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EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 1 Tutorial 5 – mod XV Infecção de Vias Aéreas Superiores Rinossinusite ANATOMIA DOS SEIOS PARANAIS - Seios paranasais são cavidades aeradas que ficam nos ossos maxilares, frontal, etmoidal e esfenoidal. - Apresentam-se em continuidade com cavidade nasal, ventilando e drenando o muco para meato do nariz. Logo, infecção da mucosa está associado com infecção dos seios da face e vice-versa. - Seios maxilares e etmoidais iniciam sua formação no período embrionário, porém ao nascimento ainda estão reduzidos. - Seio maxilar vai crescer a partir do 8º ano de vida e completar o crescimento na adolescência. - Seio etmoidal poderá ser visualizado em exames de imagem em torno do segundo ano de vida. - Seio esfenoidal pneumatizado por volta dos 5 anos de idade, completamente desenvolvidos no final da adolescência. - O trato nasossinusal é um local comum de infecção na infância, muitas vezes difícil diferenciar entre infecções virais, rinossinusites bacterianas e adenoidites. DEFINIÇÃO - Inflamação da mucosa nasal e dos seios paranasais. - RSA consequência de uma IVAS. Rinossinusite crônica tem etiologia complexa e multifatorial. - Na faixa etária pediátrica, é definida de acordo com os seguintes critérios diagnósticos: Presença de dois ou mais sintomas: Obstrução/congestão nasal Rinorreia ant ou post Dor ou pressão na face ou tosse - É obrigatório que obstrução ou rinorreia estejam presentes. - Esses sinais da clínica devem ser associados com alterações na endoscopia nasal (pólipo, secreção purulenta) ou na TC de seios da face. - Se sintomas durarem > 12 sem: rinossinusite crônica. Rinossinusite aguda - No período intercrises, devem ser assintomático. - RSA pode ser dividida entre viral, pós-viral e bacteriana. - RSA pós-viral tem piora dos sintomas após 5º dia de evolução da doença ou persistência dos sintomas por mais de 10 dias. - Rinossinusite bacteriana é quando o pcte tem pelo menos 3 dos seguintes: secreção nasal purulenta/espessa, dor local intensa, febre maior que 38°C, aumento do VHS ou PCR., “dupla piora dos sintomas”. - Dupla piora ocorre quando pcte tava melhorando e tem nova exacerbação a partir do 5º dia. - A rinossinusite viral é frequente na faixa etária pediátrica, sendo que trabalhos sugerem que a criança brasileira tem ~11 resfriados por ano. - A maioria dos sintomas do resfriado melhora até o 5º dia, sendo de difícil diferenciação para bacteriana nos primeiros dias. FISIOPATOLOGIA - A bacteriana pode estar associada a alguns fatores de predisposição, como tabagismo ativo ou passivo, doença crônica prévia e alterações anatômicas nasais (RSA recorrente). - A gravidade está relacionada com a virulência do vírus, e com fatores associados ao hospedeiro, como história prévia de imunodeficiência, infecção ou imunização prévia e alterações nasais do paciente. - Vírus mais associado ao resfriado comum são os rinovírus e o coronavírus. - Na faixa etária pediátrica, VSR, parainfluenza, influenza, adenovírus e enterovírus são prevalentes também. - A partir de uma infecção viral ocorre uma cascata inflamatória e a ativação do SN Parassimpático. - Isso desenvolve um edema, engurgitamento da mucosa, extravasamento de fluido, aumento de muco e bloqueio dos óstios de drenagem dos seios paranasais, gerando os sintomas de dificuldade respiratória, secreção nasal e pressão facial. - Alteração na função e qtd dos cílios do epitélio nasal associada a alterações do muco e disfunção da barreira epitelial, predispõe o pcte a quadros de RSA pós-viral e bacteriana. - Bactérias mais frequentes: Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Moraxella catarrhalis. QUADRO CLÍNICO EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 2 - Sintomas da rinossinusite: obstrução nasal, rinorreia, dor facial, tosse. - Podem ter ainda diminuição do olfato, principalmente em adolescentes e pré-adolescentes. - A inflamação da mucosa e respiração oral pela obstrução podem gerar dor de garganta, irritação laríngea e traqueal e disfonia. - Sint sistêmicos: cansaço, sonolência e febre. Além de dor facial ou dentária que pode indicar rinossinusite aguda maxilar. - Exame físico pode contar com a rinoscopia anterior, que pode mostrar edema da mucosa nasal, rinorreia purulenta e alterações anatômicas. DIAGNÓSTICO - Pode ser feito de forma clínica, sem exames complementares. Porém, se disponível, endoscopia nasal pode ajudar no diagnóstico. - TC se solicita na suspeita de complicação ou necessidade de dx diferencial da RSA. - VHS e PCR podem ajudar a diferenciar rinossinusite viral e bacteriana, sendo que os títulos altos desses exames estão relacionados à RSA bacteriana. - Procalcitonina é um Biomarcador para RSA bacteriana mais grave e indicador para usar ATB. TRATAMENTO Rinossinusite aguda viral – Resfriado comum - Não é indicado usar ATB na viral, nem corticosteroide. - Associar anti-histamínico (alergias), descongestionantes e analgésicos podem ser benéficos no controle dos sintomas em crianças maiores. - Lavagem nasal com soro fisiológico, além de exercício físico moderado regular podem ajudar na prevenção do resfriado comum. Rinossinusite aguda pós-viral - Irrigação nasal com soro fisiológico e corticosteroide tópico nasal são recomendáveis. - ATB e anti-histamínico não são indicados pois não interferem no tempo de cura e melhora dos sintomas. Rinossinusite aguda bacteriana - Diretrizes europeia: Recomenda-se ATB apenas para casos graves ou recorrentes. Para casos leves, faz-se reavaliação em 48-72h. - Diretriz americana: orienta prescrição de ATB imediato ou observação da evolução, para usar ATB se não tiver melhora em 7d ou se agravar o quadro. - Manter soro fisiológico e corticosteroide tópico nasal. - Começa com amoxicilina ou amoxi+clavulanato. Se falha no tto inicial após 48-72h, amoxi+clavu ou ceftriaxona. COMPLICAÇÕES - Sinais e sintomas de complicação: edema/hiperemia periorbital, diplopia, diminuição da acuidade visual, cefaleia intensa, edema frontal, sepse DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Rinite alérgica - Pcte com sintomas relacionados a exposição a aeroalérgenos, intermitentes ou persistentes. - Prurido nasal e espirros em salva, associados a rinorreia e/ou obstrução nasal são sintomas de rinite alérgica. - Importante verificar na história clínica quais os fatores desencadeantes das crises. Rinossinusite crônica - Tem menor prevalência na faixa etária pediátrica (2-4%). O impacto na qualidade de vida das crianças afetadas pela doença é grande, gerando piora do sono, diminuição da concentração. - Faixa de 10-15 anos é a mais acometida. - Fatores ambientais e comorbidades podem estar associadas a RSC. Exposição a tabagismo passivo pode levar quadros mais graves. - A adenoide mantém um reservatório de bactérias e isso tem uma correlação importante com a rinossinusite crônica. EXAMES COMPLEMENTARES - TC dos seios deve ser solicitada em casos de suspeita de complicações ou planejamento cirúrgico. - Endoscopia nasal realizada nos pctes com suspeita de RSC, bem tolerada em crianças, acrescentando informações importantes como a presença de pólipos, edema, secreção e hipertrofia da vegetação adenoideana. TRATAMENTO - Uso de ATB não é recomendado, por falta de comprovação de benefícios. - Corticosteroide sistêmico VO se mostrou eficaz para resolver sintomas e alterações da TC, porém usada com cautela pelos efeitos colaterais. - Corticosteroide tópico nasal não tem tanta evidencia, mas é recomendado pelo potencial anti-inflamatório local e eficácia comprovada em adultos. - Irrigação nasal com soro é recomendada, seja isolada ou associada a outros medicamentos. - TTO cirúrgico indicado quando há falha no tto clínico. Adenoidectomia é o procedimentode 1ª escolha para crianças < 7 anos. - Cirurgia endonasal endoscópica indicada quando RSC refratária a adenoidectomia e em crianças maiores. COMPLICAÇÕES – DOENÇAS RELACIONADAS - Diversos tipos de imunodeficiência estão relacionados à RSC e essa comorbidade faz com que pctes tenham quadros mais graves e refratários ao TTO. Ex: fibrose cística e discinesia ciliar primária. Tonsilites e faringites - Dor de garganta é a terceira maior queixa entre os pctes, sendo que as faringotonsilites são responsáveis por ~5% das consultas médicas. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 3 - Tonsilites e faringites são IVAS frequentes e autolimitadas. - Na maioria das vezes, as crianças se recuperam rápido (3-4d) mas podem desenvolver complicações. - Geralmente, são de origem viral, mas podem ser causadas por bactérias, em especial, o estreptococo beta- hemolítico do grupo A. FUNÇÃO DAS TONSILAS - Atuar como tecido imunocompetentes local, secretando imunoglobulinas, impedindo a replicação bacteriana e viral no TRS, sendo a 1ª linha de defesa contra doenças infecciosas na região. - As complicações sistêmicas das infecções faringotonsilares pelo EBHGA diminuíram muito após uso do ATB. Reduziram-se tonsilectomias por recorrência ou cronicidade. Porém, aumentaram indicações de tonsilectomia por obstrução da via aérea superior por hipertrofia tonsilar. EPIDEMIOLOGIA - Transmissão ocorre por meio de gotículas de saliva, com incubação de 1-4d. - As infecções de origem viral correspondem a 75% dos casos em crianças < 3 anos e diminuem após a puberdade, tanto em casos agudos, quanto nos recorrentes. - No Brasil, EBHGA está presente em 24% das tonsilites e faringites em crianças entre 2-12 anos. ETIOLOGIA E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Vírus: adenovírus, influenza, parainfluenza, coxsakie, VSR, herpes e Epstein-Barr. - Bactérias: EBHGA 20-30%, Haemophilus 15%, Moraxella 15%, Staphylococcus aureus 20%, pneumococo 1%, germes anaeróbios, clamídia e micoplasma. - Streptococcus viridans é a bactéria mais encontrada nas tonsilas palatinas de indivíduos sem infecção aguda. Isso mostra a importância da flora normal da cavidade orofaríngea para a interferência bacteriana, que é a ação de certas bactérias em relação à inibição do crescimento ou aderência de outras patogênicas. - O uso excessivo e descontrolado de ATB provoca o desequilíbrio dessa flora, contribuindo para o aparecimento da resistência bacteriana. - Antes dos 3 anos, a prevalência de infecções na orofaringe é baixa pela proteção fornecida pela IgG materna. - Faringotonsilites por EBHGA são frequentes entre 3-15 anos e tem um potencial de causar infecções purulentas e invasivas, glomerulonefrite e febre reumática, sendo altamente transmissível e pode se disseminar rápido em creches e escolas. - Aspectos da história e exame físico podem sugerir a origem viral ou bacteriana, com baixa especificidade e sensibilidade. - Coriza, obstrução nasal, espirros, rouquidão, aftas e sintomas GI associam-se a doenças virais, acompanhados ou não de elevações da temperatura corpórea. - Infecção por EBHGA costuma ter início súbito, febre ≥ 38°C, dor de garganta. EF: hiperemia, hipertrofia e exsudato tonsilar, linfadenopatia cervical anterior e submandibular dolorosa. - Sinais de envolvimento mais extenso das VAS (coriza, espirros) não costuma estar presente em infecções por Estreptococcus. - Infecção por vírus: conjuntivite, coriza, tosse, diarreia, rouquidão, exantema. DIAGNÓSTICO - Deve ser suspeitado por meio de dados clínicos e epidemiológicos e confirmado por exame cultural ou pelo teste rápido de detecção do antígeno estreptocócico. - Não se deve diagnosticar apenas se baseando em sinais e sintomas. - O exame cultura da orofaringe é padrão ouro para diagnóstico de infecção por EBHGA. Deve-se tirar material das tuas tonsilas e parede posterior da faringe, sem encostar em outros locais. Resultado sai em 20-48h. - Teste rápido de detecção do antígeno estreptocócico é um método adequado. Um resultado POS no teste não exige confirmação por cultura e permite tto imediato. - Para casos de criança com forte suspeita de infecção bacteriana e com resultado NEG, não se exclui a etiologia estreptocócica e faz-se o exame cultural. - Para adultos, se resultado NEG já descarta pela menor chance de infecção pela bactéria e menor chance de febre reumática. COMPLICAÇÕES Supurativas: abscesso peritonsilar, retrofaríngeo e cervical. Não supurativas: febre reumática e glomerulonefrite aguda, geralmente presentes 1-3 sem após infecção. TRATAMENTO Faringotonsilites virais - Analgésico, antitérmico e hidratação. Paracetamol, Ibuprofeno e dipirona para combater dor e febre. - Dose única de corticosteroide ajuda a combater a dor, porém não se comprovou efeito analgésico melhor do que os já usados, então não se usa rotineiramente. - Reavaliação clínica em 48-72h para quando não há remissão da febre. Faringotonsilites bacterianas - EBHGA é a única infecção bacteriana que ATB está indicada para prevenir sequelas supurativas e não supurativas. - TTO com antimicrobianos diminui faz aguda da doença e o potencial de transmissão, além de reduzir risco de sequela supurativa e não supurativa. - O uso correto até 9d após início do quadro pode impedir febre reumática. Quando não se consegue fazer exame cultura ou teste rápido, reavalia-se em 48-72h todo pcte com quadro de faringotonsilites aguda. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 4 - ATB de primeira escolha: penicilina e amoxicilina VO por 10d. Se essa não for aderida, faz-se penicilina G benzatina. - Macrolídeos (claritro e azitro) são efetivos e estudos mostram que até melhores do que a penicilina para tratar EBHGA. - Cefalosporina (cefalexina) por 10d pode ser feito em pctes alérgicos à penicilina. - Para quadros recorrentes e crônicos, opta-se por amoxicilina + clav ou clinda. TTO cirúrgico - Tonsilectomia é o procedimento realizado com ou sem adenoidectomia. Ultimamente, tem sido realizada por obstrução da VAS e nem tanto por infecção recorrente. - Determina-se tamanho das tonsilas e a intensificação da obstrução pela classificação de Brodsky. Grau I: ocupação de < 25% entre os pilares Grau II: 25-50% Grau III: 50-75% Grau IV: > 75% desse espaço. - Graus III e IV são obstrutivos. - As adenoides (tonsilas faríngeas) têm seu grau de obstrução definido com endoscópio flexível ou pela RX de cavum. - Endoscopia ajuda a diferenciar uma hiperplasia pura de uma hiperplasia exacerbada por processo inflamatório. Hiperplasia das tonsilas palatinas - Distúrbios respiratórios durante o sono. Num quadro leve, ronco noturno, respiração oral, sono sem descanso e apneia. - Durante o dia, sonolência, boca seca, alteração de comportamento, fala anasalada, halitose e obstrução nasal crônica. - História e exame físico cuidados podem indicar cirurgia. Faringotonsilites recorrentes - Critérios de Paradise: infecções recorrentes (> 7xano ou 5x ano nos últimos 2 anos ou 3x ano nos últimos 3), acompanhados de uma ou mais manifestações: ffebre >38, adenopatia cervical dolorosa, exsudato tonsilar ou teste positivo para EBHGA. Otite média aguda - OMA - Infecção com desenvolvimento rápido de sinais e sintomas de inflamação aguda na cavidade da orelha média. - Embora n° de consultas frequentes, é uma entidade autolimitada e com baixa incidência de complicações e mortalidade. - É definida como a presença de líquido preenchendo a cavidade da orelha média sob pressão, com início abrupto dos sinais e sintomas causados pela inflamação dessa região. EPIDEMIOLOGIA - Uma das doenças infecciosas mais comuns na infância. - Até os 3 anos de idade, 3 em cada 4 terão pelo menos um ep de OMA, e com 2 anos de idade, 1 a cada 5 teráOMA. FATORES DE RISCO Fatores relacionados ao hospedeiro - Se 1° ep antes dos 6 meses, risco é grande. - Crianças com fenda palatina, síndrome de Down, malformações craniofaciais, imunodeficiência tem risco maior. - Suscetibilidade genética: genes 10q e 19q. Fatores ambientais - Por decorrer de IVAS, apresentam maior incidência nos meses mais frios. - Creches e berçários representam um fator de risco considerável no desenvolvimento da OMA, pela alta prevalência de infecções respiratórias, facilitando a contaminação viral entre as crianças. - Aleitamento materno é fator de proteção. Se até os 3 meses, diminui risco em 13%; se > 6 meses, protege até 3º ano de vida. HISTÓRIA NATURAL - 80% das crianças tem evolução favorável com resolução espontânea. - Melhora dos sintomas em 60% dos pctes depois de 24h e ausência de sintomas residuais em 80% das crianças após 2-3d, sem ATB. PATOGÊNESE - Mais prevalente no lactente e na criança pequena. Decorre de fatores anatômicos e imunológicos, característicos dessa faixa etária. - A tuba auditiva ventila a orelha média. No repouso, encontra-se fechada. - Criança tem TA mais curta, mais alargada, mais flácida e mais horizontalizada, facilitando a progressão de EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 5 microrganismos (vírus e bactérias) da rinofaringe para a orelha média. - No nascimento, o sistema imunológico da criança é imaturo. RN tem níveis de IgG que vão diminuindo, pouco efetivos após 5-6 meses. Criança gradualmente vai produzindo IgG, IgA e IgM, platô com criança maior. - Isso coincide com início e desaparecimento dos episódios de OMA. - OMA é desencadeada por um processo infeccioso associado a determinada grau de disfunção da tuba auditiva e do sist. imunológico. - É comum ser precedida por IVAS ou quadro de resfriado comum. - Provoca um distúrbio da nasofaringe, pavimentando o caminho para bactérias patogênicas infectarem a orelha média. - Infecção viral inicia OMA, pavimentando caminho em direção a OMA bacteriana. Por isso a relação da sazonalidade da OMA. MICROBIOLOGIA - Pesquisas apontam que 63% dos 684 episódios para vírus respiratórios, adenovírus, coronavírus, VSR estão relacionados com OMA. - Bactérias encontradas em 50-90% dos casos. Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Moraxella catarrhalis são os principais. SINAIS E SINTOMAS – Exame físico - Sintomas constantes: otalgia (manipular orelha), choro excessivo, febre, alterações de comportamento, irritabilidade, diminuição do apetite e diarreia. - Sinais: achados na otoscopia e pneumotoscopia. - MT com hiperemia ou opacidade, abaulamento, diminuição da mobilidade e otorreia aguda são sinais típicos. - Atualmente, a bilateralidade é um marco que indica uma doença mais grave e a presença de otorreia espontânea define o diagnóstico com certeza. DIAGNÓSTICO - É fundamental o diagnóstico preciso e acurado, evitando o uso desnecessário de antimicrobianos, com consequências danosas para pcte e comunidade. - Padrão ouro para determinar a etiologia bacteriana da OMA é a cultura do fluido da orelha média por timpanocentese, drenagem por tubos de ventilação ou otorreia espontânea. - O achado mais significativo no diagnóstico da OMA é o abaulamento da MT. Academia Americana de Pediatria: história de inicio agudo de sinais e sintomas, efusão e sinais e sintomas de inflamação na orelha média. TRATAMENTO - 80% melhora sem ATB, espontaneamente. - Tratar a dor com analgésicos. - Dar atb para OMA para < 6 meses ou mais, com sinais ou sintomas graves ou persistirem por > 48h. - ATB recomendado: amoxicilina. - Indicação de drenagem ou evacuação da efusão da orelha média restritas a resposta insatisfatória à ATBterapia, imunodeficiências, doença grave e complicações supurativas. COVID-19 em crianças e adolescentes - A Covid-19 tem se apresentado com diferentes níveis de gravidade, desde formas assintomáticas de infecção até quadros de grave insuficiência respiratória e morte, particularmente em pessoas com mais de 60 anos de idade e em portadores de comorbidades. - Um dos fatores mais intrigantes da Covid-19 é o pequeno percentual de crianças e adolescentes, que, uma vez infectados, apresentam formas graves da doença EPIDEMIO/TRANSMISSÃO/PATOGENIA - Estudos feitos no Brasil mostraram que dos 652 casos reportados, a idade mediana foi de 5 anos; 57,1% masc e 52% raça parda; 6,4% evoluíram para óbito. - Transmissão pessoa-pessoa acontece por pessoas assintomáticas e sintomáticas, sendo que pode acontecer até 2d antes dos primeiros sintomas. - Gotículas respiratórias. - 4 Proteínas necessárias para formar partícula viral completa: Spike (S): faz ligação e entrada do SARS-COV2 no receptor da célula alvo do hospedeiro, que se expressa em células epiteliais alveolares. Membrana (M): formato do vírion, se liga ao nucleocapsídeo Envelope (E): montagem e liberação do vírus. Nucleocapsídeo (N): se liga ao genoma. - Protease é ativada e cliva proteína S, alterando sua conformação, permitindo a penetração por endocitose, pela ligação das membranas virais. - É no epitélio intestinal que ocorre replicação do vírus. A maior transmissibilidade está relacionada com a replicação nas vias aéreas superiores. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Hiperemia de faringe, dor de garganta, febre e tosse manifestam-se em metade das crianças com SARS-CoV2. - Além de coriza, dor de garganta, aumento da FR, sibilos e pneumonia. - Sintomas GI são mais comuns em crianças do que adultos: vômitos e diarreia. - Dispneia é um sinal de alerta para casos graves e críticos. - Síndrome inflamatória multissistêmica: sd. de Kawasaki: crianças com um quadro clínico que ocorre 2- 4sem após infecção pelo vírus. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 6 - Febre persistente, sintomas GI, conjuntivite bilateral não purulenta, inflamação mucocutânea, acometimento cardiovascular. - Crianças e adolescentes de 0 a 19 anos com febre ≥ 3 dias. E dois dos seguintes: Exantema ou conjuntivite não purulenta bilateral ou sinais de inflamação mucocutânea (orais, mãos ou pés). Hipotensão ou choque. Características de disfunção miocárdica, pericardite, valvulite ou anormalidades coronárias (incluindo achados do ecocardiograma ou elevações de troponina/pró-BNP). Evidência de coagulopatia (TP, TTPA, D-dímero elevado). Problemas gastrointestinais agudos (diarreia, vômito ou dor abdominal). E - Marcadores elevados de inflamação, como velocidade de hemossedimentação (VHS), PCR ou procalcitonina. E - Nenhuma outra causa de inflamação microbiana, incluindo sepse bacteriana, síndromes de choque estafilocócica ou estreptocócica. E - Evidência de Covid-19 (RT-PCR, teste antigênico ou sorologia positiva) ou provável contato com pacientes com Covid-19. - Fatores de risco para COVID-19 grave: Crianças < 1 ano Crianças portadoras de cardiopatias, pneumopatias, hemoglobinopatias, nefropatias, hepatopatias Imunodeprimidos Diabéticos Gestantes e puérperas Pessoas com obesidade - Em relação à classificação clínica da Covid-19 pediátrica, que tem como objetivo auxiliar na definição do manejo e tratamento, as crianças e adolescentes podem apresentar os seguintes quadros: 1. Assintomático: sem quaisquer sintomas clínicos. 2. Leve: aqueles com febre, fadiga, mialgia e sintomas de infecções agudas do trato respiratório. 3. Moderado: pneumonia, febre e tosse, sibilância, mas sem hipoxemia. 4. Grave: febre, tosse, taquipneia, saturação de oxigênio inferior a 92%, sonolência. 5. Crítico: progressão rápida para a síndrome respiratória aguda grave (SRAG) ou insuficiência respiratória, necessitando de suporte ventilatório invasivo e admissão em UTI. - Considerar como sinais de gravidade tosseou dificuldade respiratória e pelo menos um dos seguintes: Cianose central ou SpO2 < 92% (< 90% em recém-nascido prematuros), avaliado por oximetria de pulso (SpO2). Desconforto respiratório. Taquipneia acentuada. Incapacidade ou dificuldade na alimentação. Diminuição do nível de consciência. Letargia ou perda de consciência ou convulsões DIAGNÓSTICO LABORATORIAL - Padrão ouro: PCR nasofaringe, com melhor sensibilidade nos primeiros dias após início dos sintomas. - Testes sorológicos, detecção de anticorpos IgM e IgG tem função no diagnóstico tardio da infecção, quando carga viral está em redução. CONDUTA - Orientar sobre isolamento e cuidados domiciliares. Informar sobre sinais e sintomas de agravo. - Realizar dx diferencial com outras infecções virais respiratórias, pneumonias e outras doenças. - Avaliar necessidade de hospitalização: fatores de risco, faixa etária, presença de complicações, possibilidade de reavaliação clínica, capacidade da família de reconhecer piora do quadro e levar ao hospital. - Para casos mais graves, solicita exames complementares (RX, USG, TC) - Além disso, realiza-se terapia de suporte ventilatório, reposição volêmica e medicação vasoativa, se necessário. - Remdesivir, um antiviral, foi incluído no tto de crianças com covid, embora não se tenha muito estudo sobre. - Vacina Obstrução inflamatória aguda das vias aéreas superiores - Componentes: Epiglotite, Laringotraqueobronquite e Laringite Espasmódica Aguda. - Essas desordens têm como característica comum: estridor inspiratório e graus variados de dispneia e tiragem. Apresentam como evento fisiopatológico básico a presença de edema. - As doenças da laringe são denominadas da seguinte forma: Afecções supraglóticas (epiglotite) Afecções infraglóticas ou “crupe” (laringite, laringotraqueíte e laringotraqueobronquite). - Importante condição em lactentes e crianças pequenas, pois elas possuem diâmetro reduzido de vias aéreas quando comparadas a crianças maiores, facilitando a inflamação. ETIOLOGIA Crupe - Causada por agentes virais: parainfluenzae tipo 1, 2 e 3 (75% dos casos). No restante dos casos: influenza, adenovírus e VSR. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 7 - A laringotraqueíte bacteriana é uma complicação da laringotraqueíte viral, causada pelo Staphylococcus aureus, seguido de Moraxela catarrhalis e Hemophylos influenzae. Epiglotite - Principais: Streptococcus pyogenes, Streptococcus pneumoniae, Staphylococcus aureus. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Crupe - Forma mais comum de obstrução aguda das vias aéreas superiores, geralmente de origem viral. - Pctes geralmente tem uma IVAs durante vários dias antes da tosse com características crupais. - No início há apenas uma tosse metálica ou ladrante com estridor inspiratório leve. À medida que a obstrução ↑ o estridor torna-se contínuo e é acompanhado de piora da tosse, rouquidão, batimento das asas do nariz e retração supra, sub e intercostais. - Sintomas tipicamente piores à noite, com redução gradual durante o dia. - Doença autolimitada com duração média de 3-5 dias. - Idade de predomínio: 3 meses a 5 anos, com pico de incidência aos 2 anos de vida. Afetando principalmente sexo masculino. - Dx: história recente de resfriado, evoluindo dias depois com a tríade de rouquidão + tosse metálica + estridor Síndrome de Crupe. - Na prática clínica o dx é clínico, sem necessidade de exame de imagem. Porém, se feito RX de pescoço, observa-se o “sinal da torre”, ou seja, estreitamento da via aérea infraglótica pelo edema inflamatório. Laringite Estridulosa Aguda (Crupe Espasmódico) - Semelhante a laringotraqueobronquite, porém acomete crianças mais novas (1-3 anos) e os achados de infeção estão ausentes. - Etiologia controversa e os fatores alérgicos e psicológicos tb são importantes. - Quadro súbito, precedido de coriza e rouquidão. Criança acorda assustada, com tosse metálica, inspiração ruidosa e dificuldade respiratória. Epiglotite - Representa a forma mais grave de obstrução inflamatória aguda das vias superiores. Tem como característica uma instalação aguda, com insuficiência respiratória precoce. Acomete crianças de 2-5 anos. Curso fulminante, com febre alta, for de garganta, sialorreia, dispneia, obstrução respiratória progressiva e prostação. - Em questão de horas a epiglotite pode evoluir com obstrução completa da via e morte. - A criança geralmente acorda no meio da noite, com febre alta, afonia, sialorreia, dificuldade respiratória moderada ou intensa com estridor. Costuma sentar-se para frente, com o pescoço hiperestendido e em posição de tripé. Boca permanece aberta e com língua protrusa. Podem progredir rapidamente para choque. - Padrão ouro de dx: visualização da epiglote vermelho- cereja, grande e edematosa por laringoscopia. - Na suspeita de epiglotite evita-se a inspeção da orofaringe com abaixador de língua, pois pode levar a um laringoespasmo reflexo seguido de PCR. - A posição supina tb deve ser evitada. - Após dx ser tomado: intubação (preferencialmente) ou traqueostomia, internação na UTI - Ao RX: “sinal do polegar”: representa justamente o edema de epiglote. Porém, na prática o RX NÃO está indicado e a manipulação para o procedimento pode ser fatal. TRATAMENTO Crupe Espasmódico e Laringotraqueobronquite Aguda - Terapia domiciliar: uso de vapor quente ou frio frequentemente interrompe o espasmo laríngeo e a dificuldade respiratória. - Após cessar o espasmo, evitar sua recorrência pelo uso de umidificação quente ou fria próximo a cama da criança nos 2 a 3 dias seguintes. - A criança com síndrome de Crupe deve ser hospitalizada na presença de: epiglotite, estridor progressivo, estridor intenso em repouso, dificuldade respiratória, hipóxia, inquietude, cianose/palidez, depressão do sensório, febre ↑ em criança com aparência toxêmica. - No hospital: atmosfera de alta umidade, monitorização frequente, em casos de estridor progressivo deve ser feito nebulização com adrenalina e soro fisiológico + glicocorticoide (dexametasona ou budesonida) em dose única para evitar recidiva da obstrução após a nebulização. - Sedativos e opiáceos são contraindicados. - SEM resposta ao atb, pois são virais. Epiglotite - É emergência médica! - Com o advento da vacinação contra Haemophylus, a incidência da epiglotite vem ↓ significativamente. - Tratada imediatamente com estabelecimento de via aérea artificial -> intubação traqueal, independente do grau de desconforto respiratório da criança. Tempo médio de intubação de 2 dias. - Iniciar ATB: Ceftriaxona e Cefuroxima OU Meropenem. Todos EV. Por 7-10 dias. - A decisão de extubar é tomada quando se observa um escape de ar ao redor do tubo ou através da visualização EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 8 da redução do edema de epiglote com uso de laringoscopia. - Profilaxia para contactantes de uma epiglotite: Rifampicina por 4 dias. Feita em crianças com < 48 meses com a vacinação incompleta, ou crianças < 12 meses que não completaram a sequencia de vacinação e crianças contactantes imunocomprometidas. LITERATURA UTILIZADA - Tratado de Pediatria da SBP 5ª Ed. – 2017 vol 1 e 2 - Medcurso 2019 – Pediatria vol 7 – Distúrbios das vias respiratórias
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