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2 
O PROPÓSITO PRINCIPAL DA HUMANIDADE 
 
 
 
A primeira pergunta do Breve Catecismo de Westminster é: Qual é o fim 
principal do homem? A resposta diz: o fim principal do homem é glorificar a Deus, e 
gozá-lo para sempre. Esse é o principal propósito da humanidade. Foi para isso que 
Deus nos criou. Entretanto, em Gênesis 3 lemos que Eva e Adão foram seduzidos pela 
Serpente e desobedeceram a Palavra de Deus. O pecado de Adão e Eva no Jardim do 
Éden é chamado de Queda. Essa Queda não foi um mero tropeção. Deus havia dito: 
“Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em 
que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2:17). O resultado do pecado seria a morte. 
Mas como podemos entender essa morte já que Adão não morreu no dia em que comeu 
da árvore do conhecimento do bem e do mal? O pecado trouxe uma morte gradativa para 
a humanidade. A morte imediata não foi uma morte física, mas sim espiritual. A morte 
espiritual significa a separação entre Deus e o homem, visto que Deus é nossa fonte de 
vida. Morte espiritual é ser escravo do pecado e, consequentemente, ser filho da ira. 
Para que o homem não perpetuasse sua miséria no pecado, ele foi expulso do Éden, pois 
assim ele não comeria da árvore da vida. Isso acarretaria o segundo tipo de morte: a 
morte física. Dessa forma, entendemos que no mesmo dia que Adão pecou ele morreu 
espiritualmente, pois agora ele buscava um esconderijo longe de Deus. Todavia, sua 
morte física não foi no mesmo dia, mas alguns anos depois de seu pecado: “E foram 
todos os dias que Adão viveu, novecentos e trinta anos, e morreu” (Gn 5:5). Caso o 
homem seja deixado em seu curso de rebelião, sem possibilidade de salvação, seu 
destino é a morte final, chamada de segunda morte: a morte eterna. Em resumo, o 
pecado no Éden introduziu a morte no mundo. Essa morte pode ser entendida de três 
formas, sendo: 1) morte espiritual; 2) morte física; 3) morte eterna. Iremos explorar 
mais detalhadamente as consequências da morte espiritual. 
A morte espiritual afeta toda humanidade. Desde o ventre materno, o pecado já 
está presente no infante. Percebendo isso, Davi escreveu: “Eis que em iniquidade fui 
formado, e em pecado me concebeu minha mãe” (Salmos 51:5). Também lemos no 
livro de Jó 14:4: “Quem do imundo tirará o puro? Ninguém”. Adão representou cada 
ser humano no Éden, de modo que o pecado dele nos afeta a todos. Paulo escreveu 
acerca disso à Igreja em Roma: “Porque, como pela desobediência de um só homem, 
https://www.bibliaonline.com.br/acf/gn/2/17
https://www.bibliaonline.com.br/acf/gn/5/5
https://www.bibliaonline.com.br/acf/sl/51/5
3 
muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos 
justos” (Rm 5:19). A ofensa de Adão recai sobre todos, de sorte que toda humanidade 
está espiritualmente morta. Novamente, podemos ler: “Porque, assim como todos 
morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo” (1 Co 15:22). 
Observe que “todos” morrem em Adão. A morte espiritual afeta cada ser humano. 
Muitos outros textos das Escrituras poderiam ser citados para demonstrar a 
universalidade da morte espiritual, mas cremos que esses estabelecem o ponto 
defendido. Sendo assim, passamos a tratar mais especificamente da natureza dessa 
morte. 
Conforme vimos, a morte espiritual afeta toda a raça humana. Essa morte 
espiritual pode ser melhor descrita como o ato de rebelião no qual o homem tenta 
destronar Deus e entronizar a si mesmo. O estado pecaminoso do homem é 
caracterizado pela Vida-Centrada- em-Si. Isso desvirtua o propósito da Criação, pois 
antes da Queda nosso estado era caracterizado pela Vida-Centrada-em-Deus. 
A Vida-Centrada-em-Si recebe seu impulso básico do orgulho. Enquanto o 
orgulho reina em nosso coração, queremos ser senhores cercados de servos. Tudo e 
todos devem nos servir, inclusive Deus. É aqui que nasce a diferença entre a religião 
bíblica e não bíblica. A religião não bíblica deve satisfazer o impulso básico da Vida-
Centrada-em-Si. Qualquer religião contrária a esse impulso básico é odiada pelo homem 
natural: “As pessoas que não têm o Espírito não aceitam as verdades que vêm do 
Espírito de Deus, pois lhes parecem absurdas; e não são capazes de compreendê-las, 
porquanto elas são discernidas espiritualmente” (1Co 2:14). Uma religião nos moldes 
descritos acima é a religião das obras. 
A religião das obras não ofende o ego do homem caído. O que essa religião 
ensina, basicamente, é que o homem é basicamente bom e capaz de fazer o bem. Mesmo 
quando a religião das obras reconhece que o homem não é bom por natureza, ela 
minimiza o impacto da Queda afirmando a capacidade que o homem tem de escolher o 
bem. Esse era o esquema religioso que prevalecia no catolicismo romano. Apesar de 
afirmar o pecado original, o romanismo negava seus efeitos sobre a vontade e sobre o 
intelecto humano. O pecado, de acordo com o romanismo, não retira do homem a 
capacidade de praticar obras de caridade quando o homem é impulsionado pela graça 
infusa. Veremos adiante como tal esquema ofusca a glória de Deus. 
https://www.bibliaonline.com.br/acf/1co/15/22
4 
CALVINO E SADOLETO 
Talvez nenhum reformador tenha conseguido enfatizar mais a glória de Deus 
em todos os aspectos da vida do que João Calvino. Nascido em Noyon, na França, em 
10 de julho de 1509, Calvino era católico romano, mas veio a se tornar mais tarde um 
dos principais nome da Reforma Protestante. O clima religioso e político na Europa 
estava fervilhando. Alguns cartazes foram espalhados pelas cidades criticando a missa e 
Calvino, devido a perseguições, se viu obrigado a abandonar sua cidade natal. Por volta 
de 1536 Calvino planejava ir para Estrasburgo, mas para evitar a guerra entre as forças 
de Francisco I e Carlos V, houve um desvio na rota e ele teve que passar por Genebra. A 
cidade suíça carecia de trabalhadores para implementar a reforma. Calvino, que 
pretendia achar um lugar calmo para estudar, foi logo confrontado por Guilherme Farel. 
Farel pediu que Calvino ajudasse a causa da reforma na cidade genebrina, mas Calvino 
titubeou. Farel então disse: “Deus amaldiçoe teu descanso e a tranquilidade que buscas 
para estudar, se diante de uma necessidade tão grande te retiras e te negas a prestar 
socorro e ajuda”. Diante de tal maldição, Calvino foi convencido a ficar em Genebra, 
até ser expulso em 1538. Com a expulsão do reformador, um cardeal católico, chamado 
Jacopo Sadoleto, escreveu uma carta aos genebrinos para que eles voltassem para a 
Igreja Católica Romana. Nessa carta, Sadoleto ataca o movimento da Reforma. A 
resposta a Sadoleto veio da pena de João Calvino. Publicada no Brasil pelo Projeto 
Castelo Forte, essa carta de João Calvino a Sadoleto teve uma breve apresentação 
escrita pelo pastor batista e calvinista John Piper. Piper resume o teor da resposta escrita 
por Calvino: 
A resposta de Calvino a Sadoleto é importante, pois revela a raiz da disputa 
de Calvino com Roma, que definiria toda a sua vida. O assunto prioritário 
não era algum dos pontos característicos e bem conhecidos da Reforma: 
justificação, abuso sacerdotal, transubstanciação, oração aos santos e 
autoridade papal; todos esses itens eram discutidos em seus devidos lugares. 
Mas, sob todos estes, o assunto fundamental para João Calvino, desde o 
começo até o fim da sua vida, era a centralidade, a supremacia e a majestade 
da glória de Deus.
1
 
Nessa carta Calvino demonstra que as acusações de Sadoleto não são baseadas 
na realidade. Sadoleto acusou os reformadores de promoverem sua causa baseados em 
torpe ganância. Calvino, todavia, mostra como ele e os demais reformadores apontavam 
 
1 CALVINO, J. Uma Defesa da Reforma: de Calvino ao Cardeal Sadoleto: Projeto Castelo Forte, 2017, 
disponível em: http://projetocasteloforte.com.br/de-calvino-ao-cardeal-sadoleto-uma-defesa-da-reforma/. 
http://projetocasteloforte.com.br/de-calvino-ao-cardeal-sadoleto-uma-defesa-da-reforma/
http://projetocasteloforte.com.br/de-calvino-ao-cardeal-sadoleto-uma-defesa-da-reforma/
5 
como o papa e os demais líderes da igreja católica é que exploravam a fé do povo para 
viverem de forma luxuosa. E denunciando isso os reformadores não poderiam almejar 
gozar da mesma vida de ostentação. Além disso, Sadoleto gasta algumas páginas 
meditando acerca da vida eterna. E aqui é que fica mais claro que a visão do reformador 
de Genebra era muito superior à do Cardeal de Roma. Enquanto tece comentários sobre 
a vida eterna, Sadoleto se concentra naquilo que o homem poderá obter. Calvino, 
todavia, aponta que o alvo da vida eterna é muito maior do que a bem-aventurança do 
homem. O alvo da vida eterna é a glória de Deus! Ele escreve a Sadoleto: “entretanto, 
não creio seja próprio de um autêntico teólogo procurar que o homem volte-se para si 
mesmo, em vez de mostrar-lhe e ensiná-lo que o começo da boa reforma em sua vida 
consiste em enfatizar a glória do Senhor, já que nascemos, principalmente, para Deus e 
não para nós mesmos”.
2
 
Dessa forma, o propósito principal da humanidade é buscar a glória de Deus. O 
trabalho, a educação, a arte, o casamento, a política, enfim, tudo deve servir a esse 
propósito maior que é santificar o nome de Deus. E isso é mais enfatizado ainda no que 
diz respeito à salvação. O homem não é salvo em virtude dele mesmo. Deus não nos 
chamou das trevas para luz porque viu em nós algo digno ou especial. Quando Deus 
olha para nós o que Ele vê é toda sujeira e corrupção do pecado. Quando Ele sonda 
nossos caminhos Ele vê toda espécie de imundície e malignidade que habita em nosso 
coração: “O Senhor olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia 
algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos e juntamente se 
fizeram imundos: não há quem faça o bem, não há sequer um” (Sl 14:2,3). Não há nada 
em nossa vida que não seja misturado com o veneno do pecado. Então mesmo nossas 
boas obras são ofensivas aos olhos de Deus: “Mas todos nós somos como o imundo, e 
todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, 
e as nossas iniquidades como um vento nos arrebatam” (Is 64:6). Assim, o homem não é 
salvo por causa dele mesmo, mas apesar dele. Em outras palavras, Deus nos salva em 
virtude da Sua glória! É por isso que somos salvos, para que o nome do Senhor seja 
glorificado. 
 
2
 CALVINO, J. Uma Defesa da Reforma: de Calvino ao Cardeal Sadoleto. Projeto Castelo 
Forte, 2017, disponível em: http://projetocasteloforte.com.br/de-calvino-ao-cardeal-
sadoleto-uma-defesa-da-reforma/ . 
 
https://www.bibliaonline.com.br/acf/sl/14/2%2C3
https://www.bibliaonline.com.br/acf/is/64/6
http://projetocasteloforte.com.br/de-calvino-ao-cardeal-sadoleto-uma-defesa-da-reforma/
http://projetocasteloforte.com.br/de-calvino-ao-cardeal-sadoleto-uma-defesa-da-reforma/
6 
QUATRO SOLAS E A GLÓRIA DE DEUS 
A humanidade caída carece da glória de Deus. Não há qualquer esperança em 
suas boas obras, em suas boas intenções e em sentimentos bondosos. Com toda a justiça 
que o homem conquistar com sua própria força ele permanecerá condenado diante do 
Tribunal de Deus. Ele pode ter gastado todas as energias de sua vida para fazer o bem, 
mas o estado de tal homem, sem Cristo, é como o estado daquele que gastou todas as 
energias de sua vida para fazer o mal. Ambos permanecem com a sentença de 
condenação. 
Existe alguma solução para o problema do homem? Se sim, onde encontrar a 
resposta? Então os reformadores ensinaram que somente a Escritura pode conduzir a 
mente do homem ao conhecimento da verdade. Somente a Escritura possui autoridade 
para direcionar os passos do homem. O grito de guerra da Reforma, quanto ao depósito 
da fé e da verdade, foi “Sola Scriptura”. A Escritura aponta a solução. Ela diz que o 
homem pecador só tem uma única esperança: Cristo! Somente Cristo é suficiente para a 
salvação completa do homem. A obra de Cristo é totalmente eficaz, de tal modo que o 
homem não deve acrescentar nada ao sacrifício de Cristo. A salvação não é a soma de 
Cristo mais boas obras, Cristo mais jejuns, Cristo mais ofertas e dízimos. Somente a 
obra de Cristo é suficiente para nos salvar completamente! O Seu Nome é poderoso e 
todo aquele que invocar o Nome do Senhor será salvo. Portanto, o grito de guerra da 
Reforma foi: “Solus Christus”. 
Mas como o homem pode receber os benefícios da obra de Cristo? O que ele 
precisa fazer? Subir a escadaria de joelhos? Passar madrugadas frias no monte? 
Comprar o passaporte para o céu? Como se apropriar da justiça de Cristo? A única coisa 
necessária é crer! Somente pela fé o homem é justificado. Isso parece bom demais para 
ser verdade? Pois os reformadores diriam: é bom demais e é verdade! E então os 
reformadores bradaram: “Sola Fide”. 
Em nenhum momento os méritos do homem são considerados. Os méritos do 
homem só apontam para uma recompensa: condenação eterna! É somente o inferno que 
o homem pecador, destituído da glória de Deus, merece. No entanto, mesmo merecendo 
o inferno, Deus envia o Seu Filho para resgatar a humanidade caída. A salvação não é 
proveniente dos méritos do homem, mas é somente pela graça! Assim, o grito de guerra 
da Reforma foi: “Sola Gratia”. 
7 
Esse caminho imerecido para a salvação, pavimentado pela graça de Deus, 
redunda em glória ao Nome do Senhor! Em Efésios 1 Paulo fala que Deus no escolheu 
antes da fundação do mundo. Antes que houvéssemos nascido, o amor de Deus já 
repousava sobre nós. Nesse amor eterno, Deus nos predestinou para sermos filhos 
adotados em Sua família. E por que Deus amou e escolheu pessoas pecadoras como 
nós? Paulo responde: “Para louvor da glória de sua graça, pela qual nos fez 
agradáveis a si no Amado” (Ef 1:6). Deus planejou desde a eternidade a salvação 
para o “louvor da glória da sua graça”! É a glória de Deus o alvo final. 
 
GLÓRIA INTRÍNSECA E GLÓRIA ATRIBUÍDA 
 
O Ser de Deus é glorioso. As Escrituras nos permitem antever o Ser de Deus 
em seus atributos. Sua justiça, sua bondade, sua santidade, onipotência, onipresença, 
onisciência, enfim, todos esses atributos apontam para um Deus perfeito, sem mancha, 
sem mácula. Desde a eternidade, quando não havia nenhuma criatura, anjos, Deus é 
glorioso. A essa glória chamamos glória intrínseca. É em razão dessa glória intrínseca 
que toda a criação deve glórias ao Senhor. Não deveríamos glorificar um deus 
imperfeito. Um deus que não é santo não é digno de glória. Mas nosso Deus é perfeito e, 
por isso, digno de toda honra e de toda glória. A glória que nós e o restante da criação 
damos a Deus chamamos glória atribuída. Quando atribuímos glórias a Deus não 
estamos lhe dando algo que não lhe pertence. Antes, estamos reconhecendo que Seu Ser 
é glorioso. 
Assim, devemos dar glórias a Deus por aquilo que Ele é e por aquilo que Ele 
faz. Tudo que Deus faz está de acordo com Sua sabedoria, justiça e santidade. Portanto, 
é plenamente justo que Deus escolha aqueles a quem quer salvar, como também é 
plenamente justo que Ele rejeite aqueles que não são suas ovelhas. A salvação, disse o 
profeta, pertence ao Senhor (Jn 2:9). O Oleiro tem direito de moldar o barro de acordo 
com Sua vontade e tanto a salvação quanto a condenação redundarão em sua glória. 
Se colocássemos todas as coisas do universo criado (anjos, família, dinheiro, 
amigos, planetas, animais, etc.) em uma balança que pesa a honra e do outro lado 
colocássemos o Deus trino, então o primeiro lado da balança seria considerado como 
nada. Mas o lado do nosso Senhor receberia seu tremendo peso de honra. 
https://www.bibliaonline.com.br/acf/ef/1/6
8 
Universo 
criado 
Deus trino 
 
 
 
De fato, a palavra hebraica traduzida por “glória” é kabod e o sentido dessa 
palavraé peso. No Novo Testamento, que foi escrito em grego, a palavra doxa carrega o 
mesmo sentido. É da palavra doxa que vem o termo doxologia, o qual expressa nosso 
louvor a Deus. A carta escrita por Judas, por exemplo, é encerrada com uma doxologia: 
“Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora, 
e para todo o sempre. Amém” (Jd versículo 25). O livro de Apocalipse é extremamente 
doxológico – isto é, Apocalipse está repleto de louvores a Deus. O peso do nosso Deus é 
tremendo. Ou seja, sua importância, sua honra é de grande peso. Em comparação ao 
nosso Deus, nada somos: “Todos os povos da terra são como nada diante dele. Ele age 
como bem lhe apraz com os exércitos dos anjos e com os habitantes da terra. Ninguém é 
capaz de se opor à sua vontade ou questioná-lo, dizendo: “Explica-te! Por que ages 
assim?” (Dn 4:35). O profeta Isaías registrou o peso das nações da terra: “Eis que as 
nações são consideradas por ele como a gota de um balde, e como o pó miúdo das 
balanças; eis que ele levanta as ilhas como a uma coisa pequeníssima” (Is 40:15). Nada 
somos, nada temos, exceto pela graça do Senhor! 
No Antigo Testamento a maneira de ofertar a Deus era baseada no contexto 
rural. Não havia o dinheiro real ou dólar. É por isso que Abel trouxe os primogênitos de 
suas ovelhas para ofertar a Deus. A oferta de Abel agradou o Senhor, pois foi uma oferta 
feita com fé (Hb 11:4) e sabemos que sem fé é impossível agradar a Deus. Agora é 
necessário entendermos que quando ofertamos não estamos dando algo ao Senhor. Não 
existe nada que não seja Dele. A oferta feita com fé reconhece que tudo o que possui foi 
recebido do Senhor. A saúde, o ar que respiramos, a terra em que vivemos. Tudo 
pertence a Ele. 
Porque meu é todo animal da selva, e o gado sobre milhares de montanhas. 
Conheço todas as aves dos montes; e minhas são todas as feras do campo. Se 
eu tivesse fome, não to diria, pois meu é o mundo e toda a sua plenitude. 
Comerei eu carne de touros? ou beberei sangue de bodes? Oferece a Deus 
sacrifício de louvor, e paga ao Altíssimo os teus votos (Salmos 50:10-14). 
https://www.bibliaonline.com.br/acf/is/40/15
https://www.bibliaonline.com.br/acf/sl/50/10-14
9 
 
 
Lemos nesse Salmo sobre “sacrifício de louvor”. Ou seja, nossa oferta não é 
algo que vai acrescentar ao patrimônio de Deus. Antes, é apenas uma forma de louvá-Lo 
com os bens que Ele mesmo nos deu. Quando ofertamos reconhecendo que tudo vem da 
mão do Senhor, até mesmo o mal, como na vida de Jó, nós louvamos a Deus e 
oferecemos uma oferta de fé. Portanto, tudo em nossa vida deve ser para a glória e para 
o louvor do Senhor. 
A criação, também a sua maneira, tributa honra ao Senhor: “Os céus declaram 
a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos” (Sl 19:1). O suco de 
laranja ou de maracujá que tomamos; a pizza que comemos; o churrasco, o arroz com 
gordura de porco, tudo isso é para a glória de Deus: “Portanto, quer comais quer bebais, 
ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” (1 Co 10:31). Paulo 
escreve acerca de alguns líderes que estavam ordenando a abstinência de alimentos. 
Então Paulo explica com que propósito Deus criou os alimentos: “São líderes que 
proíbem o casamento e ordenam a abstinência de alimentos que Deus criou para serem 
recebidos com ações de graças pelos que são fiéis e estão bem firmados na verdade. Pois 
tudo o que Deus criou é bom, e, nada deve ser rejeitado, se puder ser recebido com 
ações de graças” (1Tm 4:3-4). 
Em 2018 teremos novas eleições. Não devemos votar em nosso candidato 
favorito. Não devemos votar no candidato favorito de nossos parentes, amigos, a menos 
que nosso candidato favorito ou o candidato favorito de nosso parente ou amigo tenha 
sido escolhido com base glória de Deus. Essa será uma escolha difícil. Mas por isso 
devemos estar bem informados sobre o partido dos nossos candidatos, a intenção de sua 
campanha e entender aquilo que a Bíblia diz sobre política. Sim, a Bíblia discute 
política: “Quando o governo é honesto, o país tem segurança; mas, quando o governo 
cobra impostos demais, a nação acaba em desgraça!” (Pv 29:4). Há vários outros textos 
das Escrituras que falam sobre o governo, a política, a justiça. Portanto, não devemos ir 
às urnas pensando em nosso próprio umbigo. Antes, exerçamos o voto para a glória de 
Deus. O voto pode até ser secreto, mas Deus vê! 
Assim também em nosso casamento, em nosso trabalho e na criação de filhos. 
Mais do que nunca os filhos estão sendo atacados com falsas ideias. Essas ideias têm 
sido forjadas por mentes diabólicas. E muitos pais têm negligenciado o ensino e a 
https://www.bibliaonline.com.br/acf/1co/10/31
10 
educação de seus filhos. Eles mandam os filhos para a escola e não se preocupam em 
saber o que os filhos estão aprendendo. E muitas crianças estão sendo treinadas por 
pessoas que odeiam Cristo e Sua Palavra. Os pais são os responsáveis por aquilo que a 
criança aprende. Os filhos são dádivas de Deus para os pais. Assim, devemos criar 
nossos filhos visando à glória de Deus. 
Em resumo, toda a nossa vida, em todos os seus aspectos, devem se dobrar e 
confessar que Jesus Cristo é o Senhor. Vivamos nossa caminhada cristã buscando a 
glória de Deus somente. Honremos a Deus por termos recebido tão grande salvação. A 
salvação pertence ao Senhor (Ap 7:10). Glórias a Deus somente!
 
QUESTIONÁRIO 
 
1) De acordo com o Breve Catecismo de 
Westminster, qual é o fim principal do homem? 
 
 
 
2) A morte espiritual é resultado da Queda no 
Éden. Marque a opção correta: 
a) ( ) A morte espiritual afeta apenas os 
adultos. 
b) ( ) A morte espiritual não afeta as 
criancinhas. 
c) ( ) A morte espiritual afeta toda 
humanidade, inclusive as crianças. 
 
 
 
3) Considerando a Queda da humanidade, 
marque abaixo o que todos merecem: 
a) ( ) As pessoas boas e que fazem boas 
obras merecem o céu. 
b) ( ) Todas as pessoas, 
mesmo aquelas que fazem 
boas obras, merecem a 
condenação eterna. 
c) ( ) Os méritos de Cristo só são suficientes 
para aqueles que se esforçam para obtê-los. 
d) ( ) Ninguém merece ir para o inferno. 
 
 
 
 
4) As palavras kabod e doxa 
traduzem a ideia de peso. Descreva 
abaixo qual é o peso de Deus e qual 
é o peso do universo: 
 
 
 
 
 
 
 
5) Descreva abaixo qual foi o propósito de 
Deus ao criar os alimentos: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SOLI DEO GLORIA: UMA 
INTRODUÇÃO À COSMOVISÃO 
CRISTÃ 
 
A primeira pergunta do Breve 
Catecismo de Westminster é: Qual é o fim 
principal do homem? A resposta é bem 
conhecida: o fim principal do homem é 
glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre. Essa 
breve pergunta e resposta rejeitam várias 
cosmovisões. Para mencionar algumas: o 
materialismo, o ateísmo, o egocentrismo. 
A finalidade do homem não é 
determinada e nem circunscrita à matéria. 
Quando o homem tem em mente essa 
finalidade ele não se deixa levar pelas paixões, 
consumismo e trivialidades. O Breve 
Catecismo rejeita também o ateísmo como 
uma cosmovisão que deturpa a humanidade e 
que rebaixa o ser humano a um amontoado de 
átomos e reações químicas. E, embora o Breve 
Catecismo não seja anti-felicidade, ele coloca 
Deus e não o próprio homem como fim último. 
 
Temos aí um conflito de cosmovisões. 
 
A DEFINIÇÃO DE COSMOVISÃO 
 
O termo alemão Weltanschauung foi 
usado na filosofia para especificar uma 
percepção de mundo que envolve aspectos 
cognitivos, valores, postulados e ética, 
assumidos pela pessoa de modo consciente ou 
não. As respostas para questões últimas são 
invariavelmente afetadas pela cosmovisão 
adotada, seja de modo consistente ou 
inconsistente. O autor cristão mais 
reconhecido pela acomodação do conceito ao 
cristianismo é James Orr. Mas na filosofia 
reformada esse conceito ganhou novos 
contornos. A definição mais refinada podeser 
encontrada em James W. Sire: 
Uma cosmovisão é um 
compromisso, uma orientação 
fundamental do coração, que 
pode ser expresso como uma 
estória ou como um conjunto de 
pressuposições (suposições que 
 
podem ser verdadeiras, 
parcialmente verdadeiras ou 
totalmente falsas) que 
sustentamos (consciente ou 
subconscientemente, 
consistente ou 
inconsistentemente) sobre a 
constituição básica da 
realidade, e que fornece o 
fundamento sobre o qual nós 
vivemos, nos movemos e 
existimos.
3 
 
Nessa definição encontramos muitos 
tópicos a serem investigados, mas 
pretendemos ser mais objetivos aqui, pois se 
trata apenas de uma introdução ao assunto. O 
ponto a ser destacado é que a cosmovisão é 
fundamental a todo e qualquer ser humano, e 
essa visão de mundo pode ser consistente ou 
inconsistente, verdadeira, parcialmente 
verdadeira ou totalmente falsa, conforme Sire. 
O teste negativo para a manutenção ou não de 
uma cosmovisão é a consistência interna de 
seus teoremas deduzidos de um axioma 
 
3 SIRE, J. W. Dando Nome ao Elefante. Brasília: 
Monergismo, 2012, p. 179. 
 
 
previamente estabelecido. Isso significa que 
uma cosmovisão contraditória deve ser 
descartada. O cristianismo é uma cosmovisão 
consistente que detém o monopólio 
sistemático da verdade. 
 
EPISTEMOLOGIA: O AXIOMA DA 
REVELAÇÃO 
O capítulo de abertura da Confissão 
de Fé de Westminster estabelece que: 
Ainda que a luz da natureza e 
as obras da criação e da 
providência de tal modo 
manifestem a bondade, a 
sabedoria e o poder de Deus, 
que os homens ficam 
inescusáveis, contudo não são 
suficientes para dar aquele 
conhecimento de Deus e da sua 
vontade necessário para a 
salvação; por isso foi o Senhor 
servido, em diversos tempos e 
diferentes modos, revelar-se e 
declarar à sua Igreja aquela sua 
vontade; e depois, para melhor 
preservação e propagação da 
verdade, para o mais seguro 
estabelecimento e conforto da 
Igreja contra a corrupção da 
 
carne e malícia de Satanás e do 
mundo, foi igualmente servido 
fazê-la escrever toda. Isto torna 
indispensável a Escritura 
Sagrada, tendo cessado aqueles 
antigos modos de revelar Deus 
a sua vontade ao seu povo. 
 
O filósofo cristão Gordon Haddon 
Clark propôs, em conformidade com 
Confissão, a revelação especial como axioma 
da epistemologia cristã. Um axioma é um 
ponto de partida que não admite provas. Um 
sistema deve começar em algum lugar. O 
empirismo estabelece seu ponto de partida na 
experiência. O racionalismo parte das leis da 
lógica. O sistema de vida cristão tem seu 
fundamento na revelação. No entanto, a 
revelação geral, conforme diz a Confissão, não 
é suficiente “para dar aquele conhecimento de 
Deus e da sua vontade necessário para a 
salvação”. Isso torna necessária a revelação 
especial, que nos é dada, por um ato de livre 
graça, no Antigo e no Novo Testamento. Mas 
como alguém pode aceitar que a Bíblia é a 
 
Palavra de Deus? A Confissão de Fé de 
Westminster diz: “A autoridade da Escritura 
Sagrada, razão pela qual deve ser crida e 
obedecida, não depende do testemunho de 
qualquer homem ou igreja, mas depende 
somente de Deus (a mesma verdade) que é o 
seu autor; tem, portanto, de ser recebida, 
porque é a palavra de Deus”. É da natureza de 
um axioma ser recebido por fé. Não há provas 
empíricas para o empirismo. Tampouco o 
racionalismo pode provar as leis da lógica. 
Todo sistema deve começar em algum lugar e 
esse ponto de partida é aceito por fé. A 
Confissão acrescenta: 
Pelo testemunho da Igreja 
podemos ser movidos e 
incitados a um alto e reverente 
apreço da Escritura Sagrada; a 
suprema excelência do seu 
conteúdo, e eficácia da sua 
doutrina, a majestade do seu 
estilo, a harmonia de todas as 
suas partes, o escopo do seu 
todo (que é dar a Deus toda a 
glória), a plena revelação que 
faz do único meio de salvar-se 
 
o homem, as suas muitas outras 
excelências incomparáveis e 
completa perfeição, são 
argumentos pelos quais 
abundantemente se evidencia 
ser ela a palavra de Deus; 
contudo, a nossa plena 
persuasão e certeza da sua 
infalível verdade e divina 
autoridade provém da operação 
interna do Espírito Santo, que 
pela palavra e com a palavra 
testifica em nossos corações. 
 
Queremos realçar o seguinte ponto: 
“contudo, a nossa plena persuasão e certeza da 
sua infalível verdade e divina autoridade 
provém da operação interna do Espírito Santo, 
que pela palavra e com a palavra testifica em 
nossos corações”. Em outras palavras, a 
aceitação das Escrituras como Palavra de Deus 
não depende de testemunhos externos, mas da 
iluminação graciosa do Espírito Santo. Assim 
como dependemos da graça para obtermos a 
salvação dependemos dela para chegar ao 
conhecimento da verdade (Ef 1:16-19). 
Esboçaremos em seguida uma breve 
 
estrutura da epistemologia cristã. Um resumo 
como esse é frustrante, pois não mostra o 
passo a passo seguido para chegar às 
conclusões propostas. Mas o assunto é 
grandioso demais para uma análise profunda 
em um curso de Escola Bíblica Dominical. 
Talvez possamos explorar mais esse tema em 
outra oportunidade. Gordon Clark definiu 
conhecimento como a posse da verdade por 
uma mente.
4
 O cristianismo, embora não se 
confunda com o fundacionalismo clássico, 
pode acomodar perfeitamente a definição de 
conhecimento como a crença verdadeira 
justificada. O problema de Gettier e as 
objeções de Alvin Plantinga ao 
fundacionalismo clássico não são relevantes 
para o sistema cristão, pois o método de 
aquisição de conhecimento do cristianismo é 
infalível. A epistemologia cristã não promete 
 
4 CLARK, G. Uma Visão Cristã dos Homens e do 
Mundo. Brasília: Monergismo, 2013, p. 305. 
 
 
onisciência. Mas os outros métodos fracassam 
em garantir o conhecimento, terminando em 
ceticismo absoluto. Dessa forma, somos gratos 
por ter acesso à verdade, ainda que nosso 
conhecimento não seja exaustivo. Enquanto os 
sistemas hegeliano e platônico requerem que 
se conheça algo na sua relação com o todo, a 
Bíblia nos diz que podemos conhecer algumas 
verdades ainda que não conheçamos outras: 
“As coisas encobertas pertencem ao Senhor 
nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem 
a nós e a nossos filhos para sempre, para que 
cumpramos todas as palavras desta lei” (Dt 
29:29). 
O cristianismo não promete 
onisciência ao homem, mas ele dá respostas 
coerentes a muitas questões importantes. Não 
temos, então, no sentido técnico, uma prova 
para o axioma da Revelação, mas podemos ter 
razões para rejeitar algumas opções. Um teste 
negativo é a coerência lógica. Somente uma 
pessoa cuja sanidade mental está prejudicada 
https://www.bibliaonline.com.br/acf/dt/29/29
https://www.bibliaonline.com.br/acf/dt/29/29
 
pode abraçar um sistema autocontraditório. As 
inconsistências do relativismo e do ceticismo 
são percebidas mais facilmente. O relativismo 
alega que não existe verdade absoluta. Mas sua 
alegação é feita de modo absoluto, demolindo 
assim sua alegação inicial. O ceticismo alega 
que não podemos conhecer a verdade. A 
pergunta que surge é: “é verdade que não 
podemos conhecer a verdade?”. Qualquer que 
seja a resposta ela demolirá a afirmação 
central do sistema cético.
5
 
Em oposição aos sistemas mundanos, 
que fracassam na justificação do 
conhecimento, o cristianismo possui uma 
revelação proposicional. A verdade tem caráter 
proposicional. Isso não é uma definição de 
verdade, mas um atributo das proposições. 
Apenas proposições podem ser verdadeiras ou 
 
5 Para mais sobre questões autorreferenciais, veja: 
KOUKL, G. Argumentos que se autorrefutam. Tu 
Porém. Disponivel em: 
<http://tuporem.org.br/argumentos-que-se-
autorrefutam/>. Acesso em: 9 setembro2017. 
 
 
falsas. Quando Jesus disse “Eu sou a verdade” 
ele não estava propondo uma teoria 
existencialista ininteligível que afirma que a 
verdade é pessoal. Essa teoria da dupla 
verdade – verdade pessoal em oposição à 
verdade proposicional – é incompatível com a 
fé cristã histórica. Jesus também disse “Eu sou 
a porta”, mas isso não significa que Jesus 
tenha trincos e ferrolhos, ou que portas tenham 
cordas vocais. A ideia de “verdade” pode ser 
aplicada figurativamente ou literalmente. 
Então, concluir que a verdade é “pessoal” ao 
invés de “proposicional” é fazer má exegese e 
declarar algo sem sentido. Tendo afirmado o 
caráter proposicional da revelação, precisamos 
entender a relação da fé cristã com os 
paradoxos. 
O paradoxo é uma contradição 
aparente. Dito de modo sucinto, a lei da não-
contradição reza que um “A” não pode ser “A” 
e “não-A” ao mesmo tempo e no mesmo 
sentido. Uma sentença que afirma e nega algo 
 
ao mesmo tempo e no mesmo sentido é uma 
contradição real. O exemplo de uma 
contradição real é uma bola quadrada. Essa 
contradição só pode existir na linguagem, mas 
é impossível na realidade. Contradições reais 
são insolúveis. A contradição aparente, por 
outro lado, pode ser solucionada a partir de um 
exame mais cuidadoso. Isso significa que nas 
Escrituras não há paradoxos. A Bíblia é a 
Palavra de Deus e Deus não se revela de modo 
aparentemente contraditório, pois não há 
paradoxos na mente de Deus. Os paradoxos 
são sempre problemas na mente do estudioso 
das Escrituras. A doutrina da Trindade não é 
paradoxal. Historicamente, é afirmado que 
Deus é um em essência e três em pessoas. Em 
linguagem artificial, diz-se que Deus é 1-A e 
3-B. Não é afirmado que Deus é 1-A e 3-A ou 
1-B e 3-B. O mesmo vale para a doutrina 
histórica da Encarnação. A afirmação é de que 
ocorre a união de duas naturezas em uma 
subsistência (pessoa). O teólogo Robert L. 
 
Reymond expressou bem a incompatibilidade 
do paradoxo com a fé cristã: 
Ora, se alguém já aquiesceu a 
que a Bíblia mesma pode e de 
fato ensina que verdades 
possam vir ao existente humano 
em termos paradoxais, incorre-
se em petição de princípio 
responder a isso insistindo que 
se deve simplesmente acreditar 
no que ela diz acerca dessas 
outras reivindicações de 
verdade e rejeitar aquelas que a 
contradigam. Por que uma das 
duas proposições da 
contradição “declarada” deve 
ser preferida à outra ao se 
aplicar a Escritura a uma 
contraditória reivindicação de 
verdade? Por que simplesmente 
não convivemos com mais uma 
antítese não resolvida? A única 
solução é negar ao paradoxo, se 
entendido como contradições 
irreconciliáveis, um lugar lícito 
em uma teoria cristã da 
verdade, reconhecendo-o pelo 
que ele é – o fruto de uma era 
irracional. Se é para haver 
ofensa nas alegações de 
verdade do cristianismo, que 
sejam as implicações éticas da 
cruz de Cristo e não a 
irracionalidade das contradições 
 
proclamadas aos homens como 
sendo ambas verdadeiras.
6
 
 
ÉTICA: QUEM DEFINE O CERTO E O 
ERRADO? 
Em Alice no País das Maravilhas 
Lewis Carrol narra o diálogo entre uma 
garotinha e um gato risonho. Alice pergunta ao 
gato: “Poderia me dizer, por favor, que 
caminho devo tomar para sair daqui?”. “Isso 
depende bastante de onde você quer chegar”, 
disse o Gato. “O lugar não importa muito…”, 
disse Alice. “Então não importa o caminho que 
você vai tomar”, disse o Gato. 
Sem um ponto de referência, qualquer 
caminho serve. Não importa se alguém é 
contra ou a favor do aborto; se diz a verdade 
ou profere mentiras. Nada, absolutamente, 
pode ser tido como certo ou errado. Mas 
conforme vimos, a Bíblia é a Palavra de Deus 
 
6 REYMOND, R. L. Teologia sistemática: parte 1 e 2. 
Editora. [S.l.]: Monergismo. Edição do Kindle, Locais 
do Kindle 3048-3056. 
 
 
e detém o monopólio sistemático da verdade. 
Quando lemos o prólogo dos Dez 
Mandamentos encontramos o seguinte: “Então 
falou Deus todas estas palavras, dizendo: 
Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra 
do Egito, da casa da servidão” (Êx 20:1,2). Se 
o prólogo dos Dez Mandamentos não é 
verdade, então o roubo, o assassinato, a 
idolatria, são questões de foro íntimo. Se não 
há Deus, o lema dos abortistas é perfeito: “É 
contra o aborto? Não aborte, mas também não 
proíba”. Essa seria a lógica impecável se o 
mundo fosse produto do acaso, pois assim o 
valor da vida iria variar de pessoa para pessoa. 
Por detrás do relativismo moral está a 
premissa de que cada indivíduo é responsável 
para determinar o que é certo ou errado. Essa 
premissa é totalmente incompatível com o 
cristianismo. 
De acordo com Gordon Clark, 
A ética calvinista é baseada na 
revelação. A distinção entre 
certo e errado não se resolve 
https://www.bibliaonline.com.br/acf/ex/20/1,2
 
por meio de uma descoberta 
empírica da lei natural, como 
foi o caso de Aristóteles e de 
Tomás de Aquino, nem pelo 
formalismo lógico de Kant e, 
certamente, nem pelo cálculo 
impossível do utilitarismo do 
maior bem para maior número, 
mas pela revelação de Deus nos 
Dez Mandamentos. Essa 
revelação vem, primeiro, do ato 
de Deus de criar o homem à sua 
própria imagem e dos 
princípios morais básicos 
implantados no seu coração, 
mais tarde violados pelo 
pecado; segundo, das instruções 
específicas dadas a Adão e a 
Noé, que sem dúvida 
ultrapassavam e expandiam a 
doação inata; terceiro, da 
revelação mais compreensiva 
dada a Moisés; e mais, quarto, 
dos diversos preceitos 
subsidiários dados no restante 
da Bíblia.
7
 
 
Por estar baseada na Revelação, a 
ética calvinista também é conectada a dois 
conceitos-chave: a aliança e o reino. A 
 
7 HENRY, Carl. F. H. (org.). Dicionário de Ética 
Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 231. 
 
 
Confissão de Fé de Westminster diz: 
Deus deu a Adão uma lei como 
um pacto de obras. Por este 
pacto Deus o obrigou, bem 
como toda sua posteridade, a 
uma obediência pessoal, inteira, 
exata e perpétua; prometeu-lhe 
a vida sob a condição dele 
cumprir com a lei e o ameaçou 
com a morte no caso dele violá-
la; e dotou-o com o poder e 
capacidade de guardá-la. 
De acordo com a Confissão, a lei de 
Deus mantém um íntimo relacionamento com 
o pacto. Isso significa que o pacto inclui 
obrigações e não apenas benefícios. Essa lei 
não é vista como algo ruim, mas sim como 
“perfeita regra de justiça”, mesmo depois da 
Queda (CFW, Cap. XIX). Isso nos faz levantar 
a seguinte pergunta: qual a relação do cristão 
para com a lei? A visão dispensacionalista é 
bastante popular em meio aos evangélicos. A 
tendência de tal visão é criar uma 
descontinuidade entre Antigo e Novo 
Testamento, “pois estamos debaixo da graça e 
não da lei”. Apesar de popular, essa visão pode 
 
trazer consigo a falsa sugestão de que a Lei do 
Antigo Testamento caducou e o cristão não 
deve se preocupar mais com ela. Longe de 
estabelecer tal dicotomia entre Antigo e Novo 
Testamento, a Confissão assevera: 
A lei moral obriga para sempre 
a todos a prestar-lhe 
obediência, tanto as pessoas 
justificadas como as outras, e 
isto não somente quanto à 
matéria nela contida, mas 
também pelo respeito à 
autoridade de Deus, o Criador, 
que a deu. Cristo, no 
Evangelho, não desfaz de modo 
algum esta obrigação, antes a 
confirma. 
A lei moral é prescrita tanto para 
crentes quanto para incrédulos. Mas em 
virtude de Adão ter violado o pacto no Éden, 
todos nós nascemos com uma natureza 
corrupta, estando incapacitados de cumprir 
perfeitamente a lei. Dessa forma, embora a lei 
seja boa, ela pronuncia juízo e condenação aos 
pecadores que a descumprem. O fato de 
sermos incapazes de cumprir a lei, não nos 
 
desobriga de obedecê-la. Estando obrigados a 
cumprir a lei e tendoviolado constantemente 
as prescrições do pacto, somos merecedores de 
eterno castigo. 
Mas o fracasso ético da humanidade e 
sua condenação não é o veredito final. O 
evangelho traz uma solução tanto para 
condenação quanto para o fracasso moral. Em 
Cristo uma Nova Aliança foi estabelecida. 
Nessa Nova Aliança a lei é perfeitamente 
cumprida e o juízo moral de um Deus que não 
ignora o mal recai sobre Jesus Cristo. Pela fé 
temos acesso a essa grandiosa salvação, que 
não apenas nos garante um destino final na 
eternidade com Deus, mas que nos transforma 
aqui e agora, pois cada crente redimido é 
habitado pelo Espírito Santo. Uma das 
promessas da aliança é a habitação de Deus em 
meio ao Seu povo (Hb 8:10). Essa habitação 
do Espírito nos eleitos renova a mente e o 
coração, capacitando-os a uma vida de 
obediência. Essa obediência não visa obter a 
 
salvação, pois a salvação é somente pela fé e a 
fé é um dom gratuito de Deus. Os que creem 
são habilitados a viver uma vida de santidade. 
Porque, se viverdes segundo a 
carne, morrereis; mas, se pelo 
Espírito mortificardes as obras 
do corpo, vivereis. Porque 
todos os que são guiados pelo 
Espírito de Deus esses são 
filhos de Deus. Porque não 
recebestes o espírito de 
escravidão, para outra vez 
estardes em temor, mas 
recebestes o Espírito de adoção 
de filhos, pelo qual clamamos: 
Aba, Pai. (Rm 8:13-15). 
 
Está inserido na Nova Aliança é uma 
realidade para o crente que implica benefícios 
inalcançáveis pelas obras e obrigações das 
quais não pode se esquivar. O conceito de 
Aliança, no entanto, impede a mecanização 
comportamental que pretende se adequar 
externamente às exigências da Lei. Tal postura 
é denominada legalismo e ela acorrenta a 
pessoa a padrões escravizadores. O legalista 
pode ter sua humanidade corroída pelo orgulho 
https://www.bibliaonline.com.br/acf/rm/8/13-15
 
ou ter sua vida paralisada pela culpa de nunca 
conseguir ser um perfeito cumpridor da Lei. 
Tanto o orgulho quanto a culpa tem 
características de desintegração, tornando 
doentia a comunidade que se pauta pela 
conformidade externa à Lei. Todavia, a aliança 
é o antídoto contra qualquer padrão 
escravizador. A premissa básica da aliança é 
que ela é um vínculo de amor pactual. Stanley 
J. Grenz assevera: “O Autor da aliança 
desejava estabelecer um relacionamento de 
pessoa para pessoa com o povo da aliança. A 
mera obediência às leis não podia mediar esse 
relacionamento”.
8
 O legalista tende a ter uma 
visão distorcida de Deus. Para o legalista, 
Deus é o Legislador implacável sempre pronto 
a castigar os que lhe desobedecem. A graça é 
obliterada, pois o legalista divorcia a Lei do 
caráter de Deus. Mas a Lei deve ser vista no 
 
8 GRENZ, S. J. A Busca da Moral. São Paulo: Vida, 
2006, p. 124. 
 
 
contexto pactual, como as prescrições de um 
Pai gracioso que sabe o que é melhor para nós: 
“Se tu, Senhor, observares as iniquidades, 
Senhor, quem subsistirá? Mas contigo está o 
perdão, para que sejas temido” (Salmos 
130:3,4). 
Além dessa conexão com a Aliança, a 
ética cristã está conectada com o Reino de 
Deus. Enquanto a Aliança destaca fortemente 
o caráter pessoal da ética cristã, o Reino 
estabelece mais claramente a autoridade e 
soberania absoluta de Deus. O Reino de Deus 
é cósmico. Isso significa que Deus não é Rei 
apenas da Igreja, mas de todo o universo 
criado. Seu domínio não se restringe aos 
crentes, mas Ele governa inclusive o reino 
parasita, isto é, o reino de Satanás e dos 
demônios. Deus é Rei desde a eternidade. Mas 
Seu reinado, de acordo com as Escrituras, tem 
uma natureza multiforme. No contexto da 
Queda, a humanidade se rebelou contra o 
governo de Deus. Essa rebelião teve 
https://www.bibliaonline.com.br/acf/sl/130/3,4
https://www.bibliaonline.com.br/acf/sl/130/3,4
 
proporções cósmicas, afetando não apenas o 
ser humano, mas também a natureza. Desastres 
naturais dão testemunho de que o pecado teve 
implicações no reino físico. Dessa forma, 
dentro do governo global de Deus surgiu um 
reino de oposição. Esse reino parasita não está 
fora do controle de Deus. Os pecadores 
rebeldes são súditos desse reino parasita. De 
certa forma então, podemos dizer que eles 
estão fora do Reino de Deus. Para não gerar 
confusão, é preciso diferenciar o Reino geral 
do Reino especial de Deus. Herman Ridderbos 
escreveu: 
Em primeiro lugar, o Antigo 
Testamento fala de um tipo 
geral e de um tipo particular da 
realeza do Senhor. O primeiro 
tipo tem a ver com o poder 
universal e o domínio de Deus 
sobre o mundo todo e sobre 
todas as nações e é 
fundamentado na criação dos 
céus e da terra. O segundo 
indica a relação especial entre o 
Senhor e Israel.
9
 
 
9 RIDDERBOS, H. A Vinda do Reino. São Paulo: 
 
De acordo com o Novo Testamento, 
Israel é o povo da Aliança. Nem todo o que 
nasce em Israel são “israelitas” (Rm 9:6). Ou 
seja, o povo da Aliança é formado por crentes, 
sejam judeus ou gentios. Esse relacionamento 
especial entre Deus e Seu povo foi finalmente 
restaurado pelo sacrifício de Cristo na cruz. 
Por isso Jesus pregava que o Reino dos Céus 
estava próximo. Ou seja, não é que Deus tenha 
deixado seu domínio, mas o Reino no sentido 
mais particular seria instaurado pela vinda do 
Messias. O acesso a esse Reino particular se 
dá mediante a fé e através do Novo 
Nascimento. Assim como a obra da Criação 
foi um ato do grande poder de Deus, o Novo 
Nascimento também é um ato de soberania: 
E tudo isso, com o propósito de 
que possais viver de modo 
digno do Senhor, agradando-lhe 
plenamente, frutificando em 
toda boa obra, crescendo no 
conhecimento de Deus, sendo 
 
Cultura Cristã, 2010, p. 26. 
 
 
fortalecidos com todo o poder, 
segundo a maravilhosa força da 
sua glória, para que, com 
alegria tenhais absoluta 
constância e firmeza de ânimo, 
dando graças ao Pai que nos 
tornou dignos de participar da 
herança dos santos no reino da 
luz. Ele nos resgatou do 
domínio das trevas e nos 
transportou para o reino do seu 
Filho amado, em quem temos a 
plena redenção por meio do seu 
sangue, isto é, o perdão de 
todos os pecados (Cl 1:10-14). 
 
De acordo com as Escrituras, os 
eleitos foram resgatados do domínio das trevas 
e foram transportados para o Reino do Filho de 
Deus. Isso transforma de maneira radical 
nossos valores e padrões morais. A fé é 
assentimento intelectual. Ela envolve o 
entendimento da verdade e sua aceitação. O 
Espírito nos dá esse entendimento e um 
coração disposto a aceitar as verdades da 
Palavra de Deus. Isso significa que devemos 
estar de acordo com a ética do Reino de Deus 
e pautar nossa vida nesses valores. O cristão 
 
não deveria está buscando primariamente bens 
materiais ou sua própria felicidade, mas o 
Reino de Deus e Sua justiça! Assim, ele deve 
mortificar o corpo (Rm 8:13), fugir da 
fornicação (1Co 6:18), se despir do velho 
homem e se revestir do novo homem (Ef 4:22-
24). A ética cristã requer compromisso da 
pessoa integral: “A ética do Reino exige a 
assistência aos necessitados. O desejo do Rei é 
que os que foram por ele abençoados com bens 
materiais usem essas dádivas em benefício dos 
outros”.
10
 
 
10 GRENZ, S. J. A Busca da Moral. São Paulo: Vida, 
2006, p. 127.

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