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TEMAS EM PSICOLOGIA SOCIAL – NP1 Matheus Ragazzini | Psicologia | 4º semestre A HISTÓRIA DA PSICOLOGIA SOCIAL NO RIO DE JANEIRO A partir de meados de década de 60 e início da década de 70, a Psicologia Social se depara com o que alguns autores denominam “crise” no campo da Psicologia Social. Esta crise pode ser compreendida como um momento de reflexão sobre as bases teóricas e metodológicas da Psicologia Social Cognitiva norte-americana. Para Schneider (1978), haveria uma Psicologia Social da Cultura e da História que, não sendo isolada do restante da psicologia, poderia fazer uso de seus conceitos básicos na busca da compreensão de processos micro e macrossociais. Schneider apresentava uma preocupação com a necessidade de a Psicologia Social se voltar para temas que não serviriam apenas para formulação de teorias generalistas, mas que pudessem contribuir para o entendimento do humano em sua diversidade histórica e cultural. - ...a principal influência de Schneider se encontra, sem dúvida, na formação de toda uma geração de psicólogos sociais que, com ele, aprendemos a estender nosso olhar além do paradigma individualista que geralmente caracteriza a Psicologia – Jacó-Vilela (2001). Schneider não buscou estabelecer uma Psicologia Social que se afastasse completamente dos conceitos mais gerais da psicologia, diferentemente do que aconteceria com a Psicologia Social no Brasil a partir da década de 80. Desde então, muitos psicólogos passariam a trazer influencias de outros campos, a partir das leituras de Marx, Foucault, Deleuze, Guattari e tantos outros interlocutores, o que levaria à constituição de diversas psicologias sociais com bases teóricas predominantemente não-psicológicas. A INFLUÊNCIA DE AROLDO RODRIGUES Para Rodrigues (2008), os psicólogos no Brasil não se interessavam por metodologia nem por teoria, mas, quase exclusivamente, por política. Ainda salienta que a liberdade acadêmica é algo essencial no dia-a-dia da academia, sem a qual a troca de ideias, o debate e a discordância não podem se fazer presentes. Segundo o autor, no mundo acadêmico de hoje verifica-se uma substituição do papel do cientista voltado para o estudo desapaixonado do real, pelo político engajado em fazer prevalecer uma determinada corrente ideológica – a denominada “ditadura ideológica” estaria presente nas universidades, produzindo sectarismo e identidade de conteúdo. No ano de 1980, a Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO) viria a surgir, a partir de uma discordância com a ALAPSO, no qual Rodrigues foi eleito presidente no ano de 1973. O principal personagem desse rompimento foi Silvia Lane. Se, para Rodrigues, a Psicologia Social é uma ciência básica e neutra que permitiria a solução de problemas sociais, através de suas aplicações, para Lane (1985) tal concepção poderia transformar o psicólogo em agente da adaptação. Segundo essa autora, “o fundamental, [...] é a psicologia rever sua prática, pois teoria e prática têm de vir juntas. Não se pode dividir a Psicologia Social em ciência aplicada e pura” Em síntese, as dificuldades de Aroldo Rodrigues podem ser compreendidas em função das novas exigências que os psicológicos sociais no Brasil se faziam: a necessidade de uma pesquisa que pensasse a realidade social brasileira e a possibilidade de sua transformação. No que concerne a “Crise da Psicologia Social”, é notório que, a apresentação das duas figuras engajadas (Silvia Lane e Aroldo Rodrigues), nos aproxima das discordâncias e confrontos presentes no campo da Psicologia Social, nas décadas de 1960, 70 e 80. Outrossim, as contribuições no que tange às colaborações teóricas, metodológicas e até mesmo suas discordâncias, se fazem sentir até os dias atuais no que diz respeito à Psicologia Social. A CRISE DA PSICOLOGIA SOCIAL Após a Segunda Guerra Mundial o modelo hegemônico de psicologia social estadunidense, o cognitivo-experimental, buscou apresentar soluções pacíficas para os conflitos sociais do mundo a partir de suas pesquisas experimentais (Lane, 2006; Machado, 2016). No entanto, os problemas sociais continuavam demonstrando a inviabilidade da proposta e, consequentemente, gerando críticas, caracterizadas como "crise da psicologia social" (Lane, 2006). A "crise" iniciou-se na Europa na década de 1960, quando psicólogos sociais denunciaram o caráter ideológico e reprodutor do status quo da psicologia social cognitivo- experimental estadunidense, e chegou ao Brasil na década de 1970, quando psicólogas(os) brasileiras(os) e latino- americanos apresentaram questionamentos quanto à artificialidade da metodologia experimental e à irrelevância social da disciplina para a resolução dos problemas da TEMAS EM PSICOLOGIA SOCIAL – NP1 Matheus Ragazzini | Psicologia | 4º semestre realidade latino-americana (Lane, 2006; Bomfim, 2003; Lane, & Bock, 2003; Jacó-Vilela, 2007) HISTÓRIA DA PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA Desenvolve-se, principalmente, como estudo científico, após a 1GM, juntamente com outras ciências sociais, procurando compreender as crises e as convulsões que abalavam o mundo (tensões sociais, direitos humanos em condições precárias, pobreza). É a partir da 2GM, nos EUA, que a OS através de pesquisas e experimentos, procuram procedimentos e técnicas para intervenção nas relações sociais visando garantir condições melhores para as pessoas No que concerne a este ponto, torna-se válido salientar que, esses procedimentos estavam por visar uma concepção de retomada do indivíduo traumático (pós-guerra) para sua vida ativa e produtiva, ao trabalho propriamente dito (mão de obra). Refere-se a um intento social, mas um intento social com um olhar direcionado para as entidades governamentais, já que, na conjuntura do contexto, eram necessárias mãos de obra. AMÉRICA LATINA E BRASIL Movimento de ação comunitária para psicóloga social crítica – Diante da problemática dos países que vivam sob domínio de governos ditadores, de desigualdades culturais, sociais e econômicas, culminaram para que diversos profissionais, psicólogos, entre outros, se mobilizassem em prol de um movimento de Ação Comunitária na América Latina, rompendo com modelo tradicional e apresentando uma Psicologia Social Crítica. Nesse período aparece a Educação assumindo um papel de compromisso com a transformação social, expresso na proposta político-pedagógica de Paulo Freira através da alfabetização, e na Educação Conscientizadora e Libertador. PAULO FREIRE: Em seu livro Pedagogia do Oprimido, Freire coloca o papel da educação como um ato político, que liberta os indivíduos por meio da “consciência crítica”, transformadora e diferencial, que emerge da educação como uma prática de liberdade”. Ele defende uma educação que incentive a criticidade do aluno, indo além do português e da matemática. Suas ideias também possuem ligações com o pensamento marxista e críticas ao capitalismo. SILVIA LANE: Silvia Lane propõe que a Psicologia Social pode ser um meio para realizar transformações em nossa sociedade, além de uma forma de produção de conhecimento sobre o ser humano. Essa transformação social levaria as pessoas a romperem com práticas sociais que favoreçam a desigualdade (Lane, 1981,1984). Essa desigualdade estaria diretamente relacionada, por exemplo, com o sofrimento psicológico dos indivíduos. De acordo com Lane (1984) a produção de conhecimento sobre o ser humano envolve, necessariamente, diálogo e contribuição entre áreas do conhecimento científico. Para Lane o intercâmbio entre áreas possibilita que essas se complementem. MARTIN-BARÓ: A discussão sobre alienação e conscientização no livro Acción e Ideología evidencia a fundamental relação que possuem como conceito de ideologia na obra martinbaroniana, precisamente em seu sentido negativo, como instituição de ideias e normas sociais para ocultar os interesses e conflitos entre as classes sociais sob o viés da classe dominante. Referindo-se às normas de uma sociedade e à função da ideologia para que sejam aceitas, Martín-Baró (2012:29) afirma que "os homens levam interiorizada esta norma social que responde aos interesses da classe dominante, se impõem como uma estrutura não consciente e guia o processo de alienação e desumanização das pessoas". Martín-Baró (2012) apresenta uma compreensão que opõe alienação à consciência/conscientização. De um lado a alienação (despersonalizante, desumanizante, expressão da falsa consciência de classe) e, de outro, a conscientização (autenticidade, identidade social, formação de consciência de classe). MARITZA MONTERO: A vasta produção bibliográfica de Maritza Montero tem por principal característica o compromisso ético e político com o desenvolvimento de uma práxis latino- americana crítica libertadora, ou seja, uma ação psicossocial orientada para a transformação social. Tendo exposto os principais influentes para a Psicologia Social Comunitária latino-americana, torna-se possível dizer que a PSC se utiliza do enquadre teórico da Psicologia Social, privilegiando o trabalho com os grupos, colaborando para a formação autoconsciência e da consciência para a construção de uma identidade social e individual, orientada por preceitos eticamente humanos. TEMAS EM PSICOLOGIA SOCIAL – NP1 Matheus Ragazzini | Psicologia | 4º semestre De acordo com Góis (1993) a psicologia comunitária é uma área da psicologia social destinada a entender as atividades do psiquismo humano decorrentes do modo de vida do lugar e da comunidade; estuda o sistema de relações e representações, identidade, níveis de consciência, identificação e pertinência dos indivíduos à comunidade e aos grupos comunitários. Em Baró, a psicologia comunitária possui caráter interdisciplinar, sendo voltada principalmente para o desenvolvimento e a mudança sócio-política de uma realidade psicossocial caracterizada por relações de dominação e de exclusão social. Ou seja, colabora para a formação da autoconsciência para a construção de uma identidade social concreta, tornando o indivíduo capaz para agir sobre seu próprio processo histórico-cultural. Não sendo apenas indivíduos autômatos e marionetes das ideologias das classes dominantes.
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