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Revista Fórum de Direito Criminal

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Revista Fórum de DIREITO CIVIL RFDC
DOUTRINA E ATUALIDADES
O direito de laje é uma forma de garantir o efetivo 
cumprimento do direito à moradia com base na 
análise da função social da cidade?
Rebecca de Moura Caldas, 
Adna Almeida de Albuquerque
A usucapião familiar e a questão da rediscussão da 
culpa no ordenamento jurídico brasileiro
Rênio Líbero Leite Lima, 
Felipe Emanoel dos Anjos Gonçalves
DIÁLOGOS
Práticas abusivas e publicidades enganosas na 
Black Friday no contexto do direito do consumidor 
brasileiro
Thayanny Teixeira Santos
VOZ UNIVERSITÁRIA
Mediação como método adequado de resolução de 
disputas aplicado à solução de conflitos familiares e 
seus reflexos no âmbito do judiciário brasileiro
Juliana Melo Navarro
EXPERIÊNCIA ESTRANGEIRA
Los registros públicos de beneficiarios finales 
en Argentina: avances y retroceso de un proceso 
inconcluso
Maria Eugenia Marano
ENSAIOS E PARECERES
Perspectivas no campo contratual para os próximos 
anos
Marcos Ehrhardt Jr.
Efeitos econômicos da pandemia de COVID-19 
nos con tratos empresariais brasileiros e a 
possibilidade de uma das partes contratantes majorar 
economicamente a prestação contratual em relação a 
outra parte contratante
Pablo Malheiros da Cunha Frota, 
Wesley Bento
JURISPRUDÊNCIA
Superior Tribunal de Justiça
Recurso Especial – Ação de compensação de dano 
moral – Banco de dados – Compartilhamento de 
informações pessoais – Dever de informação – 
Violação – Dano moral in re ipsa
AGENDAS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL
Liberdade e família: uma proposta para a privatização 
das relações conjugais e convivenciais
Renata Vilela Multedo
TESES E DISSERTAÇÕES
Projetos parentais ectogenéticos LGBT: o desafio 
da construção das famílias homoparentais e 
transparentais perante o ordenamento jurídico 
brasileiro
Manuel Camelo Ferreira da Silva Netto
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23
JANEIRO/ABRIL - 2020 | PUBLICAÇÃO QUADRIMESTRAL
ISSN 2238-9695
ANO 9 - n. 23
Revista Fórum de 
DIREITO CIVIL 
RFDC
Coordenador
Marcos Ehrhardt Jr.
 Revista Fórum de 
DIREITO CIVIL RFDC
A Revista Fórum de Direito Civil – RFDC nasce 
com o intuito de se tornar uma publicação de 
excelência, voltada ao Direito Civil. Com um 
conselho editorial composto por professores 
das mais conceituadas universidades do país 
e do exterior, o periódico veicula artigos dou-
trinários tratando de temas atuais e relevantes, 
com isso contribuindo para o desenvolvimento 
científico através de um debate de temas con-
temporâneos que permeiam o cotidiano forense 
e ao mesmo tempo merecem atenção de grupos 
de pesquisa em diversas instituições nacionais e 
internacionais. A estrutura da Revista foi conce-
bida para colocar em destaque textos doutriná-
rios nacionais e internacionais, além de seções 
específicas que tratarão da experiência estran-
geira e de jurisprudência, pretendendo manter 
o leitor atualizado e, assim, tornando-se de lei-
tura obrigatória para aqueles que militam no 
vasto campo do Direito Civil. A qualidade seguirá 
o selo da Editora Fórum, com larga tradição no 
campo dos periódicos jurídicos. Eis a síntese de 
uma revista que tem um objetivo: ser essencial 
aos que buscam aperfeiçoar-se e ir adiante. 
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emanador da decisão ou informação e da publicação específica, conforme a licença 
legal prevista no artigo 46, III da Lei nº 9.610/1998.
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Perspectivas no campo contratual 
para os próximos anos
Marcos Ehrhardt Jr.
Doutor em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professor de Direito 
Civil da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e do Centro Universitário CESMAC. Editor 
da Revista Fórum de Direito Civil (RFDC). Vice-Presidente do Instituto Brasileiro de Direito 
Civil (IBDCIVIL) e Membro Fundador do Instituto Brasileiro de Direito Contratual (IBDCont). 
Advogado.
O desafio da complexidade e o impacto da tecnologia
Tanto no campo acadêmico quanto no campo profissional, preocupa-me a 
crescente dificuldade dos operadores jurídicos (magistrados, advogados, membros 
do Ministério Público...) de lidarem com situações cada vez mais complexas. O 
modelo contratual clássico, com suporte em papel e vocação puramente patrimonial, 
não é mais suficiente para uma realidade negocial plural, transnacional e em 
constante mutação, provocada por avanços tecnológicos que mudaram não 
apenas o nosso modo de comunicação e interação com o próximo, mas também 
a forma como registramos os atos que praticamos e até mesmo os bens objeto 
dos negócios jurídicos que celebramos.
Enquanto nosso Código Civil remete à contratação entre ausentes por 
correspondência epistolar e detalha formas de contratação envolvendo bens imóveis 
com observância de requisitos formais específicos, registrados em um suporte 
físico (papel), a maioria dos alunos que iniciam seus passos no mundo do direito 
vivem num período em que nunca experimentaram enviar uma carta para um amigo 
pelo correio, não atribuindo importância à conservação de documentos físicos, 
quando guardam “na nuvem” informações e dados que consideram importantes.
A interação social ocorre em redes sociais, normalmente de forma escrita em 
mensagens de poucos caracteres, arquivos de áudio de poucos minutos, sendo 
cada vez mais raroencontrar, entre as novas gerações, quem utilize primordialmente 
o telefone para a função de ligar e conversar em tempo real com outra pessoa. 
Recentemente, ao ligar para um amigo a fim de cumprimentá-lo por seu aniversário, 
ouvi do outro lado da linha a pergunta: “está tudo bem?”, pois “se você ligou em 
vez de enviar mensagem, deve estar ocorrendo algo bastante sério”. Vivemos 
num período em que as noções de tempo e espaço são redefinidas pela forma de 
interação tecnológica que adotamos. A tecnologia mudou antigos hábitos, e com 
ela surgiu a necessidade de desenvolvermos novas habilidades.
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MARCOS EHRHARDT JR.
Mas nem todos abraçam a tecnologia e suas funcionalidades com a mesma 
rapidez e/ou têm acesso aos mesmos recursos. Se antes havia uma clara 
distinção entre os que eram alfabetizados e aqueles que não conseguiam ler, o 
avanço tecnológico criou barreiras que podem ser ainda mais difíceis de transpor 
do que a alfabetização de um indivíduo. Em tempos de obsolescência programada 
e de uma incessante busca por novas funcionalidades e interação, não é nada 
fácil manter-se atualizado, conseguindo dominar o último modelo de computador, 
smartwatch ou smartphone, nova versão do sistema operacional, definições de 
segurança da informação e acesso remoto a dados. Se você consegue garantir 
atualização nisso, é preciso perguntar ainda se tem o mesmo nível de informação 
e desenvoltura quando o tema da conversa passa por IOT (internet das coisas), 
aplicações com uso de inteligência artificial ou registros blockchain. Isso sem 
falar em registros biométricos para criptografia e nos demais aspectos relativos 
à infraestrutura relacionada aos avanços tecnológicos.
Aqueles que receberam formação jurídica nos últimos 30 anos acostumaram-se 
a buscar a solução de todos os problemas exclusivamente no campo jurídico e 
raramente realizavam incursões noutros campos do saber. Mas o monopólio das 
soluções a partir das normas jurídicas não é possível no cenário atual, considerando 
os avanços científicos. Difícil propor soluções para o que não conhecemos em 
profundidade ou de que não vivenciamos a utilização. Como entender um match numa 
rede social, as consequências de um bloqueio de seguidor ou o compartilhamento 
em serviços de streaming sem a experiência de ser usuário de uma aplicação de 
semelhante natureza?
Em que ponto da aplicação de tecnologias você, caro leitor, se encontra? 
Considerando a lista a seguir, o que faz parte do seu cotidiano: rádio, jornal, TV 
aberta, TV por assinatura, streaming, podcast, notificações em tempo real por 
aplicativos, realidade ampliada com uso de inteligência artificial e uso de assistentes 
pessoais (= e.g.: Siri)? Eu poderia perguntar de outra forma: você paga suas 
contas no banco? Em lotérica? Em aplicativo para telefone celular? Com dinheiro 
tradicional ou com moedas eletrônicas? Será que todos ao seu redor utilizam a 
tecnologia da mesma forma?
Como navegar num oceano de desafios. Hora de 
inflar as velas da colaboração e da informação
Num momento de transição entre o universo de usuários e não usuários, dos 
iniciados em tecnologia e daqueles que não se importam em entender como ela 
funciona, é nos contratos que buscamos ferramentas de tradução da realidade e a 
prevenção dos problemas que essa intensa disparidade de conhecimento provoca, 
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PERSPECTIVAS NO CAMPO CONTRATUAL PARA OS PRÓXIMOS ANOS
exigindo de quem atua na área a máxima atenção com a boa-fé objetiva e o dever 
de informação, que não deve se limitar à redação de cláusulas contratuais.
Lidamos com interesses diversos, acesso a informações de modo assimétrico, 
o que se repete no campo financeiro e técnico. Lidar com assimetrias e com 
questões que transcendem interesses individuais para o campo dos direitos 
transindividuais e difusos faz-se presente na agenda de qualquer profissional. De um 
trabalho tradicionalmente individualista, realizado na solidão de nossos escritórios, 
passamos a experimentar um espaço aberto de colaboração, no qual múltiplos 
saberes e competências são necessários para lidar com intricadas questões, 
quer sejam sobre aplicações da engenharia genérica para a saúde, quer sejam 
sobre a utilização de informações pessoais por terceiros para fins econômicos, 
ou, ainda, sobre o risco do desenvolvimento de novas tecnologias em substituição 
por máquinas de atividades exercidas por seres humanos.
Contrato combina com complexidade?
Acredito que a resposta seja afirmativa. O contrato, enquanto expressão 
do exercício da liberdade negocial, vale dizer, da autonomia privada, é o espaço 
privilegiado para lidar com o campo da inovação e das incertezas. Não é possível 
ignorar a realidade e seus avanços. A vida não espera a regulamentação dos novos 
campos de atuação pelo poder público. É justamente neste espaço de atuação que 
o trabalho dos profissionais que atuam elaborando contratos se torna decisivo.
Além de definir partes e objeto do contrato, há de se analisar os efeitos da 
avença para com terceiros, observar sua adequação às normas ambientais e demais 
marcos regulatórios, o atendimento adequado às diretrizes de compliance do outro 
contratante e por vezes dos seus parceiros, juntamente com o posicionamento 
do negócio em relação aos demais stakeholders (funcionários, fornecedores, 
acionistas e consumidores).
Em breve, entrará em vigor a Lei Geral de Proteção de Dados,1 adicionando 
novas camadas de requisitos a serem observados em contratações que há muito 
tempo não se limitam a aspectos materiais do negócio, passando a regular 
também o procedimento da solução de controvérsias, na busca do mecanismo 
mais adequado para a resolução de problemas de execução, seja no campo do 
Judiciário, seja através de um método alternativo escolhido de acordo com as 
peculiaridades do caso específico.
Mais do que definir as condições de preço, forma de pagamento e obrigações 
das partes, deve o profissional que elabora contratos agir prospectivamente, 
analisando futuros cenários do relacionamento negocial, elegendo ferramentas 
1 O art. 65 da Lei nº 13.709/2018, publicada em 15.8.2018, estabelece um vacatio legis de 24 (vinte 
e quatro) meses para o início da vigência, com exceção dos artigos indicados no inciso I do referido 
dispositivo.
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de superação de intercorrências na direção do melhor adimplemento possível 
para contratantes que precisam enxergar no outro polo da avença um colaborador 
proativo e não um antagonista.
Se nem sempre é fácil ser bem-sucedido na elaboração e execução de 
contratos fechados e por tempo determinado, o que dizer dos contratos cativos de 
longa duração, vale dizer, dos contatos relacionais, cuja duração se confunde com 
a própria existência dos seus figurantes? Para ilustrar, cabe aqui uma pergunta: 
desde quando, caro leitor, você tem plano de saúde e até quando pretende mantê-lo?
No modelo dos contratos relacionais, a alocação dos riscos do negócio vai 
sendo alterada durante a sua própria execução, não sendo possível, no momento 
de sua celebração, precisar o cenário futuro após décadas de vigência de cláusulas 
negociais pensadas noutro contexto de regulação e equilíbrio econômico.
Para lidar com situações como a acima descrita, desenvolvem-se teorias acerca 
de contratos propositalmente incompletos, nos quais a mencionada alocação de 
riscos não é estabelecida no momento desua celebração, estabelecendo-se, ao 
contrário, mecanismos para a solução das contingências ao tempo em que forem 
surgindo.
Em tempos de economia do compartilhamento, em que ter propriedade 
plena, para muitos, deixa de ser algo essencial, para ser substituído pelo direito 
de uso de certos bens por determinados períodos – considerando-se ainda que a 
velocidade da disrrupção dos avanços tecnológicos pode tornar obsoleto determinado 
serviço em poucos anos –, fazer uso de formas deliberadamente incompletas de 
contratos, permitindo avenças sucessivas entre as partes ou a deliberação dos 
problemas por terceiros previamente estabelecidos para a resolução de questões 
pontuais, passará a ser uma estratégia negocial cada vez mais frequente, a fim de 
enfrentar as mudanças de circunstâncias que interferem no equilíbrio do acordo 
entre as partes.
Enfim as perspectivas...
Estamos acostumados a visualizar os contratos como um texto cheio de 
itens registrados em papel e temos dificuldade em reconhecer, com o mesmo 
grau de importância e necessidade de atenção, formas de contratação verbais e, 
especialmente, aquelas realizadas por interação eletrônica. Ainda existem os que 
pensam que “se não está registrado em papel no cartório, não é tão importante”. 
Aqui não me refiro apenas à contratação em sites de comércio eletrônico, mas a 
negócios celebrados em redes sociais (WhatsApp, Facebook, Instagram) e dentro 
de aplicativos de jogos e utilitários. Juntem-se a isso as plataformas on-line de 
resolução de conflitos e as transações negociais sobre direitos patrimoniais 
disponíveis.
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PERSPECTIVAS NO CAMPO CONTRATUAL PARA OS PRÓXIMOS ANOS
Contratamos quando realizamos o download de um joguinho, por mais 
inofensivo que ele pareça, pois concordamos em dar acesso a dados pessoais que 
vão remunerar a utilização do aplicativo, em conjunto com a publicidade que deve 
ser assistida como um requisito para mudar de fase ou conseguir alguma vantagem 
no jogo. Desenvolvedor, provedores de acesso e aplicação, agentes de marketing, 
empresas interessadas em divulgar produtos e serviços, são figurantes de uma 
cadeia complexa de fornecedores que apresenta diversas coligações contratuais, 
sendo difícil enxergar todo o quadro negocial envolvido.
Um dos maiores desafios que os próximos anos nos reservam é a forma 
como colocaremos em prática a necessária tradução de uma teoria contratual 
analógica para um mundo digital. De nada adianta discutir com um profissional 
o que seria um contrato “5.0” quando não se compreendem adequadamente as 
categorias fundamentais de um contrato “1.0”. Cite-se, por exemplo, a cada vez 
mais frequente referência a smart contracts. Mesmo quando celebrados de modo 
automatizado, por vezes com utilização de recursos de inteligência artificial, os 
requisitos de existência, validade e eficácia estão presentes na programação que 
possibilita sua concretização no mundo jurídico.
Via de regra, experimentamos um período de lacuna legislativa sobre parte 
considerável dos avanços tecnológicos citados acima. Enquanto operadores do 
direito, não podemos aguardar a elaboração de novas leis para tratar das situações 
que já estão a ocorrer. Há de se funcionalizar e ressignificar institutos clássicos 
da teoria contratual e fazer uso de uma hermenêutica contratual que garanta 
efetividade aos direitos e garantias fundamentais de nossa Constituição.
É preciso discutir o futuro (= novas formas de contratação e a necessidade 
de sua regulação), sem esquecer o presente (= tradução e ressignificação dos 
institutos). Nesse aspecto, o advento de novas iniciativas legislativas não pode 
comprometer uma base teórica sólida que vem sendo lapidada no último século.
Desse modo, causa preocupação o projeto de um novo Código Comercial2 
que, entre outras alterações, pretende criar uma teoria das obrigações comerciais 
autônoma,3 ao mesmo tempo que, infelizmente, não aprofunda em seu texto o 
debate sobre as inovações tecnológicas aqui debatidas. As referências ao comércio 
eletrônico, utilização de documentos eletrônicos e, principalmente, responsabilidade 
dos empresários no meio digital carecem de maior discussão e diálogo com outros 
2 BRASIL. Senado Federal. Projeto de Lei nº 487, de 2013. Reforma o Código Comercial. Disponível em: 
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/115437. Acesso em: 25 mar. 2020.
3 Para aprofundar a questão, remete-se o leitor ao artigo: SIMÃO, José Fernando; KAIRALLA, Marcello. 
A desnecessidade de uma teoria geral da obrigação empresarial e os equívocos do projeto de Código 
Comercial. Migalhas Contratuais, 18 nov. 2019. Disponível em: link https://www.migalhas.com.br/Miga
lhasContratuais/136,MI315377,61044-A+desnecessidade+de+uma+teoria+geral+da+obrigacao+empre
sarial+e+os. Acesso em: 25 mar. 2020.
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MARCOS EHRHARDT JR.
microssistemas, o que em muito poderia contribuir, especialmente no que se refere 
às relações empresariais assimétricas, num país no qual parcela considerável 
dos empresários pode ser enquadrada como pequenos e microempreendedores.
Após todo o esforço de unificação da teoria das obrigações negociais efetuado 
com a criação do Código Civil em 2002, a simples leitura de alguns dispositivos 
do referido projeto permite detectar diversos pontos em que não se observa a 
melhor técnica,4 desconsiderando-se o entendimento doutrinário e jurisprudencial 
já sedimentado em nosso país. A aprovação do texto do projeto, na sua versão 
atual, repristinaria vários debates no Judiciário sobre a natureza jurídica da relação 
(v.g., se civil ou comercial), criando um ambiente que parece ser o oposto de quem 
sustenta serem necessárias a segurança e a previsibilidade na alocação de riscos 
para o desenvolvimento econômico.
Nos dias atuais, há de se compreender os vários matizes do contrato con-
temporâneo. Quando se menciona “contrato”, de qual espécie estamos tratando? 
Seria um contrato paritário, com partes em condições de igualdade, em posição 
de discutir de modo equidistante e leal seu conteúdo? Seria um contrato entre 
particulares, preocupado com o valor de uso do bem e as necessidades pessoais 
de sua família? Estamos tratando de um contrato massificado, impessoal, com 
predisposição unilateral de suas condições para o oferecimento de produtos 
ou serviços em que não há espaço para sua customização de acordo com as 
necessidades individuais específicas? Por acaso seria um ajuste coletivo, que 
versa sobre interesses de um grupo, com posição jurídica semelhante? Estamos 
lidando com um contrato celebrado entre pessoas que gozam de capacidade civil e 
têm plenas condições de compreender o sentido e alcance técnico, econômico e/
ou jurídico das cláusulas estabelecidas, ou estamos diante de relações marcadas 
por uma vulnerabilidade latente e que necessita de regulação?
Tratando de regulação, estamos elaborando um contrato típico com entendi-
mento jurisprudencial consolidado ou lidando com o desafio da lacuna legislativa, 
num ambiente de forte interferência dos avanços tecnológicos que exigem novas 
soluções para a garantia da validade e eficácia dos pactos?
A tecnologia não está apenas no conteúdo das avenças, mas na forma de 
sua celebração. Já estão entre nós contratos celebrados em vídeo, cláusulas 
negociais com explicação em áudio, hiperlink para um glossário ou ainda para um 
questionário específico, a fim de tornar inequívoca a manifestação da vontade, bem 
como o consentimento negocial utilizando assinatura criptografada e registro do 
4 Para outras considerações e críticas ao projeto,ver o artigo: FROTA, Pablo Malheiros da Cunha. A 
interpretação do negócio jurídico empresarial no projeto de Código Comercial do Senado Federal nº 
487/2013. Migalhas Contratuais, 16 dez. 2019. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/coluna/
migalhas-contratuais/317033/a-interpretacao-do-negocio-juridico-empresarial-no-projeto-de-codigo-comercial-
do-senado-federal-n-487-2013. Acesso em: 25 mar. 2020.
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PERSPECTIVAS NO CAMPO CONTRATUAL PARA OS PRÓXIMOS ANOS
negócio exclusivamente em meio digital. Em vez de ir ao cartório assinar a escritura, 
utilizamos um token para assinar e obter o código de validação, lançando mão 
das mais variadas formas de plataforma de mídia. Porém, conforme mencionado 
acima, os contratos ditos “inteligentes” ainda dependem de pessoas responsáveis 
por sua programação e aplicação.
A fronteira de até onde avançaremos com a inteligência artificial e a internet 
das coisas ainda está longe de ser definida. Mas o receio daqueles que imaginam 
que serão substituídos em breve por uma máquina pode reduzir um pouco se nos 
prepararmos para um novo período no qual a capacidade de argumentação e a 
criatividade ganharão cada vez mais espaço em detrimento da cômoda opção de 
realizar tarefas repetitivas.
O contrato do futuro marcará o início de uma caminhada e não necessaria-
mente traçará todos os capítulos do percurso dos contratantes. Os profissionais 
que atuarem no setor não se despedirão dos figurantes negociais no dia de sua 
celebração, mas acompanharão a jornada e as necessárias correções de rumo na 
busca de benefícios mútuos, incorporando avanços científicos, novas oportunidades 
e interesses, desde que não percamos de vista que o contrato, como instrumento de 
integração social, evolui e acompanha nossa sociedade em todos os seus passos.
Tem-se afirmado com frequência que não podemos ignorar os avanços. Mas 
disrrupção e inovação não significam ignorar de onde viemos. Se pretendemos 
visualizar para onde estamos seguindo, é preciso compreender como chegamos 
até aqui e quais foram os agentes da mudança.
Sem entender nossos erros e como eles ocorreram, estamos fadados a 
repeti-los. Se todos parecem concordar que a perspectiva é de mudança, os caminhos 
para ela não são unânimes e alguns parecem bem tortuosos. Para lançar um pouco 
de luz sobre a direção a seguir, devemos reafirmar nosso compromisso com a 
proteção dos sujeitos. A garantia da dignidade não transige com a necessidade 
de colocar os contratos a serviço das pessoas, e não o contrário.
Que tenhamos um excelente ano.
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