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TRABALHO FINAL - CORONELISMO Bruna Guedes Shida de Sousa (Nº USP 10762948) Gil Andrade Gontijo (Nº USP 9837292) O coronelismo pode ser entendido como uma forma de poder político característica da Primeira República no Brasil, cujo nome deriva dos “coronéis” - denominação originalmente dada aos homens que atuavam na Guarda Nacional, mas que logo foi atribuída a todo chefe político regional. Vitor Nunes Leal definiu o fenômeno do coronelismo como “resultado da superposição de formas desenvolvidas do regime representativo a uma estrutura econômica e social inadequada” (p. 20, capítulo 1). O autor ainda acrescentou que “é sobretudo um compromisso, uma troca de proveitos entre o poder público, progressivamente fortalecido, e a decadente influência social dos chefes locais, notadamente dos senhores de terras” (p. 44, capítulo 1). Maria Isaura Queiroz também acrescenta que “o prestígio do coronel ‘lhes advém da capacidade de fazer favores’, e quanto maior esta capacidade, maior eleitorado terá o chefe” (p. 85, capítulo 4). Assim, em resumo, era a propagação do poder privado no domínio público através de uma relação de compromissos e trocas. O simples fato do compromisso entre os poderes pressupõe certo nível de fraqueza de ambos. De um lado, a imposição de um governo representativo a uma estrutura econômica e social inapropriada (concentração de terras e sujeição de uma enorme massa de assalariados à minoria de proprietários), somada à ampliação da base eleitoral para cidadãos sem consciência do seu papel político, fez com que o poder público se associasse aos coronéis que comandavam os eleitores. Do outro lado, a fraqueza financeira dos municípios constitui um detalhe importante para aceitação dos coronéis, uma vez que sua liderança dependia da realização de benefícios para comunidade e sem o auxílio financeiro do domínio público dificilmente conseguiriam empreender grandes obras. Os chefes locais aliados ao Estado também dispunham da polícia do Estado sob suas ordens e de uma “carta-branca” para assuntos referentes ao município (autonomia extralegal). José de Souza Martins afirmou que “a força do coronel não era, portanto, sua, mas do governo a quem sustentava eleitoralmente e que o sustentava politicamente” (p. 49, capítulo 1.2). Com base no tema apresentado e nas referências mencionadas, formula-se a seguinte questão: em relação à Primeira República, como se dá o funcionamento das instituições nos diferentes âmbitos federativos? E de que forma a figura do coronel interage com esses diferentes níveis? Utilize como base os trechos selecionados a seguir: “E assim nos aparece este aspecto importantíssimo do “coronelismo”, que é o sistema de reciprocidade: de um lado, os chefes municipais e os “coronéis”, que conduzem magotes de eleitores como quem toca tropa de burros; de outro lado, a situação política dominante no Estado, que dispõe do erário, dos empregos, dos favores e da força policial, que possui, em suma, o cofre das graças e o poder da desgraça.” Victor Nunes Leal (p. 43, capítulo 7) “... a qual a sustentação da presidência da República e, reciprocamente, dos governadores se dava com base num sistema de troca de favores políticos. os governadores, por sua vez, operavam dentro do mesmo esquema através de um sistema de trocas com os chefes políticos do interior, os coronéis. Esse sistema envolvia um complicado mecanismo de trocas que compreendia a nomeação de funcionários municipais por indicação dos coronéis, a designação de autoridades policiais e judiciais do mesmo modo, facilidades na concessão de terras e favores na realização de obras públicas." José de Souza Martins (p. 46, capítulo 1.2) Referências Bibliográficas QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. O coronelismo numa interpretação sociológica. In: O mandonismo local na vida política brasileira. São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1976. MARTINS, J. S. Terra e política: o poder dos “coronéis”. In: Os camponeses e a política no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1981. LEAL, Vitor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no Brasil. São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1993. Indicações para o desenvolvimento da resposta Primeiramente, é importante, para começarmos a responder a pergunta, entendermos qual a relação entre os poderes nos diferentes níveis da nação, dentre os quais estão o poder municipal, estadual e federal. É de conhecimento geral o termo comumente utilizado para caracterizar a alternância de poder do presidente na Primeira República: a política do café com leite, a qual, resumidamente, subentendia uma cooperação dos governadores, ou seja, era consequência direta da aplicação da política dos governadores. Esta política, por sua vez, é peça fundamental nas relações de todos os poderes, visto que, ela prevê uma ausência de intervenções dos poderes hierarquicamente mais elevados em relação às ações dos poderes abaixo, para que, em troca, recebessem apoio incondicional e poder político para construção de suas bancadas legislativas. É exatamente nessa troca de favores que o coronelismo se mostrou peça fundamental. A etapa do processo eleitoral que corresponde à votação era regido pelo poder municipal na época, portanto, o coronel ou chefe político de inúmeras regiões do país exercia grande controle no andamento do processo. Além disso, a partir da troca de favores, agora em relação à população local, transformava seu já consolidado poder econômico, oriundo de suas grandes quantidades de terras, em poder político. Desta forma, era o coronel que ditava os candidatos a serem votados, não exclusivamente para a esfera municipal, fato pelo qual se criaram boas relações de cooperação entre os coronéis e os diversos poderes dos diferentes níveis da federação.
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