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Eduarda Possidônio Definição Se refere a uma interrupção - parcial ou total - da passagem do bolo alimentar pelo TGI, ou seja, é uma condição na qual o intestino é incapaz de realizar o trânsito do conteúdo alimentar no sentido fisiológico - intestino delgado e intestino grosso, reto e ânus. Etiologia Existe uma variedade de etiologias acerca das obstruções intestinais: ● As bridas pós-operatórias - grande maioria dos casos (60%). ● Câncer do cólon - sendo o ceco e o sigmoide as porções mais acometidas. ● Herniações. ● Entre as cirurgias que mais causam obstrução por aderência estão as cirurgias pélvicas (como histerectomia). Etiologia - Intestino Delgado ● As aderências peritoneais por cirurgias prévias são as causas mais comuns. ● Bridas congênitas ou adquiridas em laparotomias prévias. ● Herniações da parede abdominal: incisionais, femorais, inguinais. ● Doença de Crohn: inflamação crônica do TGI. ● Comprometimento secundário em neoplasias abdominais: tumores pélvicos (útero, bexiga), carcinomatose. ● Doenças benignas: corpo estranho, cálculo biliar, hematomas, endometriose, bolo de áscaris, tumor primário de intestino delgado, entre outras causas. Etiologia - Intestino Grosso ● Carcinoma de colo e neoplasias pélvicas. ● Tumores pélvicos. ● Volvo de sigmoide ou ceco. ● Estenose por doença diverticular. ● Estenose isquêmica/inflamatória. Importância Clínica As complicações das obstruções são graves, entre elas estão a isquemia de intestino, peritonite, choque, sepse e até a morte do paciente. Por isso, é necessário ter em mão as maneiras de diagnosticar precocemente e tratar as obstruções imediatamente para se obter um bom resultado. Classificação Existem três classificações para as obstruções intestinais - tendo cada uma delas suas respectivas causas: ● Mecânica: pode ocorrer por bridas intestinais, aderências, herniações, volvo, invaginações, malformações congênitas. O paciente sente dor em cólica, de forte intensidade. ● Funcional: íleo paralítico. ● Vascular: trombose e embolias. Tipologia Podem ser do tipo: ● Completa ou parcial: seja do intestino delgado ou grosso. ● Simples: alta do ID, baixa do ID, cólon. Eduarda Possidônio ● Obstrução em alça fechada: quando suas extremidades da alça estão ocluídas. ● Estranguladas. Atendimento ao paciente obstruído Anamnese ● História clínica: - Identificação, sexo, idade, procedência. Atenção para o paciente idoso: a distinção entre a obstrução intestinal fisiológica e patológica no idoso é de difícil percepção, sendo essa a causa dos piores desfechos do quadro - o reconhecimento tardio. Um sinal clínico fidedigno para o diagnóstico é a leucometria. Além disso, é importante estar atento ao nível de consciência do paciente, uma vez que o delirium pode ser a única manifestação clínica do paciente idoso com bacteremia. O câncer do cólon é uma das causas mais importantes para as obstruções, assim como as bridas e as hérnias. - Sinais e sintomas clássicos: dor + vômito + distensão (tríade) - constipação. - Dor: é um dos principais motivos para o paciente buscar o serviço. Deve-se caracterizá-la de acordo com as queixas álgicas (duração - entre 2 e 15 dias - média de 4 dias - localização, irradiação, intensidade, fatores de melhora/piora, sintomas associados) através da queixa e antecedentes de saúde pessoais do paciente. É importante também buscar informações sobre os hábitos de vida. Em casos de obstruções mais proximais, a dor em cólica é mais frequente (intervalos de 4 a 5 minutos), acompanhando vômitos precoces. - Vômito/êmese: colher a idade do paciente, duração do vômito, tipo de vômito, período do dia, relação com alimentação, aspectos (odor, conteúdo, presença de alimento), sintomas associados, antecedentes. Os vômitos podem ser precoces nas obstruções altas, podem ser intensos e as consequências principais são a alcalose metabólica e a desidratação. - Distensão abdominal: pode ser classificada em leve, moderada e significativa. Está relacionada à parada de eliminação de gases e fezes. ● Exame físico: Deve ser realizada a ectoscopia (sinais de desidratação, icterícia, cianose, entre outros) e verificar os sinais vitais do paciente (temperatura, PA, FC, FR, SatO2). Ainda, deve-se seguir as etapas clássicas da semiologia abdominal de maneira minuciosa: inspeção, ausculta, percussão e palpação (é importante relacionar a dor à palpação com a anamnese do paciente, assim como a ausência de alterações). O toque retal também deve ser realizado para identificar a presença de tumores de reto, além de verificar a presença de fezes na ampola retal (sugere obstrução incompleta ou quadro inicial de obstrução). - Na inspeção, verificar: cicatrizes cirúrgicas prévias, hérnias de parede abm - avaliar região inguinal bilateral para verificar a presença de hérnias encarceradas, peristalse visível. - Na ausculta, analisar: ruídos metálicos (quando intensos e metálicos podem indicar estágio inicial da obstrução mecânica), aumento ou diminuição de RHA Eduarda Possidônio (quando presente, afasta a possibilidade de obstrução funcional por íleo paralítico). - Na palpação, analisar: “onde há dor?” - pode identificar a origem do quadro abdominal, por exemplo: Dor localizada na FID: pode indicar apendicite aguda com abscesso; Dor no flanco esquerdo: pode indicar diverticulite complicada; Massas abdominais presentes: pode ter etiologia neoplásica; Irritação peritoneal: pode indicar perfuração de alça por isquemia. ● Exame radiológico do abm em pelo menos duas incidências (supina, ortostática e decúbitos laterais): é o exame complementar mais importante. Servem para distinguir o tipo de obstrução e confirmar diagnóstico, além de determinarem o tempo ideal de operação (junto com os outros exames complementares). - No raio x, identificar: Níveis de líquidos HA; Região da obstrução: as alças acima da obstrução são DILATADAS, enquanto que as alças abaixo da obstrução são MURCHAS; Excluir a possibilidade de gás extra intestinal por perfuração de víscera oca (estômago e intestino) - pneumoperitônio. - Alguns achados importantes na radiografia incluem: Distensão gasosa com formação de nível HA: sugere obstrução intestinal; Níveis HA com diferentes valores em um mesmo segmento: sugere obstrução mecânica; Níveis HA com valores iguais em um mesmo segmento: obstrução funcional; Sinal do empilhamento de moeda: visualização de pregas intestinais, dilatação de alça, imagens circulares sobrepostas; Ausência de ar no cólon e reto: obstrução total. Quando há uma forte suspeita clínica de obstrução distal com toque retal normal + exame radiológico inespecífico pode-se indicar o enema opaco simples, o qual consiste na introdução de uma sonda retal com contraste (normalmente o sulfato de bário) - atenção para o uso PROIBITIVO de sulfato de bário em caso de suspeita de perfuração intestinal - nesse caso administra-se a solução iodada hidrossolúvel. ● TC de abm: tem maior valor preditivo para identificar a causa da lesão, mas não é necessária para estabelecer as etapas iniciais do tratamento. É mais indicada quando a radiografia simples é inespecífica e em suspeitas de causas inflamatórias, como abscesso e diverticulite. ● Exames laboratoriais (hemograma, eletrólitos, ureia e creatinina). Atentar-se aos achados do hemograma: Anemia: pode estar relacionada a neoplasias e doenças inflamatórias por perdas crônicas; Leucocitose com desvio à esquerda: sugere comprometimento vascular intestinal, assim como causa infecciosa da obstrução (como diverticulite e abscessos). Tratamento O tratamento busca a descompressão do TGI. Inicialmente, aplica-se o método conservador, o qual consiste em: Eduarda Possidônio ● Colocação de sonda nasogástrica - alívio de distensão; ● Hidratação parenteral e correção de eletrólitos; ● Sonda vesical; ● Sonda renal - quando necessário. Observação: a constatação de drenagem clara/biliosa sugere uma evolução favorável, enquanto que uma drenagem de fecaloide (secreção amarronzada e fétida) indica uma obstrução completa. Emcasos de suspeita de irritação peritoneal ou mediante falta de resposta frente às medidas conservadoras, indica-se o tratamento cirúrgico, o qual pode ser dividido em: ● Laparotomia (tradicional); ● Laparoscopia (videolaparoscopia). Na maioria dos casos, obstruções mecânicas completas têm tratamento cirúrgico; se não há grande distensão, as chances de se resolver com uma videolaparoscopia são grandes; em casos de peritonite, além da desobstrução, é importante lavar a cavidade abdominal com soro aquecido para fazer a limpeza da região.
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