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SINOPSE DO CASE: O Sótão Assassino1 Larissa Costa do Nascimento2 Ma. Maria Emília Miranda Alvares3 1. DESCRIÇÃO DO CASO Esse caso descreve um episódio na vida de dois moradores de Curitiba, Jonas e Fernanda, durante um dia em que planejavam tarefas diárias. O casal, de acordo com suas afinidades em relação aos afazeres, decidiu que era melhor que Fernanda cortasse a grama e Jonas fosse ao correio. Após a saída de seu marido, Fernanda inicia o corte da grama. Algum tempo depois, Jonas retorna para casa e, visando realizar algumas tarefas na garagem, o homem estaciona embaixo de uma árvore próxima. Entrando na residência, Jonas percebe um barulho incômodo de um ventilador que rangia no sótão e decide lubrificá-lo, subindo até o sótão, deixando-o aberto. Fernanda, que cortava a grama, ao sentir sede, resolveu adentrar a casa em busca de um copo de água na cozinha, quando passa pela garagem, não visualiza o carro de Jonas, acreditando assim que ele ainda não havia retornado para casa. Enquanto tomava água, observava que o alçapão estava aberto e as escadas no meio do corredor, murmurando sobre a desorganização do marido, trancou o alçapão e retornou as escadas até o porão de casa. Jonas, trancado no sótão sem saber, percebe o quanto aquele lugar era quente, um isolante térmico ideal, com pouco ar circulando, logo, ele decide que seria melhor trabalhar rápido e sair do calor. Ao ir até a saída do sótão, percebe que ele está trancado pelo lado de fora e decide gritar por Fernanda, que, com o barulho do cortador de grama, não podia ouvir o seu marido gritar e bater no alçapão. No jardim, Fernanda também incomodada com o calor do dia ensolarado em Curitiba, conversava e tomava cerveja junto ao seu vizinho, deixando o cortador ligado, sem perceber que Jonas, que estava vendo a cena pela clarabóia vedada do sótão, ainda estava preso, acometido pelo calor e por ciúmes. Após algum tempo, Fernanda retorna para sua tarefa ainda se questionando onde estaria o seu marido, enquanto isso, Jonas passava muito mal no sótão, pingava de suor ao 3 Professora Especialista, Orientadora. 2 Aluna do 2° período do curso de Psicologia, turno matutino, da UNDB 1 Sinopse do case apresentado à disciplina de Processos Básicos Psicológicos da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB mesmo tempo que seu coração batia acelerado. Ao ouvir que sua esposa havia terminado de cortar a grama e logo em seguida um barulho na porta dos fundos, voltou a gritar por Fernanda e bater forte no alçapão. Atordoada pelos gritos, a mulher procura a direção dos barulhos até encontrar o seu marido trancado no sótão. Desde aquele dia, Jonas coloca cartazes nas escadas para avisar que está no sótão, ao mesmo tempo que fica sempre ansioso ao ter que ir lá. Fernanda agora sempre verifica se seu marido está no no sótão para poder fechá-lo, mas sempre ri do episódio. 2. IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE 2.1. Descrição das decisões possíveis 2.1.1 Jonas, através das sensações, levou as informações do ambiente até a mente e a sua percepção interpretou, organizou e classificou essas informações, com esse estímulo, seu corpo produziu uma resposta. Outrossim, após o episódio, o sótão tornou-se um ambiente que causa ansiedade em Jonas, causado por um processo de aprendizagem denominado condicionamento clássico. 2.1.2 Fernanda, através do condicionamento operante percebeu que as consequências de ter trancado o alçapão sem averiguar o sótão antes não foram boas, de modo que aprendeu a ser mais cuidadosa em relação a este. Do mesmo modo que Jonas, agora avisando que está no sótão, percebe que não poderá mais ser trancado, aumentando a frequência desse comportamento. 2.2. Argumentos capazes de fundamentar cada decisão 2.2.1 Jonas, através das sensações, levou as informações do ambiente até a mente e a sua percepção interpretou, organizou e classificou essas informações, com esse estímulo, seu corpo produziu uma resposta. Outrossim, após o episódio, o sótão tornou-se um ambiente que causa ansiedade em Jonas, causado por um processo de condicionamento clássico. Sensação e Percepção são dois processos psicológicos que envolvem diretamente a relação do indivíduo com o ambiente. Denomina-se a sensação como um processo envolvido na percepção do estímulo, é um fenômeno eminentemente fisiológico, ou seja, a recepção de algum tipo de estímulo através de um receptor especializado em captar as informações do meio. A percepção compreende geralmente a organização e interpretação dos estímulos que nos chegam através dos órgãos do sentido, por receptores específicos (RIES, 2004). Diversos estímulos podem ser captados pelos órgãos do sentido, um deles é a temperatura. O estímulo para a temperatura é a temperatura da pele, os receptores são os neurônios logo abaixo dela, dessa forma, segundo Duclaux e Kenshalo (1980); Hensel (1973): “Na fase de transdução, os receptores de frio geram um impulso nervoso quando há diminuição na temperatura da pele, enquanto os de calor deram um impulso quando há um aumento de temperatura da pele. Nesse caso, quando o indivíduo entra em contato com temperaturas elevadas (acima de 45° ou 113° F) (FREDRICKSON et.al, 2018 p.110), é normal que o estímulo (calor) elicíe uma resposta (sudorese). (MOREIRA; DE MEDEIROS, 2018, p. 86) É importante ressaltar que esses reflexos nem sempre são inatos, visto que o indivíduo se depara com alterações no ambiente e estas podem ocasionar no aprendizado de novos reflexos, uma característica adquirida pelo processo de evolução. Afirmação que pode ser justificada pela teoria de Pavlov “condicionar (ensinar) novos reflexos consiste basicamente no emparelhamento de um estímulo neutro, que não elicia uma determinada resposta, a um estímulo incondicionado.”(MOREIRA; DE MEDEIROS, 2018, p. 87). Neste caso, pode-se explicar o processo de aprendizagem da seguinte maneira: Houve um estímulo neutro (o calor extremo) que posteriormente foi emparelhado há um estímulo incondicionado (ficar preso no sótão), houve uma resposta incondicionada (taquicardia, sudorese, ansiedade) que ocasiona agora uma resposta condicionada (ir ao sótão desperta sentimentos ansiosos), isso pode ser explicado devido a ligação do condicionamento pavloviano com as emoções, “os organismos aprendem a sentir emoções em relação a estímulos que antes não produziam tais emoções.” (MOREIRA; DE MEDEIROS, 2018, p. 89). 2.2.2 Fernanda, através do condicionamento operante, percebeu que as consequências de ter trancado o alçapão sem averiguar o sótão antes não foram boas, de modo que aprendeu a ser mais cuidadosa em relação a este. Do mesmo modo que Jonas, agora avisando que está no sótão, percebe que não poderá mais ser trancado, aumentando a frequência desse comportamento. O comportamento operante é um termo cunhado por B.F. Skinner, que classifica como operante o comportamento que produz consequências (modificações no ambiente) e dessa forma é alterado por essas consequências. É uma forma de aprendizagem a partir dos efeitos das ações que vão influenciar sua ocorrência futura (MOREIRA; DE MEDEIROS, 2018, P.47,49). Por conseguinte, se uma pessoa foi descuidada e trancou a outra no sótão, e essa consequência foi desastrosa, a probabilidade do comportamento de descuido vai diminuir, da mesma forma que se uma pessoa não avisa que está no sótão e é trancada, a frequência do comportamento de avisar onde está será aumentada. Skinner ressalta que o comportamento pode ser controlado a partir de reforços e punições, visto que, reforços aumentam a probabilidade de um comportamento acontecer e punições diminuem a probabilidade de sua ocorrência, enquanto as punições diminuem a probabilidade do comportamento acontecer. Os reforços podem ser classificados como positivos, pois a modificação no ambiente é a adição de um estímulo, e negativos, pois ocorre retirada de estímulos aversivos do ambiente. Dentro da modalidade de reforços negativos ainda são possíveis aplicar os conceitos defuga e esquiva, visto que a fuga ocorre quando o estímulo já está no ambiente e o comportamento retira-o e a esquiva é o comportamento que evita ou atrasa o estímulo aversivo (MOREIRA; DE MEDEIROS, 2018, P. 63,65,66). Nesse caso, pode-se afirmar que, após o comportamento de trancar uma pessoa acidentalmente no sótão ocasionar consequências negativas, o comportamento de ser cuidadoso e verificar se há alguém lá será aumentado, pois existe um comportamento de esquiva: evitar o estímulo aversivo (trancar alguém no sótão). Do mesmo modo, o comportamento de avisar que está no sótão aumentou, evitando assim ser trancado novamente, desse modo também ocorre um comportamento de esquiva, escapando de uma possível privação de liberdade. 2.3. Descrição dos critérios e valores contidos em cada decisão possível 2.3.1 Por meio da análise dos conteúdos apresentados em sala de aula e livros que visam relatar a respeito da questão da aprendizagem apresentada no caso acima, foram respondidas as perguntas, fundamentadas através de citações e descrito a respeito de sensação e percepção, condicionamento clássico, condicionamento operante, reforços e punições. REFERÊNCIAS FREDRICKSON, B. L.; LOFTUS, GEOFF; NOLEN- HOEKSEMA; S.; WAGENAAR, W. A.; INTRODUÇÃO a Psicologia. 16. ed. rev. e atual. São Paulo - SP: Cengage, 2018. 601 p. v. 2. ISBN 978-85-221-2717-7. MOREIRA, Márcio Borges; DE MEDEIROS, Carlos Augusto. Princípios básicos de análise do comportamento. Artmed, 2018. RIES, Bruno Edgar. Sensação e percepção. Psicologia e Educação: fundamentos e reflexões, Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.