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DOCENTE: ESP. DENISE M. DOURADO CONSCIÊNCIA • A consciência apresenta variações naturais (p. ex., sono). • Além disso, as pessoas manipulam a consciência por meio de métodos naturais (p. ex., meditação) e artificiais (p. ex., drogas). • Adicionalmente, dada a natureza da consciência, as experiências conscientes diferem de pessoa para pessoa. O que é consciência? Experiência subjetiva de mundo de uma pessoa, resultando em atividade cerebral. Mas o que origina a sua consciência? Você está consciente apenas porque muitos neurônios estão disparando em seu cérebro? Se for isso, como as ações desses circuitos cerebrais se relacionam com suas experiências subjetivas de mundo? Você não tem consciência das operações cerebrais que fazem essas coisas. Por que temos consciência apenas de certas experiências? • Há muito tempo, os filósofos discutem questões sobre a natureza da consciência. O filósofo do século XVII, René Descartes, afirmou que a mente é fisicamente distinta do cérebro – uma perspectiva chamada dualismo. A maioria dos psicólogos rejeita o dualismo. • De acordo com essa visão, a atividade dos neurônios produz os conteúdos de consciência: a visão de um rosto, o perfume de uma rosa. • A ativação desse grupo particular de neurônios, de algum modo, origina a experiência consciente. Entretanto, como cada um de nós vivencia a consciência de modo pessoal, ou seja, subjetivamente, não podemos saber se duas pessoas quaisquer vivenciam o mundo exatamente do mesmo modo. • Os pioneiros da psicologia tentaram entender a consciência por meio da introspecção. • Os psicólogos abandonaram extensivamente esse método por causa de sua natureza subjetiva. • As experiências conscientes existem, mas sua natureza subjetiva as torna difíceis de estudar de maneira empírica. • Os rótulos aplicados à experiência não necessariamente fazem jus à experiência. A consciência envolve atenção • A experiência consciente geralmente é unificada e coerente. • Nessa visão, a mente é uma corrente contínua, na qual os pensamentos flutuam. • Entretanto, há um limite para a quantidade de coisas de que a mente pode ter consciência ao mesmo tempo. • A atenção envolve ser capaz de focar seletivamente algumas coisas e evitar outras. Embora sejam diferentes, atenção e consciência muitas vezes andam de mãos dadas. Para onde você direciona a sua atenção, ou consciência? Você enfoca intencionalmente o material? A sua mente divaga ocasionalmente ou com frequência? Você não pode prestar atenção na leitura enquanto faz várias coisas, como assistir à TV ou escrever. • Em seu livro Rápido e devagar: duas formas de pensar (2011), o ganhador do prêmio Nobel, Daniel Kahneman, diferencia entre os processos automático e controlado. • Em geral, todos podemos executar tarefas rotineiras ou automáticas (como dirigir, caminhar ou entender o significado das palavras escritas nesta página) que são tão bem aprendidas que nós as fazemos sem prestar muita atenção. • De fato, prestar atenção demais pode interferir nesses comportamentos automáticos. • Em contraste, as tarefas difíceis ou pouco familiares exigem que as pessoas prestem atenção. Esse processamento controlado é mais lento do que o processamento automático, mas ajuda as pessoas no desempenho em situações complexas ou novas. • Ao pensar sobre o poder da distração, considere o fenômeno do coquetel. Em 1953, o psicólogo E. C. Cherry descreveu o processo desse modo. • Você pode se concentrar em uma única conversa no meio de um coquetel caótico. Entretanto, um estímulo particularmente pertinente, como ouvir seu nome ser mencionado em outra conversa ou ouvir uma fofoca picante, pode capturar a sua atenção. • Cherry desenvolveu estudos de escuta seletiva para examinar o que a mente faz com a informação em que não se presta atenção quando se está atento a uma dada tarefa. Para tanto, Cherry usou uma técnica chamada sombreamento. ATENÇÃO SELETIVA • Em 1958, o psicólogo Donald Broadbent desenvolveu a teoria do filtro para explicar a natureza seletiva da atenção. • Ele assumiu que as pessoas têm capacidade limitada para informação sensorial. Elas fazem uma triagem da informação que chega, para permitir a entrada apenas do material mais importante. • Nesse modelo, a atenção atua como um portão que abre para a informação importante e fecha para a informação irrelevante. • Em contrapartida, nós de fato podemos fechar a porta para ignorar certas informações? Quando e como fechamos a porta? • Alguns estímulos demandam foco e quase desligam a capacidade de prestar atenção em qualquer outra coisa. • De modo similar, estímulos como aqueles que evocam emoções podem capturar prontamente a atenção por fornecerem informação importante sobre as potenciais ameaças em um ambiente. • As decisões sobre em que prestar atenção são tomadas no início do processo de percepção. Ao mesmo tempo, porém, a informação em que não se presta atenção é processada ao menos até certo ponto. CEGUEIRA À MUDANÇA • Para entender o quanto podemos ser desatentos, considere o fenômeno conhecido como cegueira à mudança. Como não podemos prestar atenção em toda a vasta gama de informação visual disponível, costumamos ser “cegos” às mudanças amplas que ocorrem em nossos ambientes. O processamento inconsciente influencia o comportamento • Sir Francis Galton (1879) foi o primeiro a propor a noção de que a atividade mental abaixo do nível de consciência pode influenciar o comportamento. • A influência dos pensamentos inconscientes também foi o centro de muitas teorias de Freud sobre o comportamento humano. • Exemplificando, o clássico erro chamado ato falho freudiano ocorre quando um pensamento inconsciente de repente é expresso em um momento ou contexto social inadequado. • Ao longo das últimas décadas, muitos pesquisadores exploraram diferentes formas pelas quais os indícios inconscientes, ou percepção subliminar, podem influenciar a cognição. • A percepção subliminar ocorre quando os estímulos são processados pelos sistemas sensoriais e, por causa da duração curta ou da forma sutil, não atingem a consciência. • Evidências sugerem que as mensagens subliminares exercem efeitos mínimos sobre o comportamento de compra dos indivíduos. • O material apresentado de modo subliminar pode influenciar o modo como as pessoas pensam, mas exerce pouco ou nenhum efeito sobre ações complexas. • (Comprar alguma coisa que você não pretendia comprar contaria como uma ação complexa.) • Ou seja, evidência considerável indica que as pessoas são afetadas pelos eventos – estímulos – em relação aos quais não têm consciência A atividade cerebral origina a consciência • Observando a sua atividade cerebral, os cientistas (ainda) não conseguem ler seu pensamento, mas conseguem identificar os objetos que você vê. Ou seja, algumas regiões cerebrais manifestam atividade no IRMF. • Esse achado sugere que diferentes tipos de informação sensorial são processadas por diferentes áreas cerebrais: o tipo particular de atividade neural determina o tipo particular de consciência (ver “Pensamento científico: A relação entre consciência e respostas neurais no cérebro”). O MODELO DO ESPAÇO DE TRABALHO GLOBAL • O modelo do espaço de trabalho global, propõe que a consciência surge em função dos circuitos cerebrais que estão ativos. Ou seja, você vivencia a resposta das suas regiões cerebrais como alerta consciente. • Essa ideia é sustentada por estudos envolvendo pessoas com lesões cerebrais, que às vezes não têm consciência de seus déficits (ou seja, os problemas relacionados à consciência que surgem a partir de suas lesões). • O modelo do espaço de trabalho global não apresenta nenhuma área cerebral como responsável pela “consciência” geral. • Em vez disso, diferentes áreas cerebrais lidam com diferentes tipos de informação. Cada um desses sistemas, por sua vez, é responsável pelo alerta consciente de seu tipo de informação. • A partir dessa perspectiva, a consciência é o mecanismo quetorna as pessoas ativamente conscientes da informação e prioriza de qual informação elas necessitam ou desejam lidar em um dado momento. ALTERAÇÕES NA CONSCIÊNCIA APÓS LESÃO CEREBRAL • Sobreviver é apenas a primeira etapa na direção da recuperação, e muitas pessoas que sustentam lesões cerebrais graves entram em coma ou,são induzidas ao coma como parte do tratamento médico. O coma proporciona repouso ao cérebro. • Na maioria das pessoas que recuperam a consciência após esse tipo de lesão, isso ocorre em poucos dias, mas algumas demoram semanas para fazê-lo. • Nesse estado, elas passam por ciclos de sono/despertar – abrem os olhos e parecem estar acordadas, fecham os olhos e parecem estar dormindo – mas aparentemente não respondem ao ambiente circundante. • Quando essa condição dura mais de um mês, é chamada estado vegetativo persistente. • Evidências indicam que o cérebro às vezes processa informação durante o coma. • Entre o estado vegetativo e a consciência total, há o estado minimamente consciente. • Nele, as pessoas com lesões cerebrais conseguem realizar alguns movimentos de forma deliberada, como acompanhar um objeto com os olhos. Elas podem tentar se comunicar. • A imagem da atividade cerebral também pode ser usada para dizer se uma pessoa teve morte cerebral. A morte cerebral é a perda irreversível da função cerebral. O que é consciência alterada? • Existem três formas de consciência alterada: hipnose, meditação e imersão em uma ação. • Hipnose: Uma interação social durante a qual uma pessoa, respondendo a sugestões, vivencia alterações de memória, percepção e/ou ação voluntária. • Meditação é um procedimento mental que enfoca a atenção em um objeto externo ou em um sentido de consciência. Por meio da contemplação intensa, aquele que medita desenvolve um profundo sentido de tranquilidade. • Na meditação concentrativa, você foca a atenção em uma coisa, como seu padrão de respiração, uma imagem mental ou uma frase específica (às vezes, chamada mantra). • Na meditação mindfulness, você deixa seus pensamentos fluírem livremente, prestando atenção e tentando não reagir a eles. • Imersão em ação: O estado de autoconsciência diminuída pode reduzir o planejamento a longo prazo, diminuir o pensamento significativo e ajudar a trazer à tona ações desinibidas. • O fluxo é “um tipo particular de experiência tão cativante e agradável que vale a pena ser vivenciado mesmo que não tenha consequência fora de si. O que é o sono? • O sono é um estado de consciência alterado. • O sono pode ser dividido em duas fases distintas: REM (Movimentos Oculares Rápidos) e NREM (Sem Movimentos Oculares Rápidos). • O sono REM apresenta apenas um estágio, enquanto o NREM apresenta quatro estágios de sono diferentes. • Esses estágios variam as atividades cerebrais e vão de breves explosões de ondas irregulares (estágios 1 e 2) a ondas cerebrais lentas e amplas durante o sono repousante profundo (estágios 3 e 4). O sono é um comportamento adaptativo: • O sono REM é marcado por um retorno às ondas cerebrais rápidas e curtas, acompanhado de movimentos oculares rápidos, paralisia corporal e sonhos. • O sono permite que o corpo, inclusive o cérebro, repouse e se autorrestaure. • Ele também protege os animais contra danos nos momentos do dia em que são mais suscetíveis ao perigo, e isso facilita a aprendizagem por meio do fortalecimento das conexões neurais. • Os sonhos ocorrem no sono REM e no sono não REM, mas seu conteúdo difere entre esses dois tipos. • Os sonhos não REM tendem a ser bastante realistas, enquanto os sonhos REM tendem a ser mais bizarros. • As diferenças entre os sonhos REM e não REM podem ser devidas à ativação e à desativação de diferentes estruturas cerebrais durante esses tipos de sono. Não está claro por que as pessoas sonham. • A controversa teoria de Freud sobre o sonho sugere que suas imagens simbólicas ajudam-nos a resolver conflitos conscientes. A teoria da ativação-síntese de Hobson e McCarley sugere que os sonhos resultam da ativação neural produzida durante o sono REM. Outros pesquisadores apontam que o conteúdo dos sonhos tem muitas similaridades com a cognição da vigília. Transtornos do sono • A insônia: Transtorno caracterizado por incapacidade de dormir. • apneia do sono (interrupções na respiração): Transtorno em que uma pessoa, enquanto adormecida, para de respirar em função do fechamento da garganta; a condição faz o indivíduo acordar com frequência ao longo da noite. • narcolepsia (adormecer inesperadamente):Transtorno do sono em que as pessoas vivenciam sonolência excessiva durante as horas de vigília normais, por vezes perdendo as forças e caindo. Como as drogas afetam a consciência? • Se forem as drogas certas e tomadas nas circunstâncias certas, podem proporcionar alívio de dor intensa ou cefaleia moderada. • Entretanto, muitas dessas mesmas drogas podem ser usadas para fins “recreativos”: alterar as sensações físicas, níveis de consciência, pensamentos, humor e comportamentos de forma que os usuários acreditam ser desejáveis. • Esse uso recreativo às vezes pode ter consequências negativas, inclusive o vício. A dependência química consiste no uso de droga que permanece compulsivo apesar de suas consequências negativas Três efeitos das drogas sobre a consciência • As drogas psicoativas são substâncias modificadoras da mente que as pessoas em geral usam para fins recreativos. • Essas drogas modificam a neuroquímica cerebral ativando sistemas de neurotransmissores: seja imitando os neurotransmissores naturais do cérebro (p. ex., maconha, opiáceos) ou modificando a atividade de receptores de neurotransmissor em particular. • Os estimulantes, por exemplo, são drogas que aumentam a atividade comportamental e mental. • Estimulam (ou aumentam) a atividade do sistema nervoso central e também ativam o sistema nervoso simpático, aumentando a frequência cardíaca e a pressão arterial. • Melhoram o humor, mas também fazem as pessoas se tornarem agitadas, além de perturbar o sono. • As anfetaminas, metanfetaminas e cocaína são estimulantes potentes. A nicotina e a cafeína são estimulantes leves. • Os depressores exercem efeito contrário ao dos estimulantes. Diminuem a atividade comportamental e mental deprimindo o sistema nervoso central. • O álcool é o depressor do sistema nervoso central mais consumido – de fato, é a droga usada de forma mais ampla e abusiva. • As drogas ansiolíticas, como os benzodiazepínicos, comumente administrados para acalmar as pessoas e diminuir a preocupação, também são depressores. • Em doses suficientemente altas, os depressores podem induzir ao sono, e é por isso que às vezes são referidos como sedativos. Vamos exercitar... • 1. Quais das seguintes afirmativas estão corretas, de acordo com o nosso conhecimento sobre consciência? Marque todas as que se aplicam. ❖a. Os estudantes que realizam múltiplas tarefas durante a aula teriam consciência de estar perdendo informação importante. ❖b. A pesquisa sobre o cérebro mostra que algumas pessoas em coma apresentam níveis maiores de atividade cerebral do que outras. ❖ c. Os conteúdos da consciência não podem ser rotulados. ❖d. Qualquer processo biológico pode ser tornado consciente via processamento esforçado. ❖e. Os nossos comportamentos e pensamentos são afetados por alguns eventos sobre os quais não temos conhecimento consciente. ❖f. A consciência é subjetiva. ❖g. Na ausência de atividade cerebral, não há consciência. ❖ h. Pessoas em coma podem diferir quanto à extensão da consciência. ❖ i. As pessoas são conscientes ou inconscientes; não há meio termo. Vamos exercitar... • 2. Se uma pessoa em coma mostra evidência de estar consciente de seu entorno, a condição é conhecida como: ❖a. morte cerebral. ❖b. estado minimamente consciente. ❖c. estado vegetativo permanente. ❖d. consciência. Vamos exercitar... • 1. Quando as pessoas dormem: ❖a. o cérebro desliga, de modo a poder descansar, e não consegue processar informação oriundado mundo exterior. ❖b. a atividade cerebral passa por vários ciclos de estágios diferentes, e esses estágios diferentes têm seus próprios padrões característicos de ondas cerebrais. ❖c. o cérebro segue um padrão aleatório de disparos que produz o sonho; sonhar é o intérprete do hemisfério esquerdo dando sentido à atividade cerebral. ❖d. os ciclos do sono se tornam mais longos e os episódios REM encurtam à medida que a noite a avança. REFERÊNCIAS • Gazzaniga, Michael. Ciência psicológica [recurso eletrônico] / Michael Gazzaniga, Todd Heatherton, Diane Halpern ; tradução: Maiza Ritomy Ide, Sandra Maria Mallmann da Rosa, Soraya Imon de Oliveira ; revisão técnica: Antônio Jaeger. – 5. ed. – Porto Alegre : Artmed, 2018.
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