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CADERNO 2o - HIST DO DIREITO BRASILEIRO - MARCUS SEIXAS

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CADERNO DE HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO – MARCUS SEIXAS – FBDG 
2021.2 
 
AULAS 01 E 02 – QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO E A FORMAÇÃO DE 
PORTUGAL 
 Em 400 a.C Roma se expandiu, conquistando partes da Europa Ocidental, norte da 
África e áreas no continente asiático. A civilização romana, portanto, correspondeu a 
uma das maiores já registradas até a contemporaneidade, tendo o berço na cidade 
de Roma e, posteriormente, ganhando dimensões continentais. Já naquele período, a 
República Romana possuía um código de leis escritas denominadas Lei das 12 tábuas, 
que esteve em vigência durante toda a República; 
 
 O Império Romano apresentava um estilo de vida semelhante ao do predominante 
na contemporaneidade – sedentarismo, domínio da escrita, locomoção nas grandes 
cidades via veículos (movidos a animais), resolução de conflitos em tribunais...; 
 
 O marco de transição entre a Antiguidade Clássica e a Idade Média corresponde à 
queda do Império Romano. Embora a necessidade de cautela quando se sustenta um 
raciocínio em datas históricas pois processos históricos como a medievalização não 
acontecem de forma homogênea pelas sociedades, os livros histórico-didáticos se 
apoiam em 476 d.C como o marco da queda do Império Romano do Ocidente – 
concretizada pelas invasões bárbaras e pela queda do imperador Rômulo Augustulo; 
 
Fatores que contribuíram para a queda do Império Romano: 
 Ordem econômica: alto índice inflacionário, geralmente proveniente da falsificação 
de moedas, o que proporciona a desvalorização do dinheiro circulante; 
 
 Ordem de sucessão: invasões provenientes das pressões dos germânicos exercidas na 
outra margem do Rio Reno. Os exércitos que eram fundamentais para a contenção 
dessas invasões, passam a perceber a sua importância política e que sustentava o 
Império. Esse período passa a ser caracterizado por uma instabilidade política, tendo 
em vista que os exércitos ora apoiavam um determinado candidato, ora outro, 
visando, sobretudo, à posse de benefícios; 
 
 Ordem populacional: migração populacional significativa para as zonas rurais (Êxodo 
Urbano) devido ao aumento da insegurança nas cidades. Esse fenômeno contribui 
para o declínio de uma das principais atividades econômicas romanas: o comércio; 
OBS: Essas invasões bárbaras provocaram uma grande fusão com os romanos que já 
habitavam os territórios – linguística (origem das línguas neolatinas como o francês – junção 
do latim com o idioma francano); religiosa (a ascensão da religião monoteísta do 
Cristianismo que inicialmente possui seus adeptos perseguidos pelo fato dessa doutrina 
questionar a autoridade do imperador, posteriormente se torna a religião oficial do império 
romano e passa a ser incorporada tanto pelos habitantes já residentes quanto pelos povos 
germânicos. Essa conversão encontrou-se pautada em aspectos institucionais (aproximação 
com a Igreja, uma instituição forte e reconhecida) e culturais (aproximação com os romanos 
locais); e jurídica (o Direito Romano era sofisticado e escrito e, aos poucos, foi se 
transformando devido ao contato com o direito dos povos germânicos, tornando-se, 
gradualmente, em um direito consuetudinário, ou seja, pautado nos costumes e nas 
tradições orais. Assim, surgem as leis romano-germânicas – leis escritas em latim que 
incorporam, também, regras jurídicas germânicas. 
 
A consolidação de um direito consuetudinário em Roma provocou uma perda da estrutura 
jurídica anterior, restando poucos resquícios. Esse novo direito, vale relembrar, foi 
caracterizado pela fusão das normas romanas com as tradições germânicas – podendo-se 
falar em normas romano-germânicas – ou seja – escritas em latim e que incorporaram regras 
jurídicas germânicas (embora a maior parte dos conceitos detinham, de fato, vínculos mais 
fortes com o direito romano). Nesse contexto, evidencia-se um processo de vulgarização do 
direito romano. Em primeira análise, essa vulgarização ascendeu devido à mistura com as 
tradições germânicas (o que contribui para a defesa da tese de que não havia um direito 
puramente romano), à fragilização de estruturas jurídicas do antigo direito romano (fóruns, 
bibliotecas, faculdades...) e ao fato de ter sido um direito voltado para uma sociedade muito 
distante da pioneira civilização romana. 
 
A FORMAÇÃO DO REINO PORTUGUÊS 
Durante o período medieval ocorreu a instalação de uma relação de suserania e vassalagem 
– ou seja – um pacto findado entre o suserano e o vassalo no qual o suserano concedia 
terras para o vassalo retirar o seu sustento em troca da prestação de fidelidade (por 
exemplo, militar) por parte do vassalo; 
O Direito europeu, nessa época, era baseado no direito romano-germânico vulgarizado e nos 
costumes – tendo em vista que as transformações sociais (como mobilidade social) 
ocorreriam em um ritmo muito lento; 
O poder dos reis, durante a Idade Média, era limitado pela atuação da corte (demais 
nobres). Nesse sentido, a elaboração e aplicação das leis ocorriam a partir da exposição do 
rei e, em seguida, da aprovação das cortes; 
Esse contexto passa a se modificar com a formação dos Estados Nacionais – momento em 
que os reis passam a exercer o poder de forma mais autônoma – sendo Portugal e Espanha 
os pioneiros nesse processo. O pioneirismo ibérico deveu-se pela forma militar, tendo em 
vista a presença de um exército controlado por reis desde cedo no contexto das Guerras de 
Reconquista. As Guerras de Reconquista foram Cruzadas – expedições militares 
coordenadas por instituições religiosas cristãs e por nobres – que pretendiam expulsar os 
mulçumanos da Península Ibérica, tendo em vista a ameaça da Europa se tornar 
predominantemente mulçumana. Portugal, então se torna o Condado Portugalense, dando 
origem, posteriormente, ao reino português, reconhecido na Europa; 
Outro fator que contribuiu para a consolidação do Estado português, além das Guerras de 
Reconquistas, consistiu na redescoberta do direito romano; 
O imperador do Império Romano do Oriente – Justiniano – pretendia reconquistar o Império 
Romano do Ocidente, inconformado com as invasões bárbaras, entretanto, não obteve êxito 
a longo prazo nas guerras e os germânicos voltaram a exercer domínio em grande parte do 
continente europeu. 
Justiniano pretendia reformular o direito romano, alegando este ter ficado muito difícil de 
ser compreendido, que as fontes eram de difícil acesso e que algumas teses eram 
contraditórias. Tendo em vista um projeto político de reformulação, Justiniano contratou os 
melhores juristas do império para recolher o máximo de arquivos possíveis, unindo as 
informações obtidas no denominado Corpo de Direito Civil (Corpus Juris Civilis) – CJC. 
Após 500 anos esquecido no Ocidente, um monge em 110 d.C redescobriu o CJC durante o 
renascimento comercial na Itália – culminando na adoção deste como fonte de direito em 
vários locais da Europa. Os direitos locais continuaram a ser utilizados de forma 
preponderante (Ius propium) e o direito romano assumiu, na maioria dos casos, um papel 
subsidiário – contribuindo para a aproximação das tradições jurídicas entre os Estados (Ius 
commune). O direito romano passa a ser aplicado muito frequentemente, culminando no 
processo de romanização ou reromanização do direito europeu – seja pela criação de leis 
que possuíam vínculo com a estrutura jurídica romana, seja pela adoção do direito romano 
como um direito subsidiário. 
Além disso, pode-se falar na existência de um pluralismo jurídico durante a Idade Média, ou 
seja, o fenômeno da existência de diferentes ordenamentos jurídicos simultaneamente. 
A redescoberta do Corpus Juris Civilis (CJC) é considerada um dos maiores acontecimentos 
da história da Europa Ocidental. 
 
AULA 03 – ORDENAÇÕES PORTUGUESAS 
Ordenações portuguesas: compilações legislativas criadas em Portugal visando à reunião de 
leis esparsas anteriormente produzidas. Esse processoapresentou suma importância tendo 
em vista o aumento do número de leis vinculado ao crescimento da autonomia do rei 
perante a corte. A reunião dessa multiplicidade de leis contribuiu para facilitar a 
administração e o acesso populacional a essas leis. 
 Ordenações afonsinas: promulgadas por Afonso V no ano de 1446, mas ainda eram 
manuscritas e não impressas. As ordenações afonsinas encontram-se divididas em 
uma estrutura que se repetiu ao longo das demais ordenações: cinco livros; 
 
 Ordenações manuelinas: promulgadas por D. Manuel I no ano de 1513, entretanto, já 
eram impressas. Essencialmente o conteúdo e a organização interna são bem 
semelhantes às ordenações afonsinas, entretanto, com a produção de outras leis 
esparsas, pode-se falar em uma expansão inerente a essa compilação mais recente 
devido à inserção de novas leis; 
 
 Ordenações filipinas: promulgadas por D. Felipe I de Portugal (D. Felipe II da Espanha) 
durante o período da denominada união ibérica. As ordenações filipinas foram 
aplicadas no Brasil por mais de 300 anos – vigorando até o ano de 1916 – 
evidenciando a importância dessas para a construção do direito do nosso país. Assim 
como as duas ordenações anteriores, as ordenações filipinas também apresentaram 
cinco livros. 
 
 O primeiro livro trata da administração da coroa, da administração da justiça 
e da administração burocrática no geral; 
 O segundo livro discorre acerca dos privilégios inerente aos nobres e aos 
membros do clero bem como das relações entre os nobres e os religiosos; 
 O terceiro livro discorre sobre as regras processuais; 
 O quarto livro discorre sobre o direito privado, especialmente acerca do 
Direito Civil (relações de compra e venda, aluguéis, contrato de aforamento, a 
fiança, alguns aspectos de sucessão da nobreza...); 
 O quinto livro trata do Direito Criminal bem como das regras criminais 
aplicadas naquele período; 
 
OBS 1: No terceiro livro das ordenações filipinas, ficou determinado que o Ius propium 
português era constituído por: lei, stylo (jurisprudência do tribunal) e costume. O Ius 
commune (direito subsidiário) seria aplicado quando uma conduta não for tratada por leis, 
stylos ou costumes – correspondendo ao direito imperial (direito romano) e envolvendo 
matérias associadas a pecados. Em última instância, prevalece um Ius propium vinculado ao 
poder de decisão do rei. 
OBS 2: O livro IV era curto, já que ainda era bastante utilizado o Corpus Juris Civilis (CJC), 
sendo posteriormente anexado ao livro III em um único volume. 
OBS 3: No quinto livro das ordenações filipinas, encontram-se crimes prescritos que 
protegem a ordem religiosa vigente (a prática da blasfêmia ou a prática da bruxaria, por 
exemplo), que protegem os interesses da coroa (crime da maledicência do rei como o crime 
de lesa majestade – traição ao rei), crimes comuns na sociedade (furtos e roubos). A 
verificação da “qualidade” da pessoa poderia modificar a sanção e o tempo da punição. 
Ademais, as penas continham um forte cunho simbolista – tendo em vista a existência de 
processos, por exemplo, mesmo após a morte do delinquente com o intuito da pena incidir 
sobre a sua “alma”. Era também muito comum a punição decair sobre outras pessoas, não 
necessariamente o responsável pelo ato (como os pais desse delinquente, a título 
exemplificativo). 
 
http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/ordenacoes.htm 
AULA 04 – OS PODERES DE PORTUGAL 
Portugal esteve organizado em municípios (poder municipal ou poder dos municípios = 
poder local) e existia também o poder senhorial – que seria o equivalente ao denominado 
Feudalismo ou Sistema Feudal devido à grande quantidade de semelhanças – sendo este de 
caráter regional. Esse sistema senhorial decorre da autoridade do poder que os senhores 
possuíam sobre suas terras – terras que haviam sido doadas pelos reis (doações régias). 
Além desse sistema senhorial, existia uma forte influência exercida pela igreja, o que 
contribuiu para a formação de um sistema de poder eclesiástico – decorrente, por 
conseguinte, da adoção do cristianismo como religião oficial de Portugal e da submissão do 
poder real ao poder papal em matérias de cunho religioso. Existiam, nesse sentido, fatos 
sociais que pertenciam a uma esfera religiosa – vinculada à autoridade da igreja – e a uma 
esfera terrena – vinculada à autoridade dos senhores. 
Ademais, existia o poder inerente à coroa portuguesa (evidenciado, por exemplo, na criação 
dos tribunais da coroa), constitui-se, assim, a forma mais relevante de poder que existia em 
Portugal e nas suas colônias – hierarquicamente superior às outras formas de poder - 
municipal, senhorial e eclesiástica. 
 Poder municipal: os municípios se distinguiam de ocupações como vilas porque 
detinham um poder político. Além disso, os municípios podiam se organizar em câmaras 
municipais próprias, diferentemente de vilas e cidades de pequeno porte. As câmaras 
municipais tinham a finalidade de tratar de questões de interesse local, de exercer um 
papel político de interface as questões relevantes para a sociedade e, por meio do 
recolhimento de impostos, realizava a administração do município. Esse modelo também 
foi implantado no Brasil durante o período colonial – a exemplo da cidade de Salvador – 
centro de decisão das capitanias da Bahia. 
 
Além das funções legislativa e administrativa, pode-se mencionar o papel judiciário, ou seja, 
os municípios possuíam a capacidade de julgar. 
 Eleição de Pelouros: escolha as pessoas elegíveis a cargos de vereança, os homens 
bons - selecionados pelos administradores dos senhorios - correspondendo a 
homens, pais de família, proprietários de terras e que não tivessem "sangue sujo" 
(judeu ou muro) por no mínimo três gerações; 
 
 Juízes ordinários ou da terra: as câmaras, compostas por vereadores, assim, elegiam 
dois juízes ordinários ou da terra. Esses juízes ordinários, que poderiam ser leigos 
(não precisavam ser bacharéis em Direito), exerciam a função judicial durante o 
período de um ano, sendo encarregados de casos de baixa relevância restritos ao 
município; 
 
Síntese das funções atribuídas às câmaras municipais ou câmaras de vereança: 
 Liberdade para tomar decisões de interesse local (urbanização, fiscalização, 
melhorias públicas); 
 Requerer assuntos do seu interesse à Coroa ou ao Capitão Donatário; 
 Cobrança de tributos para custear o seu funcionamento; 
 Nomear funções públicas do município; 
 Poder senhorial: vincula-se ao modelo de capitanias hereditárias. O vínculo entre o 
rei (doava a terra) e o senhor (recebia a terra) era denominado, em Portugal, de 
doação régia – estabelecida pelas cartas de doação. No Brasil, esses senhores 
ficaram conhecidos como capitães donatários (capitães que receberam essas terras 
em doação) – responsáveis, portanto, pela administração dessas capitanias. Vale 
ressaltar que, perceptível pela própria nomenclatura, essas capitanias eram herdadas 
para os descendentes dos capitães donatários. Os capitães donatários exerciam, 
além do papel administrativo (de questões militares, políticas, tributárias, etc), a 
jurisdição. 
Essas funções judiciais eram exercidas geralmente pelos ouvidores (em casos mais raros 
pelos próprios capitães donatários). Esses ouvidores exerciam essas atividades por um 
período de 3 anos e precisavam ser letrados, ou seja, bacharéis em Direito. As funções 
judiciais atribuídas ao poder senhorial vincularam-se aos recursos, aos casos ocorridos 
fora dos municípios e casos ocorridos dentro do município fora das atribuições dos juízes 
ordinários – ou seja, casos de alta relevância no nível municipal. 
 
 Poder da coroa: poder exercido por meio dos reis e vinculado às funções legislativa, 
judicial, administrativa e burocrática, sendo o papel legislativo o mais próximo de ser 
exercido pela figura do rei. Entretanto, ele é um rex judex (rei juiz),podendo 
eventualmente, se envolver em questões jurisdicionais. Nesse sentido, foram criados 
os cargos de ouvidor-geral, governador-geral e provedor-mor da Fazenda. 
 
 O ouvidor-geral julgava recursos contra decisões dos ouvidores das capitanias e 
precisava ser letrado. Entretanto, o cargo de ouvidor-geral foi rapidamente extinto 
pela coroa – substituindo-o por um tribunal – o Tribunal da relação do Brasil, com 
sede em Salvador; 
 
 Tribunal da relação do Brasil: ficava em Salvador, criado em 1609 em substituição ao 
ouvidor geral. Era composto por desembargadores. Além de julgar, administravam e 
acusavam. Em 1752, houve uma divisão em Relação do Rio de Janeiro e Relação da 
Bahia com o intuito de otimizar o serviço judiciário; 
 
 Casa de suplicação: era o tribunal mais alto da estrutura judicial portuguesa, situado 
em Lisboa. Eram julgados apenas casos de extrema relevância social e/ou econômica. 
Era composto por desembargadores e ministros que precisavam ser letrados. A título 
exemplificativo pode-se citar o julgamento a respeito de quem iria herdar a Capitania 
de Pernambuco; 
 
 Juiz de fora: juiz que vinha de fora e que era enviado para a garantia de que estava 
sendo mantida a ordem portuguesa. O juiz de fora veio a substituir os juízes 
ordinários (função judicial) e tornou-se presidente da câmara municipal, tendo a 
finalidade de impedir um choque de interesses entre os municípios e os reis (função 
política). Em síntese, o juiz de fora exercia funções política e judicial; 
 
RESUMO: 
MUNICIPAL Câmaras municipais (vereadores) 
- Eleição de pelouros; 
- Funções administrativas 
- Papel político; 
- Funções legislativas (posturas municipais); 
- Funções judicias (juízes ordinários ou da 
terra); 
SENHORIAL Capitães donatários 
- Funções administrativas (militares, políticas, 
tributárias, entre outras); 
- Funções judiciais (próprio capitão, 
ouvidores); 
RÉGIA/ COROA Rei 
- Funções legislativas; 
- Funções judiciais – rex judex; 
- Funções administrativas; 
- Funções burocráticas; 
- Ouvidor-geral, governador-geral e 
provedor-mor da Fazenda; 
 
AULA 05 – AS REFORMAS DE MARQUÊS DE POMBAL 
Ordenações Filipinas – Livro III, título LXIV 
 Ius proprium – direito próprio português; 
 Ius commone – leis, costumes, estilos, jurisprudência; 
 Direito Canônico (pecados), Direito Romano, Glosas de Bártolo e Acúrcio; 
 Rei decidia, em última instância, os casos omissos (prevalência do Ius proprium); 
 
Período Marquês de Pombal 
Lei da Boa Razão (17 de agosto de 1769) – criada por Marquês de Pombal visando a alterar 
o sistema de fontes que havia sido instituído pelo Livro III, título LXIV das Ordenações 
Filipinas. O objetivo de Marquês de Pombal era aumentar a força exercida pelas leis 
provenientes dos reis e, para alcançar esse objetivo, buscou limitar o papel exercido pelas 
demais fontes. 
Pombal se preocupava com a segurança jurídica de Portugal, pois acreditava que as leis 
emanavam de fontes diversas (reis, tribunais, povo, professores, igrejas, antiguidade...). 
Querendo centralizar o poder jurídico, Pombal, conforme já mencionado, priorizou as leis 
oriundas do rei em detrimento das demais fontes do direito vigente em Portugal. 
Pombal unificou o direito português nos tribunais, abolindo os estilos, já que existiam 
jurisprudências diferentes em cada Tribunal de Relações. 
Pelo fato dos costumes serem diversos na metrópole e nas colônias, além de que alguns 
juízes ordinários usavam apenas os costumes, Pombal restringiu o uso dos costumes. Dessa 
forma, Pombal não extinguiu completamente os costumes (como fez com os estilos), mas 
fixou determinados critérios para que os costumes correspondessem a uma fonte do direito 
apta à utilização. Partindo desse pressuposto seria permitido apenas o uso de costumes com 
mais de 100 anos de existência e que tivessem boa razão, isto é, uma consideração 
jusnaturalista sobre os costumes que refletia os valores da Europa Ocidental. Vale ressaltar 
que o jusnaturalismo corresponde, historicamente, a uma escola do pensamento jurídico 
responsável por defender a existência de direitos imutáveis e atemporais gravados na 
essência humana que se sobrepõem em relação ao direito positivo. 
Pombal nada realizou no que tange ao Direito Canônico, tendo em vista que a atuação 
deste era bastante restrita (apenas matérias que envolvessem pecado). 
O Direito Romano através de seu uso discricionário era visto como uma grande ameaça para 
Marquês de Pombal, entretanto este era de suma importância e extremamente utilizado – 
sendo lecionado nas universidades. Destarte, as interpretações do Corpus Juris Civilis 
precisariam se sujeitar ao teste da compatibilidade com o direito natural, ou seja, à boa 
razão. 
Apesar das reformas desenvolvidas por Marquês de Pombal, as mudanças não se 
concretizaram de imediato, tendo em vista que o sistema anterior havia se estendido por um 
longo período. Nesse cenário, Marquês de Pombal resolveu realizar mudanças no plano de 
ensino das faculdades lusitanas, marcando a reforma do ensino jurídico de 1772 na 
Universidade de Coimbra (três anos depois da Lei da boa razão de 1769). 
Vale ressaltar que estudar em Coimbra não era bastante acessível devido às questões 
econômicas (os estudantes precisam custear propinas de alto valor para as universidades e o 
local onde ele vive) e culturais (havia a exigência de bens de alto valor – como vestimentas, 
livros jurídicos, etc). Vale ressaltar ainda que os exames da admissão eram feitos em salões 
denominados vestíbulos, tratando de matemática, retórica, prosa, latim e grego. 
Dia-dia nas universidades: 5 horas de aula pela manhã e 2 horas pela tarde. Nos demais 
momentos, os alunos deveriam se dedicar às atividades honestas (como passeios, conversa 
com os amigos, etc). Os estudantes eram avaliados pelos professores de forma intensa 
através de avaliações diárias (geralmente orais), semanais (sabatinas – geralmente 
acontecem no sábado – acerca de pontos discutidos na aula), mensais (dissertativos) e 
anuais (dissertativos), além da avaliação de conclusão do curso. Caso o aluno não venha 
atingir as metas estabelecidas, esse deveria pagar multas aos professores devido ao trabalho 
de ensinar novamente determinado conteúdo. Além disso, era comum o fato dos 
professores convidarem os alunos a debaterem, por meio de diferentes pontos de vista, 
alguns textos através de apresentações retóricas em tablados (que também exprimiam 
relações de poder). 
A primeira grande reforma coordenada por Pombal consistiu na mudança nas cadeiras 
curriculares – retirando-se, nesse sentido, o foco do ensino do Direito Romano para o 
Direito Nacional (Direito Fiscal, Direito Criminal, Direito Administrativo, e assim por diante). 
Assim, há uma ênfase no ensino do Direito Natural e Marquês de Pombal cria uma 
disciplina denominada História do Direito – entendendo que o estudo da história era 
fundamental visando a proporcionar um conhecimento contextualizado do Direito para os 
estudantes. Ademais, Marquês de Pombal ratificou a centralização do ensino no professor 
(mudança no estilo pedagógico) e os professores passam a preparar obras a fim de 
sintetizar os conteúdos para que os alunos passem a carregar esses manuais nas aulas, 
facilitando, dessa maneira, o acompanhamento por parte dos estudantes. 
O repúdio ao passado era tão intenso que Pombal proibiu as postilas, ou seja, anotações que 
os estudantes realizavam com base no Corpus Juris Civilis. 
AULA 07 – PERÍODO JOANINO 
Napoleão Bonaparte havia decretado o Bloqueio Continental – determinando, assim, que 
nenhum país europeu poderia manter relações comerciais com a Inglaterra. Entretanto, 
Portugal via-se em uma situação delicada pelo fato de apresentar dívidas com os britânicos 
e, do outro lado, tendo que conviver com a ameaça de invasão pelas tropas napoleônicas; 
Em 1807, há o acidente histórico da fuga dafamília real portuguesa para a colônia situada na 
América do Sul após as pressões realizadas pelas tropas de Napoleão Bonaparte. Esse fato 
contribuiu, significativamente, para moldar os rumos da nossa nação, como, por exemplo, 
no âmbito jurídico – existindo autores que sustentam a existência de um “direito colonial 
brasileiro”; 
Existiam, pelo menos no âmbito jurídico, muitas semelhanças entre a metrópole (Portugal) e 
a colônia (Brasil). Diferentemente do perceptível nas Índias, tendo em vista a vigência das 
“Leyes de las Indias” – que apresentavam nítidas divergências em relação ao direito 
metropolitano; 
Aos poucos, os brasileiros começam a questionar o poder metropolitano e as restrições às 
liberdades dos colonos – ensaiando, por conseguinte, algumas revoltas que visavam a 
questionar algumas medidas adotadas por Portugal ou a separação da metrópole 
(Inconfidência Mineira, Conjuração Baiana, Revolução Pernambucana...). Esses movimentos 
foram duramente reprimidos por Portugal e muitos não passaram de apenas conspirações; 
Antes da chegada da família real, eram bastante evidentes as restrições às liberdades dos 
colonos (de cunho territorial) que se subdividiam em três categorias: 
 
 Industriais: A colônia limitava-se ao modelo econômico extrativista (agrícola – 
commodities; mineral – ouro, prata e pedras preciosas; e animal – pecuária). Estava 
proibida, portanto, a instalação de indústrias manufatureiras em solo colonial; 
 
 Comercial: Todas as riquezas produzidas unilateralmente no solo colonial eram 
conduzidas à metrópole. Nesse sentido, os colonos estavam proibidos de 
comercializarem com outros povos devido ao Pacto Colonial. Com base no 
desenvolvimento de estudos históricos, coloca-se em dúvida o funcionamento das 
restrições desse cunho, tendo em vista que a parcela da populacional mais rica era 
composta, majoritariamente, por comerciantes – o que pode gerar a tese, também, 
de que se essas limitações de fato eram aplicadas, eram violadas excepcionalmente; 
 
 Intelectual: Houve a proibição da impressão e, também, uma censura à circulação de 
diversas obras com o intuito de evitar a disseminação de ideias que colocasse em 
risco a ordem colonial e o poder metropolitano. Além disso, ocorreu a proibição da 
instalação de instituições do Ensino Superior. Nessa perspectiva, os interessados em 
cursar o Ensino Superior deveriam se deslocar para a metrópole, o que permitia um 
maior controle acerca de quais indivíduos se desenvolveriam intelectualmente. 
O declínio das limitações anteriormente mencionadas ocorre devido à necessidade de 
receber a Coroa e modernizar a colônia. Com a chegada da família real, o Brasil deixa a 
condição de colônia para Reino Unido a Portugal e Algarves. Dessa forma, uma série de 
transformações ocorreram: 
 No âmbito industrial, inicia-se o desenvolvimento de uma economia baseada na 
manufatura; 
 
 No âmbito comercial, há a abertura dos portos às nações amigas (manter relações 
comerciais com outros povos); 
 
 No âmbito intelectual, há a promoção da circulação de ideias iluministas e formar 
grandes profissionais para atender às demandas do Reino. Pode-se citar como fatos 
importantes a fundação da Universidade de Medicina (BA) - a instituição de ensino 
superior mais antiga do Brasil e a fundação da Real Escola de Guerra (RJ); 
 
 No âmbito infraestrutural, destaca-se a modernização de cidades como o Rio de 
Janeiro – que até então não apresentava tanta importância no reino quanto a cidade 
de Salvador. Há, partindo desse pressuposto, o calçamento das ruas, a criação do 
Jardim Botânico, a inauguração de praças, a instalação de infraestruturas de esgoto, 
entre tantos outros. Nesse sentido, é perceptível uma melhoria da qualidade de vida 
no reino. 
Sofrendo as pressões em Portugal, o rei D. João VI retorna para Portugal, entretanto, D. 
Pedro I resolve permanecer em solo brasileiro – marcando o conhecido Dia do Fico (9 de 
janeiro de 1822). Em 7 de setembro de 1822, é proclamada a Independência do Brasil – que 
aconteceu sem derramamento de sangue, mas manteve privilégios significativos nas mãos 
dos portugueses. O Brasil, por conseguinte, deixa a condição de reino e passa a ser império, 
marcando o início do 1º Reinado. 
AULA 08 – A CONSTITUIÇÃO IMPERIAL DE 1824 
 
Antecedentes: 
Em Portugal estava ocorrendo uma revolução (Revolução Liberal do Porto – 1820) que 
ameaçava não mais reconhecer a corte portuguesa caso D. João VI não retornasse a 
Portugal. Sofrendo as pressões em Portugal, o rei D. João VI retorna para Portugal, o que 
proporciona um medo acerca de uma possível recolonização do Brasil. Entretanto, D. Pedro I 
resolve permanecer em solo brasileiro – marcando o conhecido Dia do Fico (9 de janeiro de 
1822). 
Em 7 de setembro de 1822, é proclamada a Independência do Brasil – que aconteceu sem 
derramamento de sangue, mas ocorreu a manutenção privilégios significativos nas mãos dos 
portugueses. Na verdade, o processo de independência representou um arranjo político 
visando à manutenção de poderes nas mãos dos Portugueses tanto em Portugal quanto no 
Brasil. O Brasil, por conseguinte, deixa a condição de reino e passa a ser império, marcando 
o início do 1º Reinado – tendo D. Pedro I como o seu imperador. 
Em 1823, é iniciada a elaboração de uma constituição a partir de uma Assembleia 
Constituinte, todavia, essa constituição nunca entrou em vigência. Isso ocorreu devido ao 
fato de D. Pedro I considerar que algumas normas violavam os princípios portugueses e que, 
nesse sentido, o escrito representava uma ameaça ao poder lusitano. Extremamente 
insatisfeito, D. Pedro I dissolve a Assembleia Constituinte e outorga a Constituição de 1824. 
 
Elementos da Constituição de 1824: 
A Constituição de 1824 previa que o povo do império apoiou a elaboração dessa constituição 
e que havia sido aprovada pela Assembleia Constituinte – dois fatos que não ocorreram – o 
que evidencia uma tentativa de falsear as informações a fim de manipular o povo. 
Na Constituição de 1824 é notável a afirmação de que, conquistada a independência, o Brasil 
não poderia se aliar a nenhuma outra nação ou federação que se opusesse a esse marco 
(Art. 1). 
Art. 1. O IMPERIO do Brazil é a associação Politica de todos os Cidadãos Brazileiros. Elles 
formam uma Nação livre, e independente, que não admitte com qualquer outra laço algum 
de união, ou federação, que se opponha á sua Independencia. 
 
No Art. 3, era previsto que o governo monárquico era hereditário, constitucional e 
representativo. Nesse sentido, não havia uma monarquia absolutista devido à presença de 
limitações à autoridade de D. Pedro I. Vale ressaltar que esse cunho representativo viria, 
futuramente, a dar origem ao Senado Federal e à Câmara dos Deputados Federais. 
Art. 3. O seu Governo é Monarchico Hereditario, Constitucional, e Representativo. 
 
No Art. 5, era perceptível o cesaropapismo, ou seja, o vínculo entre Estado e Igreja, sendo D. 
Pedro I Chefe de Estado e Chefe de Igreja. Nessa perspectiva, a religião católica apostólica 
romana, conforme demonstrado no artigo referido, correspondia à religião oficial do 
império. Apesar disso, era permitida a prática de outras crenças no espaço doméstico ou nas 
casas para isso destinadas (proibindo-se o culto nos ambientes externos aos mencionados) – 
nota-se, dessa forma, uma liberdade religiosa restrita (ilustrada, além dessa limitação 
espacial no que tange a manifestação da fé, por exemplo, no privilégio de que somente 
poderiam ser eleitos deputados católicos). 
Art. 5. A Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião do Imperio. Todas 
as outras Religiões serão permitidas com seu culto domestico, ou particular em casas para 
isso destinadas, sem fórma alguma exterior do Templo. 
 
No Art. 6, era determinado quem eram os cidadãos brasileiros, isto é, a fundação da 
nacionalidade brasileira.O Brasil, em 1824, adotou tanto o critério de Ius solis (baseado na 
territorialidade) quanto o critério de Ius sanguinis (baseado no direito sanguíneo, ou seja, 
em uma ideia de “nação”). 
 Art. 6 – São Cidadãos Brazileiros 
 I. Os que no Brazil tiverem nascido, quer sejam ingenuos, ou libertos, ainda que o pai 
seja estrangeiro, uma vez que este não resida por serviço de sua Nação. 
 II. Os filhos de pai Brazileiro, e Os illegitimos de mãi Brazileira, nascidos em paiz 
estrangeiro, que vierem estabelecer domicilio no Imperio. 
 III. Os filhos de pai Brazileiro, que estivesse em paiz estrangeiro em sorviço do Imperio, 
embora elles não venham estabelecer domicilio no Brazil. 
 IV. Todos os nascidos em Portugal, e suas Possessões, que sendo já residentes no Brazil 
na época, em que se proclamou a Independencia nas Provincias, onde habitavam, adheriram 
á esta expressa, ou tacitamente pela continuação da sua residencia. 
 V. Os estrangeiros naturalisados, qualquer que seja a sua Religião. A Lei determinará as 
qualidades precisas, para se obter Carta de naturalização 
 OBS 1: Os escravos, analisando-se o artigo acima, não eram considerados cidadãos e, 
consequentemente, não detinham direitos políticos; 
 
 OBS 2: Qualquer indivíduo, nascido em um dos territórios portugueses (como Angola, 
Cabo Verde...), que estava no Brasil na época da independência, poderia optar pela 
adesão da nacionalidade brasileira (conforme o inciso IV); 
 
No Art. 10, foram mencionados os poderes políticos do Império: legislativo, executivo, 
judiciário e moderador – o que explicitou, pela primeira vez na história brasileira, uma noção 
de separação dos poderes. 
Art. 10. Os Poderes Politicos reconhecidos pela Constituição do Imperio do Brazil são quatro: 
o Poder Legislativo, o Poder Moderador, o Poder Executivo, e o Poder Judicial. 
 
No Art. 11, foram nomeados o imperador e a Assembleia Geral como representantes da 
nação. 
Art. 11. Os Representantes da Nação Brazileira são o Imperador, e a Assembléa Geral. 
 
No Art. 12, foram delegados à nação todos os poderes do império. 
Art. 12. Todos estes Poderes no Imperio do Brazil são delegações da Nação. 
 
Sistema político do 1º Reinado: 
Em relação ao sistema político do 1º Reinado, pode-se afirmar a existência de um sistema 
político bicameral, tendo em vista que a Assembleia Geral se subdividia em Câmara dos 
deputados e o Senado Federal. 
As eleições eram indiretas. A eleição primeira era destinada a eleição dos eleitores de 
província os quais, nas Assembleias Provinciais, eram responsáveis pela eleição de 
deputados e senadores (ou seja, a segunda eleição envolvia um número muito menor de 
cidadãos). 
Na Câmara dos Deputados, o mandato era temporário (4 anos), enquanto no Senado o cargo 
era vitalício. A Câmara dos Deputados era marcada pela velocidade política e o Senado, pela 
parcimônia (cautela – ausência de pressa). As duas casas constituíam, nesse cenário, duas 
forças que se opunham e que se complementavam. 
 
Constituição Imperial de 1824 - Art. 45 e Arts. 90-95 – foco nos critérios de inclusão e 
exclusão da participação política (leitura para a próxima aula) 
 
 
 
 
AULA 09 – SISTEMA ELEITORAL A LUZ DA CONSTITUIÇÃO IMPERIAL DE 1824 
O sistema de voto era um sistema indireto, ou seja, a maior parte da população não escolhia 
diretamente os representantes políticos brasileiros. Essa massa de votantes elegia, nas 
assembleias paroquiais (eleições primárias), os eleitores de província (representantes 
eleitores). Em seguida, esses representantes eleitores, em um colegiado menor, elegiam os 
representantes da nação, ou seja, os deputados e senadores. 
Na Câmara dos Deputados, o mandato era temporário (4 anos), enquanto no Senado o cargo 
era vitalício. A Câmara dos Deputados era marcada pela velocidade política e o Senado, pela 
parcimônia (cautela – ausência de pressa). As duas casas constituíam, nesse cenário, duas 
forças que se opunham e que se complementavam. 
OBS: A nomenclatura das eleições primárias era assembleias paroquiais, tendo em vista que 
as paróquias eram as instituições responsáveis pela emissão das certidões de nascimento e 
de óbito – documentos essenciais para o controle da eleição através da verificação da 
existência dos eleitores. 
 
Art. 90. As nomeações dos Deputados, e Senadores para a Assembléa Geral, e dos Membros 
dos Conselhos Geraes das Provincias, serão feitas por Eleições indirectas, elegendo a massa 
dos Cidadãos activos em Assembléas Parochiaes os Eleitores de Provincia, e estes os 
Representantes da Nação, e Provincia. 
 
Art. 91. Têm voto nestas Eleições primarias 
 I. Os Cidadãos Brazileiros, que estão no gozo de seus direitos politicos. 
 II. Os Estrangeiros naturalisados. 
 
A proibição do voto de alguns indivíduos nas assembleias paroquiais era pautada em um 
critério etário (menores de 25 anos), no estado civil (os menores de 25 anos e casados 
estavam aptos a votarem), na profissão (os oficiais militares maiores de 25 anos, os 
bacharéis formados e clérigos de ordens sacras), no status familiar (filhos famílias na 
companhia dos pais que não eram funcionários públicos), no critério social (comunidades 
que viviam em claustro) e no critério censitário (aqueles que não tiverem renda líquida 
anual de cem mil réis). 
Art. 92. São excluidos de votar nas Assembléas Parochiaes. 
 I. Os menores de vinte e cinco annos, nos quaes se não comprehendem os casados, e 
Officiaes Militares, que forem maiores de vinte e um annos, os Bachares Formados, e 
Clerigos de Ordens Sacras. 
 
 II. Os filhos familias, que estiverem na companhia de seus pais, salvo se servirem Officios 
publicos. 
 
Aqui também é perceptível uma máxima distante da contemporaneidade: “uma família, um 
voto” quando se proíbe o voto dos filhos famílias – exceto se forem servidores públicos. 
 III. Os criados de servir, em cuja classe não entram os Guardalivros, e primeiros caixeiros 
das casas de commercio, os Criados da Casa Imperial, que não forem de galão branco, e os 
administradores das fazendas ruraes, e fabricas. 
 IV. Os Religiosos, e quaesquer, que vivam em Communidade claustral. 
 V. Os que não tiverem de renda liquida annual cem mil réis por bens de raiz, industria, 
commercio, ou Empregos. 
 
Ao analisar-se os critérios para a aptidão à eleição nas assembleias paroquiais e, 
consequentemente, ao voto na eleição dos deputados, senadores e membros de províncias, 
infere-se a existência de novos critérios para limitar esses eleitos pautados novamente no 
critério censitário (aqueles que não tiverem renda líquida anual de duzentos mil réis), no 
status social (os libertos) e na reputação (os criminosos em querela ou devasssa). 
 
Art. 94. Podem ser Eleitores, e votar na eleição dos Deputados, Senadores, e Membros dos 
Conselhos de Provincia todos, os que podem votar na Assembléa Parochial. Exceptuam-se 
 I. Os que não tiverem de renda liquida annual duzentos mil réis por bens de raiz, 
industria, commercio, ou emprego. 
 II. Os Libertos. 
 III. Os criminosos pronunciados em queréla, ou devassa. 
 
Em relação àqueles que podem ser eleitores aptos a serem nomeados deputados, infere-se a 
existência de outras limitações pautadas em um critério censitário (os que não tiverem 
quatrocentos mil réis de lenda líquida), um critério de nacionalidade (os estrangeiros 
naturalizados) e um critério religioso (aqueles que não professarem a religião do Estado). 
 
Art. 95. Todos os que podem ser Eleitores, abeis para serem nomeados Deputados. 
Exceptuam-se 
 I. Os que não tiverem quatrocentos mil réis de renda liquida, na fórma dos Arts. 92 e 94. 
 II. Os Estrangeiros naturalisados. 
 III. Os que não professarem a Religião do Estado. 
 
No que tange a ocupação do cargo de senador, infere-sea existência de um critério etário 
(mínimo de quarentena anos), um critério pautado na carreira política (preferência a 
aqueles que prestaram serviços à pátria) e um critério censitário (rendimento anual de 
oitocentos mil réis) 
Art. 45. Para ser Senador requer-se 
 I. Que seja Cidadão Brazileiro, e que esteja no gozo dos seus Direitos Politicos. 
 II. Que tenha de idade quarenta annos para cima. 
 III. Que seja pessoa de saber, capacidade, e virtudes, com preferencia os que tivirem 
feito serviços á Patria. 
 IV. Que tenha de rendimento annual por bens, industria, commercio, ou Empregos, a 
somma de oitocentos mil réis. 
OBS: Apesar de não ser mencionado explicitamente, o critério de gênero abrangia todos os 
setores, tendo em vista que somente homens participavam das eleições paroquiais, da 
eleição dos representantes da nação e, consequentemente, da ocupação de cargos políticos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO: 
 
 
O PODER MODERADOR: 
O poder moderador, muitas vezes mal compreendido, correspondeu a um quarto poder 
durante o 1º Reinado – inerente ao imperador e responsável por manter o equilíbrio entre 
os outros três poderes. O poder moderador não se tratou de um poder absoluto devido à 
existência de limitações impostas ao próprio imperador. 
 
Art. 98. O Poder Moderador é a chave de toda a organisação Politica, e é delegado 
privativamente ao Imperador, como Chefe Supremo da Nação, e seu Primeiro 
Representante, para que incessantemente vele sobre a manutenção da Independencia, 
equilibrio, e harmonia dos mais Poderes Politicos. 
 
A interferência do poder moderador nos outros poderes (legislativo, executivo e judiciário) 
torna-se mais evidente no Art. 101 da Constituição Imperial de 1824. Nessa perspectiva, 
evidencia-se que o poder legislativo, o poder mais forte, era o mais interferido pelo poder 
moderador. 
Art. 101. O Imperador exerce o Poder Moderador 
 I. Nomeando os Senadores, na fórma do Art. 43.  interferência no poder legislativo 
 II. Convocando a Assembléa Geral extraordinariamente nos intervallos das Sessões, 
quando assim o pede o bem do Imperio.  interferência no poder legislativo 
 III. Sanccionando os Decretos, e Resoluções da Assembléa Geral, para que tenham força 
de Lei: Art. 62.  interferência no poder legislativo 
 IV. Approvando, e suspendendo interinamente as Resoluções dos Conselhos 
Provinciaes: Arts. 86, e 87. (Vide Lei de 12.10.1832)  interferência no poder legislativo 
 V. Prorogando, ou adiando a Assembléa Geral, e dissolvendo a Camara dos Deputados, 
nos casos, em que o exigir a salvação do Estado; convocando immediatamente outra, que a 
substitua.  interferência no poder legislativo 
 VI. Nomeando, e demitindo livremente os Ministros de Estado.  interferência no 
poder executivo (ministro da educação, ministro da saúde, ministro da economia...) 
 VII. Suspendendo os Magistrados nos casos do Art. 154.  interferência no poder 
judiciário 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LIM/LIM-12-10-1832.htm#artunico....
 VIII. Perdoando, e moderando as penas impostas e os Réos condemnados por Sentença. 
 interferência no poder judiciário 
 IX. Concedendo Amnistia em caso urgente, e que assim aconselhem a humanidade, e 
bem do Estado.  interferência no poder judiciário 
 
 5 interferências no poder legislativo; 
 1 interferência no poder executivo; 
 3 interferências no poder judiciário; 
OBS: Algumas ações como o ato de legislar não eram de competência do poder moderador, o 
que corrobora, portanto, a tese de que o poder moderador não era absoluto; 
OBS: A deturpação histórica é bastante perceptível visando à criação de heróis nacionais 
como no caso da Princesa Isabel – dita como responsável pela abolição da escravidão. 
Entretanto, a autoridade anteriormente mencionada somente foi responsável por sancionar 
uma lei elaborada pela Assembleia Geral composta por políticos brasileiros – a Lei Áurea. 
 
 
AULA 10 – O PODER EXECUTIVO E O PODER JUDICIÁRIO A LUZ DA 
CONSTITUIÇÃO IMPERIAL DE 1824 
 Art. 102. O Imperador é o Chefe do Poder Executivo, e o exercita pelos seus Ministros de 
Estado. 
 São suas principaes attribuições 
 I. Convocar a nova Assembléa Geral ordinaria no dia tres de Junho do terceiro anno da 
Legislatura existente. 
(...) 
Até então o poder executivo era exercido pelo Imperador. 
A partir do século XIX, o Brasil vivenciou uma espécie de Parlamentarismo 
(“Parlamentarismo às avessas”) no qual um gabinete exercia o poder executivo. No modelo 
parlamentarista os parlamentares nomeavam e demitiam os ministros de Estado (o que era 
feito, no período anterior, por D. Pedro I). 
 
Não existia, nessa época, a realização de concursos públicos, sendo a promoção dos 
empregos civis e políticos responsabilidade do imperador (inciso IV). 
 IV. Prover os mais Empregos Civis, e Politicos. 
 
Ademais, tendo em vista a aproximação entre a estrutura burocrática da Igreja e o aparelho 
estatal, D. Pedro I nomeava bispos e promovia benefícios eclesiásticos (inciso II) 
 II. Nomear Bispos, e prover os Beneficios Ecclesiasticos. 
 
De acordo com o Art. 15, inciso VIII, era atribuição da Assembleia Geral fazer as leis, 
interpretá-las, suspendê-las e revogai-las. Partindo desse pressuposto, infere-se que o 
poder legislativo correspondia, ao mesmo tempo, produtor e intérprete oficial da lei. 
 Art. 15. E' da attribuição da Assembléa Geral 
(...) 
 VIII. Fazer Leis, interpretal-as, suspendel-as, e rovogal-as. 
 
Entretanto, no decorrer do tempo, essa concepção de interpretação autêntica do legislativo 
perdeu força, sendo essa função deslocada para o poder executivo. O Art. 102, inciso XII foi 
utilizado, por meio de uma “gambiarra”, como um mecanismo para atribuir o papel 
mencionado anteriormente ao poder executivo. 
Art. 102. O Imperador é o Chefe do Poder Executivo, e o exercita pelos seus Ministros de 
Estado. 
 São suas principaes attribuições 
 XII. Expedir os Decretos, Instrucções, e Regulamentos adequados á boa execução das 
Leis. 
 
Esquema para o aviso de uma interpretação obrigatória: 
 
S.M.I = Sua majestade imperial – poderia aprovar ou reprovar a proposta. Caso reprovada, 
essa retornava ao Conselho de Estado; caso aprovada, xeria conduzida para o aviso exercido 
pelo Ministério da Justiça. 
Para comunicar a sociedade, eram reunidas na Coleção de Leis do Império, pelo Ministério da 
Justiça, as interpretações jurídicas vinculantes do poder executivo diante da omissão do 
poder legislativo de interpretar de forma autêntica. 
 
Art. 151. O Poder Judicial independente, e será composto de Juizes, e Jurados, os quaes 
terão logar assim no Civel, como no Crime nos casos, e pelo modo, que os Codigos 
determinarem. 
No geral, o poder judiciário era independente. Somente nos casos criminais, o imperador 
podia ceder o perdão ou anistia, entretanto, isso acontecia em casos excepcionais. 
O poder judiciário estava impedido em apreciar determinadas questões envolvendo os 
interesses do Estado. Partindo desse pressuposto, infere-se que os conflitos privados eram 
matérias do poder judiciário. Nesse sentido, os conflitos públicos eram resolvidos no 
Conselho de Estado (já mencionado acima), ou seja, por uma justiça comutativa. 
 
Art. 152. Os Jurados pronunciam sobre o facto, e os Juizes applicam a Lei. 
O Art. 152 explicita que os juízes aplicavam a lei e realizavam a dosimetria da pena, 
enquanto os jurados decidiam sobre a culpabilidade do réu e calculavam os agravantes e 
atenuantes da pena. 
A ideia predominante no júri português era “eu serei julgado pelos meus pares” (nobres 
julgavam nobres, membros da coroa julgavam membros da coroa). Entretanto, essa 
mentalidade não se concretizou no Brasil, tendo em vista que a parcela majoritária do júriantagonizava os interesses da maior parte da sociedade. 
 
Art. 158. Para julgar as Causas em segunda, e ultima instancia haverá nas Provincias do 
Imperio as Relações, que forem necessarias para commodidade dos Povos. 
Se no período colonial somente existiam o Tribunal de Relação da Bahia, do Rio de Janeiro e 
do Maranhão, no contexto do império surgiram diversas outras relações (São Paulo, 
Pernambuco, entre outros). Apesar disso, nem todas as províncias apresentavam as suas 
próprias relações (como no caso da província do Paraná que era competência da relação de 
São Paulo). 
 
Art. 163. Na Capital do Imperio, além da Relação, que deve existir, assim como nas demais 
Provincias, haverá tambem um Tribunal com a denominação de - Supremo Tribunal de 
Justiça - composto de Juizes Letrados, tirados das Relações por suas antiguidades; e serão 
condecorados com o Titulo do Conselho. Na primeira organisação poderão ser empregados 
neste Tribunal os Ministros daquelles, que se houverem de abolir. 
O Supremo Tribunal de Justiça (remete à época do Império) é distinto do Superior Tribunal 
de Justiça (STJ – criado durante o período da Nova República) e também do Supremo 
Tribunal Federal (STF – também criado durante o período da Nova República). 
 
O Supremo Tribunal de Justiça não era um tribunal de revisão ou tribunal de última instância 
– diferentemente do STF – responsável pela última palavra (tribunal de revisão). O Supremo 
Tribunal de Justiça consistia em um tribunal de cassação, ou seja, capaz de cassar a decisão 
recorrida e transferir a responsabilidade sobre o caso para outro Tribunal de Relação. Em 
síntese, o Supremo Tribunal de Justiça cassava ou não as decisões recorridas, tendo em vista 
que a decisão final era responsabilidade de um Tribunal de Relação. 
Vale ressaltar que essa decisão final de um tribunal de relação teria que ser, 
obrigatoriamente, distinta da decisão cassada anteriormente pelo Supremo Tribunal de 
Justiça. 
 
O Art. 179 – o último da Constituição Imperial de 1824 - traz uma espécie de carta de 
direitos fundamentais. 
Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros, que tem por 
base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do 
Imperio, pela maneira seguinte. 
 
I. Nenhum Cidadão póde ser obrigado a fazer, ou deixar de fazer alguma cousa, senão em 
virtude da Lei. 
O inciso I remete ao princípio da legalidade 
 
V. Ninguem póde ser perseguido por motivo de Religião, uma vez que respeite a do Estado, e 
não offenda a Moral Publica. 
Infere-se nesse inciso a existência de uma liberdade religiosa restrita. Essa interpretação era 
extremamente preconceituosa e subjetiva, tendo em vista que algumas religiões eram vistas 
como ameaças (religiões de matrizes africanas), enquanto outras facilmente toleradas (como 
a religião anglicana). 
VII. Todo o Cidadão tem em sua casa um asylo inviolavel. De noite não se poderá entrar 
nella, senão por seu consentimento, ou para o defender de incendio, ou inundação; e de dia 
só será franqueada a sua entrada nos casos, e pela maneira, que a Lei determinar. 
Nesse inciso é nítida a proibição de se entrar na casa de outrem a não ser por mandato 
judicial. 
 
 X. A' excepção de flagrante delicto, a prisão não póde ser executada, senão por ordem 
escripta da Autoridade legitima. Se esta fôr arbitraria, o Juiz, que a deu, e quem a tiver 
requerido serão punidos com as penas, que a Lei determinar. 
 XI. Ninguem será sentenciado, senão pela Autoridade competente, por virtude de Lei 
anterior, e na fórma por ella prescripta. 
 XII. Será mantida a independencia do Poder Judicial. Nenhuma Autoridade poderá avocar as 
Causas pendentes, sustal-as, ou fazer reviver os Processos findos. 
 XIII. A Lei será igual para todos, quer proteja, quer castigue, o recompensará em proporção 
dos merecimentos de cada um. 
 
XVIII. Organizar–se-ha quanto antes um Codigo Civil, e Criminal, fundado nas solidas bases 
da Justiça, e Equidade. 
O Código Criminal foi, de fato, produzido em 1830 e, dois anos depois (1832), foi criado o 
Código de Processo Criminal. Entretanto, o Código Civil referido no inciso anterior nunca foi 
concluído na época do império. 
 
XIX. Desde já ficam abolidos os açoites, a tortura, a marca de ferro quente, e todas as mais 
penas crueis. 
A pena de morte não era considerada cruel a luz da Constituição Imperial de 1824. 
 
XX. Nenhuma pena passará da pessoa do delinquente. Por tanto não haverá em caso algum 
confiscação de bens, nem a infamia do Réo se transmittirá aos parentes em qualquer gráo, 
que seja. 
Revogação expressa da concepção de Lesa Majestade, estudada no início do semestre. 
AULA 11 – BRASIL: SÉCULO XIX 
O século XIX, no Brasil, foi caracterizado por transformações político-sociais significativas, 
tendo em vista que o Brasil se tornou independente em relação a Portugal e passou a 
almejar, nesse contexto, a construção de uma história autônoma. Entretanto, a economia 
brasileira não se modificou de forma imediata, estando, ainda no século XIX, bastante 
vinculada à estrutura econômica do período anterior. Apesar disso, algumas modificações 
foram perceptíveis, tais como o início do desenvolvimento industrial no território nacional, a 
construção de ferrovias e o aumento da participação brasileira nas relações comerciais em 
escala internacional. 
A economia agrícola, no Brasil, era a principal atividade econômica até então e apresentava 
a mão-de-obra escrava como preponderante. No século XIX, a atividade econômica de maior 
destaque continuava situada no campo e, consequentemente, dependente da mão-de-obra 
escrava. Ademais, o fenômeno da escravidão, no século referido, já havia penetrado nas 
zonas urbanas e, em cidades como Salvador tornou-se comum a presença de escravos nos 
seios familiares. 
 
Os escravos das cidades, diferentemente do evidenciado no âmbito rural, se encontravam 
integrados nas áreas urbanas com bastante normalidade - transitavam livremente, 
praticavam comércios (como a venda de bolos), realizavam obras públicas, carregavam 
pesos, entre outras atividades. 
Escravidão de ganho: Os escravos de ganho, no contexto do Brasil colonial e do Império, 
eram escravos obrigados pelos seus senhores a realizar algum tipo de trabalho nas ruas, 
levando para casa ao fim do dia uma soma de dinheiro previamente estipulada. Nesse 
contexto, o senhor lançava o escravo no mercado para que ele prestasse serviços – devendo 
o subordinado pagar um valor diário denominado jornal e ficar com uma quantia para 
garantir a sua sobrevivência conhecida como pecúlio. Esse pecúlio poderia ser depositado na 
caixa econômica e, assim, o escravo tirava o seu sustento e, a longo prazo, poderia comprar 
a sua liberdade. 
 
Do ponto de vista jurídico, a escravidão no Brasil foi um fenômeno extremamente confuso. 
Isso porque a escravidão assumia a premissa de que o escravo era uma coisa e, nesse 
sentido, o senhor pode dominá-lo e livremente dispor do seu subordinado (o escravo 
poderia ser comprado, alugado, segurado, arrematado, leiloado, dado em garantia, avaliado, 
etc...). Todavia, esse mesmo sistema jurídico não poderia negar o fato incontestável de que 
os escravos eram pessoas, uma vez que nasciam, morriam, se casavam, tinham filhos, 
celebravam negócios jurídicos seja em nome dos seus senhores ou em seu próprio nome, 
poderiam comprar as suas liberdades, eram testemunhas de processo, eram parte de 
processo, poderiam ter caderneta de poupança, poderiam herdar e deixar herança para seus 
herdeiros, etc... 
Perdigão Malheiro: Escritor de um tratado histórico-jurídico sobre a escravidão em três 
volumes, correspondendo a uma das mais célebres obras vinculadas à temática da 
escravidão no século XIX. De acordo com Malheiro, esse discurso do escravo como coisa era 
um discurso voltado para tentar justificaro injustificável e que, portanto, era incompatível 
com a realidade propriamente dita. 
 
Aumento da repressão em relação ao tráfico de escravos: Não correspondeu a uma 
iniciativa própria do Brasil, tendo em vista que o país se encontrava sob pressão do Reino 
Unido. Uma parte significativa dos historiadores, adotando uma perspectiva marxista da 
história, considera que o Reino Unido apresentava interesses econômicos na proibição do 
tráfico negreiro e, assim, a pressão em relação ao tráfico de escravos não correspondeu a 
um processo motivado por valores morais (solidariedade espontânea), mas somente pelo 
fato dos britânicos enxergarem nesse fenômeno um meio de se obter vantagem. Apesar do 
mencionado, alguns historiadores refutam essa tese devido ao fato de que os escravos 
libertos não comercializaram automaticamente com o Reino Unido e, desse modo, não 
proporcionaram privilégios econômicos aos britânicos como o aumento do mercado 
consumidor. 
A Lei Inglesa, proclamada em 1826, consistiu em um pacto entre ingleses e brasileiros em 
prol da proibição do tráfico de escravos no Atlântico. Entretanto, essa lei não apresentou 
eficácia social, o que culminou no surgimento da conhecida expressão “para inglês ver” 
(utópica). A partir desse contexto, surgiu uma série de leis que, paulatinamente, foi 
contribuindo para a abolição formal da escravidão – como a Lei Eusébio de Queirós 
(proibição do tráfico negreiro), a Lei do Sexagenário (libertação dos escravos com idade de 
60 anos – embora poucos chegassem a tal idade), a Lei do Ventre Livre (filho de escravo 
estaria livre – mas não tinha pra onde ir ou com quem ficar) e a Lei Áurea (consolidou a 
abolição formal da escravidão no Brasil após trabalho realizado pela Assembleia Geral 
assinado pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888). 
OBS: A economia da escravidão era uma realidade da organização brasileira no século XIX e, 
além dos senhores, o governo e alguns escravos (como Zumbi dos Palmares) também 
possuíam escravos – o que sustentava a lógica escravista (embora soe contraditório, alguns 
escravos utilizavam o pecúlio para escravizar outros indivíduos visando a beneficiar-se). 
 
O Art. 179, XXII da Constituição de 1824 previa o fenômeno da desapropriação: 
Art. 179, XXII. E'garantido o Direito de Propriedade em toda a sua plenitude. Se o bem 
publico legalmente verificado exigir o uso, e emprego da Propriedade do Cidadão, será elle 
préviamente indemnisado do valor della. A Lei marcará os casos, em que terá logar esta 
unica excepção, e dará as regras para se determinar a indemnisação. 
 
Os senhores de escravos utilizavam o inciso referido para argumentar em seu benefício no 
caso da ocorrência da abolição da escravidão. Com base nessa perspectiva, a abolição da 
escravidão seria equivalente a uma desapropriação, sendo evidenciada a necessidade de 
indenização aos senhores. Esse argumento foi um dos fatores determinantes no atraso da 
consolidação da abolição no Brasil. 
AULA 12 – TRANSFORMAÇÕES NO BRASIL IMPERIAL 
Existia uma grande preocupação, nesse período, em modernizar o direito brasileiro, tendo 
em vista que o direito das Ordenações Filipinas já não supriam as necessidades da sociedade 
brasileira. Nesse sentido, a Assembleia Geral se dedicou à renovação do direito nacional – 
passando a produzir novas leis e códigos a partir da legislação sobre novos temas a fim de se 
afastar a incidência das Ordenações Filipinas e, de certa forma, atualizando o direito 
brasileiro. 
A pena, durante a vigência das Ordenações Filipinas, era modificada pelo rei a partir da 
“qualidade do indivíduo”, o que era extremamente incompatível com os preceitos 
iluministas da modernidade. Ademais, durante a vigência das referidas ordenações, a pena 
poderia ultrapassar o infrator - como no crime de Lesa Majestade no qual o indivíduo pagava 
com a pena de morte e os seus familiares deveriam pagar multas. 
 
Destarte, foi criado o Código Criminal de 1830 – seis anos após a Constituição Imperial de 
1824 – que modernizou o Direito Penal que estava previsto no Livro V das Ordenações 
Filipinas. Nessa perspectiva, o Código Criminal de 1830 proibiu a influência da “qualidade do 
indivíduo” na aplicação das sanções penais e assegurou o princípio da pessoalidade ou 
intranscedência penal, ou seja, a concepção de que a pena não poderia ultrapassar o infrator 
e, por conseguinte, não poderia atingir outros que nada haviam cometido de ilícito. 
Esse Código Criminal de 1830 passou a ser dividido em Parte Geral e Parte Especial. A Parte 
Geral abrangeu as normas que discutiam questões gerais que poderiam se relacionar com os 
crimes tipificados (como, por exemplo, a temática da pena para tentativa de cometer atos 
ilícitos e a temática da pena diferente para o reincidente), já a Parte Especial abrangeu os 
crimes propriamente ditos (homicídio, furto, roubo...). 
A linguagem do diploma referido também mudou significativamente em oposição aos textos 
muito grandes e ao uso de ferramenta de linguagem de teatralidade. No contexto dessa 
modernização, a linguagem do Código Criminal de 1830 se aproximou mais do Código 
Criminal atual (conforme evidente na disposição acerca do crime de homicídio). 
 
Em 1832, foi criado o Código de Processo Criminal que proibiu o senso de justiça divina 
(concepção de que o inocente não morreria em combate). Ocorreu a mudança da 
inquisitoriedade (durante as Ordenações Filipinas, a pessoa que acusava o réu era, 
simultaneamente, juiz do processo) para o acusatório - ou seja, a independência entre o 
instituto que acusa e o instituto que julga, o que passou a garantir uma maior justiça (pelo 
menos formalmente). Essa “dobradinha” formada pelos Códigos de 1830 e 1832 
proporcionou ao direito brasileiro se tornar referência para o direito internacional, inclusive 
para países europeus. Vale ressaltar que o Código de Processo Criminal de 1832 desbancou o 
Livro V das Ordenações Filipinas. 
 
Em 1850, foi criado o Código Comercial, extremamente importante para gerar segurança 
jurídica aos comerciantes. Ademais, o regulamento Nº 737 do mesmo ano surgiu visando à 
resolução de conflitos entre os comerciantes e contribuiu para que o Brasil pudesse expandir 
suas atividades econômicas para além do labor agrícola. Além disso, esse código disciplinou 
algumas questões relacionadas à navegação – até então o principal meio de transporte no 
território nacional (sobretudo a navegação de cabotagem – de contorno do litoral). 
Outra lei importante elaborada no ano de 1850 consistiu na Lei de Terras – responsável por 
determinar a obrigatoriedade do registro formal de todas as propriedades de terra no Brasil, 
sendo esse registro fundamental para a afirmação da legitimidade da ocupação sobre a 
terra. Caso contrário, as áreas territoriais eram reincorporadas ao patrimônio do Estado – as 
chamadas terras devolutas. 
 
Embora tenha ocorrido o desejo pela elaboração de um Código Civil, apenas foi criada a 
Consolidação das Leis Civis que juntamente com o Código Comercial de 1850 e com o 
regulamento Nº 737 praticamente “destruiu” o Livro IV das Ordenações Filipinas. 
A Consolidação das Leis de Processo tornou obsoleto o Livro III das Ordenações Filipinas 
(que tratava dos trâmites processuais), restando apenas alguns poucos trechos. O Livro II 
deixou de ter sentido devido à mudança das relações sociais no Brasil (perda de poder por 
parte da nobreza) e o Livro I também decaiu devido às modificações administrativas, 
burocráticas e sistemáticas durante o império. 
 
No âmbito da política, ocorreu a transição de um Estado Unitário – caracterizada pela divisão 
de províncias desprovidas de autonomia e pela forte concentração de poder de decisão no 
Rio de Janeiro - para um Estado Federado, ou seja, uma organização estatal que concedeu 
maior autonomia às províncias (embora esta não seja completa). A transformação 
mencionada aqueceu oensaio para o movimento republicano. 
AULA 13 – TRANSIÇÃO DO IMPÉRIO PARA A REPÚBLICA 
O movimento republicano não surgiu instantaneamente em 1889 – consistindo em uma 
campanha cívica (engajamento exercido por cidadãos brasileiros) e que provocou a sedução 
de muitos líderes políticos. Agora, ao invés da França, os Estados Unidos se tornam a grande 
referência para concretização de uma República no Brasil – o que proporcionou o 
convencimento de uma quantidade significativa de adeptos conforme já citado. 
Sob a perspectiva dos monarquistas, esse processo representou um “golpe”, todavia, sob 
uma perspectiva positiva em relação ao evento, é mais utilizada a nomenclatura 
“revolução”. Em síntese, “golpe” e “revolução” apresentam o mesmo significado, tendo em 
vista se tratar de uma ruptura com a ordem político-constitucional vigente, entretanto, 
“golpe” designa um viés negativo em relação ao evento enquanto “revolução” designa um 
viés positivo em relação ao fenômeno. 
 
Pontos importantes para a compreensão dessa transição de poder político: 
 
1. Supremacia da Constituição: A Constituição de 1824 não apresentava, na teoria 
jurídico-política do Estado Imperial, um cunho de superioridade hierárquica e, 
portanto, apresentava a mesma importância de leis ordinárias. Esse caráter somente 
foi adquirido a partir da Constituição de 1891 – tendo em vista essa visão da 
constituição como uma lei fundamental corresponder a uma inovação 
estadunidense; 
 
2. Controle de constitucionalidade: Partindo do pressuposto de que a constituição 
corresponde a uma norma hierarquicamente superior a todas as outras, infere-se a 
existência de um controle de constitucionalidade, ou seja, a fiscalização da 
compatibilidade de normas infraconstitucionais com a constituição; 
 
Atualmente, vale ressaltar, existem dois modelos de controle de constitucionalidade 
– o americano difuso-incidental baseado no judicial review of legislation e o europeu 
concentrado-abstrato (elaborado por Hans Kelsen durante o projeto da Constituição 
da Áustria). O Brasil adota o modelo misto atualmente, todavia, a adoção do modelo 
concentrado-abstrato ocorreu depois da concretização do período republicano. 
Destarte, o primeiro modelo no Brasil é exercido por juízes e promotores 
(envolvendo qualquer processo) e o europeu concentrado-abstrato pelo STF e TJ’S. 
 
3. Interpretação das leis pelo poder judiciário: Durante o império, o poder judiciário, na 
teoria, não poderia interpretar as leis, já no período republicano foi abolida a 
proibição formal do poder judiciário interpretar as leis; 
 
4. Segregação Igreja-Estado: Até então, o Catolicismo era a religião oficial do império, 
entretanto, no período republicano, consolidou-se, pelo menos formalmente, a 
laicidade estatal, isto é, a separação entre Igreja e Estado. No que tange a 
participação política, ocorreu o veto de voto para os analfabetos e a manutenção do 
critério de gênero – o que excluía, portanto, a participação política feminina também 
nos anos posteriores a 1891; 
 
5. Modelo Federativo: A adoção do modelo federativo representou uma das 
transformações mais explícitas durante a transição para o período republicano. De 
acordo com Ruy Barbosa, o direito americano era o farol que iluminava o direito 
brasileiro – demonstrando, cada vez mais, a influência exercida pelos Estados Unidos 
na instalação do Brasil republicano. 
 
Todavia, o federalismo brasileiro é centrífugo (há uma autonomia dos entes 
federativos, mas estes se encontram submetidos ao poder maior da União, sendo 
responsáveis por tratarem, de forma mais aprofundada, de apenas questões locais), 
diferentemente do centrípeto estadunidense (maior autonomia e protagonismo dos 
estados na regulação da ordem social – evidente na elaboração de, por exemplo, 
normas civis, penais e processuais). 
 
Conforme já trabalho em Ciência Política, a divergência entre os estados federais 
mencionados apresenta raízes históricas: os Estados Unidos tratam-se das antigas 
Treze Colônias que, durante parte significativa da trajetória vivenciaram a 
Negligência Salutar, e, nesse sentido, os estados atuais abriram mão da soberania, 
mas não da autonomia de cada um; já o Brasil, desde o período anterior a sua 
independência vivenciou um Estado Unitário tendo em vista a não autonomia das 
antigas províncias (submissão ao poder metropolitano e, posteriormente, ao poder 
imperial). O Brasil, portanto, federalizou-se “de dentro para fora”, ou seja, através da 
concessão de privilégios do poder central para os demais entes federados. 
 
 
6. Justiça Federal: A justiça, no cenário republicano, passa a se ramificar, existindo, 
nesse cenário, os tribunais federais (responsáveis pelo tratamento de questões que 
envolvam o Governo Federal ou litígios entre entes federados) e os tribunais 
estaduais (responsáveis pelo tratamento de questões locais). 
 
7. Inafastabilidade da jurisdição: Durante o império, o poder judiciário não podia se 
intrometer em qualquer situação (como os conflitos entre cidadãos e o Estado que 
eram apreciados pelo Conselho de Estado – responsável pela resolução dos 
“negócios e assuntos da administração”). Já na república, há o princípio da 
inafastabilidade da jurisdição é baseado na concepção de que o poder judiciário deve 
e pode apreciar qualquer questão que lhe seja submetida (não existe nada que possa 
impedir que o poder judiciário analisar determinada questão sob qualquer aspecto); 
 
8. STF e o recurso extraordinário: O STF é, de fato, um tribunal constitucional de cúpula 
(vértice) e de última instância na resolução de conflitos – ocorrendo uma mudança 
significativa do até então modelo existente no império. 
 
9. Presidencialismo: Transformação deliberada seguindo o modelo estadunidense e 
seguindo a tendência centralizadora brasileira – sendo Deodoro da Fonseca o 
primeiro presidente da história do Brasil; 
 
10. Sistema de freios e contrapesos: Com a República, ocorreu o desaparecimento do 
poder moderador, entretanto, ainda existia a necessidade de se manter o equilíbrio 
entre os dois poderes. Daí surgiu o sistema de freios e contrapesos baseado nos 
Estados Unidos e caracterizado pela interferência ocasional dos poderes interferirem 
uns nos outros, ou seja, há a previsão do exercício de funções atípicas eventualmente 
pelos poderes (o executivo julgar, o judiciário legislar e o legislativo fiscalizar – por 
exemplo); 
 
 
AULA 14 – OS PRIMEIROS ANOS DO PERÍODO REPUBLICANO 
 
1. Código Criminal de 1890: 
Uma das grandes transformações logo evidenciadas no período de transição do império para 
a República consistiu na substituição do Código Criminal até então vigente pelo Código 
Criminal de 1890, antes, inclusive, da elaboração de um Código Civil. 
O Código Criminal de 1890 foi feito às pressas e foi altamente criticado pela comunidade 
jurídica devido aos seus aspectos negativos – seja no âmbito material, seja no âmbito 
dogmático. 
Apesar de consolidar a abolição formal da escravidão, é perceptível uma contradição no 
referido dispositivo legal em virtude da existência de um teor discriminatório contra os 
grupos minoritários – a exemplo do contido no Art. 157: 
Art. 157. Praticar o espiritismo, a magia e seus sortilegios, usar de talismans e cartomancias 
para despertar sentimentos de odio ou amor, inculcar cura de molestias curaveis ou 
incuraveis, emfim, para fascinar e subjugar a credulidade publica: 
 Penas - de prisão cellular por um a seis mezes e multa de 100$ a 500$000 
 
Um aspecto positivo desse Código Criminal trata-se da previsão da prisão como sanção 
penal. 
O ato de mendigar, ou seja, de não estar exercendo uma atividade laboral, além de ser 
extremamente repudiado, era considerado crime – sendo detalhado as suas variáveis em 
uma sequência de artigos: 
Art. 391. Mendigar, tendo saude e aptidão para trabalhar: 
 Pena - de prisãocellular por oito a trinta dias. 
 Art. 392. Mendigar, sendo inhabil para trabalhar, nos logares onde existem hospicios e 
asylos para mendigos: 
 Pena - de prisão cellular por cinco a quinze dias. 
Art. 393. Mendigar fingindo enfermidades, simulando motivo para armar á commiseração, 
ou usando de modo ameaçador e vexatorio: 
 Pena - de prisão cellular por um a dous mezes. 
 Art. 394. Mendigar aos bandos, ou em ajuntamento, não sendo pae ou mãe e seus filhos 
impuberes, marido e mulher, cego ou aleijado e seu conductor: 
 Pena - de prisão cellular por um a tres mezes. 
 
O ato de embriagar-se, que hoje é considerado uma condição que reduz a capacidade dos 
indivíduos, no Código Criminal de 1890, era vista como uma conduta delituosa. 
Art. 396. Embriagar-se por habito, ou apresentar-se em publico em estado de embriaguez 
manifesta: 
 Pena - de prisão cellular por quinze a trinta dias. 
 
A capoeira, atualmente considerada um patrimônio imaterial da cultura brasileira, 
especialmente no contexto baiano, era considerada como uma atividade ilícita consoante o 
Código Criminal de 1890 devido à associação desta manifestação com a desordem social: 
Art. 402. Fazer nas ruas e praças publicas exercicios de agilidade e destreza corporal 
conhecidos pela denominação capoeiragem; andar em correrias, com armas ou 
instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, provocando tumultos ou desordens, 
ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal: 
 Pena - de prisão cellular por dous a seis mezes. 
 
2. A Constituição Republicana de 1891: 
 Sofreu influência das constituições dos Estados Unidos, Argentina e Suíça; 
 Instituiu o modelo federalista presidencialista no país; 
 Fixação dos três poderes – legislativo, executivo e judiciário (extinção formal do 
poder moderador); 
 Estabeleceu recursos extraordinários para o STF; 
 Determinou o término do voto pautado no critério censitário ou de renda; 
 Proibição de voto para os analfabetos; 
 Separação entre Igreja e Estado; 
 Término da vitaliciedade do cargo para os senadores; 
 Constituição mais concisa entre as constituições republicanas brasileiras (mais 
sintética em comparação às constituições de 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988); 
 Só apresentava 91 artigos permanentes e 8 disposições transitórias; 
3. Código Civil de 1916 (Clóvis Beviláquia): 
 Antes da elaboração desse Código Civil, quatro outras tentativas fracassaram: 
Teixeira de Freitas (1851), Nabuco de Araújo (1872), Felício dos Santos (1881) e 
Coelho Rodrigues (1893); 
 Destaque para o patriarcalismo e para o patrimonialismo; 
 
4. 1926 – Grande reforma constitucional: 
 Criação de regras constitucionais sobre habeas corpus; 
 Estabelecimento de regras variáveis para naturalização; 
 Diminuição do poder do Congresso Nacional para mobilizar a Guarda Nacional; 
 
5. A Constituição de 1934 (Governo Provisório de Getúlio Vargas): 
 Influenciada pelas constituições mexicana e alemã (Weimar); 
 Voltada para o bem-estar-social; 
 Concessão de direito de voto às mulheres 
 Fixação de direitos trabalhistas; 
 Criação da justiça eleitoral; 
 Nacionalização dos bancos; 
 Consolidação dos remédios constitucionais (mandatos de segurança, ação popular); 
 
OBS: Em 1937, ocorreu o golpe do Estado Novo, responsável pela revogação da Constituição 
de 1934 e pela elaboração da Constituição de 1937. 
AULA 15 – O ESTADO NOVO DE GETÚLIO VARGAS, DITADURA MILITAR E 
REDEMOCRATIZAÇÃO DO BRASIL 
 
O ESTADO NOVO 
 
Aspectos gerais: 
Em 1937, Vargas, através de outro golpe, iniciou um novo período – o Estado Novo – que foi 
caracterizado pelo cunho autoritário, alienador e voltado para o controle ideológico das 
massas. 
A Constituição de 1937 – que foi outorgada - previa a criação de um poder legislativo que 
jamais fora nomeado. Ademais, essa constituição também previa a possibilidade do 
presidente nomear interventores dos estados (o que não aconteceu). Nesse sentido, os 
governos estaduais estavam aliados ideologicamente e administrativamente a Vargas. 
Vargas passou a legislar por decreto com força de lei – entre esses o Decreto-Lei 5.452 de 
1943 que marcou o surgimento da CLT. 
Ainda em 1937, os partidos políticos foram extintos, uma vez que Vargas acreditava na sua 
capacidade de se comunicar diretamente com as massas. Destarte, Vargas abusou dos 
veículos de comunicação para realizar uma propaganda positiva do seu governo a medida 
que visava à legitimação popular. Vargas, daí, se caracterizou pelo populismo, ou seja, pelo 
“apelo ao povo”. 
Vargas implementou uma censura à imprensa e uma perseguição aos jornalistas a partir da 
criação do DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda – sob o discurso de que era 
necessário combater um inimigo político comum do povo brasileiro: o comunismo. Esse 
inimigo criava uma falsa luta de classes e, nesse sentido, Vargas afirmava que as instituições 
não estavam garantindo segurança e bem-estar. Dessa forma, esse discurso contra o 
“inimigo” e a defesa da existência de uma iminente ameaça foram ainda mais evidenciados 
no preâmbulo da referida constituição: 
 
ATENDENDO às legitimas aspirações do povo brasileiro à paz política e social, 
profundamente perturbada por conhecidos fatores de desordem, resultantes da crescente 
a gravação dos dissídios partidários, que, uma, notória propaganda demagógica procura 
desnaturar em luta de classes, e da extremação, de conflitos ideológicos, tendentes, pelo 
seu desenvolvimento natural, resolver-se em termos de violência, colocando a Nação sob a 
funesta iminência da guerra civil; 
 
ATENDENDO ao estado de apreensão criado no País pela infiltração comunista, que se 
torna dia a dia mais extensa e mais profunda, exigindo remédios, de caráter radical e 
permanente; 
 
ATENDENDO a que, sob as instituições anteriores, não dispunha, o Estado de meios 
normais de preservação e de defesa da paz, da segurança e do bem-estar do povo; 
 
Sem o apoio das forças armadas e cedendo às inspirações da opinião nacional, umas e 
outras justificadamente apreensivas diante dos perigos que ameaçam a nossa unidade e da 
rapidez com que se vem processando a decomposição das nossas instituições civis e 
políticas; 
 
Resolve assegurar à Nação a sua unidade, o respeito à sua honra e à sua independência, e 
ao povo brasileiro, sob um regime de paz política e social, as condições necessárias à sua 
segurança, ao seu bem-estar e à sua prosperidade, decretando a seguinte Constituição, 
que se cumprirá desde hoje em todo o Pais. 
 
Esse discurso de ódio ao comunismo consistiu na base da consolidação do Estado Novo em 
virtude da criação de justificativas para as ações arbitrárias do governo. O ponto, no mínimo 
curioso, é que os jornalistas eram reprimidos quando divulgavam essas ações arbitrárias do 
governo. 
Foi criada, ainda durante o Estado Novo varguista, a Lei de Segurança Nacional (Lei 38/35) 
que continha alguns pontos interessantes como o combate às notícias falsas, à intolerância 
religiosa e às propagandas de guerra. 
 
A Constituição de 1946: 
 Promulgada após a queda do Estado Novo em 1945; 
 Importante no processo de redemocratização do país; 
 Resgate dos partidos políticos – Partido Social Democrata (liderada pelo general 
Eurico Gaspar Dutra) x UDN (partido conservador cujo principal candidato era o 
brigadeiro Eduardo Gomes); 
 Mandato de presidente: 5 anos sem possibilidade de reeleição; 
 Direitos de liberdade de imprensa e de opinião para todas as pessoas; 
 Garantia de liberdade para o funcionamento dos sindicatos; 
 Contemplou direitos fundamentais como o direito à educação, à saúde, ao voto, 
entre outros; 
 Exclusão da possibilidade de voto para analfabetos; 
 Exclusão dos trabalhadores rurais no aparato celetista (CLT); 
 Embora previsse a possibilidade de greve, a regulamentação dessas deveria ocorrer

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