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MartaPernambucocultivo_Romao_2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
GRUPO DE ESTUDOS DA COMPLEXIDADE
MARTA
PERNAMBUCO
para o cultivo de uma 
educação política e afetiva
MANOEL HONORIO ROMÃO
MARTA
PERNAMBUCO
para o cultivo de uma
educação política e afetiva
MANOEL HONORIO ROMÃO
MARTA PERNAMBUCO
para o cultivo de uma educação política e afetiva
Dissertação apresentada ao Programa de 
Pós-Graduação em Educação do Centro de 
Educação e ao Grupo de Estudos da Comple-
xidade da Universidade Federal do Rio Gran-
de do Norte como exigência parcial para ob-
tenção do título de Mestre em Educação.
Orientadora: Profa. Dra. Maria da Conceição 
Xavier de Almeida
NATAL
2021
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, 
por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, 
desde que citada a fonte.
Romão, Manoel Honorio.
Marta Pernambuco: para o cultivo de uma educação política e afetiva / Manoel 
Honorio Romão. - Natal, 2021. 
121 f.: il. 
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de 
Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação. 
Orientadora: Profa. Dra. Maria da Conceição Xavier de Almeida.
1. Marta Pernambuco - Dissertação. 2. GEPEM - Dissertação. 3. Ensino de Ciências 
- Dissertação. 4. Pedagogia Freireana - Dissertação. I. Almeida, Maria da Conceição 
Xavier de. II. Título.
 
RN/UF/BS/CE CDU 37.012
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Moacyr de Góes - CE
Elaborado por Rita de Cássia Pereira de Araújo - CRB-804/15
Revisão
Fagner Torres de França 
Capa e design editorial
Waldelino Duarte Ribeiro
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educa-
ção do Centro de Educação e ao Grupo de Estudos da Complexidade da 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte como exigência parcial para 
obtenção do título de Mestre em Educação.
MARTA PERNAMBUCO
para o cultivo de uma educação política e afetiva
Aprovada em: 30/04/2021.
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Maria da Conceição Xavier de Almeida – Orientadora
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Prof. Dr. Carlos Aldemir Farias da Silva – Examinador Externo
Universidade Federal do Pará
Profa. Dra. Josineide Silveira de Oliveira – Examinador Interno
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Prof. Dr. Iran Abreu Mendes – Examinador Suplente Externo
Universidade Federal do Pará
Profa. Dra. Maria Carmem Freire Diogenes Rêgo – Examinador Suplente Interno
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Para meu Povo que acredita em uma educa-
ção que possibilite a transformação da triste rea-
lidade social brasileira.
PALAVRAS DE RECONHECIMENTO
Um momento de reconhecer a importância dos seres vivos, não-vivos, 
inanimados e animados, que foram por muitas vezes os meus alimentos, 
as minhas luzes e o meu solo durante toda minha pesquisa e a construção 
desta dissertação. Agradeço, portanto, 
A Esperança e a Coragem que, corporificadas em flores de lírio e ao 
alcance das minhas mãos, se concentram no meu eu, esculpindo meu pen-
samento e minha vida.
A minha orientadora, minha borboleta dos sonhos, Maria da Concei-
ção de Almeida, por ser minha cúmplice na vida e nas ideias, seja como 
uma razão apaixonada ou como palavras úmidas que sempre invadem 
meu ser.
Ao meu pai, Honorio Manoel Romão (In Memoriam), pelo ensinamento 
maior: “a herança mais valiosa que posso deixar para você é a educação”.
A minha mãe, Maria Janete de Sousa, pelo afeto e cuidado maior des-
de os primeiros momentos de minha vida em seu útero e até agora.
Aos meus amigos Marcos Antônio de Carvalho Lopes e Marcos Saian-
de Casado, pelos laços fraternos de amizade sincera (Três M’s) que injetam 
pulsão de vida em meu ser.
A minha mestra, Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco (In Me-
moriam), pelos ensinamentos de uma educação política e afetiva.
Aos meus pensadores, Paulo Freire e Edgar Morin, por incendiarem 
meus pensamentos.
Aos meus educadores, que passaram por minha vida e me marcaram 
para sempre com seus ensinamentos.
A Josineide Silveira de Oliveira, pelos ensinamentos sobre fraternidade 
que regaram a escrita desta dissertação.
A minha cacheada, Eugênia Maria Dantas, pelo acolhimento em sua 
sala de aula, que muito contribuiu para minha formação como docente e 
pesquisador.
A Carlos Aldemir Farias da Silva, pelo companheirismo acadêmico du-
rante toda a pesquisa.
A meu extraordinário Fagner Torres de França, pela amizade, pela par-
ceria no projeto “Palavras e Pixels” e pelo cuidado com minhas palavras.
A Wani Fernandes que, como Borges, me ensinou o amor pelos livros.
A Margarida Knobbe que, como Tolkien, me mostrou os caminhos da 
metáfora.
Aos meus greconianos Louize de Souza, Mônica Reis, Luan Gomes, 
Carlos Eduardo de Araújo (Cadu Xamã), Umberto de Araújo, Helry Cos-
ta, Tatiana Laptiz, Felinto Gadêlha Segundo, Gustavo Figueiredo, Maria 
José Ribeiro de Sá, Tallison Ferreira, Izabella Alves, pelo fogo vivo que 
incendiava nossos dias de estudos na sala do GRECOM. Em especial, 
aos meus greconianos que se transformaram em meus três mosqueteiros: 
Paulo Raposo, Artemisa de Andrade e Jeane Lopes, que foram várias ve-
zes minhas mãos e meus ouvidos, principalmente durante minhas crises 
de tendinites.
Ao meu GEPEM, Irene Alves Paiva e Maria Carmem Freire Diógenes 
Rêgo, por manterem vivo esse grupo de pesquisa que tanto me acolheu. 
Esse acolhimento foi, em grande parte, feito por Minha Ameixa Negra, Aria-
ne Rochelle Mendonça, que me ensinou uma pedagogia pautada pela 
generosidade.
A Izabel Pernambuco Nicodemo, sobrinha querida de Marta Pernam-
buco que, por diversas vezes, me ouviu e completou meu pensamento com 
novas informações sobre sua tia.
As minhas amigas super poderosas Andresa Karla Silva Carvalho (Do-
cinho) e Amanda Medeiros de Araújo Costa (Florzinha) que, pela via da 
amizade, sempre me ensinaram a não desistir.
Aos meus cariocas Alexandre Aguiar da Silva e Marisa Narcizo Sam-
paio que, por via da cultura e da luta pelo povo, me ensinaram a ver o 
mundo por outras lentes.
A minha magrela, Alynne da Silva Praxedes que, com seus olhos ver-
des, sempre me mostrou que tenho uma amiga fiel para o resto da vida.
A minha pessoa, Pérola Soares Combes, pelo apoio incondicional, pela 
sua comida maravilhosa e pela parceria na sala de aula e na vida desde o 
nosso encontro na graduação até os dias de hoje.
As minhas firulas, Louise Carla Siqueira da Silva e Marilia do Vale, que 
sempre ajudaram nos momentos de dores e alegrias, com um encanta-
mento musical e artístico, durante a construção desta dissertação.
Ao meu JP Social, João Pedro Araújo de Sousa, pelas conversas super-
ficiais e profundas que arejarão meus pensamentos e por seguir comigo 
durante a escrita dessa dissertação.
Ao meu refúgio, Liliane L. de Medeiros Gomes e Diego Araújo Lemos, 
por compartilharem momentos de alegrias e devaneios e por me protege-
rem em tempos difíceis. 
As minhas amigas do dia a dia, Marcela Rafaela Silva Rodrigues e An-
gélica Ferreira da Fonseca, pela amizade e por estarem sempre disponíveis 
aos meus pedidos e minhas escassezes mentais e físicas. Ao Boy Dany, Da-
nielson Diogo Farias Dantas, pelos momentos de fraternidade.
Ao meu povo do café, Jecine Fernandes e Jucilene Faustino, por se-
rem escudeiras fiéis durante os dias e durante as noites no Centro de Edu-
cação da UFRN.
A minha secretaria do PPGED, Letissandra da Silva, Lucas Regnier, Ro-
que Chianca, Elida Cassandra, Lilian Raquel, pela paciência e comprome-
timento com o serviço público de qualidade. Em especial, para o meu pro-
fessor Milton Câmara, que me ensinou a arte da administração pública.
A minha coordenação do PPGED, Alda Duarte e Luzia Guacira (2014-
2015), Marta Pernambuco e André Ferrer (2016-2017), Rita Magalhãese 
Claudianny Noronha (2018-2019) e Claudianny Noronha e Luciane Terra 
(2020-2021), por me oportunizar aprendizados em torno da gestão de um 
programa de pós-graduação.
Aos Docentes do PPGED, em especial Marta Maria de Araújo, pelos 
ensinamentos sobre a Educação Brasileira.
Ao meu Centro de Educação da UFRN, que foi minha casa antes e 
durante a maior parte desta pesquisa.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 
(CNPq), que fomentou minha pesquisa durante quatorze meses. Sem essa 
base material, esta dissertação não seria possível.
Ao meu governo Lula, por ampliar uma Educação de qualidade para 
o meu povo, principalmente pela expansão das Instituições de Educação 
Superior do nosso Brasil.
Ao meu governo Dilma, por sustentar os investimentos na Educação 
para o meu povo. Mesmo com as grandes manobras golpistas, até o último 
momento foi guerreira da pátria brasileira.
Ao meu Povo, que mesmo em um cenário de morte e de fome, conti-
nua resistindo às desigualdades socais e sustentam, com sangue e suor, esta 
e outras pesquisas nas universidades do Brasil. Se hoje estou onde estou, foi 
por esse povo de luta e coragem, por minha gente que acredita em uma 
educação que alimente a justiça social e reduza as desigualdades sociais 
do nosso país. 
Cada um é o ponto de partida de outras bifurcações.
Jorge Luis Borges
Existem muito mais rascunhos e maquetes do que obras; o 
volume do que é descartado excede imensamente o de 
tudo que é mantido e realizado.
George Steiner
Marta se tornou hábil em lapidar o espírito e afetos de seus 
alunos; em retirar de dentro deles seus conhecimentos pré-
vios e metamorfoseá-los numa cultura científica útil para 
cada um enfrentar, em espaços distintos, os desafios da vida 
pessoal, social e política de nosso tempo.
Maria da Conceição de Almeida
RESUMO
A presente dissertação destaca momentos importantes que constituíram 
vida e obra da educadora e militante política Marta Maria Castanho Al-
meida Pernambuco (1952-2018). Durante toda a vida lutou incansavelmen-
te contra as desigualdades sociais e fez da práxis educativa possibilidade 
de inclusão. Nesta pesquisa escolhemos consultar as fontes documentais 
disponibilizadas nos arquivos do Grupo de Estudos de Práticas Educativas 
em Movimento (GEPEM) e do Grupo de Estudos da Complexidade (GRE-
COM), ambos da UFRN, leitura das correspondências e oitiva de testemu-
nhos concedidos por colegas, amigos, ex-alunos, familiares e professores 
que em algum momento desfrutaram da convivência com a pesquisa. Por 
interlocutores teóricos tomamos Paulo Freire, Edgar Morin, Maria da Concei-
ção de Almeida, Michel Serres e Jean-Philippe Pierron. A lição aprendida é 
de que a vida é um movimento constante, uma oportunidade permanente 
de regar a esperança.
Palavras-chaves: Marta Pernambuco; GEPEM; Ensino de Ciências; Pedago-
gia Freireana.
ABSTRACT
This work wants to highlight important moments that constituted the life and 
work of the educator and political activist Marta Maria Castanho Almeida 
Pernambuco (1952-2018). Throughout her life she has fought tirelessly against 
social inequalities and made educational praxis the possibility of inclusion. In 
this research we chose to consult the documentary sources made available 
in the archives of the Group for the Study of Educational Practices in Move-
ment - GEPEM and the Group for the Study of Complexity - GRECOM, read-
ing the correspondences and listening to testimonies given by colleagues, 
friends, students, family members and teachers who at some point they en-
joyed living with the research. For theoretical interlocutors we take Paulo 
Freire, Edgar Morin, Maria da Conceição de Almeida, Michel Serres and 
Jean-Philippe Pierron. The lesson learned is that life is a constant movement, 
a permanent opportunity to shower hope. 
Keywords: Marta Pernambuco; GEPEM; Science teaching; Paulo Freire’s Pe-
dagogy.
LISTA DE SIGLAS
ABC Academia Brasileira de Ciências
AI-5 Ato Institucional nº 5
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível 
Superior
CCSA Centro de Ciências Sociais Aplicadas
CEFET/RN Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio 
Grande do Norte
CERIS Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais
CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil 
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e 
Tecnológico
Comperve/UFRN Núcleo Permanente de Concursos da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte
CONDICAP Conselho Nacional dos Dirigentes das Escolas de 
Educação Básica das Instituições Federais de Ensino 
Superior
DEPED Departamento de Educação
DF/FURRN Departamento de Física da Fundação Universidade 
Regional do Rio Grande do Norte
DFTE Departamento de Física
ECPC Ensino de Ciências a partir da Problemática da 
Comunidade
FHC Fernando Henrique Cardoso
FORPRED Fórum de Coordenadores de Programas de Pós-
Graduação em Educação
FUNBEC Fundação Brasileira para o Ensino de Ciências
GEEP Grupo de Estudos do Ensino Problematizador em 
Ciências
GELMIT Grupo de Estudos em Linguagem, Memória, Identidade 
e Território
GEPEM Grupo de Estudos de Práticas Educativas em Movimento
GRECOM Grupo de Estudos da Complexidade
IC Iniciação Científica
IFRN Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do 
Rio Grande do Norte
MEB Movimento de Educação de Base
MEC Ministério da Educação
MOBRAL Movimento Brasileiro de Alfabetização
MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
NEI Núcleo de Educação da Infância da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte
PADCT Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e 
Tecnológico
PDC Partido Democrata Cristão
PES Programa de Educação Comunitária para a Saúde
PIBID Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à 
Docência
PJMP Pastoral da Juventude do Meio Popular
PPGED Programa de Pós-Graduação em Educação da 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
PREMEN Projeto Nacional para Melhoria do Ensino de Ciências
PROBASICA Programa de Qualificação Profissional para a Educação 
Básica 
PRONERA Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária
PUCRS Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
RN Rio Grande do Norte 
SAR Serviço de Assistência Rural
SAU-5 Serviço de Atendimento ao Usuário
SBF Sociedade Brasileira de Física
SBPC Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
SEDIS Secretaria de Educação à Distância da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte
SEEC Secretaria Estadual de Educação e Cultura do Rio 
Grande do Norte
SME/Natal Secretaria Municipal de Educação de Natal
SME/SP Secretaria Municipal de Educação de São Paulo
SPEC Subprojeto de Ensino de Ciências
SPP São Paulo do Potengi 
UFPA Universidade Federal do Pará 
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
UFSCar Universidade Federal de São Carlos
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a 
Ciência e a Cultura
USP Universidade de São Paulo
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Marta Pernambuco na infância ...........................................................................................................................28
Figura 2 – Marta Pernambuco com os pais e os irmãos .................................................................................28
Figura 3 – Marta Pernambuco com os sobrinhos ......................................................................................................30
Figura 4 – Marta Pernambuco no escotismo .....................................................................................................................32
Figura 5 - Marta Pernambuco, Cristina Dal Pian e Monsenhor Expedito .................................39
Figura 6 - Dedicatória de Monsenhor Expedito para Marta Pernambuco...........................45
Figura 7 - Trabalhos de Nísia Floresta. ............................................................................................................................................46
Figura 8 - Roteirosobre Método de Ensino usado em São Paulo do Potengi ..................49
Figura 9 - Plano de Divulgação..............................................................................................................................................................52
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Principais Escritos ..................................................................................................................................................................105
Quadro 2 - Relação dos alunos e títulos dos trabalhos orientados ..............................................110
SUMÁRIO
AO ADMIRAR UM JARDIM ..............................................................................................................................................................................19
SEMENTES DE INQUIETAÇÃO, CULTIVO DE TRANSFORMAÇÃO.....................................................................26
Aprendizados da Infância e Juventude ..........................................................................................................................27
Lições do Escotismo – coisa da terra ....................................................................................................................................31
As primeiras letras ...............................................................................................................................................................................................32
Arar a terra: tempo de graduação (1970-1972) ..................................................................................................34
REGANDO O PENSAMENTO CRÍTICO ..............................................................................................................................................37
Consolidando o Mestrado (1975-1982): adubo da Teologia da Libertação ......................40
Estratégia de trabalho ................................................................................................................................................................................50
A itinerância inquietante .........................................................................................................................................................................55
Do interior para a capital .......................................................................................................................................................................57
Doutorado em Educação: laboratório expandido, enxerto de ideias .............................58
LAVRANDO O SOLO DA CORAGEM..................................................................................................................................................60
Grupo de Estudos de Práticas Educativas em Movimento (GEPEM) ....................................61
TESTEMUNHOS ..................................................................................................................................................................................................................64
Pós-doutorado: em busca de novos grãos .............................................................................................................104
Da colheita de uma vida ou muitos frutos a serem compartilhados ...............................105
PARA CONCLUIR: O CONSTANTE PLANTIO DA ESPERANÇA ........................................................................112
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................................................................................115
AO ADMIRAR UM JARDIM
Fonte: Wikipédia. Canto do jardim de Montgeron, de Claude Monet (1877).
20
Em 2016, na sua volta de uma viagem a Paris, e dois anos antes de sua morte, recebo de presente de Marta Pernambuco um caderno de ano-
tações cuja ilustração é um dos quadros da Série das Nymphéas ou Nenú-
fares de Claude Monet:
Caro Manoel, como um quadro de Monet a vida de perto 
pode parecer um borrão impreciso. Às vezes, só olhando de 
longe percebemos a luz, a transparência e a beleza de um 
todo. Assim também na vida, olhar envolve uma aproxima-
ção e um distanciamento que nos desafiam a buscar cami-
nhos significativos.
Essas palavras de Marta Pernambuco representam bem a imagem 
que guardo e é uma das mais importantes lições que aprendi com ela: “a 
vida”, quando olhada de perto e durante o seu fluxo permanente “parece 
um borrão impreciso”, mas é também algo que nos desafia a encontrar 
sentidos, “caminhos e significados”.
Como em um caderno de anotações, traçamos linhas que poderão 
ser transformadas em possibilidades capazes de desenhar modos de viver 
que podem ser conformistas ou audaciosos, a depender do desenhista. Ao 
mesmo tempo, a vida não existe como um borrão, porque o que ela dese-
nha e o que nela se inscreve não se apaga. Com propriedade, o grupo de 
rock natalense Mad Dogs canta: viver é desenhar sem a borracha.
Esse é um desafio do pensamento lançado a mim por Marta. Olhando 
de perto, talvez sejamos incapazes de compreender a vida enquanto obra 
de arte. Mas, exercitando as aproximações e distanciamentos dos fatos e 
atitudes podemos colocar nossa própria vida em perspectiva, criar o novo, 
bifurcações político-afetivas, no sentido de afetar, com nossa força, o mun-
do que nos cerca. Ter consciência da vida como força criadora é saber 
produzir uma vida como obra de arte.
21
Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco (1952-2018), desenhou 
com as tintas da própria vida o cenário de uma educação transformado-
ra. Para quem a conheceu de longe (distanciamento), era uma pessoa 
aparentemente de poucos amigos, quando na verdade tinha uma dezena 
de amigos espalhados pelo Brasil. Certamente, no entanto, poucos sabem 
como, na verdade, doou sua vida ao outro (aproximação). Fez de sua pró-
pria vida uma obra de arte e, da transformação do mundo, seu sacerdócio.
O cenário narrado aqui, onde cabem de Marta a Monet, passando 
por Paulo Freire, Edgar Morin e Conceição Almeida, entre outros, por diver-
sas vezes tomará forma de um jardim ou dos quadros que, nos moldes de 
um jardim projetado pelo pintor impressionista Claude Monet, expressam 
contornos de uma vida intelectual que soube marcar presença para além 
dos espaços formais de ensino e fazer-se semente capaz de vivificar trans-
formações em movimentos sociais.
Como as sombras delineadas por Monet que expressam sua percep-
ção sobre o real a partir de um jogo de luz formando contornos que ao mes-
mo tempo se desfazem, em parte, Marta Pernambuco com as pesquisas em 
torno das “práticas educativas em movimento”, constrói pressupostos de 
uma pedagogia coletiva pautada no estudo da realidade local, também 
dinâmica e flutuante. Monet pinta os reflexos das flores na água e as ramas 
se espalhando na beira do rio; Marta concebe nas práticas educativas as 
possibilidades de libertação do sujeito que se disseminam pela sociedade. 
Monet libera a pintura de suas formas canônicas e academicistas; Marta 
libera as forças transformadoras da educação e dos movimentos sociais.
No processo da construção da pintura de um jardim (Monet) e das 
práticas educativas em movimento (Marta), mobilizaram ideias construídas 
e apresentadas de formas diferentes, mas, em sua essência, igualmente jar-
dins para se apreciar, multiplicar e conservar. Construíram igualmente obras 
de arte, cada um em sua vereda.
Multiplicar um movimento na arte ou na educação requer habilidade 
e competência, coragem e ousadia. É como que conservar um jardim pe-
las ideias, palavras e ações. Melhor dizendo, é como liberar as ideias, pala-
vras e ações de suas clausuras epistêmicas, lançando-as em outros circuitos 
de produções afetivas. Como Monet, que pelo jogo de sombra e luz faz 
desabrochar flores e fluir lagos, Marta ousou disseminar, plantar e ver crescer 
sonhos, ideias elutas pela construção de uma sociedade onde a igualdade 
e justiça social pudessem florir e proliferar.
22
A escolha de Marta Pernambuco para sujeito de minha pesquisa é 
algo maior que um entusiasmo intelectual, embora também o contenha. 
Diz respeito as ideias que me arrebata não apenas por sua força, mas pela 
força daqueles que as pronunciam. Portanto, trata-se de um exercício de 
admiração (CIORAN, 2011), admiração a uma das pessoas mais genero-
sas e fiéis que conheci na vida e que me acolheu de braços abertos após 
minha chegada a Natal e na iniciação científica durante meu curso de 
Biologia. Uma pessoa assim, tão generosa, com um coração imenso, só po-
dia ser possuidora de uma mensagem poderosa, que me conquistou quase 
imediatamente.
Sua forma de ensinar, sua preocupação com o outro, seu compromis-
so com a educação não apenas na academia, mas sobretudo fora dela, 
são características que me seduziram. Tentei manter certa objetividade na 
escrita da dissertação, mas a própria escolha do tema denuncia minha 
cumplicidade com as ideias de Marta Pernambuco. Portanto, é um texto 
movido mais pelo afeto do que pela propalada neutralidade axiológica da 
escrita acadêmica. Acredito, também, que seja mais do que necessário 
manter viva sua memória, por ser uma memória de luta capaz de inspirar a 
arte de viver para as futuras gerações. Em suma, minha escolha deu-se, so-
bretudo, por me aproximar das ideias de uma educadora não-conformista 
por natureza, ou por obstinação.
Marta Pernambuco fez da Universidade Federal do Rio Grande do Nor-
te seu jardim. Desde março de 1976, quando chega ao estado, aos vinte e 
três anos, viveu apaixonadamente a missão de educar. Durante 42 anos de 
sua vida, dedicou-se a semeadura e cultivo de uma educação para liber-
dade. Soube enxergar o aqui e agora sem perder a perspectiva de novos 
horizontes possíveis. Uma característica dos artistas, sejam da pintura, da 
palavra, do pensamento ou da ação é captar as forças de conjunção que 
se formam em determinado sentido, ou mesmo fazê-las emergir. Havia em 
Marta uma inquietude capaz de conjugar muitos outros sonhadores de um 
mundo movido por menos agressão e desigualdade.
Durante algum tempo, antes de sua morte precoce, tive o privilégio de 
privar de sua amizade e de seus preciosos ensinamentos. Eu era tão cola-
do a Marta, que as vezes me sentia sua sombra. Por isso, como material de 
pesquisa primário utilizei-me de consulta ao acervo das fontes documentais 
disponíveis no Grupo de Estudos de Práticas Educativas em Movimento (GE-
PEM), fundado por Marta Pernambuco. Em um segundo momento, recolhi 
23
testemunhos de pessoas ligadas a Marta Pernambuco (familiares, professo-
res, amigos, alunos).
Fiz a seleção para a pós-graduação sonhando ter Marta como orien-
tadora. Após a partida inesperada dela, por ocasião da minha aprovação 
no Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRN, fi-
liei-me ao Grupo de Estudos da Complexidade (GRECOM), fundado por 
Conceição Almeida, parceira na vida e nas ideias de Marta, que passou a 
ser minha orientadora. Entre o GEPEM e o GRECOM sempre houve um fluxo 
de ideias que corria livremente. Agradeço ao GRECOM pelo caloroso aco-
lhimento e pela disponibilização do seu acervo. Por isso, para construção 
do presente trabalho, utilizei-me também, além do referencial teórico das 
produções do GEPEM, do material do GRECOM. Nesse último grupo, pude 
aprender que a ciência é uma construção coletiva. Por isso consultei teses, 
pesquisas e dissertações construídas no GRECOM. Me senti estimulado por 
pesquisa que se atém ao que se chama itinerários biográficos ou trajetó-
rias intelectuais, como a tese de doutorado de Leilane Assunção, intitulada 
Clara Nunes como obra de arte: a epistemologia das ciências humanas a 
partir da cultura musical; a tese de Louize Gabriela Silva de Souza, com o 
título Teresa Vergani: nomadismo, insubordinação, complexidade; a tese de 
Jair Moisés de Sousa, Sobre a construção das ideias científicas ou Darwin e 
seus demônios; a tese de Juliana Rocha de Azevedo, A história como tes-
temunho - “eu estava lá” e finalmente a tese de Mônica Karina Santos Reis: 
Reinventar a universidade: um ensaio sobre o Grupo de Estudos da Comple-
xidade (GRECOM/UFRN).
É praxe acadêmica não falar, no corpo do texto, sobre os problemas 
enfrentados pelos pós-graduandos na escrita de uma dissertação de mes-
trado ou tese de doutorado. Abrirei este único parágrafo para este propó-
sito por motivos que são óbvios. A escrita deste texto foi marcada, primeiro 
pela saudade de Marta Pernambuco que partiu repentinamente para ou-
tra dimensão, e, segundo pelos transtornos com a chegada da pandemia 
da Covid-19 no Brasil e no mundo; a falta das longas orientações com Cei-
ça, os momentos de dores, perdas, fechamento da Universidade e isola-
mento social certamente estão circunscritos nas lacunas e carências ora 
reveladas, ora silenciadas, mas nunca dissimuladas.
A dissertação se desdobra em três capítulos: Sementes de inquieta-
ção, cultivo de transformação; Regando o pensamento crítico; lavrando o 
solo da coragem e, por fim, para concluir: O constante plantio da esperan-
24
ça. No primeiro tratarei de fragmentos da vida de Marta, como o convívio 
familiar da sua infância, sua formação escolar, sua inserção no movimen-
to da igreja Católica, no escotismo e sua graduação. Tento deixar claro 
como certas ideias obsessivas foram semeadas nela durante esse período e 
a acompanharam por toda a vida. É a fase do enraizamento.
No segundo e terceiro capítulos retomarei o processo de consolidação 
de aspectos importantes que envolvem a formação de Marta no mestrado 
em Ensino de Ciências na USP e de sua vinda para a Universidade Federal 
do Rio Grande do Norte (campus Natal). Tais acontecimentos possibilitaram 
o desenvolvimento do projeto Ensino de Ciências a partir da Problemática 
da Comunidade (ECPC). Seu Doutorado em Educação na USP, orientado 
pelo professor Luis Carlos de Menezes, um físico renomado que foi um dos 
semeadores das ideias de Paulo Freire na área de Educação em Ciências. 
Por seu reconhecimento, Menezes foi convidado por Paulo Freire, então Se-
cretário de Educação da cidade de São Paulo na administração de Luiza 
Erundina (1989-1993) para atuar no espaço da educação. Foi, nesse perío-
do, que o professor Menezes convida Marta a acompanhá-lo.
No terceiro capítulo em especial, tratarei da fundação do GEPEM, mais 
precisamente da militância educativa de Marta dentro e fora da UFRN. 
Para tanto recorrerei a testemunhos de orientandos, amigos, professores e 
parceiros de trabalhos. Marta fez germinar em um jardim de esperanças e, 
com as sementes dessa esperança, semeou coragem em novas pessoas 
para que sejam capazes de construir novos jardins. Pincelarei também al-
guns aspectos de seu pós-doutoramento na Pontifícia Universidade Católi-
ca do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Este texto está marcado pela consciência do inacabamento, da par-
cialidade e da incerteza, princípios caros ao pensamento complexo em 
permanente reconstrução por Edgar Morin e lição maior que tenho apren-
dido no interior do GRECOM. Minha permanência intensa nesse grupo de 
pesquisa faz da sala Edgar Morin, minha morada física, afetiva e, sobretudo, 
um lugar de experimentação de uma ciência pintada com cores da amiza-
de, da razão apaixonada, da politização do pensamento.
Como se fosse pouco ficar de segunda a sexta-feira (onde almoçava 
e jantava) na sala Edgar Morin, tomei a iniciativa de propor aos colegas 
mestrandos e doutorandos nos encontrarmos aos sábados na atividade 
chamada grupo de Estudo, onde passamos a ler e discutir sistematicamen-
te parte dos volumes de O Método de Edgar Morin.
25
Eu que tomo como metáfora e iluminação dos quadros de jardins de 
Monet para falar de Marta, escolhi meus pinceis e minhas cores e estou a 
construir, por fragmentos da trajetóriade Marta, a história de uma educa-
dora que merece ser imitada.
SEMENTES DE INQUIETAÇÃO, 
CULTIVO DE TRANSFORMAÇÃO
Fonte: Wikipédia. Jardim de Monet em Vétheuil, de Claude Monet (1880).
27
Reencontro-a, como sempre a conheci, nas suas cartas, in-
quieta, insatisfeita, mas ao mesmo tempo ativa e lutando. 
(Carta do Frei Reginaldo, padrinho de Marta, em 7 de outu-
bro de 1983)
Aventuro-me até a lhe dizer que a insatisfação faz parte da 
sua personalidade e que você está sempre procurando, 
mesmo depois de ter encontrado (Carta do Frei Reginaldo, 
padrinho de Marta, em 9 de novembro de 1985)
Aprendizados da Infância e Juventude
As epígrafes acima, extraídas da correspondência entre Marta e o Frei 
Reginaldo, seu padrinho de batismo, revelam indícios de inconformismo 
diante das situações de desigualdades e opressões sociais. A sensibilidade 
do frei Reginaldo era aguçada pelas atitudes dela na itinerância do viver.
Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco nasceu em São Paulo, 
numa família de classe média, aos oito dias do mês de abril de 1952. Fi-
lha de Marcello de Almeida Pernambuco, um dentista que sempre se en-
volveu em atendimentos populares sem fins lucrativos e Myriam Castanho 
de Almeida Pernambuco, uma dona de casa voluntária no catecismo da 
Paróquia Nossa Senhora do Brasil na capital paulista. Myriam e Marcello 
Pernambuco tiveram nove filhos, que foram criados influenciados por uma 
educação com base no desenvolvimento do jovem e na luta contra as 
desigualdades sociais. O ambiente familiar tatuou em Marta, portanto, um 
imprinting cultural progressista e solidário.
Frutos dessa concepção de educação, os filhos crescidos ocuparam 
os seguintes postos: Marcelo Pernambuco tornou-se padre; Marta Pernam-
buco, formada em física, tornou-se educadora. Paulo Pernambuco, dese-
nhista industrial, tornou-se administrador de empresas. Maurício Pernam-
buco tornou-se psiquiatra; Lucia Pernambuco, artista plástica, tornou-se 
administradora de empresas; Luiz Pernambuco, psicólogo e matemático, 
28
mas também se dedicou ao empresariado. Ana Pernambuco, tornou-se 
educadora física; por último, André Pernambuco, médico geriatra.
Figura 1 – Marta Pernambuco na infância
Fonte: Acervo do GEPEM
Figura 2 – Marta Pernambuco com os pais e os irmãos 
Fonte: Acervo do GEPEM.
Uma família da cidade de São Paulo bastante envolvida no desenvol-
vimento principalmente político do município. Os pais e seus avós mater-
29
nos, Ottoni de Almeida Castanho e Ary Cortez Castanho, eram militantes 
da Ação Católica Brasileira, movimento organizado pelos leigos no seio da 
Igreja Católica visando agir na sociedade conforme os princípios do Evan-
gelho cristão.
A Ação Católica foi um grande movimento no Brasil que se propagou 
a partir de 1935, com o objetivo de ampliar a participação dos leigos, es-
pecialmente jovens, a fim de fazê-los apóstolos da Igreja diante das exigên-
cias do mundo moderno. Leigos investidos do papel evangelizador atuam 
pelo resplandecer de uma Igreja comprometida com as questões da vida 
cotidiana. Os fiéis comprometidos com os trabalhos da Ação Católica en-
tendiam bem a importância da participação política e por isso lutavam 
pela concretude do bem comum e da cidadania para todos os homens e 
mulheres.
Marta e seus irmãos participavam das reuniões sobre os assuntos reli-
giosos organizadas por seus pais e outras famílias e compreendiam desde 
cedo a importância da participação política nos destinos da sociedade. A 
Ação Católica foi semente fértil na infância e adolescência de Marta Per-
nambuco e viria a brotar mais à frente na sua história.
A aproximação dos universos da fé e da política transformou-se num 
legado da família e constitui-se em aprendizagem para vida. Ottoni de Al-
meida Castanho e Ary Cortez Castanho, os avós maternos de Marta, foram 
colaboradores na fundação do Partido Democrata Cristão (PDC) em 1945, 
por iniciativa do professor da USP Antônio Ferreira Cesarino Júnior. O PDC se 
funda sob os princípios de uma democracia cristã, que traz fundamentos 
do primeiro-ministro italiano Alcide De Gasperi.
Esse partido, classificado como conversador moderado fazia oposição 
ao getulismo de base populista e centralizadora. Figuras do cenário políti-
co, como por exemplo o ex-presidente Jânio Quadros, foi filiado ao PDC, 
extinto em 1965, durante a Ditadura Militar. Por todas essas vivências a me-
nina Marta logo aprendeu que fé e política são paralelos que se encontram 
na semeadura da cidadania.
O gosto de Marta pelas discussões políticas e o despontar da capaci-
dade de liderança logo começam a vir à tona. Mesmo não sendo a filha 
mais velha, muitas vezes era ela a responsável por dar a última palavra nas 
decisões sobre os assuntos familiares. Esse perfil de liderança e autodetermi-
nação foi construído inicialmente entre seus pais e irmãos, mas transbordou 
para seus sobrinhos. Quinze.
30
Marta, apesar de viver “longe”, estava sempre presente nos 
principais momentos da família. Aliás, para a gente, o mo-
mento da família ganhava o status de “principal” somente 
com a presença dela. Era tipo a segunda mãe de todo mun-
do. Era a atitude personificada da mulher que ela representa-
va. Lutadora, conquistadora, independente, amorosa, dura, 
direta, complexa, intensa. Mais que tudo, intensa. (Texto en-
viado pela família para o Tributo em homenagem a Marta 
Pernambuco em 21 de maio de 2018).
Figura 3 – Marta Pernambuco com os sobrinhos 
Fonte: Acervo do GEPEM.
A líder amorosa é também a intelectual que estuda o seu próprio tem-
po para tomar decisões cabíveis às emergências do seu contexto social e 
atuar nele. Essa observação da realidade é marcante em toda sua trajetó-
ria, sinal de uma liderança capaz de agir com sensibilidade e firmeza diante 
das circunstâncias políticas. Como se analisasse os grânulos da terra, no 
sentido de encontrar o melhor local para que a água escoe e alimente o 
solo, delimitando o terreno a ser cultivado.
31
Lições do Escotismo – coisa da terra
Um outro momento que consolidou a subjetividade política da educa-
dora Marta Pernambuco foi sua participação no Movimento de Escoteiros 
durante quase 10 anos. Certamente, nele desenvolveu o gosto pela organi-
zação do coletivo e o hábito pela disciplina e cooperação. Esse movimen-
to, fundado em 1907 por Baden-Powell, investe no ensinamento dos princí-
pios da cooperação e da responsabilidade do jovem para que ele assuma 
o trabalho em equipe, importante em uma sociedade que encontrou no 
individualismo exacerbado sua forma privilegiada de existência.
No escotismo o espírito de fraternidade, lealdade, disciplina e com-
panheirismo são fundamentais para sustentação do grupo. Por demonstrar 
aderência a tal espírito, Marta tornou-se Akella – a chefe de Lobinhos – coor-
denadora do grupo de escoteiros mirim. Mais tarde, passou para o Grupo 
de Bandeirantes, no qual exerceu a função de guia. São os primeiros traços 
que deverão compor mais à frente um quadro de vida como arte e ação.
Michel Serres, referindo-se ao esporte de rendimento, nos ajuda a com-
preender a práxis democrática nascente na vida de Marta,
o espírito de equipe é construído quando se domina o ardor 
da competição e se respeitam as decisões do árbitro: em 
conjunto e juridicamente, os esportes coletivos nos ensinam 
a lutar contra nossa agressividade e dos nossos adversários 
(SERRES, 2004, p. 36).
Trata-se, portanto, de um importante momento de socialização na 
vida de nossa personagem. O espírito cooperativo de equipe será caracte-
rística da professora-pesquisadora Marta, forjado desde muito cedo na ex-
periência intensa do escotismo. Foram ali suas primeiras experiências com 
grupos de leituras e estudos, com aulas particulares e com o ensino dos mais 
novos. Com o lema do compromisso, do trabalho em equipe, fraternidade 
e lealdade, Marta toma esses pilares do movimento de escoteiros para ela 
em sua carreira de intelectual militante, aprendendoe ensinando que o 
pensamento é uma ação coletiva.
32
Figura 4 – Marta Pernambuco no escotismo
Fonte: Acervo do GEPEM.
As primeiras letras
No contexto escolar, Marta teve experiência tanto em escolas públi-
cas quanto privadas. Viveu de perto as exigências, as diversas diferenças, 
as desigualdades e os desafios que cada uma dessas instituições de ensino 
contém no Brasil. Passou no exame de admissão, prova feita no final do cur-
so primário com objetivo de ingresso no curso ginasial onde ganhou bolsa 
para estudar no ginásio de orientação religiosa.
Cursou o científico, que era uma das modalidades do ensino secundá-
rio. Convivendo com professores que estimulavam e desafiavam os alunos, 
propondo novas interações e leituras de autores que ultrapassavam os livros 
didáticos das disciplinas, Marta Pernambuco ampliou seu interesse pela re-
flexão sociopolítica. No conturbado período de domínio dos governos mi-
litares, do cerceamento das liberdades individuais e das várias censuras, 
o investimento em uma educação que pudesse esclarecer as causas da 
desigualdade social do país passou a ser um grande desafio.
No ano de 1967 cursando o primeiro ano científico, teve acesso às dis-
cussões sobre o conceito de desenvolvimento e ganhou da professora de 
33
História um livro de Celso Furtado1. Logo compreendeu que as causas do 
subdesenvolvimento eram profundamente sociais. A consciência dos males 
provenientes da desigualdade social aguçou seu espírito de justiça. A insa-
tisfação diante das injustiças sociais transformou a educadora Marta em 
uma militante permanente em vista da transformação da realidade social.
Juntando-se a isso seu amor pelas pessoas e sua inquietude natural, como 
atesta sua família, ultrapassava fronteiras políticas e desafia os poderes esta-
belecidos ao percorrer alguns lugares do Brasil propugnando uma pedagogia 
libertadora. A militância de Marta se expressava em ações, palavras escritas 
e faladas a seus alunos no sentido de fazê-los enxergar a carga histórica das 
injustiças contra os despossuídos desta Terra. Para ela a educação
deve estar adaptada, em seus métodos e programas, a per-
mitir ao homem chegar a ser sujeito, construindo-se como 
pessoa, transformando o mundo, estabelecendo com outros 
homens relações de reciprocidade, fazendo cultura e fazen-
do história (PERNAMBUCO, 1981, p. 17).
no sentido de amadurecer uma política da existência por meio do 
plantio de um senso crítico aliado a um cuidado minucioso com o que di-
ziam os teóricos para que suas ideias não fossem amenizadas, generaliza-
das ou distorcidas.
Não devemos esquecer da conjuntura política do momento, pois são 
anos pós Ato Institucional nº 5 (AI-5)2, o mais violento entre os atos institucio-
nais publicados durante o período militar (1964-1985). O surgimento dessas 
entidades, as manifestações e toda essa mobilização, é uma onda que 
rebate o cerceamento das liberdades que acontecia no momento. Todas 
as repressões, censuras do direito de voz, ricocheteiam em um momento de 
fortalecimento das coletividades.
Marta vive esse momento avidamente junto aos movimentos sociais, 
da igreja e da educação em ciências. As reuniões da Sociedade Brasileira 
1 1920-2004. Um dos intelectuais brasileiros mais importantes do século XX, dedicando boa parte de 
sua obra para pensar o desenvolvimento econômico do Brasil.
2 O AI-5 faz parte do conjunto de dezessete grandes decretos publicados durante a ditadura mi-
litar. Baixado em 13 de dezembro de 1968, durante o governo Artur da Costa e Silva, foi o mais 
duro dos decretos e inaugura o período mais sombrio durante o golpe militar no Brasil (1964-1985). 
Autorizavam entre outras medidas, o fechamento do Congresso, a cassação de mandatos e a 
decretação de Estado de Sítio por tempo indeterminado.
34
para o Progresso da Ciência (SBPC), entidade que investe na produção 
do conhecimento, mas também na luta contra os governos militares, jun-
tamente com outras instituições da sociedade civil, como a Conferência 
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), sindicatos e movimentos sociais pre-
param cenários de grandes mobilizações no país. Marta junta-se aos movi-
mentos estudantis e aos sindicatos de professores para reivindicar políticas 
de formação docente.
Arar a terra: tempo de graduação (1970-1972)
Nos anos que nossa personagem da vida real adentra a universidade o 
Brasil experimentava o auge dos financiamentos de programas educacio-
nais voltados para os países subdesenvolvidos, com a onda de uma escola-
rização fundamental necessária para toda a sociedade. É dessa época a 
Lei de Diretrizes e Bases (Lei 5692/71), de 11 de agosto de 1971, que expan-
diu o ensino secundário e incentivou a criação das licenciaturas curtas.
Nesse contexto de alta valorização do conhecimento produzido nas 
Ciências Naturais (Química, Física, Biologia, Astronomia, Ciência da Terra), 
em conjunto com a formação de cientistas, Marta escolhe por prestar ves-
tibular para Ciências Exatas e Engenharias e escolhe o curso de Física da 
Universidade de São Paulo (USP). Interessante observar que no ano de 1970, 
quando essa escolha ocorre, o mundo experimenta um fenômeno ambiva-
lente no universo da ciência e educação: de um lado a expansão do papel 
da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultu-
ra (UNESCO), de outro os resquícios sombrios da Guerra Fria (1947-1991) que 
aumenta a disputa tecnológica entres os países.
Em 1975 inicia na USP o curso de Física. Na ocasião o currículo daquele 
curso reúne o Bacharelado e a Licenciatura nos dois primeiros anos e, de-
pois disso, o estudante pode optar por uma das modalidades. Marta esco-
lhe ficar na licenciatura.
No ano de 1972 o Ministério da Educação havia criado o Projeto Na-
cional para Melhoria do Ensino de Ciência, com a tarefa de produzir mate-
rial didático. Marta colabora com a construção desses instrumentos peda-
gógicos. Com todas essas inquietações à sua volta, Marta, mesmo antes de 
terminar a graduação, começou a trabalhar como professora de Química, 
Física e Matemática em várias escolas da cidade de São Paulo. Mantinha-
-se envolvida nos movimentos de formação de professores sempre que pos-
35
sível. Esse é o período em que Marta começa a conviver com a classe de 
professores e conhece o chão da escola.
Na universidade, ingressa no programa de Iniciação Científica do La-
boratório de Estado Sólido e torna-se monitora nos laboratórios de Física Bá-
sica. Durante a graduação Marta experimentou uma atmosfera de grande 
expansão da Educação e Ensino em Ciências. Várias entidades, como a 
Fundação Brasileira para o Ensino de Ciências (FUNBEC) emergiram nesse 
contexto de popularização das Ciências e o chamado era para a produ-
ção de materiais didáticos para conseguir esse feito.
Tais projetos são financiados e regulamentados pelo Projeto Nacional 
para Melhoria do Ensino de Ciências (PREMEN) do Ministério da Educação 
(MEC). A ideia era ofertar iniciação científica logo nos primeiros anos esco-
lares. Para isso, além dos materiais didáticos, os “jovens cientistas” tinham 
contato com revistas de divulgação científica, que acompanhavam um 
pequeno laboratório (microscópio, lâminas, pinças etc.) como agente de 
formação no ensino de ciências.
Nesse momento também acontece uma grande cooperação dos gru-
pos de psicologia experimental e cognitiva com os grupos de ensino no 
desenvolvimento de metodologias de ensino-aprendizagem. Esses grupos 
reforçaram, na área de Educação, ainda mais o desenvolvimento dos cur-
sos de Ciências Naturais e principalmente das licenciaturas. É um tempo de 
expansão de uma educação nunca vista em nosso país, e Marta acompa-
nha muito atenta a esses acontecimentos.
Já bastante engajada com a educação, não se afasta dos princípios 
de uma formação voltada para o rompimento com as desigualdades so-
ciais, enxergando que uma alfabetização democrática é o melhor caminho 
paraque essa ação aconteça. Uma educação que possibilite aos sujeitos 
compreenderem essas situações contraditórias, e por isso consigam imagi-
nar horizontes melhores. Nesse movimento, no ano de 1975, Marta ingressa 
no mestrado em Ensino de Ciências.
O temperamento que o padrinho de Marta havia destacado anterior-
mente em epígrafe, de uma pessoa inquieta, insatisfeita com o mundo ao 
redor, ativa e lutadora fizeram fervilhar informações, desassossegar corpos 
e mentes e por vezes desatar coragem. Dotada de um espírito inquieto 
diante da crueldade do mundo Marta Pernambuco respondeu com ousa-
dia aos desafios do tempo e ao trabalho que lhe coube viver e desenvolver 
respectivamente.
36
Em O Método 6 – Ética (2005), Edgar Morin faz referência a uma ética 
tríplice que devemos cultivar para vivermos juntos da melhor maneira pos-
sível: uma ética interior, voltada para si, para seu próprio desenvolvimento 
enquanto ser humano, estabelecendo uma riqueza de possibilidade para 
trocar com o mundo; uma ética exterior, voltada para o bem da socieda-
de, ou seja, uma ética do altruísmo; e, por fim, uma ética anterior, dedicada 
à espécie, ou seja, uma ética planetária, com vistas a uma comunidade de 
destino. Marta cultivou as três éticas como uma asceta. Mas a dedicação 
ao outro, tão rara nos dias atuais, demonstração de pura resistência aos 
imperativos do capital, era o seu Ministério.
Os testemunhos de seus colegas e alunos no Tributo em homenagem a 
Marta Pernambuco, em maio de 2018, revelam a imagem de mulher forte e 
lutadora que cultivou entre as pessoas dentro e fora da UFRN:
A firmeza de suas convicções estava muito mais pautada em 
uma densa e criteriosa fundamentação científica de base 
filosófica, alicerçada em uma gentileza muito própria de sua 
personalidade e de seu caráter, contrário do que o imaginá-
rio do coletivo, via de regra, nos alertava para uma dureza 
impassiva. (Willys Farkat)
Marta era uma pessoa bastante antenada. Acompanhava 
as inovações de políticas públicas na área do ensino. Marta 
não era só uma pessoa na academia. Ela estava na socie-
dade, estava no mundo. E por estar antenada, trouxe o PRO-
NERA, em parceria com o MST para o Rio Grande do Norte. 
(Cesar Sanson)
Defensora de uma prática libertadora, na proximidade com 
ela, com suas ideias, é fácil destacar elementos que per-
meiam seu diálogo, como as questões essenciais a uma edu-
cação como prática libertadora. (Ariane Rochelle)
É difícil sequenciar fatos de uma vida tão rica e plena de aconteci-
mentos, mas também com muitas bifurcações. Uma vida não linear, talvez 
se semelhante ao borrão pintado por Monet. O que faço nesta dissertação 
é traçar linhas na tentativa de contemplar, por sua relação com a educa-
ção, o quadro de um ser humano complexo chamado Marta Pernambuco.
REGANDO O PENSAMENTO CRÍTICO
Fonte: Wikipédia. Camille Monet no Jardim de Argenteuil, de Monet. 1876
38
[...] achamos de fundamental importância a presença de 
pessoas que acreditam, que o saber universitário deve ser ins-
trumento de transformação e que para isso as universidades 
precisam estarem organizadas. (Carta enviada a Marta por 
Nerize Laurentino Ramos, coordenadora do MCU/NE, em 15 
de novembro de 1985).
Marta Pernambuco é oriunda de uma família abastada do centro eco-
nômico do Brasil, São Paulo, e teve acesso à formação na mais tradicional 
universidade brasileira, mas isso não era remédio para suas inquietações. O 
intelectual, diz Morin em O Método 4 – As ideias (2008), pode estabelecer 
uma autonomia crítica em relação à sua classe de origem. O intelectual, diz 
Morin, é aquele que atua publicamente, sente-se implicado nas circunstân-
cias, mesmo assim consegue pensar com elas e para além delas. É o caso 
de Marta. Abastecida com semente de discussões sobre desenvolvimento, 
desigualdade social e educação para a ciência, eis que deixa seu casulo 
para polinizar em outras paragens o desejo de um mundo onde prevaleces-
se a distribuição equitativa das benesses do desenvolvimento. É na ocre e 
seca terra do Nordeste do país que Marta escolheu deixar-se fecundar.
No fluir da vida, Marta compreende a importância de que, regando as 
pessoas com pensamento crítico, lhes oportuniza formas de lutar por uma 
vida mais justa. Da região Nordeste, o estado é o Rio Grande do Norte e, 
ainda que o local de referência seja a capital potiguar, estende-se por lu-
gares que na ocasião clamavam por ajuda de todo tipo para combater o 
aparentemente eterno flagelo da seca que marca a vida do povo de for-
ma natural e artificial ao mesmo tempo. Natural pela ausência de chuvas 
comum em regiões de semiárido e artificial porque, junto com a falta de 
água, abundava a corrupção e as relações de submissão e dependência 
da famigerada “indústria da seca” que ela já conhecia pela ótica de Celso 
Furtado.
39
Mas, talvez, conscientemente ou não, seguiu os passos de Paulo Freire, 
uma de suas paixões intelectuais, quando realizou, aqui no Rio Grande do 
Norte, no ano de 1961, sob o governo progressista de Djalma Maranhão, 
sua primeira experiência exitosa de alfabetização de jovens e adultos no 
município de Angicos. Um projeto hoje mundialmente conhecido chama-
do 40 horas de Angicos, abruptamente abortado pela ditadura militar em 
1964, que terminou por enviar Freire ao exílio.
Marta prosseguiu seu destino em outras paragens. São Paulo do Po-
tengi é um desses lugares. Localizado distante 70 km da capital do Estado 
e palco de importantes ações da Igreja Católica nos trabalhos da comu-
nidade. É lá onde Marta vai encontrar-se com Monsenhor Expedito, padre 
católico que devotou sua existência a lutas que se coadunavam com as 
dela. Monsenhor Expedito contextualizou para Marta as muitas violências 
que o processo de desigualdade acarretava à vida dos despossuídos, que 
eram maioria à época e continuam sendo ainda hoje, não apenas em São 
Paulo do Potengi, mas no mundo inteiro.
Figura 5 - Marta Pernambuco, Cristina Dal Pian e Monsenhor Expedito
Fonte: Acervo do GEPEM.
40
Por algum tempo Marta fez-se companheira do Monsenhor Expedito, 
o “profeta das águas”, como ficou conhecido, por ter dedicado sua vida e 
missão na Igreja para trazer água potável para as populações mais vulnerá-
veis e necessitadas da parte do Estado abarcada pelo chamado “polígono 
das secas”, termo que designa oito Estados da região Nordeste (Piauí, Cea-
rá, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia) 
e parte do Sudeste (vale do Jequitinhonha em Minas Gerais) com baixa 
oferta de água durante longos períodos.
Sua obstinação o aproximou de forças motrizes para fazer acontecer 
seu projeto, como políticos, engenheiros, professores e outras autoridades. 
Isso demonstra a capacidade política de Marta para articular em torno de 
si os diversos atores sociais capazes de fazer acontecer aquilo que ela ha-
via projetado em mente. A improvável conjunção Igreja-UFRN fez emergir 
muitos frutos nas terras secas, embora não improdutivas, do sertão potiguar.
Consolidando o Mestrado (1975-1982): adubo da Teologia da Libertação
O mestrado em Ensino de Ciências, modalidade Física, foi criado na 
Faculdade de Educação e do Instituto de Física da USP em 1973. Nesse 
período, o panorama da Pós-Graduação no Brasil é enriquecido de inter-
câmbios com universidades inglesas, francesas e norte-americanas. Nesses 
movimentos, a universidade reelabora uma nova formação que envolve o 
estudo dos Problemas Brasileiros, as informações mais técnicas vinculadas 
aos aspectos culturais e uma grande introdução da literatura, cinema e 
música como vias para a criatividade, como propulsores para as discussões 
sobre Ciências e a responsabilidade social dos cientistas. Era um cenário 
com grandes intelectuais, como Mário Schenberg, que sofreu uma aposen-
tadoria compulsória durante o AI-5, Roberto Salmeron, Newton Bernardes, 
entre outros célebres físicos e pensadores brasileiros.
Marta ingressou no mestrado para serorientanda do professor Ernest W. 
Hamburguer, importante Físico alemão que se dedicou à educação cien-
tífica no Brasil e ocupou diversos postos acadêmicos importantes, como a 
Direção do Instituto de Física e da Estação Ciência da USP, além de ter sido 
Membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e condecorado com 
vários prêmios no universo da divulgação científica, como o Kalinga3, con-
cedido pela UNESCO.
3 Trata-se do Prêmio Kalinga para a popularização da ciência, criado em 1952 pela UNESCO. 
41
Dentre as experiências de Marta durante o processo do mestrado, des-
tacamos a participação nas disciplinas de Mecânica Clássica e Mecânica 
Quântica com Erik Rudinger, um dos maiores organizadores da obra de Niels 
Bohr no mundo. A convivência com Rudinger gerou frutos em torno de uma 
compreensão fenomenológica e conceitual das teorias e os problemas en-
contrados em seus limites.
Nessa viva interação entre debates sobre aspectos mais filosóficos liga-
dos à educação e ao ensino de ciências dá-se, em 1978, a publicação do 
artigo “Teaching relativity with a different phylosophy” no American Journal 
of Physics, junto com Rudinger, José André Angotti, Demétrio Delizoicov e 
Iberê Caldas. O artigo discute o ensino da relatividade com uma filosofia 
diferente. Esse é um dos ensaios que demonstram a importância que Mar-
ta atribuía aos aspectos filosóficos e epistemológicos das ciências. Neste 
artigo, Marta disserta sobre estratégias filosóficas para ensinar a teoria da 
relatividade.
Marta encontra na educação a possibilidade de relacionar Ensino de 
Física com descobertas na área da Psicologia Experimental, principalmente 
as inovações pedagógicas trazidas por Jean Piaget, desenvolvendo nela 
uma importante compreensão sobre a forma de aprender e ensinar. Foi 
atuando como monitora na graduação na disciplina de Física Básica nos 
cursos de Engenharias que ela se envolveu cada vez mais na discussão da 
didática de ensino, textos de apoio pedagógico e técnicas de pesquisa 
para o ensino de ciências.
O caminho da pós-graduação deu para Marta a percepção prática 
do que é atuar de forma convergente entre Ensino, Pesquisa e Extensão. Ao 
mesmo tempo em que atuava como discente de mestrado e docente em 
formação no ensino, atualizava as inquietações e resoluções de pesquisa 
e transbordava nas atividades de extensão, pensando na popularização 
da ciência por meio do ensino desde os primeiros anos da aprendizagem 
escolar. Mais tarde ela levará essa percepção para a UFRN, e será um dos 
expoentes dessa formação pelas forças da conjunção entre Ensino, Pesqui-
sa e Extensão.
Outro fato importante na organização do seu pensamento foi a apro-
ximação da literatura de Sociologia, História e Filosofia das Ciências. A co-
municação entre o ensino e Humanidades e Física foi enriquecida pelas lei-
turas sobre Célestin Freinet, Maria Tereza Nidelcoff e a Escola Barbiana, por 
intermédio do professor Luiz Felipe Serpa com a Pedagogia desenvolvida 
42
por Paulo Freire. Essa aproximação foi feita pelos professores recém-che-
gados das suas pós-graduações na Europa, Luís Carlos de Menezes e João 
Zanetic.
Tais discussões, levantadas por Marta há décadas, são ainda hoje mais 
atuais do que nunca. Em sua obra Ciência com Consciência (2016), Edgar 
Morin fala da importância desta aproximação utilizando a metáfora dos 
moinhos movidos por água. É importante deixar que as observações empí-
ricas alimentem o pensamento filosófico. Da mesma forma, os dados empí-
ricos, retirados seja da sociologia, seja da história, devem ser combinados 
com uma ética filosófica da reflexão, que permite pensar filosoficamente 
as consequências dos fatos históricos, sociológicos e científicos. Em suma, 
Marta está praticando a irrigação dos vasos comunicantes entre diferentes 
ciências.
Essas bases teóricas somadas às experiências educativas advindas das 
escolas paroquiais e sistemas educacionais em comunidades rurais encon-
tram-se com aquelas inquietações que acompanham Marta desde a sua 
infância e adolescência. Essa inquietude, essa insatisfação com os proble-
mas educacionais e a falta de resolução destes motivaram Marta a querer 
saber mais, e de uma forma múltipla e multidimensional, para agir diante 
das discrepâncias na distribuição das benesses sociais, entre elas as educa-
cionais.
Trata-se de um movimento que não fica apenas na compreensão do 
cenário educativo, mas o encaminha para práticas educativas. É como 
nos sugere Edgar Morin (2013) em sua “ética da compreensão”: “A com-
preensão humana comporta o entendimento não só da complexidade do 
ser humano, mas também das condições em que são modeladas as men-
talidades e praticadas as ações”. (p. 14). Morin chama a nossa atenção 
para aquilo que ele classifica como determinante para forjar o exercício 
da compreensão, que é a percepção acurada das situações para que 
sejamos capazes de ver as virtualidades ganhando forma. É essa a matriz 
de sua ideia-força de sujeito implicado na pesquisa. E Era esse o movimen-
to que a educadora em formação Marta Pernambuco mirava os cenários, 
suas possibilidades e potências de vida e de morte e construía possíveis 
intervenções.
A compreensão complexa comporta uma terrível dificulda-
de. Ao levar em conta as bifurcações, as engrenagens que 
43
levam ao pior ou ao melhor, e não raro a ambos, ela enfrenta 
constantemente o paradoxo da responsabilidade - irrespon-
sabilidade humana (MORIN, 2013, p. 15).
A ética da compreensão alerta para a diferença entre compreender 
e justificar, mas a ecologia dos saberes na qual está inserida a ação co-
necta-se com o que Hannah Arendt (2007) chama de ética da promessa e 
ética do perdão. Sobre o improvável, só se pode prometer atuar sobre ele, 
sem o conhecimento prévio dos resultados. Caso os resultados estejam fora 
do esperado, resta-nos a ética do perdão. Cabe dizer que as três éticas, 
praticadas por Marta, estão hoje em franco declínio, fruto de uma socieda-
de do individualismo exacerbado.
Marta buscava compreender a origem das desigualdades, sobretudo 
na oferta da educação, e não se conformava em ser conivente com ela. 
Atuava por uma estética interventiva e transformadora de realidades. Era 
esse, para Marta, o papel do intelectual. Não apenas fazer o diagnóstico, 
mas atuar sobre ele, convocando as forças de conjunção, ou seja, os diver-
sos atores sociais, pois sabia que sozinha nada seria possível. Nesse ponto do 
seu mestrado, um grupo de alunos, entres eles Marta e seus colegas Cristina 
Dal Pian, José André Angotti e Demétrio Delizoicov, fizeram um movimento 
de ampliação das pesquisas até então desenvolvidas apenas para os níveis 
de Ensino Médio e Ensino Superior e se dedicaram também às pesquisas no 
Ensino Fundamental, que nesta época era denominado de 1º grau e com-
portava as séries de 1ª a 8ª. Esses mestrandos da USP compreendiam que 
esse nível de ensino no Brasil necessitava de mudanças.
Partindo dessa perspectiva Marta Pernambuco e Cristina Dal Pian vie-
ram para o Departamento de Física (DFTE) da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte (UFRN) em 1976 como professoras visitantes. A vinda delas 
para a UFRN faz parte de um momento histórico, que foi a recente inau-
guração do campus Central da UFRN, em 1958, e um forte investimento 
na qualidade de ensino e na formação dos docentes da universidade. As 
novas pesquisadoras vão para a UFRN com o intuito de organizar os progra-
mas e matérias de ensino em atinência aos desafios da região.
Tentamos dar uma abordagem consistente para as disciplinas 
ministradas, organizando materiais de ensino e desenvolven-
do programas que, além de atenderem os objetivos de cada 
44
disciplina, levassem em conta a forma como a grade curricu-
lar era implementada. Cristina, que estava trabalhando com 
programação de ensino, muda o foco da sua dissertação 
de mestrado para a proposição da disciplina ‘Física do Meio 
Ambiente’ (PERNAMBUCO,2010, p. 13) [grifos da autora].
Os subsídios didáticos a serem desenvolvidos pelos alunos de Licencia-
tura em Física da UFRN, as ações de ensino e intervenções pedagógicas 
nas primeiras séries do 1º Grau deveriam chegar às escolas nas comunida-
des para possibilitar o ensino a partir das exigências da realidade.
Uma vez inserida no corpo docente da UFRN, com muito desejo de 
trabalhar, não demorou muito até que iniciasse uma experiência singular 
até o momento de assessoria pedagógica. Essa assessoria foi feita com as 
professoras do município de Nísia Floresta, Rio Grande do Norte.
Contávamos com um grupo de 15 professoras de escolas lo-
calizadas na sede e em 3 povoados próximos. As reuniões 
eram feitas no horário habitual para as professoras, nas ma-
nhãs de sábado, durante 2 horas. Foram 3 sábados por mês, 
de agosto a dezembro de 1977, e em fevereiro e março de 
1978 (PERNAMBUCO, 1981, p. 34).
Esse estudo da realidade com as professoras permitiu reflexões sobre a 
prática de projetos pedagógicos do Ministério da Educação, como o pro-
jeto LOGOS II do Ministério da Educação (MEC) que subsidiava formas de 
conferir o título à época chamado 2º Grau Magistério. Uma política pública 
que ajudou a formalizar a condição de vários professores do interior do Bra-
sil que atuavam sem uma formação mínima. Imersa nesse universo, Marta 
começa a amadurecer ideias em torno de trabalhar os problemas da co-
munidade no ensino de ciências. Importante ressaltar que essa assessoria 
teve um grande apoio da Paróquia de Nísia Floresta que, nesse período, era 
administrada pelo Monsenhor Expedito, grande parceiro de Marta nesse 
momento.
O Monsenhor Expedito representa aqui o envolvimento da Igreja nos 
assuntos educacionais no estado do Rio Grande do Norte, que é fruto das 
campanhas da Arquidiocese de Natal do final dos anos 1950. Marta, fazen-
45
do referência à atuação de seus pais e avós cristãos comprometidos, sabe 
fazer essas alianças para acessar a matriz do povo com quem ela queria 
trabalhar nessa perspectiva libertadora e comprometida com os problemas 
da comunidade.
Nesse processo investe na organização do cotidiano das escolas e no 
aprendizado da comunidade de Nísia Floresta (RN). O ensino de ciências 
direciona Marta para caminhos e pessoas que a ajudam nesse percurso. 
Refletir sobre esse processo nas reuniões da SBPC e SBF foi de máxima impor-
tância durante o período de sua pesquisa, pois permitia um olhar tanto ma-
croscópico do cenário geral quanto um olhar microscópico em suas proto-
-ideias. Era nesses laboratórios vivos que suas ideias germinavam com vigor.
Figura 6 - Dedicatória de Monsenhor Expedito para Marta Pernambuco
Fonte: Acervo do GEPEM.
Uma vez inserida na perspectiva local e sabendo que Nísia Floresta era 
um microcosmo de uma problemática que - bem-vistas todas as regionali-
dades - se replicava pela região Nordeste e nos interiores de todo o Brasil, 
Marta aciona aquilo que Morin chama de “conhecimento pertinente”, que 
une o local e o global num movimento de transformação de realidades, e 
ao mesmo tempo busca inserir o intelectual no contexto de sua atuação.
Sendo assim, além da Igreja, Marta alia-se a intelectuais e pensado-
res da época e, em meio a essa sinergia, começa a pensar a comunida-
de como parte de um todo maior. Marta e seus colegas articulam núcleos 
46
de professores pelo Brasil, para pensar de forma universalizada o ensino de 
Ciências. Era preciso construir um material de divulgação que chegasse às 
realidades urbanas e rurais.
No final do ano de 1977, após término do contrato como professora 
visitante do DFTE-UFRN, lhe parecia claro que a formação só teria conse-
quências mobilizadoras de transformação social se fosse pensada a partir 
do elo entre ensino-pesquisa-extensão. Tal clareza conduz à compreensão 
de que era preciso mudar a temática de sua dissertação de mestrado para 
o ensino de ciências a partir da problemática da comunidade, sendo seu 
campo empírico o município de São Paulo do Potengi (RN).
Figura 7 - Trabalhos de Nísia Floresta.
Fonte: Dissertação de Mestrado de Marta - Acervo do GEPEM.
O município de São Paulo do Potengi (SPP), assim como Nísia Floresta, 
foi palco para um dos maiores movimentos sociais e educacionais a partir 
do final dos anos de 1950. O Movimento de Natal, uma das bifurcações da 
Ação Católica no Brasil, que foi marcante para vários municípios do Rio 
47
Grande do Norte, em especial São Paulo do Potengi. Sobre esse movimen-
to, assim se expressa Dom Eugênio Sales, na época administrador apostóli-
co da Arquidiocese de Natal:
em 1948, uma pequena equipe de sacerdotes, juntamente 
com alguns militantes da ação católica e outros leigos de al-
tíssimo nível intelectual ficaram preocupados com a situação 
geral. A gravidade dos problemas nas áreas rurais levou esse 
grupo a tentar resolvê-los junto com a igreja. Eles pesquisaram 
em várias regiões do estado a possibilidade de organizar um 
movimento de massas envolvendo em conjunto autoridades 
civis e religiosas, numa tentativa de chamar a atenção para 
os problemas (SALES, 2015, p. 63-64).
A situação de pobreza e desassistência suscitou Programas de acom-
panhamento como o Serviço de Assistência Rural (SAR) e o Movimento de 
Educação de Base (MEB), ambos irrigados por práticas educativas popu-
lares. Nesse empreendimento ingressou a pesquisadora e professora Marta 
Pernambuco. Ciente da problemática da seca que assolava a região, ele-
geu como um dos primeiros temas a serem tratados em sua práxis peda-
gógica a importância da água, tendo como subtemas “água e saúde” e 
“água e agricultura”.
Um grupo composto pelas professoras do então 1º Grau Julieta, Eu-
nice, Davina e Raimunda desenvolveu ações didáticas unindo escola, 
comunidade e universidade. Nesse grupo de apoio para desenvolvimen-
to da prática pedagógica dentro da pesquisa a professora Julieta ficou 
responsável pela turma onde a prática seria executada. A pesquisa vai 
sendo formada em meio às discussões e planejamentos. Marta vai se im-
pregnando cada vez mais da realidade dos professores de uma cidade do 
interior do Brasil.
Num contexto de falta de recursos para manutenção desse processo, 
a necessidade de criar uma bolsa de auxílio financeiro para as professoras 
era fundamental para o apoio ao grupo. O projeto voltado para o ensino 
de ciências recebeu incentivo financeiro da Financiadora de Estudos e Pro-
jetos do Ministério da Ciência e Tecnologia.
48
As dificuldades de 1979 revelaram-nos que a proposta feita 
representava uma sobrecarga de trabalho para as professo-
ras e que precisaria ser tratada de forma profissional: ser re-
munerada. Decidi, com ajuda dos meus orientadores, pagar 
as reuniões realizadas usando como base a hora-aula do 2º 
grau (CR$ 40,00 em fevereiro de 1980). Essas despesas foram 
pagas com algumas verbas do projeto da FINEP de pós-gra-
duação e pesquisa do IFUSP (PERNAMBUCO, 1981, p. 49).
Essa decisão denota uma ética da valorização do trabalho docente 
em sua totalidade e especificidade. Remunerar as professoras era um jeito 
de dizer que o trabalho docente carece de valorização que passa por for-
mação e remuneração justa, uma luta travada pela categoria ainda hoje.
O comprometimento com o povo sofrido da região do Potengi ficava 
cada vez mais explícito. Possibilitar ao povo, pela via da educação, reco-
nhecer as diversas formas de opressão social passou a ser o norte de seu 
trabalho dissertativo ao mesmo tempo em que serviu de guia na assessoria 
dos professores.
Como leitora da pedagogia proposta pelo educador Paulo Freire 
(1921-1997), a educadora inquieta desenvolve sua ação educativa com 
base nas inspirações de autonomia, libertação e esperança encontradas 
no pensamento freiriano, como podemos ler nos escritos de Marta:
Para Paulo Freire o estudo inicial da comunidade é chamado 
de investigação temática. Consiste na busca de situações 
limiteque são vividas por um certo grupo populacional e de 
tal forma insustentáveis que geram atos que levam à sua su-
peração, mudando qualitativamente a forma de vida desse 
grupo (PERNAMBUCO, 1981, p. 92).
Estratégias de ensino capazes de possibilitar uma educação trans-
formadora ou libertária, como postula Freire são relatadas no texto “So-
bre o método de ensino ou como agir em sala de aula”, escrito por Mar-
ta para tratar de um modelo de ensino que vá além da transmissão do 
conhecimento, mas sintonizado com uma postura política diante do ato 
de educar.
49
Em suma, Marta estava alinhada com as principais vertentes da edu-
cação ainda hoje em discussão. Em outras palavras, é preciso conhecer o 
contexto dos alunos e alunas, seus problemas, dificuldades e potencialida-
des a serem desenvolvidas, respeitando o ritmo, a capacidade e o talento 
de cada um/a. Não basta tratar os alunos e alunas como se todos iguais 
fossem, mas justamente agir sobre suas diferenças, suas histórias de vida. É 
a base de qualquer educação humanista que não seja vista apenas pela 
lógica do mercado e da competição.
Figura 8 - Roteiro sobre Método de Ensino usado em São Paulo do Potengi
Fonte: Dissertação de Mestrado de Marta - Acervo do GEPEM.
50
Além disso, como diz o documento acima, “Todas as pessoas têm sem-
pre a necessidade de ser bem-sucedidas”. Embora o conceito de sucesso 
seja elástico, Marta pretende que todas as pessoas tenham o acesso aos 
instrumentos e possibilidades capazes de garantir seu sucesso, independen-
te da qualificação que cada pessoa dê à categoria “sucesso”. O esforço é 
para que os alunos e demais pessoas observem a si mesmos e sejam capa-
zes de enxergar as contradições sociais. Podemos deduzir que ela, como o 
pensador Edgar Morin, sentia
uma insatisfação profunda diante de toda observação que 
não está em movimento e que não se observa a si mesma, 
todo pensamento que não enfrenta suas próprias contradi-
ções, toda filosofia que se reduz a verdades absolutas e que 
não se questiona a si mesma (MORIN, 2013, p. 35).
Estratégia de trabalho
Os apelos que emergem das necessidades das escolas e as exigências 
para elaboração do texto da dissertação do mestrado fizeram Marta orga-
nizar a pesquisa a partir dos seguintes movimentos/instituições: Escola Bar-
biana, Serviço de Ensino Vocacional (SEV), MEB e Centro de Educação Po-
pular Integrada, bem como dos pensadores Paulo Freire e Celestin Freinet. 
O trabalho cotidiano com professoras do primeiro grau de ensino manteve 
o reclame empírico. Com vistas ao atendimento da pesquisa do mestrado 
e ao acompanhamento do trabalho pedagógico das professoras elabora 
dois diários de pesquisa.
Em um diário registra apontamentos que servirão ao trabalho disser-
tativo e no outro o acompanhamento do trabalho das professoras, princi-
palmente da Julieta na turma da 3ª série. As leituras de outros materiais de 
referência, como por exemplo Iniciação à Ciência livro de C. Andrade e J. 
Huxley, Apostilas de Saneamento do Meio da Universidade de São Paulo 
(USP) e do PES – Programa de Educação Comunitária para a Saúde do Mo-
vimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) eram debatidos nas reuniões 
mensais do grupo, junto com a organização da sequência das atividades a 
serem desenvolvidas pela proposta pedagógica.
A Proposta Pedagógica era composta com duas aulas semanais de 
ciências, nas quais a professora Julieta seguia as orientações de Marta e do 
grupo de apoio, do seguinte movimento: 1) Debate sobre as doenças mais 
comuns em São Paulo do Potengi, sendo os alunos protagonistas deste mo-
51
mento identificando as doenças provocadas pelo contágio por meio da 
água. A partir daí a escola encaminhava os alunos para hospitais, farmá-
cias, cartório e paróquia, para pesquisarem sobre os óbitos ocorridos pelas 
doenças; 2) Tabulação dos dados encontrados pelos alunos e exposição 
oral feita por eles. Confronto dos dados e informações sobre as doenças 
ocorridas em SPP com a qualidade do abastecimento de água; Estudo so-
bre as principais fontes de água da região e do material sobre Saúde Públi-
ca e a contaminação da água; 3) Elaboração de um relatório simples da 
turma feito pela professora e exposição com cartazes feitos pelos alunos, 
com temas como: “Tipos de contaminação nas fontes de abastecimento 
de São Paulo do Potengi”, “As doenças relacionadas com a água”, “As fon-
tes de abastecimento d’água para consumo humano em SPP”, “A água é 
indispensável à vida» e “Devemos filtrar ou ferver a água”. Em consequên-
cia, foi feito um plano de divulgação para a comunidade em geral.
Esses três movimentos foram temporalmente amplos e conjugaram 
maiores atividades e avaliações práticas que motivaram a aproximação 
da turma com a comunidade. A estrutura da escola que permitia a abertu-
ra para comunidade e melhor relação dos professores, alunos e pais, con-
ferindo condições materiais mínimas, foi algo que ficou em destaque na 
pesquisa.
52
Figura 9 - Plano de Divulgação
Fonte: Dissertação de Mestrado de Marta - Acervo do GEPEM.
53
[...] uma grande dificuldade de atuar dentro de uma estru-
tura de escola tradicional, onde não é previsto espaço para 
participação dos alunos e dos pais e onde o que vale é a 
autoridade final do professor e do diretor. Uma escola aberta 
com participação dos pais e dos alunos, com espaço físico 
planejado para desenvolver responsabilidade e garantir que 
os frutos dos trabalhos não serão perdidos, são condições mí-
nimas que não são fáceis de conseguir (PERNAMBUCO, 1981, 
p. 132).
Marta voltou para São Paulo no ano de 1978, mesmo durante todo 
o processo da pesquisa em São Paulo do Potengi, pois o contrato como 
professora substituta da UFRN tinha acabado. Em SPP, Marta teve o apoio 
fiel da professora Julieta, que criou relatórios, guardou seus planos de aula 
e fotos de toda a proposta. Essa parceria foi de fundamental importância 
para Marta, tanto para a construção de um argumento sobre as aproxima-
ções afetivas durante a pesquisa, quanto por sua estadia em SSP apenas 
nos períodos de férias, entre 1978 e 1980.
Em São Paulo ela não se desconectou do interior do Nordeste. Foi em 
busca de pesquisadores em Ciências Sociais para estruturar seus argumen-
tos sobre a realidade social. O seu orientador e sua esposa, Ernst Wolfgang 
Hamburger e Amélia Hamburger foram grandes interlocutores durante esse 
processo. Envolveram Marta em palestras, encontros de grupos de ciências 
sociais e educação. Dessa forma, Marta passou a ter acesso a pesquisado-
res como Octávio Ianni e Celso Beisiegel, expoentes do pensamento social 
brasileiro. Desses autores, ela conhece as bases dos movimentos sociais e 
da educação popular no Brasil.
Marta inicia um processo de sistematização de conhecimentos nessas 
duas áreas citadas. Essa sistematização vai ao encontro da finalização da 
pesquisa em São Paulo do Potengi. Durante essa sua estadia na cidade de 
São Paulo, Marta começou a trabalhar na Faculdade de Engenharia Indus-
trial em São Bernardo do Campo, berço do movimento operário brasileiro, 
como professora de Física das aulas práticas e teóricas em 1978. Também 
participou de um cursinho alternativo voltado para preparação dos jovens 
para o vestibular, que tinha a coordenação pedagógica de Nilde Mascel-
lani4.
4 Educadora brasileira responsável pelo Serviço de Ensino Vocacional – SEV.
54
Em meio às idas e vindas de São Paulo para São Paulo do Potengi, 
Marta defende sua dissertação em 1982. Do trabalho dissertativo deduz a 
necessidade de mostrar: a) importância de uma relação recíproca e frater-
na entre os pesquisadores e as pessoas envolvidas na pesquisa, para que 
se construa receptividade e confiança na proposta que será desenvolvida; 
b) criação de um grupo de apoio para além da proposta, que sirva tanto 
de amparo para pesquisa, quanto para debates sobre as problemáticas da 
comunidade; c) produção de materiais elaborados a partir dos problemas 
da comunidade,

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