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Sono e vigília, ritmo infradiano, circadiano e ultradiano O que é o sono? O sono pode ser definido como um estado de suspensão da consciência, total ou parcial. Total porque pode acontecer de você permanecer completamente alheio aos estímulos do ambiente, a ponto de continuar dormindo, mesmo diante de uma turbulência de avião. Parcial, pois é possível continuar percebendo alguns estímulos do ambiente. Basicamente, nosso dia é dividido entre o período em que estamos dormindo e aquele em que estamos acordados. Chamamos isso de ciclo circadiano (ou ritmo circadiano), pois tais flutuações fisiológicas e psicológicas ocorrem dentro do período de 24 horas. Por isso, podemos considerar que a alternância entre o sono e a vigília respeita a lógica do ritmo biológico circadiano. Padrão do sono Monofásico - tem-se a pessoa que concentra seu sono em um único período do dia Bifásico - o indivíduo dorme ininterruptamente durante um determinado período do dia, mas também costuma tirar um cochilo curto em outro horário. Ex: sesta Polifásico - apresentam um sono segmentado, caracterizado por vários episódios curtos de adormecimento ao longo de todo o dia, demonstrando um ritmo circadiano irregular e disfuncional. No início da vida o sono tende a ser polifásico, que é o menos adequado. No final da adolescência o sono passa a ser monofásico. As diferenças individuais no sono Ainda que o nosso sono seja regulado pelo ciclo circadiano (o que faz com que sintamos sono geralmente no mesmo horário, todos os dias), não significa que todas as pessoas durmam e acordem no mesmo horário do dia. Isso porque há outro fator que influencia bastante na equação psicológica do sono, que é o cronotipo. O cronotipo determina o momento do seu dia em que suas faculdades mentais e aptidão física estão mais funcionantes. Ou seja, o seu cronotipo vai predizer que você sentirá sono em um determinado período do dia, enquanto o ciclo circadiano vai garantir que, após cerca de 24 horas, você sentirá sono novamente. cronotipo matutino - algumas pessoas atingem um pico performático logo no início da manhã, sentindo a necessidade de dormir logo após o Sol se pôr cronotipo vespertino. - São pessoas que melhoram sobremaneira as suas faculdades mentais no início da noite, sentindo sono somente quando o Sol começa a raiar no horizonte. O cronotipo vespertino está relacionado à produção mais intensa e de qualidade a partir do início da tarde. A avaliação do cronotipo de alguém é fundamental, na medida em que esse fator ajuda na predição de comportamentos. Ou seja, ao reconhecer que a pessoa possui um cronotipo matutino, você consegue prever que a performance dela (profissional, acadêmica, social) será superior nas primeiras horas do dia. Os estágios do sono Sabidamente, o sono apresenta alguns estágios bem caracterizados e cada um deles tem uma função específica. Podemos dividir esses estágios em duas categorias maiores. Chamamos uma delas de REM e a outra de não REM (ou NREM). Vejamos a seguir: REM Recebe esse nome devido ao fenômeno do movimento rápido dos olhos (no inglês, rapid eye movement), que ocorre durante essa fase. Se você observar com atenção, conseguirá ver o globo ocular se movendo rapidamente, de um lado para o outro, debaixo da pálpebra da pessoa. Esse sinal, ainda que não de forma absoluta, indica que a pessoa em questão pode estar sonhando naquele momento. Isso ocorre porque, apesar de também ocorrer em outras fases, a concentração maior dos sonhos é na REM. NREM Não apresenta nenhum sinal observável a olho nu de terceiros. A não ser que você considere que a dificuldade maior de acordar seja um sinal observável. Isso porque, realmente, durante essa fase, a pessoa se aprofunda cada vez mais no sono, ficando mais resistente às tentativas de despertar. Ainda, o NREM é dividido em quatro fases, sendo a I mais leve e a IV a mais pesada/profunda. FUNÇÃO DO SONO o sono como um todo tem a função de reestruturar as conexões entre os neurônios, facilitar a consolidação das memórias e, de acordo com uma hipótese interessante, levantada no início dos anos 2000, gerar insights para a resolução de problemas cotidianos. Além disso, os sonhos (sejam eles bons ou ruins) têm a função de ser uma espécie de arena de simulação segura, na qual podemos: 1.Reproduzir conflitos que podem fazer parte da nossa realidade. 2.Adotar determinadas estratégias para resolvê-los. 3.Verificar o potencial de resolutividade delas, sem ter qualquer ônus com isso. Ritmos biológicos e qualidade do sono Ritmo infradiano, que regula as funções biológicas espaçadas por mais de 24 horas. Por exemplo, o ciclo menstrual é infradiano. Ritmo ultradiano (ultrarápido). Esse regula aqueles eventos cujo ciclo tem duração inferior a 24 horas. Por exemplo, nossa respiração é regida pela lógica ultradiana, pois dentro de um único minuto respiramos dezenas de vezes. Arquitetura do sono e fisiopatologia dos transtornos do sono a adenosina é uma das principais substâncias indutoras do sono, em condições normais de temperatura e pressão. Ainda, a razão pela qual o café pode fazer você postergar o início do sono é porque a cafeína age como uma antagonista da adenosina. Ou seja, bloqueia parcialmente a capacidade da adenosina se ligar nos neurônios pós-sinápticos e executar sua função celular. Outros fatores também levam à indução do sono. A ação do hormônio melatonina, liberado diante da baixa percepção de luminosidade no ambiente, também favorece o sono. O SRAA (sistema reticular ativador ascendente) é formado por um conjunto de feixes de neurônios que partem do tronco cerebral e vão até o córtex, agindo sobre ele de maneira bastante generalizada. Esses neurônios são especializados na neurotransmissão de noradrenalina, catecolaminas, serotonina e glutamato. É devido à ativação desse sistema que você se mantém vigilante e, por consequência, quando ele reduz a atividade (inclusive devido à adenosina), o estado de sonolência se impõe. A histamina auxilia na perpetuação da atividade dos neurônios. Ou seja, ajuda você a ficar acordado(a). Quando os níveis de histamina caem, o sono aumenta. SONHOS os estudos nos permitem concluir que, durante os sonhos, há uma ativação do córtex occipital e das estruturas límbicas, ao mesmo tempo em que ocorre uma desativação do córtex pré-frontal. As estruturas límbicas seriam responsáveis pelo conteúdo emocional atrelado ao sonho. A atividade occipital é atrelada à construção da imagem onírica. Já a redução do pré-frontal à suspensão de descrença, típica do sonho em que você vê cavalos voando e aquilo parece óbvio desde sempre. Ou seja, seu juízo está comprometido. RELOGIO BIOLOGICO Uma estrutura fundamental da engrenagem desse relógio biológico é o chamado núcleo supraquiasmático (NSQ), que fica localizado na ponta mais inferior do hipotálamo, logo acima do quiasma óptico (por isso o nome, pois “supra” significa “acima de”). Arquitetura do sono ESTRUTURA DO SONO Por exemplo, a primeira metade de uma noite de sono é caracterizada pela maior incidência das fases III e IV do NREM. Na segunda metade (ou, após, aproximadamente, 3 horas), a incidência das fases III e IV do NREM diminui consideravelmente, e ocorre um aumento das fases I e II NREM, bem como das fases REM. Dessa forma, temos a seguinte sequência: Fase I do NREM (fase de sonolência, sono mais leve). Fase II do NREM (relaxamento muscular e queda de temperatura corporal). Fase III do NREM (Sono profundo). Fase IV do NREM (etapa de sono mais profundo ainda). Fase III do NREM. Fase II do NREM. Fase REM (intensa atividade cerebral – atividade onírica). O período que compreende o início do adormecimento ao final da fase REM é chamado de ciclo do sono. É importante esclarecer que, ao longo de uma noite, ocorrem de 4 a 6 ciclos, cada um deles com duração aproximada de 90 minutos. Descrição e etiologia dos transtornos do sono INSÔNIA Caracterizada pela insatisfação com a qualidade ou quantidade do sono, podendo se dever à dificuldade em iniciar o sono (deita-secedo, mas só se consegue dormir muitas horas depois); dificuldade para sustentar o sono (acorda-se repetidas vezes à noite); ocorrência de despertares muito antes do planejado. TRANSTORNO DE HIPERSONOLÊNCIA A principal característica desse transtorno é a tendência a dormir durante muitas horas ininterruptas sem, contudo, experienciar um sono reparador. Ou seja, o paciente dorme por mais de 9 horas e considera que ainda precisa de mais horas de cama. ele pode ser consequência de uma disfunção do sistema reticular ativador ascendente, que é a base da vigília. NARCOLEPSIA Caracterizada pela mudança abrupta do estado de vigília para a fase REM do sono, envolvendo a perda do tônus muscular, o que pode provocar quedas inesperadas. Geralmente, esses episódios ocorrem após um momento de forte emoção. Basicamente, o indivíduo está com uma consciência plena e, de repente, é assolado por um sono avassalador e incontrolável. SONAMBULISMO Transtorno cuja principal característica é a presença de movimentos complexos durante as fases III e IV do sono NREM. Pelo fato de ocorrer em fases de sono profundo, esses pacientes apresentam grande dificuldade de acordar durante o episódio de sonambulismo. TERROR NOTURNO Geralmente presente em crianças, ocorre nas fases mais profundas do sono NREM (III e IV). De maneira análoga ao sonambulismo, o paciente com terror noturno também terá dificuldade em acordar. A sua reação é de medo extremo, caracterizado por gritos elevados e choro. TRANSTORNO COMPORTAMENTAL DO SONO REM Tende a se manifestar em adultos, geralmente do sexo masculino e com idade mais avançada. Como vimos antes, em condições normais, os núcleos da ponte do nosso cérebro, que controlam alguns músculos do corpo humano, precisam desativar durante o sono, principalmente durante o sonho, para que nós não executemos aquilo que estamos sonhando. Esse transtorno é devido a um problema nesse circuito do sono, que faz com que ocorram manifestações comportamentais durante o sonho, geralmente com conteúdo violento. Higiene do sono É muito importante manter uma rotina fixa de horário para dormir e acordar. A seguir, você poderá conferir algumas formas de melhorar o sono: ● Evite atividades, como refeição, cinema ou leitura na cama na antevéspera do sono; ● Concentre no turno da noite a realização de atividades relaxantes/repousantes; ● De preferência, evite contato direto com a luz, principalmente de celulares; ● Use o celular, à noite, apenas para assuntos absolutamente necessários e pontuais; ● Não utilize medicamentos indutores do sono sem o acompanhamento médico. Vias dopaminérgicas e serotoninérgicas e quadros demenciais As vias dopaminérgicas A dopamina é um dos principais neurotransmissores pela quantidade de estudos existentes. praticamente todos os neurônios apresentam receptores para dopamina, mesmo que nem sempre na mesma quantidade ou, ainda, iguais, tendo em vista que ela tem duas famílias e cinco subtipos de receptores diferentes. A dopamina apresenta quatro vias de ação distintas, no interior do cérebro humano. A seguir, veremos cada uma dessas vias: 1. via mesolimbica (prazer) É responsável pela função mais comumente atribuída à dopamina: o prazer. Inicia na região do tronco cerebral chamada de área tegmentar ventral (ATV), onde uma parcela considerável (mas não a maioria) da dopamina é produzida. Da ATV, a dopamina é enviada a uma estrutura cinzenta no miolo do cérebro humano, chamada de núcleo accumbens. Essa via representa a base química do prazer. Não é à toa que é acionada diante de comida, da pessoa amada, ou mesmo das drogas. Sua ativação produz a sensação subjetiva de prazer ou recompensa, o que favorece a repetição do mesmo comportamento, que nem sempre é adaptativo. 2. via mesocortical (cognitiva) Está relacionada à gênese química de funções cognitivas ditas superiores, que envolvem autogerenciamento, como as funções executivas. Do ponto de vista de localização, ela também parte da ATV. Mas, em vez de irradiar para o núcleo accumbens, faz outro caminho, indo direto para a região pré-frontal. 3. via nigroestriatal (motora) É curioso como uma das funções menos conhecidas da dopamina é a que ela mais realiza. Estamos nos referindo ao planejamento motor, que é a base para a execução dos movimentos voluntários. Essa é a função dessa via, que parte não da ATV, mas da substância nigra, em direção ao núcleo caudado, putâmen e gânglios da base. Quando há uma redução na atividade dessa via, o indivíduo pode experienciar uma série de sinais motores observáveis, sem necessariamente apresentar alterações no prazer ou no pensamento. 4. via tuberoinfundibular (homeostase) Via específica para auxiliar na homeostase (equilíbrio do organismo). Por isso, ela parte de um dos núcleos hipotalâmicos (periventricular) e irradia para outro núcleo hipotalâmico (infundibular). A função aqui é promover um feedback negativo que iniba a ação da prolactina. Alterações nessa via podem provocar aumento desproporcional de prolactina (prolactinemia), que desregula bastante a libido e o comportamento sexual. As vias serotoninérgicas Ao todo, são sete famílias e 14 subtipos de receptores diferentes. Os neurônios serotoninérgicos estão concentrados nos chamados núcleos da rafe, localizados no tronco cerebral. Veja a seguir: Núcleos da rafe ditos rostrais Enviam projeções para partes mais superiores do encéfalo, como o córtex cerebral, as regiões límbicas e o hipotálamo. Essa via regula, principalmente, o humor, apetite e o sono. Núcleos da rafe ditos ventrais Enviam suas projeções para áreas diferentes. Principalmente, para outras regiões do tronco cerebral, o cerebelo e a medula. Essa via é mais responsável pelo controle da dor, bem como a regulação visceral. O que o assunto tem a ver com as demências? O próprio Dicionário On-line de Psicologia da APA (2022), define o termo dementia como sendo “uma deterioração pervasiva e generalizada da memória e pelo menos outra função cognitiva, como, por exemplo, a linguagem e as funções executivas, devido a uma variedade de causas. A perda da habilidade intelectual é grave o bastante para interferir no funcionamento diário do indivíduo, bem como nas atividades sociais e ocupacionais" (tradução livre, do resultado original em inglês). Sintomas cognitivos e comportamentais das demências, que incluem os seguintes sintomas: Alteração psicomotora Ansiedade Irritabilidade Depressão Apatia Desinibição Delírios Alucinações Alterações em apetite Sono foi identificado que em pacientes com quadros demenciais, independentemente de qual seja, há alterações significativas tanto na função quanto na estrutura das vias serotoninérgicas. Basicamente, identificou-se uma redução no volume dos núcleos da rafe (o que indica destruição de neurônios da região), bem como redução da neurotransmissão de serotonina em si. Vale ressaltar que a redução da serotonina também está relacionada aos sintomas psicóticos das demências. Ainda, é comum que pacientes com demência também se queixem de dores crônicas. Vimos que a serotonina participa da regulação da dor e, por estar em baixa, pode ser a explicação neuroquímica desse sintoma também. Além da serotonina, a literatura demonstra uma redução significativa dos níveis de dopamina, principalmente nas vias mesolímbica e mesocortical, nos diferentes quadros demenciais. Esse fato pode explicar os sintomas depressivos, bem como a apatia e desinibição Alterações na cognição social também são comuns em diferentes demências, mas principalmente na variante comportamental da demência frontotemporal e no Parkinson, e podem ser explicadas por essa atividade reduzida da dopamina. Esquizofrenias, sistema de recompensa e dependência química a esquizofrenia é um transtorno mental grave, caracterizado principalmente pela reduzida capacidade de apreender e julgar a realidade. Respeitando todos os critérios para o diagnóstico acurado, tem-se que ela está presente em 1% da população. Portanto, isso implica dizer que aproximadamente 99%da população não apresenta o transtorno. A esquizofrenia é um transtorno mental grave e complexo, capaz de afetar sobremaneira a qualidade de vida do paciente. Seja em função da natureza dos sintomas em si, seja devido ao forte estigma social que atinge essa população. De maneira geral, podemos considerar que a principal característica dos transtornos esquizofrênicos é a acentuada dificuldade em perceber adequadamente a realidade. De modo geral, podemos considerar que os sintomas da esquizofrenia se dividem em duas grandes categorias. Confira a seguir: Positiva e Negativa um sintoma negativo clássico é a avolição (perda do interesse pelas coisas). Antes de a doença se manifestar (algo que tende a ocorrer no final da adolescência), o indivíduo provavelmente conseguia ter uma rotina diária e sentia-se satisfeito quando realizava as atividades cotidianas que lhe davam prazer. Porém, depois que a doença começou a se manifestar, esse interesse deixou de existir. sintomas positivos, confira àqueles que estão mais associados ao imaginário popular da esquizofrenia: 1.alucinações podem ser definidas como percepções na completa ausência de estímulos. Isso significa que o indivíduo que alucina vê, escuta, sente um gosto, toque ou cheiro, mesmo que não haja nada lá. Em termos conceituais, é possível defender que o sonho seja uma alucinação. 2.delírios Os delírios dizem respeito a crenças equivocadas, disfuncionais, altamente resistentes a argumentos contraditórios e que não são compartilhadas pelos demais membros da sociedade. Por exemplo, o indivíduo atende a um telefone e escuta um “click”. Isso é o suficiente para ele teorizar que pode estar sendo monitorado por alguma organização secreta e sentir-se profundamente ameaçado. Lendo o cérebro de um paciente esquizofrênico já ficou demonstrado que pacientes com esquizofrenia apresentam uma redução considerável da substância cinzenta cerebral, bem como atrofias nas regiões frontais e temporais. Além disso, a assimetria hemisférica, comum a todos com desenvolvimento cerebral regular, é bem mais discreta neles, o que pode favorecer a ocorrência de problemas relacionados à linguagem. Na ausência de tratamento adequado, o paciente começa a perder suas faculdades mentais em progressão quase geométrica. Diante desses achados, é possível defender que a esquizofrenia seja uma doença degenerativa. A esquizofrenia também está alicerçada em desbalanços químicos. Uma das hipóteses neuroquímicas mais robustas é da hiperativação dopaminérgica. Não é por acaso que medicações, cujo mecanismo de ação consiste em reduzir a neurotransmissão de dopamina, estão relacionadas à redução dos sintomas positivos da esquizofrenia. Outra hipótese defende que os sintomas da esquizofrenia possam surgir a partir de uma alteração nos níveis de adenosina. A adenosina é um importante indutor do sono, em condições normais. Nesse caso, quando os níveis de adenosina são reduzidos, a necessidade de sono é menor, sendo essa uma característica comum em pacientes com o transtorno. Ainda, a ingestão de café, que bloqueia a ação da adenosina, favorece a manifestação e até o agravamento dos sintomas psicóticos. Além disso, já está demonstrado também que a ausência de sono pode potencializar a ocorrência dos sintomas positivos, principalmente das alucinações. TRATAMENTO Com relação ao tratamento da esquizofrenia, um ponto importante deve ser destacado. Diferentemente de outros transtornos mentais, não há praticamente nenhuma evidência robusta na literatura de que a monoterapia psicológica resulte em uma melhoria do quadro. Ou seja, parece não ser possível tratar a esquizofrenia somente com psicoterapia. O paciente precisa fazer uso da medicação que, conjuntamente com as técnicas aprendidas durante a psicoterapia, proporcionará o abrandamento do quadro. Se existe um descompasso nos níveis de dopamina, esses pacientes se beneficiarão de medicamentos que favoreçam a normalização desses níveis. Na verdade, o problema da esquizofrenia parece estar circunscrito à via dopaminérgica mesolímbica, não à nigroestriatal. O centro cerebral do hedonismo parece haver um consenso de que existe mesmo um circuito cerebral que funciona como um núcleo central da recompensa, o que não quer dizer que a sensação de prazer/recompensa esteja circunscrita a ele. Basicamente, duas diferentes estruturas compõem o moderno sistema de recompensa. Confira a seguir: - área tegmentar ventral, que fica localizada no tronco cerebral e é responsável por produzir a dopamina; - núcleo accumbens. Esse sistema parece funcionar à base de dopamina. Basicamente, esse sistema funciona mais intensamente quando gostamos daquilo que estamos fazendo, ou mesmo quando estamos aprendendo sobre algo. Essa é a explicação neurobiológica para aquilo que a Pedagogia e a Psicologia escolar já sabem há muito mais tempo: a motivação é um componente fundamental para o aprendizado. É curioso verificar que o funcionamento desse sistema sofre um embotamento durante a adolescência e essa é a razão pela qual o adolescente geralmente diminui a vontade de aprender coisas novas. As aulas, por exemplo, passam a ser entediantes. Até mesmo as brincadeiras que marcaram a infância, deixam de fazer sentido. Biologicamente falando, pode-se dizer que o adolescente é menos capaz de sentir prazer com as atividades cotidianas, em relação às crianças e adultos. A droga, uma vez consumida, não terá muitos problemas em potencializar a atividade desse sistema e, em pouco tempo, instalar um quadro de dependência química. Isso implica dizer que a vulnerabilidade dos adolescentes às drogas se explica por uma combinação entre um sistema de recompensa hipoativo e uma falta de perspectiva/propósito de vida. Podemos fazer pouco, ou nada, para resolver a primeira questão, pois é um imperativo da nossa natureza. Porém, é possível reforçar a autoestima e o senso de propósito dos adolescentes, para blindá-los contra o risco da dependência. Da mesa de bar ao divã Mas, em algum momento, você já se perguntou por que consome álcool? Em níveis razoáveis, a bebida alcoólica funciona como uma espécie de “lubrificante social”. Isso significa que, após uma taça de vinho, copo de cerveja ou dose de whisky, as relações sociais começam a ficar mais interessantes e fluidas. Você conversa mais, ri mais, aproxima-se mais do outro e até mesmo considera a si mesmo e aos outros como sendo mais atraentes (fenômeno que recebe o nome de “miopia alcoólica”). Existem, contudo, aquelas que dizem respeito ao consumo desproporcional, em que o indivíduo perde a capacidade de limitar o uso e apresenta respostas emocionais intensas e desconfortantes diante da privação da droga (abstinência). A maioria das dependências químicas é um reflexo da longa exposição à droga. No entanto, há uma regra que diz: a dependência química se instala por meio do reforço positivo, mas se perpetua por meio do negativo. Em termos de drogas, algumas delas têm um potencial muito superior para causar dependência, como é o caso da cocaína, do crack e do cigarro convencional. Por outro lado, temos drogas que necessitam de um tempo maior de exposição para desenvolver a dependência, como é o caso do álcool e da maconha (sim, existe dependência de maconha!). Já em relação às diferenças individuais que tornam algumas pessoas mais propensas ao vício, é possível identificar que alguns traços de personalidade (como a abertura à experiência), maiores níveis de impulsividade, tendência a uma orientação para o presente (ou, “presentismo”) e comorbidades psiquiátricas (como TDAH, fobia social, depressão e esquizofrenia, principalmente) elevam o risco de converter o uso recreativo em vício.
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