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CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 1 de 73 Aula dia 28/03/2022- Pof. Frana Elizabeth TRIBUTOS CONCEITO e DEFINIÇÃO: O conceito de tributo está implícito na Constituição Federal, a quem compete criá-los. A definição de tributo, porém, cabe à lei (art. 146, III, “a”, da CRFB/88). Definir significa delimitar, traduzir o conceito constitucional. Sendo assim, o art. 3º do CTN traz a definição de tributo: CTN, Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. a) Prestação pecuniária- Obrigação em dinheiro. b) Compulsória- Pouco importa a manifestação de vontade do sujeito passivo no momento da ocorrência do fato gerador. Ela é externada previamente, na escolha dos representantes legislativos. c) Em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir- indexadores em contexto de inflação, dação em pagamento de bens imóveis (art. 156, XI, do CTN), compensação, etc. d) Que não constitua sanção de ato ilícito- A prática do ilícito não pode ser o fato gerador do tributo, sob pena de o Estado incentivá-la. CTN, Art. 113. (...) § 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária (atecnia) e extingue-se juntamente com o crédito dela decorrente. OBS: Pecúnia non olet (o dinheiro não cheira/fede) - pouca importa a origem ilícita dos recursos. Uma vez praticado o fato gerador, o sujeito passivo deve ser tributado. Não se confunde com a vedação de que a atividade ilícita seja o fato gerador do tributo. e) Instituída em lei- Os tributos seguem a estrita legalidade formal (reserva de lei) e material (tipicidade tributária). Em outras palavras, os tributos devem estar previstos em lei e seus elementos devem nela estar detalhados. CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 2 de 73 f) Cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada- Não há margem de discricionariedade para o administrador na cobrança dos tributos. Ele deve seguir a lei. NATUREZA JURÍDICA: A natureza jurídica do tributo depende do seu fato gerador. É irrelevante o nome que o legislador dá para ele. Ex: IPMF (EC 3/93)- embora se chamasse imposto provisório, tratava-se de contribuição; CPMF- embora se chamasse contribuição, tratava-se de imposto. A destinação legal do produto da arrecadação (art. 5º, II, CTN) pouco importa para a verificação de se é tributo ou não. Na verdade, ela é relevante para identificação da espécie do tributo. CTN, Art. 4º A natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevantes para qualificá-la: CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 3 de 73 I - a denominação e demais características formais adotadas pela lei; II - a destinação legal do produto da sua arrecadação. CLASSIFICAÇÃO: Critério jurídico-constitucional- A CRFB/88 divide os tributos conforme a competência tributária: federais, estaduais, municipais ou distritais. Teoria tripartite - Não é que não foi recepcionado, mas está incompleto. CTN, Art. 5º Os tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria. Imposto- Tributo dinâmico. O produto da arrecadação não é e nem pode ser vinculado a atuação estatal especifica relacionada ao sujeito passivo. CRFB/88, Art. 167. São vedados: (...) IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização de atividades da administração tributária, como determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo; CTN, Art. 16. Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte. Imposto real- núcleo da tributação é um bem. Ex: IPTU, IPVA. Imposto pessoal- núcleo da tributação é a situação pessoal do sujeito. Ex: IR. Capacidade contributiva- capacidade que toda pessoa tem de contribuir com parcela do seu patrimônio para as despesas estatais. Subjetiva- situação pessoal do sujeito (impostos pessoais). Objetiva- sinal de riqueza traduzido pelo bem (impostos reais). Imposto direto - é suportado diretamente por aquele que pratica o fato gerador. Imposto indireto- é suportado por aquele que não pratica o fato gerador. A carga tributária repercute, é repassada para o consumidor final. IPI e ICMS. CASO CONCRETO: O Poder Executivo Estadual entendeu ser conveniente fixar, através de Decreto, a incidência de sobretarifa no serviço de fornecimento de água, a ser cobrada pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos. Sua finalidade é incentivar o menor consumo durante o período de escassez, posto que, ultrapassada a cota previamente estabelecida, mais alto será o valor devido. Pergunta-se: a) Qual a natureza da contraprestação pelo fornecimento de água? b) A sobretarifa tem natureza tributária? CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 4 de 73 c) Decreto é meio idôneo para se estabelecer a criação ou majoração do referido adicional? d) Pode ser cobrada tarifa mínima de água? Respostas fundamentadas. a) Caso o serviço fosse prestado diretamente pelo ente público, o usuário pagaria o tributo taxa. Contudo, no regime de concessão, o serviço é prestado diretamente pela concessionária, a quem o usuário deve remunerar. O fato de a remuneração ser paga diretamente ao concessionário pode alterar sua natureza jurídica? O STF entendeu que sim. A contraprestação devida pelos usuários às concessionárias de serviço público não têm natureza tributária, mas sim de TARIFA ou PREÇO PÚBLICO. Isso significa que tem fluxo privado, isto é, não se sujeita a princípios de direito público, como anterioridade e estrita legalidade, por exemplo. É como se o regime jurídico da concessão ultrapasse o contrato celebrado entre o Estado e o concessionário e alcançasse o usuário. b) A sobretarifa tem a mesma natureza da tarifa e, portanto, não é tributo. c) A tarifa e a sobretarifa podem ser criadas e majoradas por meio de decreto do Poder Executivo, pois não estão sujeitas à reserva de lei, como os tributos. d) Se a tarifa fosse uma taxa, poderia ser cobrado o valor mínimo, pois o art. 145, II, da CRFB/88 prevê que a taxa pode ser cobrada pela mera disponibilização do serviço ao contribuinte. Contudo, em sendo remuneração de natureza contratual, o usuário não pode ser cobrado pelo que não consumiu. OBS: Apesar desse raciocínio, o STF entendeu pela legalidade da tarifa mínima na energia elétrica, por entender que há a prestação constante de um serviço de manutenção. __________________________________ Aula dia 29/03/2022- Prof. Rodrigo Jacobina CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 5 de 73 IMPOSTO SOBRE A CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS ICMS GENEALOGIA: Para tentar mitigar potenciais discussões com relação à competência tributária, o constituinte de 88 incluiu no âmbito do ICMS, além da circulação de mercadorias, serviços, transporte e comunicação. CF/88, Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (...) II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, aindaque as operações e as prestações se iniciem no exterior; (...) ARCABOUÇO NORMATIVO: CRFB/88, LC nº 87/96 (antes era Decreto-lei 406), Lei Estadual 2.657/96 (RJ), convênios CONFAZ/ECF, decretos estaduais, regulamentos estaduais. Até a edição da LC 87/96, o ICMS era regulado pelo convênio celebrado entre os Secretários Estaduais de Fazenda de todo o Brasil e pelo Decreto-lei nº 406 naquilo em que fora recepcionado pela CRFB/88, conforme decisão do STF. CONVÊNIOS: Função de harmonização do procedimento fiscal entre os Estados. Art. 155, §2º, XII, “g”, CF/88: Cabe à LC regular como os Estados concederão benefícios fiscais relativos ao ICMS. Trata-se da LC nº 24/75, que disciplina os convênios. O objetivo do constituinte e do legislador é evitar a guerra fiscal. CRFB/88, Art. 155 (...) § 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (...) XII - cabe à lei complementar: (...) g) regular a forma como, mediante deliberação dos Estados e do Distrito Federal, isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e revogados. LC 27/75, Art. 2º - Os convênios a que alude o art. 1º, serão celebrados em reuniões para as quais tenham sido convocados representantes de todos os Estados e do Distrito Federal, sob a presidência de representantes do Governo federal. CONFAZ - Conselho Nacional de Política Fazendária. § 1º - As reuniões se realizarão com a presença de representantes da maioria das Unidades da Federação. § 2º - A concessão de benefícios dependerá sempre de decisão unânime dos Estados representados; a sua revogação total ou parcial dependerá de aprovação de quatro quintos, pelo menos, dos representantes presentes. A natureza jurídica da autorização do CONFAZ é mera autorização. Não gera direito público subjetivo. Se o Governador, mesmo autorizado, desiste de conceder o benefício fiscal, o contribuinte não pode CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 6 de 73 reivindicá-lo. Somente após a Assembleia Legislativa estadual aprovar a lei específica do benefício é que nasce o direito subjetivo (art. 150, §6º, CRFB/88). § 3º - Dentro de 10 (dez) dias, contados da data final da reunião a que se refere este artigo, a resolução nela adotada será publicada no Diário Oficial da União. CRFB/88, Art. 150. (...) § 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g. Pode o Governador apresentar projeto de lei de benefício fiscal de ICMS à Assembleia Legislativa ao mesmo tempo ou antes de conseguir a autorização do CONFAZ? O professor entende que não, pois haveria vício de inconstitucionalidade formal. Praticamente todos os Estados do Brasil possuíam benefícios fiscais de ICMS aprovados em desacordo com o art. 155, §2º, XII, “g”, da CRFB/88, de modo que começaram a ajuizar ações diretas de inconstitucionalidade perante o STF, uns contra os outros. Para resolver o problema, o Congresso Nacional foi acionado e aprovou a LC nº 160/2017, permitindo aos Estados fazerem um levantamento dos benefícios irregulares e pleitear sua reinstituição, agora de maneira correta, concedendo remissão aos contribuintes até então beneficiados. Daí resultou o Convênio 190/2017. O Amazonas ajuizou a ADI 5902 contra a LC 160/2017, a qual teve parecer favorável da então PGR Raquel Dodge, que entendeu haver uma “falcatrua legislativa”, um subterfúgio para perpetrar os efeitos da inconstitucionalidade. O professor discorda porque o convênio não é obrigatório. O próprio AM aderiu depois. Ainda pendente de julgamento. LC160, Art. 1o Mediante convênio celebrado nos termos da Lei Complementar no 24, de 7 de janeiro de 1975, os Estados e o Distrito Federal poderão deliberar sobre: I - a remissão dos créditos tributários, constituídos ou não, decorrentes das isenções, dos incentivos e dos benefícios fiscais ou financeiro-fiscais instituídos em desacordo com o disposto na alínea “g” do inciso XII do § 2o do art. 155 da Constituição Federal por legislação estadual publicada até a data de início de produção de efeitos desta Lei Complementar; II - a reinstituição das isenções, dos incentivos e dos benefícios fiscais ou financeiro-fiscais referidos no inciso I deste artigo que ainda se encontrem em vigor. Art. 2o O convênio a que se refere o art. 1o desta Lei Complementar poderá ser aprovado e ratificado com o voto favorável de, no mínimo: I - 2/3 (dois terços) das unidades federadas; e II - 1/3 (um terço) das unidades federadas integrantes de cada uma das 5 (cinco) regiões do País. CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 7 de 73 CARACTERÍSTICAS: Indireto- O ordenamento jurídico regula o fenômeno da repercussão do ICMS, isto é, o repasse da carga tributária para os agentes subsequentes. Esse custo com o tributo é agregado ao custo da mercadoria. Contribuinte de fato não possui legitimidade para discutir a cobrança do tributo, ressalvado o caso de ICMS sobre demanda de energia elétrica contratada. Proporcional e real Plurifásico- O ICMS incide em todas as fases da cadeia produtiva. Seletivo- O ICMS poderá ser seletivo em função da essencialidade das mercadorias e dos serviços. A seletividade das alíquotas não é obrigatória. STF RE 714.139/SC. Repercussão Geral. Tema nº 745: “Adotada pelo legislador estadual a técnica da seletividade em relação ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), discrepam do figurino constitucional alíquotas sobre as operações de energia elétrica e serviços de telecomunicação em patamar superior ao das operações em geral, considerada a essencialidade dos bens e serviços”. Modulação dos efeitos da decisão, estipulando-se que ela produza efeitos a partir do exercício financeiro de 2024, ressalvando-se as ações ajuizadas até a data do início do julgamento do mérito (5/2/21). Não cumulativo (art. 155, §2º, II, “a” e “b”, da CRFB/88)- O princípio da não cumulatividade tem a função de mitigar os efeitos nocivos do fato de o ICMS ser indireto e plurifásico (aumento do preço para o consumidor final). 1. Regra geral CRFB/88, Art. 155 (...) § 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte I - será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federal; Exemplo: Fornecedor de frutas compra maçãs. Sobre essa operação, incide ICMS de R$7,00. Ele vende essas frutas para o mercado e sobre essa nova operação incide ICMS de R$18,00. Ele pode compensar esse débito com o crédito da operação anterior e pagar ao Estado apenas R$11,00 (18 - 7). Assim sucessivamente ao longo da cadeia produtiva. CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 8 de 73 A compensação não precisa ser entre crédito e débito de operações da mesma mercadoria. Nesse sentido: AgInt no REsp 1.513.936-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 27/05/2019, DJe 30/05/2019 DESTAQUE Viola o art. 20, § 6º da LC n. 87/1996 a disposição contida em norma infralegal estadual que restrinja seu âmbito de aplicação a produtos agropecuários da mesma espécie. INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR A LC n. 87/1996, em harmonia com a CF/1988, assegura o direito à compensação, levando em consideração o imposto devido em cada operação na qual haja circulação de mercadoria ou prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, sem impor que a operação antecedente refira-se a umadeterminada mercadoria ou serviço. Destarte, a regra contida em regulamento estadual que inova no ordenamento jurídico, ao exigir que a compensação ocorra entre produtos agropecuários da mesma espécie da que originou o respectivo crédito (não estorno), cria regra nova de compensação do ICMS (por ato infralegal), que não é prevista nem na Constituição Federal nem na LC n. 87/1996. Desse modo, viola o art. 20, § 6º, da LC n. 87/1996 a disposição contida em norma infralegal estadual que restrinja seu âmbito de aplicação, criando regra nova de compensação do ICMS, sobretudo porque tal matéria é reservada à lei complementar. 2. Isenção na entrada Art. 155 (...) §2º (...) II - a isenção ou não-incidência, salvo determinação em contrário da legislação: a) não implicará crédito para compensação com o montante devido nas operações ou prestações seguintes; Se na operação anterior não houve incidência de ICMS, não haverá crédito a ser compensado na saída. Exemplo: Se o fornecedor de frutas, ao vender as maçãs para o mercado, estava isento de ICMS, o mercado, ao vendê-las para o consumidor, deverá pagar o total de incidência do ICMS. Não há compensação a ser realizada. CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 9 de 73 3. Isenção na saída Art. 155 (...) §2º (...) II - a isenção ou não-incidência, salvo determinação em contrário da legislação: (...) b) acarretará a anulação do crédito relativo às operações anteriores; Se na saída não tem ICMS, o crédito da entrada deve ser desconsiderado, se essa for a única operação do vendedor. Se o vendedor realizar outras operações, ele deverá anotar o crédito e os débitos em livro (escrituração). Quando fizer o fechamento do mês, deve cancelar/anular o crédito de ICMS na proporção da isenção, pagando ao Estado a diferença do que restar. O intuito dessa regra é evitar que as pessoas acumulem crédito de ICMS. Exemplo 1: O mercado vende as maçãs ao consumidor final com isenção de ICMS. Se essa for sua única operação, não poderá guardar o crédito de ICMS da operação anterior. Deverá desconsiderá-lo. Exemplo 2: O mercado fecha o mês com faturamento de R$1.000.000,00. R$800.000,00, ou seja, 80% do faturamento é referente a vendas sem incidência de ICMS. Desse modo, o mercado deve anular 80% dos créditos de ICMS e pagar ao Estado a diferença. 0 O crédito não será 18, mas 0, porque o mercado deverá anulá-lo. 0 CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 10 de 73 EXCEÇÃO: Art. 155, §2º, X, “a”, CRFB/88 - Em caso de exportação não incide ICMS, porém a pessoa não precisa anular os créditos anteriores, eles poderão ser aproveitados. Art. 155 (...) §2º (...) X - não incidirá: a) sobre operações que destinem mercadorias para o exterior, nem sobre serviços prestados a destinatários no exterior, assegurada a manutenção e o aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operações e prestações anteriores; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) O aproveitamento do crédito depende da legislação de cada Estado. Eles podem autorizar a transferência para outrem o uso para comprar insumos, etc. Quiseram dar ao inciso X, alínea “a”, uma interpretação que garantia a isenção do ICMS para todas as fases da cadeia produtiva das mercadorias destinadas à exportação, mas o STF barrou. Tese do Tema nº 475 da Repercussão Geral: “A imunidade a que se refere o art. 155, § 2º, X, a, da CF não alcança operações ou prestações anteriores à operação de exportação.” O que dá direito de crédito de ICMS? As mercadorias que entram na empresa podem ser classificadas em: A. Insumos, matéria-prima e produtos acabados (arts. 19 e 20 da LC 87/96) - agregam ao produto final ou são o próprio produto final. Ex: cacau comprado pela Kopenhagem e ovos de Páscoa comprados pela Americanas para a venda. B. Ativo permanente (art. 20, §5º da LC 87/96)- não agregam no produto final, vão se perdendo gradativamente. Ex: máquinas e equipamentos. C. Material de uso e consumo (art. 33, I da LC 87/96)- não agregam no produto final, nem se perdem. Ex: papel, caneta, tinta para impressora, materiais de limpeza, copos descartáveis para o bebedouro do escritório, etc. Os Estados sempre sustentaram que o direito de crédito só surgia da compra de mercadorias do primeiro grupo, enquanto os contribuintes sustentaram que o direito de crédito deveria surgir da compra de mercadorias de todos os grupos. Após uma negociação, a LC 87/96 trouxe solução intermediária: Insumos, matéria-prima e produtos acabados - direito de crédito imediato Ativo permanente - direito de crédito com aproveitamento de 1/48 ao mês. O crédito vai sendo aproveitado aos poucos, ao longo de 4 anos. Depois desse prazo, eventual remanescente deverá ser cancelado. CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 11 de 73 Uso e consumo - direito de crédito apenas a partir de 01/01/2033 (data foi sendo modificada ao longo do tempo). LC 87/96, Art. 19. O imposto é não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou por outro Estado. Art. 20. Para a compensação a que se refere o artigo anterior, é assegurado ao sujeito passivo o direito de creditar-se do imposto anteriormente cobrado em operações de que tenha resultado a entrada de mercadoria, real ou simbólica, no estabelecimento, inclusive a destinada ao seu uso ou consumo ou ao ativo permanente, ou o recebimento de serviços de transporte interestadual e intermunicipal ou de comunicação. § 5o Para efeito do disposto no caput deste artigo, relativamente aos créditos decorrentes de entrada de mercadorias no estabelecimento destinadas ao ativo permanente, deverá ser observado: I – a apropriação será feita à razão de um quarenta e oito avos por mês, devendo a primeira fração ser apropriada no mês em que ocorrer a entrada no estabelecimento; II – em cada período de apuração do imposto, não será admitido o creditamento de que trata o inciso I, em relação à proporção das operações de saídas ou prestações isentas ou não tributadas sobre o total das operações de saídas ou prestações efetuadas no mesmo período; III – para aplicação do disposto nos incisos I e II deste parágrafo, o montante do crédito a ser apropriado será obtido multiplicando-se o valor total do respectivo crédito pelo fator igual a 1/48 (um quarenta e oito avos) da relação entre o valor das operações de saídas e prestações tributadas e o total das operações de saídas e prestações do período, equiparando-se às tributadas, para fins deste inciso, as saídas e prestações com destino ao exterior ou as saídas de papel destinado à impressão de livros, jornais e periódicos; IV – o quociente de um quarenta e oito avos será proporcionalmente aumentado ou diminuído, pro rata die, caso o período de apuração seja superior ou inferior a um mês; V – na hipótese de alienação dos bens do ativo permanente, antes de decorrido o prazo de quatro anos contado da data de sua aquisição, não será admitido, a partir da data da alienação, o creditamento de que trata este parágrafo em relação à fração que corresponderia ao restante do quadriênio; VI – serão objeto de outro lançamento, além do lançamento em conjunto com os demais créditos, para efeito da compensação prevista neste artigo e no art. 19, em livro próprio ou de outra forma que a legislação determinar, para aplicação do disposto nos incisos I a V deste parágrafo; e VII – ao final do quadragésimo oitavo mês contado da data da entrada do bem no estabelecimento, o saldo remanescente do crédito será cancelado. Art. 33. Na aplicação do art. 20 observar-se-á o seguinte: I - somente darão direito de créditoas mercadorias destinadas ao uso ou consumo do estabelecimento, nele entradas a partir de 1º de janeiro de 1998; I - somente darão direito de crédito as mercadorias destinadas ao uso ou consumo do estabelecimento, nele entradas a partir de 1º de janeiro de 2000; (Redação dada pela LCP nº 92, de 23.12.1997) I - somente darão direito de crédito as mercadorias destinadas ao uso ou consumo do estabelecimento, nele entradas a partir de 1o de janeiro de 2003; (Redação dada pela LCP nº 99, de 20.12.1999) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp92.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp92.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp99.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp99.htm CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 12 de 73 I – somente darão direito de crédito as mercadorias destinadas ao uso ou consumo do estabelecimento, nele entradas a partir de 1o de janeiro de 2007; (Redação dada pela Lcp 114, de 16.12.2002) I - somente darão direito de crédito as mercadorias destinadas ao uso ou consumo do estabelecimento nele entradas a partir de 1o de janeiro de 2011; (Redação dada pela Lcp nº 122, de 2006) I – somente darão direito de crédito as mercadorias destinadas ao uso ou consumo do estabelecimento nele entradas a partir de 1o de janeiro de 2020; (Redação dada pela Lcp nº 138, de 2010) I – somente darão direito de crédito as mercadorias destinadas ao uso ou consumo do estabelecimento nele entradas a partir de 1º de janeiro de 2033; (Redação dada pela Lei Complementar nº 171, de 2019) Pesquisar se energia elétrica dá direito de crédito de ICMS - Info recente STF - possível questão de prova! ________________________ Aula dia 30/03/2022 - Prof. Rodrigo Jacobina ICMS (CONT.) FATO GERADOR DO ICMS: Aspecto material - núcleo do FG, ação que o Estado pretende tributar. No caso do ICMS, o aspecto material do FG divide-se em: Serviços de comunicação e transporte interestadual e intermunicipal, ainda que se iniciem no exterior; Circulação de mercadorias, ainda que se inicie no exterior. Mercadoria é o bem móvel dado ao comércio, à mercancia. Se a operação de compra e venda ou transporte envolver bem móvel não caracterizado como mercadoria, há o fenômeno da não incidência (≠ isenção) do ICMS. Ex1: carro na concessionária é mercadoria, mas quando eu compro e, depois de usá- lo, decido vendê-lo, ele perde essa característica. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp114.htm#art33i http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp114.htm#art33i http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp138.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp138.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp138.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp138.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp171.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp171.htm#art1 CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 13 de 73 Ex2: A Dell, empresa de computadores, aloca parte deles para o uso de seus funcionários, isto é, os inclui no ativo permanente. Nesse momento, eles perdem a característica de mercadoria. Caso a Dell decida vender os computadores usados, não precisará pagar ICMS. Ex3: O aparelho da Sky é dado ao consumidor em comodato, tanto que, em caso de cancelamento, o consumidor deve devolvê-lo. Como não há circulação de mercadoria, não há ICMS. Hipóteses de não incidência: o Mudança de endereço- Circulação meramente física da coisa, isto é, transferência da mercadoria de um lugar para o outro, sem troca de propriedade, não configura hipótese de incidência do ICMS. Só interessa para o ICMS a circulação econômica, a qual pode se dar, inclusive, sem circulação física, como quando o vendedor entrega as mercadorias aos poucos para o comprador. O ICMS já incide no momento da transação econômica; o Circulação de mercadorias dentro do estabelecimento do mesmo contribuinte, como transferência de mercadorias entre estoques de lojas. STF ARE 1.255.885 Repercussão Geral Tema 1099: “Não incide ICMS no deslocamento de bens de um estabelecimento para outro do mesmo contribuinte localizados em estados distintos, visto não haver a transferência da titularidade ou a realização de ato de mercancia”. o Venda do ativo fixo; o Autoconsumo; o Demonstração. Aspecto espacial- Estado onde circula a mercadoria. Nas operações interestaduais, qual Estado cobra o ICMS, o de saída ou de destino? Ambos. A Constituição criou um sistema que permite a repartição da receita. O Estado de origem aplica alíquota interestadual e o Estado de destino aplica a diferença entre a alíquota interestadual e sua alíquota interna. Essas alíquotas são definidas de modo a beneficiar os Estados menos industrializados e evitar a guerra fiscal, por meio de Resoluções do Senado Federal. ALÍQUOTAS INTERESTADUAIS Operações entre Estados das Regiões Sul e Sudeste, com exceção do Espírito Santo 12% Operações entre Estados das Regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e 12% CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 14 de 73 Espírito Santo Operações de Estados das Regiões Sul e Sudeste destinadas a Estados da Região Norte, Nordeste, Centro-Oeste e ao Espírito Santo 7% Se a operação anterior foi uma importação 4% Ex1: ORIGEM -> Rio de Janeiro -> alíquota interestadual de 7% DESTINO -> Bahia -> alíquota interna - alíquota interestadual -> 18% - 7% = 11% Bahia, Estado menos desenvolvido, ficará com maior parte do ICMS. Ex2: ORIGEM -> Rio de Janeiro -> alíquota interestadual de 12% DESTINO -> São Paulo -> alíquota interna - alíquota interestadual -> 18% - 12% = 6% CRFB/88, Art. 155 (...) §2º (...) IV - resolução do Senado Federal, de iniciativa do Presidente da República ou de um terço dos Senadores, aprovada pela maioria absoluta de seus membros, estabelecerá as alíquotas aplicáveis às operações e prestações, interestaduais e de exportação; (...) VII - nas operações e prestações que destinem bens e serviços a consumidor final, contribuinte ou não do imposto, localizado em outro Estado, adotar-se-á a alíquota interestadual e caberá ao Estado de localização do destinatário o imposto correspondente à diferença entre a alíquota interna do Estado destinatário e a alíquota interestadual; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 87, de 2015) (...) VIII - a responsabilidade pelo recolhimento do imposto correspondente à diferença entre a alíquota interna e a interestadual de que trata o inciso VII será atribuída: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 87, de 2015) a) ao destinatário, quando este for contribuinte do imposto; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 87, de 2015) b) ao remetente, quando o destinatário não for contribuinte do imposto; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 87, de 2015) RS 2/89 Art. 1° A alíquota do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação, nas operações e prestações interestaduais, será de doze por cento. Parágrafo único. Nas operações e prestações realizadas nas Regiões Sul e Sudeste, destinadas às Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e ao Estado do Espírito Santo, as alíquotas serão: I - em 1989, oito por cento; II - a partir de 1990, sete por cento. Art. 2° A alíquota do imposto de que trata o art. 1°, nas operações de exportação para o exterior, será de treze por cento. Art. 3° Esta Resolução entra em vigor em 1° de junho de 1989. RSF 13/2012, Art. 1º A alíquota do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS), nas operações interestaduaiscom bens e mercadorias importados do exterior, será de 4% (quatro por cento). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc87.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc87.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc87.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc87.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc87.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc87.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc87.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc87.htm#art1 CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 15 de 73 OBS1: Imunidade na circulação interestadual de petróleo, lubrificantes e derivados e energia elétrica (art. 155,§2º, X, “b”, e XII, “h”, da CRFB/88)- Nas operações interestaduais dessas mercadorias, não haverá incidência de ICMS, ressalvado o disposto na LC nº 192/2021, que prevê os produtos que sofrerão incidência única. O constituinte buscou impedir vantagem exagerada para os Estados de origem dessas mercadorias, pois já se beneficiariam com os royalties. Vale ressaltar que na transferência de um Estado para o outro não incide ICMS, mas incide ICMS no consumo quando o petróleo e a energia já estão no Estado de destino. Art. 155 (...) §2º (...) X - não incidirá: a) sobre operações que destinem mercadorias para o exterior, nem sobre serviços prestados a destinatários no exterior, assegurada a manutenção e o aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operações e prestações anteriores; (...) XII - cabe à lei complementar: (...) h) definir os combustíveis e lubrificantes sobre os quais o imposto incidirá uma única vez, qualquer que seja a sua finalidade, hipótese em que não se aplicará o disposto no inciso X, b ; LC 192, Art. 2º Os combustíveis sobre os quais incidirá uma única vez o ICMS, qualquer que seja sua finalidade, são os seguintes: I - gasolina e etanol anidro combustível; II - diesel e biodiesel; e III - gás liquefeito de petróleo, inclusive o derivado do gás natural. Art. 3º Para a incidência do ICMS nos termos desta Lei Complementar, será observado o seguinte: I - não se aplicará o disposto na alínea b do inciso X do § 2º do art. 155 da Constituição Federal; II - nas operações com os combustíveis derivados de petróleo, o imposto caberá ao Estado onde ocorrer o consumo; III - nas operações interestaduais, entre contribuintes, com combustíveis não incluídos no inciso II deste caput (não derivados de petróleo), o imposto será repartido entre os Estados de origem e de destino, mantendo-se a mesma proporcionalidade que ocorre nas operações com as demais mercadorias; IV - nas operações interestaduais com combustíveis não incluídos no inciso II deste caput (não derivados de petróleo), destinadas a não contribuinte, o imposto caberá ao Estado de origem; V - as alíquotas do imposto serão definidas mediante deliberação dos Estados e do Distrito Federal, nos termos da alínea g do inciso XII do § 2º do art. 155 da Constituição Federal (CONVÊNIO), observado o seguinte: a) serão uniformes em todo o território nacional e poderão ser diferenciadas por produto; b) serão específicas (ad rem), por unidade de medida adotada, nos termos do § 4º do art. 155 da Constituição Federal; e c) poderão ser reduzidas e restabelecidas no mesmo exercício financeiro, observado o disposto na alínea c do inciso III do caput do art. 150 da Constituição Federal. Além da anterioridade, devem respeitar um mínimo de 12 meses entre a primeira fixação e o primeiro reajuste, e 6 meses para próximos reajustes. OBS2: Comércio eletrônico- o comércio eletrônico provocou a edição da EC nº 87/2015, que alterou a redação dos incisos VII e VIII do §2º do art. 155 da CRFB/88. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art155%C2%A72xb http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art155%C2%A72xiig http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art155%C2%A72xiig http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art155%C2%A74 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art155%C2%A74 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art150iiic CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 16 de 73 VII - em relação às operações e prestações que destinem bens e serviços a consumidor final localizado em outro Estado, adotar-se-á: a) a alíquota interestadual, quando o destinatário for contribuinte do imposto; b) a alíquota interna, quando o destinatário não for contribuinte dele; VII - nas operações e prestações que destinem bens e serviços a consumidor final, contribuinte ou não do imposto, localizado em outro Estado, adotar-se-á a alíquota interestadual e caberá ao Estado de localização do destinatário o imposto correspondente à diferença entre a alíquota interna do Estado destinatário e a alíquota interestadual; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 87, de 2015) VIII - na hipótese da alínea "a" do inciso anterior, caberá ao Estado da localização do destinatário o imposto correspondente à diferença entre a alíquota interna e a interestadual; VIII - a responsabilidade pelo recolhimento do imposto correspondente à diferença entre a alíquota interna e a interestadual de que trata o inciso VII será atribuída: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 87, de 2015) a) ao destinatário, quando este for contribuinte do imposto; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 87, de 2015) b) ao remetente, quando o destinatário não for contribuinte do imposto; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 87, de 2015) Nessa toada, os Estados celebraram o Convênio CONFAZ nº 93/2015 para disciplinar o recolhimento do ICMS nas operações interestaduais que destinem bens ou serviços ao consumidor final não contribuinte. Todavia, o STF, no Tema 1093, fixou a tese de que seria necessária lei complementar para tanto. A discussão, porém, não se encerrou, pois a matéria foi levada novamente ao conhecimento do STF através das ADIs 7066 e 7070, ainda pendentes de julgamento. STF RE 1287019 Repercussão Geral Tema 1.093: “A cobrança do diferencial de alíquota (DIFAL) alusivo ao ICMS, conforme introduzido pela Emenda Constitucional nº 87/2015, pressupõe edição de lei complementar veiculando normas gerais”. Aspecto temporal- Depende da legislação local, que, nos termos do art. 12, I, da LC nº 87/96, pode escolher entre: a) momento da saída da mercadoria; b) momento da entrada da mercadoria; ou c) momento da emissão da nota fiscal. Aspecto quantitativo- A base de cálculo do ICMS é o valor da operação (art. 13, I, da LC nº 87/96), e não da mercadoria. Sendo assim, o valor do ICMS também é considerado na base de cálculo (ICMS por dentro). Exemplo: Alíquota de 17% -> valor da coisa dividido por 1-0,17 (0,83) -> valor da operação sobre o qual vai incidir o ICMS. Aspecto pessoal Sujeito ativo - Estado Sujeito passivo - contribuinte e responsável tributário http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc87.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc87.htm#art1 CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 17 de 73 O contribuinte do ICMS é o comerciante, aquele que pratica o ato da mercancia com habitualidade (art. 4º da LC nº 87/96). Quanto ao responsável, vale lembrar o conceito da responsabilidade tributária, que nada mais é que a transferência da responsabilidade pelo pagamento do tributo a pessoa que não aquela que praticou o fato gerador, em nome da eficiência arrecadatória e fiscalizatória. CTN, Art. 128. Sem prejuízo do disposto neste capítulo, a lei pode atribuir de modo expressoa responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação. Como o ICMS é imposto que repercute na cadeia produtiva, a lei admite a responsabilidade tributária pela via da substituição. Na substituição tributária, a pessoa passa a ser responsável por recolher o tributo da própria operação e da operação anterior ou posterior, por ser mais qualificado, por ter mais condições para tanto. Na substituição para trás, há uma postergação do recolhimento do ICMS, isto é, o agente seguinte da cadeia produtiva paga o imposto devido por ele e pelo agente anterior. Já na substituição para frente, há uma antecipação do recolhimento do ICMS, de modo que o agente anterior da cadeira produtiva paga o imposto devido por ele e o que se presume devido pelo agente posterior. CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 18 de 73 Muito se questionou a constitucionalidade dessa antecipação na substituição da frente, afinal o sujeito passivo estaria sendo obrigado a pagar imposto por fato gerador ainda não ocorrido. Todavia, essa possibilidade foi constitucionalizada pela EC nº 3/93, que alterou a redação do art. 150, §7º, da CRFB/88. CRFB/88, Art. 150. (...) § 7º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de responsável pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente, assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador presumido. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993) OBS: Fato gerador presumido. Inicialmente, a base de cálculo era presumida a partir de uma pauta fiscal (tabela) de preços de cada mercadoria. Ocorre que se a base de cálculo real, no momento da venda, fosse menor que a presumida, o ICMS teria sido pago a maior, fazendo nascer um direito à restituição. Nesse ponto, a maioria dos Estados entendia que a diferença deveria ser devolvida, por meio de direito de crédito equivalente. Contudo, o Estado do Alagoas questionou essa lógica, afirmando que o art. 150, §7º, da CRFB/88 só determina a devolução do excesso de ICMS se o fato gerador presumido não vier a ocorrer. Tendo ele ocorrido, ainda que em valor menor, o Estado não precisaria devolver nada. Levada a questão ao STF, por meio da ADI 1851, o Tribunal acolheu a tese alagoana, cunhando o brocardo de que “fato gerador presumido é fato gerador definitivo”. Entretanto, o tema foi novamente reapreciado pelo STF, que mudou de entendimento. Isso porque, na legislação de AL, a sujeição ao regime de substituição tributária para frente era facultativa. Na legislação posteriormente analisada, a sujeição ao regime de substituição tributária para frente era obrigatória. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art1 CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 19 de 73 Assim, a Corte entendeu que o FG presumido não é definitivo, mas deve ser ajustado frente à realidade, para mais ou para menos. ADI 2675/PE, ADI 2677/SP e RE 593.849. o Legalidade da pauta fiscal - a pauta fiscal é legal, desde que seja aprovada por lei - o problema é que o processo legislativo não é ágil - solução dos Estados: MVA (Margem de Valor Agregado) - a lei passou a definir percentuais, e não valores fixos em moeda, a fim de acompanhar as oscilações do mercado; o Legitimidade da restituição - se o ICMS antecipado foi maior que o ICMS real, o Estado deve devolver para o substituto ou para o substituído? Antes da LC 87/96, o STJ tinha o entendimento de que a restituição deveria ser ao substituto, porque ele excluía o substituído da relação jurídico-tributária. O TJRJ sempre entendeu que a restituição deveria ser ao substituído, porque é ele que suporta o ônus financeiro. Afinal, o substituído compra a mercadoria mais cara do substituto, pois ele embute o que recolheu de ICMS antecipado no preço. O art. 10 da LC 87/96 foi claro em estabelecer que a restituição deve ser feita ao substituído. LC, Art. 10. É assegurado ao contribuinte substituído o direito à restituição do valor do imposto pago por força da substituição tributária, correspondente ao fato gerador presumido que não se realizar. o A Constituição fala que a restituição deve ser preferencial (sem precatório) e imediata. Quanto à imediatidade, o art. 10, §1º, da LC 87/96 estabeleceu que o Estado tem o prazo de 90 dias para analisar o pleito de restituição. Passado o prazo sem resposta, o contribuinte poderá se auto-creditar em sua escrita fiscal. Se sobrevier decisão desfavorável ao contribuinte, ele deverá estornar. LC, Art. 10. (...) § 1º Formulado o pedido de restituição e não havendo deliberação no prazo de noventa dias, o contribuinte substituído poderá se creditar, em sua escrita fiscal, do valor objeto do pedido, devidamente atualizado segundo os mesmos critérios aplicáveis ao tributo. § 2º Na hipótese do parágrafo anterior, sobrevindo decisão contrária irrecorrível, o contribuinte substituído, no prazo de quinze dias da respectiva notificação, procederá ao estorno dos créditos lançados, também devidamente atualizados, com o pagamento dos acréscimos legais cabíveis. Observações sobre os casos concretos: 1) Sistema elétrico Geração - Eletrobrás e particulares nas fontes alternativas Transmissão- privatizada Distribuição- privatizada CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 20 de 73 Alguns consumidores têm a prerrogativa de escolher a fornecedora de energia que lhe ofereça o preço mais vantajoso, não estando reféns das concessionárias. Contudo, essas empresas não costumam ter uma infraestrutura própria, então usam os cabos das concessionárias para a transmissão e distribuição da energia elétrica, remunerando-as mediante o pagamento da tarifa TUSD. Como a base de calculo do ICMS é o valor da operação, a TUSD deve ser nela incluída. 2) Descontos condicionais integram a base de cálculo do ICMS, ao passo que descontos incondicionais não. __________________________ Aula dia 31/03/2022 - Prof. Cláudio Carneiro IMPOSTO SOBRE TRANSMISSÃO CAUSA MORTIS E DOAÇÃO ITCMD COMPETÊNCIA: Estados e Distrito Federal. CF, Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos; (...) CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 21 de 73 CARACTERÍSTICAS: Imposto fiscal, direto, real, lançado por declaração (art. 147 do CTN). OBS: A alíquota pode ser progressiva até o máximo de 8%, conforme Resolução do Senado Federal nº 2/92. A progressividade do ITCMD já foi referendada pelo STF. FATO GERADOR: Aspecto espacial (art. 155, §1º, I e II, da CRFB/88) - Em relação aos bens imóveis, é o Estado de situação do bem. Em relação aos bens móveis, é Estado onde se processar o inventário ou tiver domicílio o doador. Atenção para o art. 155, §1º, III, da CF/88. CF, Art. 155. (...) § 1º O imposto previsto no inciso I: I - relativamente a bens imóveis e respectivos direitos, compete ao Estado da situação do bem, ou ao Distrito Federal II - relativamente a bens móveis, títulos e créditos, compete ao Estado onde se processar o inventário ou arrolamento, ou tiver domicílio o doador, ou ao Distrito Federal; III - terá competência para sua instituição regulada por lei complementar: Ainda não editada. a) se o doador tiver domicilio ou residência no exterior; b) se o de cujus possuía bens, era residente ou domiciliado ou teve o seu inventário processado no exterior; Aspecto quantitativo Alíquota- definida pelalegislação de cada Estado, não podendo exceder 8%, conforme Resolução nº 2/92 do Senado Federal. Não há limite para a alíquota mínima. CF, Art. 155. (...) §1º (...) IV - terá suas alíquotas máximas fixadas pelo Senado Federal; Resolução SF nº 2/92 Base de cálculo- valor de mercado do bem doado ou transmitido por herança. Não está vinculada à base de cálculo do IPTU. Aspecto objetivo ou material - Transmissão de quaisquer bens (móveis ou imóveis) ou direitos em função da morte (causa mortis) ou de doação (ato gratuito). Ex1: O de cujus deixa herança de R$90.000,00 para seus 3 filhos: A, B, C. Nesse caso, ocorreram três fatos geradores: a transmissão do quinhão de R$30.000,00 para A, a transmissão do quinhão de R$30.000,00 para B, e a transmissão do quinhão de R$30.000,00 para C (3x ITCMD). Se um dos filhos renuncia à sua parte, por exemplo, haverá apenas duas transmissões e dois fatos geradores, porém a base de cálculo será reajustada (R$45.000,00 para A e R$45.000,00 para B - 2x ITCMD). CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 22 de 73 Ex12: O de cujus deixa herança de R$90.000,00 para seus 3 filhos: A, B, C. C aceita sua parte, mas a transfere para A (renúncia translativa). Nesse caso, haverá 4 fatos geradores. As três transmissões dos quinhões (causa mortis) e a transmissão de C para A, pois configura doação. Aspecto subjetivo- Em regra, as legislações estaduais estabelecem que o contribuinte é o inventariante ou o doador. Porém, pode ser qualquer uma das partes, por força do art. 42 do CTN. Aspecto temporal- Ocorrência da transmissão, a qual depende de cada caso. Doação Para os bens imóveis, por exemplo, o FG se dá com a averbação no RGI, ao passo que para os bens móveis, o FG se dá com a tradição, a entrega da coisa. Causa mortis Abertura da sucessão que, pelo princípio da saisine, corresponde ao momento da morte. Porém, o cálculo do tributo deve observar o disposto nas Súmulas 112 e 113 do STF. SÚMULA 112 do STF: “O imposto de transmissão causa mortis é devido pela alíquota vigente ao tempo da abertura da sucessão.” SÚMULA 113 do STF: “O imposto de transmissão ‘causa mortis’ é calculado sobre o valor dos bens na data da avaliação”. Vale lembrar também que a decadência não corre enquanto não houver a informação fática do contribuinte a respeito da transmissão à Fazenda Pública (tributo lançado por declaração). IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE DE VÉICULO AUTOMOTOR IPVA Não existe lei complementar do IPVA. Contudo, sua cobrança não é inconstitucional, pois se aplica o art. 24, §3º, da CRFB/88: em caso de omissão federal, cabe aos Estados a competência legislativa plena. Em caso de superveniência da lei federal, a lei estadual terá eficácia suspensa no que lhe for contrária (art. 24, § 4º, da CRFB/88). COMPETÊNCIA: Estados e DF. O IPVA é um sucesso da taxa rodoviária única, a qual tinha receita vinculada à conversação das estradas. Contudo, como o IPVA é um imposto, essa vinculação não existe mais. CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 23 de 73 CARACTERÍSTICAS: Imposto fiscal (em regra), direto, real, lançamento de ofício, ordinário ou continuado (incide anualmente), imposto que incide sobre patrimônio, sofre repartição de receita tributária* (arts. 157 a 159 da CRFB/88). *50% do IPVA recolhida pelo Estado pertence aos Municípios em cujo território o veículo tenha sido registrado (art. 157, III, da CRFB/88). FATO GERADOR: Propriedade de veículo automotor. A definição de veículo automotor é dada pelo Anexo I do CTB. Basicamente, é aquele veículo que se move sozinho: VEÍCULO AUTOMOTOR - todo veículo a motor de propulsão que circule por seus próprios meios, e que serve normalmente para o transporte viário de pessoas e coisas, ou para a tração viária de veículos utilizados para o transporte de pessoas e coisas. O termo compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que não circulam sobre trilhos (ônibus elétrico). Por um momento houve questionamento se o IPVA incidiria também sobre embarcações ou aeronaves. Porém, o STF já consolidou o entendimento de que o tributo só incide sobre os veículos terrestres. RE 134.509-S§ O domicílio de licenciamento do veículo deve acompanhar o domicílio do proprietário contribuinte. Havendo dissonância, prevalece o Estado do domicílio do proprietário para a cobrança do IPVA. Se o contribuinte for pluridomiciliado, poderá licenciar o veículo em qualquer um dos domicílios. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. TEMA 708. CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE DE VEÍCULOS AUTOMOTORES (IPVA). RECOLHIMENTO EM ESTADO DIVERSO DAQUELE QUE O CONTRIBUINTE MANTÉM SUA SEDE OU DOMICÍLIO TRIBUTÁRIO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Cuida-se, na origem, de ação por meio da qual empresa proprietária de veículos automotores busca declaração judicial de que não está sujeita à cobrança do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) por parte do Estado em que se encontra domiciliada, mas sim pelo Estado em que licenciados os veículos. 2. O Estado de Minas Gerais, no qual a empresa tem sua sede, defende a tributação com base na Lei Estadual 14.937/2003, cujo art. 1º, parágrafo único, dispõe que “o IPVA incide também sobre a propriedade de veículo automotor dispensado de registro, matrícula ou licenciamento no órgão próprio, desde que seu proprietário seja domiciliado no Estado”. 3. Embora o IPVA esteja previsto em nosso ordenamento jurídico desde a Emenda 27/1985 à Constituição de 1967, ainda não foi editada a lei complementar estabelecendo suas normas gerais, conforme determina o art. 146, III, da CF/88. Assim, os Estados poderão editar as leis necessárias à aplicação do tributo, conforme estabelecido pelo art. 24, § 3º, da Carta, bem como pelo art. 34, § 3º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias - ADCT. 4. A presente lide retrata uma das hipóteses de “guerra fiscal” entre entes federativos, configurando-se a conhecida situação em que um Estado busca aumentar sua receita por meio da oferta de uma vantagem econômica para o contribuinte domiciliado ou sediado em outro. 5. A imposição do IPVA supõe que o veículo automotor circule no Estado em que licenciado. Não por acaso, o inc. III do art. 158 da Constituição de 1988 atribui cinquenta por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado sobre a propriedade de veículos automotores aos Municípios em que licenciados os automóveis. 6. CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 24 de 73 Portanto, o art. 1º, parágrafo único da Lei Mineira 14.937/2003 encontra-se em sintonia com a Constituição, sendo válida a cobrança do IPVA pelo Estado de Minas Gerais relativamente aos veículos cujos proprietários se encontram nele sediados. 7. Tese para fins de repercussão geral: “A Constituição autoriza a cobrança do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) somente pelo Estado em que o contribuinte mantém sua sede ou domicílio tributário.” 8. Recurso extraordinário a que se nega provimento. O pagamento do IPVA vale para 12 meses. Desse modo, cabe restituição proporcional (X/12) em caso de transferência de propriedade entre Estados distintos ou em caso de furto/roubo, por exemplo. A base de cálculo do IPVA é o valor do carro segundo a Tabela FIPE. As alíquotas dependem da legislação estadual, mas a Constituição prevê que o Senado Federal fixará a alíquota mínima (diferentemente do ITCMD, em que o SF fixou o máximo). O objetivo do constituinte é minimizar os efeitos da guerra fiscal, já que o Estado que cobra mais barato atrai o registro dos carros. Apesar de ser bom para o contribuinte, é ruim para o equilíbrio federativo. Tal resolução do SF, porém, ainda não existe. As alíquotas do IPVA podem ser diferentes de acordo com o tipo e utilização do veículo.Nesse caso, o IPVA passa a ser extrafiscal. CF, Art. 155. (...) § 6º O imposto previsto no inciso III: I - terá alíquotas mínimas fixadas pelo Senado Federal; II - poderá ter alíquotas diferenciadas em função do tipo e utilização. O contribuinte é o proprietário na data da ocorrência do FG, em 1º de janeiro de cada ano. De acordo com o art. 134 do CTB, sem a comunicação de venda do veículo ao órgão de trânsito, o antigo proprietário é responsável solidário por eventuais infrações de trânsito cometidas posteriormente. Esse dispositivo não se aplica em matéria tributária, de modo que o antigo proprietário não responde solidariamente com o adquirente pelo IPVA inadimplido após a alienação, mesmo deixando de comunicá-lo. No que tange ao IPVA inadimplido antes da alienação, contudo, há responsabilidade tributária, pois o antigo proprietário permanece sendo contribuinte, e o adquirente passa a ser responsável tributário. Súmula 585 do STJ: A responsabilidade solidária do ex-proprietário, prevista no art. 134 do Código de Trânsito Brasileiro – CTB, não abrange o IPVA incidente sobre o veículo automotor, no que se refere ao período posterior à sua alienação. ANTERIORIDADE NO IPVA: CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 25 de 73 Base de cálculo -> só observa a anterioridade do exercício financeiro (art. 150, III, “b”, e §1º, parte final, da CRFB/88). Logo, o valor da Tabela FIPE pode ser aumentado nos últimos 90 dias do ano anterior. Alíquota -> observa a anterioridade do exercício financeiro e a nonagesimal (art. 150, III, “b” e “c”, da CRFB/88). Desse modo, não pode ser majorada no mesmo ano da cobrança, nem nos 90 dias anteriores. IMPOSTO SOBRE PROPRIEDADE PREDIAL E TERRITORIAL URBANA IPTU COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA: Município e Distrito Federal, local de situação do bem imóvel. CRFB/88, Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: I - propriedade predial e territorial urbana; § 1º Sem prejuízo da progressividade no tempo a que se refere o art. 182, § 4º, inciso II, o imposto previsto no inciso I poderá: I - ser progressivo em razão do valor do imóvel; e II - ter alíquotas diferentes de acordo com a localização e o uso do imóvel. § 1º-A O imposto previsto no inciso I do caput deste artigo não incide sobre templos de qualquer culto, ainda que as entidades abrangidas pela imunidade de que trata a alínea "b" do inciso VI do caput do art. 150 desta Constituição sejam apenas locatárias do bem imóvel. CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 26 de 73 CARACTERÍSTICAS: Imposto fiscal (salvo quando se valer da progressividade - art. 156, §1º, I e art. 182, §4º, II, da CRFB/88), direto, real, incide sobre a propriedade, não vinculado, complexivo ou continuado, lançamento de ofício. O repasse do IPTU para o locatário não o transforma em imposto indireto, pois, nos termos do art. 126 do CTN, as convenções particulares, no caso, o contrato de locação, não altera o sujeito passivo da obrigação tributária. Perante o fisco, o locador permanece sendo o contribuinte. A repercussão que ocorre no contrato de locação é meramente econômica, e não jurídico-normativa. Súmula 397 do STJ- O contribuinte do IPTU é notificado do lançamento pelo envio do carnê ao seu endereço. CRITÉRIO DE INCIDÊNCIA IPTU X ITR: Prevalece o critério da localização, com exceção apenas do que dispõe o art. 15 do DL nº 57/66. Regra: critério de localização Área urbana, conforme lei de zoneamento urbano do município IPTU Área rural, conforme lei de zoneamento urbano do município ITR Exceção: critério da destinação - art. 15 do DL 57 Imóvel localizado em área urbana, mas com destinação rural ITR OBS: A Lei nº 5.868/72 tentou estender o critério da destinação para todos os casos, porém o STF a julgou inconstitucional. ÁREA URBANA: De acordo com o art. 32, §1º, do CTN, para que a lei municipal considere determinada localidade como urbana, ela deve conter pelo menos dois dos seguintes melhoramentos, mantidos pelo Poder Público: meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais; abastecimento de água; sistema de esgotos sanitários; rede de iluminação pública, com ou CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 27 de 73 sem posteamento para distribuição domiciliar; escola primária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3 (três) quilômetros do imóvel considerado. Área urbanizável ou de expansão urbana (art. 32, §2º, CTN) - A lei municipal pode considerar urbanas as áreas urbanizáveis, ou de expansão urbana, constantes de loteamentos aprovados pelos órgãos competentes, destinados à habitação, à indústria ou ao comércio, mesmo que localizados fora das zonas definidas nos termos do parágrafo anterior. Súmula 626 do STJ - “A incidência do IPTU sobre imóvel situado em área considerada pela lei local como urbanizável ou de expansão urbana não está condicionada à existência dos melhoramentos elencados no CTN, art. 32, § 1º”. SUJEITO PASSIVO: É contribuinte do IPTU o proprietário, o titular de domínio útil ou o possuidor de bem imóvel por natureza ou por acessão física, nos termos do art. 32 do CTN. A posse deve ser com animus domini. Por isso, o locatário ou comodatário, por exemplo, não é sujeito passivo do IPTU. Cuidado com a interpretação da Súmula 399 do STJ! Por legislação, leia-se “lei tributária”, a qual deve observar os conceitos de propriedade, domínio útil e posse com animus domini do Direito Civil, por força dos arts. 109 e 110 do CTN. Súmula 399 do STJ- Cabe à legislação municipal estabelecer o sujeito passivo do IPTU. O superficiário (titular do direito de superfície) é contribuinte de IPTU? Há uma polêmica, pois o locatário é um titular da posse direta, não tem animus domini e celebra um contrato de Direito Civil. Já o direito de superfície assume uma particularidade mais estável: a natureza jurídica do direito de superfície é de direito real. Há uma estabilidade maior do que meramente um contrato de locação. O art. 21, §3º, do Estatuto das Cidades (Lei nº 10.257/2001) diz que: § 3o O superficiário responderá integralmente pelos encargos e tributos que incidirem sobre a propriedade superficiária, arcando, ainda, proporcionalmente à sua parcela de ocupação efetiva, com os encargos e tributos sobre a área objeto da concessão do direito de superfície, salvo disposição em contrário do contrato respectivo. A polêmica nasce porque o Estatuto da Cidade não é uma lei tributária, de modo que não pode instituir tributos. Na posição do professor, o direito de superfície, em razão da estabilidade que o direito real possui e suas características, preenche o art. 34 do CTN e é a posição que vem sendo adotada de maneira majoritária nas bancas de concurso. CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 28 de 73 OBS: Sub-rogação débito tributário CTN, Art. 130. Os créditos tributários relativos a impostos cujo fato gerador seja a propriedade, o domínio útil ou a posse de bens imóveis, e bem assim os relativos a taxas pela prestação de serviços referentes a tais bens, ou a contribuições de melhoria, subrogam-se na pessoa dos respectivos adquirentes, salvo quando conste do título a prova de sua quitação. Parágrafo único - No caso de arrematação em hasta pública, a sub-rogação ocorre sobre o respectivo preço. Os adquirentes poderão ser responsáveis tributários pelo IPTU não adimplido antes da transferência da propriedade. No caso de arrematação em hasta pública, contudo, o débito tributário se sub-roga sobre o preço. Parte do lance dado será para quitação dos tributos. Quem adquire a propriedade em hasta pública, adquire livre e desembaraçada. ELEMENTO TEMPORAL: Em regra, as leis municipais estabelecem, por ficção jurídica,a incidência do IPTU em 1º de janeiro de cada ano. Da mesma forma que acontece com o IPVA, seu elemento temporal é uma ficção jurídica. A justificativa é que quanto mais rápido a Fazenda lançar o tributo, mais rápido irá receber, pois é por lançamento de ofício. ELEMENTO QUANTITATIVO: A base de cálculo é o valor venal do imóvel constante da planta genérica de valores, conforme art. 33 do CTN. OBS: A mera atualização monetária da base de cálculo não é uma majoração. Logo, não precisa de lei nem precisa respeitar a anterioridade. Entretanto, há uma pegadinha: na maioria dos municípios brasileiros, a PGV (que estabelece o valor venal do imóvel), é estabelecida por lei. Desse modo, para atualizar a base de cálculo dela teria que ser através de outra lei. CTN, Art. 97. Somente a lei pode estabelecer: (...) II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; (...) § 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste artigo, a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo. SÚMULA 160 do STJ - E DEFESO, AO MUNICIPIO, ATUALIZAR O IPTU, MEDIANTE DECRETO, EM PERCENTUAL SUPERIOR AO INDICE OFICIAL DE CORREÇÃO MONETARIA. Alíquota- Existem dois tipos de alíquota possíveis: progressiva e diferenciada. Progressiva: Quando a alíquota é progressiva, o IPTU assume natureza extrafiscal. CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 29 de 73 Progressividade em razão do descumprimento da função social da propriedade urbana (art. 182, §4º, II da CRFB/88) -> é considerada pela doutrina como progressividade sanção. Somente é aplicada quando houver a comprovação do descumprimento da função social da propriedade URBANA. É possível admitir, inclusive, a desapropriação do imóvel (arts. 7 e 8 da Lei nº 10.557). CRFB/88, Art. 182 (...) § 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: (...) II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; Progressividade em razão do valor do imóvel (art. 156 §1º, I da CRFB/88) -> não é da redação originária da Constituição, foi incluída pela EC nº 29/2000. É chamada de progressividade fiscal. A doutrina critica, pois acredita que tem um nítido caráter social e de punição àqueles que possuem imóvel de maior valor. A tributação social não pode ter caráter sanção. Entretanto, o STF reconhece como válido. A progressividade só é constitucional se a lei municipal for posterior à EC 29. CRFB/88, Art. 156. (...) § 1º Sem prejuízo da progressividade no tempo a que se refere o art. 182, § 4º, inciso II, o imposto previsto no inciso I poderá: I - ser progressivo em razão do valor do imóvel; e Súmula 668 do STF - É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da Emenda Constitucional 29/2000, alíquotas progressivas para o IPTU, salvo se destinada a assegurar o cumprimento da função social da propriedade urbana. Diferenciada -> As alíquotas do IPTU poderão ser diferenciadas em razão da localização do imóvel. Alíquotas diferenciadas não são sinônimo de progressividade. Aqui, a lei municipal pode estabelecer uma alíquota X para um imóvel residencial e uma alíquota Y para um imóvel comercial, por exemplo. CRFB/88, Art. 156. (...) § 1º Sem prejuízo da progressividade no tempo a que se refere o art. 182, § 4º, inciso II, o imposto previsto no inciso I poderá: (...) II - ter alíquotas diferentes de acordo com a localização e o uso do imóvel. IMUNIDADE DAS IGREJAS LOCATÁRIAS: A EC nº 116/2022 ampliou a imunidade das igrejas em relação ao IPTU. Antes, a imunidade só se verificava quanto aos imóveis de propriedade das igrejas. Caso locados, o aluguel deveria ser aplicado no desenvolvimento de sua atividade (art. 150, VI, “b”, CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 30 de 73 da CF c/c Súmula Vinculante 52). Agora, a imunidade as alcança também enquanto locatárias dos imóveis de outros. CRFB/88, Art. 156 (...) § 1º-A O imposto previsto no inciso I do caput deste artigo não incide sobre templos de qualquer culto, ainda que as entidades abrangidas pela imunidade de que trata a alínea "b" do inciso VI do caput do art. 150 desta Constituição sejam apenas locatárias do bem imóvel. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 116, de 2022) Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: VI - instituir impostos sobre: (...) b) templos de qualquer culto; Súmula vinculante 52- Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, "c", da Constituição Federal, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais entidades foram constituídas. _________________________ Aula 01/04/2022 - Prof. Camilo Fernandes IMPOSTO SOBRE A TRANSMISSÃO DE BENS IMÓVEIS POR ATO ONEROSO INTER VIVOS ITBI COMPETÊNCIA: Munícipio (ou Distrito Federal*) da situação do bem. *Ao DF cabem tanto os impostos estaduais quanto municipais. CF, Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: (...) II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição; (...) § 2º O imposto previsto no inciso II: (...) II - compete ao Município da situação do bem. CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 31 de 73 CF, Art. 147. Competem à União, em Território Federal, os impostos estaduais e, se o Território não for dividido em Municípios, cumulativamente, os impostos municipais; ao Distrito Federal cabem os impostos municipais. O ITBI não é exceção ao princípio da legalidade, nem da anterioridade, nem da anterioridade nonagesimal. ITCMD X ITBI: O ITCMD incide sobre a transferência de quaisquer bens e/ou direitos, por ato gratuito ou em razão da morte. Já o ITBI incide sobre a transferência apenas de bens imóveis, por ato oneroso e inter vivos. FATO GERADOR: O fato gerador do ITBI é a transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso (se gratuito sofre a incidência do ITCMD, estadual), de bens imóveis por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis. O fato gerador ocorre no momento do registro (averbação) da compra e venda na matrícula do imóvel junto ao cartório do RGI, e não no momento de celebração da escritura no cartório de títulos e documentos, apesar de, na prática, exigir-se a guia do ITBI paga para sua feitura. STF Agravo Regimental no Agravo de Instrumento 603309 - A celebração de contrato de compromisso de compra e venda não gera obrigação ao pagamento do ITBI. CLASSIFICAÇÃO: Imposto direto - ônus recai diretamente sobre o sujeito passivo, não sendo possível (por lei) a repercussão econômica. Imposto que incide sobre patrimônio e renda (classificação do CTN). Imposto real - incide sobre a coisa. Não se leva em conta nenhum elemento subjetivo. INEXISTÊNCIA DE NORMAS GERAIS: Em regra, a instituição de um imposto observa a seguinte: Constituição lei complementar lei ordinária. De acordo com o art. 146, III, “a”, da CRFB/88, cabe à lei complementar estabelecer normas gerais em matéria de definição de tributos e de suas espécies. Ocorre que até a Constituição de 1988, o ITD(CM) e o ITBI (municipal) estavam reunidos num único imposto, de competência dos Estados, e regulados pelo art.35 do CTN. Por isso não há qualquer menção a esse impostono CTN, que é de 1966 e foi recepcionado com status de lei complementar. Também não há LC nacional sobre o ITBI. CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 32 de 73 Todavia, tal fato não impede que os Municípios instituam o ITBI, por força do que dispõe o art. 34, §3º, do ADCT. ADCT, Art. 34. (...) § 3º Promulgada a Constituição, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão editar as leis necessárias à aplicação do sistema tributário nacional nela previsto. IMUNIDADE: Hipóteses constitucionais de não incidência do ITBI - 1) transferência de bens imóveis para integralização de capital social; 2) transferência de bens imóveis no contexto de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo se a atividade preponderante do adquirente for a compra e venda, locação ou arrendamento mercantil de imóveis; 3) transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária. CF, Art. 156 (...) § 2º O imposto previsto no inciso II: I - não incide sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao patrimônio de pessoa jurídica em realização de capital, nem sobre a transmissão de bens ou direitos decorrente de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo se, nesses casos, a atividade preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens ou direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil; Objetivo de incentivar o empreendedorismo. CF, Art. 184. (...) § 5º São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária. STF Tema 796 da Repercussão Geral: “A imunidade em relação ao ITBI, prevista no inciso I do § 2 º do art. 156 da Constituição Federal, não alcança o valor dos bens que exceder o limite do capital social a ser integralizado" (RE 796376 Relator(a) MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 05 08 2020 PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL MÉRITO DJe 210 DIVULG 24 08 2020 PUBLIC 25 08 2020) Problema: Muitas pessoas criam sociedades para dissimular uma compra e venda de imóvel de alto valor, driblando o fisco, isto é, evitando o pagamento de ITBI. O vendedor integraliza o capital social com o imóvel, e o comprador com o preço em dinheiro. Logo após, a sociedade é desfeita, cabendo ao vendedor o dinheiro e ao comprador o imóvel. É fraude? O STF tem entendido que não. Contudo, Para impedir essa “engenharia tributária”, a Lei Municipal 5.740/14 que alterou a Lei 1.364/88 trazendo a disciplina do ITBI no âmbito do Município do Rio de Janeiro, inseriu o art 6 º A, com a seguinte redação: Art 6 º A O imposto incide nos casos de extinção de pessoa jurídica ou de desincorporação do patrimônio de pessoa jurídica quando o imóvel for transmitido a pessoa distinta daquela que o integralizou ao capital social. CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 33 de 73 Com isso, a estratégia será frustrada e o imposto deverá ser pago, caso no momento da extinção da pessoa jurídica criada o imóvel seja destinado à parte que integralizou o capital social em dinheiro e o dinheiro seja destinado àquele que transferiu o imóvel para o capital social da empresa. BASE DE CÁLCULO: Valor venal dos bens imóveis transmitidos ou dos direitos reais cedidos (art. 38 do CTN). Valor real da operação. STJ- REsp 1937821- Tema Repetitivo 1113: a) a base de cálculo do ITBI é o valor do imóvel transmitido em condições normais de mercado, não estando vinculada à base de cálculo do IPTU, que nem sequer pode ser utilizada como piso de tributação; b) o valor da transação declarado pelo contribuinte goza da presunção de que é condizente com o valor de mercado, que somente pode ser afastada pelo fisco mediante a regular instauração de processo administrativo próprio (art 148 do CTN); c) o Município não pode arbitrar previamente a base de cálculo do ITBI com respaldo em valor de referência por ele estabelecido unilateralmente. Partilha de bens no divórcio: Havendo meação perfeita, na regularização dos bens após a partilha em decorrência do divórcio não incide tributo. Havendo excesso de meação (divisão desigual): 1) se o cônjuge não paga ao outro pelo excesso, há doação, incide o ITCMD; 2) se o cônjuge paga ao outro pelo excesso, há transmissão onerosa, incide ITBI. A base de cálculo, em todo caso, é o excesso da meação. SÚMULA Nº. 66 TJRJ: “Em partilha de bens decorrente da separação consensual, em que haja diferença de quinhões sem indício de reposição, compensação pecuniária ou qualquer onerosidade, incidirá o imposto estadual de transmissão sobre doações.” Referência: Uniformização de Jurisprudência nº. 2002.018.00003 no Agravo de Instrumento nº. 2001.002.10823. Julgamento em 18/11/2002. Relator: Desembargador Jorge Uchoa. Votação por unanimidade. Registro do Acórdão em 14/07/2003. Também é o entendimento do STJ. ALÍQUOTA: Definida em lei municipal. SÚMULA 656 do STF- É INCONSTITUCIONAL A LEI QUE ESTABELECE ALÍQUOTAS PROGRESSIVAS PARA O IMPOSTO DE TRANSMISSÃO "INTER VIVOS" DE BENS IMÓVEIS - ITBI COM BASE NO VALOR VENAL DO IMÓVEL. O entendimento do STF baseia-se no fato de não haver autorização expressa da Constituição para aplicação da progressividade ao ITBI. Contudo, isso pode mudar, pois, quanto ao ITCMD, em relação ao qual o STF tinha a mesma posição, o Tribunal passou a entender que o princípio da capacidade contributiva autoriza, genericamente, a progressividade. SUJEITO PASSIVO: Pode ser o alienante ou o adquirente (qualquer das partes da operação), a depender do que a lei do município definir. Normalmente, é o adquirente. Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza CADERNO DE DIREITO TRIBUTÁRIO CPIII C 2022.1 PAULA LADEIRA VIDAL Página 34 de 73 ISS ou ISSQN COMPETÊNCIA: Municípios e Distrito Federal. CF, Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar (LC 116/03). (...) § 3º Em relação ao imposto previsto no inciso III do caput deste artigo, cabe à lei complementar: I - fixar as suas alíquotas máximas e mínimas; II - excluir da sua incidência exportações de serviços para o exterior. Não é imunidade, porque o constituinte delegou à LC. Trata-se de isenção. O constituinte acabou criando hipótese suis generis, pois não há reserva de LC para isenção, ou seja, normalmente é concedida por lei ordinária. Vide art. 2º da LC 116/03. III - regular a forma e as condições como isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e revogados. CLASSIFICAÇÃO: Imposto que incide sobre a produção e a circulação (classificação do CTN). Imposto direto ou indireto? A relevância dessa classificação está na aplicação ou não do art. 166 do CTN, que exige autorização do contribuinte de fato para a repetição de indébito nos tributos indiretos: CTN, Art. 166. A restituição de tributos que comportem, por sua natureza, transferência do respectivo encargo financeiro somente será feita a quem prove haver assumido o referido encargo, ou, no caso de tê-lo transferido a terceiro, estar por este expressamente autorizado a recebê-la. Conforme a jurisprudência do STJ, o ISS pode ser direto ou indireto, a depender do caso concreto. Deve ser analisado se a maneira como o serviço e/ou o imposto foi cobrado, deu possibilidade ou não do repasse do encargo financeiro. TRIBUTO INDIRETO: (...) 2 A Primeira Seção do STJ, ao julgar o REsp 1 131 476 / mediante o rito dos recursos repetitivos, consolidou o entendimento de que a pretensão repetitória de valores indevidamente recolhidos a título de ISS incidente sobre a locação de bens móveis, hipótese em que o tributo assume natureza indireta, reclama da parte autora a prova da não repercussão, ou, na hipótese de ter esta transferido
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