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Linguística Geral

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FACULDADE ÚNICA 
DE IPATINGA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Natasha Ribeiro de Oliveira 
 
Natasha Ribeiro de Oliveira é mestre e doutoranda em Linguística e Língua Portuguesa pela 
Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara – (FCLAr/UNESP). Possui graduação em 
Letras, com habilitação em Português e Francês pela Faculdade de Ciências e Letras de 
Assis (FCLAs/UNESP). Desenvolve, atualmente, estudo com referencial teórico-
metodológico do Círculo de Bakhtin, com o apoio da CAPES, intitulado "Arte, mídia e 
política: uma análise bakhtiniana de "bolsominions" e "petralhas". Desenvolveu, em nível de 
mestrado e iniciação científica, pesquisas na mesma área da análise do discurso, todas 
sob a orientação da Profa. Dra. Luciane de Paula, com ênfase na verbivocovisualidade 
da linguagem. Membro-pesquisadora e secretariado GED - Grupo de Estudos Discursivos 
desde 2015. É desse lugar de fala que a autora acredita na possibilidade de contribuir com 
a sua aprendizagem, por meio dos conhecimentos linguísticos aqui apresentados. 
LINGUÍSTICA GERAL 
1ª edição 
Ipatinga – MG 
2022 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
FACULDADE ÚNICA EDITORIAL 
 
Diretor Geral: Valdir Henrique Valério 
Diretor Executivo: William José Ferreira 
Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos 
Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira 
Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa 
Revisão/Diagramação/Estruturação: Bruna Luiza Mendes Leite 
 Fernanda Cristine Barbosa 
 Guilherme Prado Salles 
 Lívia Batista Rodrigues 
Design: Bárbara Carla Amorim O. Silva 
 Élen Cristina Teixeira Oliveira 
 Maria Eliza Perboyre Campos 
 
 
 
 
 
 
© 2021, Faculdade Única. 
 
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização 
escrita do Editor. 
 
 
 
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. 
 
 
 
 
 
NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA 
Rua Salermo, 299 
Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG 
Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 
www.faculdadeunica.com.br
http://www.faculdadeunica.com.br/
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
Menu de Ícones 
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo 
aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles 
são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um 
com uma função específica, mostradas a seguir: 
 
 
 
São sugestões de links para vídeos, documentos 
científicos (artigos, monografias, dissertações e teses), 
sites ou links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e 
Biblioteca Pearson) relacionados com o conteúdo 
abordado. 
 
Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações 
importantes nas quais você deve ter um maior grau de 
atenção! 
 
São exercícios de fixação do conteúdo abordado em 
cada unidade do livro. 
 
São para o esclarecimento do significado de 
determinados termos/palavras mostradas ao longo do 
livro. 
 
Este espaço é destinado para a reflexão sobre 
questões citadas em cada unidade, associando-o a 
suas ações, seja no ambiente profissional ou em seu 
cotidiano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
SUMÁRIO 
 
UMA BREVE REFLEXÃO LINGUÍSTICA ........................................................ 9 
1.1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 9 
1.2 A LÍNGUA(GEM): ALGUMAS REFLEXÕES ............................................................. 10 
1.3 LINGUÍSTICA OU GRAMÁTICA? ........................................................................... 12 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 16 
 
OS PRIMEIROS ESTUDOS LINGUÍSTICOS.................................................. 21 
2.1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 21 
2.2 A GRAMÁTICA DE PANINI.................................................................................... 23 
2.3 OS FILÓSOFOS NA GRÉCIA ANTIGA ................................................................... 24 
2.4 ROMA E A LÍNGUA LATINA .................................................................................. 27 
2.5 O INTERESSE RELIGIOSO DA IDADE MÉDIA ......................................................... 29 
2.6 IDEIAS RENASCENTISTAS ...................................................................................... 30 
2.7 O CONTATO EUROPEU COM O SÂNSCRITO ....................................................... 32 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 35 
OS ESTUDOS HISTÓRICO-COMPARATIVOS NO SÉCULO XIX ................ 40 
3.1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 40 
3.2 BREVE HISTÓRICO E PRINCIPAIS ESTUDIOSOS .................................................... 41 
3.3 O MÉTODO HISTÓRICO-COMPARATIVO ............................................................ 45 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 49 
 
OS ESTUDOS PRÉ-SAUSSURE: O SÉCULO XIX .......................................... 53 
4.1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 53 
4.2 O ESTUDO COMPLETO DA FONÉTICA .................................................................. 54 
4.3 NEOGRAMÁTICOS ................................................................................................ 55 
4.4 OS PRINCÍPIOS DA FILOSOFIA DA INTERAÇÃO .................................................. 57 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 61 
A LÍNGUA COMO OBJETO DA LINGUÍSTICA: O SÉCULO XX ................. 65 
5.1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 65 
5.2 O ESTRUTURALISMO E SUAS PRINCIPAIS IDEIAS .................................................. 65 
5.3 FERDINAND DE SAUSSURE E O CORTE EPISTEMOLÓGICO .................................. 66 
5.4 O SIGNO LINGUÍSTICO E AS DICOTOMIAS SAUSSURIANAS .............................. 70 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 75 
A LINGUÍSTICA MODERNA PARA ALÉM DE SAUSSURE........................... 80 
6.1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 80 
6.2 LEONARD BLOOMFIELD ........................................................................................ 81 
6.3 CHARLES BALLY ..................................................................................................... 83 
6.4 LOUIS HJELMSLEV .................................................................................................. 84 
6.5 ROMAN JAKOBSON ............................................................................................. 85 
6.6 ANDRÉ MARTINET .................................................................................................. 86 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 89 
UNIDADE 
01 
UNIDADE 
02 
UNIDADE 
03 
UNIDADE 
04 
UNIDADE 
05 
UNIDADE 
06 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ............................................... 93 
REFERÊNCIAS ...........................................................................................94 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
CONFIRA NO LIVRO 
 
Em “Uma breve reflexão linguística”, a concepção de 
língua/linguagem é abordada, em contraponto à noção de 
gramática tradicional. 
Em “Os primeiros estudos linguísticos”, a primeira gramática, os 
filósofos gregos e romanos e os pensadores da Idade Média e do 
Renascimento são apresentados. 
 
 
Em “Os estudos histórico-comparativos no século XIX”, o contato 
europeu com o sânscrito é abordado como uma perspectiva que 
buscou a origem das línguas (protolíngua). 
Em “Os estudos pré-Saussure: o século XIX”, outras perspectivas de 
como a língua era estudada são apresentadas, com a fonética e os 
neogramáticos. 
 
 
 
 
 
Em “A língua como objeto da linguística: o século XX”, o corte 
epistemológico de Saussure é abordado para mostrar as 
contribuições do fundador da linguística como ciência. 
 
Em “A linguística moderna para além de Saussure”, autores 
importantes para o estruturalismo linguístico são apresentados, 
como os que integraram os movimentos do formalismo e o 
funcionalismo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
UMA BREVE REFLEXÃO 
LINGUÍSTICA 
 
 
 
 
1.1 INTRODUÇÃO 
Petter (2006) diz que o desenvolvimento dos estudos linguísticos levou muitos 
estudiosos a proporem diferentes definições do que é a “linguagem”, sendo elas 
muito próximas em alguns pontos, mas também muito diferentes em outros. Isso 
significa dizer que não há como “fechar” uma definição ou uma conceituação sobre 
o que é a linguagem, pois, automaticamente, perguntas como “para quem?”, “em 
qual época?”, “sob qual perspectiva?” surgem à medida que se avança nos estudos. 
Tampouco há a pretensão de se fazer uma definição fechada sobre a linguagem. 
Ao contrário, a ideia principal deste material é a de proporcionar diferentes visões, 
em diferentes momentos históricos, de maneira introdutória, sobre como os fatos 
linguísticos foram percebidos pela humanidade. 
Por isso, o pensamento linguístico de hoje é baseado e formado a partir de 
diferentes princípios metodológicos de décadas e séculos atrás, que já se 
preocupavam com essa questão, mesmo que não da mesma forma que atualmente 
– afinal, as preocupações também eram outras, por isso os estudos tiveram outros 
objetivos. Contudo, reforça-se que os estudos linguísticos atuais, ainda que derivem 
parcialmente dos antigos, não dão conta de serem explicados e totalmente 
relacionados com a antiguidade, pois não há dados científicos suficientes para 
comprovar uma estreita ligação e relação de dependência entre povos geográfica 
e temporalmente distintos. 
Logo, todos os períodos e fatos históricos relacionados aos estudos linguísticos 
devem ser compreendidos como momentos da história do pensamento linguístico, 
não necessariamente como uma linha do tempo em que um fato sucede o outro. 
Assim, é possível compreender como esse tema sempre esteve presente na vida dos 
seres humanos, de uma maneira ou de outra, sem que haja a necessidade de 
“esgotá-lo” como se só existisse essa possibilidade de olhar para os fatos da língua. 
 
UNIDADE 
01 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
1.2 A LÍNGUA(GEM): ALGUMAS REFLEXÕES 
Como será discutido, a Linguística não era considerada uma área autônoma, 
pois carecia de cientificidade, método e objeto próprios. Por isso, se apoiava em 
outras áreas de estudo, como a lógica, a filosofia e a retórica para trazer a base 
científica para suas contribuições. Contudo, o que sempre houve nesses estudos, 
apoiados ou não em outras áreas, foi a preocupação em definir o que é a linguagem, 
tema este que não recai só sobre a linguagem humana, mas também sobre a 
linguagem animal, como demonstra o estudo de Karl von Frisch, em 1959, sobre o 
sistema de comunicação utilizado pelas abelhas. Ou seja, não só um tipo de 
linguagem, mas quando o tema se volta aos seres humanos e ao sistema de 
comunicação por eles utilizado, geralmente, a noção de “língua” está estritamente 
vinculada. 
Com base em Cunha, Costa e Martelotta (2011), identifica-se que a linguagem 
é um termo polissêmico, isto é, apresenta mais de um sentido, uma vez que é possível 
utilizá-lo para referir-se a qualquer processo de comunicação. Por isso, existe a 
linguagem dos animais, a linguagem corporal, a linguagem das artes, a linguagem 
da sinalização, a linguagem escrita, dentre outras, como aponta os autores. A língua 
falada por um grupo de pessoas, dessa forma, é uma forma de linguagem. Nesse 
sentido, para os autores, a linguagem é uma habilidade, ao passo que a língua é um 
sistema de signos utilizados entre os membros de um grupo. 
 
Quando falamos, então, que os linguistas estudam a linguagem, 
queremos dizer que, embora observem a estrutura das línguas 
naturais, eles não estão interessados apenas na estrutura particular 
dessas línguas, mas nos processos que estão na base da sua utilização 
como instrumentos de comunicação. Em outras palavras, o 
linguista[...] [é] um estudioso dos processos através dos quais essas 
várias línguas refletem, em sua estrutura, aspectos universais 
essencialmente humanos (CUNHA; COSTA; MARTELOTTA, 2011, p. 15). 
 
Como é possível observar, a partir da reflexão trazida pelos autores, há diversos 
tipos de linguagens e diversas manifestações, uma delas é a língua (verbal/oral), tão 
estudada pela Linguística desde antes de haver uma área consolidada. A língua é 
um uso específico da linguagem (algo mais geral), ou seja, é uma das formas de 
conceber o que é a linguagem, mais complexo e amplo. E é sobre esse tipo de 
expressão que os linguistas, por meio dos estudos linguísticos, na e pela humanidade, 
se dedicaram. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
A língua(gem) é algo que exerceu e continua a exercer interesse nos homens, 
seja pelo seu caráter de evolução, seja pelo seu caráter de comunicação. Petter 
pontua que a linguagem “[...] permite não só nomear/criar/transformar o universo 
real, mas também possibilita trocar experiências, falar sobre o que existiu, poderá vir 
a existir, e até mesmo imaginar o que não precisa nem pode existir” (2006, p. 12). Ou 
seja, a possiblidade que a língua(gem) tem de transmitir o mundo é o que a faz única, 
do ponto de vista de um artefato cultural, pois utilizado por diversas culturas, em 
diferentes épocas. 
 
Assim como não há sociedade sem linguagem, não há sociedade 
sem comunicação. Tudo o que se produz como linguagem ocorre em 
sociedade, para ser comunicado, e, como tal, constitui uma realidade 
material que se relaciona com o que lhe é exterior, com o que existe 
independentemente da linguagem. Como realidade material – 
organização de sons, palavras, frases – a linguagem é relativamente 
autônoma; como expressão de emoções, ideias, propósitos, no 
entanto, ela é orientada pela visão de mundo, pelas injunções da 
realidade social, histórica e cultural de seu falante (PETTER, 2006, p. 12). 
 
De acordo com a autora, a linguagem verbal (língua) é uma forma de 
comunicação básica entre os seres humanos e, por isso, desperta e sempre 
despertou diversos estudos, movidos, muitas vezes, pela curiosidade (fascínio) de 
compreender o mundo e as formas de ser e de estar nele. Dessa curiosidade, 
portanto, resultam as diversas formas de estudos, frutos da tentativa de compreender 
e apreender melhor o que é esse instrumento de comunicação e como se ele 
comporta diferentemente em cada sociedade. 
Assim como os próprios estudos linguísticos sofreram alterações e variações ao 
longo dos tempos, o mesmo ocorre com a língua, por isso é possível pensar em uma 
variação linguística no que tange à história, mas também dentro de uma mesma 
sociedade. Por isso, essa capacidade da língua de mudar e de se adaptar, por ser 
um processo natural de evolução que ocorre por meio das interações entre os 
falantes, sendo elas de sentido (semântica), de grafia (léxico), dentre outras. Essas 
variações linguísticas podemocorrer por fator histórico, regional, social ou até mesmo 
de estilo do falante. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
 
 
Cunha, Costa e Martelotta (2011) ressaltam que há diferentes formas de 
compreender o fenômeno da linguagem, por isso, é possível apreendê-la como (1) 
uma técnica articulatória complexa, relacionada aos sons que produzem a fala; (2) 
uma base neurobiológica composta de centros nervosos que são utilizados na 
comunicação verbal, em que o funcionamento da linguagem está relacionado a 
uma estrutura biológica que o veicula; (3) uma base cognitiva, que rege as relações 
entre o homem e o mundo biossocial e que representa esse mundo em termos 
linguísticos; (4) uma base sociocultural que atribui à linguagem humana os aspectos 
variáveis no tempo e no espaço; e (5)uma base comunicativa que fornece os dados 
que regulam a interação entre os falantes. 
Nota-se que dentro dessas 5 (cinco) possibilidades, há muitos e diferentes 
estudos e pesquisas que foram e podem ser desenvolvidos. Ou seja, tratar da 
(língua)gem não é uma tarefa simples nem que pode ser esgotada, por isso há muito 
feito, mas também há muito a se fazer em relação aos fatos linguísticos. 
 
1.3 LINGUÍSTICA OU GRAMÁTICA? 
Como apontado por Cunha, Costa e Martelotta (2011), as pessoas confundem 
a Linguística com a Gramática, que é normalmente ensinada nas escolas. Entretanto, 
é importante que uma distinção seja feita, pois a forma de olhar para a língua(gem) 
muda a depender de qual perspectiva for enfatizada. Como se percebe, é possível 
conceber a linguagem e a língua em uso de diferentes formas e a partir de múltiplos 
https://bit.ly/3NF45Xf
https://bit.ly/3mmg3IY
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
objetivos. Uma boa definição do que seria um estudo nesta perspectiva e o papel de 
quem a estuda, seria o de que 
 
Os estudos linguísticos não se confundem com o aprendizado de 
muitas línguas: o linguista deve estar apto a falar “sobre” uma ou mais 
línguas, conhecer seus princípios de funcionamento, suas 
semelhanças e diferenças. A Linguística não se compara ao estudo 
tradicional da gramática; ao observar a língua em uso o linguista 
procura descrever e explicar os fatos: os padrões sonoros, gramaticais 
e lexicais que estão sendo usados, sem avaliar aquele uso em termos 
de um outro padrão: moral, estético ou crítico (PETTER, 2006, p. 17). 
 
Importante pensar sobre essa distinção entre o trabalho realizado pela 
linguística e pela gramática, pois não é só o objeto que muda (linguagem/língua), 
mas a forma de refletir sobre eles. Um estudo linguístico considera qualquer expressão 
como possível e passível de ser analisada, sem que juízos de valor, como certo ou 
errado, sejam tidos como objetivo principal, uma vez que a descrição e interpretação 
dentro de um escopo científico são seus principais objetivos. Por outro lado, há 
estudos que se voltam ao modo “certo” ou “bonito” de falar e escrever, o que 
configura, nesse sentido, não um trabalho expressamente linguístico, mas sim 
normativo e prescritivo, pois desconsidera as diferentes realidades da variação 
linguística, que fazem com que um falante cometa um ou outro desvio linguístico, 
mas que não o torna menos falante. 
 
 
 
Cunha, Costa e Martelotta fazem uma distinção entre a linguística e a 
gramática tradicional, com o objetivo de elucidar o que cabe (ou não) à cada uma 
delas. Primeiro, dizem os autores, a gramática tradicional foi desenvolvida pelos 
filósofos gregos como forma de sistematizar, por meio da observação das formas 
linguísticas, as leis de elaboração do raciocínio. Ressaltam que essa tendência 
perdurou até o século XIX, quando uma nova ciência, a Linguística surgiu. Outro fato 
importante sobre a Gramática é a sua instituição de um uso correto da língua, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
considerado o mais adequado, por isso, pode ser caracterizada como normativa. Por 
sua vez, a Linguística analisa e descreve o funcionamento da língua, sem se 
preocupar com regras de uso. 
A segunda diferença importante apontada pelos autores é a de que os 
linguistas, diferente do que se concebe na gramática tradicional, consideram a 
língua falada como primária, não escrita. Eles afirmam que “qualquer atividade de 
escrita representa um processo mais sofisticado e adquirido mais tardiamente”, pois 
eles afirmam que “[...] começamos a falar antes de aprender a escrever, falamos 
mais do que escrevemos em nossa rotina diária, todas as línguas naturais foram 
faladas antes de serem escritas” (CUNHA; COSTA; MARTELOTTA, 2011, p. 26). 
Compreende-se, então, que ambas as abordagens se assemelham por 
trazerem a linguagem, de uma maneira ou de outra, para seu interior, mas se 
distinguem de maneira bem clara com o que fazem a partir deste tema: prescrever 
o bom uso da língua, como um gramático tradicional o faz, está em uma situação 
diferente da descrição da língua, como um linguista o faz. Reforça-se, então, que 
essas distinções existem e, sobre elas, algumas reflexões são feitas, a fim de que cada 
área de estudo tenha as condições ideais para realizar seus objetivos acerca da 
(língua)gem. 
 
 
 
Por fim, há de ressaltar que o trabalho proposto por uma gramática, seja de 
qual caráter for, não deve ser ignorado tampouco desvalorizado. É preciso 
reconhecer o lugar e a contribuição que este tipo de estudo tem para os estudos 
linguísticos, principalmente quando falamos de tempos mais antigos e de povos mais 
distantes, que não possuíam o mesmo tipo de objeto nem conhecimento científico 
do qual se dispõe os dias atuais. A ressalva do que é o trabalho de um(a) linguista é 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
uma forma de mostrar como esse profissional atua e pode continuar atuando na 
sociedade, contribuindo com o fazer científico ético e de qualidade, sem 
desvalorizar, contudo, o trabalho de um(a) gramático(a), que muito tem a contribuir 
também com esse fazer científico, dentro das suas especificidades. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
 
1. Na Linguística, o trabalho do linguista deve ser corretamente identificado com: 
 
a) O estabelecimento de métodos históricos e comparativistas para a descoberta da 
etimologia das palavras. 
b) A definição de quais línguas são superiores e quais são inferiores. 
c) Intuições e percepções subjetivas sobre a linguagem a fim de relacioná-las com 
uma teoria filosófica. 
d) O estabelecimento de teoria linguística e criação de métodos rigorosos para a 
descrição das línguas. 
e) A elaboração de uma gramática normativa ou prescritiva a fim de estabelecer a 
correção gramatical. 
 
2. Não podemos analisar a língua simplesmente como uma quantidade de palavras 
que comunicam, pois a língua faz parte da maneira de ser do indivíduo como um 
todo. Podemos refletir, então, que: 
 
a) A língua, além de um organismo vivo, mutante, é uma instituição social. Numa 
mesma comunidade todos necessitam conhecer e dominar a mesma estrutura 
linguística, porém, há variações. 
b) As línguas obedecem a uma estrutura e jamais mudam. 
c) As línguas só mudam nas camadas mais privilegiadas da população. 
d) A língua não é uma instituição social. Em uma mesma comunidade nem todos 
necessitam conhecer e dominar a mesma estrutura linguística. 
e) A língua é uma instituição política e só muda quando são alteradas as leis de 
Estado. 
 
3. “Dada nossa tradição escolar, há uma tendência em se identificar o estudo da 
linguagem com o estudar da gramática. A __________, no entanto, distingue-se da 
gramática tradicional, normativa. Ela não tem, como esta gramática, o objetivo 
de prescrever normas ou ditar regras de correção para o uso da linguagem. Para 
essa ciência, tudo o que faz parte da língua interessa e é matéria de reflexão. (p. 
10)" 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
Adaptado de ORLANDI, Eni. O que é linguística. São Paulo: Brasiliense, 1999. 
Qual dasalternativas a seguir preenche corretamente a lacuna? 
 
a) Gramática Prescritiva. 
b) Gramática Descritiva. 
c) Gramática Internalizada. 
d) Linguística. 
e) Gramática Comparada. 
 
4. Analise as seguintes sentenças: 
I. Não se faz distinção entre língua e linguagem na Linguística, pois a língua não é 
uma forma de linguagem. 
II. É possível distinguir língua e linguagem, pois a primeira é um tipo de manifestação 
da segunda. 
III. Quando se fala de linguagem, só é possível pensar na língua verbal e escrita. 
 
Está correto o que se afirma em: 
a) I. 
b) II. 
c) III. 
d) I e II. 
e) Todas as sentenças estão corretas. 
 
5. Sobre a Linguística, pode-se afirmar que: 
a) Corresponde aos estudos gramaticais, filológicos ou etimológicos realizados desde 
a Grécia Antiga e estendendo-se até os dias atuais, com ênfase na investigação 
empírica da linguagem. 
b) Consiste numa disciplina que trata da linguagem de uma forma normativa, 
procurando estabelecer as regras e normas do uso padrão da língua. 
c) Consiste numa disciplina que se detém na investigação científica da linguagem. 
d) Corresponde aos estudos sobre a linguagem a partir de Ferdinand Saussure, em 
que os estudos gramaticais e etimológicos são o cerne da investigação científica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
 
e) Consiste numa abordagem científica de todos os tipos de linguagem utilizadas 
pelos seres humanos, desde as primeiras gramáticas até os autores modernos do 
Império Romano que influenciam diversos idiomas por conta do latim. 
 
6. (ENEM 2016) “O acervo do Museu da Língua Portuguesa é o nosso idioma, um 
“patrimônio imaterial” que não pode ser, por isso, guardado e exposto em uma 
redoma de vidro. Assim, o museu, dedicado à valorização e difusão da língua 
portuguesa, reconhecidamente importante para a preservação de nossa 
identidade cultural, apresenta uma forma expositiva diferenciada das demais 
instituições museológicas do país e do mundo, usando tecnologia de ponta e 
recursos interativos para a apresentação de seus conteúdos. 
Disponível em: www.museulinguaportuguesa.org.br. Acesso em: 16 ago. 2012 [adaptado] 
 
De acordo com o texto, embora a língua portuguesa seja um “patrimônio 
imaterial”, pode ser exposta em um museu. A relevância desse tipo de iniciativa 
está pautada no pressuposto de que: 
 
a) A língua é um importante instrumento de constituição social de seus usuários. 
b) O modo de falar o português padrão deve ser divulgado ao grande público. 
c) A escola precisa de parceiros na tarefa de valorização da língua portuguesa. 
d) O contato do público com a norma-padrão solicita o uso de tecnologia de última 
geração. 
e) As atividades lúdicas dos falantes com sua própria língua melhoram com o uso de 
recursos tecnológicos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
 
7. (UNICENTRO 2017 - adaptada) Leia o texto a seguir para responder à questão: 
 
Disponível em http://www.chargeonline.com.br. Acesso em 23 set. 2017 
 
Com base na leitura da charge supracitada, bem como de seus conhecimentos, 
avalie as proposições a seguir: 
I. A língua é entidade imutável, homogênea, cabendo aos falantes atender à 
norma padrão culta. 
II. Toda língua é um conjunto diversificado, porque as sociedades humanas têm 
experiências históricas, sociais, culturais e políticas diferentes e essas experiências 
se refletirão no comportamento linguístico de seus membros. 
III. As variações (sintáticas e lexicais) são inerentes à fala e à escrita de pessoas pouco 
escolarizadas. 
 
A partir da análise é correto considerar que: 
a) Somente a alternativa I está correta. 
b) Somente a alternativa II está correta. 
c) Somente a alternativa III está correta. 
d) As alternativas I e II estão corretas. 
e) Todas as alternativas estão corretas. 
 
8. (UEG 2018) Observe a imagem a seguir, referente ao anúncio do primeiro 
espetáculo da Semana de Arte Moderna de 1922. 
 
https://www.qconcursos.com/questoes-de-vestibular/provas/unicentro-2017-unicentro-vestibular-pac-3-etapa
http://www.chargeonline.com.br/
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
 
Disponível em: https://ifhistoria.wordpress.com/2014/05/18/a-semana-de-arte-moderna/. Acesso em: 01 out. 2018. 
 
Em termos de linguagem, verifica-se que há no anúncio a presença de formas 
linguísticas que comprovam que: 
a) A língua sofre variação no decorrer do tempo, passando por mudanças históricas 
tanto em seus aspectos semânticos quanto em sua forma ortográfica. 
b) Há ocasiões em que os falantes mudam seu jeito de falar para se adequarem à 
formalidade da situação, o que se chama de variação situacional. 
c) Há variações que são devidas ao gênero dos falantes, pois homens e mulheres 
falam de modo diferente. 
d) A origem geográfica do falante determina seu modo de falar, sendo o que se 
chama de variação regional. 
e) A idade dos falantes é fator importante no modo de falar das pessoas, como é o 
caso das gírias. 
 
 
 
https://ifhistoria.wordpress.com/2014/05/18/a-semana-de-arte-moderna/
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
OS PRIMEIROS ESTUDOS 
LINGUÍSTICOS 
 
 
 
2.1 INTRODUÇÃO 
No início dos tempos, não havia uma Linguística como nós temos hoje, com 
seu objeto e métodos próprios e bem definidos. Mas os estudos sobre a linguagem 
humana existem muito antes da fundação da Linguística como uma ciência, no fim 
do século XIX e início do século XX, pelo estudioso genebrino Ferdinand de Saussure. 
Os seres humanos, com a necessidade básica da comunicação, sempre fizeram uso 
da linguagem (em suas mais diferentes formas, verbal, sonora ou visual). Por isso, os 
estudos acerca da linguagem acompanham toda a evolução humana, mesmo que 
sem o rigor científico que hoje temos na área da Linguística, até pelo fato de não ser 
uma preocupação de outras épocas. 
O caminho percorrido pela Linguística para ganhar seu status científico e seu 
objeto e métodos bem definidos é relativamente atual, em comparação com outras 
áreas da ciência humana. Contudo, o interesse pela linguagem sempre existiu, 
mesmo que uma disciplina que se preocupasse especificamente só com isso ainda 
não existisse. Um exemplo de quão antigo é o interesse pela linguagem está no século 
IV a. C., quando a preocupação dos povos hindus era a de fazer uma manutenção 
da Gramática com propósitos religiosos, baseados no princípio de ler e escrever 
corretamente. Mais à frente, já no século I a. C., os latinos tentaram implementar a 
gramática grega no seu idioma (língua latina), pois acreditavam que, assim, a 
interpretação literária (leitura e produção de poemas) seria melhor para todo o povo. 
Percebe-se que a humanidade possui um interesse pelo tema “linguagem” 
desde a antiguidade, ainda que cada povo possuísse traços de interesses distintos. 
Portanto, contextualizar a linguagem como ciência é um trabalho anterior ao fim do 
século XIX e início do século XX. Logo, para entender o que Saussure fez (um marco 
histórico para a área), é preciso entender também o que veio antes dele e o que os 
povos estudavam e buscavam a partir da temática da “linguagem”. 
 
 
UNIDADE 
02 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
 
 
 
Traçar uma linha do tempo, linear, que dê conta de destacar todos os fatos, 
cronologicamente, sobre os acontecimentos acerca dos estudos linguísticos é uma 
tarefa difícil, uma vez que o seu desenvolvimento não ocorreu dessa forma. Como 
diz Weedwood (2002): 
 
No plano geográfico, é vão tentar ligar todas as tradições lingüísticas 
numa única seqüência cronológica, saltando da Índia à China, à 
Grécia e a Roma, aos povos semíticos e de volta ao Ocidente. Cada 
tradição tem sua própria história e só pode ser explicada à luz de sua 
própria cultura e de seus modos de pensamento. Cada uma tem sua 
contribuição particular a dar à percepção humana da linguagem 
(WEEDWOOD, 2002, p. 22). 
 
Com base no que é dito pela autora, pode-se perceberque o interesse pela 
linguagem é muito antigo, de modo que há acesso a mitos, lendas, cantos, rituais e 
trabalhos eruditos que refletiam sobre e buscavam entender essa capacidade 
humana, como também diz Petter (2006) 
O crescente interesse dos povos pela linguagem, não é de se estranhar que 
diferentes e variadas culturas, em diferentes e variados tempos, tenham se dedicado 
a essa questão que está presente na vida cotidiana de todos os seres humanos, de 
maneira mais sistematizada ou não. Há de se considerar, nesse momento de primeiros 
estudos linguísticos, que eles foram desenvolvidos de maneira isoladas, em cada 
cultura, mas que também, em alguns momentos, o desenvolvimento ocorre numa 
relação de certa dependência. 
 
A lingüística grega e a romana formam um continuum com a 
medieval: os romanos se basearam nas iniciativas dos gregos (e, de 
maneira limitada, desenvolveram-nas), enquanto os pensadores 
medievais estudaram, digeriram e transformaram a versão romana da 
tradição lingüística antiga. Alguns aspectos do pensamento pré-
renascentista, sobretudo a etimologia e a teoria da littera, são mais 
facilmente apreendidos se as idéias antigas e medievais forem 
consideradas em conjunto; para outros temas, uma discussão 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
 
cronológica oferecerá um arcabouço adequado (WEEDWOOD, 2002, 
p. 23 – destaques da autora). 
 
Como é possível observar, existe uma continuidade em alguns estudos 
linguísticos, principalmente os ocidentais. O que não se pode levar para todos os 
outros, como os primeiros textos religiosos escritos em sânscrito, uma vez que não há 
relação direta entre eles com outros estudos que eram feitos em outras partes do 
mundo, por outras sociedades. Por isso, a ideia de “linha do tempo” é falha para se 
pensar esse momento dos estudos linguísticos, de modo que adiante, alguns 
momentos importantes para esses estudos são elencados, com o objetivo de 
compreender como a preocupação dos povos antigos se voltava, de uma forma ou 
de outra, à linguagem, sem que, necessariamente, elas ocorressem de maneira 
dependente entre si, ainda que tivessem o mesmo tema em comum. 
 
2.2 A GRAMÁTICA DE PANINI 
Um primeiro nome importante para compreender os estudos linguísticos pela 
e na humanidade é o de Panini que, no século IV a.C., compilou, com o devido rigor 
científico para a época, uma gramática para o sânscrito, uma língua antiga indiana, 
originado, assim, a Gramática de Panini. O estudioso observou e descreveu os 
processos que ocorriam na língua, de modo que complementou o trabalho de vários 
outros sábios estudiosos que o antecederam. 
Os estudos tiveram como objetivo principal preservar diversos textos sagrados, 
que eram passados de geração a geração por tradição oral, com especial cuidado 
em cada som e em cada palavra. Por isso, o trabalho realizado por Panini é 
considerado válido pela sua base filosófica, de modo que mostrou ter um padrão 
elevado comparado ao das gramáticas tradicionais ocidentais. Nele, são 
compilados mais de 4000 (quatro mil) regras em sutras que descrevem a línguas com 
detalhes minuciosos e precisos. 
Uma grande contribuição da gramática dessa época é a de que as palavras 
são formadas por raízes e afixos que, juntos, modificam o significado de diversas 
palavras. A limitação desses estudos residia em ser uma descrição e classificação do 
que observavam a partir dos fatos da língua, sem que nenhuma explicação ou 
análise fosse feita. 
Por muito tempo, esses estudos ficaram limitados geograficamente ao próprio 
povo hindu, de modo que a sua descoberta, tempos depois, no século XVIII, consistiu 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
 
em um momento importante para os estudos linguísticos, um século antes da 
sistematização feita por Saussure na área da Linguística, em 1916. 
 
2.3 OS FILÓSOFOS NA GRÉCIA ANTIGA 
Considera-se que a língua grega foi bastante estudada ao que tange aos 
procedimentos de estilo e de adequação da linguagem ao pensamento. No 
contexto da cultura ocidental, a Grécia Antiga voltou sua atenção aos aspectos 
linguísticos a partir de estudos com base lógica e natureza filosófica, de modo que 
Câmara Jr. (2011) afirma que a principal abordagem, na Grécia, aos estudos 
linguísticos foi por meio da filosofia, o que significa que quase todas as preocupações 
e as investigações incluíram a linguagem como um de seus objetos de investigação. 
A preocupação inicial era a de estabelecer um paralelo entre o pensamento 
e a palavra. Para eles, o problema filosófico relativo à linguagem era a definição 
entre a noção e a palavra que a designa. Para isso, esse tema era observado a partir 
das questões da naturalidade e da arbitrariedade da linguagem, o que significa que 
os fatos linguísticos eram observados pela natureza ou pela convenção na língua 
grega, de modo que muito se especulava a respeito disso. 
Durante vários séculos, esse tipo de preocupação dominou todos os estudos 
sobre a origem da língua, com ênfase na relação entre as palavras e o seu 
significado. Weedwood (2002) diz que, com isso, duas escolas opostas surgiram na 
época: anomalistas e analogistas. A primeira considerava que a linguagem era 
irregular, justamente por refletir a própria irregularidade da natureza. A questão 
equivalia a dizer que tinha sua origem em princípios eternos e imutáveis fora do 
próprio homem. 
Já os analogistas pensavam na regularidade básica da linguagem, baseados 
na convenção. A questão significava dizer que ela era o resultado de algum acordo 
tácito, um tipo de contrato social entre os membros da comunidade. Ressalta-se, 
com isso, que ambas as visões eram importantes para a época e foram responsáveis 
pela sistematização da gramática grega, ou seja, não havia, para a época, um lado 
“certo” ou “errado”, mas visões que se complementavam e contribuíam para ao 
avanço dos estudos sobre a língua. 
Outras contribuições foram feitas por Protágoras, no século V a. C., ao 
estabelecer a distinção de três gêneros. Já Platão fez a importante distinção de 
“substantivos” e “verbos”, ao passo que Aristóteles, seu discípulo, acrescentou 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
 
também as “conjunções”. Contudo, como aponta Camara Jr. (2011), seus principais 
trabalhos se voltam ao diálogo de Crátilo (um filósofo seguidor de Heráclito) e 
Hermógenes (seguidor de Demócrito). Segundo o autor, Platão se identificava com 
Heráclito e, Aristóteles, com Demócrito: 
 
Platão, no seu diálogo do Crátilo, discutiu principalmente a questão 
relacionada com o seguinte: a linguagem é imposta aos homens por 
uma necessidade da natureza ou se origina do poder de julgamento 
dos homens. Pessoalmente parece ele participar da primeira dessas 
opiniões, a qual está de acordo com a metafísica das ideias que 
regem, de fora, a mente humana. Aristóteles, por outro lado, crê que 
a linguagem surgiu por convenção ou acordo entre os homens mas 
faz uma distinção entre a linguagem propriamente como um produto 
de convenção, e o conteúdo da linguagem que está de 
conformidade com as coisas e assim o é (CAMARA JR, 2011, p. 24). 
 
São os chamados estóicos, com uma base de estudo anomalista, que mais se 
dedicaram à questão da língua, dentre todas as escolas. Eles consideravam a língua 
fundamental, principalmente em termos de lógica, além de terem sido os 
responsáveis pela distinção entre forma e significado (o que será chamado de 
significante e significado por Saussure). 
Por sua vez, os gramáticos da Escola de Alexandria, que eram analogistas, 
deram continuidade aos estudos feitos pelos estóicos e, nesse momento, a 
“gramática grega”, de fato, foi convencionada. A perspectiva era mais filológica e 
os textos estudados eram de antigos poetas, originado um movimento de estudar os 
textos literários como fonte de um bom e correto uso da língua. No final do século II 
a.C., a gramática de Dionísio Trácio acrescentou algumas questões àsjá tratadas 
pelos estóicos, como o advérbio, o pronome, a preposição e o particípio. Já Apolônio 
Díscolo, no século II, tratou da gramática com ênfase na sintaxe, em que ele propõe 
a análise linguística como composto da análise, que compreende a definição das 
partes da oração, e a síntese, que corresponde à sua disposição em um todo 
coerente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
 
 
 
Figura 1: Representação moderna do interior da Biblioteca de Alexandria 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3NZP3uz. Acesso em: 20 jan. 2022. 
 
A contribuição da gramática grega aos estudos linguísticos foi de finalidades 
práticas, uma vez que se voltava para a ação (fazer), o uso da língua. Com isso, o 
próprio campo filosófico foi importante na construção da gramática da língua grega. 
Os estudos sobre essas questões levantadas pelos gregos foram também estudadas 
pelos romanos, tempos depois, de modo que se encarregaram de transmitir os 
estudos adiante, com as suas contribuições, de modo que conseguiram impulsionar 
o progresso da gramática no Ocidente. 
 
https://bit.ly/3NZP3uz
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
2.4 ROMA E A LÍNGUA LATINA 
Como dito, os estudos linguísticos em Roma tiveram forte influência dos gregos, 
de modo que a sua gramática serviu de modelo, uma vez que, segundo Lyons (1979), 
as duas línguas eram bastante semelhantes em sua estrutura geral, o que os levou a 
pensar que as categorias gramaticais, elaboradas pelos gregos, eram universais. 
Neste momento, 
 
[...] Em que a gramática grega começou a influenciar a cultura latina, 
o latim não era ainda uma língua fixada e os hábitos linguísticos das 
classes rurais estavam em conflito com a “urbanitas”, isto é, o 
estabelecimento de uma norma oficial para as classes superiores da 
cidade. À medida que o Estado crescia através de suas conquistas, 
crescia também, assim, a necessidade de uma língua única tendo sob 
seu domínio todo o Império Romano (CAMARA JR., 2011, p. 28). 
 
Como é possível observar, o avanço dos estudos linguísticos está relacionado 
com as conquistas e expansões territoriais, ou seja, a necessidade de pesquisas e 
investigações da e na língua, foram surgindo à medida em que a própria 
configuração daquela sociedade mudou. Contudo, neste primeiro momento, a 
língua latina, estudada pelos romanos, tinha uma perspectiva mais normativa, o 
objetivo principal era o “Estudo do Certo e Errado”. Também havia a tentativa de 
manter o latim clássico em uso, no lugar da fala plebeia e provinciana utilizada por 
populações heterogêneas, algo semelhante também ocorreu com a língua grega, 
por iniciativa dos estóicos. Um outro ponto em comum entre romanos e gregos foi 
continuar com o embate entre analogistas e anomalistas. 
Nesse sentido, os estudos gramaticais continuaram, de modo que se chegou 
a um modelo básico de gramática latina dividida em 3 (três) seções, dentre elas: (1) 
a “gramática” ou a arte de falar e compreender bem os poetas; (2) as “partes do 
discurso” e suas variações de gênero, tempo, número etc.; (3) o “estilo”, com o 
objetivo de evitar erros. O último período da gramática latina foi na “idade do 
classicismo”, que compreende o período de 400 d.C., com Donato, e Prisciano, em 
500 d. C., com o objetivo didático de descrever a língua dos melhores escritores da 
época, como Cícero e Virgílio, ao passo que desprezavam a língua utilizada pelos 
homens comuns. Camara Jr. (2011) pontua que, neste momento, há um esforço para 
manter a norma do latim clássico diante da língua popular do Império, o que se 
manteve até a Idade Média, em um esforço de conservar a língua latina como 
universal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
Dentre os estudiosos da língua no Império Romano, pode-se destacar Marcos 
Terêncio Varrão, no século II a. C., autor dos 25(vinte e cinco) originais do compêndio 
intitulado “De Língua Latina”, que apresentava forte influência dos estóicos. Também 
dividiu os estudos linguísticos em etimológicos, morfológicos e sintáticos. Por sua vez, 
o retórico Marco Fábio Quintiliano, no século I d. C., contribuiu com temas 
educacionais na sua obra “Instituto Oratória”, ao passo que Élio Donato, por volta do 
século IV d.C., escreveu sua gramática “Arte Menor” que, por muitos anos, 
permaneceu como o modelo mais autorizado de gramática expositiva, além de 
fazer uma descrição minuciosa das letras, o que contribuiu em termos fonéticos, e um 
compilado dos traços estilísticos de autores clássicos. 
 
 
 
Entretanto, os estudos sobre a língua latina não se mantiveram da mesma 
maneira por muito tempo, de modo que, após a grande aceitação dos estudos 
gramaticais com paralelos literários, abriram-se os estudos linguísticos com fins 
propriamente gramaticais, inclusive, com mudança de objeto de estudo, não mais 
os textos literários, mas os próprios textos gramaticais. Weedwood relata que 
 
À medida que a educação romana foi gradualmente estreitando seu 
escopo, o foco de atenção se transferiu para as gramáticas em si 
mesmas, abandonando os textos literários que elas supostamente 
deviam acompanhar. Gramáticos do final do século IV em diante 
(Sérvio, Sérgio, Cledônio, Pompeu) passaram a escrever comentários 
sobre a Ars maior de Donato, em vez de sobre a Eneida de Virgílio, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
 
uma tendência que foi prosseguida na Idade Média por estudiosos 
que exerciam a exegese bíblica (WEEDWOOD, 2002, p. 40). 
 
Por fim, segundo Lyons (1979), o latim não era só uma língua utilizada com fins 
religiosos, mas também era considerada a língua universal da diplomacia, da cultura 
e da erudição. Daí surgirem vários manuais de língua latina, pois era uma língua 
estrangeira que deveria ser aprendida nas escolas por diversos outros povos. 
Contudo, tomavam especial cuidado com essa língua, pois valorizavam o seu 
aspecto intocável, que buscava sempre ser preservado à medida em que outros 
povos começavam a falá-la e, assim, davam sentidos linguísticos diferentes a ela. 
 
2.5 O INTERESSE RELIGIOSO DA IDADE MÉDIA 
A língua latina continua a ter sua importância durante anos, de modo que 
chega até à Idade Média como a mais estudada e expandida, em particular, por 
ser o idioma oficial da igreja ocidental. Camara Jr. (2011) diz que a mais completa 
expressão da gramática normativa na Idade Média foi a “Doctrinale Puerorum”, de 
Alexandre de Villedieu, no século XII. O caráter pedagógico deu lugar ao tom 
filosófico, com base na gramática de Prisciano. 
Quando os escolásticos ganharam espaço na sociedade, a abordagem 
filosófica da língua voltou a se desenvolver também, com influência dos 
ensinamentos de Aristóteles, a partir da ideia de que a gramática era “auxiliar da 
lógica”. Na Idade Média, então, desenvolveu-se um estudo lógico da linguagem, 
que até os dias atuais possui a sua relevância, tamanho foi o impacto não só no 
período, mas também nos séculos posteriores. Também nesse período a disputa entre 
analogistas e anomalistas se mantém presente, agora com outro nome (realistas e 
nominalistas) e com uma abordagem filosófica da linguagem, com ênfase ao papel 
do gramático. 
Segundo Camara Jr. (2011), é também parte do pensamento medieval a ideia 
de que existe uma estrutura gramatical comum a todas as línguas, sendo mais 
evidente no latim: “[...] encontramos aqui a ideia de uma gramática geral que tem 
dominado o pensamento dos homens, acerca da linguagem, por muitos séculos” 
(CAMARA JR., 2011, p. 31). 
Os estudos gramaticais latinos continuaram avançando no período medieval, 
mas disputaram “forças” com as línguas faladas que, neste momento, começaram 
a despertar certo interesse e curiosidade, devido à expansão do cristianismo. E, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
 
justamente pelo avanço dos motivos religiosos, a necessidade de comunicação para 
evangelizar outros povos com a doutrina cristã tornou-se um ponto a ser explorado. 
Estudiososda área consideram este momento da história como o embrião dos 
estudos de línguas estrangeiras. Nesse sentido, o trabalho de Aelfric, um abade, no 
século XI, mostra o interesse entre o anglo-saxão e o latim, na obra “De Grammatica 
Latino-Saxonica”, seguida de um “Glossarium”. 
Exemplos de estudos nessa direção são sobre as línguas orientais e indígenas 
americanas, como os desenvolvidos por Victorinus, Caninius e Pizza, ao longo do 
século XVI. Ao mesmo tempo, também surgia um interesse crescente pelas línguas 
faladas no mundo que, segundo Camara Jr. (2011), era consequência da 
curiosidade do homem do Renascimento, diante de tudo que o circundava na 
natureza e na sociedade. 
Por fim, o período medieval é marcado por uma concepção de linguagem 
como um espelho, em que se deu importância ao significado (aspectos semânticos) 
da língua. Dessa forma, a partir do século XV, a tradição de gramáticas gregas e 
romanas começou a perder o seu valor, na medida em que estudos de outras 
naturezas começaram a ganhar relevância, como o de línguas vernáculas e 
exóticas. 
 
2.6 IDEIAS RENASCENTISTAS 
Weedwood (2002) distingue duas abordagens diferentes da linguagem neste 
momento chamado Renascimento: a abordagem “particular”, com ênfase nos 
fenômenos físicos que diferenciam as línguas, e a abordagem “universal” que, 
concentra-se nos princípios subjacentes à linguagem, com preceitos filosóficos e 
lógicos. Segundo a autora, desde 1500, há uma alternância entre essas duas 
abordagens na pesquisa linguística. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
 
 
Para Camara Jr. (2011), as principais manifestações da gramática filosófica no 
século XVI foram as obras “De Causis Linguae Latinae”, de Julius Caesar Scaliger, e 
“Minerva”, do espanhol Francisco Sanchez de las Brozas. Ambos buscaram 
desenvolver uma estrutura lógica que julgavam inerente a todas as línguas. 
A valorização da língua latina começou a perder sua força, ao passo em que 
as línguas estrangeiras ganharam espaço nos estudos linguísticos europeus, pois cada 
país começou a ter interesse e entusiasmo por sua própria língua, resultando nos 
louvores em francês, italiano etc., como pontua Camara Jr. (2011). Também crescem 
os estudos linguísticos com orientação lógica e preceitos do que é certo e errado, 
como as gramáticas francesas e castelhanas, que tinham como objetivo ensinar 
cada qual a sua língua para os estrangeiros. 
O autor também pontua que o aspecto oral da linguagem começou a ganhar 
espaço e uma teoria fonética, preocupada com os sons e com os órgãos envolvidos 
na fala, também começou a ser desenvolvida (estudos de cunho biológico), algo 
que não ocorreu com tamanha sistematização entre os gregos e romanos, 
tampouco na Idade Média. 
O ápice do século XVII foi a publicação da “Gramática de Port-Royal”, em 
1660, dos autores Claude Lancelot e Antoine Arnauld. O trabalho é considerado 
pioneiro nos estudos da filosofia da linguagem e representou um corte 
epistemológico (mudança radical de pensamento) e uma ruptura com o modelo 
latino de conceber a linguagem. A ideia principal, difundida ao longo de todo o 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
estudo, é a de que a gramática é um conjunto de processos mentais e universais, 
logo, a gramática é universal. Chomsky, nos estudos modernos da Linguística, 
classifica este período como a “linguística cartesiana”, pela forte influência de René 
Descartes e do racionalismo francês. 
O caráter do estudo era racional e filosófico e entrava em embate com os 
estudos linguísticos da época, voltados ao bom uso da linguagem, que enfatizavam 
a parte estilística, sem se interessar pelas causas e fundamentos que estruturam a 
linguagem. Segundo Ranauro (2003), 
 
[...] surgem as tentativas de elaboração da gramática filosófica, a 
partir do princípio de que a língua é a expressão do pensamento e 
que o pensamento é governado pelas mesmas leis em todos os seres 
humanos, daí concluir-se que deveria a língua refletir essas mesmas 
leis, sendo possível, pois, a elaboração de uma gramática geral, 
comum a todas as línguas (RANAURO, 2003, s/p). 
 
Como se observa, a importância dessa gramática reside em ser uma base 
para a gramática tradicional, por sua apresentação e descrição dos fatos linguísticos, 
sendo de grande relevância também para as gramáticas filosóficas de Portugal e da 
Itália, como afirma Ranauro (2003). Por fim, neste período renascentista, segundo 
Camara Jr., “[...] a mais importante corrente no século XVII a respeito do estudo da 
linguagem foi o esforço de comparar as línguas e classificá-las de acordo com suas 
semelhanças” (2011, p. 34), considerando o hebraico como a língua original de toda 
a humanidade. Tais preocupações já preconizavam o que, alguns séculos mais tarde, 
seria desenvolvido com os estudos histórico-comparativistas, a partir do contato com 
o sânscrito, a língua utilizada pelo povo hindu. 
 
2.7 O CONTATO EUROPEU COM O SÂNSCRITO 
O sânscrito é uma língua antiga de origem indiana, que possui 
aproximadamente 2200 elementos básicos (raízes), capaz de gerar milhões de 
palavras a partir deles. No sânscrito, as raízes são o ponto de partida para a formação 
de cada palavra derivada, além disso, o próprio radical já indica qual a natureza do 
objeto que tal palavra significa. A palavra “sânscrito” significa “aquilo que foi bem 
feito”, a partir da raiz ‘kr’ (fazer) e do prefixo ‘sam’ (bem), indicando uma língua bem 
elaborada. Por se tratar de uma língua antiga, a sua importância para os estudos 
linguísticos advém dos hinos védicos, que são considerados até mais antigos do que 
os primeiros textos gregos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
 
Considera-se o contato com o sânscrito um grande marco para os estudos 
linguísticos, principalmente no campo das pesquisas de cunho histórico-
comparativista, pois foi graças a essa língua que os estudos comparativos entre uma 
língua e outra teve seu início. Estudiosos europeus tiveram contato com o sânscrito e 
com a cultura indiana e puderam perceber, a partir de reflexões, que essa língua 
possui graus de parentesco com o latim, o grego, o germânico e o persa. Uma língua 
distante, originária do dialeto penjabi no nordeste da Índia, foi a responsável por 
impulsionar diversas pesquisas acerca de sua origem e de suas relações 
genealógicas, como ser membro linguístico de uma família indo-européia. 
 
 
 
Por fim, o contato com o sânscrito é considerado um momento importante na 
história dos estudos linguísticos pela humanidade, pois foi a partir dele que chegaram 
à ideia de língua-mãe. A hipótese principal, percorrida pelos estudiosos, era a de que 
as línguas europeias eram a transformação natural dessa língua-mãe, o sânscrito, que 
representava um modelo bem próximo dessa “origem”. Foi desse modelo próximo da 
língua-mãe que boa parte das línguas ocidentais modernas foram derivadas. 
 
 
 
https://bit.ly/3GUwvK0
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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FIXANDO O CONTEÚDO 
1. Observe a imagem: 
 
Fonte: Vydia Mandir 
 
Com base nos seus conhecimentos sobre os primeiros estudos linguísticos pela 
humanidade, é correto relacionar a imagem com: 
 
a) A Gramática de Panini e a língua indo-europeia, pois foram responsáveis por 
propagar os textos religiosos hindus e os sutras por toda a Europa. 
b) O contato com o sânscrito feito pelos povos europeus que tentaram reconstruir a 
língua-mãe, chegando até o indo-europeu a partir dos estudos histórico-
comparativistas da Gramática de Panini. 
c) Os estudos de textos religiosos pelo povo hindu, que culminou nos estudos da 
Antiguidade Clássica a partir da Gramática de Panini. 
d) A Gramática de Panini, que descreveu os processos que ocorriam no sânscrito, 
uma língua antiga indiana que, tempos depois, foi um ponto de partida para os 
estudos histórico-comparativistas quando chegaram em solo europeu.e) O contato entre as línguas indo-europeias e a Gramática de Panini, que é uma 
compilação dos conhecimentos difundidos desde a Antiguidade Clássica na 
língua indiana antiga, o sânscrito. 
 
2. Considere as seguintes afirmativas sobre os estudos da linguagem na Grécia 
Antiga: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
 
I. Havia a preocupação em explicar a relação entre o conceito e a palavra utilizada 
para designá-lo. Uma questão importante era: havia alguma relação entre a 
palavra e seu significado? 
II. Ocorreu um embate entre Naturalistas e Convencionalistas, que discutiam se o 
processo da língua era algo “normal” ou obedecia a determinadas “convenções” 
estabelecidas pela sociedade. 
III. Platão e Aristóteles são dois pensadores que exemplificam os estudos 
paralinguísticos, tratando da linguagem a partir de uma análise filosófica. 
IV. Não houve discussões sobre os processos de funcionamento das línguas. 
 
Estão corretas somente as afirmativas: 
a) I, II e IV. 
b) I, II e III. 
c) I e III. 
d) I e II. 
e) I, III e IV. 
 
3. Das definições abaixo, qual melhor descreve as tendências analogistas e 
anomalistas, que perduraram nos estudos linguísticos desde a Grécia Antiga até a 
Idade Média? 
a) Anomalistas (convenção): a linguagem é considerada regular, justamente por 
refletir a própria regularidade da natureza, sua origem está em princípios mutáveis 
que existem fora do próprio homem. Analogistas (natureza): consideram a 
irregularidade básica da linguagem como resultado de um tipo de “contrato” 
entre os membros da comunidade 
b) Anomalistas (natureza): a linguagem é considerada irregular, justamente por 
refletir a própria irregularidade da natureza, sua origem está em princípios eternos 
e imutáveis fora do próprio homem. Analogistas (convenção): consideram a 
regularidade básica da linguagem como resultado de um tipo de contrato social 
entre os membros da comunidade. 
c) Anomalistas (natureza): a linguagem é considerada irregular pois sua origem está 
em princípios eternos e imutáveis de um contrato social. Analogistas (convenção): 
consideram também a irregularidade básica da linguagem, mas como resultado 
de um contrato social entre os membros de comunidades linguísticas diferentes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
 
d) Anomalistas (convenção): a linguagem é o reflexo dos princípios eternos e 
mutáveis do homem. Analogistas (natureza): a regularidade básica da linguagem 
é resultado de um tipo de contrato social entre os membros da comunidade e a 
natureza. 
e) Anomalistas (natureza):sua origem está em princípios imutáveis dentro do próprio 
homem. Analogistas (convenção): sua origem é a linguagem como resultado da 
mistura dos membros de uma mesma comunidade. 
 
4. Quais são os componentes básicos de uma gramática latina? 
a) A parte gramatical, com as normas linguísticas, as partes do discurso com suas 
variações de gênero, tempo, número etc. e a parte de estilo com os gêneros 
épico, lírico e romântico aplicados ao ensino de línguas. 
b) A parte gramatical, dedicada ao uso correto das palavras nos textos literários, as 
partes do discurso, que não admitia o uso incorreto dos gêneros literários e o estilo, 
relacionado aos poetas e às formas literárias. 
c) A parte gramatical, que trata das variações de gêneros literários, as partes do 
discurso, que trata do falar bem e compreender os poetas gregos, e aparte de 
estilo com variações de gênero, tempo e número. 
d) A parte gramatical, que se dedica a falar e compreender bem os poetas, as partes 
do discurso com suas variações de gênero, tempo, número etc. e a parte de estilo 
com indicações de precaução contra erros e empregos incorretos de palavras. 
e) A parte gramatical, dedicada ao uso correto dos gêneros, as partes do discurso, 
que não admitia o uso incorreto das palavras e o estilo, relacionado aos poetas e 
seus textos literários. 
 
5. “Desenvolveu-se também intensamente a abordagem ______________ à medida 
que os ________________ ganharam terreno. Sob as influências dos ensinamentos de 
_____________, a gramática era vista como ‘auxiliar da lógica’” (CAMARA JR., 
Joaquim Mattoso. História da linguística. 7 ed. Petrópolis: Vozes, 2011. p. 31). 
 
Dentre as alternativas abaixo, qual melhor preenche as lacunas sobre as 
influências gramaticais nos estudos linguísticos da Idade Média? 
a) Lógica / Escolásticos / Platão. 
b) Filosófica / Estoicos / Platão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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c) Filosófica / Escolásticos / Aristóteles. 
d) Etimológica / Gramáticos / Aristóteles. 
e) Lógica / Gramáticos / Protágoras. 
 
6. (UEL - Adaptado)O Renascimento, amplo movimento artístico, literário e científico, 
expandiu-se da Itália por quase toda a Europa, provocando transformações na 
sociedade. Sobre o tema, é correto afirmar que: 
a) O racionalismo renascentista reforçou o princípio da autoridade da ciência 
teológica e da tradição medieval, resultando na publicação da Gramática de 
Port-Royal. 
b) Houve o resgate, pelos intelectuais renascentistas, dos ideais medievais ligados ao 
uso da língua como fonte de inspiração divina, por isso buscavam fazer um bom 
uso, para fins de evangelização. 
c) Nesse período, reafirmou-se a ideia de homem cristão, que reforçou os sentimentos 
de identidade nacional e cultural ao entrarem em conflito com as ideias 
gramaticais da Grécia e Roma antigas 
d) O humanismo pregou a determinação das ações humanas pelo divino e negou 
que o homem tivesse a capacidade de agir sobre o mundo, transformando-o de 
acordo com sua vontade e interesse, o que está relacionado aos estudos 
linguísticos anomalistas e analogistas dos séculos anteriores. 
e) Os estudiosos do período buscaram apoio no método experimental e na reflexão 
racional, valorizando a natureza e o ser humano. Resultado disso é a Gramática 
de Port-Royal, que pensava em um conjunto de processos mentais e universais. 
 
7. Quais foram as duas abordagens linguísticas mais expressivas no início do período 
renascentista? 
a) A abordagem “particular”, com ênfase nos fenômenos físicos que diferenciam as 
línguas, e a abordagem “universal” que, concentra-se nos princípios subjacentes 
à linguagem, com preceitos filosóficos e lógicos. 
b) A abordagem “anomalista”, com ênfase nos fenômenos físicos ligados à natureza, 
e a abordagem “universal”, ligada às expressões gramaticais que existem em 
todas as línguas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
 
c) A abordagem “particular”, com ênfase nos fenômenos gramaticais que 
diferenciam as línguas, e a abordagem “universal” que, concentra-se nos 
preceitos filosóficos e lógicos. 
d) A abordagem “universal”, com ênfase nos fenômenos físicos ligados à natureza, e 
a abordagem “anomalista”, ligada às expressões gramaticais que existem em 
todas as línguas. 
e) A abordagem “anomalista”, com ênfase nos fenômenos universais que 
diferenciam as gramáticas, e a abordagem “universal” que, concentra-se nos 
princípios particulares à linguagem, com preceitos filosóficos e lógicos. 
 
8. Sobre o contato europeu com o sânscrito, é incorreto o que se afirma em: 
a) Por se tratar de uma língua antiga, a sua importância para os estudos linguísticos 
advém dos hinos védicos, que são considerados até mais antigos do que os 
primeiros textos gregos. 
b) O sânscrito permitiu inaugurar uma escola linguística europeia a partir dos estudos 
sobre a Gramática de Panini no século V a.C. 
c) Considera-se o contato com o sânscrito um grande marco para os estudos 
linguísticos, principalmente no campo das pesquisas de cunho histórico 
comparativista. 
d) Graças ao sânscrito, os estudos comparativos entre uma língua e outra teve início 
na Europa. 
e) Estudiosos europeus tiveram contato com o sânscrito e com a cultura indiana e 
puderam perceber que essa língua possui graus de parentesco com o latim, o 
grego, o germânico e o persa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
 
OS ESTUDOSHISTÓRICO-
COMPARATIVOS NO SÉCULO XIX 
 
 
 
3.1 INTRODUÇÃO 
Dentre diferentes momentos importantes para a constituição da Linguística 
enquanto uma área consolidada, destacam-se o dos estudos histórico-comparativos, 
no século XIX. Definido como o estudo da história das línguas, ou seja, o estudo ao 
longo do tempo (de maneira diacrônica, isto é, através do tempo), esse é o momento 
em que diferentes línguas (como o francês, alemão, inglês etc.) são comparadas 
com o objetivo de ver as relações de parentesco que podem ter umas com as outras. 
Sendo assim, famílias linguísticas podem ser identificadas entre as diferentes línguas 
existentes no mundo. 
Uma família linguística é, portanto, um grupo de línguas que possuem o mesmo 
ancestral comum que, na área, é chamado de protolíngua. Diante disso, a hipótese 
genealógica é assumida pelos estudos histórico-comparativos de que línguas podem 
ser classificadas em famílias e consideradas como organismos vivos, isto é, com 
possibilidade de mudança ao longo do tempo. Como hipótese principal desses 
estudiosos, estava o de que, ao longo do tempo, essas línguas passavam por 
mudanças, de progressos ou retrocessos. 
 
 
 
Segundo os estudiosos da gramática comparada, esses princípios estão 
presentes em todas as línguas. Para eles, a linguagem é regida por princípios gerais e 
racionais, de modo que as diferentes línguas são tratadas como casos particulares, 
isto é, formas específicas de uso desses princípios que se aplicam a todas as outras. 
O estudo de cunho comparativo situa-se na base da formação da linguística 
UNIDADE 
03 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
 
moderna com o estudo das línguas indo-europeias e propunha a “gramática 
comparada”, que visava à reconstituição da “língua-mãe”. 
Orlandi (2009, p. 11) pontua que no início dos estudos, antes das investigações 
de cunho histórico-comparativista, a ênfase estava no racionalismo: “os pensadores 
da época concentram-se em estudar a linguagem enquanto representação do 
pensamento e procuram mostrar que as línguas obedecem a princípios racionais, 
lógicos”. Esse estudo lógico da linguagem buscou estabelecer a relação do 
pensamento com a linguagem, utilizando a filosofia e a linguística para tal finalidade. 
Já em um segundo momento, no século XIX, Orlandi (2009) diz que o ideal 
universal não possui a mesma credibilidade e validade dos séculos anteriores. O foco 
dos estudos se volta para o fato da linguagem se transformar com o passar do tempo. 
O que é preciso e exato não importa como antes e cede o lugar para que a 
mudança seja o principal aspecto nesses novos estudos. Como dito pela autora, nos 
estudos históricos “[...] se procura mostrar que a mudança das línguas não depende 
da vontade dos homens, mas segue uma necessidade da própria língua, e tem uma 
regularidade, isto é, não se faz de qualquer jeito” (ORLANDI, 2009, p. 13). 
Adiante, são apresentados o surgimento desses estudos histórico-
comparativos, bem como os pressupostos teóricos e os principais autores desse 
movimento. Como pontuado anteriormente, tais estudos possuem relevância para a 
constituição da área da Linguística enquanto ciência. Deste modo, é importante 
olhar para esses momentos históricos dos estudos da linguagem como uma 
continuidade, não como uma ruptura entre um momento e outro. 
 
3.2 BREVE HISTÓRICO E PRINCIPAIS ESTUDIOSOS 
O século XIX, na Europa, foi o cenário de desenvolvimento dos estudos 
histórico-comparativos. Em partes, pois havia um forte interesse pelas antigas línguas 
faladas no continente europeu, principalmente na Alemanha e pelas línguas 
germânicas. Neste primeiro momento do século XIX, o caráter “informal” desses 
estudos era evidente, de modo que a partir da segunda metade do século, foi-se 
abrindo espaço para desenvolvimentos teórico-metodológicos. Deste modo, os 
estudos linguísticos histórico-comparativos ganharam uma maior formalidade e se 
tornaram mais maduros e científicos pelo continente. Assim, os estudos da época 
foram se aperfeiçoando de maneira progressiva, com cada nova contribuição sendo 
de total importância para o devido reconhecimento da área de estudos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
 
 A primeira notícia que se tem sobre o surgimento dos estudos histórico-
comparativos é do final do século XVIII pela identificação das semelhanças lexicais 
entre o sânscrito e algumas línguas europeias, o que já havia sido observado e 
descrito, inclusive, por um italiano chamado Filippo Sassetti, no século XVI, ao 
comparar o sânscrito e o italiano. Pouco antes disso, um jesuíta inglês chamado 
Thomas Stephens, em 1583, escreveu sobre a existência de semelhanças entre o 
côncani, o grego e o latim. Em 1768, Gaston Coeurdoux, um jesuíta francês, também 
apresentou seus estudos comparativos sobre o sânscrito, o grego e o latim, 
apontando que as semelhanças derivavam de uma origem comum. 
Considera-se que William Jones, um estudioso de origem inglesa, foi o 
responsável por apontar as semelhanças entre o grego, o latim, o persa e o sânscrito 
e, assim, dar início aos estudos histórico-comparativos pelo continente, de maneira 
oficializada, no ano de 1786. Ele reconheceu a existência de uma relação 
(parentesco) entre essas línguas, de maneira que fez um estudo descritivo sobre, não 
evoluindo tal descrição para um sistema comparativo que explicasse as semelhanças 
e diferenças entre as línguas descritas. O seu objetivo não era abordar a questão da 
proximidade entre essas línguas, mas de demonstrar a antiguidade dos povos 
indianos, examinando as suas línguas, sua filosofia e religião, e, também suas artes, 
de modo que estendeu os estudos comparados também a estes outros aspectos da 
cultura desses povos. 
Após este apontamento de William Jones, um estudioso alemão, em 1808, 
chamado Friedrich von Schlegel, publicou a obra Über die Sprache und Weisheit der 
Indier (em português, “Sobre a linguagem e a sabedoria dos indianos”). Nela, o 
estudioso faz comparações sistemáticas e pontua critérios que auxiliam na 
classificação das e entre as línguas. Para ele, existem três tipos de línguas: (1) isolantes, 
sem flexões, (2) sintéticas, com flexões, e (3) aglutinantes, sequências de unidades 
presas. 
Seguindo essa distinção de Schlegel, as línguas isolantes são o chinês, o 
tailandês e o vietnamita, pois não possuem fragmentos menores, como as línguas 
sintéticas. Estas, por sua vez, apresentam diferentes morfemas e são possíveis de 
serem flexionada, como o português e as línguas de base indo-europeia. Já as línguas 
aglutinantes são como o japonês, o turco e o húngaro, pois utilizam na formação de 
palavras muitos morfemas aglutinados (unidos). 
Em 1816, um estudioso alemão chamado Franz Bopp publicou a obra Über das 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
43 
 
 
Conjugationssystem der Sanskritsprache in Vergleichung mit jener der griechischen, 
lateinischen, persischen, und germanischen Sprache (em português, “Sobre o sistema 
de conjugação da língua sânscrita em comparação com o das línguas grega, latina, 
persa e germânica”). Considerado o fundador da gramática comparada, nela, o 
autor conseguiu defender a hipótese de uma origem comum para as línguas, a partir 
de correspondências sistemáticas em sua estrutura gramatical, com análises 
baseadas em dados comparativos. 
Como apontado por Faraco: “Com isso, podemos [....] explicitar o parentesco 
entre línguas (isto é, dizer se uma língua pertence ou não a uma determinada família), 
[...] determinar, por inferência, características da língua ascendente comum de um 
certo conjunto de línguas. (2005, p. 134). Embora a visão ainda fosse considerada um 
pouco romântica e pouco científica, a contribuição de Bopp para os estudos 
comparativos é inegável e influenciou diversos outros trabalhos na área, direta ou 
indiretamente. 
 
 
 
Na sequência, em 1822, Jacob Grimm conduziu um trabalho de comparações 
sistemáticas de cognatosentre línguas indo-europeias na busca por 
correspondências fonéticas (sonoras). Com isso, a Primeira Lei de Grimm, publicada 
no mesmo ano, consistiu na observação de correspondências fonéticas entre 
aspectos de línguas germânicas com línguas indo-europeias. 
Um outro estudioso importante para o movimento histórico-comparativista, 
que tentou desemaranhar a natureza e o mecanismo da linguagem, é o alemão 
Wilhelm von Humboldt. Esse autor utilizou a classificação das línguas em isolantes, 
aglutinantes e flexionais em sua obra de 1836, Über die Verschiedenheit des 
menschlichen Sprachbaus und seinen Einfluss auf die geistige Entwicklung des Men-
https://bit.ly/3aAVC8Q
 
 
 
 
 
 
 
 
 
44 
 
 
schengeschlechts (em português, “Sobre a diversidade da estrutura da linguagem 
humana e sua influência sobre o desenvolvimento espiritual da humanidade”) para, 
dentre outras contribuições, identificar a linguagem humana como um sistema 
governado por regras e não um agrupamento de palavras e frases. 
Em seguida, o estudioso August von Schleicher publica, em 1861, a obra 
Compendium der vergleichenden Grammatik der indogermanischen Sprachen (em 
português, “Um compêndio da gramática comparativa das línguas indo-européias, 
sânscritas, gregas e latinas”). Nela, são apontadas as características comuns das 
línguas com a tentativa de reconstruir a língua original proto-indo-europeia. Sua 
hipótese era a de que a linguagem é um organismo vivo e, por isso, passa por 
períodos de desenvolvimento, maturidade e declínio. 
Para tanto, ele desenvolveu um sistema de classificação de linguagem 
próximo à taxonomia botânica, em que traçou grupos de línguas relacionadas e fez 
a organização em uma árvore genealógica. Seu modelo ficou conhecido como 
ostammbautheorie (em português, “teoria da árvore genealógica) e se transformou 
em uma grande contribuição para os estudos em linguística histórica. Segundo o 
modelo, há uma língua antepassada que, ao se modificar, gerou diversas 
ramificações. 
O autor teve influência dos estudos desenvolvidos na área das ciências 
biológicas, de modo que aproveitou e utilizou nos estudos linguísticos o que 
metodologicamente aparecia em pesquisas das ciências naturais, por isso, inclusive, 
alguns nomes são “emprestados” da biologia. Com isso, ele foi o responsável por 
aplicar o modelo da árvore filogenética (utilizada na biologia) para representar 
famílias linguísticas. 
Em 1870, a Lei das Palatais (creditada a diversos autores que observaram tal 
descoberta ao mesmo tempo) é um avanço importante em termos metodológicos 
para a área, pois colocou fim ao mito de que o sânscrito era uma língua perfeita, o 
que ajudava a solidificar alguns preconceitos, como o proferido no discurso de 
William Jones, em 1816. Com a maior ampliação dos objetivos da análise 
comparativa, foi possível estabelecer correspondência entre o grego e o latim e o 
sânscrito. Uma outra lei importante neste cenário de estudos linguísticos comparativo-
históricos é a Lei de Verner, também de 1870. Nela, o estudioso dinamarquês Karl 
Verner, a partir da Lei de Grimm, conseguiu explicar algumas exceções apontadas 
pela Grimm e, assim, ampliou a comparação entre as línguas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
 
 
Como é de se observar, desde o início do século XIX até o seu fim, diversos 
estudos e descobertas aconteceram, o que ajudou no amadurecimento da área e 
na consolidação do método histórico-comparativo, que veremos adiante. Por fim, 
segundo Bossaglia (2019, p. 95)., “com os Neogramáticos, ao final do século XIX, a 
linguística histórico-comparada já pode ser considerada uma disciplina teórica e 
metodologicamente madura” Aqui, observa-se como uma tendência de estudos 
está diretamente relacionada à outra, seja para dialogar de maneira harmônica ou 
tensa. Mas é inegável as influências que ocorrem entre um grupo de estudiosos e 
outros, de modo que cada nova descoberta é uma contribuição que ajuda a 
consolidar os conceitos e métodos de uma disciplina/área de estudos. 
 
3.3 O MÉTODO HISTÓRICO-COMPARATIVO 
Falar da estrutura de uma família linguística é pensar em uma representação 
que se dá no formato de uma árvore genealógica. Como já visto, o modelo foi 
proposto por August Scleicher no século XIX. Em uma árvore genealógica, como a 
da figura abaixo, cada nó (círculo) representa uma língua conforme explica 
Bossaglia (2019, p. 72). Logo, 25 línguas são identificadas como provenientes de uma 
mesma protolíngua, que no caso é P, a língua mais antiga: 
 
Figura 2: Exemplo de árvore filogenética de família linguística 
 
Fonte: Bossaglia (2019, p. 71) 
 
 No caso dessa árvore genealógica, também chamada de filogenética, 
identifica-se P como a língua mais antiga e as línguas de 01 a 15 como as mais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
46 
 
 
recentes, pois estão mais distantes da língua representada pelo nó P. Os nós A, B e C 
também são protolínguas de cada grupo de língua que se ramifica a partir delas. 
Com isso, A, B e C são irmãs, ao mesmo tempo em que também são mães de cada 
uma das línguas derivadas delas (no caso, A é mãe das línguas a1, a2 e a3; B é mãe 
das línguas b1 e b2; c é mãe das línguas c1 e c2), como aponta Bossaglia (2019). 
Essa relação genética entre as línguas é importante, uma vez que, a partir 
dela, pode-se observar melhor o funcionamento do método histórico-comparativo. 
Há dois pressupostos que fundamentam esse momento dos estudos, segundo 
Bossaglia (2019): (1) a concepção de que as línguas que são diferentes se originam a 
partir de um processo de crescente diversificação tendo como ponto de partida uma 
mesma língua ancestral; (2) a ideia de que essa crescente progressão das línguas 
corresponde a uma progressiva perda do léxico compartilhado entre as línguas. 
Ainda segundo a autora, “[...] quanto maior for a distância genética entre 
duas ou mais línguas, menor será a quantidade de itens lexicais cognatos” 
(BOSSAGLIA, 2019, p. 73). Os cognatos são, palavras que nasceram juntas a partir de 
uma mesma palavra-mãe na língua ancestral (como é o caso da língua 
representada no nó P na imagem anterior). A respeito disso, Bossaglia diz que 
 
Os cognatos, portanto, são as únicas provas de existência de relação 
genética entre línguas diferentes. Sem conseguir identificar cognatos 
entre as línguas comparadas, não é possível afirmar que entre elas 
exista relação genética, pois faltariam provas (BOSSAGLIA, 2019, p. 73 
– destaque da autora). 
 
Com isso, o objetivo da metodologia histórico-comparativa é comprovar que 
há uma relação genética entre as línguas analisadas, de modo que o linguista as 
seleciona por já haver observado um grau de semelhanças lexicais entre elas. Deste 
modo, há 4 passos importantes para que o método seja devidamente aplicado, de 
acordo com Bossaglia (2019): (1) seleção de conjunto de cognatos nas línguas a 
serem analisadas; (2) identificação das correspondências fonéticas (sonoras) dentro 
de cada conjunto; (3) reconstrução de protofonemas (fonemas da protolíngua); (4) 
reconstrução do léxico da protolíngua. 
Com o método histórico-comparativo, é possível chegar em desvios e, 
também, em correspondências entre as línguas comparadas, e são justamente essas 
correspondências que permitem reconstruir vários aspectos linguísticos da 
protolíngua (língua-mãe). Assim, o linguista que se aventura por esse caminho 
percorre o caminho do “fim” ao “início”, com o intuito de chegar até o estado inicial, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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para observar os léxicos daquela língua-mãe. Só assim ele consegue comprovar a 
relação de parentesco entre as línguas, pois neste momento da história, já é aceitável 
a ideia de que as línguas evoluem e mudam com o passar do tempo. 
 
De acordo com Schleicher, de fato, as línguas deviam ser 
consideradas como organismos que evoluem de acordo com 
determinadas leis, passando por diferentes fases/estágios,

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