Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CADERNO DE HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO – MARCUS SEIXAS – FBDG 2021.2 AULAS 01 E 02 – QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO E A FORMAÇÃO DE PORTUGAL Em 400 a.C Roma se expandiu, conquistando partes da Europa Ocidental, norte da África e áreas no continente asiático. A civilização romana, portanto, correspondeu a uma das maiores já registradas até a contemporaneidade, tendo o berço na cidade de Roma e, posteriormente, ganhando dimensões continentais. Já naquele período, a República Romana possuía um código de leis escritas denominadas Lei das 12 tábuas, que esteve em vigência durante toda a República; O Império Romano apresentava um estilo de vida semelhante ao do predominante na contemporaneidade – sedentarismo, domínio da escrita, locomoção nas grandes cidades via veículos (movidos a animais), resolução de conflitos em tribunais...; O marco de transição entre a Antiguidade Clássica e a Idade Média corresponde à queda do Império Romano. Embora a necessidade de cautela quando se sustenta um raciocínio em datas históricas pois processos históricos como a medievalização não acontecem de forma homogênea pelas sociedades, os livros histórico-didáticos se apoiam em 476 d.C como o marco da queda do Império Romano do Ocidente – concretizada pelas invasões bárbaras e pela queda do imperador Rômulo Augustulo; Fatores que contribuíram para a queda do Império Romano: Ordem econômica: alto índice inflacionário, geralmente proveniente da falsificação de moedas, o que proporciona a desvalorização do dinheiro circulante; Ordem de sucessão: invasões provenientes das pressões dos germânicos exercidas na outra margem do Rio Reno. Os exércitos que eram fundamentais para a contenção dessas invasões, passam a perceber a sua importância política e que sustentava o Império. Esse período passa a ser caracterizado por uma instabilidade política, tendo em vista que os exércitos ora apoiavam um determinado candidato, ora outro, visando, sobretudo, à posse de benefícios; Ordem populacional: migração populacional significativa para as zonas rurais (Êxodo Urbano) devido ao aumento da insegurança nas cidades. Esse fenômeno contribui para o declínio de uma das principais atividades econômicas romanas: o comércio; OBS: Essas invasões bárbaras provocaram uma grande fusão com os romanos que já habitavam os territórios – linguística (origem das línguas neolatinas como o francês – junção do latim com o idioma francano); religiosa (a ascensão da religião monoteísta do Cristianismo que inicialmente possui seus adeptos perseguidos pelo fato dessa doutrina questionar a autoridade do imperador, posteriormente se torna a religião oficial do império romano e passa a ser incorporada tanto pelos habitantes já residentes quanto pelos povos germânicos. Essa conversão encontrou-se pautada em aspectos institucionais (aproximação com a Igreja, uma instituição forte e reconhecida) e culturais (aproximação com os romanos locais); e jurídica (o Direito Romano era sofisticado e escrito e, aos poucos, foi se transformando devido ao contato com o direito dos povos germânicos, tornando-se, gradualmente, em um direito consuetudinário, ou seja, pautado nos costumes e nas tradições orais. Assim, surgem as leis romano-germânicas – leis escritas em latim que incorporam, também, regras jurídicas germânicas. A consolidação de um direito consuetudinário em Roma provocou uma perda da estrutura jurídica anterior, restando poucos resquícios. Esse novo direito, vale relembrar, foi caracterizado pela fusão das normas romanas com as tradições germânicas – podendo-se falar em normas romano-germânicas – ou seja – escritas em latim e que incorporaram regras jurídicas germânicas (embora a maior parte dos conceitos detinham, de fato, vínculos mais fortes com o direito romano). Nesse contexto, evidencia-se um processo de vulgarização do direito romano. Em primeira análise, essa vulgarização ascendeu devido à mistura com as tradições germânicas (o que contribui para a defesa da tese de que não havia um direito puramente romano), à fragilização de estruturas jurídicas do antigo direito romano (fóruns, bibliotecas, faculdades...) e ao fato de ter sido um direito voltado para uma sociedade muito distante da pioneira civilização romana. A FORMAÇÃO DO REINO PORTUGUÊS Durante o período medieval ocorreu a instalação de uma relação de suserania e vassalagem – ou seja – um pacto findado entre o suserano e o vassalo no qual o suserano concedia terras para o vassalo retirar o seu sustento em troca da prestação de fidelidade (por exemplo, militar) por parte do vassalo; O Direito europeu, nessa época, era baseado no direito romano-germânico vulgarizado e nos costumes – tendo em vista que as transformações sociais (como mobilidade social) ocorreriam em um ritmo muito lento; O poder dos reis, durante a Idade Média, era limitado pela atuação da corte (demais nobres). Nesse sentido, a elaboração e aplicação das leis ocorriam a partir da exposição do rei e, em seguida, da aprovação das cortes; Esse contexto passa a se modificar com a formação dos Estados Nacionais – momento em que os reis passam a exercer o poder de forma mais autônoma – sendo Portugal e Espanha os pioneiros nesse processo. O pioneirismo ibérico deveu-se pela forma militar, tendo em vista a presença de um exército controlado por reis desde cedo no contexto das Guerras de Reconquista. As Guerras de Reconquista foram Cruzadas – expedições militares coordenadas por instituições religiosas cristãs e por nobres – que pretendiam expulsar os mulçumanos da Península Ibérica, tendo em vista a ameaça da Europa se tornar predominantemente mulçumana. Portugal, então se torna o Condado Portugalense, dando origem, posteriormente, ao reino português, reconhecido na Europa; Outro fator que contribuiu para a consolidação do Estado português, além das Guerras de Reconquistas, consistiu na redescoberta do direito romano; O imperador do Império Romano do Oriente – Justiniano – pretendia reconquistar o Império Romano do Ocidente, inconformado com as invasões bárbaras, entretanto, não obteve êxito a longo prazo nas guerras e os germânicos voltaram a exercer domínio em grande parte do continente europeu. Justiniano pretendia reformular o direito romano, alegando este ter ficado muito difícil de ser compreendido, que as fontes eram de difícil acesso e que algumas teses eram contraditórias. Tendo em vista um projeto político de reformulação, Justiniano contratou os melhores juristas do império para recolher o máximo de arquivos possíveis, unindo as informações obtidas no denominado Corpo de Direito Civil (Corpus Juris Civilis) – CJC. Após 500 anos esquecido no Ocidente, um monge em 110 d.C redescobriu o CJC durante o renascimento comercial na Itália – culminando na adoção deste como fonte de direito em vários locais da Europa. Os direitos locais continuaram a ser utilizados de forma preponderante (Ius propium) e o direito romano assumiu, na maioria dos casos, um papel subsidiário – contribuindo para a aproximação das tradições jurídicas entre os Estados (Ius commune). O direito romano passa a ser aplicado muito frequentemente, culminando no processo de romanização ou reromanização do direito europeu – seja pela criação de leis que possuíam vínculo com a estrutura jurídica romana, seja pela adoção do direito romano como um direito subsidiário. Além disso, pode-se falar na existência de um pluralismo jurídico durante a Idade Média, ou seja, o fenômeno da existência de diferentes ordenamentos jurídicos simultaneamente. A redescoberta do Corpus Juris Civilis (CJC) é considerada um dos maiores acontecimentos da história da Europa Ocidental. AULA 03 – ORDENAÇÕES PORTUGUESAS Ordenações portuguesas: compilações legislativas criadas em Portugal visando à reunião de leis esparsas anteriormente produzidas. Esse processoapresentou suma importância tendo em vista o aumento do número de leis vinculado ao crescimento da autonomia do rei perante a corte. A reunião dessa multiplicidade de leis contribuiu para facilitar a administração e o acesso populacional a essas leis. Ordenações afonsinas: promulgadas por Afonso V no ano de 1446, mas ainda eram manuscritas e não impressas. As ordenações afonsinas encontram-se divididas em uma estrutura que se repetiu ao longo das demais ordenações: cinco livros; Ordenações manuelinas: promulgadas por D. Manuel I no ano de 1513, entretanto, já eram impressas. Essencialmente o conteúdo e a organização interna são bem semelhantes às ordenações afonsinas, entretanto, com a produção de outras leis esparsas, pode-se falar em uma expansão inerente a essa compilação mais recente devido à inserção de novas leis; Ordenações filipinas: promulgadas por D. Felipe I de Portugal (D. Felipe II da Espanha) durante o período da denominada união ibérica. As ordenações filipinas foram aplicadas no Brasil por mais de 300 anos – vigorando até o ano de 1916 – evidenciando a importância dessas para a construção do direito do nosso país. Assim como as duas ordenações anteriores, as ordenações filipinas também apresentaram cinco livros. O primeiro livro trata da administração da coroa, da administração da justiça e da administração burocrática no geral; O segundo livro discorre acerca dos privilégios inerente aos nobres e aos membros do clero bem como das relações entre os nobres e os religiosos; O terceiro livro discorre sobre as regras processuais; O quarto livro discorre sobre o direito privado, especialmente acerca do Direito Civil (relações de compra e venda, aluguéis, contrato de aforamento, a fiança, alguns aspectos de sucessão da nobreza...); O quinto livro trata do Direito Criminal bem como das regras criminais aplicadas naquele período; OBS 1: No terceiro livro das ordenações filipinas, ficou determinado que o Ius propium português era constituído por: lei, stylo (jurisprudência do tribunal) e costume. O Ius commune (direito subsidiário) seria aplicado quando uma conduta não for tratada por leis, stylos ou costumes – correspondendo ao direito imperial (direito romano) e envolvendo matérias associadas a pecados. Em última instância, prevalece um Ius propium vinculado ao poder de decisão do rei. OBS 2: O livro IV era curto, já que ainda era bastante utilizado o Corpus Juris Civilis (CJC), sendo posteriormente anexado ao livro III em um único volume. OBS 3: No quinto livro das ordenações filipinas, encontram-se crimes prescritos que protegem a ordem religiosa vigente (a prática da blasfêmia ou a prática da bruxaria, por exemplo), que protegem os interesses da coroa (crime da maledicência do rei como o crime de lesa majestade – traição ao rei), crimes comuns na sociedade (furtos e roubos). A verificação da “qualidade” da pessoa poderia modificar a sanção e o tempo da punição. Ademais, as penas continham um forte cunho simbolista – tendo em vista a existência de processos, por exemplo, mesmo após a morte do delinquente com o intuito da pena incidir sobre a sua “alma”. Era também muito comum a punição decair sobre outras pessoas, não necessariamente o responsável pelo ato (como os pais desse delinquente, a título exemplificativo). http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/ordenacoes.htm AULA 04 – OS PODERES DE PORTUGAL Portugal esteve organizado em municípios (poder municipal ou poder dos municípios = poder local) e existia também o poder senhorial – que seria o equivalente ao denominado Feudalismo ou Sistema Feudal devido à grande quantidade de semelhanças – sendo este de caráter regional. Esse sistema senhorial decorre da autoridade do poder que os senhores possuíam sobre suas terras – terras que haviam sido doadas pelos reis (doações régias). Além desse sistema senhorial, existia uma forte influência exercida pela igreja, o que contribuiu para a formação de um sistema de poder eclesiástico – decorrente, por conseguinte, da adoção do cristianismo como religião oficial de Portugal e da submissão do poder real ao poder papal em matérias de cunho religioso. Existiam, nesse sentido, fatos sociais que pertenciam a uma esfera religiosa – vinculada à autoridade da igreja – e a uma esfera terrena – vinculada à autoridade dos senhores. Ademais, existia o poder inerente à coroa portuguesa (evidenciado, por exemplo, na criação dos tribunais da coroa), constitui-se, assim, a forma mais relevante de poder que existia em Portugal e nas suas colônias – hierarquicamente superior às outras formas de poder - municipal, senhorial e eclesiástica. Poder municipal: os municípios se distinguiam de ocupações como vilas porque detinham um poder político. Além disso, os municípios podiam se organizar em câmaras municipais próprias, diferentemente de vilas e cidades de pequeno porte. As câmaras municipais tinham a finalidade de tratar de questões de interesse local, de exercer um papel político de interface as questões relevantes para a sociedade e, por meio do recolhimento de impostos, realizava a administração do município. Esse modelo também foi implantado no Brasil durante o período colonial – a exemplo da cidade de Salvador – centro de decisão das capitanias da Bahia. Além das funções legislativa e administrativa, pode-se mencionar o papel judiciário, ou seja, os municípios possuíam a capacidade de julgar. Eleição de Pelouros: escolha as pessoas elegíveis a cargos de vereança, os homens bons - selecionados pelos administradores dos senhorios - correspondendo a homens, pais de família, proprietários de terras e que não tivessem "sangue sujo" (judeu ou muro) por no mínimo três gerações; Juízes ordinários ou da terra: as câmaras, compostas por vereadores, assim, elegiam dois juízes ordinários ou da terra. Esses juízes ordinários, que poderiam ser leigos (não precisavam ser bacharéis em Direito), exerciam a função judicial durante o período de um ano, sendo encarregados de casos de baixa relevância restritos ao município; Síntese das funções atribuídas às câmaras municipais ou câmaras de vereança: Liberdade para tomar decisões de interesse local (urbanização, fiscalização, melhorias públicas); Requerer assuntos do seu interesse à Coroa ou ao Capitão Donatário; Cobrança de tributos para custear o seu funcionamento; Nomear funções públicas do município; Poder senhorial: vincula-se ao modelo de capitanias hereditárias. O vínculo entre o rei (doava a terra) e o senhor (recebia a terra) era denominado, em Portugal, de doação régia – estabelecida pelas cartas de doação. No Brasil, esses senhores ficaram conhecidos como capitães donatários (capitães que receberam essas terras em doação) – responsáveis, portanto, pela administração dessas capitanias. Vale ressaltar que, perceptível pela própria nomenclatura, essas capitanias eram herdadas para os descendentes dos capitães donatários. Os capitães donatários exerciam, além do papel administrativo (de questões militares, políticas, tributárias, etc), a jurisdição. Essas funções judiciais eram exercidas geralmente pelos ouvidores (em casos mais raros pelos próprios capitães donatários). Esses ouvidores exerciam essas atividades por um período de 3 anos e precisavam ser letrados, ou seja, bacharéis em Direito. As funções judiciais atribuídas ao poder senhorial vincularam-se aos recursos, aos casos ocorridos fora dos municípios e casos ocorridos dentro do município fora das atribuições dos juízes ordinários – ou seja, casos de alta relevância no nível municipal. Poder da coroa: poder exercido por meio dos reis e vinculado às funções legislativa, judicial, administrativa e burocrática, sendo o papel legislativo o mais próximo de ser exercido pela figura do rei. Entretanto, ele é um rex judex (rei juiz),podendo eventualmente, se envolver em questões jurisdicionais. Nesse sentido, foram criados os cargos de ouvidor-geral, governador-geral e provedor-mor da Fazenda. O ouvidor-geral julgava recursos contra decisões dos ouvidores das capitanias e precisava ser letrado. Entretanto, o cargo de ouvidor-geral foi rapidamente extinto pela coroa – substituindo-o por um tribunal – o Tribunal da relação do Brasil, com sede em Salvador; Tribunal da relação do Brasil: ficava em Salvador, criado em 1609 em substituição ao ouvidor geral. Era composto por desembargadores. Além de julgar, administravam e acusavam. Em 1752, houve uma divisão em Relação do Rio de Janeiro e Relação da Bahia com o intuito de otimizar o serviço judiciário; Casa de suplicação: era o tribunal mais alto da estrutura judicial portuguesa, situado em Lisboa. Eram julgados apenas casos de extrema relevância social e/ou econômica. Era composto por desembargadores e ministros que precisavam ser letrados. A título exemplificativo pode-se citar o julgamento a respeito de quem iria herdar a Capitania de Pernambuco; Juiz de fora: juiz que vinha de fora e que era enviado para a garantia de que estava sendo mantida a ordem portuguesa. O juiz de fora veio a substituir os juízes ordinários (função judicial) e tornou-se presidente da câmara municipal, tendo a finalidade de impedir um choque de interesses entre os municípios e os reis (função política). Em síntese, o juiz de fora exercia funções política e judicial; RESUMO: MUNICIPAL Câmaras municipais (vereadores) - Eleição de pelouros; - Funções administrativas - Papel político; - Funções legislativas (posturas municipais); - Funções judicias (juízes ordinários ou da terra); SENHORIAL Capitães donatários - Funções administrativas (militares, políticas, tributárias, entre outras); - Funções judiciais (próprio capitão, ouvidores); RÉGIA/ COROA Rei - Funções legislativas; - Funções judiciais – rex judex; - Funções administrativas; - Funções burocráticas; - Ouvidor-geral, governador-geral e provedor-mor da Fazenda; AULA 05 – AS REFORMAS DE MARQUÊS DE POMBAL Ordenações Filipinas – Livro III, título LXIV Ius proprium – direito próprio português; Ius commone – leis, costumes, estilos, jurisprudência; Direito Canônico (pecados), Direito Romano, Glosas de Bártolo e Acúrcio; Rei decidia, em última instância, os casos omissos (prevalência do Ius proprium); Período Marquês de Pombal Lei da Boa Razão (17 de agosto de 1769) – criada por Marquês de Pombal visando a alterar o sistema de fontes que havia sido instituído pelo Livro III, título LXIV das Ordenações Filipinas. O objetivo de Marquês de Pombal era aumentar a força exercida pelas leis provenientes dos reis e, para alcançar esse objetivo, buscou limitar o papel exercido pelas demais fontes. Pombal se preocupava com a segurança jurídica de Portugal, pois acreditava que as leis emanavam de fontes diversas (reis, tribunais, povo, professores, igrejas, antiguidade...). Querendo centralizar o poder jurídico, Pombal, conforme já mencionado, priorizou as leis oriundas do rei em detrimento das demais fontes do direito vigente em Portugal. Pombal unificou o direito português nos tribunais, abolindo os estilos, já que existiam jurisprudências diferentes em cada Tribunal de Relações. Pelo fato dos costumes serem diversos na metrópole e nas colônias, além de que alguns juízes ordinários usavam apenas os costumes, Pombal restringiu o uso dos costumes. Dessa forma, Pombal não extinguiu completamente os costumes (como fez com os estilos), mas fixou determinados critérios para que os costumes correspondessem a uma fonte do direito apta à utilização. Partindo desse pressuposto seria permitido apenas o uso de costumes com mais de 100 anos de existência e que tivessem boa razão, isto é, uma consideração jusnaturalista sobre os costumes que refletia os valores da Europa Ocidental. Vale ressaltar que o jusnaturalismo corresponde, historicamente, a uma escola do pensamento jurídico responsável por defender a existência de direitos imutáveis e atemporais gravados na essência humana que se sobrepõem em relação ao direito positivo. Pombal nada realizou no que tange ao Direito Canônico, tendo em vista que a atuação deste era bastante restrita (apenas matérias que envolvessem pecado). O Direito Romano através de seu uso discricionário era visto como uma grande ameaça para Marquês de Pombal, entretanto este era de suma importância e extremamente utilizado – sendo lecionado nas universidades. Destarte, as interpretações do Corpus Juris Civilis precisariam se sujeitar ao teste da compatibilidade com o direito natural, ou seja, à boa razão. Apesar das reformas desenvolvidas por Marquês de Pombal, as mudanças não se concretizaram de imediato, tendo em vista que o sistema anterior havia se estendido por um longo período. Nesse cenário, Marquês de Pombal resolveu realizar mudanças no plano de ensino das faculdades lusitanas, marcando a reforma do ensino jurídico de 1772 na Universidade de Coimbra (três anos depois da Lei da boa razão de 1769). Vale ressaltar que estudar em Coimbra não era bastante acessível devido às questões econômicas (os estudantes precisam custear propinas de alto valor para as universidades e o local onde ele vive) e culturais (havia a exigência de bens de alto valor – como vestimentas, livros jurídicos, etc). Vale ressaltar ainda que os exames da admissão eram feitos em salões denominados vestíbulos, tratando de matemática, retórica, prosa, latim e grego. Dia-dia nas universidades: 5 horas de aula pela manhã e 2 horas pela tarde. Nos demais momentos, os alunos deveriam se dedicar às atividades honestas (como passeios, conversa com os amigos, etc). Os estudantes eram avaliados pelos professores de forma intensa através de avaliações diárias (geralmente orais), semanais (sabatinas – geralmente acontecem no sábado – acerca de pontos discutidos na aula), mensais (dissertativos) e anuais (dissertativos), além da avaliação de conclusão do curso. Caso o aluno não venha atingir as metas estabelecidas, esse deveria pagar multas aos professores devido ao trabalho de ensinar novamente determinado conteúdo. Além disso, era comum o fato dos professores convidarem os alunos a debaterem, por meio de diferentes pontos de vista, alguns textos através de apresentações retóricas em tablados (que também exprimiam relações de poder). A primeira grande reforma coordenada por Pombal consistiu na mudança nas cadeiras curriculares – retirando-se, nesse sentido, o foco do ensino do Direito Romano para o Direito Nacional (Direito Fiscal, Direito Criminal, Direito Administrativo, e assim por diante). Assim, há uma ênfase no ensino do Direito Natural e Marquês de Pombal cria uma disciplina denominada História do Direito – entendendo que o estudo da história era fundamental visando a proporcionar um conhecimento contextualizado do Direito para os estudantes. Ademais, Marquês de Pombal ratificou a centralização do ensino no professor (mudança no estilo pedagógico) e os professores passam a preparar obras a fim de sintetizar os conteúdos para que os alunos passem a carregar esses manuais nas aulas, facilitando, dessa maneira, o acompanhamento por parte dos estudantes. O repúdio ao passado era tão intenso que Pombal proibiu as postilas, ou seja, anotações que os estudantes realizavam com base no Corpus Juris Civilis. AULA 07 – PERÍODO JOANINO Napoleão Bonaparte havia decretado o Bloqueio Continental – determinando, assim, que nenhum país europeu poderia manter relações comerciais com a Inglaterra. Entretanto, Portugal via-se em uma situação delicada pelo fato de apresentar dívidas com os britânicos e, do outro lado, tendo que conviver com a ameaça de invasão pelas tropas napoleônicas; Em 1807, há o acidente histórico da fuga dafamília real portuguesa para a colônia situada na América do Sul após as pressões realizadas pelas tropas de Napoleão Bonaparte. Esse fato contribuiu, significativamente, para moldar os rumos da nossa nação, como, por exemplo, no âmbito jurídico – existindo autores que sustentam a existência de um “direito colonial brasileiro”; Existiam, pelo menos no âmbito jurídico, muitas semelhanças entre a metrópole (Portugal) e a colônia (Brasil). Diferentemente do perceptível nas Índias, tendo em vista a vigência das “Leyes de las Indias” – que apresentavam nítidas divergências em relação ao direito metropolitano; Aos poucos, os brasileiros começam a questionar o poder metropolitano e as restrições às liberdades dos colonos – ensaiando, por conseguinte, algumas revoltas que visavam a questionar algumas medidas adotadas por Portugal ou a separação da metrópole (Inconfidência Mineira, Conjuração Baiana, Revolução Pernambucana...). Esses movimentos foram duramente reprimidos por Portugal e muitos não passaram de apenas conspirações; Antes da chegada da família real, eram bastante evidentes as restrições às liberdades dos colonos (de cunho territorial) que se subdividiam em três categorias: Industriais: A colônia limitava-se ao modelo econômico extrativista (agrícola – commodities; mineral – ouro, prata e pedras preciosas; e animal – pecuária). Estava proibida, portanto, a instalação de indústrias manufatureiras em solo colonial; Comercial: Todas as riquezas produzidas unilateralmente no solo colonial eram conduzidas à metrópole. Nesse sentido, os colonos estavam proibidos de comercializarem com outros povos devido ao Pacto Colonial. Com base no desenvolvimento de estudos históricos, coloca-se em dúvida o funcionamento das restrições desse cunho, tendo em vista que a parcela da populacional mais rica era composta, majoritariamente, por comerciantes – o que pode gerar a tese, também, de que se essas limitações de fato eram aplicadas, eram violadas excepcionalmente; Intelectual: Houve a proibição da impressão e, também, uma censura à circulação de diversas obras com o intuito de evitar a disseminação de ideias que colocasse em risco a ordem colonial e o poder metropolitano. Além disso, ocorreu a proibição da instalação de instituições do Ensino Superior. Nessa perspectiva, os interessados em cursar o Ensino Superior deveriam se deslocar para a metrópole, o que permitia um maior controle acerca de quais indivíduos se desenvolveriam intelectualmente. O declínio das limitações anteriormente mencionadas ocorre devido à necessidade de receber a Coroa e modernizar a colônia. Com a chegada da família real, o Brasil deixa a condição de colônia para Reino Unido a Portugal e Algarves. Dessa forma, uma série de transformações ocorreram: No âmbito industrial, inicia-se o desenvolvimento de uma economia baseada na manufatura; No âmbito comercial, há a abertura dos portos às nações amigas (manter relações comerciais com outros povos); No âmbito intelectual, há a promoção da circulação de ideias iluministas e formar grandes profissionais para atender às demandas do Reino. Pode-se citar como fatos importantes a fundação da Universidade de Medicina (BA) - a instituição de ensino superior mais antiga do Brasil e a fundação da Real Escola de Guerra (RJ); No âmbito infraestrutural, destaca-se a modernização de cidades como o Rio de Janeiro – que até então não apresentava tanta importância no reino quanto a cidade de Salvador. Há, partindo desse pressuposto, o calçamento das ruas, a criação do Jardim Botânico, a inauguração de praças, a instalação de infraestruturas de esgoto, entre tantos outros. Nesse sentido, é perceptível uma melhoria da qualidade de vida no reino. Sofrendo as pressões em Portugal, o rei D. João VI retorna para Portugal, entretanto, D. Pedro I resolve permanecer em solo brasileiro – marcando o conhecido Dia do Fico (9 de janeiro de 1822). Em 7 de setembro de 1822, é proclamada a Independência do Brasil – que aconteceu sem derramamento de sangue, mas manteve privilégios significativos nas mãos dos portugueses. O Brasil, por conseguinte, deixa a condição de reino e passa a ser império, marcando o início do 1º Reinado. AULA 08 – A CONSTITUIÇÃO IMPERIAL DE 1824 Antecedentes: Em Portugal estava ocorrendo uma revolução (Revolução Liberal do Porto – 1820) que ameaçava não mais reconhecer a corte portuguesa caso D. João VI não retornasse a Portugal. Sofrendo as pressões em Portugal, o rei D. João VI retorna para Portugal, o que proporciona um medo acerca de uma possível recolonização do Brasil. Entretanto, D. Pedro I resolve permanecer em solo brasileiro – marcando o conhecido Dia do Fico (9 de janeiro de 1822). Em 7 de setembro de 1822, é proclamada a Independência do Brasil – que aconteceu sem derramamento de sangue, mas ocorreu a manutenção privilégios significativos nas mãos dos portugueses. Na verdade, o processo de independência representou um arranjo político visando à manutenção de poderes nas mãos dos Portugueses tanto em Portugal quanto no Brasil. O Brasil, por conseguinte, deixa a condição de reino e passa a ser império, marcando o início do 1º Reinado – tendo D. Pedro I como o seu imperador. Em 1823, é iniciada a elaboração de uma constituição a partir de uma Assembleia Constituinte, todavia, essa constituição nunca entrou em vigência. Isso ocorreu devido ao fato de D. Pedro I considerar que algumas normas violavam os princípios portugueses e que, nesse sentido, o escrito representava uma ameaça ao poder lusitano. Extremamente insatisfeito, D. Pedro I dissolve a Assembleia Constituinte e outorga a Constituição de 1824. Elementos da Constituição de 1824: A Constituição de 1824 previa que o povo do império apoiou a elaboração dessa constituição e que havia sido aprovada pela Assembleia Constituinte – dois fatos que não ocorreram – o que evidencia uma tentativa de falsear as informações a fim de manipular o povo. Na Constituição de 1824 é notável a afirmação de que, conquistada a independência, o Brasil não poderia se aliar a nenhuma outra nação ou federação que se opusesse a esse marco (Art. 1). Art. 1. O IMPERIO do Brazil é a associação Politica de todos os Cidadãos Brazileiros. Elles formam uma Nação livre, e independente, que não admitte com qualquer outra laço algum de união, ou federação, que se opponha á sua Independencia. No Art. 3, era previsto que o governo monárquico era hereditário, constitucional e representativo. Nesse sentido, não havia uma monarquia absolutista devido à presença de limitações à autoridade de D. Pedro I. Vale ressaltar que esse cunho representativo viria, futuramente, a dar origem ao Senado Federal e à Câmara dos Deputados Federais. Art. 3. O seu Governo é Monarchico Hereditario, Constitucional, e Representativo. No Art. 5, era perceptível o cesaropapismo, ou seja, o vínculo entre Estado e Igreja, sendo D. Pedro I Chefe de Estado e Chefe de Igreja. Nessa perspectiva, a religião católica apostólica romana, conforme demonstrado no artigo referido, correspondia à religião oficial do império. Apesar disso, era permitida a prática de outras crenças no espaço doméstico ou nas casas para isso destinadas (proibindo-se o culto nos ambientes externos aos mencionados) – nota-se, dessa forma, uma liberdade religiosa restrita (ilustrada, além dessa limitação espacial no que tange a manifestação da fé, por exemplo, no privilégio de que somente poderiam ser eleitos deputados católicos). Art. 5. A Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião do Imperio. Todas as outras Religiões serão permitidas com seu culto domestico, ou particular em casas para isso destinadas, sem fórma alguma exterior do Templo. No Art. 6, era determinado quem eram os cidadãos brasileiros, isto é, a fundação da nacionalidade brasileira.O Brasil, em 1824, adotou tanto o critério de Ius solis (baseado na territorialidade) quanto o critério de Ius sanguinis (baseado no direito sanguíneo, ou seja, em uma ideia de “nação”). Art. 6 – São Cidadãos Brazileiros I. Os que no Brazil tiverem nascido, quer sejam ingenuos, ou libertos, ainda que o pai seja estrangeiro, uma vez que este não resida por serviço de sua Nação. II. Os filhos de pai Brazileiro, e Os illegitimos de mãi Brazileira, nascidos em paiz estrangeiro, que vierem estabelecer domicilio no Imperio. III. Os filhos de pai Brazileiro, que estivesse em paiz estrangeiro em sorviço do Imperio, embora elles não venham estabelecer domicilio no Brazil. IV. Todos os nascidos em Portugal, e suas Possessões, que sendo já residentes no Brazil na época, em que se proclamou a Independencia nas Provincias, onde habitavam, adheriram á esta expressa, ou tacitamente pela continuação da sua residencia. V. Os estrangeiros naturalisados, qualquer que seja a sua Religião. A Lei determinará as qualidades precisas, para se obter Carta de naturalização OBS 1: Os escravos, analisando-se o artigo acima, não eram considerados cidadãos e, consequentemente, não detinham direitos políticos; OBS 2: Qualquer indivíduo, nascido em um dos territórios portugueses (como Angola, Cabo Verde...), que estava no Brasil na época da independência, poderia optar pela adesão da nacionalidade brasileira (conforme o inciso IV); No Art. 10, foram mencionados os poderes políticos do Império: legislativo, executivo, judiciário e moderador – o que explicitou, pela primeira vez na história brasileira, uma noção de separação dos poderes. Art. 10. Os Poderes Politicos reconhecidos pela Constituição do Imperio do Brazil são quatro: o Poder Legislativo, o Poder Moderador, o Poder Executivo, e o Poder Judicial. No Art. 11, foram nomeados o imperador e a Assembleia Geral como representantes da nação. Art. 11. Os Representantes da Nação Brazileira são o Imperador, e a Assembléa Geral. No Art. 12, foram delegados à nação todos os poderes do império. Art. 12. Todos estes Poderes no Imperio do Brazil são delegações da Nação. Sistema político do 1º Reinado: Em relação ao sistema político do 1º Reinado, pode-se afirmar a existência de um sistema político bicameral, tendo em vista que a Assembleia Geral se subdividia em Câmara dos deputados e o Senado Federal. As eleições eram indiretas. A eleição primeira era destinada a eleição dos eleitores de província os quais, nas Assembleias Provinciais, eram responsáveis pela eleição de deputados e senadores (ou seja, a segunda eleição envolvia um número muito menor de cidadãos). Na Câmara dos Deputados, o mandato era temporário (4 anos), enquanto no Senado o cargo era vitalício. A Câmara dos Deputados era marcada pela velocidade política e o Senado, pela parcimônia (cautela – ausência de pressa). As duas casas constituíam, nesse cenário, duas forças que se opunham e que se complementavam. Constituição Imperial de 1824 - Art. 45 e Arts. 90-95 – foco nos critérios de inclusão e exclusão da participação política (leitura para a próxima aula) AULA 09 – SISTEMA ELEITORAL A LUZ DA CONSTITUIÇÃO IMPERIAL DE 1824 O sistema de voto era um sistema indireto, ou seja, a maior parte da população não escolhia diretamente os representantes políticos brasileiros. Essa massa de votantes elegia, nas assembleias paroquiais (eleições primárias), os eleitores de província (representantes eleitores). Em seguida, esses representantes eleitores, em um colegiado menor, elegiam os representantes da nação, ou seja, os deputados e senadores. Na Câmara dos Deputados, o mandato era temporário (4 anos), enquanto no Senado o cargo era vitalício. A Câmara dos Deputados era marcada pela velocidade política e o Senado, pela parcimônia (cautela – ausência de pressa). As duas casas constituíam, nesse cenário, duas forças que se opunham e que se complementavam. OBS: A nomenclatura das eleições primárias era assembleias paroquiais, tendo em vista que as paróquias eram as instituições responsáveis pela emissão das certidões de nascimento e de óbito – documentos essenciais para o controle da eleição através da verificação da existência dos eleitores. Art. 90. As nomeações dos Deputados, e Senadores para a Assembléa Geral, e dos Membros dos Conselhos Geraes das Provincias, serão feitas por Eleições indirectas, elegendo a massa dos Cidadãos activos em Assembléas Parochiaes os Eleitores de Provincia, e estes os Representantes da Nação, e Provincia. Art. 91. Têm voto nestas Eleições primarias I. Os Cidadãos Brazileiros, que estão no gozo de seus direitos politicos. II. Os Estrangeiros naturalisados. A proibição do voto de alguns indivíduos nas assembleias paroquiais era pautada em um critério etário (menores de 25 anos), no estado civil (os menores de 25 anos e casados estavam aptos a votarem), na profissão (os oficiais militares maiores de 25 anos, os bacharéis formados e clérigos de ordens sacras), no status familiar (filhos famílias na companhia dos pais que não eram funcionários públicos), no critério social (comunidades que viviam em claustro) e no critério censitário (aqueles que não tiverem renda líquida anual de cem mil réis). Art. 92. São excluidos de votar nas Assembléas Parochiaes. I. Os menores de vinte e cinco annos, nos quaes se não comprehendem os casados, e Officiaes Militares, que forem maiores de vinte e um annos, os Bachares Formados, e Clerigos de Ordens Sacras. II. Os filhos familias, que estiverem na companhia de seus pais, salvo se servirem Officios publicos. Aqui também é perceptível uma máxima distante da contemporaneidade: “uma família, um voto” quando se proíbe o voto dos filhos famílias – exceto se forem servidores públicos. III. Os criados de servir, em cuja classe não entram os Guardalivros, e primeiros caixeiros das casas de commercio, os Criados da Casa Imperial, que não forem de galão branco, e os administradores das fazendas ruraes, e fabricas. IV. Os Religiosos, e quaesquer, que vivam em Communidade claustral. V. Os que não tiverem de renda liquida annual cem mil réis por bens de raiz, industria, commercio, ou Empregos. Ao analisar-se os critérios para a aptidão à eleição nas assembleias paroquiais e, consequentemente, ao voto na eleição dos deputados, senadores e membros de províncias, infere-se a existência de novos critérios para limitar esses eleitos pautados novamente no critério censitário (aqueles que não tiverem renda líquida anual de duzentos mil réis), no status social (os libertos) e na reputação (os criminosos em querela ou devasssa). Art. 94. Podem ser Eleitores, e votar na eleição dos Deputados, Senadores, e Membros dos Conselhos de Provincia todos, os que podem votar na Assembléa Parochial. Exceptuam-se I. Os que não tiverem de renda liquida annual duzentos mil réis por bens de raiz, industria, commercio, ou emprego. II. Os Libertos. III. Os criminosos pronunciados em queréla, ou devassa. Em relação àqueles que podem ser eleitores aptos a serem nomeados deputados, infere-se a existência de outras limitações pautadas em um critério censitário (os que não tiverem quatrocentos mil réis de lenda líquida), um critério de nacionalidade (os estrangeiros naturalizados) e um critério religioso (aqueles que não professarem a religião do Estado). Art. 95. Todos os que podem ser Eleitores, abeis para serem nomeados Deputados. Exceptuam-se I. Os que não tiverem quatrocentos mil réis de renda liquida, na fórma dos Arts. 92 e 94. II. Os Estrangeiros naturalisados. III. Os que não professarem a Religião do Estado. No que tange a ocupação do cargo de senador, infere-sea existência de um critério etário (mínimo de quarentena anos), um critério pautado na carreira política (preferência a aqueles que prestaram serviços à pátria) e um critério censitário (rendimento anual de oitocentos mil réis) Art. 45. Para ser Senador requer-se I. Que seja Cidadão Brazileiro, e que esteja no gozo dos seus Direitos Politicos. II. Que tenha de idade quarenta annos para cima. III. Que seja pessoa de saber, capacidade, e virtudes, com preferencia os que tivirem feito serviços á Patria. IV. Que tenha de rendimento annual por bens, industria, commercio, ou Empregos, a somma de oitocentos mil réis. OBS: Apesar de não ser mencionado explicitamente, o critério de gênero abrangia todos os setores, tendo em vista que somente homens participavam das eleições paroquiais, da eleição dos representantes da nação e, consequentemente, da ocupação de cargos políticos. RESUMO: O PODER MODERADOR: O poder moderador, muitas vezes mal compreendido, correspondeu a um quarto poder durante o 1º Reinado – inerente ao imperador e responsável por manter o equilíbrio entre os outros três poderes. O poder moderador não se tratou de um poder absoluto devido à existência de limitações impostas ao próprio imperador. Art. 98. O Poder Moderador é a chave de toda a organisação Politica, e é delegado privativamente ao Imperador, como Chefe Supremo da Nação, e seu Primeiro Representante, para que incessantemente vele sobre a manutenção da Independencia, equilibrio, e harmonia dos mais Poderes Politicos. A interferência do poder moderador nos outros poderes (legislativo, executivo e judiciário) torna-se mais evidente no Art. 101 da Constituição Imperial de 1824. Nessa perspectiva, evidencia-se que o poder legislativo, o poder mais forte, era o mais interferido pelo poder moderador. Art. 101. O Imperador exerce o Poder Moderador I. Nomeando os Senadores, na fórma do Art. 43. interferência no poder legislativo II. Convocando a Assembléa Geral extraordinariamente nos intervallos das Sessões, quando assim o pede o bem do Imperio. interferência no poder legislativo III. Sanccionando os Decretos, e Resoluções da Assembléa Geral, para que tenham força de Lei: Art. 62. interferência no poder legislativo IV. Approvando, e suspendendo interinamente as Resoluções dos Conselhos Provinciaes: Arts. 86, e 87. (Vide Lei de 12.10.1832) interferência no poder legislativo V. Prorogando, ou adiando a Assembléa Geral, e dissolvendo a Camara dos Deputados, nos casos, em que o exigir a salvação do Estado; convocando immediatamente outra, que a substitua. interferência no poder legislativo VI. Nomeando, e demitindo livremente os Ministros de Estado. interferência no poder executivo (ministro da educação, ministro da saúde, ministro da economia...) VII. Suspendendo os Magistrados nos casos do Art. 154. interferência no poder judiciário http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LIM/LIM-12-10-1832.htm#artunico.... VIII. Perdoando, e moderando as penas impostas e os Réos condemnados por Sentença. interferência no poder judiciário IX. Concedendo Amnistia em caso urgente, e que assim aconselhem a humanidade, e bem do Estado. interferência no poder judiciário 5 interferências no poder legislativo; 1 interferência no poder executivo; 3 interferências no poder judiciário; OBS: Algumas ações como o ato de legislar não eram de competência do poder moderador, o que corrobora, portanto, a tese de que o poder moderador não era absoluto; OBS: A deturpação histórica é bastante perceptível visando à criação de heróis nacionais como no caso da Princesa Isabel – dita como responsável pela abolição da escravidão. Entretanto, a autoridade anteriormente mencionada somente foi responsável por sancionar uma lei elaborada pela Assembleia Geral composta por políticos brasileiros – a Lei Áurea. AULA 10 – O PODER EXECUTIVO E O PODER JUDICIÁRIO A LUZ DA CONSTITUIÇÃO IMPERIAL DE 1824 Art. 102. O Imperador é o Chefe do Poder Executivo, e o exercita pelos seus Ministros de Estado. São suas principaes attribuições I. Convocar a nova Assembléa Geral ordinaria no dia tres de Junho do terceiro anno da Legislatura existente. (...) Até então o poder executivo era exercido pelo Imperador. A partir do século XIX, o Brasil vivenciou uma espécie de Parlamentarismo (“Parlamentarismo às avessas”) no qual um gabinete exercia o poder executivo. No modelo parlamentarista os parlamentares nomeavam e demitiam os ministros de Estado (o que era feito, no período anterior, por D. Pedro I). Não existia, nessa época, a realização de concursos públicos, sendo a promoção dos empregos civis e políticos responsabilidade do imperador (inciso IV). IV. Prover os mais Empregos Civis, e Politicos. Ademais, tendo em vista a aproximação entre a estrutura burocrática da Igreja e o aparelho estatal, D. Pedro I nomeava bispos e promovia benefícios eclesiásticos (inciso II) II. Nomear Bispos, e prover os Beneficios Ecclesiasticos. De acordo com o Art. 15, inciso VIII, era atribuição da Assembleia Geral fazer as leis, interpretá-las, suspendê-las e revogai-las. Partindo desse pressuposto, infere-se que o poder legislativo correspondia, ao mesmo tempo, produtor e intérprete oficial da lei. Art. 15. E' da attribuição da Assembléa Geral (...) VIII. Fazer Leis, interpretal-as, suspendel-as, e rovogal-as. Entretanto, no decorrer do tempo, essa concepção de interpretação autêntica do legislativo perdeu força, sendo essa função deslocada para o poder executivo. O Art. 102, inciso XII foi utilizado, por meio de uma “gambiarra”, como um mecanismo para atribuir o papel mencionado anteriormente ao poder executivo. Art. 102. O Imperador é o Chefe do Poder Executivo, e o exercita pelos seus Ministros de Estado. São suas principaes attribuições XII. Expedir os Decretos, Instrucções, e Regulamentos adequados á boa execução das Leis. Esquema para o aviso de uma interpretação obrigatória: S.M.I = Sua majestade imperial – poderia aprovar ou reprovar a proposta. Caso reprovada, essa retornava ao Conselho de Estado; caso aprovada, xeria conduzida para o aviso exercido pelo Ministério da Justiça. Para comunicar a sociedade, eram reunidas na Coleção de Leis do Império, pelo Ministério da Justiça, as interpretações jurídicas vinculantes do poder executivo diante da omissão do poder legislativo de interpretar de forma autêntica. Art. 151. O Poder Judicial independente, e será composto de Juizes, e Jurados, os quaes terão logar assim no Civel, como no Crime nos casos, e pelo modo, que os Codigos determinarem. No geral, o poder judiciário era independente. Somente nos casos criminais, o imperador podia ceder o perdão ou anistia, entretanto, isso acontecia em casos excepcionais. O poder judiciário estava impedido em apreciar determinadas questões envolvendo os interesses do Estado. Partindo desse pressuposto, infere-se que os conflitos privados eram matérias do poder judiciário. Nesse sentido, os conflitos públicos eram resolvidos no Conselho de Estado (já mencionado acima), ou seja, por uma justiça comutativa. Art. 152. Os Jurados pronunciam sobre o facto, e os Juizes applicam a Lei. O Art. 152 explicita que os juízes aplicavam a lei e realizavam a dosimetria da pena, enquanto os jurados decidiam sobre a culpabilidade do réu e calculavam os agravantes e atenuantes da pena. A ideia predominante no júri português era “eu serei julgado pelos meus pares” (nobres julgavam nobres, membros da coroa julgavam membros da coroa). Entretanto, essa mentalidade não se concretizou no Brasil, tendo em vista que a parcela majoritária do júriantagonizava os interesses da maior parte da sociedade. Art. 158. Para julgar as Causas em segunda, e ultima instancia haverá nas Provincias do Imperio as Relações, que forem necessarias para commodidade dos Povos. Se no período colonial somente existiam o Tribunal de Relação da Bahia, do Rio de Janeiro e do Maranhão, no contexto do império surgiram diversas outras relações (São Paulo, Pernambuco, entre outros). Apesar disso, nem todas as províncias apresentavam as suas próprias relações (como no caso da província do Paraná que era competência da relação de São Paulo). Art. 163. Na Capital do Imperio, além da Relação, que deve existir, assim como nas demais Provincias, haverá tambem um Tribunal com a denominação de - Supremo Tribunal de Justiça - composto de Juizes Letrados, tirados das Relações por suas antiguidades; e serão condecorados com o Titulo do Conselho. Na primeira organisação poderão ser empregados neste Tribunal os Ministros daquelles, que se houverem de abolir. O Supremo Tribunal de Justiça (remete à época do Império) é distinto do Superior Tribunal de Justiça (STJ – criado durante o período da Nova República) e também do Supremo Tribunal Federal (STF – também criado durante o período da Nova República). O Supremo Tribunal de Justiça não era um tribunal de revisão ou tribunal de última instância – diferentemente do STF – responsável pela última palavra (tribunal de revisão). O Supremo Tribunal de Justiça consistia em um tribunal de cassação, ou seja, capaz de cassar a decisão recorrida e transferir a responsabilidade sobre o caso para outro Tribunal de Relação. Em síntese, o Supremo Tribunal de Justiça cassava ou não as decisões recorridas, tendo em vista que a decisão final era responsabilidade de um Tribunal de Relação. Vale ressaltar que essa decisão final de um tribunal de relação teria que ser, obrigatoriamente, distinta da decisão cassada anteriormente pelo Supremo Tribunal de Justiça. O Art. 179 – o último da Constituição Imperial de 1824 - traz uma espécie de carta de direitos fundamentais. Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Imperio, pela maneira seguinte. I. Nenhum Cidadão póde ser obrigado a fazer, ou deixar de fazer alguma cousa, senão em virtude da Lei. O inciso I remete ao princípio da legalidade V. Ninguem póde ser perseguido por motivo de Religião, uma vez que respeite a do Estado, e não offenda a Moral Publica. Infere-se nesse inciso a existência de uma liberdade religiosa restrita. Essa interpretação era extremamente preconceituosa e subjetiva, tendo em vista que algumas religiões eram vistas como ameaças (religiões de matrizes africanas), enquanto outras facilmente toleradas (como a religião anglicana). VII. Todo o Cidadão tem em sua casa um asylo inviolavel. De noite não se poderá entrar nella, senão por seu consentimento, ou para o defender de incendio, ou inundação; e de dia só será franqueada a sua entrada nos casos, e pela maneira, que a Lei determinar. Nesse inciso é nítida a proibição de se entrar na casa de outrem a não ser por mandato judicial. X. A' excepção de flagrante delicto, a prisão não póde ser executada, senão por ordem escripta da Autoridade legitima. Se esta fôr arbitraria, o Juiz, que a deu, e quem a tiver requerido serão punidos com as penas, que a Lei determinar. XI. Ninguem será sentenciado, senão pela Autoridade competente, por virtude de Lei anterior, e na fórma por ella prescripta. XII. Será mantida a independencia do Poder Judicial. Nenhuma Autoridade poderá avocar as Causas pendentes, sustal-as, ou fazer reviver os Processos findos. XIII. A Lei será igual para todos, quer proteja, quer castigue, o recompensará em proporção dos merecimentos de cada um. XVIII. Organizar–se-ha quanto antes um Codigo Civil, e Criminal, fundado nas solidas bases da Justiça, e Equidade. O Código Criminal foi, de fato, produzido em 1830 e, dois anos depois (1832), foi criado o Código de Processo Criminal. Entretanto, o Código Civil referido no inciso anterior nunca foi concluído na época do império. XIX. Desde já ficam abolidos os açoites, a tortura, a marca de ferro quente, e todas as mais penas crueis. A pena de morte não era considerada cruel a luz da Constituição Imperial de 1824. XX. Nenhuma pena passará da pessoa do delinquente. Por tanto não haverá em caso algum confiscação de bens, nem a infamia do Réo se transmittirá aos parentes em qualquer gráo, que seja. Revogação expressa da concepção de Lesa Majestade, estudada no início do semestre. AULA 11 – BRASIL: SÉCULO XIX O século XIX, no Brasil, foi caracterizado por transformações político-sociais significativas, tendo em vista que o Brasil se tornou independente em relação a Portugal e passou a almejar, nesse contexto, a construção de uma história autônoma. Entretanto, a economia brasileira não se modificou de forma imediata, estando, ainda no século XIX, bastante vinculada à estrutura econômica do período anterior. Apesar disso, algumas modificações foram perceptíveis, tais como o início do desenvolvimento industrial no território nacional, a construção de ferrovias e o aumento da participação brasileira nas relações comerciais em escala internacional. A economia agrícola, no Brasil, era a principal atividade econômica até então e apresentava a mão-de-obra escrava como preponderante. No século XIX, a atividade econômica de maior destaque continuava situada no campo e, consequentemente, dependente da mão-de-obra escrava. Ademais, o fenômeno da escravidão, no século referido, já havia penetrado nas zonas urbanas e, em cidades como Salvador tornou-se comum a presença de escravos nos seios familiares. Os escravos das cidades, diferentemente do evidenciado no âmbito rural, se encontravam integrados nas áreas urbanas com bastante normalidade - transitavam livremente, praticavam comércios (como a venda de bolos), realizavam obras públicas, carregavam pesos, entre outras atividades. Escravidão de ganho: Os escravos de ganho, no contexto do Brasil colonial e do Império, eram escravos obrigados pelos seus senhores a realizar algum tipo de trabalho nas ruas, levando para casa ao fim do dia uma soma de dinheiro previamente estipulada. Nesse contexto, o senhor lançava o escravo no mercado para que ele prestasse serviços – devendo o subordinado pagar um valor diário denominado jornal e ficar com uma quantia para garantir a sua sobrevivência conhecida como pecúlio. Esse pecúlio poderia ser depositado na caixa econômica e, assim, o escravo tirava o seu sustento e, a longo prazo, poderia comprar a sua liberdade. Do ponto de vista jurídico, a escravidão no Brasil foi um fenômeno extremamente confuso. Isso porque a escravidão assumia a premissa de que o escravo era uma coisa e, nesse sentido, o senhor pode dominá-lo e livremente dispor do seu subordinado (o escravo poderia ser comprado, alugado, segurado, arrematado, leiloado, dado em garantia, avaliado, etc...). Todavia, esse mesmo sistema jurídico não poderia negar o fato incontestável de que os escravos eram pessoas, uma vez que nasciam, morriam, se casavam, tinham filhos, celebravam negócios jurídicos seja em nome dos seus senhores ou em seu próprio nome, poderiam comprar as suas liberdades, eram testemunhas de processo, eram parte de processo, poderiam ter caderneta de poupança, poderiam herdar e deixar herança para seus herdeiros, etc... Perdigão Malheiro: Escritor de um tratado histórico-jurídico sobre a escravidão em três volumes, correspondendo a uma das mais célebres obras vinculadas à temática da escravidão no século XIX. De acordo com Malheiro, esse discurso do escravo como coisa era um discurso voltado para tentar justificaro injustificável e que, portanto, era incompatível com a realidade propriamente dita. Aumento da repressão em relação ao tráfico de escravos: Não correspondeu a uma iniciativa própria do Brasil, tendo em vista que o país se encontrava sob pressão do Reino Unido. Uma parte significativa dos historiadores, adotando uma perspectiva marxista da história, considera que o Reino Unido apresentava interesses econômicos na proibição do tráfico negreiro e, assim, a pressão em relação ao tráfico de escravos não correspondeu a um processo motivado por valores morais (solidariedade espontânea), mas somente pelo fato dos britânicos enxergarem nesse fenômeno um meio de se obter vantagem. Apesar do mencionado, alguns historiadores refutam essa tese devido ao fato de que os escravos libertos não comercializaram automaticamente com o Reino Unido e, desse modo, não proporcionaram privilégios econômicos aos britânicos como o aumento do mercado consumidor. A Lei Inglesa, proclamada em 1826, consistiu em um pacto entre ingleses e brasileiros em prol da proibição do tráfico de escravos no Atlântico. Entretanto, essa lei não apresentou eficácia social, o que culminou no surgimento da conhecida expressão “para inglês ver” (utópica). A partir desse contexto, surgiu uma série de leis que, paulatinamente, foi contribuindo para a abolição formal da escravidão – como a Lei Eusébio de Queirós (proibição do tráfico negreiro), a Lei do Sexagenário (libertação dos escravos com idade de 60 anos – embora poucos chegassem a tal idade), a Lei do Ventre Livre (filho de escravo estaria livre – mas não tinha pra onde ir ou com quem ficar) e a Lei Áurea (consolidou a abolição formal da escravidão no Brasil após trabalho realizado pela Assembleia Geral assinado pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888). OBS: A economia da escravidão era uma realidade da organização brasileira no século XIX e, além dos senhores, o governo e alguns escravos (como Zumbi dos Palmares) também possuíam escravos – o que sustentava a lógica escravista (embora soe contraditório, alguns escravos utilizavam o pecúlio para escravizar outros indivíduos visando a beneficiar-se). O Art. 179, XXII da Constituição de 1824 previa o fenômeno da desapropriação: Art. 179, XXII. E'garantido o Direito de Propriedade em toda a sua plenitude. Se o bem publico legalmente verificado exigir o uso, e emprego da Propriedade do Cidadão, será elle préviamente indemnisado do valor della. A Lei marcará os casos, em que terá logar esta unica excepção, e dará as regras para se determinar a indemnisação. Os senhores de escravos utilizavam o inciso referido para argumentar em seu benefício no caso da ocorrência da abolição da escravidão. Com base nessa perspectiva, a abolição da escravidão seria equivalente a uma desapropriação, sendo evidenciada a necessidade de indenização aos senhores. Esse argumento foi um dos fatores determinantes no atraso da consolidação da abolição no Brasil. AULA 12 – TRANSFORMAÇÕES NO BRASIL IMPERIAL Existia uma grande preocupação, nesse período, em modernizar o direito brasileiro, tendo em vista que o direito das Ordenações Filipinas já não supriam as necessidades da sociedade brasileira. Nesse sentido, a Assembleia Geral se dedicou à renovação do direito nacional – passando a produzir novas leis e códigos a partir da legislação sobre novos temas a fim de se afastar a incidência das Ordenações Filipinas e, de certa forma, atualizando o direito brasileiro. A pena, durante a vigência das Ordenações Filipinas, era modificada pelo rei a partir da “qualidade do indivíduo”, o que era extremamente incompatível com os preceitos iluministas da modernidade. Ademais, durante a vigência das referidas ordenações, a pena poderia ultrapassar o infrator - como no crime de Lesa Majestade no qual o indivíduo pagava com a pena de morte e os seus familiares deveriam pagar multas. Destarte, foi criado o Código Criminal de 1830 – seis anos após a Constituição Imperial de 1824 – que modernizou o Direito Penal que estava previsto no Livro V das Ordenações Filipinas. Nessa perspectiva, o Código Criminal de 1830 proibiu a influência da “qualidade do indivíduo” na aplicação das sanções penais e assegurou o princípio da pessoalidade ou intranscedência penal, ou seja, a concepção de que a pena não poderia ultrapassar o infrator e, por conseguinte, não poderia atingir outros que nada haviam cometido de ilícito. Esse Código Criminal de 1830 passou a ser dividido em Parte Geral e Parte Especial. A Parte Geral abrangeu as normas que discutiam questões gerais que poderiam se relacionar com os crimes tipificados (como, por exemplo, a temática da pena para tentativa de cometer atos ilícitos e a temática da pena diferente para o reincidente), já a Parte Especial abrangeu os crimes propriamente ditos (homicídio, furto, roubo...). A linguagem do diploma referido também mudou significativamente em oposição aos textos muito grandes e ao uso de ferramenta de linguagem de teatralidade. No contexto dessa modernização, a linguagem do Código Criminal de 1830 se aproximou mais do Código Criminal atual (conforme evidente na disposição acerca do crime de homicídio). Em 1832, foi criado o Código de Processo Criminal que proibiu o senso de justiça divina (concepção de que o inocente não morreria em combate). Ocorreu a mudança da inquisitoriedade (durante as Ordenações Filipinas, a pessoa que acusava o réu era, simultaneamente, juiz do processo) para o acusatório - ou seja, a independência entre o instituto que acusa e o instituto que julga, o que passou a garantir uma maior justiça (pelo menos formalmente). Essa “dobradinha” formada pelos Códigos de 1830 e 1832 proporcionou ao direito brasileiro se tornar referência para o direito internacional, inclusive para países europeus. Vale ressaltar que o Código de Processo Criminal de 1832 desbancou o Livro V das Ordenações Filipinas. Em 1850, foi criado o Código Comercial, extremamente importante para gerar segurança jurídica aos comerciantes. Ademais, o regulamento Nº 737 do mesmo ano surgiu visando à resolução de conflitos entre os comerciantes e contribuiu para que o Brasil pudesse expandir suas atividades econômicas para além do labor agrícola. Além disso, esse código disciplinou algumas questões relacionadas à navegação – até então o principal meio de transporte no território nacional (sobretudo a navegação de cabotagem – de contorno do litoral). Outra lei importante elaborada no ano de 1850 consistiu na Lei de Terras – responsável por determinar a obrigatoriedade do registro formal de todas as propriedades de terra no Brasil, sendo esse registro fundamental para a afirmação da legitimidade da ocupação sobre a terra. Caso contrário, as áreas territoriais eram reincorporadas ao patrimônio do Estado – as chamadas terras devolutas. Embora tenha ocorrido o desejo pela elaboração de um Código Civil, apenas foi criada a Consolidação das Leis Civis que juntamente com o Código Comercial de 1850 e com o regulamento Nº 737 praticamente “destruiu” o Livro IV das Ordenações Filipinas. A Consolidação das Leis de Processo tornou obsoleto o Livro III das Ordenações Filipinas (que tratava dos trâmites processuais), restando apenas alguns poucos trechos. O Livro II deixou de ter sentido devido à mudança das relações sociais no Brasil (perda de poder por parte da nobreza) e o Livro I também decaiu devido às modificações administrativas, burocráticas e sistemáticas durante o império. No âmbito da política, ocorreu a transição de um Estado Unitário – caracterizada pela divisão de províncias desprovidas de autonomia e pela forte concentração de poder de decisão no Rio de Janeiro - para um Estado Federado, ou seja, uma organização estatal que concedeu maior autonomia às províncias (embora esta não seja completa). A transformação mencionada aqueceu oensaio para o movimento republicano. AULA 13 – TRANSIÇÃO DO IMPÉRIO PARA A REPÚBLICA O movimento republicano não surgiu instantaneamente em 1889 – consistindo em uma campanha cívica (engajamento exercido por cidadãos brasileiros) e que provocou a sedução de muitos líderes políticos. Agora, ao invés da França, os Estados Unidos se tornam a grande referência para concretização de uma República no Brasil – o que proporcionou o convencimento de uma quantidade significativa de adeptos conforme já citado. Sob a perspectiva dos monarquistas, esse processo representou um “golpe”, todavia, sob uma perspectiva positiva em relação ao evento, é mais utilizada a nomenclatura “revolução”. Em síntese, “golpe” e “revolução” apresentam o mesmo significado, tendo em vista se tratar de uma ruptura com a ordem político-constitucional vigente, entretanto, “golpe” designa um viés negativo em relação ao evento enquanto “revolução” designa um viés positivo em relação ao fenômeno. Pontos importantes para a compreensão dessa transição de poder político: 1. Supremacia da Constituição: A Constituição de 1824 não apresentava, na teoria jurídico-política do Estado Imperial, um cunho de superioridade hierárquica e, portanto, apresentava a mesma importância de leis ordinárias. Esse caráter somente foi adquirido a partir da Constituição de 1891 – tendo em vista essa visão da constituição como uma lei fundamental corresponder a uma inovação estadunidense; 2. Controle de constitucionalidade: Partindo do pressuposto de que a constituição corresponde a uma norma hierarquicamente superior a todas as outras, infere-se a existência de um controle de constitucionalidade, ou seja, a fiscalização da compatibilidade de normas infraconstitucionais com a constituição; Atualmente, vale ressaltar, existem dois modelos de controle de constitucionalidade – o americano difuso-incidental baseado no judicial review of legislation e o europeu concentrado-abstrato (elaborado por Hans Kelsen durante o projeto da Constituição da Áustria). O Brasil adota o modelo misto atualmente, todavia, a adoção do modelo concentrado-abstrato ocorreu depois da concretização do período republicano. Destarte, o primeiro modelo no Brasil é exercido por juízes e promotores (envolvendo qualquer processo) e o europeu concentrado-abstrato pelo STF e TJ’S. 3. Interpretação das leis pelo poder judiciário: Durante o império, o poder judiciário, na teoria, não poderia interpretar as leis, já no período republicano foi abolida a proibição formal do poder judiciário interpretar as leis; 4. Segregação Igreja-Estado: Até então, o Catolicismo era a religião oficial do império, entretanto, no período republicano, consolidou-se, pelo menos formalmente, a laicidade estatal, isto é, a separação entre Igreja e Estado. No que tange a participação política, ocorreu o veto de voto para os analfabetos e a manutenção do critério de gênero – o que excluía, portanto, a participação política feminina também nos anos posteriores a 1891; 5. Modelo Federativo: A adoção do modelo federativo representou uma das transformações mais explícitas durante a transição para o período republicano. De acordo com Ruy Barbosa, o direito americano era o farol que iluminava o direito brasileiro – demonstrando, cada vez mais, a influência exercida pelos Estados Unidos na instalação do Brasil republicano. Todavia, o federalismo brasileiro é centrífugo (há uma autonomia dos entes federativos, mas estes se encontram submetidos ao poder maior da União, sendo responsáveis por tratarem, de forma mais aprofundada, de apenas questões locais), diferentemente do centrípeto estadunidense (maior autonomia e protagonismo dos estados na regulação da ordem social – evidente na elaboração de, por exemplo, normas civis, penais e processuais). Conforme já trabalho em Ciência Política, a divergência entre os estados federais mencionados apresenta raízes históricas: os Estados Unidos tratam-se das antigas Treze Colônias que, durante parte significativa da trajetória vivenciaram a Negligência Salutar, e, nesse sentido, os estados atuais abriram mão da soberania, mas não da autonomia de cada um; já o Brasil, desde o período anterior a sua independência vivenciou um Estado Unitário tendo em vista a não autonomia das antigas províncias (submissão ao poder metropolitano e, posteriormente, ao poder imperial). O Brasil, portanto, federalizou-se “de dentro para fora”, ou seja, através da concessão de privilégios do poder central para os demais entes federados. 6. Justiça Federal: A justiça, no cenário republicano, passa a se ramificar, existindo, nesse cenário, os tribunais federais (responsáveis pelo tratamento de questões que envolvam o Governo Federal ou litígios entre entes federados) e os tribunais estaduais (responsáveis pelo tratamento de questões locais). 7. Inafastabilidade da jurisdição: Durante o império, o poder judiciário não podia se intrometer em qualquer situação (como os conflitos entre cidadãos e o Estado que eram apreciados pelo Conselho de Estado – responsável pela resolução dos “negócios e assuntos da administração”). Já na república, há o princípio da inafastabilidade da jurisdição é baseado na concepção de que o poder judiciário deve e pode apreciar qualquer questão que lhe seja submetida (não existe nada que possa impedir que o poder judiciário analisar determinada questão sob qualquer aspecto); 8. STF e o recurso extraordinário: O STF é, de fato, um tribunal constitucional de cúpula (vértice) e de última instância na resolução de conflitos – ocorrendo uma mudança significativa do até então modelo existente no império. 9. Presidencialismo: Transformação deliberada seguindo o modelo estadunidense e seguindo a tendência centralizadora brasileira – sendo Deodoro da Fonseca o primeiro presidente da história do Brasil; 10. Sistema de freios e contrapesos: Com a República, ocorreu o desaparecimento do poder moderador, entretanto, ainda existia a necessidade de se manter o equilíbrio entre os dois poderes. Daí surgiu o sistema de freios e contrapesos baseado nos Estados Unidos e caracterizado pela interferência ocasional dos poderes interferirem uns nos outros, ou seja, há a previsão do exercício de funções atípicas eventualmente pelos poderes (o executivo julgar, o judiciário legislar e o legislativo fiscalizar – por exemplo); AULA 14 – OS PRIMEIROS ANOS DO PERÍODO REPUBLICANO 1. Código Criminal de 1890: Uma das grandes transformações logo evidenciadas no período de transição do império para a República consistiu na substituição do Código Criminal até então vigente pelo Código Criminal de 1890, antes, inclusive, da elaboração de um Código Civil. O Código Criminal de 1890 foi feito às pressas e foi altamente criticado pela comunidade jurídica devido aos seus aspectos negativos – seja no âmbito material, seja no âmbito dogmático. Apesar de consolidar a abolição formal da escravidão, é perceptível uma contradição no referido dispositivo legal em virtude da existência de um teor discriminatório contra os grupos minoritários – a exemplo do contido no Art. 157: Art. 157. Praticar o espiritismo, a magia e seus sortilegios, usar de talismans e cartomancias para despertar sentimentos de odio ou amor, inculcar cura de molestias curaveis ou incuraveis, emfim, para fascinar e subjugar a credulidade publica: Penas - de prisão cellular por um a seis mezes e multa de 100$ a 500$000 Um aspecto positivo desse Código Criminal trata-se da previsão da prisão como sanção penal. O ato de mendigar, ou seja, de não estar exercendo uma atividade laboral, além de ser extremamente repudiado, era considerado crime – sendo detalhado as suas variáveis em uma sequência de artigos: Art. 391. Mendigar, tendo saude e aptidão para trabalhar: Pena - de prisãocellular por oito a trinta dias. Art. 392. Mendigar, sendo inhabil para trabalhar, nos logares onde existem hospicios e asylos para mendigos: Pena - de prisão cellular por cinco a quinze dias. Art. 393. Mendigar fingindo enfermidades, simulando motivo para armar á commiseração, ou usando de modo ameaçador e vexatorio: Pena - de prisão cellular por um a dous mezes. Art. 394. Mendigar aos bandos, ou em ajuntamento, não sendo pae ou mãe e seus filhos impuberes, marido e mulher, cego ou aleijado e seu conductor: Pena - de prisão cellular por um a tres mezes. O ato de embriagar-se, que hoje é considerado uma condição que reduz a capacidade dos indivíduos, no Código Criminal de 1890, era vista como uma conduta delituosa. Art. 396. Embriagar-se por habito, ou apresentar-se em publico em estado de embriaguez manifesta: Pena - de prisão cellular por quinze a trinta dias. A capoeira, atualmente considerada um patrimônio imaterial da cultura brasileira, especialmente no contexto baiano, era considerada como uma atividade ilícita consoante o Código Criminal de 1890 devido à associação desta manifestação com a desordem social: Art. 402. Fazer nas ruas e praças publicas exercicios de agilidade e destreza corporal conhecidos pela denominação capoeiragem; andar em correrias, com armas ou instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, provocando tumultos ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal: Pena - de prisão cellular por dous a seis mezes. 2. A Constituição Republicana de 1891: Sofreu influência das constituições dos Estados Unidos, Argentina e Suíça; Instituiu o modelo federalista presidencialista no país; Fixação dos três poderes – legislativo, executivo e judiciário (extinção formal do poder moderador); Estabeleceu recursos extraordinários para o STF; Determinou o término do voto pautado no critério censitário ou de renda; Proibição de voto para os analfabetos; Separação entre Igreja e Estado; Término da vitaliciedade do cargo para os senadores; Constituição mais concisa entre as constituições republicanas brasileiras (mais sintética em comparação às constituições de 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988); Só apresentava 91 artigos permanentes e 8 disposições transitórias; 3. Código Civil de 1916 (Clóvis Beviláquia): Antes da elaboração desse Código Civil, quatro outras tentativas fracassaram: Teixeira de Freitas (1851), Nabuco de Araújo (1872), Felício dos Santos (1881) e Coelho Rodrigues (1893); Destaque para o patriarcalismo e para o patrimonialismo; 4. 1926 – Grande reforma constitucional: Criação de regras constitucionais sobre habeas corpus; Estabelecimento de regras variáveis para naturalização; Diminuição do poder do Congresso Nacional para mobilizar a Guarda Nacional; 5. A Constituição de 1934 (Governo Provisório de Getúlio Vargas): Influenciada pelas constituições mexicana e alemã (Weimar); Voltada para o bem-estar-social; Concessão de direito de voto às mulheres Fixação de direitos trabalhistas; Criação da justiça eleitoral; Nacionalização dos bancos; Consolidação dos remédios constitucionais (mandatos de segurança, ação popular); OBS: Em 1937, ocorreu o golpe do Estado Novo, responsável pela revogação da Constituição de 1934 e pela elaboração da Constituição de 1937. AULA 15 – O ESTADO NOVO DE GETÚLIO VARGAS, DITADURA MILITAR E REDEMOCRATIZAÇÃO DO BRASIL O ESTADO NOVO Aspectos gerais: Em 1937, Vargas, através de outro golpe, iniciou um novo período – o Estado Novo – que foi caracterizado pelo cunho autoritário, alienador e voltado para o controle ideológico das massas. A Constituição de 1937 – que foi outorgada - previa a criação de um poder legislativo que jamais fora nomeado. Ademais, essa constituição também previa a possibilidade do presidente nomear interventores dos estados (o que não aconteceu). Nesse sentido, os governos estaduais estavam aliados ideologicamente e administrativamente a Vargas. Vargas passou a legislar por decreto com força de lei – entre esses o Decreto-Lei 5.452 de 1943 que marcou o surgimento da CLT. Ainda em 1937, os partidos políticos foram extintos, uma vez que Vargas acreditava na sua capacidade de se comunicar diretamente com as massas. Destarte, Vargas abusou dos veículos de comunicação para realizar uma propaganda positiva do seu governo a medida que visava à legitimação popular. Vargas, daí, se caracterizou pelo populismo, ou seja, pelo “apelo ao povo”. Vargas implementou uma censura à imprensa e uma perseguição aos jornalistas a partir da criação do DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda – sob o discurso de que era necessário combater um inimigo político comum do povo brasileiro: o comunismo. Esse inimigo criava uma falsa luta de classes e, nesse sentido, Vargas afirmava que as instituições não estavam garantindo segurança e bem-estar. Dessa forma, esse discurso contra o “inimigo” e a defesa da existência de uma iminente ameaça foram ainda mais evidenciados no preâmbulo da referida constituição: ATENDENDO às legitimas aspirações do povo brasileiro à paz política e social, profundamente perturbada por conhecidos fatores de desordem, resultantes da crescente a gravação dos dissídios partidários, que, uma, notória propaganda demagógica procura desnaturar em luta de classes, e da extremação, de conflitos ideológicos, tendentes, pelo seu desenvolvimento natural, resolver-se em termos de violência, colocando a Nação sob a funesta iminência da guerra civil; ATENDENDO ao estado de apreensão criado no País pela infiltração comunista, que se torna dia a dia mais extensa e mais profunda, exigindo remédios, de caráter radical e permanente; ATENDENDO a que, sob as instituições anteriores, não dispunha, o Estado de meios normais de preservação e de defesa da paz, da segurança e do bem-estar do povo; Sem o apoio das forças armadas e cedendo às inspirações da opinião nacional, umas e outras justificadamente apreensivas diante dos perigos que ameaçam a nossa unidade e da rapidez com que se vem processando a decomposição das nossas instituições civis e políticas; Resolve assegurar à Nação a sua unidade, o respeito à sua honra e à sua independência, e ao povo brasileiro, sob um regime de paz política e social, as condições necessárias à sua segurança, ao seu bem-estar e à sua prosperidade, decretando a seguinte Constituição, que se cumprirá desde hoje em todo o Pais. Esse discurso de ódio ao comunismo consistiu na base da consolidação do Estado Novo em virtude da criação de justificativas para as ações arbitrárias do governo. O ponto, no mínimo curioso, é que os jornalistas eram reprimidos quando divulgavam essas ações arbitrárias do governo. Foi criada, ainda durante o Estado Novo varguista, a Lei de Segurança Nacional (Lei 38/35) que continha alguns pontos interessantes como o combate às notícias falsas, à intolerância religiosa e às propagandas de guerra. A Constituição de 1946: Promulgada após a queda do Estado Novo em 1945; Importante no processo de redemocratização do país; Resgate dos partidos políticos – Partido Social Democrata (liderada pelo general Eurico Gaspar Dutra) x UDN (partido conservador cujo principal candidato era o brigadeiro Eduardo Gomes); Mandato de presidente: 5 anos sem possibilidade de reeleição; Direitos de liberdade de imprensa e de opinião para todas as pessoas; Garantia de liberdade para o funcionamento dos sindicatos; Contemplou direitos fundamentais como o direito à educação, à saúde, ao voto, entre outros; Exclusão da possibilidade de voto para analfabetos; Exclusão dos trabalhadores rurais no aparato celetista (CLT); Embora previsse a possibilidade de greve, a regulamentação dessas deveria ocorrer
Compartilhar