Buscar

CS - CRIME DE TORTURA 2019 1

Prévia do material em texto

CS – TORTURA 2019.1 1 
 
Crime de Tortura – Lei 9.455/97 
APRESENTAÇÃO .......................................................................................................................... 3 
CONSIDERAÇÕES INICIAIS .......................................................................................................... 4 
1. DIPLOMAS NORMATIVOS ..................................................................................................... 4 
 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS ............................................... 4 
 CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS 
CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES ............................................................................ 4 
 CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR E PUNIR A TORTURA ................ 4 
 CONSTITUIÇÃO FEDERAL ............................................................................................. 5 
2. TORTURA CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE ................................................................ 5 
3. TEORIA DO CENÁRIO DA BOMBA RELÓGIO ....................................................................... 6 
4. COMPETÊNCIA ...................................................................................................................... 6 
5. PRESCRIÇÃO ......................................................................................................................... 7 
DOS CRIMES ................................................................................................................................. 8 
1. OBSERVAÇÕES GERAIS ....................................................................................................... 8 
 AÇÃO PENAL ................................................................................................................... 8 
 ELEMENTO SUBJETIVO ................................................................................................. 8 
2. TORTURA-PROBATÓRIA, TORTURA-CRIME E TORTURA-DISCRIMINATÓRIA ................. 8 
 PREVISÃO LEGAL ........................................................................................................... 8 
 OBJETIVIDADE JURÍDICA ............................................................................................... 9 
 OBJETO MATERIAL......................................................................................................... 9 
 NÚCLEO DO TIPO ........................................................................................................... 9 
 SUJEITO ATIVO ............................................................................................................... 9 
 SUJEITO PASSIVO ........................................................................................................ 10 
 ELEMENTO SUBJETIVO ............................................................................................... 10 
2.7.1. Tortura-probatória .................................................................................................... 10 
2.7.2. Tortura-crime ........................................................................................................... 10 
2.7.3. Tortura-discriminatória ............................................................................................. 11 
 CONSUMAÇÃO .............................................................................................................. 12 
 LEI 9.099/95 ................................................................................................................... 12 
3. TORTURA-CASTIGO OU TORTURA-PUNIÇÃO ................................................................... 13 
 PREVISÃO LEGAL ......................................................................................................... 13 
 OBJETIVIDADE JURÍDICA ............................................................................................. 13 
 OBJETO MATERIAL....................................................................................................... 13 
 NÚCLEO DO TIPO ......................................................................................................... 13 
 SUJEITO ATIVO ............................................................................................................. 13 
 SUJEITO PASSIVO ........................................................................................................ 14 
 ELEMENTO SUBJETIVO ............................................................................................... 14 
 CONSUMAÇÃO .............................................................................................................. 14 
 TENTATIVA .................................................................................................................... 14 
 LEI 9.099/95 ................................................................................................................... 14 
4. TORTURA DE PRESO OU DE PESSOA SUJEITA À MEDIDA DE SEGURANÇA ................ 14 
 PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES ...................................................................... 15 
 OBJETIVIDADE JURÍDICA ............................................................................................. 15 
 OBJETO MATERIAL....................................................................................................... 15 
 NÚCLEO DO TIPO ......................................................................................................... 15 
 SUJEITO ATIVO ............................................................................................................. 16 
 SUJEITO PASSIVO ........................................................................................................ 16 
 ELEMENTO SUBJETIVO ............................................................................................... 17 
 
 
CS – TORTURA 2019.1 2 
 
 CONSUMAÇÃO .............................................................................................................. 17 
 TENTATIVA .................................................................................................................... 17 
 LEI 9.099/95 ................................................................................................................... 17 
5. OMISSÃO NA APURAÇÃO DA TORTURA ........................................................................... 17 
 PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES INICIAIS ....................................................... 17 
 OBJETIVIDADE JURÍDICA ............................................................................................. 18 
 OBJETO MATERIAL....................................................................................................... 19 
 NÚCLEO DO TIPO ......................................................................................................... 19 
 SUJEITO ATIVO ............................................................................................................. 19 
 SUJEITO PASSIVO ........................................................................................................ 19 
 ELEMENTO SUBJETIVO ............................................................................................... 19 
 CONSUMAÇÃO .............................................................................................................. 20 
 TENTATIVA .................................................................................................................... 20 
 LEI 9.099/95 ................................................................................................................... 20 
 CONFRONTO COM O CRIME DE PREVARICAÇÃO .................................................... 20 
6. FIGURAS QUALIFICADAS .................................................................................................... 20 
7. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA .......................................................................................21 
 CRIME COMETIDO POR AGENTE PÚBLICO ............................................................... 21 
 CRIME COMETIDO CONTRA CRIANÇA, GESTANTE, PORTADOR DE DEFICIÊNCIA, 
ADOLESCENTE OU MAIOR DE 60 ANOS ............................................................................... 21 
 SE O CRIME É COMETIDO MEDIANTE SEQUESTRO ................................................. 21 
8. EFEITOS DA CONDENAÇÃO ............................................................................................... 21 
9. EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL ........................................................................ 23 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CS – TORTURA 2019.1 3 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Olá! 
Inicialmente, gostaríamos de agradecer a confiança em nosso material. Esperamos que seja 
útil na sua preparação, em todas as fases. Quanto mais contato temos com uma mesma fonte de 
estudo, mais familiarizados ficamos, o que ajuda na memorização e na compreensão da matéria. 
O Caderno Legislação Penal Especial – Tortura possui como base as aulas do professor 
Cleber Masson, do Curso G7 Jurídico. 
Dois livros foram utilizados para complementar nosso CS de Legislação Penal Especial: a) 
Legislação Criminal para Concursos (Fábio Roque, Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar), 
ano 2017 e b) Legislação Criminal Comentada (Renato Brasileiro), ano 2018, ambos da Editora 
Juspodivm. 
Na parte jurisprudencial, utilizamos os informativos do site Dizer o Direito 
(www.dizerodireito.com.br), os livros: Principais Julgados STF e STJ Comentados, Vade Mecum de 
Jurisprudência Dizer o Direito, Súmulas do STF e STJ anotadas por assunto (Dizer o Direito). 
Destacamos: é importante você se manter atualizado com os informativos, reserve um dia da 
semana para ler no site do Dizer o Direito. 
Ademais, no Caderno constam os principais artigos de lei, mas, ressaltamos, que é 
necessária leitura conjunta do seu Vade Mecum, muitas questões são retiradas da legislação. 
Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina 
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você 
faça uma boa prova. 
Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito 
importante!! As bancas costumam repetir certos temas. 
Vamos juntos!! Bons estudos!! 
Equipe Cadernos Sistematizados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.dizerodireito.com.br/
 
 
CS – TORTURA 2019.1 4 
 
CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
1. DIPLOMAS NORMATIVOS 
O crime de tortura é regulamentado pela Lei 9.455/1997. Inicialmente, é importante destacar 
o contexto que a referida lei surgiu, apontando os diplomas que serviram de influência para sua 
edição. 
 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS 
Como se sabe, a DUDH foi proclamada pela Assembleia das Nações Unidas, em 10 de 
dezembro de 1948. Em seu art. 5º prevê, claramente, que ninguém poderá ser submetido a 
tortura e a nenhuma pena ou tratamento desumano, cruel e degradante. 
Art. 5º - ninguém será submetido a tortura e nem a penas ou tratamentos 
cruéis, desumanos ou degradantes. 
 
O espírito da DUDH é a proteção da dignidade da pessoa humana. 
 CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS 
CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES 
A Convenção foi adotada pela Assembleia Geral da ONU em 1984, entrou em vigor em 
1987, sendo ratificada pelo Brasil em 1989. 
Está dividia em três partes: 
• 1ª Parte - diz respeito aos sujeitos ativos e passivos da tortura, sua definição e as medidas 
a serem tomadas pelos Estados que a ela aderirem; 
• 2ª Parte - trata do Comitê e sua atuação: membros, duração do mandato, relatórios, 
posicionamentos sobre casos apresentados; 
• 3ª Parte - cuida da adesão dos Estados-partes à Convenção, bem como emendas que 
possam vir a sugerir. 
 CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR E PUNIR A TORTURA 
Editada em 1985. 
A definição de tortura, na Convenção Interamericana, é mais abrangente do que a trazida 
no documento do Sistema Universal, pois não a restringe a dores ou sofrimento de natureza 
“aguda”. Destaca-se que as penas ou sofrimentos físicos e mentais, decorrentes de sanções 
legítimas, não serão considerados torturas (art. 2º). 
Artigo 2 - Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por tortura todo ato 
pelo qual são infligidos intencionalmente a uma pessoa penas ou sofrimentos 
 
 
CS – TORTURA 2019.1 5 
 
físicos ou mentais, com fins de investigação criminal, como meio de 
intimidação, como castigo pessoal, como medida preventiva, como pena ou 
com qualquer outro fim. Entender-se-á também como tortura a aplicação, 
sobre uma pessoa, de métodos tendentes a anular a personalidade da vítima, 
ou a diminuir sua capacidade física ou mental, embora não causem dor física 
ou angústia psíquica. 
Não estarão compreendidos no conceito de tortura as penas ou sofrimentos 
físicos ou mentais que sejam unicamente consequência de medidas legais ou 
inerentes a elas, contanto que não incluam a realização dos atos ou a 
aplicação dos métodos a que se refere este artigo. 
 
 CONSTITUIÇÃO FEDERAL 
A CF, em seu art. 5º, III, prevê que ninguém será submetido a tortura e nem a tratamento 
desumano e degradante. É o direito fundamental do ser humano de não ser torturado. 
Além disso, o art. 5º, XLIII, considera a tortura um crime inafiançável e insuscetível de graça 
e anistia. Portanto, a Lei de Tortura atende a um mandado expresso de criminalização. É um crime 
equiparado a hediondo (recebe o mesmo tratamento). 
Art. 5º, XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça 
ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, 
o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os 
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; 
 
Obs.: Nem todos os crimes da Lei de Tortura são considerados hediondos, a exemplo da tortura 
omissão. 
Segundo o STF, “a tortura constitui a negação arbitrária dos direitos humanos, pois reflete – 
enquanto prática ilegítima, imoral e abusiva – um aceitável ensaio de atuação estatal tendente a 
asfixiar e, até mesmo, a suprimir a dignidade, a autonomia e a liberdade com que o indivíduo foi 
dotado, de maneira indisponível, pelo ordenamento positivo”. (HC 70389) 
Salienta-se, ainda, que o art. 5º, XLIII é verdadeiro mandado de criminalização, o qual 
impõem ao legislador, para o seu devido cumprimento, o dever de observância do princípio da 
proporcionalidade como proibição de excesso e como proibição de proteção insuficiente. 
2. TORTURA CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE 
O art. 233 do ECA foi o primeiro diploma a tipificar o crime de tortura. 
Art. 23 Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou 
vigilância a tortura. 
 
Sofreu duras críticas, pois foi considerado um tipo penal extremamente aberto, uma vez que 
não define o que é considerado tortura e quais são os atos de torturas (bater, xingar, castigo). Em 
razão disso, muitos consideravam inconstitucional, por violação ao princípio da taxatividade. 
 
 
CS – TORTURA 2019.1 6 
 
Além disso, incriminava apenas a tortura contra menores de 18 anos. 
A Lei de Tortura revogou expressamente o referido dispositivo. 
3. TEORIA DO CENÁRIO DA BOMBA RELÓGIO 
De origem norte-americana, está relacionado com o direito penal do inimigo e com a tortura. 
No cenário da bomba relógio, o terrorista já implantou a bomba e a polícia possui sua 
identificação, porém não se sabe a localização da bomba. Diante do silêncio do terrorista, o direito 
norte-americano autoriza a utilização de tortura, com o objetivo de evitar a explosão e, 
consequentemente, o dano a inúmeras pessoas. 
Diante disso, indaga-se: a proibição da tortura é absoluta ou relativa? Um primeiro 
entendimento, com base na CF, afirma que a proibição datortura é absoluta. Contudo, há quem 
defenda, seguindo o modelo de outros países, que como a proibição da tortura é um direito 
fundamental, sua proibição é relativa, assim como os demais direitos fundamentais, a exemplo do 
direito à vida (admite-se a legítima defesa no Brasil). Preserva-se bens jurídicos de maior valor. 
Imagine que João, por vingança, sequestre o filho de seus ex-empregadores. A polícia, após 
a ligação de João solicitando o resgate, consegue localizá-lo em uma lanchonete. João nega-se a 
informar o local do cativeiro, sendo irônico com o Delegado, afirma que não irá falar a localização 
da criança. Diante disso, o delegado passa a torturar João, filmando tudo, obtendo a localização do 
cativeiro. O delegado será indiciado por tortura? A resposta dependerá do entendimento adotado. 
Obs.: Em um concurso para Defensoria adotar a proibição absoluta. Já em concurso para delgado 
adotar a proibição relativa. 
Por fim, ressalta-se que o art. 2º, item 2, da Convenção Contra a Tortura e Outros 
Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, promulgada pelo Decreto 40/1991, 
dispõe que: “em nenhum caso poderão invocar-se circunstâncias excepcionais tais como ameaça 
ou estado de guerra, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública como 
justificação para a tortura”. 
4. COMPETÊNCIA 
Compete à Justiça Comum Federal ou Estadual. 
Ademais, aplica-se o art. 70, caput, do CPP, competência fixada pelo local da consumação. 
Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se 
consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado 
o último ato de execução. 
 
Por fim, até o advento da Lei 13.491/2017 a tortura, mesmo quando praticada por militar, 
não era julgada pela Justiça Militar, tendo em vista que não estava arrolada como crime militar. 
Atualmente, a conduta praticada pelo agente, para ser crime militar com base no inciso II do art. 9º, 
 
 
CS – TORTURA 2019.1 7 
 
pode estar prevista no Código Penal Militar ou na legislação penal “comum”, portanto, será julgada 
pela Justiça Militar. 
5. PRESCRIÇÃO 
Ressalta-se que a pena dos crimes de tortura não é imprescritível. 
A Constituição prevê apenas que a tortura crime é inafiançável e insuscetível de graça ou 
anistia. Portanto, aplicam-se os prazos prescricionais do Código Penal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CS – TORTURA 2019.1 8 
 
DOS CRIMES 
1. OBSERVAÇÕES GERAIS 
 AÇÃO PENAL 
TODO crime de tortura é de ação penal pública incondicionada. 
 ELEMENTO SUBJETIVO 
É o dolo. 
Não existe tortura culposa. 
2. TORTURA-PROBATÓRIA, TORTURA-CRIME E TORTURA-DISCRIMINATÓRIA 
 PREVISÃO LEGAL 
Estão previstas no art. 1º, I da Lei de Tortura, vejamos: 
Art. 1º Constitui crime de tortura: 
I - Constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, 
causando-lhe sofrimento físico ou mental: 
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de 
terceira pessoa; TORTURA-PROBATÓRIA 
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; TORTURA-CRIME 
c) em razão de discriminação racial ou religiosa; TORTURA-
DISCRIMINATÓRIA 
 
 
TO
R
TU
R
A
PROBATÓRIA - com o fim de obter informação, declaração ou confissão 
da vítima ou de terceira pessoa 
CRIME - para provocar ação ou omissão de natureza criminosa
DISCRIMINATÓRIA - em razão de discriminação racial ou religiosa
 
 
CS – TORTURA 2019.1 9 
 
 OBJETIVIDADE JURÍDICA 
Os três crimes protegem a incolumidade física da vítima em sentido amplo, ou seja, a 
integridade corporal, mental e a saúde da pessoa. 
Além disso, segundo Cleber Masson, tutelam garantias constitucionais e legais das pessoas 
em geral frente aos arbítrios cometidos por funcionários públicos e por particulares. 
 OBJETO MATERIAL 
Objeto material é a pessoa ou a coisa sobre a qual recai a conduta criminosa. 
Dito isso, nos três crimes do inciso I, do art. 1º, o objeto material é a pessoa física que suporta 
a tortura, seja ela probatória, crime ou discriminatória. 
 NÚCLEO DO TIPO 
o núcleo do tipo nada mais do que o verbo(s) do crime. No caso do inciso I, art. 1º, é 
CONSTRANGER. 
Por constranger entende-se a conduta de obrigar alguém a fazer algo contra a sua vontade, 
retirando a sua liberdade de autodeterminação. 
Para constranger a vítima o agente se vale de alguns meios de execução, quais sejam: 
• Violência à pessoa - emprego de força física contra a vítima, mediante lesão corporal 
ou vias de fato. 
• Grave ameaça – promessa da realização de um mal grave (relevante, de grandes 
proporções), iminente (em vias de ocorrer) e verossímil (possível de ser 
concretizado). 
Como elemento normativo do tipo penal temos a provocação de sofrimento físico (corporal) 
ou mental (psicológico) à pessoa. Assim, o agente constrange a vítima, mediante violência à pessoa 
ou grave ameaça, causando-lhe um sofrimento físico ou mental. 
Destaca-se que o sofrimento mental é aquele que se processa por meio de um estado de 
angústia e estresse infligido à vítima por outros meios que não a agressão física. 
Por outro lado, a ausência do sofrimento físico ou mental é causa de exclusão da tortura e, 
consequentemente, de reconhecimento de delito menos grave, a exemplo da lesão corporal, 
constrangimento ilegal, ameaça, etc. 
Por fim, ressalta-se que no crime de tortura o legislador vinculou sua ocorrência a três 
finalidades (alinhas a, b, c), o que provoca uma limitação do alcance da lei, bem como deixa outras 
hipóteses de tortura sem punição, a exemplo da pessoa que tortura por prazer ou sadismo. 
 SUJEITO ATIVO 
 
 
CS – TORTURA 2019.1 10 
 
Trata-se de crime comum ou geral, pode ser praticado por qualquer pessoa. Por isso, 
também é conhecida como CRIME JABUTICABA, já que nos demais países a tortura só pode ser 
praticada por funcionário público. 
Quando o delito for cometido por agente público, haverá a incidência de uma causa de 
aumento da pena (art. 1º, §4º, I). 
Art. 1º (...) 
§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: 
I - se o crime é cometido por agente público; 
 SUJEITO PASSIVO 
A Lei de Tortura refere-se a alguém, este alguém será qualquer pessoa física. 
Ademais, o sujeito passivo pode ser a pessoa contra quem se dirige a violência ou a grave 
ameaça, bem como qualquer outra pessoa prejudicada pela conduta criminosa. Assim, é 
perfeitamente possível a unidade do crime de tortura com a pluralidade de vítimas. 
Por exemplo, tortura-se o filho para que o pai confesse o crime. 
 ELEMENTO SUBJETIVO 
É o dolo mais o especial fim de agir de cada uma das alinhas (finalidade específica). 
Segundo Cleber Masson, há uma limitação indevida da aplicabilidade dos tipos penais 
previstos na Lei 9.455/1997. Exemplos: excesso de maldade e sadismo não irá incorrer no crime 
de tortura. 
2.7.1. Tortura-probatória 
A finalidade específica da tortura probatória é a obtenção de informação, declaração ou 
confissão da vítima ou de terceira pessoa (alinha a). 
Art. 1º Constitui crime de tortura: 
I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, 
causando-lhe sofrimento físico ou mental: 
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de 
terceira pessoa; 
 
Segundo Masson, é a tortura que ainda está presente no dia a dia policial. 
Obviamente, trata-se de prova ilícita, devendo ser desentranhada dos autos. 
CF, art. 5º, XLVI: “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por 
meios ilícitos.” 
2.7.2. Tortura-crime 
 
 
CS – TORTURA 2019.1 11 
 
Na tortura-crime a finalidade é provocar ação ou omissão de natureza criminosa (alinha b). 
Ou seja, através da tortura obriga-se alguém a pratica um crime. Ressalta-se que não haverá tortura 
quando a prática for de contravenção penal. 
Art. 1º Constitui crime de tortura: 
I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça,causando-lhe sofrimento físico ou mental: 
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; 
 
Veja como o tema foi cobrado na prova de Delegado da PC/MS: 
PC/MS FAPEMS 2017 - O funcionário público que constrange fisicamente o estagiário a praticar 
contravenção penal poderá ser responsabilizado pelo crime de tortura do artigo 1° da Lei n° 
9.455/1997. Errado! 
 
Obs.: A coação moral irresistível, prevista no art. 22 do CP, exclui a culpabilidade, tendo em vista 
que se retira do agente a exigibilidade de conduta diversa. Nesta conduta, há três pessoas 
envolvidas: o COATOR, o COAGIDO e a VÍTIMA do crime. Não há concurso de pessoas, somente 
o coator responderá pelo crime praticado pelo coagido E responde por tortura. O coagido fica isento 
de pena. 
Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência 
a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o 
autor da coação ou da ordem. 
2.7.3. Tortura-discriminatória 
Na tortura-discriminatória a finalidade específica é discriminação racial ou religiosa (alinha 
c). 
Art. 1º Constitui crime de tortura: 
I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, 
causando-lhe sofrimento físico ou mental: 
c) em razão de discriminação racial ou religiosa; 
 
Aqui, ao que parece, a lei não reclama a prática de nenhuma conduta por parte da vítima. 
Contudo, segundo o Prof. Cleber Masson, o dispositivo foi mal redigido, tendo em vista que se exige 
uma ação ou omissão da vítima, em virtude da discriminação racial ou religiosa. 
Por exemplo, vítima deixa de entrar em determinado restaurante porque é ameaçada devido 
a sua cor ou a sua crença religiosa. 
O conceito de discriminação racial encontra no art. 1ª, parágrafo único, I, da Lei 12.288/2010, 
observe: 
Art. 1°, I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão, 
restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem 
nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento, 
gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e 
liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou 
em qualquer outro campo da vida pública ou privada; 
 
 
CS – TORTURA 2019.1 12 
 
 
Já discriminação religiosa é a discriminação em razão da crença (católico, umbandista, 
evangélico, espirita, budista). 
Ressalta-se que este dispositivo não engloba outras formas de discriminação, tais como 
ideológica, política e de orientação sexual. 
Em provas, costuma ser cobrado sobre a discriminação devido a orientação sexual. Observe 
a questão da prova de Delgado da PC/SE e de Juiz do TJ/MG: 
PC/SE CESPE 2018 - Situação hipotética: Um cidadão penalmente imputável, com emprego de 
extrema violência, submeteu pessoa homossexual a intenso sofrimento físico e mental, motivado, 
unicamente, por discriminação à orientação sexual da vítima. Assertiva: Nessa situação, é incabível 
o enquadramento da conduta do autor no crime de tortura em razão da discriminação que motivou 
a violência. Correto! 
 
TJ/MG CONSUPLAN 2018 – Nos termos da Lei nº 9.455/97, constitui crime de tortura constranger 
alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental, em 
razão de discriminação racial, sexual ou religiosa. Errado! 
Por fim, quando ocorrer o crime de tortura discriminatória estará caracterizado o concurso 
com algum delito da Lei 7.716/1989. 
 CONSUMAÇÃO 
São crimes formais, de consumação antecipada ou de resultado cortado. Ou seja, o tipo 
penal contem conduta e resultado naturalístico, mas dispensa a ocorrência deste para sua 
consumação. 
Segundo Cleber Masson, “consumam-se no momento em que se inicia o constrangimento, 
com emprego de violência ou grave ameaça, apto a causar sofrimento físico ou mental à vítima, 
independentemente da obtenção da informação, declaração ou confissão almejadas (tortura-
probatória), da realização da ação ou omissão criminosa pelo torturado (tortura-crime) ou do 
comportamento em razão da discriminação racial ou religiosa (tortura-discriminatória)”. 
É perfeitamente possível a tentativa, trata-se de crime plurissubsistente. 
 LEI 9.099/95 
São crimes de máximo potencial ofensivo, a CF exigiu um tratamento mais severo. Por isso, 
são crimes incompatíveis com os institutos da Lei 9.099/95. 
CF, Art. 5º - XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e 
imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; 
 
CF, XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou 
anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o 
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os 
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; 
 
 
 
CS – TORTURA 2019.1 13 
 
CF, Art. LIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos 
armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado 
Democrático; 
3. TORTURA-CASTIGO OU TORTURA-PUNIÇÃO 
 PREVISÃO LEGAL 
Está prevista no art. 1º, II da Lei de Tortura, observe: 
Art. 1º Constitui crime de tortura: 
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de 
violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma 
de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. 
Pena - reclusão, de dois a oito anos. 
 OBJETIVIDADE JURÍDICA 
Protege-se a incolumidade física e mental das pessoas sob guarda, poder ou autoridade do 
agente, submetida a castigo pessoas ou caráter preventivo. 
 OBJETO MATERIAL 
É a pessoa castigada, sobre a qual recai a conduta criminosa. 
 NÚCLEO DO TIPO 
O núcleo do tipo é “submeter”, ou seja, sujeitar alguém a determinado comportamento, 
minando sua resistência. 
O agente se vale, mais uma vez, de violência a pessoa ou de grave ameaça (meios de 
execução). 
A doutrina é unanime em afirmar que a expressão “intenso” sofrimento físico e mental é 
quase impossível de ser mensurada. É muito subjetivo, ainda mais em relação ao sofrimento mental. 
Por fim, destaca-se que a finalidade do agente é aplicar castigo pessoal (ação repressiva) 
ou medida de caráter preventivo. Essas duas hipóteses são indicativas de correção e disciplina a 
cargo de quem tem a obrigação ou o dever de vigilância, guarda ou autoridade sobre a vítima. 
 SUJEITO ATIVO 
Trata-se de crime próprio ou especial, tendo em vista que somente pode ser autor desse 
crime quem tiver a guarda da vítima ou exercer sobre ela alguma espécie de poder ou autoridade, 
ainda que de forma momentânea. 
 
 
CS – TORTURA 2019.1 14 
 
Cita-se, como exemplo, o pai contra o filho; tutor contra tutelado; professor em relação ao 
aluno. 
 SUJEITO PASSIVO 
O tipo penal reclama um sujeito passivo qualificado. Por isso, a tortura castigo é considerada 
um crime bi próprio (sujeito ativo e sujeito passivo). 
A pessoa que está sob guarda, poder ou autoridade exercida pelo sujeito ativo, mesmo que 
de fato e em caráter momentâneo, a exemplo do filho, do interdito, do preso e do aluno. 
Obs.: É possível a tortura no âmbito do matrimônio (ou da união estável)? Não. Interpretação do 
artigo 226, §5º da CF. 
CF, art. 226, § 5º: “Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são 
exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.” 
 
Exceção: Submissão da vítima, pelo agente, ao seu poder de fato, não por força da questão 
de gênero ou do matrimônio (ou união estável). Exemplo: marido castiga a mulher porque ela 
zombou do seu time de futebol. 
 ELEMENTO SUBJETIVO 
É o dolo, mas também se reclama um elemento subjetivo específico, qual seja: como forma 
de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo” = “animus corrigendi”. 
 CONSUMAÇÃO 
Trata-se de crime material ou causal (depende de resultado naturalístico), consuma-se no 
instante em que a pessoa sob guarda, poder ou autoridade é submetida,com emprego de violência 
ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou 
medida de caráter preventivo. 
 TENTATIVA 
É crime plurissubsistente, como a conduta é composta de vários atos e, pode ser fracionada, 
é possível a tentativa. 
 LEI 9.099/95 
Crime de máximo potencial ofensivo. Portanto, incompatível com os benefícios da lei 
9099/1995. 
Não cabe transação penal, suspensão condicional do processo, rito sumaríssimo. 
4. TORTURA DE PRESO OU DE PESSOA SUJEITA À MEDIDA DE SEGURANÇA 
 
 
CS – TORTURA 2019.1 15 
 
 PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES 
Está previsto no art. 1º, §1º da Lei de Tortura, vejamos: 
Lei 9.455/1997, Art. 1º. § 1º. Na mesma pena incorre quem submete pessoa 
presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por 
intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida 
legal. 
 
O preso está cerceado de inúmeros direitos, incabível a tortura. 
Percebe que o tipo penal não faz referência à violência a pessoa e grave ameaça. 
A LEP, em seu art. 3º, garante ao preso e ao internado todos os direitos que não forem 
atingidos pela sentença, o preso suporta a perda temporária do direito à liberdade. 
LEP, art. 3º: Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os 
direitos não atingidos pela sentença ou pela lei”. 
 
Há perda temporária do direito à liberdade “versus” o respeito à integridade física e moral 
(CF, art. 5º, inc. XLIX), direito fundamental à saúde (LEP, art. 14) e vários outros (LEP, art. 41). 
LEP, art. 40: Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade física 
e moral dos condenados e dos presos provisórios. 
 OBJETIVIDADE JURÍDICA 
Protege-se a incolumidade física e mental dos presos e das pessoas sujeitas a medida de 
segurança. 
 OBJETO MATERIAL 
É o preso ou pessoa submetida a medida de segurança atingida pela conduta criminosa. 
 NÚCLEO DO TIPO 
Novamente, utiliza-se o verbo “submeter”. É uma figura equiparada ao caput, mas possui 
autonomia em relação ao delito do caput. 
“Submeter” é sujeitar alguém, forçosamente, a determinado comportamento. Por exemplo, 
obrigar o preso a ingressar em cela escura, solitária ou em regime disciplinar diferenciado, sem 
ordem judicial. 
O tipo penal possui elemento normativo, já que a conduta criminosa recai sobre a pessoa 
presa ou sujeita a medida de segurança (internação em hospital de custodia de tratamento 
psiquiátrico ou tratamento ambulatorial). 
Pode ser qualquer tipo de prisão, bastando que seja lícita. A prisão ilícita EXCLUI esse crime 
• Civil – pelo inadimplemento do pagamento de alimentos 
 
 
CS – TORTURA 2019.1 16 
 
• Criminal – pelo cometimento de um crime 
• Definitiva – condenação com trânsito em julgado 
• Provisória – condenação sem trânsito em julgado. 
Imagine, por exemplo, que policiais façam a detenção ilegal de uma pessoa, simplesmente 
em razão de seu “estereótipo criminoso” e, dentro da viatura, resolvem castigá-la com choques. Por 
qual crime eles respondem? 
Como a prisão é ilegal, responderão pelo art. 1º, II da Lei de Tortura, e não pelo art. 1º, § 1º. 
Os policiais valeram-se da autoridade de seus cargos para deter a pessoa e castigá-la. Não houve 
prisão propriamente dita, e sim uma restrição ilegal da liberdade. 
Já a pessoa sujeita a medida de segurança é aquela que se encontra inserida em alguma 
das modalidades de que trata o art. 96 do Código Penal. Pode estar cumprindo medida de 
segurança em hospital psiquiátrico ou tratamento ambulatorial. 
 Não há emprego de violência ou grave ameaça. A submissão da vítima ao sofrimento físico 
ou mental ocorre “por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida 
legal”. 
• Ato não previsto em lei pode ser qualquer ação ou omissão constrangedora e 
contrária à legislação em geral. Exemplo: deixar o preso em cela escura e 
extremamente fria. 
• Ato não resultante de medida legal é toda ação ou omissão abusiva, porque 
desvinculada de fundamento legal. Exemplo: sanção disciplinar de isolamento do 
preso na própria cela, sem ato motivado do diretor do estabelecimento prisional (LEP, 
art. 53, inc. IV). 
 SUJEITO ATIVO 
Em relação ao sujeito ativo, há duas correntes, quais sejam: 
1ª Corrente - trata-se de crime próprio ou especial, pois o tipo penal pressupõe tenha o autor 
poder sobre a pessoa presa ou submetida a medida de segurança. A conduta somente pode ser 
cometida por agente público. 
2ª Corrente: O crime é comum ou geral, embora normalmente seja praticado pelo funcionário 
público. Exemplo: um preso (ou grupo de presos) submete outro detento, integrante de facção rival, 
a sofrimento físico e mental, como na hipótese em que o ofendido é mantido trancafiado no interior 
da rede de esgoto da penitenciária. 
 SUJEITO PASSIVO 
Somente o preso ou a pessoa sujeita a medida de segurança. 
Obs.: os adolescentes são submetidos a medida socioeducativas. Não há, tecnicamente, falando 
prisão. 
 
 
CS – TORTURA 2019.1 17 
 
 ELEMENTO SUBJETIVO 
É o dolo, sem qualquer finalidade específica (STJ: REsp 856.706). 
PENAL. RECURSO ESPECIAL. CRIME DE TORTURA. ART. 1º, § 1º DA LEI 
Nº 9.455/97. REVALORAÇÃO DO CONJUNTO PROBATÓRIO. 
POSSIBILIDADE. TIPO QUE NÃO EXIGE ESPECIAL FIM DE AGIR. 
SOFRIMENTO FÍSICO INTENSO IMPOSTO À VÍTIMA (PRESO). 
RESTABELECIMENTO DA CONDENAÇÃO. I - A revaloração da prova ou de 
dados explicitamente admitidos e delineados no decisório recorrido, quando 
suficientes para a solução da quaestio, não implica o vedado reexame do 
material de conhecimento (Precedentes). II - Consta no v. acórdão 
vergastado que a vítima foi agredida por policial civil enquanto se encontrava 
presa. Dessas agressões resultaram lesões graves conforme atestado por 
laudo pericial. A vítima, dessa forma, foi submetida a intenso sofrimento 
físico. Em tal contexto, não há como afastar-se a figura típica referente à 
tortura prevista no art.1º, § 1º da Lei nº 9.455/97. III - Referida modalidade de 
tortura, ao contrário das demais, não exige, para seu aperfeiçoamento, 
especial fim de agir por parte do agente, bastando, portanto, para a 
configuração do crime, o dolo de praticar a conduta descrita no tipo objetivo. 
IV - O Estado Democrático de Direito repudia o tratamento cruel dispensado 
pelo seus agentes a qualquer pessoa, inclusive aos presos. Impende 
assinalar, neste ponto, o que estabelece a Lex Fundamentalis, no art.. 5º, 
inciso XLIX, segundo o qual os presos conservam, mesmo em tal condição, 
o direito à intangibilidade de sua integridade física e moral. Desse modo, é 
inaceitável a imposição de castigos corporais aos detentos, em qualquer 
circunstância, sob pena de censurável violação aos direitos fundamentais da 
pessoa humana. Recurso especial provido. (REsp 856.706/AC, Rel. Ministra 
LAURITA VAZ, Rel. p/ Acórdão Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, 
julgado em 06/05/2010, DJe 28/06/2010) 
 CONSUMAÇÃO 
Trata-se de crime material ou causal, consuma-se no instante em que a vítima é submetida 
a sofrimento físico ou mental. 
 TENTATIVA 
Por ser crime plurissubsistente, admite a tentativa. 
 LEI 9.099/95 
Trata-se de crime de máximo potencial ofensivo, assim não se aplicam os benefícios da Lei 
9.099/95. 
Também é um crime equiparado a hediondo. 
5. OMISSÃO NA APURAÇÃO DA TORTURA 
 PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
 
 
CS – TORTURA 2019.1 18 
 
Também chamado de tortura imprópria ou tortura anômala. Não é crime equiparado a 
hediondo. 
Veja como o tema foi cobrado na prova do MP/RS: 
MP/RS 2017 - Do art. 1º, da Lei n. 9.455/97, que incrimina a tortura, extraem-se, as espécies 
delitivas doutrinariamente designadas tortura-prova, tortura-crime, tortura-discriminação, tortura-
castigo, tortura-própria e tortura omissão, equiparadas aos crimes hediondos, previstas na 
modalidade dolosa e com apenamento carcerário para cumprimento inicial em regime fechado. 
Errado! Torturaomissão não é equiparado a hediondo. 
Previsto no §2º do art. 1º da Lei de Tortura. 
Lei 9.455/97, Art. 1º. § 2º. Aquele que se omite em face dessas condutas, 
quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção 
de um a quatro anos. 
 
Aqui, não há um ato de tortura propriamente dito, o agente se omite quanto à apuração de 
um crime de tortura já praticado. 
O tipo penal, em uma leitura apressada, traz a ideia de que aquele que se omite na apuração 
da tortura irá responder por ela também. Imagine por exemplo, que Fernando torturou Flávio. Como 
João, policial, deixou de apurá-la também irá responder. 
Está ideia é falsa, entender assim violaria o princípio da proporcionalidade e seria contrário 
a redação do art. 13, § 2º, do CP e do art. 5º, XLIII, da CF, pois falta o poder de agir no caso 
concreto. 
Para existir a omissão penalmente relevante, não basta o dever de agir também se exige o 
poder de agir no caso concreto. Pela redação da lei de tortura, aquele que tem o dever de agir e 
que não pode agir por qualquer circunstância também é penalizado, viola a proporcionalidade. 
A solução é aplicar este tipo penal somente a quem tem o dever de apurar a tortura e não 
de evita-la. Por isso, por exemplo, o policial militar que presencia a tortura e que podendo agir para 
evitá-la se omite, responde pela tortura, em face da regra contida no art. 13, § 2º, do CP. 
Obs.: “Bis in idem” e inaplicabilidade da agravante genérica prevista no art. 61, inc. II, “g”, do CP, e 
da causa de aumento da pena contida no art. 1º, § 4.º, inc. I, da Lei n.º 9.455/1997 ('se o crime for 
cometido por agente público'). Em razão de o crime necessariamente ser praticado por funcionário 
público, somente pode ser imputado àquele funcionário que tinha o dever de apurar a tortura, e não 
a qualquer agente público. 
Por fim, não se deve confundir dever de apuração com dever de evitação, observe: 
• DEVER DE APURAÇÃO - Quem tinha o dever de apurar, podia apurar e não apurou 
responde pelo crime do art. 1º, §2º da lei de tortura. 
• DEVER DE EVITAÇÃO - Quem tinha o dever de evitar, podia evitar e se omitiu 
responde pelo crime de tortura do art. 1º, I, II ou do art. 1º, §1º 
 OBJETIVIDADE JURÍDICA 
 
 
CS – TORTURA 2019.1 19 
 
Protege-se a Administração da Justiça, uma vez que seus interesses não se compactuam 
com o comportamento do funcionário público que não cumpre com seus deveres, ao se omitir diante 
de um fato bárbaro, nada obstante tenha o dever de agir. 
 OBJETO MATERIAL 
É a pessoa torturada. 
 NÚCLEO DO TIPO 
O verbo é “omitir”, “Omitir”, significa a abstenção do agente público frente à atuação que lhe 
competia em razão da sua posição funcional. 
Trata-se de um crime omissivo próprio ou puro, eis que a omissão está descrita no próprio 
tipo penal. Além disso, é crime acessório (de fusão ou parasitário), pois não existe de forma 
isolada no mundo jurídico, depende da prática de um crime anterior. Existiu um crime de tortura e o 
funcionário público que tinha o dever de apurá-lo se omitiu. 
Destaca-se que dever de apurar não se confunde com dever de instaurar procedimento 
investigatório, pois: 
• DEVER DE APURAÇÃO - mais abrangente do que o dever de simplesmente 
instaurar um procedimento investigatório. É deixar de adotar as medidas para 
movimentar o inquérito judicial. 
• DEVER DE INSTAURAR PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO – resume-se a 
coleta de dados para a apuração do delito. 
Observe como a questão foi cobrado na prova da Defensoria de Pernambuco: 
DPE/PE CESPE 2018 - Comete o crime de tortura aquele que, tendo o dever de evitar a conduta, 
se mantém omisso ao tomar ciência ou presenciar pessoa presa ser submetida a sofrimento físico 
ou mental, por meio da prática de ato não previsto legalmente. Correto! 
 SUJEITO ATIVO 
É crime próprio ou especial, qualquer funcionário público que, tendo o dever jurídico de 
apurar a prática da tortura, em qualquer de suas modalidades (art. 1º, inc. I, “a”, “b”, “c”, inc. II, e § 
1º, da Lei 9.455/1997), queda-se inerte. 
 SUJEITO PASSIVO 
É o Estado, a quem incumbe o dever de investigar e punir a tortura (Convenção contra a 
Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, de 1984). 
É crime contra a administração da Justiça. 
 ELEMENTO SUBJETIVO 
 
 
CS – TORTURA 2019.1 20 
 
É o dolo, independentemente de qualquer finalidade específica. 
Não se admite a modalidade culposa. 
 CONSUMAÇÃO 
É crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado, consuma-se com a 
inércia dolosa no tocante à apuração da tortura, e não exige a produção de qualquer resultado 
naturalístico. 
 TENTATIVA 
É crime omissivo próprio (puro), por isso não admite tentativa. É crime unissubsistente, não 
há como fracionar a conduta. 
 LEI 9.099/95 
É um crime de médio potencial ofensivo, portanto, cabe suspensão condicional do processo, 
se presentes todos os requisitos do art. 89 da lei 9.099/1995. 
 CONFRONTO COM O CRIME DE PREVARICAÇÃO 
O crime de prevaricação, previsto no art. 319 do CP, é omissão geral. 
Art. 319 do CP: “Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, 
ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou 
sentimento pessoal”. 
 
No crime de tortura por omissão há incidência do princípio da especialidade 
Na prevaricação o ato é praticado para alcançar interesse ou sentimento pessoal, ao passo 
que na tortura por omissão o ato praticado não tem fim específico, basta o dolo. 
6. FIGURAS QUALIFICADAS 
Estão previstas no art. 1º, §3º da Lei de Tortura. 
Art. 1º, §3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena 
é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a 
dezesseis anos. 
 
A morte, a lesão gravíssima e a lesão grave qualificam a tortura, pois são produzidas a título 
de culpa. Por outro lado, a lesão corporal de natureza leve é absorvida pela tortura, pois não há 
previsão legal e a violência é meio de execução da tortura. 
Havendo dolo no resultado agravador, ou seja, no tocante a lesão grave ou gravíssima e na 
morte, o agente responderá por concurso entre tortura e homicídio ou entre tortura e lesão. 
 
 
CS – TORTURA 2019.1 21 
 
Por fim, ressalta-se que as qualificadoras não se aplicam ao crime de omissão na apuração 
de tortura. Primeiro, em razão da falta de proporcionalidade; segundo, porque não há tortura 
propriamente dita. 
7. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA 
Estão previstas no §4º do art. 1º, podem elevar a pena acima do máximo legal, incidem na 
terceira fase da dosimetria da pena. 
 CRIME COMETIDO POR AGENTE PÚBLICO 
A pena será aumentada de um sexto até um terço quando for praticada por agente público 
(conceito está no art. 324 do CP). 
Exige-se nexo de causalidade entre a posição funcional do agente e o crime de tortura. 
O crime pode ser praticado no exercício da função ou em razão dela. 
Obs.: Vedação do “bis in idem” e inaplicabilidade ao delito previsto no art. 1º, § 2º (omissão na 
apuração da tortura): a condição de servidor público funciona como elementar do tipo penal. 
 CRIME COMETIDO CONTRA CRIANÇA, GESTANTE, PORTADOR DE DEFICIÊNCIA, 
ADOLESCENTE OU MAIOR DE 60 ANOS 
Para incidir essa majorante o agente deve conhecer essa peculiar característica da vítima. 
Baseia-se na: 
• fragilidade da vítima; 
• facilidade encontrada pelo agente para cometer o delito; 
• indiscutível covardia do agente 
 SE O CRIME É COMETIDO MEDIANTE SEQUESTRO 
O sequestro é privação da liberdade por tempo juridicamente relevante. 
Aqui, temos a privação da liberdade como modo de execução da tortura, ou seja, utiliza-se 
o sequestro para submeter a vítima a sofrimento físico ou mental. 
A privação da liberdade deve ser o modo de execução da tortura para que incida essa 
majorante. Quando a privação da liberdade se limita ao tempo necessário à realização da tortura, 
não incide a majorante.8. EFEITOS DA CONDENAÇÃO 
 
 
CS – TORTURA 2019.1 22 
 
Previsto no art. 1º, §5º da Lei de Tortura, vejamos: 
Art. 1º, §5º, A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego 
público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena 
aplicada. 
 
Ressalta-se que não basta a perda do cargo, o agente deverá ficar impedido de realizar a 
função pelo dobro do tempo da pena. 
Observe a questão da prova de Delegado da PC/GO: 
PC/GO – UEG 2018 Na hipótese de um servidor público ser condenado pelo crime de tortura 
qualificada pelo resultado morte a uma pena de doze anos de reclusão, referida condenação 
acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício por 
a) cinco anos 
b) dez anos 
c) doze anos 
d) vinte e quatro anos – Correta! A pena foi de 12 anos, o dobro será 24 anos. 
e) trinta e seis anos 
Somente após reabilitação poderá prestar novo concurso para a função. Ademais, os efeitos 
da condenação só serão aplicados após o trânsito em julgado da condenação. 
A finalidade da perda do cargo é extirpar da Administração Pública aquele que revelou 
inidoneidade moral e grave desvio ético para o exercício da função pública. 
De acordo com a maioria da doutrina, a interdição é impossibilidade de ocupação de 
qualquer cargo público (em sentido amplo), com efeitos futuros, pelo dobro do prazo da pena 
aplicada. 
Os efeitos extrapenais automáticos não precisam ser declarados na sentença condenatória 
e independem da quantidade de pena cominada ou aplicada. 
Por fim, salienta-se que os feitos da condenação alcançam os crimes de tortura praticados 
por policiais militares. Inaplicabilidade do artigo 125, § 4º, da Constituição Federal, pois a tortura 
não é crime militar. 
Ementa: SEGUNDO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO 
EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PENAL E PROCESSUAL PENAL. 
CRIME DE TORTURA. POLICIAIS MILITARES. PERDA DO POSTO E DA 
PATENTE COMO CONSEQUÊNCIA DA CONDENAÇÃO. APLICABILIDADE 
DO ARTIGO 1º, § 5º, DA LEI 9.455/1997. ALEGADA VIOLAÇÃO DO ARTIGO 
125, § 4º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INOCORRÊNCIA. 
PRECEDENTE. 1. A condenação de policiais militares pela prática do crime 
de tortura, por ser crime comum, tem como efeito automático a perda do 
cargo, função ou emprego público, por força do disposto no artigo 1º, § 5º, da 
Lei 9.455/1997. É inaplicável a regra do artigo 125, § 4º, da Carta Magna, por 
não se tratar de crime militar. Precedentes. 2. In casu, o acórdão recorrido 
assentou: “PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO DO MINISTÉRIO 
PÚBLICO. TORTURA. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS 
QUANTUM SATIS. CONDENAÇÃO DOS APELADOS QUE SE IMPÕE. 
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA, MODALIDADE RETROATIVA, 
ARTIGO 109, INCISO V, C/C ARTIGO 110, AMBOS DO CÓDIGO PENAL, 
 
 
CS – TORTURA 2019.1 23 
 
EM RELAÇÃO AOS APELANTES ANTÔNIO MARCOS DE FRANÇA E 
ELENILSON NUNES DA SILVA. CONHECIMENTO E PROVIMENTO 
PARCIAL DO RECURSO.” 3. Agravo regimental DESPROVIDO. (ARE 
799102 AgR-segundo, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado 
em 09/12/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-026 DIVULG 06-02-2015 
PUBLIC 09-02-2015) 
9. EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL 
Significa a aplicação da lei brasileira a crimes de torturas praticados fora do território 
nacional. Ou seja, a lei de tortura poderá ser aplicada a crimes de tortura praticados no exterior. 
Art. 2º - O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido 
cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira (princípio da 
personalidade) ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira 
(princípio do domicílio). 
 
Perceba que incide o princípio da personalidade passiva e o princípio do domicilio, duas 
hipóteses de extraterritorialidade incondicionada (não se exige nenhuma condição peculiar).

Continue navegando