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EMERJ – CP III Direito Tributário III Tema I Tributos e Impostos. Tributos: 1. Conceito; 2. Espécies; 3. Classificação. Natureza jurídica; 4. Denominação; 5. Características, Impostos: 1. Imposto. Conceito. Espécies; 2. Classificação dos impostos: diretos e indiretos, reais e pessoais; 3. Outras classificações. Questões controvertidas. Jurisprudência. Doutrina. Notas de Aula1 1. Tributos e impostos O sistema tributário nacional se estruturou, na década de 1960, com inspiração na obra de Aliomar Baleeiro. A concepção deste autor sobre a atividade financeira do Estado foi o que lançou bases para a construção do direito financeiro, orçamentário e tributário. A bem conhecida dinâmica da atividade financeira do Estado prevê que os recursos são colhidos dos administrados para que o Estado devolva-os comutados em serviços e bens de interesse público. O Estado não se dedica a dar lucro, mesmo que o possa alcançar, eventualmente – quando então deverá reinserir este superávit no interesse social. A necessidade pública é conceito não jurídico, mas sim político. É o governo que elege suas políticas, definindo quais são as premências no atendimento à coletividade. E estas definições são, em breve síntese, traçadas na lei orçamentária anual, a tributação sendo apenas um dos tantos instrumentos de custeio da atividade financeira do Estado – o mais significativo, de fato, mas não o único. A tributação, então, nada mais é do que a imposição de prestação devida pelo administrado ao Estado, prestação que é o gênero tributo. O conceito de tributo é delineado no artigo 3º do CTN: “Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.” O tributo é prestação pecuniária, o que significa que é medido em dinheiro, ou em alguma prestação que possa se traduzir em dinheiro, a ser revertido em favor do Estado. E a atividade financeira do Estado é o deslocamento de recursos, a movimentação de erário. Repare que nada impede que a extinção do crédito tributário, por recebimento deste, seja feita por outra modalidade, que não o pagamento em dinheiro; pode, por exemplo, ser adimplido o crédito tributário por meio de dação em pagamento, ou outras tantas modalidades, como estabelece o próprio artigo 156 do CTN: “Art. 156. Extinguem o crédito tributário: I - o pagamento; II - a compensação; III - a transação; IV - remissão; V - a prescrição e a decadência; VI - a conversão de depósito em renda; VII - o pagamento antecipado e a homologação do lançamento nos termos do disposto no artigo 150 e seus §§ 1º e 4º; 1 Aula ministrada pelo professor Rodrigo Jacobina Botelho, em 8/6/2009. Michell Nunes Midlej Maron 1 EMERJ – CP III Direito Tributário III VIII - a consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2º do artigo 164; IX - a decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na órbita administrativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória; X - a decisão judicial passada em julgado. XI – a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei. (Incluído pela Lcp nº 104, de 10.1.2001) Parágrafo único. A lei disporá quanto aos efeitos da extinção total ou parcial do crédito sobre a ulterior verificação da irregularidade da sua constituição, observado o disposto nos artigos 144 e 149.” Até mesmo a transação em matéria tributária é hoje admitida, conforme estabelece a recentíssima Lei 11.941/09, que no seu artigo 3º alterou os artigos sobre o tema, na Lei 9.469/97: “Art. 1º O Advogado-Geral da União, diretamente ou mediante delegação, e os dirigentes máximos das empresas públicas federais poderão autorizar a realização de acordos ou transações, em juízo, para terminar o litígio, nas causas de valor até R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais). (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009) § 1o Quando a causa envolver valores superiores ao limite fixado neste artigo, o acordo ou a transação, sob pena de nulidade, dependerá de prévia e expressa autorização do Advogado-Geral da União e do Ministro de Estado ou do titular da Secretaria da Presidência da República a cuja área de competência estiver afeto o assunto, ou ainda do Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, de Tribunal ou Conselho, ou do Procurador-Geral da República, no caso de interesse dos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, ou do Ministério Público da União, excluídas as empresas públicas federais não dependentes, que necessitarão apenas de prévia e expressa autorização de seu dirigente máximo. (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009) § 2º Não se aplica o disposto neste artigo às causas relativas ao patrimônio imobiliário da União. § 3º As competências previstas neste artigo podem ser delegadas. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)” “Art. 1º-A. O Advogado-Geral da União poderá dispensar a inscrição de crédito, autorizar o não ajuizamento de ações e a não-interposição de recursos, assim como o requerimento de extinção das ações em curso ou de desistência dos respectivos recursos judiciais, para cobrança de créditos da União e das autarquias e fundações públicas federais, observados os critérios de custos de administração e cobrança. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica à Dívida Ativa da União e aos processos em que a União seja autora, ré, assistente ou opoente cuja representação judicial seja atribuída à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)” “Art. 1º-B. Os dirigentes máximos das empresas públicas federais poderão autorizar a não-propositura de ações e a não-interposicão de recursos, assim como o requerimento de extinção das ações em curso ou de desistência dos respectivos recursos judiciais, para cobrança de créditos, atualizados, de valor igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais), em que interessadas essas entidades na qualidade de autoras, rés, assistentes ou opoentes, nas condições aqui estabelecidas. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) Parágrafo único. Quando a causa envolver valores superiores ao limite fixado neste artigo, o disposto no caput, sob pena de nulidade, dependerá de prévia e expressa autorização do Ministro de Estado ou do titular da Secretaria da Presidência da República a cuja área de competência estiver afeto o assunto, Michell Nunes Midlej Maron 2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp104.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm#art31 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm#art31 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm#art31 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm#art31 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm#art31 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm#art31 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm#art31 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm#art31 EMERJ – CP III Direito Tributário III excluído o caso das empresas públicas não dependentes que necessitarão apenas de prévia e expressa autorização de seu dirigente máximo. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)” “Art. 1º-C. Verificada a prescrição do crédito, o representante judicial da União, das autarquias e fundações públicas federais não efetivará a inscrição em dívida ativa dos créditos, não procederá ao ajuizamento, não recorrerá e desistirá dos recursos já interpostos. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)” “Art. 2º O Procurador-Geral da União, o Procurador-Geral Federal e os dirigentes máximosdas empresas públicas federais e do Banco Central do Brasil poderão autorizar a realização de acordos, homologáveis pelo Juízo, nos autos do processo judicial, para o pagamento de débitos de valores não superiores a R$ 100.000,00 (cem mil reais), em parcelas mensais e sucessivas até o máximo de 30 (trinta). (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009) § 1º O valor de cada prestação mensal, por ocasião do pagamento, será acrescido de juros equivalentes à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia – SELIC para títulos federais, acumulada mensalmente, calculados a partir do mês subsequente ao da consolidação até o mês anterior ao do pagamento, e de 1% (um por cento) relativamente ao mês em que o pagamento estiver sendo efetuado. (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009) § 2º Inadimplida qualquer parcela, pelo prazo de trinta dias, instaura-se-á o processo de execução ou nele prosseguir-se-á, pelo saldo.” “Art. 3º As autoridades indicadas no caput do art. 1º poderão concorda com pedido de desistência da ação, nas causas de quaisquer valores desde que o autor renuncie expressamente ao direito sobre que se funda a ação (art. 269, inciso V, do Código de Processo Civil). Parágrafo único. Quando a desistência de que trata este artigo decorrer de prévio requerimento do autor dirigido à administração pública federal para apreciação de pedido administrativo com o mesmo objeto da ação, esta não poderá negar o seu deferimento exclusivamente em razão da renúncia prevista no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)” “Art. 4º Não havendo Súmula da Advocacia-Geral da União (arts. 4º, inciso XII, e 43, da Lei Complementar nº 73, de 1993), o Advogado-Geral da União poderá dispensar a propositura de ações ou a interposição de recursos judiciais quando a controvérsia jurídica estiver sendo iterativamente decidida pelo Supremo Tribunal Federal ou pelos Tribunais Superiores.” O pagamento do tributo, como se vê no conceito legal, é compulsório, o que o categoriza como dever público, dever fundamental. Ao dizer que o tributo não é sanção por ato ilícito, o CTN quis deixar claramente apartada a natureza do tributo da natureza das penalidades. Tributo não é pena. A penalidade deriva de necessidade de coação estatal por algum motivo, e o tributo não pode ser tido por medida de coação sobre o contribuinte jamais – nem utilizado com este fim, sequer acidentalmente. É por esta nota característica que há casos em que a retenção de mercadorias, com o intuito de coibir ao pagamento de tributos sobre elas incidentes, é uma medida indevida (a apreensão de um caminhão em estrada, por irregularidade de recolhimento do ICMS, por exemplo). Em sendo esta a situação, o contribuinte terá seu direito amparado, por meio de mandado de segurança, se a retenção for unicamente embasada por falta de recolhimento de tributo (e não criminal). A multa, que é penalidade, esta sim pode se prestar a esta coação, pois é esta mesmo a sua função. Michell Nunes Midlej Maron 3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm#art31 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm#art31 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm#art31 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm#art31 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm#art31 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm#art31 EMERJ – CP III Direito Tributário III O tributo não pode ser cobrado senão na forma absolutamente expressa na lei. A legalidade administrativa, como se sabe, é absolutamente estrita. O conceito do tributo exige que o devido procedimento, traçado na lei, seja observado para fins de sua cobrança. A atuação do administrador deve ser adstrita à lei. Por assim ser é que se entende que o princípio da legalidade tributária é um princípio vazio, se não vier acompanhado da tipicidade tributária, que operacionaliza, de fato, a legalidade, dando conteúdo a esta descrição legal. E esta tipicidade vem sendo considerada um princípio implícito da CRFB, para a seara administrava em geral. 1.1. Espécies O artigo 5º do CTN traz a previsão legal para as espécies do gênero tributo: “Art. 5º Os tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria.” Em que pese este dispositivo ser sede da teoria tripartite dos tributos, esta teoria está longe de ser de pacífica adoção, mesmo que a CRFB aparentemente a reforce, em primeira análise. A divisão tripartite, na CRFB, porém, é verdadeiramente apenas aparente, pois uma análise um pouco mais profunda revela, facilmente, a presença de outras espécies tributárias, pois que não enquadráveis em qualquer das três explicitamente contempladas. Por isso, surgiu logo uma outra teoria, quadripartite, que aduziu a modalidade contribuições especiais, quarta espécie tributária, que açambarcaria todas as contribuições diversas das de melhoria. Adiante, uma terceira teoria, definiu ainda melhor a divisão, em espécies, dos tributos: além das taxas, impostos e contribuições de melhoria, há ainda as contribuições de intervenção no domínio econômico, contribuições de interesse das categorias profissionais, contribuições sociais, e os empréstimos compulsórios. É a atualíssima teoria heptapartite. Os empréstimos compulsórios são bastante peculiares. Nada mais é, este tributo, do que um valor arrecadado pelo Estado, com a só diferença de ser colhido com a promessa de sua restituição adiante. Contribuições de melhoria são os tributos cobrados em razão de acréscimo de valor a determinado imóvel privado, em decorrência da realização de uma obra pública. A lógica deste tributo é que, se o erário público deve reverter em utilidades públicas, se o particular teve uma utilidade maior daquele emprego do erário, é justo que retribua ao Estado alguma parcela da benesse que recebeu. As contribuições de intervenção no domínio econômico – doravante chamadas CIDE – são instrumentos de que dispõe o Estado para regular o meio econômico, a dinâmica de mercado, quando necessário. Há, hoje, diversas contribuições de intervenção estabelecidas e em vigência, muito pouco conhecidas, como a CIDE sobre exibição de filmes estrangeiros, dedicada a amealhar fundos para a produção de obras nacionais, ou a própria CIDE dos combustíveis. As contribuições de interesse das categorias profissionais, por seu turno, são aquelas que revertem para o custeio das entidades profissionais, de classe, que têm natureza híbrida. As contribuições sociais têm enorme relevância no sistema tributário brasileiro, atualmente. Serão mais bem abordadas adiante. Michell Nunes Midlej Maron 4 EMERJ – CP III Direito Tributário III Mas são mesmo as taxas e os impostos as espécies tributárias mais relevantes, em todos os sentidos (didático e econômico). Cada modalidade será exaustivamente estudada, adiante. 1.2. Tributos vinculados e não vinculados Há uma classificação qualitativa de tributos que os divide em vinculados e não vinculados. Tributos vinculados são aqueles que têm sua receita afetada a finalidades específicas do Estado, ou seja, a receita proveniente daquele crédito tributário está ligada a uma despesa específica. Ao contrário, os tributos não vinculados não têm destinação previamente especificada da sua receita, ou seja, o crédito dali proveniente integra livremente o patrimônio do Estado, que o empregará como o bem comum demandar. Esta classificação é também denominada, por alguns autores, em tributos contraprestacionais, que são os vinculados, e não contraprestacional, os não vinculados. As taxas são tributos contraprestacionais, vinculados, por excelência, e os impostos são não vinculados, por natureza. Flávio Novelli defende que, do ponto de vista financeiro,e não estritamente tributário, não há tributo que não seja contraprestacional, pois o Estado deve sempre empregar todas as suas receitas em bem estar social e políticas públicas, não sendo o tributo uma fonte de lucros. Mas esta perspectiva, financeira, não chega a abalroar a classificação tributária, que persiste firme. 1.3. Taxa vs . preço público Há certa dificuldade, em alguns casos, em se delimitar exatamente quando uma prestação paga ao Estado é taxa ou preço público. Taxa, em relação às prestações estatais, é espécie de tributo dedicada a remunerar alguma prestação essencial específica do estado, efetiva ou potencialmente usufruída pelo contribuinte; preço público, por sua vez, é a remuneração de serviços não essenciais, não fundamentais, disponibilizados pelo Estado, e que por assim ser não é compulsória, característica imprescindível para a configuração de um tributo. O fornecimento de água é, sem dúvida, o mais discutido dos serviços públicos, quanto à sua remuneração, se por taxa ou preço público. Há tese que entenda que se trata da compra de um bem, da aquisição da água, que poderia ser obtida de outra forma, como a compra de caminhões-pipa – o que identificaria a remuneração como preço público, e não taxa para remuneração do serviço obrigatório prestado pelo Estado. 1.4. Classificação dos impostos Os impostos, como tributos não contraprestacionais, são dedicados a custear o Estado como um todo, e não prestações determinadas. É a fonte de custeio genérica do Estado. Uma primeira classificação divide os impostos em ordinários e extraordinários. Ordinários são os impostos em que há previsão expressa da CRFB para sua constituição, e extraordinários são aqueles de que tem competência a União, visando à solução de Michell Nunes Midlej Maron 5 EMERJ – CP III Direito Tributário III situações excepcionais. O artigo 154, II, da CRFB, contempla os impostos extraordinários expressamente: “Art. 154. A União poderá instituir: (...) II - na iminência ou no caso de guerra externa, impostos extraordinários, compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação.” Os impostos também são classificados em fiscais e extrafiscais. São fiscais os impostos que se prestam essencialmente à arrecadação tributária, ou seja, esta é sua finalidade precípua. Os extrafiscais, por sua vez, assumem funções diversas da simples arrecadação, emprestando ferramentas ao Estado para atuar, por exemplo, no meio econômico, como o faz o imposto de importação. Veja que os impostos extrafiscais ainda promovem a arrecadação, por óbvio, mas a sua finalidade específica é regulatória, e não arrecadatória. Sendo assim, esta classificação se concentra na observação do escopo principal do imposto, porque função fiscal sempre existirá, eis que há arrecadação – só que colateralmente, porém, nos casos de extrafiscalidade. Os impostos são também pessoais ou reais. A diferença fundamental entre um imposto real e um pessoal não é o pólo passivo, que sempre será uma pessoa física ou jurídica, pois se fosse este o ângulo de observação, os impostos seriam sempre pessoais. A diferença está em que, no imposto real, os bens envolvidos na relação são considerados para estruturar o tributo, ou seja, o Estado alveja os bens, enquanto no imposto pessoal a pessoa do sujeito passivo é o principal elemento de estruturação do tributo. Há também a classificação em impostos diretos e indiretos. A doutrina, durante muito tempo, entendeu que esta classificação se delineava entre os impostos em que ocorria ou não o fenômeno da repercussão, respectivamente os diretos e os indiretos. Contudo, esta perspectiva se alterou, a partir da concepção de que esta repercussão não é, de fato, um fenômeno essencialmente tributário, porque ainda que se trate de um tributo dos que se considera diretos, sem repercussão, o formador do preço pode adicionar ao custo do bem o valor do tributo, repassando-o ao adquirente com majoração equivalente ao que ser-lhe-á exigido na tributação, só que com a natureza de preço, pura e simplesmente. Por isso, a classificação do imposto em direto ou indireto vem da análise da lei de regência do tributo: se a norma contemplar expressamente a repercussão como forma de tributação, será indireto; se não há repercussão legalmente expressa, é direto. Veja a tenuidade da diferença: a repercussão ainda é o fator determinante da classificação, mas não é a sua ocorrência fática que assim determina, e sim a sua previsão legal para o imposto sob análise. Faticamente, qualquer imposto pode impor ao adquirente o suporte do tributo, pois basta adicionar o valor matematicamente ao preço – mas isto é uma perspectiva matemática, financeira, e não tributária. Michell Nunes Midlej Maron 6 EMERJ – CP III Direito Tributário III Casos Concretos Questão 1 O Poder Executivo Estadual entendeu ser conveniente fixar, através de Decreto, a incidência de sobretarifa no serviço de fornecimento de água, a ser cobrada pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos. Sua finalidade é incentivar o menor consumo durante o período de escassez, posto que, ultrapassada a cota previamente estabelecida, mais alto será o valor devido. Pergunta-se: a) Qual a natureza da contraprestação pelo fornecimento de água? b) A sobretarifa tem natureza tributária? c) Decreto é meio idôneo para se estabelecer a criação ou majoração do referido adicional? d) Pode ser cobrada tarifa mínima de água? Respostas fundamentadas. Resposta à Questão 1 a) A remuneração tem natureza jurídica de preço público, e não de taxa, escapando à principiologia e normatividade referente aos tributos. b) Tal como a própria tarifa, a sobretarifa não tem natureza tributária, mas sim de preço público. c) Sim, o decreto é meio idôneo, eis que se não se trata de tributo, não há adstrição ao princípio da legalidade tributária estrita, pm meio infralegal ser utilizado para alterar a remuneração. d) Sim, é possível, pois a tarifa mínima de água remunera a infraestrutura do serviço, que está posta à disposição do particular, e demanda despesas de manutenção constantes. Questão 2 Determinada Lei Estadual prevê que a dação em pagamento de bens móveis é forma regular de extinção dos créditos tributários do ente político. O governador do Estado, prevendo queda na arrecadação, ajuíza ADIN perante o STF, sustenta que a dação em pagamento de bens móveis não tem previsão no art. 156 do CTN. Assevera, também, que o tributo é prestação pecuniária, por força do art. 3º do CTN, não podendo ser extinto pela dação de bens no lugar de pecúnia. Analise a questão. Resposta à Questão 2 A extinção por meios diversos da pecúnia é, sim, possível, e é contemplada em diversas modalidades no artigo 156 do CTN. E a falta da previsão da dação em pagamento Michell Nunes Midlej Maron 7 EMERJ – CP III Direito Tributário III de bens móveis, no CTN, não impede que a lei estadual não possa assim prever, pois o rol do artigo 156 do CTN não é exaustivo. O governador está equivocado. Questão 3 Quais os elementos essenciais da instituição do imposto pela norma jurídica tributária? Resposta à Questão 3 O primeiro elemento essencial é o respeito à legalidade: só mediante lei o tributo pode ser criado. Além disso, há que estar presente a tipicidade tributária, como forma de preenchimento do princípio da legalidade: a norma jurídica deve definir com perfeição o fato gerador, a alíquota e a base de cálculo, bem como indicar o sujeito passivo da obrigação tributária. Michell Nunes Midlej Maron 8 EMERJ – CP III Direito Tributário III Tema II Impostos Estaduais I ICMS I 1.Histórico; 2.Visão legislativa geral: Constituição da República; L.C. 87/96;lei ordinária, convênios, ajustes SINIEF, regulamentos, atos normativos e resolução do Senado Federal; 3. Guerra Fiscal: ataque ao pacto federativo brasileiro; 4. Características básicas: competência; 5. Classificação: indireto, proporcional, real, plurifásico e fim fiscal. Notas de Aula2 1. Imposto sobre circulação de mercadorias e serviços – ICMS O ICMS é o imposto mais importante para a federação brasileira, o que gera uma situação que demanda alta cautela por parte dos intérpretes: nem tudo que é previsto no sistema jurídico do ICMS é o que se passa na praxe de sua tributação. O aspecto político deste tributo supera, freqüentemente, a técnica jurídica que o fundamenta. Este tributo, em sua origem, chamava-se IVC – imposto sobre vendas e consignações. Na Constituição de 1969, o IVC passou a se chamar ICM, imposto sobre circulação de mercadorias. Por fim, com a CRFB, passou a contemplar também os serviços, tornando-se o atual ICMS. Veja que a inclusão de serviços no campo de atenção do tributo é peculiar, como se vê no artigo 155, II, da CRFB: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993) (...) II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993) (...)” São, então, apenas estes serviços de transporte interestadual e intermunicipal, além de comunicação, que se inserem na tributação do ICMS. Assim o é porque estes serviços naturalmente se espraiam por âmbitos geográficos diversos da intramunicipalidade, o que torna mais prática a sua tributação pelos entes estaduais do que pelos municipais, como aconteceria se fossem serviços tributados pelo imposto sobre serviços, o ISS. O arcabouço normativo do ICMS é, em sua ampla maioria, anterior à CRFB. Este tributo, como dito, tem alta relevância para o ordenamento tributário, e os seus efeitos sobre a federação, como um todo, são muito significativos (pelo que poder-se-ia dizer, jocosamente, que é o imposto estadual mais “federal” de todos). Por assim ser, é exigido que uma lei complementar federal trace normas gerais sobre este tributo, como dispõe o ADCT, no artigo 34, § 8º: “Art. 34. O sistema tributário nacional entrará em vigor a partir do primeiro dia do quinto mês seguinte ao da promulgação da Constituição, mantido, até então, o da Constituição de 1967, com a redação dada pela Emenda nº 1, de 1969, e pelas posteriores. (...) 2 Aula ministrada pelo professor Rodrigo Jacobina Botelho, em 8/6/2009. Michell Nunes Midlej Maron 9 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art155 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art155 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art155 EMERJ – CP III Direito Tributário III § 8º - Se, no prazo de sessenta dias contados da promulgação da Constituição, não for editada a lei complementar necessária à instituição do imposto de que trata o art. 155, I, "b", os Estados e o Distrito Federal, mediante convênio celebrado nos termos da Lei Complementar nº 24, de 7 de janeiro de 1975, fixarão normas para regular provisoriamente a matéria. (...)” O primeiro convênio sobre o ICMS, regulamentar provisório da matéria, foi o Convênio 66/88. Muitas críticas e reclamações judiciais surgiram quanto a esta providência regulamentar, pela suposta ofensa à separação de poderes, eis que é ato do Executivo. O STF, instado sobre matéria, à época, posicionou-se pela constitucionalidade do convênio, justamente porque o ADCT trazia esta possibilidade. Contudo, antes da CRFB de 1988, o Decreto-Lei 406/68 tratava da matéria, e o STF entendeu que o Convênio 66/88 deveria se harmonizar com o DL 406/68. Assim, o âmbito de vigência do convênio era: naquilo que o DL silenciasse; ou naquilo que fosse contrário à CRFB, não recepcionado. A norma de transição, este convênio, então, vigeu até a entrada da Lei Complementar 87/96, revogando o Convênio 66/88 e o DL 406/68, que passou a reger o ICMS. Seguindo-se a esta LC 87/96, vieram as leis estaduais regentes regionalmente da matéria, feitas sob os moldes das definições gerais da LC. Cada Estado-Membro tem sua lei estadual de ICMS, e abaixo delas os regulamentos estaduais da matéria, atos infralegais de toda espécie (decretos, resoluções, portarias, etc.). Há uma figura, neste arcabouço normativo fundamental, que já causou muita controvérsia no meio jurídico: os convênios de ICMS, que, à similitude do que já ocorria quando era norma principal o próprio Convênio 66/88, é polêmico. Estes convênios podem desempenhar dois papéis fundamentais: autorizar os Estados a conceder benefícios fiscais; e a definição de padrões formais de ICMS. O primeiro grande escopo, que são os benefícios fiscais, atende à CRFB, que no artigo 155, § 2º, XII, “g”, assim exigiu: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993) (...) II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993) (...) § 2.º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993) (...) XII - cabe à lei complementar: (...) g) regular a forma como, mediante deliberação dos Estados e do Distrito Federal, isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e revogados. (...)” A lei complementar que regula esta forma de conveniarem-se os Estados já existia antes da CRFB, a LC 24/75. Veja o artigo 1º deste diploma: Michell Nunes Midlej Maron 10 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art155%C2%A72 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art155%C2%A72 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art155 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art155 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art155 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp24.htm EMERJ – CP III Direito Tributário III “Art. 1º - As isenções do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias serão concedidas ou revogadas nos termos de convênios celebrados e ratificados pelos Estados e pelo Distrito Federal, segundo esta Lei. Parágrafo único - O disposto neste artigo também se aplica: I - à redução da base de cálculo; II - à devolução total ou parcial, direta ou indireta, condicionada ou não, do tributo, ao contribuinte, a responsável ou a terceiros; III - à concessão de créditos presumidos; IV - à quaisquer outros incentivos ou favores fiscais ou financeiro-fiscais, concedidos com base no Imposto de Circulação de Mercadorias, dos quais resulte redução ou eliminação, direta ou indireta, do respectivo ônus; V - às prorrogações e às extensões das isenções vigentes nesta data.” Estes convênios são discutidos e aprovados na esfera de um organismo denominado Confaz – Conselho de Política Fazendária do Ministério da Fazenda. Este órgão, presidido por agente do Ministério da Fazenda, congrega representantes dos Estados na área de tributação do ICMS, quer sejam os Secretários Estaduais de Fazenda, quer sejam representantes destes. A primeira, e mais relevante, atribuição do Confaz é a discussão e aprovação de convênios relativos aos benefícios fiscais. A necessidade dos convênios é muito clara: evitar a guerra fiscal. É simples: a concessão de benefícios pode representar a captaçãode investimentos para Estados mais abastados, em detrimento de Estados menos afortunados, que não podem renunciar à receita do ICMS. E esta guerra fiscal, como se sabe, é um avilte violento ao pacto federativo, pois representa uma agressão à isonomia horizontal entre os entes estaduais. Veja a dinâmica da reunião no artigo 2º desta LC 24/75: “Art. 2º - Os convênios a que alude o art. 1º, serão celebrados em reuniões para as quais tenham sido convocados representantes de todos os Estados e do Distrito Federal, sob a presidência de representantes do Governo federal. § 1º - As reuniões se realizarão com a presença de representantes da maioria das Unidades da Federação. § 2º - A concessão de benefícios dependerá sempre de decisão unânime dos Estados representados; a sua revogação total ou parcial dependerá de aprovação de quatro quintos, pelo menos, dos representantes presentes. § 3º - Dentro de 10 (dez) dias, contados da data final da reunião a que se refere este artigo, a resolução nela adotada será publicada no Diário Oficial da União.” Repare que a concessão do benefício depende de unânime aprovação pelos representantes presentes, enquanto a revogação pode ser por aprovação de quatro quintos dos presentes. A revogação do benefício, por sua vez, só exige aprovação no convênio porque ela também pode afetar outros Estados, mesmo que indiretamente. Por exemplo, um Estado que se vale do porto de outro Estado para o funcionamento de uma atividade tal, se revoga benefícios desta atividade, diminuindo seu volume, estará prejudicando o fluxo portuário do Estado de entrada. E, mesmo que não tenha relação com a guerra fiscal, esta regra dos quatro quintos para a revogação previne esta influência indireta que pode acontecer. Colhida a autorização no Sefaz, que constará do convênio, o chefe do Executivo estadual que pretende conceder o benefício formulará proposta de lei estadual outorgando aquele benefício. O Legislativo estadual, então, deliberará para aprovar ou não a lei que concederá, efetivamente, o benefício. Da mesma forma, permitida a revogação do benefício Michell Nunes Midlej Maron 11 EMERJ – CP III Direito Tributário III pelo Confaz, o chefe do Executivo proporá a lei revocatória, que se aprovada, extirpará o benefício em questão. O artigo 4º da LC 24/75 é muito importante: “Art. 4º - Dentro do prazo de 15 (quinze) dias contados da publicação dos convênios no Diário Oficial da União, e independentemente de qualquer outra comunicação, o Poder Executivo de cada Unidade da Federação publicará decreto ratificando ou não os convênios celebrados, considerando-se ratificação tácita dos convênios a falta de manifestação no prazo assinalado neste artigo. § 1º - O disposto neste artigo aplica-se também às Unidades da Federação cujos representantes não tenham comparecido à reunião em que hajam sido celebrados os convênios. § 2º - Considerar-se-á rejeitado o convênio que não for expressa ou tacitamente ratificado pelo Poder Executivo de todas as Unidades da Federação ou, nos casos de revogação a que se refere o art. 2º, § 2º, desta Lei, pelo Poder Executivo de, no mínimo, quatro quintos das Unidades da Federação.” Não só não pode haver a ratificação por decreto, eis que a CRFB exige lei para tanto, como se vê no seu artigo 150, § 6º, como inexiste a ratificação tácita a que se refere o caput do artigo supra, que é absolutamente inadmissível na ordem constitucional atual. “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) § 6.º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993) (...)” O artigo 4º da LC 24/75, então, não foi recepcionado pela CRFB, que dispõe a exata dinâmica da concessão do benefício: o convênio é medida autorizativa prévia indispensável, e a lei, stricto sensu, institui ou revoga o benefício. Destarte, o que confere direito público subjetivo ao administrado em obter o benefício é a lei concessiva, e não o convênio, apenas. Se ao Estado aprouver, pode muito bem desistir de editar a lei que implementaria uma isenção que fora aprovada em convênio, sem que isto represente qualquer arbitrariedade. Ao lado dos convênios que versam sobre concessão de benefícios, há também os que tratam da padronização formal do ICMS, como, por exemplo, a padronização de livros fiscais, ou notas fiscais deste imposto, ou mesmo da fórmula eletrônica de fiscalização dos cupons fiscais. Uma vez firmado o convênio de padronização, os Estados são obrigados a implementar as suas diretrizes. Daí surge uma assertiva segura e emblemática: enquanto os convênios sobre concessão de benefícios são autorizativos, os convênios sobre padronizações de obrigações acessórias são impositivos. Há que se abordar, também, os chamados Ajustes Sinief. O Sinief – Sistema Nacional de Informações Econômico-Fiscais –, foi instituído por um convênio do antigo ICM, não numerado, em 1970. O Sinief estabeleceu um código, na verdade um um Michell Nunes Midlej Maron 12 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art150%C2%A76 EMERJ – CP III Direito Tributário III conjunto de códigos que pretendem mapear todas as operações possíveis relativas à circulação de mercadorias: é o CFOP – código fiscal das operações. Esta codificação facilita tremendamente a reunião dos dados do ICMS, a fim de que se possa implementar com maior simplicidade o sistema de créditos e débitos deste imposto, refletindo a não- cumulatividade – assunto que será mais bem abordado adiante. E os ajustes do Sinief, alterações das codificações, são de natureza estatística, não tendo muita relevância jurídica, em verdade. 1.1. Características essenciais do ICMS O ICMS pode ser seletivo, mas não necessariamente o será (ao contrário do IPI). Veja o artigo 155, § 2º, III, da CRFB: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993) (...) II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993) (...) § 2.º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993) (...) I - será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federal; (...) III - poderá ser seletivo, em função da essencialidade das mercadorias e dos serviços; (...)” É também um tributo proporcional, pois só é aumentado conforme aumenta a base de cálculo sobre a qual incide. Trata-se de um imposto indireto, pois a legislação que o rege regula a forma pela qual se dá a transferência do seu ônus financeiro – a famigerada repercussão. O ICMS é também plurifásico, eis que incide em todas as etapas de um ciclo econômico. Mas é também não-cumulativo. Do início da cadeia de produção até o adquirente final da mercadoria, a cada operação, incidirá o ICMS, e isto não significa que se permitirá cumulatividade ao tributo, pelo que se criou um sistema de tributação que desonera as fases subseqüentes do ciclo econômico,implementando a não-cumulatividade. Assim impõe a CRFB, no artigo 155, § 2º, I, acima transcrito. A não-cumulatividade é um remédio para evitar os efeitos nocivos da repercussão tributária no ciclo produtivo, que poderia causar majoração absurda do preço de mercadorias, se fosse admitida a tributação em cascata. Trata-se, também, de um imposto real, que considera mais as coisas envolvidas nas operações imponíveis do que as pessoas envolvidas nestas operações. Por fim, é um imposto fiscal, de natureza eminentemente arrecadatória, e não interventiva. Mesmo quando for seletivo, será fiscal, ainda que ganhe certa extrafiscalidade. Casos Concretos Michell Nunes Midlej Maron 13 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art155%C2%A72 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art155%C2%A72 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art155 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art155 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art155 EMERJ – CP III Direito Tributário III Questão 1 O Estado do Rio de Janeiro edita uma lei desonerando o ICMS relativo a certas operações mercantis, e concedendo crédito em relação a determinadas operações abarcadas pela imunidade, pela isenção e por alíquota zero. Em virtude da medida carioca, o Estado de São Paulo verifica que sua arrecadação diminui em virtude da fuga de contribuintes para o Estado vizinho, motivo pelo qual edita uma lei que contém mais benefícios que a lei carioca. Responda, fundamentadamente: 1 - se as atitudes dos entes estão corretas; 2 - o nomen juris de tal conflito; 3 - os dispositivos constitucionais e legais que se aplicam ao caso. Resposta à Questão 1 1 – Não, estão incorretas. A concessão dos benefícios demanda convênio autorizativo do Confaz. 2 – Trata-se da famigerada guerra fiscal. 3 – O convênio é exigido nos termos do artigo 155, § 2º, XII, “g”, combinado com a LC 24/75. Questão 2 OCEANO CRUZEIROS AGÊNCIA MARÍTIMA E TURISMO foi autuada pelo Fisco Estadual por dívidas fiscais com a Fazenda do Estado do Rio de Janeiro, consubstanciadas em três autos de infração. Por se tratar de débitos oriundos de fatos geradores ocorridos até 30 de junho de 2002, o pagamento do valor atualizado do imposto efetuado integralmente até 29 de novembro de 2002 enseja o desconto de 80% (oitenta por cento), conforme autorização constante na Cláusula primeira, III do Convênio ICMS n° 098 de 20 de agosto de 2002. A empresa, entretanto, não pôde quitar o débito fiscal com o desconto, devido à recusa dos bancos autorizados ao recebimento do ICMS em conceder a redução autorizada pelo Convênio ICMS n° 098/2002.Inconformada por se ver impedida de usufruir do benefício do disposto no convênio autorizativo, a empresa ingressa com mandado de segurança face ao Secretário de Fazenda do Estado do Rio de Janeiro, objetivando que lhe seja concedido o direito ao pagamento das dívidas fiscais com a redução de 80% da multa.Nas informações, a autoridade coatora sustenta ter orientado os bancos autorizados ao recebimento do ICMS a não aceitarem o pagamento com redução de multa, sob o argumento de que o convênio é meramente autorizativo, não vinculando a administração pública. a) Compare o disposto no art. 150, § 6° da CRFB/88 com o art. 4º da Lei Complementar n° 24/75 que dispõe sobre os convênios para a concessão de isenções do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e manifeste o seu entendimento sobre a necessidade ou não de edição de lei local para a aplicação de convênios autorizativos. Michell Nunes Midlej Maron 14 EMERJ – CP III Direito Tributário III b) A autorização veiculada no Convênio para a concessão de remissão acarreta direito subjetivo para o contribuinte? Qual é a condição para que o contribuinte tenha este direito subjetivo assegurado? c) Discorra sobre a distinção entre convênio meramente autorizativo e convênio impositivo. Resposta à Questão 2 a) A comparação dos dispositivos anunciados leva a concluir pela não recepção do artigo 4º da LC 24/75, eis que este dispositivo daria condição à concessão de um benefício fiscal por norma infralegal, sendo que a lei é essencial. b) De forma alguma. O convênio autoriza, e não comanda, a concessão do benefício. A condição para que haja este direito subjetivo é a edição da lei estadual que efetive o benefício. c) Autorizativos são os convênios que amparam o interesse estatal em conceder o benefício fiscal: eles apenas permitem a edição da lei que, esta sim, concederá de fato o benefício. O convênio impositivo, ao contrário, traz uma norma de observância obrigatória pelo Estado-Membro, sem que seja necessária lei para que dê cumprimento ao que prevê. São autorizativos os convênios que permitem concessão de benefícios; e são impositivos os que traçam padronizações sobre obrigações acessórias, como o modelo de livros ou notas fiscais. A respeito, veja a Apelação Cível 2004.001.21026, do TJ/RJ: “APELACAO. DES. ANTONIO SALDANHA PALHEIRO - Julgamento: 15/12/2004 - SEGUNDA CAMARA CIVEL I.C.M.S. REMISSAO DE CREDITO TRIBUTARIO. CONVENIO. AUTORIZACAO. LEI ESPECIFICA. NECESSIDADE. MANDADO DE SEGURANÇA. TRIBUTÁRIO. CONVÊNIO MERAMENTE AUTORIZATIVO QUE POSSIBILITA AOS ESTADOS DISPENSAR O PAGAMENTO DE MULTAS E JUROS RELATIVOS A ICMS. DEPENDÊNCIA DE REGULAMENTAÇÃO POR LEI LOCAL PARA FORMALIZAR A SUA OPERACIONALIDADE NO ÂMBITO DO ESTADO. INCIDÊNCIA DA NORMA DO §6º DO ARTIGO 150 DA CF. AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO A SER AMPARADO PELA VIA ELEITA. NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO.” Tema III Michell Nunes Midlej Maron 15 EMERJ – CP III Direito Tributário III Impostos Estaduais II. ICMS II 1. Princípio da não-cumulatividade e da seletividade; 2. Não-cumulatividade no ICMS; 3. Correção do crédito contábil: divergências doutrinária e jurisprudencial; 4. Direito ou dever de exercitar a não-cumulatividade? 5. Pressupostos para o seu exercício; 6. Outros aspectos. Notas de Aula3 1. Não-cumulatividade do ICMS Como se viu, o ICMS é um imposto plurifásico e indireto, características que, somadas, poderiam gerar um problema grave, qual seja, o acúmulo de tributação, causando impacto econômico praticamente insuportável. Por isso, para anular este efeito cascata, criou-se um mecanismo, baseado no princípio constitucional da não-cumulatividade. Atento ao fato de que cada etapa da dinâmica de circulação dos produtos consiste em um fato gerador, a fim de que a carga incidente não seja por demais excessiva, este princípio da não cumulatividade impõe que seja compensado aquilo que for devido, em cada operação, com o que foi pago na operação anterior, na mesma cadeia. A materialização da não-cumulatividade se dá justamente no sistema de débitos e créditos do tributo. O sistema é operacionalizado em um livro, denominado livro de registro de apuração do ICMS. Neste, há três colunas: uma descreve a operação; outra descreve o crédito; e a terceira descreve o débito. Toda nota fiscal emitida para circulação da mercadoria vendida terá em sua redação um campo destinado a se destacar o valor do ICMS apurado, que comporá o preço final do bem ou serviço comerciado, preço este lançado ao final do documento. O valor do tributo destacado em cada nota fiscal será escriturado no livro de registro, como um débito a ser contabilizado: este registro significa que o vendedor deve ao Estado o valor destacado naquela operação. O comprador daquele bem faturado nesta nota fiscal em questão, que no caso hipotético em análise é participante do meio da cadeia de circulação de tal bem, fará operação inversa em seu livro de registro: tomará aquele valor do tributo destacado (um valor de cem, para efeitode exemplo) e lançará como um crédito de ICMS, no seu livro de registro – afinal, este valor já foi lançado como débito pelo participante anterior da cadeia. Em seguida, este adquirente integrará algo ao bem, e procederá, ele próprio, à venda do bem, emitindo nova nota fiscal. É claro que esta terá um valor maior do que a nota original, que lhe gerou crédito, o que fará com que o ICMS devido por ele seja maior do que o que fora devido por seu antecessor. Ao emitir tal nota, o valor que ele destacará para tributação é o valor integral da operação, que é o preço do bem (valor de duzentos, para dar seqüência ao exemplo), e será lançado este valor como débito em seu livro. Na terceira operação (e última do exemplo), o adquirente compra o bem, lança o crédito que decorreu do débito feito por seu antecessor (duzentos, como se viu), agrega algo ao insumo, e vende-o, desta vez ao consumidor final. A venda terá o valor de ICMS destacado (trezentos, na hipótese), e lançado como débito final. nesta situação criada como exemplo, então, o ICMS efetivamente pago pelo consumidor final é o resultado de todas as compensações, qual seja: o primeiro vendedor não tinha crédito, ao final do período de apuração, tendo que recolher o valor de cem; o segundo, que registrou este crédito de cem e destacou duzentos, recolherá a diferença – outros cem; e o terceiro, que destacou trezentos, 3 Aula ministrada pelo professor Rodrigo Jacobina Botelho, em 9/6/2009. Michell Nunes Midlej Maron 16 EMERJ – CP III Direito Tributário III mas lançou crédito de duzentos, recolherá efetivamente outros cem. O valor final do tributo, portanto, é de trezentos, pagos pelos três operadores da circulação, cada um na sua proporção. Não houvesse este sistema4, o tributo alcançaria seiscentos: cem do primeiro vendedor, mais duzentos do segundo, mais trezentos do terceiro – absurdamente cumulado, portanto. O período de apuração do ICMS, ou seja, o período no qual o livro de registro é totalizado e há o cotejo entre créditos e débitos, é, atualmente, de trinta em trinta dias. Se ao final de um período de apuração o crédito apurado for superior ao débito, este não se perderá: será lançado no próximo período de apuração, como saldo credor, primeiro registro a ser feito no livro, para aquele período porvir – como se fosse uma nota fiscal de entrada, um crédito de operação anterior como outro qualquer. No passado, este lançamento de crédito entre períodos gerou uma discussão, com temática própria de períodos de alta inflação: poderia ser, o crédito remanescente, corrigido monetariamente até o momento de sua compensação, no período subseqüente? Baseados na interpretação que a correção monetária não é majoração, e sim recomposição do valor, os contribuintes defenderam a tese de sua aplicabilidade. A jurisprudência, porém (inclusive do STF), refutou esta possibilidade, ao argumento de que se trata de uma conta gráfica, não geradora de direito patrimonial. Por isso, a correção só poderia ser efetivada se a legislação estadual expressamente a previsse. Como hoje a inflação mensal não é tão violenta quanto outrora, a discussão se esvaziou, mas o entendimento permaneceria o mesmo. No livro, será escriturado tudo que dá direito a crédito, e tudo que faz surgir débito, e não há necessidade, na apuração, que um crédito corresponda exatamente ao débito correlato, para poder ser operacionalizado. Entenda: se se trata de um mercado, a aquisição de frutas para revenda gera débito, a ser escriturado; para compensá-lo, porém, não necessariamente será preciso que exatamente aquelas frutas tenham sido vendidas: se surgir crédito da venda de enlatados, por exemplo, os débitos das frutas serão compensáveis com os créditos dos enlatados. Não é preciso que haja individualização, correlação entre o débito e o crédito escriturado: reúnem-se todos os débitos e todos os créditos, do mesmo contribuinte, a fim de apurar o valor a ser efetivamente recolhido. Problemático, neste encadeamento de créditos e débitos, é identificar corretamente que notas fiscais de entrada dão direito a crédito, e que mercadorias ou serviços geram débitos no ICMS. Vejamos. Dará direito a crédito tudo aquilo que for fundamental ao ciclo da atividade produtiva, de indústria e comércio. Na ordem jurídica pré-Constituição de 1988, surgiu a tese do crédito físico, que se trata exatamente deste conceito, ou seja, para haver crédito, é preciso que haja correspondência fundamental do bem adquirido com o ciclo produtivo. Destarte, considera-se fundamental ao ciclo produtivo tudo aquilo que, fisicamente, representasse o produto final, ou se agregasse ao produto final. A análise do que representa o produto final, gerando crédito, é simples: a fruta adquirida do produtor é a mesma vendida pelo mercado, e por isso não há dúvida no ciclo de tributação, gerando inequivocamente o crédito. Outrossim, ao se analisar os insumos da produção, matérias- 4 Nas tributações efetivadas com opção pelo “simples” ou “supersimples”, este sistema não se opera, dada a diferente modalidade de recolhimento dos tributos ali reunidos. Por vezes, isto acaba fazendo com que microempresas e empresas de pequeno porte percam mercado, porque se o adquirente realiza esta dinâmica, ele não poderá creditar-se do tributo recolhido no sistema simplificado pela micro ou pequena empresa antecedente. Michell Nunes Midlej Maron 17 EMERJ – CP III Direito Tributário III primas e produtos intermediários, surgem dificuldades para se identificar se há essa agregação ao produto final, que gerará o crédito, ou não. O conceito de agregação ao produto final depende que haja uma imperiosa presença do item em análise para que o produto final seja alcançado. Mas esta análise, que é bastante casuística, é bastante restrita pelos Estados, pois quanto menos itens derem direito a crédito, maior será a arrecadação final. É claro que a madeira adquirida para fabricação de uma mesa não será alvo de dúvidas: certamente há o crédito em sua aquisição. Contudo, alguns elementos são questionáveis, havendo exemplos usuais, como a energia elétrica: é certo que há necessidade de energia elétrica na produção de um móvel, por exemplo (operação de serras, movimentação de máquinas, etc.), e, mesmo que a eletricidade não permaneça integrada ao bem final, ela se perdeu no seu processo produtivo. Geraria crédito, então? Com a Lei Complementar 87/96, passou a ter amparo legal o credito do ICMS de energia elétrica. Veja o que diz o artigo 33, II, deste diploma: “Art. 33. Na aplicação do art. 20 observar-se-á o seguinte: I - somente darão direito de crédito as mercadorias destinadas ao uso ou consumo do estabelecimento nele entradas a partir de 1º de janeiro de 2011; (Redação dada pela Lcp nº 122, de 2006) II – somente dará direito a crédito a entrada de energia elétrica no estabelecimento: (Redação dada pela LCP nº 102, de 11.7.2000) a) quando for objeto de operação de saída de energia elétrica; (Alínea incluída pela LCP nº 102, de 11.7.2000) b) quando consumida no processo de industrialização; (Alínea incluída pela LCP nº 102, de 11.7.2000) c) quando seu consumo resultar em operação de saída ou prestação para o exterior, na proporção destas sobre as saídas ou prestações totais; e (Alínea incluída pela LCP nº 102, de 11.7.2000) d) a partir de 1º de janeiro de 2011, nas demais hipóteses; (Redação dada pela Lcp nº 122, de 2006) III - somente darão direito de crédito as mercadorias destinadas ao ativo permanente do estabelecimento, nele entradas a partir da data da entrada desta Lei Complementar em vigor. IV – somente dará direito a crédito o recebimento de serviços de comunicação utilizados pelo estabelecimento: (Inciso incluído pela LCP nº 102, de 11.7.2000) a) ao qual tenham sido prestados na execuçãode serviços da mesma natureza; (Alínea incluída pela LCP nº 102, de 11.7.2000) b) quando sua utilização resultar em operação de saída ou prestação para o exterior, na proporção desta sobre as saídas ou prestações totais; e(Alínea incluída pela LCP nº 102, de 11.7.2000) c) a partir de 1º de janeiro de 2011, nas demais hipóteses. (Redação dada pela Lcp nº 122, de 2006)” Assim, a energia elétrica gera crédito, regra geral, quando for o próprio bem negociado na entrada e saída; ou quando for consumida no processo de industrialização. A prova deste consumo no processo é feita da seguinte forma: ou se contrata um engenheiro, que elaborará parecer descritivo de quanto da conta de energia é gasto com a industrialização, e quanto com outras atividades (as quais não darão direito ao crédito); ou se instala um medidor de energia elétrica para as atividades exclusivamente industriais, separado do medidor de energia dedicado a atividades outras, como as administrativas – a conta do primeiro medidor gerará o crédito, e a do segundo não. Michell Nunes Midlej Maron 18 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp122.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp122.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp102.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp102.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp102.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp102.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp122.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp122.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp102.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp102.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp102.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp102.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp102.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp102.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp102.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp122.htm#art1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp122.htm#art1 EMERJ – CP III Direito Tributário III Veja que o artigo determina que, a partir de janeiro de 2011, toda e qualquer aquisição de energia elétrica gerará crédito de ICMS para o estabelecimento comercial ou industrial. Este limite já foi postergado diversas vezes (era, originalmente, em janeiro de 2000), porque seu alcance é altamente inconveniente ao Estado, que perderá bastante arrecadação, quando se implementar. Provavelmente, será novamente postergado. Então, quanto à energia elétrica, este é o panorama atual: apenas aquela dedicada ao processo industrial gera crédito, mas não a energia dedicada a outras atividades paralelas ao ciclo produtivo, como a sede administrativa. O comércio não poderá, em regra, aproveitar créditos de energia elétrica para o ICMS, porque a premissa que orienta o entendimento majoritário é de que a energia elétrica não é fundamental para o processo produtivo do comércio, em geral. Contudo, se se comprovar que a energia elétrica é parte indispensável da cadeia do comércio, ou seja, sem ela não haverá meio de operacionalizar a venda do produto, o crédito, em tese, será possível. É o caso, por exemplo, da energia utilizada em gôndolas de refrigeração, em um supermercado: sem ela, os bens ali expostos não poderiam ser vendidos. Se se individualizar o consumo das gôndolas, portanto, o crédito surgirá e será aproveitável. A diretriz geral, na análise de surgimento ou não de créditos, deve ser a observação do processo produtivo: a energia elétrica que dará direito ao crédito é apenas a que seja fundamental ao processo industrial ou ao desenvolvimento da atividade de comércio. E esta análise, com esta diretriz, vale para todo e qualquer insumo, matéria-prima, ou bem intermediário que se questione se dá ou não direito ao crédito. Bens de uso e consumo são aqueles que são necessários à atividade econômica do contribuinte, mas não se integram ao ciclo produtivo. O material de uso e consumo é necessário, mas não é fundamental, e esta diferença terminológica é crucial: somente o que for fundamental poderá ter crédito aproveitado. Repare que, na verdade, esta separação só existe por conveniência fiscal, para incrementar a arrecadação, porque o correto seria que tudo o que for tributado, e integrar a cadeia produtiva de qualquer forma – necessária ou fundamentalmente – deveria dar direito a crédito. Esta, inclusive, é a tese de tributaristas imparciais, alheios aos interesses do fisco. O legislador, ao redigir o artigo 33 da Lei Complementar 87/96, supra, cedeu à coerência desta tese ampliativa, ou seja, reconheceu que os bens de uso e consumo da cadeia produtiva, fundamentais ou necessários, devem, sim, dar direito a crédito; contudo, inseriu no inciso I do dispositivo o termo inicial de vigência, tal como o fez com a energia elétrica, para janeiro de 2011 – termo que certamente será postergado por alterações legislativas porvir. Além desse pressuposto fundamental para o direito ao crédito – vinculação ao processo produtivo –, há ainda mais dois pressupostos de exercício de tal crédito. Primeiro é que só há direito de se creditar daquelas operações em que haja o destaque do ICMS, onde a nota fiscal de venda traga o destaque do ICMS. Toda compra que é feita de empresas que não destacam ICMS não gerará, para o adquirente, o direito ao crédito, por conta da incompatibilidade do método de apuração e tributação. Também as operações feitas por meio de cupom fiscal, e não nota fiscal, impedem o surgimento de crédito pela mesma razão: não há destacamento de ICMS, não sendo possível creditar o tributo de tal Michell Nunes Midlej Maron 19 EMERJ – CP III Direito Tributário III operação. Destarte, mesmo sendo bem da cadeia de produção, se a aquisição for de empresa que não destaca ICMS, não haverá creditamento5. Segundo pressuposto, formal, é a idoneidade da documentação que gerou o crédito: a transação que dá origem à nota fiscal deve ser idônea, a fim de que o crédito, ele próprio, seja idôneo. Casos Concretos 5 Não há destaque de ICMS nas empresas que fazem recolhimento por estimativa (microempresas, empresas de pequeno porte, ou optantes pelo simples ou supersimlples) e em operações em que não haja tributação, por conta de isenção, imunidade ou não incidência. Michell Nunes Midlej Maron 20 EMERJ – CP III Direito Tributário III Questão 1 ADEMODES INDÚSTRIA TEXTIL LTDA impetra um mandado de segurança em face do Estado do Rio de Janeiro tendo em vista a conduta do Secretário de Fazenda que, respondendo à consulta formulada por aquela empresa, não lhe permitiu o creditamento integral do valor do tributo recolhido a título de insumos utilizados na fabricação de seu produto quando ocorrida a saída da mercadoria mediante a redução da base de cálculo. Responda, fundamentadamente em no máximo 15 (quinze) linhas, se a alegação da empresa encontra respaldo no ordenamento jurídico. Resposta à Questão 1 A CRFB traz uma regra expressa, no § 2º, II, do artigo 1556: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993) (...) II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993) (...) § 2.º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993) (...) II - a isenção ou não-incidência, salvo determinação em contrário da legislação: a) não implicará crédito para compensação com o montante devido nas operações ou prestações seguintes; b) acarretaráa anulação do crédito relativo às operações anteriores; (...)” Assim, a isenção ou não-incidência não implicará crédito para compensação com montantes devidos em operações seguintes, ou anulará o crédito que vinha de operações anteriores. Veja que se o crédito decorrente de uma operação, cuja operação subseqüente que venha a ser beneficiada com isenção, não fosse cancelado, surgiria uma espécie de acumulação de créditos, criando uma conta-corrente de créditos para o contribuinte, e por isso a CRFB estabeleceu esta dinâmica de cancelamentos. E, se o benefício for proporcional, o cancelamento será igualmente proporcional, como o é in casu. Por isso, se há a redução da base de cálculo – isenção parcial –, não há surgimento de crédito, porque o crédito que surgira na operação anterior deve ser anulado. A solução, para o caso, é a redução proporcional do crédito, e não a rejeição total ou aproveitamento total do crédito, como querem, respectivamente, Estado e contribuinte. 6 Esta regra, que é explícita no ICMS, não o é no IPI, que obedece à mesma dinâmica de compensações. Por isso, há severa controvérsia de sua vigência, neste imposto federal, que será abordada adiante. Adiantando um pouco o assunto, alegam os contribuintes que, por não haver vedação expressa na CRFB, o crédito em operações beneficiadas com isenção ou não incidência seria aproveitável. E mais: a vedação ao aproveitamento quebra a cadeia da não-cumulatividade, porque todas as demais operações porvir serão prejudicadas por aquela que teve o crédito denegado. O STF não encampa esta tese: entende que se não há tributo, por conta do benefício dado, não há crédito, sem maiores ressalvas. Michell Nunes Midlej Maron 21 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art155%C2%A72 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art155%C2%A72 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art155 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art155 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art155 EMERJ – CP III Direito Tributário III A respeito, veja o que disse o STF, no RE 174.478: “RE 174478 ED / SP - SÃO PAULO. EMB. DECL. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. Relator(a): Min. CEZAR PELUSO. Julgamento: 14/04/2008 Órgão Julgador: Tribunal Pleno EMENTA: TRIBUTO. Imposto sobre Circulação de Mercadorias. ICMS. Créditos relativos à entrada de insumos usados em industrialização de produtos cujas saídas foram realizadas com redução da base de cálculo. Caso de isenção fiscal parcial. Previsão de estorno proporcional. Art. 41, inc. IV, da Lei estadual nº 6.374/89, e art. 32, inc. II, do Convênio ICMS nº 66/88. Constitucionalidade reconhecida. Segurança denegada. Improvimento ao recurso. Aplicação do art. 155, § 2º, inc. II, letra "b", da CF. Alegação de mudança da orientação da Corte sobre os institutos da redução da base de cálculo e da isenção parcial. Distinção irrelevante segundo a nova postura jurisprudencial. Acórdão carente de vício lógico. Embargos de declaração rejeitados. O Supremo Tribunal Federal entrou a aproximar as figuras da redução da base de cálculo do ICMS e da isenção parcial, a ponto de as equiparar, na interpretação do art. 155, § 2º, II, "b", da Constituição da República.” Questão 2 O contribuinte do ICMS tem direito de corrigir monetariamente o crédito contábil decorrente de ter suportado o ônus do ICMS na entrada da mercadoria no seu estabelecimento? Resposta à Questão 2 Não: segundo a jurisprudência dominante, a correção monetária só é permitida quando a legislação assim o previr expressamente. A doutrina, porém, entende que como a correção não é majoração, mas mera recomposição de perda de poder e compra da moeda pela gravidade inflacionária, deveria ser possível, mas a jurisprudência não a acompanha. Veja o que decidiu o TJ/RJ, na Apelação Cível 2004.001.34767: “APELACAO. DES. JOSE MOTA FILHO - Julgamento: 17/05/2005 - SETIMA CAMARA CIVEL. APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL REJEITADOS. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA NÃO CUMULATIVIDADE DO ICMS, ESTABELECIDO NO ART. 155, § 2º, I, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1.986 E ART. 19, DA LEI COMPLEMENTAR Nº. 87/96. PRETENSÃO DE EFETUAR A CORREÇÃO MONETÁRIA DO CRÉDITO DO ICMS ESCRITURADO. ARGUMENTOS QUE IMPRESSIONAM. INVOCAÇÃO DE PRECEITO DE ORDEM PRIVADA CONTRA O INTERESSE PÚBLICO. NECESSIDADE DE LEI AUTORIZANDO AQUELE PROCEDIMENTO. JURISPRUDÊNCIA DOS TRIBUNAIS SOBRE A MATÉRIA. SENTENÇA CORRETA. DESPROVIMENTO DO RECURSO. DECISÃO UNÂNIME.” Questão 3 HABIB M. HABIB E CIA LTDA., empresa mercantil de tecidos com vários estabelecimentos no Estado do Rio de Janeiro, pretendendo ver reconhecido seu direito ao Michell Nunes Midlej Maron 22 EMERJ – CP III Direito Tributário III crédito decorrente do pagamento de ICMS, referente a consumo de Energia Elétrica nas suas lojas, ingressa com ação civil na Justiça Estadual.Alega nas suas razões que, em sendo-lhe vedado compensar o crédito de ICMS gerado nas operações de compra de energia elétrica utilizada no seu processo comercial, o Estado do Rio de Janeiro estaria contrariando o princípio constitucional da não-cumulabilidade de tributos. Na petição inicial, instrui o processo com a conclusão de que qualquer que seja o futuro destino das mercadorias ou dos bens adquiridos, o fato é que o montante do ICMS cobrado nessas operações gera inegavelmente crédito compensável nas saídas subseqüentes. Assim, segundo a autora, a aquisição de quaisquer mercadorias, independentemente do destino dado a elas pelo contribuinte, gera direito ao correspondente crédito do imposto. O Estado do Rio de Janeiro, na contestação, informa que a energia elétrica consumida nos estabelecimentos mercantis da autora não integra as mercadorias comercializadas (tecidos) na condição de elemento indispensável à sua composição. Desta forma, nos termos do artigo 31, III, do Convênio 66/88, o ICMS que incidiu na energia elétrica consumida pelas apelantes não gera crédito para compensação com o imposto devido nas operações de saídas de mercadorias. Concluindo, pede pelo desprovimento do pedido. Analise o caso e responda, fundamentadamente, o seguinte: a) Quais os pressupostos legais para que o contribuinte do ICMS possa exercer seu direito de crédito contábil do valor do imposto? b) A autora tem o direito de compensar o crédito de ICMS decorrente da compra de energia elétrica que, segundo ela, é elemento imprescindível ao funcionamento de suas lojas? c) Considerando que a atividade mercantil da Autora é exclusivamente a compra e venda de tecidos, o montante de ICMS referente à compra efetuada de uma indústria pode ser compensado com o montante de ICMS devido pelas vendas a varejo realizadas pelas lojas no mês? d) Em qual das duas questões acima haveria quebra do princípio constitucional de não-cumulabilidade dos tributos, na hipótese de o Fisco Estadual impedir HABIB M. HABIB E CIA LTDA de compensar o montante do ICMS referente à compra, com o montante do ICMS referente à venda? e) Qual a solução da questão à luz da LC 87/96? Resposta à Questão 3 a) Mais importante é que o bem adquirido seja o próprio bem final da atividade do contribuinte, ou que integre fundamentalmente o processo produtivo do contribuinte. Além disso, deve o bem ter sido adquirido em operação em que haja destaque do ICMS, e não tenha havido isenção ou não incidência. E, por fim, a documentação referente à operação donde surgiu o crédito deve ser legal e fidedigna. b) O ciclo produtivo do comércio não depende fundamentalmente da energia elétrica, e por isso o entendimento é de que não há como se aproveitar do crédito surgido da compra da eletricidade. A autora não faz jus ao crédito,portanto. Michell Nunes Midlej Maron 23 EMERJ – CP III Direito Tributário III c) Sim: a compra gera o crédito, sendo lançada no livro, e compensada ao final com o débito das vendas ali lançado. d) Na hipótese do item “c”: o crédito é direito certo, neste caso, e a negativa estatal faria cumulado o tributo, afrontando o princípio em questão. e) As respostas são condizentes com esta LC 87/96. Vale ressaltar que, a partir de janeiro de 2011, a energia elétrica será, toda ela, geradora de créditos de ICMS. A respeito, veja a Apelação Cível 2004.001.07942, do TJ/RJ: “APELACAO. DES. GALDINO SIQUEIRA NETTO - Julgamento: 10/11/2004 - DECIMA QUINTA CAMARA CIVEL. MANDADO DE SEGURANCA PREVENTIVO. LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL N. 102, DE 2000 CONSTITUCIONALIDADE. SUMULA 105, DO S.T.J.. DECISAO DENEGATORIA. Apelação Cível. Mandado de segurança preventivo. Constitucional. Tributário. Alegação de inconstitucionalidade das alterações introduzidas pela LC 102/00 no texto da LC n° 87/96. Limitação ao aproveitamento do crédito relativo ao ICMS cobrado na entrada de bens destinados ao ativo fixo. Proibição de aproveitamento do crédito relativo ao ICMS incidente na entrada de energia elétrica não destinada ao processo industrial e serviços de comunicação. Inocorrência de ofensa aos princípios da anterioridade e da não cumulatividade do ICMS. Correta a sentença que denegou a segurança pleiteada. Não provimento do recurso”. Tema IV Impostos Estaduais III ICMS III 1. Incidência; 2. Fato gerador: aspectos: material, espacial, temporal, pessoal e quantitativo; 3. Não-incidência; 4. Imunidades; 5. Isenção; 6. Alíquota zero. Michell Nunes Midlej Maron 24 EMERJ – CP III Direito Tributário III Notas de Aula7 1. Aspectos do fato gerador do ICMS 1.1. Aspecto material O primeiro aspecto a ser observado, no fato gerador do ICMS, é justamente seu núcleo, ou seja, o aspecto material. Como a própria CRFB deixa expresso, o ICMS incide em circulação de mercadorias e serviços, e o conceito de mercadoria é importantíssimo para definir o elemento material do ICMS. Vejamos. Mercadoria é toda coisa móvel que se presta à mercancia. Por isso, para que o bem seja considerado mercadoria, deve estar associado à atividade de comércio. Não é uma característica intrínseca à coisa que a caracteriza como mercadoria; é a sua destinação, o meio pelo qual ela se apresenta para o contribuinte e para o mercado. Veja um exemplo: para a empresa que fabrica um torno mecânico para vendê-lo, ele é mercadoria; para a empresa que o adquire para compor seu maquinário, é um ativo, e não mercadoria. Daí se conclui que todo ativo da empresa escapa ao conceito de mercadoria, e por isso a sua venda, por qualquer motivo (renovação das instalações, por exemplo), não sofre incidência do ICMS, por não ser circulação de mercadoria, conceitualmente. A venda do ativo fixo da empresa é caso em que nunca há incidência de ICMS. Em síntese, portanto, a mesma coisa que é mercadoria para determinada pessoa ou circunstância, poderá não o ser para outra. 1.2. Aspectos espacial e quantitativo O aspecto territorial do ICMS, por seu turno, é bastante complexo. Quando os pólos da circulação, comprador e vendedor, estão situados no mesmo Estado-Membro, não há problemas maiores. Contudo, na sua divisão geopolítica, o Brasil acabou por ter em si criados alguns pólos de produção, concentrando a origem da circulação de mercadorias em uns poucos pontos, gerando enorme circulação de mercadorias em operações interestaduais. E é aí que surge o problema: a quem destina-se a arrecadação do ICMS, na operação interestadual, ao Estado de origem ou ao de destino? É claro que os centros produtores defendem a tese de que a tributação é devida no Estado de origem da circulação, enquanto os Estados consumidores defenderão que se destina, a arrecadação, os Estados de destino – cada qual com a esse que melhor lhe favorece, ambas com bons argumentos. Por conta disso, adotou-se a melhor solução possível: a repartição da arrecadação. A CRFB traçou a regra, no inciso VII do § 2º do artigo 155: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993) (...) II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993) (...) 7 Aula ministrada pelo professor Rodrigo Jacobina Botelho, em 9/6/2009. Michell Nunes Midlej Maron 25 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art155 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art155 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm#art155 EMERJ – CP III Direito Tributário III § 2.º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993) (...) IV - resolução do Senado Federal, de iniciativa do Presidente da República ou de um terço dos Senadores, aprovada pela maioria absoluta de seus membros, estabelecerá as alíquotas aplicáveis às operações e prestações, interestaduais e de exportação; (...) VII - em relação às operações e prestações que destinem bens e serviços a consumidor final localizado em outro Estado, adotar-se-á: a) a alíquota interestadual, quando o destinatário for contribuinte do imposto; b) a alíquota interna, quando o destinatário não for contribuinte dele; VIII - na hipótese da alínea "a" do inciso anterior, caberá ao Estado da localização do destinatário o imposto correspondente à diferença entre a alíquota interna e a interestadual; (...)” Antes de se abordar o tema, faça-se uma ressalva fundamental: a expressão consumidor final, do inciso VII, deve ser ignorada, porque seria excludente de operações que não poderiam ser excluídas do teor do artigo. Dito isto, assim é a regra: se a mercadoria for remetida para contribuinte do ICMS, a alíquota a ser aplicada é a interestadual; se o destinatário for não contribuinte do ICMS, a alíquota aplicada é a interna, do Estado de origem. O inciso VIII deste artigo supra estabelece que, sendo caso de aplicação de alíquota interestadual, ou seja, sendo o destinatário contribuinte do ICMS, caberá ao Estado de origem calcular o ICMS pela alíquota interestadual, e caberá ao Estado de destino a diferença resultante da subtração da alíquota interestadual da sua alíquota interna. Em suma: paga-se a alíquota interestadual ao Estado de origem; e paga-se a alíquota interna do Estado de destino a este, descontada da alíquota interestadual já paga. Assim se dá o rateio. A alíquota interestadual, que vem prevista no inciso IV do mesmo § 2º do artigo supra, é estabelecida pelo Senado Federal, mediante resolução. Hoje, a resolução vigente é a 22 de 1989, e lá são traçadas as seguintes diretrizes, nos artigos 1º e 2º: “Art. 1º A alíquota do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transportes Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação, nas operações e prestações interestaduais, será de doze por cento. Parágrafo único. Nas operações realizadas nas regiões Sul e Sudeste, destinadas às regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e ao Estado do Espírito Santo, as alíquotas serão: I - em 1989, oito por cento; II - a partir de 1990, sete por cento.” “Art. 2º A alíquota do imposto de que trata o art. 1º, nas operações de exportação para o exterior, será de treze por cento.” Veja que, em regra, portanto, a alíquota interestadual é de doze por cento. Contudo, quando a origem da circulação é em um Estado do Sul ou Sudeste do Brasil, e o destino é Estado das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste ou ao Estado do
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