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Resumo - O Direito no Brasil de 1821 a 1888

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O Direito no Brasil de 1821 a 1888
Em abril de 1821 a família real volta para Portugal. 
Em abril de 1822 D. Pedro escreve ao pai informando a necessidade de criar Cortes Gerais Brasileiras. As cortes eram compostas por deputados eleitos para tratar de assuntos gerais do estado. 
Em junho D. Pedro convoca a assembleia denominada de luso-brasileira composta por 23 bacharéis em Direito, 7 em Cânones, 22 desembargadores, 19 clérigos, entre os quais um bispo e 7 militares. 
Em setembro D. Pedro proclama a independência e as características da assembleia muda, antes falava em manter a unidade luso-brasileira agora tem a função de criar a primeira Constituição brasileira.
90 deputados foram eleitos, brasileiros natos e membros da elite. As primeiras cinco sessões foram preparatórias, trataram de regras e formalidades para o funcionamento da assembleia. A sessão inaugural foi em 03 de maio. Na assembleia além do Projeto da constituição foram apresentados mais 38 projetos de lei. Uma sucessão de episódios e o conteúdo do projeto, que não estava de acordo com o imperador, culminaram com o fechamento da assembleia no dia 12 de novembro de 1822.
· Voto censitário, baseado numa renda anual mínima equivalente a 150 alqueires de mandioca (usaram-na por ser uma raiz tipicamente brasileira).
· Limitava os poderes de D. Pedro I, proibindo-o de dissolver a Câmara dos Deputados (poder legislativo mais forte que o poder executivo).
· Determinava que para ocupar cargos públicos devesse ser brasileiro nato.
O imperador escolhe dez representantes e em 24 de março de 1824 apresenta a nova Constituição Política do Império do Brasil ou Carta Constitucional Outorgada.
A Carta Outorgada não fica muito diferente do Projeto elaborado pela Assembleia, porém as diferenças são significativas.
A Constituição aprovada tinha 8 títulos e 179 artigos.
· No capítulo II do título II “dos direitos individuais dos brasileiros” eram 21 artigos dando garantias liberais, mas não falava sobre a escravidão;
· Sobre os poderes do estado veio o diferencial apresentando o quarto poder o Poder Moderador composto pelo imperador e o Conselho (membros vitalícios e nomeados pelo imperador);
· A nação era constituída por governo monárquico hereditário, sendo seus representantes o Imperador e a Assembleia Geral;
· Todos tinham garantido o direito de liberdade, propriedade e religião (desde que fosse a religião oficial do império, Católica)
· Divisão de cidadãos:
· Ativos (eleitores) 
· Homens maiores de 25 anos
· Renda superior a cem mil réis anuais
· Passivos (liberdade civil)
· Mulheres e escravos eram excluídos
· Para ser eleitor (elegia os deputados)
· Renda 200mil réis
· Não ser liberto
· Não estar pronunciado criminalmente
· Para ser deputado
· Renda 400 mil réis
· Brasileiro nato (não naturalizado)
· Católico
· Eleições indiretas, os cidadãos ativos elegiam a assembleias e estes elegiam os deputados
OBS. A primeira instrução eleitoral, foi baixada por decreto e, a rigor, deve ser considerada como a primeira lei eleitoral do Brasil.
Depois das Escolas Jurídicas (1827) passa-se a consolidar a emancipação da cultura Jurídica no Brasil. O primeiro documento normativo pós-independência foi a Constituição Imperial de 1824. Institucionalizou a monarquia parlamentar, uma fachada liberal que ocultava a escravidão e excluía a maioria da população.
O segundo foi o CÓDIGO CRIMINAL em 1830.
Os princípios:
· Conservou a pena de morte- mais tarde foi transformada em prisão perpétua. (1855 após erro judiciário sobre Manuel Coqueiro)
· Princípio da legalidade – proporcionalidade entre o crime e a pena
· Princípio da pessoalidade – a aplicação da pena incidir exclusivamente no condenado.
· Abolição de “açoites”, tortura, marca de ferro quente “demais penas cruéis” (exceto para escravos condenados que poderiam ser castigados por seus donos, não passando de 50 açoites)
CÓDIGO DE PROCESSO CRIMINAL
Promulgado em 1832, logo após a abdicação de D. Pedro I em favor de seu filo de 5 anos, altera substancialmente o direito brasileiro:
· Inovação Habeas corpus significa "que tenhas o teu corpo", e é uma expressão originária do latim. Habeas corpus é uma medida jurídica para proteger indivíduos que estão tendo sua liberdade infringida;
· Consagração sistema de jurados;
· Hierarquia e composição judiciária;
· Extinguiram-se os ouvidores e juízes de fora;
· Institui-se o júri popular - juízes locais e juiz de paz;
· Sobre os crimes: justificáveis, o criminoso, as circunstâncias agravantes e atenuantes e a satisfação da vítima;
· Sobre as penas de morte, galés (trabalho em obras públicas), prisão com trabalho, prisão simples, banimento (sair do território), degredo (prisão domiciliar) desterro (não ir ao local do crime), privação do direito político, perda de emprego público e multas;
· Era da competência do Juiz de Paz (desterro e degredo) controlava os atos para haver paz no povoado;
· Crimes públicos, tudo que fosse relacionado com o império;
· Crimes particulares, liberdade, segurança, homicídio, honra, propriedade e a pessoa (roubo e furto);
· Crimes policiais, normas administrativas e sanitárias.
CONSERVOU DESIGUALDADES
· Escravizados com penas de açoite;
· Marido com mulher adultera, podia matar em defesa da honra;
· Vingança;
· Proibido celebrar cultos de outras religiões somente a católica (templos).
A aplicação do código era da competência do Conselho de Jurados (tribunal do Júri), para ser jurado eram as mesmas exigências de para ser eleitor.
Foi o primeiro código Penal na América latina e só foi revogado em 1890 com o Código Republicano.
ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA:
· Divisão em:
· COMARCA: no mínimo um e no máximo 3 juízes de direito (eram nomeados pelo imperador), juiz de paz, promotor, juiz municipal e de órfãos (eram escolhidos pelo administrador), inserção de júri.
· TERMOS: um conselho de jurados, um juiz municipal, um promotor público, um escrivão e os oficiais de justiça necessários.
· DISTRITOS: um juiz de paz, um escrivão, um inspetor por quarteirão e quantos oficiais de justiça fossem necessários.
· JUIZ DE DIREITO: nomeado pelo imperador, função de presidir o conselho de jurados e aplicar a lei. Era vitalício, bacharel em direito, prática de um ano no foro. Presidia o júri de acusação (23 membros) e de sentença (12 membros).
· JUIZ MUNICIPAL: nomeado pelo presidente da província, mandato de três anos, formados em direito ou advogado hábeis (instruídos), poderiam substituir o juiz de direito.
· JUIZ DE PAZ: cargo eletivo, renovado a cada ano, função de polícia e no processo sumário (pena máxima de 6 meses de prisão ou 100 mil réis) função investigativa. As juntas de paz eram compostas de cinco juízes de paz e recebiam recursos.
· PROMOTORES PÚBLICOS: nomeados pelo presidente da província por 3 anos entre os que poderiam ser jurados.
· SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA, 1828 composto por 17 ministros letrados escolhidos por antiguidade dentre os desembargadores das relações com competência de revistas nas Causas, dos ministros, das relações, dos empregados, dos diplomatas, presidentes de províncias, bispos e arcebispos, e também de decidir sobre conflitos de jurisdição.
· CARTÓRIOS: eram privatizados, vitalícios e sua sucessão era indicada (Escrivão e tabelião)
FORMA DE PROCESSO:
Todas as determinações referentes às formas que deveriam ter os processos, prescrição, audiência, suspeição, queixa denuncia, citação, prova, confrontação, interrogatório.
Os processos poderiam ser:
· SUMÁRIO: responsabilidade do juiz de paz
· ORDINÁRIO: conselho de jurados presidido pelo juiz.
Todo processo era encaminhado para o Juiz de Paz que determinava a instrução, julgava (se de sua alçada) ou remetia para o Juiz de direito.
Os dois códigos e a Constituição eram utilizados exclusivamente como legislação.
ATO ADICIONAL, 1834 tenta ampliar o poder das províncias.
· Revisão constitucional
· Restabelecimento do conselho de estado
REFORMA DO CÓDIGO DE PROCESSO:
· Esvaziamento das atribuições do juiz de paz;
· Chefe de Polícia: nomeado pelo imperador e escolhido entre osdesembargadores e juiz de direito auxiliado pelo delegado;
· Aboliu o júri de acusação, agora era o chefe de polícia;
· Criou o “Inquérito policial”;
· Juízes nomeados pelo imperador por quatro anos;
· Promotores nomeados pelo imperador por tempo indeterminado.
ESBOÇO DA LEI CIVIL, 1858 (projeto)
· Parte geral sobre as pessoas e as coisas;
· Parte especial- Direito Pessoal (família, contratos, atos ilícitos)
 Direito real (sucessão e garantia)
· Só foi consolidado na república, mas influenciou não só o código de 1916 como também na Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Nicarágua.
LEI DE TERRAS, 1850
· De 1500 a 1822 por doação de sesmarias;
· De 1822 a 1850 por posse, não existia nenhuma lei que regulamentava a posse;
· 1850 única forma de acesso seria através da compra; 
· Todas as terras não ocupadas pertenciam ao rei (compra através de leilão);
· Quem já ocupava a terra ganhava o título de proprietário, tinha que residir e produzir;
· Criação de impostos territoriais, não pagando três anos consecutivos a terra voltava para a coroa;
LEI GERAL DE HIPOTECAS, 1864
· Proíbe a concessão de sesmarias;
· Define terras devolutas (públicas);
· Despejo de quem fizesse derrubada ou queimada;
· Criou-se o registro de títulos de terra;
· Aldeamento indígena.
Junto com o código comercial é a lei mais antiga ainda em vigor no Brasil.
CÓDIGO COMERCIAL, 1850 e REGULAMENTO Nº 737
A lei do comércio rege os atos comerciais sejam ou não comerciantes as pessoas que nele intervém.
· Capacidade de toda pessoa nacional eu estrangeira que for civilmente capaz, poderá praticar atos de comercio, em qualquer parte do reino, salvo as exceções deste código;
· São comerciantes todas as pessoas que fazem do ato comercial profissão e as sociedades comerciais;
· Obrigado adotar firma, ter escrituração mercantil;
· Obrigado ter inscrição no registro comercial;
· Obrigado dar balanço e prestar contas.
LEI AUREA, 1888
A constituição do império garantia o direito à propriedade. Os senhores eram legítimos proprietários e a abolição iria desapropriar sem indenizar, o que era inconstitucional. A constituição proibia marcas de ferro, mas o código criminal previa pena de açoites. 
Em 1826 a Inglaterra decreta o fim do tráfico negreiro para o Brasil. 
Em 1831 cria uma lei decretando que todo escravo que entrasse no país ficava livre. 
O tráfico continuava intenso. 
LEI EUSÉBIO DE QUEIRÓZ, 1850
· Proíbe o tráfico negreiro.
· Distingue dois delitos:
· Comprador, julgado pelo júri popular;
· Traficante, julgado pela auditoria da marinha
Cai de 3.278 escravos que entravam no Brasil para 700 e no outro ano 500.
LEI DO VENTRE LIVRE, 1871
O senhor entregava o filho da escrava, quando completava 8 anos, ao estado e recebia uma indenização em títulos de renda resgatáveis em 30 anos e juros de 6% aa
OU conservava até os 21 anos e o libertava sem indenização. Somente 188 escravos foram entregues ao Estado.
Neste período o indivíduo trabalhava como escravizado e adquiria dívida, após os 21 tinha que continuar trabalhando para pagar a dívida.
LEI SEXAGENÁRIO, 1885, liberdade para o escravo com 60 anos, o indivíduo trabalhava mais 5 anos para pagar as despesas do Fundo de matrícula.
NO CEARÁ a abolição da escravatura aconteceu unilateralmente em 1884
LEI AUREA, 13 de maio de 1888, aboliu a escravidão no Brasil, a lei continha somente dois artigos. Quando foi assinada apenas 5% da população negra ainda era escravizada.
CONCLUSÃO
“(...) há que se fazer menção ao perfil dos bacharéis de Direito mediante alguns traços particulares e inconfundíveis. Ninguém melhor do que eles para usar e abusar do uso incontinente do palavreado pomposo, sofisticado e ritualístico”. (p. 99).
Nesse fragmento de frase, Wolkmer o autor, nos mostra com clareza o perfil dos bacharéis na época. A partir disso, pode-se dizer que existe relação daquela época para os dias atuais? Certamente que sim. Passados aproximadamente duzentos anos, o perfil continua o mesmo.
FONTES:
Revista Aedos pós-graduação da UFRGS
http://seer.ufrgs.br/aedos/article/view/11195/6900
NASCIMENTO, Walter Vieira “Lições de História de direito”
WOLKMER, Antônio Carlos “Fundamentos de História de Direito”
LOPES, José Reinaldo de Lima “O Direito na História”
ARRUDA JR, Edmundo Lima www.letrasjuridicas.com.br
WOLKMER, Antônio Carlos “História do Direito no Brasil”

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