais espalhadas pelo mundo. Além da existência de diversos países, empresas e organizações internacionais, o cenário internacional tem como um de seus principais panos de fundo uma série de culturas nacionais, às quais os profissionais que atuam internacionalmente devem estar atentos para garantir o sucesso de seus empreendimentos no exterior. Referências ALMAS, R. P. As maiores empresas multinacionais em 2011. Disponível em: <http://ruipauloalmas.blogspot.com.br/2012/07/as-maiores-empresas- multinacionais-em.html> Acesso em: 16 set. 2016. ALTMAN, B. Queda do muro virou mito de vencedores. Disponível em: <http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/38470/queda+do+muro+virou+ mito+de+vencedores.shtml> Acesso em: 16 set. 2016. AMATUCCI, M. Teorias de negócios internacionais e a economia brasileira — de 1850 a 2007. In: _____. Internacionalização de empresas. São Paulo: Atlas, 2009. BARROS, B. Aproveite as oportunidades de negócio em mercados internacionais. 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