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TORNAR-SE BACHAREL E DOCENTE: DILEMAS DA FORMAÇÃO DE BACHARÉIS PROFESSORES NO ENSINO SUPERIOR E PROFISSIONAL Sharana Sousa Alencar sharana.alencar@hotmail.com RESUMO: Este artigo discorre sobre a formação de professores bacharéis que atuam no ensino profissionalizante e superior, levando em consideração o contexto social em que se configuram atualmente, e apresentando os desafios existentes para a atuação docente nesses campos da educação. Partimos da questão norteadora: Quais os maiores desafios enfrentados na atuação de docentes bacharéis dentro do campo do Ensino Superior? O tema foi desenvolvido por meio de revisão bibliográfica. Por fim, a defesa da sistematização da formação continuada como política de formação parte da crença de que ela pode subsidiar a formação superior e profissional para que os professores possam enfrentar as crises e as incertezas que encontram em sua vivência cotidiana, pois a busca de soluções diante dessas incertezas gera uma demanda por novas competências, novas habilidades e exigem que o docente esteja em contínuos estudos e constante aprimoração das suas habilidades. Palavras Chave: Docência; educação; Profissional; Bacharel; licenciatura. INTRODUÇÃO Realizar um estudo sobre a docência na educação superior e profissional no contexto social atual muitas vezes nos remete às preocupações vivenciadas pela educação e reflexões importantes de como podemos trabalhar com o conhecimento. Estes aspectos envolvem, desde as maneiras de organização, modos de ensino e aprendizagem dentre outros fatores que torna explícita a complexidade de atuar como professor no cenário social contemporâneo. Na atualidade estamos passando por uma época de preocupações no campo educacional, preocupações estas que provocam tensões significativas que se formam num contexto que envolve o trabalho e saber: entre a tradição e o mailto:sharana.alencar@hotmail.com moderno, o global e o local, o universal e o particular etc. Bem como envolve também, as preocupações com o avanço do conhecimento e o tempo hábil conveniente de assimilação destes, como por exemplo, o constante desenvolvimento do conhecimento das novas tecnologias que mudam aceleradamente e nos leva a necessidade de acompanhar suas evoluções, para estar apto a desenvolver com efetividade as atividades educacionais que se desenvolvem também, dentro deste contexto. Atualmente, as transformações significativas nos setores econômico, político, cultural e social tem definido uma palavra de ordem: mudança. A prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria, capacidade científica, domínio técnico a serviço da mudança ou, lamentavelmente, da permanência do hoje”. (Freire, P. 1996). É inquestionável que atualizações e mudanças são imprencidíveis para que tenhamos grandes evoluções, especialmente se tratando do contexto educativo, entretanto é diante de um cenário de rápidas modificações sociais que se instala uma crise conceitual com relação aos saberes e habilidades que o professor, em todos os níveis de ensino, deve possuir para destacar-se como docente qualificado no seu ambiente profissional. Diante do contexto desenvolvido até aqui, esse trabalho possui como objetivo discorrer sobre a formação de docentes bacharéis que atuam no Ensino Superior e na Educação Profissional, levando em conta o contexto social em que essa formação se configura atualmente. Além disso, busca-se apresentar também os desafios existentes para a atuação de professores nesses campos de ensino. Partimos então da seguinte questão norteadora: Quais os maiores desafios enfrentados na atuação de docentes bacharéis dentro do campo do Ensino Superior? A temática proposta foi desenvolvida por meio de revisão bibliográfica assim como foram utilizados parte de estudos e pesquisas desenvolvidas por Oliveira (2011) sobre a formação de bacharéis que exercem a profissão docente. Buscando responder ao questionamento proposto. Assim, na primeira seção do texto é apresentado um cenário sobre a formação de docentes para o Ensino Superior e para o campo da Educação Profissional destacando as necessidades de formação pedagógica de bacharéis que atuam nesses campos como docentes. Na segunda seção, apresenta-se uma discussão sobre os desafios da formação de bacharéis para o exercício da docência, buscando contribuir com um debate teórico-prático em torno dessa problemática e para finalizar as pontuações dessa pesquisa, são pontuados os principais aspectos do tema apresentado destacando perspectivas futuras de ampliação da discussão. DESENVOLVIMENTO O cenário da formação do docente A educação é uma prática social que acontece em todas as instituições. E as constantes mudanças da sociedade contemporânea fortalecem o entendimento da educação como fenômeno de muitas faces, que acontece em diversos, sejam eles institucionalizados ou não. Nas tantas esferas da sociedade, surge uma necessidade de compartilhamento e internalização de saberes e ação que englobam: habilidades, conhecimentos, crenças, conceitos, etc. Evidenciando o poder pedagógico dos muitos agentes educativos na sociedade e não apenas nas escolas tradicionais, como por exemplo familias e escolas. A docência portanto, entendida como o ensinar e o aprender, está presente na prática social em geral e não apenas na escola (Libâneo, 2001). Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos modos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação (BRANDÃO, 2003, p.7) O mundo atual está se desenhando pelos avanços especialmente no que se trata de tecnologia e da ciência que refletem diretamente em mudanças significativas nos meios de comunicação, informação e especialmente nas maneiras de acesso ao conhecimento. Tais transformações têm influenciado os segmentos sociais, provocando alterações nos contextos e consequentemente na educação, no ensino, na produção científica e tecnológica. Refletindo nessas transformações e nas exigências que desencandeiam dessa configuração social, surge na área das instituições de Ensino Superior e da Educação Profissional a preocupação com a formação profissional. Nesse contexto, diante de um cenário marcado pela globalização, pelos desafios e necessidades que emergem desse processo, tornam o ambiente educativo, uma realidade complexa, constituída por desafios e dilemas que exigem dos profissionais da educação um redirecionamento em sua formação e atuação, em que, segundo Imbernón (2006), o profissional docente deve abandonar o ensino baseado tão somente na transmissão dos conhecimentos acadêmicos e direcionar-se para uma educação integradora, solidária, plural, democrática e participativa. Dentro desta perspectiva, ao abordar o processo formativo de docentes que atuam tanto no Ensino Superior quanto na Educação Profissional é comum o reconhecimento de que educar nesses campos “[...] significa ao mesmo tempo preparar os jovens para se elevarem ao nível da civilização atual, de sua riqueza de seus problemas, a fim de que aí atuem” (PIMENTA; ANASTASIOU, 2005, p.81). Portanto, entende-se que o docente da Educação Superior possui responsabilidades relevantes na formação profissional de seus alunos, de modo que eles possam estar preparados para enfrentar os desafios do mundo moderno competitivo. Para tanto, espera-se que esse profissional da docencia, diante de tamanha responsabilidade, busque frequentemente inovar suas práticas, aprimorando seus conhecimentos e lições pedagógicas para que desenvolva a formação crítica e atue de forma que seus alunos possam exercer com maestria suas capacidades intelectuais dentro do âmbito profissional em que estão inseridos. Esse tipo de atitude adquirida na formação do docente, que envolve uma atitude reflexiva, permite ao docente, outras possibilidades de ação e de formação quandofor a sua vez de atuar como membro de uma sociedade educativa, o que leva a atender a necessidade social de uma formação que não privilegia somente os aspectos técnicos e tecnológicos para o mundo do trabalho, mas que envolve também uma atitude humana com trabalho, tecnologia e cultura, como parte de um só contexto. Pois dessa maneira, o docente será capaz de ajustar suas práticas e seus conhecimentos as novas exigências da sociedade, das formas de comunicação, das necessidades dos alunos, dos vários universos culturais etc. Já que são esses seus elementos de trabalho e que eles também estão em constante evolução. Oliveira (2011), acrescenta que em face desse contexto de uma sociedade da informação, onde o fluxo de dados cresce a cada dia, os docentes não podem dispor aos seus alunos a mesma prática pedagógica que seus professores ofereceram em sua formação. Pois, as transformações e mudanças afetam toda a comunidade, até mesmo, em especial, o meio acadêmico. Por esse motivo, essa pesquisa visa destacar a importância da formação pedagógica como um alicerce que deveria ser um pré-requisito para o exercício da docência, o que torna necessário a revisão das formas de admissão de novos professores nas instituições educacionais. Visto que, em muitas vezes a preocupação dessas instituições, estão pautadas apenas a titulação e produtividade do profissional, ficando, como argumenta Fernandes (1998, p.97) “o desempenho como professor sem reflexão padronizada, que traga sua prática pedagógica como um foco de análise”. A docência parece, neste sentido, não ter espaço para o desenvolvimento de ações reflexivas sobre o seu fazer pedagógico. Dentro desse contexto, é válido citar novamente Oliveira (2011), que afirma que isso acontece em detrimento da ausência de formação pedagógica da maioria dos docentes universitários, e isto acontece de forma semelhante na Educação Profissional, pois devido a formação inicial em cursos de bacharelado, naturalmente torna-se desconhecido aos docentes bacharéis os conhecimentos teórico/epistemológicos sobre os processos de ensino-aprendizagem necessários para desenvolver um trabalho relevante enquanto educador. Entretanto, é de suma importância salientar que as adversidades no processo de formação dos profissionais docentes não se concentram exclusivamente entre os bacharéis, já que é possível encontrar lacunas na maneira de trabalhar o ensino entre aqueles professores que iniciaram sua carreira docente numa licenciatura. Aqui a grande diferença é que, o bacharel torna-se docente sem nenhum tipo de formação pedagógica e os licenciados por sua vez assumem a profissão com lacunas em seu processo formativo. Nesta perspectiva, é possível notar que a formação docente para a Educação Profissional e Superior fica em boa parte, a cargo das iniciativas individuais e institucionais avulsas, não se referindo a um projeto nacional ou da categoria docente, por isso nota-se a existência da necessidade de uma sistematização de políticas de formação docente para ambos os campos de atuação, tanto no que se refere ao bacharel, quanto no aprimoramento das técnicas da docência para quem cursa licenciatura. Álvares (2006), ao realizar pesquisa sobre a formação de professores, afirma que a preocupação maior desses docentes que possuem formação em bacharelados e pós-graduação voltados para a ampliação de estudos mais técnicos da área, tem como foco principal o domínio de conteúdos de sua área profissional, e em muitos casos é deixado em segundo plano os aspectos pedagógicos do seu trabalho, ou seja, o exercício da profissão docente está quase sempre aliado à competência profissional como bacharel ou como pesquisador. Isso leva a reflexão de que as Instituições Educacionais têm priorizado o domínio dos conhecimentos da área de formação dos bacharéis docentes bem como sua experiência profissional na área, proporcionando que, para tornar-se professor seja suficiente ter formação inicial, ser um bom profissional e ter uma sólida experiência na sua área de atuação. Entretanto, Masetto (2003, p.13) destaca que atualmente, esse formato sócio-educacional começa a se modificar por iniciativa de muitos docentes universitários que têm se preocupado com as formas como estão conduzindo sua prática e com a necessidade de possuírem formação específica para a docência. Buscando capacitação própria e específica que não se restringe a ter um diploma de bacharel, ou mesmo de mestre ou doutor, ou ainda apenas o exercício da profissão. A Profissionalização Da Docência No Ensino Superior No conceito de profissionalização se apresentam dois aspectos: a profissionalidade e o profissionalismo. A primeira é o que permite ao professor adquirir os conhecimentos necessários para o desenvolvimento da carreira no âmbito da docência, incluindo, dentre outros, os saberes das disciplinas e os saberes pedagógicos. Conforme Ramalho, Nuñez e Gauthier (2003, p.51), se o processo de profissionalidade pudesse ser pausado e registrado, ele poderia ser identificado como um conjunto de características que possibilitaram distinguir o trabalho docente dos demais, já que por meio da pesquisa focada na ação docente, possibilitaria que fosse vista a maneira dele atuar, pensar e fazer escolhas. Já o segundo conceito, do que seja o profissionalismo, podemos considerá-lo como um fator externo e necessário para o desenvolvimento profissional docente: O profissionalismo é um processo político que requer trabalho num espaço público para mostrar que a atividade docente exige um preparo específico que não se resume ao domínio da matéria, ainda necessário, mas não suficiente. O professor além do domínio do conteúdo, precisa conhecer as metodologias de ensino, as epistemologias da aprendizagem, os contextos e diversos fatores para que esteja apto a educar (RAMALHO; NUÑEZ; GAUTHIER, 2003, p.53). Para que seja possível amenizar as lacunas existentes na formação profissional dos bacharéis-docentes, e ainda, de por meio dessa formação levá-los a refletir sobre suas práticas, proporcionando a ampliação do entendimento dos saberes e habilidades que definem a profissão do docente. Com isso, acredita-se estar contribuindo de alguma forma para que possa haver novas perspectivas para o desenvolvimento de uma práxis educativa reflexiva na formação docente nas instituições de Ensino Superior. Ao longo da história da humanidade, no que tange as instituições de Ensino Superior, elas se formaram dentro do social coletivo como um cenário que, aparenta ser mais valorizado e capaz de providenciar substanciais mudanças e benefícios para a sociedade, viabilizadas por meio da formação de profissionais qualificados em diversas áreas, ou ainda, por meio das pesquisas e inovações científicas. Os desafios inerentes à atuação do docente universitário, dentro da realidade sociocultural vigente, demanda destes profissionais a necessidade de que sua formação, constituída pelo domínio dos conteúdos específicos e técnicos comuns à área em que atuam, aliados ao manuseio de habilidades pedagógicas, que lhes proporcionem contemplar as diversas nuances que integram o cenário educacional e que também se voltem para a pesquisa e a inovação científica. (MASETTO, 2003) Em sintonia com esse entendimento, explicitamos a ideia de Pimenta e Anastasiou (2002, p. 185-186), ao reconhecerem o professor como um intelectual, como um agente formador: [...] que tem que desenvolver seus saberes (de experiência, do campo específico e pedagógico) e sua criatividade para fazer frente às situações únicas, ambíguas, incertas, conflituosas nas aulas, meio ecológico complexo. Assim, o conhecimento do professor é composto da sensibilidade da experiência e da indagação teórica. Emerge da prática (refletida) e se legitima em projetos de experimentação reflexiva e democrática no próprio processo de construção e reconstrução das práticas institucionais. [...]. Conforme este teórico, fica evidente que o conhecimentotécnico e específico da disciplina/matéria que o professor do Ensino Superior leciona não determina a garantia do sucesso de sua prática e atuação, sendo necessário e essencial o domínio e uso de habilidades didáticas que viabilizem a transmissão e consequente apropriação, assimilação e produção de novas informações por parte dos discentes. Tratando especificamente da formação do Bacharel, sabe-se que o modo como os cursos de Bacharelado são organizados, a formação é direcionada na grande maioria do tempo para outros campos, não fornecendo o substrato necessário ao desempenho da docência. No entanto, mesmo sem a formação pedagógica idealizada, em que pese às exceções, identifica-se a existência de profissionais que são capazes de suprir este déficit em sua formação inicial, constituindo-se em professores munidos de uma didática eficiente. Neste sentido, na pesquisa busca-se identificar e analisar de que maneira o exercício da docência superior e as vivências que permeiam este espaço contribuem na constituição da docência do bacharel. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação determina que apenas com formação em nível de pós-graduação, seja em caráter strictu ou latu sensu, é possível o exercício do magistério superior, (BRASIL, 1996). Porém, observamos que esta qualificação centra-se, quase que majoritariamente, sobre o aporte de conhecimentos específicos e técnicos, não contemplando satisfatoriamente os aspectos pedagógico-didáticos demandados para o exercício da docência. É possível observar que, a exigência burocrática estaria integralmente contemplada, no entanto, a habilidade didática essencial ao ser professor acaba por vezes negligenciada. Levando em consideração as tendências e necessidades mercadológicas, onde o professor bacharel, atendendo apenas os requisitos legais, encontra-se apto a exercer a licenciatura em nível superior, identificamos uma ampliação progressiva destes docentes, sendo relevante a realização de análises com vistas a identificar os motivos que determinam tal ocorrência, como estes profissionais constroem sua identidade docente, o modo como a ausência de um processo formativo pedagógico específico incide e condiciona seu exercício, bem como os mecanismos e recursos utilizados para a superação desta mencionada carência. (IMBERNÓN, 2006). Nessa perspectiva, é interessante discorrer também sobre a professoralidade, que se trata do processo dinâmico que envolve a apropriação e reelaboração do professor no decurso de seu itinerário formativo e exercício profissional, incidindo diretamente sobre o modo de pensar e fazer docente, e instituídas com vistas a desenvolver a sensibilidade do professor, conforme enfatiza Isaia e Bolzan (2005, p.03). Mais do que um conceito pedagógico ou estágio de exercício profissional, a professoralidade é um constructo relacionado ao modo como o professor se coloca diante do seu ofício. Diante dessa realidade, o aprender do professor se legitimaria dentro de um contexto concreto particular de cada docente, tendo em vista as experiências formativas de cada um. Mesmo diante da ausência de uma formação pedagógica direcionada ao exercício da docência, há que se registrar a existência de professores atuantes no Ensino Superior oriundos do bacharelado como modalidade de formação, e que, mesmo cursando uma pós-graduação em área técnica-específica do conhecimento científico, que a rigor, não prioriza uma formação para o ensino crítico e reflexivo, condizente com as expectativas e anseios da atualidade. Uma possível justificativa para essa ocorrência seria a conscientização, reflexões e aprendizados provenientes de seu exercício docente. (OLIVEIRA, 2011). Afinal, para enfrentar os desafios contemporâneos da docência, já mencionados neste trabalho, o profissional docente precisa de novas competências. Segundo Zarifian (1999), a competência é a inteligência prática para situações que se apóiam sobre os conhecimentos adquiridos e os transformam com mais intensidade, quanto aumenta a complexidade das situações. Já em outra perspectiva, de acordo com Masetto (2003), o conceito de competência se associa a características como: conhecimentos, atitudes, valores e habilidades que se apresentam e se desenvolvem em conjunto. Para o autor, as competências básicas necessárias ao professor de ensino superior são: 1) competência em determinada área do conhecimento (ter domínio de uma área específica); 2) domínio na área pedagógica (conhecer as ferramentas e parâmetros da área pedagógica que é o que forma as técnicas de um professor bem sucedido) e 3) exercício da dimensão política. Contudo, preencher os requisitos necessários à docência universitária e alcançar os objetivos desejados não é tarefa fácil, pois se trata de uma tarefa bastante complexa. Conforme Zabalza (2004), é de suma importância destacar os dilemas enfrentados por professores universitários como profissionais são: 1. Foco Especialização: trata-se da tendência à especialização, pois nesse cenário os estudos e perfis centrados dos professores faz com que esses profissionais tenham tendência a ter um foco muito específico, tornando seus horizontes restritos. 2. Individualismo docente: esta tendência está ligada à construção da identidade e desenvolvimento do trabalho de forma individual; aqui, prevalecem os direitos individuais e coletivos sobre as necessidades requeridas pelas atividades. 3. Ensino/Aprendizagem: neste tópico, é ressaltado que: ensinar não se trata apenas de explicar, demonstrar e argumentar conteúdos, mas, também de administrar o processo completo de ensino-aprendizagem que se desenvolve em determinado contexto. 4. Pesquisa/Docência: Aqui, a pesquisa é destaque sob o ensino (as exigências à dedicação excessiva com a pesquisa deixando a docência à margem não é funcional para o projeto de formação/a). Conforme sugere o autor, uma possível solução para os impasses e dilemas da identidade profissional dos professores universitários pode estar na busca pelo equilíbrio. O docente precisa ter discernimento para equilibrar as exigências da profissão às quais está sujeito e buscar o aprendizado dos saberes necessários para ajudar os seus discentes na construção de seus conhecimentos, trabalhando suas performances ao nível das demandas do seu “público”. Para tanto, é necessário que se esteja em permanente formação. Dilemas sempre existiram e sempre existirão no exercício da profissão, porém eles podem ser minimizados e superados quando há formação adequada. CONCLUSÃO Com base no conteúdo desenvolvido, nota-se que a educação conseguirá contemplar seu potencial individual e coletivo quando o processo formativo dos docentes for condizente com os desafios e necessidades apresentados aos que se dedicam a esta área. Afinal, professor é alguém que precisa conhecer os conteúdos que estruturam a sua disciplina de ensino e seu programa, além de possuir certos conhecimentos relativos às ciências da educação e à pedagogia e desenvolver um saber prático baseado em sua experiência cotidiana com os alunos. O professor de ensino superior precisa apreender o processo de ensinagem, isto é, ir além do o quê (conteúdo) e do como (metodologia) para pensar e reelaborar as relações de conteúdos em uma unidade dialética processual, na qual o seu papel de condutor e a auto atividade do aluno se efetivem em mão dupla, de maneira que a construção do conhecimento se dê por momentos de ação conjunta dos sujeitos envolvidos. Deste modo, entende-se que o docente precisa não apenas conhecer o conteúdo específico da área que leciona, para que esteja apto a lecionar de modo satisfatório, mas também necessita conhecer as técnicas, saberes pedagógicos e destrezas de todo o enredo educacional, reconhecendo que estes conhecimentos são construídos ao longo do seu percurso gradual e permanente da profissionalização, ao passo que se adquire experiência na profissão. É importante enfatizar também, que a formação pedagógica doprofessor universitário, pode ser entendida como uma atividade complexa que demanda dos professores uma formação e habilidades que supere o mero desenvolvimento e conhecimento aprofundado de um conteúdo específico da área técnica. É possível identificar também que existe uma grande necessidade de ampliação dos espaços de formação do docente de Ensino Superior e da Educação Profissional considerando a necessidade da formação pedagógica. Aqui o grande desafio é a ampliação dos espaços de formação. Para tanto, podemos destacar como chave deste desafio: a pesquisa, pois, é utilizando a pesquisa sobre a própria prática, da ampliação dos Programas de formação de docência, dentre eles, o de Pós-Graduação, especialmente, que fornecem espaços de discussão nesses programas de formação para a docência. Desta maneira, baseando-se nas discussões apresentadas no decorrer dessa pesquisa e levando em consideração o fato de que apresentar respostas imediatas não faz parte do objetivo que compõe este trabalho, visto que a principal intenção é contribuir para a geração de novos questionamentos e pesquisas dentro da área abordada, podendo deste modo, possibilitar novos reflexões e resoluções sobre as necessidades formativas de docentes que atuam nos campos da Educação Profissional. Ressalta-se a grande necessidade de ampliação estudos e pesquisas sobre a ação de bacharéis como professores, já que o assunto envolve a discussão sobre a sua profissionalização docente no geral. Por tanto, a partir dos problemas que a própria ação dos bacharéis apresentam, podemos desconstruir e reconstruir ideias do que eles entendem sobre ser professores, suas ações e saberes a partir de suas próprias situações de trabalho, e isto constitui-se também, como uma necessidade a ser trabalhada no processo de formação. Para concluir, é de grande relevância destacar que a pós-graduação direcionada ao ensino da docência é uma opção significativamente relevante para a formação pedagógica inicial para professores bacharéis e sua carreira na docência universitária, devendo valorizar o seu potencial formativo para o ensino superior, tão relevante quanto à pesquisa e o aprimoramento de conhecimentos específicos em diversas áreas, com vistas à condução de mudanças significativas nos processos de ensino-aprendizagem. Pois, dessa maneira, o professor bacharel terá oportunidade de se habilitar para o magistério superior preenchendo requisitos necessários ao fazer docente, como domínio de conhecimentos específicos na sua área de atuação, domínio de didática e capacidade crítico-reflexiva para mediar o processo de ensino-aprendizagem, provocando no educando o papel de protagonista do seu próprio saber. Entretanto, é interessante ressaltar que essa pode ser uma opção para aqueles que já concluíram sua graduação de bacharelado, porém, seria muito relevante que as grades curriculares de graduação oferecessem a opção do profissional estudar disciplinas voltadas a pedagogia, ou seja, uma grade curricular adaptada de acordo com as escolhas do estudante, visto que todo curso de graduação possui grade de disciplinas eletivas. REFERÊNCIAS Álvares, V. O. M. O docente-engenheiro frente aos desafios da formação pedagógica no ensino superior. 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