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1 2 PRESIDENTE DA REPÚBLICA Luiz Inácio Lula da Si lva MINISTRO DA EDUCAÇÃO Fernando Haddad GOVERNADOR DO ESTADO DO PIAUÍ José Well ington Barroso de Araújo Dias REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ Luiz de Sousa Santos Júnior SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DO MEC Carlos Eduardo Bielschowsky COORDENADOR GERAL DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL Celso Costa José da Costa DIRETOR DO CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA A DISTÂNCIA DA UFPI Gildásio Guedes Fernandes DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA Helder Nunes da Cunha COORDENADORA DO CURSO DE PEDAGOGIA NA MODALIDADE EAD Vera Lúcia Costa Olivei ra COORDENADORA DE MATERIAL DIDÁTICO DO CEAD/UFPI Cleidinalva Maria Barbosa Olivei ra DIAGRAMAÇÃO Diego Albert COORDENADOR DE REVISÃO DE TEXTO Naziozênio Antonio Larcerda REVISÃO Beatriz Gama Rodrigues FICHA CATALOGRÁFICA Serviço de Processamento Técnico da Universidade Federal do Piauí Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello Branco L972g Lustosa, Georgina Quaresma. Gestão e organização do trabalho pedagógico / Georgina Quaresma Lustosa. – Teresina: CEAD/UFPI, 2010. 90p. 1. Política Educacional. 2. Organização e Gestão Escolar. 3. Projeto Pedagógico. I. Título. CDD 371.207 3 O presente texto destina-se aos estudantes vinculados ao Programa de Educação à Distância da Universidade Aberta do Piauí (UAPI) vinculada ao consórcio formado pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), Universidade Estadual do Piauí (UESPI), com o apoio do governo do Estado do Piauí, através da Secretaria de Educação do Estado. Dentro deste contexto, a disciplina Gestão e Organização do Trabalho Pedagógico integra o elenco de disciplinas do Curso de Pedagogia do projeto de formação de professores desta modalidade de ensino. Esta disciplina tem como objetivo central contribuir para a formação de profissionais capazes de compreender a aproximação entre as políticas educacionais e as práticas de gestão e organização escolar como passo primordial na construção de uma escola pública de qualidade e de uma gestão democrática que favoreça o fortalecimento do sujeito coletivo e busque novas identidades e competências político- pedagógicas. A proposta desta disciplina parte da concepção da educação e da formação de seus profissionais, tendo a clareza de que professores pretendemos formar para atuar no contexto da sociedade brasileira contemporânea, marcada por determinações históricas especificas. Os professores, sem duvida, são profissionais essenciais nos processos de mudança das sociedades. Portanto, não justifica deixar à margem as decisões pedagógicas e curriculares, enfim, deixar de lado a preocupação com o processo formativo eficiente dos profissionais da educação. Por isso, é preciso investir na 4 formação e no desenvolvimento profissional dos professores. Na sociedade contemporânea, as rápidas transformações no mundo do trabalho, o avanço tecnológico, que configura a sociedade virtual, e os meios de informação e comunicação incidem fortemente na escola, aumentando os desafios para torná-la uma conquista democrática efetiva. Esses desafios requerem um olhar mais abrangente, envolvendo novas formas de ensinar e de aprender condizentes com o paradigma da sociedade do conhecimento, o qual se caracteriza pelos princípios da diversidade, da integração e da complexidade. Entendemos que esse desafio precisa ser prioritariamente enfrentado pelas políticas públicas educacionais. Todavia, não podemos esquecer que os professores são profissionais essenciais na construção dessa nova escola, contribuindo com seus saberes, seus valores e suas experiências nessa complexa tarefa de melhorar a qualidade social da escolarização. Objetivando subsidiar o processo de desenvolvimento da disciplina Gestão e Organização do Trabalho Pedagógico, apresentamos os conteúdos de estudo organizados em três unidades. Na primeira, Políticas Educacionais no Brasil: uma retrospectiva histórica, fazemos uma retrospectiva da trajetória das políticas educacionais no país, desenhando momentos de impasses, perspectivas e compromissos. Na segunda unidade, Organização e Gestão da Escola, discutimos sobre a organização e a gestão escolar, buscando esclarecer os conceitos, objetivos, elementos e características da organização e gestão da escola. Entendemos que o exercício da profissão se fortalece 5 quando o professor passa a conhecer melhor o funcionamento do sistema escolar. Na terceira unidade, trabalhamos o Projeto Político Pedagógico da Escola. Isso é realizado entendendo que a escola é desafiada a elaborar seu projeto pedagógico como instrumento de organização pedagógico-administrativa de democratização e de produção de sua autonomia na prática pedagógica, tomando como referência as peculiaridades e as necessidades da instituição escolar. No desenvolvimento das diferentes unidades do conteúdo, sugerimos atividades de estudo, objetivando o aprofundamento das leituras e aprendizagem efetiva na vivência da disciplina. Por fim, esperamos que você tenha sucesso na aprendizagem desta disciplina, lembrando-se que a reflexão sobre as leituras realizadas é muito importante em sua formação profissional e pessoal. 6 UNIDADE 01 - POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL: UMA RETROSPECTIVA HISTÓRICA 1.1 Década de 30: a educação passa a ser vista como uma questão social........................................................................... 12 1.2 As Constituições Federais: avanços e impasses nas questões educacionais............................................................. 13 1.3 A Primeira LDB: Lei nº 4. 024, de 20/12/1961.................... 14 1.4 O Golpe Militar de 1964: uma nova ordem política no país 15 1.5 A Constituição Federal de 1988: momento importante da historia brasileira....................................................................... 16 1.6 A Nova LDB: Lei nº 9. 394/1996: garantia de conquistas históricas................................................................................... 17 1.7 Organização da Educação Brasileira: via dispositivos da LDB – Lei nº 9.394/1996........................................................... 19 1.8 Educação Básica: uma nova dimensão da formação humana..................................................................................... 20 1.9 Educação Infantil: um novo formato educativo................... 24 1.10 Ensino Fundamental: obrigatoriedade escolar ampliada 26 1.11 Ensino Médio: última etapa da educação básica............. 28 UNIDADE 02 – ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA ESCOLA: A CONSTRUÇÃO COLETIVA DO AMBIENTE DE TRABALHO 2.1 A escola: contexto de aprendizagem da profissão............. 41 2.2 A organização e a gestão da escola: mediação e busca de objetivos............................................................................... 45 2.3 Organização e gestão escolar: alguns conceitos básicos e outros elementos................................................................... 46 2.4 Gestão participativa: meio de assegurar a democratização da escola........................................................ 51 2.5 Gestão escolar participativa: princípios e características 56 2.6 Autonomia da escola e da comunidade educativa........... 57 2.7 Relação orgânica entre direção e participação dos membros da equipe escolar..................................................... 58 2.8 Envolvimento da comunidade no processo escolar.......... 59 2.9 Planejamento das atividades.............................................. 59 2.10 Formação continuada para o desenvolvimento pessoal e profissional dos integrantes da comunidade escolar............ 59 2.11 Utilizaçãode informações concretas com ampla democratização........................................................................ 60 2.12 Relações humanas produtivas e criativas focadas na busca de objetivos comuns ..................................................... 61 7 UNIDADE 3: PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA ESCOLA 3.1 Projeto Pedagógico: conceituação..................................... 68 3.2 Projeto pedagógico da escola: Que referências? Que princípios?................................................................................ 71 3.3 Características do projeto pedagógico da escola............... 72 3.4 O projeto pedagógico e a autonomia da escola................. 75 3.5 Exigências para elaboração do Projeto Pedagógico da Escola....................................................................................... 78 8 9 UNIDADE 01 - POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL: UMA RETROSPECTIVA HISTÓRICA 1.1 Década de 30: a educação passa a ser vista como uma questão social........................................................................... 12 1.2 As Constituições Federais: avanços e impasses nas questões educacionais............................................................. 13 1.3 A Primeira LDB: Lei nº 4. 024 de 20/12/1961..................... 14 1.4 O Golpe Militar de 1964: uma nova ordem política no país 15 1.5 A Constituição Federal de 1988: momento importante da historia brasileira....................................................................... 16 1.6 A Nova LDB: Lei nº 9. 394/1996: garantia de conquistas históricas................................................................................... 17 1.7 Organização da Educação Brasileira: via dispositivos da LDB – Lei nº 9.394/1996........................................................... 19 1.8 Educação Básica: uma nova dimensão da formação humana..................................................................................... 20 1.9 Educação Infantil: um novo formato educativo................... 24 1.10 Ensino Fundamental: obrigatoriedade escolar ampliada 26 1.11 Ensino Médio: última etapa da educação básica............. 28 10 UNIDADE 01 - POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL: UMA RETROSPECTIVA HISTÓRICA A possibilidade de desvincular saber de poder, no plano escolar, reside na criação de estruturas horizontais onde professores, alunos e funcionários formem uma comunidade real. É um resultado que só pode provir de muitas lutas, de vitórias setoriais, derrotas, também. Mas sem dúvida a autogestão da escola pelos trabalhadores da educação – incluindo os alunos – é a condição de democratização escolar (Maurício Tragtenberg, 1998). O propósito desta retrospectiva consiste em apresentar uma reflexão histórica sobre as políticas educacionais no Brasil. Entendemos que, para uma melhor compreensão das políticas educacionais no contexto brasileiro, não basta inserirmos informações empíricas atuais. É preciso voltar no tempo, fazer pelo menos uma pequena retrospectiva e contemplar cada momento histórico de sua construção. Na produção deste texto pretendemos construir em breves referências as políticas educacionais brasileiras no que concerne aos aspectos legais de suas sequenciadas legislações, tendo como eixo o contexto das Constituições Federais, o atual Plano Nacional de Educação (PNE) e os Projetos de Leis de Diretrizes e Bases (LDBs) vivenciadas no país. Para darmos conta de pontuar e refletir sobre a trajetória histórica das políticas educacionais vivenciadas no país, tomamos como parâmetro os textos dos professores/pesquisadores Freitag (1986), Ribeiro (1988), Saviani (2003), Brzezinski (2008), entre outros. Estudar a educação brasileira no seu processo histórico é voltar ao século XVI: descobrimento do Brasil, chegada dos padres jesuítas que aqui aportaram em companhia do primeiro Governador Geral. A partir de então, e por mais de 200 anos, conforme Freitag (1986), o ensino 11 público no Brasil ficou quase que exclusivamente entregue aos padres jesuítas. As características da política educacional do primeiro período precisam ser vistas à luz da organização da economia e da especificidade da formação social brasileira como um todo (FREITAG, 1986, p. 46). Durante todo o Período Colonial, Imperial e até a I República (1500-1930), uma política educacional estatal era quase inexistente. Mas que importância poderia ter a educação nessa estrutura social? As atividades latifundiárias se limitavam à prática da monocultura e, assim, exigiam um mínimo de qualificação e diversificação da força de trabalho. Não havia, portanto, necessidade da função da escola na reprodução da força de trabalho. A reprodução da estrutura de classes existentes (latifundiários, representantes da coroa, clero e escravos) já era uma realidade garantida pela organização da produção, não cabendo à escola interferir nessa estrutura de classes. Então, o que restou à escola como função social? Segundo Freitag (1986, p. 47), restaram à escola as funções de “reprodução das relações de dominação e a reprodução da ideologia dominante”. E os colégios jesuítas desempenhavam perfeitamente essas funções, assegurando dessa maneira a própria reprodução da sociedade escravocrata. Freitag (1986, p. 47) enfatiza, ainda, que “a Igreja Católica não só assumia a hegemonia na sociedade civil, como penetrava, de certa forma, na própria sociedade política, através dessa arma pacifica que é a educação”. Apesar da expulsão transitória dos jesuítas do Brasil no fim do século XVIII, a Igreja preservou sua força na sociedade civil ainda nas fases do Império e da I República. Era ela que, basicamente, continuava a controlar as instituições de ensino, encarregando-se ainda por muito 12 tempo da função de reprodução da ideologia (FREITAG, 1986, p. 48). 1.1 Década de 30: a educação passa a ser vista como uma questão nacional Podemos afirmar que foi somente a partir da década de trinta que a nossa sociedade começou a enfrentar os problemas próprios de uma sociedade burguesa moderna, entre eles, o da instrução pública popular. Assim, ainda em 1930, foi criado pelo governo Vargas o Ministério de Educação e Saúde Pública. A educação começava a ser reconhecida, inclusive no plano institucional, como uma questão nacional (SAVIANI, 2003). Nesse período, assumiu o Ministério de Educação e Saúde Pública Francisco Campos que efetivou uma série de decretos propondo reformas para a educação. Entretanto, a política educacional proposta, nesse momento histórico, embora tenha dado o primeiro passo em nível da organização da estrutura do ensino, na verdade, não passou de uma reforma preferencialmente do sistema educacional das elites. Isso em função de sua proposta curricular elitizada, deixando de fora a maioria da população. É importante ressaltar, ainda, que essa reforma não se deu de forma conscienciosa e que entre os sujeitos com os quais o governo entrara em atrito encontrava-se a igreja católica. Conforme Freitag (1986, p. 49), “para a Igreja, a educação moral do povo brasileiro deveria ser de sua exclusiva competência [...]”. A política educacional desse período, como não poderia deixar de ser, foi influenciada pelo contexto político- econômico-social vivenciado no país. Merece destaque, 13 nesse momento histórico, o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova (1932), no qual os educadores propunham a renovação das bases pedagógicas e a reformulação da política educacional. O Manifesto proclamava a educação como um direito de todos, sem distinção de classes e situação econômica, reivindicava escola pública, gratuita, obrigatória, tratando, portanto, a educação como problemade ordem social. A V Conferência Nacional da Educação (1932) também foi um ponto relevante do movimento de renovação pedagógica no país. Teve como objetivo apreciar sugestões de uma política escolar para estabelecer um Plano de Educação Nacional, visando ao anteprojeto da Constituição Federal de 1934. Para saber mais sobre a V Conferência Nacional da Educação em 1932, consulte o site: http//www.conselho.saude.gov.br/biblioteca/relatório_1pdf . 1.2 As Constituições Federais: avanços e impasses nas questões educacionais A Constituição Federal de 1934 avançou, conquistou espaços nas questões educacionais e estabeleceu a necessidade de elaboração de um PNE (Plano Nacional de Educação) que coordenasse e supervisionasse as atividades de ensino em todos os níveis (art. 150). São regulamentadas, pela primeira vez, as reformas de financiamento da rede oficial de ensino em quotas fixas para a Federação, Estados e Municípios (Art.156), fixando-se, ainda, as competências dos respectivos níveis administrativos para os respectivos níveis 14 de ensino. Implanta-se a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primário. Mas essa proposta dura pouco. A repressão generalizada da ditadura varguista (Estado Novo – 1937) faz com que os ideais liberais sejam combatidos. Somente em 1946, passamos a ter uma lei nacional referente ao ensino primário. Durante o Estado Novo, regime ditatorial de Vargas que durou de 1937 a 1945, oficializou-se o dualismo educacional: ensino secundário para as elites e ensino profissionalizante para as classes populares. As leis orgânicas ditadas nesse período, por meio de exames rígidos e seletivos, tornavam o ensino antidemocrático, ao dificultarem ou impedirem o acesso das classes populares não só ao ensino propedêutico, de nível médio, como também ao ensino superior (LIBÂNIO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2007, p. 143). A Constituição de 1946 definiu a educação como direito de todos e o ensino primário como obrigatório para todos e gratuito nas escolas públicas. Também determinou à União a tarefa de fixar as diretrizes e bases da educação como instrumento de democratização da educação pela via da escola básica. O clima político favorável da Constituição Federal de 1946 proporcionou a elaboração por uma comissão de educadores de um projeto de reforma geral da educação brasileira. O anteprojeto foi encaminhado pelo então Ministro da Educação, Clemente Mariani, à Câmara Federal em 1948. 1.3 A Primeira LDB: Lei nº 4.024 de 20/12/1961 O projeto desta Lei tramitou no Congresso Nacional por treze anos (1948-1961), sofrendo inúmeras críticas, vetos e reclamos. Por fim, foi sancionada a primeira LDB – Lei de nº 4.024/61 em 20/12/1961, quando, 15 logicamente, não mais respondia aos anseios da sociedade, não somente pelo favorecimento maior à iniciativa privada, mas também porque a lei havia envelhecido, estava literalmente defasada, o que levava à necessidade de novas leis que dessem conta das exigências históricas. A discussão realizada durante a votação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), exigência da Constituição Federal de 1946, envolveu toda a sociedade civil que estava ávida por mudanças nas políticas educacionais e a lei resultante desse debate nacional, nº 4.024/12/61, instituiu a descentralização, ao determinar que cada Estado organizasse seu sistema de ensino. Porém, o movimento democrático que o país vivia não combinava com o centralismo das ditaduras e logo foi engolido pela situação vigente no país. Em 1964, o golpe dos militares provocou novamente o fortalecimento do Executivo e a centralização das decisões no âmbito das políticas educacionais. 1.4 O Golpe Militar de 1964: uma nova ordem política no país Com o golpe militar de 1964, instalou-se uma nova ordem política no país. O governo militar precisava conter o movimento dos estudantes, dos professores e dos intelectuais que reclamavam por reformas amplas para a sociedade brasileira e, em especial, para as universidades. A partir de então, os governos ditatoriais negaram a política educacional brasileira conquistada pela sociedade e a educação passou a ser regida por novas leis e decretos que eram sancionados sem nenhuma participação da sociedade, objetivando apenas os interesses da nova ordem política implantada no país. 16 Vale registrar neste período autoritário a promulgação de duas leis concebidas à margem da discussão democrática: a Lei 5.540/68, que fixa as normas de organização e funcionamento do ensino superior, e a Lei 5.692/71, que fixa as diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º graus (hoje Ensino Fundamental e Ensino Médio). Entre tantas medidas arbitrárias, foi criado o sistema de créditos, acabando com os cursos seriados. Desmontando, dessa forma, as organizações estudantis, evitando os grupos de pressão, restringindo também a autonomia das universidades que passaram a ter o funcionamento articulado ao modelo político vigente. 1.5 A Constituição Federal de 1988: momento importante da história brasileira O processo de redemocratização institucional do país resultou na Constituição Federal de 1988. É importante frisar que a Constituição Federal de 1988 representou um momento importante da história da educação brasileira contemporânea. Para a elaboração do projeto da Constituição, convergiram as atenções de indivíduos e organizações de diferentes segmentos da sociedade civil organizada que lutaram para assegurar a expressão de seus interesses no texto constitucional. Com este fato político, abriu-se a oportunidade de se reformular, via legislação, todo o arcabouço da educação brasileira. Começava, portanto, o processo de mobilização da comunidade educacional e de toda a sociedade na tarefa de elaborar novas diretrizes e bases da educação nacional. A luta foi árdua com muitos atropelos e correlação de forças. Enfim, com anos de idas e vindas foi sancionada a Lei nº 17 9.394/96 que estabelece atualmente as diretrizes e bases da educação nacional. 1.6 A Nova LDB: Lei nº 9.394/1996: garantia de conquistas históricas A nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) não propõe avanços significativos na política educacional brasileira, apenas garante as conquistas históricas. No processo de tramitação no Congresso Nacional, o antagonismo de interesses e de forças foi muito forte impedindo a aprovação de um texto mais ousado e democrático que realmente atendesse às aspirações da sociedade. Saviani (2003) faz um comentário critico sobre a “oportunidade perdida” do contexto da implantação da nova LDB. Para este pesquisador, mais uma vez deixamos escapar a oportunidade de traçar as coordenadas e criar mecanismos que viabilizassem a construção de um sistema nacional de educação aberto, abrangente, sólido e adequado às necessidades e aspirações da população brasileira em seu conjunto. Hoje já passou mais de uma década da promulgação do novo instrumento legal, com a perspectiva de redirecionar os rumos da educação nacional. A educação brasileira vem passando, desde então, por uma série de mudanças, particularmente de cunho jurídico-institucional, decorrentes das medidas implementadas por força da LDB e até mesmo por força da Constituição Federal de 1988, destacando-se a aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE), sancionado através da Lei nº 10.172/01. 18 A função do Plano Nacional de Educação (PNE) é cuidar da articulação e desenvolvimento do ensino, em seus diversos níveis, e da integração das ações do poder público que conduzam entre outros objetivos à erradicação do analfabetismo; universalização do atendimento escolar; melhoria da qualidade do ensino; formação para o trabalho; promoção humanística, cientifica e tecnológica do país. Em síntese, oPlano Nacional de Educação tem como ações elevar o nível global de escolaridade da população, melhorar a qualidade do ensino em todos os níveis, reduzir as desigualdades sociais e regionais no tocante à educação e democratizar a gestão do ensino público brasileiro. O PNE propõe, ainda, medidas para implementar as diretrizes e os referenciais curriculares nacionais para a educação infantil, na perspectiva da melhoria da qualidade. A recomendação expressa no referido Plano é uma educação de qualidade prioritariamente para as crianças das famílias de menor poder aquisitivo, mais sujeitas à exclusão ou vítimas dela, devendo também contemplar a necessidade do atendimento em tempo integral para crianças menores, das famílias de renda mais baixa, quando os pais trabalharem fora de casa (PEREIRA; TEIXEIRA, 2008, p. 107). Vale ressaltar que o Fundo Nacional de Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEF, implantado em 2007 em substituição ao Fundo de Desenvolvimento da Educação Fundamental e Valorização do Magistério – FUNDEB, responde, em grande parte, à mobilização dos movimentos sociais na área da educação, para incluir a educação infantil, a partir das creches, e absorver inclusive aquelas conveniadas com os sistemas municipais e estaduais públicos, desde que mantenham 19 crianças de até 3 anos de idade dentro de uma estrutura escolar de qualidade. O Conselho Nacional de Educação (CNE), desde o final da década de 90, vem realizando a regulamentação das medidas complementares da Nova LDB e do Plano Nacional de Educação. Foram aprovados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para o ensino básico e as Diretrizes Curriculares para os cursos do ensino superior, medidas que acarretaram reformas já implantadas ou em processo de implantação no Sistema Nacional de Educação. 1.7 Organização da Educação Brasileira: via dispositivos da LDB – Lei nº 9.394/1996 A educação abrange todos os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais (art. 1º - LDB). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional representa um marco na história recente da educação brasileira. A LDB juntamente com a Constituição Federal de 1988 são os instrumentos constitucionais de organização da educação brasileira. É importante pontuar, conforme Pereira e Teixeira (2008), que a atual LDB, diferentemente das leis anteriores, expressa uma concepção ampla de educação, projetando uma nova dimensão à formação humana. A estrutura do sistema educacional brasileiro divide-se em Níveis e Modalidades de Ensino. De acordo 20 com o artigo 21 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, a educação escolar compõe-se de: I – educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; II – educação superior. 1.8 Educação Básica: uma nova dimensão da formação humana Neste momento, vamos focar nosso olhar na organização da educação básica, objeto de interesse da formação de professores das séries iniciais do ensino fundamental. A educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores (LDB – art. 22). A educação básica tem sua regulação pautada em pressupostos políticos, sociais e pedagógicos, que revelam a natureza e os propósitos pretendidos nesse nível de escolarização. A educação básica é concebida como um direito público, situando-se no postulado de um ensino universal, destinado à formação comum para todos, fundamentando-se no princípio de igualdade de oportunidade educacional. Essa concepção do direito à educação básica está presente nos princípios estabelecidos na Constituição Federal brasileira e são reproduzidos na LDB. O art. 3º da LDB refere-se especificamente à igualdade de condições 21 para o acesso e a permanência na escola. Vejamos o texto do artigo 3º da LDB: O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância; V – coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII – valorização do profissional da educação escolar; VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX – garantia de padrão de qualidade; X – valorização da experiência extra-escolar; XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as prática sociais. A formulação do princípio da igualdade para o acesso e permanência na escola denota, na verdade, um alargamento do direito à educação, porque não se limita apenas ao acesso do aluno à escola, mas, sobretudo, a sua permanência no ambiente escolar. Entretanto, o que observamos no contexto brasileiro é que essa ampliação do direito à escola é uma questão ainda negada, considerando um percentual significativo de crianças e jovens fora do ambiente escolar, não apenas pela falta de possibilidade de acesso, mas, principalmente, pela exclusão precoce de um grande número de alunos que frequentam nossas escolas. Expandir a rede pública de ensino para assegurar o acesso à escola depende, logicamente, de decisões políticas. Contudo, a permanência dos alunos nas escolas, implica mudanças qualitativas no interior destas instituições 22 de ensino. Implica esforços no sentido de promover condições que favoreçam as crianças e aos jovens provenientes das classes populares a permanência nas escolas para a continuação dos seus estudos. Não negamos que hoje emerge no contexto educacional brasileiro um esforço voltado para consolidar a igualdade, mediante a inclusão de comunidades que historicamente são excluídas do direito à educação e desconsideradas nas suas diferenças e particularidades, como os índios, os negros e os portadores de necessidades especiais. Estes princípios inscritos na LDB, acima citados, enfatizam a concepção do respeito ao pluralismo de ideias e da diversidade no sentido de uma educação básica comprometida com a construção de uma sociedade democrática e inclusiva. É importante pontuar que o relatório final do Projeto Brasil Três Tempos (2006) enfatiza claramente a amplitude da concepção de educação básica colocada na LDB, afirmando que: [...] além de sentido “regular” que comumente relacionam à idade e a características semelhantes do alunado, podem ser desenvolvidas com características especificas, denominadas de “modalidades”, que objetivam o atendimento às diferenças dos sujeitos históricos que se incorporaram. Com isso, a Educação Básica engloba também a educação de jovens e adultos, educação especial, educação do campo, educação indígena e educação profissional. É importante explicar o significado do Projeto Brasil Três Tempos. Trata-se de um projeto criado pelo governo federal em 2006, correspondente aos anos de 2007, 23 2015 e 2020. A ideia é chegar ao bicentenário da Independência conquistando um estágio avançado de desenvolvimento e bem-estar social. Para melhor esclarecimento, consulte: WWW.nac.gov.br/brasil3tempos.pdf> Conforme o artigo 1º da LDB, já mencionado neste trabalho, a educação básica que projeta uma nova dimensão de formação humana deve ser uma educação presente nos processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivênciahumana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa. Enfim, uma educação presente nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais, portanto, uma educação escolar situada no amplo sentido da vida social. Diante desses princípios, só podemos compreender a educação inserida no contexto social e com todas as suas implicações. Para melhor entendimento da educação situada no amplo sentido da vida social, sugerimos a leitura deste texto retirado do artigo das autoras abaixo citadas: Reexaminando a educação básica na LDB: o que permanece e o que muda [...]. Ao situar a educação escolar no espectro amplo da vida social, a LDB induz a uma reflexão crítica da nossa prática educacional: a forma estreita como ela vem sendo concebida, o isolamento da escola em relação ao mundo exterior, a distância entre teoria e prática, entre trabalho intelectual e trabalho manual, a organização escolar rígida, o ensino e as práticas de adestramento e, em especial, a formação de atitudes que, contrariando interesses e necessidades da maioria, levam à obediência, a passividade e à subordinação. 24 A função formativa da educação e suas relações com a sociedade são questões que merecem ser repensadas, especificamente no que se refere à educação escolar, que “se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias (art. 1º, § 1)”, a maioria dentro de um modelo convencional “fechado”. Um dos princípios que permanecem no texto final e que inova radicalmente a historia da educação formal em nosso país é que “a educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social” (art. 1º, § 2). Esta abordagem conceitual coloca em evidência componentes que garantem um entendimento mais amplo da função social da educação, que assegurem a todos um ensino de qualidade. Entre esses componentes, destaca-se o trabalho, parte integrante da vida de cada indivíduo e da sociedade, alvo de tantas contradições históricas. A relação trabalho e educação configura-se como um desafio a ser assumido, ante o numero significativo de polêmicas, indefinições e dúvidas que suscita tanto no campo teórico, como no da realização. O conceito de trabalho e sua participação na vida do indivíduo e da sociedade é algo que precisa ter sua discussão aprofundada, particularmente diante do atual cenário, em que se responsabiliza a educação por organizar um novo perfil de conhecimento. A partir da nova perspectiva, a educação básica pode constituir-se numa via à plenitude democrática, mediante a formação de indivíduos conscientes de sua inserção na sociedade. Uma postura participante, crítica e libertadora, torna-se uma das grandes contribuições a ser dada pela educação no processo de construção do exercício da cidadania plena, consolidando o foco da ação na pessoa, apontando para ela como sujeito da história (PEREIRA; TEIXEIRA, 2008, p. 103/104). 1.9 Educação Infantil: um novo formato educativo A educação infantil, primeira etapa da educação basca, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos 25 físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade (art. 29 – LDB). A educação infantil é concebida pela nova LDB, promulgada em 1996, como a primeira etapa da educação básica e define como finalidade a promoção e o desenvolvimento integral da criança, até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social. Conforme o artigo 29, notamos o reconhecimento da função eminentemente pedagógica do atendimento às crianças de zero a seis anos, visando seu crescimento humano integral, superando, portanto, a visão assistencialista que, historicamente, tem caracterizado as ações governamentais nesse segmento da educação. A educação infantil deixa de ter a função de “guarda de crianças” para assumir o papel pedagógico de “atender às necessidades determinadas pela especificidade da faixa etária, a partir de uma visão da criança como criadora, ser histórico, sujeito de direitos, capaz de estabelecer múltiplas relações e produtora de cultura” (BRASIL, MEC, 2006, p. 8). A educação infantil desenvolve-se em creches, para crianças de até 3 anos de idade, e em pré-escola, para crianças de 4 a 6 anos, conforme o art. 30 da LDB. É importante pontuar que essa estrutura organizacional da educação infantil já sofreu modificações, em decorrência da decisão governamental de ampliação do ensino fundamental para 9 anos de duração e a antecipação da matrícula nesse nível para as crianças de 6 anos de idade. A antecipação da entrada das crianças com 6 anos de idade no ensino fundamental provoca a diminuição da demanda de crianças para a educação infantil, com isso, 26 amplia a possibilidade de matrículas para as crianças de 4 a 5 anos na pré-escola e abre perspectivas para a universalização do atendimento das crianças de 6 anos no ensino fundamental. Conforme Pereira e Teixeira (2008), em consideração às especificidades da faixa etária, a inclusão das crianças de 6 anos no ensino fundamental ainda encontra resistência no meio educacional. 1.10 Ensino Fundamental: obrigatoriedade escolar ampliada O Ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos, terá por objetivo a formação básica do cidadão, (Caput do artigo com redação dada pela Lei n° 11.274, de 6/2/2006). O ensino fundamental é a etapa da educação básica definida como obrigatória pela Constituição brasileira. O cumprimento à escolaridade obrigatória pressupõe direitos sociais e deveres do Estado, da família e da sociedade. Assim, conforme dispõe o art. 5º da LDB, é direito de qualquer cidadão, grupo ou instituição que o representa acionar o Poder Público para exigir o acesso ao ensino fundamental, obrigatório, em caso de falta, omissão ou negligência. Conforme o artigo 4º da LDB, o Estado tem o dever com a educação escolar pública mediante a garantia de manter o ensino fundamental obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; atender a progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; atendimento educacional 27 especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino (para melhor entendimento, consultem a apostila da disciplina Educação Especial – já estudada por vocês). É dever do Poder Público (Estados e Municípios em colaboração com a União) recensear a população em idade escolar para o ensino fundamental e os jovens e adultos que a ele não tiveram acesso; fazer-lhes a chamada pública e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola; é dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula dos filhos a partir dos seis anos de idade, no ensino fundamental (art. 6º da LDB). É importante pontuar aqui as mudanças recentemente introduzidas na LDB, às quais já nos referimos anteriormente, sobre a ampliação do ensino fundamental para nove anos de duração, com matrícula obrigatória a partir de seis anos de idade. Para melhor entendimento dessa mudança, leia o texto que segue: Educação infantil e ensino fundamental de nove anos A efetivação e a ampliação da obrigatoriedade escolar constituem os principais eixos das políticas públicas formuladas para a área educacional. Assim, o Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado pela Lei nº 10.172/01, estabelece como prioridade para o ensino fundamental a universalização do atendimento escolar, com a garantia de acesso e permanência de todas as crianças na escola. Concomitantemente, o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) propõe ampliar para nove anos a duração do ensinofundamental obrigatório com inicio aos 6 anos de idade, [...]. A ampliação do tempo destinado à escolaridade obrigatória é uma inovação proposta à LDB de 1996 pela política nacional do MEC, e sua implementação figura entre 28 os principais programas definidos para o ensino fundamental. A justificativa anunciada é a de oferecer maiores oportunidades de aprendizagem no período de escolarização obrigatória e assegurar que, ingressando mais cedo no sistema de ensino, as crianças prossigam nos estudos e alcancem maior nível de escolaridade. A Lei nº 11.274/06 institui o ensino fundamental de nove anos de duração, com matrícula obrigatória a partir de 6 anos de idade, alterando os artigos 29, 30, 32 e 87 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Também define prazo, até 2010, para a adequação das escolas públicas e privadas às normas estabelecidas (PEREIRA; TEIXEIRA, 2008, p. 118). 1.11 Ensino Médio: última etapa da educação básica O ensino médio é a etapa final de uma educação de caráter geral que situa o educando como sujeito produtor de conhecimento e participante do mundo do trabalho (PCN – Ensino Médio, 1999). O ensino médio é a etapa final da educação básica. Este nível de ensino passa a ter a característica da terminalidade, o que significa assegurar a todos os cidadãos a oportunidade de consolidar e aprofundar os conhecimentos adquiridos no ensino fundamental. O ensino médio tem como função aprimorar o educando como pessoa humana; possibilitar o prosseguimento de estudos; garantir a preparação básica para o trabalho e a cidadania; dotar o educando dos instrumentos que o permitam continuar aprendendo, tendo em vista o desenvolvimento da compreensão dos funcionamentos científicos e tecnológicos dos processos formativos (art. 35 – LDB). Enfim, o ensino médio é uma etapa da educação básica que tem como função consolidar e aprofundar os 29 conhecimentos já adquiridos no ensino fundamental, prepararando o educando para o trabalho e para exercer sua cidadania como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico. [...] a missão fundamental da educação consiste em ajudar cada indivíduo a desenvolver todo o seu potencial e a tornar-se um ser humano completo, e não um mero instrumento da economia; a aquisição de conhecimentos e competências deve ser acompanhada pela educação do caráter, a abertura cultural e o despertar da responsabilidade social (Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio). A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) vem conferir uma nova identidade ao ensino médio, conferindo caráter de norma legal à condição deste segmento educacional, segundo o art. 21 (já citado neste texto), como parte da educação básica. A Constituição Federal de 1988 já prenunciava essa concepção quando no art. 208 garantia como dever do Estado “a progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio”. A Constituição, portanto, confere a esse nível de ensino o estatuto de direito de todo cidadão. É importante pontuar que o ensino médio não é uma modalidade da educação obrigatória para as pessoas, mas sua oferta é dever do Estado, numa perspectiva de acesso para todos aqueles que desejarem estudar. Isso significa que o ensino médio integra a etapa do processo educacional que a Nação considera básica para o exercício da cidadania, base para o acesso às atividades produtivas, além de proporcionar o prosseguimento dos 30 níveis mais elevados e complexos de educação, portanto promover o desenvolvimento pessoal do educando, assim como a sua interação com a sociedade e sua plena inserção no mundo. Enfim, o ensino médio tem como função primordial “desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (art. 22 – LDB). É importante ressaltar, ainda, que o ensino médio deve ser planejado em consonância com as características sociais, culturais e cognitivas da pessoa humana, como os adolescentes, jovens e adultos, sujeitos e referenciais dessa última etapa da educação básica, cada um desses grupos com suas identidades culturais, seus sentimentos, seus olhares, enfim, com suas singularidades. Assim, conforme o texto abaixo: [...] É importante salientar que o processo pedagógico deverá ser pensado em todo sistema de ensino a partir da realidade de suas instituições escolares, com a centralidade na pessoa, como sujeito do processo de construção do conhecimento cientifico, tecnológico e cultural, inserida em determinado cenário sócio- histórico. Não é, portanto, um processo isolado da prática social da qual fazem parte a escola e seus atores. A história da política pública para o desenvolvimento do ensino médio no Brasil tem sido pautada por ações focadas e / ou de caráter compensatório, como no caso do Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM - que se distancia da proposta de uma avaliação permanente e cumulativa, como propõe o art. 24 da LDB. Para o estabelecimento de uma política pública estrutural, é necessário superar as dificuldades com que esse nível de 31 ensino convive, de modo a definir a sua identidade, aprimorar-lhe a qualidade e ampliar as possibilidades de acesso e de permanência do estudante na escola [...] (PEREIRA; TEIXEIRA 2008, p. 112). Para saber mais sobre o Exame Nacional do Ensino Médio, consulte o site: http// www.enem.inep.gov.br Dando um fechamento para esta 1ª unidade e, como forma de exercitar, ampliar e consolidar seu processo de aprendizagem gostaria de destacar, a seguir, um pequeno trecho retirado da apresentação da revista do Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos, nº 5º, dezembro/2006, que ressalta, sobretudo, o dever do Estado para com a educação de qualidade como direito essencial do ser humano: [...] O Estado brasileiro tem como princípio a afirmação dos direitos humanos como universais, indivisíveis e interdependentes e, para sua efetivação, todas as políticas públicas devem considerá-lo na perspectiva da construção de uma sociedade baseada na promoção da igualdade de oportunidades e da equidade, no respeito à diversidade e na consolidação de uma cultura democrática e cidadã. Nessa direção, o governo brasileiro tem o compromisso maior de promover uma educação de qualidade para todos, entendida como direito humano essencial. Assim, a universalização do ensino fundamental, a ampliação da educação infantil, do ensino médio, da educação superior e a melhoria da qualidade em todos esses níveis e nas diversas modalidades de ensino são tarefas prioritárias. Além disso, é dever dos governos democráticos garantir a educação de pessoas com necessidades especiais, a profissionalização de jovens e adultos, a 32 erradicação do analfabetismo e a valorização dos(as) educadores(as), da educação, da qualidade da formação inicial e continuada, tendo como eixos estruturantes o conhecimento e a consolidação dos direitos humanos.[...]. Atividades avaliativas: Após a leitura do texto anterior, reflita e desenvolva as questões que seguem: 1 Escreva, em dois parágrafos, suas considerações sobre o conteúdo do texto. 2 Será que as políticas públicas têm considerado efetivamente a educação como um direito essencial do ser humano? De forma consistente justifique sua resposta. Questão para ser discutida no Fórum: Leia com atenção o texto abaixo e, a partir da leitura, responda: Será que a educação, da forma que se concretiza em nossas escolas, cumpre com a missão fundamental que lhe é atribuída? [...] a missão fundamental da educação consiste em ajudar cada indivíduo a desenvolver todo o seu potencial e a tornar-se um ser humano completo,e não um mero instrumento da economia; a aquisição de conhecimentos e competências deve ser acompanhada pela educação do caráter, a abertura cultural e o despertar da responsabilidade social (Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio). Socialize seus comentários com seu professor à distância e com os seus colegas de curso, depositando-os no fórum. 33 REFERÊNCIAS BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988. BRASIL, Lei Federal nº 9.394/1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB. Brasília, http://portal.mec.gov.br. BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio. Brasília: Ministério da Educação, 1999. BRASIL, MEC. CNE. CEB. Parecer nº 15. Brasília, 1998. BRASIL, MEC. SEF. Parâmetros Curriculares para o Ensino Fundamental. Brasília, 1998. BRASIL. MEC. INEP. Exame Nacional do Ensino Médio. Brasília, 1998. BRZEZINSKI, Iria. (Org.). LDB dez anos depois: reinterpretação sob diversos olhares. São Paulo: Cortez, 2008. BRZEZINSKI, Iria. (Org.). LDB interpretada: diversos olhares se entrecruzam. São Paulo: Cortez, 1997. FREITAG, Bárbara. Escola, Estado e sociedade. São Paulo: Moraes, 1986. LIBÂNIO, J. Carlos; OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estruturas e organização. São Paulo: Cortez, 2007. PEREIRA, Eva Waisros; TEIXEIRA, Zuleide Araújo. Reexaminando a educação básica na LDB: o que permanece e o que muda. In: BRZEZINSKI, Iria (Org.). LDB dez anos depois: reinterpretação sob diversos olhares. São Paulo: Cortez, 2008 RIBEIRO, Maria Luisa Santos. História da educação brasileira: a organização escolar. São Paulo: Cortez, 1988. SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas. Campinas, SP: Autores Associados, 2003. TRAGTENBERG, M. Memorial. In: Revista Educação & Sociedade, 65, dezembro de 1998, Campinas – SP. 34 35 UNIDADE 02 – ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA ESCOLA: A CONSTRUÇÃO COLETIVA DO AMBIENTE DE TRABALHO 2.1 A escola: contexto de aprendizagem da profissão............. 41 2.2 A organização e a gestão da escola: mediação e busca de objetivos............................................................................... 45 2.3 Organização e gestão escolar: alguns conceitos básicos e outros elementos................................................................... 46 2.4 Gestão participativa: meio de assegurar a democratização da escola........................................................ 51 2.5 Gestão escolar participativa: princípios e características 56 2.6 Autonomia da escola e da comunidade educativa........... 57 2.7 Relação orgânica entre direção e participação dos membros da equipe escolar..................................................... 58 2.8 Envolvimento da comunidade no processo escolar.......... 59 2.9 Planejamento das atividades.............................................. 59 2.10 Formação continuada para o desenvolvimento pessoal e profissional dos integrantes da comunidade escolar............ 59 2.11 Utilização de informações concretas com ampla democratização........................................................................ 60 2.12 Relações humanas produtivas e criativas focadas na busca de objetivos comuns ..................................................... 61 36 UNIDADE 2 – ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA ESCOLA: A CONSTRUÇÃO COLETIVA DO AMBIENTE DE TRABALHO As instituições sociais existem para realizar objetivos. Os objetivos da instituição escolar contemplam a aprendizagem escolar, a formação da cidadania e a de valores e atitudes. O sistema de organização e de gestão da escola é o conjunto de ações, recursos, meios e procedimentos que propiciam as condições para alcançar esses objetivos (LIBÂNEO, 2001). Trabalhamos na unidade anterior a criação e o desenvolvimento das políticas educacionais. Neste momento, a proposta é abordar a organização e a gestão da escola como unidade básica do sistema escolar, na perspectiva da construção coletiva do ambiente de trabalho. Para trabalhar esta proposta, estamos nos fundamentando em alguns olhares, tais como: Libâneo; Oliveira; Toschi (2007), Paro (2001), Oliveira; Rosar (2008) e outros. Entendemos que o exercício da profissão ganha mais qualidade se o professor conhece bem o funcionamento do sistema escolar, ou seja, as políticas educacionais, as diretrizes legais, as relações entre escola e sociedade e, ainda, o funcionamento da escola como lócus do trabalho docente. Vale ressaltar a importância de que os profissionais da educação detenham o conhecimento sobre a organização interna da escola, suas formas de gestão, currículo, métodos de ensino, relacionamento professor- aluno, enfim, que a compreensão da estrutura organizacional e dos procedimentos da gestão da escola seja construída conjuntamente por todos aqueles que atuam 37 na escola como, professores, diretores, coordenadores, funcionários e alunos. Dessa forma, fica mais fácil identificar as necessidades e problemas na própria situação de trabalho e, logicamente, buscar coletivamente soluções e práticas inovadoras, objetivando melhorar as condições de aprendizagem dos alunos. Como é sugerido neste texto por Libâneo; Oliveira; Toschi (2007, p. 289-290). [...] Os professores têm varias responsabilidades profissionais: conhecer bem a matéria, saber ensiná-la, ligar o ensino à realidade do aluno e a seu contexto social, ter uma prática de investigação sobre seu próprio trabalho. Há, todavia, outra importante tarefa, nem sempre valorizada: a de participar de forma consciente e eficaz nas práticas de organização e de gestão da escola. [...]. Mas o que vem a ser a organização e a gestão da escola? A organização e a gestão da escola, segundo Libâneo; Oliveira; Toschi, referem-se ao conjunto de normas, diretrizes, estrutura organizacional, ações e procedimentos que asseguram a racionalização do uso de recursos humanos, materiais, financeiros e intelectuais assim como a coordenação e o acompanhamento do trabalho das pessoas (2007, p.293). Para uma melhor compreensão deste conceito, faz-se necessária a formulação de duas questões básicas: o que entendemos por racionalização do uso dos recursos na realidade escolar? E qual é o nosso entendimento de coordenação e acompanhamento? A racionalização do uso dos recursos na realidade escolar trata-se da utilização acertada de meios e recursos compatíveis que venham assegurar a melhor realização dos 38 objetivos propostos pela escola que são o ensino e a aprendizagem dos alunos. Por coordenação e acompanhamento, entendemos que são as ações e os procedimentos destinados a articular e a integrar as atividades das pessoas que trabalham na escola, objetivando resultados que atendam às reais necessidades do projeto pedagógico da escola. Para a efetivação dessas duas características que fazem parte da estrutura organizacional de uma instituição (no nosso caso, a escola), as funções específicas de planejar, organizar, dirigir e avaliar devem ser um processo continuo nas ações do trabalho docente. Conforme Libâneo; Oliveira; Toschi (2007), as formas de organização e de gestão de uma empresa são sempre meios, nunca fins. Portanto, são categorias com significados diferentes. Os meios existem para se alcançarem determinados fins e não o contrário. A organização e gestão da escola devem corresponder à necessidade de a instituição escolar dispor das condições e dos meios para a realização de seus objetivos específicos. Portanto, a organização e gestão da escola, de acordo com os autores acima citados (2007, p. 294), visam consequentemente: 1. Proveras condições, os meios e todos os recursos necessários ao ótimo funcionamento da escola e do trabalho em sala de aula; 2. Promover o envolvimento das pessoas no trabalho por meio da participação, e fazer a avaliação e o acompanhamento dessa participação; 39 3. Garantir a realização da aprendizagem para todos os alunos. No momento atual, existe uma gama de estudos sobre o sistema escolar e sobre as políticas educacionais focados na escola como unidade básica e como espaço de realização das metas do sistema escolar. Observamos que a ideia de ter as escolas como referência para a formulação e gestão das políticas educacionais não é um pensamento novo na história da educação brasileira, mas essa preocupação vem adquirindo importância crescente no planejamento das reformas educacionais exigidas pelas recentes transformações do mundo contemporâneo. Por essa consideração, as propostas curriculares, as leis e as resoluções referem-se atualmente a práticas organizacionais como autonomia, descentralização, projeto- pedagógico-curricular, gestão centrada na escola e avaliação institucional. Conforme Libâneo; Oliveira; Toschi (2007), existem pelo menos duas maneiras pertinentes de ver a gestão educacional centrada na escola: na perspectiva neoliberal, que reduz as responsabilidades do Estado, deixando-as ao encargo das comunidades e das escolas, e a perspectiva sociocrítica, que valoriza as ações concretas dos profissionais na escola, considerando que essas ações sejam decorrentes de suas iniciativas, de seus interesses e de suas interações. Sem com isso desobrigar o Estado de suas responsabilidades com o interesse público dos serviços educacionais prestados à sociedade. Na perspectiva sociocrítica, a escola e sua maneira de organização constituem um ambiente educativo. Verdadeiramente, um espaço de formação e de 40 aprendizagem, um espaço em que os profissionais podem decidir sobre seu trabalho e aprender sobre sua profissão. Nesse espaço educativo, acreditamos que não são somente os professores que educam, mas todos os sujeitos que atuam na escola, desenvolvendo as mais variadas funções, portanto, devem desenvolvê-las com atitudes educativas. Pensando assim, Libâneo; Oliveira e Toschi (2007, p. 294) pontuam: 1. A escola é uma organização em que tanto seus objetivos e resultados quanto seus processos e meios são relacionados com a formação humana, ganhando relevância, portanto, o fortalecimento das relações sociais, culturais e afetivas que nela têm lugar; 2. As instituições escolares, por prevalecer nelas o elemento humano, precisam ser democraticamente administradas, de modo que todos os seus interesses canalizem esforços para a realização de objetivos educacionais, se acentuando a necessidade da gestão participativa e da gestão da participação. O trecho acima citado ratifica que todas as ações e ocorrências de uma escola têm caráter eminentemente pedagógico. As escolas são, portanto, ambientes formativos, suas práticas de organização e de gestão também educam, porque podem criar ou transformar os modos de agir e pensar das pessoas. Nessa relação de reciprocidade, a organização escolar também aprende com as pessoas, no decorrer da execução do trabalho educativo. Ou seja, nesse processo recíproco e constante do fazer pedagógico, dentro da 41 escola, as pessoas mudam com as práticas organizativas e as escolas mudam na convivência humanizada com as pessoas. Assim, Amiguinho e Canário (1994, p. 34) assinalam: “Os indivíduos e os grupos mudam mudando o próprio contexto em que trabalham”. 2.1 A escola: contexto de aprendizagem da profissão. A escola é o local do trabalho docente, e a organização escolar é o espaço de aprendizagem da profissão. A escola é o lugar onde o professor põe em prática suas concepções, suas convicções, seu conhecimento da realidade, suas competências pessoais e profissionais; e o ambiente escolar é o lócus de trocas de experiências e de aprendizagem do professor, dos alunos e de todas as pessoas envolvidas no processo educativo. Compreendemos, no entanto, que, na maior parte das vezes, a realidade das escolas contribua para o isolamento do professor. É necessário, entretanto, que o professor crie condições para reverter essa situação de isolamento, entendendo que sua responsabilidade não apenas começa e termina na sala de aula. A mudança dessa situação é um desafio na profissão e pode ocorrer pela adoção de práticas participativas em que os professores aprendam nas situações de trabalho, compartilhando com os colegas conhecimentos, metodologias, experiências e dificuldades. Os professores precisam entender que a adoção de práticas participativas dentro do ambiente escolar é o modo de funcionamento da organização e da gestão que considera a escola uma comunidade de aprendizagem, ou seja, uma comunidade democrática, aberta, de 42 aprendizagem, de ação, de reflexão e afetividade. Uma comunidade, enfim, de relações saudáveis, onde existem trocas de conhecimentos e de experiências entre todos os sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. Para reforçar este pensamento, veja o teor do texto abaixo: Toda aprendizagem relevante é um processo de diálogo com a realidade natural e social, o qual supõe participação, interação, debate, trocas de significados e representações e envolve professores e alunos e alunos entre si. Neste sentido, a sala de aula é um lugar de construção, de reconstrução e de compartilhamento de culturas (PÉREZ GOMES, 2000). A organização escolar também é um espaço de compartilhamento de significados, de conhecimento e de ações entre as pessoas. Desde que esta organização escolar seja compreendida como comunidade democrática de aprendizagem que transforma a escola em lugar de compartilhamento de valores e de práticas inovadoras e de reflexões conjuntas. Se considerarmos que tanto a escola quanto a sala de aula são comunidades de aprendizagem, podemos refletir que valores e práticas compartilhados no âmbito da organização escolar exercem efeitos diretos na sala de aula e o que ocorre na sala de aula tem efeitos na organização escolar, na comunidade e na sociedade como um todo. Assim, compreendemos que a adoção da gestão participativa no ambiente escolar contribui efetivamente para o compartilhamento de significados e de culturas de vida repercutindo em todas as esferas da vida social. Contudo, vale ressaltar que a ideia de que todos devem estar envolvidos com os objetivos e os processos da gestão escolar não invalida assinalar que, para as escolas estarem a serviço dos objetivos de aprendizagem, é 43 importante a definição e a clareza de funções e papéis diferenciados para pedagogos, docentes, funcionários e estudantes. Como já foi explicitado anteriormente, o grande objetivo da escola é a aprendizagem dos alunos. E a organização escolar é um dos pressupostos responsáveis pela melhoria da qualidade dessa aprendizagem. Para melhor entendimento das funções e das competências dos professores na organização e na gestão escolar, leia o texto que segue: [...] o grande objetivo das escolas é a aprendizagem dos alunos, e a organização escolar necessária é a que leva a melhorar a qualidade dessa aprendizagem. Portanto, o trabalho na sala de aula é a razão se ser da organização e da gestão. No entanto, como temos demonstrado, os professores são também responsáveis pelas formas de organização e de gestão. Ou seja, as salas de aula fazem parte de um todo maior que é a escola, de modo que tudo aí está muito articulado, em uma relação de dependência recíproca. Podem-se citar alguns exemplos: a) a direção precisa prover as condições para que a administração e as salas de aula realizem seu trabalho; b) o que osalunos aprendem em uma série influenciará sua aprendizagem na série seguinte; c) as normas disciplinares não podem valer apenas para uma classe, mas são necessárias normas comuns para toda a escola; d) os professores não podem ter diferentes condutas para controlar a disciplina, para tomar 44 decisões de ordem moral ou para desenvolver práticas de cidadania. Os objetivos de formação devem ser definidos cooperativamente, havendo necessidade de certo consenso acerca de princípios e de práticas de cunho moral. Vê-se que os professores precisam fazer sua parte, de modo que contribuam para o funcionamento da escola. Cabe-lhes entender que trabalham em parceria com seus colegas, que participam de um sistema de organização e de gestão, que há necessidade de definir práticas comuns com relação aos alunos, à conduta docente na sala de aula, às formas de relacionamento com alunos, funcionários e pais. O exercício profissional do professor compreende, ao menos, três atribuições: a docência, a atuação na organização e na gestão da escola e a produção de conhecimento pedagógico. Como docente, necessita de preparo profissional especifico para ensinar conteúdos, dar acompanhamento individual aos alunos e proceder à avaliação da aprendizagem, gerir a sala de aula, ensinar valores, atitudes e normas de convivência social e coletiva. Necessita, também, desenvolver conhecimentos e pontos de vista sobre questões pedagógicas relevantes, como elaboração do projeto pedagógico-curricular e de planos de ensino, formas de organização curricular, critérios de formação de classes, etc. [...] Como profissional que produz conhecimento sobre seu trabalho, precisa desenvolver competências de elaboração e de desenvolvimento de projetos de investigação. 45 Essas características profissionais formam um perfil que, todavia, não se pode tornar uma camisa-de-força, porque as pessoas são diferentes, as situações são diversas e as ações dos professores nas salas de aula são imprevisíveis. Por outro lado, o perfil é útil para que se possa planejar a formação profissional inicial e continuada e, também, para que as escolas tenham um mínimo de expectativas quanto a critérios para acompanhar e avaliar o trabalho docente (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2007, p. 309/310). 2.2 A organização e a gestão da escola: mediação e busca de objetivos Em nosso dia-a-dia, administração (ou gestão, que será aqui tomada como sinônimo) costuma ser associada com chefia ou controle das ações de outros. Isso decorre do fato de que, diuturnamente, convivemos com o arbítrio e a dominação e quase não nos damos conta disso. É compreensível, portanto, que gerir, administrar, seja confundido com mandar, chefiar (PARO, 2001, p. 94). Conforme Paro (2001), se sairmos das concepções cotidianas e nos aprofundarmos na análise do real, perceberemos que a função da administração ou gestão é essencialmente mediar a busca de objetivos. Administrar, gerir, será assim, como já foi definido anteriormente, a utilização racional de recursos para a realização de determinados fins. Vale frisar que a organização escolar tem características muito diferentes das empresas industriais, comerciais e de serviços. Considerando que a organização escolar tem peculiaridades e objetivos próprios de uma 46 organização ou instituição que se dirige para a educação e a formação de pessoas. Assim, seu processo de trabalho tem uma natureza eminentemente interativa, com forte presença das relações interpessoais. Além disso, os resultados do processo educativo são de natureza muito mais qualitativa que quantitativa e os alunos são, ao mesmo tempo, usuários de um serviço e membros da organização escolar. A organização escolar, portanto, se diferencia de qualquer outra instituição convencional, pois a instituição escolar apresenta características muito peculiares de conceber as práticas de organização e de gestão revestidas essencialmente de caráter pedagógico. Neste momento do estudo, sentimos, ainda, a necessidade de explicitar de forma mais clara alguns conceitos básicos e outros elementos que constituem os processos organizacionais no enfoque das instituições educativas. 2.3 Organização e gestão escolar: alguns conceitos básicos e outros elementos Trabalhar a gestão e a organização escolar é trabalhar as formas de organizar, estruturar e administrar o ambiente escolar. Organizar significa dispor de forma ordenada as ações, as práticas e promover as condições necessárias para realizá-las. Dessa forma, falar de organização escolar implica falar dos princípios e procedimentos relacionados à ação de planejar o trabalho da escola, racionalizar o uso dos recursos materiais, financeiros, intelectuais, e coordenar e avaliar o trabalho das pessoas, objetivando resultados satisfatórios. 47 Chiavenato pontua dois significados de organização: unidade social e função administrativa e acrescenta: As organizações são unidades sociais (e, portanto, constituídas de pessoas que trabalham juntas) que existem para alcançar determinados objetivos. Os objetivos podem ser o lucro, as transações comerciais,o ensino, a prestação de serviços públicos, a caridade, o lazer, etc. nossas vidas estão intimamente ligadas às organizações, porque tudo o que fazemos é feito dentro de organizações (CHIAVENATO, 1989, p. 189). Consideramos que a escola é uma unidade social porque no seu interior sobressai a interação entre as pessoas na promoção da formação humana. Segundo Libâneo; Oliveira; Toschi (2007, p. 316), “[...] a instituição escolar caracteriza-se por ser um sistema de relações humanas e sociais com fortes características interativas, que a diferenciam das empresas convencionais”. Assim, a escola é uma unidade social que reúne pessoas trabalhando juntas, pessoas que interagem entre si, trabalhando por meio de estruturas e de processos organizativos próprios, a fim de alcançar objetivos educacionais. Os processos organizacionais, também mencionados como funções, são: o planejamento, a estrutura organizacional, a direção e a avaliação. Essas funções estão presentes no fazer docente, tanto nos aspectos pedagógicos, considerados de atividades-fim, quanto aos técnico-administrativos, atividades-meio, ambos impregnados do caráter educativo, próprio das instituições de ensino. A ação desses processos de chegar a uma decisão, ou seja, de operacionalizar o fazer docente, caracteriza a ação designada como gestão. 48 A gestão é, portanto, a atividade pela qual são mobilizados meios e procedimentos para atingir os objetivos da organização, envolvendo, basicamente, os aspectos gerenciais e técnico-administrativos. Há várias concepções e modalidades de gestão que pontuaremos a seguir. As concepções de organização e de gestão escolar Já pontuamos, em momento anterior, que a organização escolar e os processos de gestão são vistos de diferentes maneiras, conforme, logicamente, a concepção que se tenha da educação, da sociedade, das finalidades sociais, políticas e culturais, enfim, da concepção que se tenha da formação das pessoas. Libâneo (2001) classifica a gestão escolar em duas concepções com enfoques bem diferenciados. A concepção técnico-científica e a concepção sociocrítica. A concepção técnico-científica representa uma visão burocrática e tecnicista da escola. Com esse olhar técnico- científico, a direção é centralizada em uma pessoa, as decisões são tomadas de forma vertical, ou seja, de cima para baixo. As escolas que funcionam com este modelo de gestão dão muito valor às hierarquias de funções, à centralização das decisões, a um plano de ação feito de cima para baixo. Essa abordagem de gestão valoriza o poder e a autoridade, exercidos de forma inilateral. Segundo Libâneo (2001, p.187), este é o modelo mais comum de organização escolar que encontramos na realidade educacional brasileira, embora já existam experiências bem-sucedidas de adoção de modelos alternativos em uma perspectiva progressista. 49 Na concepção sociocrítica, a organização escolar é concebida como um sistema que agrega pessoas, como um sistema de interações sociais, onde as pessoas trabalham e decidem juntas. A organização escolar não é algo objetivo, separado dos sujeitos, mas uma construção social efetivada pelos professores, pelos alunos, pelos pais e pela comunidade. Assim, o processo de tomada de decisões dá-se coletivamente, possibilitando aos membros do grupo discutir e deliberar, em uma relação de colaboração. A abordagem sociocrítica da escola desdobra-se em diferentes formas de gestão democrática, como a autogestionária, a interpretativa e a democrático- participativa. Essas diferentes formas de organização têm, em comum, uma visão de gestão que se opõe a formas de dominação e de subordinação das pessoas. Elas consideram importante o contexto social e político, a construção de relações sociais mais humanas e justas e a valorização do trabalho coletivo e participativo. A proposta neste estudo é acentuar com mais ênfase a concepção democrático-participativa – que ressalta a importância da busca de objetivos comuns assumidos por todos. Esta concepção tem como base a relação orgânica entre a direção e a participação dos membros da equipe. Ela enfatiza a importância das relações humanas no trabalho docente e a participação nas decisões tomadas para alcançar com êxito os objetivos da escola. A gestão democrático-participativa faz parte de um processo coletivo de ações, cujo requisito principal é a participação efetiva de todos no exercício do trabalho educativo e administrativo desenvolvido na esfera escolar. Ainda, é importante pontuar que a democracia não é uma situação, ou um produto acabado, mas deve ser vista como 50 um processo em permanente construção. Assim, a gestão democrático-participativa é uma construção de todos os atores envolvidos no processo educativo. Entendemos, portanto, que a democracia não se dá de forma espontânea, precisando, em vez disso, ser construída e exercitada pela prática política, também precisa ter seus valores intencionalmente apropriados pela educação, visto que ninguém nasce democrata ou com os requisitos culturais necessários para o exercício da democracia. Daí a importância da escola ter, entre os objetivos da educação, a formação para a democracia. Enfim, a abordagem democrático-participativa valoriza os elementos constituintes do processo organizacional: o planejamento, a organização, a direção e a avaliação. Prevendo que não basta a tomada de decisões, mas é preciso que elas sejam postas em prática para prover as melhores condições de viabilização do processo de ensino/aprendizagem. A gestão participativa, além de ser a forma de exercício democrático da gestão, é um direito de cidadania, portanto implica deveres e responsabilidades. A figura a seguir é um recorte de Libâneo; Oliveira; Toschi (2007, p. 327) e facilita compreender melhor a distinção das características de organização e gestão escolar dentro das concepções técnico-científica e democrático-participativa. 51 2.4 Gestão participativa: meio de assegurar a democratização da escola A participação é o principal meio de assegurar a gestão democrática da escola. É o principal meio de possibilitar o envolvimento de todos os sujeitos que fazem parte do ambiente de aprendizagem no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar. A ação dos educadores deve ter como alicerce objetivos voltados para a transformação social, tornando a escola um ambiente capaz de promover a apropriação do CONCEPÇÕES DE ORGANIZAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR 52 saber para a instrumentalização cientifica e cultural da população. Agindo assim é possível não só resistir às formas conservadoras de organização e gestão escolar, como também adotar formas alternativas e criativas que contribuam para uma escola democrática a serviço da formação de cidadãos críticos e participativos e da transformação das relações sociais presentes. A prática participativa proporciona melhor conhecimento dos objetivos e das metas da escola, de sua estrutura organizacional e de sua dinâmica de funcionamento; enfim, proporciona melhor conhecimento de suas relações e interrelações internas e externas, e propicia um clima de trabalho favorável à maior aproximação entre professores, alunos e pais. O conceito de participação fundamenta-se no princípio da autonomia que, para Libâneo (1989), significa a capacidade das pessoas e dos grupos para a livre determinação de si próprio, isto é, para a condução da própria vida. A participação, portanto, significa a intervenção dos profissionais da educação e dos usuários, no caso, alunos e pais, na gestão da escola. A participação da comunidade também é importante no processo de democratização da escola. Com a participação da comunidade, a escola deixa de ser um lugar fechado e separado da realidade e passa a conquistar o status de comunidade educativa, interagindo com a sociedade civil. A participação da comunidade, portanto, possibilita à população o conhecimento e a avaliação dos serviços oferecidos pela instituição escolar. A verdade é que a participação de todas as pessoas interessadas no processo educativo de sua escola, de sua comunidade e de sua 53 sociedade influi na democratização da gestão e na melhoria da qualidade de ensino. Conforme expressa Gadotti: Todos os segmentos da comunidade podem compreender melhor o funcionamento da escola, conhecer com mais profundidade os que nela estudam e trabalham, intensificar seu envolvimento com ela e, assim, acompanhar melhor a educação ali oferecida (GADOTTI, 1997, p. 16). É importante ressaltar que o princípio participativo não é o único responsável por assegurar a qualidade de ensino na escola. A participação é apenas um meio de alcançar melhor e mais democraticamente os objetivos da escola, ou seja, a qualidade dos processos de ensino e aprendizagem. Vários outros fatores contribuem para alcançar os objetivos da escola enquanto unidade básica do sistema escolar: a escola como ponto de encontro entre as políticas e as diretrizes do sistema e o trabalho direto na sala de aula. Isso que dizer que os meios necessários para garantir a qualidade do processo educativo são tantos, mas vale destacar, conforme Ferreira e Aguiar (2008, p. 167), alguns meios que, particularmente, consideramos fundamentais: a) professores em quantidade suficiente para atender a toda a demanda; b) política de valorização do magistério; c) professores com formação técnica adequada e politicamente conscientes de seu importante papel social; d) pessoal de suporte pedagógico e de apoio administrativo em quantidade e qualidade suficientes; e) materiais pedagógicos e equipamentos auxiliares necessários ao trabalho docente; 54 f) prédios, salas e espaços educativos em condições satisfatórias (ventilação, iluminação, tamanho, mobiliário); g) recursos financeiros necessários para a manutenção e desenvolvimento do ensino – administrados de forma democrática . A direção como princípio da gestão democrática A direção da escola, além das funções do processo organizacional, tem também a função social e pedagógica. As ações do dirigente de uma escola não podem ser desvinculadas da face fundamental do trabalho escolar: a formação humana. A função do diretor, ou da equipe gestora, é a de coordenar o trabalho geral da escola, lidando com os conflitos decorrentes especialmente das relações de poder, mas,
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