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Análise de risco em decisões de investimento II Apresentação Nesta Unidade de Aprendizagem, aprofundaremos a importância da análise do risco na avaliação de investimentos. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Diferenciar os custos de capital em empresas multidivisionais.• Construir ajustes inflacionários em cálculos de custo de capital.• Identificar as vantagens das opções reais no gerenciamento de risco.• Desafio Quando uma empresa, ou uma pessoa física, avalia se vai investir ou não em determinado ativo, é sempre necessário verificar se o retorno do investimento está ajustado ao risco. Só se investe em algo com mais risco se o retorno for maior. Vejamos um exemplo simples: imagine duas empresas quaisquer, denominadas de “X” e “Y”. A empresa “X”, há décadas no mercado, produz e vende seus produtos há muitos anos para os Estados Unidos e Europa. A empresa “Y”, recém-fundada, decidiu produzir produtos de luxo para o mercado Norte Coreano (é um exemplo). Se a empresa “X” oferece 10% de retorno anual a seus investidores, alguém investirá na empresa “Y” pelos mesmos 10%? É claro que não, pois seu mercado é muito mais arriscado que o da empresa “X”, assim, para atrair investidores, a empresa “Y” acaba sendo forçada a oferecer um retorno maior, por exemplo, 12 ou 15%. O problema deste exemplo é que ele trata situações simples de avaliar, pois uma é recém-fundada e a outra já é tradicional, e o mercado de cada empresa é bem diferente. Agora, como fazer para calcular o custo de capital para investimento em empresas multidivisionais (aquelas que possuem diversas divisões, ou que operam em diversos setores) ou para considerar a inflação em seu cálculo e, para finalizar, como utilizar opções reais para gerenciar o risco? Pois bem, este é o desafio desta unidade. Pesquise e responda às três perguntas acima. A resposta será avaliada conforme os seguintes critérios: • Se for necessário realizar alguma operação matemática, deve ser apresentado o raciocínio completo, e não apenas o resultado final. Infográfico O infográfico a seguir exemplifica o funcionamento das opções reais. Veja que, primeiramente, é realizado um investimento inicial e, depois de algum tempo, é possível decidir por investir mais (se o resultado estiver acima do esperado), apenas manter o investimento (se o resultado estiver dentro do esperado) ou, ainda, investir menos (se o resultado estiver aquém do esperado). Investir menos também é conhecido pela expressão desinvestir. Conteúdo do livro Os gestores devem buscar conhecer todos os elementos da análise de riscos em suas decisões de investimentos, é importante saber utilizar as técnicas e todos os elementos que são de grande importância pra que as organizações podem tomar as melhores em relação aos seus investimentos. No capítulo Análise de risco em decisões de investimento II, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, serão abordados elementos que permitem diferenciar os custos de capital em empresas multidivisionais, também será possível compreender com os ajustes inflacionários devem ser incorporados a analise de decisões, bem como, serão apresentadas as vantagens das opções reais no gerenciamento de risco. Boa leitura. ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Diferenciar os custos de capital em empresas multidivisionais. > Construir ajustes inflacionários em cálculos de custo de capital. > Identificar as vantagens das opções reais no gerenciamento de risco. Introdução As empresas necessitam de dados a todo momento, dados esses que devem ser gerados e interpretados por seus gestores para subsidiar os processos de tomada de decisão. Quanto mais informações de qualidade e que atendam às necessidades dos tomadores de decisão, maior será a possibilidade de que sejam tomadas as melhores decisões e buscados os melhores resultados para as organizações. Organizações multidivisionais, ou seja, que atuam simultaneamente em vários setores, devem buscar atender às especificidades de cada um desses setores em suas tomadas de decisão. Sendo assim, é natural que o ambiente de negócios dessas organizações se torne cada vez mais complexo e demande decisões mais sofisticadas de seus gestores. Os profissionais que atuam no processo de geração de informações para controle organizacional devem conhecer plenamente as ferramentas contábeis e financeiras necessárias para uma gestão eficiente em seus negócios. Ademais, eles também devem conhecer quais são as necessidades informacionais de seu Análise de risco em decisões de investimento II Johny Henrique Magalhães Casado e Henrique Martins Rocha negócio, para que, assim, seja possível a produção de informações adequadas e que subsidiem boas tomadas de decisão. Neste capítulo, você vai conhecer as empresas multidivisionais e os elementos que diferenciam os custos de capital nesse tipo de estrutura organizacional. Além disso, serão apresentados exemplos de ajustes inflacionários em cálculos de custo de capital, de modo que você se torne capaz de avaliar as tomadas de decisão em ambientes com alta inflação. Por fim, você poderá compreender as vantagens das opções reais no gerenciamento de risco. Empresas multidivisionais e os custos de capital As empresas podem adotar variadas estruturas organizacionais. Algumas optam por estruturas mais simples, em que o proprietário ou gerente toma a maioria das decisões e supervisiona todas as atividades, ao passo que outras empresas optam por estruturas mais funcionais, em que seus colaboradores são mais especializados em suas respectivas funções e, desse modo, tomam as decisões que estão sob sua responsabilidade. No entanto, há também um terceiro tipo de estrutura organizacional, a chamada “estrutura multidivisio- nal”, que é utilizada principalmente por médias e grandes empresas. Em comparação com as demais, as empresas que adotam uma estrutura multidivisional têm um crescimento muito acelerado, o que se deve ao fato de sua principal estratégia ser derivada da diversificação. Ao tratar sobre as empresas multidivisionais, é importante considerar que, nesse modelo de negócio, estão representadas as grandes empresas em economias maduras, em “[...] contraste com grupos de negócios diversificados, que há muito tempo são considerados uma forma típica de grandes negócios, especialmente em economias emergentes” (COLPAN; HIKINO, 2010, p. 22). A principal característica da estrutura multidivisional são as suas divisões independentes, que têm, cada uma delas, um centro de custo ou um negócio separado. Uma vez que essas divisões são basicamente subunidades da empresa, elas poderiam sobrevier independentemente das outras, teriam um orçamento próprio e colaboradores próprios, bem como poderiam estabelecer suas próprias estratégias de acordo com suas expectativas. A estrutura de negócios multidivisional é “[...] vista como a estrutura dominante para gerenciar múltiplas linhas de negócios” (ZANELA, 2018, p. 19). Sendo assim, esse tipo de estrutura é frequentemente adotado por grandes organizações, que costumam ter uma grande quantidade de informações Análise de risco em decisões de investimento II2 estratégicas, que podem ou não estar localizadas em vários países ou regiões geográficas do globo. Uma organização multidivisional pode, por exemplo, ter uma divisão de seus negócios localizada no continente americano, outra voltada exclusivamente para os negócios ocorridos na União Europeia e outra voltada a negociar com países do continente africano. Com isso, essas divisões poderão ser gerenciadas de acordo com as particularidades de cada região (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2008). Dentre as principais vantagens de se adotar a estrutura multidivisional para os negócios, destaca-se a descentralização das decisões. Nesse tipo de estrutura, os direitos de tomada de decisão são delegados a funcionários em níveis mais baixos na hierarquia, quecostumam ter conhecimento específico sobre sua área de atuação e podem implementar com maior eficácia soluções e novos procedimentos. Além disso, a descentralização das decisões permite que a gerência da organização foque em decisões estratégicas e globais (ZANELA, 2018). Por outro lado, a adoção dessa estrutura também traz algumas desvan- tagens. Na estrutura multidivisional, os diretores de cada unidade tendem a focar em seus próprios objetivos, o que maximiza valor para a organização, contanto que não exista dependência entre as unidades da empresa. Ademais, também podem se desenvolver conflitos de interesse entre as unidades (ZANELA, 2018). Em relação à gestão das organizações multidivisionais, também se faz necessário compreender como o custo de capital pode ser entendido nesse contexto de organização empresarial. Custo de capital, segundo Pratt (1998, p. 3), “[...] é a taxa de retorno esperada que o mercado requer para carrear recursos para um investimento qualquer, é um custo esperado, dado pelo custo de oportunidade”. Geralmente, o custo de capital não é um dado ob- servável. Ele é o resultado do conjunto de benefícios que são esperados pela organização ponderados de acordo com o risco específico de cada ativo que está recebendo esses investimentos. Algumas questões surgem quando os gestores estão avaliando o custo de capital dentro dos negócios. Dentre elas, destaca-se o fato de que o novo investimento deve ter o mesmo risco que os ativos que a organização já possui. “Se tiver, o novo investimento será uma cópia dos ativos existentes e o custo do capital servirá adequadamente como taxa de desconto ajustada pelo risco. Se não tiver, devemos prosseguir com mais cautela” (HIGGINS, 2014, p. 313). Quando lidamos com o custo de capital em uma organização com estru- tura multidivisional, esse custo deve ser calculado de maneira separada por divisão. Apenas depois disso é que será possível obter o custo de capital de Análise de risco em decisões de investimento II 3 toda a empresa multidivisional, que vai corresponder à média dos custos de capital de toda a sua linha de negócios (ALENCAR, 2005). As empresas multidivisionais não podem, de forma alguma, utilizar um mesmo valor de custo de capital para nortear seus processos de tomada de decisão em toda a organização, pois, se isso ocorrer, as decisões vão ser tomadas a partir de dados distorcidos. Ao adotar essa postura, tais empresas podem incorrer em dois tipos de erro, conforme explica Higgins (2014, p. 314): Nas divisões de baixo risco, elas tendem a rejeitar investimentos de baixo risco e que valem a pena por falta de retorno esperado, enquanto, nas divisões de risco elevado, tendem a fazer o contrário: aceitar investimentos antieconômicos e de risco elevado por causa dos prospectos de retorno. Com o tempo, essas empresas verão suas divisões de baixo risco definhar por falta de capital, enquanto suas divisões de risco mais elevado são alimentadas à força com capital em excesso. Em organizações com estrutura multidivisional, o cálculo do custo de capital deve ser realizado a partir da divisão delas entre os principais se- tores em que atuam. Por exemplo, se uma organização atua na geração e na distribuição de energia elétrica, o cálculo do seu custo de capital deve levar em consideração os dois setores e suas principais especificidades. Os gestores e todos os profissionais envolvidos nas organizações devem buscar compreender exatamente como o processo de cálculo de custo de capital deve ser aplicado nas empresas com estrutura multidivisional, de modo que seja possível analisar os elementos de cada um dos setores para que a empresa tenha os melhores subsídios para tomada de decisão. O cálculo do custo de capital é importante para determinar se a empresa realizará ou não novos investimentos. No entanto, convém salientar que também é preciso analisar os impactos da inflação sobre os custos de médio e longo prazo da organização. Pode ocorrer de os gestores considerarem, num primeiro momento, que investimentos futuros são positivos para sua organi- zação, mas repensarem tais investimentos ao analisar o impacto da inflação sobre os resultados. Por isso, faz-se necessário reconhecer a importância dos ajustes inflacionários em cálculos de custo de capital. Ajustes inflacionários em cálculos de custo de capital O termo “inflação” foi cunhado por economistas para designar uma situação em que há um aumento generalizado e contínuo de preços. Assim, se “[...] os preços dos bens se elevassem apenas durante um curto período de tempo, Análise de risco em decisões de investimento II4 estabilizando-se em seguida, não seria caracterizado um processo inflacio- nário, mas apenas um ajuste da economia” (SILVA, 2018, p. 97). Portanto, uma economia é caracterizada como inflacionária quando os preços aumentam continuamente e por um longo período. Os gestores e as empresas devem encontrar formas de lidar com a inflação em todos os seus processos internos, principalmente quando a empresa pre- cisa tomar decisões no curto, médio e longo prazo para seus negócios. Sendo assim, a consideração dos impactos dos ajustes inflacionários deve ser parte dos processos internos das organizações para que se construam decisões mais acertadas e atreladas aos índices econômicos e financeiros do país. Os recursos utilizados pelas organizações para financiar suas atividades podem ser provenientes de capital próprio ou de capital de terceiros. O capital próprio corresponde ao conjunto de recursos que pertencem à organização, seja porque foram investidos pelos seus sócios em sua constituição, seja porque foram gerados pelas atividades operacionais realizadas por ela, como venda e comercialização de produtos ou serviços aos seus clientes. Já o capital de terceiros é o conjunto de recursos obtidos de terceiros por meio de empréstimos ou operações de crédito realizadas pela organização. O cenário ideal é que as organizações financiem suas atividades utilizando recursos próprios. Entretanto, esse cenário nem sempre é possível. Por isso, muitas vezes as organizações precisam buscar recursos de terceiros para financiar seus planos de investimentos ou, ainda, para utilizá-los como capital de giro em suas operações. Para uma melhor compreensão de como a organização pode calcular seu custo médio ponderado de capital (CMPC), considere como exemplo o caso do grupo empresarial Vest e Cia. Com atuação em todo o Brasil, essa grande empresa do setor de vestuário tem buscado implementar uma estrutura moderna para lidar com seus recursos financeiros. Vamos supor que o gestor financeiro que cuida dos rendimentos da organização detectou que a estrutura de capital da empresa é composta pelos seguintes valores: � 40% de dívida, ao custo de 5% líquido; � 60% de capital próprio, com um custo de 20%. Análise de risco em decisões de investimento II 5 Então, o CMPC será calculado da seguinte forma: O CMPC do grupo empresarial Vest e Cia. é, portanto, de R$ 14%. Analisando esse resultado, a equipe financeira desse grupo empresarial decidiu calcular o seu custo total do capital considerando os benefícios fiscais de desconto do imposto de renda. Para tanto, foi utilizada a seguinte fórmula: onde: � Ke: custo de capital próprio (acionistas); � Kd: custo de capital de terceiros (dívida); � E: patrimônio líquido; � D: dívida total; � IR: imposto de renda incidente sobre os lucros da empresa. Logo: � proporção do capital correspondente ao patrimônio líquido; � proporção do capital correspondente à dívida. Considerando que o valor da dívida é de R$ 100.000,00, o valor do capital próprio também é de R$ 100.000,00 e a alíquota de imposto de renda é de 30%, temos: Portanto, considerando a alíquota de 30% de imposto de renda e os valores informados de capital próprio e de capital de terceiros, o CMPC do grupo empresarial Vest e Cia. é de R$ 10.400,00. Análise de risco em decisões de investimento II6Um ponto importante a ser analisado é o benefício fiscal da dívida, que representa um benefício considerado pelo governo. Segundo Cunha e Rech (2010, p. 6), ele: [...] se traduz em economia de recursos financeiros que a empresa aufere pela utilização de capital de terceiros na sua estrutura de capitais. Tal benefício existe em função da dedutibilidade das despesas com juros para efeito de apuração do valor do imposto de renda e contribuição social sobre o lucro. Essa dedução, consequentemente, acarreta uma redução do fluxo de pagamento dos impostos por parte da empresa, o que se pode entender como entrada de caixa proveniente de recursos do Estado. Quando uma empresa obtém o benefício da dedução fiscal sobre os juros da sua dívida, é como se ela “[...] estivesse pagando o imposto de renda integral sobre os resultados operacionais e recebendo de volta do governo a parcela de imposto já paga, proporcional à aplicação da alíquota de imposto sobre as despesas financeiras” (MARTINS, 2005, p. 22). Analisando os dados apresentados anteriormente relativos ao exemplo da Vest e Cia., verificamos que, antes de efetuar qualquer investimento a partir de então, a organização deverá analisar se esse investimento garante um retorno positivo para ela. Tendo isso em conta, considere os três cenários descritos a seguir. Uma vez que a Vest e Cia. já descobriu que o seu CMPC é de R$ 14%, ela vai usar esse percentual para analisar os seus investimentos. Após realizar inúmeros estudos para novas expansões de suas atividades, a organização selecionou três investimentos: � investimento 1 — compra de nova máquina, ao custo de R$ 100.000,00, que vai gerar um fluxo de caixa médio de R$ 8.000,00 ao ano, ou seja, vai gerar um rendimento de cerca de 8% ao ano; � investimento 2 — investimento em uma nova linha de produto, ao custo de R$ 1.000.000,00, que vai gerar um fluxo de caixa médio de R$ 140.000,00 ao ano, ou seja, vai gerar um rendimento de cerca de 14% ao ano; � investimento 3 — investimento em uma nova unidade produtiva, ao custo de R$ 10.000.000,00, que vai gerar um fluxo de caixa médio de R$ 2.000.000,00 ao ano, ou seja, vai gerar um rendimento de cerca de 20% ao ano. Análise de risco em decisões de investimento II 7 Segundo o gestor financeiro do grupo empresarial Vest e Cia., todos esses investimentos vão ser realizados considerando-se os percentuais de 40% de origem de terceiros e 60% de origem de capital próprio. Sendo assim, a seguinte análise deve ser realizada: � investimento 1 — 8% de retorno é inferior ao CMPC de 14% da empresa, e, portanto, esta não deveria realizá-lo, considerando apenas esse fator como subsídio para a tomada de decisão; � investimento 2 — 14% de retorno é igual ao CMPC de 14% da empresa, e, portanto, essa opção não vai nem criar nem destruir valor para o acionista; � investimento 3 — 20% de retorno é superior ao CMPC de 14% da em- presa, e, portanto, essa opção é um bom negócio para ela, mostrando- -se uma ótima oportunidade para gerar valor ao negócio e receber investimentos. Ao analisar as informações apresentadas, é possível concluir que a or- ganização que obtém o custo ponderado de capital consegue realizar uma tomada de decisão mais robusta e calcada em dados e informações financeiras relevantes para o seu negócio. Entretanto, ao projetar que terá um rendimento futuro em um dado investimento, a organização deverá considerar também os impactos da inflação em relação a esse investimento, qual será o seu retorno e o quanto de capital deverá compor os recursos necessários para o seu negócio. Para exemplificar a influência da inflação nos resultados, vamos obser- var o caso da empresa XYZ. Essa empresa está analisando a viabilidade de investir $ 100.000 em determinado empreendimento, que, de acordo com as previsões de mercado, vai propiciar ganhos líquidos anuais conforme apresentado no Quadro 1. Quadro 1. Ganhos líquidos anuais do empreendimento Tempo Valor ($) 0 –100.000,00 1 47.000,00 2 47.000,00 3 47.000,00 Análise de risco em decisões de investimento II8 Considerando o custo de capital de 15% a.a., podemos calcular o valor presente líquido (VPL) do projeto: Sendo o VPL positivo, ou seja, maior que zero, podemos inferir que o projeto é adequado e, portanto, deve ser aceito. No entanto, vamos considerar que o gerente contábil tenha alertado que o cálculo continha uma incorreção: foram usados valores e taxa de desconto (custo de capital) nominais, ignorando, dessa forma, o efeito da inflação, prevista em 4% a.a. Então, ele recomendou que tudo fosse convertido para uma base real, de modo que o efeito da inflação fosse expurgado do cálculo e, assim, tivéssemos um resultado real. Para julgar a pertinência da preocupação do gerente contábil, avaliando se o VPL vai aumentar ou diminuir quando calcularmos em base real, vamos realizar esse cálculo. Primeiramente, vamos converter a taxa de desconto nominal em real, utilizando a seguinte fórmula: Efetuando os cálculos, encontramos o seguinte: Agora, vamos calcular os valores reais. Observe que eles são nominais, ou seja, eles abrigam um componente inflacionário, que “incha” os valores. Para converter esses valores em valores reais, vamos pensar da seguinte forma: os $ 47.000 que são mostrados em t = 1 representam um valor real (que não sabemos qual é), que, quando há uma inflação de 4%, chega a $ 47.000. Dessa forma, basta retirarmos tal inflação dos $ 47.000, dividindo o valor por 1 + taxa de inflação, como mostrado a seguir: Devemos, então, efetuar o mesmo cálculo para os outros valores, mas considerando o fator cumulativo: os $ 47.000 do segundo ano acumulam dois Análise de risco em decisões de investimento II 9 anos de inflação, e o último, três anos de inflação. Dessa forma, temos os valores reais apresentados no Quadro 2. Quadro 2. Valores reais, considerando o fator cumulativo Tempo Valor 0 –100.000,00 1 45.192,31 2 43.454,14 3 41.782,83 Calculando o VPL nessa nova situação, temos: Nesse cálculo, é possível perceber que o VPL é exatamente o mesmo que obtivemos antes. A razão para isso é que, quando trazemos todos os valores para o tempo presente (t = 0), não importa se utilizamos valores e taxa de desconto nominais ou valores e taxa de desconto reais. O resultado é rigorosamente o mesmo. É importante salientar que não podemos misturar as bases de cálculo. Se usarmos valores reais com taxas nominais, ou valores nominais com taxas reais, incorreremos em erro de cálculo. Se uma empresa com custo de capital de 15% considerar um investimento de R$ 1.000.000,00 e projetar que esse investimento resultará em fluxos de caixa na ordem de R$ 330.000,00, levando em consideração uma taxa interna de retorno (TIR) de 12%, ela terá problemas no futuro, pois já optou por realizar o investimento com retorno abaixo do seu custo de capital. Porém, o erro da empresa não está concentrado apenas na decisão de realizar um investimento com TIR inferior ao seu custo de capital. A empresa também desconsiderou o impacto da inflação durante o período do investimento. Análise de risco em decisões de investimento II10 Os gestores devem ficar atentos aos benefícios fiscais que são concedi- dos às empresas, pois esses benefícios podem colaborar na diminuição dos impostos pagos. Segundo Ness Júnior e Zani (2000, p. 100): A introdução da opção de atribuir juros remuneratórios ao capital próprio teve por objetivo minorar os efeitos sobre o patrimônio da empresa, decorrentes da extinção da correção monetária. O Artigo 10 da Lei 9.249/95 estabelece que, para efeito da apuração do lucro real, poderão ser deduzidos os juros pagos a título de remuneração do capital próprio, calculados sobre o patrimônio líquido, com base na TJLP e limitados a 50% do lucro antes do lançamento desses juros e do IRPJ. Foi bastante oportuna a introdução desse fator de economia fiscal e de preservação do patrimônio empresarial. As organizações devem analisarseus investimentos durante períodos de inflação e sempre comparar itens semelhantes. Nesse sentido, Higgins (2014, p. 318) aconselha: “Quando os fluxos de caixa estiverem em dólares nominais, use uma taxa de desconto nominal. Quando os fluxos de caixa estiveram em valores reais, ou constantes, use uma taxa de desconto real”. Então, é preciso que os gestores financeiros busquem projetar os resultados operacionais dos seus rendimentos a partir do impacto da inflação em seus negócios. Em um regime inflacionário, ocorre a perda do poder aquisitivo da moeda; por isso, faz-se necessário que os gestores atuem para evitar a corrosão do patrimônio da organização ao longo do tempo. A melhor forma de fazer isso é utilizar um indexador que corrija os valores do capital e o atualize em relação à inflação. A indexação que os gestores podem promover com o intuito de prevenir a corrosão do patrimônio pode ser de duas formas: � adoção de uma moeda que seja estável ou que tenha uma inflação desprezível no período; � conversão do capital que está sendo analisado em algum indexador financeiro ou econômico — podem ser escolhidos os índices calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ou pela Fun- dação Getúlio Vargas (FGV), sendo necessário que a escolha do índice leve em consideração índices reconhecidos no mercado. Quando uma organização analisa um projeto de investimento, essa análise, em linhas gerais, lança mão de preços constantes, ou seja, utiliza-se uma data-base em que é mensurada a rentabilidade real do projeto. Segundo Cury (2011, p. 67), “[...] numa economia inflacionária, entretanto, os preços são continuamente indexados aos valores relativos à data-base do projeto, Análise de risco em decisões de investimento II 11 implicando a correção dos valores futuros do fluxo de caixa em relação àquela referência”. Para exemplificar, vamos apresentar a seguir dois cenários, um em que o ajuste inflacionário é considerado e outro em que ele não é considerado; neles, é possível verificar como os valores se alteraram e como isso acabou por alterar a visão do todo. Em nosso exemplo, vamos considerar o caso da organização Para Todos, um grande grupo empresarial que atua no setor far- macêutico e está analisando a produção de um novo medicamento para gripe que tem um grande potencial de consumo. Aliás, a depender dos resultados clínicos e da eficiência do medicamento, a empresa pode se inserir em um ramo ainda inexplorado por ela. Frente às expectativas criadas pelo desenvolvimento do novo medica- mento, o presidente da empresa solicitou ao seu departamento financeiro que projetasse um fluxo de caixa para o novo projeto. Considerando que a empresa utiliza dados econômicos de um instituto de pesquisa que estima uma inflação de 45% a.a., o seu departamento financeiro apresentou dois cenários, mostrados nos Quadros 3 e 4. Quadro 3. Cenário 1: fluxo de caixa com o imposto de renda descontado para os cinco anos seguintes Ano Fluxo de caixa após o imposto de renda 0 –70.000 1 20.000 2 20.000 3 17.000 4 17.000 5 14.000 Com base nos valores do fluxo de caixa apresentados, a TIR real do projeto equivale a 8,68% a.a., e, aplicando-se a inflação prevista, chega-se à TIR aparente de 57,58% a.a. Análise de risco em decisões de investimento II12 Quadro 4. Cenário 2: fluxo de caixa a preços correntes com a introdução de um inflator Ano Fluxo de caixa constante Inflator Fluxo de caixa corrente 0 –70.000 1,0000* –70.000 1 20.000 1,4500 29.000 2 20.000 2,1025 42.050 3 17.000 3,0486 51.826 4 17.000 4,4205 75.149 5 14.000 6,4097 89.736 *Data-base; por isso, o valor do inflator é 1. Ao construir o cenário 2, temos que a TIR é de 57,58% a.a., que é exatamente igual à encontrada anteriormente para o fluxo de caixa a preços constantes. O valor da taxa nominal é simplesmente a taxa de juros que faz o dinheiro render. Já a taxa de juros real existe para que seja possível avaliar os juros levando em consideração os efeitos da inflação sobre o dinheiro. Tida como um risco, a inflação deve ser considerada no momento da avaliação dos investimentos. Para calcular a taxa real, é empregada a seguinte fórmula: Analisando esse exemplo, podemos concluir que é recomendado o uso da moeda constante, com data-base definida, na elaboração de fluxos de caixa “[...] para fins de análise de projetos de investimentos, considerando-se, sempre, no cálculo do VPL desses fluxos, taxas de juros de desconto reais, ou seja, TMA (Taxa Mínima de Atratividade) sem a consideração da inflação” (CURY, 2011, p. 68). Se os gestores optarem por elaborar os fluxos de caixa em moeda corrente — ou seja, considerando a inflação —, as taxas de juros de desconto, para o cálculo do VPL, deverão ser estabelecidas em termos nominais. Considerar o uso da inflação nas análises de projeção de investimentos é importante porque proporciona uma visão mais próxima da realidade dos Análise de risco em decisões de investimento II 13 resultados futuros. São muitas as oportunidades em que um investimento aparenta ser atrativo em um primeiro momento, mas não se mostra interes- sante no médio e longo prazo. Desse modo, é recomendado usar ferramentas de análise de risco, pois, assim, torna-se possível o gerenciamento do risco existente nos negócios. Vantagens das opções reais no gerenciamento de risco Em um sistema capitalista, é natural que as atividades comerciais e industriais realizadas pelas organizações incorram em riscos, isto é, estejam sujeitas a elementos ou situações que ameacem o negócio. Sendo assim, espera-se que os gestores atuem para garantir que as empresas e seus investimentos não corram riscos ou, ainda, que tenham seus riscos minimizados, de modo a não impactarem seus negócios. É a partir da consideração desses aspectos que tem origem o gerencia- mento de riscos, como explica Habegger (2008, p. 22): [...] o desafio de direcionar, com prudência e sucesso, o curso dos riscos por entre oportunidades e ameaças acabou por motivar a instituição da gestão de riscos, disciplina que objetiva encontrar caminhos e abordagens que permitam detectar riscos em tempo hábil, avaliar ameaças futuras e implementar ações bem-sucedidas de mitigação. O gerenciamento de riscos deve ser incorporado no dia a dia dos gestores e das organizações, sendo necessário, portanto, que todas as empresas bus- quem compreender seu papel no processo de gestão. Segundo Chaves (2016), o gerenciamento de riscos pode ser realizado em duas etapas, descritas a seguir. 1. Identificação dos riscos: compreende a identificação dos riscos po- tenciais, seguida da análise de cada um deles e da elaboração de um ranking de prioridade de tratamento. 2. Controle dos riscos: abrange a elaboração de um plano para mitigar os riscos, seguido da execução das ações planejadas e do posterior monitoramento do comportamento dos riscos. Para gerenciar os riscos dos seus investimentos, as organizações podem lançar mão de diversas técnicas. Uma das mais conhecidas é a chamada “árvore de decisão”, uma técnica gráfica simples utilizada para retratar uma Análise de risco em decisões de investimento II14 decisão incerta. Geralmente, o uso da árvore de decisão envolve várias de- cisões inter-relacionadas e eventos fortuitos. Segundo Higgins (2014, p. 320): Os nós quadrados na árvore representam as decisões, enquanto os nós circulares denotam os eventos fortuitos. Há somente uma decisão, investir ou não, e apenas um evento fortuito, sucesso ou fracasso. As árvores de decisão são desenhadas a partir da esquerda, começando com a decisão mais imediata, e se movendo para a direita ao longo de vários ramos de eventos, decisões e resultados subsequentes. A análise de uma árvore de decisão, no entanto, se move na direção oposta — da direita para a esquerda. Ela começa nos resultados mais distantes, decide o que isso implica para as decisões mais distantes e trabalha progressivamente para trás ao longodos ramos para a decisão atual. As principais vantagens da árvore de decisão são as seguintes: � elevada flexibilidade, podendo ser utilizada em várias situações que se apresentem para a organização; � grande adaptabilidade às necessidades da organização; � possibilidade de uso em situações complexas; � estrutura intuitiva, o que facilita sua compreensão até mesmo por pessoas com pouco conhecimento dessa metodologia. A estrutura da árvore de decisão permite que as organizações e seus ges- tores examinem graficamente o andamento das operações de investimento, o que possibilita minimizar o risco em seus investimentos. A Figura 1 ilustra um modelo de aplicação da árvore de decisão, apresentando um cenário em que o valor do ativo e o custo total do investimento são incertos, e o tempo de construção e o investimento ocorrem em etapas. Análise de risco em decisões de investimento II 15 Figura 1. Modelo de árvore de decisão para análise e gerenciamento de risco. Fonte: Adaptada de Garcez e Maccari (2015). Fase de P&D Decisão de investimento inicial em P&D e resultados P&D bem-sucedida Comercializar Não comercializar Mercado V+ V– Mercado Fim P&D sem sucesso Não investir I0 Ic T0 T1 Investir Fase de comercialização Decisão de comercialização e resultado do mercado Se “[...] tratadas como eventos sucessivos, a exemplo das opções reais”, as árvores de decisão “[...] constituem-se em um avanço relativo à análise financeira tradicional de fluxo de caixa descontado, pois assumem probabi- lidades condicionais no decorrer do tempo em eventos sucessivos” (GARCEZ; MACCARI, 2015, p. 9). Também é necessário que os gestores analisem quais são as opções reais em relação a um investimento. Em muitas oportunidades, é preciso realizar ajustes sobre a condução de um investimento, o que acaba refletindo na análise total dele. A análise de fluxo de caixa descontado convencional, se- gundo Higgins (2014, p. 320), “[...] não consegue captar essas opções porque, de forma implícita, ignora a flexibilidade gerencial, ou seja, a capacidade de alterar um investimento em resposta a mudanças nas circunstâncias”. A condução de muitos projetos pode ser alterada durante sua vida útil, e essa possibilidade é de grande importância para analisar seu resultado. Em suma, os gestores podem utilizar três opções reais: � abandonar um investimento se os fluxos de caixa não atenderem às expectativas; � fazer investimentos posteriores se a iniciativa inicial for bem-sucedida; � reduzir a incerteza ao adiar os investimentos. Análise de risco em decisões de investimento II16 Cada uma dessas opções reais permite aos administradores escolher a probabilidade que esteja mais a seu favor — o que inclui até mesmo desistir de um projeto que deixe de se mostrar interessante para seu negócio. Para ilustrar o uso da árvore de decisão e das opções, vejamos um exemplo adaptado de Copelando e Antikarov (2001). Considere que a empresa XYZ está avaliando um projeto de investimento em um ativo no valor de $ 100. Há uma probabilidade de 60% de seu valor aumentar em 20% no ano seguinte e uma probabilidade de 40% de ele cair 16,67%. Independentemente do que ocorra no primeiro ano, as probabilidades se repetem no segundo ano, quando o ativo encerra sua vida útil, não havendo qualquer valor residual. Na Figura 2, essa situação é representada na forma de uma árvore de decisão. Figura 2. Árvore de decisão. Fonte: Adaptada de Copeland e Antikarov (2001). V0 = $ 100 V1 = $ 120 V2 = $ 144 V2 = $ 100 V2 = $ 69,44 V1 = $ 83,33 P = 60 % P = 60 % P = 6 0%P = 40% P = 40% P = 40% 1 2 3 A árvore de decisão apresentada na Figura 2 mostra que, se houver um aumento no primeiro ano (probabilidade de 60%), o valor do ativo passará a $ 120 e, se esse aumento se repetir no segundo ano, o valor do ativo passará a $ 144. Se, de outro modo, ocorrer uma queda de 16,67%, o valor ficará em $ 100. Por outro lado, se a queda ocorrer no primeiro ano (40% de probabilidade), o valor chegará a $ 83,33 e, a partir daí, o aumento e a diminuição no segundo ano levarão a valores de $ 100 e $ 69,44, respectivamente. Vamos analisar o valor esperado de tal investimento, considerando as possibilidades e as probabilidades. Esse cálculo é iniciado da direita para a esquerda. Por exemplo, no primeiro nó, temos 60% de probabilidade de um valor de $ 144 e 40% de um valor de $ 100; dessa forma, podemos calcular o valor esperado: 0,6 · 144 + 0,4 · 100 = $ 126,40. Já no nó de baixo, temos o seguinte valor esperado: 0,6 · 100 + 0,4 · 69,44 = $ 87,76. Análise de risco em decisões de investimento II 17 É importante lembrar que tais valores estão em t = 2, e precisamos trazê- -los para t = 1. Para isso, vamos dividi-los por 1 + taxa de desconto. Em nosso exemplo, vamos considerar que a taxa é de 5,33% a.a. Dessa forma, temos: Vamos interpretar o que temos até o momento: se a empresa XYZ investir $ 100, há 60% de probabilidade de ela ter um valor de $ 120 em t = 1 e 40% de probabilidade de ter $ 83,32. Vamos, então, calcular o valor equivalente: 0,6 · 120 + 0,4 · 83,32 = $ 105,33. Como esse valor está em t = 1, vamos trazê-lo para o valor presente, dividindo-o por 1 + taxa de desconto (que é de 5,33% a.a., conforme foi in- formado anteriormente). Assim, temos: A conclusão a que chegamos é que a empresa XYZ investiria $ 100 em um ativo cujo valor esperado era exatamente $ 100. Ou seja, a perspectiva de ganho era zero. Porém, vamos supor que há uma possibilidade: caso a tendência não seja boa, a empresa XYZ tem a opção de se desfazer do ativo. Por exemplo, imagine que, se houver a queda em t = 1, a empresa poderá analisar se essa tendência se manterá e, se isso acontecer, vender o ativo. Como mostra a Figura 3, havendo a possibilidade de abandonar o inves- timento, a empresa XYZ evitaria a possível ocorrência do valor de $ 69,44. Figura 3. Árvore de decisão considerando o abandono do investimento. Fonte: Adaptada de Copeland e Antikarov (2001). V0 = $ 100 V1 = $ 120 V2 = $ 144 V2 = $ 100 Abandono V1 = $ ? P = 60 % P = 60 % P = 60 %P = 40% P = 40% 1 2 3 Análise de risco em decisões de investimento II18 Com isso, o valor equivalente no nó seria de $ 100 em t = 2 (probabilidade de 60%) e permaneceria com o valor de $ 83,33, referente à queda de 16,67% dos $ 100 em t = 1 (40% de probabilidade). Assim sendo, o valor nesse nó seria de: Desse modo, o VPL se altera. Em vez de 0,6 · 120 + 0,4 · 83,32 = $ 105,33, em t = 1, temos agora 0,6 · 120 + 0,4 · 90,30 = $ 108,12, o que, trazido para o valor presente, nos dá: Perceba que a inclusão da flexibilidade, isto é, da possibilidade de tomar decisões conforme novos fatos surgem, fez com que o valor presente do projeto aumentasse. Se, antes, sem essa possibilidade, a empresa XYZ tinha um projeto em que investiria $ 100 para ter um valor esperado de exatamente $ 100 — ou seja, ganho zero (VPL esperado = zero) —, agora identificamos que, ao investir $ 100, a expectativa da empresa é de obter um valor de $ 102,65: um ganho de $ 2,65, o que é denominado “VPL expandido” (considerando a flexibilidade das opções reais). A flexibilidade gerencial de abandonar o ativo cria uma assimetria ou inclinação na distribuição de probabilidade do VPL do projeto. Para capturar o valor da opção de abandono, o VPL precisa ser remodelado para: Observe que aplicamos a flexibilidade em somente um dos nós da matriz de decisão. Caso fosse possível abandonar o ativo em outras circunstâncias, poderíamos adicionar mais opções no modelo, o que aumentaria cada vez mais o VPL expandido. Ademais, há outros tipos de opção para além do abandono. Por exemplo, os gestores poderiam optar por postergar a decisão de investir ou não no ativo (opção de esperar), esperando dispor de mais informações sobre a tendência de mercado, de forma a ter uma decisão mais assertiva. Também, caso fosse confirmada uma tendência favorável, poderiam aumentar o investimento em ativos semelhantes(opção de expandir), etc. Há até mesmo opções compostas, combinando diversas possibilidades (COPELAND; ANTIKAROV, 2001). Análise de risco em decisões de investimento II 19 A partir desse exemplo, você pôde compreender que as opções reais nos permitem reduzir as incertezas nos investimentos, ao considerarem as possíveis ações gerenciais. Além disso, com o cálculo do VPL expandido, minimiza-se o risco de rejeitar projetos que agregariam valor para a empresa. Trata-se, portanto, de uma ferramenta valiosa para o gerenciamento dos riscos de investimentos. Os gestores financeiros dispõem de uma série de ferramentas para analisar suas opções de investimento. Por isso, a busca por informações completas e que realmente possam colaborar para uma tomada de decisão exitosa é parte do dia a dia dos profissionais de gestão financeira. Conhecer ferra- mentas, conceitos e suas respectivas aplicabilidades é parte importante da formação de todos os profissionais que atuam ou pretendem atuar na gestão de organizações modernas e que visam a alcançar o sucesso empresarial. Referências ALENCAR, R. C. Custo do capital próprio e nível de disclosure nas empresas brasileiras. Brazilian Business Review, v. 2, n. 1, p. 1–12, jan./jun. 2005. Disponível em: https://www. redalyc.org/pdf/1230/123016184001.pdf. Acesso em: 20 maio 2021. CHAVES, S. Opções reais como instrumento para gerir riscos em projetos complexos de infraestrutura de tecnologia da informação. 2016. 227 f. Tese (Doutorado em Ciências) — Programa de Pós-Graduação em Administração, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. COLPAN, A.; HIKINO, T. Foundations of business groups: towards na integrated framework. In: COLPAN, A.; HIKINO, T.; LINCOLN, J. (org.). The Oxford handbook of business groups. Oxford: Oxford University Press, 2010. p. 15–66. COPELAND, T.; ANTIKAROV, V. Opções reais: um novo paradigma para reinventar a avaliação de investimentos. Rio de Janeiro: Campus, 2001. CUNHA, M. F.; RECH, I. J. Custo de capital médio ponderado na avaliação de empresas no Brasil: uma investigação da aderência acadêmica e a prática de mercado. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, 17., 2010, Belo Horizonte. Anais [...]. São Leopoldo, RS: Associação Brasileira de Custos, 2010. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/ambiente/article/ download/4142/10185/#:~:text=Page%201-,Custo%20de%20Capital%20M%C3%A9dio%20 Ponderado%20na%20Avalia%C3%A7%C3%A3o%20de%20Empresas%20no,e%20a%20 pr%C3%A1tica%20de%20mercado.&text=O%20objetivo%20deste%20trabalho%20 %C3%A9,Ponderado%20de%20Capital%20(WACC). Acesso em: 30 maio 2021. CURY, M. V. Q. Análise viabilidade de projetos. Rio de Janeiro: FGV Management, 2011. GARCEZ, M.; MACCARI, E. A. Metodologia de avaliação do portfólio de projetos de P&D pelo valor presente ajustado ao risco: um estudo de caso na indústria petroquímica. Revista de Gestão e Projetos, v. 6, n. 2, p. 1–15, maio/ago. 2015. Disponível em: https:// periodicos.uninove.br/gep/article/view/9616/4361. Acesso em: 30 maio 2021. HABEGGER, B. Risk analysis and management in a dynamic risk landscape. In: HABEGGER, B. (ed.). International handbook on risk analysis and management. Zurich: Center for Security Studies, 2008. p. 13–32. Análise de risco em decisões de investimento II20 HIGGINS, R. C. Análise para administração financeira. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. E-book. HITT, M. A.; IRELAND, D. R.; HOSKISSON, R. E. Administração estratégica: competitividade e globalização. 2. ed. São Paulo: Thomson, 2008. MARTINS, V. A. Interações entre estrutura de capital, valor da empresa e valor dos ativos. 2005. 155 f. Tese (Doutoramento em Ciências Contábeis) — Departamento de Contabilidade e Atuária, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. Disponível em: https://www.teses.usp.br/ teses/disponiveis/12/12136/tde-04102006-132444/publico/Tese_VAM_Final_completa. pdf. Acesso em: 30 maio 2021. NESS JÚNIOR, W. L.; ZANI, J. Os juros sobre o capital próprio versus a vantagem fiscal do endividamento. Revista de Administração, v. 36, n. 2, p. 89–102, abr./jun. 2001. Dis- ponível em: http://rausp.usp.br/wp-content/uploads/files/v36n2p89a102.pdf. Acesso em: 30 maio 2021. PRATT, S. P. Cost of capital: estimation and applications. New York: John Wiley & Sons, 1998. SILVA, C. R. Economia e mercados: introdução à economia. 20. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2018. ZANELA, A. B. Uma forma especial de organização: “Business groups” — entre conceitos e consensos. Revista Cadernos de Economia, v. 22, n. 38, p. 3–28, 2018. Disponível em: https://bell.unochapeco.edu.br/revistas/index.php/rce/article/view/4833. Acesso em: 30 maio 2021. Leitura recomendada ROSS, S. A. Administração financeira: versão brasileira de corporate finance. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Análise de risco em decisões de investimento II 21 Dica do professor No vídeo a seguir veremos a análise do risco na avaliação de investimentos. Confira. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/82a4f6018f429e30c3dfeeb54581d06e Exercícios 1) A empresa na qual você trabalha está analisando mudar o perfil de seus investimentos, atualmente rendendo 20% ao ano, para outros que rendem em torno de 24% ao ano. A maioria dos analistas pensa que é um bom negócio. Com base nessa situação, assinale a alternativa que apresenta a posição CORRETA sobre o assunto: A) Claro que é uma boa ideia. Aumentar de 20 para 24% o rendimento significa um aumento real de 20%. B) A ideia não parece boa. Apesar do aumento no rendimento, é provável que os custos de mudança (do investimento atual para o novo investimento) sejam maiores do que o ganho prometido. C) A ideia parece boa. Apenas é preciso verificar se os custos de mudança (do investimento atual para o novo investimento) são menores do que o ganho prometido. D) A ideia não parece boa. Aumentar os custos da empresa de 20 para 24% ao ano é uma estratégia pouco rentável. E) A ideia parece boa. Apenas é preciso verificar se os riscos do novo investimento são proporcionais ao aumento do retorno. 2) Você foi convidado para realizar um treinamento aos novos funcionários da empresa em que trabalha. O tema da sua apresentação será como calcular o custo de capital para investimento em empresas multidivisionais (aquelas que possuem diversas divisões, ou que operam em diversos setores). Assinale a opção que contém a linha de raciocínio CORRETA de sua apresentação. A) O melhor caminho é dividir as empresas em tantos setores quantos os que a empresa opera. B) Se a empresa opera em apenas três setores, não é preciso dividi-la. C) Apenas se os setores da empresa forem muito diferentes entre si é que a divisão será necessária. D) Você deve analisar apenas os aspectos comuns a todos os setores. E) A análise deve ser feita comparando aquela empresa com outra que tenha os mesmos setores. 3) Imagine que você é o(a) professor(a) de um curso de pós-graduação de finanças, direcionado a profissionais das mais diversas áreas: médicos, jornalistas, biólogos, enfim, pessoas que não tiveram a mesma base matemática em seus cursos superiores. Você precisa ensinar - a todos - como descontar uma determinada inflação da taxa de retorno esperada. Com base nessa situação, assinale a alternativa que apresenta a didática CORRETA: A) Você ensinará que basta dividir um fator pelo outro. É simples assim,seja de que área for o profissional. B) Você vai orientar os alunos a relembrarem os princípios básicos de matemática, antes de virem para a aula, pois eles devem chegar já sabendo do que se trata. C) Primeiramente, você vai explicar o que são fatores e como calculá-los, depois, ensinará que basta dividir um fator pelo outro. D) Embora saiba que é um pouco complicado, você ensinará que basta dividir um fator pelo outro e apresentará exemplos de divisões entre fatores. E) Você vai começar pelo básico, ensinando a dividir um fator pelo outro. Se surgirem dúvidas você verá o que é possível complementar. 4) Agora você é um dos alunos do curso de pós-graduação de finanças e, após o(a) professor(a) explicar como descontar uma determinada inflação da taxa de retorno, ele passou o seguinte exercício: se um determinado investimento apresenta taxa de retorno de 16% ao ano, em um determinado país que tem inflação anual de 4%, qual é o rendimento líquido (ou real)? Assinale a alternativa que apresenta a resposta CORRETA: A) 12,00% B) 4,00% C) 16,00% D) 11,54% E) 0,90% 5) Você está se preparando para um concurso e acredita que irão perguntar sobre o uso de opções reais para gerenciar o risco do investimento. Após seus estudos, assinale a alternativa que apresenta o seu CORRETO entendimento sobre o tema: A) Toda opção real depende de um complicado contrato, cuja formalização não é simples e pode acabar tomando muito tempo. B) Nenhuma opção real depende de contrato. A formalização é sempre automática e instantânea. C) Opções reais são investimentos nos quais é possível investir mais, ou menos, a qualquer momento. O que não se pode é continuar com o mesmo investimento original. D) Opções reais são investimentos nos quais é possível apenas investir menos a qualquer momento. E) Opções reais são investimentos nos quais é possível investir mais ou investir menos a qualquer momento ou, ainda, não fazer nenhuma alteração. Na prática Uma das atividades mais complicadas na avaliação das oportunidades de investimentos é quando você compara duas empresas que operam em mais de um setor. Veja um exemplo: Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: O modelo CAPM (Capital Asset Pricing Model) Discussão sobre o modelo CAPM, suas vantagens e defeitos, e como utilizá-lo para determinar se um investimento vale a pena em função do seu risco Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Análise para Administração Financeira Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! https://www.youtube.com/embed/znlOdOfrWt0
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