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NEGOCIAÇÃO INTERNACIONAL AULA 6 Prof. Leonardo Mèrcher 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, que trata de soluções de controvérsias em negociações internacionais, destacamos algumas possibilidades para solucionar conflitos de interesse entre as partes negociantes. Sabemos que, para alcançar resultados positivos para todas as partes, exige-se grande flexibilidade. Mas nem sempre isso é possível. Quando uma parte se sente lesada ou pressionada, ou quando a negociação se mantém travada, saiba que existem mecanismos formais para solução. A presente aula trata dos seguintes temas: quando a negociação não termina bem; normas e regimes internacionais; mediação; arbitragem; e pontos que reforçam uma boa negociação. Esperamos que essa introdução possa auxiliar em sua formação profissional, no âmbito da negociação. Portanto, os objetivos gerais, em sua aprendizagem nesse momento, são: identificar e compreender os principais meios de solução de controvérsias; compreender e diferenciar a mediação de arbitragem em negociação; e aplicar o conhecimento adquirido em práticas de observação negocial. Bons estudos! TEMA 1 – QUANDO A NEGOCIAÇÃO NÃO TERMINA BEM A negociação pode até ocorrer bem, sem entraves, quando as partes concordam com os ganhos definidos. Contudo, nem sempre na hora de aplicar e cumprir o acordado as partes respeitam o que foi negociado. Além disso, quando há entraves, e as negociações não conseguem chegar a um final, isso também pode ser entendido como uma controvérsia. Algumas vezes, ao se sentir lesada ou descumprir o acordado, uma das partes inicia uma contenda. O descumprimento de uma das partes pode demandar: suspensão do acordo; retaliação; ativação de seguros; processo legal em seu país; mediação; e arbitragem. Por isso, mesmo quando há controvérsias, é possível encontrar uma solução que desgaste menos a relação entre as partes envolvidas na negociação inicial. No caso de negociações diplomáticas, pode haver retaliação entre Estados, como a suspensão de relações comerciais, a suspensão política e até o conflito armado. Em muitos regimes, já existem cláusulas específicas para lidar com o descumprimento de Estados e suas instituições no cenário internacional, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), sua política antidumping e o 3 controle de subsídio, ou como o Mercosul e sua cláusula democrática. Já no caso de comércio exterior, seguros podem ser acionados; pode-se também dar início a procedimentos legais de demanda, de acordo com os documentos assinados e suas cláusulas de proteção. Além dessa situação conflitante, é possível buscar a mediação ou a arbitragem, para sanar a contenda com menos desgaste entre as partes, em comparação a punições de regimes e jurisdição tradicional. TEMA 2 – NORMAS E REGIMES INTERNACIONAIS No âmbito das relações entre Estados e suas instituições e demais órgãos governamentais, existem normas de comportamento e regimes internacionais que preveem como as controvérsias entre nações devem ser sanadas. É comum vermos, no Sistema ONU, a Corte Internacional de Justiça solucionando contendas territoriais entre nações, ou então a suspensão de empréstimos e ajudas financeiras caso o governo não cumpra com cartilhas de governança, como foi feito pelo FMI na América Latina nos anos 1990. É previsto como norma de comportamento que, se um Estado não cumpre um tratado, automaticamente o tratado é suspenso pela parte que o cumpriria. Além disso, Estados que não cumprem regimes podem ser suspensos indeterminadamente ou sofrerem sanções e retaliações já indicadas em seu corpo legal. Alguns exemplos são: suspensão do Paraguai e da Venezuela do Mercosul pela cláusula democrática; multas e embargos dos painéis da OMC por práticas prejudiciais; e ainda multas por violação de direitos humanos que a Organização dos Estados Americanos (OEA) pode aplicar em seus Estados- membro. Mas, em todos os casos, os regimes garantem defesa das partes para que possam se explicar e negociar uma forma de solucionar a situação ou o descumprimento de tratados e acordos. TEMA 3 – MEDIAÇÃO Quando uma negociação não consegue chegar a um resultado comum, pode-se pedir a mediação de uma terceira parte que irá avaliar o caso e propor uma solução. É muito comum negociações travarem, como as de paz entre Estados, ou de pagamento de custos adicionais e liberação de produtos entre empresas no comércio exterior. Entre Estados, quase sempre os governantes 4 em contenda se reúnem sob a presença de um líder político (geralmente ex- presidentes dos EUA etc.) para chegarem a um acordo de percepção neutra. No caso de empresas, a mediação pode ocorrer pela mediação de um governo, por especialista comercial e até no jurídico de um determinado país. A mediação, em muitos casos, não tem peso de lei, mas busca facilitar o diálogo travado, trazendo uma terceira opinião sobre os procedimentos. Quase sempre são acolhidas opiniões de partes terceiras e neutras nessas situações. Em outros cenários, é possível que cada parte traga seus mediadores escolhidos para gerar uma nova negociação, que trará um documento final orientando o que pode ser feito nesse cenário. A mediação é importante por ser rápida e por não necessariamente envolver burocracias e processos jurídicos das diversas nações envolvidas. Vamos pensar em um exemplo simples. Podemos reconhecer a mediação nas práticas do Procon em defesa dos direitos do consumidor – para cada caso de controvérsia em negociação, existe uma solução. Também podemos pensar na mediação dos EUA na relação entre israelenses e palestinos nos anos 1990. TEMA 4 – ARBITRAGEM Diferentemente da mediação, a arbitragem segue um caminho jurídico. Seu resultado deve sempre ter peso e respaldo de lei por cumprir – se não for cumprido, haverá punições legais e normativas já acordadas entre as partes. O Brasil, por exemplo, agilizou a institucionalização das práticas de arbitragem no final dos anos 1990. Nela, um árbitro julga o caso com dinâmicas respaldadas pela lei. Mas por que empresas preferem o caminho da arbitragem e não o da justiça comum? As empresas preferem esse caminho por ser sigiloso e mais rápido do que os trâmites jurídicos tradicionais. Embora com maior peso jurídico do que a mediação, a arbitragem tem custos mais elevados do que os da mediação no cenário internacional; dessa forma, quase sempre são as grandes empresas que buscam esse caminho. No caso dos Estados, um bom exemplo são os painéis de arbitragem da OMC, que julgam práticas comerciais e cujo resultado deverá ser cumprido; caso contrário, podem ser aplicadas sanções comerciais aos membros e até a expulsão da nação imprudente. TEMA 5 – POR UMA BOA NEGOCIAÇÃO 5 Vimos várias vezes que precisamos ter cuidado para não desgastar as partes em uma negociação. Negociações que já começam expondo ganhos absolutos estressam e levam à competição. Negociar é alcançar um interesse comum, em que todas as partes saem ganhando. Mas quando isso não é possível é necessário negociar os ganhos relativos tendo margens de lucro ocultas e tomando estratégias interpessoais de acordo com os negociadores presentes. Outro ponto a relembrar são as diversas frentes de negociação. Não negociamos apenas na mesa principal, mas também junto aos interesses de nossa comunidade/gestores. Dessa forma, resultados positivos na mesa de negociação podem não ser tão positivos assim quando chegar em casa se tomarmos medidas imprudentes ou ignorarmos o cenário institucional/ doméstico. Para evitar controvérsias e negociações travadas é recomendado que no planejamento já surjam as cláusulas de proteção, como especificações de custos, das responsabilidades e descrições do que for negociado. Seja negociando por uma comunidade ou por uma empresa, seja atuando como diplomatanacional ou empresarial, a negociação internacional precisa ser encarada como um processo de comunicação contínua que não termina ao concluirmos a negociação – mas se estende para o monitoramento e cumprimento dos acordos, bem como da manutenção das relações de cordialidade e parcerias comerciais entre as partes. NA PRÁTICA Chegou o momento de fixar mais uma vez o conteúdo da aula. Para compreender um pouco mais sobre negociação, tente exercitar o seu aprendizado com a seguinte prática: Anote em uma folha quais são as suas maiores dificuldades e capacidades ao negociar com estranhos em um idioma estrangeiro; Para cada dificuldade, indique uma solução prática (cursos, treinos, imersões etc.) que estariam acessíveis a você no presente momento; Para as capacidades, identifique como todas podem ser ativadas ao longo do processo de negociação; 6 Explique como suas capacidades poderão fomentar uma negociação internacional de sucesso. Esperamos que com essa prática você possa recapitular os principais temas de negociação, agora aplicados a você e a suas características, como um futuro negociador internacional. Boa atividade! FINALIZANDO Na presente aula, apresentamos os preceitos e conceitos fundamentais da negociação na solução de controvérsias – tanto em entraves durante a negociação, como no descumprimento dos resultados finais. Percebemos que, mesmo quando uma negociação trava ou não é cumprida, há caminhos para a solução de controvérsias, como na mediação e na arbitragem. Basta identificar, com uma análise de custo/benefício, qual delas seria a melhor solução de acordo com suas capacidades financeiras e de tempo (algumas mercadorias não podem esperar muito em containers, pois têm prazo de validade, e o mesmo vale para serviços oferecidos em eventos sazonais). Ainda que as empresas estejam no campo privado, elas devem se submeter às regras do espaço público para finalizarem suas negociações. Por isso, o caminho jurídico sempre será válido. Mas, como vimos, a justiça comum no Brasil tende a indicar dados sigilosos no processo, como a saúde financeira das empresas em litígio – o que pode prejudicar sua empresa com relação às demais concorrentes no mercado. Além disso, como solucionar, com a nossa justiça, a questão de uma empresa que só responde em seu mercado nacional do outro lado do mundo? Processos múltiplos nas respectivas nações podem ser acionados, mas geram custos, e os resultados são incertos. Por isso, a mediação e a arbitragem ainda se colocam como os meios de solução mais utilizados em negociação internacional. Em alguns casos, a arbitragem comercial alcança o nível das relações entre as nações, que podem resolver a questão em ambientes institucionais, como na OMC. Caso tenha ficado alguma dúvida, não deixe de nos contatar. Sugerimos também ampliar seu conhecimento por meio da leitura de artigos científicos e de nossa bibliografia. Busque ler a bibliografia indicada, como por exemplo Iamin (2006) e Costa (2013). Desejamos muito sucesso em sua jornada profissional! 7 REFERÊNCIAS ANONNI, D. Introdução ao direito contratual no cenário internacional. Curitiba: InterSaberes, 2012. COSTA, H. S. G. Negociando para o sucesso. Curitiba: InterSaberes, 2013. IAMIN, G. Negociação: conceitos fundamentais e negócios internacionais. Curitiba: InterSaberes, 2016. VANIN, J. A. Processos da negociação. Curitiba: InterSaberes, 2013.
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