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AULA 13 - IED PROCESSUAL

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AULA 13 – TEORIA DA AÇÃO (CONTINUAÇÃO) 
1. Outros temas sobre teoria da ação: 
Questões prévias: São questões que antecedem outras questões. Trata-se de um conceito relacional (algo é prévio em relação a alguma coisa). 
Questões preliminares: Questões que antecedem logicamente a outra e que condicionam a análise da posterior. São preliminares em relação às condições da ação e, consequentemente, à análise do mérito. 
Ações prejudiciais: Não condicionam a análise da seguinte, mas influenciam no resultado. Um exemplo corresponde à investigação de paternidade e alimentos. As questões prejudiciais podem estar contidas em uma mesma ação ou em processos distintos. 
As ações dúplices podem ser entendidas no:
· Sentido processual (pedido contraposto): O réu entra com uma ação contra o autor;
· Sentido material: É irrelevante a posição ocupada pelo autor ou pelo réu, uma vez que a simples defesa do réu já é motivo da propositura da ação. É, para Fredie Didier Jr., como se fosse um cabo-de-guerra (a defesa é, ao mesmo tempo, o ataque). Ex: O réu propõe uma ação de inexistência de união estável, enquanto que o autor defende a existência de uma união estável;
Cumulação de ações:
É possível cumular várias ações em uma só. Essa cumulação de ação pode ser:
· Subjetiva (se refere aos sujeitos): Litisconsórcio. Ex: A, B e C ingressam uma ação contra o estado da Bahia;
· Objetiva: Cumulação de pedidos/causa de pedir. Ex: A ingressa uma ação com o intuito de receber as gratificações X, Y e Z; 
Concurso de ações:
Há concurso de ações quando uma única LIDE permite mais de um tipo de composição, ou seja, determinado conflito pode ser solucionado por mais de uma via, entre as quais apenas uma será exitosa. 
· Concurso subjetivo: Diz respeito aos elementos subjetivos da demanda. Se aplica nos casos de co-legitimação. Ex: A e B são credores solidários de C. A e B são co-legitimados – tanto A pode entrar com uma ação contra C para pedir o dinheiro e dar a quota parte de B, assim como B pode fazer o mesmo, ou A e B podem entrar em litisconsórcio. O litisconsórcio trata-se de uma estratégia disponível ao concurso subjetivo de ações;
· Concurso objetivo: Se refere aos elementos objetivos da demanda.
· Concurso próprio: Mais de uma causa de pedir enseja um mesmo pedido. Ex: O computador de A veio sem carregador e com uma tecla quebrada. A quer um computador novo; 
· Concurso impróprio: Uma única causa de pedir pode ensejar vários pedidos, entre os quais apenas um será exitoso. Ex: Um computador comprado veio com uma tecla quebrada. A deseja um equipamento novo e, caso não atendido, o dinheiro de volta e, caso não seja possível, o abatimento do preço;
2. O processo: 
Meio pelo qual se exercita o direito de ação e a atividade jurisdicional.
Há teorias que buscam explicar a natureza jurídica do processo.
· Teoria privatista: Entende o processo como um fenômeno inerente ao direito privado. Enxerga-se, destarte, o processo como um contrato. Posteriormente, passa a se compreender o processo como quase-contrato, já que o processo é uma fonte de obrigações. Contudo, as teorias privatistas não vingaram. 
· Teoria da relação jurídica processual: A relação de direito material é distinta da relação de direito processual. Surge, portanto, a teoria da relação jurídica processual. Processo é relação jurídica processual, distinguindo-se da relação jurídica material. A dúvida existente era quanto à natureza gráfica dessa relação: triangular (AUTOR -> <- ESTADO JUIZ -> <- RÉU -> <- AUTOR);
· Teoria da situação jurídica: O processo é dinâmico, gerando, portanto, direitos e deveres. O processo deve ser entendido como uma situação jurídica. A teoria da relação jurídica engloba a teoria da situação jurídica, a qual está contida na teoria da relação jurídica. Não são excludentes, mas complementares;
· Teoria da instituição jurídica: Há quem fale que processo é um complexo de atividades relacionadas entre si com objetivo comum (instituição). O processo seria, nesse viés, uma instituição jurídica submetida ao regime de lei. Em virtude da sua vagueza, essa teoria não teve credibilidade;
· Teoria do procedimento em contraditório: O processo deve ser submetido ao crivo do contraditório, devendo englobar a manifestação das partes. A série de atos sujeitos ao contraditório recebe o nome de processo; 
· Categoria complexa: Teoria que prevalece hoje. Processo corresponde a uma categoria complexa porque é a junção da relação jurídica processual com o procedimento realizado em contraditório.
PROCESSO CATEGORIA COMPLEXA = RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL (ELEMENTO INTRÍSECO) + PROCEDIMENTO REALIZADO EM CONTRADITÓRIO (ELEMENTO EXTRÍNSECO) 
3. Características da relação jurídica processual:
· Complexa: Se apresenta por uma série de atividades ativas e passivas; 
· Dinâmica: Composta por uma série de atos que se prolongam no tempo;
· Pública: O processo é instrumento de uma função estatal; 
· Una: Existe uma única relação que abrange as posições ativas e passivas ocupadas pelos sujeitos do processo; 
· Autônoma: Autonomia em relação à relação jurídica de direito material; 
4. Espécies e fases do procedimento:
Espécies:
· Especial: Há casos com ritos próprios, já que o legislador compreendeu as peculiaridades (Ex: a ação de alimentos – questão de subsistência e necessita de um atendimento mais célere). Apresenta vínculo com o princípio da adequação social;
· Comum: Se refere a todas as causas que não apresentam rito especial. Tudo o que não é especial, é comum (a maioria das causas); 
O NCPC não trata mais do procedimento sumário. 
Fases:
· Postulatória: Postular é pedir alguma coisa. Se concentram, nesta fase, os atos postulatórios. Esta fase será desenvolvida em Direito Processual Civil I;
· Saneamento: É a fase em que se “aparam as arestas” do processo, corrigindo-se eventuais irregularidades; 
· Instrutória: É a fase em que se prova o que se está alegando por meio das mais diversas provas. Esta fase será desdobrada em Direito Processual Civil II;
· Decisória: É a fase em que o magistrado decide, proferindo, por conseguinte, a decisão;
Na prática, é possível que haja a inversão dessas fases. 
· Ex: O juiz concede uma decisão liminar (no início do processo e antes da ouvida do réu);
· Ex: É possível que não haja fase instrutória (vide o mandado de segurança);
· Ex: É possível que as partes recorram da decisão (fase recursal);
· Ex: Há direitos que precisam ser executados e não bastam somente da declaração – fase executiva; 
São inúmeras as variáveis, mas para fins acadêmicos adota-se a divisão quaternária supratranscrita. 
5. Espécies de processo:
· Processo individual x Processo coletivo: O processo individual serve para proteger os direitos de pessoas determinadas (Caio v Thício); o processo coletivo serve para proteger direitos coletivos e difusos (Associação dos oficiais militares v estado da Bahia);
· Processo objetivo x Processo subjetivo: O processo objetivo analisa não um caso concreto, mas uma lei (ex: ADIN). Por outro lado, há caso concreto no processo subjetivo (figuras do autor e réu); 
· Processo de conhecimento x Processo de execução: Classificação que leva em conta a natureza da prestação jurisdicional (mesmo critério de classificação das ações); 
6. Pressupostos processuais: 
Sem os pressupostos de existência não há processo. 
O preenchimento das condições da ação, para ser analisado, precisa ter processo. 
Sem os pressupostos de validade não há a análise do mérito.
Art. 485 – CPC: O juiz não resolverá o mérito quando:
IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo;
Se o pressuposto é de existência, não é possível extinguir um processo que não existe. Seria mais plausível a extinção do processo com a ausência de elementos de validade. 
O dispositivo anterior deve ser analisado com diversas ressalvas. 
A extinção do processo deve ser a ultima ratio. 
Sobre a relação jurídica, só se analisa se ela existe ou não.
Os pressupostos de existência são: 
· Subjetivos 
· Relacionadosao juiz – Jurisdição (poder de ministrar a justiça);
· Relacionados à parte – Capacidade de ser parte (a qual não se confunde com a capacidade civil); 
· Objetivo 
· Demanda: Trata-se do exercício do direito de ação.
Os pressupostos de validade são: 
· Subjetivos: 
· Relacionados ao juiz (dimensões do princípio do juiz natural) – 
· Competência: O juiz precisa ser competente para julgar a causa. A parte precisa alegar a incompetência do juiz, sob pena de prorrogação da competência (um juiz incompetente se torna competente em virtude da ausência de alegação do ilícito). A incompetência se refere, portanto, à incompetência absoluta. Sendo o juiz incompetente, ele deve encaminhar os autos para o juiz competente; 
· Imparcialidade: O juiz, além de competente, precisa ser imparcial. Caso contrário, haverá as hipóteses de impedimento e suspeição (pautada em critérios mais subjetivos), logo, o juiz é defeso (proibido) de julgar. Se ninguém alegou, é como se aquele vício tivesse sido sanado. 
· Relacionados à parte – Capacidade para estar em juízo, capacidade postulatória e legitimidade ad causam 
Em regra, capacidade civil e capacidade processual se confundem (art. 70 – NCPC). Entretanto, pode ser que um indivíduo tenha capacidade perante o direito material, mas não tenha capacidade processual. Por exemplo: Um cônjuge (se casou, é capaz civilmente) para realizar transações imobiliárias precisa da anuência do outro cônjuge (não tem capacidade processual sozinho). 
Art. 70 – CPC/15: Toda pessoa que se encontre no exercício de seus direitos tem capacidade para estar em juízo.
Art. 71 – CPC/15: O incapaz será representado ou assistido por seus pais, por tutor ou por curador, na forma da lei.
A capacidade de estar em juízo das pessoas jurídicas e formais se encontra expressa no art. 75 do NCPC. 
Art. 75 – CPC/15: Serão representados em juízo, ativa e passivamente:
I - a União, pela Advocacia-Geral da União, diretamente ou mediante órgão vinculado;
II - o Estado e o Distrito Federal, por seus procuradores;
III - o Município, por seu prefeito ou procurador;
III - o Município, por seu prefeito, procurador ou Associação de Representação de Municípios, quando expressamente autorizada;   (Redação dada pela Lei nº 14.341, de 2022)
IV - a autarquia e a fundação de direito público, por quem a lei do ente federado designar;
V - a massa falida, pelo administrador judicial;
VI - a herança jacente ou vacante, por seu curador;
VII - o espólio, pelo inventariante;
VIII - a pessoa jurídica, por quem os respectivos atos constitutivos designarem ou, não havendo essa designação, por seus diretores;
IX - a sociedade e a associação irregulares e outros entes organizados sem personalidade jurídica, pela pessoa a quem couber a administração de seus bens;
X - a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente, representante ou administrador de sua filial, agência ou sucursal aberta ou instalada no Brasil;
XI - o condomínio, pelo administrador ou síndico.
Há quem entenda que as pessoas jurídicas por necessitarem de um representante, não tem capacidade processual. Pontes de Miranda considera que não se trata de representação, mas de presentação. A pessoa jurídica manifesta o seu direito por meio do gerente. A pessoa jurídica não fala, sendo o representante legal “a boca da pessoa jurídica”. 
· Consequência da incapacidade processual: 
A consequência depende da incapacidade do autor ou do réu. 
7. É dado um prazo para o autor sanar o vício. Se o vício não é sanado, o processo é extinto. Se existirem vários autores e apenas um deles é incapaz, extingue-se o processo para este e prossegue para os demais.
8. Se a incapacidade para o réu funciona de outra forma para não estimular um desinteresse e consequente extinção do processo. Caso não sane o vício, o processo segue e o réu sofrerá os efeitos da revelia; 
Só enseja a extinção do processo sem análise do mérito se a procedência caber ao autor. 
Art. 76 – CPC/15: Verificada a incapacidade processual ou a irregularidade da representação da parte, o juiz suspenderá o processo e designará prazo razoável para que seja sanado o vício.
§ 1º Descumprida a determinação, caso o processo esteja na instância originária:
I - o processo será extinto, se a providência couber ao autor;
II - o réu será considerado revel, se a providência lhe couber;
III - o terceiro será considerado revel ou excluído do processo, dependendo do polo em que se encontre.
§ 2º Descumprida a determinação em fase recursal perante tribunal de justiça, tribunal regional federal ou tribunal superior, o relator:
I - não conhecerá do recurso, se a providência couber ao recorrente;
II - determinará o desentranhamento das contrarrazões, se a providência couber ao recorrido.
· Objetivos: Próxima aula.

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